folha guaicuru

8
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo . Campo Grande - MS . Ano 7 . Nº 56, dezembro de 2010 . Distribuição Gratuita . Venda Proibida A vida de quem não vê nada além das cinzas Um domingo que aproximou o Haiti de Campo Grande Todos os olhares da música estão voltados para o Mato Grosso do Sul. O Estado é o mais novo palco da música sertaneja no país. Diversas duplas de sucesso no Brasil sairam do Estado, como Maria Cecília e Rodolfo, Michel Teló, João Bosco e Vinícius, e o campeão de preferên- cia nacional, o cantor de 19 anos, Luan Santana. LEIA MAIS na pág. 06 Som da viola sul-mato-grossense é ouvido Brasil a fora O país, arrasado pelo terremoto de 7 graus na escala Richter, tornou-se – ainda mais – necessitado de ajudas humanitárias. En- tre aqueles que se sentiram no dever de ajudar estão militares e fuzileiros navais de Mato Grosso do Sul. LEIA MAIS na pág. 08 Cerol: Quando a brincadeira se torna perigosa? Soltar pipa. Por que uma simples brin- cadeira pode se tornar arma letal nas mãos de crianças? A resposta está numa disputa feita entre os adolescentes. LEIA MAIS na pág 03 Como viver feliz na terceira idade? A terceira idade vem crescendo no Brasil, mas o país não está preparado. LEIA MAIS na pág. 05 Entrevista com a dupla Oliveira e Cristiano Foto: Amparim Lakatos Foto: André Farinha folha GUAICURU Aborto: ainda hoje é motivo de polêmicas e controvérsias LEIA MAIS na pág. 08 Linha de cerol Foto: Amparim Lakatos Há grande dificuldade para se determinar quantas carvoarias existem no Mato Gros- so do Sul. Isso ocorre devido ao fato de muitas atuarem ilegalmente. As atividades ilegais, dentro de uma carvoaria, vão desde o local de trabalho até a situação pre- cária dos carvoeiros que, muitas vezes, vêm de outros estados para tentar ganhar a vida. Nas chamadas carvoarias clandestinas, que não possuem a autorização do Ministério do Meio Ambiente para o desmatamento, as condições dos trabalhadores são desumanas. LEIA MAIS na pág. 04 Carvoarias atraem trabalhadores de várias regiões do Brasil Soldado partindo para o Haiti Foto: Beatriz Cruz Vilma Oliveira vive o auge da melhor idade Foto: Dayane Reiss folha guaicuru.indd 1 04/05/2011 17:00:16

Upload: val-reis

Post on 23-Mar-2016

215 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Jornal Laboratório da Faculdade Estácio de Sá, Design Val Reis, Paulo victor e Amparim Lakatos.

TRANSCRIPT

folha GUAICURU

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo . Campo Grande - MS . Ano 7 . Nº 56, dezembro de 2010 . Distribuição Gratuita . Venda Proibida

A vida de quem não vê nada além das cinzas

Um domingo que aproximou o Haiti de

Campo Grande

Todos os olhares da música estão voltados para o Mato Grosso do Sul. O Estado é o mais novo palco da música sertaneja no país. Diversas duplas de sucesso no Brasil sairam do Estado, como Maria Cecília e Rodolfo, Michel Teló, João Bosco e Vinícius, e o campeão de preferên-cia nacional, o cantor de 19 anos, Luan Santana. LEIA MAIS na pág. 06

Som da viola sul-mato-grossense é ouvido Brasil a fora

O país, arrasado pelo terremoto de 7 graus na escala Richter, tornou-se – ainda mais – necessitado de ajudas humanitárias. En-tre aqueles que se sentiram no dever de ajudar estão militares e fuzileiros navais de Mato Grosso do Sul. LEIA MAIS na pág. 08

Cerol: Quando a brincadeira se torna

perigosa?

Soltar pipa. Por que uma simples brin-cadeira pode se tornar arma letal nas mãos de crianças? A resposta está numa disputa feita entre os adolescentes. LEIA MAIS na pág 03

Como viver feliz na terceira idade?

A terceira idade vem crescendo no Brasil, mas o país não está preparado. LEIA MAIS na pág. 05

Entrevista com a dupla Oliveira e Cristiano

Foto: Amparim Lakatos

Foto: André Farinha

folha GUAICURU

Aborto: ainda hoje é motivo de polêmicas e controvérsias

LEIA MAIS na pág. 08

Linha de cerol

Foto: Amparim LakatosHá grande dificuldade para se determinar quantas carvoarias existem no Mato Gros-so do Sul. Isso ocorre devido ao fato de muitas atuarem ilegalmente. As atividades ilegais, dentro de uma carvoaria, vão desde o local de trabalho até a situação pre-cária dos carvoeiros que, muitas vezes, vêm de outros estados para tentar ganhar a vida. Nas chamadas carvoarias clandestinas, que não possuem a autorização do Ministério do Meio Ambiente para o desmatamento, as condições dos trabalhadores são desumanas. LEIA MAIS na pág. 04

