folha do trabalhador # 19

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1 CONTATOS: [email protected] Caixa Postal 09, CEP 01031-970 - São Paulo, Brasil Jornal da Liga Comunista - ano IV - n o 19 - nov-dez/2013 Folha do Trabalhador A revolução proletária renascerá em proporções ainda mais gigantescas! Parece-nos que o problema central do RMG, manifesto na sua atitude para com a divisão na NUM [sigla em inglês para a União Nacional dos Mineiros da África do Sul] e sua relação polí- tica com a atual oposição dentro da COSATU [sigla em inglês para o Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos], é a sua atitude para com a questão da aristocra- cia operária, o imperialismo e sua incapacidade de orientar-se para lutar por um partido revolu- cionário no sentido trotskista, ou seja, como a seção sul africana do Partido Mundial da Revo- lução Socialista. Trotsky aponta a importância central da burocracia sindical para a manutenção do capitalis- mo. É claro que o revolucioná- rio russo fala apenas dos países imperialistas e das colônias. Mas para nós é evidente também que um poderoso movimento sindical surgiu em muitas semi -colônias avançadas nas últimas três décadas e esse já se tornou altamente burocratizado e sub- misso ao Estado capitalista, representando os interesses do imperialismo global. O centro deste processo na África do Sul é a aliança entre a COSATU, o CNA [Congresso Nacional Afri- cano, partido de Mandela e do atual presidente do país, Jacob Zuma] e o Partido Comunista da África do Sul, a “Aliança Tripar- tite”. Outro exemplo é o Partido dos Trabalhadores (Partido dos Trabalhadores) no Brasil, com sua central sindical, a CUT. Moção contra toda intervenção imperialista, apresentada na Conferência dos Comitês de Representação do Partido Trabalhista, pelo Socialist Fight britânico A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas sobreviveu por 74 anos durante o século XX, muito além dos 72 dias do primei- ro governo operário instaurado na capital francesa no século anterior. Com a derrota de Napoleão para os exércitos da reacionária Santa Aliança em Waterloo em 1814, também se concluiu em derrota um ciclo de expansão para a Eu- ropa das vitórias da revolução bur- guesa francesa sobre o absolutis- mo feudal, derrotado em 1879. ESPECIAL - 96 ANOS DA REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUE CARTA AOS LEITORES Outras jornadas de junho virão, preparemos um novo outubro! E m janeiro de 2013, o gover- no federal fez um apelo para governadores e prefeitos para que retardassem o aumento dos transportes coletivos. A medida apenas conseguiu adiar de janeiro para junho a maior onda de protestos populares dos últimos 20 anos. Todavia, o cenário do início de 2014 não tende a ser mais tranquilo pelo fato de que para conter a inflação com as ferramentas da política mone- tarista que utiliza, o governo Dilma vem elevando a taxa de juros, o que provoca como consequência imediata o aumento do desemprego por meses consecutivos, apenas atenuado pelas contratações temporárias do final de 2013. Passado final de ano, consu- mido o breve 13 o , a população terá que encarar novamente os gastos de início de ano (IPVA, matrículas escolares, IPTU), somados as dívidas acumuladas e provavelmente com um desemprego maior que no janeiro anteior, além do provável aumento dos combustíveis, que provoca um efeito em cascata sobre vários outros preços. " Uma vez fomos pessoas que vi- viam num grande país, onde nin- guém