formaÇÃo de equipes colaborativas: um caminho … · três horas e os grupos com aulas aos...

12
VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 2474-2485 2474 FORMAÇÃO DE EQUIPES COLABORATIVAS: UM CAMINHO PARA A INCLUSÃO ESCOLAR RESPONSÁVEL MARCIA MAURILIO SOUZA 1 SANDRA REGINA STANZIANI HIGINO MESQUITA 2 SHIRLEY RODRIGUES MAIA 3 VULA MARIA IKONOMIDIS 4 Ahimsa-Associação Educacional para a Múltipla Deficiência Resumo: Neste trabalho apresentaremos como foi desenvolvido o Acordo de Cooperação entre a Ahimsa Associação Educacional para a Múltipla Deficiência e a Secretaria de Educação da Cidade de São Paulo e os resultados observados. Nesse acordo foi proposto o Curso de Formação de Equipes Colaborativas para a inclusão de crianças e jovens com surdocegueira e deficiência múltipla. Foram envolvidos cerca de 220 educadores da rede municipal de ensino (professores, coordenadores pedagógicos, diretores de escolas, professoras de salas de recursos e estagiários). Os educadores pertenciam a oito Centros de Formação e Acompanhamento à Inclusão (CEFAI) e foram divididos em dez grupos de acordo com o CEFAI a que pertenciam, sendo que os estagiários formaram dois grupos com aulas aos sábados e os outros educadores formaram oito grupos com aulas duas noites por semana. Os cursos aconteceram no período de agosto de 2009 a outubro de 2010, sendo que cada curso teve carga horária de sessenta horas com conteúdo programático sobre surdocegueira e deficiência múltipla, avaliação de alunos com surdocegueira e com deficiência múltipla, estratégias de ensino e apoios que facilitam a inclusão dessa população. Esse curso de formação foi idealizado a partir de projeto apoiado pela Perkins Internacional / Lavelle em que foi elaborado o documento “A inclusão de crianças e jovens com surdocegueira e com deficiência múltipla: uma visão responsável”. Nesse documento são apresentados todos os apoios necessários para que os alunos com deficiência múltipla e com surdocegueira sejam incluídos em escolas regulares. Os resultados que apresentaremos foram observados nas fichas de avaliação do curso que todas as turmas preenchem; nos trabalhos apresentados para complementação de carga horária; nas visitas às escolas em que os educadores trabalham para observação dos alunos atendidos. Previamente podemos afirmar que uma nova visão de inclusão está se instalando nas escolas em que esses educadores trabalham, criando-se uma verdadeira “Cultura de Inclusão”. Palavras Chave: Surdocegueira; Deficiência Múltipla; Inclusão. Introdução 1 Mestre em Educação e Psicologia pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected] 2 Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. E-mail: Sandra- [email protected] 3 Doutora em Educação e Psicologia pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected] 4 Mestre em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos. E-mail: [email protected]

Upload: trinhcong

Post on 11-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 2474-2485

2474

FORMAÇÃO DE EQUIPES COLABORATIVAS:

UM CAMINHO PARA A INCLUSÃO ESCOLAR RESPONSÁVEL

MARCIA MAURILIO SOUZA1

SANDRA REGINA STANZIANI HIGINO MESQUITA 2

SHIRLEY RODRIGUES MAIA3

VULA MARIA IKONOMIDIS4

Ahimsa-Associação Educacional para a Múltipla Deficiência

Resumo:

Neste trabalho apresentaremos como foi desenvolvido o Acordo de Cooperação entre a

Ahimsa Associação Educacional para a Múltipla Deficiência e a Secretaria de Educação da

Cidade de São Paulo e os resultados observados. Nesse acordo foi proposto o Curso de

Formação de Equipes Colaborativas para a inclusão de crianças e jovens com surdocegueira e

deficiência múltipla. Foram envolvidos cerca de 220 educadores da rede municipal de ensino

(professores, coordenadores pedagógicos, diretores de escolas, professoras de salas de

recursos e estagiários). Os educadores pertenciam a oito Centros de Formação e

Acompanhamento à Inclusão (CEFAI) e foram divididos em dez grupos de acordo com o

