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FORM AÇÃO DE PROFESSORES PARA O ATENDIMEN TO EDUCA CIONAL ESPECIALIZADO : Uma experiência em Cabo Verde , África

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FORM AÇÃO DE PROFESSORESPARA O ATENDIMEN TOEDUCACIONAL ESPECIALIZADO :Uma experiência em Cabo Verde , África

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FORMAÇÃO DE PROFESSORESPARA O ATENDIMENTOEDUCACIONAL ESPECIALIZADO:Uma experiência em Cabo Verde, África

1ª Edição

Santa Maria

Laboratório de Pesquisa e Documentação–ce Universidade Federal de Santa Maria2012

organizadoraAna Cláudia Pavão Siluk

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© 2012 ufsmQualquer parte dessa obra pode ser reproduzida desde que citada a fonte.

siluk, Ana Cláudia Pavão (Org.). Formação de professores para o Atendimento Educacional Especializado–aee: uma experiência em Cabo Verde, África. 1.ed. Santa Maria: Laboratório de pesquisa e documentação-ce. Universidade Federal de Santa Maria, 2012.

Disponível também em cd-rom.

Laboratório de pesquisa e documentação – ce. Universidade Federal de Santa Maria.Avenida Roraima, 1000. Prédio 16. Camobi. Santa Maria, rs.

revisão de linguagem: Jane Dalla Corteprojeto gráfico: Thiara Speth

comissão científica:Carlos Roberto Massao Hayashi, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, Brasil.Cláudia Dechichi, Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil.Eliana Lucia Ferreira, Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil.Elisa Tomoe Moriya Schlunzen, Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, São Paulo, Brasil.Jane Dalla Corte, Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.Lazara Cristina da Silva, Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais, Brasil.Lucila Maria Costi Santarosa, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil.Maria Medianeira Padoin, Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.Marli Melo de Almeida, Universidade do Estado do Pará, Pará, Brasil.Neiza de Lourdes Frederico Fumes, Universidade Federal de Alagoas, Alagoas, Brasil.Nerli Nonato Ribeiro Mori, Universidade Estadual de Maringá, Paraná, Brasil.Rita Vieira de Figueiredo, Universidade Federal do Ceará, Ceará, Brasil.Sandra Eli Sartoreto de Oliveira Martins, Universidade Estadual Paulista, Marília, São Paulo, Brasil.Vera Lúcia Messias Fialho Capellini, Universidade Estadual Paulista, Bauru, São Paulo, Brasil.

autores dos planos de ação pedagógica e relatos de formação em aee

Arminda Lima Catarina Furtado FernandesEunice Elisabeth Semedo AfonsoGabriela Auxilia da Silva BorgesIria SantosIsabel Valadares DupretIvette Henriques Silva MedinaJosé Silvestre Freire Tavares Júlia Ramos Melício PereiraLisa Marise de Sousa CarvalhoManuel Júlio Soares RosaMargarida Barnabé Lima Brito MartinsMargarida de Portela e PradoMaria Alice Pinto Figueiredo Fernandes AguiarMaria de Fátima Ramos Rodrigues Mendes BarbosaNeusa BritoPaulina da GraçaZita Guerra

1a edição do curso aee, cabo verde. planos de ação pedagógica.

2a edição do curso aee, cabo verde. relatos de formação em aee.

turma 1Adelaide Varela Cabral PintoAna Paula da Rosa VanzilAna Paula Ramos MirandaAnabela de Jesus Varela TeixeiraAnaliza Maria Évora LimaÂngela Maria de Oliveira Ramos Correia Silva MoreiraAntónio dos Reís Borges GomesEvaldina da Conceição Tavares BorgesHilária Paula Gaspar PiresIvone Lima Neves OliveiraLeonildo Simão Monteiro da VeigaLudovina Henriques Cabral Borges SemedoManuel Antonio MonteiroMaria Madalena BorgesVirgínia Baessa Cabral Gonçalves

turma 2Alfredo Gomes Danisa Cristina Carvalho Lucas Araujo RochaElisabete Fonseca SantosGilson Spencer Brito LopesJosé Carlos Monteiro de PinaLúcia Angela MirandaManuel da Encarnação Portugal dos Reis Manuel Rodrigues LizardoManuela Silva Lopes SalomãoMaria Jesus Jorge Ribeiro CabralMaria Manuela Barbosa RodriguesMário Alberto Gomes Dias BarbosaPaulo António Teixeira Gomes de PinaZandi Helena Gomes Lima

Formação de professores para o atendimentoeducacional especializado : uma experiência emCabo Verde, África / organizadora Ana CláudiaPavão Siluk. – 1. ed. . – Santa Maria : ufsm,Centro de Educação, Laboratório de Pesquisa eDocumentação, 2012.207 p. : il. ; 21 cm

ISBN:978-85-61128-23-24

1. Educação 2. Educação especial 3. Formação deprofessores 4. Inclusão escolar 5. Brasil6. Cabo Verde I. Siluk, Ana Cláudia Pavãocdu 371.13cdu 376.1/.5

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Ficha catalográfica elaborada por Maristela Eckhardt – crb 10/737Biblioteca Central da ufsm

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prefácio

O presente livro constitui exemplo das ações da cooperação técnica internacional prestada pelo Brasil aos países em desenvolvimento e da atuação das instituições brasileiras na área da educação especial.

A obra relata as atividades de capacitação desenvolvidas no âm-bito do Projeto “Escola de Todos – Fase 2”, que integra o Programa de Cooperação Técnica Brasil – Cabo Verde. Desde 2008, o projeto é desenvolvido pela Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores em parceria com o Ministério da Educação, com a Universidade Federal de Santa Maria e com o Ministério da Educação e Desporto daquele país.

Os esforços do Governo brasileiro objetivam fortalecer o sistema de ensino cabo-verdiano com o objetivo de ampliar a oferta do atendimento educacional especializado na escolarização formal e reforçar o processo de inclusão de alunos com necessidades especiais.

Foram capacitados, por meio desta iniciativa, cerca de trezentos professores do ensino básico e secundário de Cabo Verde, nas áreas de sistema Braille, orientação e mobilidade na vida diária para deficientes visuais, língua portuguesa para surdos e atendimento educacional especializado. Ademais, com vistas a melhorar o atendimento educa-cional às crianças com necessidades especiais no país, três salas de recursos multifuncionais serão instaladas nas Ilhas de Santiago (Santa Catarina), Santo Antão (Ribeira Grande) e Fogo (Mosteiros), em escolas selecionadas pelo Ministério da Educação cabo-verdiano.

Diante dos relatos dos professores cabo-verdianos, coligidos nes-ta obra, é possível identificar as nuances na abordagem do tema de educação inclusiva pelos dois países e o quanto a Cooperação Sul-Sul pode transformar realidades, de forma participativa, por meio da troca de experiências simples e criativas adaptadas às realidades locais.

Fernando José Marroni de AbreuEmbaixador

Diretor da Agência Brasileira de Cooperação

apresentação

É com grande satisfação que apresentamos este livro aos leitores interes-sados em conhecer o trabalho desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Maria em parceria com o Ministério das Relações Exteriores do Brasil e com o Ministério da Educação e Desporto de Cabo Verde/África.

No livro estão relatados os desafios e experiências que a cooperação técnica internacional possibilitou ao sistema de ensino cabo-verdiano, tendo como referencial a tradição e a produção do conhecimento que a Educação Especial tem em nossa universidade.

Os relatos e as impressões contidas na obra expressam o com-promisso da universidade pública com a construção social, exerci-tando na prática seu processo acadêmico de formação cidadã, em nível nacional e internacional. Neste sentido, compreendemos que a oportunidade de desenvolver práticas extensionistas oportuniza tanto aos estudantes como aos professores de nossa instituição uma qualificação que tem como contexto um intercâmbio sóciocultural, com vistas à transformação social.

Por fim, destacamos a importância de nossa colaboração para que o ensino em Cabo Verde seja cada vez mais qualificado, com o propósito de facilitar a inclusão de alunos com necessidades especiais. A pers-pectiva de pensar alternativas facilitadoras no processo de educação inclusiva, pelos sujeitos participantes dos dois países, é sem dúvida um fundamento facilitador da construção de práticas numa sociedade universal mais humana e justa.

Prof. Dr. Felipe Martins MullerReitor da Universidade Federal de Santa Maria

Rio Grande do Sul/Brasil

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O Ensino a Distância na Formaçãode Professores e o Convênio de CooperaçãoInternacional entre Brasil e Cabo Verde ana cláudia pavão siluk

Formação de Professores para a Inclusãocarmen rosane segatto e souzarosângela aparecida ceregati costa

Impressões Acerca do Curso de Aperfeiçoamento em Atendimento Educacional Especializado de Cabo Verdesandra suzana maximowitz silva cristiane griebeler

A Experiência Cabo-Verdiana: Relatos de Professores que Realizaram o Curso de Atendimento Educacional Especializado — aee da Cidade da Praia, Cabo Verdesílvia maria de oliveira pavãopatrícia revelante

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sumário

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1O ENSINO A DISTÂNCIA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E O CONVÊNIO DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL ENTRE BRASIL E CABO VERDE

Ana Claudia Pavão Siluk

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inclusão de alunos com deficiência no ensino regular tem sido mundialmente discutida como uma forma de fazer valer o direito de educação para todos.

Esse não é um movimento iniciado recentemen-te para atender às questões contemporâneas, pelo contrário, o processo de educação inclusi-va é resultado de estudos, práticas e discussões realizadas por educadores e organizações de pessoas com deficiências no mundo todo.

Como consequências dessas ações, pode-se destacar alguns documentos internacionais, que são entendidos como Políticas de Inclusão Social e Educacional, dentre os quais a Decla-ração Universal de Direitos Humanos (unesco, 1948), a qual estabelece que a educação é um dos direitos humanos e que deve ser respeitado por todos; a Conferência Mundial sobre Educa-ção para Todos (brasil, 1990), a qual aprova o Plano de Ação para Satisfazer às Necessidades Básicas de Aprendizagem e promove a univer-salização do acesso à educação, aumentando o número de vagas nos sistemas de ensino e a inclusão das minorias excluídas no meio educacional; e a Declaração de Salamanca (brasil, 1994), que reconhece a necessidade

de se providenciar educação para pessoas com Necessidades Educacionais Especiais–nee, dentro do sistema de ensino regular.

A prática da inclusão social se baseia em princípios de aceitação das diferenças indivi-duais, valorização de cada pessoa, convivência dentro da diversidade humana e aprendizagem por meio da cooperação. Assim, o processo de inclusão está intrinsecamente relacionado à qualidade de ensino e à abertura da escola para todas as pessoas, significando que, apesar de relacionar inclusão à inserção das pessoas com deficiências, as escolas inclusivas são aquelas onde todas as crianças são bem-vindas (mantoan, 2001).

Países em desenvolvimento apresentam uma demanda relevante na formação de professo-res na área da educação inclusiva. O Brasil vem se destacando nesse cenário devido à implantação de uma política de educação es-pecial na perspectiva da educação inclusiva, disponibilizando recursos para a formação de professores, com vistas a efetivar a inclusão de alunos com deficiência no ensino regular. Em consequência dessas questões, o governo de Cabo Verde solicitou a realização de um projeto

de cooperação técnica internacional, na área de formação de professores para atuação em educação especial.

Denominado Escola de Todos, Fase I, o proje-to teve como instituições executoras o governo brasileiro, por intermédio do Ministério da Edu-cação, Secretaria de Educação Especial–seesp e Universidade Federal de Santa Maria–ufsm e, pelo lado do governo cabo-verdiano, o Minis-tério da Educação e Ensino Superior–mees, a Direção Geral de Ensino Básico e Secundário-dgebs. Como instituições coordenadoras, a Agência Brasileira de Cooperação–abc, do Ministério das Relações Exteriores e a Direção Geral de Ensino Básico e Secundário–dgebs, do Ministério da Educação e Ensino Superior–mees.

O projeto Escola de Todos, Fase I, foi assinado em abril de 2006 e teve como objetivo capacitar 60 professores multiplicadores nas áreas de Sistema Braille Integral e Código Matemático Unificado; 60 professores multiplicadores no Ensino da Língua Portuguesa para Surdos, e 60 professores multiplicadores nas áreas de Orientação e Mobilidade e Atividades da Vida Diária, em dois pólos de formação nas ilhas de Santiago, Praia, e Santo Antão, todas essas

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O Ministério da Educação e Ensino Superior de Cabo Verde–mees, organizado em 22 “con-celhos” tem como compromisso impulsionar a transformação dos sistemas educacionais para que se consolide a educação inclusiva, possibilitando que todos os alunos possam participar de espaços e processos comuns de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, busca consolidar a política educacional, tornando a escola aberta para todos, livres de discrimi-nação, lançando as bases de uma educação fundamentada no respeito, na atenção às di-ferenças e na solidariedade.

O censo demográfico/2000 indica 13.948 pessoas com algum tipo de deficiência, o que representa 3,2% da população residente em Cabo Verde. De acordo com o levantamento realizado em 2001 e 2002, em sete “concelhos” havia 1.076 alunos com necessidades educa-cionais especiais matriculados no sistema de ensino, sendo a deficiência visual e a surdez, as mais encontradas (cabo verde, 2001a).

A carência de professores para atender essa demanda com conhecimento especializado e formação na área da educação especial se tornou um desafio emergencial. Diante disso, o Minis-

tério da Educação de Cabo Verde, por meio da Direção do Ensino Básico e Secundário–dge-bs, juntamente com a Secretaria de Educação Especial, do Ministério da Educação do Brasil, propuseram um projeto de cooperação técnica internacional para a implantação de espaços de apoio à escolarização de alunos com necessida-des educacionais especiais, organizados com equipamentos, mobiliário, materiais didáticos e pedagógicos específicos, bem como a formação de professores que possibilitem a acessibilida-de ao currículo. O projeto pretendia reunir as capacidades existentes e mobilizar diferentes atores em um grande movimento de promoção da acessibilidade nas escolas cabo-verdianas para torná-las, de fato, uma escola de todos.

Nessa perspectiva, a implementação de um regime de escola inclusiva, democrática e de qualidade deve contribuir para a redução das desigualdades do País, por meio da promoção de uma educação de qualidade para todos. A Constituição da República cabo-verdiana (cabo verde, 1999), no seu artigo 75, prevê os “Direitos dos portadores de deficiência no-meadamente direito à protecção da família, da sociedade e dos poderes públicos”.

ilhas de Cabo Verde. Todas as atividades do projeto foram integralmente realizadas dentro do prazo previsto, sendo concluídas em 18 de agosto de 2006 e a sua avaliação realizada em março de 2007.

Tendo em vista o bom andamento do projeto, o Ministério da Educação e Ensino Superior de Cabo Verde, solicitou estender a cooperação com o objetivo de promover políticas públicas para a educação inclusiva. Foi elaborada ainda, durante a avaliação da Fase I do projeto, uma minuta de proposta para a segunda fase, que foi assinada em julho de 2008, e cuja parte é tratada nesse artigo (abc, 2008).

contexto da educação especial em cabo verde

Cabo Verde é um país insular africano, arqui-pelágo de origem vulcânica, constituído por dez ilhas, que se encontra situado no Oceano Atlântico. Foi colônia de Portugal, até sua in-dependência no ano de 1975. A língua oficial é o português, no entanto a língua falada é o Kriolu, mistura do português com línguas africanas - sobre essa questão, procurou-se

preservar a escrita dos professores e auto-res dos documentos e achados de pesquisa utilizados nessa obra. Assim, encontram-se ao longo desse livro, algumas palavras com grafias em português, de Portugal e também em kriolu (crioulo cabo-verdiano/criol, kriolu). Cabo Verde é formado por dez ilhas e cada uma tem um crioulo diferente. A capital do país é a cidade da Praia (Figura 1), que fica na ilha de Santiago. O país tem uma população de quinhentos mil habitantes. A principal economia do país é a divisa externa enviada pelos imigrantes, seguida pelo turismo.

figura 1 — Cidade de Praia, Cabo Verde, 2011.

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Neste artigo, será discorrido apenas sobre o Curso de Formação de professores para o Atendimento Educacional Especializado, na modalidade a distância, o qual para sua oferta e desenvolvimento, a Secretaria de Educação Especial–seesp convidou a Universidade Fede-ral de Santa Maria–ufsm para integrar e desen-volver o Curso devido a sua vasta experiência na área da educação especial e também por já oferecer o Curso de Atendimento Educacional Especializado a distância para professores da rede pública de ensino do Brasil.

Assim, vieram ao Brasil, na ufsm, em Santa Maria, rs, para formação no ambiente virtual de ensino aprendizagem e conhecimento da realidade brasileira, quatro professores e um técnico de informática, com o intuito de se-rem os tutores presenciais do curso em Cabo Verde. Paralelo a isso, foram apresentados os professores e tutores a distância que iriam atuar com os 50 professores que realizariam a formação. Inicialmente, a proposta era de serem formadas duas turmas, com 25 professores cada. No entanto, foi solicitado ao governo brasileiro 22 vagas para que mais professores e técnicos do Ministério da Educação de Cabo

Verde pudessem se capacitar e contribuir para o desenvolvimento de uma política pública de educação inclusiva do país.

Para tanto, foram formadas três turmas, reu-nindo os professores e técnicos pela proximi-dade da região de atuação e residência em Cabo Verde, duas na ilha de Santiago, uma na capital, cidade da Praia e outra em Assomada. A terceira turma foi na ilha de São Vicente, na cidade de Mindelo. A coordenação do Curso local, em Cabo Verde, estava a cargo de um instituto de formação de professores.

Para a apresentação do Curso e capacita-ção para uso do ambiente virtual de ensino aprendizagem foram enviados a Cabo Verde a coorden adora, professora da ufsm e uma aluna bolsista, para auxílio no cadastramento do ambiente virtual de aprendizagem. Ambas estiveram com os professores, apresentando o curso, metodologia, conteúdos e capacitando-os no ambiente de aprendizagem virtual deno-minado e-proinfo.

O curso tinha uma carga horária de 180 horas e era composto por seis módulos, que contem-plavam as seguintes áreas: deficiência mental, física, visual, altas habilidades/superdotação,

A Lei de Base do Sistema Educativo–bse (Lei nº 103/111/90), nos artigos 36 e 37, que tratam da Educação Especial, visa proporcionar educação adequada, desenvolvimento das capacidades físicas e intelectuais, apoiar e esclarecer a família, reduzir as limitações e preparar os de-ficientes para integração na vida social. Desse modo, prevê a organização do ensino, segundo métodos específicos, currículos, programas e avaliação adaptados, bem como a integração no ensino regular (cabo verde, 1990).

A lbse assegura o acesso e a permanência na escola, obrigatórios do primeiro ao sexto ano de escolaridade, e garante os direitos estabe-lecidos na Constituição. Portanto, são neces-sários maiores investimentos no atendimento educacional especializado para a inclusão, o que para além do acesso, significa também a permanência com qualidade de todos os alunos na escola.

Nesse sentido, a Lei orgânica do Ministério da Educação de Cabo Verde (cabo verde, 2001b) atribuiu responsabilidades às Direções de En-sino Pré-escolar, Básico e Secundário, quanto à integração de crianças com Necessidades Educacionais Especiais–nee, no ensino regular.

No que tange ao ensino básico, concretamen-te as nee, o Plano Nacional de Educação para Todos (cabo verde, 2002) previu o desenvol-vimento de políticas públicas para o período de 2003 a 2010, especificamente ao que se refere a formação continuada de professores em matéria de nee, à adaptação de algumas escolas existentes e às novas escolas para as crianças com nee.

Diante dessas questões, foi desenvolvido o projeto Escola de Todos – Fase II.

desenvolvimento do projeto: escola de todos – fase ii

A Fase II do Projeto Escola de Todos contemplou os seguintes aspectos:· Apoio à construção de proposta de Língua de Si-

nais para uso da população surda cabo-verdiana;· Quatro professores multiplicadores capacita-

dos em Surdocegueira e Tecnologia Assistiva;· Quarenta professores multiplicadores capacita-

dos em Transcrição e Adaptação de Material Braille; · Cinquenta professores capacitados para Aten-

dimento Educacional Especializado–aee, na modalidade a distância.

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surdez e tecnologia assistiva. A metodologia do curso disponibilizava materiais digitais on-line, aulas ao vivo, por webconferência, além do uso de ferramentas disponíveis no ambiente, como os fóruns de discussão e os plantões com bate-papos, uma vez por semana.

Logo que o curso teve início, houve uma razoável adesão, embora muitos professores reclamassem das dificuldades de acesso à Internet, pois em Cabo Verde a Internet tem um custo elevado, e falta constantemente energia no país. Ademais, muitos relataram o acúmulo de atividades que tinham por es-

tarem fazendo concomitantemente a esse curso outros cursos de formação profissional, como era o caso de aproximadamente trinta participantes, o curso de doutorado.

Considerando-se esses fatores, foram executados alguns ajustes no currículo, na metodologia do curso e nas atividades e conseguiu-se que o curso tivesse um bom andamento por um período de aproximada-mente um mês e meio, ocasião em que foram realizados quatro dias de webconferência pela Internet, nos quais houve uma participação excelente em termos de conteúdo e contri-buições. Na oportunidade, os professores apontaram dificuldades, realizaram reflexões bastante consistentes e trocaram experiên-cias com os alunos brasileiros. Nesses dias, a participação entre cabo-verdianos e brasi-leiros ultrapassou 350 pessoas. Aqueles que participaram, escreveram, fundamentaram as respostas e apresentaram sempre uma coerência com a realidade em que vivem e a relação com a realidade brasileira e de outros países, solicitando, na maioria das vezes, auxílio de como resolver, enfrentar e solucionar essas dificuldades.

Com a chegada do final do ano letivo em Cabo Verde, agosto de 2009, as participações se tor-naram cada vez mais espaçadas, o que levou a Coordenação a enviar vários e-mails solicitando aos professores que fizeram a capacitação no Brasil para serem os tutores presenciais, que verificassem junto aos outros professores a falta de participação e garantissem um envolvimento maior no curso. Os tutores solicitaram um reces-so no período de férias, e que após esse período eles auxiliariam na tarefa.

Para tanto, o calendário do curso foi refeito na tentativa de garantir o retorno massivo dos alunos após o período de férias. Tão logo se deu o retorno das férias, contatou-se com os tutores locais e reiniciou-se o curso oferecendo a possibi-lidade para aqueles que não haviam participado no início de o fazerem naquele momento.

Foram feitas várias tentativas, mas a parti-cipação dos professores oscilava muito. Ora participavam em atividades de um módulo ora participavam de outro módulo, tornando difícil avaliar a participação e a aprendizagem.

Mesmo com tantas alternativas e flexibilidade ofertadas para os professores realizarem o curso, não foi obtido resultado satisfatório quanto ao

número de professores formados, pois se verifi-cou uma taxa de evasão de cerca de 72%. Esse índice foi constatado em reunião técnica de ava-liação e monitoramento realizada em Cabo Verde com a presença de representantes da Agência Brasileira de Cooperação, da Assessoria Inter-nacional do Ministério da Educação, da seesp, e da coordenação do curso da ufsm, pela parte brasileira e, por Cabo Verde, de representantes da dgbes, do instituto de educação, responsável pela formação local e pelos tutores presenciais.

Questionados os presentes na reunião e em interações ocorridas na tentativa de reaver os participantes, os professores relatavam e eram percebidas as carências, que são enfrentadas no país, sobretudo em termos de acesso à internet e da dificuldade de estarem presente semanalmen-te nas interações virtuais, pois muitos viajavam entre as ilhas para participarem de outros cursos de formação. Ademais, na ocasião os alunos rela-taram a ocorrência de três epidemias, Dengue, Gripe A e Paludismo, além do fato de o país ficar duas semanas sem energia elétrica. Esses fatos em consonância com outros, como a burocracia e demora para iniciar o curso, por parte do go-verno brasileiro, e a falta de critérios rigorosos

figura 2 — Professora Ana Cláudia Pavão Siluk e Renata Quinhones, durante a formação inicial com os alunos Cabo Verde, 2009.

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na seleção dos perfis dos participantes, pela parte cabo-verdiana, também contribuíram para esse resultado (siluk, 2010).

A fim de atingir plenamente um dos objetivos do projeto, de formar 50 professores para o Aten-dimento Educacional Especializado, verificou-se a necessidade do Governo cabo-verdiano ter mais professores capacitados no atendimento em educação especial e, portanto, a ufsm replicou o curso para mais 30 professores, cumprindo com os 50 previstos na atividade. A dgebs realizou uma criteriosa seleção dos professores para participarem da formação.

Para essa nova edição, o curso foi reestrutu-rado, tanto em termos de conteúdo, quanto de metodologia empregada. A ufsm em conjunto com a seesp e abc, desenvolveram um folder, do tipo ficha técnica, que continha todas as infor-mações do curso, conforme expresso na Figura 3.

O curso passou a ter 225 horas e dez módulos, com os temas sobre a educação a distância, aten-dimento educacional especializado, tecnologias assistivas, deficiência física, surdez, deficiência mental, cegueira e baixa visão, transtornos glo-bais do desenvolvimento e altas habilidades superdotação, conforme apresentado na Figura 4.

figura 3 — Ficha técnica do Curso, 2010.

figura 4 — O curso de atendimento educacional especializado- aee: resumo dos conteúdos, 2010.

Quanto à metodologia, manteve-se a dispo-nibilização do conteúdo no ambiente virtual de ensino-aprendizagem, as webconferências com aulas ao vivo, além do uso das ferra-mentas de interação síncronas e assíncronas.

módulo i — educação à distância eadProfessora Ana Cláudia Pavão Siluk

Apresenta conceitos, características e objetivos da ead, bem como estratégias pedagógicas para a didática da educação a distância: interação professor e aluno, atividades desenvolvidas, formas de avaliação e reflexões acerca da aprendizagem autônoma e os desafios das tecnologias da informação e comunicação.

módulo ii — atendimento educacional especializado (aee)Professoras: Marcia Doralina Alves e Taís Guareschi

Explica o que é o Atendimento Educacional Especializado–aee, quem é o público-alvo do aee, descreve a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Também discute a formação do professor para atuar no aee, suas atribuições e como deve ser a Sala de Recursos Multifuncionais. Ainda apresenta as principais legislações e políticas inclusivas.

módulo iii — tecnologia assistiva – ta: aplicações na educaçãoProfessoras: Rita Bersch e Rosângela Machado

Subsidia os educadores e gestores das redes de ensino, sobretudo os professores que atuam no aee, para a partir da realidade de suas redes, propor ações concretas de implementação da ta. Os temas tratados demonstram a viabilidade de acesso de uma criança ou jovem com deficiência a escola comum.

módulo iv — atendimento educacional especializado para alunos com deficiência físicaProfessora: Amara Lúcia Holanda Tavares Battistel

A deficiência necessariamente não está associada à dependência. É possível ter uma deficiência e ainda assim conquistar a autonomia e independência, uma vez que a participação social, o desempenho de tarefas e assunção de diferentes papéis, en-volve muito mais que mobilidade, movimentos coordenados e habilidades funcionais.

módulo v — atendimento educacional especializado para alunos com deficiência mentalProfessoras: Eliana da Costa Pereira de Menezes. Colaboradora: Renata Corcini Carvalho. Conteúdo Revisado por: Professora Maria Alcione Munhoz

Tem como objetivos criar meios para que os professores em formação sejam capazes de identificar as potencialidades de aprendizagem que possuem os alunos com deficiência mental. Proporcionar situações de conhecimento teórico-prático, a fim de que os professores em formação sejam capazes de planejar atividades e produzir materiais para o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores dos alunos com deficiência mental.

módulo vi — atendimento educacional especializado para alunos cegos e com baixa visãoProfessora: Elizabet Dias de Sá

Focaliza a condição visual de alunos cegos e com baixa visão no contexto escolar sem, no entanto explorar os aspectos anatômicos e fisiológicos do sistema visual ou a etiologia das diversas manifestações da deficiência visual. Apresenta, também, uma síntese das características e necessidades primordiais deste alunado, os recursos ópticos e não ópticos mais comuns, uma descrição do Sistema Braille, noções de orientação e mobilidade, alguns recursos tecnológicos e outros instrumentos indispensáveis para o acesso, aquisição e construção do conhecimento.

módulo vii — atendimento educacional especializado para alunos surdosProfessora: Melânia Melo Casarin.

Discute o acesso aos conteúdos curriculares pelos surdos, trata dos aspectos relevantes acerca dos surdos e a acessibilidade bem como da aprendizagem da língua portuguesa.

módulo viii — a educação especial na perspectiva da inclusão escolar surdocegueira e deficiências múltiplasProfessoras: Ismênia; Carolina Mota Gomes Bosco; Sandra Regina Stanziani Higino Mesquita; Shirley Rodrigues Maia

Apresenta ideias, práticas e vivências pedagógicas que contribuem para a inclusão de pessoas com deficiências múltiplas e outras com surdocegueira na escola comum. Ainda trata dos recursos que utilizados para que esses alunos participem das atividades nas escolas comuns, com seus colegas sem deficiências

módulo ix — transtornos globais do desenvolvimento Professoras: Marcia Doralina Alves e Taís Guareschi.

Os alunos com transtornos globais do desenvolvimento são descritos como sujeitos que apresentam alterações no desenvolvimento, comprometimento neuropsicomotor, nas relações sociais, na comunicação. Visa compreender estratégias para atuar com esses alunos no espaço da sala de aula, para além do diagnóstico que esses alunos são submetidos

módulo x — atendimento educacional especializado para alunos com altas habilidades/superdotaçãoProfessora: Nara Joyce Wellausen Vieira

Visa conhecer os conceitos de inteligências e o de altas habilidades/superdotação; Aplicar os procedimentos para o desenvolvimento das habilidades dos alunos; Estudar para aplicar as modalidades e as alternativas de atendimento educacional especializado aos alunos com altas habilidades/superdotação; Desenvolver sugestões que ilustram o atendimento educacional especializado.

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Como elemento inovador, o curso passou a ter aulas presenciais dos principais conteúdos abordados, ministradas por professores da ufsm, ocasião em que os alunos, avaliavam o curso, conteúdos, professores ministrantes das aulas presenciais, participação nas ativi-dades solicitadas e atuação dos professores e tutores de cada turma.

Assim, a primeira aula presencial ocorreu na semana de 20 a 25 de setembro de 2010. Nessa oportunidade os alunos, professoras e a coor-denadora se apresentaram, o cronograma do Curso foi discutido e todos se comprometeram em realizá-lo até seu final. Houve inicialmente uma capacitação dos alunos para o uso do ambiente virtual de ensino e aprendizagem. Posteriormente, iniciou-se o Curso com a aula ministrada pelas professoras de educação especial Eliana da Cos-ta Pereira de Menezes e Maria Alcione Munhoz (Figura 5), professoras pesquisadoras – Conteu-distas do Módulo de Atendimento Educacional Especializado para alunos com Deficiência Mental.

Acredita-se que a Missão atingiu o objetivo que se propunha, ao inscrever os professores cabo-verdianos selecionados para realizar o Curso de Atendimento Educacional Especiali-

zado e capacitá-los a utilização do ambiente de aprendizagem e-proinfo.

A aula de aee para alunos com Deficiência Mental (de acordo com as atuais políticas edu-cacionais Deficiência Intelectual) foi avaliada positivamente pelos alunos. A discussão pro-posta pelas professoras objetivou, inicialmente, possibilitar que os alunos (professores de aee em formação) pudessem sentir-se capazes de compreender o sujeito com deficiência mental como um sujeito de aprendizagem, superando o olhar fixado no diagnóstico e nas classificações de tal deficiência. Para tanto, foram trabalhados

conhecimentos teórico-práticos embasados em uma perspectiva socioantropológica de desenvolvimento e aprendizagem a partir da problematização de conceitos, definições, clas-sificações da pessoa com deficiência mental e seus possíveis efeitos em termos de demarca-ção desses alunos quanto as suas capacidades de aprendizagem.

Após a realização dessas problematizações fez-se possível então que as professoras propu-sessem a turma uma análise de possibilidades práticas (metodologias, recursos, ferramentas, entre outros) de trabalho com o aluno com de-ficiência mental no contexto da escola regular na perspectiva inclusiva. Tal discussão buscou, a partir desse olhar socioantropológico, favore-cer processos de mediação entre o aluno com deficiência e os demais sujeitos com quem ele interage na escola, seja na sala de aula regular, no espaço do atendimento educacional especia-lizado e nos demais espaços que a constituem.

A segunda semana de aula presencial ocorreu de 22 a 26 de novembro de 2010 e foi ministrada pela professora, terapeuta ocupacional, Amara Lúcia Holanda Tavares Battistel, professora pes-quisadora, conteudista do Módulo de Deficiência

Física, que trabalhou com os alunos duas áreas, deficiência física e tecnologia assistiva.

Os objetivos da Missão para a segunda aula presencial foram totalmente atingidos, pois cem por cento dos alunos estiveram presentes e realizaram uma excelente avaliação do desem-penho da professora e da metodologia por ela empregada, ao exemplificar de modo contex-tualizado as diferentes práticas relacionadas ao aee para alunos com deficiência física e as tecnologias assistivas necessárias para mini-mizar as limitações encontradas pelos alunos com deficiência física em Cabo Verde. Pode-se observar na figura 6, o desenvolvimento de diferentes tecnologias assistivas realizadas pelos alunos, com materiais levados do Brasil, doados pelo Curso para os alunos.

O programa preparado pela professora permi-tiu que no final da semana todos socializassem as tecnologias assistivas construídas no Curso, por meio de uma amostra coletiva. Cada aluno construiu e ficou com o recurso que iria auxiliá-lo na sua prática pedagógica, naquele momento.

A terceira semana de aula presencial ocorreu de 7 a 12 de fevereiro de 2011, foi ministrada pela professora de educação especial, Melânia

figura 5 — Professoras Eliana da Costa Pereira de Menezes e Maria Alcione Munhoz com os alunos em atividade do Curso. Cabo Verde, 2010.

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de Melo Casarin, professora pesquisadora, con-teudista do Módulo Atendimento Educacional Especializado para Alunos com Surdez.

A aula de aee para alunos surdos e as ativi-dades práticas de desenvolvimento de metodo-logias que auxiliem na inclusão do aluno surdo foram excelentemente avaliadas pelos alunos, professores participantes, tanto em nível de contribuição prática, como em nível de contri-buição teórica. Do mesmo modo, a professora ministrante, por já ter tido a oportunidade de estar em Cabo Verde e conhecer a realidade local (a professora Melânia Casarin, participou

da atividade, Estudo da Língua de Sinais, do mesmo projeto), pode trazer exemplos de di-ferentes práticas pedagógicas, como a oficina desenvolvida na cozinha do Centro Cultural, realizando uma salada de frutas e aprendendo o alfabeto bilíngue, libras e português (Figura 7).

da literatura cabo-verdiana, em kriolo, e alguns demonstraram certa dificuldade em fazê-lo.

O Curso de Atendimento Educacional Espe-cializado doou a cada aluno o livro intitulado “A lenda da erva mate”, com autoria de Melânia de Melo Casarin, que é um livro bilíngue, em libras e português. A obra pode auxiliar os professores na prática pedagógica com alunos surdos.

A quarta semana de aula presencial foi mi-nistrada pela professora de educação especial Sílvia Maria de Oliveira Pavão, professora pesquisadora da temática de Avaliação da Aprendizagem e também professora forma-dora da turma da cidade da Praia. A formação ocorreu de 27 de junho a 1º de julho de 2011.

O módulo de aee sobre a Avaliação da Apren-dizagem foi desenvolvido por meio de aulas teóricas e práticas. Os conteúdos visaram a avaliação e diagnóstico dos alunos do ensi-no infantil e básico para ingresso em sala de recursos. Considerou-se que essas aulas cul-minaram com as demais atividades do curso, uma vez que se pode estabelecer uma interlo-cução entre os aspectos da teoria e da prática no atendimento dos alunos com necessidades especiais. Foram realizadas atividades que

focalizaram o desenvolvimento, aprendizagem e comportamento do aluno com necessidades educacionais especiais. Assim, foram tratados aspectos da dinâmica familiar, a diagnose com os seus instrumentais básicos da anamnese, testes pedagógicos, entrevistas devolutivas, planos de ação de atendimento do aluno em sala regular e de recursos. Algumas dessas atividades podem ser vistas na figura 8.

figura 6 — Alunos do Curso durante atividades realizadas pela Professora Amara Lúcia Holanda Tavares Battistel. Cabo Verde, 2010.

figura 7 — Professora Melânia Casarin, durante atividades com os alunos. Cabo Verde, 2011.

As práticas educacionais inclusivas para alu-nos surdos foram desenvolvidas retratando expe-riências brasileiras e cabo-verdianas, abordando ainda o lúdico, a literatura e o português como segunda língua no Brasil. Nessa ocasião, os alu-nos, professores cabo-verdianos, leram textos

figura 8 — Atividade realizada com alunos durante as aulas da Professora Sílvia Maria de Oliveira Pavão. Cabo Verde, 2011.

As atividades desenvolvidas com os profes-sores tiveram em vista não somente a apresen-tação e discussão dos instrumentais de apoio

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à avaliação e acompanhamento dos alunos em salas de recursos, mas, fundamentalmente a formação profissional do professor que tra-balha na perspectiva da educação inclusiva. A discussão do ser professor, ser pessoa foi colocada em foco, por meio das dinâmicas de grupo fundamentadas nas práticas da psico-logia educacional em algumas das atividades desenvolvidas. Desse modo, os professores discutiram as preocupações, expectativas e angústias provenientes da atuação do pro-fessor em sala de recursos. Considerando-se questões, como: recursos educacionais, es-paço físico, expectativas de aprendizagem dos alunos atendidos por eles, cultura escolar entre outros aspectos que emergem na rela-ção de ensino e aprendizagem. Por fim, todos foram unânimes em afirmar que a formação do professor que atende em sala de recursos deve contemplar certas especificidades que garantam uma atuação profissional capaz de favorecer o desenvolvimento e aprendizagem de alunos e de professores. Na oportunidade foi doado a cada aluno, o livro: Dischinger, Marta. Manual de acessibilidade espacial para escolas: o direito à escola acessível/Marta Dischinger;

Vera Helena Moro Bins Ely; Monna Michelle Faleiros da Cunha Borges. – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2009. Essa doação também teve com objetivo ampliar os recursos de trabalho pedagógico dos professores no aee.

Nessa mesma semana, o último dia foi destinado para o encerramento do curso e en-trega dos certificados. Os coordenadores da dgbes organizaram uma belíssima cerimônia, que contou com a participação da Ministra da Educação e Diretora Geral do Ensino Básico e Secundário do governo de Cabo Verde, a Embaixadora do Brasil, naquele país, alu-nos do Curso (Figuras 10 e 11) entre outros convidados. Os alunos do Curso prepararam algumas apresentações de músicas cabo-verdianas, mostrando talento e alegrando a todos os presentes (Figura 9).

Sendo assim, essa nova estrutura permitiu que o Curso fosse finalizado com cem por cento dos alunos concluintes (30). Todos os alunos par-ticiparam das quatro semanas de aulas presen-ciais realizadas e tiveram sua estadia, transporte e alimentação subsidiados pelo Ministério da Educação de Cabo Verde. A Embaixada do Brasil

igualmente colaborou com a cedência do espaço físico para as aulas no Centro Cultural Brasil – Cabo Verde. Os professores que ministraram as aulas presenciais foram avaliados pelos alunos e obtiveram excelente avaliação. Portanto, o Curso de Atendimento Educacional Especializado ofertado a Cabo Verde foi finalizado com êxito na concepção dos participantes.

Em julho do ano de 2011, esteve em Cabo Verde com a coordenadora do Projeto Ana Cláudia Pavão Siluk (Figura 12), o Magnífico Reitor da Universidade Federal de Santa Maria, professor Felipe Martins Müller.

figura 9 — Coordenadora do Curso de aee e Alunos do Curso durante apresentações de músicas cabo-verdianas. Praia, Cabo Verde, 2011.

figura 10 — Alunos da Turma 1 com a Coordenadora do Curso Professora Ana Cláudia Pavão Siluk e Professora Sílvia Maria de Oliveira Pavão durante cerimônia de encerramento. Praia, Cabo Verde, 2011.

figura 11 — Alunos da Turma 2 com a Coordenadora do Curso Professora Ana Cláudia Pavão Siluk e Professora Sílvia Maria de Oliveira Pavão durante cerimônia de encerramento. Praia, Cabo Verde, 2011.

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pode ser percebido nos relatos dos professores formadores e tutores e com os trabalhos dos professores cabo-verdianos que se apresentam na secção seguinte desse livro.

As dificuldades encontradas no decorrer do curso, sobretudo na primeira edição serviram como mola propulsora para novas ações na edição seguinte, fazendo com que a segunda edição fosse encerrada com êxito. É oportuno ressaltar que na segunda edição, poucas foram as dificuldades enfrentadas, mas todas foram prontamente atendidas, seja pelo governo de Cabo Verde, pela embaixada do Brasil, pela abc ou pela ufsm.

Os benefícios adquiridos pelo governo de Cabo Verde e pelos professores cabo-verdianos podem ser vistos nos relatos que estão pre-sentes nesse livro, os quais demonstram o aprendizado e a satisfação na realização do curso. Para a instituição executora brasileira foram observados a partir do conhecimento adquirido por meio da visita de avaliação e mo-nitoramento, no sentido de que os professores selecionados para realizar o Curso realmente demonstraram interesse em fazê-lo. Além disso, o fato de ser possível realizar as semanas de

aulas presenciais, permitiu que fosse criado um sentimento de “pertença” a comunidade virtual de aprendizagem que estava se for-mando. Os vínculos e os interesses passaram a ser partilhados e a aprendizagem do grupo pôde-se tornar colaborativa. Ratifica-se que a possibilidade de realizar as aulas presenciais e estar em contato mais direto com os alunos, para avaliar e monitorar o curso é sobrema-neira importante para seu sucesso. Os alunos aprenderam a se conhecer, conviver em aulas virtuais e presenciais, trocando experiência e cooperando um com o outro. Agregando essas questões de nível mais científico, podemos apontar questões de níveis práticos e opera-cionais que a ufsm, por meio dos professores envolvidos, soma a gestão do conhecimento em projetos de cooperação técnica, em nível internacional, sobretudo com a abc.

Baseado nos resultados obtidos até o mo-mento nas fases I e II, as perspectivas futu-ras de desenvolvimento do Projeto Escola de Todos – Fase III são promissoras, haja vista a preocupação e o notório trabalho do governo de Cabo Verde em realizar práticas e políticas governamentais que atendem às políticas in-

ternacionais de inclusão, originadas na Decla-ração Mundial dos Direitos Humanos. Ademais, os profissionais da educação, do Brasil e de Cabo Verde, comprometidos com a tarefa de colocar em prática as ações desse projeto, têm interesse profissional, institucional e científico, pois entendem que os sistemas educativos devem permanentemente unir esforços da sua estrutura de gestão pública, na direção de um ensino de qualidade, tendo em vista a organiza-ção de recursos humanos e materiais, ou seja, formação do professor, ambientes e recursos pedagógicos adequados.

Agradecimentos aos governos do Brasil e Cabo Verde, a abc, ao Ministério da Educação, a Secre-taria de Educação Especial, por meio da Diretoria de Políticas de Educação Especial, pela oportu-nidade e confiança dispensadas à Universidade Federal de Santa Maria e aos profissionais que desenvolveram o Curso de Atendimento Educa-cional Especializado. Em Cabo Verde, igualmente são imensos nossos agradecimentos, ao Ministé-rio da Educação, a dgebs e a todas as pessoas que auxiliaram para garantir o desenvolvimento, qualidade e sucesso do Curso de Atendimento Educacional Especializado.

figura 12 — Magnífico Reitor da Universidade Federal de Santa Maria, professor Felipe Martins Müller com a Coorde-nadora do Curso Professora Ana Cláudia Pavão Siluk. Praia, Cabo Verde, 2011.

O objetivo dessa visita foi a assinatura do convênio, reafirmando as ações do projeto Escola de Todos. Na oportunidade, foram prospectadas novas missões em diversas áreas de conhecimento da Universidade.

considerações finais

O Curso de Atendimento Educacional Especiali-zado em Cabo Verde, foi finalizado, entendendo ter sido uma atividade de sucesso, que atin-giu plenamente os objetivos propostos, como

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2FORMAÇÃO DE PROFESSORESPARA A INCLUSÃO

Carmen Rosane Segatto e SouzaRosângela Aparecida Ceregati Costa

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sentido de incorporar as crianças e os jovens ao processo civilizatório com seus avanços e seus problemas?”

Para Codo (1999), existe a preocupação de clarear a identidade profissional dos educadores, sua formação, o papel social das escolas e da educação. Segundo ele, nos dias atuais, não se sabe como preparar os educadores, nem se tem claro qual seria o papel da educação e da instituição escolar numa situação como a atual, caracterizada pela reestruturação do sistema ca-pitalista e as brutais metamorfoses que acarreta.

Nenhuma política de capacitação de professo-res será bem sucedida enquanto se considerar o professor como uma peça do sistema educa-tivo, suscetível de ser modificada em função de planos pensados e executados por poucas pessoas. Para Gatti (2000, p.4), “quase nada tem sido feito no Brasil quanto à qualidade da formação e à carreira dos docentes para ajudar a reverter o quadro, que sabemos dramático, do nível educacional da população em geral”.

Uma educação de qualidade depende de uma formação teórica e prática de qualidade dos pro-fessores, pois a profissão de professor combina, sistematicamente, elementos teóricos com situ-

ações práticas. Uma sólida formação teórica lhe possibilitará captar melhor as distorções sociais, culturais de sua própria prática, pois a ausência desta dificultará a análise reflexiva da prática, caindo no puro “praticismo” daí decorrente.

Segundo Zeichner, citado por Sacristan e Gó-mez (2000, p.374):

preparar professores que tenham perspecti-

vas critica sobre as relações entre a escola e

as desigualdades sociais é um compromisso

moral para contribuir para a correção de

tais desigualdades mediante as atividades

cotidianas na aula e na escola.

Ou seja, necessitamos de professores que assumam uma atitude reflexiva em relação ao seu ensino e às condições sociais que o influen-ciam, com consciência e sensibilidade social. A existência de um único corpo de saberes relacio-nados ao ensino não basta para tornar efetiva uma profissionalização da prática.

O desafio, então, consiste em preparar pro-fessores, a partir dos cursos de formação inicial, que reflitam sobre a própria prática e, com os saberes da docência – os conhecimentos ad-quiridos nessa caminhada – sejam capazes de

contexto atual em que trabalha o ma-gistério, em função das mudanças tecnológicas (principalmente da In-formática) e também mudanças nas

novas formas de trabalho, tornou-se complexo e diversificado, pois nele o professor convive com dúvidas, incertezas, divergências. Assim, a formação assume um papel que transcende o processo simples de ensinar, para se trans-formar num espaço de participação, reflexão e formação necessária para que as pessoas se adaptem e aprendam a conviver com situações singulares, instáveis, incertas e de conflitos. A sensação de desorientação por que as ins-tituições educacionais passam, influenciam. Faz parte de um dilema que envolve tanto o futuro da escola, como o próprio grupo pro-fissional (imbernón, 2006).

Diante disso, é preciso definir uma nova identidade profissional do professor e, se-gundo Pimenta (1999, p.19), procurar uma formação que atenda aos seguintes questiona-mentos: “Que professor se faz necessário para as necessidades formativas em uma escola que colabora para os processos emancipa-tórios da população? Que opere o ensino no

O

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adequadas para trabalhar com a diversidade de pessoas, de culturas e também de tarefas exigidas pela educação. O professor deve ter um conhecimento polivalente e um com-promisso ético que compreenda diferentes âmbitos, não só de conhecimentos sistemati-zados, mas também de habilidades, hábitos, atitudes, convicções, valores que o auxiliarão, por meio da educação, a tornar as pessoas mais livres, menos dependentes do poder econômico, político e social, com o objetivo único de proporcionar-lhes a emancipação.

Ramalho, Nuñez e Gauthier (2003, p.32) ar-gumentam que:

os professores devem mudar sua maneira

de olhar a profissão docente como sendo

uma atividade individual, para constituir

espaços coletivos de reflexão, de estudo,

de construção de saberes e de sua eman-

cipação sócio¬profissional.

