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Formação dos Estados e do Poder Aula 5 – Hipótese militar I Prof.: Rodrigo Cantu

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Formação dos Estados e do Poder

Aula 5 – Hipótese militar I

Prof.: Rodrigo Cantu

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Norbert Elias(1897-1990)

(1939)

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A leitura de crônicas da época mostra-nos o quão pouco os meios militares eeconômicos dos Capeto desse período superavam os das demais Casas feudaisno ducado de Frância; e como era difícil — dados o baixo grau de integraçãoeconômica, os transportes e comunicações precários e as limitações daorganização militar feudal — a luta do “soberano" para conquistar ummonopólio de poder mesmo no interior dessa pequena área.

Havia, por exemplo, a fortaleza da família Montlhéry, que controlava a rota entreas duas partes mais importantes do domínio dos Capeto, as áreas em volta deParis e Orléans. Em 1015, o rei Roberto — um Capeto — doara essa terra a umde seus servidores, ou oficiais, o grand forestier, com permissão de nelaconstruir um castelo. A partir do castelo, o neto do grand forestier já controlavaa área circundante, na qualidade de senhor independente. Esse exemplo é típicodos movimentos centrífugos que ocorriam por toda a parte durante o período.Após duras lutas, o pai de Luís VI conseguiu finalmente chegar a uma espécie deacordo com os Montlhéry: daria em casamento um filho bastardo seu, de dezanos de idade, à herdeira dos Montlhéry e, dessa maneira, colocaria o castelosob controle de sua Casa.

Elias, N. O processo Civilizador, vol.II, p.88-89

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Reino Franco Ocidental

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Conquista normanda da Inglaterra e domínio da casa angevina

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Casa Angevina vs Casa Capeto

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Eduardo III

Felipe VI

Maio de 1337Reivindicação da Gascônia por Felipe VIReivindicação da coroa francesa por Eduardo III

Peste Negra1346-53

1346Batalha de Crécy 1355-56

Chevauchéedo Príncipe Negro e Batalha de Poitiers

1360Tratado de Brétigny

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Campanha de Eduardo III (1346)

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Batalha de Crécy (26/8/1346)

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Eduardo III Ricardo II Henrique IV

Felipe VI João II

Carlos V

Carlos VI

Maio de 1337Reivindicação da Gascônia por Felipe VIReivindicação da coroa francesa por Eduardo III

Peste Negra1346-53

Revolta camponesa1381

1346Batalha de Crécy 1355-56

Chevauchéedo Príncipe Negro e Batalha de Poitiers

1360Tratado de Brétigny

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Eduardo III Ricardo II Henrique IV

Henrique

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Eduardo VI

Felipe VI João II

Carlos V

Carlos VI Carlos VII

Maio de 1337Reivindicação da Gascônia por Felipe VIReivindicação da coroa francesa por Eduardo III

Julho de 1453Batalha de Castillon

Peste Negra1346-53

Revolta camponesa1381

1346Batalha de Crécy 1355-56

Chevauchéedo Príncipe Negro e Batalha de Poitiers

1415Batalha de Agincourt

1429Fim do cerco a Orléans

1360Tratado de Brétigny

1420Tratado de Troyes

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Campanha de Henrique V (1415)

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Aduanas e framentação do “mercado”

União aduaneira de 1664

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Mecanismo monopolista

É muito simples o modelo geral seguido: há na área social certo número depessoas, e um certo número de oportunidades que são escassas ouinsuficientes em relação às necessidades daquelas. Se supomos, paracomeçar, que cada pessoa luta com outra pelas oportunidades disponíveis, éextremamente pequena a probabilidade de que se mantenhaindefinidamente esse estado de equilíbrio e de que nenhum dos parceirostriunfe em qualquer um desses pares, se esta for realmente uma competiçãolivre não influenciada por qualquer poder monopolista — e muito alta apossibilidade de que, cedo ou tarde, alguns participantes vençam seusadversários. Mas se alguns dos participantes saem vitoriosos, suasoportunidades se multiplicam; as dos derrotados diminuem. Maioresoportunidades se acumulam nas mãos de um grupo dos rivais iniciais, sendoos demais eliminados de competição direta com eles. Supondo que, nessemomento, cada um dos vitoriosos lute com os outros, o processo se repete:mais uma vez, um grupo alcança vitória e obtém controle das oportunidadesde poder dos vencidos; um número ainda menor de pessoas controla umnúmero maior de possibilidades de poder; um número ainda maior depessoas é eliminado da livre competição.

