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JULIANA BÁRBARA CAMARGO Formação de Professores que atuam num Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA): As práticas cotidianas como instrumento de formação UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO SÃO PAULO, SP 2015

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JULIANA BÁRBARA CAMARGO

Formação de Professores que atuam num Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA):

As práticas cotidianas como instrumento de formação

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO SÃO PAULO, SP

2015

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JULIANA BÁRBARA CAMARGO

Formação de Professores que atuam num Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA):

As práticas cotidianas como instrumento de formação

Dissertação apresentada como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação na Universidade Cidade de São Paulo, sob a orientação do Professor Dr. Júlio Gomes Almeida.

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO SÃO PAULO, SP

2015

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COMISSÃO JULGADORA

Prof. Dr. Júlio Gomes Almeida

Profa. Dra. Lourdes F. Paschoaletto Possani

Profa. Dra. Gilcia Maria Salomon Bezerra

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AGRADECIMENTOS

A Deus por todas as graças derramadas, por tantos presentes como o maior de todos: o

dom de gerar a vida. Ser mãe é minha completa realização.

Aos meus pais José e Esmeralda que me ensinaram desde cedo que o maior tesouro que

podemos ter é o conhecimento e sendo assim não mediram esforços para estudar seus

três filhos. A vocês minha eterna gratidão e reconhecimento.

Aos meus filhos que mesmo sem entenderem muito bem sempre me incentivaram para a

realização desse trabalho, em especial minha companheira, amiga, irmã, conselheira e

filha Maria Carolina, ninguém me entende tão bem como você, quero sempre contar e me

aconchegar em seu colinho sempre pronto para minhas tristezas. Amo você até o infinito.

Ao meu orientador Professor Dr. Júlio Gomes Almeida, pela orientação e paciência nestes

24 meses.

A Merci Medeiros, Coordenadora Geral do Cieja de Itaquera, que permitiu a realização

das entrevistas bem como as inúmeras vezes em que entendendo as minhas ausências

estava sempre pronta a me escutar. Meu eterno obrigado do fundo do coração.

Aos professores do Cieja Itaquera que pacientemente dedicaram um pouquinho de seus

tempos para que eu pudesse entrevistá-los engrandecendo enormemente essa pesquisa.

Para vocês canto essa canção ”amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves

dentro do coração….”

Aos alunos do Cieja Itaquera particularmente os alunos especiais que fizeram aflorar em

mim um sentimento nunca antes sentido, me fizeram ver que educar não é somente

ensinar a ler e escrever um texto, educar é olhar nos olhos, é pegar nas mãos e entender

um gesto um olhar, um sorriso ou uma lágrima, educar é a capacidade do outro em

entendendo suas necessidades possibilitar uma aventura num novo e diferente

movimento de estar no mundo. Em cada sorriso vejo o quanto valeu a pena a escolha

dessa profissão.

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DEDICATÓRIA É incrível poder dedicar algo tão valioso à alguém. Pensei em tantas pessoas igualmente

valiosas e incríveis e percebi que tinha mais a agradecê-las do que propriamente dedicar.

Dedicar é oferecer, destinar, consagrar.

Então pensei naquele que sempre acreditou nos meus projetos, que sempre estendeu as

mãos quando das minhas necessidades. Pensei naquela pessoa que torcia comigo e

vibrava a cada vitória. Aquele que como dizia Roberto Carlos “está ao meu lado em

qualquer caminhada”. Pensei em como sou feliz por compartilhar todos os momentos ao

seu lado, “detalhes tão pequenos de nós dois…”

Então não poderia deixar de dedicar esse trabalho ao grande amor da minha vida: na

conquista deste meu mérito há toda a sua presença.

E que venham outros trabalhos e tantos quantos vierem todos serão dedicados à ti, pois

em você encontrei a inspiração que me move a escrever. Te amo para todo o sempre.

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Mas eu?

Eu escolho Deus.

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RESUMO CAMARGO, Juliana Bárbara – Formação de Professores que atuam num Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA): as práticas cotidianas como instrumento de formação; Dissertação (Mestrado em Educação) São Paulo, Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), São Paulo, 2015.

A presente dissertação tem por objetivo refletir sobre a formação de professores para a

Educação de Jovens e Adultos. A intenção da pesquisa é discutir os processos

formativos vivenciados pelos professores que atuam na Educação de Jovens e Adultos

para então desvelar quais são esses processos e em que medida eles são compatíveis

com as demandas colocadas no cotidiano destes profissionais. Para o desenvolvimento

da pesquisa busquei apoio teórico em autores como: Tardiff (2002), Nóvoa (1995), Vagula

(2005), Baumann (2005). Na metodologia foi adotada a abordagem qualitativa de cunho

fenomenológica. Como técnica de coleta de dados, foi utilizado, análise bibliográfica e

documental, completada por entrevistas semiestruturada com 8 professores que atuam

em um Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos na Rede Municipal de Ensino

de São Paulo. A pesquisa revela que os professores vivenciam vários processos

formativos: a formação inicial; a formação continuada e em serviço e as próprias

experiências advindas das práticas cotidianas que possibilitam a auto formação. Tais

processos formativos mostraram-se insuficientes para a atuação docente, fazendo-se

necessários uma formação contínua e atualizada pois as demandas também são

modificadas e por isso são renovadas diariamente.

Palavras-chave: EJA; formação; professores; auto formação.

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ABSTRACT CAMARGO, Juliana Barbara - Teacher Formation acting in Integrated Centre for Youth and Adult Education (CIEJA): everyday practices as training tool; Dissertation

(Master of Education) São Paulo, Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), São Paulo, 2015.

This work aims to reflect on teacher formation for the Youth and Adult Education. The

intent of the research is to discuss the formation processes experienced by teachers who

work in the Youth and Adult Education to then reveal what those processes and to what

extent they are compatible with the demands placed on daily life of these professionals.

For the development of research sought theoretical support in authors such as: Tardiff

(2002), Nóvoa (1995), Vagula (2005), Baumann (2005). The methodology was adopted

the qualitative approach of phenomenological nature. As data collection technique was

used bibliographical and documentary analysis, completed semi-structured interviews with

eight teachers who work in an Integrated Center for Youth and Adult Education in São

Paulo Municipal Network of Education. The survey reveals that teachers experience

various formation processes: initial formation; continuing education and service and their

experiences stemming the daily practices that allow self formation. Such formation

processes proved insufficient for the educational performance, being made necessary a

continuous and updated formation as the demands are also modified and so are fresh

each day.

Keywords: adult education; formation; teachers; self formation.

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Sumário

INTRODUÇÃO .............................................................................................18

CAPÍTULO I .................................................................................................25

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E SABERES DOCENTES PARA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ......................................................25

CAPÍTULO 2 ................................................................................................39

A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ...................................................39

NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SÃO PAULO ................................39

2.1. A Rede Municipal de Ensino de São Paulo: um breve histórico ................................. 39

2.2. A EJA na Rede Municipal de Ensino .......................................................................... 40 2.3. Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos - CIEJAS .............................. 47 2.4. O atendimento no CIEJA Itaquera .............................................................................. 49

CAPÍTULO 3 ................................................................................................62

PERCURSO FORMATIVO DOS DOCENTES NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E A PROBLEMATIZAÇÃO DE SUAS PRÁTICAS .................62

3.1. Análise das Categorias ............................................................................................... 69

3.1.1. A Formação Inicial ................................................................................................... 69 3.1.2. Formação Continuada ............................................................................................. 76 3.1.3. Educação de Jovens e Adultos ................................................................................ 80

3.1.4. Ser Professor: Ideal e o Real .................................................................................. 83

3.1.5. Vida de Professor ................................................................................................... 87

CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................92

REFERÊNCIAS ............................................................................................94

ANEXO 1 .................................................................................................... 100

Roteiro de entrevista ................................................................................ 100

ANEXO 2 - TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS .................................... 101

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INTRODUÇÃO

Inicio este trabalho apresentando alguns dados que acredito serem importantes

para pensarmos um pouco melhor sobre o tema. Segundos dados do IBGE (2012) na

última década, o número total de matrículas da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no

Brasil não passou de 5,7 milhões e, desde 2006, ele vem caindo anualmente. Por outro

lado, o número de brasileiros com mais de 25 anos que não têm instrução ou não

completaram o ensino fundamental cresceu de 51,2 milhões para 54,4 milhões entre 2000

e 2010. O levantamento mais recente (IBGE, 2012) registrou 3.295.678 de matrículas nas

redes estaduais e municipais que possuem a maior parte dos alunos. Esses dados nos

revelam uma considerável parcela da população que é cliente potencial da EJA e da

necessidade de nos debruçarmos sobre esta temática, revelando sua importância no

cenário educacional.

O interesse por desenvolver essa pesquisa não é somente pela minha trajetória

profissional, mas relaciona-se com minha formação pessoal. Filha de pais professores

cresci em meio aos livros e a inúmeras histórias que papai contava, principalmente

aquelas histórias da mitologia grega pelas quais ainda hoje é apaixonado. Vendo e, mais,

admirando meu pai enquanto ministrava suas aulas, não demorou muito a aflorar o desejo

de também ser professora.

O quintal de casa era logo transformado em uma pequena sala de aula, com lousa,

carteiras improvisadas, cadernos velhos, muitas cartilhas, lápis de colorir. Assim eram

minhas tardes na volta da escola, reunia algumas crianças menores e “brincava” de ser

professora. Muitas vezes imitava papai, mas gostava de repetir os “fazeres” de minha

professora.

Aliado ao desejo de ser professora, também me fascinava os jogos como vôlei e

handball, por esse motivo decidi pelo Curso de Educação Física há exatos 25 anos atrás,

quando iniciei o curso na 1ª turma de Educação Física da Universidade Camilo Castelo

Branco. Já no 2º ano do Curso fui dar aulas numa escola da rede estadual de ensino no

extremo leste de São Paulo quase na divisa com Itaquaquecetuba. Estava radiante

minha primeira experiência de verdade como sendo professora. Atribuíram-me uma “sala

especial”. Quando me deparei com os alunos confesso pensei em desistir, mais de 10

alunos com as mais diversas deficiências, pois era uma sala só de alunos deficientes,

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fiquei com medo, nada era parecido com minhas aulas no fundo do quintal, tampouco se

parecia com as aulas de papai. Fiquei apenas até o final do ano, mas não desisti.

Nos anos seguintes mais oportunidades foram se abrindo, todos os anos tinha

aulas atribuídas e assim fui crescendo num processo contínuo. Era muito bom fazer a

faculdade e dar aula ao mesmo tempo. Poder aplicar no dia seguinte os conhecimentos

adquiridos na noite anterior era proveitoso.

Na faculdade conheci um professor importante por hoje eu estar aqui, ele me

iniciou nos caminhos da pesquisa científica, mostrou outras possibilidades de ser

professora me ajudou com o projeto de pesquisa para o mestrado e, em 1994 ainda

realizando os exames finais do curso da graduação tive a grata notícia de ter sido

admitida no mestrado do programa de Ciências da Religião da PUC de São Paulo.

Juntamente com o mestrado também iniciei minha experiência no ensino superior

como monitora nas disciplinas de Sociologia do Esporte e Didática da Educação Física.

Infelizmente tive que interromper meus estudos por motivo de força maior.

Mesmo tendo interrompido os estudos, a docência nunca foi interrompida, mais

tarde fui dar aulas na Faculdade de Educação Física de Jundiaí, e por último na

Universidade Ibirapuera da qual me desliguei em 2008. Paralelo ao ensino superior,

sempre estive na Educação Básica seja como professora ou como Coordenadora

Pedagógica.

Após 20 anos de magistério na Educação Básica e também no Ensino Superior,

tendo experienciado as vivências nos vários segmentos e níveis de ensino, a educação

de adultos era o que me fascinava.

Na universidade pude desenvolver mais minhas habilidades e testar/criar práticas

pedagógicas que envolvessem os alunos de forma a sempre quererem voltar na semana

seguinte.

Hoje trabalhando numa outra modalidade: Educação de Jovens e Adultos num

Centro Integrado da Prefeitura de São Paulo (CIEJA), pude também desenvolver um

trabalho onde priorizo as práticas diferenciadas como forma de atrair, e mais, de fazer

com que o aluno permaneça na escola, hoje nosso maior desafio.

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Em minha trajetória profissional, na condição de Coordenadora Pedagógica, me

deparei com vários perfis de professores e pude trabalhar mais de perto com os mesmos

na condição de responsável pela sua formação em serviço, na rede estadual de ensino.

Foi nesse momento, enquanto Coordenadora Pedagógica que entrei em contato com as

discussões sobre a deficiência na formação dos professores. Professores pouco

preparados, com formação deficiente, com pouca e às vezes nenhuma familiaridade na

capacidade de gerir conflitos, o que quase sempre acabava ocasionando embates em

sala de aula. Foi possível perceber que muito se fala sobre os professores, sobre sua

qualificação mas estes pouco falam de si mesmos. Assim surgiu a idéia de ouvir os

professores, saber que significado eles atribuem ao mundo onde atuam e a si mesmos

enquanto profissionais. Afinal não parece adequado ou mesmo ético emitir juízos sobre

as pessoas sem ouvi-las, ainda mais quando se trata de pessoas que desempenham um

papel tão importante em uma realidade tão complexa.

Hoje trabalhando no CIEJA observo problemas semelhantes aos que observava

como Coordenadora, qual seja, continua-se falando de professores sem ouvi-los. É dessa

constatação que fui impelida a investigar mais de perto a formação do professor e aqui,

em especial, do professor de EJA e seus fazeres diários traduzidos em práticas

pedagógicas.

O objetivo principal desta pesquisa é o de discutir os processos formativos

vivenciados pelos professores que atuam na Educação de Jovens e Adultos para então

desvelar quais são estes processos e em que medida eles são compatíveis com as

demandas colocadas no cotidiano destes profissionais. A hipótese inicial da pesquisa é

que a problematização das práticas que organizam o trabalho na Educação de Jovens e

adultos pode constituir-se em importante instrumento de auto formação para os

professores.

Outros objetivos também foram propostos: apresentar um panorama sobre a

formação de educadores na sociedade globalizada; compreender como se dá o

atendimento educacional destinado aos jovens e adultos no sistema municipal de ensino

e, por fim, entender como os professores percebem a formação continuada oferecido pelo

sistema municipal para as pessoas que atuam na Educação de Jovens e Adultos,

particularmente nos CIEJAs.

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De acordo com Almeida (2008) a problematização das práticas cotidianas que se

desenvolvem na escola transformaram o universo escolar em um ambiente de

aprendizagem coletiva.

Concordo com o autor quando coloca como o grande desafio para os educadores o

encontro de um significado para o próprio trabalho. Tal desafio é mais evidente para

aqueles que atuam nas grandes metrópoles e para os quais além de ser acrescida à

tarefa tradicional de exercer a mediação do conhecimento, há necessidade também de

ocupar-se com a formação de identidades em um contexto onde as diferenças assumem

grandes proporções.

Neste contexto ganha grande importância os saberes adquiridos pela experiência,

como podemos perceber no trecho seguinte:

Para os professores, os saberes adquiridos através da experiência profissional constituem os fundamentos de sua competência, pois é através deles que os professores julgam sua formação anterior ou sua formação ao longo da carreira. (Tardiff, Lessard e Lahaye 1991:227)

A partir da afirmação acima é possível entender que as práticas cotidianas são

importantes na construção dos saberes dos professores, particularmente daqueles

saberes adquiridos por meio da experiência docente e é a partir desse entendimento que

se dará a investigação da problematização dessas práticas como elemento da formação

continuada dos docentes.

A relevância social da pesquisa relaciona-se ao entendimento das práticas do

professor, a partir do que eles pensam sobre essas práticas. É a partir da fala dos

professores que pretendo uma melhor compreensão do objeto de estudo. Os dados do

IBGE (2012) sobre escolarização no Brasil mostram que ainda há muito o que se fazer

para que seja eliminado o analfabetismo e melhorado o padrão de alfabetização dos já

alfabetizados.

A formação do professor para esta modalidade é questão “sine qua non” para

poder entender essa situação. Sei que essa discussão não é nova, como apontado por

Soares (2006) somente nas últimas décadas a formação de educadores para a EJA

ganhou uma repercussão significativa, o que pode ser relacionado à própria configuração

do campo da Educação de Jovens e Adultos. Em vista desta perspectiva,

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a formação dos educadores tem se inserido na problemática mais ampla da instituição da EJA como um campo pedagógico específico que, desse modo, requer a profissionalização de seus agentes” (SOARES, 2006: 85).

Muito se tem colocado sobre a questão da necessidade de formação, mas pouco

se tem perguntado sobre que tipo de formação interessa aos professores. Neste sentido

vale destacar a manifestação de Almeida (2010) sobre a questão:

O sistema parece acreditar na possibilidade de promover mudanças nas práticas escolares por meio dos processos formativos que promove para a rede. Embora tais processos promovam mudanças nos discursos sobre os conteúdos trabalhados, os métodos e tecnologias utilizados e a organização dos tempos e espaços da escola, não tem conseguido envolver os educadores na execução dos projetos propostos. Segundo Enriquez (1997) um grupo só se organiza em torno de um projeto comum. Surge, então, um questionamento: será que um projeto pensado para os educadores pode tornar-se um projeto dos educadores? (p.169)

Assim é possível entender que há necessidade de se pensar a formação

considerando a voz dos professores para que se possa refletir numa formação com eles e

não uma formação para eles.

A formação de professores que atuam na EJA, como as discussões sobre a

formação que atuam em outras modalidades de ensino como por exemplo a educação

especial , embora palco de várias discussões, ainda mostra-se defasada pois ainda se

pautam em concepções que não consideram aqueles que serão objeto da formação. O

que se vê na formação é a reprodução do modelo reprodutivo, muitas vezes criticado na

própria formação, e sendo utilizados pelos formadores.

A escuta aos professores, a sua percepção sobre seus fazeres e suas

inquietações, aliados a teoria podem nos levar a compreender quais são suas

necessidades de formação e apontar caminhos que, para chegar ao destino desejado,

tem que ser trilhados com eles. Os professores que atuam no chão da escola são os

melhores guias para aqueles que desejam alcançar o cerne dos problemas que interferem

no processo de ensino e aprendizagem.

É nesta perspectiva que assume-se nesta pesquisa uma abordagem qualitativa de

cunho fenomenológico. Para Martins e Bicudo (1991) esta metodologia concebe o

pesquisador como aquele que deve perceber a si mesmo e perceber a realidade que o

cerca em termos de possibilidades, nunca só de objetividades. Neste sentido a pesquisa

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qualitativa dirige-se a fenômenos, não a fatos. Desta forma será possível encontrar

elementos que ajudem a compreender o universo da escola para transformá-lo em

ambiente de formação.

Como técnica de coleta de dados foi utilizado, analise bibliográfica e documental,

completada por observação participante e entrevista semiestruturada com 08 professores

que atuam em um Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos da Rede Municipal

de Ensino de São Paulo. Os critérios para escolha dos participantes da pesquisa foram

contemplar as diferentes áreas do conhecimento e o tempo de atuação na Educação de

Jovens e Adultos. Assim, de cada área foram escolhidos um com ingresso mais antigo e o

outro com ingresso mais recente. O critério de inclusão na pesquisa foi a manifestação de

concordância, expresso pela assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A

pesquisa foi realizada em outubro de 2013 após aprovação do Comitê de Ética.

A abordagem escolhida pareceu a mais adequada para o estudo pretendido, uma

vez que permitia ouvir os educadores para então tecer considerações sobre o que eles

destacam como importante nos seus processos formativos. Assim trata-se de uma

abordagem que valoriza o significado que os professores atribuem aos processos

formativos a que tem sido submetidos e permite também a realização de inferências sobre

o que tipo de formação consideram importante para o seu desenvolvimento profissional.

Segundo Martins e Bicudo (1991) a fenomenologia valoriza a subjetividade na sua

busca de atingir a essência dos fenômenos. Em sendo uma modalidade da pesquisa

qualitativa, não se pretende chegar a generalizações como nas pesquisas quantitativas. O

foco é o desvelamento do fenômeno, interrogando o mundo ao redor.

Diferentemente da pesquisa quantitativa, a qualitativa busca uma compreensão particular daquilo que estuda. Uma idéia mais geral sobre tal pesquisa é que ela não se preocupa com generalizações, princípios e leis. A generalização é abandonada e o foco da sua atenção é centralizada no específico, no peculiar, no individual, almejando sempre a compreensão e não a explicação dos fenômenos estudados (MARTINS & BICUDO, 1991 p.23)

A Fenomenologia busca compreender os fenômenos que não são passíveis de

serem estudados quantitativamente, por apresentarem dimensões pessoais, sendo mais

apropriadamente pesquisados mediante a abordagem qualitativa, desta forma justifica-se

a opção por esta abordagem.

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A pesquisa é apresentada em 3 capítulos e Considerações Finais. No primeiro

apresenta-se um breve panorama sobre a formação de professores, discutiu-se se a

formação de professores tem dado conta, de prepará-los para atuar na sociedade

globalizada oferecido o subsídio necessário para se atuar nessa modalidade de ensino.

No segundo apresenta-se uma descrição sobre a EJA no sistema municipal de ensino da

cidade de São Paulo. No terceiro apresenta-se a trajetória metodológica e a pesquisa

junto aos professores por meio da qual pretende-se compreender como eles vêem o

trabalho no CIEJA, os processos formativos aos quais são submetidos. Nas

Considerações Finais retoma-se os objetivos e responde-se as perguntas propostas

apontando então novos desafios.

Com isso, além de identificar os processos formativos aos quais os professores

têm submetidos pretende-se verificar também em que medida eles percebem esses

processos formativos como adequados à sua realidade.

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CAPÍTULO I

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E SABERES DOCENTES PARA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

23 de abril de 1990! Estava eu, em frente a uma sala de aula pela primeira vez! Muito medo, insegurança, e à minha frente, uma turma de 40 alunos. Sim, (QUARENTA), me olhando, observando, e do lado de cá, uma novata, de apenas 19 anos, que fez um curso de magisterio que apenas serviu para me dar o diploma, porque o que eu aprendi atrás de uma carteira foi apenas TEORIA. Nem mesmo mexer num diário de classe, ou no ultrapassado MIMEÓGRAFO. Tudo aprendido com o dia-a-dia ao lado daqueles que também nos ensinam : AS CRIANÇAS. 24 anos de profissão! E, digo a vocês que, cada turma é UNICA, assim como cada aluno que passa por nossa vida.. Deixa ver.... Hoje, um aluno da minha primeira turma, deve estar com seus 32/33 aninhos... Nuossaaaaaaaa!!!! Tudo está passando na minha memória agora... Relíquia pura... Quantos stencils, maõs roxas... affffff. Ainda guardo, com carinho o meu primeiro semanário... E, olha: Não me vejo em outra profissão, viu? Mesmo com a nossa desvalorização na sociedade, salário baixo... e tantas outras DESMOTIVAÇÕES, ainda tô juntando minhas forças pra dobrar período, Até quando? Não sei, não.. Mas, sabe aquela pessoa que tem vontade de todos os dias ver sua turminha e pronta pra dizer: "Olá, crianças!! Vamos começar nossa aula hoje???""" então.. Esse cara sou eu... Obrigada MEU DEUS!!!!

1

Enquanto escrevia este capítulo ora ou outra abria o e-mail e também as redes

sociais, quando me deparei com o depoimento de uma amiga professora. Interessante

que me chamou a atenção justamente por estar escrevendo sobre a formação de

professores e da decepção da amiga em saber que o que aprendeu na faculdade como

ela mesmo diz, foi só teoria, e diz que foi no dia a dia ao lado das crianças que acredita

ter aprendido a ser professora.

Como ela, não é difícil encontrarmos professores que comungam da mesma idéia,

que pensam de forma semelhante, qual seja de que só a universidade, ou seja formação

inicial não prepara para o exercício da docência, mas sim as experiências cotidianas, as

práticas desenvolvidas em sala de aula.

Lima (2014) adverte que

A formação profissional é processual, é contínua, por isso demanda investimentos pessoais e institucionais que devem atender às reais necessidades de atuação. Esta demanda da atividade docente poderá desencadear no professor um estado de preocupação, de desassossego, para além de seus conhecimentos, isto é, a uma inquietação intelectual por não se considerar seguro para agir em sala de aula, tendo em vista, sua inexperiência profissional e as lacunas de ordem teórica e prática, existentes nos cursos de formação de professores. (p.26)

1 Depoimento de Eliana Palma postado na Rede Social Facebook por ocasião do aniversário de exercício de sua

profissão. 24/04/2013. Com licença da autora.

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Assim a formação inicial é um dos momentos da formação do professor, mas a

formação continuada é tão importante quanto, pois vai garantir outros saberes os quais só

serão construídos através dessa formação.

A formação continuada perpassa o processo do aprender a ensinar, situações e vivências de aprendizagem da docência e de reflexão individual e coletiva sobre e na ação docente, ou seja, trata-se de formação que se efetive em serviço, por meio da qual permite refletir sobre o que se sabe fazer na prática, aprendendo a ensinar ensinando; dimensão esta relevante e contributiva ao aprimoramento do saber fazer docente e de seu aprofundamento qualitativo. (LIMA, 2014 p.26)

São muitas e complexas as teorias que são apresentadas nos cursos de

licenciaturas. Um curso que têm duração de 3 a 4 anos e que quando chegamos ao final

do curso já teremos um distanciamento cronológico enorme em relação ao primeiro ano,

perguntamos: terão tais teorias aplicabilidade em algum momento? Ou melhor, tais teorias

são pertinentes para o momento atual?

Neste sentido Nóvoa (1995) argumenta

Atualmente o progresso científico acelerado provoca transformações que demandam alterações de conteúdos curriculares e geram receios e insegurança nos professores perante as mudanças. Quem pode estar seguro, hoje, de ensinar aquilo que é mais recente em matéria de conhecimento? Ou, pior ainda, quem pode estar seguro de que aquilo que ensina não será substituído por conhecimentos mais úteis aos alunos que estamos a tentar preparar para uma sociedade que ainda não existe? (p.106)

Este questionamento nos leva a refletir sobre a necessidade mesmo da formação

continuada, pois se existe um distanciamento entre a formação inicial e a atuação

profissional propriamente dita, então será a formação continuada ou em serviço que dará

conta dessas lacunas deixadas pela formação inicial.

Para Lima (2014) a construção da profissão de professor exige

uma formação para a especificidade do exercício da atividade docente, ou seja, implica em aprendizagem profissional, do aprender ser professor, nos cursos de formação inicial, bem como do aprender a ensinar ensinando... (p.48)

Pensamos nesse sentido que a formação inicial oferecerá alguns subsídios para

que o professor inicie o seu caminho, mas lembrando que vai aprender a ensinar

ensinando.

Nóvoa (1995) e também Silva (2009, p. 49) analisando a questão da teoria e

prática explica que a formação de professores tem se baseado em dois modelos: um

modelo acadêmico, centrado em conhecimentos científicos considerados fundamentais,

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mas nos quais predomina a separação entre a teoria e a prática; e um modelo prático,

centrado no cotidiano das escolas e na aplicação de metodologias, no qual a prática

predomina sobre os aspectos teóricos.

Pensamos que muito do que se apresenta na universidade é descontextualizado

com o momento atual, pois vivemos numa sociedade marcada pelo transitório e

passageiro, não há lugar para longas e complexas teorias, o que é hoje não será amanhã.