descriminava quem era russo de quem não era russo. Todos tinham suficiente sol e pão. Todos eram soviéticos. Não sentem nostalgia pela União Soviética aqueles que tiveram tempo para roubar na chamada per- estroika e se bronzear nas Ilhas Canárias e em Cour- chevel. Mas, inclusive estes, provavelmente também não vivam em paz hoje. Hoje em dia estão nas Ilhas Canárias, e no futuro talvez em um beliche. Íamos tranquilos para a cama e tranquilamente despertáva- mos pela manhã, sabendo que no dia de amanhã ha- veria trabalho, que no dia 10 do mês receberíamos o pagamento e no dia 25 um adiantamento de salário. Não tive que pagar por escola e a universidade, porém recebemos uma boa educação, com a qual podíamos encon- trar facilmente trabalho até no estrangeiro. Nos curavam gratuitamente. Em julho de 2010, minha prima morreu de câncer. Era pensionista, não pode obter 30.000 rublos para uma operação... Aí estão os encantos do rico capitalis- mo! Quem foi à luta, arrancou reajuste maior do que a média! “Na URSS, todos tínhamos sol e pão. Todos eram soviéticos” ABAIXO AO HORÁRIO DE VERÃO! Economia de energia duvidosa, lucrativo para os patrões e mais sufoco para a população trabalhadora Pagina 5 Por um jornal a serviço dos interesses históricos da classe trabalhadora Os governos jus- tificam a adoção do horário de verão em nome da economia de energia. Nos quatro meses deste regime, os lucros da indústria e do comérico são turbinados. Mas para a classe trabalhadora a mudança de horá- rio é profundamente danosa, os prejuízos que ela causa para o sono, ou seja, para a reposição das energias aos trabalhadores can- sados pode ser fatal, desde o aumento de acidentes de trabalho e de carro, passan- do por mais ataques cardíacos,mais câncer de pele. Mas mesmose tudo isto não ocorrer, no horário de verão as pessoas se sentem com sensação de can- saço e sono durante o dia e insônia à noite aumenta a irritabili- dade, a agressividade, a confusão mental, e com a queda da imu- nidade biológica e do rendimento em prati- camente todas as ati- vidades – tudo como conseqüência da al- teração do “relógio biológico” a que estão submetidas todas as pessoas.” Unificar a categoria e a oposição contra toda a direção traidora Retomar os sindicatos para os educadores e lutar pela conquista das nossas reivindicações R$ 1 - contribuição solidária R$ 5 lcligacomunista.blogspot.com.br DEFENSISMO REVOLUCIONÁRIO 1991: Frente Única em a defesa da URSS BALANÇO DA CAMPANHA SALARIAL DOS METALÚRGICOS DE CAMPINAS CONGRESSO DA APEOESP SÍRIA IV INTERNACIONAL O Bolchevique, do russo Boris Kustodiev, 1920 A chave da atual conjuntura política se explica antes de tudo pelas tendências econômicas ARGENTINA LUTA PELO TRANSPORTE TREMSALÃO tucano • Em defesa dos Black Blocs, liberdade para os presos políticos! • Amanda Gurgel/ PSTU: Em defesa da “Casa do Povo” contra a luta do povo ÁFRICA DO SUL A unidade sindical e a luta por um partido revolucionário O que é o CLQI, o Comitê de Ligação pela IV Internacional PARA REFLEXÃO DAS NOVAS GERAÇÕES DE LUTADORES Sem partido, sem centra- lização política da ação revolucionária, não há revolução Ofensiva reacionária com a colaboração de Dilma e do PT PRISÃO DOS “MENSALEIROS” Um bom ano de nucleação da LC em importantes categorias na capital da luta de classes do Brasil RETROSPECTIVA 2013 DA LC PARA ENTENDER: O que foi a revolução bolchevique? Porque “Bolchevique” O que eram os sovietes? Por que foram burocratizados e derrotados os Estados operários?