É imperiosa, hoje, uma mudança de menta-lidade sobre o processo de ensinar e aprender nos cursos de formação de professores. A for-mação será inócua se os futuros professores não aprenderem como viver numa escola, fato

esse tão importante quanto saber ensinar na sala de aula (tardif, 2002). As reformulações curriculares dos cursos de formação de profes-sores resistem à necessidade de formação para o saber fazer, para as competências que propiciam flexibilidade mental e capacidade de resolver problemas imprevistos.

a profissionalização docente

“A formação de professores é, provavelmente, a área mais sensível das mudanças em curso no setor educativo: aqui não se formam apenas profissionais; aqui se produz uma profissão” (nóvoa, 1995, p.26).

A partir do século XVIII, surge a preocupação de clarear o perfil profissional do professor. Surgem muitos questionamentos, e esses va-riam desde a formação, até o pagamento dos honorários desse profissional. Ao longo dos séculos XVII e XVIII, percebe-se que a ocupação com o ensino constitui-se em uma ocupação secundária de religiosos ou leigos. Para exem-plificar, têm-se os jesuítas e os oratorianos que organizam, ao longo do tempo, normas, valores, técnicas e saberes que caracterizam

preparar as crianças e os jovens para se elevarem ao nível da civilização atual – da sua riqueza e dos seus problemas – para aí atuarem. Pelos saberes docentes, os professores têm condições de aprender, analisar, questionar e refletir sobre os múltiplos saberes que perpassam sua prática profissional, tomando consciência de que esses podem contribuir para o processo de ensino-aprendizagem, contextualizando professor e aluno no momento sócio histórico vivido e de reflexão constante. Isso “requer preparação científica, técnica e social” (pimenta, 1999, p.19).

Seguindo a linha de pensamento de Pimen-ta, Zeichner (1993) ressalta a importância de formar professores que assumam uma atitude reflexiva em relação ao seu ensino e às con-dições sociais que o influenciam, reflexão capaz de combinar as capacidades de busca e de investigação com as atitudes de abertura mental, responsabilidade e honestidade.

A reflexão do professor deve ser um processo que contribua para o seu desenvolvimento pro-fissional, na busca de uma capacidade maior de decisão e interpretação, e não um simples olhar sobre suas ações com limitadas possibilidades teóricas (imbernón, 2006). Também não deve

ser uma prática solitária, mas inserida nas rela-ções institucionais e sociais, sob pressupostos explícitos dos projetos educativos, nos quais se expressam interesses e contradições diversas (ramalho, nuñez e gauthier, 2003).

Assim, quando se fala da formação de pro-fessores, “vincula-se à construção de uma autonomia sempre crescente, numa união com as formas através das quais produz/constrói a profissão no processo de profissionaliza-ção” (ramalho, nuñez e gauthier, 2003 p.10), mobilizando mais qualidade cognitiva no processo de construção/reconstrução de conceitos, gestos, atitudes, procedimentos, maneiras de atuar e agir com base numa ética profissional adquirida ao longo da vida.

Para Imbernón (2006), as instituições ou cursos de preparação para a formação docente deveriam ter um papel decisivo na promoção não apenas do conhecimento profissional, mas de todos os aspectos da profissão docente, comprometendo-se com o contexto e com a cultura em que esta se desenvolve.

Acredita-se que não existe um único modelo de formação docente, o que colabora para o surgimento de várias concepções ideológicas 34 35

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a profissão docente, tornando cada vez mais necessária a presença do professor na área educacional (nóvoa, 1995).

A profissão de professor só foi instituída no momento em que a Igreja Católica Oficial deixou de existir como entidade de tutela do ensino. Nesse momento, o Estado passou a exercer um forte controle sobre essa nova pro-fissão. A intervenção do Estado provoca uma homogeneização, bem como uma unificação e uma hierarquização, em escala nacional, de todos esses grupos (não só religiosos, mas inclui, também, indivíduos que se dedicam ao ensino): é o enquadramento estatal que ins-titui os professores como corpo profissional e não uma concepção corporativa do ofício (nóvoa, 1995).

Assim, o processo de estatização do ensino, que aconteceu no momento de ruptura dos laços educacionais sob a responsabilidade da Igreja, efetivou-se e passou a existir uma preocupação com a substituição dos professores, que até então eram religiosos, por professores laicos, o que contribuiu para mudanças pouco signifi-cativas, ou seja, continuou a existir um modelo de docente muito próximo do modelo de padre.

No decorrer do século XIX, a imagem do pro-fessor se consolidou e, a partir desse mesmo século, prestou-se mais atenção à seleção e ao recrutamento de professores. Não foi mais permitido ensinar sem uma licença ou auto-rização do Estado (no final do século XVIII), e essa só foi permitida a partir desse século, mediante uma sequência de exames que podia ser requerida pelos indivíduos que atendessem alguns pré-requisitos, como: habilitação, idade, comportamento moral (nóvoa, 1995).

Ainda no século XIX, acentuou-se a expan-são escolar, fortalecendo a importância da instrução escolar, o que exigiu um olhar mais detalhado sobre uma formação específica especializada e longa para os professores. No fim desse século e no início do século XX, confrontaram-se visões distintas da profis-são docente. Essas visões, segundo Nóvoa (1995a), referindo-se ao contexto europeu, concentraram-se em torno da produção de um saber legitimado relativo às questões do ensino e da delimitação de um poder regula-dor sobre o professorado.

Consolidaram-se, nesse período, as insti-tuições de formação de professores, resultan-

tes de vários interesses entre o Estado e os professores, como também o associativismo docente (um movimento associativo docente, que correspondia a uma tomada de consciência dos seus interesses como grupo profissional), e a feminização do professorado, trazendo dúvidas entre as imagens masculinas e femini-nas da profissão. Segundo Nóvoa (1995, p.18),

essas instituições de formação ocupam

um lugar central na produção e reprodu-

ção do corpo de saberes e do sistema de

normas da profissão docente, desempe-

nhando um papel crucial na elaboração

dos conhecimentos pedagógicos e de

uma ideologia comum.

A responsabilidade, nesse momento, recaía sobre as escolas normais que, individual e cole-tivamente, eram responsabilizadas pela sociali-zação e pela criação de uma cultura profissional.

As associações responsáveis pela defesa dos interesses dos professores, como grupo profissional, tornaram-se indispensáveis para a aquisição de prestígio dos professores, desempenhando um papel fundamental na construção da profissão docente. Nos anos

vinte, por meio do Movimento da Escola Nova, acentua-se um bem-estar maior aos profes-sores no que diz respeito ao seu estatuto socioeconômico, pois esse movimento trazia projetos culturais, científicos e profissionais que demonstram uma preocupação com a formação docente.

No Brasil, por exemplo, o Estado Novo tenta substituir a legitimidade republicana no que diz respeito à educação. Houve assim, várias tentativas frustradas para reformar as esco-las normais republicanas, o que ocasionou o fechamento, em 1930, das Escolas Normais Superiores e, em 1936, as Escolas Normais Primárias, as quais só foram reabertas em 1940.

Segundo Nóvoa (1995a, p.19), até os anos 60, o ensino normal “manteve uma atitude de suspeição em relação à formação de pro-fessores, sofisticando os mecanismos de controle ideológico no acesso e no exercício da atividade docente”.

A formação de professores do ensino pri-mário, nessa época, sofre com a escassez de matrículas para alunos interessados em cur-sar o ensino normal, com os conteúdos, com o tempo necessário para a formação e com 36 37

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técnicas), mas, sim, através de um trabalho

de reflexividade crítica sobre as práticas

e de (re)construção permanente de uma

identidade pessoal.

Confirma-se, com isso, a necessidade cons-tante de os professores reverem a sua prática e, como diz Schon (2000), essa prática é fundamen-tada num triplo movimento: ”conhecimento na ação, reflexão na ação e reflexão sobre a ação e sobre a reflexão na ação”. É um processo perma-nente, integrado no dia-a-dia dos professores e escolas, pois a reflexão não acontece de forma superficial, independente de qualquer coisa, mas sim de um retomar de suas experiências recheadas de fatos significativos.

E, em pleno século xxi, percebe-se que o ensino, mesmo depois de ter passado por grandes pres-sões sociais, não sofreu transformação tão sig-nificativa como outras profissões (nóvoa, 1995).

a inclusão escolarbreves considerações

O impacto que a inclusão tem causado no meio escolar, nas instituições especializadas e en-

tre os pais de alunos com e sem deficiência provocou o aparecimento de muitas dúvidas e vieses de compreensão, que estão retardando a implementação de ações em favor da abertura das escolas para todos os alunos. Defende-se o espaço dos alunos com necessidades educa-cionais especiais, mas também se entende que existem práticas cristalizadas que devem ser ressignificadas sob outro paradigma.

Se realmente queremos que todos tenham acesso ao conhecimento, e, consequentemente, ao exercício pleno da cidadania, precisamos superar as relações educacionais hoje exis-tentes na estrutura escolar. Enfim, precisamos superar, de forma radical, a atual organicidade escolar brasileira e, para isso, a preocupação com a formação de professores é fundamental.

A Lei de Diretrizes e Bases – 9.394/96 (brasil, 1996) é inovadora, pois inclui tópicos que vêm ao encontro de programas educacionais, que objetivam incluir alunos com necessidades edu-cacionais especiais no ensino regular. Define como Educação Especial a modalidade oferecida

“preferencialmente na rede regular de Ensino”, propondo a inclusão, como ficou registrado no seu Capítulo v, “[...] uma modalidade de edu-

uma exigência intelectual e científica menor, além de sofrer com as práticas de controle moral e ideológico em toda a sua formação. Os professores eram funcionários, mas de um tipo particular, pois a sua ação estava impregnada de uma forte intencionalidade política, devido aos projetos e às finalida-des sociais de que eram portadores (nóvoa, 1995, p.17).

Com relação ao ensino secundário, por ocasião do fechamento das Escolas Normais Superiores (1930), acaba uma experiência institucional que teve suas raízes em 1901, no Curso de Habilitação para o magistério Secundário.

Ainda durante o Estado Novo, assiste-se à degradação social e econômica da profissão docente, que se estende até os anos 60, gerando, a partir desse ano, uma série de movimentos políticos, sindicais e científicos. A formação docente passa a fazer parte das preocupações educativas do Estado.

A República traz consigo a presença marcante do Estado no campo educativo. Esse, além de um controle administrativo, exerce também um controle ideológico, gerando conflitos políticos no interior das escolas normais, responsáveis

pela formação de professores da escola primá-ria. Para Tomazetti (2003, p.48) a origem das escolas normais,

estava ligada aos ideais da Revolução Fran-

cesa que, ao pregar a liberdade e a igualda-

de entre os homens, afirmava também, a

necessidade da constituição de um sistema

nacional de educação ao alcance de todas

as camadas sociais. O século xix seria,

então, o momento de democratização do

ensino primário nos países com certo grau

de desenvolvimento e do surgimento das

primeiras escolas normais responsáveis

pelo preparo dos professores primários.

Já na década de 70, tiveram início as dis-cussões sobre a formação docente, explode a preocupação pela profissionalização inicial dos professores, ganhando o ensino primário um grande impulso após 1974. A profissionaliza-ção dos professores toma fôlego na década de 80, e a década de 90 é marcada pela formação continuada dos professores. Como diz Nóvoa (1995a, p.25),

[...] a formação não se constrói por acumu-

lação (de cursos, de conhecimentos ou de 38 39

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diferenciados, utilizando as estratégias de ensino que melhor satisfaçam as necessida-des de seus alunos, professores que compre-endam o dinamismo da sociedade e de suas transformações, ressignificando seu modo de pensar, ou seja, suas representações sociais, em função da diversidade dos problemas apresentados por estarem numa época de mudanças constantes, tanto intelectuais, como sociais. Decorre daí, a necessidade de esses educadores reverem a sua prática. E por que não a sua formação? O que realmente está por trás das palavras, dos sentimentos e das condutas destes docentes e que já é institucionalizado?

As instituições responsáveis pela formação de professores podem intensificar os pro-cessos de contatos com as redes de ensino, transformando os professores educadores especiais em parceiros imprescindíveis dos professores das classes comuns, que bus-quem parcerias com comunidades e as famí-lias para uma possível ampliação da atuação profissional dos alunos. Isso assinala funda-mental importância para que se intensifique uma política de formação docente.

Conforme Carvalho (1998), um dos desafios do professor é conscientizar a sociedade de que as limitações impostas pelas múltiplas manifestações de deficiência não devem ser confundidas com impedimentos. Esses têm origem na própria sociedade, em suas normas e nos estereótipos que cria, prejudicando o desenvolvimento individual que depende das interações com os outros.

Amaral (1994) fala do estigma que envolve a questão da deficiência no convívio social e dá ênfase às relações interpessoais para a perpetuação dos estigmas que a sociedade cria. Tem-se como elemento fundamental a matéria prima das atitudes preconceituosas: o desconhecimento. Percebe-se a responsa-bilidade ética da educação: quebrar a cadeia do desconhecimento a respeito da deficiência, trazendo a temática para dentro do universo escolar, pois a intervenção no campo da defi-ciência não se deveria pautar nas limitações desses sujeitos, e sim, nas potencialidades a serem desenvolvidas.

No que tange à prática educativa do profes-sor, pode-se dizer que ela é resultado de uma ou outra teoria, quer ela seja reconhecida quer

cação, oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”.

Mas, ao se expressar de forma preferencial e não prioritariamente, permite interpretações diversas, possibilitando que a educação das pessoas com deficiência se realize de acordo com os interesses das instituições, ou seja, de acordo com a preferência dos dirigentes. Para Goffredo (1999, p.45),

a escola, para que possa ser considerada

um espaço inclusivo, precisa abandonar a

condição de instituição burocrática, ape-

nas cumpridora das normas estabeleci-

das pelos níveis centrais. Para tal, deve

transformar-se num espaço de decisão,

ajustando-se ao seu contexto real e res-

pondendo aos desafios que se apresentam.

O espaço escolar, hoje, tem de ser visto

como espaço de todos e para todos.

Ao tratar especificamente da formação de professores que vão atuar na perspectiva da inclusão escolar deve-se levar em conta que isso constitui fato relevante na melhoria da qualidade, mas não deve ser considerado de

forma isolada, e sim, no bojo de decisões políticas mais amplas que apontem para a melhoria da qualidade de vida da sociedade em geral.

É necessário que esse professor amplie suas perspectivas, tradicionalmente centra-das apenas nas suas especificidades, rom-pendo com práticas cristalizadas, existentes na atual estrutura escolar. Assim, esse pro-fissional da educação deverá preocupar-se em proporcionar uma escolaridade com qua-lidade para alunos diferentes em uma escola comum, tendo como desafio o sucesso de todos os alunos sem exceção: uma formação que dê conta da diversidade sóciocultural e das diferenças humanas.

Para isso, a estrutura escolar deve garantir aos estudantes com necessidades educa-cionais especiais professores com especia-lização adequada para o atendimento nas diferentes alternativas em educação especial, bem como professores do ensino regular, ca-pacitados para a inclusão desses estudantes nas classes comuns. São necessários pro-fessores que saibam trabalhar com classes heterogêneas, com conteúdos curriculares 40 41

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Domingo, citado por Gonzáles (2002, p.241), destaca que o professor, apto para trabalhar com a diversidade na sua prática, tem a pos-sibilidade de:

criar o clima adequado para a interação e a

cooperação; motivar os alunos, produzin-

do expectativas positivas e utilizando re-

forços de auto-estima e reconhecimento;

aceitar a diferença como um componente

da normalidade e fomentar a convergên-

cia de todos os educadores por meio da

atividade em equipe.

Seguindo o pensamento de Domingo, a ativi-dade profissional não deve ser exercida sobre um objeto, mas sim, deve ser realizada con-cretamente, em conjunto com outras pessoas; raramente ele atua sozinho. Nesse contexto, encontram-se valores, símbolos, sentimentos, atitudes que devem ser interpretadas, o que faz com que os professores estejam em constante interação com pessoas, em um determinado meio constituído por relações sociais.

Assim, sejam quais forem às práticas edu-cativas adotadas pelos professores que atuam com a diversidade, estas podem primar pela

efetiva inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais à sociedade. Profissio-nais da docência, por meio de uma intervenção educativa eficaz, podem tentar dar respostas que sejam satisfatórias às necessidades das pessoas em uma sociedade em que a regra ainda é uma exceção.

Percebe-se que as questões sobre o perfil do profissional e das instituições educativas que se quer para o futuro ainda permanecem, em nível de discussão, uma incógnita, e, por isso mesmo, são motivo de constantes debates. A escola do futuro talvez venha a ser muito diferente da de hoje, mas será feita com pro-fissionais que estão se formando no presente. Portanto, ela dependerá do modo como esses futuros educadores estão sendo preparados.

Considerando tais prerrogativas sobre a formação de professores, serão apresentados a seguir os planos de ação pedagógica de-senvolvidos por professores cabo-verdianos que realizaram o Curso de Atendimento edu-cacional especializado na sua primera edição realizada entre os anos de 2009 e 2010, como anunciado na primeira parte dessa obra. So-mam 15 planos de ação pedagógica.

pode-se dizer que o professor do ensino regular e o professor de Educação Especial trabalham com a aprendizagem, com o ensino, com a formação dos indivíduos, com os métodos, ati-vidades, recursos, avaliação, com as relações interpessoais e tudo o mais que envolve o ato de educar. O diferencial reside no fato de que o professor de Educação Especial vai realizar seu trabalho de uma forma diferenciada, pautado na ação-reflexão-ação, por se tratar de indivíduos com necessidades educativas especiais, que apresentam obstáculos que dificultam o seu desenvolvimento normal.

Para isso, é necessário que seja desenvol-vida uma série de estratégias organizativas e metodológicas em sala de aula. Tais estraté-gias, oriundas da realidade educativa, podem ser capazes de guiar a intervenção desse professor a partir de processos reflexivos, que facilitem a construção de uma escola, a qual favoreça a aprendizagem dos alunos como uma reinterpretação do conhecimento, e não como uma mera transmissão da cultura. As-sim, o professor terá capacidade de modificar planos e atividades à medida que as reações dos alunos vão oferecendo novas pistas.

não. Os professores estão sempre a teorizar, à medida que, segundo Zeichner (1993, p.21),

são confrontados com os vários proble-

mas pedagógicos, tais como a diferença

entre as suas expectativas e os resultados.

Na minha opinião, a teoria pessoal de um

professor sobre a razão por que uma lição

de leitura correu pior, ou melhor, do que

esperado, é tanto teoria como as teorias

geradas nas universidades sobre o ensino

da leitura: ambas precisam ser avaliadas

quanto à sua qualidade, mas ambas são

teorias sobre a realização de objetivos

educacionais. Na minha opinião, a dife-

rença entre a teoria e a prática é, antes de

mais nada, um desencontro entre a teoria

do observador e a do professor, e não um

fosso entre a teoria e a prática.

Sobre a prática educativa do professor que atua com alunos com necessidade educacionais especiais, é pertinente pontuar que esta não difere da prática dos outros professores do ensino em geral, se o objetivo for a conquista de uma nova escola que ofereça respostas à diversidade dos alunos. Diante desse fato, 42 43

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plano 1plano de acçao pedagógica para atendimento educacional especializado na surdezArminda Lima e Iria SantosProfessora: Carmen Rosane Segatto e SouzaTutora: Rosângela Aparecida Ceregati Costa

Este Plano de Ação Pedagógica está inserido em um projeto que pretende proporcionar uma educação adaptada às características e necessi-dades dos alunos surdos em São Vicente, numa perspectiva da educação inclusiva.

A Educação Inclusiva assenta numa filosofia de valorização da diversidade, indo de encontro à Declaração dos Direitos Humanos que, garante o acesso e a participação de todos, às mesmas oportunidades, independentemente das parti-cularidades de cada indivíduo e/ou grupo social.

Um passo importante para o desenvolvimento da Inclusão Educativa foi a criação da Declara-ção de Salamanca na Espanha em 1994, que teve como objetivo, orientar ações educativas, com base em princípios, políticas e práticas da

educação para todos, para que os governos e órgãos competentes pudessem desenvolver suas próprias políticas de inclusão. Esta De-claração considera que: o direito à educação é independente das diferenças individuais; as ne-cessidades educativas especiais não abrangem apenas algumas crianças com problemas, mas todas as que possuem dificuldades escolares; deve ser a escola a adaptar-se às especificida-des dos alunos e não o contrário; e que o ensino deve ser diversificado e realizado num espaço comum a todas as crianças.

A educação inclusiva deverá proporcionar um ensino de qualidade, a todos os alunos, com ou sem necessidades educativas especiais. Exige uma mudança de atitudes, uma constante re-flexão sobre a prática pedagógica, modificação e adaptação do meio e, uma nova organização da estrutura escolar.

Os alunos com necessidades educacionais especiais têm o direito de, sempre que possível, serem educados em ambientes inclusivos, eles são capazes de aprender e de contribuir para

Os planos pedagógicos desenvolvidos por es-ses professores consistiram no trabalho final do curso, e visam a apresentação de uma proposta de trabalho a ser implementada na realidade educacional imediata desses professores. Cada plano contempla um tema, ou área de estudos desses professores, sendo que essa escolha procedeu a partir do interesse deles mesmos, ou ainda de acordo com a demanda pedagógica na qual atuam.

Os planos foram elaborados com uma pro-posta de implementação e, portanto com forte fundamentação teórica, entretanto, para apre-sentação desses planos nessa obra, foram retiradas as seções que correpondiam aos re-ferenciais teóricos, elaborados com base nas obras desenvolvidas no Curso de aee, pois o objetivo aqui é verificar as possibilidades e necessidades de atuação e prática geradas a partir do Curso de formação e aperfeiçoamento de professores.

planos de ação pedagógica

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

os Surdos conseguirem desenvolver-se. O de-senvolvimento da lgc só será possível se os Surdos cabo-verdianos estiverem reunidos, construindo e fazendo parte de uma comuni-dade, com uma identidade e cultura próprias, e é isso que pretendemos fazer em São Vicente.

Para que o aluno surdo tenha realmente uma educação que respeite a sua especificidade linguística, este deverá ter acesso ao Ensino Bilíngue.

O Ensino Bilíngue consiste na compreensão e utilização de duas línguas, neste caso, a Língua Gestual (l1) e a Língua Portuguesa (l2). Dessa forma, a educação dos surdos deve priorizar, inicialmente, o desenvolvimento da língua de sinais pelo contato das crianças com adultos surdos usuários desta língua e participantes ativos do processo educacional de seus pares e, a partir dela, devem ser expostos ao ensino da escrita da língua portuguesa. A língua portu-guesa deverá ser adquirida na sua modalidade escrita e, quando possível, na sua modalidade falada, tendo em conta os graus e níveis de sur-dez. A l2 escrita constitui um meio de acesso aos conhecimentos, uma vez que, grande parte dos conhecimentos é transmitida através da escrita.

A ausência de uma forma de comunicação com os ouvintes, a falta de apoio educativo continuado e de um ensino adaptado às suas características, fazem com que os alunos surdos integrados nas salas de ouvintes, se sintam frustrados e ansiosos, levando-os assim, ao abandono escolar. Está provado que os alunos surdos que se beneficiam de um ensino na lín-gua gestual apresentam uma clara vantagem na aprendizagem, na socialização e no desen-volvimento psicológico.

Os alunos surdos em Cabo Verde, particu-larmente em São Vicente, são integrados em turmas do ensino regular, em que o processo de ensino-aprendizagem não está adaptado às suas características e, por isso, não con-seguem acompanhar as atividades que são essencialmente auditivas. Assim, é comum não apresentar um domínio mínimo dos conceitos e conteúdos ministrados, indispensáveis à conti-nuação dos seus estudos e consequentemente, ao seu desenvolvimento e à sua adequada integração social.

Cabo Verde não possui, ainda, a sua língua gestual, contudo não se pode esperar que a Língua Gestual Crioula (lgc) surja para depois

o desenvolvimento da sociedade onde estão inseridos; devem existir iguais oportunidades de acesso a serviços de qualidade que lhes permitam alcançar o sucesso; ter acesso a ser-viços de apoio especializados e a um currículo diversificado; os alunos devem ter a oportu-nidade de trabalhar em grupo e de participar em atividades extraescolares e em eventos comunitários, sociais e recreativos, ou seja, a inclusão pressupõe: aceitação das diferenças individuais como mais uma característica do indivíduo e não como um obstáculo, valorização da diversidade; direito de pertença, a igualdade de direitos entre as minorias e maiorias.

O desenvolvimento da Educação Inclusão exige, portanto, a promoção de: atitudes po-sitivas, ambiente de aprendizagem inclusivo, intervenção atempada; exemplos positivos, desenvolvimento de políticas adequadas, mu-dança no sistema de ensino.

A educação dos surdos desenvolveu e am-pliou sua meta para o campo pedagógico e linguístico além do campo clínico e terapêutico numa perspectiva integracionista. O desenvol-vimento de qualquer criança, ouvinte ou surda, depende da aquisição e do desenvolvimento de

uma língua, indispensável à estruturação do seu pensamento. A língua natural ou a primeira língua dos Surdos é a Língua Gestual (lg), logo a aquisição plena da LG constitui um direito das crianças surdas. Estudos têm demonstrado que a aprendizagem da língua gestual deve iniciar-se o mais cedo possível, sendo o período ideal, antes dos três anos de idade. A capacidade de aprendizagem da criança surda nesta idade é igual à da criança ouvinte, exigindo-se apenas metodologias e instrumentos diferentes.

Para os alunos Surdos, o domínio lg, é decisivo no desenvolvimento individual, na construção da identidade, no acesso ao conhe-cimento, no relacionamento social, no sucesso escolar e profissional, em todo o percurso futuro e no exercício pleno da cidadania.

Para atingir este objetivo, a escola desem-penha um papel fundamental, sendo para isso, necessário que a escola seja um espaço sem barreiras, um meio menos restritivo, cuja única diferença seja baseada em aspectos linguísti-cos e culturais. Um espaço onde o aluno possa expressar e ser compreendido na sua primeira língua, proporcionando-lhe o acesso à comu-nicação, ao pensamento e ao conhecimento. 46 47

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

turmas do ensino regular, ou seja, de segunda a sexta, quatro horas e meia, diárias. Neste momento temos conhecimento de que existe em São Vicente 15 crianças e adolescentes surdos e devido às especificidades dos alunos surdos, a turma não deverá ser muito extensa.

resultados esperadosa curto prazo· Crianças e adolescentes (re)integrados no

sistema educativo;· Maior nível de comunicação através de gestos;· Aquisição das noções básicas necessárias

ao seu desenvolvimento global;

a longo prazo· Indivíduos autónomos e independentes;· Indivíduos completamente integrados na

sociedade;· Cidadãos capazes de contribuir para o De-

senvolvimento do País.

Neste momento esses alunos encontram-se distribuídos por oito escolas e em dez turmas di-ferentes. A partir de 6 de Janeiro de 2010, estarão reunidos numa única turma com um professor.

de avaliação, atividades e metodologias para atender às diferenças individuais dos alunos, com base no modelo de ensino bilíngue.

Tipos de atividades a realizarem com os alunos:

Acadêmicas: lúdicas (dramatização; expres-são plástica), desportivas (jogo, brincadeiras), culturais (música; dança; teatro, visualização de filmes e documentários) Visitas a Instituições.

Ainda se podem realizar atividades com a famí-lia tais como: palestras, workshops;atendimento, debates, relatos de testemunhos, visualização de filmes e documentários, outras.

recursos humanosEquipe Multidisciplinar formada por: Professor, Pedagogo, Psicólogo, Terapeuta da Fala e As-sistente Social.

recursos materiaisA utilização de recursos visuais variados é de vital importância em todas as fases do processo ensino-aprendizagem.

organização e funcionamento do projetoA sala irá funcionar em regime semelhante às

Por tudo isso, considera-se importante a cria-ção de uma turma de surdos inserida numa escola do ensino regular. O aluno surdo deverá ter contato com as duas comunidades linguísticas, de modo a que, ele seja capaz de desenvolver as suas ca-pacidades cognitivas, adquirir conhecimentos e comunicar plenamente com a realidade externa, tornando-se assim, num membro integrante, tanto da comunidade surda, como da ouvinte.

objetivosobjetivos gerais

· Melhorar a qualidade de ensino, oferecendo respostas educativas, tendo em conta as carac-terísticas da surdez;· Promover a cultura Surda e integração socio-

educativa do aluno Surdo;· Contribuir para o desenvolvimento global do

aluno Surdo;· Contribuir para o desenvolvimento da Língua

Gestual em Cabo Verde.· Desenvolver uma educação com base no

Modelo Bilíngue;

objetivos específicos· Promover a interacção e integração surdo-

surdo e surdo-ouvinte e o contato do aluno surdo com a língua gestual; · Contribuir para a representação do mundo e

o conhecimento do meio;· Promover a aprendizagem da língua portu-

guesa e da matemática;· Desenvolver competências pessoais e sociais;· Promover uma rede de apoio à família;

Os conceitos gerais sobre a surdez, classifica-ções, técnicas e métodos de avaliação da perda auditiva, as características dos diversos tipos de surdez, são aspectos fundamentais para com-preender as implicações da deficiência auditiva.

metodologiabeneficiários população-alvoEste projeto destina-se à crianças e adolescen-tes surdos da ilha de São Vicente que estão dentro e fora do sistema educativo.

atividades O programa de atividades deverá seguir o currí-culo do ensino regular, devendo ser realizadas as adaptações necessárias, ao nível dos ob-jetivos, conteúdos, critérios e procedimentos 48 49

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

Apesar das condições económicas do país, é possível, com recursos humanos disponí-veis e um pouco de criatividade, permitir a estas crianças gozar dos mesmos direitos das outras. Recorrendo a confecção de ma-teriais, acções de formação com professores regulares, a parcerias com instituições saúde e afins, entidades públicas e privadas que poderão beneficiar com contrapartidas fis-cais, serviços de voluntariado de diversas associações não governamentais existente no país, entre outros.

E com isso dar a estas crianças a possibili-dade de desenvolver as suas potencialidades.

objetivosobjetivos gerais

· Criar uma escola verdadeiramente inclusiva, mais humana, mais inteligente, com competên-cias para resolver seus problemas;· Formar alunos capazes de participar na cons-

trução de uma sociedade mais justa.

objetivos específicos· Proporcionar o acesso ao saber promovendo

estratégias de diferenciação pedagógica;

Sociais – como o atraso educativo em situa-ções de jogo, atraso evolutivo em situações de lazer entre outros.

Os indivíduos que apresentam deficiência mental desenvolverão de forma diferente as suas competências académicas, sócias e voca-cionais, dependendo do grau dessa diferença do facto de a deficiência ser ligeira, moderada, severa ou profunda.

O fato de a capacidade intelectual e as com-petências sociais destes indivíduos serem me-nos desenvolvidas pode ditar a sua rejeição por parte dos companheiros e, consequentemente, pode diminuir a sua autoestima.

As crianças com deficiência mental, ainda se encontram nas nossas escolas, apenas para a

“socialização”. Esta entendida, somente como estar com os outros, brincar com os outros sem a possibilidade de comunicar ou parti-lhar conhecimento. Perdendo assim tempo de aprendizagem precoce, fundamental para o desenvolvimento do individuo.

Para, além disso, a resistência de alguns professores, em trabalhar com estes alunos alegando que deveriam ter um espaço apropria-do e com especialistas, porque não aprendem.

Diretamente serão beneficiados alunos, pro-fessores, pais e encarregados de educação e de forma indireta, toda a comunidade da ilha.

plano 2disponibilização de recursose implementação de uma sala multifuncionalMargarida de Portela e PradoProfessora: Carmen Rosane Segatto e SouzaTutora: Rosângela Aparecida Ceregati Costa

O presente trabalho insere-se no âmbito do Curso de Formação de professores cujo obje-tivo principal se refere a “Disponibilização de recursos para aprendizagem dos alunos com deficiência mental através da implementação de uma sala multifuncional”. A implementação desta sala, deverá assegurar a articulação com a escola regular de modo a salvaguardar os direitos das crianças de se desenvolverem num ambiente de convivência social, em situações de heterogeneidade e de riqueza de trocas sociais.

São várias as teorias, principalmente no campo da psicologia em desenvolvimento que vieram clarificar a importância desse trabalho. Segundo alguns teóricos, as primeiras pessoas a desem-

penharem essa função educativa são os pais e ou pessoas que fazem parte do ambiente familiar. Daí a necessidade destes receberem apoio e orientação acerca das possibilidades de desen-volvimento da criança, para que, assim, possam promover desde cedo o seu desenvolvimento. Envolve-se assim não só as intuições educativas por excelência, mas a comunidade em geral.

Portanto, o plano da implementação da sala multifuncional, deverá conduzir a melhoria das aprendizagens possibilitando ambientes que favorecem a criação de uma escola verdadeira-mente inclusiva, mais humana, mais inteligente, com competências para resolver seus proble-mas, bem como a formação de alunos capazes de participar na construção de uma sociedade mais justa. Os deficientes mentais apresentam características específicas tais como:

Físicas – como a falta de equilíbrio, dificulda-des de locomoção, dificuldades de coordenação, dificuldades de manipulação;

Pessoais – como ansiedade, falta de controlo, tendência para evitar situações de fracasso, mais do que para procurar o êxito, possíveis existências de perturbações de personalidade, fraco controlo interior;50 51

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

· Promover uma utilização progressiva das novas tecnologias de ensino/aprendizagem;· Estabelecer maior interacção escola/co-

munidade;· Prevenir o abandono escolar.

problema e hipótesesEm função do que se pretende, problematizou-se o seguinte: “A implementação de uma sala multifuncional, favorece a aprendizagens de deficientes mentais”. Com isso estabelece-se Hipóteses do como e por que do uso de recursos, para que ocorra a aprendizagem que se quer, significativa ativa e interativa, no dizer dos teóricos da educação. Sendo as hipóteses:

a. A preparação de materiais e atividades diversificadas favorece a aprendizagens dos deficientes mentais.

b. As oportunidades de interacção com o objeto de conhecimento favorecem aprendi-zagem dos deficientes mentais.

c. A avaliação de eficácia de estratégias, bem como adaptações ou alterações de pro-cedimentos favorecem a aprendizagem dos deficientes mentais.

b. Materiais ou Equipamentos para o espaço físico:Podem ser: quadro de corticite para organi-zação da sequência de tarefas, armários de arrumação materiais para realização tarefas em grupo e individual, cestos para disposição das atividades a executarem, mesas adap-tadas (para crianças com paralisia cerebral, por exemplo), mesa para trabalhos grupais, Cadeiras (algumas adaptadas), tapetes, ban-cos ou poufs para o espaço de lazer, potes ou boiões para materiais de pintura, lápis, colchonetes e espaldar de madeira para es-timulação e educação motora (para o espaço de educação física).

currículoApesar das capacidades de aprendizagem da população alvo nem sempre permitirem a esses alunos acompanhar o ritmo dos seus pares e de alguns destes alunos frequentarem a escola há já alguns anos sem, no entanto, terem adquirido os conhecimentos básicos a fim de estarem minimamente enquadrados nos conteúdos em estudo pelos colegas de sala, o currículo deve ser o mesmo para todos de forma a possibilitar aos deficientes mentais um exercício intelectual.

implementação da sala multifuncionalmateriaisOs materiais são importantes para o trabalho que se pretende fazer. Quer as atividades in-dividuais ou em grupo, exigem materiais que possibilitam uma multiplicidade de experi-ência. É importante ter na sala materiais de aprendizagens e equipamentos que facilitam a aprendizagem e a atenção individual dos alunos de modo a avaliar cada caso e assim poder modificar estratégias de intervenção, se necessário.a. Materiais de aprendizagens:Jogos didácticos (deverão ser adaptados às crianças com dificuldades motoras); brinque-dos didáticos e jogos tradicionais (bonecos de trapo, blocos de encaixe, jogo uril¹, jogo fitche-fatche²), computadores, ratos e tecla-dos adaptados às crianças com dificuldades motoras; impressora; software educativo e programas específicos como o Sistema Picto-gráfico de Comunicação; materiais de conta-gem; plasticina, barro ou outro material para modelagem, materiais de escrita e recorte (lápis, canetas, tesouras, com adaptações), braçadeiras para natação.

metodologiapúblico-alvoDestina-se essencialmente aos alunos com necessidade educativas especiais de carácter permanente, com condições relacionadas à paralisia cerebral e outras situações de etio-logia neurológica, deficiência mental, atraso global de desenvolvimento, síndrome de Down, dificuldades de aprendizagem agravadas, que necessitam:· Apoio ao nível das funções motoras, globais

e finas, aspectos que afectam a mobilidade, postura, funcionalidade e capacidade de ma-nipular os conteúdos académicos;· De ter mais experiências significativas;· De ter um tempo de resposta mais lento do

que os alunos sem problemas;· De outras formas de comunicação, para aque-

les que apresentam incapacidade de usar a fala;· De interagir com pessoas e com objetos

significativos;· De compreender os diferentes estímulos e

sinais do meio que o envolve;· De se organizar, de compreender a lingua-

gem falada e de utilizar para comunicar, bem como relacionar-se com os outros.

¹ Uril – jogo tradicional, que possibilita a con-tagem, estratégia de resolução problemas, para além do prazer do jogo.

² Fitche facthe – jogo tradicional, que desen-volve a atenção concen-tração, capacidade de raciocínio.

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

plano 3a inclusão de alunos com dificiência mental, no ensino regular, através da prática de atividades de expressão artística, o caso de uma criança com síndrome de down Margarida Barnabé Lima Brito MartinsIvette Henriques Silva MedinaProfessora: Carmen Rosane Segatto e SouzaTutora: Rosângela Aparecida Ceregati Costa

Este trabalho insere-se no âmbito do curso de formação de professores para o atendimento educacional especial promovido pela Secreta-ria de Educação Especial do Brasil. O Plano de Ação Pedagógica tem como propósito, observar o comportamento de uma criança com Síndro-me de Down numa turma regular do Ensino Básico durante as atividades de Expressão Musical e Expressão Plástica para verificar o seu desenvolvimento a nível cognitivo, motor, social e afetivo.

A escolha do tema “A Inclusão de alunos com deficiência mental no ensino regular através de prática de actividades de expressão artística, o caso de uma criança com Síndrome e Down” advém de uma reflexão conjunta sobre a pro-

resultados esperadosa curto prazoEspera-se com a implementação da sala multi-funcional que os alunos com deficiência mental, em curto prazo consigam sair da letargia que têm sido submetidos, com a ausência de acti-vidades académicas. Que venham a ter opor-tunidade de participar ativa e interactivamente, como qualquer outro aluno. a longo prazoEspera-se em longo prazo que, não seja neces-sário deslocar os alunos para outro espaço para aprendizagem. Que se mantenham na escolar regular e que a sala multifuncional, seja apenas um espaço de reflexão conjunta dos diferentes técnicas, sobre a educação especial, onde cada um contribuirá com o seu saber para a aprendizagem efetiva destes alunos. Só assim se poderá falar em inclusão.

recursos humanosConstituído, por técnicos das áreas específicas de intervenção, em função das deficiências (psicólogos, pedagogos, assistente social, te-rapeuta ocupacional, professores de apoio especializado nas áreas da cegueira e surdez); Um professor para as áreas de educação e expressão físico-motora, expressão plástica e expressão musical (em regime de voluntariado).

constituição de turmas A constituição das turmas será feita em função da localização dos alunos, nas áreas pedagó-gicas de intervenção dos técnicos da sala de recursos (Zonas a, b, c, e d), bem como dos recursos humanos disponíveis.

localização e organização do espaçoA Sala de Apoio Multifuncional ficará sede-ada numa das salas destinadas à equipa da Sala de Recursos, na Escola António Aurélio Gonçalves.

O espaço será organizado, de modo a pos-sibilitar realização de atividades individuais e grupais, rotativas, de lazer (espaço para brin-car) e um atendimento mais individualizado.

Na possibilidade de vir a receber crianças autistas, o espaço deverá ser estruturado a semelhança das salas Teacch, o que benefi-ciará também, crianças com outros handicaps, com organização visual do horário, de áreas de transição das actividades, organização de material e outros.

horáriosOs alunos deslocar-se-ão duas vezes por semana a Sala Multifuncional, no período contrário de le-cionação, estando sujeita a alterações em função de constrangimentos não previsto no momento.

atividadesAs atividades a desenvolver devem ser de en-riquecimento e complemento curricular, abran-gendo áreas de: Expressão dramática; Natação; Música; Dança; Jogos tradicionais; Exposição trabalhos; Conhecimento científico (Experiên-cias e Verificação de fenómenos naturais).

Na realização das atividades deve-se ter em conta as dificuldades específicas de cada criança, a formação dos grupos heterogéneos, bem como a possibilidade escolha dos alunos das tarefas a realizar.54 55

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

blemática das crianças com deficiência mental colocadas na sala de aula, sem que lhe sejam garantidas as mínimas condições favoráveis para o desenvolvimento da sua aprendizagem. De igual modo nesta escolha está subjacente a nossa convicção de que a música e a plástica ocupam um lugar de destaque no processo ensino/aprendizagem de todas as crianças com deficiência e sem deficiência, pelos be-nefícios que traz a nível cognitivo, sensorial motor social e afectivo.

Durante as visitas para a observação do estágio de prática pedagógica dos alunos do Curso de Formação de Professores, ficamos sensibilizadas com o problema que uma das nossas estratégias enfrentava com uma criança com Síndrome de Down relativamente às suas dificuldades de aprendizagem. Diversas vezes sentimos um certo embaraço perante as tenta-tivas realizadas por esta estagiária com poucos ou quase nenhum resultado. Por acreditarmos nos benefícios de uma educação através de actividades expressivas, pretendemos desen-volver uma série de actividades ao longo de três meses com sessões de 60mn aproximadamente numa escola do Ensino Básico.

nomeadamente a professora da classe, os co-legas, o gestor da escola e os coordenadores e também aos familiares, para recolher infor-mações sobre a forma como a criança interage nesses diferentes cenários.

Outra forma de conhecer a criança é observá-la durante atividades na escola, dentro e fora da sala de aula para verificar como ela interage com os colegas e com os outros elementos da comunidade escolar.

A entrevista dirigida à professora da classe no início tem como objetivo, recolher dados ine-rentes aos conteúdos trabalhados em nível da música e da plástica, às estratégias utilizadas, às dificuldades encontradas e a sua percepção sobre essas disciplinas.

Os questionários dirigidos aos gestores e co-ordenadores pedagógicos, têm como intenção, recolher dados relativamente às estruturas da escola, ao tipo de ensino praticado, recursos existentes para as aulas de educação musical.

Quanto aos questionários aplicados aos alu-nos, sem nees, o objetivo é de recolher informa-ções relativamente ao grau de interesse deles e a forma como eles reagem perante as atividades propostas em cooperação com os outros colegas.

anos de idade portadora de Síndrome de Down. A escola fica situada numa das zonas da perife-

ria da cidade do Mindelo. A comunidade em que a escola está inserida apresenta alguns problemas socio-económicos, composta por uma população jovem com uma grande taxa de desemprego que acarreta diversos problemas sociais.

Entretanto, não obstante todos estes pro-blemas é uma comunidade muito participativa na vida da escola. Atualmente tem registrado alguma melhoria. É uma comunidade interven-tiva que ajuda manutenção e conservação, da escola, servindo esta muitas vezes de palco para a realização de eventos desportivos, cul-turais e recreativos da comunidade.

A turma é composta por vinte e quatro alunos com idades compreendidas entre os oito e os doze anos, sendo treze do sexo feminino e onze do sexo masculino.

materiaisA implementação deste plano passa neces-sariamente por um conhecimento mais sig-nificativo da criança em questão. Para tal, pretendemos fazer entrevistas e questionários a alguns elementos da comunidade educativa

objetivosobjetivo geral

· Lançar um novo olhar sobre a importância das atividades artísticas como parceiras na inclusão de crianças com deficiência mental no ensino regular.

objetivos específicos· Realizar atividades que contribuam para o

desenvolvimento do processo ensino/apren-dizagem da criança com Síndrome de Down. · Realizar atividades que facilitem a aprendi-

zagem cooperativa, a aceitação e o respeito pela diferença.· Observar o comportamento da criança na

interacção com os outros, durante as activida-des propostas.· Verificar o desenvolvimento da criança em ní-

vel da coordenação motora, da acuidade auditiva, da concentração, da linguagem e da fala, através de uma metodologia activa de carácter lúdico.

metodologiapúblico-alvoO plano vai ser implementado numa turma do 2º Ano do Ensino Básico com u ma criança de nove 56 57

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

Para fundamentar este plano, apoiaremos nalguma pesquisa bibliográfica e pesquisa na Internet concernente aos conceitos relacionados com a inclusão, a deficiência mental, e Síndrome de Down e faremos alguma referência à legisla-ção cabo-verdiana relativamente à integração de crianças com deficiência no ensino regular.

Existe um grande manancial, de atividades lúdicas que bem explorados podem contribuir para a aprendizagem de conceitos nas dife-rentes áreas curriculares e contribuem gran-demente para o desenvolvimento das suas capacidades motoras e cognitivas.

Assim, de forma lúdica as crianças podem aprender: números, letras, cores, apropriar-se das noções de espaço e de tempo, da higiene, da cidadania, da preservação do ambiente, da solidariedade entre outros.

Por outro lado a pintura a modelagem recor-te e colagem e construções contribuem para desenvolver a destreza, o sentido estético, a criatividade e, sobretudo a concentração.

organizaçãoAs crianças serão organizadas em grupos hete-rogêneos e as actividades serão desenvolvidas

modo no seu término. Esta avaliação terá um caráter formativo.

resultados esperadosMelhor participação da criança nas atividades, melhoria da relação professor-aluno, aluno-professor, aluno-aluno, mais confiança por parte do professor no desenvolvimento das atividades com crianças com deficiência mental.

Esperamos ainda que a sua inclusão no am-biente escolar seja de fato uma realidade. Para, além disso, espera-se que ela adquira competên-cias de base em nível cognitivo motor e afetivo.

Esperamos também uma mudança de ati-tude do professor perante as disciplinas de expressão artística. Quanto à família, espe-ramos uma maior colaboração com a escola, para melhor conhecer as reais capacidades e potencialidades da criança.

benefícios As crianças com necessidades especiais sen-tem-se incluídas no universo escolar através da música.

Relativamente às crianças com desen-volvimento normal, um dos ganhos está na

tipos, cascalho, pedras, conchas entre outros.Para além dos materiais sonoros, utilizare-

mos gravações contendo sons do ambiente, dos animais, dos meios de transportes, di-versos sons do quotidiano da criança e fichas.

Como suporte aos elementos sonoros, ire-mos utilizar imagens coloridas e imagens a preto e branco.

As distintas atividades terão como finalidade a avaliação da capacidade de diferenciação auditiva da coordenação motora e a destreza da praxis fina, a atenção, a linguagem e a fala.

recursosA implementação deste plano irá passar ne-cessariamente não só pelo apoio de recursos materiais, mas também de recursos humanos.

Quanto aos recursos humanos para além dos familiares da criança, podermos contar com o apoio dos psicólogos, da equipa dos centros de recursos, dos coordenadores e dos assistentes sociais entre outros.

Para se ter o feedback desejado tendo em conta a sua continuidade ou a sua melhoria, a avaliação deste plano será feito ao longo das etapas da sua implementação e do mesmo

de forma a que em cooperação com os colegas, os alunos com dificuldades possam aprender.

Inicialmente iremos fazer uma avaliação diag-nóstica, em que a nossa observação estará focalizada na criança com Síndrome de Down, mas integrada num grupo.

Para o desenvolvimento das atividades va-mos utilizar vários materiais e fichas de acordo com as aprendizagens dos alunos.

implementaçãoDurante um período de três meses com sessões de 60 minutos, duas vezes por semana, serão desenvolvidas atividades na área artística, no-meadamente Expressão Plástica através do desenho, pintura modelação e construções e Expressão Musical através do ritmo e do timbre para o desenvolvimento do sentido rítmico e a discriminação e acuidade auditiva.