CEFAI a que pertenciam, sendo que os estagiários formaram dois grupos com aulas aos

sábados e os outros educadores formaram oito grupos com aulas duas noites por semana. Os

cursos aconteceram no período de agosto de 2009 a outubro de 2010, sendo que cada curso

teve carga horária de sessenta horas com conteúdo programático sobre surdocegueira e

deficiência múltipla, avaliação de alunos com surdocegueira e com deficiência múltipla,

estratégias de ensino e apoios que facilitam a inclusão dessa população. Esse curso de

formação foi idealizado a partir de projeto apoiado pela Perkins Internacional / Lavelle em

que foi elaborado o documento “A inclusão de crianças e jovens com surdocegueira e com

deficiência múltipla: uma visão responsável”. Nesse documento são apresentados todos os

apoios necessários para que os alunos com deficiência múltipla e com surdocegueira sejam

incluídos em escolas regulares. Os resultados que apresentaremos foram observados nas

fichas de avaliação do curso que todas as turmas preenchem; nos trabalhos apresentados para

complementação de carga horária; nas visitas às escolas em que os educadores trabalham para

observação dos alunos atendidos. Previamente podemos afirmar que uma nova visão de

inclusão está se instalando nas escolas em que esses educadores trabalham, criando-se uma

verdadeira “Cultura de Inclusão”.

Palavras Chave: Surdocegueira; Deficiência Múltipla; Inclusão.

Introdução

1 Mestre em Educação e Psicologia pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. E-mail:

[email protected] 2 Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. E-mail: Sandra-

[email protected] 3 Doutora em Educação e Psicologia pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. E-mail:

[email protected] 4 Mestre em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos. E-mail: [email protected]

VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 2474-2485

2475

Neste trabalho apresentaremos como foi desenvolvido o Acordo de Cooperação entre a

Ahimsa Associação Educacional para a Múltipla Deficiência e a Secretaria de Educação da

Cidade de São Paulo e os resultados observados.

A Ahimsa fundada em 04 de março de 1991, portanto com quase 20 anos de trabalho na área

de educação especial, mais precisamente na educação de pessoas com surdocegueira e com

deficiência múltipla sensorial, tem convenio firmado com a Secretaria de Educação da Cidade

de São Paulo para atendimento educacional a clientela acima citada, esse convenio foi

firmado há 17 anos. Entre os serviços que a Ahimsa oferece em contrapartida aos recursos

recebidos está a formação de profissionais da rede municipal de ensino.

A Ahimsa também desenvolve projetos com a Perkins Internacional, entre eles o Projeto

Perkins / Lavelle que apoia algumas ações, entre elas a inclusão de pessoas com

surdocegueira e deficiência múltipla sensorial, nessa ação estão reunidas as instituições que

participam desse projeto Ahimsa, Adefav Centro de Recursos para Inclusão na Família,

Escola e Sociedade para Pessoas com Surdocegueira, Deficiência Múltipla e Deficiência

Visual, Abrapascem Associação Brasileira de Pais e Amigos dos Surdocegos e Múltiplos

Deficientes Sensoriais e Centro Eva Lindsted da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Nessa ação a equipe das instituições citadas elaboraram “A inclusão de crianças e jovens com

surdocegueira e com deficiência múltipla: Reflexões do Grupo de Trabalho do Projeto

Perkins/Lavelle” (2009).

A Ahimsa, como ação proveniente desse documento propôs à Secretaria Municipal de

Educação da Cidade de São Paulo a formação de equipes colaborativas para a inclusão

responsável, o que se firmou por meio de um Acordo de Cooperação.

O acordo de cooperação

O curso apresentado para a Secretaria Municipal de Educação da Cidade de São Paulo tem o

nome de “Acordo de Cooperação – Formação de Equipes Colaborativas e Estagiários

Mediadores”. Foi proposto que atingiríamos oito (8) dos treze (13) Centros de Formação e

Apoio à Inclusão (CEFAI) que seriam: Campo Limpo, Capela do Socorro, Ipiranga, Jaçanã,

Penha, Pirituba, Santo Amaro e São Miguel.