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Jornal da Liga Comunista

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Page 1: Folha do Trabalhador # 19

FdT 19 - nov/ 2013 1

CONTATOS:

[email protected] Caixa Postal 09, CEP 01031-970 - São Paulo, Brasil

J o r n a l d a L i g a C o m u n i s t a - a n o I V - n o1 9 - n o v - d e z / 2 0 1 3Folha do Trabalhador

A revolução proletária renascerá em proporções ainda mais gigantescas!

Parece-nos que o problema central do RMG, manifesto na sua atitude para com a divisão na NUM [sigla em inglês para a União Nacional dos Mineiros da África do Sul] e sua relação polí-tica com a atual oposição dentro da COSATU [sigla em inglês para o Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos], é a sua atitude para com a questão da aristocra-

cia operária, o imperialismo e sua incapacidade de orientar-se para lutar por um partido revolu-cionário no sentido trotskista, ou seja, como a seção sul africana do Partido Mundial da Revo-lução Socialista.

Trotsky aponta a importância central da burocracia sindical para a manutenção do capitalis-mo. É claro que o revolucioná-

rio russo fala apenas dos países imperialistas e das colônias. Mas para nós é evidente também que um poderoso movimento sindical surgiu em muitas semi -colônias avançadas nas últimas três décadas e esse já se tornou altamente burocratizado e sub-misso ao Estado capitalista, representando os interesses do imperialismo global. O centro

deste processo na África do Sul é a aliança entre a COSATU, o CNA [Congresso Nacional Afri-cano, partido de Mandela e do atual presidente do país, Jacob Zuma] e o Partido Comunista da África do Sul, a “Aliança Tripar-tite”. Outro exemplo é o Partido dos Trabalhadores (Partido dos Trabalhadores) no Brasil, com sua central sindical, a CUT.

Moção contra toda intervenção imperialista, apresentada na Conferência dos Comitês de Representação do Partido Trabalhista, pelo Socialist Fight britânico

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas sobreviveu por 74 anos durante o século XX,

muito além dos 72 dias do primei-ro governo operário instaurado na capital francesa no século anterior. Com a derrota de Napoleão para os exércitos da reacionária Santa Aliança em Waterloo em 1814, também se concluiu em derrota um ciclo de expansão para a Eu-ropa das vitórias da revolução bur-guesa francesa sobre o absolutis-mo feudal, derrotado em 1879.

ESPECIAL - 96 ANOS DA REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUECARTA AOS LEITORES

Outras jornadas de junho virão, preparemos um novo outubro!

Em janeiro de 2013, o gover-no federal fez um apelo para governadores e prefeitos para que retardassem o

aumento dos transportes coletivos. A medida apenas conseguiu adiar de janeiro para junho a maior onda de protestos populares dos últimos 20 anos. Todavia, o cenário do início de 2014 não tende a ser mais tranquilo pelo fato de que para conter a inflação com as ferramentas da política mone-tarista que utiliza, o governo Dilma vem elevando a taxa de juros, o que provoca como consequência imediata o aumento do desemprego por meses consecutivos, apenas atenuado pelas contratações temporárias do final de 2013. Passado final de ano, consu-mido o breve 13o, a população terá que encarar novamente os gastos de início de ano (IPVA, matrículas escolares, IPTU), somados as dívidas acumuladas e provavelmente com um desemprego maior que no janeiro anteior, além do provável aumento dos combustíveis, que provoca um efeito em cascata sobre vários outros preços.

"Uma vez fomos pessoas que vi-viam num grande país, onde nin-

guém descriminava quem era russo de quem não era russo. Todos tinham suficiente sol e pão. Todos eram soviéticos.Não sentem nostalgia pela União Soviética aqueles

que tiveram tempo para roubar na chamada per-estroika e se bronzear nas Ilhas Canárias e em Cour-chevel. Mas, inclusive estes, provavelmente também não vivam em paz hoje. Hoje em dia estão nas Ilhas Canárias, e no futuro talvez em um beliche. Íamos tranquilos para a cama e

tranquilamente despertáva-mos pela manhã, sabendo que no dia de amanhã ha-veria trabalho, que no dia 10 do mês receberíamos o pagamento e no dia 25 um adiantamento de salário.Não tive que pagar por escola e a universidade, porém recebemos uma boa educação, com a

qual podíamos encon-trar facilmente trabalho até no estrangeiro. Nos curavam gratuitamente. Em julho de 2010, minha prima morreu de câncer. Era pensionista, não pode obter 30.000 rublos para uma operação... Aí estão os encantos do rico capitalis-mo!

Quem foi à luta, arrancou reajuste maior do que a média!

“Na URSS, todos tínhamos sol e pão. Todos eram soviéticos”

ABAIXO AO HORÁRIO DE VERÃO!

Economia de energia duvidosa, lucrativo para os patrões e mais sufoco para a população trabalhadora

Pagina 5

Por um jornal a serviço dos interesses históricos da classe trabalhadora

Os governos jus-tificam a adoção do horário de verão em nome da economia de energia. Nos quatro meses deste regime, os lucros da indústria e do comérico são turbinados. Mas para a classe trabalhadora a mudança de horá-rio é profundamente danosa, os prejuízos que ela causa para o sono, ou seja, para a

reposição das energias aos trabalhadores can-sados pode ser fatal, desde o aumento de acidentes de trabalho e de carro, passan-do por mais ataques cardíacos,mais câncer de pele. Mas mesmose tudo isto não ocorrer, no horário de verão as pessoas se sentem com sensação de can-saço e sono durante o dia e insônia à noite

aumenta a irritabili-dade, a agressividade, a confusão mental, e com a queda da imu-nidade biológica e do rendimento em prati-camente todas as ati-vidades – tudo como conseqüência da al-teração do “relógio biológico” a que estão submetidas todas as pessoas.”