Serão utilizados diferentes objetos para as actividades das disciplinas de Expressão Musi-cal e de Expressão Plástica que servirão tanto como material sonoro como material plástico: latas de leite, embalagens de cartão, garrafas de plástico e de vidro de diferentes tamanhos, pregos, lixas, sacos de plásticos de diferentes 58 59

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

aquisição de valores tais como o respeito e a tolerância, desenvolve o espírito cooperativo e de companheirismo, em interacção com as crianças com deficiência mental.

A prática das expressões artísticas nas es-colas traz grandes vantagens para a criança com deficiência mental dado que entre muitos aspectos, para além de facultar melhorias em nível motor, cognitivo e afectivo, aumenta a sua percepção e acuidade auditivas. Acima de tudo facilita a sua integração social.

plano 4alfabetização de uma criança com paralisia cerebral: a transição entre a integração e a inclusão Neusa Brito e Zita GuerraProfessora: Carmen Rosane Segatto e SouzaTutora: Rosângela Aparecida Ceregati Costa

Nos dias de hoje a inclusão de alunos com deficiência nas escolas regulares constitui um processo que é irreversível. Como se encontra descrito na literatura actual relacionada com o tema, cada um dos grupos que compõem os alunos com Necessidades Educativas Especiais merece uma atenção especial e especializada,

tas da ufsm, o que no futuro permitirá uma maior segurança de replicação aos restantes casos, respeitando as particularidades de cada um. Propomo-nos assim desenvolver um Plano de Acção Pedagógica que tem por base a filosofia da escola inclusiva.

objetivosobjetivo geral

· Criar as condições necessárias para alfabeti-zar um aluno com paralisia cerebral, já integrado no sistema educativo.

objetivos específicos· Colaborar com a escola para melhorar a

acessibilidade física; proporcionar as adap-tações necessárias a uma postura funcional em sala de aula; definir os objectivos curricu-lares e as técnicas de ensino para o aluno na perspectiva inclusiva e, elaborar os materiais pedagógicos adequados. · Todo o plano a ser desenvolvido deverá se-

guir a estratégia da abordagem colaborativa entre os técnicos especializados e o professor regular, envolvendo igualmente a mãe e a gestora da escola.

nas actividades manipulativas e de acesso à informação e conhecimento.

Além do conjunto de recursos necessários no âmbito das Tecnologias Assistivas, como acabamos de enumerar, há ainda a considerar a necessidade em proporcionar informação e orientação à família/cuidadores, a par de acções de capacitação dos professores e auxiliares, pois se verifica ainda a existência de alguns mitos e preconceitos relativamente às crianças com esta condição de saúde.

Posto isto, pretendemos focalizar a nossa atenção sobre o caso particular de um aluno com diagnóstico de Paralisia Cerebral. Ele não acompanha a turma, quanto aos conteúdos do currículo e a escola não dispõe, até ao momento, de qualquer adaptação específica, em nenhuma área. O desafio da professora regular tem sido enorme e a situação carece do Atendimento Educacional Especializado.

Em condições semelhantes existem, neste ano lectivo e na nossa comunidade escolar, cerca de 10 crianças. A opção de nos dedi-carmos apenas a um aluno vai permitir a elaboração de um plano concreto e objectivo, com a orientação de um corpo de especialis-

contendo em si atitudes e estratégias que, em última análise, podem beneficiar a generalida-de dos alunos, por aumentarem a capacida-de de atendimento pedagógico, no respeito pela diversidade dos alunos. São métodos e estratégias que constituem assim, recursos que atribuem aos professores/educadores, uma maior variedade de técnicas educativas e pressupõem uma acção de cooperação entre a comunidade educativa.

Os alunos com deficiência física e moto-ra são, muito provavelmente, aqueles que apresentam maior dificuldade em termos da sua inclusão, devido ao conjunto de recursos e conhecimentos a que obrigam. A dificul-dade é tanto maior quanto mais grave for o compromisso motor. Isto porque, para além dos recursos didácticos que são imprescin-díveis, à semelhança de outras situações como a deficiência mental, têm igualmente necessidade que se proceda à eliminação das barreiras arquitectónicas e de dispor de equipamentos especiais, com vista a uma boa postura, respeitando a integridade física do aluno, bem como de outros que vêm facilitar o desempenho escolar do aluno, nomeadamente 60 61

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

metodologiaCaracterização do caso: criança com 9 anos de idade, filho único de um casal que por cir-cunstâncias da vida tem vivido separado, mas apenas em termos geográficos. O J. foi muito desejado pela mãe, a gravidez foi acompanhada e desde cedo revelou problemas, que podiam justificar até a interrupção, se fosse a vonta-de da mãe. Ela optou por enfrentar todos os sacrifícios e longos períodos de internamento, lutando para que seu filho pudesse nascer o que veio a acontecer a 29 de Setembro de 2000.

Com 18 meses acompanhou a mãe para o Bra-sil, pois ela obteve uma bolsa para a realização dos seus estudos superiores e permaneceram lá até aos 6 anos de idade do J. Durante esse tempo ele teve um enquadramento institucional, com diversos apoios terapêuticos e educativos, num sistema de ensino cooperativo, de acordo com as informações dadas pela mãe, dado que não temos qualquer relatório desse período.

Já com 6 anos o J. e a mãe regressam para Cabo Verde. Ingressa na escola da sua zona de residência em Janeiro de 2007, numa turma do 1º ano, de 23 alunos, que continua a acompanhar e, portanto já vai na frequência do 3º ano de

plano de intervençãoorganizaçãoAvaliação postural, funcional e académica do aluno.

Definição das adaptações necessárias para: a. uma postura correcta e funcional (modifica-ções do mobiliário); b. o desempenho escolar do aluno (materiais didáctico-pedagógicos e recursos da informática).

Mobilização de apoios para a obtenção dos recursos e adaptações definidos. Implemen-tação e treino, com o aluno, o professor do regular e a mãe, nas novas adaptações, para o seu uso regular em contexto real de apren-dizagem – a sala de aula.

O processo de avaliação envolve toda a equi-pa, em que a psicóloga se concentra essencial-mente nos processos cognitivos, a terapeuta ocupacional nas questões posturais, da fun-cionalidade e adaptações, as professoras nas questões académica e de currículo. As acções vão sendo desenvolvidas entre o contexto de sala de aula e da sala de recursos. A articulação e cooperação entre todos os intervenientes, desse processo, decorre de forma natural, em encontros formais e informais.

nicas, à desadequação do pavimento, dentro e fora da escola e a ausência das tas que lhe são apropriadas, resultam numa situação de dependência, em todas as suas acções motoras, com excepção da fala.

Ao fim desses três anos de frequência, o João consegue apenas identificar as letras isoladas, mas não lê sílabas, conta, mas não tem domí-nio das operações simples, por exemplo, para juntar. Sem estas aquisições básicas, dificil-mente desenvolve conhecimento nas três áreas nucleares do Currículo – Língua Portuguesa, Matemática e Ciências Integradas, bem como o potencial que acreditamos existir nele. Para além dos aspectos referidos destacamos, ao nível das suas funções mentais, a dificuldade em manter a atenção nas tarefas educativas.

As deslocações entre a casa e a escola são feitas em cadeira de rodas. Dentro da sala faz pequenos percursos pelo seu pé. No início do ano teve uma pessoa, paga pela mãe, para lhe dar a refeição do intervalo e actualmente é a mãe que se desloca à escola para o fazer e acompanhar o J., em qualquer necessidade. Para se deslocar à casa-de-banho, se a mãe não está, é acompanhado por uma funcionária da escola.

escolaridade, mas sem um programa ajustado às suas características.

Em termos de socialização está perfeitamente integrado no grupo e na escola, mas em termos de aprendizagem não fez progressos. Sendo uma criança alegre e comunicativa, conquistou o seu espaço através do humor e, actualmente, altera o seu comportamento em grupo, não se tem revelado uma tarefa nada fácil, que vai exigir especial atenção na selecção das activi-dades educativas, de forma a captar e manter a sua atenção e interesse.

Dentro dos vários tipos de paralisia cerebral o J. apresenta um quadro de tetraparésia es-pástica, embora não seja de um grau severo. Os membros mais afectados são os inferiores e o superior direito. As funções em déficit com maior visibilidade são a locomoção, a postura e a actividade bilateral conjugada das mãos. A ausência de um programa de reabilitação evi-dencia os padrões de movimento patológicos, que inibem e limitam os padrões de movimen-to normais. A persistência do Reflexo Tónico Cervical Assimétrico prejudica a actividade manual, dentro do seu campo de visão. Estes factores associados às barreiras arquitectó-62 63

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

Pensamos utilizar temas dentro dos universos importantes para ele, como sejam: casa, escola, família, amigos, jogo. Diversos materiais serão construídos e experimentados para as aquisições em nível da leitura e da escrita, com o objectivo de definirmos os métodos que lhe são mais favo-ráveis e a que ele adere melhor. Em anexo apre-sentamos uma proposta concreta de actividades.

Na sequência desta fase de avaliação/inter-venção e quanto à questão das aprendizagens, será a partir dos currículos do 1º, 2º e 3º ano de escolaridade, em paralelo com os planos elaborados pela professora regular e conhe-cimentos. Entretanto, identificados e adquiri-dos pelo aluno, que pretendemos seleccionar os objetivos e conteúdos programáticos para serem trabalhados. Os mesmos irão integrar a planificação habitual da professora.

A implementação do plano de acção irá obrigar a reavaliações sistemáticas e a con-sequentes ajustes.

recursosOs recursos humanos existentes dividem-se entre a intervenção direta e o apoio de recta-guarda. Para a primeira, a equipa é formada pela

determinada cultura e não deficiente em outra, de acordo com a capacidade dessa pessoa em satisfazer as necessidades dessa cultura. Hitler, por exemplo, não poupava qualquer um que, no seu entender era deficiente mental, e que constituía um empecilho para as suas preten-sões em dominar a Europa, vingando a derrota e ao vexame sofrido na 1ª Grande Guerra e no Tratado de Versalhes respectivamente.

Ao que se pode constatar, o conceito de deficiência constitui, por conseguinte um as-sunto muito discutido entre os entendidos na matéria. Ao que parece a própria definição da Organização Mundial da Saúde sobre deficiên-cia é contestada (deficiência como ausência ou disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatómica).

No entanto, o problema mais importante do nosso cotidiano, não é, creio eu, o debate sobre o conceito de deficiência, mas sim, a descoberta das suas origens, conhecimentos das suas manifestações e, em contrapartida saber como lidar com ela(s).

Um dos problemas mais actuais da educação é o de inclusão na escola de crianças portadoras de deficiência. Essa luta vem ganhando força

lectivo, como mais um aluno da sua turma, embora diferente e com necessidades próprias.· Obter um caso de sucesso que seja demons-

trativo e incentivador para os restantes casos. Neste sentido, consideramos que os benefi-

ciados diretos com o presente plano pedagógico são: os próprios autores; o aluno; o professor e os pais do aluno. Como beneficiados indiretos temos toda a nossa comunidade educativa, na medida em que esta experiência poderá ser referência na inclusão efectiva de alunos com deficiência física e motora.

plano 5atendimento educacional especializado para alunos com deficiência mentalJosé Silvestre Freire TavaresProfessora: Sílvia Maria de Oliveira PavãoTutora: Patrícia Revelante

A deficiência é se calhar um fenómeno milenar, encarada de forma diferente em sociedades diferentes. Não é apenas um fenómeno con-temporâneo, nem se calhar deixará de existir no mundo. Conforme alguém disse, uma pes-soa pode ser considerada deficiente em uma

professora do regular, uma professora em fase de especialização, a terapeuta ocupacional, a psicóloga e a mãe. Como suporte, existe toda a equipa da Sala de Recursos, nas áreas de pedagogia e sociologia.

Os recursos materiais são o nosso maior constrangimento, pois não dispomos de meios financeiros para a respectiva aquisição, nem dos materiais que nos permitem confeccionar, como o velcro, material emborrachado, magnético, fundo de maneio para impressões a cores em número suficiente. Não obstante, acreditamos que se vão conseguir reunir um conjunto de boas vontades para o mais essencial.

resultados esperados· Ser impulsionadores da cooperação entre os

professores da escola e a direção.· Acionar alguns mecanismos sobre a aquisição

ou obtenção das tas necessárias ou possíveis.· Cumprir com o objetivo geral, contribuindo

para a aprendizagem efetiva e a autoestima do aluno.· Valorizar e capacitar a professora regular, no

sentido da mesma se sentir capaz de dar conti-nuidade ao ensino do João, durante o período 64 65

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

ao longo dos tempos e advém, em parte, da tomada de consciência social e política, mas também da nova mentalidade em relação a este flagelo que tem privado números de pessoas sem conta de suas liberdades e seus direitos ao longo da história da humanidade.

Do que pude compreender das leituras que fiz, o conceito ganhou maior maturidade a partir de 1994 com a Declaração de Salamanca, sob o signo de que nenhuma criança deve ser separada das demais por apresentar alguma diferença ou necessidade especial. Acrescenta-se ainda que, a convenção da deficiência foi celebrada no acordo de 25 de Agosto de 2006 em Nova York por diversos Estados em uma Convenção preliminar das Nações Unidas sobre os direitos das pessoas com deficiência, o que realça no artigo 24 a educação inclusiva como direito de todos.

Ora, se a convenção das Nações Unidas defi-ne a educação inclusiva como direito de todos, significa que todos temos que nos engajar na busca de integração dos que estão excluídos, o que para tanto exige de nós um conhecimento aprimorado dos diversos tipos de deficiência. É o que tivemos privilégio de estudar, nos vários

para as estruturas do ensino. Não são coloca-das na escola sob o protesto de que são tolas, tuba bus, idiotas e demais outras conotações a este respeito interiorizadas pelas famílias ou pela comunidade.

Não estou a recuar muito no tempo para fazer essas declarações. São questões muito actuais que ainda precisam ser entendidas e levadas a sério. O que ainda é mais chocante é, quando em certos casos, ensinam-se lhes dizer palavras obscenas que as aprendem com maior ou menor facilidade e quando adoles-centes e jovens não se lhes aturam por causa desta contaminação.

Observa-se ainda que mesmo em algumas salas de aulas, o professor orientador trata o aluno por doido (entre nós: – cabeça ca bali, ca pronto ou tolobasco e outras conotações afins), sem um conhecimento prévio do aluno, sem uma abordagem à família do aluno para começar a conhecer os meandros da questão e agir em conformidade.

Pois bem, eu escolhi este módulo consciente de que ele merece ser estudado mais a fundo, uma vez que as manifestações de deficiência mental e a sua identificação vêm se calhar

sala de recursos, que em estreita colaboração deverão procurar estratégias conjuntas para que a aprendizagem se efective.

A terceira unidade discute sobre a preparação de materiais e actividades específicas para o de-senvolvimento da participação e aprendizagem de todos os alunos,em que se põe grande tónica no planeamento como primeiro passo para o su-cesso, tendo em conta os passos característicos do processo em causa – o planeamento.

Francamente que todos os demais módulos me comoveram e constituíram já, uma mais-valia para mim enquanto professor formador e não só.

Ao longo das leituras desses módulos me dá a sensação de que muitos destes conteú-dos, (refiro-me aos atendimentos de certas deficiências), estão fora, do imaginário de muitas pessoas. Aliás, as minhas constata-ções e experiências me têm revelado as formas como as crianças com deficiência mental e não só, são tratadas, mesmo por individua-lidades ou por pessoas ditas com certo nível de responsabilidade.

À partida, em algumas famílias ou comuni-dades são-lhes rejeitados, não diria o direito à instrução, mas dá na mesma, não são enviadas

módulos do Curso de aee de que dispomos. Po-rém, a nossa incumbência enquanto formando, coube-nos escolher um de entre os seis módulos estudados durante o curso de formação em Atendimento Educacional Especializado para Alunos com Necessidades Educativas Especiais. Assim, a nossa abordagem centrar-se-á parti-cularmente sobre o módulo do Atendimento Educacional Especializado para Alunos com Deficiência Mental.

Este módulo é composto por três unidades: a primeira fala de Actividades para o desenvolvi-mento dos processos mentais dos alunos. Aqui se procura compreender quem são na realidade esses alunos e como eles aprendem. Busca-se desenvolver algumas práticas que visam a reabilitação do indivíduo com deficiência, para que o mesmo pudesse ser reintegrado à sociedade tendo sido levado ao cabo um conjunto de abordagens e discussões teóricas e propostas integrativas.

A segunda unidade do módulo trata do de-senvolvimento da autonomia e de interacção em ambientes sociais valorizando as diferenças e não a discriminação; Destaca-se a importância do papel dos professores da sala comum e da 66 67

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

tarde demais. Isso me leva a querer ter um conhecimento mais aprofundado sem, porém negligenciar os demais.

objetivo geral· Proporcionar conhecimento sobre inclusão

(atendimento educacional especializado) a uma realidade educacional.

metodologiaO projecto que ora se elabora, tem como públi-co-alvo: alunos, professores, pais e encarrega-dos de educação, e demais pessoas afectas ao pólo educativo nº 9 de Rincão - Santa Catarina.

Escolhemos essa escola porque, pelos meus conhecimentos, situa-se numa zona onde a pobreza se denota a olhos nus, as condições socioeconômicas das famílias são muito baixas, e existem várias famílias que vivem no limiar da pobreza. Por outro lado, a tendência é para se nomear professores com menores prestações ou com menor formação académica e profissional, embora se note nos últimos anos tendência para se reverter a situação neste particular. É ainda notório que um número grande de famílias tem pouca sensibilidade em relação ao ensino

resultados esperadosO processo de inclusão não visa apenas uma melhoria de educação, ensino ou instrução de alunos com necessidade educativa especial, ou seja, os que supostamente se podem ver ou observar ou então, os cujos comportamentos ditos. Numa grande franja de alunos não se detecta deficiências orgânicas por muito tempo ou essas se manifestam tardiamente. Uma vez que a inclusão utiliza vários métodos, várias estratégias e diversidades de recursos de aprendizagem as acções pedagógicas não se resumem, portanto a alunos restritos. Muitos métodos pedagógicos podem ser generaliza-dos a todas as crianças saudáveis.

É por isso que, agilizaremos em ter como beneficiários directos ou indirectos, todos os alunos da referida escola, os professores que terão possibilidade de conhecer diversos processos de lidar com alunos com nee e enfim à comunidade inteira dessa aldeia piscatória de Rincão.

exclusão e inclusão, o papel de cada um no processo, no âmbito das nee, enfim seria uma forma de preparação do terreno para a cultura.

Para melhor eficiência e eficácia na imple-mentação do projecto seria interessante a elaboração de uma espécie de guião de obser-vação que seria distribuído aos professores e seria uma sorte de instrumento de apoio, que lhes ajudam na identificação de certos compor-tamentos dos alunos em situação de classe e fora dela. Entendemos que isso levaria o pro-fessor a seguir mais de perto os seus alunos e quiçá fornecer-lhes alguns elementos novos, que lhes possibilitarão diversificar estratégias e metodologias de sucesso no processo de ensino/aprendizagem tendo também em conta a vertente em estudo.

Na elaboração do tal guião contaremos com vários especialistas nos domínios da psico-logia, sociologia, pedagogia e outras com experiências diversas.

Atendendo que um projecto desta natureza exigirá recursos materiais e financeiros para além dos humanos já apontados, seria mais uma tarefa nossa que decorrerá ao longo de todo o processo.

formal dos seus filhos. Muitos preferem ocupar lhes na faina marítima ou na extracção de iner-tes à escola. Por conseguinte as condições são propícias para o abandono escolar dos alunos. Escapa-lhes sobremaneira muitas informações, muitos outros bens e serviços no plano práti-co. Daí que o nosso projecto não se trata de

“projecto por projecto”, mas sim um projecto que num futuro próximo, venha a ser realidade.

Tendo em conta que é um projecto de âmbi-to escolar, tem que obedecer a determinadas formalidades. Assim um primeiro passo seria a socialização da ideia com as representações concelhias do Ministério da Educação. Teremos uma primeira abordagem com o delegado do Ministério no concelho e de seguida com o ges-tor do pólo educativo beneficiário. Um segundo passo seria um encontro mais alargado, com participação dos professores e o conselho do pólo, no sentido de pormenorizar as ideias do projecto, recolher subsídio e verificar o grau de aceitação, adesão e apoio ao projecto. A acompanhar isto, se calhar seria importante a realização de algumas acções de formação ou quanto mais seja simpósios relativos aos diferentes tipos de deficiência, o conceito de 68 69

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

plano 6surdez: inclusão na sala regularCatarina Furtado FernandesProfessora: Sílvia Maria de Oliveira PavãoTutora: Patrícia Revelante

No âmbito da formação á distância com mec do Brasil através da Universidade Federal de Santa Maria, foi nos proposto a realização de um plano de acção pedagógica, escolhendo uma das temáticas estudadas, realçando uma deficiência em particular e as formas de inter-venção pretendida.

A deficiência que eu escolhi é a surdez, uma vez que há uma grande polémica se os surdos devem ou não ser incluídos numa sala regular.

Escolhi esse tema porque em Cabo Verde encontram-se poucos surdos nas escolas, ou-tros por mero preconceito dos pais e outros por não conseguirem acompanhar a escola.

objetivosobjetivo geral

· Verificar se os surdos que se encontram nas salas regulares estão a ser incluídos ou integrados.

49829 habitantes (Censo 2000), sendo metade desta, estudantes (aproximadamente 20 mil).

Assomada, a capital do concelho, tornou-se uma cidade centro e, portanto, apetrechada com infraestruturas necessárias para a população local e dos arredores: hospital, escolas básicas, Liceu, pequenos comércios, mercado, farmácias, clínicas, jardins de Infância, museus.

De facto, a cidade de Assomada, desde sem-pre impulsionou todos os sectores necessários para o seu funcionamento como cidade-centro, nomeadamente a Educação.

Presentemente, a Delegação do Ministério da Educação e Ensino Superior–mees de San-ta Catarina (sedeada em Assomada), além de apostar em todos os níveis de ensino, tem vindo a promover e sensibilizar a população para a importância da Educação de Infância (mais especificamente, o pré-escolar) para o desen-volvimento da criança (e consequentemente, para o desenvolvimento da sociedade).

cronogramaEste plano tem a duração de um semestre. Actividade 1 — levantamentos dos dados das crianças e do seu historial de saúde;

Antão, S. Vicente, Santa Luzia, S. Nicolau, Sal e Boavista e Sotavento, formado pelas ilhas de Maio, Santiago, Fogo e Brava.

Relativamente à política e administração deste arquipélago, Cabo Verde ascendeu à independência em 1975 sob o governo do Par-tido Africano para a Independência da Guiné e do Cabo Verde (paigc) até 1991, altura em que, com a realização das primeiras eleições livres, passou a vigorar um regime parlamentar e um sistema pluripartidário.

Nas últimas eleições (2001), o Partido Africa-no para a Independência de Cabo verde (paigc) ganhou com maioria partidária, constituindo 40 lugares na Assembleia Nacional.São 22 conce-lhos: nove em Santiago, três em Santo Antão, três no Fogo e uma em cada uma das outras ilhas. Todos estes municípios têm poder autó-nomo, conferido pela Constituição da República. Deste modo e presentemente, cada concelho desempenha um papel cada vez mais circuns-crito à sua realidade e desenvolvimento local.

O concelho de Santa Catarina é um dos maio-res dos nove concelhos existentes na Ilha de Santiago. O concelho situa-se no centro da ilha e tem uma superfície de 244 km2 e população de

objetivos específicos· Descrever um dia de aula numa sala regular

com existência de alunos surdos.· Averiguar o atendimento dado aos surdos

pelos professores (comunicação).· Avaliar um aluno surdo tendo em conta o seu

acompanhamento e aproveitamento.

metodologiaQuanto a metodologia serão realizadas pes-quisas, na Internet e bibliotecas para melhor compreender a deficiência em estudo. Também recorreremos a depoimentos de pais e profes-sores, funcionários gestores e coordenadores pedagógicos para área das nee.

público-alvoTrês escolas do ensino básico do concelho de Santa Catarina com alunos surdos.

descrição do contexto Cabo Verde, situado no Oceano Atlântico, é um arquipélago constituído por dez ilhas dispostas em dois grupos (em função do seu posiciona-mento em relação aos ventos dominantes): Barlavento, constituído pelas ilhas de Santo 70 71

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

Actividade 2 — identificação das necessidades de cada uma das crianças;Actividade 3 — procurar apoio em termos de consultas médicas ou outras;Actividade 4 — assistência das aulas por mim e pela coordenadora da neeno concelho, Pela técni-ca da língua gestual, nas salas que tem crianças surdas, essa actividades será repetida três vezes por cada mês, ou mais se houver necessidade;Actividade 5 — juntar as crianças surdas das várias escolas e da associação aadicd que já tem alguma comunicação entre si;Actividade 6 — avaliar se as crianças surdas estão a acompanhar o conteúdo;Actividade 7 — recolha de depoimentos dos professores e dos pais sobre a dificuldade que tem em trabalhar e apoiar as crianças surdas e quais apoios tem recebido;Actividade 8 — análise dos dados;Actividade 9 — avaliação do plano de acção.

recursos Pais professores, coordenadores do ensino básico, técnicos da educação especial, uma técnica do Ministério da Educação e Ensino Superior–mees com conhecimentos de língua

Este pap terá em conta a avaliação da lingua-gem oral utilizada pelas crianças e propostas de actividades para o desenvolvimento da lingua-gem de forma correcta e de uso na comunicação. Assim, sugerimos o seguinte plano de avaliação da linguagem oral:

perfil do desenvolvimento e erros detectados:· O professor fará um elenco de perguntas para

poder detectar possíveis erros das crianças em nível de: discriminação auditiva, fonologia, sintaxe, semântica e o desenvolvimento geral;· Aponta os erros observados em cada nível;· Faz observações para cada erro.

forma de trabalhar os erros detectados:· Discriminação auditiva de fonemas, atra-

vés da escuta e da pronúncia efectuada pelas crianças, ajudando-as na pronúncia correcta;· Aspectos fonológicos. Levar as crianças a pro-

nunciarem de forma correcta palavras escutadas;· Aspectos sintácticos. Fazer com que as crianças

tenham uma memória verbal de frases e façam composições de frases e descrição de acções;

isto aconteça deverá haver legislação para a implementação de um sistema que permita a inclusão, financiamento que garanta recursos humanos e materiais necessários, apoio que permita às escolas alternativas de formação de acordo com a filosofia da inclusão.

A escola deve fazer uma planificação que per-mita uma relação saudável entre o professor e os alunos com nee e entre esses e os demais colegas. O professor deve ter sensibilidade e flexibilidade, além da formação para auxiliar essas crianças e adolescentes, de forma a pôr em prática o princípio da inclusão cujo objectivo é igualdade de oportunidade. Neste âmbito, como é que a ajuda de profissionais e estimulação no ambiente familiar e acções pedagógicas devida-mente planificadas podem ajudar a criança com síndrome de Down a comunicar-se com um bom vocabulário e articulação adequada das palavras?

Assim, propomos a implementação de um Plano de Acção Pedagógica (pap) com a fina-lidade de escolher actividades que apoiem a criança com síndrome de Down a interagir com o processo educativo de forma a realizar a aprendizagem e a interagir com as crianças ditas normais de forma regular.

gestual e alguns alunos surdos da Associação de Apoio ao Desenvolvimento e à Integração da Criança Deficiente (aadicd), e médicos octori-nos e meios financeiros para as deslocações.

resultados esperadosCom esse projecto pretende que as crianças surdas consigam adaptar-se e aprender nas escolas e que os professores tenham a mínima forma para lidar com essas crianças e consigam entender a língua gestual para comunicar-se com as crianças surdas.

plano 7crianças com síndrome de downJúlia Ramos Melício PereiraProfessora: Sandra Suzana Maximowitz SilvaTutora: Cristiane Griebeler

A inclusão de crianças com nee é uma realidade no mundo de hoje. A inclusão significa atender os alunos com NEE de forma correcta e ade-quada às suas limitações. Um dos princípios da inclusão é o de abranger a prestação de serviços educacionais apropriados que aten-dam as necessidades de cada um, contando com o apoio apropriado para esse fim. Para que 72 73

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

· Aspectos semânticos. Através de actividades da descoberta do significado e de perguntas de interpretação de textos.

sínteses e conclusões das atividades desenvolvidas:· Propostas de soluções, através de actividades

lúdicas para o desenvolvimento da linguagem oral;· Desenvolvimento das actividades propostas;· Apreciação crítica dos resultados obtidos.

conclusões geraisFornecer às famílias dicas e instrumentos para melhor comunicar com as crianças com síndrome de Down;

Propor aos profissionais da educação elemen-tos que os ajudem a trabalhar com crianças com síndrome de Down, no sentido de estimular o seu desenvolvimento;

Propor soluções para ajudar as crianças com síndrome de Down a melhorar o seu desempe-nho na utilização da linguagem.

Tendo em conta os estudos que se vem desen-volvendo sobre a síndrome de Down e as ques-tões que se levantam e as nossas expectativas, definimos como objectivos do presente trabalho:

são adequadas para o uso da linguagem na comunicação.· Verificar se a ampliação de actividades lúdicas

que versam sobre o uso da linguagem maxi-mizam o desenvolvimento da linguagem oral.· Analisar quais as actividades que oferecem

menor dificuldades e quais mostram maiores dificuldades, no sentido de propor acções que levam ao desenvolvimento – da linguagem oral e à comunicação em geral. · Verificar se actividades planificadas, tendo

em conta o grau de deficiência da criança com síndrome de Down, ajuda-a a desenvolver as capacidades de auto-regulação e de linguagem. Também, se a prática sistemática dessas activi-dades ajuda as crianças a terem mais segurança e a interagirem socialmente com mais confiança nas pessoas que as cercam.

O que se preconiza é que os alunos efectuam uma aprendizagem crescente de acordo com as suas possibilidades e as ajudas necessárias para o uso adequado da língua, tendo em conta o grau de deficiência de cada grupo escolhido.

sala de aula e realizámos uma investigação bibliográfica sobre as teorias, técnicas para crianças com deficiências e enveredámos para a utilização e uso da linguagem oral. Nessa óptica, seguiremos os seguintes passos me-todológicos:· Selecção de um grupo de crianças com síndro-

me de Down para desenvolver o nosso estudo;· Recolha de dados durante a assistência de

actividades com as crianças.· Descrição dos dados recolhidos;· Análise dos dados;· Identificação de problemas;· Desenvolvimento de actividades que propor-

cionem o desenvolvimento da linguagem oral;· Propostas e sugestões de soluções para os

problemas encontrados.Participarão neste estudo 12 crianças com

síndrome de Down com idade cronológica com-preendida entre 5 –8 anos, sendo seis do nível de muita dificuldade de compreensão e seis no nível de pouca dificuldade.

resultados esperados· Verificar se as actividades desenvolvidas

em crianças portadoras de síndrome de Down

objetivosobjetivo geral

· Propor acções que apoiam os profissionais da educação no processo educativo de crianças com síndrome de Down, no sentido de estimular o seu desenvolvimento integral, tendo em conta os aspectos cognitivo, afectivo e intelectual.

objetivos específicos· Propor acções que apoiam o trabalho com

crianças com síndrome de Down, no sentido de estimular o desenvolvimento da linguagem e a aumentar o seu vocabulário; · Detectar se há mudança de comportamento

verbal e não verbal, em crianças com síndrome de Down–sd, face às acções desenvolvidas;· Averiguar se acções específicas às crianças

com síndrome de Down ajudam a ampliar os seus conhecimentos e a desenvolver de forma harmoniosa a interacção social.

metodologiaCom a finalidade de encontrar respostas para o atendimento de crianças com sd, optámos por realizar um Plano de Acção Pedagógica para atender crianças com síndrome de Down em 74 75

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

plano 8proposta de um programa de formação para os professores do ensino básico cabo-verdiano na área de surdezPaulina da GraçaProfessora: Sandra Suzana Maximowitz SilvaTutora: Cristiane Griebeler

O presente trabalho surgiu no Âmbito do curso de Cristiane Griebeler Atendimento Educacional Especializado (aee) ministrado pelo Ministé-rio da Educação e Cultura (mec/Brasil) e pela Universidade Federal de Santa Maria (ufsm/Brasil). Consiste na apresentação ao Ministério de Educação e Ensino Superior de Cabo Verde uma proposta de um Programa de Formação de um Grupo de Professores do Ensino Básico de Cabo Verde na área da surdez e pretende-se contemplar professores pertencentes às áreas de abrangência dos Municípios de Santa Cata-rina, Santa Cruz, São Miguel e Tarrafal. Deverá decorrer no município de Santa Cruz onde foram já identificadas duas crianças e um adolescente surdo e por outro lado porque existe uma força viva na comunidade que é a disponibilidade de uma pessoa formada na área de Educação

Neste país, os problemas associados a edu-cação dos surdos estão relacionados com os seguintes factores: Deficiente informação da situação actual sobre a temática, Legislação insuficiente; Recursos insuficientes; Ausência de mecanismos de controle; Inexistência de base de dados; Poucos trabalhos e estudos sobre o tema; Falta de incentivo estatais na promoção da educação dos surdos.

No país, apesar dos esforços desenvolvi-dos pelo governo no sentido de responder às questões da Educação Especial e mais con-cretamente em nível da surdez, a situação mantém-se precária com implicações directas em nível da comunidade de surdos. Perante esta problemática da educação dos surdos, é evidente a necessidade de se promover e criar um programa de Formação para os professores do Ensino Básico promovendo igualdade de oportunidade e cumprindo os princípios da Educação para Todos.

A problemática da Educação dos surdos em Cabo Verde leva-nos a reflectir e analisar com mais acuidade a educação, a escola e os pro-fessores/ educadores. Para além das decisões políticas e econômicas das autoridades, os

Após o contacto com as entidades respon-sáveis pela Educação em Cabo Verde e mais concretamente com as Entidades responsá-veis pela Educação Especial, foi detectado que a área de educação dos surdos é uma área com muita carência no país quer em nível de recursos humanos, materiais bem como os recursos financeiros e que há pouca in-vestigação nesta área. Assim a promoção da Educação dos surdos está mais concentrado nos centros urbanos mais concretamente na cidade da Praia através da criação de duas turmas especiais para surdos onde actuam duas monitoras e uma coordenadora, dei-xando de lado as zonas distante dos centros urbanos.

Constituem directrizes prioritárias do nosso plano: sensibilizar, directamente a população das áreas de abrangência referidas e indirec-tamente toda a população para a responsa-bilidade individual em matéria da surdez e particularmente a Educação dos Surdos e, con-sequentemente, pugnar pela melhoria da edu-cação dos surdos cabo-verdianos promovendo assim igualdade de oportunidade relativamente a educação dos ouvintes.

Especial que actualmente desempenha a função de coordenadora da Delegação Escolar de Santa Cruz na área de Educação Especial.

A presente proposta pretende sistematizar um conjunto de acções pedagógicas conside-radas relevantes para a formação-acção de um grupo de professores do Ensino Básico de Cabo Verde, na área da surdez.

A nossa principal intenção visa promover o contacto dos surdos incluídos na escola regular com a Associação dos Surdos para a socializa-ção dos conhecimentos e facilitar aos surdos da escola regular a aquisição da Língua de Sinais.

Este programa irá incidir sobre a problemática da surdez com maior incidência na aquisição da Língua de Sinais promovendo assim a Educação para Todos, presentemente em curso em Cabo Verde, em colaboração com as autarquias locais, as ongs vocacionadas para essa problemática, as Delegações do Ministério de Educação e Ensino Superior, mees–cv e em estreita cola-boração com Associação das crianças a aadicd.

A inspiração para a elaboração deste tra-balho surgiu no decorrer do curso de Atendi-mento Educacional Especializado no âmbito do trabalho final do referido curso.76 77

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

problemas ligados a surdez também são re-sultantes da incapacidade dos professores em particular em intervir, pró-activamente e assumir claramente compromisso de educação com a comunidade surda.

objetivosobjetivos gerais

· Oferecer elementos para a sensibilização, a discussão e o posicionamento crítico sobre a realidade e necessidades educacionais de um educando surdo, sendo um espaço alterna-tivo de formação continuada de professores, contendo reflexões teóricas pautadas em co-nhecimentos específicos e pedagógicos, para atuarem na educação de pessoas surdas e con-sequentemente promover a educação inclusiva para as crianças surdas; · Capacitar os professores para trabalhar na

área de surdez;· Intensificar a integração entre os Surdos

cabo-verdianos.

objetivos específicos· Analisar a situação da surdez à escala global,

nacional e local;

cluindo trabalhos de grupo.· Para a avaliação propõe-se caderno de re-

gisto e relatórios das actividades realizadas durante a formação.

descrição das estratégiasAs estratégias para a referida formação deverão centrar-se em:1. Animação nas Escolas por meio de:

· Concepção e realização de micro-projectos de acção para os surdos ao nível das escolas e comunidades.

· Visitas às casas das famílias dos surdos.2. Sensibilização, Comunicação, Informação,

Animação:· Animação pedagógica;· Sensibilização de parceiros (intervenientes

na animação comunitária, pais e encarregados de educação, autoridades locais e centrais);

Estabelecimentos de parcerias com ongs no-meadamente Amigos de Cabo Verde no Brokton com o intuito de conseguir os recursos didácticos necessários à educação dos surdos nomeada-mente: as próteses auditivas, equipamentos de amplificação de som via FM, telefones com teclado - teletipo (tty), sistemas com alerta táctil-visual,

de trabalhos de grupo e visitas ao domicílio. Sendo uma metodologia participativa, deverá se colocar um enfoque especial na implicação da sociedade civil e de um modo geral na par-ticipação e envolvimento de todos os actores envolvidos na problemática dos surdos, em todas as etapas do processo, como forma de assegurar a sustentabilidade do programa e as acções a serem desenvolvidas. Os professores do Ensino Básico serão uma aposta muito forte, neste projecto na medida em que, constitui acto-res directos do processo ensino-aprendizagem.

A formação a realizar deverá ser tanto quanto possível participativo envolvendo 15 professo-res do eb – Cabo Verde. Prevê-se uma formação composta por 40 sessões com 4 horas de du-ração cada, totalizando 160 horas. A formação deverá contemplar os seguintes procedimentos:

· O público alvo deverá ser seleccionado den-tre os professores habilitados com o curso de Formação de Professores do Ensino Básico.

· Deverá ser uma abordagem teórico-práctico na sala de formação.

· No trabalho prévio deverão ser preparados os módulos de formação.

· Privilegia-se a componente presencial in-

· Definir estratégias de intervenção das crian-ças surdas do interior da ilha de Santiago no-meadamente o Município de Santa Cruz para conseguirem ter o acesso à língua gestual;

· Dar, aos profissionais, suporte concreto que auxiliem na realização do trabalho de ensino/aprendizagem de língua gestual em nível de Santiago Norte;

· Contribuir para o rompimento de bloqueios de comunicação, geralmente, existentes entre Surdos e ouvintes e estimular o debate científico na área da Surdez e da Cultura Surda;

· Desenvolver valores democráticos: respeito, convivência e participação cidadã no âmbito da comunidade surda;

· Criar um espaço educativo na escola que promova a produção de material didáctico apoiando a educação dos surdos.

metodologia Durante a implementação das actividades do programa, irão ser considerados a componente teórica com algumas abordagens teóricas ou teórico práticas na sala de Formação. Paralela-mente a este componente, irão ser contempla-dos a componente (repetição) prática através 78 79

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

sinalizando sons de campainhas, telefones, sire-nes; despertador por vibração e telefone celular para recebimento e emissão de texto, entre outros.

competências a desenvolver · Utilizar os recursos (conhecimentos, valores,

habilidades, experiências) adquiridos sobre a problemática de surdez;

· Mobilizar conhecimentos, habilidades, va-lores e atitudes para promover uma educação de qualidade aos surdos;

· Mobilizar recursos adquiridos nas diferentes áreas curriculares (conhecimentos, atitudes e habilidades) para conceber materiais didácti-cos que se prestam à educação, em contextos formais, não formais e informais.

resultados esperadosDo programa de formação esperam-se os se-guintes resultados:· 15 Professores com o domínio da Língua

Gestual Portuguesa. · 15 Professores capacitados para trabalharem

com crianças surdas de Santiago Norte com domínio dos conteúdos dos currículos do Ensino Básico de Cabo Verde.

cial. Entre as responsabilidades desta área destaca-se a orientação, o acompanhamento da elaboração e definição de planos, progra-mas e projectos na área de Educação Especial. Considerando estes aspectos, um dos projec-tos poderá ser a criação de salas de recursos, pois estas são de facto um recurso que pode contribuir para a melhoria das respostas às nee. De salientar que com este projecto esta-remos a contribuir para assegurar a igualdade de oportunidade de acesso e permanência na escola dos alunos com nee que é outra atribuição da área.

objetivosobjetivo geral

· Contribuir para a melhor qualidade da edu-cação aos alunos com nee.

objetivos específicos· Contribuir para a criação de condições que fa-

vorecem/apoiam a inclusão de crianças com nee;· Enriquecer a resposta educativa através dos

recursos disponíveis na sala de recursos, tendo em atenção às características dos educandos com nee.

tações das condições em que se processa o ensino/aprendizagem e fundamentalmente re-quer, muitas das vezes, que sejam organizados serviços especializados que permitam o apoio pedagógico aos alunos que apresentam nee.

O presente Plano de Acção Pedagógica (pap) é desenvolvido no âmbito do curso de Atendimento Educacional Especializado (aee), promovido em parceria com o Ministério de Educação do Brasil, o qual visa capacitar professores cabo-verdianos para o atendimento educacional especializado a ser disponibilizado a alunos com nee.

A proposta do pap incide sobre a criação de serviços especializados de apoio não só aos alunos com nee, mas também aos respectivos professores do ensino regular. Concretamente, a proposta é de criação/funcionamento de uma sala de recursos (sr) que tenha capa-cidade de oferecer atendimento educacional especializado.

A escolha desta temática é justificada por questões profissionais, pois trabalho no Mi-nistério da Educação em Cabo Verde, concre-tamente na Direcção Geral do Ensino Básico e Secundário (dgebs), fazendo parte da equipe que responde pela área da Educação Espe-

plano 9criação de sala de recursos para o atendimento educacional especializado de alunos com necessidades educativas especiaisMaria de Fátima Ramos Rodrigues Mendes BarbosaProfessora: Sandra Suzana Maximowitz SilvaTutora: Cristiane Griebeler

Cabo Verde é um dos países que segue as orientações/políticas da unesco e assim, o Ministério da Educação vem trabalhando na linha da Educação Inclusiva, visando garantir a inclusão escolar das crianças/jovens que apresentam Necessidades Educativas Especiais (nee), incluindo as derivadas das deficiências auditivas, visuais, motoras e intelectuais.

Neste âmbito, a educação inclusiva tem sido considerada como um movimento que visa garantir o direito de todos à educação, pois é uma forma de se combater a exclusão e de se respeitar e celebrar a diversidade e, para tanto, é necessário que sejam criadas condições para que este direito seja efectivamente exercido. Neste contexto, a Educação Inclusiva requer maior investimento na formação docente; na (re) organização/gestão das escolas; nas adap-80 81

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

· Apoiar os professores do ensino regular na definição de estratégias, metodologias e recursos que favorecem a implementação de práticas pedagógicas que visam à inclusão de alunos com NEE.

metodologiaPretende-se com este pap criar uma sala de recursos, a qual será um espaço onde se realiza o atendimento educativo especializado para alunos com nee. A referida sala será criada na Ilha de Santo Antão, a qual contempla os concelhos do Porto Novo, Ribeira Grande e Paul. A escolha desta ilha é justificada pelo facto dela apresentar, segundo o censo 2000, a maior incidência da deficiência que é 4,9%. Num primeiro momento, a sala será criada no Concelho da Ribeira Grande por ter 1.052 pessoas com deficiência ao passo que o Porto Novo tem 838 e Paul 403. Assim, o público-alvo serão as crianças/jovens com nee em idade escolar e integrados ao sistema de ensino. De referir que a Sala de Recursos–sr é um recurso do sistema educativo, ou seja, da Delegação do Ministério da Educação em Ribeira Grande. Os objectivos da referida sr são:

2º Momento· Instalação da sr/montagem dos equipamentos;· Capacitação de professores especialistas e

outros elementos da sr;· Elaboração de um plano de trabalho da sr,

articulando com a dgebs/sr existentes. Con-siderando a realidade concreta, as propostas de actividades a serem desenvolvidas na sr deverão incidir sobre a identificação das nee dos alunos; criação de base de dados sobre as nee em nível do concelho; definição do aee a ser oferecido; capacitação de agentes educativos; elaboração, adaptação de materiais didácticos; elaboração de orientações em matéria de nee para os professores; visitas as escolas; orien-tação/envolvimento de pais e encarregados de educação, entre outras actividades. Em termos de cronograma, as actividades devem ser planificadas para 01 ano, findo o qual será feita avaliação da experiência.

3º Momento· Arranque/funcionamento da sr;· Monitorização/seguimento da planificação;· Análise/avaliação da experiência para pos-

terior criação das sr dos outros dois concelhos.

com nee ao currículo; actuar, como docente, nas actividades propostas no âmbito do aee; orientar as famílias para o seu envolvimento e a sua participação no processo educativo; preparar material específico para uso dos alu-nos na sala de recursos, entre outros aspectos.

Quanto a implementação do pap ressalta-se que este será feito em três etapas, sendo a primeira, a criação da srda Ribeira Grande, a segunda, a do Porto Novo e a terceira, do Paul. A primeira etapa contempla essencialmente três momentos, a saber:

1º Momento· Identificação do espaço físico onde a sr irá

funcionar;· Identificação das necessidades em termos de

materiais didácticos, equipamentos informáti-cos/tecnologia assistiva, mobiliários e outros;· Definição de critérios e selecção dos elemen-

tos que irão formar a equipe da sr, inclusive os professores especialistas;· Identificação de necessidades em termos de

capacitação dos mesmos;· Análise das nee existentes nas escolas/

concelho e definição concreta do público-alvo;· Mobilização de recursos financeiros.

· Promover a inclusão escolar dos alunos com nee, oferecendo melhor resposta educativa que atenda as características dos educandos;· Contribuir para uma melhor qualidade da

educação, oferecendo um serviço de apoio especializado através dos recursos disponí-veis na sr;· Apoiar os professores na identificação das

nee, na definição de estratégias e metodolo-gias diferenciadas.

De salientar que a sr deverá permitir o de-senvolvimento de estratégias de aprendizagem, centradas em um novo fazer pedagógico que favoreça a construção de conhecimentos pelos alunos, subsidiando-os para que desenvolvam o currículo e participem da vida escolar.

Relativamente a organização, a sr necessita de uma equipa multidisciplinar que irá garantir o aee e, para tanto, conta-se com Pedagogos, Psicólogos, Terapeutas, Assistente Social e Pro-fessores com formação específica na área da Educação Especial.

Esta equipa terá como atribuições apoiar os professores na identificação concreta das nee dos alunos, na definição de estratégias de trabalhos que favoreçam o acesso do aluno 82 83

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

público-alvoO público-alvo da sr serão os alunos com nee, incluindo as derivadas de deficiências físicas, sensoriais e intelectuais identificados em nível da Ribeira Grande. Portanto, são alunos que apresentam, ao longo da sua aprendizagem, alguma nee quer seja temporária ou permanen-te. A sr poderá também desenvolver trabalhos com os professores destes alunos (professores do ensino regular), bem como orientar pais/encarregados de educação.

resultados esperadosEspera-se como possível resultado da imple-mentação do PAP a criação/funcionamento efectivo da Sala de Recursos na Ilha de Santo Antão, numa primeira fase no concelho da Ribeira Grande. Espera-se, portanto que os alunos com nee, os professores e comuni-dade beneficiam de aee e que isto tenha como consequência a inclusão efectiva dos alunos com nee e a melhoria da qualidade da educação.

Como docente numa escola de formação de professores do ensino básico que acompanha a prática no terreno, pudemos confirmar que realmente os alunos com deficiência física nas aulas de expressão físico-motora ficam, quase sempre, sentados, à parte, a assistir a aula, sem realizarem qualquer acção que seja o que traduz uma prática discrepante da política nacional.