A sociedade muda e os saberes também deveriam mudar, deveriam acompanhar as

mudanças para que não ficasse obsoleto para que não virasse apenas “teoria”, algo que

se memoriza para ser aprovado numa avaliação. Infelizmente o que temos visto, pelo

menos nas licenciaturas, é uma formação precária que não atende as expectativas

daqueles que buscam formação para num segundo momento atuar em sala de aula.

O discurso da professora que abre esse capítulo é claro: evidencia-se uma visão

dicotômica e fragmentada entre teoria e prática na complexa formação inicial do

professor. Assim, segundo Ens (2006):

Para superar uma formação fragmentada, tanto a instituição formadora de professores como os formadores e os futuros professores, precisam assumir que na sociedade globalizada se convive, simultaneamente, com a inovação e a incerteza. Por isso, a educação dos seres humanos se torna mais complexa, e a formação do professor, também, passa a assumir essa complexidade. Para superar a dicotomia entre ensino e pesquisa, teoria e prática, e possibilitar a construção de uma práxis dinamizada pela iniciativa, pelo envolvimento do futuro professor em projetos educativos próprios e fundamentados, torna-se necessário reconhecer tal complexidade (p.12-13).

É nesta complexidade que pensamos a formação de professores e sabemos que a

questão da formação de professores não é nova, tema de inúmeros trabalhos, seminários,

congressos, palestras, palco de discussões acaloradas e de diferentes posturas e olhares.

Na medida em que a sociedade se transforma, novos olhares surgem e então reacendem

estes debates. Mas o que dizer de uma sociedade com mudanças tão rápidas?

Vivemos numa sociedade tecnológica, complexa, globalizada, com grandes e

importantes avanços na área da medicina, ciência e tecnologia. Uma sociedade

contraditória onde impera o consumismo e onde muitos ainda morrem pela fome.

Baumann vai chamar a atual sociedade de Modernidade Líquida. Uma sociedade onde

tudo é passageiro, tudo é trasitório.

No século XIX, já com Marx e Engels, a modernidade era tida como um processo

social, econômico, político e cultural amplo que ao longo de sua marcha histórica derretia

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todos os sólidos existentes. O grupo de parentesco, a comunidade tradicional fechada e

isolada, os laços e obrigações sociais fundados na afetividade e na tradição, a religião,

dentre outros, foram, de certa forma, “derretidos” pelo progresso moderno (FRAGOSO,

2011)

Na atual sociedade da qual fazemos parte concordo com Baumann que caracteriza

esta sociedade como: Modernidade Líquida. Assim Bauman (2009) argumenta:

Uma inédita fluidez, fragilidade e transitoriedade em construção (a famosa “flexibilidade”) marcam todas as espécies de vínculos sociais que, uma década atrás, combinaram-se para constituir um arcabouço duradouro e fidedigno dentro do qual se pôde tecer com segurança uma rede de interações humanas. Elas afetam particularmente, e talvez de modo mais seminal, o emprego e as relações profissionais (p. 112).

Sobre essa fluidez o autor coloca

O aspecto definidor de ‘liquidez’, a incapacidade de reter sua forma por muito tempo e sua propensão a mudar de forma sob a influência de mínimas, fracas e ligeiras pressões é apenas o traço mais óbvio e, em minha opinião, também a característica mais consequente de nossa atual condição sociocultural. (BAUMAN,

2009).

É nessa sociedade moderna líquida que temos que pensar esta formação, a partir

desse lugar é que vamos falar sobre a formação de professores.

Pensar na modernidade líquida é perceber que os sujeitos não possuem mais

padrões de referência, nem códigos sociais e culturais que lhes possibilitassem, ao

mesmo tempo, construir sua vida e se inserir dentro das condições de classe e cidadão

(FRAGOSO, 2011). Para Bauman (2009) estamos vivendo um momento, onde os

indivíduos não possuem mais lugares preestabelecidos, estes indivíduos devem lutar

livremente por sua própria conta e risco para se inserir numa sociedade.

Fragoso (2011) explica que :

Na modernidade sólida, as identidades eram sim autoconstruídas, no entanto, eram também feitas para durar. No caso da experiência dos indivíduos na versão líquida da modernidade, a identidade é continuamente montada e desmontada. E tem de ser assim, visto que a busca fugaz da felicidade exige adaptabilidade e mudança constante, portanto prender-se a uma “identidade” pode ser o desfecho final de um destino infeliz (p.110)

Pensando na questão da identidade e mais especificamente da identidade do

professor, poderíamos pensar então que havia uma identidade que ele julgava ser aquela

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que o caracterizava, agora neste momento uma nova identidade será construída mas

poderá sofrer adaptações ou ajustes o que nos remete a pensar também na crise das

identidades que Dubar (2006) explica ser decorrência da crise da modernidade. Dubar

(2006) não fala de identidade, mas identidades no plural pois explica que são várias as

identidades e que os indivíduos escolhem suas pertenças a partir de suas necessidades

as quais as de hoje podem não ser as mesmas amanhã. O autor fala que a crise das

identidades é conseqüência de mutações em três esferas centrais da vida social: a

transformação nas relações de gênero e da instituição familiar; a esfera do trabalho,

emprego, formação e escolarização e a esfera do Estado-nação, contribuindo com a

fragmentação das identidades.

Pensar em múltiplas identidades e não somente em uma única, pode ser positivo

pois segundo Baumann (2005) a identidade firmemente fixada e solidamente construída

seria um fardo, uma repressão, uma limitação da liberdade de escolha. Seria um

presságio da incapacidade de destravar a porta quando a nova oportunidade estiver

batendo (BAUMAN, 2005, p. 60).

Assim, pensar em formação de professores numa crise de identidades tendo como

pano de fundo a modernidade líquida, não é tarefa fácil, mas arriscamos algumas

colocações.

Segundo dados da Pnad/IBGE 2011, o Brasil tem uma população de 56,2 milhões

de pessoas com mais de 18 anos que não freqüentam a escola e não têm o ensino

fundamental completo. Esse contingente é uma clientela potencial a ser atendida pela

EJA. Dados do Inaf indicam que apenas um quarto da população brasileira é plenamente

alfabetizada (Anuário Brasileiro de Educação Básica 2013).

Estes dados nos inspiram certa preocupação, pois se um quarto da população não

é plenamente alfabetizada é porque alguma coisa de errado aconteceu em suas

trajetórias de vida. Uma delas pode ter sido o fracasso escolar, e depois se formos pensar

no número de desistências ou melhor de evasão na modalidade de jovens e adultos a

preocupação se torna ainda maior. Então pensarmos que a formação de professores

neste contexto de fracassos e exclusão é condição mister para problematizarmos esta

questão.

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Possani (2010) nos alerta para que não se repita o mesmo erro de quando os

alunos passaram pelo ensino fundamental, e que o fracasso e a desistência também

estão associados à própria escola

Há fatores externos à escola que impedem os adolescentes e jovens de entrarem ou continuarem na escola, mas há fatores internos que os expulsam da escola antes de concluírem o Ensino Fundamental e terem a possibilidade de continuidade dos estudos em níveis mais elevados. Em muitos casos, não raros, a EJA repete os mesmos erros, expulsando-os pela segunda vez (p.68)

A escola tem responsabilidades tanto na evasão quanto no fracasso escolar

A escola tem sua face inclusiva quando abre as portas para as camadas de setores populares e lhes oferece a educação formal a que têm direito, mas esconde mecanismos que, silenciosamente, os afasta de seu meio, expulsando-os e fazendo com que se sintam responsáveis pelo seu fracasso (POSSANI, 2007 p.83)

As leituras iniciais revelam que EJA é o resultado de um ensino que historicamente

foi tratado de forma compensatória nas políticas educacionais, o que resultou em um

problema ainda não resolvido em pleno século XXI evidente nos altos índices de

analfabetismo que ainda hoje fazem parte da realidade educacional do país.

Segundo Tardiff (2000) Os alunos passam pelos cursos de formação de

professores sem modificar suas crenças anteriores sobre o ensino. E, quando começam a

trabalhar como professores, são principalmente essas crenças que eles reativam para

solucionar seus problemas profissionais.

Muitas vezes os alunos vão se valer se suas experiências como aluno para

atuarem como professores, e nos remetendo especificamente a EJA o caso ainda é pior,

pois tal público prescinde de uma particularidade, competências e habilidades próprias

para atuarem nessa modalidade. Vemos que muitos professores vão para EJA sem o

menor preparo. Muitas vezes escolhem para “acomodarem” seus horários, ou por

acreditarem ser um público sem maiores problemas.

Também Torres (1990) comenta nesse sentido:

Na verdade continua arraigada a idéia de que qualquer pessoa que saiba ler e escrever pode se converter em alfabetizador, assim como a idéia de que qualquer educador o é automaticamente – pelo fato de sê-lo um educador de adultos. É típico que se passe a ver o professor da escola como depositário natural da tarefa de alfabetizar adultos (TORRES,1990, p. 05)

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A formação de professores para jovens e adultos precisa de um olhar cuidadoso

que leve em consideração os indivíduos envolvidos neste processo, que são sujeitos de

uma história e possuem saberes muito particulares e que devem ser levados em

consideração no contexto escolar.

Bernardino (2008) fala da formação do professor de Educação de Jovens e Adultos

e diz que esta é desatualizada, pois na sua prática reproduz os mesmos métodos da

educação regular, além disso diz que são poucas as pesquisas, discussões e produção

de conhecimento para esta modalidade de ensino.

Arroyo (2005) também comenta sobre a formação de professores para EJA e

explica que tal formação é precária e que estamos construindo este perfil talvez por conta

do descrédito da EJA que por anos não obteve o olhar das políticas públicas

educacionais.

Esse caráter universalista, generalista dos modelos de formação de educadores e esse caráter histórico desfigurado dessa EJA explica por que não temos uma tradição de um perfil de educador de jovens e adultos e de sua formação. Isso implica sérias consequências. O perfil do educador de jovens e adultos e sua formação encontra-se ainda em construção. Temos assim um desafio, vamos ter que inventar esse perfil e construir sua formação. Caso contrário, teremos que ir recolhendo pedras que já existem ao longo de anos de EJA e irmos construindo esse perfil da EJA e, consequentemente, teremos que construir o perfil dos educadores de jovens e adultos e de sua formação (ARROYO, 2005, p. 18).

Moura (2014) afirma que:

Pensar na formação do professor de jovens e adultos, no atual contexto socioeconômico, político e cultural, exige uma avaliação e uma revisão da prática educativa e da formação inicial e continuada desses educadores, principalmente se considerarmos as especificidades e particularidades dos sujeitos-alunos-trabalhadores (p.48)

A autora é feliz em suas colocações, pois está pensando na formação do professor

de jovens e adultos no atual contexto social na forma que estamos pensando, são

sujeito-alunos-trabalhadores vindos como já dissemos de um processo de exclusão.

Gadotti (2001, p. 98) e Balém (2003) afirmam ser necessário que o professor de

jovens e adultos “esteja envolvido com toda a complexidade que abarca a compreensão

dos processos de construção do conhecimento e a análise da trajetória da Educação

Popular”. Para que tal fato ocorra, o engajamento do professor deve passar pela reflexão

do fazer pedagógico, pela produção coletiva do compromisso com a criação de

professores-pesquisadores, cujas ações de prática docente e de pesquisa se

interpenetram.

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Balém (2003) acredita que para termos uma identidade a contento de professor de

Jovens e a Adultos é preciso superar os erros do passado e que seria necessário

possibilitar uma redescoberta dos saberes que quotidianamente são vivenciados e partir para um conhecimento elaborado com informações que estejam alicerçadas em uma visão politizadora, pois enquanto categoria acadêmica e agentes de educação pública que se identificam com os interesses populares, sabemos que é necessário superar os erros passados para podermos avançar a uma nova construção identitária do professor de EJA (p.12)

Essa identificação popular sugerida pelo autor é desejável, embora não possamos

afirmar que todos os professores se identifiquem, pois este reconhecimento é algo

particular do sujeito, e nesse sentido uns podem se identificar, outros não, conforme

Dubar (2006) o indivíduo vai escolher suas pertenças de acordo com sua socialização de

acordo com o meio em que vive. E o meio em que vive hoje pode não ser o de amanha.

Vejamos:

Em outras palavras, a modernidade é a impossibilidade de permanecer fixo. Ser moderno significa estar em movimento. Não se resolve estar em movimento – como não se resolve ser moderno... Nesse mundo, todos os habitantes são nômades, mas nômades que perambulam a fim de se fixar. Além da curva, existe, deve existir, tem de existir uma terra hospitaleira em que se fixar, mas depois de cada curva surgem novas curvas, com novas frustrações e novas esperanças ainda não destroçadas. (BAUMAN, 1998, p.92).

A EJA, como modalidade diferenciada em relação à educação de crianças,

necessita de elementos apropriados para atender às peculiaridades típicas do processo

esses elementos podem ser especificados nas seguintes categorias, a saber: professores,

ambiente físico, programas (conteúdos), metodologia própria, e neste caso práticas

pedagógicas diferenciadas. Segundo Farias (2013)

o tema da formação de professores em EJA é extremamente importante para o rumo da educação e, em especial, da EJA no país. É na formação inicial que a consciência da relevância dessa modalidade de ensino deve ser desenvolvida, para que sejam formados professores com um posicionamento frente ao seu papel de formar adultos atuantes na sociedade através de sua cidadania afirmada no direito e acesso à educação (p.693)

Dessa forma, os jovens e adultos na EJA, exigem do professor, além dos saberes

disciplinares, práticas educativas que aproveitem a sua bagagem cultural e a experiência

acumulada. Infelizmente não temos hoje muitas opções para formarmos professores

especificamente para EJA. Segundo dados do PNAD (2010) só 6% dos cursos de

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Pedagogia hoje no Brasil tem essa habilitação, os demais cursos oferecem apenas uma

disciplina com esta nomenclatura com uma carga horária bastante reduzida o que

prejudica a formação do professor que atuara nessa modalidade de ensino.

Pensando na formação quase inexistente de professores para EJA e a forma

precária com que é oferecida esta disciplina nos cursos de licenciatura, os saberes dos

professores parecem ser uma fonte importante para discutirmos a formação de

professores. Essa questão nos leva a questionar os saberes dos professores. Nesse

sentido Tardiff (2000) comenta que:

o saber dos professores é o saber deles e está relacionado com a pessoa e a identidade deles, com a sua experiência de vida e com a sua história profissional, com as suas relações com os alunos em sala de aula e com os outros atores na escola, etc. Por isso, é necessário estudá-lo relacionando-o com esses elementos constitutivos do trabalho docente [...] O que a pesquisa sobre os saberes profissionais mostra é que eles são fortemente personalizados, ou seja, que se trata raramente de saberes formalizados, de saberes objetivados, mas sim de saberes apropriados, incorporados, subjetivados, saberes que é difícil dissociar das pessoas, de sua experiência e situação de trabalho (p.11,15)

Tardiff (2000) nos fala dos diferentes saberes que contemplam a formação de

professor. Para o autor não se trata de um saber e sim vários saberes, destacando

quatro tipos diferentes de saberes relacionados a atividade docente: os saberes da

formação profissional (das ciências da educação e da ideologia pedagógica); os saberes

disciplinares; os saberes curriculares e, finalmente, os saberes experienciais. Para o autor

o que forma um professor são conhecimentos de ordem diversa, é esse conjunto de

conhecimentos/saberes que vai formar um professor, na realidade são os conhecimentos

oriundos da universidade aliados as saberes da prática docente.

Tardif (2002) explica que:

Ao longo de sua história de vida pessoal e escolar, supõe-se que o futuro professor interioriza um certo número de conhecimentos, de competências, de crenças, de valores, etc., os quais estruturam a sua personalidade e suas relações com os outros (especialmente com as crianças) e são reatualizados e reutilizados, de maneira não reflexiva mas com grande convicção, na prática de seu ofício. Nessa perspectiva, os saberes experienciais do professor, longe de serem baseados unicamente no trabalho em sala de aula, decorreriam em grande parte de preconcepções do ensino e da aprendizagem herdadas da história escolar. (p.72)

Concordamos com Tardiff, pois o professor irá se valer em muitos casos daquilo

que viu enquanto aluno, não raro escutamos ou vemos professores dizendo que se

inspiraram em algum professor ou mesmo que lhe fora despertado o interesse em ser

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professor por conta de ter tido aulas com um professor em especial, e talvez na prática

ele queira reproduzir aquele “modo” particular daquele professor de outrora agora numa

nova versão em outra roupagem mais nova. Assim os saberes experienciais não seriam

só da prática de sala de aula mas estariam profundamente atrelados a uma preconcepção

de ensino que foi incorporada em alguns momentos de sua vida como aluno ou mesmo

em seu percurso formativo.

Outro autor que tipifica os saberes dos professores aprofundando-os um pouco

mais é Gauthier (1998) e segundo ele são eles: saber disciplinar, saber curricular, saber

das ciências da educação, saber da tradição pedagógica, saber experiencial e saber da

ação pedagógica. Gauthier (1998) nos diz que o ensino é “a mobilização de vários

saberes que formam uma espécie de reservatório no qual o professor se abastece para

responder a exigências específicas de sua situação concreta de ensino” (p. 27).

Pensar que existem vários e diferentes saberes e mais, que o saber da prática

docente é um saber importante foi de muita contribuição pois agora tem-se o saber do

professor como objeto de estudo

Assim um professor aprende a trabalhar trabalhando, e quanto mais experiência

possuir, mais saberes ele possuirá, pois sua prática anterior, reavaliada e retomada,

configura-se em nova prática dessa vez ponderada a partir dos erros e acertos de

vivências outrora realizada.

Pedroso (2008) comenta sobre as discussões acerca das práticas pedagógicas e

de que estas possam adequar-se ao público que vier atender, no caso da EJA

são recorrentes nos contextos educacionais as discussões sobre o aprimoramento de práticas pedagógicas que possam ser adequadas a grupos determinados de alunos. No que se refere às atividades de Educação de Jovens e Adultos (EJA), é consenso entre os educadores que, para se alcançar uma práxis que possibilite uma aprendizagem significativa, é imprescindível que sejam consideradas, no processo educativo, informações que desvelem o contexto no qual os educandos estão inseridos (p.20)

Assim, entendemos como Freire (1999) que o educador deve atuar como

pesquisador, sujeito curioso, que busca o saber e o assimila de uma forma crítica, com

questionamentos e orienta seus educandos a seguirem também essa linha metodológica

de estudar e entender o mundo, relacionando os conhecimentos adquiridos com a

realidade de sua vida, sua cidade, seu meio social. Tal assertiva é defendida por Freire

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(1999), que afirma que "não há ensino sem pesquisa nem pesquisa sem ensino"

(FREIRE, 1999: 32).

Freire (1999), revela que o ensino não depende exclusivamente do professor,

assim como a aprendizagem não é algo relativo apenas ao aluno. Em suas palavras,

(...) quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. (...) Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem a condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. (...) Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar (p.25-6).

É consenso entre Freire (1999) e Pedroso (2008) que existe um fazer pedagógico

próprio quando atuamos com jovens e adultos, um fazer que leva em consideração o

aluno como um ser histórico e por isso deve ser considerado em seu contexto.

Nunes (2001) comentando sobre as pesquisas que versam sobre formação de

professores diz que há uma “revisão da compreensão da prática pedagógica do

professor” que é tido como detentor de saberes profissionais. Para este autor o professor

em seu trajeto constrói e reconstrói seus conhecimentos conforme a necessidade de sua

utilização, percurso formativo, etc.

O autor nos chama a atenção para

as pesquisas sobre a formação de professores e os saberes docentes surgem com marca da produção intelectual internacional, com o desenvolvimento de estudos que utilizam uma abordagem téorico-metodológica que dá a voz ao professor, a partir da análise de trajetórias, histórias de vida etc.(p.27)

Neste sentido percebe-se a importância de se escutar os professores para daí

serem extraídos os conhecimentos oriundos de sua trajetória profissional, seja de suas

experiências, seja de seu percurso formativo.

Para Sacristan (1999)

As marcas das ações passadas são bagagem de prática acumulada, uma espécie de capital cultural para as ações seguintes; essa bagagem é possibilidade e condicionamento que não fecha a ação futura. A sociedade cria as condições para a ação, a fim de que os seres humanos possam agir e o faça de uma forma determinada, como fruto da socialização, mas as ações envolvem decisões humanas e motivos dos sujeitos (p.75).

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Percebe-se na colocação deste autor que o professor pode então a partir de

experiências anteriores formar uma bagagem de práticas, ou seja um patrimônio

pedagógico que poderá ser acessado quando quiser e achar conveniente. As situações

vivenciadas pelo professor no dia a dia é que irão determinar o acesso a esse patrimônio

que tende somente a expandir pois as experiências serão novas assim como os sujeitos

também o são. Novos arranjos nascerão destas novas interações pessoais baseadas no

patrimônio pedagógico que aquele professor possuir.

A necessidade de se construir um conhecimento mais específico, mais perto da

realidade do professor levando em conta seu “modo de vida” também é encontrado em

Nóvoa (1995) onde direcionado o olhar para o professor e aponta:

Essa nova abordagem veio em oposição aos estudos anteriores que acabavam por reduzir a profissão docente a um conjunto de competências e técnicas, gerando uma crise de identidade dos professores em decorrência de uma separação entre o eu profissional e o eu pessoal. Essa virada nas investigações passou a ter o professor como foco central em estudos e debates, considerando o quanto o “modo de vida” pessoal acaba por interferir no profissional. Acrescenta ainda o autor que esse movimento surgiu “num universo pedagógico, num amálgama de vontades de produzir um outro tipo de conhecimento, mais próximo das realidades educativas e do quotidiano dos professores” (p. 19).

Nóvoa (1995) afirma:

A formação deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que forneça aos professores os meios de um pensamento autônomo e que facilita a dinâmica da autoformação participante. Estar em formação implica um investimento pessoal, um trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projetos próprios, com vistas a construção de uma identidade, que é também uma identidade profissional (p.25)

Para Nóvoa (1995) a autoformação, é um caminho possível para a formação do

professor de EJA pois trata-se da reflexão a partir de sua própria prática de seu próprio

percurso. Já quando o autor fala da identidade esta para nós é questionável pois já que

estamos trabalhando dentro da ótica da modernidade líquida não podemos falar em uma

identidade mas talvez uma de inúmeras que poderão ser delineadas. Assim Dubar (2006)

coloca que neste contexto de incertezas da modernidade a identidade do professor passa

a ser uma construção individual e não uma identidade de uma instituição, trata-se de uma

construção muito particular e muito solitária bem ao jeito da modernidade líquida.

Dessa forma Gonçalves Pinto (2010) esclarece-nos que:

A profissão de professor é um construto social, e, como tal, está sujeita a mudanças. Não somos naturalmente professores. Construir professor envolve,

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muitas vezes, ter de lidar com concepções estigmatizadas, tais como missão, sacerdócio, vocação, amor, dentre outras. Envolve também, muitas vezes, uma concepção de profissão de menor status social se comparada a outras como as liberais, por exemplo. A docência não é constituída apenas pelo que está explícito em uma base curricular. É, em grande parte, o que não verbalizamos, mas significamos, que se constitui em elemento formador (p. 111).

A autora em seu estudo reflete acerca da formação de professores, tendo como

foco de análise os saberes docentes construídos ao longo da prática pedagógica. Para

esta autora, valorizar a prática pedagógica como elemento de partida para as reflexões

acerca da formação de professor pode nos parecer um desprestígio ao processo de

teorização, o que não é o caso. A questão central que se coloca é pensarmos alternativas

para as análises tradicionalmente construídas sobre o tema (GONÇALVES PINTO, 2010).

Para Gonçalves Pinto (2010)

A importância de refletirmos sobre o que fazemos, enquanto fazemos, contribui, em grande parte, para uma prática mais comprometida e situada frente aos desafios do processo educacional, e, além disso, o “[...] nosso pensar serve para dar nova forma ao que estamos fazendo, enquanto ainda o fazemos” (SCHÖN, 2000, p. 32 apud. GONÇALVES PINTO, 2010, p. 113).

Também buscando algo mais próximo das realidades educativas Nunes (2001)

afirma:

De certa forma, o repensar a concepção da formação dos professores, que até a pouco tempo objetivava a capacitação destes, através da transmissão do conhecimento, a fim de que “aprendessem” a atuar eficazmente na sala de aula, vem sendo substituído pela abordagem de analisar a prática que este professor vem desenvolvendo, enfatizando a temática do saber docente e a busca de uma base de conhecimento para os professores, considerando os saberes da experiência (p.38)

Comungamos das mesmas proposições de Nóvoa, Tardiff e Nunes, quando falam

da necessidade de se ter o professor ou melhor os saberes dos professores como objeto

de estudo, é hora de ouvi-los de dar voz aos professores para que possamos conhecer

suas percepções, angústias, necessidades, desafios enfim as representações sociais que

fazem do ser-docente em sua prática pedagógica.

Baumann (2009) fala deste momento como um momento de angústia mas também

de esperança. Pensar em formação de professores num tempo em que 2 horas é tempo

demais o que dirá de uma formação inicial de 3 ou 4 anos se é a velocidade e não a

duração o que importa, será que os conteúdos adquiridos neste tempo servirão para o

momento futuro, uma vez que dentro da ótica de Baumann os longos discursos as teorias

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complexas não teriam mais lugar? Neste espaço só interessa aquilo que for flexível e

passível de mudança e adequação o duradouro acabou deu lugar ao passageiro. A

velocidade das coisas é o que interessa é o que é necessário. O indivíduo é aquilo que

ele veste o que come, o restaurante que freqüenta as etiquetas e marcas que carregam,

são esses os valores que irão definir a identidade dos indivíduos, mas e enquanto aos

professores? Serão eles também os pensadores que defendem, as questões pedagógicas

que os norteiam?

A formação inicial tão importante para os docentes agora é questionada, pois os

conteúdos hoje apresentados serão utilizados quando o educador for para a sua sala de

aula? Se tudo é transitório e passageiro também o conhecimento deveria adequar-se a

este novo ordenamento.

A Educação de Jovens e adultos requer um olhar cuidadoso pois trata-se de uma

modalidade onde os indivíduos foram excluídos em algum momento, e agora necessitam

não só de uma chance mais de um estímulo que os levem a construção e aplicação de

novos conhecimento, para isso a necessidade da formação do professor ser específica

para o atendimento de jovens e adultos

Este capítulo teve por intenção refletir sobre a formação de professores na

modernidade líquida. Se pensássemos somente na formação de professores a tarefa já

seria difícil, mas falar de uma nova perspectiva onde o antigo ordenamento já não existe e

onde o indivíduo encontra-se sozinho, ele mesmo em busca de seu eu, é tarefa bem

difícil.

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CAPÍTULO 2 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SÃO PAULO

2.1. A Rede Municipal de Ensino de São Paulo: um breve histórico

A história da educação escolar na Rede Municipal de Ensino tem seu inicio em

9/01/1935 pelo Ato nº 767 do prefeito Fábio da Silva Prado cria o Serviço Municipal de

Jogos e Recreio para o atendimento de crianças de 3 a 12 anos.