Unificar a categoria e a oposição contra toda a direção traidora Retomar os sindicatos para oseducadores e lutar pela conquista

das nossas reivindicações

R$ 1 - con t r ibu ição so l idár ia R$ 5 l c l i g a c o m u n i s t a . b l o g s p o t . c o m . b r

DEFENSISMOREVOLUCIONÁRIO1991: Frente Única em a defesa da URSS

BALANÇO DA CAMPANHA SALARIAL DOS METALÚRGICOS DE CAMPINAS

CONGRESSO DA APEOESP

SÍRIA

IV INTERNACIONAL

O Bolchevique, do russo Boris Kustodiev, 1920

A chave da atual conjuntura política se explica antes de tudo pelas tendências econômicas

ARGENTINA

LUTA PELO TRANSPORTE

TREMSALÃO tucano • Em defesa dos Black Blocs, liberdade para os presos políticos! • Amanda Gurgel/PSTU: Em defesa da “Casa do Povo” contra a luta do povo

ÁFRICA DO SULA unidade sindical e a luta por um partido revolucionário

O que é o CLQI, o Comitê de Ligação pela IV Internacional

PARA REFLEXÃO DAS NOVAS GERAÇÕES DE LUTADORESSem partido, sem centra-lização política da ação revolucionária, não há revoluçãoOfensiva reacionária

com a colaboração de Dilma e do PT

PRISÃO DOS “MENSALEIROS”

Um bom ano de nucleação da LC em importantes categorias na capital da luta de classes do Brasil

RETROSPECTIVA 2013 DA LC

PARA ENTENDER:

O que foi a revolução bolchevique?Porque “Bolchevique”O que eram os sovietes?Por que foram burocratizados e derrotados os Estados operários?

Page 2: Folha do Trabalhador # 19

2 FdT 19 - nov/ 2013

CARTA AOS LEITORES

Folha do Trabalhador Jornal da Liga ComunistaAno IV - NO19 - novembro de 2013

COMITÊ DE REDAÇÃO: Ismael Costa, Erwin Wolf, Alice Ribeiro, Marcelo Calasans, Davi Lapa. Jornalista Responsável: Humberto Rodrigues. As opiniões expressas nos artigos assinados ou nas correspondências não expressam necessariamente o ponto de vista da redação. CONTATOS: lcli-gacomunista.blogspot.com - [email protected] - Caixa Postal 09 CEP 01031-970 São Paulo/SP - Brasil. A Liga Comunista é membro do Comitê de Ligação pela IV Internacional (CLQI) juntamente com o Socialist Fight (Grã Bretanha) e a Tendencia Militante Bolchevique (Argentina).

Outras jornadas de junho virão, preparemos um novo outubro!

A experiência da luta de classes tem demonstrado que os trabalhadores só conquistarão de forma definitiva uma vida melhor, livre de toda exploração e opres-são, se derrotarem o capitalista, substi-tuindo tal sistema mundial de exploração pelo socialismo em todo o planeta. Essa libertação será obra da luta dos próprios trabalhadores organizados em um partido político também mundial. O caráter inter-nacional da classe operária lhe permite potencialmente uma superioridade enor-me sobre a burguesia cujos interesses nacionais e métodos anárquicos criam constantemente conflitos econômicos, cri-ses e guerras.

O CLQI é um agrupamento interna-

cional que busca resgatar as melhores tradições do movimento operário e da luta pelo socialismo em todo mundo para dar continuidade na tarefa de emancipação da classe operária. Para isso, o CLQI se apoia na união fraterna de seus agrupa-mentos para além das fronteiras nacio-nais ,defendendo os interesses de nossa classe nas lutas do dia a dia e tendo como norte estratégico a construção de uma sociedade livre da exploração do trabalho humano.

PORQUE “IV INTERNACIONAL”?