Assim, julgamos pertinente elaborar este plano de acção centrado na deficiência física.

objetivosobjetivo geral

· Contribuir para a melhoria do processo en-sino e aprendizagem e para um atendimento realmente inclusivo, conforme defendido pela política educativa nacional.

objetivos específicos· Melhorar o atendimento educacional dos

alunos; · Potencializar o papel da expressão físico-

motora no desenvolvimento integral de todos os alunos;· Capacitar os professores para uma actuação

inclusiva;

A escolha dessa área foi marcada essen-cialmente pela situação social e educativa do país, mas igualmente por motivações pessoais e profissionais.

De acordo com o Censo de 2000, dentre da população com deficiência, a maioria (52%) possui deficiência física. Igualmente, nas es-colas nota-se que os alunos deficientes mais presentes são os com deficiência física. Na nossa vivência, a prática do desporto tem sido uma constante e julgamos que daí advém o nosso interesse pela deficiência física.

Num passado recente, tivemos oportunidade de manter contacto com uma deficiente física que nos contou que ao longo de todo o seu percurso escolar, nas aulas de educação físi-ca sempre ficava a observar. Paradoxalmente, depois de interromper a escola, por incentivo do Comité Paraolímpico iniciou-se na prática desportiva e, hoje é a atleta com mais medalhas internacionais no país. Esta história suscitou-nos alguns questionamentos: qual a finalidade da escola? A escola tira oportunidades a alguns alunos? Como ultrapassar isso? Como podem os alunos com deficiência física participar acti-vamente das aulas de expressão físico-motora?

plano 10educação inclusiva na deficiência físicaLisa Marise de Sousa CarvalhoProfessora: Sandra Suzana Maximowitz SilvaTutora: Cristiane Griebeler

Cada vez mais, o conceito de educação inclu-siva impõe-se e, mundialmente, defendem-se mudanças no sistema educativo de forma a atender à diversidade dos alunos.

Cabo Verde, como um dos países que ratifi-cou a Declaração de Salamanca, tem tentado sustentar uma educação inclusiva, implemen-tando algumas iniciativas, das quais podemos sublinhar a recente capacitação de professores em atendimento educacional especializado no âmbito de um protocolo com o Brasil, mais es-pecificamente, Universidade Federal de Santa Maria–ufsm, Rio Grande do Sul.

É neste contexto, que surge o presente plano de acção pedagógica que elege como área de incidência a da deficiência física. Mais especi-ficamente, procura propor algumas acções que podem favorecer uma educação efectivamente inclusiva aos alunos com deficiência física que frequentam as escolas do ensino básico do país.84 85

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

· Apoiar os alunos com deficiência física;· Desenvolver hábitos e atitudes de cooperação

e respeito às diferenças.

metodologiaEm primeiro lugar, vamos enquadrar o contexto no qual o nosso plano se inscreve, para de segui-da apresentar as acções a serem desenvolvidas.

Este plano será desenvolvido em Cabo Ver-de, mais especificamente na ilha de Santiago, cidade da Praia, num bairro periférico dessa capital, onde encontramos uma placa despor-tiva ao lado de uma Escola do Ensino Básico, chamada Alegria.

A referida escola faz parte da rede pública e o edifício é composto por quatro salas de aulas distribuídas por dois pisos e mais um bloco de um único piso com duas casas de banho e uma cozinha. O edifício é desnivelado do chão e, por conseguinte, mesmo as salas térreas têm dois degraus. A placa desportiva é toda ladeada de um muro de cerca de 35 cm de altura.

Funcionam na escola oito turmas, sendo quatro de manhã e quatro à tarde, que estão a cargo de oito professores dos quais sete estão habilitados com o curso de formação de

mutuamente;· Oito professores trabalhando com todos os

alunos em todas as disciplinas;· Melhores resultados académicos na escola

Alegria;

plano 11acesso ao conhecimento integradoManuel Júlio Soares RosaProfessora: Sandra Suzana Maximowitz SilvaTutora: Cristiane Griebeler

Em Cabo Verde, a integração das pessoas com deficiências (física, mental, visual e auditiva) está devidamente enquadrada na Lei de Bases do Sistema Educativo, artigo nº 36 e seguintes, que defende a integração/inclusão das crianças com deficiência na escola regular, prevendo-se a defesa dos seus direitos educativos, sociais entre outros. Também a Constituição da Repú-blica de Cabo Verde, no seu artigo nº 75 defende os direitos dos portadores de deficiências.

No domínio da Educação, faltam ainda a sua regulamentação, aplicação continuada, bem como o alargamento e a formação siste-mática de professores, embora se registem esforços significativos por parte do Ministério

Como não podia deixar de ser, os dois alunos terão atendimento educacional especializado que será feito duas vezes por semana, no ho-rário contrário ao das aulas.

recursosPara além dos professores das duas turmas, serão envolvidos os restantes seis professores da escola; um professor de educação física, com especialização em desporto para deficien-tes; uma professora de educação física com especialização em expressão dramática; uma professora com capacitação em atendimento educacional especializado.

resultados esperadosCom a implementação deste plano espera-mos dar um pequeno passo em direcção à efectivação de uma prática inclusiva em uma escola que posteriormente poderá disseminar e chegar a outras escolas.· Disciplina de expressão físico-motora, aten-

dendo a todos os alunos;· Dois alunos com deficiência física activos

nas aulas de expressão físico motora;· Cento e setenta e nove alunos apoiando-se

professores e um sem formação. Ainda, a escola tem uma cozinheira.

No corrente ano lectivo encontram-se ma-triculados, do 1º ao 4º ano, 179 alunos. Dois alunos do sexo masculino com deficiência física, sendo que um deles tem 7 anos, frequenta o 2º ano de escolaridade e não anda devido a com-prometimento dos membros inferiores. O plano irá beneficiar directamente os dois alunos com deficiência física, seus respectivos professores e colegas de turma.

Propomos no plano um conjunto de acções integradas para permitir alcançar os objectivos traçados.

Em primeiro lugar, uma acção de capacitação, dos oito professores, em educação física adap-tada, com uma duração de 20 horas distribuídas por duas semanas e orientada por um professor de educação física com especialização em desporto para deficientes.

No entanto, a aposta é mesmo na formação contínua pelo que outra acção indispensável é o acompanhamento e supervisão das activi-dades escolares pelo professor especializado, possibilitando momentos de reflexão crítica e partilhada da prática.86 87

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

da Educação e Ensino Superior no sentido de proporcionar uma integração satisfatória das crianças portadoras de deficiência.

Da nossa experiência no terreno resulta a percepção de que, apesar dos esforços feitos ainda persistem algumas necessidades a sa-tisfazer no que se refere a recursos (humanos, materiais e financeiros) para melhorar todo o processo de inclusão de forma mais equitativa e justa, possibilitando um acesso em igual dimensão (nivelando as diferentes categorias de deficiência) e espaço geográfico (tendo em conta a nossa realidade arquipelógica).

Neste contexto e no âmbito da formação de professores para atendimento educacional es-pecializado, apresentamos este Plano de Acção Pedagógica como contributo para a criação de algumas condições de trabalho prático e a me-lhoria das condições de inclusão dos deficientes.

Problematização da temática: como fazer com que as crianças com deficiência (a vários cate-gorias) tenham igual acesso a um conhecimento integrado (informação generalizada, comple-mentar e específica; diversificação de meios e ou instrumentos de aprendizagem), respeitando-se não só as suas limitações (físicas, motoras

mento da Praia) e depois a nível nacional (todo a arquipélago com recurso à tecnologia em rede).· Identificação dos pontos fortes /pontos fra-

cos/oportunidade de melhoria através da análi-se do funcionamento dos Núcleos de Educação Inclusiva local; · Levantamento de constrangimentos e difi-

culdades (barreiras arquitectónicas, carência de materiais didácticos específicos, falta de professores com formação específica;· Desenvolvimento e apresentação das estra-

tégias de actuação (estratégias para diminuir as barreiras à inclusão).· Rentabilização e reestruração das actuais

salas de recursos.· Elaboração de projectos para formação de re-

cursos humanos e aquisição de material didáctico.

público-alvo· Professores (com formação em nee, que já

existe em cv);· Coordenadores pedagógicos e gestores; · Alunos com deficiência, técnicos (associações,

médicos, fisioterapeutas, sociólogos, fonoau-diólogos, neurologistas, funcionários do mee); · Família e comunidades locais.

objetivosobjetivo geral

· Contribuir para a criação de condições que fa-voreçam uma inclusão plena de todas as crianças e adolescentes em idade escolar com deficiência.

objetivos específicos· Propor uma organização dos Recursos exis-

tentes em Cabo Verde, de forma a rentabilizá-los.· Identificar as necessidades (humanas, ma-

teriais e financeiras) a nível nacional para a implementação de um Plano Nacional de Inte-gração dos Deficientes.· Definir estratégias para diminuir as barreiras

à inclusão.

metodologia· Consulta e categorização dos dados do ine

(Instituto Nacional de Estatística de Cabo Verde).· Levantamento em nível do país, do número

das crianças com nee.· Sondagem junto às escolas e associações

de acolhimento de crianças portadoras de deficiências;· Implementação do plano de acção – primeiro

em nível local (por exemplo, no núcleo de atendi-

e sensoriais), mas também familiares e locais?Esta proposta de Plano de Acção Pedagógica

justifica-se pelo facto de, na sociedade cabo-ver-diana, a problemática da deficiência e o acesso dos deficientes ao conhecimento, à formação, ao emprego, enfim à inclusão (modificamos para o termo, pois este reproduz melhor os direitos das pnees) plena na sociedade estar a sensibilizar muitos dos agentes do sistema educativo.

A mesma irá ser desenvolvida de forma a justificar a necessidade de colmatar algumas lacunas existentes no programa de acesso dos deficientes ao conhecimento integral, procuran-do-se apontar as dificuldades e constrangimen-tos que se colocam na criação de condições de acesso, sobretudo pelos deficientes surdos e com atraso no desenvolvimento cognitivo.

Verifica-se uma maior integração no que se refere à criança com deficiência motora e visual, ainda que de forma desigual e lenta ou em baixa percentagem. Por isso, pretendemos assumir um esforço de integração de todas as deficiências, dando, nesta fase, uma atenção especial às crianças surdas e às com atraso de desenvolvimento (paralisia cerebral, síndrome de Down, entre outras). 88 89

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

plano 12sala de recursos multifuncional: centro educativo mira floresGabriela Auxilia da Silva BorgesProfessora: Sandra Suzana Maximowitz SilvaTutora: Cristiane Griebeler

A motivação para este trabalho surge na ten-tativa de poder contribuir para uma educação inclusiva de uma aluna do ensino secundário, 7º ano de escolaridade, na cidade da Praia, e dessa forma servir para abrir portas a muitos alunos com nee, tentar implementar a utilização da sala de recursos existente na Praia, que foi inaugurada no ano lectivo 2008/2009.

Este pap, tem a sua área de concentração na implementação de ta na categoria acessi-bilidade ao computador e caa, comunicação alternativa, vai ser realizado com uma aluna, lara, portadora de pc, atetóide-atáxica, inse-rida na escola regular, Centro Educativo Mira Flores, com o objectivo de propor a utilização da informática como meio para auxiliar na sua aprendizagem, de modo a facilitar a aprendiza-gem e, para que dentro de suas necessidades sejam elaboradas actividades que possam ser aplicadas com o uso do computador. Através

· Propor aee complementares para um melhor desenvolvimento global da Lara.· Propor uma análise de como se dá o aee no

processo de inclusão, valorizando a educação inclusiva, como forma de se alcançar uma edu-cação de qualidade para todos.· Contribuir para uma educação inclusiva

visando mudanças de paradigma, conceito, visão e mudança de mundo. Um novo olhar educativo.

metodologiaCom o intuito de se obter um melhor panorama da actual situação do processo de inclusão e da situação real da Lara através de um levan-tamento das características, habilidades e po-tencialidades que apresenta, foram realizadas as seguintes acções na prática:· Visita a sala de recursos – e entrevista;· Escolha da população alvo;· Conhecer os pais e o ambiente familiar. (tive

acesso aos relatórios clinicos);· Entrevista e contacto com a Lara no seu am-

biente familiar (vários);· Contacto com a escola, gestores e directora

de turma;

de experiência prática para que a educação possa trilhar e alcançar a Educação Inclusiva.

Fazendo uma avaliação diagnóstica e a ob-servação precisa e cuidadosa sobre as suas capacidades, potencialidades e limitações.

objetivosobjetivo geral

· Proporcionar uma das primeiras experiências de aee, a crianças com pc no Ensino Secundário (es) em Cabo Verde, através da sala de recursos de modo a que seja feita uma análise reflexiva por parte das pessoas vinculadas directamente à equipa ee do mees.

objetivos específicos· Traçar um plano de aee para uma aluna com

pc no es a ser aplicado na sala de recursos da Praia em nível de ta (Tecnologia Assistiva) – informática e terapia da fala, caa, no processo de inclusão.· Propor áreas de intervenção a curto e mé-

dio prazo.· Sensibilizar os professores para que assu-

mam uma atitude positiva em todo o processo educativo.

das actividades de aee – sala de recursos da Praia, pode-se auxiliar a escola a aten-der a aluna, respeitando sua singularidade e contribuindo para o seu desenvolvimento e integração na sociedade.

A Educação Especial poderá orientar acerca de flexibilizações/adaptações dos currículos escolares; orientar acerca da avaliação peda-gógica entre outros tendo em conta que sem auxílios pedagógicos adequados, estes alunos não conseguem por em prática suas potencia-lidades intelectuais.

Este plano tenta tratar e propor as áreas de intervenção de aee (Atendimento Educacional Especializado) na sala de recursos, a curto e médio prazo, após a avaliação funcional feita através de observação e entrevistas à Lara, pais, professores, considerando a quantidade e a qualidade de avd (Atividade de Vida Diária) que a criança consegue realizar, as habilidades funcionais, assistência e modificações do am-biente, auto cuidado, mobilidade e função social.

O presente plano justifica-se, pela necessi-dade da Lara ter um aee, para que se possam aproveitar as suas potencialidades, proporcio-nar-lhe uma educação de qualidade e servir 90 91

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

· Assistência a uma aula da Lara;· Entrevista com a fisioterapeuta e contacto

assistindo a uma sessão;· Contacto com uma fonologista do mees;· Análise e diagnóstico da Lara;· Observação da Lara pela equipa da sala de

recursos;· Observação da Lara pela fonologista;· Pesquisa bibliográfica para além das refe-

rências dos módulos do curso aee;· Troca de idéias e partilha com colegas;· Troca de idéias com professora e tutora;· Reuniões com a equipa ee e outros;· Entrevistas registrando algumas ocorrências

da vida da Lara com relação a seu desenvol-vimento motor, psíquico, avd, afectivo e edu-cacional. Estas informações foram utilizadas para traçar ou descrever a Lara e identificar áreas de intervenção bem como planejar as actividades procurando favorecer o aprimora-mento das habilidades/competências que ela ainda não tem desenvolvido satisfatoriamente para acompanhar os conteúdos curriculares exigidos na turma (a escrita e avaliação), fi-cando claro para os pais, para os professores da escola, que na sala de recursos não seriam

acessibilidade ao computadorO computador vai ser utilizado como ajuda à comunicação, como instrumento e/ou auxiliar da avaliação escolar e como instrumento de avaliação psicopedagógica.

A utilização do computador vai ajudá-la a co-municar e a escrever, proporcionando-lhe mais possibilidades de realização, de independência e de autoconfiança.

Há que criar actividades de exercícios e prá-ticas de fixação dos conteúdos ministrados em sala de aula com o uso dos recursos do compu-tador. Usar o teclado como periférico, utilizar o mouse e as duas mãos. Utilizar os softwares: word, power point, paint, e específicos como para matemática, jogos, autoformas.

Na área caa – dificuldades de fluência e ritmo da fala por problemas de articulação.

Jogos e brincadeiras que possam ajudar a Lara a obter um melhor controle da respi-ração, da língua, dos lábios entre outros, o que a poderá ajudar a articular melhor. Como exemplos: o futebol de sopro, soprar velas à distância, bolas de sabão, encher balões, tocar um chupa colocada em várias posições em frente da sua boca, pintura de sopro.

no, segundas e quartas, das 14h30min às 15h30min, sendo um dia para ta computador e outro para caa – fala. A frequência de duas vezes por semana no inicio pode ocorrer indi-vidual ou em dupla.

Deve haver algum tipo de comunicação for-malizada entre o director da turma, director da escola e a equipa ee ou professor aee, pois a inclusão exige interacção constante entre professores da turma e dos serviços de apoio pedagógico especializado, para que a Lara atinja um rendimento escolar satisfatório.

O contacto pode ser estabelecido de diversas formas, bilhetes, e-mails, telefone, reuniões e outros. O contacto com os pais deve ser man-tido, nos dias de aee com conversas informais.

A avaliação na sala de recursos vai ser con-tínua e formativa, levando em consideração seu desempenho em cada actividade proposta, essa avaliação deve ser realizada em fichas e relatórios descritivo mensal.

Com os dados da avaliação diagnóstica vai-se estudar a deficiência, aprofundando e aprimorando conhecimentos para melhor preparar as actividades que sejam eficazes no desenvolvimento da Lara.

realizadas tarefas da escola nem reforço.Tentar entender a situação que envolve a es-

tudante através da:· Escuta de seus desejos, identificação das ca-

racterísticas físicas/psicomotoras, observação da dinâmica no ambiente escolar e reconheci-mento do contexto social.· Conversa com várias pessoas e foi considera-

da as necessidades a serem atendidas a curto e em médio prazo.

plano da sala de recursosNão há medicamentos nem operações para curar uma pc, haverá sim, avanços progressivos dependendo directamente dos recursos tecno-lógicos, do uso da informática na educação e dos recursos terapêuticos que forem colocados à disposição, bem como aee.

Há que se fazer uma análise mais cuidada das condições motoras e educativas da Lara. Após essa avaliação, é possível relacionar as suas características com o designe do pap, numa tentativa de melhorar as condições de vida, sob os aspectos da educação, lazer, avd, desporto e reabilitação.

A Lara deverá ser atendida em contra tur-92 93

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

Tudo deve acontecer através de uma relação afectiva e informal e com carácter lúdico, de modo a que se sinta estimulada a exprimir-se articulando melhor.

A pc pode acarretar prejuízos em estruturas e funções esqueléticas do corpo e limitar o de-sempenho da criança em actividades e tarefas nos ambientes familiar, escolar e comunitário. As disfunções da extremidade superior de-correntes de lesão ou má-formação cerebral podem comprometer o uso da extremidade afectada nas tarefas diárias, a bimanualidade e a funcionalidade da criança. Assim a proposta de trabalho aee em médio prazo deve abranger a psicomotricidade – traçar o perfil através da observação psicomotora.

O desenvolvimento psicomotor foi reconhe-cido há muito por inúmeros especialistas como uma componente vital do desenvolvimento global da criança.

Torna-se necessário uma observação psico-motora da Lara através da bateria psicomotora (bpm), para se traçar o perfil psicomotor tendo como objectivo:

· conhecer a relação da integridade psicomo-tora com a aprendizagem eficiente;

denciando esta ferramenta como seu auxiliar efectivo no seu processo ensino aprendizagem. Ainda, espera-se possibilitar a inclusão no ensi-no secundário; melhorar a postura, a escrita, a coordenação fina, a utilização das duas mãos;

Quanto a avaliação espera-se que o processo acompanhe o percurso do estudante, do ponto de vista de evolução de suas competências, habilidades e conhecimentos. Que os profes-sores passem a utilizar outros instrumentos, mudando o olhar ao corrigir testes. E adoptando estratégias dinâmicas, continua, respeitando o processo de aprendizagem do aluno, substi-tuindo o caracter classificatório.

Os outros alunos e a escola reconhecer e aceitar o potencial de uma aluna com nee sem preconceitos e perceber que as crianças podem aprender juntas, embora tendo objectivos e processos diferentes.

O computador em sala de aula para além de aumentar a autoestima da Lara também irá possibilitar uma postura colaborativa que tanto é necessário à Educação do futuro, pois requer a soma de esforços para a solução de problemas, as expressões via eletrônica e via de informação indicam um novo modo de trabalho emergente.

por restrição. Propõe-se que sejam aplicados os se-guintes testes para a funcionalidade dos membros: caut (children use test), teste observacional pa-dronizado; teste para avaliação da bimanualidade (abilhand-kids); pedi (avaliação de funcionalidade) e jthf (Jebsen-Taylor de função manual).

Em decorrência do desuso aprendido, pode haver limitação do desempenho de actividades funcionais e de participação nos ambientes es-colar e familiar, pelo que a terapia de movimento induzido por restrição deve ser aplicado com o uso do sprint de posicionamento e tipóia para res-trição da extremidade superior menos afectada.

resultadosA informática e o uso de ta representa para os indivíduos com pc uma grande possibilidade de igualdade com seus colegas, pois nos dias de hoje, são as tecnologias de informação e comunicação – tic que possibilitam diminuir seus problemas motores e ajudá-los com a dificuldade de comunicação.

Espera-se que a partir da interacção com o computador e o consequente acompanhamento das actividades da classe, haja uma redução significativa dos seus distúrbios motores, evi-

· reconhecer a existência de dificuldades de aprendizagem e de perturbações de compor-tamento;· proporcionar a prevenção, a compensação,

a reeducação e a terapia de disfunções psico-motoras.

Com a reabilitação psicomotora (rpm), com os dados do bpm, estaremos em melhores condições para compreender as dificuldades da criança e, naturalmente, em melhor posição para formular objectivos e implementar progra-mas individuais de reabilitação.

A hidroterapia, como uma actividade terapêu-tica, mostra bons resultados para a melhoria da habilidade para crianças com pc coreoatetóide. Propõe-se sessões duas a três vezes por semana com movimentos nos diversos planos, frontal, sagital e transversal, exercícios para estabilidade e equilíbrio postural e flutuação tônica.

Adequação postural, sendo o maior dos pro-blemas encontrados em crianças com pc é o déficit do controle postural. Os problemas pos-turais interferem nas avd, na interacção social, na aprendizagem cognitiva e também na função vegetativa dos seres humanos.

Bimanualidade- terapia do movimento induzido 94 95

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

plano 13plano de acção pedagógica para alunos com baixa visãoIsabel Valadares DupretProfessora: Sandra Suzana Maximowitz SilvaTutora: Cristiane Griebeler

Com a Declaração Universal dos direitos hu-manos em 1948, as Nações Unidas consagra-ram valores de ordem moral, religioso, social, cultural etc. Entre esses valores estão o direito à igualdade de todos os seres humanos logo à nascença, independentemente do sexo, da raça, da religião e da cultura e o direito de todos à educação, valores estes que estão na base do princípio democrático da educação inclusiva.

A declaração desses valores como princípios universais e inalienáveis a todos os seres hu-manos, contudo, não foi suficiente para que se construíssem sociedades mais justas, onde no domínio educacional todos pudessem frequen-tar as escolas de modo a adquirirem uma certa autonomia e poderem participar de forma activa em todos os aspectos da vida na sociedade e na própria vida pessoal, deliberando, tomando as suas decisões e agindo com dever cívico.

refere à educação. A legislação existente é bas-tante insuficiente, deixando de lado garantias essenciais como o acesso e a permanência nos diferentes níveis de escolaridade, a avaliação, a acessibilidade ao espaço escolar, etc.

O Plano de Acção Pedagógica que se preten-de aqui elaborar vai incidir sobre os alunos com baixa visão no ensino secundário porque, por um lado a cegueira e a baixa visão constituem, nos primeiros casos de inclusão, no sistema de ensino cabo-verdiano, ou seja, tem-se olvidado esforços no sentido de se criar as condições para que esses alunos frequentem o ensino regular com sucesso. Por outro lado, com esta formação em Atendimento Educacional Espe-cializado verificamos que a nossa experiên-cia na inclusão dos alunos com baixa visão apresenta algumas deficiências, pois não se tem dado um tratamento diferenciado a esses alunos de acordo com as suas necessidades específicas advenientes da sua deficiência, de condições ambientais, pessoais e ignorando muitas vezes o seu potencial de visão ainda existente. Acontece que esse alunado tem recebido a mesma orientação que o aluno com cegueira.

de condições para que o aluno, seja ele de-ficiente ou não, tenha uma aprendizagem de qualidade. Isto pressupõe o respeito pelo aluno como um ser diferente, ou seja, com as suas especificidades, com o seu ritmo e forma de aprendizagem, com as suas limitações e capacidades. Cabe à escola inclusiva provir de meios que permitem ao aluno superar as suas limitações e os obstáculos para um ensino e aprendizagem de qualidade, meios que possibilitem ao aluno desenvolver todas as suas potencialidades cognitivas e a sua autonomia de modo a integrar-se na comunida-de escolar e na sociedade em geral. Torna-se assim necessária uma reflexão sobre as prá-ticas pedagógicas, as actividades escolares devem ser seleccionadas e planificadas e deve-se respeitar o modo como o aluno faz a aprendizagem, partindo dos conhecimentos de que já dispõe.

Em Cabo Verde, começam-se a criar as condi-ções para uma educação para todos, incluindo as pessoas portadoras de deficiência.

No entanto há a necessidade de se produzir todo um suporte legal que garanta os direitos da pessoa portadora de deficiência no que se

A pessoa portadora de deficiência (mental, visual, auditiva, motora, etc.) continuou a ver os seus direitos desrespeitados, sendo discri-minado no âmbito educacional.

Posteriormente foi criada a Declaração Universal dos Direitos das Pessoas Deficien-tes (onu/1975) e a par dessa declaração, fo-ram elaboradas várias cartas estabelecendo metas aos países membros para garantir a igualdade de direitos e oportunidades para as pessoas portadoras de deficiência e em 1994 foi proclamada a Declaração de Sala-manca com princípios, políticas e práticas em educação especial, na conferência mundial de educação especial sobre Necessidades Educativas Especiais. Esta declaração rea-firma o compromisso de todos os Estados membros para com a Educação para Todos e reconhece a necessidade de providenciar a educação para as pessoas com necessidades educativas especiais dentro do sistema de ensino regular.

O significado de educação inclusiva ultra-passa a simples presença de alunos porta-dores de deficiência nas escolas de ensino regular. A inclusão escolar exige a criação 96 97

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

objetivo geral Apoiar os alunos com baixa visão e melhorar o processo de ensino e aprendizagem desses alunos de modo a que desenvolvam as suas capacidades cognitivas, assim como competên-cias como a autonomia para a vida integrada na sociedade. Deste modo temos que ajudá-los a desenvolver competências como a leitura e a escrita, o desenvolvimento do raciocínio logico-matemático, o domínio das tecnologias de informação, o treino da visão, do Braille e da orientação e mobilidade.

metodologiaO plano de Acção Pedagógica destina-se a apoiar um grupo de cinco alunos com baixa visão, oriun-dos de quatro escolas secundárias da cidade da Praia. Os professores dessas escolas já benefi-ciaram de uma formação em educação especial que incluiu a escrita e a leitura no sistema Braille.

As escolas secundárias acima referidas não possuem condições físicas de acessibilidade para pessoas deficientes visuais e os projectos educativos das escolas não contemplam um plano pedagógico para alunos com necessi-dades educativas especiais.

Federal de Santa Maria/Brasil e consiste na elaboração de um plano de intervenção para um grupo de crianças cegas pertencentes às zonas rurais do Município de Santa Cruz. O referido público-alvo de intervenção vive em zonas iso-ladas dificultando o atendimento especializado devido à dificuldade de acesso a meios que lhe possibilita uma resposta educativa adequada.

Após a convivência com as entidades respon-sáveis pela educação especial, nomeadamente a Associação dos Deficientes Visuais de Cabo Verde (adevic) constatamos que existe algumas respostas para a Educação dos cegos, porém, essas respostas não são extensivas às crianças das zonas rurais levando com que a acessibili-dade ao conhecimento para essas crianças não seja uma realidade.

A escolha do tema também se justifica pela existência de uma coordenadora do Núcleo da Educação Inclusiva neste concelho que tem no seu caderno de encargo, mobilizar materiais adaptados, e recursos humanos para desen-volver uma educação para todos, ou seja, uma educação que consegue dar resposta educa-tiva para todos e com qualidade. Este tipo de educação é bastante custosa, uma vez que a

teúdos curriculares (desenvolver programas de estimulação visual como leitura de textos, visualização de ilustrações, mapas, etc.).· Preparação dos materiais a serem utilizados

pelo aluno ( produção da prancha de plano incli-nado, ampliação dos textos a serem trabalhos na sala de aula regular, preparação de mapas com relevos e ilustrações visuais).· Domínio das tecnologias de informação ( uso

de computadores adequados às especificidades da baixa visão para trocar emails, leitura de jornais online, livros escaneados).· Treino de orientação e mobilidade .

plano 14plano de acção pedagógica para um grupo de crianças com problemas de visão: uma proposta de aplicação desta temática no concelho de santa cruz, cabo verdeEunice Elisabeth Semedo AfonsoProfessora: Sandra Suzana Maximowitz SilvaTutora: Cristiane Griebeler

Este estudo surgiu na sequência do trabalho final do curso de Atendimento Educacional Especializado ministrado pela Universidade

O atendimento educacional especializado desses alunos será feito na sala de recursos da cidade da Praia, situada na escola secundária Pedro Gomes.

O primeiro trabalho a ser efectuado será o de sensibilizar as direcções das escolas com alunos com baixa visão a incluir no projecto educativo da escola um plano pedagógico para os alunos com baixa visão. Na elaboração do plano devem ter o apoio do professor especializado da sala de recursos.

A segunda acção a ser desenvolvida, será a realização de um encontro com uma equipa pluridisciplinar que deve incluir os professores do aluno, os pais ou encarregados de educação, o médico oftalmologista que segue o aluno e o próprio aluno, para se proceder a uma avaliação rigorosa da visão funcional, pois torna-se neces-sário perceber como é que o aluno utiliza a visão.

Para o atendimento especializado do aluno com baixa visão, na sala de recursos, foram propostas as seguintes atividades:· Encontro com os professores das classes dos

alunos para transmissão de procedimentos a se ter na sala de aula regular.· Treino da visão e acessibilidade aos con-98 99

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

mobilização dos recursos é muito dispendiosa, como por exemplo, no que refere à área em estudos há necessidade de vários materiais para o desenvolvimento pessoal e educativo, as pessoas com deficiência visual precisa de uma Bengala, Pauta Braille impressora Braille entre outros.

Diante da realidade, levanta a seguinte per-gunta: como contribuir para um grupo de crian-ças cegas do Município de Santa Cruz ter acesso a Braille, uma vez que vive em localidades distantes dos centros urbanos?

objetivosobjetivo geral

· Promover uma educação que consegue dar resposta educativa de qualidade para todos. Sensibilizar os profissionais da educação e não só, de modo a impulsionar a inclusão das crianças com Necessidades Educacionais Espe-ciais (nee), nomeadamente cegas nas escolas, família sociedade.

objetivos específicos· Capacitar os professores para o uso do

sistema Braille.

central, promovendo a execução da respectiva política educativa;

Desenvolver as acções necessárias à condu-ção do processo de ingresso no ensino superior, em articulação com o serviço central respectivo; Assegurar a orientação e apoio pedagógico das instituições educativas, sejam elas públicas ou privadas; Colaborar com os municípios e os serviços desconcentrados do Estado no conce-lho, na materialização do programa do governo segundo a fonte fornecida pelo Gabinete do Estudo e Planeamento desta instituição.

Para a consecução de tais objectivos a Dele-gação de Santa Cruz, organizou-se internamente nos seguintes departamentos:· Equipa Pedagógica;· Coordenação do Pré-escolar· Coordenação Administrativa, patrimonial e

financeira;· Coordenação de Assunto Sócio Educativo e

da Comissão Concelhia de Cantinas Escolares;· Gabinete de Gestão, Planeamento, Estatís-

tica, Comunicação e Imagens e Gabinete do Delegado.

Material necessário: 20 pauta Braille, 8 ca-dernos, 8 canetas, 8 lápis. Recursos humanos:

Duração do projecto: Durante o período que as crianças frequentam o Ensino Básico.

Apresentação da organização: o concelho de Santa Cruz e São Lourenço dos Órgãos (recém-criado) conta, neste momento com cer-ca de mil e seiscentos crianças do Ensino Pré-escolar, sete mil alunos do ensino Secundário, quinhentos professores. Tais contingentes respondem localmente perante a Delegação do Ministério da Educação e Ensino Superior de Santa Cruz um Serviço desconcentrado do referido Ministério que se ocupa de orientação e apoio pedagógico nas escolas e comunidade dos dois concelhos. Em parceria com a equipa pedagógica, o Núcleo na Educação inclusiva tem como objectivo promover a inclusão Edu-cativa e social das Crianças/estudantes destes dois Concelhos.

À Delegação do Ministério da Educação de Santa Cruz que, do ponto de vista legal, (Decreto Regulamentar Nº 4/98 de 27 de Abril) deve, de entre outras incumbências, Contribuir para a definição e materialização da política educa-tiva; Assegurar a coordenação e articulação dos vários níveis de ensino não superior, de acordo com as orientações definidas a nível

· Desenvolver a capacidade da escrita nos alunos cegos de algumas escolas do meio rural do Município de Santa Cruz.

metodologiaHá necessidade de solicitar técnicos da Direcção Geral do Ensino Básico e Secundário para ensinar os professores e alunos o Braille. Lembrando que esse público educativo é oriundo das escolas rurais de localidades de difícil acesso. Haverá necessidade de mudar a residência das crianças durante as épocas que receberão formação para ter pleno acesso ao currículo e ampliar novos horizontes através da aprendizagem do Braille

Durante a implementação pretendemos tra-balhar com uma abordagem de trabalho em equipa, e os passos do desenvolvimento serão os seguintes: Identificação e caracterização do público-alvo; Colaboração de uma coordenado-ra pedagógica em receber para morar na vila e regressar só no final de semana para ter acesso Braille; Formação e supervisão de professores; Alfabetização das crianças e docentes em Braille.

Beneficiários directos: Toda a comunidade educativa de Santa Cruz e São Lourenço.

Beneficiários indirectos: Comunidade em geral.100 101

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

duas coordenadoras do projecto, um tutor da adevic, uma monitora para o ensino de Braille.

resultados esperados· Professores capacitados para a realização

de uma prática educativa inclusiva;· Um trabalho pedagógico de quem deseja

assumir o desafio de aprender e de ensinar;· Cooperação entre a comunidade educativa

e as instituições locais afectos a educação especial;· Adesão e envolvimento da Associação dos

deficientes Visuais de Cabo Verde (adevic) na realização de parcerias para o desenvolvimento do projecto; Adesão dos agentes locais (rádio e imprensa) que poderão ser parceiros na di-vulgação do projecto;· Implementação de pelo menos uma acção

de formação profissional para os professores do Ensino Básico;· Desenvolvimento de comunicação entre as

crianças cegas;· Desenvolver hábitos e atitudes de coopera-

ção e respeito às diferenças.

O presente Plano de Acção Pedagógica (pap) inscreve-se no âmbito do curso a distancia de Atendimento Educacional Especializado (aee), promovido em parceria com o Ministério de Educação do Brasil e que tem em vista capacitar professores cabo-verdianos para o atendimento educacional especializado a alunos com nee.

Este Plano de Acção Pedagógica surge como uma primeira experiência de criação de ser-viços de atendimento especializado dirigido a um grupo de alunos surdos que têm vindo a frequentar as escolas do Ensino Básico In-tegrado da Praia. Concretamente este Plano de Acção diz respeito à criação/adaptação e funcionamento duma sala de aula inserido numa escola regular que ofereça atendimento educacional especializado aos alunos surdos identificados, tendo em conta a nossa realidade, os recursos existentes e em articulação com a Sala de Recursos multifuncional recém- criada na cidade da Praia.

A escolha desta temática tem a ver com o facto de, enquanto técnica da Direcção Geral do Ensino Básico e Secundário (dgebs) e elemento da equipa dos serviços centrais que responde pela área da Educação Especial, ter por várias

escolas, na formação docente e implica também adaptação das condições em que se processa o ensino e aprendizagem e a criação de serviços especializados de apoio pedagógico aos alunos com Necessidades Educativas Especiais (nee).

Como um dos países signatários da unesco Cabo Verde segue as orientações desse organis-mo internacional. Constitui preocupação do Go-verno, promover a igualdade de oportunidades para todos, valorizar a educação e promover a melhoria da qualidade do ensino. Assim sendo, o Ministério da Educação vem trabalhando na linha da Educação Inclusiva e da Declaração de Salamanca, visando garantir a inclusão escolar das crianças/jovens que apresentam nee, incluindo as derivadas das deficiências auditivas, visuais, motoras e intelectuais.

No entanto, no que concerne às crianças com deficiência auditiva são vários os cons-trangimentos ainda enfrentados devidos quer à ausência de uma língua gestual cabo-verdiana, quer de um laboratório de próteses e técnicos neste domínio, quer ainda à falta de um espa-ço próprio e adequado bem como a falta de professores preparados para trabalhar com este tipo de dificuldades.

plano 15atendimento educacional especializado a um grupo de alunos com surdezMaria Alice Pinto Figueiredo Fernandes AguiarProfessora: Sandra Suzana Maximowitz SilvaTutora: Cristiane Griebeler

A Educação para todos é um objectivo universal-mente reconhecido e atingi-lo é um dos maiores desafios com que se confrontam os estados e o conjunto da comunidade internacional. A inte-gração, a participação e o exercício dos direitos do homem são essenciais para a dignidade hu-mana. Nos últimos anos, principalmente após a Declaração de Salamanca (1994), tem-se vindo a afirmar a noção de escola inclusiva, capaz de acolher e reter, no seu seio, grupos de crianças e jovens tradicionalmente excluídos.

A educação inclusiva é um movimento que se tem vindo a estender pelos diversos países e que visa garantir o direito de todos à edu-cação e combater a exclusão respeitando e celebrando a diversidade. Isto significa que é necessário que sejam criadas condições para que este direito seja efectivamente exercido, o que tem implicações na reformulação das polí-ticas educativas, na gestão e organização das 102 103

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

vezes detectado a presença nas escolas regu-lares de crianças que não conseguem progredir na sua escolarização devido a dificuldades auditivas e ter tido sempre a sensação duma grande injustiça ao ouvir dos professores: “Este aluno não aprende; é surdo, não consegue ler, não acompanha a escolarização e eu não sei como ensiná-lo”.

objetivosobjetivo geral

· Contribuir para obtenção de melhores resul-tados em nível da sua escolarização e aprendi-zagem escolar das crianças com nee.

objetivos específicos· Criação duma sala para atendimento espe-

cializado aos alunos surdos que visa contribuir para a melhoria da qualidade da educação oferecida esse público específico e alertar/sen-sibilizar os responsáveis para esta necessidade;· Criar condições para o Desenvolvimento de

metodologias de ensino adequadas às necessi-dades da criança surda, enriquecendo a respos-ta educativa através dos recursos disponíveis (na sala de recursos, aadicd);

A proposta deste Plano de Acção é adaptar e pôr em funcionamento, em articulação com a sala de recursos multifuncional recém-criada, uma sala de aula, numa escola regular da cidade da Praia que ofereça atendimento educacional especializado aos alunos surdos, tendo em con-ta a nossa realidade e os recursos existentes. Para isso foi feito:· Identificação de duas professoras com sen-

sibilidade e interesse para trabalharem com crianças com esse tipo de dificuldades. Assim foram identificadas duas professoras com for-mação pedagógica para leccionar o Ensino Básico, motivadas e interessadas por serem elas mesmas mães de crianças surdas, apesar de não terem formação específica.· Identificação, disponibilização e adequação

duma sala de aulas numa escola do Ensino Básico da Praia, para atendimento de dois pequenos grupos de crianças surdas. Teve-se em atenção, na adequação desses dois espa-ços, que não fossem totalmente estanques (há possibilidade de circular entre ambos) de modo a permitir a colaboração e inter-ajuda entre as professoras, tendo em conta que nenhuma delas tem conhecimento da Língua Gestual.

nos surdos e do indivíduo surdo cabo-verdiano.A leitura dos documentos disponibilizados

sobre esta temática no âmbito deste curso de AEE confirma que para a criança surda e o indi-víduo surdo no geral, o desenvolvimento duma língua gestual própria, ligada ao contexto e à sua própria cultura, que lhe permita comuni-car, conhecer o mundo que a rodeia, aceder à educação, à formação profissional, aos bens e serviços, desenvolver a sua identidade, a sua auto-estima, o sentimento de pertença, é, antes de mais, um direito humano que só se realizará se forem criadas as condições.

As crianças surdas no nosso país, apesar de terem acesso às escolas, acabam por ser abandonadas, dado que estas não têm res-postas para as suas necessidades específicas. Elas encontram-se dispersas pelas escolas regulares, frequentando salas de aula super-lotadas com cerca de 37 crianças ouvintes, com as quais a criança surda não consegue comunicar (o mesmo acontecendo em relação aos professores), dado que não dispõem de um código comum de comunicação e assim não chegam sequer a completar a escolaridade básica obrigatória.

· Criar condições para o desenvolvimento e utilização da comunicação em Língua Gestual, como língua primeira da criança surda, possi-bilitando-lhe alargar o seu pensamento e um melhor conhecimento do mundo que a cerca;· Apoiar os professores do ensino regular na

definição de estratégias, metodologias e recur-sos que favorecem a implementação de práticas pedagógicas com vista ao atendimento dos alunos surdos; · Fazer o acompanhamento, avaliação e análise

dos resultados alcançados, com vista a poder alargar a experiência a outras localidades e ilhas.

metodologiaEste Plano de Acção diz respeito à criação de serviços de atendimento e apoios especializa-dos, dirigidos ao grupo de alunos surdos iden-tificados e respectivas professoras do ensino regular, visando minimizar as dificuldades que essas crianças enfrentam na sua integração escolar e sócio familiar, e contribuir para di-namizar o desenvolvimento de metodologias de intervenção susceptíveis de responder às necessidades educativas específicas dos alu-104 105

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planos de ação pedagógica planos de ação pedagógica

· Organização dos dois grupos de 10 a 11 crian-ças cada, sendo um grupo da 1ª fase e outro da 2ª fase do Ensino Básico, com problemas de au-dição ou surdas - imperativo das características específicas deste público alvo - de acordo com a idade e os anos de escolaridade, ou seja, os anos de permanência na escola o que não corresponde necessariamente a conhecimentos adquiridos.· Disponibilização de uma monitora da aadicd

que já vem há cerca de quatro anos a trabalhar com este grupo de crianças surdas em horário contrário ao da escolarização regular, como forma de apoiá-las na comunicação gestual.· Disponibilização de materiais didácticos em

Língua Gestual Portuguesa (lgp) e equipamen-tos informáticos e de apoio e tic’s que estas crianças têm vindo a utilizar na Associação de Apoio ao Desenvolvimento e Integração da Criança Deficiente (aadicd) – associação que tem vindo desde 2001 a organizar actividades de apoio dirigidas a essas crianças em horário contrário ao da escolarização regular e com o apoio durante 4/5 anos dum jovem surdo que fez a sua escolarização emlgp.

Pretende-se que as actividades ligadas à escolarização/aprendizagem se deem nos dois

Gestual e a consciência sociocultural dos Surdos cabo-verdianos criadas;· Professores, os pais, os encarregados e res-

ponsáveis de educação sensibilizados para as necessidades da criança surda;· Resultados em nível da escolarização me-

lhorados.

pequenos grupos dos alunos surdos, mas par-ticiparão no recreio, refeições, e actividades organizadas pela escola, juntamente com todas as outras crianças. O currículo seguido será o do ensino regular com as adaptações necessárias às características do nosso grupo alvo.

Concretamente e tendo em atenção que a principal dificuldade com que a criança surda se defronta na sua escolarização/aprendiza-gem tem a ver com a sua forma específica de comunicar, ao reunir o grupo de alunos sur-dos num mesmo espaço, pretendemos criar as condições para que desenvolvam a sua forma própria de comunicar (a comunicação gestual), no sentido desta poder vir a evoluir para uma Língua Gestual cabo-verdiana, ligada ao contexto do nosso povo. Esta será assim uma experiência piloto a ser acompanhada e avaliada, com vista à sua implementação a outras localidades e concelhos.

resultados esperados· Sala criada e a funcionar;· Responsáveis e professores sensibilizados

e capacitados;· Condições para o desenvolvimento da Língua 106 107

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3IMPRESSÕES ACERCA DO CURSO DE APERFEIÇOAMENTO EM ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO — CABO VERDE

Sandra Suzana Maximowitz Silva Cristiane Griebeler

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ivemos em uma época que traz evidên-cias de uma grande transformação na educação. Quando os gregos fundaram seus liceus (primeiras escolas), trouxe-

ram para nós o formato que hoje reproduzimos, com um professor e alunos dispostos em uma área específica para aprender o conteúdo dis-ponível, herdado pela história da humanidade que, conforme a experiência, foi acrescentando elementos e complexidade a esse conteúdo. Agora, passamos a contar com uma instrumen-tação que revoluciona essa dinâmica.

Ao longo da história, nossa espécie foi de-senvolvendo conhecimentos que permitiram ampliar a visão humana e construir extensões da capacidade de perceber a natureza ao redor por meio de variados instrumentos, com apli-cações nunca antes imaginadas, sendo a sua culminância desenvolvimentista no período que envolve a Revolução Industrial até nossos dias e para o futuro. Isso não garantiu, em princípio, a noção de que a sociedade possui a diversidade como uma característica inerente ao ser humano e grande responsável pelas diferenças que permeiam o interior das salas de aulas, as quais sempre tiveram dificuldades

Vpara alcançar a maioria de seus alunos com esse conteúdo adquirido pela história.

De qualquer forma, o desenvolvimento de ins-trumentos apropriados ao contexto educacional acena para a possibilidade de alcançar toda e qualquer condição de aprendizado, desde que haja esforços para direcionar o uso adequado de cada um deles. Ou seja, a educação começa a as-sumir uma condição diferente daquela começada pelos gregos e, traz hoje uma ampla capacidade de espaço, que consegue ultrapassar os limites geográficos das escolas e de suas dependências.

Foram vários séculos com a mesma estru-tura de ensino, sempre centrada na figura de um professor, responsável pela mediação da cultura produzida para os alunos, dependentes da interpretação singularizada de seu mestre. Da mesma forma, o conhecimento armazenado e disposto em bibliotecas, para a consulta dos conteúdos adquiridos pela experiência, passa agora a contar com uma incrível capacidade de alcance. A televisão, quando foi idealizada, apontava para a mesma direção que a internet assume hoje, pois se visualizavam grandes aplicações pelo alcance que a palavra televi-sionada poderia ter, levando educação para

os recantos mais isolados da terra, o que de fato não se confirmou como uma metodologia eficiente aos propósitos institucionais.

Agora, começamos a compreender que, ape-sar da instrumentação que alcançamos, foi preciso um avanço na forma de encarar a so-ciedade e suas manifestações. É necessário repensarmos nossas relações de convivência e adaptarmos, não somente nossa configura-ção arquitetônica, mas também nossa forma de ver o ser humano e, então, colocarmos em uso o que a internet possibilita agora. Fomos acostumados a pensar de forma compartimen-tada, categorizando nosso meio, dividindo-o em hemisférios, fronteiras, etnias e, por fim, interesses individualistas que terminam por criar uma distância muito grande do contexto universalizado que tínhamos e não percebíamos.

A evolução, que está em marcha, demonstra o quanto é necessário um esforço de convi-vência em um ambiente que preveja diferentes situações e condições humanas. Desse modo, esse esforço deve ultrapassar todas as barrei-ras, sejam quais forem as dificuldades, apro-ximando todos os países, pois os interesses e necessidades são os mesmos.110 111

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Como referimos anteriormente, nossa visão de mundo se amplia a partir dos instrumentos que construímos e aperfeiçoamos com a experiência, portanto, precisamos colocar em ação nosso potencial criativo e reconhecer a necessidade de nos envolvermos com a inclusão, paradigma que já vem trazendo grandes avanços culturais, desde que a roda pôs em marcha as populações humanas pelo mundo e conseguimos compre-ender que estamos destinados a aprender e a buscar sentido para nossa existência.