Carvoarias atraem trabalhadores de várias regiões do Brasil

Soldado partindo para o Haiti

Foto: Beatriz Cruz

Vilma Oliveira vive o auge da melhor idade

Foto: Dayane Reiss

folha guaicuru.indd 1 04/05/2011 17:00:16

folha GUAICURU

EDITORIALSob o som alegre da viola, esta edição da Folha Guaicuru apresenta aos leitores um Mato Grosso do Sul de contradições: o ritmo que faz o país dançar nasce da mesma terra onde se planta trabalhadores de vidas cinzentas. Muitos fundos musicais integram a paisagem dessa terra, onde também são vistas li-nhas que podem ferir; mosquitos que se alastram; cães sacrificados e bovinos que ajudam no aumento da poluição. Cada página do jornal faz convites vários a você, lei-tor ou leitora. Você será convidado a subir no palco para dançar e cantar um ritmo de raízes caipira e tronco universitário. Mas também será chamado a entrar nas construções precárias de trabalhadores de carvoarias e se sentar em madeiras que imitam colchões. Poderá dar um “até breve” a militares que tornaram o Haiti mais próximo de Campo Grande. Ao mergulhar em outras páginas, você pode tam-bém se questionar: “como uma singela brincadeira nas ruas e pacatos bois nos pastos podem se trans-formar, respectivamente, em instrumentos letais e animais destruidores do planeta?” Esta edição, em suas poucas páginas, tem o tama-nho dos paradoxos da vida. Com roupa nova, estrea-da neste número, a Folha Guaicuru quer dividir com você, leitor ou leitora, uma ponta do cotidiano he-terogêneo, vista por alunos do curso de Jornalismo da Faculdade Estácio de Sá. Como todo universo hu-mano, esses fragmentos do cotidiano fazem sorrir, cantar, indignar-se, alertar-se. Portanto, sinta-se em casa. Sirva-se do jornal e boa leitura!

EXPEDIENTE

Faculdade Estácio de Campo Grande

Direção Geral: Juliana Maria Silva de Rezende ValleCurso de Jornalismo da Faculdade Estácio de Campo GrandeCoordenação de Curso: Profª Juliana Feliz - DRT 018/MSJornalista Responsável: Profº Osvaldo Passos - DRT 091/MS

Jornal Laboratório do curso de Jornalismo da Faculdade Estácio de Campo Grande, produzido pelos acadêmicos do 5º ao 8º semestres, sob orientação dos professores: Osvaldo Passos (La-boratório de Jornalismo Impresso I e Redação Jornalística I), Denise Ferraz (Surpevisão de Editoração Eletrônica e Planeja-mento Gráfico)

Reportagem: Amparim Lakatos, André Farinha, Beatriz Cruz, Gilza Lopes, Letycia Almeida, Lilian Andreia, Marcos Brasil, Marcos Vínicios, Mariana Coli, Natália Gonçalves, Paulo Victor, Pedro Barbosa, Rayani Andrea, Sirlei Pires, Val Reiss.

Projeto Gráfico: Amparim Lakatos, Paulo Victor e Val ReissTiragem: Mil exemplaresContato: Rua Venâncio Borges do Nascimento, 377 - Jd. TV Mo-rena. CEP: 79050-700 - Campo Grande/MS - Fone/FAX: 55 (67) 3348-8800. E-mail: [email protected]

As matérias aqui publicadas não representam a opinião da instituição e de seus dirigentes. Reprodução permitida des-

de que citada a fonte.

Os efeitos do “pum” do boi sobre o aquecimento globalGás metano expelido pelos animais ajuda a provocar o efeito estufa; pesquisadores discutem formas de resolver o problemaPor Sirlei Pires

O Brasil tem um rebanho bovino de quase 200 mi-lhões de cabeças, sendo que 90% delas são criadas a pasto. Mato Grosso do Sul tem um dos maiores rebanhos do país. Seguin-do o exemplo de outros setores, o desenvolvimen-to sustentável passou a ser tema de importantes de-bates também na pecuária de corte. A emissão do gás metano (CH4) pelo setor tem sido constantemente abordada pelos ambienta-listas. A alegação é de que o gado está contribuindo significativamente com o aquecimento global. O gás metano é produzi-do pelos microrganismos presentes no rúmen de bovinos, bubalinos, ovi-nos e caprinos durante o processo da digestão da fibra. No caso específico dos bovinos, a eliminação desse gás para o ambiente ocorre pela eructação (ga-ses por via oral) e flatu-lência (gases intestinais). O gás metano é em torno de 21 vezes mais forte que o CO2, maior causador do efeito estufa.O tema foi discutido, em Campo Grande, durante o primeiro Simpósio In-ternacional sobre Gases de Efeito Estufa na Pecu-

ária de Corte, realizado pela Embrapa. O evento reuniu pesquisadores na-cionais e internacionais, além de estudantes. Se-gundo dados apresentados pelos cientistas que parti-ciparam do simpósio, em 1990, a pecuária de corte emitiu 90 milhões de to-neladas de metano. Já em 2005, foram 12 milhões de toneladas.No entanto, segundo a pesquisadora Magda Lima, da Embrapa Meio Ambien-te, de Jaguariúna, São Paulo, a pecuária não é a principal responsável pela emissão de gases de efei-to estufa. “Sem dúvida, a queima das florestas é muito pior, com relação ao dióxido de carbono. A pecuária emite sim mui-to metano. Mas no balan-ço final, o dano causado

pelas queimadas é bem maior que o da pecuária, que fica na segunda ou terceira posição”, afirma.Ao final do encontro, os participantes elaboraram uma agenda técnico-cien-tífica com várias pesquisas sobre os impactos da pe-cuária no meio ambiente. Para o coordenador do Simpósio, Sérgio Medei-ros, cada setor precisa dar a sua parcela de contribui-ção contra o efeito estufa. E no caso da pecuária, a solução do problema tam-bém significa investimen-to com retorno garantido. “A redução da emissão de metano está ligada a ques-tão da eficiência. Quanto mais eficiente, menos me-tano é produzido por quilo de carne. E esse é o cami-nho a ser seguido”, con-cluiu o pesquisador.