O que pretendiam com esses parques infantis? Pretendiam aproveitar as praças públicas e nelas criar condições para as crianças das camadas mais pobres poder brincar, se alimentar, receber cuidados de higiene e, ao mesmo tempo, receber algumas orientações educacionais. Tirar a criança e o adolescente da rua. local de vício e de criminalidade, era a grande meta dos parques infantis, não só no Brasil como fora.(MARCÍLIO, 2006 p.6)

Segundo Marcílio (2006) a educação primária municipal só começou em 1956

quando também foi criada a Secretaria Municipal de Educação e Cultura e no ano

seguinte criaram-se as primeiras classes primárias do município de São Paulo. É

interessante que a cidade de São Paulo estando entre as 10 maiores cidades do mundo,

é a única cidade que não nasceu num forte militar e sim num colégio. Penso sobre esse

fato porque apesar da cidade ter mais de 450 anos e ter a educação escolar como seu

berço, somente há 58 anos temos uma Rede Municipal de Ensino. Parece mesmo ser

contraditório isso pelo tempo e pela grandiosidade da cidade. Assim as primeiras escolas

municipais aqui instaladas são na década de 50:

foram instaladas em meio a uma disputa entre o Município e o Estado, e de uma forma atropelada. Os professores das escolas estaduais foram emprestados para as escolas municipais, muitas vezes acumulando cargos, o que criou disputas e rivalidades muito grandes. Mas tudo isso foi ultrapassado e as escolas municipais foram efetivadas, aumentando em número. Em 1958, eram 50 mil os alunos das escolas municipais (MARCÍLIO, 2006, p.7).

A mesma autora ainda explica que em 1970 São Paulo tinha cerca de 6 milhões de

habitantes e muitas crianças precisando de escolas. O ensino primário era um dos piores

quando comparados a outros estados e países:

O fracasso escolar era realmente gritante. O fracasso escolar estava nas altíssimas taxas de repetência, uma das maiores do mundo, e na evasão escolar

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(esta resultante em grande parte da primeira). Em 1983, para fazer face a essa situação, onde a criança da primeira série escolar e das camadas camadas mais pobres da cidade era a que mais sofria com a repetência e a evasão, o Governador Franco Montoro inaugurou o sistema de ciclos de dois anos, numa tentativa de evitar esse fracasso dos alunos da primeira e segunda séries, e, ao mesmo tempo, investiu na preparação de programas de alfabetização, de distribuição de cartilhas, da reciclagem de professores alfabetizadores. (MARCÍLIO, 2006 p.7)

Em 1982 a rede municipal de ensino contava com 281 escolas municipais de 1º

grau, uma escola infantil e de 1º grau, para deficientes auditivos; cinco escolas municipais

de ensino supletivo e 1 escola municipal de 1º e 2 º graus (MARCÍLIO 2006, p.272). Com

a Lei nº 5692/71 (Lei de Diretrizes e Bases do Ensino de 1 º e 2 º graus), que integrava

os dois níveis de ensino o primário e o ginasial num único ensino de 1º grau de oito anos,

obrigatório, universal e nas escolas públicas assistiu-se a expansão da escolarização do

ensino fundamental.

De acordo com os dados do Portal da Secretaria Municipal de Educação (2014) o

sistema municipal em sua rede direta atende hoje quase 1 milhão de alunos. São 944.547

estudantes distribuídos em: Escolas de Educação Infantil, creches conveniadas, Escolas

de Ensino Fundamental, Escolas de Ensino Fundamental e Médio, Ciejas, salas de

MOVA, além de convênios assinados com creches particulares e entidades

alfabetizadoras (PORTAL SME, 2014).

Desta forma, a Educação de Jovens e Adultos, objeto deste estudo está situada

em um contexto mais amplo que compreende um sistema que atende a todas as etapas

da educação básica.

Dentre estes alunos 77.595 são alunos atendidos pela de Educação de Jovens e

Adultos.

2.2. A EJA na Rede Municipal de Ensino

.

A EJA na rede Municipal de Ensino foi criada pela Lei nº 8389/76 que oferecia o

Ensino Fundamental Supletivo, no período noturno, nas escolas municipais de 1 º grau.

E importante destacar também o período em que Paulo Freire foi secretário de

educação do município que foi desde 1989 até 1991

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Funari (2008) explica que a educação de Adultos ganhou relevância na cidade de

São Paulo quando Freire, comprometido com a construção de uma práxis educativa,

promoveu ações que inspiraram mudanças radicais no que tange à gestão das escolas e

ao currículo dos cursos de Suplência:

A administração municipal de 1989 [...] entende que a escola deve ser um espaço de educação popular e não apenas o lugar de transmissão de alguns conhecimentos, cuja valorização se dá à revelia dos insteresses populares. Considera que essa escola deve formar o educando como sujeito produtor de sua própria história, através de uma real participação na sociedade, entendendo-se “real participação” como atuação transformadora e libertadora. (SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO op. cit. FUNARI, 2008, p.31)

Neste sentido é pensado o Movimento para Reorganização Curricular do Ensino

Noturno , pois as escolas em seus antigos modelos foram se mostrando insuficientes para

atender uma demanda de alunos Jovens e Adultos que estavam já atuando no mercado

de trabalho. Assim surge no ano de 1992 o Projeto CEMES (Centros Municipais de

Ensino Supletivo) que foi elaborado ao final da gestão de Luiza Erundina, após a saída de

Paulo Freire da Secretaria da Educação, é regulamentado em 1993 pelo Decreto nº

33894 e em 1994 pela Portaria nº 1625. Estes Centros vinham para dar autonomia

pedagógica e administrativa aos projetos especiais ligados às escolas e criam

possibilidade real de alternativa para a educação do trabalhador (SENAC, apud.

SANTOS, 2008, p.39)

Conforme Santos (2008)

A maioria dos CEMES estavam localizados em distritos populosos, com infra-estrutura urbana precária e pequena oferta de emprego. Esta população precisava se deslocar para outras regiões da capital ou da Grande São Paulo em busca de emprego. Eram estabelecimentos educacionais com características próprias que proporcionavam Ensino Fundamental Supletivo, organizado em módulos, podendo oportunizar cursos de Educação Profissional Básica e Ensino Médio (SANTOS, 2008, p. 39)

O público do CEMES era constituído por jovens acima de 14 anos e adultos que

por algum motivo não podiam estar nas aulas regulares da rede pública, seja pelo horário,

seja pela estrutura do curso.

Sobre a metodologia Santos (2008) esclarece:

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No processo de aprendizagem dos CEMES, a metodologia era desenvolvida pelo ensino personalizado, voltado ao atendimento individual, respeitando o ritmo de aprendizagem do aluno. Assim, cada aluno podia completar sua formação em um prazo compatível com seu ritmo, interesses pessoais e disponibilidade de tempo. A aprendizagem era garantida não só pela auto-instrução, mas também pela socialização do conhecimento que ocorria nos distintos grupos (SANTOS, 2008, p. 40)

Tratava-se de um atendimento individualizado onde o aluno retirava o material e

estudava sozinho. Uma vez realizada todas as atividades solicitadas ele podia marcar

uma avaliação, se fosse aprovado em todas as disciplinas recebia um certificado de

conclusão do Ensino Fundamental (FUNARI, 2008).

Segundo Faria (2014)

os relatos apontam que alunos professores e gestores reconheciam as dificuldades de manter a metodologia do CEMES, em que se estudava individualmente as Unidas de Estudo e se freqüentava os Centros para tirar as dúvidas e fazer as provas. Nesse sistema, imperava a concepção de que a educação era a transmissão de conhecimento, relacionava-se à memorização de conceitos (p.76)

No ano de 2001 existiam 13 CEMES na cidade de São Paulo, com um total e

50.000 alunos. Neste mesmo ano a Secretaria Municipal de Educação percebe a

necessidade de uma reorientação da Educação e Adultos uma vez que os diagnósticos

realizados pela própria rede mostravam uma enorme defasagem entre as matrículas e os

concluintes.

Dessa forma é pensada uma nova proposta de atendimento na educação de

adultos mais voltado as questões do mundo do trabalho e da cultura, forma-se daí uma

frente de trabalho na Secretaria da Educação para reestruturar os novos centros

(SANTOS, 2008).

É neste momento, que através do Decreto nº 43.052/03 são criados os CIEJAs

(Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos), após um movimento de

Reorganização da Educação de Jovens e Adultos, que assim os caracterizam:

Seus princípios, diretrizes, objetivos, organização curricular e avaliação concretizam a garantia de acesso e permanência de Jovens e Adultos ao sistema formal de Educação Básica, garantindo-lhes a qualidade social dessa educação. Seus grandes pilares são a valorização do mundo do trabalho e da cultura pela ótica antropológica e sócio-histórica (SANTOS, 2008 p. 47)

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O Decreto nº 43052 de 04/04/2003 vem então substituir os antigos CEMES pelos

CIEJAS como vemos em seu artigo 6:

Art. 6º. Os atuais Centros Municipais de Ensino Supletivo - CEMEs passam a denominar-se Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos - CIEJAs, que deverão organizar-se e reformular a estrutura de funcionamento dos cursos de acordo com as diretrizes da Secretaria Municipal de Educação e as disposições estabelecidas pelo órgão normativo do Sistema Municipal de Ensino.

Faria (2014) explica que:

o SENAC São Paulo, também contribuiria significativamente para a constituição dos CIEJAs, já que desde o inicio da gestão de Marta Suplicy mantinha-se em contato com a SME-DOT e redigia grande parte dos documentos que dariam corpo ao projeto. A instituição agregaria o olhar sobre os estudantes enquanto trabalhadores, atribuindo à formação dos Centros a função de prepará-los e integrá-los no mercado de trabalho.(p.77)

A EJA segundo a Resolução nº 1 CNE/CEB de 5 de julho de 2002 na rede

municipal deve ser orientada pelos princípios de equidade, diferença e proporção,

propondo um modelo pedagógico próprio contemplando as especificidades de seus

sujeitos.

Neste sentido Lopes (2010) explica que:

A resolução CNE/CEB Nº 1, DE 5 DE JULHO DE 2000, estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, destacando a importância de considerar as situações, os perfis e as faixas etárias dos estudantes. Salienta que a EJA precisa reparar a dívida histórica e social relacionada a uma parte da população brasileira que teve negado o direito à educação; possibilitar seu reingresso no sistema educacional, oferecendo-lhe melhoria nos aspectos sociais, econômicos e educacionais; e buscar uma) educação permanente, diversificada e universal (p.10)

.

Nesta breve análise do atendimento de jovens e adultos na rede municipal de

ensino, e mais breve ainda pelo período de seu atendimento pela rede (38 anos mais

especificamente) notamos 3 momentos importantes: o inicio da oferta do ensino em 1976,

depois em 1992 a criação dos CEMES, em 2003 a criação dos CIEJAS.

Em 2008 acontece outro movimento referente a reorganização da EJA, conforme

Portaria nº 4917/07, publicada em Diário Oficial do Município em 02 de Outubro afirmava

que:

(...) a desejada democratização, e considerando a diversidade da população demandante, deve incorporar flexibilidade no currículo, nos espaços e nos tempos escolares, permitindo percursos variados, adequados às realidades dos

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participantes, que se caracterizam, sobretudo, pela condição de trabalhadores com as mais diferentes histórias de vida, que comportam pluralidade de objetivos, saberes, experiências e responsabilidades. (SÃO PAULO, 2008 p. 11)

Atualmente a Rede Municipal, de Ensino contempla 5 formas de atendimento da

modalidade de Jovens e Adultos:

2.2.1. EJA (Educação de Jovens e Adultos) - Noturno

Conforme Parecer CME nº 97/07 e Portaria nº 4917/07 a Educação de Jovens e

Adultos funciona em algumas Escolas Municipais de Ensino Fundamental - EMEFs,

Escolas Municipais de Ensino Fundamental e Médio - EMEFMs e Escolas Municipais de

Educação Bilíngue para Surdos - EMEBSs, da Rede Municipal de Ensino e tem como

objetivo ampliar as oportunidades de acesso à educação e de conclusão do ensino

fundamental, oferecido no período noturno, com duração de quatro anos em 4 (quatro)

Etapas, como segue:

I – Alfabetização

II – Básica

III – Complementar

IV – Final

O curso é presencial, organizado semestralmente. Cada etapa tem duração de

200 dias letivos e 890 horas (PORTAL SME, 2014).

2.2.2. EJA Modular

Conforme Parecer CME nº 234/12. A EJA Modular pode ser organizada em

Unidades Educacionais inscritas no Projeto, com proposta diferenciada de organização

em módulos de componentes curriculares. Visa oferecer outra oportunidade de

escolarização que melhor se adéqüe às necessidades dos jovens e adultos.

A EJA Modular é um curso presencial – oferecido no período noturno - organizado

com flexibilidade curricular, de tempo e de espaço, desenvolvido em quatro Etapas –

Alfabetização, Básica, Complementar e Final. Cada Etapa é composta de quatro Módulos,

independentes e não sequenciais, com cinquenta dias letivos cada, que se desenvolvem

em encontros diários de duas horas e quinze minutos (três horas/aula). As unidades de

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estudos, dentro dos Módulos de cada Etapa, são compostas de temas e atividades que se

completam no mesmo dia.

A EJA Modular é um curso presencial, oferecido no período noturno, organizado com flexibilidade curricular, de tempo e de espaço, composto pelas 4 etapas da EJA, subdivididas em quatro módulos cada: Língua Portuguesa, Matemática e Ciências, Artes e Inglês e, História e Geografia. Em cada etapa, o encerramento de um Módulo é imediatamente seguido pelo início de outro Módulo, momento em que novos alunos poderão ingressar na etapa. Os componentes curriculares obrigatórios serão desenvolvidos por meio de aulas cuja fundamentação e metodologia se encontram nos documentos: Caderno de Orientações Curriculares: Expectativas de Aprendizagem para a EJA, Cadernos de Orientações Didáticas para EJA nas diferentes áreas do conhecimento e nos livros didáticos enviados pelo PNLD EJA. Os componentes curriculares seguirão os eixos contidos nos Cadernos de Orientações Didáticas para a EJA (Parecer CME 234/12).

Melhor explicando é que as disciplinas são oferecidas em blocos. O aluno escolhe

o bloco que irá cursar primeiro e depois ao final dessa etapa parte para um novo bloco e

assim sucessivamente. O que já ocorreu na prática é que o aluno com dificuldade em

determinada disciplina por exemplo matemática, teria que todo os dias dar conta dos

exercícios e aulas num prazo de mais ou menos 40 a 50 dias vendo só aquilo, existem

vários casos de desistência nesse arranjo, talvez por isso poucas unidades trabalhem

com a EJA Modular. Hoje temos apenas 17 unidades educacionais com o oferecimento

da EJA nessa modalidade.

2.2.3. MOVA (Movimento de Alfabetização)

Trata-se de uma parceria entre o Município de São Paulo e entidades sociais no

estabelecimento de classes de alfabetização inicial. Depois de alfabetizados, os alunos

são orientados na continuidade dos estudos em escolas públicas de São Paulo.

O projeto do MOVA-SP, que teve início efetivo em janeiro de 90, teve grande repercussão tanto na cidade de São Paulo como em outros Estados, pelo proposta de fortalecimento dos movimentos populares sem atrelá-los ao Estado. É um dos raros exemplos de parceria entre a sociedade civil e o Estado. É evidente que nessas circunstâncias a relação não é sempre harmoniosa. Ela é perpassada por tensões. Mas essa é a condição necessária para um trabalho paritário entre o estado e os movimentos populares (GADOTTI, 2014 p. 2)

Segundo Santos (2008) o Mova nasce em 1989 em parceria com os movimentos

populares e a Secretaria Municipal de Educação na gestão de Luiza Erundina. Chegou a

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contar com mais de 70 entidades conveniadas, atendendo cerca de 20.000 educandos a

partir de 14 anos de idade, em 896 núcleos na cidade de São Paulo.(p.52) . É importante

salientar que em 1993 o MOVA-SP é extinto. Em 2001 o MOVA é reconstruído baseado

nos ideais de Paulo Freire (POSSANI, 2008). No governo de Marta Suplicy, foi feita a

reconstrução do MOVA com a equipe de orientação técnica e as diferentes entidades da

sociedade civil, que resgataram a história do MOVA 89/92 e foram construídos a Carta de

Princípios, o Regimento e o Projeto Político Pedagógico do MOVA-SP (2001-2004).

Os interessados são inscritos diretamente pela entidade conveniada, formando-se

classes de, em média, 20 (vinte) alunos. As classes são agrupadas em núcleos e

desenvolvem atividades educativas e culturais presenciais, por duas horas e meia,

durante quatro dias da semana, de 2ª a 5ª feira, em período adequado à frequência dos

alunos da respectiva comunidade. A 6ª feira é reservada para a formação dos educadores

que são pessoas da comunidade com, no mínimo, o Ensino Fundamental concluído ou

com experiência em alfabetização de adultos e os coordenadores pertencem à

comunidade (SANTOS, 2008 p. 52) com Ensino Médio ou Superior concluído ou que

comprovem experiência de, no mínimo, dois anos com trabalho de alfabetização de

Jovens e Adultos.

È importante ressaltar que o MOVA não emite certificação, por não ser um ensino

regular, entretanto todo o seu funcionamento está sendo ou deveria ser acompanhado

pelo Supervisor Escolar:

O supervisor escolar é o representante do poder público municipal encarregado de visitar as salas de MOVA e acompanhar, principalmente, o cumprimento quanto ao número mínimo de alunos freqüentes e o trabalho pedagógico desenvolvido. Esse procedimento não é uniforme em toda a rede; em algumas Diretorias, o MOVA não é acompanhado pela supervisão mas pelo Setor de Convênios que não se constitui em uma supervisão paralela, e sim em uma espécie de departamento das Diretorias Regionais de Educação, encarregado de gerir toda a parte burocrática das entidades conveniadas com o município. É papel da supervisão realizar o acompenhamento pedagógico. O relatório que a supervisão preenche após as visitas a essas entidades constitui-se em um dos documentos obrigatórios para a liberação do pagamento, mas, em algumas DREs, as visitas também são realizadas pelos funcionários desse setor.(VIEIRA, 2008 p. 32)

Acreditamos que as salas de MOVA hoje em funcionamento na cidade são Paulo

seja um dos movimentos de atuação mais próximos da população uma vez que seu

funcionamento está sempre ligado a uma Associação de Bairro, Moradores Igrejas ou

Clubes.

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2.2.4. CMCT (Centro Municipal de Capacitação e Treinamento)

Oferece aos jovens e adultos, com pouca ou nenhuma escolarização formal, cursos

de qualificação profissional inicial de curta duração nas áreas de: panificação, confeitaria,

elétrica residencial, mecânica de autos, informática, corte e costura e auxiliar

administrativo. Atualmente, a cidade possui dois CMCTs ambos na DRE São Miguel.

2.3. Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos - CIEJAS

Os CIEJAs nascem a partir de uma avaliação do CEMES realizada em 2001 que

mostrava resultados ruins quanto à aprovação dos alunos.

As principais mudanças efetuadas a partir da avaliação do CEMES e da criação do CIEJA foram: 1) a passagem de um trabalho mais individualizado dos alunos, cuja centralidade eram os conteúdos para um mais coletivo, que previa a construção e socialização de conhecimentos em processos coletivos, envolvendo educandos e educadores na integração dos conteúdos referentes às áreas do conhecimento (PCN) com os da educação profissional básica e 2) a reorganização do tempo e do espaço para melhor atender a jovens e adultos em suas necessidades educativas.(POSSANI 2010, p.70)

De 2002 ao 1º semestre de 2005 o atendimento foi pautado no desenvolvimento

de atividades de forma interdisciplinar por Área de Conhecimento integrados ao Itinerário

Formativo Lazer e Desenvolvimento Social em grupos classe organizados por módulos. A

carga horária era distribuída em encontros presenciais de 2ª a 5ª e atividades extraclasse.

Analisando o Projeto Político Pedagógico do Cieja de Itaquera nos explica que, por

ocasião da implementação do CIEJA 2003, a Secretaria Municipal de Educação (SME)

apresentou a CME Matriz Curricular de 2.490 h vinculada ao calendário de 200 dias

letivos.

Os gestores dos CIEJAs encontraram sérias dificuldades na implementação e organização do currículo conforme a nova matriz. Reunidos num grupo de estudos, DOT, EJA e Gestores de CIEJA, elaboraram e apresentaram à apreciação do CME uma nova proposta de matriz curricular, onde a carga horário de 2.490 h para o curso seria respeitada modificando apenas a distribuição da mesma nos quatro módulos. Solicitou-se também que não fosse vinculado “dias letivos” a esta carga horário. O retorno desta consulta aconteceu no início de 2005 através do Parecer CME 34/04 CEB, aprovado em 09/12/04. À luz deste parecer DOT EJA orientou e solicitou aos gestores dos CIEJAs que elaborassem um Plano

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de Reposição / Complementação de Carga Horária / Dias Letivos vinculando, em 2005, a carga horária ao calendário de 200 dias letivos, 100 dias letivos cada semestre. Orientou que esta carga horária poderia acontecer com grupos de alunos, orientados por professores às sextas-feiras e sábados. (CIEJA ITAQUERA PPP, 2014 p. 7)

Nesse período também DOT encaminhou as orientações sobre o novo Itinerário

Formativo, de informática a ser aplicado em todos os CIEJAs.

Segundo o Projeto Politico Pedagógico (2014)

O CIEJA está pautado num processo educacional de acordo com os avanços e necessidades do momento histórico que se caracteriza pela proposição de integração curricular entre as áreas do conhecimento e a articulação da educação profissional, ou seja, além da formação para a cidadania, visa a qualificação profissional básica para construção de competências essenciais para inserção no mundo do trabalho e da cultura. O processo educativo desenvolvido no CIEJA prioriza aprendizagem com autonomia, vivência de desafios e resolução de problemas em situações, ou seja, um aprender pautado no pensar e agir e, neste caso, o aluno como construtor ativo de seu processo de conhecimento, descartando a transmissão de um saber pautado na transmissão de um saber de forma vertical

Conforme o mesmo documento em 30/11/2006, foi constituído um Grupo de

Trabalho para revisão e reescrita do Projeto CIEJA. Era composto por Equipe da

SME/DOT/EJA, Supervisores de Ensino e Coordenadores dos 14 Centros. Este trabalho

foi finalizado em dezembro de 2006. Em 2007, com o início das reuniões para propor a

Reorganização da Educação de Jovens e Adultos/SP, o Projeto CIEJA reescrito

aguardou momento adequado para ser apresentado. Em 2008, com a implantação da

Reorganização da EJA, o Projeto CIEJA volta à pauta com SME/DOT/EJA, Supervisores

de Ensino e Coordenadores dos Centros para que sejam efetuados novos ajustes que

julgassem necessários. Em 2009, o atendimento ao aluno acontece de 2ª a 6ª feira

atendendo a Matriz Curricular com carga horária total de 3200 horas, 200 dias letivos de

acordo com o Parecer CME 34/04 CEB, Parecer 87/06, Portaria 430 de 15/01/2007,

Parecer CME nº 88/06 e Portaria nº 4618 de 17/11/2008 de organização das unidades

escolares para 2009.

Segundo Possani (2008) os CIEJAs tinham por objetivo

Promover uma ação educativa que considerasse as características de jovens e adultos , contemplasse novas formas de ensinar e aprender e implantasse um modelo que pudesse articular a educação básica e a educação profissional, propiciando um espaço de convívio, lazer e cultura, bem como um espaço de discussões sobre o mundo do trabalho e da cultura, constituindo-se como alternativa de inclusão de jovens e adultos no mundo sócio-escolar. (p.105)

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2.4. O atendimento no CIEJA Itaquera

O Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos - CIEJA Itaquera está

localizado na periferia da zona leste, precisamente no bairro de Itaquera a 500 metros do

estádio Arena Corinthians no município de São Paulo. Atende hoje 813 alunos sendo 110

alunos com deficiência, com um total de 22 professores. Funciona das 7h30 às 22h30 em

5 períodos de atendimento: 7h30; 10h00; 15h30; 17h45 e 20h15.

De acordo com o PPP (2014) o CIEJA Itaquera articula, em seu projeto

pedagógico, o Ensino Fundamental, com duração de quatro anos, nos períodos da

manhã, tarde e noite, e a Educação Profissional - Qualificação Inicial. Os alunos são

atendidos de segunda a sexta-feira, com aulas de 2h15 de duração.em estruturas que

funcionam em 4 turnos diurnos e um turno noturno, na realidade poderiam ser 6 turnos,

ocorre que no turno das 13h não existe pelo menos nessa unidade, demanda para o

atendimento. O decreto 53676 de 28/12/2012 assim estabelece o seu atendimento:

Art. 2º. Os Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos – CIEJAs, vinculados às Diretorias Regionais de Educação, promoverão cursos de ensino fundamental, que poderão estar articulados com cursos e programas de formação inicial e continuada de trabalhadores, em consonância com as diretrizes da política educacional da Secretaria Municipal de Educação. § 1º. O curso de ensino fundamental será presencial, com a matriz curricular compreendendo as áreas de conhecimento da base nacional comum, além da parte diversificada contendo a língua inglesa para o Ciclo II. § 2º. Os cursos de formação inicial e continuada de trabalhadores, os quais poderão ser desenvolvidos mediante convênios ou acordos com empresas e entidades, públicas ou privadas, serão organizados em itinerários formativos de oferta obrigatória pelo CIEJA e participação facultativa para os alunos.

De acordo com o mesmo projeto a proposta do CIEJA, foi concebida como uma

alternativa de inclusão de jovens e adultos no mundo sócio escolar, tendo como princípios

orientadores o “mundo do trabalho” e o “mundo da cultura”. A articulação entre o Ensino

Fundamental / EJA e a Educação Profissional de nível básico que será garantida através

da seguintes ações:

a) da implementação de qualificações profissionais com o PRONATEC em parceria de SME com SESI E SENAI. b) do resgate das identidades culturais e do reconhecimento de que todos e cada um são sujeitos no processo de produção da sua formação profissional e da cultura; ou seja; conhecer o perfil da EJA e respeitar sua especificidade. c) do desenvolvimento de competências e habilidades necessárias ao mercado profissional e ao saber fazer, saber ser, saber aprender e saber conviver. d) da construção de um currículo coletivo próprio para esta modalidade, que valorize e reconheça o território e a realidade local como fatores indispensáveis

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para aquisição de conhecimento e como ferramenta eficaz para transformar a sociedade realizando intervenções em seu meio. e) da garantia do direito de aprender de todos em um sistema educacional inclusivo, em que todos construam o conhecimento, de acordo com suas possibilidades, sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, não apenas um direito, mas o resgate da inclusão, da cidadania violados pelo analfabetismo, atendendo suas especificidades, organizando ações entre a comunidade escolar. A fim de oferecer uma formação que possibilite oportunidades de trabalho e inserção social.

2.4.1. Princípios Orientadores do Projeto Cieja Itaquera

O Cieja Itaquera em consonância com o Projeto Político Pedagógico se orienta

pelos seguintes princípios: Autonomia, onde o aluno seja levado a caminhar por si só que

se descobrindo como sujeito de direito possa pleitear aquilo que lhe for de direito como

também atuar de forma mais participativa na sociedade. A Responsabilidade traduzida

num agir de forma pensada, respondendo pelos próprios atos. Solidariedade e respeito ao

bem comum, ajudando um ao outro, se colocando no lugar do outro.