A proposta do acordo também incluía a participação de cinco (5) unidades escolares (UE) de

cada CEFAI que tivessem alunos com deficiência, de cada uma das UEs poderiam participar

cinco (5) profissionais (professores de sala de aula, coordenadores pedagógicos, diretores,

professores de Salas de Apoio e Acompanhamento à Inclusão (SAAI)), também poderiam

participar os estagiários que são contratados pelos CEFAIs para o apoio à inclusão.

Os participantes foram divididos em dez (10) grupos, sendo oito (8) grupos com os

professores de sala de aula, coordenadores pedagógicos, diretores, professores de Salas de

Apoio e Acompanhamento à Inclusão (SAAI) e dois (2) grupos de estagiários. Os cursos

tiveram inicio em agosto de 2009 e se alongaram até final de outubro de 2010.

Os objetivos gerais do Acordo de Cooperação (AHIMSA, 2009, p. 1) são: 1. Promover curso de formação continuada para estagiários, gestores

(coordenadores e diretores) e professores visando a inclusão de pessoas

com surdocegueira e com deficiência múltipla sensorial e pessoas com

deficiência que apresentam distúrbios de comunicação;

2. Promover aos estagiários a vivência de mediadores para as pessoas

com surdocegueira e deficiência múltipla sensorial, favorecendo o

processo de inclusão e apoio aos professores da sala de ensino regular;

VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 2474-2485

2476

3. Incluir com qualidade pessoas com deficiência múltipla sensorial e

pessoas com surdocegueira.

O Curso

O curso foi programado para ter duração de sessenta (60) horas, com quarenta (40) horas

presenciais e vinte (20) horas de atividades complementares (trabalhos e atividades on-line),

sendo que os grupos que tiveram aula durante a semana participaram de doze encontros de

três horas e os grupos com aulas aos sábados participaram de nove encontros de quatro horas.

Todos os participantes participaram de uma oficina de confecção de mobília adaptada e

recursos com materiais de baixo custo em um sábado (quatro horas).

O conteúdo programático do curso foi:

a) Equipe colaborativa: Cultura da Inclusão e Papel da Equipe Colaborativa.

b) Aspectos Gerais das Deficiências: Deficiência Visual (baixa visão, cegueira e

deficiência visual de origem cortical), Deficiência Auditiva/Surdez; Surdocegueira,

Deficiência Intelectual, Deficiência Física e Deficiência Múltipla.

c) Abordagens Teóricas e Aspectos Gerais do Desenvolvimento e Aprendizagem:

Integração Sensorial; Comunicação (definições, conceitos e desenvolvimento de

comunicação e linguagem e comunicação alternativa); Orientação e Mobilidade;

Estilos de Aprendizagem; Currículo Funcional e Currículo Flexível;

d) Avaliação: Avaliação e Elaboração de Mapas.

e) Recursos Acessíveis e Tecnologia Assistiva: Passaporte da Comunicação, Caderno de

Comunicação, Livro de Experiência Real e Tecnologia Assistiva.

f) Oficina de Confecção de Mobilia Adaptada e Recursos com Materiais de Baixo Custo

(papelão e sucata)

g) Elaboração de Estudo de Caso e Plano Didático.

As apresentações das aulas (em PowerPoint) foram impressas e distribuídas aos participantes,

também foram distribuídos aos participantes um CD-Ron com bibliografia sobre o conteúdo

programático e livros editados pelo Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo

Deficiente Sensorial.

Os Participantes

Tendo o curso “Acordo de Cooperação – Formação de Equipes Colaborativas e Estagiários

Mediadores” como principal objetivo o de formar equipes colaborativas nas UEs, propomos

aos oito (8) CEFAIs escolhidos para o projeto, que convidassem profissionais de cinco (5) das

UEs de sua região que tivessem alunos com deficiência, sendo esses: professores de sala de

aula, coordenadores pedagógicos, diretores, professores de Salas de Apoio e

Acompanhamento à Inclusão (SAAI) e estagiários que são contratados pelos CEFAIs para o

apoio à inclusão.