O simpósio foi realizado pela Embrapa em Campo Grande

Foto: Sirlei Pires

O gás metano é produzido pelos microrganismos presentes no rúmen de bovinos

Foto: Denise Ferraz

2

folha guaicuru.indd 2 04/05/2011 17:00:17

folha GUAICURU

CEROL: Quando a brincadeira se torna perigosa

Por André Farinha e Letycia

Soltar pipa, uma atividade lúdica, torna-se um perigo público com o uso do cerol, material que já possibilitou acidentes graves na Capital

Soltar pipa. Por que uma simples brincadeira pode se tornar arma letal nas mãos de crianças? A res-posta está numa disputa feita entre os adolescen-tes, cujo objetivo é a per-manência de uma única pipa no céu. Para isso, é preciso cortar a linha do adversário. O risco não é apenas para as crianças, mas para toda a popula-ção.Através de rondas, a Po-licia Militar fiscaliza os bairros onde há maior concentração de meninos soltando pipas. De acordo com o Soldado PM Sérgio, há dois anos na profissão, não adianta apenas re-colher o material dos jo-vens. “A gente recolhe a linha deles, mas quando vira as costas estão lá de novo”. No posto policial, localizado no Parque Ayr-ton Senna, há alguns car-retéis de linhas contendo cerol, material apreendi-do durante as rondas. “A maior concentração é na periferia, onde até mesmo homens com mais de 30 anos usam cerol para cor-tar a pipa das crianças”,

Material com cerol tem sido apreendido com certa frequência pela polícia

Foto: André Farinha

conta o soldado Sergio.A situação é confirmada pelo Corpo de Bombeiros. O sargento Freitas expli-ca que apenas apreender a pipa dos adolescentes não resolve o problema. “Nós apreendemos, orien-tamos, e só devolvemos a pipa quando a criança vem ao quartel acompa-nhada dos pais.” O bom-beiro conta um caso que presenciou envolvendo cerol. “Um motoquei-ro passava pela Avenida Norte e Sul, próximo ao bairro Guanandi, quando a linha enroscou em seu pescoço. Vários meninos soltavam pipas no local. A linha cortou o pescoço do motoqueiro e ele faleceu na hora”, lembra Freitas.

Risco mortal

Recentemente, o Instituto de Análises Laboratoriais Forense de Mato Grosso do Sul (IALF) realizou um teste que pôde comprovar o risco mortal do popular cerol. O Perito Criminal Evandro Rodrigo Pedão usou um microscópio e um estereoscópico para anali-

sar a linha usada para sol-tar pipas.A análise comprovou a existência de fragmentos de material compatível com vidro colado na li-nha da pipa. Para avaliar o poder de corte do cerol, o perito utilizou um peda-ço de carne bovina. Uma linha de sete metros, con-tendo cerol, foi amarrada e esticada. O pedaço de carne foi cortado ao meio após ser passado na linha. Ele verificou, assim, que a linha com cerol é capaz de produzir lesão corporal. Segundo Rodrigo Pedão, considerando alguns fato-res como velocidade de deslizamento e a região do corpo atingida, o tes-te comprova que existe a possibilidade de levar alguém à morte. “O risco é para qualquer pessoa que esteja na área onde as crianças soltam pipas, principalmente, os moto-queiros, que são os mais afetados com o cerol.” De acordo com o IALF, 11 casos envolvendo pipas já foram esclarecidos com a ajuda do método.

Feridos por cerol

Por trás dos números da polícia, há situações de acidentes, como as nar-radas por Wesley Modes-to, de 12 anos, e Felipe Saviano, de 11 anos. Os dois meninos hoje não usam mais cerol para sol-tar pipa, impedidos pelo medo de se machucar e sofrer punições perante a lei. Wesley conta que nunca mais usou cerol depois da proibição por lei. “É ruim porque vem outro que tem cerol e ‘tora’ sua pipa, aí você fica sem”, justifica. Wesley conta, ainda, que

uma de suas professoras foi vítima de cerol. “Mi-nha professora de Artes cortou o pescoço quando atravessava a rua”. Na ocasião, a professora ficou gravemente ferida.O jovem Felipe mostra a cicatriz que ficou em seu dedo enquanto soltava pipa – a linha estava com cerol. “Depois que cortei o dedo, meu pai não me deixa mais soltar”. Para Ronivaldo Santos, pai de dois filhos pequenos, o cerol é desnecessário. “É perigoso, na minha infân-cia nunca usei isso para soltar pipa”, opinou.

