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Fontes sem Água Título original: Wells Without Water Por Octavius Winslow (1808-1878) Traduzido, Adaptado e Editado por Silvio Dutra Jun/2017

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Fontes sem Água

Título original: Wells Without Water

Por Octavius Winslow (1808-1878)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

Jun/2017

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W778

Winslow, Octavius – 1808 -1878

Fontes sem água / Octavius Winslow Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2017. 39p.; 14,8 x 21cm Título original: Wells Without Water 1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230

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“São fontes sem água.” (2 Pedro 2: 7)

Trata-se de um dos esquemas sempre atuantes

e dos golpes mestres do príncipe das trevas - e

sua façanha é bem-sucedida - aniquilar na visão

do homem a diferença essencial entre aquilo

que a santa Palavra de Deus produz, e a mera

profissão externa do cristianismo e sua

possessão interna e vital. Contudo, embora

admitamos que em cada verdadeiro discípulo de

Jesus estes dois extremos se encontram - a posse

e a profissão de Cristo - ao mesmo tempo

devemos notar que, existindo separados e

isolados, céu e terra, escuridão da meia-noite e

luz do meio-dia, vida e morte em si, não são mais

essencialmente diferentes uns dos outros do

que estes dois extremos que existem nos

crentes. Rompa-se esta linha ampla e inflexível

de separação e, assim, a religião de Jesus, que

transmite a vida, se reduziria a uma religião de

mero sentimento ou de forma - em outras

palavras, à religião da morte – como é o plano

grandioso e bem-sucedido de Satanás. Seria,

talvez, difícil dizer de que campo ele colheu uma

safra mais terrível de almas – se de uma

profissão religiosa nominal, ou de uma

impiedade profana e declarada. Não falamos

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levianamente, mas é nossa convicção solene

que mais almas desceram para as regiões de

desespero que repousam em seus votos

batismais e graça sacramental e obras de justiça

humana do que aqueles que não fizeram

nenhuma profissão de religião, exceto a religião

do infiel, do ateu ou do mundo. É a essa grande e

solene classe que o apóstolo aplica as palavras

escolhidas como base de nossas observações

atuais: "São fontes sem água". A passagem

sugere dois tópicos distintos e importantes de

consideração: o caráter do verdadeiro crente,

ou o que o verdadeiro cristão possui; e o caráter

do falso cristão, ou o que o mero professante não

possui.

A figura de "fontes sem água" não é apenas uma

ocorrência frequente na Palavra de Deus, mas

em sua interpretação inversa é altamente

expressiva do caráter gracioso e da influência

santa do verdadeiro crente no Senhor Jesus.

Reverta o significado que é usado pelo apóstolo,

e você tem o retrato exato de um homem

verdadeiramente cristão. A "fonte sem água",

supõe a existência da "fonte com água". E como a

fonte sem água é descritiva do falso cristão,

assim a fonte com água é descritiva do

verdadeiro - e é dele que nós devemos primeiro

falar.

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O verdadeiro crente em Jesus é um homem

gracioso. Ele é uma "alma viva". Ele é o

participante de uma nova natureza Divina, e é o

depositário de um tesouro celestial e precioso.

Ao exibi-lo sob a figura da "fonte com água",

somos naturalmente levados a rastrear a fonte

de seu suprimento. A fonte pode conter, mas

não origina o suprimento. Ela faz fluir a água,

mas não pode criar a água. Depende de uma

outra fonte escondida, que emana de uma

profundidade e vastidão que ninguém pode

medir, e que nenhuma habilidade pode

explorar; o precioso fluido se precipita,

brilhando na alegria de sua existência

independente e misteriosa. É assim com o

cristianismo e o cristão. Não há um fonte de

salvação no evangelho, nem uma fonte de vida

no crente, que não seja dependente de uma

fonte de onde toda a vida flui. O Senhor Jesus

Cristo é essa Fonte. Ele é o cabeça de toda a

salvação e de toda a graça. A fonte com água que

salta em nós para a vida eterna é a fonte que tem

a sua fonte nele, "de cuja plenitude todos nós

temos recebido, e graça por graça".

Deus, a fonte da vida, da luz e da graça, ordenou

que o Senhor Jesus Cristo, seu próprio Filho

amado, seja o manancial, a única fonte de

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provisão de onde toda a salvação do pecador,

toda a santidade, e toda a graça e verdade da

Igreja, coletiva e individualmente, devem ser

derivadas. "Agradou ao Pai que nele habitasse

toda a plenitude". Que declaração gloriosa é

esta! Como nossos corações devem saltar de

alegria, e nossas almas vibrarem com alegria ao

seu próprio som! Toda a "plenitude da Divindade

corporalmente"; toda a plenitude da Igreja

graciosamente; toda a plenitude salvadora do

pecador; toda a plenitude santificadora do

cristão; em uma palavra, tudo que um filho

pobre, caído e provado de Adão precisa, até

chegar ao próprio céu, de onde esta plenitude

veio - é, pelo amor e sabedoria eterna de Deus,

entesourado no "Segundo Adão, o Senhor do

céu.

De Jesus, a fonte deriva sua água. Na descrição

que temos da criação do mundo, há uma

distinção observada entre as "águas que

estavam debaixo do firmamento e as águas que

estavam acima do firmamento". Na nova criação

não menos impressionante e observável é essa

diferença. A água acima é o "rio puro da água da

vida, límpido como cristal, procedente do trono

de Deus", e reunido em uma confluência

poderosa em Jesus; e por ele trazido à terra e

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depositado em todos os verdadeiros crentes,

que assim se tornam fontes com água; e assim,

pela influência dispensadora de sua graça e

santidade, "rega toda a face da terra". Assim, as

"águas são divididas das águas" - a água na Fonte

acima, da água na fonte abaixo.