Desde o século XIX houve três ten-tativas de construção do partido mundial da revolução socialista. A primeira foi

dissolvida pelos anarquistas. A segunda tentativa foi destruída pelo imperialismo na primeira guerra mundial. A terceira foi uma expressão genuína da primeira revo-lução social vitoriosa dos trabalhadores, a revolução bolchevique de outubro de 1917. Da III Internacional nós revindica-mos as resoluções de seus IV primeiros Congressos. Mas, sob a pressão do cerco mundial imperialista, a III se degenerou e se burocratizou.

Por isso foi necessário a criação da IV Internacional, que teve como principal representante o dirigente da revolução russa Leon Trotsky que fundou a IV Inter-nacional, o Partido Mundial da Revolução Socialista em 1938. Ela nasceu contra a ditadura do capital e também contra a dita-

dura da bu-rocracia sta-linista que se apropriou da União Sovié-tica.

A IV In-ternacional se opôs a b a r b á r i e das guerras

imperialistas e a opressão dos povos co-lonizados. Por isso seus militantes foram perseguidos e executados, incluindo o próprio Trotsky e seus mais abnegados colaboradores pelo stalinismo e pelo na-zismo. Sua segunda geração, mais débil, influenciada socialmente pela pequena burguesia, degenerou e destruiu politica-mente a internacional, adotando uma polí-tica oportunista em relação ao stalinismo, ao nacionalismo burguês e ao final capitu-lou ao próprio imperialismo.

Exemplos evidentes desta capitulação é a posição do conjunto das organizações políticas que se dizem trotskistas em re-lação a ofensiva imperialista contra a Líbia e agora sobre Síria e Cuba. Ainda que defendamos a revolução social proletária na Síria e uma revolução política no Es-tado operário construído na pequena ilha cubana, a principal tarefa destas duas re-voluções hoje é combater o imperialismo e seus agentes internos através da tática de uma frente única antiimperialista.

O CLQI é composto hoje pela Liga Comunista do Brasil, a Tendência Militan-te Bolchevique da Argentina e o Socialist Fight da Inglaterra.

O que é o Comitê de Ligação pela IV Internacional

Em janeiro de 2013, o governo fede-ral fez um apelo para governadores e prefeitos para que retardassem o aumento dos transportes coletivos.

A medida apenas conseguiu adiar de janeiro para junho a maior onda de manifestações populares no país dos últimos 20 anos. E o cenário do início de 2014 não tende a ser mais tranquilo pelo fato de que para conter a inflação com as ferramentas da política monetarista que utiliza, o governo Dilma vem elevando a taxa de juros, o que provoca como consequência imediata o aumento do desem-prego por seis meses consecutivos, apenas atenuado pelas contratações temporárias de final de ano. Passado 2013, consumido o breve 13o, a população terá que encarar novamente as contas de início de ano (IPVA, matrículas escolares, IPTU), somados as dívidas acumuladas e provavelmente com um desemprego maior que no janeiro anteior, além do provável aumento dos combustíveis, que provoca um efeito em cascata sobre vários outros preços.

A principAl conquistA políticA dAs jornAdAs de junho, e que vem alimentando praticamente todas as manifestações desde então, foi a descoberta pelas amplas massa que a luta de rua pode conseguir o que os go-vernantes dizem ser impossível de conceder,

no caso, a redução dos 20 centavos. É bem verdade que os governos e patrões vem to-mando com a mão direita, o que foram obri-gados a conceder, em junho, com a esquerda. Por exemplo, a redução e fusão das linhas de ônibus, aumento do IPTU, etc. Mas, como em toda vitória no capitalismo essa também é passível de ser deformada e perdida em meios aos fluxos e refluxos da luta de classes.

Frente aos protestos populares, Dilma, go-vernadores e prefeitos tratam a questão social como caso de polícia, por isso temos a polícia mais assassina do mundo contra a população trabalhadora, que mata 5 por dia, 1.850 por ano e desaparece com 18 Amarildos por mês.