Proibido por LeiO cerol é proibido em todo o estado de Mato Grosso do Sul. Segundo a Lei N° 3.436/07 “fica proibido a utilização do cerol ou qualquer outro tipo de material cortan-te nas linhas de pipas”. O descumprimento re-sulta em multa no valor de R$ 249,60. Nos casos em que os autores da infração são crianças ou adolescentes, quem deve responder pela ir-regularidade são os res-ponsáveis legais dos jo-vens.Em maio de 2008, o pre-feito Nelson Trad Filho assinou a Lei Comple-mentar Nº 116, que pre-vê multa de R$ 170,00 reais por uso de cerol nas linhas de pipas. As duas leis, municipal e estadual, estabelecem multas em dobro caso haja reincidência da in-fração em um período

de dois anos. No ano de 2009, a As-sembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul ins-titui a Lei Complemen-tar N° 3.698, criando o Programa Permanente de Combate ao Uso de Cerol. Entre as ações do programa, estão a or-ganização de palestras, elaboração de cartilhas e realização de cam-panhas sobre riscos de acidentes advindos da utilização de cerol e mé-todos de prevenção. Além de Mato Grosso do Sul, os estados de Minas Gerais, Rondônia, San-ta Catarina e São Paulo também possuem leis próprias que proíbem o uso do cerol. No Rio de Janeiro e Paraná, a fa-bricação e a venda de cerol podem resultar em multa no valor de até R$ 1.000,00.

3

folha guaicuru.indd 3 04/05/2011 17:00:18

folha GUAICURU

A vida de quem não vê nada além das cinzasRotina pesada de trabalho, condições precárias e distância da família fazem com

que trabalhadores de carvoarias se acondicionem à situaçãoPor Mariana Coli e Marcos Vinícius

Há grande dificuldade para se determinar quan-tas carvoarias existem no Mato Grosso do Sul. Isso ocorre devido ao fato de muitas atuarem ilegal-mente. As atividades ile-gais, dentro de uma car-voaria, vão desde o local de trabalho até a situação precária dos carvoeiros que, muitas vezes, vêm de outros estados para tentar ganhar a vida. Nas chama-das carvoarias clandesti-nas, que não possuem a autorização do Ministério do Meio Ambiente para o desmatamento, as con-dições dos trabalhadores são desumanas. Segundo o carvoeiro Do-mingos (nome fictício), eles passam o mês todo trabalhando e, quando recebem o salário, que chega a R$ 2 mil reais, de-pendendo da função, vão

para a cidade mais próxi-ma e usam todo o dinhei-ro, enviando a maior parte para a família. “Assim que a gente recebe o dinheiro, gastamos. O mês passa e as contas acumulam. Com o filho e a mulher longe, a gente tem que mandar o dinheiro e ficar com um pouco pra não passar o resto do mês na miséria”, explica.

Precariedade

O local onde dormem não possui colchões, somente madeira. Um lugar para higiene pessoal é pra-ticamente inexistente. Os carvoeiros trabalham desde a madrugada e não existe uma carga horária. Normalmente, em uma carvoaria, trabalham em torno de 15 pessoas, com a seguinte distribuição de

tarefas: os responsáveis pelo desmatamento, os que cortam a lenha, os carbonizadores, que tam-bém são responsáveis pelo forno; os que retiram o carvão do forno, os que empacotam e transpor-tam, até os caminhões, cada um dos sacos que costuma ter em torno de 40 quilos. Adriano tem 28 anos e tra-balha desde os 8 anos com o pai na Bahia. O papel dele é de carbonizador. Ele não reclama da vida de carvoeiro, nem de do-res no pulmão, e afirma que não trocaria de em-prego, pois se for para a cidade não terá condições de viver. Muitos sequer olham para os outros ou se comuni-cam. Numa condição de subumanos, estão tão acostumados com aque-la vida que não fazem questão de se socializar ou tentar algo melhor. Só uma coisa mudou. Não se encontra crianças nas car-voarias. Hoje, diferente do que ocorria há alguns anos, muitas crianças es-tão conseguindo estudar e saem cedo do ambiente carvoeiro.

Condicionados à situação

Para a psicóloga especia-lista em comportamento em grupo Luiara Mendes, esse tipo de situação ten-de a influenciar direta-mente no modo de vida dessas pessoas quando o assunto é vida em socieda-de. “Essas pessoas ficam condicionadas a passar um determinado tempo na-quele estilo de vida e fica evidente que uma readap-tação em outro local se

torna difícil. Depois de um período de ‘isolamento’, a consequência seria uma pessoa introvertida com sérias dificuldades em vi-ver em sociedade e, na grande maioria dos casos, eles ficam assim por pura falta de opção”, comenta.Bruno, de apenas 19 anos, serve como exemplo para essa realidade. Ele traba-lha na carvoaria há quase cinco anos e nunca fre-quentou a escola. “Aqui, eu trabalhei com meu pai por um tempo e já faz uns dois anos que ele faleceu. Desde então, eu tento ajudar em casa. A gente tem vontade de estudar, mas é difícil conseguir tempo. Aqui a gente fica por necessidade, não tem outra opção. Lá fora todo mundo sabe que não tem oportunidade pra quem não tem estudo”, alega.

E essa situação não é no-vidade. No final dos anos 80, começaram a surgir denúncias sobre as con-dições de vida e trabalho nas carvoarias do Mato Grosso do Sul, bem como sobre a omissão do Esta-do em agir para comba-ter o problema. Esse fato resultou na abertura, em 1992, de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que visava apurar as denúncias e acionar os órgãos competentes para coibir a prática de traba-lho escravo e infantil em várias atividades. Com muita repercussão na mí-dia e pouco resultado na prática, o trabalho foi “deixado de lado” e têm voltado às manchetes com denúncias e declarações isoladas, contudo, sem a força de antes.