Mas, esta verdade será revelada mais

plenamente na consideração da FONTWE EM

SI MESMA. O cristão, figurativamente falando, é

esta fonte, derivando, como vimos, o seu

suprimento daquela Fonte escondida a quem

está intimamente unido. Há, em primeiro lugar,

o fato interessante sobre o qual um capítulo

precedente se expande plenamente e, portanto,

para o qual precisamos simplesmente referir-

nos agora - a permanência de Cristo na alma. O

próprio Cristo enuncia a verdade - "Eu neles".

Observe, estas não são as palavras do apóstolo,

cuja mente ardente e imaginação brilhante

poderia ser suposto exagerar uma verdade além

de seus limites próprios; mas são palavras do

próprio Jesus - daquele que é a Verdade, e que,

portanto, não pode mentir. "Eu neles." Cristo

morando na alma forma a vida interior dessa

alma. A experiência desta bênção está ligada ao

menor grau de graça, e com a mais débil fé; o

cordeiro do rebanho, a alma que apenas tocou a

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bainha do manto do Salvador, prostrado como

um penitente aos pés do verdadeiro Arão - em

cada um e em todos, Cristo habita. Ele tem um

trono naquele coração, um templo naquele

corpo, uma morada naquela alma, e assim,

como por uma espécie de segunda encarnação,

Deus é manifestado na carne; na manifestação

de Cristo no crente. Verdadeiramente ele é uma

fonte com água, que tem "Cristo nele a

esperança da glória".

Além disso, há a permanência da graça de Deus

na alma. A graça é uma coisa estranha ao estado

natural do homem. Sua posse de graça não é

concomitante com seu nascimento, nem pode

ser dele por direito de lei hereditária. Nenhum

pai, por mais santo que seja, pode transmitir

uma partícula de graça salvadora à sua

posteridade. A lei da primogenitura, ou o

privilégio da primogenitura, é posto de lado no

reino da graça, cujos sujeitos são "nascidos não

de sangue, nem da vontade da carne, nem da

vontade do homem, mas de Deus." Mas, veja

como esse mistério é esclarecido na conversa

que Jesus manteve com a mulher samaritana,

sentindo-se cansado diante da boca do poço de

Jacó. "Jesus respondeu e disse: Se você

conhecesse o dom de Deus e quem é o que te diz:

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Dá-me de beber, lhe pedirias, e ele te daria água

viva.” Esta é a graça de que falamos, e esta é a

fonte de onde flui nos corações de todos os

verdadeiramente regenerados. É em você, leitor

cristão, "uma fonte de água", uma fonte que

sobe, subindo e subindo para a fonte de onde ela

nasce. Deus olha para você, não como uma fonte

seco, mas como um fonte que brota - sua própria

graça renovadora, adotante, santificadora,

fluindo em seu coração - e assim ascendendo a

Ele de quem procede, em desejos santos e

aspirações espirituais, e ação divina - a água viva

que busca seu nível, e que se eleva à sua fonte.

Palavras abençoadas - "Saltando para a vida

eterna!" Como o primeiro rubor da manhã é

uma parte do dia, então a aurora menor da graça

na alma é uma porção do céu. A fonte embaixo,

é a fonte da graça – a fonte em cima, é a fonte da

glória.

Contudo, uma terceira bênção do estado

renovado é a habitação do Espírito Santo. Assim

diz o apóstolo: "Não sabeis que sois o templo de

Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?"

Ele parece dizer: "Se você não o conhece, deve

conhecê-lo como uma piedade professada". Oh,

que fonte celestial, embora em si mesmo um

pobre vaso de barro, uma cisterna quebrada - é

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aquele homem regenerado que tem o Espírito

Santo reinando nele, vivendo nele - nunca

abdicando do seu trono, nunca abandonando o

seu santuário, nunca desocupando Sua morada;

nunca, por todas as corrupções que estão lá, por

todas as negligências e ofensas que ele recebe, é

forçado a retirar-se do templo que ele construiu,

embelezou e fez seu próprio!

Diante dessas afirmações, quem negará que

todos os crentes em Jesus são fontes com água?

Que caráter exaltado, e que homem invejável, é

o verdadeiro cristão! Todos os recursos do Deus

Triúno se unem para reabastecer este vaso de

barro. Nenhum anjo no céu contém um tesouro

tão caro e tão precioso quanto aquele pobre

pecador crente que, aproximando-se dos pés do

Salvador e banhando-os com lágrimas de

penitência e amor, pode olhar para cima e

exclamar: "A quem eu tenho no céu senão a ti, e

não há ninguém na terra que eu deseje ao teu

lado."

Mas, não devemos ignorar um pensamento

interessante sugerido pela figura do texto.

Refiro-me à influência dispensadora da fonte.

Qual é o desígnio adequado de uma fonte?

Certamente não é construída para si mesma.

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Destina-se a dispersar no exterior a sua

plenitude, e a comunicar a bênção que ela

contém. A menos que a água de um fonte

encontre uma saída, ela se torna

necessariamente estagnada e inerte; e em vez

de ser um fonte dando e espalhando para fora

seus córregos, é um reservatório imóvel, nada

fluindo, e consequentemente nada recebendo.

Emblema marcante do cristão! O conhecimento

e a graça que Deus lhe deu, embora para você

mesmo primariamente, não são

exclusivamente para você. Deus, ao fazer de

você uma fonte de água viva - em outras

palavras, possuidor da graça divina - projetou

dispersar os rios; para que, por meio da

consistência de sua caminhada, da santidade de

sua vida e da atividade pessoal de sua graça na

causa de Deus e da verdade, possa encontrar

uma saída para o benefício dos outros.