Exercício da criticidade e respeito à democracia. Educação voltada para o

atendimento das funções de reparação, equalização e qualificação, considerando o CIEJA

como espaço de um direito e como lugar de desenvolvimento humano e profissional

(PPP, CIEJA ITAQUERA 2013)

Contextualização, diversidade e identidade cultural:

o CIEJA deve reconhecer a diversidade do público que atende em seus aspectos sociais, culturais e físicos e respeitar a sua identidade, de forma a promover e reorganizar o conhecimento e as experiências construídas, superando todo e qualquer tipo de preconceito e discriminação, tais como o racial, o étnico, e o gênero, o cultural e o social, entre outros. A contextualização se refere aos modos como os jovens e adultos podem dispor de seu tempo e de seu espaço. (PPP, CIEJA ITAQUERA 2013)

Formação permanente do educador através das horas de trabalho coletivo e

melhoria das condições de trabalho, como condição para assegurar a qualidade do EJA e

ação educacional integrada como expressão do trabalho coletivo dos educadores

envolvidos no CIEJA, vinculada às Diretrizes de SME. O CIEJA deve constituir-se como

um espaço aberto e articulador de esforços e recursos presentes na sociedade.

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2.4.2. A Organização Curricular

Na organização curricular do Cieja Itaquera a educação é concebida como:

Uma prática que apresenta possibilidade de criar situações em que o conteúdo, visto como insumo seja trabalhado de forma contextualizada e significativa. Os conhecimentos e habilidades prévios dos alunos são pontos de partida para a resolução de problemas, cabendo ao professor estimular a pesquisa, a descoberta, à construção de instrumentos de compreensão da realidade e participação com relações sociais, políticas e culturais diversificadas e cada vez mais ampla. A aprendizagem é compartilhada (PPP, CIEJA ITAQUERA 2013)

Analisando o PPP é clara a ênfase no desenvolvimento de competências

(capacidade pessoal de articular os saberes – saber, saber fazer, saber ser e saber

conviver – inerentes às condições concretas da vida social e do trabalho) refletindo um

movimento que se desloca do ensino para o processo de aprendizagem e

consequentemente, para o aluno, como sujeito deste processo.

A Qualificação Profissional desenvolvida dentro dos Itinerários Formativos é um

eixo condutor para a articulação entre a Educação Fundamental e Profissional,

envolvendo as competências básicas e específicas das diferentes qualificações que

compõem uma determinada área profissional. No caso do CIEJA Itaquera a qualificação é

na área de Informática.

O currículo do Ensino Fundamental do CIEJA está organizado de forma modular:

CICLO I

MÓDULO I Etapa Alfabetização

MÓDULO II Etapa Básica

Compreende o 1º e 2º ano do Ciclo I do Ensino Fundamental e uma qualificação profissional

Compreende o 3º ,4º e 5 º ano do Ciclo I do Ensino Fundamental e uma qualificação profissional

CICLO II

MÓDULO III Etapa Complementar

MÓDULO IV Etapa Final

Compreende o 1º e 2º ano do Ciclo II do Ensino Fundamental e uma qualificação profissional

Compreende o 3º e 4º ano do Ciclo II do Ensino Fundamental e uma qualificação profissional

A flexibilidade no atendimento como prática de currículo organizado dentro de uma

estrutura de tempo e espaço que atendem às necessidade e características da clientela

da EJA, de maneira a viabilizar os objetivos do CIEJA é um ponto fortíssimo nesse

modelo de EJA;

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As diversas experiências de vida dos alunos, dos professores e dos demais

participantes da vida escolar, contribuem para constituição de identidades afirmativas,

persistentes e capazes de protagonizar ações autônomas e solidárias em relação a

conhecimentos e valores indispensáveis à vida cidadã e a formação profissional. (PPP,

CIEJA ITAQUERA 2013).

No PPP a Interdisciplinaridade é um ponto importante onde temos:

a interdisciplinaridade deve ir além da justaposição de disciplinas e, ao mesmo tempo, evitar a diluição delas na generalidade. É devido à possibilidade de integrar as disciplinas e as práticas profissionais através de atividades, projetos, pesquisa e ações que a interdisciplinaridade pode ser uma prática pedagógica adequada à educação de Jovens e Adultos. (PPP, CIEJA ITAQUERA 2013)

2.4.3. Características da Escola e dos Alunos do CIEJA Itaquera

O Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos nos seus 5 períodos de

atendimento atende 813 alunos. Os encontros/aulas são de 2h15 e acontecem de

segunda à sexta feira. A escola conta com 9 salas de aula; Laboratório de Informática;

Sala de Leitura; Sala de apoio ao aluno de inclusão (SAAI); cozinha; refeitório; páteo

coberto; sala de vídeo; espaço de leitura; sala dos professores; sala da direção; sala dos

coordenadores; secretaria; dispensa; depósito e estacionamento, conta ainda com 4

banheiros masculinos 2 femininos e 1 banheiro adaptado para necessidades especiais.

Existem vários recursos como televisores, computadores, aparelhos de som, caixa de

som, data show, notebook, impressoras, projetor, etc. A escola é limpa, arejada , não há

pichações nem depredações há flores e cartazes com trabalhos dos alunos em alguns

lugares. A escola é aconchegante e convidativa. Trata-se de uma escola só para jovens

e adultos onde na sua grande maioria atende este último segmento. São 22 professores,

1 coordenador geral, 2 coordenadores e 1 vice, também 1 secretária e 6 Auxiliares

Técnicos Escolares, 1 porteiro, 2 vigias, 11 funcionários na limpeza e mais 6 na cozinha.

É oferecida merenda no período da manhã e à tarde e, à noite jantar.

No censo educacional realizado em abril de 2014 pela própria escola verificamos

que os alunos são 60% do sexo feminino e 40% do sexo masculino, são oriundos de

diversas regiões do Brasil com predominância da região Nordeste, residem 80% em

conjuntos habitacionais, apenas 10% moram nas comunidades localizadas no entorno da

escola. 15% dos alunos são deficientes, sendo a maioria dos alunos carentes e

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necessitados dos programas sociais pois 67% são trabalhadores dos quais 60% recebem

até 1 salário mínimo, 40% ganham de 1 a 5 salários mínimos. 40% são católicos, 30%

protestantes, 10% são espíritas e 5% não tinham religião e 15% eram de outras

denominações religiosas sendo que 55% vão ao culto/igreja semanalmente. 60% se auto

declararam pardos ou negros, 36% se consideram brancos. 40% não lê nenhum livro por

ano e 30% lê apenas 1. 60% nunca vai ao teatro, 30% nunca vai ao cinema, 75% nunca

vai ao estádio, 65% nunca assiste à show e 54% não praticam esporte.

Sobre o grau de escolaridade do pai e da mãe 50% tem entre Ensino Fundamental

completo e incompleto e 40% desconheciam. 73% tem computadores, 70% tem telefone

fixo; 87% possui telefone celular, 60% tem TV por assinatura, 92% possui banheiro em

seu domicílio e 30% tem plano de saúde.

A faixa etária média é de 30 anos, como já mencionado anteriormente os

estudantes são na sua maioria de outras localidades que não o entorno da escola e por

isso dependem de transporte público, particular e mesmo o transporte escolar.

As atividades escolares de maior interesses são as aulas convencionais, mas que

não fiquem só no modelo lousa e giz, os alunos gostam de variedades, são avessos a

assistir filmes mesmo que com ótimos propósitos e argumentos infalíveis, é sempre um

problema. Gostam da aula de informática. Educação Física muito pouco; pensam ser

perda de tempo “viemos aqui para estudar e não para fazer ginástica ou jogar bola” é

difícil convencê-los. Gostam de aulas com música e práticas diferenciadas.

A salas do CIEJA, por serem instalados em prédios alugados, são pequenas e tem

entre 18 a 25 alunos, isso permite uma maior aproximação do aluno fazendo com que os

mesmos sejam parceiros nas atividades propostas.

A escola já tem consolidada a Associação de Pais e Mestres, Conselho de Escola

Participativo, Grêmio Estudantil, com total apoio da direção professores e funcionários. A

escola possui convênio com a SPDM (Sociedade Paulista de Desenvolvimento com a

Medicina); Espaço Livre (Especializado ao atendimento de pessoas com deficiências) e o

Lar do Divino Amor.

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2.4.4. Organização do CIEJA a )Estrutura Física

Nº DESCRIÇÃO METRAGEM CAPACIDADE

01 Sala de JEIF 38m² 30 funcionários

02 Sala de SAAI 24m² 15 alunos

03 Sala de Leitura

04 Sala de aula 36m² 35 alunos

05 Sala de aula 36m² 35 alunos

06 Sala de aula 36m² 35 alunos

07 Sala de aula 37m² 35 alunos

08 Sala de aula 49m² 35 alunos

09 Sala de aula 25m² 35 alunos

10 Sala para Vídeo / TV 37m² 37 alunos

11 Sala de Informática 45m² 20 alunos

12 Sala da diretoria 11m² 02 funcionários

13 Sala de Coordenação Pedagógica 15m² 02 funcionários

14 Sala dos professores 15m² 10 funcionários

15 Sala de Leitura 36 m² 37 alunos

16 Secretaria 30m² 05 funcionários

17 Cozinha 19m² 03 funcionários

18 Almoxarifado / Prontuário de alunos 17m² 01 funcionário

19 Almoxarifado / Materiais 42m² 01 funcionário

20 Pátio coberto 210m² 160 alunos

21 Estacionamento de Professores 108m² 08 carros

22 Estacionamento Administrativo 92m² 05 carros

23 Sanitário Feminino/ Alunas 05m² 02 alunas

24 Sanitário Feminino/ Alunas 03m² 01 aluna

25 Sanitário para deficientes 04m² 01 aluno

26 Sanitário Masculino/ Alunos (3) 08m² 03 alunos

27 Corredor Externo Lateral/ Fundos 63m² ---

28 Sanitário feminino / Professoras 02m² 01 funcionária

29 Sanitário masculino / Professores 02m² 01 funcionário

30 Sanitário Funcionários 02 m² 01 funcionário

31 Casa de máquinas 12m² 02 funcionários

32 Lavanderia 05m² 01 funcionário

33 Despensa / depósito de alimentos 07m² 01 funcionário

34 Refeitório de funcionários 12m² 04 funcionários

35 Refeitório de alunos 30m² 30 alunos

36 Guarita 04m² 01 funcionário

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b) Imagens e Fotos do Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos

Imagem 1 – Localização do Cieja

Fonte: Googlemaps

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Imagem 2 - Vista frontal do CIEJA

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Imagem 3 - Entrada dos alunos, professores e funcionários

Fonte: Arquivo pessoal da autora

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Imagem 4 - Páteo interno da escola por ocasião do Projeto Diversidade

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Imagem 5 - Corredor de acesso as salas de aula, secretaria, direção, banheiros

e refeitório.

Fonte: Arquivo pessoal da autora

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Imagem 6 - Sala de Apoio a Inclusão

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Imagem 7 - Sala de Leitura e JEIF

Fonte: Arquivo pessoal da autora

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Imagem 8 - Sala de aula

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Imagem 9 - Sala de aula

Fonte: Arquivo pessoal da autora

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c) Demanda atendida:

MÓDULO I= 113; MÓDULO II= 120; MÓDULO III = 270; MÓDULO IV = 329

TOTAL = 832data (base12/04/2014)

Sala de

Aula 07h30 10h00 15h30 17h45 20h15

Nº Turma Nº

alunos Turma

Nº alunos

Turma Nº

alunos Turma

Nº alunos

Turma Nº

alunos

01 III A 35 III B 35 IV G 32 IV J 32

03 IV B 33 IV C 34 IV E 33 III F 34 III H 33

04 I A 24 I B 23 I E 12 II C 27 II D 35

05 III E 33 III G 35

06 IV A 35 IV D 33 III D 32 IV F 32 IV H 32

07 II A 35 II B 23 I C 26 I D 28

09 III C 33 IV I 33

Total Alunos

162 181 77 165 228

Total geral dos

alunos 813

Cada módulo tem duração de 1 (um) ano e de 200(duzentos) dias letivos.

O curso de qualificação profissional que integra o Itinerário Formativo é

desenvolvido de forma articulada e integrada ao ensino fundamental e é definido a partir

das necessidades da comunidade e peculiaridades locais.

Hoje o Cieja objeto deste estudo conta com um quadro de professores todos com

40 horas semanais em regime de JEIF. As reuniões pedagógicas de formação e as

reuniões por áreas de conhecimento são realizadas nas segundas, terças e sextas feiras

perfazendo um total de 8 horas aula de formação semanal coletiva. Nestes momentos

faz-se as discussões de textos previamente escolhidos e que fazem parte do Programa

Especial de Ação (PEA), também é um momento de socialização de práticas pedagógicas

e trocas de experiências um momento indispensável na formação do professor.

Faria (2014) comenta que formação continuada em serviço, aqui no caso dos

professores do CIEJAs expressa na Jeif destes professores é de grande importância

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Consideramos que a existência do horário coletivo nos CIEJAs garantiu não apenas a organização de práticas pedagógicas reflexivas, como fortaleceu gestores e professores para apresentarem ou resguardarem as características do modelo CIEJA que consideravam mais importantes frente a questionamentos diversos. (p.136)

A autora continua

A organização de um modelo escolar que privilegiava a formação e a atuação docente em constante reflexão para o atendimento às demandas estudantis, fomentou a constituição de um grupo de gestores e professores que passou a deter o conhecimento e experiência sobre as soluções educacionais adequadas à sua realidade. (p.136)

E assim encerramos esta parte da dissertação onde procuramos explicar como

acontece a oferta do Ensino de Jovens e Adultos na Rede Municipal e mais

especificamente caracterizar o Cieja Itaquera, local onde realizamos as entrevistas com

os professores sujeitos dessa pesquisa.

No próximo capítulo faremos a apresentação do percurso metodológico, a análise

e discussão das entrevistas realizadas com os professores sujeitos desta pesquisa.

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CAPÍTULO 3 PERCURSO FORMATIVO DOS DOCENTES NA EDUCAÇÃO DE JOVENS

E ADULTOS E A PROBLEMATIZAÇÃO DE SUAS PRÁTICAS

Para a escrita deste capítulo e mais especificamente para o seu inicio onde explico

o trajeto metodológico, logo me veio à mente os caminhos da pesquisa cientifica e com

ele vários autores que discorrem sobre esta questão, mas me lembro bem de Golbenberg

(2004) quando fala de “ensinar o olhar cientifico” e penso que o olhar cientifico é um olhar

diferente, é um olhar cuidadoso que segue critérios, por isso também me lembrei da

leitura de Saramago (1995) onde na introdução de sua obra encontramos: “se podes

olhar, vê; e se podes ver, repara!”. São várias ocasiões em que olhamos as pessoas, as

coisas, os acontecimentos e não os vemos. Com frequência só atentamos para o que

acontece quando alguém nos alerta: “Você já reparou em tal coisa?”

Também Rios (2010, p. 23) fala no mesmo sentido: Reparar na verdade, é ampliar

o olhar para aspectos que merecem consideração e não devem passar despercebidos”.

Para mim a inquietude e a inconformação com o óbvio é que nos impele para um olhar

mais apurado, porque na verdade são as perguntas que movem o mundo e não suas

respostas.

É nessa inconformidade, que busco aqui compreender a formação dos professores

para educação de jovens adultos e penso que seja através da escuta desses professores

que posso buscar pistas de como vem ocorrendo tal formação. Para tanto não vejo

caminho mais apropriado que a pesquisa qualitativa, pois esta adentra no mundo dos

significados das ações indo ao encontro dos objetivos propostos por esta pesquisa.

Assim para o desenvolvimento da pesquisa foi adotada a abordagem qualitativa de

cunho fenomenológico que, segundo Martins e Bicudo (1991) concebe o pesquisador

como aquele que deve perceber a si mesmo e perceber a realidade que o cerca em

termos de possibilidades, nunca só de objetividades, a partir do que é a pesquisa. Neste

sentido a pesquisa qualitativa dirige-se a fenômenos, não a fatos. Também Goldenberg

(2004) explica que a pesquisa qualitativa permite a investigação de dados que são

subjetivos, não explícitos, diferentes da pesquisa quantitativa.

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Para Ludke e André (1986, p. 13) a pesquisa qualitativa

Envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes.

Trata-se de uma abordagem que valoriza o significado que os professores atribuem

aos processos formativos a que tem sido submetidos e permite também a realização de

inferências sobre o que tipo de formação consideram importante para o seu

desenvolvimento profissional.

Szymanski (2004, p. 171) quando discorre sobre a perspectiva fenomenológica

num estudo com enfermeiras afirma que:

essa postura propicia uma escuta compreensiva, um reconhecimento do outro e a compreensão da própria subjetividade do plantonista na troca intersubjetiva durante a entrevista. A compreensão se dá pela reflexividade da situação dialógica, na troca intersubjetiva entre a pessoa que traz a sua história e o plantonista. A compreensão está em contínua elaboração, posta em linguagem, buscando formular a situação de estar no mundo como educador. A linguagem não cumpre apenas a função comunicativa, mas constitui-se na explicitação da compreensão do mundo e de si mesmo, e isto é válido para ambos que participam da entrevista

Concordo com a autora quando fala dessa dialogicidade pois é sobre o diálogo

entre os educadores no caso o entrevistador e o entrevistado que se constrói o discurso

que num segundo momento é levado à prática reflexiva e aos poucos vai se

compreendendo a subjetividade implícitas nas falas dos educadores.

Segundo Martins e Bicudo (1991, p.23) a fenomenologia valoriza a subjetividade na

sua busca de atingir a essência dos fenômenos. Em sendo uma modalidade da pesquisa

qualitativa, não se pretende chegar a generalizações como nas pesquisas quantitativas. O

foco é o desvelamento do fenômeno, interrogando o mundo ao redor.

Diferentemente da pesquisa quantitativa, a qualitativa busca uma compreensão particular daquilo que estuda. Uma idéia mais geral sobre tal pesquisa é que ela não se preocupa com generalizações, princípios e leis. A generalização é abandonada e o foco da sua atenção é centralizada no específico, no peculiar, no individual, almejando sempre a compreensão e não a explicação dos fenômenos estudados.

Como técnica de coleta de dados foi utilizada a análise bibliográfica e documental,

completada com entrevistas.

Silva e cols. (2009, p. 5) explicam sobre a pesquisa bibliográfica e documental

dizendo que tanto a pesquisa documental como a pesquisa bibliográfica têm o documento

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como objeto de investigação. No entanto, o conceito de documento ultrapassa a idéia de

textos escritos e/ou impressos. O documento como fonte de pesquisa pode ser escrito e

não escrito, tais como filmes, vídeos, slides, fotografias ou pôsteres. Esses documentos

são utilizados como fontes de informações, indicações e esclarecimentos que trazem seu

conteúdo para elucidar determinadas questões e servir de prova para outras, de acordo

com o interesse do pesquisador (FIGUEIREDO, 2007).

A situação de entrevista segundo Szymanski (2011, p. 89)

É um momento de encontro entre duas pessoas, com diferentes histórias, experiências, expectativas e com diferentes disposições afetivas. Afetar e ser afetado é condição inerente às interações humanas, e a situação de entrevista não escapa dessa condição.

Acredito que a entrevista seja a tradução de um momento único onde se

estabelece uma relação de cumplicidade entre aquele que entrevista e aquele que é

entrevistado. Ambos participam de um movimento que pressupõem expectativas e

experiências únicas na vida dessas pessoas.

Assim, foram realizadas entrevistas semi estruturada, que se desenrola a partir de

um esquema básico, porém não aplicada rigidamente, permitindo que o entrevistador faça

as necessárias adaptações (LUDKE e ANDRE, p. 34).

Para a análise das entrevistas optou-se por fazer a análise do discurso dos

entrevistados, tendo a descrição como recurso fundamental, constituindo-se o processo

de busca de significado de um fenômeno, partindo da materialidade do que se pretende

descrever e caminhando num sentido de aprofundamento (GOMES SZYMMANSKI, 1987

apud. SZYMANSKI, 2011 p.71).

Para tal análise foram elegidas as seguintes categorias:

- Formação inicial;

- Tempo na rede;

- Formação continuada;

- Educação de Jovens e adultos;

- Ser professor;

- Vida de professor.

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Para cada categoria foi feito um quadro síntese com as idéias dos entrevistados e

as unidades de significado. Em seguida procedeu-se a discussão das idéias principais

levantando os pontos de convergência e de divergência entre os discursos apresentados.

Assim, as entrevistas passaram pelos seguintes momentos de análise (adaptados

de Martins e Bicudo, 1991, p.99 e 102-104):

- Imersão empática no mundo da descrição – neste momento buscou-se o sentido

geral das proposições prendendo-se à capacidade de compreender a linguagem dos

sujeitos. Foram anotados todos os detalhes do discurso contextualizando palavras e

gestos para posterior interpretação dos significados (MOREIRA, et al. 2005).

- Passagem para a análise das unidades de significado – primeiramente faremos a

análise Ideográfica, desvelando as idéias dos entrevistados individualmente e logo a

seguir procederemos a análise nomotética, onde se buscam, sem a preocupação de

generalizações, os pontos de convergência e ou divergência entre as idéias dos

participantes da pesquisa (MOREIRA, 2005 p.110)

- Contexto de Significação/Interpretação. – o modo como são compreendidos as

várias maneiras de ser professor.

Assim, buscou-se

Através de variação imaginativa, buscar a interpretação dos discursos observando a coerência tópica (no interior dos relatos dos sujeitos), bem como a coerência utópica (relação dos discursos dos sujeitos e o contexto envolvente do fenômeno). (MOREIRA et all 2005 p.111)

Foram entrevistados 8 professores que atuam em um Centro de Integração de

Jovens e Adultos - CIEJA, pertencente ao sistema de ensino da cidade de São Paulo. As

entrevistas foram realizadas verbalmente, gravadas e transcritas ipsis litreris mantendo os

verbatins dos entrevistados. Os critérios para escolha dos participantes da pesquisa foram

contemplar as diferentes áreas do conhecimento: 2 professores Alfabetizadores, 2

professores da área de Ciências Humanas, 2 da área de Ciências da Natureza e 2 da

área de Linguagens e Códigos. Também levamos em consideração o tempo de atuação

na Educação de Jovens e Adultos. Assim, de cada área foram escolhidos um professor

com ingresso mais antigo e o outro com ingresso mais recente. O critério de inclusão na

pesquisa foi a manifestação de concordância, expresso pela assinatura do termo de

consentimento livre e esclarecido.

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Tabela 1. Distribuição dos entrevistados enquanto ao sexo

Sexo N° %

Feminino 6 75

Masculino 2 25

Total 8 100

A tabela 1 mostra que a maioria dos professores entrevistados eram do sexo

feminino, apenas 2 professores eram do sexo masculino.

A tabela 2 revela que os professores tem na sua maioria entre 40 e 60 anos

(62,5%). Sendo que um deles tem mais de 60 anos.

Tabela 2. Distribuição dos entrevistados enquanto a idade

Idade N° %

31 - 40 anos 2 25

41 - 50 anos 2 25

51 - 60 anos 3 37,5

+ 60 anos 1 12,5

Total 8 100

Quanto ao tempo no magistério a tabela 3 traz a informação de que a maioria tem

mais de 10 anos de experiência, e ainda conta-se com dois professores com mais de 30

anos de magistério.

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Tabela 3. Distribuição dos entrevistados enquanto ao tempo no Magistério

Tempo no Magistério N° %

5 - 10 anos 2 25

10 - 15 anos 1 12,5

15 - 20 anos - -

20 - 25 anos 2 25

25 - 30 anos 1 12,5

+ 30 anos 2 25

Total 8 100

Na tabela 4 percebe-se que apenas 2 professores tem menos de 10 anos de

experiência na Educação de Jovens e Adultos, sendo que os outros 6 possuem entre 10 e

25 anos de experiência.

Tabela 4. Distribuição dos entrevistados enquanto ao tempo de atuação na

Educação de Jovens e Adultos.

Tempo no Magistério N° %

5 - 10 anos 2 25

10 - 15 anos 4 50

15 - 20 anos 1 12,5

20 - 25 anos 1 12,5

+ 25 anos - -

Total 8 100

Tabela 5. Distribuição dos entrevistados segundo a habilitação.

Curso Nº %

Estudos Sociais História Letras

Matemática Pedagogia

1 1 2 2 2

12,5 12,5 25 25 25

Total 8 100

Na tabela 5 apresenta-se a distribuição dos professores quanto sua habilitação

inicial para a docência. Como já descrito anteriormente escolheu-se 2 professores de

cada área do conhecimento. Dessa forma na distribuição dos mesmos foi de

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equivalência. Chamando à atenção para a habilitação de Estudos Sociais que hoje não

mais figura no quadro das licenciaturas.

A respeito da formação inicial todos os professores tinham suas formações

específicas e nenhum tinha uma habilitação específica para EJA. Segundo a pesquisa de

Soares (2007 p.60):

com base em dados de 2005, afirma que existiam, no Brasil, 1698 cursos de Pedagogia, em 612 Instituições de Ensino Superior. Dentre estas Instituições, apenas 2,15% ofereciam habilitação em EJA, em 27 cursos. A região sul lidera com 7 instituições oferecendo 19 cursos, com habilitação, sendo 4 localizados na região sudeste. O nordeste apresenta-se apenas com 4 cursos e o norte e o centro-oeste não apresentam registros (p. 60)

Os dados nos chamam a atenção pois nenhum dos professores tinham habilitação

específica para a Educação de Jovens e Adultos. Dentre os 8 professores entrevistados 7

possuíam apenas a graduação ou mais de uma graduação. Apenas um dos professores

era pós graduado no caso uma professora alfabetizadora. A pesquisa de Soares (2007)

pode nos ajudar a entender no caso a habilitação específica para EJA, segundo a

mesma, na região sudeste a qual nos encontramos somente foram localizados 4 cursos

de Pedagogia com habilitação em EJA.

Esse fato é que traz uma inquietude, pois se os professores não tiveram essa

formação para atuar com a Educação de Jovens e Adultos como ela acontece?

Tabela 6. Distribuição dos entrevistados enquanto ao tempo no Magistério na Rede

Tempo no Magistério N° %

5 - 10 anos 1 12,5

10 - 15 anos 3 37,5

15 - 20 anos - -

20 - 25 anos 1 12,5

25 - 30 anos 1 12,5

30 - 35 anos 1 12,5

+ 40 anos 1 12,5

Total 8 100

Conforme dados da tabela 6 a maioria dos entrevistados (87,5%) contavam com

mais de 10 anos na rede.

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Tabela 7. Distribuição dos entrevistados enquanto à opinião sobre os cursos

oferecidos pela Rede.

Opinião N° %

Bom 4 50

Bom mas poderia ser melhor 2 25

Não são boas 2 25

Total 8 100

Quando inquiridos sobre os cursos oferecidos pela rede os professores opinaram

dizendo serem bons (50%) ou, bons mais que poderiam melhorar (25%), enquanto 2

(25%) disseram não serem boas as formações.

3.1. Análise das Categorias

3.1.1. A Formação Inicial

Nesta categoria que aqui colocou-se como Formação Inicial a pergunta que se

fazia era se a formação inicial preparava para a docência e se não de que forma os

saberes para a docência eram adquiridos?

Optou-se por dois quadros: o primeiro com o depoimento dos entrevistados

seguido das unidades de significado sobre a questão da formação inicial e a preparação

para a docência. O segundo quadro revela como os saberes são adquiridos para a

prática docente.