Carvoeiro revela o quanto é extenuante sua atividade

Foto: Mariana Coli

No estado de Mato Grosso do Sul muitas carvoarias clandestinas não pussuem autorização do Ministério do Meio Ambiente

4

folha guaicuru.indd 4 04/05/2011 17:00:19

folha GUAICURU

A vida de quem não vê nada além das cinzasRotina pesada de trabalho, condições precárias e distância da família fazem com

que trabalhadores de carvoarias se acondicionem à situação

Foto: Mariana Coli

No estado de Mato Grosso do Sul muitas carvoarias clandestinas não pussuem autorização do Ministério do Meio Ambiente

Problema que sempre volta

Mais recente, em 2008, um caso chamou a atenção. Carvoarias localizadas em municí-pios da região norte de Mato Grosso do Sul foram alvo da ação conjunta do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Essa ação teve como resultado o resgate de 23 pessoas. A fiscalização foi realizada entre os dias 21 e 26 de julho. Muitos carvoeiros foram en-contrados, em condição degradante, nas fazendas Morro Alto e Navalha, Camapuã e Santa Maria, no município de São Gabriel do Oeste.Na Fazenda Santa Maria, foram encontrados seis trabalhadores, entre eles, alguns mi-grantes dos Estados de Goiás e Minas Gerais.

Como viver feliz na terceira idade?

Por Gilza Lopes e Natália Gonçalves

Apesar de leis pontuais, as políticas públicas não garantem boa qualidade de vida a idosos, população

que tem crescido acentuadamente

A população da terceira idade vem crescendo no Brasil, mas o país não está preparado para este contingente e muita coisa terá que ser feita para dar con-dições de vida e conforto para os idosos. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE), daqui a 50 anos o Brasil será um país de velhos.Um dos maiores entraves enfren-tados pelos nossos “velhinhos” é o preconceito. Segundo a psicó-loga Ingrid Bergamo, as novas gerações não educam seus filhos para respeitar os mais velhos, e é comum vermos crianças e ado-lescentes se referindo a qual-quer pessoa com um pouco mais de idade, como simplesmente “velhos”.Mariana Lemos diz se sentir so-litária depois que o marido mor-reu. Apesar de ter 78 anos ela cuida da casa, faz compras, vai ao médico, mas a família a tem excluído dos eventos sociais.O Estatuto do Idoso criado em 2003 veio promover a partici-pação efetiva dos idosos na so-ciedade. Sancionado pelo presi-dente Luiz Inácio Lula da Silva, o Estatuto é formado por determi-

nações que se dividem no âmbito da saúde, transporte, cultura, lazer, atendimentos, trabalhos, habitação entre outros segmen-tos que envolvam os direitos per-manentes dos idosos brasileiros. Os idosos de Campo Grande con-quistaram o direito a vagas re-servadas para estacionamento no centro da Capital, sem a neces-sidade de pagamento da taxa de paquímetro. O direito só entrou em vigor em maio deste ano. “Hoje a vida para nós idosos é complicada, mas tenho muito apoio da minha família, eles não me tratam como se eu fosse um velho, acho que é por isso que ainda estou vivo, faço tudo que fazia antes, mas de uma forma mais moderada. Espero que para os meus filhos e netos a vida na terceira idade não seja assim”, conta o aposentado Luiz Fortu-nato.Cuidar da saúde e da alimenta-ção é uma das opções que jovens e adultos buscam para obter um envelhecimento duradouro e saudável. Como não se preocu-par com a terceira idade, já que todas as pessoas algum dia irão alcançá-la?

Jovenil e Vilma decidiram se casar na 3ª idade

Foto: Val Reiss

5

folha guaicuru.indd 5 04/05/2011 17:00:21

folha GUAICURU

Som da viola sul-mato-grossense

Por Amparim LakatosVal Reiss e Paulo Victor

é ouvido Brasil afora

Todos os olhares da mú-sica estão voltados para o Mato Grosso do Sul. O Es-tado é o mais novo palco da música sertaneja no país e, nos últimos anos, o estilo virou fenômeno, com a consolidação do “sertanejo universitário”. Diversas duplas de suces-so no Brasil sairam do Es-tado, como Maria Cecília e Rodolfo, Michel Teló, João Bosco e Vinícius, e o campeão de preferência nacional, o cantor de 19 anos, Luan Santana. Em meio a essa onda ser-taneja, Mato Grosso do Sul também brilhou, em 2010, com Munhoz e Ma-riano, dupla que ganhou o quadro Garagem do Faus-tão, concorrendo com dez mil candidatos de todo o país. Naturais de Cam-po Grande, Mato Grosso do Sul, “Rafael” Munhoz e “Ricardo” Mariano, po-pularmente conhecidos como “Munhoz” e “Maria-no”, conheceram-se ainda na infância, aos seis anos de idade. Não sonhavam