Que fonte de conhecimento espiritual é o

verdadeiro crente! A ele se dá a conhecer os

mistérios do reino, enquanto de outros eles

estão escondidos. Onde podemos procurar uma

compreensão da mente revelada de Deus, senão

nele mesmo? Quem conhece o segredo do

Senhor, e a quem ele mostra o seu pacto, senão

aos que o temem? Tendo "uma unção do Santo",

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ele conhece todas as coisas. Ele sabe algo desse

mistério, que nenhuma filosofia do homem

pode ensinar-lhe - a praga de seu próprio

coração. Ele também sabe algo do valor de

Cristo - sua pessoa, seu trabalho,

Sua glória, sua plenitude, sua ternura, sua

simpatia, sua preciosidade. Ele sabe algo sobre o

caráter e os tratos de Deus - como um Deus

santo, como um Deus que perdoa o pecado,

como um Deus justo, e ainda que apaga o pecado

e não se lembra mais dele para sempre. Ele sabe,

em certa medida, quais são as complexidades do

caminho cristão; o que é a estreiteza do caminho

apertado; quais são as dificuldades de caminhar

com Deus; quais são os conflitos, as provações,

as tribulações da vida cristã - e o fluxo flui para

fora.

Que bem de santidade é o verdadeiro crente! O

Espírito de santidade que o habita, apesar do

sedimento corrupto de sua natureza caída,

contém e dispensa no exterior aquela corrente

de santa influência que carrega consigo uma

bênção onde quer que flua. Onde procurar a

verdadeira santidade, exceto na alma nascida de

novo do Espírito? Um homem santo é a maior

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bênção da Terra, é o ornamento e o escudo mais

ricos do mundo.

Que fonte de compaixão é o verdadeiro cristão!

Ele é quem, ensinado sobre o valor inestimável

de sua própria felicidade eterna, tem afeições de

compaixão pelas almas de outros que se

encontram em ruína. "Ó que minha cabeça fosse

como rios de águas, e meus olhos uma fonte de

lágrimas!" Diz Jeremias. "Rios de águas correm

pelos meus olhos porque não guardam a tua lei!"

- exclama Davi. Esses homens estavam de luto

como fontes - e Deus distinguiu isso. "Ponha

uma marca na testa dos homens que suspiram e

clamam por todas as abominações que se

fazem". O Senhor Jesus, o grande lamentador,

que chorou, não por si, mas por outros, tem sido

a grande Fonte que alimenta as lágrimas destas

fontes de piedade e compaixão; cujas simpatias,

orações e esforços, fluem para a conversão dos

pecadores, para a salvação das almas.

Fontes de caridade, também, são os crentes.

Onde procuraremos o cimento Divino, o

verdadeiro laço, que une o coração do homem

ao homem, senão somente na Igreja de Deus?

Quem é o verdadeiro pacificador, o diligente

semeador da paz, o zeloso promotor do amor, da

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caridade e da boa vontade entre os homens,

senão aquele em cujo coração o amor de Deus

encontra um lar? Quem tem tanta piedade

sincera pelos pobres, cuja mão está mais pronta

para aliviar as suas necessidades - do que aquele

que é um participante consciente da

benevolência de Deus? Tal leitor, são algumas

das características dos verdadeiros cristãos - as

fontes de distribuição de água.

Há ainda outra característica essencial de um

estado gracioso sugerido pela figura, que não

devemos esquecer. Estas fontes com água estão

perpetuamente recebendo, bem como

dispensando. Na verdade, elas só podem

dispensar aos outros o que lhes é dispensado.

Insinuamos que apenas os crentes são fontes.

Todas as suas fontes estão em Deus. Ouça o

reconhecimento: "Assim como o cervo brama

pelas correntes das águas, assim suspira a

minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem

sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e

me apresentarei ante a face de Deus?” “Ó Deus,

tu és o meu Deus, de madrugada te buscarei; a

minha alma tem sede de ti; a minha carne te

deseja muito em uma terra seca e cansada, onde

não há água." E então vem a resposta divina: "Os

aflitos e necessitados buscam águas, e não há, e

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a sua língua se seca de sede; eu o Senhor os

ouvirei, eu, o Deus de Israel não os

desampararei. Abrirei rios em lugares altos, e

fontes no meio dos vales; tornarei o deserto em

lagos de águas, e a terra seca em mananciais de

água. " E então segue a resposta da alma sedenta

de justiça: "Senhor, dá-me esta água, para que eu

não tenha sede".

Assim a alma graciosa deriva toda a sua graça de

Cristo, "quem de Deus é feito para nós sabedoria,

justiça, santificação e redenção". Ele reabastece

a fonte quando seus recursos estão esgotados.

Quando a água está baixa, ele a levanta; como ele

a derrama para fora, ele também abastece a

fonte; e quanto mais liberalmente ela transmite,

mais generosamente ela recebe. "Mas o liberal

projeta coisas liberais, e pela liberalidade está

em pé" “A alma generosa prosperará e aquele

que atende também será atendido." Quem se

tornou pobre para Deus? Quem deu livremente

que não recebeu em troca livremente? Quem se

preparou para o Senhor, consagrando os seus

bens, a sua influência, o seu tempo, os seus

talentos, que não experimentou uma elevação

na sua própria alma da fonte oculta, mais do que

substituindo tudo o que dispensou? A graça

empregada, a fé que se tem exercido, a riqueza

16

consagrada, a influência exercida, a censura

sofrida, o sofrimento experimentado, a saúde

despendida, a perda que tem sido suportada por

amor a Cristo; Cristo tem mais do que

recompensado mesmo no tempo presente.

"Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça"

- é o preceito - "e todas estas coisas vos serão

acrescentadas" - é a promessa; e quem endereça

o preceito, cumprirá a promessa.

Tais são, então, algumas das características dos

verdadeiros cristãos.