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Quadro 1. A formação inicial e a Prática docente

Relato/Depoimento

Unidades de Significado

Categoria

E1 - olha eu acho que assim a graduação ela acaba na verdade oferecendo o suporte teórico então assim a gente acaba tendo o conhecimento de várias teorias né na área de educação só que eu acho que elas não preparam para a prática acaba sendo muito distanciado da prática E2 - é da os caminhos porque a pratica é que realmente da o preparo que você precisa. E3 - não eu acho que não porque só acontece mesmo na pratica, só acontece mesmo na pratica. E4 - Olha a formação não prepara porque tudo aquilo que você vê na universidade não é aquilo que você vai trabalhar com aluno então eu acho que a universidade não esta não preparava e não prepara ainda porque eu fiz pedagogia fazem só dez anos então não prepara pra dar aula E5 - lógico que uma boa fundamentação teórica é importante pra você utilizar como uma base mas o que vai na hora do vamos ver mesmo é a prática E6 - Na faculdade de letras eu acho eu sai da faculdade sem saber como fazia um planejamento como montava um planejamento como que era um diário de classe eu fui aprender quando eu entrei pra dar aulas que colegas foram explicando porque eu não sabia o que era planejamento e nem como se fazia porque isso não tive e nem didática e nada tive na faculdade. E7 - Na verdade não não prepara na verdade ela da uma certa bagagem que te de condições pra sua formação. E8 - É difícil a formação dar conta de uma realidade que é tão complexa, eu posso me considerar como um ser humano antes e depois da minha formação ela foi muito importante pra mim, depois que eu fiz faculdade eu me tornei uma outra pessoa, então eu não passei pela faculdade ela realmente me transformou.

E1- oferece um suporte teórico, entretanto não prepara para a prática. E2 - Oferece caminhos, mas a prática é que prepara. E3 - não oferece. E4 - não prepara E5 - é importante. Mas a prática é que faz a diferença. E6 - nada teve na faculdade que efetivamente a ajudasse no seu fazer pedagógico. E7 – não prepara entretanto lhe dá condições para atuar. E8 – Muito importante mas não dá conta de tanta complexidade.

Formação Inicial

É interessante notar que todos os professores responderam que a formação inicial

não prepara para a prática docente. Vejamos alguns discursos:

E1 - olha eu acho que assim a graduação ela acaba na verdade oferecendo o suporte teórico então assim a gente acaba tendo o conhecimento de várias teorias né na área de educação só que eu acho que elas não preparam para a prática acaba sendo muito distanciado da prática E3: não eu acho que não porque só acontece mesmo na pratica, só acontece mesmo na pratica. E7 - Na verdade não não prepara na verdade ela da uma certa bagagem que te de condições pra sua formação.

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Outros são mais enfáticos: E4 - Olha a formação não prepara porque tudo aquilo que você vê na universidade não é aquilo que você vai trabalhar com aluno então eu acho que a universidade não esta não preparava e não prepara ainda porque eu fiz pedagogia fazem só dez anos então não prepara pra dar aula

Alguns afirmam que a formação inicial é importante e que ela dá os caminhos,

talvez um suporte, mas como o próprio E8 diz, essa formação “não dá conta de uma

realidade tão complexa”. Assim tem-se:

E1 - olha eu acho que assim a graduação ela acaba na verdade oferecendo o suporte teórico então assim a gente acaba tendo o conhecimento de várias teorias né na área de educação.... E2 - é da os caminhos porque a pratica é que realmente da o preparo que você precisa. E5 - lógico que uma boa fundamentação teórica é importante pra você utilizar como uma base mas o que vai na hora do vamos ver mesmo é a prática E7 - Na verdade não não prepara na verdade ela da uma certa bagagem que te de condições pra sua formação. E8 pra mim a licenciatura foi muito importante. Trabalhar metodologia, postura do professor, linguagem, entender os conflitos que existem dentro em sala de aula ela foi muito importante porem muito pequeno para poder começar a trabalhar na sala de aula a experiência mesmo veio com os anos.

Percebo nas falas de alguns professores que estes se descobrem frustrados pois

percebem que a formação inicial não deu conta de prepará-los para a docência e assim

Tardiff (2002 p. 61) explica que:

Os saberes que servem de base para o ensino, tais como são vistos pelos professores, não se limitam a conteúdos bem circunscritos que dependem de um conhecimento especializado. Eles abrangem uma grande diversidade de objetos, de questões, de problemas que estão todos relacionados com o seu trabalho. Além disso, não correspondem, ou pelo menos muito pouco, aos conhecimentos teóricos obtidos na universidade e produzidos pela pesquisa na área da Educação: para os professores de profissão, a experiência de trabalho parece ser a fonte privilegiada de seu saber-ensinar.

Nas falas de alguns professores que diziam que a formação inicial não preparava

como são os discursos E1, E3, E4, E7 um deles foge a regra e é mais contundente: o E6

que diz que, nada teve na faculdade que efetivamente a ajudasse no seu fazer

pedagógico.

E6 - Na faculdade de letras eu acho eu sai da faculdade sem saber como fazia um planejamento como montava um planejamento como que era um diário de classe eu fui aprender quando eu entrei pra dar aulas que colegas foram explicando porque eu não sabia o que era planejamento e nem como se fazia porque isso não tive e nem didática e nada tive na faculdade.

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Tardiff (2002 p. 241) também comenta a esse respeito:

Na formação de professores, ensinam-se teorias sociológicas, docimológicas, psicológicas, didáticas, filosóficas, históricas, pedagógicas, etc., que foram concebidas, a maioria das vezes, sem nenhum tipo de relação com o ensino nem com as realidades cotidianas do ofício de professor. Além do mais, essas teorias são muitas vezes pregadas por professores que nunca colocaram os pés numa escola ou, o que é ainda pior, que não demonstram interesse pelas realidades escolares e pedagógicas, as quais consideram demasiado triviais ou demasiado técnicas. Assim é normal que as teorias e aqueles que as professam não tenham, para os futuros professores de profissão, nenhuma eficácia nem valor simbólico e prático.

Comungo com as colocações de Tardiff (2002) que revela um distanciamento

daquilo que se oferece no Curso de Licenciatura com o fazer pedagógico diário

propriamente dito. A professora E6 fala com tristeza e pesar de sua passagem pela

licenciatura e de sua frustração de quando do início de sua docência. Também a E1 fala

desse distanciamento:

E1. eu acho que assim a graduação ela acaba na verdade oferecendo o suporte teórico então assim a gente acaba tendo o conhecimento de várias teorias né na área de educação só que eu acho que elas não preparam para a prática acaba sendo muito distanciado da prática então assim quando eu estava estudando eu cheguei a fazer estagio mas eu percebi um grande abismo em relação ao que eu teria que enfrentar e ao que eu enfrento hoje

Vagula (2005 p. 108) comenta que seria necessário ampliar a formação prática

hoje restrita aos estágios:

De fato, consideramos, pelo menos no que se refere à Formação Inicial, há que se ampliar a formação prática, ao longo da oferta do currículo, e não apenas limitada às disciplinas de Estágio. É desejável, nessa perspectiva, que o currículo propicie situações práticas para os acadêmicos, nas quais a reflexão crítica tenha como fonte a teoria e o cotidiano escolar, no qual, futuramente, esses alunos devam trabalhar.

Para uma melhor compreensão Ribas (2000 p.38) também fala dessa importância:

A formação inicial não é uma fase completa na vida do professor e sim uma primeira etapa: no entanto se ela preparar bem (desenvolvendo atitudes de disposição para o estudo, para a busca de referências na prática e para a investigação) o professor transporá os obstáculos do cotidiano escolar e terá maior segurança nas decisões, principalmente na fase de socialização que ocorre no ambiente de trabalho.

Temos então que pensar a Formação Inicial é pensar apenas como um momento,

talvez o segundo momento de uma jornada (pois o primeiro seria aquele que ainda se dá

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nos bancos escolares), mas que deve ser bem preparada bem realizada para que o

professor tenha segurança em suas decisões a E8 é bem clara nesse sentido.

E8. (...) o processo de você aprender a dar aula é dando aula, foi dando aula, claro o conteúdo, é muito conteúdo para isso, conteúdo específico da área de história foi a faculdade, ah mas a faculdade tem um curso de licenciatura que tenta fazer a ligação entre o conhecimento específico e a sala de aula e o publico, então ele tenta fazer é uma boa tentativa, inclusive hoje nesses cursos já está se questionando livros didáticos, está olhando com mais atenção para os alunos especiais, então ele tenta fazer uma ponte, se você tiver muito tempo pra isso numa faculdade que seja de preferência de período integral te ajuda bastante isso te ajuda muito na sala de aula, agora se ele é um curso noturno se ele é um curso que você faz rapidamente você não consegue aprender muitas coisas dali para desenvolver em sala de aula, mas ainda assim pra mim a licenciatura foi muito importante. Trabalhar metodologia, postura do professor, linguagem, entender os conflitos que existem dentro em sala de aula ela foi muito importante porem muito pequeno para poder começar a trabalhar na sala de aula a experiência mesmo veio com os anos.

Quadro 2. Como adquirir os saberes necessários para a docência?

Relato/Depoimento

Unidades de Significado

Categoria

E1 - então assim uma das formas para poder dar esse suporte seria os cursos de formação de formação continuada que o professor precisa o tempo todo é estar se atualizando precisa estar lendo, estudando porque na verdade é uma pratica diária então ele precisa o tempo todo ta correndo atrás E2 - Na pratica e também alguns cursos de apoio né E3 - o que a gente adquire em sala de aula temos a teoria na faculdade mas depois na sala de aula é que a gente vai aprender com os alunos mesmo com a pratica de sala de aula. E4 - Olha é com a vivência trabalhando com os alunos e com os cursos que você faz pra ter se preparar para trabalhar com esse aluno com as maneiras diferentes que nos temos que enfrentar. E5 - São adquiridos pela prática a prática a é que faz a diferença em todo esse processo é lógico que uma boa fundamentação teórica é importante pra você utilizar como uma base mas o que vai na hora do vamos ver mesmo é a prática você vai aprender dando aula vai aprender lecionando lidando com os alunos no dia a dia e nem sempre aquele aluno especial que você teve um ano vai poder usar aquela pratica com outro aluno especial com outras dificuldades outras realidades outras vivencias. E6 - Com os professores, colegas e o tempo vai te mostrando como você faz. E7 - Você pode adquiri pela sua própria pesquisa como se fossem auto didatas né você pesquisa muito você busca você assiste palestras você troca idéias com colegas que tem mais experiências que você pessoas que já estão há mais tempo no mercado né nesta área de educação e aí sim você consegue aos poucos ir

E1- cursos de formação continuada. O professor precisa o tempo todo estar se atualizando.Uma prática diária. E2 - A prática e alguns cursos E3 - a prática em sala de aula e com os alunos E4 - com a vivência, trabalhando com os alunos. E5 - na prática, lidando com os alunos no dia a dia E6 - com outros professores, no dia a dia. E7 - no dia a dia, na troca de informações com colegas, palestras e pesquisas particulares, como se fosse um auto didata.

Formação Inicial e

aquisição dos saberes necessários

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construindo sua identidade né você vai juntando um material um pouco com pouco com um colega um pouco com uma palestra um pouco com uma informação mas o seu dia a dia que nada como o dia a dia né. E8 - o processo de você aprender a dar aula é dando aula, foi dando aula, claro o conteúdo, é muito conteúdo para isso, conteúdo específico da área de história foi a faculdade...

E8 - você aprende a dar aula dando aula.

Em seus relatos os professores dizem que os saberes necessários para a docência

vieram do dia a dia, na relação com os alunos e com outros professores. Nesse sentido

Tardiff (2002, p.38-39) coloca:

Os próprios professores, no exercício de suas funções e na prática de sua profissão, desenvolvem saberes específicos, baseados em seu trabalho cotidiano e no conhecimento do seu meio. Esses saberes brotam da experiência e são por ela validados. Eles incorporam-se à experiência individual e coletiva sob a forma de habitus e de habilidades, de saber fazer e de saber-ser.

Então compreende-se que os professores vão construindo seus saberes a medida

que vão desenvolvendo suas práticas diárias “em confronto com suas experiências

práticas, cotidianamente vivenciadas nos contextos escolares (Pimenta 1999 p. 29) seja

na sala de aula seja fora dela em outros espaços junto com outros professores.

Também Rezende (2008 p.79 ) explica que:

Os saberes do professor estão claramente definidos e são construídos por ele mesmo por meio de sua prática docente e das experiências que vai acumulando no convívio com os colegas, com os alunos e com a sua vida cotidiana. Nesse sentido, estaria formulando suas próprias teorias. Por isso, os saberes para o professor estão interligados aos saberes do professor.

As falas dos autores vem ao encontro dos discursos dos professores onde são

enfáticos quando dizem que aprenderam a dar aula dando aulas, no fazer diário com os

alunos e seus pares e quanto mais essa experiência acontece mais saberes vão sendo

adquiridos.

A atitude de analisar o próprio trabalho leva o professor a uma conscientização sobre suas práticas de ensino, bem como a perceber a criação de novas significações sociais que podem levar à transformação, dentro dos limites impostos pelas instituições sociais. Entendendo os saberes experienciais como relevantes na prática educativa escolar, essa discussão terá continuidade com fundamento em um único autor, Tardif (2002).

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Para Balém (2003 p. 9) em qualquer meio de formação é necessário ter presente a

experiência da profissão para regressar a ela através do questionamento sobre a ação

ocorrendo, dessa forma, a verdadeira práxis educativa.

Os professores avaliam e reavaliam suas práticas cotidianamente e dali

aproveitam ou descartam experiências exitosas ou desastrosas, trata-se de uma reflexão

da prática na prática, como bem nos mostra Nunes (2001 p. 30):

Dessa forma, resgata a importância de se considerar o professor em sua própria formação, num processo de auto-formação, de reelaboração dos saberes iniciais em confronto com sua prática vivenciada. Assim seus saberes vão-se constituindo a partir de uma reflexão na e sobre a prática. Essa tendência reflexiva vem-se apresentando como um novo paradigma na formação de professores, sedimentando uma política de desenvolvimento pessoal e profissional dos professores e das instituições escolares.

Tardiff (2002 p.53) também argumenta no mesmo sentido

A prática pode ser vista como um processo de aprendizagem através do qual os professores retraduzem sua formação e a adaptam a profissão, eliminando o que lhes parece inutilmente abstrato ou sem relação com a realidade vivida e conservando o que pode servir-lhes de uma maneira ou de outra. A experiência provoca assim, um efeito de retomada crítica (retroalimentação) dos saberes adquiridos antes ou fora da prática profissional. Ela filtra e seleciona os outros saberes, permitindo assim aos professores reverem seus saberes, julgá-los e avaliá-los e, portanto, objetivar um saber formado de todos os saberes retraduzidos e submetidos ao processo de validação constituído pela prática cotidiana.

Também a questão de que os professores aprendem com seus pares e com seus

alunos entendemos como Cunha (1998, p. 35) que nos chama a atenção para

(...) o valor que os professores dão à prática docente enquanto a sua grande inspiração para a mudança e ao saber que constroem a partir daí. Nela localizam a possibilidade de aprenderem com colegas de trabalho, com alunos e, de refletindo sobre a própria docência, reformularem sua forma de pensar e agir”.

Faz-se necessário atentar para o fato de que essa prática não está dissociada da

teoria é uma prática refletida na teoria. Pinto (2010 p. 113) explica bem como se acontece

essa dinâmica.

Ao valorizarmos a prática como importante elemento formador, em nenhum momento assumimos a dicotomia com a teoria, tampouco desconsideramos a importância de uma formação inicial, em se tratando de formação de professores para a educação básica. Não se trata de considerarmos a prática como elemento desprovido de teoria. Ao contrário, não se constrói uma prática profissional, nesse caso, pedagógica, sem que haja fundamentação teórica explícita ou não. A ação pedagógica pode até começar pelo espontaneísmo, mas logo se impõe a

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necessidade de refletirmos sobre essa ação e já estaria nesse fator uma mola propulsora para a formulação teórica.

Acredita-se então que a formação inicial é muito importante como sendo um

primeiro momento do futuro professor com os saberes de sua profissão e que a prática

não vem sozinha ela é uma reflexão até mesma da formação inicial. O professor se vale

dos conhecimentos que teve no curso de licenciatura, mesmo que em alguns casos como

os próprios relatos disseram fossem pequenos, mas ainda assim eles são utilizados em

algum momento e sendo assim o professor da inicio a sua docência com esses

conhecimentos que vão sendo aperfeiçoados, moldados, reelaborados e construídos a

partir de seus fazeres diários junto com outros professores , com os alunos e com todo o

meio social e também com os cursos dos quais vai participando e isso nos leva a pensar

na questão da formação continuada pois nas palavras de Freire (1997 p. 58)

Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro horas da tarde, ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática.

3.1.2. Formação Continuada

Neste item o objetivo era saber se os professores participavam das formações se

as suas dificuldades eram abordadas nestas formações que a Rede oferecia e se essas

formações eram boas. Sobre a satisfação dos professores enquanto as formações, estas

já foram descritas no quadro 6. Neste momento fizemos um quadro com as impressões

dos professores.

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Quadro 3. Participação nas Formações oferecidas pela Rede

Relato/ Depoimento

Unidades de Significado

Categoria

E1 - é eu vou falar especificamente do caso da inclusão né do curso de formação que nós fizemos como essa é uma nova realidade nas escolas municipais foi levantado essa questão né só que eu acho que ainda assim a não foram contempladas as nossas angústias as nossas ansiedades porque eu acredito que nem os próprios formadores tem uma formula pronta para resolver isso então assim muitas vezes nos acabamos resolvendo descobrindo é em conjunto né no caso na escola como resolver porque eles falam que não existe uma formula pronta e muitas vezes eles acabam só utilizando só a teoria e acabam não nos ajudando com. E2 - Eu acho que no contexto geral eu tive um grande apoio mas em relação aos especiais ainda tem muito a desejar. (...) Sim mas o apoio a essas duvidas que nós temos ainda deixa a desejar E3 - Eu acho média poderia ser melhor com mais cursos. (...) Não e mais teoria que a gente vê é mais teoria do que pratica docente. E4 - Muito boa. Olha dependendo do curso são outros não, então dependendo do curso que você vai fazer que abrange um certo tema sim agora os outro não os outros e aberto como você vai trabalhar com aqueles alunos que tem dificuldade agora tem os necessidades especiais NE que é especifico E5 - Então algumas dificuldades até que são abordadas mas é a gente sempre tem uma colocação muito constante né é...“gente cada realidade é diferente né o importante é a pratica: nós estamos aqui para trocar experiência porque nós sabemos que está difícil” então assim eles comentam bastante do que a gente também esta cansado de ouvir né mas a troca de experiências entre os professores é rica E6 - Nem sempre quase nada. E7 - Não eu entendo assim claro que depende do curso mas normalmente as formações são bem genéricas né são bate papos que te lançam a idéia né mas normalmente o tempo não é hábil pra que seja aprofundado ali mesmo pra que você possa assim sair do curso e falar agora sim estou preparado.

E8 – (...) existem alguns cursos que eles procuraram suprir algumas dificuldades bem poucos para ser sincero, alguns deles vou dar exemplo aqui do cieja nos trabalhamos com um numero grande de alunos especiais então a rede esta oferecendo cursos para gente estar trabalhando para estar subsidiando nosso trabalhando com alunos especiais qual o problema, oferece-se o curso mais o numero de vagas e muito pequena e ainda assim a quantidade de cursos é pequena, então existe a boa intenção existe esta possibilidade de ir atrás só que o numero de cursos é pequeno o numero de vagas também é pequena e muitos são oferecidos fora do horário de trabalho aquilo que eu disse que dificulta o nosso trabalho a nossa formação.

E1 – a formação é boa mas eu acho que ainda assim: não foram contempladas as nossas angústias as nossas ansiedades porque eu acredito que nem os próprios formadores tem uma formula pronta para resolver isso... E2 – É boa mas ... em relação aos especiais ainda tem muito a desejar. (...) E3 – Média : é mais teoria que a gente vê é mais teoria do que pratica docente. E4 – Muito boa: Olha dependendo do curso são bons outros não, então dependendo do curso que você vai fazer... E5 – Média: algumas dificuldades até que são abordadas... né mas a troca de experiências entre os professores é rica E6 – Não é boa E7 – Não: eu entendo assim claro que depende do curso mas normalmente as formações são bem genéricas... E8 – Boa mas com dificultadores: oferece-se o curso mais o numero de vagas e muito pequena... a quantidade de cursos é pequena, então existe a boa intenção... e muitos (cursos) são oferecidos fora do horário de trabalho.

Formação

Continuada (Na

prefeitura)

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Sobre a formação oferecida pela Prefeitura todos foram unânimes em dizer que

participam ou que já participaram dos cursos em algum momento de suas trajetórias.

Também falaram da dificuldade em participar desses cursos uma vez que a maioria deles

segundo os entrevistados são oferecidos dentro do horário de trabalho sem a dispensa do

ponto, dificultando assim a participação. Assim vejamos o trecho da Entrevista 1 (E1)

o maior problema é que muitas vezes esses cursos eles são realizados no horário né de trabalho e como não há dispensa é fica difícil de você participar porque se você participa você acaba tendo falta né no seu trabalho, então isso acaba inviabilizando muito principalmente se a pessoa tem mais de um cargo né então aí fica um pouco inviável e muitas vezes a gente acaba sabendo do curso de um dia para o outro então também fica mais difícil de se programar para fazer estes cursos então se a gente souber com maior antecedência talvez a gente consiga também participar mais desses cursos

Vemos que a professora até gostaria de participar de mais cursos mas o problema

sempre é a oferta do mesmo, no horário de trabalho.

Na entrevista 5 (E5) também encontramos a mesma problemática do horário:

o problema é que como nós não temos uma grande mobilidade em horário então geralmente esses cursos acabam coincidindo com o horário de trabalho como nós ganhamos pouco nos temos que ter mais do que um cargo então não tenho como fazer todas que eu gostaria mas eu procuro sempre participar das formações pra até mesmo ficar por dentro do que a rede pensa sobre o assunto mas a maioria dos cursos que eu faço são cursos particulares por minha conta mais tento na medida do possível de acordo com os horários me adequar para poder participar dos da rede também.

E também E7:

A rede municipal ela oferece bastante cursos muitos curso o que complica um pouco são os horários porque muitas vezes você não tem a dispensa de ponto pra participar daquele curso e ai complica a formação existe mas as condições para a participação as vezes é não permite que você faça a formação.

Também no mesmo sentido o E8 fala da dificuldade do professor em participar das

formações sejam dentro ou fora do horário.

Esses cursos quando eles são no horário da escola e você tem dispensa de ponto e tem pontuação é um incentivo os cursos são muitos bons, a prefeitura oferece cursos que são muito bons para nossa formação no entanto se eles ocorrem fora do horário eles complicam a sua vida porque você tem uma vida social fora da escola uma parte dela podemos sim reservadas sim para o curso mas ela vai comprometer outros compromissos seus então uma vez que esses cursos são dados dentro do seu período de aula porque é trabalho, é voltado para seu emprego seu trabalho eles podem ser melhor utilizados agora se for dado fora do período poucos professores tem condições de assumir isso até porque muitos acumulam cargo e muitos tem trabalho em casa com os filhos, família e tudo mais.

Fica claro nas falas dos professores a vontade de participar das formações, mas

fica mais claro ainda que os mesmos só poderiam participar se houvesse a dispensa do

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ponto, pois se for fora do horário de trabalho os professores alegam que já tem seus

compromissos sejam de ordem familiar, social ou mesmo porque estão dando aula em

outra rede.

A formação continuada é importante pois nos discursos dos professores esse é um

dos espaços em que os saberes para a docência podem ser adquiridos ao longo de sua

vida profissional, trata-se de um momento de reflexão, criação e motivação desses

professores, Falsarella (2004, p. 50) explica:

(...) a formação continuada como proposta intencional e planejada, que visa a mudança do educador através de um processo reflexivo, crítico e criativo, conclui-se que deva motivar o professor a ser ativo agente na pesquisa de sua própria prática pedagógica, produzindo conhecimento e intervindo na realidade.

Nos discursos dos professores a respeito da formação oferecida pela rede eles

deixam claro que o maior problema é o tempo do qual não dispõem para a realização dos

mesmos. Pensamos que o próprio professor é que deva gerir a sua formação, buscando

meios para seu aperfeiçoamento e não depender tão somente dos órgãos competentes.

Concordamos com Pivetta (2009) quando diz ta que a formação “parte do próprio sujeito,

ou seja, este se forma por seus próprios meios, a partir de si mesmo”. Ibiapina (2004,

p.127) também comenta:

a educação contínua deve representar um investimento feito pelos professores no sentido de aprimoramento das suas ações docentes, ao longo de toda carreira pessoal e profissional.

Os professores do Cieja como já mencionado anteriormente contam com 8 horas

de formação conjunta com os demais professores por semana. Esses momentos são

privilegiados pois a escola nesse caso é o lucus da formação continuada dos professores,

o lugar mais apropriado para a discussão e trocas de saberes:

...há que se ter em vista que a formação do professor que está em serviço é feita na escola e a ela devem estar voltadas as demais instâncias, a fim de que se fortaleçam os professores em termos teórico-práticos, possibilitando-lhes uma reflexão constante sobre sua atuação e os problemas enfrentados e uma instrumentalização naqueles conhecimentos imprescindíveis ao redimensionamento da sua prática. (KRAMER, 1989, p.197)

Nóvoa (1995, p.28) comenta também da formação na escola falando de projetos

por ela oferecidos:

A mudança educacional depende dos professores e de sua formação. Depende também da transformação das práticas pedagógicas na sala de aula. Mas hoje em dia nenhuma inovação pode passar ao lado de uma mudança ao nível das

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organizações escolares e do seu funcionamento. Por isso, falar de formação de professores é falar de um investimento educativo dos projetos de escola.

Penso que a formação continuada na escola seja de fundamental importância

porque neste espaço os professores são ouvidos. Percebo uma necessidade importante

de ouvir os professores, também Cunha (1998, p.59) nos revela esse mesmo sentido

[...] é fundamental ressaltar a importância do reconhecimento e valorização do saber docente no âmbito das práticas de formação continuada, de modo especial dos saberes da experiência, núcleo vital do saber docente, e a partir do qual o professor dialoga com as disciplinas e o saberes curriculares.

Especificamente em relação a EJA Silva (2006, p. 35) ressalta que:

ao se pensar sobre uma formação continuada do professor da EJA, esta deve ter essencialmente esse caráter de dinamicidade, adequação e permanência, mais do que outros profissionais, visto que eles estão em permanente atitude de análise da sua prática, pois no exercício de sua função, mobiliza conhecimentos e competências para atender às novas exigências do seu fazer pedagógico.

A formação continuada é necessária e condição para o desenvolvimento da

docência. Os professores aqui reconhecem a sua importância e dizem que quando

oferecidas as formações e quando é possível essas são realizadas. O professor que atua

na Educação de Jovens e Adultos necessita dessa reflexão baseada nessa dinamicidade

diária que é trabalhar com jovens e adultos.

3.1.3. Educação de Jovens e Adultos

A dificuldade ou as dificuldades de se trabalhar com Jovens e Adultos foi a questão

que permeou essa categoria de análise, e foi com essa pergunta sobre quais as

dificuldades encontradas na docência de jovens e adultos que o quadro 4 foi realizado.

Quadro 4. Dificuldades encontradas na Educação de Jovens e Adultos

Relato/Depoimento

Unidades de Significado

Categoria

E1 - eu acho que a principal seria o caso da evasão, nós temos um número muito grande de alunos que acabam desistindo no meio ne no meio do curso ou muitas vezes eles faltam por motivos de trabalho e depois eles retornam então esse é um dos problemas que a gente é um dos maiores problemas que a gente acaba enfrentando ... E2 - Acho que ainda é a alfabetização, porque eles estiveram muito tempo fora da escola e eles tem experiência de vida mas tem muita dificuldade devido a idade aos problemas de saúde aos problemas sociais que eles enfrentam.