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Temos exemplo disso na diferença entre a situação da nobreza feudallivre e a da nobreza de corte. No primeiro caso, o poder social da Casaisolada, que era função de sua capacidade econômica e militar e da forçafísica e perícia do indivíduo, determinava a alocação dos recursos: nessalivre competição tomava-se indispensável o uso direto da força. Naúltima, a destinação de recursos é, em última análise, decidida pelohomem cuja Casa ou cujos predecessores emergiram, pela violência,vitoriosos da luta, de modo que ele, nesse momento, exerce o monopólioda força. Devido a esse monopólio, o emprego direto da força se vêexcluído de quase toda a competição, entre membros da nobreza, pelasoportunidades de que o príncipe dispõe para distribuir. Os meios de lutaforam refinados ou sublimados. Aumentou a restrição aos afetos,imposta ao indivíduo por sua subordinação ao governante monopolista.E os indivíduos assim oscilam entre a resistência à compulsão à qualestão submetidos, o ódio à dependência em que vivem e à falta deliberdade, a nostalgia da livre rivalidade entre cavaleiros, por um lado, eo orgulho pelo autocontrole que adquiriram ou a satisfação ante asnovas possibilidades de prazer de que desfrutam, por outro. Em suma,um novo estímulo é aplicado ao processo civilizador.

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O passo seguinte ocorre quando a burguesia conquista os monopóliosda força física e da tributação, juntamente com todos os demaismonopólios governamentais que nele se baseiam. A burguesia, nessafase, é uma classe que, como um todo, controla certas oportunidadeseconômicas à maneira de um monopólio (des)organizado. Mas asoportunidades são ainda tão uniformemente espalhadas entre seusmembros que um número relativamente grande deles ainda podecompetir livremente. O que essa classe disputa com os príncipes, efinalmente consegue, não é a destruição do governo monopolista. Aburguesia não aspira a realocar esses monopólios fiscal, militar epolicial a seus membros individuais, que aliás não querem se tornarproprietários de terras, cada um deles controlando suas própriasforças militares e receita proveniente de impostos. A existência de umacoleta de impostos monopolizada e de um monopólio na aplicação daviolência física constitui a base de sua própria existência social: é aprecondição para restringir-se a livre competição a meios econômicos,não-violentos, concorrendo eles entre si por certas oportunidadeseconômicas.

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Estamos acostumados a separar as duas esferas, a “econômica” e a"política". Por “econômica" entendemos toda a cadeia de atividades einstituições que servem à criação e aquisição de meios de consumo eprodução. Mas damos por certo também, ao pensar em "economia”, que aprodução e, acima de tudo, a aquisição desses meios, normalmenteocorre sem ameaça ou emprego de violência física ou militar. Nada émenos evidente. Em todas as sociedades de guerreiros que possuemuma economia de troca — e não apenas no caso delas —, a espada éinstrumento frequente e indispensável para adquirir os meios deprodução e, a violência, meio indispensável de produção. Só quando adivisão de funções está muito adiantada, só então, como resultado delongas lutas, forma-se um monopólio especializado de administração,que exerce as funções de governo, como sua propriedade social. Sóquando um monopólio centralizado e público de força existe numagrande área é que a competição pelos meios de consumo e produção sedesenvolve de modo geral sem intervenção da violência física; só entãoexistem, de falo, o tipo de economia e de luta que estamos acostumadosa designar pelos termos “economia" e “competição” em sentido maisespecífico.

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À medida que mais e mais terras caíam nas mãos de uma única Casareinante, o gerenciamento da renda e das despesas, da administração edefesa das propriedades, tomaram-se cada vez mais difíceis para umúnico indivíduo. [C]om o monopólio da força, o monopólio da terra setomara simultaneamente o dos tributos, ou impostos. [Mas esseindivíduo] ainda podia decidir quanto dela seria gasto em castelos,presentes, cozinha e corte e quanto na manutenção das tropas epagamento da administração. Era prerrogativa sua a distribuição darenda gerada pelos recursos monopolizados. Examinando de perto oassunto, porém, descobrimos que a liberdade de decisão domonopolista era cada vez mais restringida pela imensa teia humana emque gradualmente se transformaram suas propriedades. Suadependência do pessoal administrativo aumentou, e com ela ainfluência deste último; os custos fixos da máquina monopolistasubiam constantemente; e, no fim desse desenvolvimento, ogovernante absoluto, com seu poder aparentemente ilimitado, era,num grau extraordinário, governado, sendo funcionalmentedependente da sociedade a que governava.

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Tanto quanto podemos até o momento julgar, duas fases principaispodem se distinguir na dinâmica do mecanismo do monopólio. Emprimeiro lugar, o estágio da livre competição ou de provaseliminatórias, tendendo os recursos a se acumularem num númerocada vez menor de mãos e, finalmente, em apenas duas mãos, ou a faseda formação do monopólio; em segundo, a etapa em que o controle dosrecursos centralizados e monopolizados tende a passar de umindivíduo para números sempre maiores até, finalmente, tomar-sefunção da rede humana interdependente como um todo. É esta a faseem que o monopólio relativamente “privado” toma-se “público”.

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• Tendência a monopolização da violência e da tributação• Impossibilidade de ganho violento contra o

monopolizador• Busca do ganho pacífico

• Diminuição da insegurança contra• Ataque de inimigos externos• Saque de guerreiros ociosos

• Facilitação e barateamento do comércio• União aduaneira no interior do território

Formação do Estado e Formação da Economia