Os grupos foram organizados da seguinte forma:

Oito (8) grupos com professores de sala de aula, coordenadores pedagógicos,

diretores, professores de SAAIs, com duas aulas noturnas durante a semana.

Os estagiários foram divididos em dois grupos com as aulas aos sábados para facilitar

a participação das alunas, pois seus horários durante a semana, com as aulas na

VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 2474-2485

2477

universidade e os estágios nas escolas são sobrecarregados, sendo o sábado mais

tranquilo.

A Equipe Técnica

Os profissionais da Ahimsa foram os responsáveis pela organização e desenvolvimento do

curso, sendo eles: Shirley Rodrigues Maia (Coordenadora), Marcia Maurilio Souza, Vula

Maria Ikonomidis, Lilia Giacomini, Roberta Correa Fernandes, Dalvanise Duarte, Sandra

Regina S. Higino Mesquita, Miguel Ólio. A principal característica dessa equipe técnica é a

sua formação e atuação na área de surdocegueira e deficiência múltipla sensorial.

O desenrolar do acordo

Após a apresentação do projeto a Secretaria Municipal de Educação da Cidade de São Paulo e

este ser firmado como Acordo de Cooperação e publicado no Diário Oficial da Cidade de São

Paulo em agosto de 2009, fizemos contato com os CEFAIs escolhidos, informando sobre o

curso, quem poderia participar, solicitando também que fosse providenciado um local para o

desenvolvimento dos cursos.

Em agosto de 2009 os cursos foram iniciados, sendo que os grupos dos CEFAIs Ipiranga e

Santo Amaro foram os primeiros; em seguida foram os CEFAIs de Capela do Socorro e

Pirituba, que tiveram aulas as segundas e terças a noite no segundo semestre. No primeiro

semestre de 2010 foram os CEFAIs de Jaçanã e Penha, também com aulas as segundas e

terças a noite.

Os dois últimos CEFAIs, de São Miguel e Campo Limpo, tiveram problemas para se

organizarem no primeiro semestre e solicitaram que os cursos acontecessem no segundo

semestre. O grupo do CEFAI de São Miguel teve aulas duas tardes por semana (segundas e

terças); e os encontros do grupo do CEFAI de Campo Limpo aconteceram uma manhã por

semana (quinta-feira).

Os dois grupos de estagiárias tiveram aulas aos sábados sendo que um grupo teve aula no

segundo semestre de 2009 e o outro no primeiro semestre de 2010.

No total inscreveram-se nos dez cursos 242 profissionais e terminaram o curso 202, ou seja,

83% dos inscritos terminaram os cursos, demonstrando o interesse que os profissionais das

escolas regulares têm pelo assunto. (ver Tabela 1 - Demonstrativo dos participantes inscritos /

participantes que terminaram o curso)

Tabela 1 – Demonstrativo dos participantes inscritos/ participantes que terminaram o curso.

CEFAI PARTICIPANTES INSCRITOS

PARTICIPANTES QUE TERMINARAM O CURSO

Campo Limpo 28 28

Capela do Socorro 26 23

Estagiárias - Grupo I 21 18

Estagiárias - Grupo II 33 25

Ipiranga 14 12

Jaçanã 23 18

Penha 19 14

VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 2474-2485

2478

Pirituba 22 17

Santo Amaro 13 12

São Miguel 43 35

Total 242 202

Perfil dos participantes dos cursos

No primeiro dia dos cursos, os alunos preenchem uma ficha de inscrição que além de dados

pessoais solicita algumas informações básicas, a respeito dos conhecimentos sobre

surdocegueira e deficiência múltipla sensorial, se tem bibliografia a respeito, se conhece

pessoas com surdocegueira e com deficiência múltipla; isso nos dá um panorama do público

com o qual vamos trabalhar durante o curso. Os dados computados que apresentaremos a

seguir trazem esse panorama sobre o público que participou dos cursos.