O inverso de tudo isso passamos agora a

considerar, em uma análise do CARÁTER DO

FALSO CRISTÃO - O professante em a graça, que

são fontes sem água.

Que seja observado distintamente que deles é

dito serem como fontes; isto é, são professantes

de religião. Eles têm a "forma de piedade". Eles

têm toda a aparência externa de verdadeira

graça e santidade. A julgá-los por sua igreja, por

seu ministro, por seu credo, pelo seu zelo

denominacional, ou mesmo por seu

conhecimento, deveríamos imediatamente

classificá-los, e talvez colocá-los no alto, com os

verdadeiros possuidores da graça. Tão fortes são

algumas das características da semelhança, que

17

precisa do olho mais hábil para detectar a

diferença. Olhando não para a construção

externa da fonte - os belos e caros materiais de

que é composta - mas olhando dentro da fonte,

logo descobrimos que é um fonte sem água.

Novamente, observamos que, formando o nosso

julgamento por ela pertencer à igreja, sua

ortodoxia correta, seu cristianismo vistoso,

muitos seriam enganados quanto ao seu estado

real, seduzidos na crença de que eles estavam

verdadeiramente convertidos. Mas, quando

julgado pela palavra de Deus - ai, quão terrível a

deficiência! Até agora você pode ir, professante

de religião, e ainda ficar aquém da realidade.

Você pode ser batizado, pode participar da Ceia

do Senhor, pode ser inscrito nos registros da

Igreja, ser considerado um cristão, ser

respeitado como um cristão, ser confiado como

um cristão, e ainda o olhar dAquele “cujos olhos

são como chama de fogo", descobre em você

nada além de um fonte sem água, uma alma sem

a graça – uma profissão religiosa sem princípio

religioso.

Assim, temos mostrado que um professante

ateu, um falso cristão, é apenas uma fonte sem

água. Não há habitação do Espírito, nenhuma

habitação de Cristo, nenhuma possessão da

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graça Divina. Nenhuma lágrima de

arrependimento umedecendo os olhos. Não há

brotações do coração das santas aspirações por

Deus, de desejos amorosos por Jesus. Não há

indicações da praga conhecida, da carga

sentida, ou do conflito experimentado. Nenhum

eco da linguagem do apóstolo: "Desgraçado,

homem que sou, quem me livrará do corpo

desta morte?" Não há inspirações pela

santidade, nem anseios pela conformidade

divina, nem desejos de partir e estar com Cristo,

nem unção do Espírito. Com toda a luz que está

em seu juízo, e sua observância de dias, meses e

estações, ele é apenas uma fonte seca, um fonte

sem água. Ele não possui a vida interior.

Contempla esta personagem em mais um ponto

de luz - a influência que um mero professante

religioso exerce. Uma fonte sem água! - que

miserável privação! O viajante cansado, depois

de muita resistência à sede e ao sofrimento, vê à

distância a fonte convidativa. Regozijando-se na

descoberta, ele acelera o passo, e eis! Ele a

encontra realmente como uma fonte, mas uma

fonte seca – uma fonte sem água! Sua

expectativa se transforma em decepção, sua

alegria em tristeza; e como o Salvador que veio

faminto para a figueira e não encontrou nela

19

fruto, e se retirando, soprou sobre ela a sua

maldição abrasadora; assim parte o viajante da

fonte que tão cruelmente zombou de sua

terrível sede.

Assim sucede com um mero professante - um

professante de religião vazio e sem graça. Nós

vamos até ele, esperando um pouco de elevação

em nossa viagem para casa; vamos procurar

algum consolo doce em nossa profunda

provação, conselho em nossa perplexidade,

simpatia por nossa tristeza, pela comunhão dos

santos - mas infelizmente! Não há resposta, nem

eco, nem corda vibratória, nada em união com o

que sentimos: a fonte está seca, e não podemos

extrair uma gota dela. Oh, não é um dos reflexos

mais amargos que podem apertar em sua

mente, que, talvez, muitas pobres almas

sedentas recorreram a você para a instrução,

para a simpatia, para a força, e encontrando-lhe

um estranho para os mistérios da vida Divina, as

provações e os conflitos do cristão, o

conduziram a um amargo desapontamento,

como o cansado viajante, sedento, sai da fonte

sem água. É uma coisa solene confundir-se com

um crente real, ser visto como um verdadeiro

cristão, e ainda provar ser destituído do

conhecimento e da graça de Cristo! - despertar

20

a esperança, despertar a expectativa, criar um

interesse e inspirar confiança, e quando o teste

for feito, quando vier o julgamento, provar, ser

senão uma alma sem graça - enganada e

enganadora!

E ainda, que grande número existe dos tais!

Falamos de Jesus - não há eco. Introduzimos o

assunto de todos os assuntos - o mais

interessante e importante - o tema da religião do

coração - não há resposta. Nós entramos no

detalhe da experiência cristã, da guerra, das

dores, das alegrias, das provações, dos fardos, do

progresso, da esperança do cristão, mas falamos

uma língua que eles não entendem. São fontes

sem água. Nenhuma engenhosidade pode

provocar, nenhum esforço pode extrair deles,

uma gota da água viva. "Nós tocamos flauta para

eles, mas eles não dançam, nós cantamos uma

canção triste para eles, mas eles não choram."

Voltando agora o VERDADEIRO CRISTÃO,

tendo em vista este caráter tristemente

afetuoso que tentamos retratar, deixe-me

comentar a profunda humildade que lhe deve

distinguir como um verdadeiro professante da

graça de Cristo Jesus. O que você é em si mesmo,

senão apenas a fonte? A graça que você possui é

21

uma graça comunicada. Temos este precioso

tesouro em vasos de barro. Tudo o que é

realmente santo e gracioso em nós, não brota de

nossa natureza caída, mas, como "todo dom bom

e perfeito, desce do Pai das Luzes". É a saída

espontânea do coração de Deus - a concessão

livre e imerecida de sua soberana misericórdia.