Durona com os “de baixo”, o governo federal cede mais ainda aos apetites vorazes dos “de cima”, aumenta os juros, multiplica a dívida pública, entrega ao imperialismo as riquezas do país, privatizando o petróleo, o Banco do Brasil, e “corta na carne” entre-gando sem qualquer resistência dois dos principais dirigentes históricos do PT para a execração pública e prisão. O importante é garantir a reeleição de Dilma, com o que to-dos os caciques petistas se beneficiam menos os presos, assegurando a transição para outro núcleo burguês em 2018, provavelmente conduzido por Joaquim Barbosa, Eduardo Campos ou Marina Silva.

A espontaneidade das lutas, onde, no primeiro momento reside sua força, livrando-as da camisa de força das direções oportu-nistas do PT, PCdoB, PSOL e PSTU, em um segundo momento, converte-se em seu maior perigo, deixando-se infiltrar e manipular pela reação ou simplesmente refluem, quando não são meramente traídos como nas greves da Apeoesp, Simpeem, Sepe/RJ e USP. Embora alguns protestos causem pequenos danos materiais a odiadas instituições do capital, as manifestações sem greves, paralisações por local de trabalho e estudo (a exceção foram as greves de professores dos principais estados e capitais), ou seja, sem os métodos de luta e sem a estratégia de poder dos trabalhado-res organizados não alteram a correlação de forças entre as classes. Por isso, sob a direção dos pesos pesados da burocracia sindical, os setores mais importantes da classe operária, que realizam campanhas salariais no segun-do semestre, foram contidos com reajustes miseráveis em torno de 8%. Os operários que obtiveram algo acima disto, como relatamos nesta edição do FdT, no balanço da campanha salarial dos metalurgicos de Campinas, foi devido a uma movimentação política também acima da média e por iniciativa política dos trabalhadores de algumas fábricas.

Como nos ensinou Marx, nas batalhas

contra o capital, o verdadeiro triunfo está menos no sucesso imediato do que na cres-cente união dos trabalhadores. O cenário do início de 2014 aponta para um ano ainda mais convulsivo que 2013, ainda mais se além de endividados e desempregados, os trabalhadores forem submetidos aos despe-jos em massa e a ditadura da Fifa. Para as novas jornadas de lutas precisamos acumular força, experiência e organização, organização nos locais de trabalho e estudo, sem a qual continuaremos sendo enganados pelo aparato sindical e pelos partidos oportunistas, sem a qual não conquistaremos o atendimento de nossas reivindicações mais imediatas como o passe livre ou o aumento geral de salários e menos ainda nossos interesses estratégicos. Em resmo, é preciso aprender com a luta de classes o que faltou às jornadas de junho para que a luta adeuirisse a dimensão de uma nova revolução de outubro.

Infelizmente, todo o descontentamento e re-volta da população não pode ser potencializado pela ausência de um partido da classe operária, motivo pelo qual chamamos aos companheiros a ingressarem na Liga Comunista, para juntos realizarmos essa tarefa de construção do partido operário comunista marxista revolucionário, seção brasileira do Comitê de Ligação pela IV Internacional.

Erwin Wolf

Importantes dirigentes do Partido dos Trabalhadores e do primeiro go-verno Lula foram processados, con-denados por corrupção e presos, no dia 15 de novembro. O problema não está no fato de Genoíno, Dirceu, De-lúbio e Cia serem inocentes. Eles são corruptos, não “porque todo poder co-rrompe”, mas porque todos os gestores dos negócios da burguesia são corrup-tos por natureza, eles governam para atender aos interesses deste ou daquele grupo patronal e, no atacado, de toda a classe exploradora. Na verdade, para os trabalhadores, a corrupção não é o principal problema do capitalismo. A corrupção é uma chaga relativamente pequena frente a brutal exploração pa-tronal.

Maluf, Sarney, Fernando Henrique, Alckmin, gatunos de muito maior qui-late nunca foram presos e nem serão pela justiça dos ricos. Os dirigentes do PT foram presos pelo que, indepen-dente de seus objetivos políticos opor-tunistas, representaram para as grandes massas no passado, a defesa da organi-zação dos trabalhadores como partido para disputar o poder político contra a burguesia. Por isso, consideramos que estes corruptos não foram presos por serem corruptos, mas porque são pre-sos políticos da burguesia. São reféns da luta política interburguesa utiliza-dos agora para barganhar com o PT a transição política que não conseguem conquistar pela via eleitoral burguesa tradicional. Como dizíamos há um ano,

“Derrotada nas urnas a oposição bur-guesa apela para o artifício reacio-nário da “judicialização da política” e para setores do poder estatal não submetidos ao sufrágio universal, o judiciário e a polícia federal, aparatos coercitivo e repressivo que integram o Estado e transcendem os governos.” (Blog da Liga Comunista, 29/12/2012)

Quanto aos demais processados na Ação Penal 470, foram presos por mera cumplicidade e para dar aparêcia de le-gitimidade ao processo viciado.