Entre os dados pessoais informados traremos neste trabalho somente o levantamento dos

cargos ou funções que os participantes desempenham em suas UEs, sendo que computamos

esses dados registrando todas as funções informadas, mesmo que o participante tenha

informado mais de um cargo ou função, por exemplo: Maria da Silva, cargo/função:

Professora do Ensino Fundamental e Educação Infantil; as duas funções foram computadas.

No Gráfico 1 – Demonstrativo dos cargos / funções dos inscritos nos cursos podemos

observar que tivemos oito grandes grupos de profissionais inscritos no curso, que foram de

professores do ensino fundamental I (19%), estagiárias (15%), professores do ensino

fundamental II (15%), professores de educação infantil (13%), coordenadores pedagógicos

(10%), professores de sala de acompanhamento e apoio à inclusão (SAAI) (7%), professores

de apoio e acompanhamento à inclusão (PAAI) (7%), demonstrando que um dos objetivos do

Projeto de Acordo de Cooperação foi atingido que era de formar equipes colaborativas com a

participação de professores, estagiárias, coordenadores pedagógicos e outros profissionais da

rede municipal de ensino que apóiam a inclusão de alunos com deficiência.

Gráfico 1 – Demonstrativo dos cargos / funções dos inscritos nos cursos.

VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 2474-2485

2479

19%

15%

15%

13%

10%

7%

7%

4%

2%2%

2% 1%

1%

1% 1% 1%

PROFISSIONAIS QUE PARTICIPARAM DOS CURSOS

Prof. Ens. Fundamental I

Estagiária

Prof. Ens. Fundamental II

Prof. Ed. Infantil

Coordenador Pedagógico

Prof. de SAAI

Prof. Apoio e Acomp.Incl. PAAI

Prof. Ens. Médio

Professor de Educação Especial

Diretor de Escola

Assistente de Direção, Estagiária do CEFAI, Agente Escolar

professora

Auxiliar Técnico de Educação (ATE)

Auxiliar Técnico de Educação Infantil (ATEI)

Professor Orientador de Informática Educativa (POIE)

Educadora de EJA (1), Prof. De Apoio Pedagógico (1) e Fisioterapeuta (1)

Para completarmos o perfil traremos a tabulação de cinco questões relacionadas aos

conhecimentos pré-existentes sobre o assunto e contato com pessoas nas condições de

surdocegueira e deficiência múltipla sensorial.

a) Tem algum conhecimento sobre surdocegueira e deficiência múltipla sensorial?

O resultado obtido nessa questão demonstrou que a grande maioria, 87% dos

participantes tinham nenhum ou pouco conhecimento sobre o assunto, como podemos

confirmar a seguir:

- 14% dos participantes tinha conhecimento,

- 64% não tinha nenhum conhecimento e

- 23% tinha pouco conhecimento sobre o assunto.

b) Possui bibliografia sobre surdocegueira e deficiência múltipla sensorial?

Em relação a possuir bibliografia:

- 6% dos inscritos responderam que tinham,

- 84% responderam que não tinham e

- 10% responderam que tinham pouca bibliografia a respeito do assunto.

Esse resultado confirma os resultados da questão anterior, pois sendo que a grande

maioria (94%) não possuía ou possuía pouca bibliografia a respeito do assunto, logo a

grande maioria não tinha realmente grandes conhecimentos sobre o assunto.

c) Gostaria de atuar com pessoas com surdocegueira e com deficiência múltipla

sensorial?

Essa questão procura levantar o interesse dos participantes dos cursos em intervir

junto a população de pessoas com surdocegueira e com deficiência múltipla sensorial.

Os resultados obtidos nessa questão foram:

- 79% responderam que sim,

- 9% responderam que não,

- 4% responderam que talvez e

VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 2474-2485

2480

- 8% deram respostas diversificadas que não puderam ser identificadas como

positivas ou negativas.

d) Conhece algum caso de surdocegueira?