Foto: Adriano Reiss

Munhoz e Mariano, dupla vencedora do quadro Garagem do Faustão deste ano

se tornarem músicos. Um dia, fizeram uma apresen-tação no bar de um amigo. Algumas pessoas começa-ram a se aglomerar e a prestigiar o trabalho dos jovens que demonstravam talento ao interpretar canções sertanejas.Os dois começaram a to-car e cantar em “rodinhas de amigos”, festas fami-liares, onde obtiveram o reconhecimento popular, começando assim a se profissionalizar. Daí para a gravação do primeiro CD promocional foi um passo. “Como todo começo de qualquer trabalho, passa-mos por diversas dificul-dades, preconceitos, mas tocamos pra frente, pois o mais importante não é a chegada e sim o caminho percorrido, os obstáculos são todos válidos. Entre a nossa equipe sempre exis-tem os desentendimentos, mas nos acertamos logo, por isso nunca pensamos em desistir”, comenta a dupla. Os jovens, com pouco mais de 20 anos, já se apresen-

taram por todo o Estado, além de terem realizado shows em Mato Grosso, Pa-raná e São Paulo. Munhoz & Mariano já completaram quatro anos de formação da dupla e dois profissio-nalmente. Eles já deixa-ram sua marca entre os diversos estilos musicais. Hoje, contam com mais de dez fãs-clubes espalhados

no Brasil e possuem gran-des sucessos musicais no repertório.

Na mesma onda

Como Munhoz & Mariano, diversas duplas buscam destaque e aproveitam o momento que Mato Gros-so do Sul passa a ser reco-nhecido como um grande produtor de talentos. É o caso da dupla Oliveira e Cristiano, de Sidrolândia, a setenta quilômetros da capital. Apesar de estar ainda no início da carreira, a dupla conta que é muito fácil ser cantor sertanejo no Mato Grosso do Sul. “Você se re-úne com amigos, faz uma rodinha de tereré, alguém traz o violão e o som está feito. Todo mundo curte”, conta Cristiano. “Campo Grande é hoje o centro do sertanejo universitário. Antes era Goiânia e Minas, agora é aqui”.Com apenas dois anos e meio de dupla, Oliveira e Cristiano contam que buscam resgatar a moda de viola, mesclando com

o sertanejo universitário, ou seja, unindo o moder-no ao estilo de raiz tempo e, segundo eles, a junção tem dado muito certo. Enquanto o sucesso não vem, eles se juntam a um grande número de duplas sertanejas espalhadas por todo Estado, fazendo shows não só em Campo Grande, mas também no interior de São Paulo, Mi-nas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Goiânia. O mercado da música ser-taneja movimenta a eco-nomia do Estado, que hoje conta com seis estúdios de gravação. Como grande parte da economia campo--grandense gira em torno do agronegócio, isso leva muitas pessoas a ouvirem o sertanejo, que é uma música característica do interior. E esse “modismo” acabou saindo daqui para todo resto do Brasil. A in-ternet tem sido uma das grandes vitrines do ser-tanejo. Na rede mundial, as músicas viram sucesso, arrastando multidões para os shows.

Foto: Amparim Lakatos

Dupla Oliveira e Cristiano, de Sidrolândia, que busca destaque no meio sertanejo

6

folha guaicuru.indd 6 04/05/2011 17:00:23

folha GUAICURU

Policial feminina, entre a diferença e a igualdadePor Amparim Lakatos e Val Reiss

A atuação de mulheres na Polícia Militar de Mato Grosso do Sul começou há apenas 28 anos. No início, elas enfrentaram precon-ceito dos próprios colegas de profi ssão, mas logo fo-ram ganhando confi ança e ocupando um espaço que antes era restrito aos ho-mens. Hoje, elas atuam em ocorrências de rua, empunhando armas e fa-zendo perseguições.Temos atualmente, no Es-tado, 462 policiais do sexo feminino, entre PMS, Civis e Federais, o que repre-senta 8% do efetivo mas-culino. A profi ssão de po-licial feminina é mais uma conquista da mulher, em um campo ocupado antes exclusivamente por ho-mens.Para o cabo Anita Caput-ti, 46, do 10º Batalhão das Moreninhas, em Campo Grande, que entrou para a Polícia Militar a 26 anos, as mulheres eram discrimina-das pelos colegas, além de se alojarem em quartéis separados. Não podiam concorrer a cargos mais importantes no Comando, que eram ocupados exclu-sivamente pelos homens. “Não foi fácil, andei no caminho das pedras, mas hoje fi co feliz de ver que as policias femininas não enfrentam mais isso”, co-menta Anita.Mas nada disso fez essa mulher desistir do seu so-

nho. Criada na lavoura, no interior do estado, Ani-ta se inspirou ao ver uma policial feminina na rodo-viária da Capital. Fez um concurso, passou e foi a primeira mulher policial a atuar nas ruas e a coman-dar uma viatura em Cam-po Grande. Desempenha, há 11 anos, um trabalho no combate ao abuso se-xual de crianças e adoles-centes, esteve à frente do caso envolvendo vereado-res da cidade, entre ou-tros.Já a policial rodoviária fe-deral Adriana Infabralde, 39, que trabalha a seis anos na profi ssão, não en-frentou tantos preconcei-tos. ”Os mais jovens estão acostumados com a pre-sença da mulher inclusive no comando de algumas operações”, comenta a Adriana. O tratamen-to entre os sexos den-tro do treinamento na academia são iguais, respeitando a natu-reza de cada um em relação à força física.Além de se destacarem, as policias são menos vulneráveis à corrupção. Se-gundo a policial Infabralde, a mulher pen-sa uma, duas, várias vezes