A ordem de prisão partiu do Presi-dente do Supremo Tribunal Federal, o ultra-reacionário Ministro Joaquim Barbosa, ícone maior da direita bra-sileira na atualidade, que está à frente da Corte brasileira de triste memória, a mesma que deportou Olga Benário, militante comunista, mulher de Luiz Carlos Prestes, por ordem do Chefe de Polícia de Getúlio no Rio de Janeiro, capital federal na época, Filinto Müller.

O Presidente do STF aproveita a oportunidade para se projetar como um out-sider da reação, uma vez que elei-toralmente os setores mais retrógrados da sociedade brasileira, a burguesia oposicionista ligada ao PSDB de Aé-cio Neves, envolvido no escândalo do “tremsalão”, e à REDE de Marina Silva, têm poucas chances eleitorais contra Dilma, como demonstram as pesquisas eleitorais, que dão como cer-ta a reeleição da petista.

O objetivo de Joaquim Barbosa é se cacifar perante a burguesia como al-ternativa para 2018, por ser de origem humilde, negro, ter vindo de baixo, um

espécie de “Obama brasileiro”.Afim de assegurar uma reeleição

tranquila em 2014, setores do próprio PT foram cúmplices da antecipação das prisões. A Ministra Gleisi Hoff-mann, da Casa Civil, e a própria Presi-dente Dilma Roussef, que, conforme a jornalista Mônica Bergamo, em sua co-luna na “Na sala com Janot” escreveu: “O pedido de prisão dos réus do men-salão, nesta semana, foi precedido de um encontro entre a ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e de Luis Adams, advogado-geral da União, com Rodrigo Janot, procurador-geral da República. Um dia depois, Janot assinou a solicitação encaminhando ao STF (Supremo Tribunal Fede-ral) pedindo a detenção imediata dos condenados (...) A reunião chegou ao conhecimento de José Dirceu e dos deputados José Genoino e João Paulo Cunha, do PT, e se espalhou pelo par-tido. Foi interpretada como um envol-vimento do próprio governo de Dilma Rousseff com a iniciativa, que surpre-endeu a legenda e também os conde-nados. No mínimo, dizem, o governo foi informado com antecedência. (...). A interpretação de dirigentes do PT e de outros partidos é que a prisão dos réus agora favorece Dilma. Na cam-panha eleitoral, o impacto da medida já estaria amenizado pelo tempo. E ela não teria que responder a acusações de que seu governo se esforçava para garantir a ‘impunidade’ dos petistas.” (Folha de S. Paulo, 15/11/2013).

A prisão dos mensaleiros também foi aplaudida vergonhosamente pelo

PSOL e do PSTU, que alimentam ilusões que o STF burguês comprome-tido até o tutano com a reação burgue-sa faça uma devassa completa contra a corrupção, tratam de surfar na campan-ha despolitizada e reacionária contra a corrupção apoiando a justiça dos ricos.

O dia 15 de novembro foi um marco do início de uma transição na cúpula do Executivo burguês a ser consumada em 2018. foi a principal medida da “judi-cialização da política”, que faz parte da mesma ofensiva reacionária da “cri-minalização dos movimentos sociais”. Veremos como a

Por tudo isso, defendemos a ANU-LAÇÃO DA AP 470 e a LIBER-TAÇÃO DE TODOS OS PRESOS POLÍTICOS.