Sendo assim, o principal desafio enfrentado pelo ensino a distância diz respeito à abscissa geográfica existente entre professor, tutor e alunos. Nesse sentido, ressaltamos a importân-cia da diminuição desse fator e, utilizamos as tecnologias da informação e comunicação para estabelecer vínculos virtuais importantes para a exigência e motivação durante o processo de aprendizagem dos alunos.

Nessa concepção de educação a distância, os materiais e as estratégias de ensino são organizados pelo professor e cabe aos dois, professor e tutor, responder às dúvidas dos alunos. A metodologia utilizada durante esse curso de aperfeiçoamento em Atendimento

Educacional Especializado foi basicamente a utilização das ferramentas disponíveis no ambiente virtual de aprendizagem plataforma E-proinfo como: bate-papo, fórum, diário de bordo, enquete e biblioteca, além de materiais e dúvidas enviadas por e-mail. Destacamos que as ferramentas de maior utilização foram: o fórum, bate-papo e e-mail.

Os encontros na sala de bate-papo foram organizados, principalmente, com discussões de casos apresentados pelos próprios alunos, nas quais foi possível evidenciarmos as dife-renças existentes na educação cabo-verdiana em relação à brasileira. Essa sistemática foi fundamental, pois os educandos conseguiram fazer a transferência dos conteúdos estudados para seu ambiente de trabalho, oportunizando diversas discussões que tiveram continuidade nas escolas da região.

Nas atividades de fórum, foram disponibiliza-dos questionamentos a respeito do material de cada módulo estudado, sempre considerando a realidade apresentada em Cabo Verde.

Durante o curso, foi possível perceber o em-penho dos alunos em realizar as atividades e a grande participação nas discussões on-line

O Brasil, diante do novo cenário educacional, com a internet como veículo de informações e a compreensão da congruência das ações hu-manas, está colocando em prática estratégias que visam consolidar esse novo paradigma e os cursos a distância, com um conteúdo próprio para estimular a conscientização da diversidade, vêm construindo um novo sistema de ensino, começando por construir a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais, culminando com uma nova socieda-de, capaz de compreender e tentar satisfazer qualquer condição humana.

Essa tendência, caracterizada pela comuni-cação em tempo real entre pessoas situadas a uma grande distância geográfica um do outro, vem se fortalecendo. Cada vez mais os professores estão se conscientizando da necessidade de buscarem conhecimento, pes-quisarem e ajudarem a desvelar os mistérios que ainda estão aguardando nossa investida. Uma sociedade evolui na medida em que diversifica contatos e experiências. Nesse sentido, a internet assume grande parte da responsabilidade de possibilitar essa troca entre as mais diferentes culturas do planeta.

Quando percebemos esse potencial criador e aplicamos os conhecimentos em uma es-fera comum de convivência, alcançamos um ritmo de desenvolvimento em que todas as pessoas se beneficiam e a inclusão assume os contornos de que precisamos. Será em um ambiente de colaboração entre culturas que alcançaremos nossas metas de inclu-são, e para isso, a escolha deve ser nossa. Podemos nos envolver diretamente, acelerar essa transformação e buscarmos parcerias como, por exemplo, a que está ocorrendo entre Brasil e Cabo Verde. Os países estão separados por um oceano, mas engajados em um mesmo objetivo, por meio do curso de extensão a distância da Universidade Federal de Santa Maria, que visa ao aperfeiçoamento de professores no que tange ao Atendimento Educacional Especializado–aee.

O curso a distância de formação de profes-sores para o Atendimento Educacional Especia-lizado coloca em movimento um instrumental imprescindível a novas possibilidades inclusi-vas, pois envolve uma gama de conhecimentos de autores que já produziram alternativas educacionais reconhecidas pela pedagogia.112 113

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na ferramenta de bate-papo. Acreditamos com isso, termos conseguido motivar e dar suporte teórico e político suficiente para que esses pro-fessores deem continuidade ao processo inicial em seu país, fortalecendo a corrente em favor da inclusão educacional e social das pessoas com necessidades especiais.

Como forma de garantir um melhor aprovei-tamento teórico, foram realizadas aulas ao vivo no final de cada módulo. Nessa atividade, os professores responsáveis pela elaboração do material aprofundaram o conteúdo proposto, estabeleceram relações teóricas e práticas e interagiram com os alunos esclarecendo muitas dúvidas, pois como já colocamos anteriormente, a inclusão dos alunos com necessidades espe-ciais está na sua fase inicial em Cabo Verde.

Cabe destacar também que a ligação existen-te entre alunos, professora e tutora ultrapassou as barreiras de um ambiente de aprendizagem específico, como é o e-proinfo, estabelecendo contatos, utilizando outros meios de comunica-ção virtual, como as redes sociais que também podem ser utilizadas para a aprendizagem e ensino. Isso ocorreu mesmo depois do en-cerramento do curso, esclarecendodúvidas e

auxiliando os alunos em tudo que estava ao nosso alcance, sendo esse um dos pedidos dos alunos para que tenhamos esse vínculo, mesmo que virtual, para sempre.

Como atividade finalizadora do curso, soli-citamos que os educandos não só elaboras-sem um relato documentado sobre as suas impressões acerca dos módulos estudados, como também a apresentassem sua trajetória acadêmica, colocando as experiências e inten-ções de continuidade do trabalho nas escolas cabo-verdianas. Os trabalhos finais somam 14 relatos que serão apresentados a seguir, em ordem alfabética de autoria. Cabe ressaltarmos que a língua utilizada na construção dos relatos foi a língua oficial do país: o Português.

relato 1 relato documentado sobre a aplica-bilidade do curso aee na cidade de nova sintra, ilha brava , cabo verdeAutor: Alfredo Gomes

No mundo atual, a carreira docente é cada vez mais exigente, pela dinâmica do desenvolvimen-to verificado e pela necessidade de responder-mos positivamente as questões que a mesma nos coloca. Este facto empurra o professor para uma reciclagem contínua, buscando permanen-temente conhecimentos, em vários domínios do saber, através da auto-formação e formação constante. Por outro lado, a política da educação inclusiva trouxe novas ambições e aspirações para o sistema de ensino, trazendo para dentro dele todos os alunos, independentemente da sua condição física, mental ou intelectual, com deficiência, transtornos globais do desenvolvi-mento ou altas habilidades/superdotação.

Dado as fragilidades em responder os desa-fios que a educação inclusiva se coloca na ilha

Brava, tendo alunos com diversas característi-cas nas salas de aula, com necessidades de um atendimento educacional especializado e no intuito de ajudar aqueles que muito precisam, para que todos tenham uma integração possível no seu meio social, sendo felizes, decidi fazer parte dos formandos do curso aee.

Nesta mesma linha de pensamento, já par-ticipei em algumas acções de formação no domínio de Braille, orientação e mobilidade, surdez e multideficiência.

Aqui na ilha, ainda a título voluntário, de-sempenho a função de coordenador de um núcleo de educação inclusiva, que envolve todos os subsistemas de ensino existentes na ilha. Portanto a necessidade e o desejo de conhecer mais para melhor contribuir constitui um grande objectivo para mim. Estou numa ilha com uma população de aproximadamente 6.000 habitantes.

Infelizmente ainda a Brava não dispõe de sala de recursos, para atendimento educacio-nal especializado. Os professores não dispõem

os relatos dos alunos

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

Já estamos trabalhando na organização dos dossies dos alunos que possuem Necessida-des Educacionais Especiais– nee, no intuito de ter, para cada um, o estudo de caso, identificar suas potencialidades e limitações, analizar as progressões comparativamente ao programa de ensino e criar um plano de intervensão conjunta, com a participação do professor regular, dos elementos do núcleo da Ilha, dos coordenadores pedagógicos e também da família. Já dialogamos com a Delegação escolar no sentido de criação de uma sala de recursos. Estamos a trabalhar no sentido de sensiblizar parcerias para apoiar no processo de ensino e aprendizagem. Prevemos a so-cialização dos módulos com o Núcleo da Ilha e com a equipa de coordenação pedagógica. Prevemos ainda formação aos professores que leccionam alunos com nee.

relato 2 relato documentado sobre a aplicabilidade do curso aee na cidade de praia — cabo verde deficiencia auditiva em cabo verdeAutora: Danisa Cristina Carvalho Lucas Araujo Rocha

Eu fui convidada pela instituição onde trabalho para participar no curso tendo em conta que a minha formação é de Psicologia de Educação, trabalho como psicóloga nesta mesma instituição. O objectivo da instituição é responder as demandas do Ministério da Educação e sociedade em geral no que diz res-peito à inclusão de alunos com necessidades educativas especiais no ensino. Participei de uma formação, com a duração de uma semana, sobre a deficiência visual que foi dada para os professores que iriam dar aulas aos alunos invisuais com um invisual que veio da cidade da Praia. Este professor já fez lilcenciatura em sociologia e é o presidente da associação dos deficientes visuais em Cabo Verde. Foi nos ensinado a escrever e a ler Braille.

Esta formação tinha como objectivo capaci-tar os professores a trabalhar com alunos com deficiência visual, como: elaborar e corrigir tes-tes, as características de um deficiente visual, como lidar com eles numa sala com alunos sem nenhuma deficiência. Na minha formação tive uma disciplina denominada de Necessidades Educativas Especiais onde foram abordados todos os temas desta formação e mais alguma

de conhecimentos adequados para trabalha-rem com esses alunos. Por esta razão, muitos desses alunos encontram-se na sala apenas para socialização. De referir que muitos estão no terceiro ou quarto anos de escolaridade, sem bases do primeiro ano. Salientamos ainda a existência de muitos adultos ou adolescentes analfabetos por causa da sua deficiência.

Participar do curso aee foi bastante impor-tante e proveitoso. Aprendi muita coisa nos dez módulos estudados, com a participação nos bate-papos e aulas ao vivo e principalmente na interação com os colegas, através das contri-buições e comentários. Além de conhecimen-tos importantes, ganhei mais sensibilidade e motivação para trabalhar com casos de nee, pesquisando e procurando parcerias.

Dos módulos do curso estudados ficou claro os seguintes aspectos:· Todo aluno aprende independentemente da

sua condição. Basta estudar e proporcionar-lhes acessibilidades;· A existência de uma sala de recursos multifun-

cional (espaço físico, mobiliários, materiais didá-ticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade e equipamentos específicos) é indispensável;

· Quanto mais cedo for a identificação do pro-blema, melhor será o atendimento;· A matrícula dos alunos no aee está condicio-

nada à matrícula no ensino regular da própria escola ou de outra escola;· Do plano do aee deve constar a identificação

das necessidades educacionais específicas dos alunos, definição dos recursos necessários e das atividades a serem desenvolvidas e o cro-nograma de atendimento dos alunos; · Disponibilidade de um professor para o

exercício do aee; · Estabelecimento de parcerias com profis-

sionais da educação (tradutor e intérprete da Língua Brasileira de Sinais, guia-intérprete e outros que atuam no apoio às atividades de alimentação, higiene e locomoção); · Articulação entre professores do aee e os

do ensino comum; · Dinamização de redes de apoio: no âmbito da

atuação intersetorial, da formação docente, do acesso a recursos, serviços e equipamentos, entre outros que contribuam para a realização do aee.

Neste momento considero melhor preparado para desempenhar as minhas funções como coordenador do núcleo da Educação Inclusiva. 116 117

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

Visual, Deficiência Auditiva, Deficiência Física, Deficiência Mental, Surdocego, Transtornos Globais e Altas Habilidades/Superdotação são importantes para o meu trabalho, sendo psicóloga de uma escola, que está interessada e preocupada com a questão da inclusão. Eu sempre me identifiquei mais com a deficien-cia visual, mas irei falar sobre a deficiência auditiva. Não sei até que ponto a deficiência auditiva será viável para o futuro na minha escola, porque já temos uma sala de alunos surdos aqui em São Vicente que estudam o ensino básico com uma professora ouvinte.

Antes desta formação eu era contra os alunos surdos estarem numa sala só de surdos porque achava que isto era uma exclusão e não uma in-clusão. Com o módulo sobre deficiência auditiva mudei a minha opinião em relação á inclusão dos surdos. Os alunos surdos devem participar de uma sala de estimulação, onde devem adquirir sua língua, mas posteriormente, devem ser inclu-ídos nas salas regulares e receber o atendimento educacional em sala de recursos no contra turno. A surdez constitui uma diferença que deve ser reconhecida, é uma identidade múltipla que se gesta e se constrói nas vivências quotidianas das

comunidades surdas e principalmente a surdez constitui uma experiência efectivamente visual.

Nessa perspectiva, o sujeito surdo apresenta uma diferença sociolinguística, ou seja, ele inte-rage com o mundo a partir de uma experiência visual. Todas as suas construções mentais se dão pelo canal espaço-visual mediado pelo seu instrumento natural de comunicação: a língua de sinais e a língua escrita. Ao compartilharem uma língua comum, os surdos passam a se reconhecer como membros de uma comunidade singular.

O contacto com o mundo, a interacção com o meio para os surdos se constrói a partir do canal viso-manual, e não através da oralização. Esse fato está directamente ligado a constru-ção cultural A educação bilíngüe é um direito daqueles que utilizam uma língua diferente da língua oficial do país, de serem educados na sua língua. Em relação aos estudantes surdos, a instrução e o ensino da língua de sinais dos alunos surdos, e da língua portuguesa devem estar presentes no contexto escolar.

Neste sentido ainda Cabo Verde está a en-frentar várias dificuldades e precisamos de uma solução urgente para estes alunos e muitos que ainda virão porque acho que são muitos

coisa. Esta disciplina teve a duração de dois anos a minha professora foi uma cubana.

A instituição onde trabalho – Escola Secundá-ria Jorge Barbosa - é uma escola secundária que começa no 7º ano até o 12º ano de escolaridade na cidade do Mindelo. Não tem uma sala de recursos, mas sim um gabinete de psicologia e Orientação Escolar e Profissional, onde trabalha duas psicólogas (eu e outra colega), aborda-mos alunos não com necessidades educativas especiais, mas sim alunos com dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento como também fazemos orientação escolar e profissional aos alunos do 10º e 12º ano para ajudá-los na escolha de suas profissões. Temos também alunos que procuram o gabinete para desabafar ou tirar dúvidas sobre suas vidas pessoais (problemas familiares, em nível da sexualidade, de adaptação).

Normalmente são os diretores de turmas que enviam os alunos para o gabinete a pedido deles mesmos ou dos pais, ou também dos professores. O gabinete tem vindo a adquirir alguns materiais gradualmente como testes para avaliação ou para intervenção com os alunos, alguns livros e computador normal. Mas a escola possui alguns

equipamentos para os alunos invisuais como má-quina de escrever Braille, impressora de Braille, soroban, pauta e punção, caneta para escrever em relevo, programas de computador para os invisuais. A escola também possui uma rampa para os alunos com deficiência motora ou fisica.

Foi a primeira escola secundária a receber alunos com necessidades educativas especiais, começou com um aluno com deficiência visual, ao dar entrada na secretaria dos seus documen-tos a secretária teve que telefonar ao diretor da escola para perguntar se podiam tomar a matrí-cula por ser um aluno com deficiência visual (se-gundo relato do próprio director da escola) e ele resolveu tomar o aluno como sendo um desafio para a escola e desde então tem movido todos os esforços para que o aluno se sinta incluído nesta escola com formações, aquisição de ma-teriais. Este aluno neste momento se encontra no 10º ano de escolaridade com boas notas, é apreciado pelos colegas e professores. Depois foi a vez de um aluno da ilha de Santo Antão que foi rejeitado pelas escolas da ilha e encontrou como opção a nossa escola.

Todos os módulos estudados: Educação á Distância, Tecnologias Assistivas, Deficiência 118 119

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

impotentes, pois, faltam-nos estratégias apro-priadas que nos permitam responder, por um lado, às necessidades identificadas, e por ou-tro, proporcionar um ensino de qualidade às crianças com nee.

Com a formação já posso ajudá-los através dos professores do ensino comum, dando o meu apoio, ajudando a encontrar estratégias e a elaborar materiais pedagógicos adequados às necessidades específicas dos mesmos. Sin-to que já posso intervir o mais cedo possível ajudando os professores a proporcionar um ensino individualizado, aceitar as diferenças dos alunos com necessidades especiais, a va-lorizar aquilo que essas crianças são capazes de fazer e a respeitar o seu ritmo de apren-dizagem. Muitas vezes são essas pequenas coisas que nos faltam, para fazer um trabalho de qualidade com as nossas crianças especiais. Promover as condições para a inclusão dos alunos com necessidades especiais em todas as actividades da escola.

E de realçar que, a participação no cur-so, contribui para desenvolver em mim maior expectativa da pedagogia centrada na crian-ça com necessidades especiais, visto que já

trabalhamos com a pedagogia centrada nos alunos ”ditos normais”, mas muitas vezes não sabemos como enquadrar os alunos com nee.

Este curso veio trazer um conjunto de co-nhecimentos técnicos, que na prática visa preparar cada um de nós formandos, para desenvolver um trabalho conjunto, com os demais envolvidos nesse processo que é a educação e desenvolvimento das crianças em geral. As nossas práticas pedagógicas necessitam de ser mais valorizadas: não so-mente a zona de desenvolvimento proximal; não valorizar só o que o aluno consegue fazer, mas acima de tudo como ele consegue chegar ao resultado. Também orientar as famílias para o seu envolvimento e a sua participação no processo educativo.

Ao longo dos anos já participei em alguns encontros de sensibilização e reflexões, so-bre a educação especial/inclusiva. Em 2006 participei numa formação sobre “Orientação e mobilidade” e “Sistema Braille integral e Códi-go Matemático Unificado” com professores do Brasil. Com a formação “Orientação e mobili-dade” ficamos a saber que o conhecimento é indispensável para a conquista da autonomia e

os alunos surdos em São Vicente e Cabo Verde em geral. É neste sentido que este módulo me chamou atenção e também é um tema vasto e que precisa ser trabalhado, pois já estamos a dar largos passos para a sua concretização, primeiro com a sala de surdos e depois com esta formação, estamos a caminhar bem.

A primeira coisa que eu acho que deverá ser feito é uma apresentação dos módulos á nossa instituição (escola onde trabalhamos), para uma divulgação e conscencialização da importancia da inclusão das crianças com necessidades educativas especiais numa escola regular.

Depois de abranger e profissionalizar os co-nhecimentos com formações específicas sobre cada uma das áreas ou deficiências; elaborar projectos com o apoio da sala de recursos para trabalhar com as crianças com necessidades educativas especiais; trabalhar com os pais encarregados de educação afim de conscientizá-los para inclusão das crianças em escolas regu-lares, apoiá-los promovendo esclarecimentos sobre as deficiências dos filhos, como podem ajudar os filhos no sentido de uma inclusão em todos os níveis; trabalhar com a equipa da sala de recursos com intuito de apoiá-los na tarefa de

trabalhar com as crianças deficiências, ajudá-los na elaboração de materiais para a sala de recursos e não só, visto que a maior queixa da sala de recursos é a falta de meios ou recursos materiais para trabalhar com os alunos.

Também visitar a sala de recursos daqui de São Vicente apeá-los no que for preciso; esti-mular a associação dos invisuais que também existe aqui em São Vicente para participar nos seus projectos e programas e tentar levar para os colegas de trabalhos para sensibilização e aperfeiçoamento dos conhecimentos; colocar como actividade extracurricular dos alunos de psicologia: visitas, entrevistas as associações já referidas para trabalhos posteriores com o objectivo de levá-los a se interessarem na ajuda de pessoas com deficiências em vez de estarem a fazer deles motivos de troça.

relato 3 aplicabilidade do curso aee na cidade de ribeira grande — santo antãoAutora: Elisabete Santos

Sempre que deparamos com casos novos de deficiências nas nossas escolas, sentimo-nos 120 121

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

O processo de aprendizagem de alunos ce-gos se desenvolve por meio da utilização dos sentidos restantes e utilizar o Sistema Braille como meio de comunicação escrita, enquanto que para os alunos com baixa visão o processo educativo se dá por meio visual, utilizando os recursos específicos.

O atendimento educacional especializado possibilita o desenvolvimento das actividades mais simples e de interacção com o mundo. Há algumas actividades que precisam ser ensina-das para que possam estabelecer relações com o meio e aprender formas, tamanho, posição e localização de objectos.

O nosso grande desafio é garantir o acesso e principalmente a permanência dos alunos es-peciais na escola. O curso aee possibilitou-nos a formação dos alunos especiais e ajudá-los a atingir vários objectivos ao longo dos tempos. Um dos objectivos é o de buscar a autonomia na escola e fora dela, visando assim, à melhoria da qualidade das respostas educativas que a escola pode oferecer, facilitando assim o pro-cesso ensino-aprendizagem.

Tenho a consciência que na escola e na nossa sociedade educativa muitas coisas precisam

ser reformuladas e pensadas com carinho. Já melhoramos no planejamento das aulas, as prá-ticas pedagógicas, os processos de avaliação, entre outros. Temos feito algumas discussões e reflexões com professores afectos a turma, gestores e toda a comunidade educativa con-forme o caso, para o bem dos nossos alunos com necessidades especiais.

É urgente incutir na nossa sociedade em geral, que é preciso mudar a postura e aceitar o aluno com necessidades especiais, acreditando nele e em seu potencial. Conforme for a realidade e a necessidade de cada escola, teremos que realizar mais palestras, organizar um programa de apoio às necessidades educacionais espe-ciais do aluno, fazer com que a escola ofereça actividades onde ele possa adquirir hábitos da vida diária e encontros periódicos com os professores que trabalham com as crianças especiais. Também estar mais perto das famí-lias, motivando-as a colaborar e a participar na vida educativa dos filhos, de forma que sua intervenção seja segura e eficaz.

consequentemente a independência e inclusão do deficiente visual na escola e na sociedade.

Em encontros de reflexões chegamos a conclusão que devemos promover uma escola para todos, devemos educar para a diversi-dade. Os encontros/formações foram quase todas direccionadas a promoção da educação inclusiva em Cabo Verde. Também sensibilizar para a mudança de opinião e para a constru-ção de consensos. Sabemos que a educação inclusiva não acontece de um dia par o outro, requer um processo de mudança de conceito.

Os módulos estudados foram de alta qua-lidade, porque os autores dos mesmos pri-vilegiaram-nos com a possibilidade de num tempo restrito, serem obtidas informações significativas para a compreensão daquilo que estava em estudo. Todos os módulos são de extrema importância para o nosso dia-a-dia com as crianças especiais.

Entretanto, identifiquei-me mais com o módulo vi (atendimento educacional especia-lizado para alunos cegos e com baixa visão).

“A audição e o tacto são os principais canais de informação utilizados pelas pessoas ce-gas.” Acho fascinante aprender através dos

outros sentidos, dando significado a toda a informação recebida através da audição, do tacto e dos resíduos visuais, sempre que existam. No que diz respeito à educação das crianças cegas, a criação de situações que estimulem a curiosidade, a possibilidade de exploração do ambiente e a interacção com os outros.

Alunos cegos devem desenvolver a formação de hábitos e de postura, destreza táctil, o senti-do de orientação, esquemas e critérios de ordem e organização, o reconhecimento de desenhos, gráficos, diagramas, mapas e maquetes em re-levo, dentre outras habilidades. As estratégias de aprendizagem, os procedimentos, o acesso ao conhecimento e à informação, bem como os instrumentos de avaliação, devem ser adequa-dos às condições visuais destes educandos.

Segundo o módulo estudado sobre as activi-dades pedagógicas e estratégias de aprendiza-gem, o atendimento as necessidades educativas das crianças cegas, inclui variedade de expe-riências, formação de conceitos, orientação e mobilidade, interação com o ambiente e acesso a informações imprensas em Braille, em carac-teres ampliados e outros.122 123

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

professores; e ainda como não podia deixar de ser, falamos da nossa realidade que a bem pouco tempo tinha tido uma grande mudança positiva e que ia de encontro com as directrizes da Unesco e Convenção de Salamanca.

Lecciono a disciplina de Língua Inglesa na escola Secundária Jorge Barbosa, níveis iii e iv, 9º e 10º ano respectivamente, tenho cerca de 180 alunos divididos em 6 turmas das quais tenho uma do 9º ano onde está incluído um aluno invi-sual e mais outros 32 alunos, e outra do 10º ano onde está incluído outro aluno invisual com mais 27 alunos. A escola possui no total 2.020 alunos.

No decorrer do curso, foram estudados 10 Módulos pela seguinte ordem: Educação à Dis-tância, Atendimento Educacional Especializado, Tecnologia Assistitiva, Atendimento Educacional para Alunos com Deficiência Física, Atendimento Educacional para Alunos com Deficiência Mental, Atendimento Educacional para Alunos Cegos e com Baixa Visão, Atendimento Educacional para Alunos Surdos, a Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar Surdocegueira e Deficiências Múltiplas, Transtornos Globais do Desenvolvimento e Atendimento Educacional para Alunos com Altas Habilidades/Superdop-

tação. Sou da opinião que todos os módulos são extremamente abrangentes, mas claro há aqueles que nos chamem mais atenção.

Portanto, o módulo que houve maior identi-ficação, utilidade ou viabilidade de aplicação em decorrência das minhas actividades actuais foi o Módulo vi, Atendimento Educacional Para Alunos Cegos e Com Baixa Visão, devido a ne-cessidade em alargar os meus conhecimentos neste campo, o que me fez compreender que no nosso dia-a-dia temos uma infinidade de estímulos visuais, daí a designação da nossa sociedade como sendo “visiocentrista”, isto é, a visão ocupa o topo dos sentidos e o centro das atenções e dos sistemas de expressão e comunicação humana, assim sendo na escola não podia ser diferente.

Estas referências visuais estão presentes na fala, no material impresso, nas metodologias, actividades, tarefas e em outros aspectos da organização do trabalho pedagógico, o que nos leva a crer que a fala e os sons por si só podem ter pouco sentido, ganhando o contacto físico grande expressividade, logo a falta de visão deixa um vazio a ser preenchido com outras modalidades da percepção nomeadamente a

relato 4 relato documentado sobre a aplica-bilidade do curso atendimento edu-cacional especializado na cidade do mindelo, são vicente — cabo verdeAutor: Gilson Spencer Brito Lopes

Com o presente curso penso estar mais ha-bilitado para leccionar, compreender alunos que tenham qualquer necessidade educativa especial, trabalhar como professor na sala de recursos, socializar e compartilhar com cole-gas as minhas experiências vivenciadas e/ou debatidas ao longo do curso e soluciona-las da melhor maneira possível.

A minha primeira experiência nessa área ocorreu em Setembro de 2007, quando um aluno invisual iniciou os seus estudos na escola onde lecciono. Foi-nos ministrada uma acção de capacitação em Braille pelo Dr. Manuel Julio Rosa, que é invisual, e pela professora Hiron-dina que também é especialista, licenciada na área e professora da sala de recursos de São Vicente, promovida pela Escola secundaria Jorge Barbosa e financiada pelo Ministério da educação. Dois anos depois, foi feita outra

acção de capacitação para outros colegas que iniciariam o seu trabalho com um novo aluno, também invisual, da qual participei com o ob-jectivo de reciclar.

Nessa formação iniciamos com um breve en-quadramento histórico, distinguimos os concei-tos de segregação, integração e inclusão, foi-nos dada uma noção de Atendimento Educacional Especializado importante porque eliminou a ideia de que este só se direcciona a crianças com deficiências, elucidando-nos e acrescentando que também se focaliza a crianças ditas super-dotadas ou com altas habilidades. Aprendi que a inclusão dos alunos com necessidades edu-cativas especiais tem muito a ver com a família, os professores e colegas que desempenham um papel muito importante na socialização do indivíduo no que respeita a família designada de socialização primária, e na escola, ou seja, com os professores, colegas e vizinhos, aquela denominada de socialização secundária.

Fizemos uma introdução ao Braille e aos materiais utilizados por esses alunos; alguma consideração pedagógica que devemos ter em conta, esta que apresentava-se como a grande preocupação da grande maioria dos 124 125

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

relato 5 apresentação do trabalho final do curso relato documentado sobre a aplicablidade do curso aee na cidade da praiaAutor: José Carlos M. de Pina

Eu, José Carlos M. de Pina, Professor do Ensino Básico já há 17 anos, em Cabo Verde, na Ilha do Fogo, Concelho dos Mosteiros e há quatro anos desempenhando as funções do Coordenador Pedagógico, neste mesmo Concelho.

Devo salientar que já passei por várias ac-ções de formação, entre as quais na área de educação especial por uma semana, junto de alguns colegas Professores, em particular na área de deficiência visual em que o formador foi um sociólogo de nome Manuel Julio que reside na cidade da Praia, actualmente presidente da Escola dos deficientes visuais na mesma cida-de. Todos nós os formandos congratulamo-nos com a forma como foi ministrada a formação uma vez que nós enriquecemos os nossos conhecimentos científicos e pedagógicos na área de Educação Visual embora esta formação decorresse num curto espaço de tempo.

No mês de Setembro foi assinada uma par-ceria entre o Ministério da Educação de Cabo Verde e a Universidade Federal de Santa Maria (Brasil)para a promoção de um curso no âmbito das necessidades educativas especiais em vá-rias áreas, curso esse que teve início no mês de Setembro de 2011 até a presente data.

A referida formação é ministrada em duas vertentes, presencial e a distância, em que esta foi orientada através do ambiente virtu-al, tendo em conta, aula ao vivo, bate papo e estudos de dez Módulos.

Quanto a realidade educacional da cidade devo frisar que nela se encontra inseridos todo os subsistemas educativos a funcionar, inclu-sive uma sala de recursos que foi visitada por nós os formandos, a referida sala é equipada por materiais didácticos e é frequentada dia-riamente por alguns alunos da cidade.

Há vários estabelecimentos do ensino pré-escolar, vários Pólos Educativos do Ensino Básico espalhados por todos os Bairros desta cidade, vários estabelecimentos do ensino se-cundário, Escola dos deficientes visuais e quatro universidades entre públicas e privadas, para além de centro de formação dos Professores

audição e o tacto. O professor que tem alunos invisuais na sala deve ter sempre isso em conta.

Nesse módulo foram destacados vários as-pectos extremamente importantes como: a visão ou falta dela, cegueira congénita e cegueira ad-quirida, formação de conceitos e representações mentais, actividades pedagógicas de aprendiza-gem em que se destaca o desenvolvimento da formação de hábitos e de postura, destreza táctil, o sentido de orientação, esquemas e critérios de ordem e organização, o reconhecimento de de-senhos, gráficos, diagramas, mapas e maquetes em relevo entre outras habilidades, por exemplo, quanto à disciplina que lecciono, Língua Ingle-sa, sei que devo priorizar a conversação em detrimento de recursos didácticos visuais que devem ser explicados verbalmente, entender a baixa visão, como fazer uma avaliação funcional da visão, da acuidade visual, do campo visual, eficiência ou desempenho visual, bem como os recursos ópticos e não ópticos, também há uma exposição sobre o sistema Braille, dados históricos, o alfabeto Braille, a escrita Braille, a leitura táctil, Braille virtual e a produção Braille, e ainda orientação e mobilidade bem como os recursos tecnológicos que revelaram ser muito

úteis, visto que os meios informáticos ampliam as possibilidades de comunicação, de acesso ao conhecimento e de autonomia pessoal.

Porém às vezes pouco acessíveis principal-mente junto da nossa comunidade onde os re-cursos são parcos, e por último, convém destacar a adaptação de materiais que surge então como a solução mais viável em muitas circunstâncias, como os modelos e maquetes que efectivamente nos dão a noção e os conceitos relacionados, por exemplo, com os acidentes geográficos, ao sistema planetário e aos fenómenos da natureza que podem ser compreendidos e assimilados, os mapas que podem ser representados em relevo e o sorobã na realização de cálculos matemáticos.

Em suma o curso superou todas as minhas expectativas. E se eventualmente tiver a oportu-nidade de fazer outra formação ou então um mes-trado na área o faria sem receio nenhum e fico aguardando ansiosamente esta oportunidade.

Pretendo se houver oportunidade, cooperar ou trabalhar como professor na sala de recursos, já que infelizmente a minha escola não possui uma ainda. Com certeza irei socializar e com-partilhar com colegas as minhas experiências vivenciadas e/ou debatidas ao longo do curso.126 127

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

fas do quotidiano escolar como, escrever,

apagar, manejar cadernos e livros, pintar,

recortar e colar. Além do outros que são

adequados a condição do aluno (bersch; machado, 2011).

Nesta unidade há uma descrição dos diferen-tes materiais pedagógicos que valorizam dife-rentes habilidades, recursos de acessibilidade ao computador e descrição respectivamente. Refere ainda a Comunicação Aumentativa e Alternativa que é destinada a atender pessoas sem fala ou escrita funcional ou com dificulda-des entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade em falar e/ou escrever.

É de salientar que a partir de momento que eu comecei a ler o módulo já supracitado (Tec-nologia Assistiva) acompanhado de aula ao vivo e bate papo, fiquei a pensar na viabilidade de aplicação desta tecnologia nas Escolas do meu Concelho “Mosteiros – Cabo Verde”, uma vez que existem algumas crianças que estão no sistema que precisam receber um atendimento especial no decorrer da Aprendizagem.

Eu e a minha colega “Manuela” que foi con-templada também com esta formação partilha-

mos muitas impressões acerca da viabilidade da aplicação dos módulos já estudados. Pas-samos por algumas escolas do nosso Concelho, fizemos levantamento de crianças com nee e conseguimos multiplicar alguns conhecimentos junto dos nossos colegas professores no que concerne ao atendimento das crianças com necessidades educativas especiais.

Quanto a tecnologia Assistiva já estou a ela-borar um projecto no sentido de dar algumas acções de formação relacionada com os conte-údos que estão no módulo, sem desconsiderar a importância dos outros módulos.

E quanto a sala de recursos no nosso Con-celho ainda não é uma realidade, o que às vezes dificulta-nos bastante no atendimento individualizado, pelo que estamos a contar com este espaço a partir do início do próximo ano lectivo, e se assim for de certeza, as crianças portadoras de deficiências terão maior oportu-nidade de serem atendidas.

Em suma devo salientar que esta formação para mim valeu a pena e foi muito frutífera, veio me ajudar a enfrentar os novos desafios que a educação nos impõe, através da qual adquiri um leque de conhecimentos científicos e

do Ensino Básico que a partir do próximo ano será transformado num centro universitário.

Quanto aos recursos materias e humanos devo frisar que há uma disparidade entre as escolas desta cidade em todos os subsistemas de ensino, isto é, há umas que estão bem apetrechadas, com materiais didácticos que permitam uma aprendizagem sólida, ambiente físico da Escola motivante, abundância de mobiliários e recursos humanos todos ou maioria com formação aca-démica e profissional qualificada, há uma forte presença e participação de pais e encarregados de educação, participam na programação e implementação das actividades levadas a cabo por todos os subsistemas educativos, mas, há outras Escolas que continuam com insuficiência de materiais didácticos, bem como falta de pro-fessores qualificados e condições físicas pouco motivantes para a aprendizagem, em que a pre-sença e participação dos pais e encarregados de educação é muito fraca o que condiciona um bom aproveitamento e boa imagem das escolas.

É de salientar que durante a formação tivemos a oportunidade de estudar 10 Módulos, em que em cada sessão presencial fizemos a exploração e avaliação de cada um desses módulos com as

orientadoras vindas do Brasil. Quanto a identifi-cação do Módulo, eu na qualidade de formando devo frisar que o módulo que mais me cativou é o Módulo iii, Técnologia Assistiva, uma vez que aborda conceito de educação especial com base nos pressupostos da educação inclusiva, destacando a Política Nacional de Educação Especial da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação.

Devo frisar que neste Módulo a maior no-vidade para mim é a partir da unidade B que aborda o conceito e objectivo da Tecnologia Assistiva–ta, a sua composição, abordagem do Desenho Universal para diferenciar da ta.

A unidade C apresenta a classificação:em categorias da ta, como por exemplo

auxílios para a vida diária e e vida práti-

ca é uma categoria da ta que se refere

aos materiais e produtos que facilitam o

desempenho funcional de pessoas com

deficiência em tarefas da vida quotidiana,

tais como, vestir-se, alimentar-se, cozi-

nhar e tomar banho.

No contexto educacional, visando à inclu-

são dos alunos com deficiência encontra-

mos vários recursos que favorecem tare-128 129

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buição, lá onde for possível em prol do desen-volvimento do processo ensino-aprendizagem das crianças com nee.

Realizar o curso de aee para mim foi uma mais valia na medida em que pertencendo ao núcleo de Educação Especial seria uma forma de ampliar os conhecimentos e estar cada vez mais e melhor preparada para enfrentar novos desafios em relação ao desenvolvimento da aprendizagem das crianças com nee existentes no concelho da Ribeira Grande. Estou extre-mamente satisfeita com a realização desse curso porque por um lado, tive a oportunidade de adquirir muitos conhecimentos no que diz respeito ao trabalho que deverá ser feito na sala de recursos com as crianças com nee e por outro, incentivou-me ainda mais para novas pesquisas sobre esta temática.

No nosso concelho, ano após ano vem au-mentando os casos de crianças com NEE que frequentam os vários subsistemas de educação e o nosso objectivo é fazer de tudo para que estes desenvolvam as suas aprendizagens, respeitando a forma peculiar de aprender de cada sujeito. Nesta matéria sinto-me bastante sensibilizada e motivada para junto das escolas,

famílias e da comunidade em geral, estabelecer parcerias com profissionais de outros serviços, procurar melhores estratégias e materiais de acordo com necessidades específicas de cada criança, promovendo assim a inclusão e desen-volvimento efectivo da aprendizagem.

Também temos como desafio percorrer todo o concelho, procurando crianças com nee que se encontram fora do Sistema Educativo e fazer de tudo para que possam regressar à escola. Para isso, vamos ter que desenvolver um trabalho de sensibilização junto das famílias e da comuni-dade em geral desmistificando a deficiência, mostrando-lhes que é possível desenvolver a aprendizagem apesar de terem uma deficiência.

Quanto a minha participação noutras sessões de formação na área de Educação Especial, realmente desde o ano 2001, altura em que assumi a Coordenação Pedagógica da Educa-ção Pré-Escolar no concelho da Ribeira Grande/Santo Antão, há esta altura, tenho participado em várias acções de capacitação (de curta duração) sobre a Educação Inclusiva em Cabo Verde promovidas pela dgebs, trabalhando na questão da sensibilização e algumas estratégias de como trabalhar com crianças com nee.

pedagógicos na área de Educação Especial, co-nhecimentos esses que me forneceram suporte para ajudar os colegas na procura de estratégias para atender as crianças com necessidades educacionais especiais.

Há possibilidade de continuar com as discus-sões junto dos meus colegas do meu concelho através das acções de formação que estamos a programar, com a implementação da sala de recursos, com as visitas de observação de aulas, com a programação das actividades extracurricu-lares e entre outras possibilidades de discussões.

A meu ver acho que esta formação devia ter a continuidade no sentido de enriquecer cada vez mais os nossos conhecimentos na vertente pedagógica e consequentemente multiplicá-la junto dos colegas que não tiveram a oportuni-dade de recebê-la e, se assim vier acontecer, eu estarei disponível a dar a continuidade para que o meu Concelho fique cada vez mais preparado na pedagogia do atendimento às crianças com necessidades educacionais especiais.

Eu gostaria de felicitar a todos aqueles que fize-ram com que esta formação fosse uma realidade em particular as orientadoras, pela forma como nos abordaram a parte prática e teórica, quer

nas aulas presenciais, como também nas aulas ao vivo e bate papos através do ambiente virtual.

relato 6 aplicabilidade do curso de aee no con-celho de ribeira grande — santo antãoAutora: Lúcia Ângela Miranda

A Educação Especial é a área que me toca mui-to. Desde que iniciei as minhas funções como educadora e deparando com uma camada des-privilegiada, ou seja, que se encontrava na sala de aula sem nenhuma ocupação e professores revelando-se incapazes de lidarem com esses casos. Este facto despertou em mim algum interesse/curiosidade em procurar formas de ajudar alunos com nee a desenvolverem as suas aprendizagens. Abracei-me a essa causa e a partir daí, tenho participado em acções de formação na área de nee no intuito de adquirir conhecimentos e juntamente dos docentes deixar alguma orientação e minimizar os cons-trangimentos que dificultam o processo ensino/aprendizagem desses alunos. Desde 2003, ano em que foi criado o Núcleo Local de Educação Especial, tenho estado a dar a minha contri-130 131

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sete de deficiência Visual mais três kits para a escrita do Braille, um de Deficiência Física, um de Transtorno Global do Desenvolvimento–tgd e um de aee e dvds retratando várias deficiências. Também contamos com sete mesas, 24 cadeiras, duas estantes e um quadro. No âmbito deste curso temos produzido alguns materiais de acordo com os casos de deficiência existentes.

Quanto aos módulos (dez) trabalhados no decorrer do curso de aee, para mim foram muito bem elaborados, pois, tive a oportunidade de adquirir muitos conhecimentos e abri novos horizontes no que diz respeito a inclusão de crianças com Necessidades Educativas Espe-ciais e a melhor forma de fazer o aee.

De todos os módulos estudados identifiquei-me mais com o Módulo vii (Atendimento Educa-cional Especializado para alunos Surdos). Aliás, não é por acaso que pertenço ao Núcleo Local de Educação Especial pela área da Surdez. Já tinha descoberto que gosto de estabelecer comunica-ção com pessoas com deficiência auditiva e caso for possível vou continuar a investir na área de Educação Especial e quem sabe especificamente na área de Surdez. Com os conhecimentos adqui-ridos no referido Módulo veio confirmar a minha

preferência. Acredito que é possível trabalhar com os casos de surdez que temos aproveitando os conhecimentos do módulo.

Da leitura do Módulo vii, percebi que a língua de sinais é o melhor meio efectivo de comuni-cação entre surdos, uma vez que os possibilita desenvolver tanto em nível linguístico como cognitivamente. Também fiquei a saber que os surdos manifestam sua diferença linguística e cultural na formação de comunidades surdas. Infelizmente nosso país ainda não dispõe de uma língua gestual padronizada ou institucio-nalizada e consequentemente a inexistência de uma comunidade surda que permitissem aos surdos comunicarem utilizando uma língua de sinais. Estou convicto de que no futuro bem próximo teremos a nossa língua de sinais para colmatar esse grande constrangimento que vem impedindo o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos surdos.

Enquanto aguardamos para a criação de uma língua de sinais cabo-verdiana vamos tentando ajudar as crianças surdas com os meios que te-mos, criando actividades que envolvem imagens e contacto com objectos de significado histórico. Também se torna imprescindível que os ouvintes

Em 2006 tive e oportunidade de participar numa acção de formação intitulada “Ensino da Língua Portuguesa para Surdos”que decorreu na Cidade do Porto Novo/Santo Antão e com uma duração de 80 horas, formação essa que foi promovida pela dgebs em parceria com o Ministério da Educação e Cultura do Brasil e da Agência Brasileira de Cooperação.

Em 2007 também tive o privilégio de partici-par numa acção de formação intitulada “Edu-cação da criança Surda em Cabo Verde” que decorreu na cidade da Praia e com uma duração de 80 horas, promovida pela Associação de Apoio ao Desenvolvimento e a Integração da Criança Deficiente em parceria com a dgebs, Instituto Jacob Rodrigues Pereira da casa Pia de Lisboa e Associação Portuguesa de Surdos.

Tenho aproveitado no máximo essas forma-ções e dentro das minhas possibilidades e em parcerias com o Núcleo Central da Educação Especial e profissionais de outros serviços locais, tenho tentado apoiar e vou continuar a apoiar as orientadoras da Educação Pré-Escolar e professores do Ensino Básico que trabalham com crianças com nee, no intuito de minimizar as angústias das famílias dessas crianças pro-

movendo assim o processo de ensino/aprendi-zagem e a inclusão efectiva dessas crianças.

Graças a algumas sessões de formação des-tinadas aos educadores infantis e professores do ensino básico que trabalham com crianças com nee e um trabalho de equipe, nota-se claramente uma mudança de mentalidade por parte desses docentes em relação a deficiência, ou seja, hoje mais que nunca solicitam mais acções de capacitação para que se sintam cada vez melhor preparados para lidarem com essas situações.

Dado a situação geográfica da ilha, os estabe-lecimentos de educação ficam espalhados por diversas localidades e muitas vezes em zonas de difícil acesso impedindo bastante o desen-volvimento de algumas actividades. No entanto, grandes esforços têm sido feito no intuito de dar cobertura e orientação principalmente aos professores que trabalham com esses casos.

Já temos uma sala de aula disponível onde irá funcionar a sala de recursos e esperamos que em breve ela seja mais bem equipada. Entretanto já temos alguns manuais referentes a algumas deficiências nomeadamente: oito manuais de Educação Inclusiva, três de deficiência auditiva, 132 133

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

Especializado realizado entre o Ministério da Educação de Cabo Verde e a Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Bra-sil. Desde 2006, tenho participado em várias acções de formação sobre as Necessidades Educativas Especiais, promovidas pelo Minis-tério de Educação de Cabo Verde, no âmbito das estratégias para uma efectiva inclusão dos alunos especiais nas escolas regulares do país. Sistema Braille Integral, Orientação e Mobilidades, de 25 de Julho a 17 de Agosto de 2006, Porto Novo, 160 horas; Multiplica-dores nas áreas de Surdocegueira e Múltiplas deficiências Sensorial, 40 horas, 28 de Julho a 02 de Agosto de 2008, Vitória, Espírito Santo, Brasil; Tecnologias Assistivas com Ênfase na Comunicação Alternativa na Perspectiva da Educação Especial, 04 a 08 de Agosto de 2008, 40 horas, Boa Vista, Roraima, Brasil.

Este curso em Atendimento Educacional Es-pecializado surge para culminar as acções an-teriores, pois permitiu, sistematizar, clarificar e reflectir sobre alguns conceitos, mas também sobre a prática pedagógica nas respostas aos alunos especiais incluídos. Deste curso pu-demos ainda, discutir o processo de aee em

Cabo Verde, já que se trata de algo novo e que requer tanto de nós, os professores, como dos decisores políticos uma reflexão profunda de forma a evitar os erros e eventuais problemas vividos noutros contextos.

Desde 1999 venho exercendo a função de coordenador pedagógico do Ensino Básico In-tegrado. Compete-nos de entre outras várias acções as visitas de seguimento, ou seja, a supervisão pedagógica. Durante muito tempo constatei que há uma falta de resposta efecti-va aos alunos com nee incluídos nas nossas escolas. Aquando na minha formação em sur-docegueira e tecnologias assistivas, no Brasil em 2008, tive a oportunidade de visitar duas salas de recursos: Tipo 1, na Cidade de Vitória e do Tipo ii em Boa Vista, Roraima. Daquilo que vi ocorreu-me a ideia de abrir uma sala de recursos, com toda implicação que um projecto desta natureza suscita.

Elaborei um projecto denominado “odisseia” que define os termos de funcionamento, os recursos materiais e humanos necessários, enfim aquilo que entendi ser mínimo neces-sário para dar resposta efectiva aos desafios da inclusão dos alunos com nee na Ilha do Sal,

conheçam os gestos que estas crianças utilizam para que possam estabelecer a comunicação.

No decorrer deste ano lectivo iniciamos a partilha desses módulos com os restantes ele-mentos do núcleo local de Educação Especial e com todos os docentes que trabalham com casos de crianças com nee em nível do con-celho da Ribeira Grande. Também já iniciamos a discussão da questão da avaliação desses alunos juntos dos gestores, professores e pais, visto que ano após ano, as crianças com nee vêm sendo prejudicadas com o sistema de ava-liação, ou seja, não respeitam a forma peculiar de aprender desses sujeitos.

Para o próximo ano lectivo já estaremos mais disponíveis e pretendemos promover mais en-contros com esses professores criando grupos específicos de trabalho, procurando melhores estratégias, materiais adequados que promovam o desenvolvimento da aprendizagem desses alunos. Também pretendemos organizar várias palestras, actividades recreativas e culturais, sessões de debates de temas ligados a defici-ência, envolvendo alunos, professores, pais/encarregados de educação, instituições locais e a sociedade civil desmistificando a deficiência.

Para além de iniciarmos a fazer o aee na sala de recursos com todos os alunos com nee, pretendemos promover um primeiro encontro com todas as pessoas com deficiência auditi-va (dentro e fora do Sistema Educativo) para termos uma primeira impressão desse grupo e a partir daí traçar um plano de trabalho que promova essa camada.