antes de fazer alguma coi-sa. Pensa muito nos fi lhos, então, é bem mais difícil de fazer algo errado.As policiais têm um rit-mo de trabalho muito in-tenso, o que sacrifi ca o convívio com a família, “tenho duas fi lhas, a me-nor com quatro anos de idade, que precisa de uma atenção maior, então, te-nho que ter uma estrutura montada para ir trabalhar tranquila”, comenta a po-licial.De acordo com Adriana, os relacionamentos entre co-legas de profi ssão são co-muns. “Os policias passam muito tempo no trabalho, como em qualquer outro segmento de mercado acabam em casamento”, fi naliza a policial rodovi-ária.Seguindo os passos do pai militar, a capitã subco-mandante da Companhia de Trânsito de Campo Grande, Itamara Romeiro Nogueira, 34 anos, casada com um policial militar, está a 14 anos na corpo-ração da Polícia Militar e comanda a CIAPTRAN. “Mais de 50% do efetivo da companhia de trânsito é de mulheres e sinto-me a vontade”, comenta a capitã. Itamara é bacharel em

Segurança Pública e está cursando o quarto se-mestre de Le-tras, fez vários

cursos na área de trânsito e polícia

comunitária. “Não enfren-tei precon-ceitos, a farda im-põe res-

peito, es-tou feliz em

servir a cor-p o r a ç ã o ” ,

destaca a po-licial. Em seu traba-

lho, a capitã desenvolve projetos de educação de trânsito, como o Projeto Portas Abertas, no qual são ensinadas noções de trânsito para crianças, além do Projeto PARA-Pro-grama de Ação de Redução de Acidentes, que já atin-giu mais de oito mil pes-soas. As policiais vão para as salas de aulas, fazem blitz educativas e traba-lham com defi cientes. “A mulher, na sociedade, vem desenvolvendo um excelente trabalho dentro das várias profi ssões, al-cançando, inclusive, car-gos que exigem liderança. Antes, na polícia, o cargo máximo para uma mulher era de capitã, hoje chega até coronel, fi naliza Ita-mara.

Atribuições da presença das mulheres na PM

De acordo com Coronel Geral da Polícia Militar do Estado do Mato Gros-so do Sul, Carlos Alberto David dos Santos, o fator limitador da ampliação da presença das mulheres na polícia é o entendimento de que existem funções que são mais inerentes ao sexo masculino, como po-liciamento na fronteira e a guarda de presídios. Na PMMS, homens e mulheres compõem o mesmo qua-

Fotos: Amparim Lakatos

Cabo Anita Caputti, foi a primeira policial a atuar nasruas e comandar uma viatura na capital

sença da mulher inclusive no comando de algumas operações”, comenta a Adriana. O tratamen-to entre os sexos den-tro do treinamento na academia são iguais, respeitando a natu-reza de cada um em relação à força física.Além de se destacarem, as policias são menos vulneráveis à corrupção. Se-gundo a policial Infabralde, a mulher pen-sa uma, duas, várias vezes

Itamara é bacharel em Segurança Pública e

está cursando o quarto se-mestre de Le-tras, fez vários

cursos na área de trânsito e polícia

comunitária. “Não enfren-tei precon-ceitos, a farda im-põe res-

peito, es-tou feliz em

servir a cor-p o r a ç ã o ” ,

destaca a po-licial. Em seu traba-

Capitã subcomandante da Companhia de Trânsito de Campo Grande, Itamara Romeiro Nogueira

dro de acesso na carreira, assim, as mulheres estão empregadas em todas as funções da atividade poli-cial, as quais vem desem-penhando sem qualquer difi culdade e com muita habilidade.Quanto ao preconceito, David dos Santos acredita que provém de compa-nheiros de trabalho ou de subordinados homens que nem sempre gostam de ser comandados por mu-lheres. “Nesses 28 anos de inclusão das mulheres na PMMS, muita coisa já mu-dou e a cada dia que passa o preconceito vem sendo gradativamente supera-do”, ressalta o coronel. Como o quadro de acesso para homens e mulheres é único, a mulher pode chegar ao posto máximo (Coronel) como qualquer homem. No entanto, em Mato Grosso do Sul o cargo máximo foi o de Tenente--Coronel (penúltimo posto da carreira). Para o Coronel Geral, exis-tem pequenas diferenças em se trabalhar com ho-mens e mulheres. “Somos socializados de forma di-ferente, portanto, apren-demos desde criança a nos comportarmos diferentes. Mas do ponto de vista fun-cional, homens e mulheres podem ser igualmente de-dicados e competentes”, afi rma o coronel David.

7

folha guaicuru.indd 7 04/05/2011 17:00:23

folha GUAICURU

Um domingo que aproximou o Haiti de

Campo GrandeTexto e foto:Beatriz Cruz

Agosto de 2010, dia 15. Um domingo que aproxi-mou vidas de campo-gran-denses ao drama do país mais pobre das Américas, o Haiti que, no início do ano passado, acrescentou à sua miséria uma tragé-dia que resultou na morte de cerca de 120 mil pes-soas. O país, arrasado pelo ter-remoto de 7 graus na es-cala Richter, tornou-se – ainda mais – necessitado de ajudas humanitárias. Entre aqueles que se sen-tiram no dever de ajudar, estão militares e fuzileiros navais de Mato Grosso do Sul que, há sete meses, partiram para o Haiti. A despedida foi emocio-nante. Após o toque de silêncio, ouviu-se a solene “Canção do Expedicioná-rio”. Familiares e amigos dos militares tiveram seu momento de despedida com os heróis que voaram em direção a um sonho, um ideal, uma missão.Noventa militares brasi-leiros, sendo a maioria sul-mato-grossense, mar-charam rumo à aeronave KC 137 da Força Aérea