E1 - Evasão

E2 - Dificuldades para Alfabetização.

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E3 - Eu acho melhor especialização nas múltiplas dificuldades inclusive dos alunos especiais E4 - A primeira pra mim que eu acho é a baixo auto estima que eles chegam que até conseguir provar pra eles que eles são capazes é difícil depois que eles acreditam eles desenvolve mais até.... E5 - Para mim e a evasão porque você percebe que pra eles a escola é uma forma de tentar melhorar de vida porém a primeira coisa que eles largam quando tem algum problema é a escola porque se eles viveram até hoje sem a escola então eles vão poder ficar mais um pouquinho sem a escola então se tem algum problema de saúde é a escola que larga se tem um problema de emprego é a escola que larga se tem um problema familiar e a escola que larga e eu até hoje não consegui uma maneira de fazer esse aluno perceber o quão importante ele ta escola. E6 - Aluno que vem que não sabe que não sabe praticamente nada vem com certificado de 7 serie, mas não sabe nem ler nem escrever. E7 - Eu acho que uma das principais dificuldade é a diferença grande que você encontra numa sala de aula. Você encontra pessoas de estados diferentes com linguajar característicos diferentes né porque nos temos pessoas variadas com idade variadas e com formações variadas. Tem aquele que chegou aqui e não sabe ler, tem aquele que chegou aqui que sabe ler mas não sabe escrever tem aquele que estudou ate uma certa parte então quer dizer você é obrigado muitas vezes a nivelar láaa no sub solo pra poder tentar atingir todos e tentar trazes todos juntos então a,principal dificuldade é esta por ser jovens e adultos nós temos pessoas com diferentes formações né condições estágios de sua formação. E8 - São tantas. É muito gostoso trabalhar com jovens e adultos porque existe a maturidade e a indisciplina é menor e com a maturidade vai se tendo menos problemas de indisciplina e eu acredito que hoje na rede tanto municipal quanto estadual o problema o grande problema do trabalho docente é a indisciplina. Então temos menos problemas de indisciplina por outro lado temos uma diversidade muito maior dentro da sala de aula não é, nós temos jovens de 16/ 17 anos nos temos adultos bem adultos de 70 e poucos anos NE, que o ritmo de aprendizagem é outro e que a maturidade, o conhecimento que ele tem é muito maior do que a do jovem de 15/16 anos, ele traz consigo uma bagagem educacional, social muito maior que o jovem de 15/ 16 anos, no entanto ele tem mais dificuldade de aprender e o jovem dado a um monte de informações que ele tem ao seu redor ele tem até mais facilidade de aprender algumas coisas.e nesse meio desse extremo nos temos outra gama de diversidade nós temos mulheres que os maridos não deixavam estudar e agora se separaram e estão voltando a estudar, nós temos casos de trabalhadores que não tiveram condições de estudar porque desde cedo trabalhavam e agora eles tem oportunidade de estar estudando e por ai vai, e nessa gama são diferentes trabalhadores nós trabalhamos com o pedreiro e com o auxiliar de informática, então aí já são dois universos diferentes e uma gama de diversidades de dificuldades na sala de aula então isso é bastante difícil como você trabalha com tanta diversidade o EJA

E3 - Especializar-se mais

E4 - baixa auto estima dos alunos

E5 – Evasão

E6 - Alfabetização

E7 - Diversidade de pessoas enquanto suas formações, seus locais de origem, suas experiências na escola. E8 - A diversidade dentro da mesma sala de aula.

EJA

(Dificuldades)

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Ao analisar o quadro acima penso que a questão da diversidade na sala de aula

onde aparece duas vezes como uma dificuldade, na realidade seja uma característica da

EJA assim Bennell (2001, p.122) diz que:

Pensar a EJA é pensar que cada sala de aula está inserida em um contexto sociocultural, que é plural, marcado pela diversidade de grupos e classes sociais, visões de mundo, valores, crenças, padrões de comportamentos etc., uma diversidade que esta refletida na sala de aula.

Bernardino (2008 p.5) corrobora

Pensar a educação desses sujeitos que trazem para o ambiente escolar suas visões de mundo, concepções culturais, sociais, políticas e religiosas, advindas de suas vivencias em grupos, é pensar possibilidades de organização de um currículo que contemple esses conhecimentos, essas praticas coletivas de entendimento de sua realidade, expressas nas manifestações diárias desses sujeitos.

Sob esse prisma, Gadotti (2001, p. 98) afirma ser necessário que o professor de

jovens e adultos “esteja envolvido com toda a complexidade que abarca a compreensão

dos processos de construção do conhecimento e a análise da trajetória da Educação

Popular”.

Segundo Tardiff (2002 p.13) :

A aquisição da sensibilidade relativa às diferenças entre os alunos constitui uma das principais características do trabalho docente. Essa sensibilidade exige do professor um investimento contínuo e a longuíssimo prazo, assim como a disposição de estar constantemente revisando o repertório de saberes adquiridos por meio da experiência.

Também o educador da EJA no projeto CIEJA como já descrito anteriormente tem

um ponto favorável que são 8 horas de formação em serviço semanais, Balém (2003 p. 9)

fala da importância do espaço para essa formação:

Cabe, portanto à escola, diante dessa nova abordagem, propiciar um espaço para que os professores possam discutir as informações, trocarem experiências e fazerem reflexões sobre sua prática docente, proporcionando, assim, uma educação de qualidade, em meio a ação/reflexão. Acreditamos, também, que para se chegar a essa construção é relevante munir o educador de jovens e adultos de instrumentos teóricos e metodológicos que lhes permitam compreender as especificidades da EJA.

No projeto Cieja pode-se contar realmente com esse espaço onde as reflexões

sobre a prática docente são realizadas quase que diariamente propiciando a troca de

experiências e saberes num movimento continuo de pensar sobre a prática.

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Os professores também falaram sobre a evasão. Muitas vezes a escola não atende

às expectativas dos alunos da EJA. Naif (2005, p.42) afirma que:

[...] a escola muitas vezes encontra dificuldades para compreender as particularidades desse público, no qual os motivos que os levam à evasão, ainda no início da juventude, e as motivações que envolvem sua volta à sala de aula são informações preciosas para quem lida com a questão. Deixá-los escapar leva à inadequação do serviço oferecido e a um processo de exclusão que, infelizmente, não será o primeiro na vida de muitos desses alunos.

E também os professores comentaram sobre a questão de motivar, incentivar esse

aluno para não desistir. A respeito da motivação Tardiff (2002 p. 13) comenta:

Ora, essa situação põe os professores diante de um problema que a literatura chama de motivação dos alunos: para que os alunos se envolvam em uma tarefa, eles devem estar motivados. Motivar os alunos é uma atividade emocional e social que exige mediações complexas da interação humana: a sedução, a persuasão, a autoridade, a retórica, as recompensas, as punições etc.

Entendo como uma das missões do educador a motivação desses alunos. No

trabalho de Soglia e Santos (2012 p.9) também encontra-se semelhanças com essas

idéias:

Percebemos também que ser educador nesta modalidade de ensino se torna um desafio, uma vez que sem material e metodologia adequados o aluno perde o interesse pela aprendizagem. Assim, a educação impõe responsabilidades ao professor, pois é sua a incumbência de buscar outras estratégias para utilizar em sala de aula para motivar seus alunos e também conscientizá-los da importância da educação, desvelar qual e o real sentido do que é, para quê e porquê estudar, revelando-lhes que a educação não serve apenas para conseguir um trabalho melhor, mas para formar cidadãos conscientes de seus direitos e capazes de exigi-los quando não efetivados.

Concordo com Gadotti (2002) que fala que a educação de adultos é uma educação

multicultural que acontece na diversidade cultural e vai contra a qualquer tipo de exclusão

como raça, sexo, cultura, religião, etc. E assim o professor precise de uma formação que

é contínua, onde ele conheça novas metodologias, troque experiências e construa seus

saberes.

3.1.4. Ser Professor: Ideal e o Real

Na questão do Ser Professor dividiu-se entre o professor ideal segundo os

entrevistados e o professor real, ou seja o entrevistado enquanto professor. Como ele se

definiria como professor.

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Nesta categoria duas perguntas nortearam os discursos: 1. Como você define um

bom professor? Analisando os discursos alguns se mostraram longos o que inviabilizou a

descrição dos mesmos neste espaço, encontrando-se em anexo, então fizemos um

quadro (quadro 5) com as unidades de significado depois das análises dos mesmos. A

segunda pergunta era: 2. Como você se define enquanto professor? Neste momento

então realizamos o quadro 6 aí sim com os discursos e as unidades de significado.

Quadro 5. Ser Professor (Ideal)

Unidades de Significado

Categoria

E1 – É aquele que têm: qualidades, habilidades, boa vontade, empenho, dedicação, humildade, atualizado, que saiba trabalhar em equipe. E2 – É aquele que corre atrás das necessidades de seus alunos, que o conhece, que tem entrosamento, que procura sanar as dificuldades de seus alunos. E3 – É aquele que tem um bom relacionamento com seu aluno, domina sua disciplina e motiva o aluno. E4 – É aquele que chega no aluno E5 – É aquele que utiliza de formas diversificadas para atender os alunos. E6 – É aquele que tenta chegar no aluno, que se preocupa. E7 – É aquele que tem um bom senso, que conhece bem seu público, que elimine qualquer barreira para chegar no seu aluno. E8 – É aquele que questiona muito o que está ensinando. Um profundo questionador.

Ser Professor

(Ideal)

Ao realizar as análises das unidades de significado dos discursos percebeu-se em

seus pontos de convergência a questão do chegar no aluno que poderia-se traduzir como

uma sintonia com o aluno, fazer com que ele possa aprender, construir seu

conhecimento.

Talvez esse professor que chega no aluno seja o professor que questiona que

inquere que vai levando o aluno ao descobrimento, assim Freire (1997) diz que

o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma “cantiga de ninar”. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas” (p. 96).

Também a ousadia é uma característica importante para um professor, talvez ele

sempre busque novos conhecimentos, vemos que em outros momentos dos discursos

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essa questão era recorrente. Que o professor não se sinta totalmente preparado, pronto,

que ele sempre esteja buscando algo mais para o seu fazer. Freire (1997, p.35) chama

isso de consciência do inacabamento:

Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado. A diferença entre o inacabado que não se sabe como tal e o inacabado que histórica e socialmente alcançou a possibilidade de saber-se inacabado (p.35).

Pode-se dizer que na visão dos professores entrevistados o bom professor é

aquele que tem a habilidade e competência de chegar no aluno. Esse chegar no aluno

seria ter um bom relacionamento, entrosamento, dispor de metodologias diferenciadas

que consiga derrubar qualquer barreira que impeça o aluno de aprender, e que também

seja constante questionador.

Quadro 6. Ser professor (Real)

Depoimento/ Relato

Unidades de Significado

Categoria

E1 - preciso de desafios preciso cada vez pensar em projetos em coisas até pra me sentir estimulada para me sentir motivada.... sou uma pessoa dedicada eu sempre procuro é preparar as atividades estudar porque eu acho que e fundamental isso no nosso trabalho é também acho que é.... eu falei esforçada, dedicada é eu sou insatisfeita eu sou insatisfeita porque estou sempre querendo melhorar aquilo que eu faço e eu sou muito exigente. E2 - uma pessoa com boa vontade para auxiliar os alunos....dentro do que eu possa ajudá-lo dentro daquela dificuldade que ele me apresenta eu procurar solucionar todos os seus problemas. E3 - Eu tento ser assim o mais assim ter um bom relacionamento com os alunos e tento incentivá-los sempre mais a continuar os estudos. E4 - Olha... eu acho que eu consigo chegar nos alunos mesmo com tendo muita dificuldade com alguns eu consigo. E5 - eu procuro na medida do possível correr atrás de todas as formações possíveis e imaginárias pra atender o publico que a gente recebe tento fazer das tripas coração pra gente conseguir atingir nosso alunos. E6 - eu acho que ainda falta muito coisa muitas vezes me angustia de ver o aluno que não sabe ler e escrever eu me sinto angustiada muitas vezes de não cumprir esse papel de conseguir formar o aluno para leitura para a escrita. E7 - Eu me defino um constante aprendiz, uma pessoa que... porque cada dia eu percebo que a partir do momento que eu me considero vazio que eu me considero alguém que não tem é dono de qualquer regra de qualquer lei de qualquer informação estando vazio eu crio condições para aprender e aprender e é aprendendo que a gente tem condição de conhecer

E1 - exigente, insatisfeita, esforçada, dedicada, busca desafios. E2 - boa vontade. E3 - bom relacionamento; incentivo aos alunos. E4 - capacidade de chegar no aluno. E5 - Realizar formações; atingir os alunos. E6 – angustiada. E7 – um eterno aprendiz

Ser Professor (Real)

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então eu me defino como um eterno aprendiz E8 - Ai eu me defino como este bom professor, esse cara que esta sempre se questionando,... no decorrer desses quase 15 anos ai eu fui descobrindo, eu fui aprendendo né, a ser um professor diferente e que me faz um professor melhor hoje do que eu fui no passado , hoje eu converso muito, converso muito com todos , eu vou sempre perguntando , eu nunca sei, eu quero aprender mais,eu sempre quero saber o que o outro esta fazendo não é pra investigá-lo, não é pra copiar é pra tê-lo como parâmetro , o outro pra mim é sempre um parâmetro né, aí eu posso ver se aquilo pode ser bom ou ruim para mim, então o outro pra mim é sempre um parâmetro , o dialogo é fundamental, aprendi principalmente nesses últimos 5 anos que a afetividade ela é fundamental , ela é o maior laço que existe dentro das relações humanas e a educação ela é um processo social, é você estar com o outro, você ensina e aprende com o outro, e como você vive com o outro você tem que estabelecer laços né, e a afetividade ela é fundamental para que esse processo seja positivo para que a educação flua tanto a minha como a do outro , então hoje eu sou muito mais é... comunicativo com os professores, sou muito mais paciente e sou muito mais humilde, tenho mais bom humor, não sou uma pessoa de sorrir muito , hoje o bom humor ele é ... fundamental

E8 – bom professor, humilde, comunicativo, questionador, dialogador e com bom humor.

O quadro 6 mostra as opiniões dos entrevistados sobre si próprios enquanto

professores. Notamos que as opiniões muito se assemelham com as respostas dadas

anteriormente sobre o bom professor. Na realidade para o professor, o bom professor

seria ele mesmo. Com exceção da E6 que diz: - eu acho que ainda falta muito coisa

muitas vezes me angustia de ver o aluno que não sabe ler e escrever eu me sinto

angustiada, todos os professores se definiram como bons professores aqueles abertos

ao diálogo com os alunos, com bom entrosamento, que buscam formas diferentes de

chegar no aluno, que são incentivadores e com boa vontade.

Concordo com Cunha (1996), quando diz que a característica que se destaca em

um bom professor é a afetividade. Em sua pesquisa, questionou os alunos acerca das

características de um bom professor, e o resultado foi que, um bom professor é aquele

que mantém relações positivas com seus alunos, tendo um bom relacionamento afetivo.

Definem ainda, como aquele que é amigo, compreensivo, gente como a gente, que se

preocupa com os alunos, é disponível mesmo fora da sala de aula, coloca-se na posição

do aluno, é honesto nas observações, é justo, etc

A relação da afetividade é muito clara apesar dessa palavra só ter aparecido num

outro momento na E8, os professores quando falam dos alunos, do bom relacionamento

do entrosamento do chegar no aluno, na realidade está aí criando-se um vínculo, que é

afetivo é a partir desse vínculo positivo que as relações ensino aprendizagem vão ser

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construídas de maneira mais eficiente. Estabelecido o vínculo o aluno se sente mais

motivado a aprender.

3.1.5. Vida de Professor

Nesta categoria pretendia-se pensar sobre as experiências marcantes desses

professores na sua docência. Foi solicitado então que contassem um fato marcante do

qual eles se lembrassem. Uns com mais emoção outros com nem tanta. Com exceção do

E3 e E8 todos se lembravam de alguma passagem.

Quadro 7. Vida de Professor

Relato/Depoimento

Unidades de Significado

Categoria

E1- ah eu não vou saber lembrar de um caso especifico mais uma das coisas que mais assim me emociona que mais assim me toca é quando eu vejo que o trabalho que eu fiz em sala de aula, ele foi reconhecido foi valido quando vem um aluno e me fala não assim só pra elogiar que por exemplo aquilo que eu passei aquilo que eu mostrei foi pra ele importante aquilo foi útil e também acompanhar o desenvolvimento dos alunos e vê que de uma certa maneira ajudou eles ou eles conseguiram avançar então isso pra mim é fundamental é aquilo que pra mim acaba me motivando me fazendo continuar. E2 - Eu tenho um há muitos anos atrás quando eu trabalhava na EMEF Ayres Martins Torres eu tinha um aluno que não tinha ...... pernas e ele andava ajoelhado com um apoio nos dois joelhos a mãe dele fazia uma espécie de uma almofada amarrava nos joelho porque naquela época não existia assim aparelhos adequados e ele andava se arrastando pela classe tudo e ele era um excelente aluno ele subia com a maior versatilidade na carteira ele escrevia na lousa ele fazia tudo que lhe era dado o problema dele era o lazer quando nos tínhamos jogo de futebol na quadra ele corria desesperadamente atrás da bola mas eu percebia que ele ralava o joelho porque aquela almofada ela rasgava e a mãe dizia que em casa ele não tinha o que fazer e eu dei um aparelho um atari pra ele na época de presente e ele ficou muito feliz eu lembro que ele chorava muito a mãe a família que era muito humildes e depois eles mudaram de São Paulo para outro estado e nunca mais tive contato e esse foi um fato que me marcou muito porque ele era um excelente aluno e eu tenho certeza que ele deve ter chegado em algum lugar. E3 - No momento não lembro de nada porque eu trabalhei na EMEF e depois no CIEJA, só assim no CIEJA eu tenho um relacionamento maior com os alunos porque são adultos e um retorno muito mais positivo do que na EMEF. E4 - Olha esses dias mesmo o eu fiquei sabendo de um nosso aluno que quando ele começou aqui no modulo 1 ai ele fez modulo 2 e quando chegou no modulo 3 ele falou pra mim que iria fazer engenharia e esses dias eu descobri eu fui na formatura dele do ensino médio e esses dias eu descobri que ele esta no 3 ano de engenharia e falou que vai vir convidar eu e mais dois professores para ir formatura dele. Esse aqui é um, mas na escola do estado eu tenho alunos que hoje já

E1 - quando eu vejo que o trabalho que eu fiz em sala de aula, ele foi

reconhecido foi valido...

E2 – poder ter ajudado um aluno com deficiência oferecendo-lhe um jogo eletrônico e na comoção que sentiu diante do choro não só do garoto como dos familiares.

E3 - Ter um retorno positivo junto aos alunos da EJA.

E4 – o reconhecimento de seu trabalho traduzido no sucesso profissional de seus alunos: na escola do estado eu tenho alunos que hoje já são médicos e num lugar pobre eu mostro pra eles isso que não é porque é pobre que não pode estudar depende do aluno.

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são médicos e num lugar pobre eu mostro pra eles isso que não é porque é pobre que não pode estudar depende do aluno. E5 - Olha pra mim marcou bastante a entrada do Juscelino aqui na escola, que era um Sr. De 56 anos que tinha Síndrome de Down e ele não sabia se comunicar ele não sabia usar o banheiro ele não conseguia ficar em silêncio enquanto eu estava falando com a sala ele gritava enquanto eu falava isso me marco bastante mas chegando no fim do ano ver o progresso que ele teve e as pessoas falavam mas e ai você conseguiu alfabetizar falei não consegui, então porque você tem toda essa satisfação mas é uma coisa que alem da alfabetização ele conseguiu ter tantos outros ganhos que dinheiro no mundo não paga essa modificação de comportamento e essa sociabilização dele e isso me marcou bastante e agora o fato de estar atendendo os deficientes visuais também que eu que não conhecia nada sobre o braile fui aprender na marra sozinha pra conseguir atender esses alunos então so dois episódios que me marcaram bastante tanto aprender o braile pra trabalhar com os deficientes visuais quanto o fato do Juscelino que me ensinou muito. E6 - Foi quando eu cruzei com uma aluna que foi minha aluna e ela eu soube que ela fez letras e ela fez inglês por causa das minhas aulas e eu inspirei ela a ser professora de inglês eu acho que isso foi pra mim é me comoveu. E7 - foi uma apresentação que teve numa escola que eu dava escola em que os alunos estavam no páteo se preparando para cantar o hino nacional e depois é eles teriam uma apresentação que eles iriam assistir e tinha um aluno que eu percebi que estava bem rebelde estava chamando atenção e ele pegou uma cadeira e colocou em cima da mesa e sentou na cadeira em cima da mesa e eu fui lá chamei a atenção e ele não queria sair chamei a atenção mesmo e aí fui ignorante, fui grosso fui duro com ele dizendo que ele não estava na casa dele que ele tinha que descer que eu ia chamar os pais dele mesmo assim não teve jeito e eu peguei a cadeira segurei a cadeira pedi para ele descer ele deu um salto pus a cadeira no chão falei agora você vai me acompanhar ate a diretoria ai eu subi com ele pra diretoria com ele esbravejando e eu atrás dele bem sisudo bem fechado, entramos na sala da direção e ai eu falei pra ele assim olha eu nos vamos convocar o seu pai e ele disse meu pai não vai vim eu disse porque ele disse porque ele esta preso então vamos chamar a sua mãe, minha mãe não vai vir e eu perguntei porque porque ela fugiu com outro homem, quem é o responsável por você, é minha vó, então nos vamos chamar a sua vó, ela não vai vir, porque? Porque ela cuida de outros 18 netos. E onde você mora? Ele me apontou para a favela, uma favela lá da região que ele morava lá aí o olho dele encheu de lágrimas e eu percebi que aquilo que ele estava fazendo era uma explosão mediante tudo o que ele tema passando e ai eu mudei a estratégia então eu vou me convocar para cuidar de você e a partir daquele dia eu meio que assumi a responsabilidade sobre ele e ai todo dia eu ia ver se ele estava na sala ia olhar o material dele , material que faltava eu providenciava pra ele lápis que faltava eu dava borracha que faltava eu dava caderno que faltava eu dava e ai eu fui conduzindo ele e no final do ano eu não digo que ele mudou 100% mas do que ele estava eu digo que 60% modificou, ele passou a ser mais responsável porque eu comecei a olhar o caderno dele eu passei a ser o pai dele né e depois por fim ele acabou sendo trocado de escola enfim porque aquela escola ia só ate a 8 serie e ai ele foi pro ensino médio foi pra outra escola ai eu perdi o contato dele, mas esse foi um dos fatos que me marcou.

E5 – o trabalho com os alunos especiais, particularmente o caso de um Sr. De 56 anos síndrome de down e o atendimento aos alunos cegos: so dois episódios que me marcaram bastante tanto aprender o braile pra trabalhar com os deficientes visuais quanto o fato do Juscelino que me ensinou muito. E6 - eu inspirei ela a ser professora de inglês eu acho que isso foi pra mim é me comoveu. E7 – ajudar um aluno que necessitava de uma atenção especial: então eu vou me convocar para cuidar de você e a partir daquele dia eu meio que assumi a responsabilidade sobre ele e ai todo dia eu ia ver se ele estava na sala ia olhar o material dele , material que faltava eu providenciava pra ele lápis que faltava eu dava borracha que faltava eu dava caderno que faltava eu dava e ai eu fui conduzindo ele e no final do ano eu não digo que ele mudou 100

Vida de

Professor

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E8 - ... eu nunca tive nada que me marcasse assim , tudo veio evoluindo num processo , né sem revoluções ou alguma coisa assim algum fato que revolucionasse, não o que revolucionou a minha vida foi a faculdade o antes e o depois.

Na E1 percebo na fala da professora que o que a faz continuar o que a motiva na

profissão é o reconhecimento de seu trabalho pelo aluno, ver que tal trabalho surtiu efeito

é o que dá sentido a essa professora. E1 uma das coisas que mais assim me emociona

que mais assim me toca é quando eu vejo que o trabalho que eu fiz em sala de aula, ele

foi reconhecido foi válido.

Na E2 a professora fica visivelmente comovida ao falar de uma aluno deficiente

físico que se arrastava para jogar bola nas aulas de Educação Física por conta de não ter

as pernas, andava ajoelhado com umas almofadas improvisadas nos joelhos. Ela então

resolve dar um brinquedo eletrônico, um vídeo game e conta da alegria e emoção que foi

esse dia não só para o aluno e seus familiares mas principalmente para ela mesma em

ver a felicidade estampada no rosto daquele garoto.

A professora da E3 não se recordou de nenhum fato que a marcou.

A professora E4 fala com muito entusiasmo e contentamento de seus alunos que

hoje são médicos, engenheiros, fica satisfeita e envaidecida de ter em algum momento

feito parte da história desses alunos como ela mesmo diz:

Olha esses dias mesmo o eu fiquei sabendo de um nosso aluno que quando ele começou aqui no modulo 1 ai ele fez modulo 2 e quando chegou no modulo 3 ele falou pra mim que iria fazer engenharia e esses dias eu descobri eu fui na formatura dele do ensino médio e esses dias eu descobri que ele esta no 3 ano de engenharia e falou que vai vir convidar eu e mais dois professores para ir formatura dele.

O trabalho com alunos deficientes foi o que marcou a professora E5. Ela fala

especificamente de um aluno com síndrome de Down de 56 anos e de suas conquistas no

espaço escolar. Ver e fazer parte do seu desenvolvimento de sua superação foi marcante

para ela:

ele não sabia se comunicar ele não sabia usar o banheiro ele não conseguia ficar em silêncio enquanto eu estava falando com a sala ele gritava enquanto eu falava isso me marco bastante mas chegando no fim do ano ver o progresso que ele teve e as pessoas falavam mas e ai você conseguiu alfabetizar falei não

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consegui, então porque você tem toda essa satisfação mas é uma coisa que alem da alfabetização ele conseguiu ter tantos outros ganhos que dinheiro no mundo não paga essa modificação de comportamento e essa sociabilização dele e isso me marcou bastante

A professora da E6 conta-nos da satisfação que foi saber que uma aluna tinha

escolhido ser professora de inglês por sua influência, por sua inspiração. A professora

relatou o fato entusiasmada.

O professor E7 nos oferece um relato comovente e apaixonante, conta-nos sobre

um evento que a escola realizava e de um garoto que não parava quieto, ficava

atrapalhando o tempo todo, chamando a atenção. O professor depois de várias

intervenções resolve levá-lo a diretoria e questionando-o sobre seu comportamento diz

que vai chamar seus familiares e assim segue sua história:

eu falei pra ele assim olha nos vamos convocar o seu pai e ele disse meu pai não vai vim eu disse porque ele disse porque ele esta preso então vamos chamar a sua mãe, minha mãe não vai vir e eu perguntei porque porque ela fugiu com outro homem, quem é o responsável por você, é minha vó, então nos vamos chamar a sua vó, ela não vai vir, porque? Porque ela cuida de outros 18 netos. E onde você mora? Ele me apontou para a favela, uma favela lá da região que ele morava lá aí o olho dele encheu de lágrimas e eu percebi que aquilo que ele estava fazendo era uma explosão mediante tudo o que ele tem passando e ai eu mudei a estratégia então eu vou me convocar para cuidar de você e a partir daquele dia eu meio que assumi a responsabilidade sobre ele e ai todo dia eu ia ver se ele estava na sala....