Então, que mansidão de coração, que profunda

humildade de espírito, devia marcar-lhe! Que

prostração de todas as formas de autoconfiança,

autobusca, autojactância, essa visão arrogante

de nossas realizações e ações, que estraga o

cristianismo de tantos - deve haver, como se

torna razoavelmente aqueles que nada têm

senão o que eles receberam, e que a graça livre

e soberana sozinha tem se distinguido de tudo o

mais!

Quão precioso Jesus deve ser para nós, que

condescendeu em derramar este tesouro

celestial em nossos corações, e realizar a sua

oferta constante! De que modo podemos melhor

provar nosso senso de bondade, senão tirando-

a, em grande parte, da Fonte e glorificando-o no

que recebemos? Verdadeiramente "a fonte é

profunda" de onde nós tiramos esta água viva!

Nossos recursos são inesgotáveis, porque são

infinitos. Nem podemos vir com demasiada

22

frequência, nem extrair demais. "Opera, ó fonte

de graça e de amor, em nossos corações, para

que nossas águas não sejam rasas, nem lentas.

Que haja mais profundidade de graça interior,

mais fervor de amor santo, mais riquezas da

plenitude de Cristo! Oh, para um renascimento

gracioso em nossas almas! "Desça," Jesus

bendito, "como chuva sobre a relva cortada!"

Sopra, ó vento sul do Espírito, sobre o jardim de

nossas almas, para que as especiarias fluam

para fora! Verdadeiramente a fonte é profunda,

de onde temos esta água viva, mas a fé pode

alcançá-la e em proporção à força da nossa fé e

da franqueza e simplicidade com que se lida

com Cristo será a plenitude do nosso

suprimento. "Beba, sim, beba abundantemente,

ó amado", é o gracioso convite de nosso Senhor

à sua Igreja.

Não deixemos de aprender o segredo de receber

muito de Cristo - a dispensação gratuita do que

já recebemos. Tenha certeza disto, que receberá

o máximo de Deus aquele que faz o máximo por

Deus. "A alma diligente se tornará gorda, torna-

se pobre aquele que tem uma mão fraca: mas a

mão dos diligentes enriquece, e há quem

espalha, e ainda aumenta". Esta é a lei de Deus, e

ele nunca a revogará; sua promessa, e ele

23

sempre, e em todos os casos, torná-la-á boa. Vá

adiante, crente em Cristo, e deixe seus feixes de

luz irradiarem; sejam dispersos os seus ribeiros

de graça; viva para Deus, sofra por Cristo, dê

testemunho da verdade e trabalhe para o

homem. Seja um depositário deste tesouro vivo

e que dá vida, que outros, menos favorecidos do

que você; instruídos, guiados e fortalecidos pela

sua sabedoria, experiência e graça, possam

prosseguir no seu caminho, glorificando a Deus

pela graça que vos foi dada. Ó, que tenhamos a

Palavra de Deus habitando em nós tão

ricamente, e nossos corações tão intensamente

brilhando com o amor de Cristo, como estando

sempre prontos para abrir nossos lábios para

Deus - um bem sempre cheio, e correndo.

Este é, então, o segredo de aumentar nossos

suprimentos de graça, no ato mesmo de

espalhá-los - de reabastecer nossos recursos,

mesmo esgotando-os. Quem, repetimos a

pergunta, já se tornou empobrecido por dar e

trabalhar para Deus? Onde vive o mordomo

cristão, cuja fidelidade aos interesses de seu

Mestre comprometeu o bem-estar dos seus?

Onde está o cristão que, com alegre

generosidade, consagrou sua riqueza

intelectual ou sua riqueza temporal para fazer

24

avançar a verdade e o reino de Jesus, a quem

Cristo não reembolsou mil vezes? Onde está o

crente em Jesus, que suportou a censura e o

sofrimento, pacientemente e em silêncio, por

causa da consciência, pela causa da verdade, por

amor a Cristo, que não ganhou infinitamente no

descanso que encontrou em Deus? Onde está o

cristão ativo, que zelosamente trabalha para

dispensar as águas vivificantes, que não tem

sentido, no tranquilo repouso de seu quarto, ao

derramar sua tristeza no seio de seu Salvador,

uma santa comunhão com o seu Deus, que brota

em sua alma de uma fonte escondida de paz, de

alegria e de amor, que mais do que restaurou as

energias que ele esgotou, e recompensou-o pelo

sacrifício que fez?

Deus encontra o seu povo em todas as suas obras

de fé e trabalhos de amor. Eles nunca estão

sozinhos. Ele os encontra no caminho do dever

e da provação - tanto em fazer quanto em sofrer

sua vontade. Ele os encontra, quando

embaraçados, com conselhos; ele os encontra,

quando atacados, com proteção; ele os

encontra, quando exaustos, com força; ele os

encontra, quando fracos, com consolos. Se

tomarmos a cruz de Cristo sobre nossos

ombros, Cristo tomará a nós e a nossa cruz em

25

seus braços. Se inclinarmos nosso pescoço para

o seu jugo e dobrarmos as costas para o seu

fardo, encontraremos nosso descanso em

ambos.

Como posso saber que sou uma fonte com água?

Pode ser a pergunta ansiosa de muitos quando

eles chegam à conclusão deste assunto. "Oh, eu

tinha certeza de que eu era mais do que um

mero professante!" Mas, por que fazer a

pergunta? Por que estar em dúvida? Nunca foi

tão importante um assunto mais fácil e

rapidamente estabelecido. "Quem crê no Filho

de Deus tem o testemunho em si mesmo".