Para terminar, gostaria de parabenizar o med cabo-verdiano pelo investimento numa área extremamente sensível e solicitar que continue a apostar na formação contínua dos professores na área de Educação Especial. Agradecer aos formadores brasileiros pela forma metódica e carinhosa como orientaram esse curso, e aos colegas formandos pela forma como abraçaram a essa causa. Juntos, vamos lutar por uma Es-cola Inclusiva em Cabo Verde.

relato 7relato da experiência de aee nailha do sal, cabo verdeAutor: Manuel da E. Portugal dos Reis

Este documento surge no âmbito da conclu-são do curso em Atendimento Educacional 134 135

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

os termos definido na Legislação Brasileira, ou seja, o que está exposto no Módulo ii – aee em que está claro que o trabalho na Sala de Recursos Multifuncionais devem ser comple-mentares, ou seja, no contra turno e com uma grande articulação entre o professor da sala e o professor da escola regular.

Para definirmos os horários semanais de atendimento dos diferentes alunos (os que têm atendimento em grupo e os que, devido as particularidades, têm atendimento indivi-dual) foi necessário analisar cada caso. Após isso foi comunicado aos encarregados de educação e os respectivos professores. Não dispomos de materiais e recursos para uma Sala do tipo I e nem II, conforme a Legislação Brasileira, porém existe uma vontade enorme de se fazer um pouco mais daquilo que são as respostas dadas aos alunos com nee. Posso até dizer que já se nota resultados, quer na capacitação dos professores, que estão mais sensibilizados, quer na participação efectiva no processo ensino aprendizagem.

Relativamente ao curso, posso afirmar sem hesitação que foi uma mais-valia para todos os formandos envolvidos e também para o país. A

metodologia utilizada, ensino à distância, com recurso a internet, é sem dúvida a mais indicada para as características do nosso país que é in-sular. Na Delegação do Ministério da Educação do Sal, estão criadas as condições ideais para participação em acções desta natureza já que dispomos de um Centro de Recursos para pro-fessor o que tem possibilitado aos professores acesso grátis à internet para pesquisas, capa-citações, produção de materiais, enfim todas as vantagens que a tecnologia de informação e comunicação hoje, permite.

Por isso, não tivemos problemas com o aces-so mesmo no período pós-laboral. Tivemos todo apoio da Responsável local da educação. Procurei durante esta capacitação participar em todos os encontros presenciais, estudar todos os módulos, postar as minhas contribuições conforme a indicação da professora e tutora e aproveitei ainda os momentos de interacção para tirar as dúvidas que iam surgindo.

Os módulos foram bem concebidos, permi-tiram aprofundar alguns conceitos e também adquirir outros que para mim eram desconheci-dos. Além disso sugeriram também, pesquisas e leitura complementares que nos ajudou muito

Cabo Verde. No dia 14de Setembro de2009, após os contactos com vista a mobilização dos recursos necessários, inaugurou-se a sala de recursos “anac” na Ilha do Sal, Cabo Verde. Esta sala está situada numa das escolas do ensino básico. No âmbito da nossa Sala, ou seja, de todos alunos presente no sistema público, estão 1302 alunos do Pré-Escolar, 3156 do Ensino Básico e 1729 alunos do Ensino Secundário. Neste momento, estão afectos a sala três pessoas: eu, como professor e res-ponsável do Espaço; a Zandi Lima, psicóloga; e a professora Alcídia Gomes.

Alguns aspectos referentes ao funciona-mento da mesma foram corrigidos ao longo do curso. Frequenta a sala, neste ano lectivo, quatro alunos com deficiência auditiva, uma aluna com baixa visão, cinco alunos com a de-ficiência mental, cinco com outros transtornos sem especificação, do 1º ao 6º ano. Existem ainda, cinco discentes que estão referenciados, mas apenas fazemos o seguimento. Outros são alunos de uma escola privada que temos conhecimento e acompanhamos com suges-tões e propostas de actividades, porém sem intervenção directa.

Esta formação para além de melhorar sig-nificativamente o nosso trabalho enquanto professores de escolas inclusivas, permitiu-nos clarificar os termos de funcionamento, procedi-mentos no Atendimento Educacional Especiali-zado (Módulo ii). Das actividades que constam no Plano da sala de recursos “anac”, tem-se realizado além de atendimento educacional, outras acções como: capacitação dos docentes dos diferentes subsistemas em sistema Braille e Língua Gestual, visitas domiciliares, acon-selhamento, encontro de famílias, visita de seguimento às turmas, acções de sensibilização, elaboração de material didáctico.

Para o trabalho de aee, dispomos de três computadores e computador portátil com sof-twares educativos (Tobias O Palhaço, Invento, Boarmaker, Desafios, Escrita com Símbolos, Imagina Cria e Constrói, Aventuras 2) Go Talk 9+, Teclado de Conceitos-Intelikeys, Projector de vídeo, impressoras, regletes e punção, bengala-longa, mesas e cadeiras, armários, bibliografia diversa. Apesar de poucos recursos materiais que dispomos há uma vontade enorme de dar um modo de vida melhor aos alunos com nee na Ilha do Sal. Temos atendidos alunos conforme 136 137

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

de experiências anteriores nessa área; falar da importância dos módulos e por fim apresentar as considerações finais e propostas de continui-dades das discussões sobre o aee, na escola.

Os objectivos para a realização deste curso são essencialmente profissionais, isto é, despi-dos de quaisquer objectivos pessoais. Mas para explicitá-los melhor, cita-se o módulo sobre os Transtornos Globais de Desenvolvimento (tgd) nas suas p.33 e 37 respectivamente, onde se refere que: não deixemos de investir nesses alunos por serem “diferentes e que a escola deve oferecer mais do que uma oportunidade de aprender”. Assim sendo, quem trabalha com alunos com nee, deve ter atenção em considerá-los como sujeitos com potencialidades e por isso, deve criar oportunidades para sua aprendizagem.

É neste sentido, que se apoia para esta-belecer os objectos que centrarão em quatro

“pilares” fundamentais e que também deverão ser objectivos da escola:1. Os alunos devem fazer parte do projecto

pedagógico da escola e por isso devem estar matriculados e fazer parte do currículo;2. A Escola deve investir na aprendizagem des-

ses alunos, por isso deve disponibilizar e procurar

recursos humanos e materiais para o efeito;3. Deve criar parcerias com os diversos ser-

viços e instituições, bem como, profissionais existentes no concelho, no sentido de aproveitar os recursos locais disponíveis;4. Deve articular com as famílias e professo-

res das salas de aula comum, aproveitando quer os momentos formais ou informais para discutir assuntos que têm a ver com a inclusão desses alunos.

O Pólo onde o formando lecciona chama-se Pólo Educativo nº 1 da Cidade do Porto Novo. É formado por três escolas: a do Ex-Ciclo Prepara-tório queé a escola Pólo,composta por doze 12 salas, 24 professores e 576 alunos; a deRibeira de Crujinha com cinco salas, oito professores e 191 alunos e a de Berlim com três salas, seis professores e 153 alunos. Ainda o Pólo conta com oito elementos que fazem parte do pes-soal administrativo formado essencialmente por professores; um quadro complementar formado por três professores que tem como função substituir professores na sua ausência e um pessoal auxiliar composto por 19 membros entre cozinheiras, guardas, ajudante de serviços gerais, contínuo e empregadas de limpeza. No

na consolidação dos conhecimentos abordados. Por razões de várias ordens, não se cumpriu o calendário inicialmente proposto e também fez-se algumas alterações nos horários inicialmente definidos. Esta situação, que se compreende pela natureza do curso, cria, no entanto, sem-pre constrangimento que, por vezes, dificulta a nossa participação quer nos encontros de bate-papo, quer em algumas aulas ao vivo.

Queria destacar o Módulo viii, Altas Habi-lidades/Superdotação como o que mais me despertou a atenção e muitas interrogações. Trata-se de algo novo e que nunca tinha estu-dado e pesquisado com tanto cuidado. Não posso deixar de fazer referência às actividades práticas que decorreram ao longo do curso: oficina de construção/elaboração de materiais com a professora Amara Battistel e o cartaz das experiências com a professora Melânia Melo Casarin foram momentos muito interessantes que marcaram, sem dúvida, este curso.

Em jeito de conclusão diria que é urgente aprovação de uma lei que defina os termos de funcionamento das Salas de Recursos, e também todo o processo de inclusão de alunos com nee nas nossas escolas do país.

relato 8relato documentado sobre a aplicabi-lidade do curso aee na cidade do porto novo, santo antão — cabo verdeAutor: Manuel Rodrigues Lizardo

O Curso do Atendimento Educacional Especia-lizado–aee foi organizado pela Direcção Geral do Ensino Báscico e Secundário (um depar-tamento do Ministério da Educação de Cabo Verde) e ministrado pela Universidade Federal de Santa Maria do Brasil. É um curso que tem por finalidade promover a formação docente, para actuação em salas de aulas inclusivas e em salas de recursos multifuncionais. Destina-se a capacitar professores, para poderem dar resposta às necessidades educativas de alunos com deficiências, transtornos globais de desen-volvimento e altas habilidades/superdotadas.

Com este relatório pretende-se: registar e dar a conhecer os objectivos a serem atingidos após o término da formação; fazer a descrição/caracterização da realidade educacional da es-cola onde o formando está inserido na qual se fala da situação de inclusão das crianças com nee (Necessidade Educacional Especial); falar 138 139

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

Em número foram 10: i. Educação a Distância, ii Atendimento Educacional Especializado, iii. Tecnologia Assistiva, iv. aee para os alunos com Deficiência Física, v. aee para os Alunos com De-ficiência Mental, vi. aee para os alunos Cegos ou com Baixa Visão vii: aee para os alunos Surdos, VIII Surdocegueira e Deficiências Múltiplas, ix. Transtornos Globais de Desenvolvimento e por último o módulo x. O aee para Crianças com Altas Habilidades/Superdotadas.

Não gostaria de destacar em particular ne-nhum dos módulos da formação, porque todos contribuíram de forma integral para a forma-ção e todos foram claros na abordagem dos assuntos. Mas, porque é necessário fazê-lo, destacaria o módulo das Tecnologias Assistivas, pela sua abrangência de poder ser aproveitado praticamente em todas as áreas de nee e porque é fácil a sua aplicabilidade no desempenho das tarefas pelos educandos. Ainda porque as propostas apresentadas podem adaptar-se a qualquer realidade educativa.

Até o presente momento não há dados sobre alunos com nee, o que quer dizer que essas ainda não faziam parte do projecto pedagógico da mesma; os professores devido a carência

de formação específica vão fazendo aquilo que podem no sentido de atendê-los; há ainda diversas barreias a serem ultrapassadas nome-adamente a arquitectónica; há sensibilidade de todos os intervenientes do processo edu-cativo no sentido de integrá-los; a carência de profissionais formadas na educação especial e a inexistências de um Centro de Atendimento Educacional Especializado no concelho, bem assim, o não aproveitamentos de parceiros e alguns profissionais já existentes, têm sido uma entrave à inclusão.

Por isso, a acção vai ser no sentido de os alunos com nee fazerem parte do projecto pedagógico da escola; retomar no próximo ano lectivo as acções de formação iniciada este ano; trabalhar no sentido de eliminar as barreiras existentes, articular com os profes-sores e famílias de crianças com nee, quer nas planificações e apoios pedagógicos e materiais conforme as possibilidades da escola; criar parcerias e aproveitar os recursos humanos existentes no concelho.

Em fim, fazer tudo o que estiver ao alcance, para que a escola seja no futuro próximo uma escola com as condições de inclusão.

total o Pólo tem 20 salas, 920 alunos, 49 pro-fessores e 19 elementos do pessoal auxiliares.

Conforme o levantamento feito pelo forman-do, através de observação nas salas de aulas e de informações fornecidas pelos professores proponentes, registra-se um total de 37 crian-ças com nee.

A escola encontra ainda algumas barreiras frente ao processo de inclusão, pois não há identificação de crianças com nee na Direcção; os professores reclamam por uma formação específica; há uma carência de recursos e ma-teriais tecnológicos; inexistência de sala de recursos multifuncionais; há fracas condições de acessibilidade ao edifício. Contudo, há uma forte sensibilidade do seu corpo docente e de-mais pessoas afectos à escola, no sentido de integrar esses alunos e os professores uns por experiências próprias, outros, porque receberam algumas acções de formação de curta duração vão fazendo aquilo que podem neste sentido.

Considerou-se essa formação interessante porque trouxe propostas pedagógicas ino-vadoras como a utilização de materiais para trabalhar alguns casos de nee, nomeadamente a visão e audição e ainda o trabalho prático

sobre a análise de discrepância (uma ficha que avalia tanto os alunos com nee ou não), mas também apresenta possibilidades de avaliar o que o aluno é, e não é capaz de fazer, como também leva o professor a reflectir para se chegar a uma estratégia educativa para a superação desses alunos.

Neste curso não ficaria bem produzir um relatório para falar dos módulos e não poder falar doambiente virtual da aprendizagem, uma experiência das mais inovadoras vivida durante a carreira docente. Não obstante, os constrangimentos de início, motivados pelas dificuldades em utilizar o computador, mas com o andar do tempo foi-se acostumando. Destaca-se o ambiente virtual pela sua abran-gência e de nele poder encontrar tudo o que se precisa dentro de uma sala de aula, como: aula ao vivo, bate-papo (muito dinâmico e muito participado), fóruns onde os formandos pu-dessem dar a sua participação, ler e comentar trabalhos dos outros, responder questionários, ler avisos, encontrar os módulos, enviar e-mails enfim, uma sala de aula completa.

Os módulos foram os recursos mais utilizados para os formandos adquirirem os conhecimentos. 140 141

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

Identifiquei-me mais com o módulo iii – Tec-nologia Assistiva porquanto me ajudou nas actividades profissionais aprendendo a interagir e identificar as barreiras de cada aluno. Com todos os conhecimentos adquiridos neste mó-dulo procurei alternativas de acordo a nossa realidade tentando minimizá-las adaptando materiais para o uso na vida diária e prática.

Em forma de conclusão satisfaz-me imenso chegar ao fim deste curso com novos horizontes e saber de que os conhecimentos ora adquiridos irão ser de grande importância para a aprendi-zagem de quem realmente necessita.

Atendendo a todos os meios disponíveis pela Delegação do Ministério de Educação conjunta-mente com o Ministério acho que haverá possibi-lidades de um trabalho salutar na materialização dos objectivos aprendidos no decorrer do curso. Os materiais disponíveis irão ajudar a praticar e ao mesmo tempo fazer uma entrega total junto dos alunos para que eles consigam captar todos os conhecimentos por mim adquiridos.

Acho que para existir continuidade e acompa-nhamento dos alunos ora formados é necessário criar um site de debate mensal com o apoio técnico de uma tutora ou alguém do Ministério.

Em relação às discussões nas escolas sou de opinião que se crie palestras e sessões de es-clarecimentos junto dos familiares, professores e todos aqueles enquadrados neste processo. Mas também em termos conclusivos que no fim do ano lectivo fosse realizado não uma avaliação aos professores inseridos nesses sistemas, mas sim identificação das insuficiên-cias encontradas e pautar pelas suas soluções.

relato 10curso aee na cidade da praia — cabo verde sua aplicabilidade visto pela maria jesus ribeiro cabralAutora: Maria Jesus Jorge Ribeiro Cabral

O curso de Formação a Distância em Atendi-mento Educacional Especializado (fad em aee) promovido pela Direcção Geral do Ensino Básico e Secundário do med e parceria com a ufsm, no âmbito da cooperação técnica entre os governos de Brasil e Cabo Verde.

Esta formação contemplou, principalmente, os professores em exercício de modo a dotá-los de ferramentas que lhes permitam responder às necessidades específicas dos seus alunos

relato 9curso de aee como ferramenta de aprendizagem especial na cidade do porto novoAutora: Manuela Salomão

O curso do aee ministrado pelo Ministério de Edu-cação de Cabo Verde e com o apoio do governo Brasileiro (Universidade Federal de Santa Maria) teve para mim como objectivo fundamental o en-riquecimento do meu currículo profissional, uma mais valia educacional, o fortalecimento e enga-jamento na qualidade do ensino na minha escola.

No contexto aee nunca passei por qualquer formação em área de educação especial e ou educação inclusiva, por isso essa formação é conclusiva e cheia de inovações. Traz material para que a educação, a família e a sociedade ganhem. Traz benefícios aos educandos en-quadrado nesta especificação porque serão sobejamente integrados no sistema educativo no pé de igualdade com todos os educandos.

Pretendo trabalhar em conjunto com os meus colegas, pondo em prática os conhecimentos adquiridos e com isso ajudar melhor a trans-missão dos mesmos aos alunos da escola.

Os conteúdos da Formação em aee trazem be-nefícios a minha escola até então desconhecida e desintegrada dos programas. De igual modo irá ajudar na implementação de um sistema de ensino mais adequado e uma melhor dinâmica do ensino em Cabo Verde.

Apesar dos conhecimentos por nós adqui-ridos, muitas barreiras iremos encontrar no decurso dos nossos trabalhos, tendo em conta que a nossa cidade é emergente e ainda temos dificuldades em áreas de saúde, educação, transporte e espaços físicos, bem como carên-cias em especialistas em áreas diversas.

Os módulos estudados nesta formação con-tribuíram muito para o meu enriquecimento intelectual assim como, me dotou de meca-nismos práticos de ensinamentos podendo assim os meus educandos interagirem no campo educacional, familiar, social, criando a sua própria autonomia no seu dia-a-dia assim como nas actividades escolares.

Também ao fazer estudos dos módulos pudemos ficar a conhecer novas metodologias de actuação pontual junto dos alunos que vínhamos fazendo de forma não a mais adequada, atendendo aos fracos conhecimentos e recursos disponíveis. 142 143

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

mação que penso desenvolver, com demais co-legas de trabalho, um pequeno projecto dirigido a um grupo de alunos surdos na cidade da Praia.

Atendendo ao facto de queo sujeito surdo apresenta uma diferença

sócio-liguística, ou seja, ele interage com

o mundo a partir de uma experiencia vi-

sual. Todas as suas construções mentais

se dão pelo canal espaço-visual mediados

pelo seu instrumento natural de comuica-

ção: a língua de sinais e a língua escrita.

(casarin, 2011).

Estamos a realizar encontros de sensibili-zação junto da direcção da escola secundária e respectivos professores que irão receber os alunos surdos.

O projecto tem como pressuposto as caracte-rísticas do individuo surdo, enquanto sujeitos que percebem o mundo através de seus olhos, devido à ausência de audição e de som. Assim, o projecto prevê as seguintes atividades na forma de encontros com:· a Sra. Directora Geral do Ensino Básico e

Secundário para apresentação e discussão da ideia do projecto;

· a Sra. Directora da Escola Secundária que irá receber os alunos surdos que irão transitar para o ES para apresentação do projecto;· os professores da escola secundaria que irão

trabalhar com esses alunos, para apresentação do projecto e planificação de acçoes de formação;· com pais e encarregados de educação, mo-

nitoras da Associação e com a formadora de língua gestual.

Neste momento os encontros já foram reali-zados e registados num memorando.

Em julho realizamos uma formação sobre necessidades educativas especiais e sobre a educação de surdos e língua gestual e outra em Setembro visto que os professores precisam conhecer e entender as características do surdo, principalmente, no que respeita à diferença de percepção do mundo e à forma de comunicação.

O encontro com a direcção da escola e com os professores serviu, sobretudo para discutirmos e pensar a sala de aula para esses alunos, ver que recursos pedagógicos e didácticos poderiam ser levados para o contexto escolar. Por isso, verificou-se que seria de extrema importância a formação para os professores e outros intervenientes para que tenham conhecimento da educação de surdos.

nas salas de aulas e/ou nas salas de recursos criadas ou a serem criadas nos diferentes concelhos do País.

Para mim, a entrada neste curso teve como objectivo o aprofundamento de conhecimento sobre necessidades educativas especiais (nee) e sobre aee. Embora tenha feito uma pós-gradu-ação em educação especial pela Universidade Pública de Cabo Verde em parceria com a ese de Lisboa, optei pelo curso de fad em aee porque, por um lado, neste curso haviam módulos que não fizeram parte do curso de pós-graduação e, por outro lado, acreditei que este curso ape-sar de ser a distância, teria uma vertente mais pratica e voltada para a realidade vivida dos professores/formandos.

Enquanto técnica da Direcção Geral do En-sino Básico e Secundário (dgebs) do med, no desempenho das minhas funções, interacção com professores e coordenadores das escolas do ensino básico e com as monitoras e educado-ras dos jardins de infância das diferentes con-celhos/ilhas do país, tanto nas visitas a essas instituições como na realização de sessões de formação. Apesar de não ter uma intervenção directa junto dos alunos, as visitas no terreno

possibilitam uma noção sobre a realidade das instituições do ensino quanto à inclusão de crianças com nee. Tenho igualmente contacto com os técnicos das salas de recursos, princi-palmente os da cidade da Praia.

De modo geral todos os módulos estudados foram abordados de forma abrangente e como disse antes, os que não fizeram parte do cur-rículo da minha pós-graduação, sem dúvida, que despertaram maior atenção. Contudo, a identificação maior é com o módulo da Surdez, devido ao interesse pessoal em apoiar na es-colarização de crianças surdas em Cabo Verde.

Relativamente a educação de crianças surdas, conheço um pouco da realidade portuguesa (região de Lisboa) e um pouco do Brasil (Rio Grande do Sul). Tive a oportunidade de realizar um estágio de seis meses em Lisboa, onde pude conviver de perto com surdos, crianças e adultos, enquanto que no Brasil foi possível conhecer algumas instituições de ensino espe-cial para surdos. Isto me permitiu conhecer e entender melhor o indivíduo surdo bem como o trabalho desenvolvido nas escolas.

É com esses conhecimentos da realidade de outros países mais os adquiridos durante a for-144 145

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

no novo paradigma da Educação “A educação para todos”. É nesta linha de reflexão que o med em parceira com o mec do Brasil, vem desen-volvendo desde Setembro 2010 o curso: Atendi-mento Educacional Especializado (aee) aos 29 docentes cabo-verdianos, com o propósito de capacitar novos professores, para que possam responder satisfatoriamente as demandas dos alunos com deficiência, oferecendo serviços de aee, o mesmo ofertado pela Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (de Ja-neiro 2008), destina a oferecer atendimentos individualizados aos alunos com deficiência física, auditiva, mental, visual, surdocegueira oudeficiências múltiplas, Transtornos Globais de Desenvolvimento, e alunos com Altas Habi-lidades, estes que constituem o público-alvo do aee, como referido no módulo ii, p.3 e 4. No qual cada uma dessas deficiências foi alicer-çada por meio de dez módulos, em que cada um ampara uma deficiência, as mesmos que foram estudadas, debatidas, intervencionadas através de encontros síncronos e assíncronos.

Este relatório que ora apresenta enquadra no âmbito do curso aee, sendo eu uma das beneficiárias do mesmo, posso realçar que o

curso foi de extrema importância para mim e para os professores daqui, uma vez em que os módulos e as propostas de melhoria que recebi durante o curso, trouxeram de uma for-ma bem clara, objectiva, eficaz, significativa, muitas metodologias, tecnologias, estratégias, recomendações, sugestões, inovações, e muito mais consegui aproveitar durante este curso, inovações e mudanças repercutiram na minha acção pedagógica como professor e também nas acções pedagógicas de vários professores que trabalham com alunos com deficiência.

Deixo de uma forma sucinta que esta foi a primeira formação do gênero que estou a rece-ber, fiz a formação pedagógica para leccionar como professora três anos atrás, e durante a formação que eu tive , estudei uma cadeira pe-dagógica a nee, cerca de seis meses, a mesma que viabiliza alguns procedimentos, metodo-logias, algumas abordagens, dos teóricos no que tange à inclusão, saliento que foram pou-cos conhecimentos construídos à volta desta matéria. Agora sinto-me mais capacitada para trabalhar com alunos com nees.

O curso aee, foi ministrado através de dez módulos, onde cada módulo ampara uma defi-

Saliento que, evitamos falar da educação bilíngue no caso específico, uma vez que se trata de uma experiência a ser implementada. Contudo, a orientação que pretendemos impri-mir é a de uma educação bilingue, embora não temos uma língua gestual cabo-verdiana. Pois, pretendemos ter na sala de aula as monitoras da associação para apoiar na comunicação bem como o estudo orientado no período contrário com o apoio da formadora de língua gestual.

No dia 2 de Maio iniciamos aulas de reforço da língua gestual e da língua portuguesa es-crita, cujo término é trinta de junho. Antes do início do ano lectivo será definido um plano de seguimento para essa turma.

É enorme a gratificação para com este curso uma vez que permitiu, realmente, atingir os objectivos e possibilitou ainda uma grande interacção com os colegas/formandos, o que contribuiu para conhecer melhor as diferentes realidades das nossas escolas, bem como a interacção com as professoras/formadoras.

Considero que a realização deste curso foi uma decisão acertada, na medida em que os conhecimentos adquiridos já estão a ser imple-mentados e outros novos a serem construídos.

Pois, estou a trabalhar num projecto de transi-ção de um grupo de alunos surdos do ensino básico (eb) para o ensino secundário (es) que prevê formação sobre educação de surdos, no início do ano lectivo para os professores do es da escola que irá receber esses alunos, organização de atendimento especializado no período contrário, bem como, ateliers ao longo do ano lectivo com os professores, em parceria com a formadora da língua gestual que é surda e com uma associação que apoia esses alunos.

O objectivo principal deste projecto é apoiar esses alunos na aquisição de competências que lhes permitam integrar num curso de formação profissional e consequentemente no mercado de trabalho de modo a serem autónomos.

relato 11relato documentado sobre a aplicabi-lidade do curso aee, no concelho dos mosteiros — ilha do fogo (na constru-ção de escolas inclusivas)Autora: Maria Manuela Barbosa Rodrigues

Com a intenção de construir cada vez mais es-colas inclusivas e diversificadas com o amparo 146 147

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

educacionais dos alunos com deficiência, este ano o trabalho foi um pouco limitado, porque ainda lecciono na escola regular.

Realço ainda que as metodologias para implementação deste curso foram adequadas e conseguiram responder às nossas necessi-dades, as mesmas contribuiram muito na mi-nha formação, os bate-papos foram bastante interactivos, os esclarecimentos, propostas de soluções, as dúvidas sanadas durante o decorrer deste curso, foram atendidas com muita eficiência pela professora Sandra e tu-tora Cristiane, elas, que nos apoiaram muito, com esclarecimentos de dúvidas, análises de casos, reflexões, propostas de actividades e mais, mostraram bastante preocupação face à nossa formação, foram máximas em atender as nossas necessidades.

Todos os trabalhos que desenvolvemos durante este curso procuraram dar ênfase: às novas metodologias, estratégias, recur-sos acessíveis e de fácil interpretação, o como solucionar os problemas decorrentes da deficiência e resolvê-los, adaptações e acessibilidades arquitectónicas, adaptações nos banheiros, flexibilizações nos currículos,

sensibilizações com a família, escola e mais, parcerias, cooperativismo, introdução de no-vas tecnologias no processo de educação a distancia, tudo que dão acesso à educação e aprendizagem dos alunos com nee, tudo que garantam a inclusão dos alunos com deficiência de qualquer deficiência ou mais devem ser conquistadas ou reconquistadas no sentido de lhes proporcionar a inclusão na escola e na sociedade.

Trazendo todos estes itens acima citadas estaremos a abrir as nossas portas para cons-trução de escolas inclusivas e acolhedoras, que respondam as necessidades de cada um. Levando em conta a sua singularidade, aquela escola que se quer hoje, em pleno século xxi, que inova, que tem um projecto pedagógico, que viva a mudança no quotidiano profissio-nal, que aceita as diferenças, que interaja, que flexibiliza, que atenda as necessidades educacionais de cada um, é nesta escola que os alunos com deficiência ou com qualquer outro factor que lhe impede de desenvolver a sua aprendizagem se sinta incluído(a).

ciência que constitui o público-alvo do aee. Os mesmos trouxeram para mim, metodologias novas, estratégias diversificadas, para atender as necessidades de cada um educando, trou-xeram também muitos esclarecimentos sobre alguns conteúdos que antes constituíram dú-vidas, com o decorrer das análises, estudos, discussões, debates, troca de experiências, as mesmas foram colmatadas, tiveram impacto positivo para o enriquecimento curricular, que possam mudar as nossas práticas educativas aqui no nosso concelho.

O módulo das Técnologias Assistivas (tas), trouxe várias sugestões de actividades, recur-sos que pudessem ser acessíveis na apren-dizagem e assimilação de novos conceitos, dando a importância dos recursos como apoio no processo ensino e de aprendizagem. As tas que auxiliam o trabalho do aee, vem como ferramenta que possibilita ao aluno ser um sujeito actuante no seu processo não um ser passivo.

Consegui levar ao seio profissional de al-guns professores, alguns exemplos de ma-teriais que pudessem auxiliar o aluno com necessidades especiais na aprendizagem,

principalmente as portadoras da deficiência física, uma das mais comuns aqui no nosso concelho para que eles sintam-se incluidos, através de diálogo, sugestões de como con-feccionar, orientações, visitas de acompa-nhamento, seguindo algumas explanações da professora Amara Battistel.

Outras informações do módulo que reper-cutiram muito no nosso trabalho aqui, são as abordagens acerca da: deficiência, incapacida-de, desvantagens, agora estou levando estas sempre para o nosso seio escolar, para que os mesmos não confundam estas na identificação dos alunos com nee.

Posso concluir que este curso foi de ex-trema importância para mim, as temáticas debruçadas foram pertinentes para o nosso trabalho aqui, tiveram impactos bastante positivos, porque consegui através desta formação mudar minha pratica pedagógica enquanto professora, e mudar de alguns que trabalham com alunos com deficiência ou com dificuldades na aprendizagem. Espero que, próximo ano lectivo com a implementação da sala de recursos, conseguirei responder com mais eficiência e eficácia as necessidades 148 149

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

de madeira com almofadas, duas mesas de computadores (uma é adaptada) com uma ca-deira cada e uma esteira (tapete colocado no chão para actividades lúdicas), para além de materiais didácticos (dois computadores de mesa e um portátil, uma impressora, softwa-res como “Escrita com símbolos, Aventuras2, Tobias, Imagina cria e constrói, Desafios, Go-Talk9+, Intellikeys, Invento) e lúdicos (alguns confeccionados por nós na sala de recursos). Nove alunos frequentam sala de recursos de 2º, 3º, e 4º anos de escolaridades, faixa etária dos oito a quinze anos de idade, divididos entre dois professores. É de salientar que para cada aluno há um plano específico de trabalho.

De uma forma geral todos os módulos apre-sentados foram interessantes e úteis de acordo com o programa do curso, com conceitos claros e de fácil compreensão. Gostei muito dos Mó-dulos v e ix (Deficiência Mental e Transtornos Globais do Desenvolvimento), primeiro porque me tirou todas as dúvidas relativamente á di-ferença existente entre a Deficiência Mental e Doença mental que antes havia uma confusão de conceitos na minha cabeça considerando-os iguais, segundo pela forma como foram abor-

dados cada um dos transtornos (tgd) desde historial, conceitos, manifestações e exemplos. Este módulo (tgd) serviu para reforçar as nos-sas actividades no aee (sala de recursos) no que toca a planificação de actividades para os alunos do aee. Sempre no início do ano lectivo preparamos um plano de actividades para os alunos do aee, mas depois de ter estudado alguns módulos e ver que cada aluno é um sujeito singular com a sua forma única e par-ticular de aprender e relacionar com os outros, então houve a necessidade de replanificar as actividades mediante o grau de deficiência ou transtorno apresentado por cada aluno, ou seja, um plano específico para cada aluno.

Penso que, de uma forma muito especial esta formação chegou numa boa altura. Já lá vão quatro anos que assumi a responsabilidade da Educação Especial nos concelhos trabalhando na sensibilização dos professores, na metodolo-gia adequada a cada situação, numa avaliação flexível e na produção e/ou utilização de mate-riais didácticos acessíveis. Portanto, este curso só veio reforçar ainda mais os conhecimentos possibilitando uma formação contínua (auto-formação) com base nas actividades práticas

relato 12curso de atendimento educacional especializado cidade de são filipe —cabo verdeAutor: Mário Alberto Gomes Dias Barbosa

Uma Nação mais inclusiva, justa e próspera, com oportunidades iguais para todos é a filo-sofia do Governo e eu, sensibilizado também com a declaração de Salamanca que defende o princípio da educação inclusiva, admitindo todas as crianças nas escolas regulares inde-pendentemente das suas condições físicas, sociais, linguísticas e outras, é que me motivou a participar no curso aee. Com o objectivo de aperfeiçoar o meu desempenho como professor/coordenador pedagógico nas áreas de educação especial, expressão plástica e musical nos Con-celhos de São Filipe e Santa Catarina do Fogo e adquirir conhecimentos práticos que facilitam o Atendimento Educacional Especializado (aee) aos alunos com Necessidades Educacionais Especiais (nees).

Participei durante o mês de Agosto de 2006 na cidade de Assomada Ilha de Santiago numa formação na área de Educação Inclusiva para

baixa visão e cegueira total administrada por (quantas) professoras brasileiras, com apoio do governo Brasileiro em cooperação com o Ministério da Educação de Cabo Verde. Foram trabalhados dois módulos (Sistema Braille e Ha-bilidades Básicas de Orientação e Mobilidades).

Confesso que de 2006, altura em que começa-mos o trabalho de sensibilização relativamente á inclusão até esta data houve de facto uma melhoria significativamente boa quer em termos de metodologias, desempenho/motivação de professores e uma presença forte de crianças com deficiências físicas e/ou mentais nas esco-las. Isto não significa meta atingida ainda falta muito para atingir a desejada inclusão. Foi neste ano lectivo 2010/2011 que a sala de recursos tornou-se uma realidade na cidade/Concelho/ilha o que é para mim, uma experiência nova que abracei desde início com carinho e conti-nuarei trabalhando no sentido de melhorar o meu desempenho e qualidade de atendimento de alunos com nees que frequentam sala de recursos e apoios pontuais aos professores e alunos com nees de escolas distantes.

Tem na sala de recursos uma mesa grande de madeira para reuniões com oito cadeiras 150 151

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

tem surtido efeitos que saltam à vista, mas também no convívio com os colegas formandos, professores das escolas onde existem alunos com nee, com os quais trabalhamos.

A cidade de São Filipe é a sede do concelho do mesmo nome e da freguesia de Nossa Se-nhora da Conceição. A cidade encontra-se a sudoeste da ilha, virada para o mar com vista para a vizinha ilha Brava. Ela é conhecida pela sua praia de areia negra, as ruas empedradas, os abundantes jardins com árvores e flores e a arquitectura colonial portuguesa, que conferem a são Filipe um charme muito especial. A Norte da ilha encontra-se o porto de vales cavaleiros, e a sudoeste, o aeródromo de são Filipe, o principal aeroporto da ilha. A cidade conta com cerca de 10.000 habitantes, mas já foi, em tempos, a terceira mais populosa de Cabo Verde.

Presentemente regista-se um total de 3500 alunos, do 1º a 6º anos de escolaridade, sob a alçada do med de São Filipe, sendo de entre eles, 95 incluídos. Neste primeiro ano 9 alunos frequentaram a sala de recursos e os demais por serem de escolas distantes receberam apoios pontuais, da minha parte e da equipa pedagógica, na pessoa do Mário Barbosa,

coordenador pedagógico e também aluno do curso. Fui indicado, pela equipa pedagógica, a participar no curso aee, no inicio do ano lectivo 2010/2011, passando desde já a trabalhar na primeira sala de recursos implementada no mesmo ano, pela primeira vez no concelho. Confesso que fiquei deveras entusiasmado com a minha nova e honrosa função que, como professor, sempre me dediquei em exercer dentro das minhas humanas limitações. Co-meçamos o trabalho de sensibilização, junto de gestores, professores, pais e encarregados de Educação, relativamente à inclusão, e, posso afirmar que, melhorias significativas em termos metodológicos, de desempenho e/ou motivação de professores foram alcançados e crianças com deficiências nas escolas é uma realidade que já tem um tratamento diferente e diferenciado, rumo à tão desejada inclusão. Os desafios são enormes, mas com força de vontade e perseverança chegaremos ao nível desejado.

O curso aee, ao qual tive a oportunidade de participar, comporta dez módulos, com uma carga horária de mais de 225 horas, com trans-missões de aulas ao vivo, bate-papos, com

do dia-a-dia, promovendo encontro entre pro-fessores, pais e/ou encarregados de educação onde discutirão temas mais variados sobre a educação especial e/ou educação inclusiva.

Agendar ainda encontros de reflexão en-tre professores de sala comum e professores de sala de recursos, é com estas actividades práticas e outras possíveis que consolido os conhecimentos adquiridos durante o curso. Tam-bém é de muita importância a socialização dos módulos do curso com colegas coordenadores, professores de alunos com nee e não só, com todos aqueles que de uma forma estão ligados a esta causa.

relato 13atendimento educacional especializa-do — aee são filipe — fogo, cabo verde: incluir para educarAutor: Paulo António Teixeira Gomes de Pina

O professor está sempre a aprender e a sua formação é contínua ao longo da sua carreira. Depois de quase 18 anos de labor diário, conti-nua a existir em mim aquela alegria estranha e a mesma ansiedade que experimentei no meu

primeiro dia de aulas como professor, no já distante dia 27 de Novembro de 1993. Cada aula continua a ser diferente,vivida antecipadamen-te, numa antevisão do que irá passar-se, mas depois há sempre aquele momento imprevisto que quebra a rotina e perpetua-se na memória.

Enquanto continuar a ser assim, quero per-manecer, pois há algo de mágico no exercício da docência, uma comunhão, uma intimidade que se desenvolve ao longo do ano e que se preservam pela vida fora. Mais do que simples ganha-pão diário, é um prazer; mais do que um simples prazer, é uma honra; mais do que honra, significa toda uma vida.

Participar no curso aee, não obstante os esforços de que sempre empreendi para ultra-passar certas dificuldades perante alunos com nee, continua a ter como objectivo aperfeiçoar o meu desempenho como professor da sala de recursos, onde actualmente trabalho, no Concelho de São Filipe - Fogo; acumular conhe-cimentos que em prática me auxiliam no aee aos alunos com nee. Essa primeira experiência como aluno do curso e de aee, foi espectacular, não só pelo que aprendi teoricamente com as professoras e que na prática, empolgadamente, 152 153

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

Hoje, depois de tudo que aprendi neste curso, sinto-me mais capaz e mais humano. Agrade-ço a oportunidade, por dar-me não só, ainda mais motivação, mas também ferramentas e conhecimentos que me permitirão auxiliar com melhor preparo todos aqueles alunos apresentam algum tipo de deficiência. Poder continuar o curso, seria um sonho ainda maior que eu pudesse realizar aprender ainda mais, para melhor servir. Desde a primeira hora que abracei esta causa como sendo uma prioridade e tudo farei para ir mais além multiplicando todo o meu conhecimento junto dos colegas professores, profissionais de outras áreas que directamente ou indirectamente estiver ligado a sala de recursos e a minha escola.

O trabalho de sensibilização foi alargado não só ao pessoal afecto a escola, mas sim a toda comunidade educativa e consciente de que ainda muito caminho falta por percorrer. O aee não é substitutivo do ensino regular, mas sim complementar e/ou suplementar destinando-se a alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdo-tacao. Oferecido, preferencialmente, na mesma escola em que o aluno frequenta e deverá cons-

tar do projecto político pedagógico da escola do ensino regular, reflectindo a pluralidade de acções que envolvem o acto educativo em que todos são capazes de aprender, embora com ritmos e estilos de aprendizagens diferentes.

relato 14aplicabilidade do curso aee na cidade de espargos — ilha do sal, cabo verdeAutora: Zandi Helena Gomes Lima

Cabo Verde tem vindo a apostar cada vez mais na construção de uma sociedade mais inclusiva e na educação para todos seguindo, para isso, as orientações da Conferência Mundial sobre

“Educação para Todos” realizada em Jomtien (Tailândia) em 1990 da qual resultou a “Decla-ração Mundial sobre a Educação para Todos”.

Uma das orientações específicas desse docu-mento é o apelo aos governos para a adopção dos princípios da Declaração em forma de lei ou de política que permitam que todas as crianças estejam matriculadas em classes regulares; que se invista na formação dos docentes e na organização e gestão das escolas de forma a combater quaisquer tipos de exclusão.

acompanhamento e avaliação dos módulos, em aulas presenciais realizados periodica-mente na cidade da Praia.

Não podia deixar de referir que o módulo iii – Tecnologias Assistivas – ta – foi daque-les com o qual mais me identifiquei, que me pareceu mais útil e viável, em decorrência da minha actividade profissional como professor da sala de recursos e não só, mas também por ser artista plástico, autodidacta e que sendo assim, me facilita e muito a confecção de vários materiais didáctico pedagógicos, conforme as necessidades, tendo em conta a própria reali-dade da escola e do país.

A educação inclusiva tem por princípio

o reconhecimento e a valorização das

diferenças humanas o que requer das

escolas ambientes com condições de ga-

rantir acesso, participação, interacção e

autonomia para todos os alunos. Acolher

as diferenças é fazer da escola um espaço

em que ninguém se sinta excluído. O aee

faz uso da Tecnologia Assistiva – ta e suas

categorias direccionadas ao aluno com

deficiência, visando à inclusão escolar.

A ta é uma aliada do aee porque possi-

bilita uma gama de serviços e recursos

que auxiliam os alunos na resolução de

suas tarefas funcionais. As dificuldades

funcionais na realização de tarefas po-

dem ser transformadas em possibilidades

funcionais e participação, se for devida-

mente provido o recurso necessário para o

aluno. Por isso, o aee aparece como uma

das garantias de inclusão e a tecnologia

assistiva como uma ferramenta que possi-

bilita ao aluno ser um sujeito actuante no

seu processo de aprendizagem (bersch; machado, 2011).

Acrescentando, a ta, pode ser desenvolvida e concebida numa perspectiva interdisciplinar e isso foi uma das coisas que me fascinou no exercício da docência poder auxiliar o aluno na utilização de algo que possibilita a apren-dizagem e permitir-lhes o desenvolver suas competências operacionais e autónomas. Acre-dito que a ta, permite-nos, como professor, trabalhar numa perspectiva interdisciplinar realizando interlocuções com profissionais de outras áreas de forma a garantir o melhor recurso para alunos com deficiência.154 155

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

cessidades Educativas Especiais.Para além de ser ainda relativamente novo

(sala inaugurada em Setembro de 2009), clas-sifico de enorme importância este mesmo projecto, já que faço parte dele não há assim tanto tempo, mas tenho tido a oportunidade de, ao mesmo tempo, ir vendo na realidade as dificuldades das crianças com necessidades educativas e o mais importante aprendi a ver-lhes da forma mais correcta – não ver as suas dificuldades, mas sim as suas potencialidades. Especialmente, para mim, estar numa Sala de Recursos tem sido uma forma de abrilhantar ainda mais essa formação em Atendimento Educacional Especializado.

Neste ano lectivo, a população estudantil da ilha ronda os 6.185 alunos, sendo 1.302 no Pré-escolar, 3.156 no Ensino Básico Integrado e 1.729 no Secundário. As crianças identificadas com Ne-cessidades Educativas Especiais são cerca de 19.

Em atendimento, temos: quatro alunos com Deficiência Auditiva, um com Deficiência Visual,cinco com Deficiência Mental e cinco com outros transtornos sem especificação. Para além destes há outros que têm seguimento na própria escola. O grau de escolaridade dos

mesmos vai desde o primeiro ao sexto ano do Ensino Básico Integrado, em período contrário às aulas, não tendo nenhuma criança do Jardim Infantil em seguimento ou do ensino secundário, não obstante a presença de alguns casos.

A Sala de Recursos anac Sal, está situada na Cidade de Espargos, Ilha do Sal mais propria-mente na Escola Nova. Abrange todas as escolas e jardins infantis da ilha, embora algumas das crianças necessitadas tenham dificuldades em ter acesso à sala, por motivos vários.

Todos estes alunos estão incluídos numa sala de aula regular. Entretanto, encontram ainda imensas dificuldades dentro da sala que impedem o real desenvolvimento das suas potencialidades, fala-se, por exemplo, das di-ficuldades dos professores em acompanhá-los por motivos vários, um deles é a superlotação das salas de aula e a pouca preparação em matéria de Educação Especial.

A Sala de Recursos trabalha em parceria com diversas instituições locais sensíveis à questão das Necessidades Educativas Especiais.

Durante o Curso de aee, dispusemos de vários módulos, concernentes aos diversos temas trata-dos, todos com uma importância singular. Apesar

Nesta perspectiva de construir uma socie-dade mais inclusiva e com a abertura de salas de recursos em algumas ilhas de Cabo Verde, houve também a necessidade de apostar na formação dos docentes em educação especial.

A Direcção Geral do Ensino Básico e Secun-dário (dgebs) de Cabo Verde, em parceria com a Universidade de Santa Maria no Brasil (ufsm) levaram a cabo esta formação em Atendimento Educacional Especializado (aee) com uma du-ração de seis meses aproximadamente, com sessões online e presenciais. O objectivo foi capacitar os professores em matéria de Neces-sidades Educativas Especiais e nas diversas formas de intervenção na educação das crian-ças independentemente das suas dificuldades.

Em relação à minha experiência, iniciei a minha vida profissional, há menos de um ano. Entretanto, já tinha estado na sala de recursos onde eu me encontro neste momento em processo de estágio profissional durante seis meses, e confesso que a minha primeira impressão foi a de pensar: “Ah, eu não sou capaz de trabalhar com eles”!

A partir daí, surgiu a oportunidade de fazer alguns cursos básicos em lgp (Língua Gestual Portuguesa), Iniciação ao Sistema Braille In-

tegral e Código Matemático Unificado. Daí em diante, o trabalho maior tem sido sempre a procura de informações para o enriquecimento pessoal. Penso que desta forma estarei e qual-quer um de nós que trabalha com crianças com nee estará a fazer com que o seu trabalho seja cada vez melhor e com mais qualidade.

Para mim, a participação neste curso de Atendimento Educacional Especializado, foi uma experiência muito inovadora. Para além de já ter feito uma formação superior em Psicologia Educacional e, de alguma forma ter trabalhado o tema Necessidades Educativas Especiais, ter tido a oportunidade de trabalhar com casos específicos e reais, ter tido a oportunidade de trabalhar em cada tema com pessoas espe-cialistas nas áreas correspondentes, me fez ganhar mais um leque de conhecimentos e ex-periências que, com certeza dignificaram mais o meu trabalho na Sala de Recursos e abriram novos horizontes na questão das Necessidades Educativas Especiais.

A abertura da Sala de Recursos na Ilha do Sal, foi um projecto elaborado pelo professor Manuel Portugal que, entretanto já participou de outras formações relacionadas com as Ne-156 157

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

As crianças especiais simplesmente nos tor-nam também especiais pela dádiva de partilhar com eles cada momento, cada ganho, cada superação, cada sorriso.

disso, o módulo do qual mais me identifiquei foi o de Deficiência Física. Ainda que não tenhamos por agora crianças consideradas deficientes físicos, senti-me muito sensibilizada por este porque, passei a conhecer outras formas, estra-tégias e a elaborar alguns materiais com as quais podemos possibilitar a aprendizagem e educação da criança deficiente físico. Portanto, houve a oportunidade de integrar os conhecimentos e melhor explorar aquilo de que já dispunha como Know How e do material disponível na nossa Sala de Recursos, sem falar na boa disposição da professora Amara Battistel em disponibilizar os seus conhecimentos e experiências.

Crianças cujo desenvolvimento é atípico em algum aspecto são muito mais semelhantes às crianças que se desenvolvem normalmente do que difere delas [...] o fato de uma criança ser diferente em um aspecto não deve cegar-nos para o fato de que ela seja provavelmente bas-tante “típica” em muitos outros aspectos (bee, 2003, p.453 apud módulo iv, 2011).