Brasileira que seguiu para Brasília onde embarcaram mais 16 homens, comple-tando o batalhão de 810 militares.Há os que se inscreveram para a missão por um ide-al; outros pelo dinheiro; alguns por sonho, outros para se humanizar, para entrar para a história e fazer a diferença em um país necessitado de toda ajuda possível. “Entrei para o Exército para realizar o sonho de ir para Haiti, pois sempre tive o desejo de ajudar pessoas vítimas de catás-trofes”, declarou o sar-gento Bruno Souza Cruz, 28 anos. A irmã dele, Lu-zia Helena Cruz, 41 anos, artesã, diz estar orgulhosa da coragem de Bruno, ca-çula da família. Mas, tam-bém se sente preocupada com a situação do país e do que possa acontecer a ele enquanto estiver no Haiti. “No começo, achei uma loucura, mas fui acostumando com a idéia e alegria de ser o sonho do meu irmão realizado pas-sou a ser a minha realiza-ção também”, diz Luzia.

Lídia de Lima Maymone, mulher do major Marcelo Maymone, 36 anos, falou emocionada, sobre a au-sência do marido, que já estava no Haiti. “Quando anoitece é o momento mais complicado, pois é a hora que as meninas che-gam do colégio e a hora em que o expediente aca-ba e ele volta pra casa. Sentir as horas passar e ver que ele não irá voltar nem hoje, nem amanhã e nem depois, só daqui a seis meses, parte o cora-ção”. A família Maymone diz para a caçula, Daniel-le Maymone, de 5 anos, que o pai dela vai para a Disney. Muito apegada ao pai, a menina pergunta constantemente quando ele volta da Disney. Mar-celle Maymone, 12 anos, filha mais velha do casal, diz sentir saudades e mui-to orgulho do pai. Lídia e as filhas acompa-nharam os seis meses de treinamento pré-viagem e os apoiou desde o início. Ela diz sentir como parte do grupo, como se ela es-tivesse em missão junto ao marido. Tudo pela paz!

Soldado segue para missão no Haiti e se despede da família

Aborto: problema de saúde pública?

Por Lilian Andréia, Marcos Brasil, Rayani Andrea e Pedro Barbosa

Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), meta-de das gestações é in-desejada e uma a cada nove mulheres recorre ao aborto. No Brasil, aproximadamente 1,44 milhão de abortos são realizados, ou seja, uma taxa de 3,7 mulheres em 100 já abortou. A gra-vidade da situação do abortamento também se reflete no SUS. Só em 2004, em torno de 243.988 mulheres foram internadas para fazer curetagem pós-aborto. A constituição brasileira só permite aborto caso haja risco de morte para a mulher, ou em caso de estupro. Mas a rea-lidade é outra. Muitas adolescentes recorrem ao aborto para se livrar de uma gravidez não de-sejada. É o que relata a enfermeira Simone Men-des Carvalho, em tese defendida na Fundação Oswaldo Cruz. De acor-do com o levantamento elaborado por Mendes Carvalho, as adoles-centes que engravidam indesejavelmente utili-zam ervas caseira ou re-correm a clínicas clan-destinas para abortar e, não raramente, rece-bem apoio da mãe para interromper a geração da criança.No Mato Grosso do Sul, a polêmica em torno da questão do aborto divi-de opiniões e provoca controvérsias. Para a bióloga L. D., que pre-fere não se identificar, o aborto deve ser legali-zado, pois muitas vezes a adolescente não está preparada para ser mãe e a gravidez acaba por interferir profundamen-te em sua vida. L. D. co-menta - “o que está em formação é apenas um amontoado de células.

A criança ainda não tem sistema nervoso, então, para mim, ainda não é “vida”. Pode ser feito, sim, um aborto”.A opinião de Gabriel Moreira Junior, bacha-rel em direito, é bem diferente. Ele concorda que o aborto seja rea-lizado, mas apenas em alguns casos como, por exemplo, quando ocorre o estupro. E comenta - “imagine a mulher criar um filho sabendo que ele foi resultado de uma violência? Toda vez que ela olhar para criança, vai se lembrar do estu-pro”.Para melhorar o aten-dimento aos casos de aborto espontâneo ou provocado, o Ministério da Saúde implantou o Projeto de Atendimento Humanizado, que tem realizado palestras vi-sando o esclarecimento do profissional da saúde quanto aos procedimen-tos que devem ser ado-tados nesses casos.Vale lembrar que a po-lêmica sobre o aborto não é recente. Na Idade Média, as princesas que engravidavam antes do casamento faziam abor-to com a ajuda da mãe ou de uma parteira para não envergonhar a famí-lia. No Brasil, as mulhe-res mais humildes, que já têm muitos filhos, utilizam o aborto como forma de interrupção da gravidez, sem terem consciência dos malefí-cios que o procedimen-to pode trazer para sua própria saúde. Um risco que, independente da classe social, pode ser evitado, bastando, para tanto, que as mulheres utilizem o anticoncep-cional ou outras formas de prevenção da gravi-dez indesejada.

8

folha guaicuru.indd 8 04/05/2011 17:00:24