Nessa questão levantamos se os participantes conheciam ou até mesmo já atuavam

com pessoas com surdocegueira. O resultado nos demonstra que muitos dos

participantes, ou seja, a maioria não conhecia nenhum caso de surdocegueira.

- 24% responderam que sim

- 76% responderam que não.

e) Conhece algum caso de deficiência múltipla sensorial?

Nessa última questão procuramos levantar quantos dos participantes conheciam casos

de pessoas com deficiência múltipla sensorial. Os resultados indicaram que apesar da

maioria não conhecer casos de deficiência múltipla sensorial, ainda assim, é um

número maior do que aqueles que não conheciam casos de surdocegueira,

comparativamente, como podem confirmar a seguir:

- 41% responderam que sim,

- 59% responderam que não.

Diante dos resultados das questões acima podemos afirmar que tínhamos um público que em

sua maioria não tinha conhecimentos sobre surdocegueira e deficiência múltipla sensorial e

tampouco conheciam casos de pessoas nessa situação, ou como já podemos constatar em

outros levantamentos com participantes de cursos anteriores, não sabem identificar essa

população.

Resultados e discussões

Ao final dos cursos solicitamos aos participantes o preenchimento de uma avaliação que traz

algumas questões relacionadas aos conteúdos do curso e qual a relevância para o trabalho

diário do participante.

No caso deste Projeto do Acordo de Cooperação utilizamos dois modelos de avaliação, sendo

que sete (7) grupos responderam a um modelo e três (3) grupos responderam a um segundo

modelo, nesse caso fizemos o levantamento dos dados em duas fases, pois os modelos têm

diferenças que não permitiram que computássemos os dados conjuntamente. A mudança de

modelo de avaliação do curso se deu por exigência de uma das instituições financiadoras do

projeto.

Apresentaremos os resultados denominando-os como Resultados do Modelo I e Resultados do

Modelo II.

Em relação aos conteúdos apresentados nos cursos

Resultados do Modelo I

O primeiro dado levantado e que apresentaremos por ser relevante para este trabalho é o

relativo a questão em que os participantes são solicitados a relacionarem “os conteúdos do

curso que foram mais interessantes para ele e que serão mais úteis para o seu trabalho diário”,

lembrando que os participantes podiam citar mais que um conteúdo e todos eles foram

computados.

VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 2474-2485

2481

No Gráfico 2 – Conteúdos considerados mais significativos, podemos observar os resultados

desse levantamento e devemos salientar os cinco conteúdos mais citados pelos participantes:

comunicação – formas e sistemas (20%), definição das deficiências/causas/síndromes (18%),

integração sensorial (12%), Maps (10%) e adaptações de materiais e ambientes/estratégias

para trabalhar com a pessoa surdocega (10%).

Grafico 2 – Conteúdos considerados mais significativos

20%

18%

12%10%

10%

6%

5%

4%

3%

3%

2%2% 2%

1%1%

1%

1% 1%

CONTEÚDOS CONSIDERADOS MAIS SIGNIFICATIVOS

Comunicação - formas e sistemas

Definição das deficiencias/causas/síndromes

Integração sensorial

Maps

Adaptações de materiais e ambientes/estratégias para trabalhar com a pessoa surdocega

Calendário

O & M

Oficina de confecção de mobília adaptada em papelão

Videos c/estratégias de trabalho

Rotina

Tecnologia Assistiva

O olhar do profissional

Dinâmicas

A aprendizagem da pessoa com surdocegueira

Cultura inclusiva

Avaliação ecologica

Estilos de aprendizagem

Curriculo funcional

Resultados do Modelo II

No modelo II a pergunta relativa aos conteúdos solicita que o participante “indique sua

avaliação sobre a utilidade dos temas em seu trabalho cotidiano”, ela está dividida em nove

partes, sendo que cada uma dessas partes cita um dos temas apresentados e apresenta uma

escala de 1 a 10, sendo que mais próximo de 1 está o pouco provável e mais próximo de 10

está o muito provável. Ex:

a) Aspectos gerais das deficiências SC, DF, DMu, DV, DI e DA.