Todos os autores referenciados no módulo, desde Vygotsky, Trombly e outros incidem sobre a questão da estimulação precoce das crianças com Deficiência nos libertando da

visão das suas limitações orientando-nos para as suas potencialidades.

Em forma de conclusão, posso dizer que a implementação das recomendações da Decla-ração Mundial sobre a Educação para Todos em forma de políticas e leis de base em Cabo Verde, os cursos de formação para professores, entre outros, possibilitam ao professor a revisão e a reorientação das suas práticas à luz dos novos referenciais pedagógicos da inclusão. Este é o objectivo principal do curso de aee e espero que seja realmente conseguido.

Sobre a forma de continuidade das experiên-cias adquiridas durante o curso, elas estão sendo desde o primeiro momento a ser colocadas em prática no ambiente Sala de Recursos, espaço onde convivo com crianças especiais todos os dias, no ambiente escolar através de informações e troca de impressões com os professores, pais e outros agentes educativos. Este trabalho de-verá ser contínuo já que o objectivo é zelar para a maior proliferação de informações positivas relativas à educação especial e aos direitos das crianças com necessidades educativas especiais, de forma a mudar mentalidades e transformar a nossa sociedade.158 159

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4A EXPERIÊNCIA CABO-VERDIANA: RELATOS DE PROFESSORES QUE REALIZARAM O CURSO DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO — AEE DA CIDADE DE PRAIA, CABO VERDE

Sílvia Maria de Oliveira Pavão Patrícia Revelante

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uma prática “fácil”. Entretanto, o aumento de cursos ofertados e o elevado número de alunos dispostos a aderir a essa nova modalidade de ensino, gradativamente têm desmistificado essas concepções sobre o ensino a distância.

Porém, é possível perceber que, nos últimos anos, a Educação a Distância tem sido considera-da como uma das melhores formas de oportuni-zar aos docentes, que já possuem uma formação inicial, bases teóricas e práticas no âmbito da formação continuada, uma vez que vivenciam as mudanças ocorridas na contemporaneidade afetando de forma direta sua relação com o alu-nado e seu envolvimento com o conhecimento. Assim, a evolução tecnológica passa a fazer parte da realidade de formação de professores que buscam nessa prática uma oportunidade de adquirirem novos conhecimentos e utilizá-los em sua ação pedagógica, principalmente na área da educação especial que vem consolidando um novo paradigma: o da inclusão escolar.

Apesar da Educação a Distância não ser uma modalidade nova de educação, nos últimos anos, ela garantiu novas discussões e um amplo espaço na sociedade devido ao emprego das tecnologias na educação, tornando possível a

mediação entre os alunos e os diversos instru-mentos tecnológicos disponíveis no mercado, nesse caso, mais especificamente o computa-dor. O uso do computador como ferramenta de aprendizagem e de aperfeiçoamento possibilita o desenvolvimento de novos conceitos por meio do acesso às atuais relações de saber, pois oferece recursos metodológicos e diversos modelos de atividade.

O ensino a distância, com o sentido de prática fácil de ensino, há muito tempo já foi desmis-tificado. Nossa experiência com um grupo de alunos moradores na cidade de Praia, Cabo Verde na África, traduz a veracidade de muitos aspectos que perpassam o ensino a distância. Temos por objetivo apresentar os aspectos essenciais envolvidos no ensino a distância na formação de professores para o Atendimento Educacional Especializado. Para tanto, nos valemos da qualidade de professoras de 15 alu-nos que já possuem uma formação inicial para atuação no magistério, isto é, já são professores que atuam em Pólos Educacionais nessa cidade do continente africano. A interação com esses alunos ocorreu por meio de um ambiente virtual de aprendizagem que permitia algumas formas

aprendizagem é compreendida, a par-tir dos estudos psicológicos e educa-cionais, como forma de mudança de comportamento. O ser humano, ao

nascer, precisa de cuidados e orientações que serão essenciais para toda sua trajetória vital. Tais cuidados vão se configurando a partir de muitas aprendizagens ao longo da vida. Toda-via, existem diferentes formas de aprender e diferentes tipos de aprendizagem.

Há pouco mais de duas décadas, o desenvolvi-mento das tecnologias da informação e comuni-cação revolucionaram as concepções e a prática de ensino em todo o mundo. Surgiu, então, o ensino a distância! Com ele, também surgiram novos desafios aos professores e alunos que, em processo de permanente desejo de aprender e evoluir estabelecem vínculos profícuos na direção de novas e significativas aprendizagens.

As experiências educacionais a distância já somam muitas e peculiares contribuições que permitem seu aperfeiçoamento, principalmente no ponto de vista didático. Muitas especula-ções sobre essa nova modalidade de ensino já foram alvo de críticas bastante assombrosas, que evidenciavam ser o ensino a distância

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O país sofre com constantes quedas e faltas de energia, o que, impossibilitava a conexão com a internet. Apesar disso, devemos dizer que essa dificuldade não comprometeu a aprendi-zagem e o interesse dos alunos com o Curso, acreditamos que os novos conceitos envolvi-dos no fazer pedagógico se faziam presentes como mais uma alternativa de contextualizar as perspectivas e os novos paradigmas de uma sociedade e escola inclusiva. Assim, o contato com as mídias permitiu ampliar as discussões sobre a educação especial de Cabo Verde por meio de um paralelo com a educação brasileira.

Para nós, professoras, a Educação a Distância permitiu o conhecimento de um novo público de alunos. A geografia e a cultura da região não foram obstáculos para a realização de várias dis-cussões, estudos e leituras, em especial, a leitu-ra dos módulos específicos do Curso visando à aproximação e à internalização do Atendimento Educacional Especializado, tendo em vista que nesse país ainda não está completamente imple-mentada a prática de uma educação inclusiva comparada ao modelo brasileiro que preconiza a educação especial na perspectiva da educação inclusiva (brasil, 2001, 2008).

Enquanto atividade didática, nos fóruns eram postados questionamentos e discussões que viabilizaram a compreensão e a aprendi-zagem dos conteúdos propostos. Além disso, também foram realizadas outras atividades que incluíram o desenvolvimento de um plano de atendimento educacional especializado, no qual os alunos do Curso deveriam escolher um dos alunos matriculados em sua escola para efetuar tal plano e assim apresentar como proposta de trabalho a ser desenvolvida com base nos estudos já realizados.

A culminância do Curso foi marcada pela realização de uma atividade manuscrita, deno-minada Relato Documentado, em que foi soli-citado aos alunos a escrita do que foi possível vivenciarem com o curso e a possibilidade real de aplicação em suas práticas cotidianas como professores de alunos com deficiência.

O resultado desse trabalho será apresentado a seguir. Contabilizam 15 relatos, cada qual com a descrição da realidade educacional desses pro-fessores e suas impressões acerca do Curso em questão. Procuramos nessa apresentação manter a originalidade dos textos enviados, que foram escritos com a língua oficial do país: o português.

de interatividade, como o bate papo, o diário de bordo, e mail, fóruns, materiais na biblioteca. Salientamos que os mais utilizados com esses alunos foram o fórum o bate-papo, e o e-mail.

Essas tecnologias de informação contribuí-ram de forma significativa durante o andamento do curso como instrumentos a serviço da edu-cação, avaliando e enriquecendo os aspectos pedagógicos de um estudo individual, como se caracteriza o ensino a distância, como um ensino autônomo em que o aluno pode organizar e gerenciar seus estudos e exercícios, porém também com essas ferramentas foi possível es-tabelecer a troca simultânea de conhecimentos entre alunos, professor e tutor, uma vez que as atividades desenvolvidas levavam em conside-ração a aprendizagem e a experiência de todos para que assim pudéssemos arquitetar uma construção coletiva do conhecimento.

Nesse aspecto, podemos configurar a Educa-ção a Distância como uma estratégia de demo-cratização da educação. Contudo, é necessário disponibilizarmos um ensino aliado às expecta-tivas dos educandos, com professores e tutores competentes a fazer uma mediação de qualidade, pois somente a tecnologia não garante a ocor-

rência de uma prática de aprendizagem. Para que haja efetividade na Educação a Distância, os professores e tutores devem ter a respon-sabilidade de traçar estratégias de ensino que sejam significativas no contexto online, pois a metodologia do ensino a distância se difere do ensino presencial, e uma das mais importantes táticas de mediação é fazer com que o aluno nunca se sinta só no ambiente de aprendizagem.

Apesar de o ensino ser a distância, a identida-de de aluno sempre pede o amparo do profes-sor e, por isso, mesmo a aprendizagem sendo

“individual”, o papel do professor e do tutor se multiplica, pois desenvolver online formas de colaboração e de ações significativas se tornam cada vez mais desafiadoras. Durante a media-ção, houve um maior compromisso para tornar real a oportunidade de oferecer aos alunos um modelo mais rico de ensino e aprendizagem. Assim, foi necessário ver a importância da perspectiva que engloba a Educação a Distância tanto no âmbito político como social e cultural.

Nessa experiência cabo-verdiana, os desafios não só se resumiram às metodologias utilizadas, mas também a uma peculiaridade na interação com os alunos que foi o fator da energia elétrica.

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Compreendemos com esse estudo quão válido foi para esse grupo de alunos (profes-sores) a experiência virtual de auto formação, pois foi proporcionado a essa turma de alunos/professores a oportunidade de implantarem posteriormente suas aprendizagens no seu ambiente de trabalho, de forma a se tornarem investigadores de sua própria prática pedagó-gica e arquitetos de um processo inclusivo em Cabo Verde. Por meio desse Curso, acreditamos ter plantado, nos alunos que fizeram o Curso, o desejo pela continuidade de assimilar novos conhecimentos e assim ter capacidade de ava-liar as situações vigentes em sua comunidade.

Nessa experiência de formação, nós (professo-ra e tutora) pretendemos mais do que sermos me-diadoras de conhecimentos. Com esse trabalho, almejamos dar voz a um grupo de professores por meio do processo de aprendizagem de sua experiência virtual e social. Tentamos incluí-los no debate contemporâneo sobre a inclusão da pessoa com deficiência e, para isso, tomamos como aliadas as tecnologias de comunicação e informação. Buscamos dar significativo valor às contribuições dos alunos e a partir delas criar produções que fossem válidas para todos.

A seguir, são apresentados os relatos dos alunos que participaram do Curso, com os quais é possível constatar as diferenças em termos de realidades educacionais e as muitas formas com as quais esses professores passaram a aplicar diretamente os conteúdos e práticas construídos ao longo do Curso de aee.

Os relatos são apresentados em ordem alfa-bética de autoria.

relato 1 aplicabilidade do curso aee no pólo nº 1 de assomada, ilha de santiago, cabo verde: implementação de uma sala de atendimento educacional especializadoAutor: Adelaide Varela Cabral Pinto

A educação inclusiva é um direito humano e implica uma efectiva participação de todos no processo educacional. A inclusão escolar refere-se a todas as formas possíveis, por meio das quais se busca, no decorrer do processo educacional escolar, combater a exclusão, ma-ximizando a participação em educação de todos os alunos de uma área, quaisquer que sejam as origens das barreiras que experimentam em sua aprendizagem.

Depois de ter trabalhado durante cinco anos como Educadora Social do Instituto cabo-ver-diano de menores e doze anos como professora, entre os quais quatro desses, como Promotora de Saúde Escolar, tenho deparado e encontrado

vários casos de crianças com Necessidades Edu-cativas Especiais (nee). Esses casos de crianças com necessidades educativas especiais sempre despertaram em mim enormes preocupações e um grande desejo de encontrar respostas ade-quadas e diferenciadas, de acordo com cada situação vivida, em parceria com a família, com os colegas e com as instituições envolventes.

Ao longo desses anos de experiência tenho participado em várias acções de formação (se-minários, workshop, palestras) sobre temas como cegueira e a escrita Braille, surdez, comu-nicação com uso de sinais para os mudos, de entre várias outras acções que visam a inclusão. Essas acções de formação de que falei sempre foram de curta duração e não permitiram um desenvolvimento aprofundado dos temas, de forma a que permitisse uma análise e um en-quadramento melhor dos casos encontrados.

Tendo em conta o exposto, quando surgiu esta possibilidade de fazer este Curso de Aten-dimento Educacional Especializado, abracei com forte motivação, porque vi nele (curso) uma

os relatos dos alunos

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

Cada aluno com Transtorno Global do De-senvolvimento tem as suas especificidades e o seu modo particular de se relacionar com o saber, o seu próprio estilo de aprendizagem. Neste sentido é importante que o professor tenha um olhar para além do diagnóstico, não rotulando o aluno em um determinado transtorno. Assim evita-se generalizações que aprisionam o aluno em um diagnóstico. Sendo assim, vale lembrar que “todas as crianças aprendem muito mais do que sonha a nossa vã pedagogia” (kupfer; petri, 2000, p.116 apud vieira, 2011).

De entre as crianças com Necessidade Edu-cativa Especial que frequentam a minha Escola, realço dois alunos que apresentam Transtornos Globais do Desenvolvimento, na minha sala de aula. Com a abordagem deste módulo no curso, com a confecção de materiais didácticos nas aulas presenciais, bem como as interacções entre os colegas e os professores do curso, adquiri competências que permitiram melhorar a minha prática e actuação na sala de aula, no que diz respeito a selecção de materiais acessí-veis e uso de novas tecnologias de informação no tratamento dos conteúdos.

Para dar continuidade ao atendimento de crianças com Necessidade Educativa Especial e continuar a pôr em prática os conhecimentos construídos neste curso, a Delegação Escolar do meu concelho pretende implementar neste próximo ano lectivo, uma Sala de Atendimento Educacional Especializada, com a função de elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidades que eliminem barreiras para a plena participação dos alunos, considerando as sua necessidades específicas.

Essas crianças frequentarão esta sala espe-cializada no período contrário das suas aulas, onde serão desenvolvidas com elas, actividades estimuladoras dos processos mentais como atenção, percepção, memória, imaginação, cria-tividades, linguagem entre outras.

Como um dos elementos que fará parte da implementação da sala especializada, conside-ro que os conhecimentos que construí durante este curso de Atendimento Educacional Especia-lizado serão importantes e fundamentais para dar continuidade ao trabalho de atendimento às crianças com Necessidade de Educação Especial de todas as escolas que fazem parte deste concelho de Santa Catarina.

oportunidade de desenvolver novas competên-cias que permitam melhorar a minha actuação em sala de aula, atendendo crianças com ne-cessidades educativas especiais e encontrando respostas adequadas a cada situação.

Trabalho na Cidade de Assomada, concelho de Santa Catarina, ilha de Santiago. A minha es-cola faz parte do Pólo nº 1 de Assomada. Neste ano lectivo, 2010/2011, a escola trabalhou com 706 alunos matriculados, distribuídos por 22 professores, num rácio de 32 alunos por sala. A escola trabalhou com 10 alunos incluídos, sendo dois (2) no 1º ano, seis (6) no 2º ano e dois (2) no quarto ano.

A minha escola não tem sala de recursos, mas dispõe de alguns equipamentos informá-ticos e materiais didácticos que auxiliam os professores no seu trabalho, na abordagem dos conteúdos, particularmente os professores que têm alunos incluídos.

No plano anual de actividades da minha es-cola são agendadas todos os anos, sessões de formação destinadas à produção de materiais di-dácticos com o objectivo de levar os professores a realizarem trabalhos práticos com os alunos, durante as aulas. A realização dos trabalhos

práticos ajuda as crianças de uma forma geral, e particularmente as incluídas a desenvolverem a atenção, a imaginação, concentração, destreza manual, criatividade e espírito de equipa.

Dos módulos estudados no curso, destaco neste ponto, o Módulo ix “Transtornos Globais do Desenvolvimento”, estabelecendo a dife-rença entre a deficiência mental e a doença mental, isto porque muitas vezes, as pessoas com Transtornos Globais do Desenvolvimento são confundidas com pessoas com deficiência mental, o que, no entanto, o módulo nos mostra diferenças pontuais.

Os alunos com Transtornos Globais do De-senvolvimento definem-se por apresentarem

“um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas rela-ções sociais, na comunicação ou estereotipias motoras” (brasil, 2008, p.2). Sendo assim, os sujeitos com Transtornos Globais do De-senvolvimento não devem ser enquadrados como sujeitos com deficiência mental, apesar de essa última poder estar associada aos quadros em determinados casos. É importante salientar que alguns desses sujeitos podem ter inteligência acima da média.

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

assim como outras pessoas que lidam com esta problemática, em especial as nossas crianças.

Desde ano 2007 até a presente data, tra-balho como responsável do Núcleo da edu-cação especial na Delegação do Ministério da Educação e Desporto da Praia, cujo o ob-jectivo essencial é trabalhar com os alunos com Necessidades Educativas Especiais em parceria com o sector da educação especial, mas concretamente sala de recursos.

A Delegação do Ministério da Educação e Desporto de Praia, dispõe de 36 pólos educa-tivos, onze (11) escolas secundárias, sendo 10 na Praia e um (1) na Ribeira Grande de Santiago. Das onze Escolas Secundárias, nove públicas e dois semi-públicas, albergando um total de 19.000 (dezanove mil) alunos do ensino básico.

A mesma está estruturada em vários serviços, entre os quais, o Gabinete de Atendimento e Apoio ao Aluno e à Família (gaaf), que é um serviço da Delegação do Ministério da Educação e Desporto da Praia que tem como objectivos, acompanhar e optimizar o percurso escolar dos alunos, desde Jardim-de-infância até ao Ensino Secundário, facilitando o desenvolvimento da identidade pessoal das crianças e jovens e, ao

mesmo tempo, prestar apoio e acompanha-mento ao aluno e à família. Além disso, o gaaf também presta acompanhamento psicológico aos professores, dando o devido encaminha-mento às instituições competentes quando os casos assim justifiquem.

Os casos que chegam ao gaaf são através de preenchimento de fichas de pedidos de observação, fornecidos aos coordenadores pedagógicos de cada pólo educativo que, por sua vez, disponibilizam aos professores, para indicação dos alunos que necessitam de acom-panhamento. Também existem fichas de pedido de acompanhamento disponível para os alunos das escolas secundárias quando são os próprios a solicitar acompanhamento.

O Gabinete também presta e desenvolve acções de formações, palestras e seminários nas escolas, destinados aos alunos, professores e pais/encarregados de educação, abordando vários temas considerados pertinentes, conso-ante às necessidades das escolas.

Ao gaaf é fixado o seguinte conjunto de atribuições:

Colaborar com as escolas de ensino re-gular, famílias e unidades de saúde pública

relato 2 inclusão das crianças com necessi-dades educacionais especiais no sis-tema do ensino regular experiência no núcleo da educação especial na delegação do ministério da educação e desporto de praia, cabo verdeAutora: Anabela de Jesus Varela Teixeira

A escola é uma instituição responsável pela trans-missão dos saberes: saber ser, saber estar, saber fazer e saber conviver com, que são os valores dominantes na sociedade actual, aguçada quan-do a política educativa está apostando num saber voltado para a competência. Outra aposta da po-lítica governamental através do Grandes Opções do Plano – gop é o desenvolvimento sustentável do país. O cumprimento deste desiderato passa necessariamente pela aposta na educação.

Todavia a inclusão deve ser vista como um processo que passa pela integração das crianças no seu aspecto biopsicossocial e na aquisição de todos os meios necessários para o processo ensino aprendizagem.

Quando pensamos em educação inclusiva, direcionamos nosso pensar para os alunos

com nees, matriculados e acompanhando uma classe do ensino comum. Contudo, para que de facto, se desenvolva esta escolarização e que com ela, tanto a aluno quanto o professor que o acompanha obtenham experiências pedagó-gicas satisfatórias, vários serviços de apoio precisam ser disponibilizados nas diferentes áreas, tais como: saúde, assistência social, educação dentre outras.

O Atendimento Educacional Especializa-do–aee,tem como função, complementar ou suplementar a formação do aluno, disponibi-lizando serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desen-volvimento de sua aprendizagem. Realmente este curso foi de extrema importância para a minha carreira profissional, tendo em conta que o meu trabalho é mesmo direccionado para este público alvo. Sou licenciada na área de psicologia Clínica e de Saúde, já fiz pequenas formações na área de Braille, surdez e ou-tras, mas esta para mim foi muito importante, porque tivemos a oportunidade de trabalhar muitos módulos em que o meu conhecimento era muito limitado para apoiar os professores,

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Essa formação foi muito proveitosa, desta forma pretendo a partir dos módulos traba-lhados pôr em prática todos os conhecimentos evidenciados ao longo do curso, aproveitando os colegas do curso, principalmente os que trabalham no concelho da Praia.

relato 3 aplicabilidade do curso aee — cidade da praia, ilha santiago — cabo verdeAutora: Analiza Lima

Quando fui convidada para participar no curso de aee pensei em recusar, mas depois de uma reflexão e feita uma análise da realidade escolar e social onde lecciono aceitei mais esse desafio. Muitas foram as motivações, algumas das quais citarei a seguir: entender o que vem a ser uma educação inclusiva, o atendimento educacional especializado e adquirir ferramentas fulcrais para uma verdadeira inclusão dos alunos no ensino secundário, cuja carência técnica faz-se sentir.

Demais, os dados estatísticos apontam que, dos 13.631deficientes em Cabo Verde com mais de quatro anos de idade, 5.714 nunca frequen-taram uma escola, 5.831 já frequentaram e

apenas 2.086 continuam no sistema educativo. Ainda, na faixa etária dos 6 aos 9 anos de ida-de, que é a faixa da escolaridade obrigatória, das 845 crianças portadoras de deficiência, 208 crianças, ou seja, cerca de 25%, nunca frequentaram uma escola, 568 (67%) estão a frequentar e 69 (8,2%) já passaram por alguma instituição de ensino. Esses dados são mais do que suficientes para justificar uma aposta na formação aee e uma aposta na mudança de atitude em relação ao “ser diferente”.

Em Cabo Verde, é considerável o número de crianças com necessidades especiais, mas ainda existe certa carência, não só de equipa-mentos e espaços adequados, como também de educadores com formação específica para lidar com alunos com deficiências (surdos, mudos, autistas, portadores de deficiência mental, de déficit de atenção).

Na escola secundária onde lecciono encon-tram-se matriculados três alunos com deficiên-cias, sendo dois com cegueira, ambos devendo concluir o 12º ano ainda neste ano lectivo, e um com paralisia cerebral leve, frequentando nesse momento o sétimo ano de escolaridade. Em relação aos alunos deficientes visuais, numa

na identificação, observação, avaliação e respectivo encaminhamento de crianças e jovens portadores de deficiência e ou outras necessidades educativas especiais;

Participar na definição de estratégias e meto-dologias a desenvolver com alunos cujas neces-sidades aconselhem intervenções específicas;

Promover o acompanhamento social, psicoló-gico e pedagógico às crianças e jovens definidos nas alíneas anteriores e respectivas famílias, quer em ambiente escolar quer em ambiente sócio-familiar, nomeadamente no âmbito da intervenção precoce.

Relativamente aos Módulos estudados, para mim todos foram pertinentes e muito claros, mas a questão da deficiência física me deixou muito satisfeita tendo em conta que no nosso país é pela primeira vez que estamos a lutar para a inclusão das crianças com nee em par-ticular a inclusão das crianças com paralisia cerebral no sistema regular do ensino. Com esta formação conseguimos muito apoio e esclarecimento o que nos facilite e de que maneira para trabalhar com as mesmas.

Também é de realçar que todos os Módulos estudados durante o curso, trouxeram algo

importante para a nossa prática quotidiana, entretanto destaco o Módulo iv – Deficiência Física, cujos esclarecimentos contribuíram para a efetivação de futuros encaminhamentos para os alunos que buscam o Núcleo.

Para terminar este trabalho gostaria de dizer que foi um momento muito bom para mim, tendo em conta a sua relevância e os temas tratados, pois foram momentos de trocas de ideias e experiências em que nos ajuda bastante no nosso dia-a-dia. Todas as aulas trouxeram novi-dades e viabilidade e os encontros presenciais foram uma maravilha. Por isso, acredito que a formação deste tipo irá continuar e abranger para todo mundo, como sabemos o processo da inclusão exige muito esforço e, sobretudo a boa vontade. É de realçar que aqui no concelho da Praia agora sentimos mais força para lutarmos e apoiar aqueles que mais precisam de nós, mas para isso precisamos o envolvimento de todos principalmente do governo e Ministério da Educação e Desporto, no sentido de dar respostas as nossas demandas. Quanto a sala de recursos temos uma no concelho da Praia e espero que em breve será criada pelo menos mais uma tendo em conta a grande necessidade.

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entre a aprendizagem e desenvolvimento (mene-zes et al., 2011). Pois, a aprendizagem interage com o desenvolvimento, produzindo abertura nas zonas de desenvolvimento proximal (que não é igual para todos) nas quais as interações sociais são centrais, estando então, ambos os processos, aprendizagem e desenvolvimen-to, inter-relacionados. Através desse processo interactivo, pois o sujeito além de ser ativo é também interativo, porque forma conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e inter-pessoais. O sujeito internaliza conhecimentos, papéis sociais na troca com outros sujeitos e consigo próprio abrindo portas para a formação de conhecimentos e da própria consciência Deste modo, o nível de desenvolvimento mental de um aluno, não pode ser determinado apenas pelo que consegue produzir de forma independente, é necessário conhecer oque ele consegue realizar com a ajuda de outras pessoas. Assim sendo, o nível de desenvolvimento potencial – que, tanto quanto o nível real necessita ser considerado na prática pedagógica.

As ideias acima apresentadas permitem-nos deduzir que o docente tem o papel de provocar avanços nos alunos, pode orientar o aprendiza-

do no sentido de adiantar o desenvolvimento potencial de uma criança, tornando-o real.

Futuramente pretendo apoiar o(s) aluno(s) com necessidades educativas especiais que estejam matriculados na escola onde lecciono e quando for solicitada por outras instituições. Tendo em conta que a escola onde trabalho tem um aluno precisando de aee, pretendo continuar trabalhando com o referido aluno. Nesse mo-mento posso dizer que os contactos primários já foram feitos, entrevistas com a mãe e o aluno, e já há um Plano de Atendimento Educacional Especializado, mas carece de alguma melhoria. Nomeadamente, um diagnóstico mais apro-fundado do conhecimento que o aluno tem e orientar o aprendizado no sentido de adiantar o seu desenvolvimento potencial.

relato 4 aplicabilidade do curso de aee na região de são francisco, praia — cabo verdeAutora: Ana Paula da Rosa Vanzyl

Tendo por objetivo promover a inclusão dos alunos com nee por meio dos conhecimentos

acção conjunta envolvendo professores, con-selho Directivo – apoiando na ampliação dos testes, fichas disponibilização de um gravador

– colegas e familiares foi possível auxiliar esses alunos. Em relação ao aluno com paralisia ce-rebral ainda há muita coisa por fazer, conforme o Plano Atendimento Pedagógico desenvolvido para esse aluno. A referida escola, ainda, não tem sala de recursos, mas diligências nesse sentido estão sendo tomadas.

Começo por dizer que todos os módulos do Curso, foram de extrema importância para mim, sendo que em cada um pude aprender vários conceitos que com certeza serão postos em prática e ajudaram-me a delinear os moldes do aee que será ofertado aos alunos com defici-ência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação.

Da leitura dos módulos, especificamente o número ii, apreendi que qualquer trabalho fundado na concepção da educação inclusiva, ao invés de pensar nas limitações, deve-se reconhecer e valorizar, sobretudo as particu-laridades do processo de construção de co-nhecimento de cada aluno, ao invés de pensar em limitações. É pensando por esse viés que

Lerner (1997), apud Alves; Guareschi, (2011), propõe trabalhar sempre “com a suposição de que a criança é um sujeito, para além de sua sujeição às incapacidades que lhe sejam previs-tas” (p.70). E, como sujeito, também tem o seu

“estilo cognitivo de aprendizagem” (Kupfer apud alves; guareschi, 2011) que condiciona não somente o modo como o aluno aprende, mas também o tempo predisposto para aprender e este “jeito” deve ser descoberto pelo professor.

Nessa linha, Vygotsky (apud menezes et al., 2011) é imperativo ao afirmar acreditar na capaci-dade de aprendizagem de todos os sujeitos e na existência de uma interdependência entre aspec-tos orgânicos e ambientais, e não a supremacia de um factor sobre o outro. Acreditava nas influ-ências exercidas pelo meio no desenvolvimento dos sujeitos. Segundo a leitura do módulo v, a partir do conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, proposto por Vygotsky, que define a distância entre o nível de desenvolvimento real – já adquirido ou formado, que determina o que a criança já é capaz de fazer por si pró-pria – e o nível de desenvolvimento potencial

– capacidade de aprender com outra pessoa, é importante para entender a relação existente

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

sala de recursos acontece que nunca mais se falou na construção da dita sala e nem se sabe quando será construída ou como funcionará

Na abrangência total do curso teve pra mim grande importância o módulo vii que aborda a questão da surdez. Nele é referido sobre a questão da coesão e coerência do texto. Dessa leitura se pôde reter que a partir destas duas ferramentas o surdo pode unir palavras ou segmentos com lógica, estabelecendo uma relação superficial entre as estruturas super-ficiais, ainda pode fornecer subsídios para a aprendizagem da matemática e outros conte-údos curriculares ou não.

Em quase todos os anos da minha prática docente tive sempre a sorte de ter alunos com nee em especial alunos surdos. Trabalhei com eles sem noção nenhuma. Criei frustrações porque não conseguia atingir seus objectivos e mais frustrada ainda ficava eu por me sentir tão ou mais incapaz que os próprios alunos.

Hoje com os horizontes que o curso me abriu estou certa que os mesmos erros não vou come-ter e próximo ano lectivo pretendo sensibilizar os pais das alunas a deixarem que as meninas venham a cidade da Praia frequentar a sala de

recursos no período contrário, visto que criar uma sala para o efeito em São Francisco seria difícil por causa do número reduzido de deficientes.

Sensibilizarei ainda a associação de deficien-tes a facultar o transporte para as meninas e provavelmente para o menino deficiente mental que poderá matricular-se no próximo ano lectivo no primeiro ano de escolaridade.

Pretendo entrar em sintonia com a sala de recursos da Cidade da Praia por forma a me inteirar dos conteúdos e métodos ali tratados para que não haja um grande desfasamento com a sala de aula comum onde eu continuarei o processo de aprendizagem.

relato 5 reflexões sobre o curso de atendi-mento educacional especializadoAutora: Ana Paula Ramos Miranda

Fazer o Curso de aee foi para mim gratificante, pois aprendi que o professor de aee é aquele que ama a sua profissão, dedicado, carinhoso, compreensível e respeita os seus alunos. É um professor apaixonado, que busca alternativas para ajudar seus alunos a superar as dificuldades,

adquiridos durante o curso, tentando responder as expectativas depositadas em mim sendo em sala de aula comum em salas de recursos ou na comunidade. Este é o primeiro processo formativo na área de Necessidades Educativas Especiais ou de inclusão pelo qual passo.

Sinto-me não totalmente capacitada, e dota-da de algumas ferramentas e estratégias com as quais posso fazer face a alguns desafios que me possam ocorrer na vida futura.

A realidade educacional em que me encon-tro inserida atualmente é a Comunidade de São Francisco com oitocentos habitantes até Novembro de 2010.

Polo Educativo de São Francisco (Escola Pri-mária e Secundária). Esta escola esta situada num meio rural e tem um total de duzentos (200) alunos incluindo dois dois alunos defi-cientes auditivos um no período da tarde e um de manhã. Eu lecciono no período da tarde em sistema de pluridocênçia nas turmas de: 5º ano (14 alunos); 6º ano (19 alunos), 7º ano (37 alunos) e 8º ano (32 alunos).

No total de 102 alunos tenho no 5º ano a aluna Nádia, com deficiência auditiva sem próteses auditivas a qual dou atendimento dentro da sala

de aula comum e fora dela juntamente com alu-na do período da manhã que frequenta o 2º ano de escolaridade. Junto às duas meninas sempre que passo no período da tarde em tempos livres entre as aulas regulares na secretaria da escola por não haver outro espaço melhor para o efeito. Aí dou atendimento principalmente nas áreas de matemática e língua portuguesa, mas com muita dificuldade porque fico condicionada pelo tempo e pela dificuldade em língua gestual.

Esta comunidade não dispõe de sala de re-cursos e é muito difícil por questão de dis-tância pôr as meninas a frequentarem a sala de recursos da cidade de Praia, lugar onde por ventura poderiam encontrar uma maior comunidade surda. No início do ano lectivo re-cebemos na escola a visita de alguns membros do Património Nacional ligados ao Ministério da Educação, ficou assente que futuramente seria construída uma sala de informática no âmbito do programa mundo novo. Isto seria de grande valia porque com os alunos poderíamos pesquisar conteúdos do interesse comum que facilitariam a aprendizagem da língua gestual e consequentemente outros conteúdos. Assim também esta sala poderia funcionar como uma

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para o grupo, sempre em cada trimestre faço a mobilização dos alunos em grupos diferentes, ou seja, faço uma rotação de modo que todos possam interagir uns com os outros. Gostaria de experimentar a disposição em forma de se-micircular, não somente nas horas de debate, mas há aquele constrangimento de desarrumar.

Por fim, espero com esse Curso, poder ajudar os alunos do aee, que eles venham a melhorar a sua autoestima e auto dependência que tenham êxito na aquisição do conhecimento e que te-nham mais oportunidades para mostrar as suas potencialidades para a sua satisfação pessoal.

relato 6 aplicabilidade do curso aee na cidade de praia — cabo verdeAutora: Ângela Moreira

No decorrer da realização dessa formação adquiri algumas experiências que gostaria de as partilhar convosco. Frequentei o curso com os seguintes objectivos de adquirir mais conhecimentos a fim de me capacitar para apoiar os alunos com nee. Não passei por nenhum processo formativo até o momento,

pelo que é a minha primeira experiência. Trabalho na escola secundária, na cidade

da Praia e neste momento só tem um aluno com paralisia parcial. Ainda não temos sala de recursos, mas já temos uma sala dispo-nível e estamos a aguardar o equipamento. Em relação aos materiais ainda só temos os materiais que confeccionamos durante a for-mação. Estes materiais são úteis não só para os alunos com a deficiência referida, mas também podem servir alunos portadores de outras deficiências.

Todos os módulos foram úteis e interessan-tes, mas o que mais me identifiquei, em função da viabilidade de aplicabilidade, no meu ponto de vista foi o Módulo 10, Unidade C que fala sobre a escola como um espaço de respeito a diferença. Neste módulo pude aprender com Vygotsky, que todo o ser humano nasce com capacidades e possibilidades de ter o pro-gresso intelectual e todos nós nascemos com capacidade de apreender. Todos nós temos a zona de desenvolvimento real e a potencial, ou seja, toda pessoa tem um potencial para apreender e isso só é possível com ajuda de uma pessoa experiente.

um professor que nunca desiste que sempre está disponível e tem boa vontade, confiante que consegue sempre algo mais. O Curso de aee veio chamar atenção para esses detalhes importantes e que nos ajudam a reflectir sobre a nossa acção, não se preocupando apenas em transmitir conhecimentos aos alunos, mas sim ter em conta a parte afectiva assim como ser criativo e procurar sempre inovar e bus-car estratégias e recursos para dar uma aula que desperte interesse nos alunos. Também é importante lembrar que o professor tem que ter capacidade de manter uma relação de cumplicidade com os seus alunos e estar sempre alegre.

O Curso remeteu a reflexão de como deve agir como professor de aee, além de dominar os conteúdos científicos relativos às nee, ter mais dedicação não desistir facilmente, mas sim ser mais compreensível e tolerante. É um professor de aee, aquele que se preocupa com os seus alunos e com uma boa aprendizagem.

Sendo assim penso que esse professor deve ser capaz de explorar todas as capacidades e potencialidades dos seus alunos, com amor, orgulho e muita satisfação.

Em relação a diversidade de estratégias para o aee, leva com que o aluno explore cada vez mais as suas potencialidades, favorece tam-bém o aperfeiçoamento e desenvolvimento da autodomínio e autocontrole na execução das tarefas e ajuda-os a concentrarem-se.

Ao diversificar as estratégias o professor faz com que os alunos não caiam na rotina, desper-ta interesse e gosto por novas descobertas. Por isso não deve levar em conta as dificuldades en-contradas no processo de ensino. Por exemplo, na minha escola o mobiliário foi recentemente trocado, mas em algumas salas, o que não acon-teceu na minha. Mas são do mesmo tipo, mesas compridas e uma cadeira para cada aluno. Na minha sala eu costumo variar a disposição das carteiras, mas a preferência vai para disposição em grupo, pois facilita a interacção entre os alunos, facilita na mobilização e visualização dos alunos. Não há um espaço à vontade que permita a realização de actividades já que a sala não é muito ampla, às vezes arrastamos carteiras para um canto da sala se quisermos realizar um jogo ou qualquer outra actividade. No dia da realização do teste mudo voltamos para a disposição em fila e logo depois voltamos

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todos de mãos dadas possam dar o seu con-tributo para esta causa. Cheguei a conclusão, ainda que com o conhecimento que já adquiri até agora, partilharei-lo-ei com os meus colegas, nas reuniões de preparação metodológica.

relato 7aplicabilidade do curso de aee no polo nº 20 escola a belaAutor: Antônio dos Reis Borges Gomes

Atendimento Educacional Especializado é um curso que surgiu para minha pessoa como se fosse uma aprendizagem do alfabeto, pois, que falta fazia no meu quotidiano profissional.

Licenciei-me em Psicologia clínica e da saú-de, porém, essa base de como trabalhar com crianças com vários tipos de dificuldades, não a tinha, pois, estou adquirindo-a, com o empenho desejável, no sentido de poder cobrir as lacunas que anteriormente tinha.

Em 2009, tive um aluno com síndrome de Down, pois, dos vinte professores que a escola dispunha na altura, recusaram todos receber este aluno alegando não ter formação que lhes permitam fazer algo para este aluno.

Por ter formado em Psicologia encorajei-me e pus o aluno na minha sala, pois era um de-safio grande, mas tudo isso pensando que os meus conhecimentos poderem-me ajudar. A partir daquele momento passei noites e dias de muita aflição, porque afinal não sabia nada. Este não saber nada, fez com que eu fosse um dos primeiros a querer me inscrever neste curso como forma de saber dar resposta e por outro lado satisfazer a vontade de todos aqueles que gostam de estar na escola e que devido a falta de preparação dos professores vão ficando fora do sistema.

O Curso de aee está sendo neste momento a ter efeito positivo, porque já mesmo antes de concluir, com a leitura dos módulos e a troca de experiência com os colegas tem vindo a ajudar-me a lidar com os alunos com dificul-dades, embora não os tem na minha sala, mas tive oportunidade de ajudar um colega meu a desenvolver tarefas com um aluno portador da deficiência como surdocegueira, embora no Pólo diferente daquele que lecciono.

Com o curso da aee, um dos principais ob-jectivos foi munir das competências específicas para ajudar as crianças que precisam e não

Reflectindo nesta teoria sou de opinião do que o desenvolvimento duma pessoa com de-ficiência é determinado não só pelas limitações orgânicas, mas também pelas suas vivências.

Segundo o mesmo autor, as deficiências orgânicas podem afectar não só a interacção dos deficientes com o meio físico, mas também a qualidade das interacções estabelecidas com outros sujeitos sociais. E isso acaba por afectar os processos do desenvolvimento e aprendiza-gem. Para ele existe outro nível de desenvolvi-mento potencial que a nível real necessita ser considerado na prática pedagógica.

Assim sendo, a teoria de Vygotsky é fun-damental para a implementação dos planos elaborados para o aee. Todos os professores precisam colocar na prática esta teoria.

O Módulo 10, na unidade C, ainda nos mostra um aspecto muito interessante que tem haver com a consciencialização da existência da inclu-são e exclusão porque o significado de inclusão traz em si a dimensão da existência de exclusão, ou seja, para haver inclusão, necessariamente tem que existir exclusão. Aqui Ferreira explica que nas relações estabelecidas entre os perten-centes a classe e os excluídos de determinada

categoria social, desencadeia emoções, as quais se somam com os valores dos não excluí-dos, e acabam por influenciar suas disposições psíquicas, ou seja, suas atitudes em relação aos excluídos. Dessas atitudes dos não excluídos, pois pode se constituir em atitudes positivas e negativas. Amaral definiu pré-conceito como sendo conceitos pré-existentes, desvinculados duma experiência concreta (apud viera, 2011).

Frente dessa realidade é necessário que, na minha escola, os professores, sejam eles de educação especial ou da classe comum discu-tam e reflictam determinadas atitudes, compre-endam determinadas acções, pensamentos e comportamentos que legitimam preconceitos que ocorram no ambiente da sala de aula, em particular e na escola, em geral.

Contudo, os conceitos do referido Módulo que foram realçados são fundamentais para trabalhar a inclusão, na minha escola, mas também em outras escolas.

Concluí que a inclusão é um processo muito complexo, e para que isso aconteça na realidade é necessário alargar esta formação para todos os professores, sensibilizar os funcionários, os alunos e toda a comunidade educativa, para

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sor, a escola deve os incluir, acolhendo-os sem preconceito. A minha constatação é que existe naquela escola um elevado índice de preconcei-to com relação a este aluno, quer da parte dos alunos quer da parte dos professores. Outro elemento perturbador na inclusão desse aluno é a falta de uma estrutura adequada para rece-ber alunos com qualquer que seja deficiência.

Uma das grandes dificuldades da inclusão advém de um déficit de qualificação do corpo docente. Não havendo professor qualificado na-turalmente não há planificação nem tão pouco interesse da escola ou do professor em integrar o aluno com deficiência na escola.

A minha preocupação a partir deste momento é trabalhar junto da escola, concretamente com a direcção, no sentido de fazer as adaptações possíveis e necessárias a fim de proporcionar condições mínimas para inclusão dos deficien-tes na escola.

Outro aspecto que é possível é a criação de uma sala de recursos, mesmo que esta ini-cialmente não venha estar convenientemente apetrechadas, mas, sim um espaço que permita em contra turno ter os alunos que precisam com uma orientação específica.

Com relação a inclusão essa será a minha missão de pelo menos na minha escola ou zona de acção, convencer e brigá-los a inclusão sem qualquer preconceito. Tenho a pretensão de jun-tar aos meus colegas de formação no sentido de unir forças e as vozes para junto do Ministério da educação, fazer com que as adaptações sejam feitas e que nas futuras infraestruturas venham já arquitectadas as condições de acesso para qualquer tipo de deficiência.

relato 8curso de atendimento educacional es-pecializado — aee: a deficiência visual em santa cruz, interior de santiago, “educação de qualidade para todos”Autora: Evaldina da Conceição Tavares Borges

Hoje, é cada vez mais evidente, com as evolu-ções do sistema do ensino, falar na educação inclusiva, pois são colocados novos desafios às instituições educativas, que têm como tarefa formar indivíduos competentes, e responsáveis. Essa perspectiva educacional tem como objeti-vos: promover uma educação de qualidade para todos; Cooperar para o desenvolvimento das

só, os próprios professores que não tiveram privilégios de ter essa formação.

Por razões de saúde fui-me transferido de Pólo, daí neste momento, junto da Gestora do Pólo es-tamos a fazer um levantamento dos alunos com deficiências. O objectivo desse levantamento é tentar ver os números as deficiências, e também a possibilidade de coloca-los na sala de recursos se o caso vier a justificar, embora não tenhamos a sala de recursos na escola, mas, felizmente temos uma a dez quilómetros da escola e há possibilidade de deslocar através de parcerias.

Com relação aos módulos, diria que todos tem a aplicabilidade, embora o módulo de sur-docegueira e deficiência múltipla dos autores Ismenia Carolina Mota Gomes Bosco, Sandra Regina Stanziani H. Mesquita e Shirley Rodri-gues Maia tenha me guiado bastante talvez porque fui solicitado por um colega a ajudar no desenvolvimento de tarefas com um aluno com a referida deficiência.

A utilidade e a viabilidade dos ensinamentos dos módulos têm dado sinais positivos que pode ser aplicável. Conforme os estudos realizados, surdocegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades além daquelas, causadas

pela cegueira e pela surdez. O Mclnnes (1999 apud bosco; mesquita; rodrigues, 2011) definiu surdocegueira como uma deficiência única que requer uma abordagem específica para favorecer a pessoa com surdocegueira e um sistema para dar este suporte.

Da experiência compartilhada com o colega que tem um aluno portador da referida deficiên-cia, constatei que os alunos com surdocegueira revelam grandes dificuldades em observar, com-preender e imitar o comportamento de membros da família ou de qualquer outra pessoa. Por isso denota-se certa desarticulação desses deficientes nos deslocamentos exactamente porque não conseguem imitar e definir um estilo, até mesmo a sua personalidade.

Foi possível durante as sessões que obti-vemos, incentivar, ensinando-o como usar a sua visão e audição residuais assim como os outros sentidos remanescentes, provendo-a de informações sensoriais necessárias que susci-tam sua curiosidade. Essa aplicação aconteceu graças a leitura do módulo do curso sobre surdo cegueira e a experimentação.

Apesar das dificuldades que manifestam os alunos com a supracitada deficiência o profes-

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

Deficiência Visual é o módulo mais colocado na nossa prática, sendo o que teve mais inscritos no aee. Isto não quer dizer que os outros não tiveram impacto.

De acordo com os estudos do módulo em questão, a deficiência visual é causada por uma variedade de anomalias ou enfermidades oculares que provocam lesões ou prejuízos na capacidade de percepção visual em decorrência de erros de refracção, atrofia do nervo óptico ou degenerações da retina. Alguns destes compro-metimentos podem ser atenuados ou corrigidos com auxílios ópticos ou intervenção cirúrgica como é o caso, por exemplo, de hipermetropia, miopia, astigmatismo e estrabismo.

Tendo em conta que esse curso foi muito frutífero, pretendo a partir dos módulos estu-dados pôr em prática através de atendimento educacional especializado e abarcar mais es-colas que esse ano não tive essa oportunidade, seminários de formação, visitas domiciliares, encontros com os professores da classe regular para discutirmos sobre trabalho desses alunos.

No meu caso particular não tenho turma, mas, trabalho direccionada para todos, de uma forma geral todos esses módulos vão nos servir no

nosso dia-a-dia. Trabalhar com esses alunos não é uma tarefa fácil, mas é um desafio maior e sempre procuramos uma resposta eficiente e eficaz de modo a minimizar as dificuldades.

relato 9aplicabilidade do curso de aee na cidade de são domingos, cabo verdeAutora: Hilária Paula Gaspar Pires

Cabo Verde tem estado a apostar bastante na questão da Educação Inclusiva, de forma a permitir que todas as crianças com nee, tenham o direito de estarem nas escolas de ensino regular. Tendo sempre em conta o prin-cípio de igualdade, e condições de acesso e permanência na escola.

Foi com este intuito que o Ministério de Edu-cação apostou em preparar mais recursos huma-nos, para cada vez mais termos uma educação inclusiva e com sucesso e também que seja uma educação de qualidade.

Nesse curso foram abordados vários temas, tivemos dez módulos que foram trabalhados em sessões presenciais, aulas ao vivo e bate-papo.

potencialidades dos alunos com nee; Contribuir para integração das crianças com nee; Promover uma igualdade de oportunidade para todos.

Já participei em vários seminários de forma-ção em nee, como: sistema de avaliação das crianças com nee e surdez. Estou a estudar o último ano do curso de psicologia e participei em estágios de crianças com paralisia cerebral. De momento estou a participar numa formação em terapia ocupacional. Aprendi muito com a formação recebida e tem-me ajudado muito.

Na minha cidade existem várias escolas es-palhadas por diversas localidades. O número de alunos que frequenta a escola que acompanho é num total de 678 alunos, sendo uma média de 32 alunos por sala. O turno funciona de ma-nhã e tarde. O número de alunos incluídos na escola é de cinco alunos. O atendimento é feito na sala do gestor e na Delegação da educação em período contrário da aula. No meu Concelho não dispomos de sala de recursos.

Como as crianças cegas, mais do que as outras, devem entrar em contacto com os ele-mentos da natureza, por isso a maioria das sessões fizemos em contacto com a natureza e de proporcionar a oportunidade de explorar

estímulos do ambiente, como aprender a tocar, sentir, perceber odores, e sabores, dimensões e texturas, discriminar sons, vozes e ruídos, pular, correr, saltar.