É muito forte quando o professor diz: eu vou me convocar para cuidar de você. O

professor percebendo toda a dificuldade do aluno diante de uma realidade tão trágica que

era aquela que ele estava vivendo, sem pai, abandonado pela mãe, esquecido pela avó

que tinha mais outros 18 netos para tomar conta. O professor sente a necessidade de

acolher o aluno e fazer de certa forma o papel de pai. Assim ele se convoca e esse termo

é forte é quase que uma intimação uma obrigação para com aquele aluno que não tinha

mais ninguém e gritava por socorro em atitudes de revolta e desespero que eram aquelas

pelas quais foi chamado a diretoria.

A resposta que o professor dá é surpreendente devido ao ineditismo da situação e

assim o professor toma sua decisão. Grillo (2000, p.78) fala dessa capacidade do

professor frente a uma determinada situação de adversidade:

[...] depende da leitura que ele faz da realidade naquela ocasião e é influenciada por múltiplas combinações: características pessoais e estado emocional momentâneo, características de cada aluno e do grupo, domínio de conteúdos, preparação daquela aula e, ainda, o habitus.

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Tavares e Alarcão (2001, p. 103) relatam que:

nesta sociedade emergente, começa a ser cada vez mais urgente formar e preparar as pessoas para o incerto, para a mutação e para as situações únicas e até chocantes que lhes exijam um maior esforço para a paz e o desenvolvimento de maiores capacidades de resiliência”.

Encontrou-se não só nesse professor E8 mas também em outros E1 essa

generosidade e esse esforço em entender o aluno, a situação e a resposta rápida para

aquela situação. Os discursos foram emocionados e muitas vezes realizados às lágrimas

quando falavam de seus alunos. Percebi neste momento toda paixão, entusiasmo e boa

vontade que são movidos esses professores

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste momento da pesquisa retomo o seu objetivo qual seja: discutir os processos

formativos vivenciados pelos professores que atuam na Educação de Jovens e Adultos

para então desvelar quais são estes processos e em que medida eles são compatíveis

com as demandas colocadas no cotidiano destes profissionais, para iniciar dizendo que

esses processos formativos foram sendo desvelados aos poucos na medida em que os

discursos iam sendo desconstruídos e assim percebendo os significados das falas dos

professores.

Nesses percursos formativos entendemos tratar - se de um contínuo: o professor já

tem uma vivência de escola e de aluno desde que nela adentrou quando criança, ele já

está habituado com o local de trabalho, penso que a formação primeira é aquela dos

bancos escolares e que a Formação Inicial é um segundo momento. Os professores

falam dessa formação inicial muitas vezes com frustração, pois pensavam que esta daria

conta de toda a complexidade que é dar aula.

Sim a Formação Inicial é importante pois segundo os professores ela vai dar um

suporte, trata-se então dos conhecimentos específicos da disciplina que vão lecionar

como Tardiff (2002) nos ensina sobre os vários saberes dos professores. Os professores

percebem depois que esta formação não é suficiente para dar conta das demandas

colocadas no dia a dia na sala de aula. Percebem que precisam de cursos, de pesquisas,

de trocas de experiências para construírem aos poucos os seus fazeres pedagógicos.

A unanimidade da pesquisa entre os professores entrevistados ficou pela opinião

de todos de que, a prática do dia a dia é que efetivamente constroem os seus saberes. É

ali, enquanto estão com os alunos, com outros professores, nos momentos de reunião

pedagógica, momentos de formação, que realizam a construção/aquisição dos seus

saberes.

Também deixo claro que não é simplesmente uma prática sobre a prática. Não, é

uma prática refletida na teoria, afinal os professores ao relacionarem-se no dia a dia com

seus fazeres constroem seus conhecimentos os reavaliam diante de seus sucessos ou

fracassos e reelaboram esses conhecimentos.

O professor de Educação de Jovens e Adultos está inserido num contexto diferente

daquele da educação regular, se defrontando com diversos desafios diariamente: a

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questão da evasão, da alfabetização e principalmente da grande diversidade na sala de

aula, são dificultadores na opinião dos professores entrevistados. A questão de ter numa

mesma sala pessoas com idades bem diferentes: jovens de 16 anos e idosos com 60 ou

mais, além de culturas diferentes, crenças, gênero, religião, pessoas vindas das mais

diferentes regiões do Brasil, uns com escolaridade outros com nenhuma familiaridade

coma escola e também os alunos deficientes cada dia em maior número. Toda essa

diversidade numa mesma sala. Os conflitos são naturais mas a mediação desses

conflitos, realizada pelo professor é que são por vezes trabalhosas.

Diante de uma realidade tão complexa e numa sociedade definida por Bauman

(2009) como líquido moderna, que conhecimentos seriam necessários lá na formação

inicial para poder melhor subsidiar os professores em seus fazeres? Penso que uma

formação específica para EJA seja necessário, pois só a formação em serviço não seria

suficiente para tal formação.

Na análise dos discursos dos professores percebemos que são felizes em seus

fazeres e quando inqueridos sobre o bom professor ou como você se definiria como

professor as respostas foram positivas no sentido de que todos estavam preocupados de

uma certa maneira em conseguir fazer com que o aluno avançasse no seu processo de

ensino-aprendizagem. Percebemos em suas falas um carinho e um respeito muito

grande pelos alunos, pelas suas histórias de vida. Fatos marcantes na vida destes

professores é que não faltaram, emocionaram a eles e ao pesquisador pois seus

discursos carregavam uma verdade uma emoção indescritível.

Acreditamos ter cumprido com o objetivo do trabalho, que corrobora nossa hipótese

primeira que seria de que as práticas cotidianas se configuram em importante elemento

para autoformação do professor. Entretanto muito há que se discutir sobre a formação do

professor que atua na EJA: suas expectativas, suas angústias, a questão de trabalhar

com muitos alunos deficientes numa mesma sala. Várias são as possibilidades para

tratarmos desse tema: Educação de Jovens e Adultos. Aos futuros pesquisadores desejo

sucesso e felicidade nessa incansável, mas necessária jornada do conhecimento.

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ANEXO 1 Roteiro de entrevista

1. Qual sua formação inicial?

2. Fez outra graduação ou pós graduação?

3. Há quanto tempo atua no magistério municipal?

4. Atua em outra rede além da municipal?

5. Tem outra ocupação além de ser professor?

6. Na sua opinião a formação inicial prepara para o exercício da profissão? Se não, como

os saberes necessários para a docência podem ser adquiridos?

7. A rede municipal oferece formação adequada para seus profissionais?

8. Você participa dessas formações?

9. Como você avalia a formação oferecida pelo sistema municipal? As dificuldades dos

professores são abordadas por essa formação?

10. Quais as principais dificuldades enfrentadas na educação de Jovens e Adultos?

11. Como você define um bom professor?

12. Como você se define enquanto professor?

13. Você lembra de algum acontecimento que o (a) marcou enquanto professor ?

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ANEXO 2 - TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS

ENTREVISTA E1 Lia

1) Qual a sua formação inicial?

sou formada em letras ah pela faculdade pela Universidade aí de São Paulo a USP é

tenho pós graduação em arte educação também pela USP e... acho que só né?

2) Quanto tempo você atua no magistério municipal?

no magistério municipal eu comecei em 2008 então são cinco anos

3) Atua em outra rede além da municipal?

não

4) Já atuou?

não só atuei na rede particular

5) Tem outra ocupação além de ser professora?

não

6) Na sua opinião a formação inicial prepara para o exercício da profissão?

se não como esses saberes necessários para a docência podem ser adquiridos se ele

não prepara como esse saber a gente adquire?

olha eu acho que assim a graduação ela acaba na verdade oferecendo o suporte teórico

então assim a gente acaba tendo o conhecimento de várias teorias né na área de

educação só que eu acho que elas não preparam para a prática acaba sendo muito

distanciado da prática então assim quando eu estava estudando eu cheguei a fazer

estagio mas eu percebi um grande abismo em relação ao que eu teria que enfrentar e ao

que eu enfrento hoje então assim uma das formas para poder dar esse suporte seria os

cursos de formação de formação continuada que o professor precisa o tempo todo é estar

se atualizando precisa estar lendo, estudando porque na verdade é uma pratica diária

então ele precisa o tempo todo ta correndo atrás

7) você acha que a rede municipal ela oferece a formação adequada para os

profissionais?

ah eu acho que ela oferece alguns cursos alguns cursos que ajudam na formação o

maior problema é que muitas vezes esses cursos eles são realizados no horário né de

trabalho e como não há dispensa é fica difícil de você participar porque se você participa

você acaba tendo falta né no seu trabalho, então isso acaba inviabilizando muito

principalmente se a pessoa tem mais de um cargo né então aí fica um pouco inviável e

muitas vezes a gente acaba sabendo do curso de um dia para o outro então também fica

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mais difícil de se programar para fazer estes cursos então se a gente souber com maior

antecedência talvez a gente consiga também participar mais desses cursos

8) Você participa dessas formações, você já está colocando das dificuldades né mas

você participa?

eu já participei de dois cursos que teve na rede né só que ele não era voltado para EJA

ele era voltado para o ensino fundamental e assim eu acho que foi bem interessante

assim bem interessante o curso me ajudou assim bastante a pelo menos conhecer o

material que eu trabalhava n é na época que eu trabalhava com o ensino fundamental e

eu participei na verdade não foi de um curso foi o tipo de uma formação que era voltado

para a inclusão mas eu até gostaria de participar mais desses cursos mas como eu falei

pela pergunta anterior que tem essa dificuldade com relação aos horários

9) como você avalia a formação oferecida pelo sistema municipal? as dificuldades dos

professores são abordadas nessa formação?

é eu vou falar especificamente do caso da inclusão né do curso de formação que nós

fizemos como essa é uma nova realidade nas escolas municipais foi levantado essa

questão né só que eu acho que ainda assim a não foram contempladas as nossas

angústias as nossas ansiedades porque eu acredito que nem os próprios formadores tem

uma formula pronta para resolver isso então assim muitas vezes nos acabamos

resolvendo descobrindo é em conjunto né no caso na escola como resolver porque eles

falam que não existe uma formula pronta e muitas vezes eles acabam só utilizando só a

teoria e acabam não nos ajudando com.

10) falando especificamente da educação de jovens e adultos quais as principais

dificuldades encontradas nesta modalidade?

eu acho que a principal seria o caso da evasão, nós temos um número muito grande de

alunos que acabam desistindo no meio ne no meio do curso ou muitas vezes eles faltam

por motivos de trabalho e depois eles retornam então esse é um dos problemas que a

gente é um dos maiores problemas que a gente acaba enfrentando outra questão é que

muitos alunos ficam anos e anos sem terem estudado e ai quando eles voltam eles

encontram muitas dificuldades e pelo pouco tempo que é oferecido eles acabam não

conseguindo acompanhar então seria necessário ter um espaço para essa recuperação

pelo menos pra poder dar um auxilio para eles já que foi muito tempo que eles ficaram

fora da escola.

11) como você define um bom professor?

E1. olha essa é uma pergunta difícil, rsrs porque é depende de uma serie de coisas né eu

acho que para ser na verdade não só um professor mais um bom profissional depende do

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que de uma série de não só de qualidade mas também vamos dizer assim... eu falei

qualidades né? é habilidades é então uma delas seria a questão da boa vontade eu acho

independente da situação você tem que ter boa vontade para fazer o que for necessário

então se você precisa vamos dizer é ... de se programar para você estudar para você

preparar as atividades pra então você precisa ter é disponibilizar um tempo pra isso pra

você pode se dedicar a essas atividades eu acho que a boa vontade também ta

relacionada ao que ao trabalho em grupo porque você não trabalha sozinho as pessoas

se enganam quando dizem que trabalham sozinhas porque não é essa a realidade na

sala de aula você ta sozinho mas fora você trabalha com uma equipe então é importante

que a equipe no caso trabalhe junto porquê você consegue unir esforços ainda mais

quando a gente enfrenta uma série de dificuldades é outra coisa que esse profissional

precisa sempre estar atualizado ele precisa sempre estar estudando então muitas

pessoas se acomodam e falam ah eu já sei o que é precisa fazer e não é verdade a

realidade hoje mostra que você precisa estar o todo tempo se atualizando porque a gente

uma coisa que o professor tem é essa mania achar que sabe tudo e na verdade não é a

verdade então agente precisa ter a humildade de assumir isso e sempre estar estudando

se atualizando e eu acho que também precisa além dessa boa vontade ter humildade e

também precisa de muito empenho muita dedicação porque você precisa o tempo todo ta

ali se doando não basta apenas estar em sala e apresentar aquilo você tem todo o antes

o preparo que você tem com o material o preparo de pesquisa porque você vai preparar

uma atividade você precisa estudar aquilo. então é muita dedicação e muito empenho.

12) E como você se define enquanto professora?

nossa essa é mais difícil que a outra. como é que eu posso dizer, eu sou uma professora

que precisa de desafios (...)eu preciso de desafios preciso cada vez pensar em projetos

em coisas até pra me sentir estimulada para me sentir motivada porquê se você tem uma

realidade que ela ta assim vamos dizer estática aquilo não te motiva a correr atrás a

buscar novas coisas então eu tenho isso comigo então eu acabo ficando muito

sobrecarregada porque eu acabo inventando uma serie de coisa e depois acabo as vezes

não dando conta mas eu preciso inventar isso para me sentir motivada e eu também

acredito que sou uma pessoa dedicada eu sempre procuro é preparar as atividades

estudar porque eu acho que e fundamental isso no nosso trabalho é também acho que

é.... eu falei esforçada, dedicada é eu sou insatisfeita eu sou insatisfeita porque estou

sempre querendo melhorar aquilo que eu faço e eu sou muito exigente com o meu

trabalho eu não gosto de fazer qualquer coisa ah faz qualquer coisa, e eu acho que pra

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isso você precisa se organizar então eu procuro o máximo possível me organizar para

que as coisas saiam senão iguais mais próximos daquilo que eu organizei, é isso.

13) você se lembra de algum acontecimento assim que marcou você enquanto professora

durantes os anos de docência?

ah eu não vou saber lembrar de um caso especifico mais uma das coisas que mais assim

me emociona que mais assim me toca é quando eu vejo que o trabalho que eu fiz em

sala de aula, ele foi reconhecido foi valido quando vem um aluno e me fala não assim só

pra elogiar que por exemplo aquilo que eu passei aquilo que eu mostrei foi pra ele

importante aquilo foi útil e também acompanhar o desenvolvimento dos alunos e vê que

de uma certa maneira ajudou eles ou eles conseguiram avançar então isso pra mim é

fundamental é aquilo que pra mim acaba me motivando me fazendo continuar.

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ENTREVISTA E 2

Lourdes

1. Qual sua formação inicial?

Tenho faculdade de Ciências sociais, estudos sociais e pedagogia

2. Fez outra graduação ou pós graduação?

Não, Não fiz

3. Há quanto tempo atua no magistério municipal?

Desde 1974

4. Atua em outra rede além da municipal?

Atuei durante 5 anos na rede estadual

5. Tem outra ocupação além de ser professor?

Não

6. Na sua opinião a formação inicial prepara para o exercício da profissão?

É da os caminhos porque a pratica é que realmente da o preparo que você precisa.

Como os saberes necessários para a docência podem ser adquiridos?

Na pratica e também alguns cursos de apoio né

7. A rede municipal oferece formação adequada para seus profissionais?

É dentro do que eu necessitei eu acho que fui bem contemplada alguns cursos que eu fiz.

8. Você participa dessas formações?

Na medida do possível sim

9. Como você avalia a formação oferecida pelo sistema municipal? Eu acho que no

contexto geral eu tive um grande apoio mas em relação aos especiais ainda tem muito a

desejar.

As dificuldades dos professores são abordadas por essa formação? Sim mas o apoio a

essas duvidas que nós temos ainda deixa a desejar

10. Quais as principais dificuldades enfrentadas na educação de Jovens e Adultos?

Acho que ainda é a alfabetização, porque eles estiveram muito tempo fora da escola e

eles tem experiência de vida mas tem muita dificuldade devido a idade aos problemas de

saúde aos problemas sociais que eles enfrentam

11. Como você define um bom professor?

Um bom professor e aquele que sabe correr atrás das necessidades que os alunos

tem...aquele que tem um bom entrosamento com os alunos aquele que conhece o aluno e

que procura todas as dificuldades que o aluno tem saná-las

12. Como você se define enquanto professor?

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Uma pergunta difícil olha eu me defino como uma pessoa com boa vontade para auxiliar

os alunos....dentro do que eu possa ajudá-lo dentro daquela dificuldade que ele me

apresenta eu procurar solucionar todos os seus problemas

13. Você lembra de algum acontecimento que o (a) marcou enquanto professor ?

Eu tenho um há muitos anos atrás quando eu trabalhava na EMEF Ayres Martins Torres

eu tinha um aluno que não tinha ...... pernas e ele andava ajoelhado com um apoio nos

dois joelhos a mãe dele fazia uma espécie de uma almofada amarrava nos joelho porque

naquela época não existia assim aparelhos adequados e ele andava se arrastando pela

classe tudo e ele era um excelente aluno ele subia com a maior versatilidade na carteira

ele escrevia na lousa ele fazia tudo que lhe era dado o problema dele era o lazer quando

nos tínhamos jogo de futebol na quadra ele corria desesperadamente atrás da bola mas

eu percebia que ele ralava o joelho porque aquela almofada ela rasgava e a mãe dizia

que em casa ele não tinha o que fazer e eu dei um aparelho um atari pra ele na época

de presente e ele ficou muito feliz eu lembro que ele chorava muito a mãe a família que

era muito humildes e depois eles mudaram de São Paulo para outro estado e nunca mais

tive contato e esse foi um fato que me marcou muito porque ele era um excelente aluno e

eu tenho certeza que ele deve ter chegado em algum lugar.

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ENTREVISTA 3 Deise Amorim

1. Qual sua formação inicial?

Eu fiz Estudos Sociais

2. Fez outra graduação ou pós graduação?

Fiz uma outra graduação em geografia

3. Há quanto tempo atua no magistério municipal?

30 anos

4. Atua em outra rede além da municipal?

Só na municipal

5. Tem outra ocupação além de ser professor?

Não só professora mesmo

6. Na sua opinião a formação inicial prepara para o exercício da profissão? não eu acho

que não porque só acontece mesmo na pratica, só acontece mesmo na pratica.

Se não, como os saberes necessários para a docência podem ser adquiridos? o que a

gente adquire em sala de aula temos a teoria na faculdade mas depois na sala de aula é

que a gente vai aprender com os alunos mesmo com a pratica de sala de aula.

7. A rede municipal oferece formação adequada para seus profissionais?

já participei de alguns cursos de formação, atualmente não tenho visto muita oferta de

formação

8. Você participa dessas formações?

Sempre que necessário e que o horário de trabalho de eu faço sim

9. Como você avalia a formação oferecida pelo sistema municipal? Eu acho média

poderia ser melhor com mais cursos. As dificuldades dos professores são abordadas por

essa formação? Não e mais teoria que a gente vê é mais teoria do que pratica docente.

10. Quais as principais dificuldades enfrentadas na educação de Jovens e Adultos?

Eu acho melhor especialização nas múltiplas dificuldades inclusive dos alunos especiais

11. Como você define um bom professor?

Eu acho um bom professor aquele que domina a sua disciplina e tem contato com os

alunos um relacionamento muito bom entre aluno e professor né através do trabalho em

grupo, incentivo ne pra continuação dos estudos

12. Como você se define enquanto professor?

Eu tento ser assim o mais assim ter um bom relacionamento com os alunos e tento

incentivá-los sempre mais a continuar os estudos.

13. Você lembra de algum acontecimento que o (a) marcou enquanto professor ?

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No momento não lembro de nada porque eu trabalhei na EMEF e depois no CIEJA, só

assim no CIEJA eu tenho um relacionamento maior com os alunos porque são adultos e

um retorno muito mais positivo do que na EMEF.

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ENTREVISTA 4

Paola

1. Qual sua formação inicial?

Minha formação é matemática e também tenho pedagogia

2. Fez outra graduação ou pós graduação?

Fiz uma pós em matemática

3. Há quanto tempo atua no magistério municipal?

No municipal faz 21 anos

4. Atua em outra rede além da municipal?

No estado há 24 anos

5. Tem outra ocupação além de ser professor?

Não só essa função

6. Na sua opinião a formação inicial prepara para o exercício da profissão?

Olha a formação não prepara porque tudo aquilo que você vê na universidade não é

aquilo que você vai trabalhar com aluno então eu acho que a universidade não esta não

preparava e não prepara ainda porque eu fiz pedagogia fazem só dez anos então não

prepara pra dar aula

Se não, como os saberes necessários para a docência podem ser adquiridos?

Olha é com a vivência trabalhando com os alunos e com os cursos que você faz pra ter se

preparar para trabalhar com esse aluno com as maneiras diferentes que nos temos que

enfrentar.

7. A rede municipal oferece formação adequada para seus profissionais?

Olha pra quem tem tempo ela oferece eu fiz vários cursos da prefeitura fornecido pela

prefeitura e pelo sindicatos que me deu assim abriu a mente pra trabalhar com os alunos

8. Você participa dessas formações?

Já participo

9. Como você avalia a formação oferecida pelo sistema municipal? Muito boa. As

dificuldades dos professores são abordadas por essa formação? Olha dependendo do

curso são outros não, então dependendo do curso que você vai fazer que abrange um

certo tema sim agora os outro não os outros e aberto como você vai trabalhar com

aqueles alunos que tem dificuldade agora tem os necessidades especiais NE que é

especifico

10. Quais as principais dificuldades enfrentadas na educação de Jovens e Adultos?

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A primeira pra mim que eu acho é a baixo auto estima que eles chegam que até

conseguir provar pra eles que eles são capazes é difícil depois que eles acreditam eles

desenvolve mais até....

11. Como você define um bom professor?

O bom professor é aquele que chega no aluno ah não adianta não é o que eu falo cada

aluno tem um ritmo eu sou professora de matemática ele fala ah eu não consigo aprender

eu falo não todos tem um ritmo um aprende numa aula outro demora um mês mas todos

aprende se quiserem

12. Como você se define enquanto professor?

Olha... eu acho que eu consigo chegar nos alunos mesmo com tendo muita dificuldade

com alguns eu consigo.

13. Você lembra de algum acontecimento que o (a) marcou enquanto professor ?

Olha esses dias mesmo o eu fiquei sabendo de um nosso aluno que quando ele começou

aqui no modulo 1 ai ele fez modulo 2 e quando chegou no modulo 3 ele falou pra mim

que iria fazer engenharia e esses dias eu descobri eu fui na formatura dele do ensino

médio e esses dias eu descobri que ele esta no 3 ano de engenharia e falou que vai vir

convidar eu e mais dois professores para ir formatura dele. Esse aqui é um, mas na

escola do estado eu tenho alunos que hoje já são médicos e num lugar pobre eu mostro

pra eles isso que não é porque é pobre que não pode estudar depende do aluno.

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ENTREVISTA 5

Carol

1. Qual sua formação inicial?

Fiz o antigo normal que era o magistério depois eu me formei em ciências físicas e

biológicas depois eu fiz a complementação pedagógica pós em educação ambiental e

cursos de especialização em libras e deficiência intelectual e atualmente estou cursando

pós em deficiência visual.

2. Fez outra graduação ou pós graduação?

Pós em Educação ambiental

3. Há quanto tempo atua no magistério municipal?

Na prefeitura há 10 anos

4. Atua em outra rede além da municipal?

Na rede estadual há 7 anos como professora de biologia

5. Tem outra ocupação além de ser professor?

Não

6. Na sua opinião a formação inicial prepara para o exercício da profissão?

Se não, como os saberes necessários para a docência podem ser adquiridos?

São adquiridos pela prática a prática a é que faz a diferença em todo esse processo é

lógico que uma boa fundamentação teórica é importante pra você utilizar como uma base

mas o que vai na hora do vamos ver mesmo é a prática você vai aprender dando aula vai

aprender lecionando lidando com os alunos no dia a dia e nem sempre aquele aluno

especial que você teve um ano vai poder usar aquela pratica com outro aluno especial

com outras dificuldades outras realidades outras vivencias.

7. A rede municipal oferece formação adequada para seus profissionais?

Ela oferece formação são formações algumas são muito boas outras nem tanto mas o

que o problema é que como nós não temos uma grande mobilidade em horário então

geralmente esses cursos acabam coincidindo com o horário de trabalho como nós

ganhamos pouco nos temos que ter mais do que um cargo então não tenho como fazer

todas que eu gostaria mas eu procuro sempre participar das formações pra até mesmo

ficar por dentro do que a rede pensa sobre o assunto mas a maioria dos cursos que eu

faço são cursos particulares por minha conta mais tento na medida do possível de acordo

com os horários me adequar para poder participar dos da rede também.

8. Você participa dessas formações?

Sempre que eu tenho a possibilidade por conta do horário se eu vejo que o horário não

um horário que eu não estou em aula eu participo

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9. Como você avalia a formação oferecida pelo sistema municipal? As dificuldades dos

professores são abordadas por essa formação?

Então algumas dificuldades até que são abordadas mas é a gente sempre tem uma

colocação muito constante né é...“gente cada realidade é diferente né o importante é a

pratica: nós estamos aqui para trocar experiência porque nós sabemos que está difícil”

então assim eles comentam bastante do que a gente também esta cansado de ouvir né

mas a troca de experiências entre os professores é rica

10. Quais as principais dificuldades enfrentadas na educação de Jovens e Adultos?

Para mim e a evasão porque você percebe que pra eles a escola é uma forma de tentar

melhorar de vida porém a primeira coisa que eles largam quando tem algum problema é a

escola porque se eles viveram até hoje sem a escola então eles vão poder ficar mais um

pouquinho sem a escola então se tem algum problema de saúde é a escola que larga se

tem um problema de emprego é a escola que larga se tem um problema familiar e a

escola que larga e eu até hoje não consegui uma maneira de fazer esse aluno perceber o

quão importante ele ta escola.a gente faz um trabalho de sensibilização com textos é

quando o aluno esta faltando o próprio professor eu mesmo tenho o costume mesmo de

ligar para a casa do aluno pra ver o que esta se passando com ele se é um problema de

saúde se a gente consegue trocar o horários pra que ele não perca o ano letivo mas na

maioria das vezes é a escola que eles abandonam então pra mim o grande problema da

EJA é a evasão.

11. Como você define um bom professor?

Aquele que vai atrás de buscar formas diversificadas pra atender os alunos e atingir os

objetivos

12. Como você se define enquanto professor?

Nossa difícil essa.rsrsrsr. Falar da gente é difícil mas eu procuro na medida do possível

correr atrás de todas as formações possíveis e imaginárias pra atender o publico que a

gente recebe tento fazer das tripas coração pra gente conseguir atingir nosso alunos

13. Você lembra de algum acontecimento que o (a) marcou enquanto professor ?

Olha pra mim marcou bastante a entrada do Juscelino aqui na escola, que era um Sr. De

56 anos que tinha Síndrome de Down e ele não sabia se comunicar ele não sabia usar o

banheiro ele não conseguia ficar em silêncio enquanto eu estava falando com a sala ele

gritava enquanto eu falava isso me marco bastante mas chegando no fim do ano ver o

progresso que ele teve e as pessoas falavam mas e ai você conseguiu alfabetizar falei

não consegui, então porque você tem toda essa satisfação mas é uma coisa que alem

da alfabetização ele conseguiu ter tantos outros ganhos que dinheiro no mundo não paga

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essa modificação de comportamento e essa sociabilização dele e isso me marcou

bastante e agora o fato de estar atendendo os deficientes visuais também que eu que

não conhecia nada sobre o braile fui aprender na marra sozinha pra conseguir atender

esses alunos então so dois episódios que me marcaram bastante tanto aprender o braile

pra trabalhar com os deficientes visuais quanto o fato do Juscelino que me ensinou muito.