Assim, de si mesmo, você não precisa viajar para

determinar sua verdadeira condição espiritual.

Ninguém pode ser um substituto neste grande

assunto para si mesmo. É uma coisa que tem

uma relação muito próxima e pessoal com você

como indivíduo, para admitir uma transferência

de suas obrigações para outros. Você deve sentir

por si mesmo - você deve experimentar por si

mesmo - você deve ter o testemunho em si

mesmo - e você deve decidir por si mesmo

sozinho. Repito as palavras solenes: "Quem crê

no Filho de Deus, tem o testemunho em si

mesmo". E novamente, diz o apóstolo: "Cada um

26

demonstre sua própria obra, e então se alegrará

em si mesmo, e não em outro".

Assim, você pode chegar a uma decisão correta

e segura em uma questão envolvendo

interesses tão solenes e imorais como a

eternidade. Procure esse testemunho interior.

Testemunhando o que? Que o teu coração está

convencido do pecado, que renunciou à sua

justiça, que fugiu para o Senhor Jesus Cristo, e

que a sua alma está aspirando por santidade

pessoal. Todos os seus raciocínios e objeções,

cavilações e desdobramentos, e sutilezas e

sofismas, são senão centelhas do seu próprio

acendimento, no meio das quais você se deitará

e morrerá, nos horrores da segunda morte, se

você não estiver completamente desperto para

sua condição real diante de Deus. Não se

preocupe com os outros; deixe sua primeira e

principal preocupação ser sobre si mesmo. Você

não tem tempo, agora mesmo, de analisar os

motivos, ou de peneirar os princípios, ou

procurar o caráter, ou marcar as fraquezas, e

detectar as inconsistências de outros

professantes cristãos.

Cada momento para você é mais valioso e

precioso do que todas as joias da Índia; sim, um

27

segundo de tempo salvo, é de mais valor para

você do que toda uma eternidade perdida! Uma

vez que você entra através do golfo escuro da

morte, e aterrissa no outro lado sem a vida

interna - você pode então brincar com sua

existência, e ostentar sua alma, e rir da morte e

do inferno, e recriminar e reprovar outros, e

bravejar suas dúvidas e inventar suas objeções,

e enquadrar suas desculpas, e especular, e

refinar, e analisar teologia, e julgar o tolo, como

você gosta - porque "se pecarmos

voluntariamente, depois de termos recebido o

conhecimento da verdade, já não resta mais

sacrifício pelos pecados, mas uma certa

expectação horrível de juízo, e ardor de fogo,

que há de devorar os adversários." Mas, você não

pode se dar ao luxo de agir assim agora. Sua

preciosa alma está em perigo, sua felicidade

futura está em perigo, você está nas mãos de um

Deus irado, e você está, de fato, chegando

rapidamente ao fim de sua provação. Agir como

tolo agora, seria mais do que uma simples

aparência da realidade melancólica e terrível.

Venham, então, a Cristo - eu lhes convido, lhes

imploro que venham a Cristo. Ele responderá a

todas as suas perguntas, resolverá todas as suas

dúvidas, eliminará todas as suas dificuldades,

28

atenderá todas as suas objeções e silenciará

todos os seus medos. Somente venha a Cristo.

Você deve vir a Cristo, ou está perdido. Ele é

tudo, e ele tem tudo, e ele dará livremente tudo

o que você precisa. Uma gota de seu sangue

caindo sobre sua consciência, um feixe de seu

amor entrando em sua alma, um fluxo de sua

graça fluindo em seu coração, fará tudo bem no

seu interior; e a manhã, quando o sol nasce em

esplendor, não parecerá mais radiante, não

cantará mais doce, do que você quando Jesus

assim entra em sua alma, enchendo-a de sol e

música. Aceite o convite: "Aquele que vem a

mim, de modo nenhum o lançarei fora" - e você

é salvo.

"Assim como eu, sem uma súplica,

Mas o teu sangue foi derramado por mim,

E que você me mande vir a ti,

Ó Cordeiro de Deus, eu venho!

Assim como eu sou, e não esperando

Para livrar a minha alma de uma mancha

escura,

29

Para você, cujo sangue pode limpar cada ponto,

Ó Cordeiro de Deus, eu venho!

Assim como eu sou, embora agitado

Com muitos conflitos, muitas dúvidas,

Com medos por dentro e guerras por fora

Ó Cordeiro de Deus eu venho!

Assim como eu sou, pobre, miserável, cego;

Visão, riquezas, cura da mente,

Sim, tudo que eu preciso, em você posso

encontrar

Ó Cordeiro de Deus, eu venho!

Assim como eu sou, você receberá,

Ser bem-vindo, perdoado, limpo, aliviado,

Porque em sua promessa eu acredito

Ó Cordeiro de Deus, eu venho.

Assim como eu sou, seu amor desconhecido

30

Quebrou todas as barreiras;

Agora, para ser seu, sim, seu somente

Ó Cordeiro de Deus, eu venho!"

Podemos antecipar outra pergunta ansiosa.

"Qual é o curso que devo adotar quando a água

estiver baixa, quando a fonte estiver seca,

quando não houver força para trazer o fluido

vivo à superfície?" - ou seja, quando eu

encontrar uma seca espiritual e morte na minha

alma, e não posso sentir, nem chorar, nem

suspirar, nem desejar? - quando ler e meditar,

ouvir e orar, parece ser uma tarefa irritante? -

quando não posso ver a beleza do Salvador, nem

senti-lo precioso, nem trabalhar com zelo, nem

sofrer pacientemente para ele como eu desejo?"