Pouco Provável Muito Provável

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Para levantarmos os resultados dessas questões, convencionamos que as respostas de 1 a 5

correspondem a pouco provável e as respostas de 6 a 10 correspondem a muito provável. Os

resultados dessas questões foram:

Tabela 2 – Levantamento da utilidade do conteúdo para os participantes em seu trabalho

diário. POUCO PROVÁVEL MUITO

VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 2474-2485

2482

TEMAS PROVÁVEL

a) aspectos gerais das deficiências SC, DF, DMu, DV, DI e DA. 8% 92%

b) orientação e mobilidade 8% 82%

c) deficiência visual de origem cortical 32% 68%

d) comunicação 6% 94%

e) avaliação 6% 94%

f) integração sensorial 10% 90%

g) estilos de aprendizagem 8% 92%

h) currículo 8% 92%

i) recursos acessíveis 8% 92%

Podemos observar que a maioria dos temas excedeu os 90% de utilização no trabalho diário

dos participantes, o tema que eles responderam como menos útil foi “deficiência visual de

origem cortical”, avaliamos que esse resultado foi o mais baixo porque o tema é mais difícil

de ser entendido, assim como a sua perspectiva de aplicação, por profissionais que não são da

área de saúde ou que não tem especialização na área de deficiência visual.

Em relação à aplicação dos conhecimentos

Resultados do Modelo I

No Modelo I perguntamos como os participantes iriam aplicar os conhecimentos adquiridos a

curto, médio e longo prazo, para termos uma idéia de como esses conhecimentos irão ser

incorporados ao planejamento de ações e intervenção junto aos alunos, famílias, outros

profissionais e comunidade escolar.

As perguntas eram abertas, ou seja, os participantes responderam dissertativamente, para

levantarmos os resultados, organizamos as respostas pela intencionalidade em itens, esses

itens resumem as intencionalidades que mais foram citadas.

Gráfico 3 – Como os participantes aplicarão os conhecimentos adquiridos a curto prazo.

VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 2474-2485

2483

Podemos observar que a grande maioria pretende aplicar os conhecimentos e estratégias no

atendimento com os alunos com necessidades educacionais especiais (47%); e em seguida

outros 21% pretendem divulgar e discutir os conhecimentos nas reuniões com os outros

professores da unidade escolar (UE), demonstrando que os conhecimentos disseminados nos

cursos foram de fundamental importância para a maioria dos participantes e na visão deles

para os alunos com necessidades educacionais especiais e a comunidade escolar.

Vemos que 13% dos participantes vão utilizar os conhecimentos adquiridos para poder

identificar e observar melhor os alunos com deficiência e suas necessidades educacionais,

demonstrando que uma boa fatia dos profissionais não tem conhecimentos básicos sobre as

deficiências e suas necessidades.

Gráfico 4 – Como os participantes aplicarão os conhecimentos adquiridos a médio prazo.

Os itens de aplicação dos conhecimentos e estratégias no atendimento com os alunos com

necessidades educacionais especiais (27%) e a divulgação e discussão dos conhecimentos nas

unidades educacionais (23%) somam 50% dos participantes, demonstrando que mesmo a

médio prazo os conteúdos continuarão a ser usados e aplicados.

Chamou-nos a atenção também o fato de que 15% quer, a médio prazo, estudar mais sobre o

assunto, demonstrando o interesse dos profissionais da rede municipal de ensino em melhorar

seus conhecimentos e a aplicação desses no dia a dia com os alunos com necessidade

educacionais especiais. Em consequência desse interesse 14% pretende fazer adaptações de

materiais e no espaço físico da unidade escolar, o que trará resultados de qualidade para todos

os alunos.

VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 2474-2485

2484

Grafico 5 - Como os participantes aplicarão os conhecimentos adquiridos a longo prazo.

A longo prazo, os participantes responderam que continuarão a aplicar os conhecimentos e

estratégias no atendimento com os alunos com necessidades educacionais especiais (39%). A

criação de uma cultura inclusiva é menciona por 18% dos participantes, o que demonstra que

uma boa parcela deles entenderam a necessidade de consolidar um processo inclusivo em que

toda a comunidade escolar precisa estar envolvida.