Todas essas acções desenvolvemos no contex-to de aprendizagem dessas crianças de modo a obterem uma resposta/educação de qualidade. Também desenvolvemos a formação de hábitos e posturas, destreza táctil, o sentido, a orientação esquemas e critérios de ordem e organização e o reconhecimento do desenho em relevo.

As estratégias de aprendizagem, os pro-cedimentos, o acesso ao conhecimento e a informação, bem como os instrumentos de avaliação devem ser adequados as condições visuais do educando.

Valorizamos o comportamento exploratório, a estimulação dos sentidos, e a participação activa dos alunos, em todos os dez módulos do Curso aee ofertado. Entretanto em minha prática saliento o módulo 7, sobre o Atendimento Edu-cacional Especializado para crianças cegas ou com baixa visão. A escolha do tema deficiência visual foi por reconhecermos a importância do curso de aee sobre esse tema na escola em geral e na vida do aluno em particular. Também

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

Traçar um plano de acção para trabalhar com as crianças com nee, incluindo também o acompanhamento especializado.

Em conjunto com o núcleo trabalhar no sen-tido de expandir as formações, produção de materiais didácticos para as crianças com nee. Procurar apoio para fazer algumas adaptações as escolas para que os alunos com nee não encontrem obstáculos. Nas próximas reuniões de preparação Metodológicas vou sensibilizar os gestores coordenadores e professores que se façam discussões sobre as nee.

Para atingir todos esses objectivos conto com o núcleo, professores, a comunidade escolar e não só (buscar parcerias em outros lugares). Também quero contribuir dando aula numa sala regular ou numa sala de recursos, para apoiar as crianças com nee. Pretendo dar continuidade e praticar os meus conhecimentos adquiridos trabalhando com crianças com nee, colegas que também tenham crianças com nee.

Quanto a possibilidade de continuidade das discussões na escola ou no meu contexto de trabalho irei ver formas de termos sempre um tema relacionados com nee, nos debates onde podem ser convidados os pais e encarregados

de educação, comunidade no geral, já em Cabo Verde ainda há criança com nee que são man-tidas em casa.

relato 10aplicabilidade do curso aee na cidade da praia, cabo verdeAutor: Ivone Lima Neves Oliveira

O trabalho a ser realizado vem no âmbito do curso de aee (Atendimento Educacional Espe-cializado) que vem decorrendo desde o mês de Setembro de 2010 até a presente data junho de 2011.

Depois dos estudos feitos em 10 Módulos, aulas presenciais, bate-papos, aulas ao vivo entre outros contactos com as professoras, e que gradualmente me encaminharam a uma ob-servação mais atenta do meu contexto profis-sional, e que foram particularmente reflectidas sobre a importância de uma Escola Inclusiva, ou por outras palavras, de uma “Escola de Todos e para Todos”.

Pude ainda constatar durante esse espaço de tempo, que a Escola tem um papel im-portante e essencial na construção de uma

Ao realizar este curso o meu objectivo é de aplicá-lo na cidade onde eu trabalho, em con-junto com os meus colegas, com a comunidade escolar e a própria comunidade. Vou ajudar dinamizar, de forma a que a inclusão seja bem sucedida em todas as escolas.

Fazer todo um trabalho de modo a conhecer as Necessidades Educativas Especiais de cada aluno e a partir daí preparar um plano de acção. Realizar o curso de AEE foi muito importante, pois pude adquirir vários conhecimentos e experiências. Sinto-me confiante em trabalhar com alunos com NEE, e também apoiar os meus colegas que tenham crianças com NEE.

Já participei em algumas formações na área de cegueira e surdez, também adquiri alguns conhecimentos, foi a partir dessas capacita-ções que passei a interessar-me pela área de NEE. Houve formações que eu fui participar sem ser convidada. Trabalho em São Domin-gos, na escola de Cutelo Branco.Tenho três turmas num total de 55 alunos do 5º ano, por enquanto não tenho alunos com NEE. Lecciono as disciplinas de Língua Portuguesa e Música. Para mim é um desafio muito grande porque sei que devo estar preparada para trabalhar

com crianças com NEE a qualquer momento.Quanto aos módulos, não tive necessidade

de recorrer a eles porque por enquanto não tenho alunos com NEE, mas sei que no futuro serão uma grande valia, sempre que eu precisar irei consultá-los.

O Concelho de São Domingos tem estado a fazer alguma coisa com relação a NEE, mas penso que há uma necessidade de dinamizar mais. Há um núcleo formado pelo: Delegado de Educação, dois gestores, dois coordenado-res, dois psicólogos e um professor de novas tecnologias.

Então quero aplicar o meu curso trabalhando em conjunto com esse núcleo que São Domin-gos tenha mínimas condições para começar um atendimento tanto na sala regular como fora dela. Para isso vou propor a esse núcleo que a gente faça um levantamento dos alunos com NEE, que deficiências têm, a idade, escola e a classe. Todo esse trabalho será feito em con-junto com os professores de turma e os pais e encarregados de educação.

Elaborar um projecto dirigido ao Ministério da Educação e outras Instituições para pedir apoio no sentido de abrir uma sala de recursos.

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os relatos dos alunos os relatos dos alunos

na minha comunidade, os que se encontram matriculados e os que se encontram fora do sistema educativo, e junto aos outros colegas, gestores e coordenadores para elaboração de um projecto para atender a esse público com necessidades educativas especiais, principal-mente ao que tange ao espaço físico, às tecno-logias assistivas. Eu queria só dar um exemplo, ontem em conversa com um colega de outra escola fiquei a saber de um aluno com problemas (paralisia cerebral) que é bastante inteligente que acompanha bem, mas abandonou a escola por causa de uma cadeira e mesa adaptada, a professora chamou a instituição de direito e só prometeram conseguir a cadeira sem cumprir, até que o aluno acabou por desistir de tanto esperar. Como podem ver são pequenas coisas, mas que na nossa sociedade ainda são grandes.

O meu primeiro passo seria dinamizar e tentar expandir as capacitações, bem como a produção de matérias aos colegas. Depois prosseguiria aos pedidos de apoio para poder concretizar o projecto. Arranjar parcerias junto a: Câmara Municipal; Associação de pais; Psicólo-gos; Fisioterapeutas; Professores de educação musical; Centro de saúde, entre outros.

E com isso, poder atingir alguns objetivos, tais como: assegurar a participação de todos os intervenientes no processo educativo, no-meadamente dos professores, dos alunos, das famílias; Promover o sucesso e prevenir o aban-dono escolar desses alunos com Necessidades Educativas Especiais; Assegurar a igualdade de oportunidades para todos; Garantir a ocupação plena dos alunos durante período contrário; Partilhar com os colegas os conhecimentos ad-quiridos, bem como as experiências; Promover a integração desses alunos no ensino regular.

Pretendo-me continuar as minhas pesquisas para saber mais, sobretudo, sobre os alunos com paralisias, e de um dia trabalhar em sala de recursos. Já tive oportunidade de participar em algumas acções de capacitação, mas de curta duração.

Nessas sessões são dadas algumas noções básicas de como trabalhar com alunos com necessidades educativas especiais, mas aca-bei por aperceber que é muita coisa para ser tratado em uma semana.

Já tive alguns ensinamentos em Braille em língua de sinais, em que são dadas as letras do alfabeto, mas é uma coisa tão rápida que a

sociedade mais justa, que conceda igualdade a todos os cidadãos. A escola é para todos aqueles que encontram à margem do sistema educacional, independentemente da idade, género, etnia, condição económica ou social, condição física ou mental.

Assim, se escola quer salvaguardar o direito à Educação para todos e à igualdade de opor-tunidades, terá que reflectir assegurar e criar as condições mínimas de acesso e sucesso aos seus alunos respeitando as diferenças. O nosso país vem fazendo muito para a Educação Espe-cial, ainda não chegamos onde tencionamos es-tar, mas estamos a caminhar em passos largos para atingirmos a meta. Por isso o Ministério da Educação tem vindo a proporcionado uma aten-ção especial à Educação Inclusiva com vista a atingir os seguintes objectivos: garantir a todos o direito à educação; Garantir o direito a uma justa e efectiva igualdade de oportunidades no acesso e sucesso escolar; Prosseguir na cons-trução de uma Escola de sucesso com todos e para todos; Assegurar o respeito às diferenças; mercê de respeito pelas personalidades e pelos projectos individuais; Criar salas de recursos; Incentivar a auto formação do pessoal docente

e não docente; Promover e facilitar a formação continua do pessoal docente e não docente preferencialmente desenvolvida em contexto de escola; Caminhar para a construção de uma escola inclusiva.

Em fim vem identificando, elaborando e or-ganizando recursos pedagógicos e de acessibi-lidades que eliminem barreiras para uma plena participação dos alunos, considerando as suas necessidades específicas.

O meu objectivo em fazer esse curso, foi de um dia poder aplicá-lo e por em prática os conhecimentos que adquiri e de poder ajudar todos aqueles que tenham necessidades edu-cativas especiais e não só, enfim, poder ajudar aos que precisam de mim.

Sei que não é fácil esta árdua tarefa de educar, sabendo dos parcos recursos que enfrenta o nosso país na matéria da inclusão, mas tenho certeza que um dia vamos chegar lá. Tenho uma responsabilidade junto com os outros que tiveram oportunidade de participar na formação, de “educar” a nossa sociedade que em matéria de inclusão não estão ainda sensibilizados.

Tenciono-me saber o número de alunos com Necessidades Educativas Especiais existentes

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sobre deficiência visual, nas disciplinas de Matemática e Língua Portuguesa, são as que eu lecciono, a que eu tive mais dificuldades foi em Língua Portuguesa, devido à falta de materiais impressos em Braille, logo tive muitas vezes de recorrer a oralidade visto que temos poucas alternativas, não dispomos de nenhuma im-pressora Braille na escola. Quanto à disciplina de Matemática trabalhamos com o cuba ritmo para fazer os cálculos, mas há conteúdos em Matemática que trabalhamos a base do tacto.

Eu estou disposta a dar continuidade, como eu disse anteriormente vou continuar a pesquisar e tentar saber mais sobre os alunos com paralisia cerebral. Estou disposta a trabalhar numa sala de recursos, mas para isso teria que desfazer de uma turma regular e ficar só com uma que é o ensino especializado. Caso não conseguir trabalhar numa sala de recursos, posso colabo-rar mesmo fora dela e ajudar todos aqueles que têm Necessidades Educativas Especiais.

Nos últimos anos, várias vitórias foram al-cançadas pelas pessoas com deficiência, quer seja ela física, sensorial ou mental. Diversas leis foram definidas no sentido de garantir a inclusão para as pessoas com deficiência.

Resta-me dizer que foi muito gratificante esse curso, embora de curta duração, mas foi possí-vel sair com muitas experiências na matéria da Educação Especial que é uma tarefa de todos aqueles que trabalham em prol dessas crianças que bem merecem o nosso carinho.

Aproveito para agradecer a todos aqueles que estão directamente ou indirectamente ligados a esse curso, a todos da Universidade Federal De Santa Maria, em especial às professoras Sílvia e Patrícia, também às que tiveram oportunidade de vier a Cabo Verde para ministrar os cursos enfim a todos sem excepção. Um muito obrigado a todos aqueles que têm como a nobre tarefa de ensinar.

relato 11aplicabilidade do curso na cidade de assomada — concelho de santa catarina de santiago, cabo verdeAutor: Leonildo Simão Monteiro da Veiga

Tendo concluído o curso do aee, o objectivo é partilhar os conhecimentos adquiridos durante o curso, com todos os professores do Ensino Básico Integrados e Secundários no Concelho (distrito) onde trabalho e coadjuvar nos traba-

pessoa acaba por não captar e não pôr em prá-tica. Nesse exacto momento estou a participar numa formação em Terapia Ocupacional que vai de 23 de Maio a 02 de Junho, estou a gostar e penso tirar o máximo possível de proveito, porque é uma área que nos permite reorganizar, planificar e gerir o tempo de melhor forma, visto que muitas vezes acabamos por gastar muito tempo em coisas que se tivéssemos feito um plano diário acabaríamos por ganhar tempo.

A partir dessa formação constatei que tenho pouco tempo para mim. Acabei por constatar que a maioria das actividades que eu faço, eu faço para os outros, e não resta tempo para as actividades de tempo livres.

Eu estou na cidade da Praia em Cabo Verde, na escola onde eu trabalho ainda a comunidade não se encontra esclarecida nem sensibilizada para a inclusão, mesmo no seio dos professores ainda existem algumas arestas a serem lima-das. A escola onde eu trabalho fica em Acha-da São Filipe uma localidade onde a maioria das pessoas é pobre, a escola oferece fracos recursos, eu trabalho com duas turmas: uma com 25 alunos, a outra turma com 29 alunos, tenho uma aluna incluída, com d.v ela está no

sistema Braille desde da 4ª classe agora está na 6ªclasse, apesar das dificuldades enfrentadas, como falta de materiais concretos, tecnologias assistivas ela acompanha muito bem. Muitas vezes vejo que se tivéssemos mais condições ela estaria mais avançada.

Na minha escola existem vários alunos com Necessidades Educativas Especiais, frequen-tando as seguintes classes: 2ª, 4ª, 5ª e 6ª. Não temos salas de recursos, nem temos materiais adequados para concretizar o trabalho, mas fazemos de tudo para que o aluno se sinta bem e possa atingir os objectivos possíveis.

Embora não haja salas de recursos na nossa escola, mas os nossos alunos “invisuais” que são ao todo quatro, frequentam no período contrário uma escola para alunos cegos, per-tencente a uma associação de cegos (adevic). Os restantes com outras deficiências não têm nenhum reforço, visto que a única sala de recur-sos existente na cidade de Praia fica distante e a nossa comunidade é constituída por famílias com parcos recursos económicos, não dispõem de nenhum subsídio de transportes.

No meu trabalho, feito com a aluna com de-ficiência visual, tentei abranger o módulo v

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linguístico da língua e sinais e compreende que os surdos têm uma cultura surda e essa cultura não é algo único, estável, mas plural, com re-presentações de diferença. Ainda para o sujeito surdo apresenta uma diferença sociolinguística, ou seja, ele interage com o mundo a partir de uma experiência visual. Todas as suas construções mentais se dão pelo canal espaço visual, media-do pelo seu instrumento natural de comunicação. A língua de sinais e a língua de escrita. Além de viabilizar todos os processos cognitivos, linguís-ticos, éticos, artísticos, intelectuais do surdo, a língua de sinais constitui, conforme este módulo, um elemento identificatório entre estes sujeitos. Ao compartilharem uma língua comum, os surdos passam a se reconhecer como membro de uma comunidade singular.

Portanto ao finalizar o curso de Atendimento Educacional Especializado, há a possibilidade de criação de uma sala de recursos no Concelho (distrito), com sede em Aldeia infantil s.o.s. uma parceria entre a Delegação Escolar de Santa Catarina, Ministério de Educação e a própria Aldeia Infantil s.o.s, com o intuito dos formados nessa área especial, ajudar/apoiar no Concelho os professores com alunos que precisam de um

atendimento especial na sala de aula regular e ao mesmo tempo dar uma assistência a es-ses mesmos alunos, no período contrário na sala de recursos e semanalmente, fazer-se-á deslocações às salas de aulas, no sentido de coadjuvar com os professores na utilização de métodos adequados e na elaboração/produção de materiais pedagógicos e didácticos apropria-dos a cada situação, possibilitando assim uma aprendizagem da forma mais criativa e social possível na construção de novos conhecimentos.

relato 12aplicabilidade do curso aee na cidade da praia, cabo verde — escola de achada são filipeAutora: Ludovina Semedo

A decisão da minha participação no curso foi proposta pela gestão da escola, no momento, não me foi explicado muito bem de que forma-ção se tratava, pois a escola não entrou em pormenores e como toda formação é sempre bem-vinda aceitei a proposta.

Tive conhecimentos de um modo geral so-bre o curso do aee na primeira sessão da aula

lhos do dia a dia, no sentido dos alunos com Necessidades Educativas Especiais, ultrapas-sarem as barreiras que possam enfrentar nas turmas regulares, de modo a sentirem incluídos nas actividades escolares.

Também participei numa formação sobre a surdez, em que saí com alguns conhecimentos sobre a linguagem gestual, as formas conve-nientes dos seus usos, tendo como suporte, documentos impressos e audiovisuais, com linguagem e sinais, o que me ajudou bastante no decorrer do meu trabalho na sala de aula, com os colegas e no curso que estou a fazer.

Normalmente trabalho no concelho (distri-to) de Santa Catarina de Santiago, Cidade de Assomada, numa Escola situada na zona rural do Concelho, denominada de Escola de Mato Baixo e Achada Tossa. Aí desempenho a função do Gestor do Pólo Educativo da referida Escola, com duzentos e cinquenta (250) alunos do 1º ao 6º ano de escolaridade do Ensino Básico Inte-grados, distribuídos por doze (12) professores e de entre esses alunos existem dois (2) alunos com necessidade educativa especial, um no 3º ano e o outro no 5º ano, mas concretamente o problema da audição – surdez, mas, contudo

estão inseridas na turma regular e nessa zona há fracas condições económicas da população, as famílias e a escola onde estudam esses alunos passam por algumas dificuldades na aquisição e confecções dos materiais apropriados de modo a apoiar nas suas tarefas diárias.

Na Escola onde trabalho não possui uma sala de recursos e nem um espaço apropriado para a abertura do espaço e o mínimo de atendimento é feito na sala de aula de turma regular. Não há materiais adequados que facilitem o normal desempenho do trabalho por parte dos dois alunos que apresentem tais deficiências e toda a actividade é realizada em conjunto, sem a adequação ou adaptação de modo a ter uma participação activa dos alunos em questões, mas mesmo assim há grande déficit relacionado com a construção de materiais didácticos e na aplicabilidade de alguns conteúdos trabalhados no decorrer do ano.

Dos módulos estudados durante o curso, o que mais despertou o interesse, entusiasmo e a afinidade é a surdez. Segundo os autores desse módulo a língua de sinais é uma língua plena, natural, não um código artificial de comunicação, e como tal deve ser pensada, reconhecer o status

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prática numa sala de recursos com o objectivo de adquirir experiências práticas, pois é difícil conciliar em simultâneo o aee com a turma regular, pelo menos, sem ainda ter vivenciado essa experiência.

Quanto a continuidade da formação na área, não depende de mim, mas sim das orientações do Ministério ou da Delegação Escolar, entre-tanto, manifesto interesse de dar continuidade no aprofundamento dos seguintes temas em estudo, deficiência física deficiência visual. Pre-tendo utilizar os conhecimentos já adquiridos na escola onde eu trabalho, necessariamente na zona de Achada São Filipe onde ela se encontra inserida, juntamente com a gestão da escola, colegas, pais e encarregados de educação e a comunidade educativa em geral, o seguinte:

· Identificar todas as crianças com necessi-dades educativas especiais (fazer um recen-seamento); · Apresentar um projecto ao Ministério e

outras instituições sensíveis a educação no sentido de conceder um financiamento para a criação de uma sala de recursos;· Elaborar um plano de acção para o atendi-

mento dessas crianças, caso a caso;

· Estabelecer parcerias com instituições públi-cas, associações que existem na comunidade para restaurar fisicamente o espaço escolar para o acolhimento dessas crianças, princi-palmente no que se refere a acessibilidade;· Partilhar a continuação das discussões

com os colegas, propondo uma agenda de discussão nos encontros pedagógicos que acontecem durante o ano lectivo e consequen-temente a produção de materiais didácticos;· Promover reuniões de sensibilização com

a comunidade educativa, visto que algumas crianças são privadas em casa;· Realizar actividades de angariação de fundos

para utilizar compra de alguns materiais para confeccionar materiais didácticos de apoio.

Para mim o curso foi bastante gratificante, hoje tenho um olhar diferente e mais atento para com as crianças com nee. É um grande desafio para mim, tentar implementar a minha contribuição, sei que vou encontrar empeci-lhos que são já próprias das características do país, temos de lutar para que possamos ter uma sociedade inclusiva.

presencial que teve lugar em setembro do ano transacto, aqui na cidade da Praia. Interessei-me bastante pelo curso, visto que é muito es-timulante trabalhar e poder ajudar as crianças com nee. Adquiri conhecimentos e algumas experiências que gostaria de um dia partilhar na sua plenitude para as crianças com nee, com a comunidade educativa e lutar para uma educação inclusiva no meu país.

Estou inserida na cidade da Praia, na escola de Achada São Filipe, trabalho com duas turmas do 6º ano (56 alunos). Tenho um aluno deficien-te visual na sala. Este é o meu primeiro ano de experiência. Como professora do ensino regular tem sido muito dificultoso, pois não disponho recursos materiais adaptados. No turno contrário ele é assistido pela escola adivic (apoio aos deficientes visuais), mas a escola também não possui muitos recursos. Como justificação posso afirmar que há cerca de dois meses que ele não pratica a leitura e a escrita porque a sua pauta encontra-se estragada e a escola de apoio não tem possibilidades de substituí-la. Os materiais foram doados e não existem no mercado. A minha escola não possui sala de recursos e dispõe de parcos recursos materiais acessíveis e adaptados

Eu lecciono Ciências Integradas e Matemá-tica, encontrei poucas dificuldades em Ciên-cias Integradas em relação a Matemática, há objectivos que fiquei de mãos atadas por não ter acesso aos materiais de apoio apropriados. O aluno dispõe somente de cuba ritmo para fazer cálculos, onde se utiliza cubinhos com números e alguns sinais, a professora dita a operação em estudo e ele apresenta os cálcu-los. Trabalhei e tenho trabalhado somente a base de oralidade e tato baseado no módulo - cegos e com baixa visão. De acordo com os autores desse módulo, “o conhecimento po-deria ser tratado oralmente, por meio de tato e da memória tendo em vista, que os cegos eram capazes de reconhecer o valor de uma moeda pelo tamanho”, [...] “ela ouve o que é dito, mas não necessariamente, compreende do que se trata porque o gesto e o olhar devem ser mediados pela fala e pelo contacto físico”. É o professor que favorece e faz a mediação para a aprendizagem desses alunos. (sá, 2011).

Tive uma acção de capacitação de uma sema-na em Braille, onde conheci o alfabeto, mas não tive oportunidade de aprender a ler na pauta. O meu maior prazer é pôr o curso adquirido em

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era uma saída bastante apertada sem possi-bilidades de sair um cadeirante. Estamos com um projecto para assinalar com a linguagem gestual e Braille as salas e os banheiros para que esses lugares sejam facilmente utilizados por essas crianças. Algumas aulas foram feitas para sensibilizar e ensinar os alunos algumas técnicas simples do sinal gestual para facilitar a comunicação e o convívio com as crianças sur-das que se encontram no Pólo ao lado da nossa escola. Quero aqui contar um acontecimento bom que graças a Deus e a esse curso tive o privilégio de participar colocando em prática os conselhos bem como as informações dos mó-dulos, sem esquecer das aulas presenciais, do bate-papo de cada semana com os Professores Formadores e colegas do curso. Durante esse tempo trabalhei com uma turma do terceiro ano e nesta sala tenho um aluno com um problema de aprendizagem devido a um acidente de avia-ção que por bastante choques na cabeça quase manteve vivo no estado de coma por vários dias segundo relato da mãe. Por várias repetições de ano ele começou a apresentar casos de violência perdendo a vontade de estudar e nada o moti-vava, toda família deu por bem em retirá-lo da

escola para algum tratamento que nunca teve sequer concretizado. Quando não fazia nada para perturbar a aula chorava desesperadamen-te. Até então eu também comecei a desanimar. Um dia chamei a mãe e aconselhei-a procurar outra alternativa. Mas, com o estudo do módulo ix encontrei ajudas, com o apoio da sala de recursos junto da minha escola conseguimos alfabetizar esse aluno agora ele passou a ser o primeiro aluno a querer ler, chega pontualmente as aulas mostrando interesse naquilo que faz que até agora não consigo explicar. Nós temos outro caso com uma criança que apresenta o Transtorno Global de Desenvolvimento – tgd, esse menino será meu desafio e espero bom resultado. Já estou trabalhando com a família e mostraram interesse a prosseguir. Nesse primeiro momento há muita dificuldade, mas venceremos juntos. Estou sempre a referir a esse módulo porque em parte meu trabalho foi centralizado nesses dois meninos e senti muita diferença porque também já trabalhei com meninos do tipo, mas sem muito sucesso por isso faço menção a este problema. Tenho alguns projectos que levarei a outros parceiros para que no Novo Ano Lectivo possamos traba-

relato 13experiências na escola da nova assembleia nº xv — cidade da praia, cabo verdeAutor: Manuel Antonio Monteiro

Nesta breve introdução queria frisar que o sucesso desse curso só será visto durante os anos que virão pela frente e que só colheremos bons frutos se desde agora conseguirmos se-mear a boa semente na consciência das crian-ças bem como a todos que estiverem ao redor desse grande empreendimento. É certo que só aprendemos mais quando fazemos e não quando guardamos os conhecimentos. O falar é sempre mais fácil do que o realizar.

Nas linhas que seguirão descreverei o su-cesso e os fracassos que me acompanharam na implementação das actividades no meu trabalho diário. Aquilo que aprendi com o apoio das informações que recebi no curso, vi clara-mente que fez diferença e revolucionou minha consciência. Posso assim dizer que em todas as dificuldades estou melhor capacitado agora do que antes desse curso, sem palavras quero dizer que valeu a pena e que sempre cursos

dessa natureza com professores dedicados que com humildade souberam transmitir es-ses conhecimentos valiosos. Cabo Verde sai sempre a ganhar e nossas crianças receberão a maior prenda do mundo. Os fracassos serão minimizados caso fizermos desse curso nosso auxílio. Estou certo que isso não dá para escon-der mesmo que as circunstâncias venham ser das mais adversas. A vida com seus desavisos não nos tirará a vontade de querer apoiar o nosso semelhante a menos que venhamos a esquecer tudo aquilo que apaixonadamente nos foi transmitido.

Desde que comecei o curso estou na cida-de de Praia trabalhando como Professor do numa escola da Nova Assembleia nº xv com aproximadamente 550 alunos matriculados. Neste Pólo 20 professores leccionam durante o período de manhã e da tarde em oito salas. As salas de Aulas carecem de uma arquitetura que possa ter condições para a inclusão de crianças com nee. É de salientar que agora há bastante preocupação em resolver ou minimizar os problemas do dia a dia de nossas crianças. Por isso a Direcção da Escola mandou mudar e recuperar o portão da entrada porque antes

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Quanto a mim tive um despertar e muito interesse com relação a esse desafio que ou-trora desconhecia. Procurar descobrir o que o aluno mais gosta mostrar carinho e amor no que ambos fazem durante as aulas e na relação Professor/Aluno é na verdade como afirmam o Kupper; Pehim no módulo ix do Curso, cujo título é t.g.d. “todas as crianças aprendem muito mais do que sonha a nossa vã pedagogia”. Eu me identifiquei muito bem mais com esse módulo por ter esse e outro aluno com transtorno que ainda não consegui fazer o mesmo que consegui com o aluno mencionado neste relatório. Pelo menos estou ainda lutando com cuidado para sensibilizar a família afastando alguns tabus que existem entre a família/escola (alves; guareschi, 2011).

Aqui em Cabo Verde ainda é notável os casos permanentes nas famílias cujas crianças são apelidadas de malucos por não conseguirem passar de classe ouvem-se sempre “ele não aprende por tal e tal motivo ou então apegam ao diagnóstico médico”. Vivi casos assim e lutei contra esse agir e pensar sem razão. Mas agora será melhor. Quero também relatar o desespero das famílias desanimadas com o

aprender desses meninos chegando a esconder da sociedade e da escola. Aqui há muito a fazer as instituições estão lotadas dessas crianças é urgente trazê-las para as escolas, mas quanto a isso será preciso lugares e pessoas que conse-guem descobrir e ensinar esses meninos a terem dignidade de viver de igual para igual com as ditas “normais” esse é e será sempre meu lema.

Durante meu curso já consegui informar al-guns pais a fazerem matrícula dessas crianças em escolas regulares e aceitaram o desafio só assim com as crianças a frequentarem a escola teremos ganhos e não perdas como sempre vinha acontecendo. Ligado a uma tutora surda queremos criar uma Associação de Surdos De Cabo Verde (ascv) brevemente para que haja um engajamento mais forte e que possa lutar para promover os direitos concebidos a essa sociedade. Assim eu posso afirmar aquilo que Kupfer afirmou sobre a importância da escola na vida dessas crianças na socialização bem como ela mesma se sente como parte dessa comunidade como ainda também Jerusalinsky em seu estudo afirma dizendo que a escola na verdade não é um deposito como o hospital psiquiátrico, mas sim um lugar que serve de

lhar com os casos da TGD que venha surgir na minha escola e não só, quero que ela seja mais inclusiva possível. Pensamos em fazer palestras e encontros com técnicos ligados a esse assunto para a sensibilização dos Países Encarregados de Educação. Temos projectos que envolverão a comunidade e igrejas para trabalhar com a alfabetização dos alunos com TGD.

Existe uma sala de recursos mesmo ao lado já tivemos apoio dessa Instituição, mas é preciso apostar mais ainda sabendo que tanta falta faz a essas crianças. Ainda deparamos com alguma resistência e tabus concernente ao TGD e de ter o contacto com as salas de recursos. O pessoal que trabalha nesse centro é de um número redu-zido devido tanta demanda que temos no País precisam ter nosso apoio e as salas ampliadas de forma a serem mais inclusivas sem nesse caso querer criticar o existente. Esse é minha opinião e desejo. Quanto aos materiais essa sala possui bons aparelhos para surdocegos e outras coisas que também poderá nos servir futuramente. Nas aulas presenciais fizemos e aprendemos a fazer materiais didáticos que muito me ajudou a leccionar não só aos meninos com TGD, mas as outras crianças e o efeito foi

bom para turma inteira e eu aprendi muito mais do que ensinei. Desde o começo deste curso sempre procurei colocar em prática os conse-lhos discutidos nas secções e no bate-papo com as professoras do curso. Aprendi alguma coisa no meu primeiro curso no Instituto Pedagógico, mas de uma maneira bastante superficial que não ajudava em nada quando encontrava alunos com necessidades educativas especiais.

Agora realmente em comparação com o pri-meiro curso eu não sabia muita coisa para essa tarefa. Mas minha preocupação é maior em acudir e apoiar meus colegas sem esquecer as crianças. Nunca pensei que essas crianças possuíssem capacidades a serem desenvolvidas, gostos a serem estimulados e que podiam aprender muito bem, o que me foi difícil de aceitar é o facto de que o maior problema se encontrava muita vezes em nós Professores. Vim descobrir a realidade de minha ignorância depois de uma verdadeira batalha durante dois anos com o aluno em cima mencionado. Neste ano aprendi como tinham razão as primeiras Professoras que chegaram do Brasil para leccionar as primeiras aulas do curso, elas a meu ver deixaram exemplos e um legado de um valor incalculável que só o tempo desvendará.

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tão bem facilitaria essa gente. Seria a primeira vitória ganha nesse campo.

No Polo de Eugenio Tavares temos uma tur-ma de surdos onde a experiência é bastante animador. Não quero me referir muito a esse modulo, mas até então me parecia de certo modo uma exclusão por somente surdos es-tarem em uma só sala de aula ainda posso confessar que persiste minha dúvida quanto a esse respeito, mas não ignoro a boa forma de trabalhar com esses meninos. Com surdocego ainda esses casos são tratados com as insti-tuições e os hospitais não vi nenhum caso na escola e certamente será vagarosa sua inclu-são nas escolas. É de salientar que preciosas informações tivemos nesse curso, mas de nada vale se em conjunto com as escolas famílias e a comunidade não colocarmos a mão na massa sem esperar muitos recursos. Por isso estou muito esperançoso neste sentido que as coisas mudarão é claro para positiva a fim de prepa-rar outros colegas com esses conhecimentos ganhos. Tudo farei para continuar a transmitir e apoiar minha escola, minha comunidade bem como quem precisar porque agora me encontro melhor para qualquer eventualidade e

não ignorar o esses desafios como eu poderia fazer caso não tivesse esse curso.

Nestas linhas quero escrever sobre as van-tagens do curso na minha vida profissional. E quero aqui realçar a convivência com esses me-ninos bem como a comunidade sei que de forma benéfica essas informações vieram me apoiar durante todos esses meses. Quanto a apresen-tação dos trabalhos pela utilização das tecno-logias apesar de muitas dificuldades e alguma lentidão estou bem melhor agora do que antes desse curso. Esse meio que é o computador veio sem dúvidas revolucionar minha participação, tudo porque as professoras tiveram muita pa-ciência em me apoiar durante as participações mesmo com dificuldades consegui apreender, portanto acho que será de grande valia apos-tar nessa tecnologia para também estimular o gosto nas nossas crianças que precisam de assistência nas dificuldades seria também um desafio futuro que as autoridades bem como os parceiros não governamentais terão. Esse curso veio fortalecer nosso conhecimento trazendo também muita responsabilidade.

Aproveito para agradecer ao governo Brasi-leiro em implementar esse protocolo conjunta-

terapia e é isso que aconteceu com o meu aluno que de querer deixar a escola encontra nela uma terapia de vida e de interesse (alves; guares-chi, 2011). Quanto as Tecnologias Assistivas ainda não descobri esse desejo no meu edu-cando, mas espero que a escola reabilite vários computadores que se encontram com alguma avaria esse e outros projectos serão feitos e apresentaremos aos parceiros da escola para o patrocínio. Sempre preocupei em saber como lidar com essa dificuldade para poder apoiar ou descobrir formas variadas para superar esse e outros obstáculos.

Acho que esse curso chegou mesmo em boa hora muito contribuiu para melhorar meu comportamento com relação ao autismo bem como as outras dificuldades estudadas duran-te esse tempo. Cabo Verde precisa muito esse começo ainda mais com as dificuldades que temos com a dispersão das ilhas e localida-des. Quero falar um pouco sobre a inclusão no meu País e concordo com meus colegas quando dizem que as crianças autistas estão somente nas escolas a ocuparem espaços sem o professor ver mais além um futuro risonho a oferecer a esses meninos.

Temos muita coisa para fazer porque muitos como eu temos a ideia que o autista seu lugar é no deposito de um hospital psiquiátrico. O meu propósito é trabalhar com alunos que ainda apresentam muitas dificuldades, mas já foram dados passos importantes junto da Direcção da Escola da família e dos parceiros, criar projectos simples credíveis para apoiar esses alunos na alfabetização. A minha maior alegria é saber que esses alunos possuem iIhas de saber a serem descobertos e motivados sem cair no erro de atrofiar essas riquezas de pensamen-to mas sim avançar seguro no caminho certo como diz no modulo ix, Schwartzmam em seus comentários “o desejo de ensinar esses alunos devem estar lastreado no desejo do professor (alves; guareschi, 2011). Durante o meu curso fiquei verdadeiramente admirado com o caso do surdocego apesar que muita falta temos com esses grupos gostaria de trabalhar e poder ajudar na realização de uma comunidade surda como afirma a professora Melânia ser necessá-rio que esses vivam em grupos para poderem desenvolver sua comunicação e cultura criando uma comunidade surda, é uma pena ainda não termos a oficialização da língua crioula que

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funções tive sempre interacções com alunos com nee onde já leccionei com deficientes físicos, surdo, autismo e tive oportunidade de conviver e vivenciar o ensino de alunos cegos numa es-cola que trabalhei, embora não tive de trabalhar directamente com eles, tive alguns seminários de formação de como lidar com alunos com nee.

Actualmente trabalho com uma turma de alunos surdos que é uma experiência nova em Cabo Verde seguindo as orientações da realida-de portuguesa e do Brasil pela iniciativa de uma Associação que o apoia. Para mim esta formação é de grande valia para os professores, para as crianças com nee, para os pais e encarregados de educação e para Cabo Verde no geral.

O desenvolvimento desta formação veio for-talecer-me e aumentar os conhecimentos adqui-ridos visto que os orientadores e professores foram experientes dinâmicos, criaram um clima de troca de experiências e de aprendizagem, os módulos estudados foram bem explorados de forma clara e precisa que facilitou na trans-missão de teoria e prática.

O estudo desses módulos veio me esclarecer e enriquecer mais o meio de conhecimento prin-cipalmente os das altas habilidades, superdota-

dos e transtornos globais (síndromes e autismo) que são áreas que fiquei muito esclarecida de como lidar com eles no ensino aprendizagem.

No entanto a profundidade maior foi no módulo de surdez visto que é a área que mais me toca e a minha vontade de apoiar e escolarizar os surdos em Cabo Verde. É nesta perspectiva que disse que esta formação veio em boa hora, porque já estou a pôr em prática os conhecimentos adquiridos nesta formação na minha sala de aula e não só.

Atendendo a necessidade da comunidade e cultura surda de que os surdos devem estar jun-tos para desenvolverem a sua linguagem através da interacção e exposição das suas vivencias de dia a dia fora da sala de aula onde estão a comunicar e aprender brincando no período contrário a aula durante três vezes por semana apoiado pela associação. “Nesses espaços eles procuram se encontrar para compartilhar da língua e experiências mais variadas”.

Relativamente à língua de ensino estou apoia-do na língua gestual portuguesa e ou português sinalizado, visto que, ainda em Cabo Verde não se criou a língua dos surdos. Espero que não demore a oficialização da língua crioula a fim de criar a Língua Gestual Crioula – l.g.c.

mente com o Ministério da Educação de Cabo Verde sem esquecer todos os Professores que fizeram tamanho sacrifício em nos fornecer um aprendizado excelente, uma convivência ines-quecida durante todos os dias mesmo aqueles que só puderam fazê-lo através da internet a esses espero um dia conhecer de perto. Aos colegas do curso um bem haja e que venha-mos marcar a nossa diferença contribuindo para uma sociedade mais inclusiva. E que as criancinhas da nossa terra que tanto merecem nosso carinho, respeito e amor venham usufruir desse curso.

Para mim o participar nos bate-papos e as aulas via internet às vezes era difícil e veio as-sociar com a falta de energia que sei que todos irão de uma forma ou de outra mencionar porque realmente ficaram prejudicados. Os documentos tiveram atrasos devido a esses motivos. Peço a compreensão por parte dos Professores ligados a correcção desse trabalho. A minha dificuldade no domínio da tecnologia veio também agravar ainda mais a minha contribuição. Mas espero que a minha participação no futuro venha estar melhor para que eu possa pôr em prática os conhecimentos que adquiri durante o curso.

Queria terminar com essa frase bonita que a nós foi enviada no arquivo intitulado Professor Apaixonado: “ter fé impede que o medo esma-gue o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança”.

relato 14curso de aee na cidade de praia,cabo verdeAutora: Maria Madalena Borges

No âmbito da conclusão dessa fase do curso de Formação a Distância em Atendimento Educa-cional Especializado promovido pela Direcção Geral do Ensino Básico e Secundária de Minis-tério da Educação e Desporto em parceria com a Universidade Federal de Santa Maria-Brasil em cooperação técnica entre o governo de Brasil e Cabo Verde, foi-se incumbindo aos formandos a elaborar o trabalho que relata a importância da formação e dos módulos mais relevantes para formando e para Cabo Verde.

Enquanto professora do Ensino Básico Inte-grado é de realçar que este curso é de muita relevância para Cabo Verde e veio em boa Hora. Sendo professora no desempenho das minhas

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faz referência sobre deficiência mental e re-flexões sobre aprendizagem.

Tendo a inclusão como um princípio que orien-ta nossa compreensão acerca das pessoas com deficiência, entendemos que para efectivação do processo de aprendizagem desses alunos, faz-se preciso uma reavaliação de nossa pos-tura enquanto professores. Neste sentido, uma condição essencial para a facilitação do desen-volvimento de processos mentais superiores é criar situações em que o professor possa avaliar os alunos considerando seus atributos sociais, económicos e culturais.

De acordo com os estudos realizados nesse módulo, é conveniente sugerir que o trabalho pedagógico dos professores que vão atuar com alunos que possuem diagnóstico de de-ficiência mental possa transcender o caráter eminentemente clínico, pois, essa concepção acaba sempre recaindo no aluno como o único responsável por sua não aprendizagem.

A Unidade B do módulo V salienta uma ques-tão muito importante sobre o desenvolvimento do pensamento e dos processos mentais dos alunos com deficiência mental. Entendemos que a prática pedagógica planejada para os

alunos com deficiência mental deve objectivar o favorecimento do desenvolvimento dos pro-cessos mentais desses alunos. Tal aspecto traz implícito em si a necessidade de conhecermos como esses processos se realizam, pois a defi-ciência mental caracteriza-se por defasagens e alterações nas estruturas mentais.

Contemporâneo de Piaget, Vygotsky inicia a reflectir sobre esses processos e a elaborar sua teoria a partir de um sentimento de inquieta-ção e não concordância com os pressupostos defendidos pelo comportamentalismo, aborda-gem que em sua época imperava na actuação psicológica e educacional.

Interacionista como Jean Piaget, acreditava que as ideias de que o controle do ambiente pode predizer comportamentos e que a matu-ração das estruturas orgânicas que constituem os sujeitos, por si só, não poderiam explicar os processos que constituem o pensamento humano. Defendia a existência de uma inter-dependência entre aspectos orgânicos e am-bientais, e não a supremacia de um factor sobre o outro. Acreditava nas influências exercidas pelo meio no desenvolvimento dos sujeitos. Tomando como referência o ambiente cultural

relato 15aplicabilidade do curso aee na cidade de pedra badejo, cabo verde: a intervençâo educacional especializada é fundamentalAutora: Virgínia Baessa Cabral Gonçalves

Alguns dos objetivos do Curso foram: ad-quirir competências para dar atendimento especializado aos alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e ou altas habilidades/superdotação. Realizar apoio pedagógico ao aluno com deficiências, transtornos globais de desenvolvimento e ou altas habilidades/superdotação em salas de recursos. Interagir com o contexto de sala de aula, a fim de conhecer e favorecer as relações do aluno com deficiência transtornos globais de desenvolvimento e ou altas habilidades/superdotação com os diferentes conhecimen-tos professores e colegas. Mediar a sensibili-zação dos actores envolvidos no processo de inclusão, proporcionando reflexões, suporte teórico-prático e vislumbrar alternativas de in-tervenções pedagógicas frente aos alunos com deficiência transtornos globais de desenvol-

vimento e ou altas habilidades/superdotação.Já costumo participar na formação em nee

várias vezes e em temas diferentes. Participei na formação sobre deficiência visual, autismo, hiperactividade, escrita Braille, sistema de avaliação para alunos com nee e recentemente sobre nee intervenção na surdez.

Da formação recebida aprendi muito com o formador, aprendi a comunicar as bases com os surdos, através da língua gestual portuguesa. A cidade onde realizei o curso é pequena. A escola fica situada a seis quilómetros da cidade, não tem condições arquitectónicas para atender crianças com deficiência física. Na sala existe um número elevado de alunos, uma média de 30 a 35 por sala. O horário de funcionamento é nos dois períodos de manhã e tarde.

No meu Concelho não dispomos de uma sala de recursos. O atendimento é feito no gabinete da gestora em período contrário da aula regular do aluno. Os materiais dispostos no gabinete são: um computador, blocos lógicos, barra cuisinaire, mapas, ábaco, arco, ringue.

O Módulo que mais me despertou atenção foi o módulo v que faz referência à deficiência mental. Na unidade A do módulo ii do Curso,

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da turma regular que o aluno com deficiência frequenta; Promover produção de materiais didácticos envolvendo professores e alunos; visitas às instituições; visitas domiciliares; estar em sintonia com os professores da turma regular.

Gostaria que esse curso fosse destinado a mais professores, tendo em conta que existe um déficit muito grande de professores com formação em aee e o número de crianças que deveriam ser atendidas ultrapassa a capacidade técnica existente. Para além desse curso, pode-ria ser planificada um curso de pós-graduação ou doutoramento para professores habilitados com graduação ou superior.

no qual o indivíduo nasce e se desenvolve. O desenvolvimento das crianças que possuem deficiência mental dá-se em essência da mesma forma que o desenvolvimento de crianças que não possuem essa especificidade. Vygotsky aponta que a intervenção pedagógica para os alunos que possuem necessidades especiais, ao contrário do que se propôs durante muitas décadas em educação especial, deve primar pela acção nas funções psicológicas superio-res. Fixados na ideia de incapacidade desses sujeitos em alcançar um pensamento formal vimo-nos por muito tempo cometendo o erro de limitar a atuação desses alunos.

Vygotsky acreditou na capacidade de apren-dizagem de todos os sujeitos, discordando de forma impetuosa das concepções teóricas que defendiam a estagnação e a cristalização da capacidade intelectual dos alunos com defici-ência mental. Para ele todo o ser humano tem capacidade para aprender.

Lembramos que as actuais políticas de educa-ção inclusiva encontram na teoria vygotskyana os principais argumentos para sua defesa, pois acreditam que possibilitar que alunos com dife-rentes ritmos de desenvolvimento interajam em

espaços não segregados é proporcionar a reali-zação de um ensino que se adianta a aprendiza-gem; oferece aos alunos desafios constantes; e trabalha na zona de desenvolvimento potencial dos mesmos, transformando aprendizagens potenciais em conhecimentos reais.

A importância da inclusão e o respeito pela diferença para uma melhor inclusão de alunos com deficiência mental os professores devem estar munidos de competências específicas, para além do que aprendeu no curso. O profes-sor de aee e de turma regular devem discutir e reflectir em comum determinadas atitudes para evitar criar preconceitos na escola. Cabe ao professor de aee servir de mediador, um articulador de processo de inclusão de alunos com deficiência mental.

Gostei muito do curso, aprendi o suficiente para dar o meu contributo pela causa da edu-cação inclusiva. Para dar continuidade ao curso pretendo fazer um cronograma de aplicação dos módulos através da realização de seminários de formação aos professores; acompanhamento a todas as escolas; pedir financiamento para equipamento de uma sala de recurso para aten-dimento especializado no período contrário

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Graduação em Letras, Mestrado e Doutora-do em Informática na Educação. Professora da Universidade Federal de Santa Maria. Coordenadora adjunta do Curso de Educação Especial e Coordenadora do Curso de Formação de Professores para o Atendimento Educacional Especializado, para turmas no Brasil e em Cabo Verde, em convênio com o e Agência Brasileira de Cooperação.

-do em Educação. Atualmente exerce a função de Orientadora Educacional

-sora do Centro Universitário Franciscano Santa Maria, . Professora do Curso de Atendimento Educacional Especializado em Cabo Verde.

Educadora Especial. Formada pela Universida-de Federal de Santa Maria. Professora da Sala de Recursos na de Júlio de Castilhos, , Brasil. Tutora do Curso de Atendimento Educacio-nal Especializado em Cabo Verde.

Educadora Especial. Especialista em Educação Especial. Mestranda em Educação pela Universidade de Santa Cruz do Sul, e Educadora da Rede Municipal de Educação da cidade de Júlio de Castilhos, , Brasil. Tutora do Curso de Atendimento Educacional Especializado em Cabo Verde.

-nal pela Unifra. Especialista em Orientação Educacional pela Universi-dade G ama Filho. E ducadora p ela rede E stadual de E ducação do R io Grande d o Sul d e Santa M aria, Tutora d o Curso de A tendimento Educacional Especializado de Mindelo, Cabo Verde.

Educadora Especial. Especia-lista em I nformática n a Educação e e m Atendimento Educacional Especializado, M estre em E ducação. P rofessora da Universidade da

. Professora d a Sala de R ecursos da rede e stadual do R io G rande d o Sul, Professora d e Sala de R ecursos Multifuncional da rede municipal de Santa Maria, , Brasil. Professora do Curso de Atendimento Educacional Especializado em Cabo Verde.

Educadora Especial. Formada pela Universidade Federal de Santa Maria. Mestrado e Doutorado em Educa-ção. P rofessora do D epartamento de F undamentos d a Educação d a Universidade Federal de S anta M aria . Professora d o Curso de Atendimento Educacional Especializado em Cabo Verde.

Atendimento Educacional Especializado : uma experiência em Cabo Verde, África. 1.ed. Santa Maria: Laboratório de pesquisa e documentação . Universidade Federal de Santa Maria, 2012.