A resposta está à mão - Olhe novamente para

Jesus. Este é o único remédio que pode atender

seu caso. Pesquise a Bíblia, pergunte a todos os

ministros que já viveram, e ainda a resposta

seria - OLHE OUTRA VEZ PARA JESUS. Vá direto

a Cristo - ele é o Manancial, ele é a Fonte viva. É

verdade que a fonte é profunda, porque a sua

plenitude é infinita, mas a fé, seja ela da menor

capacidade, pode com alegria suficiente saciar a

tua sede, e fazer a tua alma como um jardim que

31

os rios refrescaram e fizeram "regozijar-se e

florescer como a rosa."

A Fonte Infinita e Eterna está perto de você!

Como Agar você está ao seu alcance. Que o

Espírito Santo abra os olhos para ver que,

embora exista todo um vazio em você, toda a

plenitude habita em Jesus - que, por mais baixas

que sejam as águas vivas na fonte do seu

coração, há uma profundidade insondável no

coração de Cristo - de amor imutável, de toda

graça suficiente, de verdade imutável, de

salvação de todo pecado, de provação e tristeza,

compatível com sua necessidade, e vasto como

sua própria infinidade. A vossa graça não pode

ser demasiadamente baixa, nem o vosso estado

demasiado deprimido, nem o vosso caminho

demasiado desconcertante, nem o vosso pesar

demasiado intenso, nem o vosso pecado

demasiado grande, nem a vossa condição

demasiado extrema para Cristo, porque é Divino

e humano; a natureza que pode aliviar, com a

natureza que pode simpatizar. "Filho de Deus,

filho do homem, quão admirável e glorioso és

tu!" Chorando de tristeza solitária e sofrendo de

uma necessidade repugnante, você pode, como

a banida esposa de Abraão, estar olhando

ansiosamente ao seu redor para obter apoio e

32

alívio. Veja! Que o alívio e apoio estão perto!

Levante-se que a solução está à mão! Cristo está

com você, Cristo está perto de você, Cristo está

em você sendo uma Fonte de água viva. Cesse a

sua tristeza, seque as suas lágrimas, levante-se!

E "com alegria tire água desta Fonte de salvação".

Seja muito honesto e diligente em determinar a

causa da secura de sua alma. O conhecimento

correto disso é necessário para sua remoção; e

sua remoção é essencial para a recuperação

eficaz da vida interior de sua triste recaída. É

indulgência com pecado? É a negligência da

oração privada? É o abandono dos meios da

graça? Trata-se de mundanismo, carnalidade,

descompromisso? Qualquer um deles

entristeceria tanto o Espírito de Deus dentro de

você, como para secar a espiritualidade de sua

alma. Não se deixe enganar com a crença de que

a verdadeira recuperação ocorreu,

simplesmente porque isso, consciente de seu

estado, em lugares comuns, em

arrependimentos sem sentido, você pensa que

ela tenha ocorrido. "Os preguiçosos desejam, e

nada têm." Observe, eles têm seus desejos, mas

nada mais, porque com eles ele está satisfeito.

Não há nenhum despertar eficaz de seu sono,

nenhuma tentativa séria é feita para sacudir

33

fora o espírito do preguiçoso, nenhuma

colocação resoluta do narcótico que produziu

isto e que o prolonga. Não há nenhum

aproximar-se a Deus, nenhum olhar para Cristo,

nenhuma busca do Espírito, nenhuma

mortificação completa do pecado, nenhuma

saída do mundo, nenhuma pressão para a

frente. É o mero desejo do preguiçoso, e nada

mais. Não deixe que este seja seu estado.

Receba com alegria qualquer despertar para

uma consciência de sua recaída espiritual, e

acalente com oração qualquer desejo real de um

estado melhor; mas não descanse aqui. Busque

sinceramente, importunamente, crendo, até

que você possua mais abundantemente a vida

de Cristo. Procure um renascimento gracioso da

vida interior - a vida de Deus em sua alma.

Busque uma manifestação mais clara de Cristo,

um renovado batismo do Espírito, uma prova

mais indiscutível de sua conversão, uma

esperança mais segura e mais brilhante do céu.

Assim, procurando, você vai encontrá-lo; e

encontrando-a, a tua "paz fluirá como um rio, e a

tua justiça como as ondas do mar".

Ó a alegria de um estado reavivado da vida

interior de Deus! É a alegria da primavera, que

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segue a escuridão e o frio do inverno. É a alegria

da luz solar, depois de um dia nublado e escuro.

Jesus, caminhando no meio da graça que seu

próprio Espírito reavivou, dirige-se suavemente

à alma: " Levanta-te, meu amor, formosa minha,

e vem. Porque eis que passou o inverno; a chuva

cessou, e se foi; Aparecem as flores na terra, o

tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se

em nossa terra. A figueira já deu os seus figos

verdes, e as vides em flor exalam o seu aroma;

levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem.”

Empenhe toda diligência no uso dos meios da

graça, se você deseja um estado florescente da

alma. Eles são os canais divinamente

designados de transporte da Fonte. São os rios

tributários do Grande Oceano. Você não pode

possivelmente manter um estado saudável,

vigoroso da vida interior, sem eles. Você não

pode negligenciar, com impunidade, a oração

particular, a meditação e o autoexame; ou

ordenanças públicas - o ministério da Palavra,

os serviços do santuário, as assembleias dos

santos. Uma leve negligência destes deve

implicar uma perda grave para a sua alma.

Alguns professantes podem ir de um domingo a

outro, mergulhados no mundanismo ou

ansiosos na busca do lucro, na negligência total

35

da reunião de oração, ou da leitura semanal da

Bíblia - aqueles descansos necessários e pausas

santificadas no caminho - como se não houvesse

tais nomeações. Estas são algumas das coisas

que enfraquecem as mãos, e desencorajam o

coração, e impedem a utilidade do pastor fiel.