O interesse pelos temas relacionados as pessoas com deficiência é demonstrado por 18% dos

participantes, que pretendem continuar estudando sobre o assunto, isso somados aos 15% que

responderam que pretenderem estudar mais sobre o assunto a médio prazo, resulta em um

grupo de 33% dos participantes que darão continuidade a busca de conhecimentos e a

aplicação deles em seu trabalho cotidiano com os alunos com necessidades educacionais

especiais.

Resultados do Modelo II

Nesse modelo foi solicitada em uma pergunta para que o participante avaliasse se os

conteúdos apresentados no curso foram pertinentes ao trabalho por ele desenvolvido.

Novamente foi oferecida uma escala de 1 a 10 (de pouco pertinente a muito pertinente), sendo

que para a análise usamos as respostas de 6 a 10 como muito pertinente, o que nos deu um

total de 96% das respostas como muito pertinente, o que demonstra a necessidade que os

profissionais da educação têm em relação a conhecimentos acerca das deficiências e suas

necessidades, estratégias educacionais e outras informações e suas aplicabilidades no

cotidiano educacional das escolas regulares.

VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Londrina de 08 a 10 novembro de 2011 - ISSN 2175-960X – Pg. 2474-2485

2485

Em relação a questão sobre as equipes colaborativas

No Modelo II foi perguntado aos participantes se eles tinham conhecimento sobre equipes

colaborativas, quais conhecimentos foram adquiridos sobre a questão e que impactos eles

trarão para o seu trabalho. Essa questão deveria ser respondida dissertativamente e traremos

uma conclusão geral após a leitura das respostas.

A maioria dos participantes que responderam a essas questões tinham algum conhecimento

sobre equipes colaborativas, mas segundo eles não tinham o conhecimento sistematizado

sobre o assunto e com isso passaram a ter uma visão diferenciada sobre a inclusão e a

importância das equipes colaborativas para a inclusão responsável.

Para exemplificar as respostas, traremos uma delas que traz as características da maioria das

respostas apresentadas: Adquiri o conhecimento sistematizado e pude perceber o ganho na formação

do aluno. A criança não é responsabilidade só da família e da professora e

sim de toda a comunidade escolar, desde o condutor do transporte, o vigia

que o recebe, a inspetora que conduz até a sala, os colegas que o

acompanham, enfim as equipes colaborativas vêm para contribuir na

autonomia e desenvolvimento da criança.

Conclusões

Diante dos resultados apresentados neste trabalho podemos concluir que os profissionais do

sistema educacional da Cidade de São Paulo que participaram do curso: “Acordo de

Cooperação – Formação de Equipes Colaborativas e Estagiários Mediadores” têm carência de

informações sobre surdocegueira e deficiência múltipla sensorial, assim como sobre as outras

deficiências, das necessidades dessas pessoas e das estratégias educacionais que podem ser

usadas para melhorar sua participação e aprendizagem, e em consequência a efetivação de

uma inclusão responsável.

Observamos que esses profissionais apresentaram grande interesse pelo assunto, em sua

aplicabilidade e em buscar mais informações a respeito para a continuidade e aprimoramento

de seu trabalho cotidiano com esses alunos.

Entusiasma-nos o fato de que a maioria desses profissionais pretendem divulgar os

conhecimentos adquiridos não somente entre os outros profissionais das unidades

educacionais, mas também entre as famílias e a comunidade escolar, criando com o passar do

tempo uma cultura inclusiva que mudará os paradigmas em relação a inclusão responsável dos

alunos com deficiência.

Referências

AHIMSA. Ofício 77 de 11 de agosto de 2009 – Acordo de Cooperação Ahimsa. São Paulo:

Ahimsa. 2009. (documento não publicado).

A Inclusão de Crianças e Jovens com Surdocegueira e com Deficiência Múltipla Sensorial:

Reflexões do Grupo de Trabalho do Projeto Perkins/Lavelle. São Paulo: Ahimsa, 2009. 29 p.