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ENTREVISTA 6

Ana

1. Qual sua formação inicial?

Letras depois eu fiz pedagogia com supervisão

2. Fez outra graduação ou pós graduação?

Não comecei mais parei

3. Há quanto tempo atua no magistério municipal?

35 anos

4. Atua em outra rede além da municipal?

Não

5. Tem outra ocupação além de ser professor?

Não

6. Na sua opinião a formação inicial prepara para o exercício da profissão?

Na faculdade de letras eu acho eu sai da faculdade sem saber como fazia um

planejamento como montava um planejamento como que era um diário de classe eu fui

aprender quando eu entrei pra dar aulas que colegas foram explicando porque eu não

sabia o que era planejamento e nem como se fazia porque isso não tive e nem didática e

nada tive na faculdade.

Se essa formação não acontece ........

Com os professores, colegas e o tempo vai te mostrando como você faz.

7. A rede municipal oferece formação adequada para seus profissionais?

Atualmente não, quando eu entrei na prefeitura sim nos tínhamos muitos cursos fiz muitos

cursos na área de português na área de inglês agora ultimamente eu não vejo isso nos

íamos nas editoras nós tínhamos cursos nas editoras. Nossa eu fiz muitos

8. Você participa dessas formações?

Quando tem sim, quando são oferecidas.

9. Como você avalia a formação oferecida pelo sistema municipal?

Nem sempre quase nada.

10. Quais as principais dificuldades enfrentadas na educação de Jovens e Adultos?

Aluno que vem que não sabe que não sabe praticamente nada vem com certificado de 7

serie, mas não sabe nem ler nem escrever.

11. Como você define um bom professor?

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Um bom professor eu acho que e o professor que se preocupa com o aluno que tenta

chegar é ... até fazer com que o aluno saia realmente lendo tenha uma preocupação

muito grande com os alunos que hoje é difícil de ver nas emefs muito difícil tem a ma

formação do professor.

12. Como você se define enquanto professor?

Como eu me defino? Ah eu acho que ainda falta muito coisa muitas vezes me angustia

de ver o aluno que não sabe ler e escrever eu me sinto angustiada muitas vezes de não

cumprir esse papel de conseguir formar o aluno para leitura para a escrita.

13. Você lembra de algum acontecimento que o (a) marcou enquanto professor ?

Foi quando eu cruzei com uma aluna que foi minha aluna e ela eu soube que ela fez

letras e ela fez inglês por causa das minhas aulas e eu inspirei ela a ser professora de

inglês eu acho que isso foi pra mim é me comoveu.

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ENTREVISTA 7

Antonio Carlos da Cunha

1. Qual sua formação inicial?

Minha primeira formação e matemática

2. Fez outra graduação ou pós graduação?

Sim após a conclusão da matemática comecei a trabalhar na área de matemática e

depois acabei fazendo pedagogia e a complementação final de pedagogia para a

supervisão

3. Há quanto tempo atua no magistério municipal?

Desde 2002

4. Atua em outra rede além da municipal?

Sim atuo na rede estadual de ensino

5. Tem outra ocupação além de ser professor?

Sim sou maestro de uma orquestra

6. Na sua opinião a formação inicial prepara para o exercício da profissão?

Na verdade não não prepara na verdade ela da uma certa bagagem que te de condições

pra sua formação.

Como os saberes necessários podem ser adquiridos já que não se formam lá

Você pode adquiri pela sua própria pesquisa como se fossem auto didatas né você

pesquisa muito você busca você assiste palestras você troca idéias com colegas que tem

mais experiências que você pessoas que já estão há mais tempo no mercado né nesta

área de educação e aí sim você consegue aos poucos ir construindo sua identidade NE

você vai juntando um material um pouco com pouco com um colega um pouco com uma

palestra um pouco com uma informação mas o seu dia a dia que nada como o dia a dia

né?

7. A rede municipal oferece formação adequada para seus profissionais?

A rede municipal ela oferece bastante cursos muitos curso o que complica um pouco são

os horários porque muitas vezes você não tem a dispensa de ponto pra participar daquele

curso e ai complica a formação existe mas as condições para a participação as vezes é

não permite que você faça a formação.

8. Você participa dessas formações?

Sim quando há a possibilidade, quando há uma compatibilidade de horários porque além

de eu estar na rede municipal eu também estou na rede estadual e uma ciosa que eu

acho que tem que ser justo é o seguinte: o dia o horário que eu tenho que estar no

estado eu não acho justo faltar lá para fazer um curso da prefeitura e vice e versa, agora

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quando há a possibilidade que casa com uma manha livre ou uma tarde livre que são

pouquíssimas que eu tenho né na verdade eu tenho uma manha livre e uma tarde livre

em dias separados quando casa isso ai sim eu participo da formação claro que as vezes

acontecem algumas formações de sábado que permite então participação.

9. Como você avalia a formação oferecida pelo sistema municipal? As dificuldades do

professores são abordadas nessas formações?

Não eu entendo assim claro que depende do curso mas normalmente as formações são

bem genéricas né são bate papos que te lançam a idéia né mas normalmente o tempo

não é hábil pra que seja aprofundado ali mesmo pra que você possa assim sair do curso

e falar agora sim estou preparado.

10. Quais as principais dificuldades enfrentadas na educação de Jovens e Adultos?

Eu acho que uma das principais dificuldade é a diferença grande que você encontra numa

sala de aula. Você encontra pessoas de estados diferentes com linguajar característicos

diferentes né porque nos temos pessoas variadas com idade variadas e com formações

variadas. Tem aquele que chegou aqui e não sabe ler, tem aquele que chegou aqui que

sabe ler mas não sabe escrever tem aquele que estudou ate uma certa parte então quer

dizer você é obrigado muitas vezes a nivelar láaa no sub solo pra poder tentar atingir

todos e tentar trazes todos juntos então a,principal dificuldade é esta por ser jovens e

adultos nós temos pessoas com diferentes formações né condições estágios de sua

formação.

11. Como você define um bom professor?

Um bom professor.... é pergunta pesada. Um bom professor eu entendo que é aquele

que tem principalmente bom senso é um camarada que saiba identificar o que precisa

ser feito não simplesmente você antes de preparar uma aula você tem que saber que vai

assistir essa aula, alguns professores hoje preparam por exemplo na área de matemática

vou dar uma aula de equação do 2 grau, e prepara equações e prepara teoria e chega na

sala e joga na lousa mas será que aquele camarada que está ali sentado assistindo já já

conhece a equação do 1 grau? Será que ele sabe somar? Então o professor o bom

professor é aquele que conhece bem o publico com que ele esta trabalhando, que elimina

qualquer barreira, que permita o acesso ao aluno, que tenha acesso ao aluno que

consegue descer de sue salto né como mestre que alguns criam um pedestal e ficam

aquém do aluno longe distante do aluno, então eu acho que o professor ideal é aquele

que acima de tudo tem carinho pelo aluno e prepara a sua aula voltada para atingir os

objetivos de seu aluno no caso da EJA é claro, se você esta trabalhando num colégio

particular por exemplo onde os pais estão colocando ali o aluno para ser preparado para

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um vestibular ai a situação é outra você vai entrar ali pra rasgar pra brigar com eles em

cima de questão de vestibulares e ali eles tem que correr atrás de você aí é diferente né é

uma situação completamente diferente no caso do EJA não no EJA você tem que chegar

no seu aluno.

12. Como você se define enquanto professor?

Eu me defino um constante aprendiz, uma pessoa que... porque cada dia eu percebo que

a partir do momento que eu me considero vazio que eu me considero alguém que não

tem é dono de qualquer regra de qualquer lei de qualquer informação estando vazio eu

crio condições para aprender e aprender e é aprendendo que a gente tem condição de

conhecer então eu me defino como um eterno aprendiz

13. Você lembra de algum acontecimento que o (a) marcou enquanto professor ?

Pode ser qualquer acontecimento? Puxa vida deixa eu pensar. Um acontecimento.... ah

tem vários tem de todo tipo né. Puxa vida, um acontecimento que me marcou foi... um

deles foi uma apresentação que teve numa escola que eu dava escola em que os alunos

estavam no páteo se preparando para cantar o hino nacional e depois é eles teriam uma

apresentação que eles iriam assistir e tinha um aluno que eu percebi que estava bem

rebelde estava chamando atenção e ele pegou uma cadeira e colocou em cima da mesa

e sentou na cadeira em cima da mesa e eu fui lá chamei a atenção e ele não queria sair

chamei a atenção mesmo e aí fui ignorante, fui grosso fui duro com ele dizendo que ele

não estava na casa dele que ele tinha que descer que eu ia chamar os pais dele mesmo

assim não teve jeito e eu peguei a cadeira segurei a cadeira pedi para ele descer ele deu

um salto pus a cadeira no chão falei agora você vai me acompanhar ate a diretoria ai eu

subi com ele pra diretoria com ele esbravejando e eu atrás dele bem sisudo bem fechado,

entramos na sala da direção e ai eu falei pra ele assim olha eu nos vamos convocar o

seu pai e ele disse meu pai não vai vim eu disse porque ele disse porque ele esta preso

então vamos chamar a sua mãe, minha mãe não vai vir e eu perguntei porque porque ela

fugiu com outro homem, quem é o responsável por você, é minha vó, então nos vamos

chamar a sua vó, ela não vai vir, porque? Porque ela cuida de outros 18 netos. E onde

você mora? Ele me apontou para a favela, uma favela lá da região que ele morava lá aí o

olho dele encheu de lágrimas e eu percebi que aquilo que ele estava fazendo era uma

explosão mediante tudo o que ele tema passando e ai eu mudei a estratégia então eu vou

me convocar para cuidar de você e a partir daquele dia eu meio que assumi a

responsabilidade sobre ele e ai todo dia eu ia ver se ele estava na sala ia olhar o material

dele , material que faltava eu providenciava pra ele lápis que faltava eu dava borracha que

faltava eu dava caderno que faltava eu dava e ai eu fui conduzindo ele e no final do ano

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eu não digo que ele mudou 100% mas do que ele estava eu digo que 60% modificou,

ele passou a ser mais responsável porque eu comecei a olhar o caderno dele eu passei a

ser o pai dele né e depois por fim ele acabou sendo trocado de escola enfim porque

aquela escola ia só ate a 8 serie e ai ele foi pro ensino médio foi pra outra escola ai eu

perdi o contato dele, mas esse foi um dos fatos que me marcou.

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TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS ENTREVISTA E8

Marcos Vitorino

1) Qual a sua formação inicial?

Formalmente, ensino médio curso técnico de administração.

Ingressei na faculdade no curso de administração, parei, economia parei, eletrônica parei,

mas foi só questão de meses. Fiz muitos cursos de inglês e parei e o que dei

continuidade mesmo foi o curso de história que eu comecei na UNESP de Assis no curso

de bacharelado e licenciatura e depois eu completei fiz 2 anos na UNESP em Assis e 2

anos na universidade de São Paulo, e também tenho um curso de pedagogia um curso de

extensão de complementação pedagógica e um estágio que eu acho muito importante

muito bacana, um estágio de 25 dias em Cuba na área da educação.

2. Fez outra graduação ou pós graduação?

Nenhuma pós graduação, queria fazer geografia. Outra graduação

3. Há quanto tempo atua no magistério municipal?

13 anos, vai fazer 13 anos.

4. Atua em outra rede além da municipal? Já atuou?

Atualmente não. Na rede estadual atuei por 3 anos, mas deixei não agüentei acumular os

dois cargos

5) Tem outra ocupação além de ser professor?

Olha eu sou dono de casa ultimamente. Rsrsrsr. Pra mim é muita coisa. Uma ocupação já

é muita coisa. É dedicação período integral a nossa casa você também tem que reservar

um tempo de dedicação, tenho um empreendimento mas não me ocupa é uma pousada

mas não me ocupa só ajudo financeiramente.

6) Na sua opinião a formação inicial prepara para o exercício da profissão? Se não como

os saberes necessários podem ser adquiridos?

É difícil a formação dar conta de uma realidade que é tão complexa, eu posso me

considerar como um ser humano antes e depois da minha formação ela foi muito

importante pra mim, depois que eu fiz faculdade eu me tornei uma outra pessoa, então eu

não passei pela faculdade ela realmente me transformou. Hoje eu percebo que muitas

pessoas elas passam pela faculdade elas estudam de noite trabalham de dia tem uma

rotina muito corrida e eles tem um certificado no final do curso. Eu posso falar que a

faculdade me transformou. Eu entrei uma pessoa na faculdade e sai uma outra pessoa da

faculdade. Agora quando eu assumi a sala de aula eu tive grandes problemas porque o

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que eu aprendi na faculdade eram termos muito técnicos e muito profundos e pra você

poder trabalhar em escola com jovens com crianças e mesmo adultos tudo tem que ser

modificado a linguagem tem que ser modificada a metodologia tem que ser modificada

você tenta adaptar um conteúdo de uma área especifica que você trabalhou você tenta

transformar este conteúdo numa linguagem que seja perceptível é porque da forma que

você aprende é um conhecimento extremamente aprofundado, técnico extremamente

acadêmico, e eu sai da faculdade extremamente arrogante achando que sabia tudo e

quando cheguei na escola eu simplesmente não conseguia ensinar aquilo que eu queria.

Eu falava uma coisa os alunos não entendiam, então o processo de você aprender a dar

aula é dando aula, foi dando aula, claro o conteúdo, é muito conteúdo para isso, conteúdo

específico da área de história foi a faculdade, ah mas a faculdade tem um curso de

licenciatura que tenta fazer a ligação entre o conhecimento específico e a sala de aula e o

publico, então ele tenta fazer é uma boa tentativa, inclusive hoje nesses cursos já está se

questionando livros didáticos, está olhando com mais atenção para os alunos especiais,

então ele tenta fazer uma ponte, se você tiver muito tempo pra isso numa faculdade que

seja de preferência de período integral te ajuda bastante isso te ajuda muito na sala de

aula, agora se ele é um curso noturno se ele é um curso que você faz rapidamente você

não consegue aprender muitas coisas dali para desenvolver em sala de aula, mas ainda

assim pra mim a licenciatura foi muito importante. Trabalhar metodologia, postura do

professor, linguagem, entender os conflitos que existem dentro em sala de aula ela foi

muito importante porem muito pequeno para poder começar a trabalhar na sala de aula a

experiência mesmo veio com os anos.

7) você acha que a rede municipal ela oferece a formação adequada para os

profissionais?

Dentro da nossa carga horária nós temos um horário que é um projeto que se chama

PEIA que ele procura oferecer subsídios para formar o professor e ajudá-lo no trabalho

dentro da sala de aula e a prefeitura também oferece cursos, depende da gestão você vai

ter mais ou menos cursos, dependendo da gestão vai focar mais para determinados

temas do que para outros. Esses cursos quando eles são no horário da escola e você

tem dispensa de ponto e tem pontuação é um incentivo os cursos são muitos bons, a

prefeitura oferece cursos que são muito bons para nossa formação no entanto se eles

ocorrem fora do horário eles complicam a sua vida porque você tem uma vida social fora

da escola uma parte dela podemos sim reservadas sim para o curso mas ela vai

comprometer outros compromissos seus então uma vez que esses cursos são dados

dentro do seu período de aula porque é trabalho, é voltado para seu emprego seu

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trabalho eles podem ser melhor utilizados agora se for dado fora do período poucos

professores tem condições de assumir isso até porque muitos acumulam cargo e muitos

tem trabalho em casa com os filhos, família e tudo mais.

8) Você participa dessas formações

Eu já fui mais participativo eu confesso, só que com o passar dos anos é eu acho isso

importante quando você esta no inicio da carreira você tem uma evolução funcional a

perseguir para correr atrás, você tem pouca experiência pratica então você procura

experiência teórica para te auxiliar a partir do momento que vai passando os anos você já

tem um currículo de cursos nas suas costas e você vai assumindo outros compromissos

com filhos, com família e o cansaço, também confesso que é muito desgastante a

profissão docente, eu preciso de muito tempo para pensar para respirar de ócio, hoje mais

do que no passado é como se o meu gás estivesse acabando então hoje eu faço bem

menos cursos do que eu fazia quando eu comecei a carreira até porque eu tenho uma

serie de cursos acumulados ah mas você não se atualiza, mas tem cursos que são

atemporais né eles servem para a vida inteira, ah mas tem outros cursos que é de

reciclagem que realmente precisa para você se atualizar, sim é verdade mas esses com

menos freqüência eu faço até porque eu estou bastante cansado e preciso priorizar o meu

tempo para descansar e relaxar, faço alguns que eu acho extremamente importante que

há uma identificação que eu quero achar algumas respostas ainda mas é bem menos que

eu fazia no passado.

9) como você avalia a formação oferecida pelo sistema municipal? as dificuldades dos

professores são abordadas nessa formação?

Existem boas intenções que nós sabemos onde está cheio de boas intenções. Mas

existem boas intenções, existem alguns cursos que eles procurar suprir algumas

dificuldades bem poucos para ser sinceros, alguns deles vou dar exemplo aqui do cieja

nos trabalhamos com um numero grande de alunos especiais então a rede esta

oferecendo cursos para gente estar trabalhando para estar subsidiando nosso

trabalhando com alunos especiais qual o problema, oferece-se o curso mais o numero de

vagas e muito pequena e ainda assim a quantidade de cursos é pequena, então existe a

boa intenção existe esta possibilidade de ir atrás só que o numero de cursos é pequeno o

numero de vagas também é pequena e muitos são oferecidos fora do horário de trabalho

aquilo que eu disse que dificulta o nosso trabalho a nossa formação.

10) falando especificamente da educação de jovens e adultos quais as principais

dificuldades encontradas nesta modalidade?

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Rsrsrs. São tantas. É muito gostoso trabalhar com jovens e adultos porque existe a

maturidade e a indisciplina é menor e com a maturidade vai se tendo menos problemas

de indisciplina e eu acredito que hoje na rede tanto municipal quanto estadual o problema

o grande problema do trabalho docente é a indisciplina. Por que a indisciplina é fruto de

uma falta de educação geral, falta de educação escolar, falta de educação domestica,

falta de educação cultural falta de muitas outras coisas então é um problema muito maior

que não da pra começar aqui porque não é o foco. Então temos menos problemas de

indisciplina por outro lado temos uma diversidade muito maior dentro da sala de aula não

é, nós temos jovens de 16/ 17 anos nos temos adultos bem adultos de 70 e poucos anos

NE, que o ritmo de aprendizagem é outro e que a maturidade, o conhecimento que ele

tem é muito maior do que a do jovem de 15/16 anos, ele traz consigo uma bagagem

educacional, social muito maior que o jovem de 15/ 16 anos, no entanto ele tem mais

dificuldade de aprender e o jovem dado a um monte de informações que ele tem ao seu

redor ele tem até mais facilidade de aprender algumas coisas.e nesse meio desse

extremo nos temos outra gama de diversidade nós temos mulheres que os maridos não

deixavam estudar e agora se separaram e estão voltando a estudar, nós temos casos de

trabalhadores que não tiveram condições de estudar porque desde cedo trabalhavam e

agora eles tem oportunidade de estar estudando e por ai vai, e nessa gama são

diferentes trabalhadores nós trabalhamos com o pedreiro e com o auxiliar de informática,

então aí já são dois universos diferentes e uma gama de diversidades de dificuldades na

sala de aula então isso é bastante difícil como você trabalha com tanta diversidade o EJA

nós não temos formação especifica não existe formação especifica para EJA é muito

difícil quando ocorre um seminário não é nem um curso as vezes existe um seminário

quando eu falei que a prefeitura atende as nossas necessidades são necessidades

especificas de como alfabetizar, o processo de letramento como funciona, ou

determinada deficiência, deficiência visual como trabalhar então você ainda vê alguns

cursos com quantidade de vagas limitadas agora o trabalho em EJA como se trabalhar

em EJA em geral eu acho que ainda é pouco explorado tem muito pouco curso sobre

esse assunto e mesmo livros didáticos a capa do livro didático historia para EJA, quando

a gente pega o livro didático por mais que eles tentam transformar o livro didático para

uma realidade porque o discurso é esse o aluno ele é rico de uma realidade ele tem uma

formação social riquíssima e como nós vamos conciliar o conteúdo teórico com essa

formação então esse é o discurso quando você pega o material que poderia viabilizar este

processo você percebe que é uma linguagem extremante técnica a formatação do livro

didático né com letras minúsculas a quantidade de conteúdo muitos deles parece que é o

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mesmo conteúdo do ensino regular só que espremido, né pra seis meses né o que o

aluno do regular aprenderia em um ano o aluno da EJA aprenderia em 6 meses, então

parece que as vezes nem parece que é não é nem resumido é apenas simplesmente

diminuir a fonte para que se diminua a quantidade de folhas, então é terrível o material é

ruim, quando existe material, no nosso caso aqui nós não temos material nós temos que

produzir e toda a produção que parta de profissionais que não são os profissionais para

produzir isso dá diversos tipos de problemas, eu faço síntese da síntese de uma síntese

imagine que material é esse é questionável é um material totalmente questionável,

mesmo os materiais oficias eles não são adequados eles são muito ruins, principalmente

na área de história que é a área que eu ministro acho muito ruim e os termos técnicos

continuam aquela linguagem né difícil ela continua né e por aí vão os problemas.

11) como você define um bom professor?

Existe hoje um paradigma hoje na área da educação que coloca o professor como

educador e às vezes eu sou muito oscilante, às vezes eu acho muito bonito o discurso

acho muito legal assumo essa proposta, outras vezes se eu leio algo né e que aquilo

acaba me colocando em questionamento eu acho interessante né educador o que é

educador? O pai é educador dentro de casa né fazer coisas certas fazer coisas erradas, a

televisão educa, a mídia educa, a casa educa, a sociedade educa,o professor educa,

então de que educação se fala né que tipo de educador é este, então educador é um

termo perigoso porque se o professor ele é o educador então você está assumindo uma

responsabilidade que não é só sua é responsabilidade dos pais é responsabilidade dos

meios de comunicação é responsabilidade social isso recai sobre o professor também,

então é um termo que é mascarado é perigoso , então você vai ensinar um jovem de 14/

15 anos como se senta como que se fala a gente fala porque isso faz parte de uma

educação geral né mas você não pode desresponsabilizar os outros que também são

responsáveis pelas determinadas educações vamos dizer, educação doméstica,

educação da mídia, educação escolar, então eu acho que eu prefiro ainda o termo

professor, o professor é responsável pela educação escolar as demais educações ele

auxilia ele não é o responsável né senão nós tiramos a responsabilidade dos demais que

precisam estar educando. O bom professor, rsrs difícil... olha tem que gostar do que faz

tem que estar dedicado é... ensinar eu posso ensinar tudo ou eu posso não ensinar nada,

o que eu quero ensinar? Para que eu quero ensinar? E quando a gente vai ensinar a

gente tem que saber se o outro esta aprendendo, porque se o outro não esta aprendendo

eu também não estou ensinando , não está sendo produtivo a minha função de ensinar.

Então o bom professor né o bom profissional da educação é aquele que questiona muito

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aquilo que ele esta ensinando é um processo sempre de questionar se aquilo eu ele esta

ensinando é realmente importante se aquilo que ele esta ensinando vai realmente

transformar a vida dele e a vida do aluno, eu vou ensinar para o aluno aquilo que é

importante para ele aquilo que me transformou aquilo que vai transformar ele aquilo que

transforma a sociedade, não é, então tem que ter essas coisas muito claras não é abrir o

livro e ensinar o que esta no livro simplesmente porque não se questiona: isso é

importante? porque que escolheram esse assunto? Então nós temos que estar sempre

questionando o próprio professor é o questionador é àquele que verifica se o seu aluno

realmente esta aprendendo e aquele que realmente quer aprender com o aluno é um

processo né Jú, de ida e volta de troca eu ensino e aprendo ele aprende e ensina ao

mesmo tempo, estamos abertos a isso? Se estamos abertos a sempre estar questionando

discutindo com os colegas, sempre procurar se questionar estou fazendo certo, rever o

que eu fiz no ano anterior eu acho que isso é muito legal né eu preciso rever né o que deu

certo o que não deu, o que foi positivo o que não foi e assim vai.

12) E como você se define enquanto professora?

Ai eu me defino como este bom professor, esse cara que esta sempre se questionando,

né, eu já fui um professor arrogante quando sai da faculdade, eu achei que eu era o cara,

né, aí eu percebi que os alunos não estavam entendendo o que o cara estava falando

então eu percebi que eu não era o cara porque se eles não percebem é porque existe um

problema de comunicação e mesmo de conteúdo . eu já fui muito arrogante quanto aos

próprios colegas , eu tenho um ritmo de trabalho que eu não paro eu sou muito intenso

no trabalho e eu sempre achei que todos os professores todo o mundo tinham que ter

esse mesmo ritmo de trabalho então eu sempre critiquei os professores que tinham outro

ritmo de trabalho, meu diálogo com os professores era muito restrito eu sempre é, como

eu tenho um ritmo muito próprio eu acabei fechando em mim mesmo né, minha aula, meu

trabalho era eu e meu aluno, né, eu e a sala de aula, aí no decorrer desses quase 15

anos ai eu fui descobrindo, eu fui aprendendo né, a ser um professor diferente e que me

faz um professor melhor hoje do que eu fui no passado , hoje eu converso muito,

converso muito com todos , eu vou sempre perguntando , eu nunca sei, eu quero

aprender mais,eu sempre quero saber o que o outro esta fazendo não é pra investigá-lo,

não é pra copiar é pra tê-lo como parâmetro , o outro pra mim é sempre um parâmetro né,

aí eu posso ver se aquilo pode ser bom ou ruim para mim, então o outro pra mim é

sempre um parâmetro , o dialogo é fundamental, aprendi principalmente nesses últimos 5

anos que a afetividade ela é fundamental , ela é o maior laço que existe dentro das

relações humanas e a educação ela é um processo social, é você estar com o outro, você

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ensina e aprende com o outro, e como você vive com o outro você tem que estabelecer

laços né, e a afetividade ela é fundamental para que esse processo seja positivo para

que a educação flua tanto a minha como a do outro , então hoje eu sou muito mais é...

comunicativo com os professores, sou muito mais paciente e sou muito mais humilde,

tenho mais bom humor, não sou uma pessoa de sorrir muito , hoje o bom humor ele é ...

fundamental , tem professores muito bem humorados nessa escola e eu admiro bastante

esses professores a um tempo eu não os valorizava e agora eu os valorizo bastante né,

então eu acho que essa troca ela é importantíssima , isso pra mim foi um grande ganho

nos último anos .

13) você se lembra de algum acontecimento assim que marcou você enquanto professora

durantes os anos de docência?

Olha, como pra mim as coisas andam num longo processo né e eu sempre fui muito é ..

pé no chão , muito dedutivo de algumas coisas e hoje ainda bastante integrado com os

outros professores e mesmo com os alunos muito ponderado muito paciente , hoje mais

ainda eu nunca tive nada que me marcasse assim , tudo veio evoluindo num processo ,

né sem revoluções ou alguma coisa assim algum fato que revolucionasse, não o que

revolucionou a minha vida foi a faculdade o antes e o depois.