Mas, uma calamidade mais dolorosa ainda que

esta é a secura, a morte e a esterilidade que esta

negligência traz à sua própria alma. Pareceria

como se isso fosse a punição de seu pecado. Eles

viraram as costas para Deus, e Deus lhes volta as

costas. Eles negligenciam fazer a cisterna, e ele

retém a chuva que a enche. Mas, professante

cristão, isso não deve ser assim! As fontes

devem ser cavadas, a água deve ser procurada.

Dizem-nos que "os servos de Isaque cavaram no

vale, e encontraram ali uma fonte de água

saltitante" - ou, como a margem de nossa Bíblia

o afirma - "uma fonte de água viva". E é declarado

um homem abençoado aquele "que, passando

pelo vale de Baca, faz uma fonte, a chuva

também enche os poços." É desta maneira de

espera diligente, orando sobre os meios de

graça, que "ele vai de força em força, até que ele

aparece diante de Deus." Oh, cave para achar

esta água preciosa! Oh, busque por esta graça

viva! Faça a cisterna e confie na fidelidade e

36

bondade de Deus para preenchê-la com "as

primeiras e últimas chuvas."

Ninguém espera no Senhor em vão. "Os que

esperam no Senhor renovarão as suas forças".

Os que lavram profundamente o solo em pousio,

e em seus sulcos semeiam a preciosa semente,

não lhes faltará a influência descendente do

Espírito Santo, em orvalho silencioso de noite, e

em chuvas copiosas durante o dia, para vivificá-

la e frutificá-la. Honra somente o Deus da graça

em todos os meios da graça, e Deus te honrará,

dando-te toda a graça através dos meios. "A alma

diligente será engordada." Volta, oh, retorna ao

Cristo abandonado, ao santuário negligenciado,

aos meios desprezados, e então já não terás

razão para exclamar: "Minha magreza, minha

magreza!"

Que caráter verdadeiramente terrível tem sido

o que essas páginas retratam - um professante

vazio e sem a graça de Cristo! Leitor, este é o seu

estado? Examine-se, prove o seu próprio eu e

verifique se você tem "Cristo em você a

esperança da glória". Não se satisfaça com as

cerimônias externas, com a observância dos

dias, das comunhões frequentes – e com a

caridade. Você é uma fonte com água? Esta é a

37

grande e importante questão que, na

perspectiva próxima da morte, e do julgamento

que se segue à morte, cabe a você decidir. Cristo

está habitando em seu coração pelo seu

Espírito? Sua religião é mais do que uma mera

profissão? Ó, é uma coisa horrível entrar na

eternidade com a sua Bíblia, e seu livro de

Salmos, ou seu Livro de Oração em suas mãos,

mas sem Cristo vivendo em sua alma; com os

elementos do amor do Salvador se derretendo

em seus lábios, mas sem a experiência do amor

do Salvador brilhando em seu coração; para ir

descansando em falsa dependência dos

privilégios da Igreja, e ter ficado aquém do único

fundamento verdadeiro sobre o qual o pecador

pode construir a sua esperança do céu - a areia

deslizante substituída pela Rocha Eterna.

Como exatamente o Senhor Jesus encontrou tal

caso! Em um de seus surpreendentes discursos

parabólicos, ele forneceu-nos uma descrição de

certas pessoas que no dia do julgamento teriam

colocado no apelo da união à Igreja e às

ordenanças da Igreja e aos privilégios da Igreja

como justificando sua reivindicação de

admissão no céu; mas que serão rejeitados

nessa mesma terra para a sua vergonha e

desprezo eterno. Ouça a descrição dele;

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"Quando o pai de família se levantar e cerrar a

porta, e começardes, de fora, a bater à porta,

dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos; e,

respondendo ele, vos disser: Não sei de onde vós

sois; então começareis a dizer: Temos comido e

bebido na tua presença, e tu tens ensinado nas

nossas ruas. E ele vos responderá: Digo-vos que

não vos conheço nem sei de onde vós sois;

apartai-vos de mim, vós todos os que praticais a

iniquidade.”

E quem, meu leitor, são estes? Não seja

enganado! Não são o profano, o negligente de

meios, e o desprezador das ordenanças. Eles são

professantes de religião, cristãos nominais -

"quase cristãos"; indivíduos que haviam sido

batizados, que frequentavam a casa de Deus, que

eram regulares em sua participação em

ordenanças, e que acreditavam que, por seus

trabalhos zelosos, e suas qualidades amáveis, e

suas caridades e boa vontade para com o os

homens, seriam salvos. Mas, infelizmente! Eles

são enganados. Com toda esta profissão

exterior, eles não foram regenerados pelo

Espírito, foram incircuncisos de coração,

injustificados por Cristo, e nunca se tornaram

"habitação de Deus através do Espírito". O

batismo não poderia regenerá-los, a Ceia do

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Senhor não poderia santificá-los, suas próprias

obras não poderiam justificá-los; e quando com

confiança eles subiram para a própria porta do

céu, e bateram para a admissão, eles foram

recebidos com a severa repreensão: "Eu não vos

conheço; afastai-vos de mim, todos vós que

praticais a iniquidade". Guardem-se portanto,

dos mestres de religião públicos que lhes dizem

que fomos regenerados no batismo e que a Ceia

do Senhor é o instrumento para nos manter no

estado de salvação no qual, como ensinam, o

batismo nos introduziu. Não dê lugar a esses

falsos instrutores, tais guias cegos, tais

pervertedores da verdade, tais destruidores da

alma; não, nem por um momento. Que a sua

eloquência não os atraia, que os seus raciocínios

não lhes prendam, que a sua demonstração de

santidade não lhes engane. Você tem interesses

em jogo muito caros e preciosos para serem

submetidos a perigo em termos como estes.