“FHC, Lula e Dilma, bem como os seus séquitos precisam ser duramen-te julgados pelos trabalhadores não apenas pelos crimes ilegais segundo as leis burguesas mas também pelos crimes lícitos da ditadura do capital contra a nossa classe. Nenhum tribu-nal de nossos inimigos irá condená-los pelo que nos fazem. É somente su-perando suas ilusões nas instituições burguesas que as massas conquistam sua independência política e ideoló-gica de todas as frações burguesas, avançam na luta para impor a justiça da classe trabalhadora e construir uma oposição operária e revolucio-nária ao governo Dilma, Alckmin e ao conjunto de seus pares estaduais e municipais de todos os poderes do Estado capitalista.” (Blog da Liga Co-munista, 29/12/2012)

Ofensiva reacionária com a colaboração de Dilma e do PTPRISÃO DOS “MENSALEIROS”

Antonio Jr., o Carioca, metalúrgico, cipeiro e

militante da LC

Ao finalizar o ano de 2013, a Liga Comunista se dirige aos seus militantes, simpatizantes e leitores do Jornal Folha do Tra-balhador reafirmando o empen-ho e a disposição militante para a construção de uma verdadeira organização trotskysta no inte-rior do movimento operário e de trabalhadores.

Nesse ano, realizamos a I Conferência da Liga Comunista, rompemos com qualquer resquí-cio de virtualismo e de pilantra-gem na internet, muito comum as seitas virtuais que se proliferam hoje.

Damos um combate de classe a direita desse país, mas, tam-bém, aos traidores da causa co-munista e os falsos partidos que se reafirmam de esquerda, revo-lucionários e etc.

Desde 2010, após a ruptura com o virtualismo regionalista, formamos uma organização que atua no movimento dos metalúr-gicos do Estado de São Paulo, nos Bancários, Professores e tra-balhadores da saúde estadual.

Fomos parte ativa da luta nas campanhas salariais dos meta-lúrgicos, bancários, na greve dos professores de SP e na luta contra a privatização do Hospital dos servidores Paulista, Iamsp.

Nesse ano, participamos de todos os congressos das nossas categorias, com destaque para metalúrgicos e professores.

Em bancários, estivemos na linha de frente da greve bancária.

A força de nossa pequena mili-tância, a determinação de nossos quadros, faz com que em 2014 possamos intervir fortemente no cenário político nacional.

Venha construir a Liga Comu-nista!

RETROSPECTIVA DA LC 2013

Um bom ano para a LC, de nucleação em importantes categorias no centro da luta de classes do Brasil

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FdT 19 - nov/ 2013 3

Erwin Wolf

Ao analisar documentos da Siemens, empresa integrante do cartel que drenou recursos do Metrô e trens de São Paulo, o Cade e o Ministério Público concluí-ram que os cofres paulistas foram lesa-dos em pelo menos R$ 425 milhões.

O PSDB que detém o poder desde a ditadura militar, quando era PMDB, há quase quarenta anos, encontra-se acua-do pelo escândalo do “tremsalão”. Ao contrário do discurso do Governado Ge-raldo Alckmin que disse pela imprensa e no programa do PSDB no rádio e na televisão de que “o Estado era vítima”, que “seria rigoroso na apuração”, que esta seria “exemplar”, a Procuradoria Geral do Estado de São Paulo ao ajui-zar ação apenas contra uma empresa do Cartel (Alstom, Bombardier, CAF, Sie-mens, TTrans e Mitsui), a multinacional alemã “Siemens”, além de inovar em termos jurídicos, criando “cartel de uma empresa só”, ou uma “quadrilha de uma pessoa só”, que até virou chacota nos meios jurídicos, confirmou também que o Governo do Estado está de rabo pre-so com as demais empresas do Cartel, o que explica a atuação subserviente da Procuradoria Geral do Estado, desmen-tindo na prática a eventual preocupação de ressarcimento do erário, ao não co-locar no polo passivo da ação todas as empresas.

Este desvio de verba cria mais obs-táculos para a ampliação da malha do metrô paulista, obra vital para atenuar o

martírio da população paulistana, con-denada a passar em média três horas por dia detida no trânsito (o que resulta em um mês de vida perdida por ano!).

Dividido internamente, tendo que enfrentar a concorrência de Eduardo Campos e Marina, com o mensalão mi-neiro no prelo e com este tremsalão, o PSDB encontra-se muito fragilizado para se constituir como alternativa ao PT no governo federal, conforme a al-ternância de poder da democracia bur-guesa dos ricos, ou seja, a ditadura do capital, bem como corre o risco de per-der os governos estaduais, seus últimos redutos.

A tucanalha é responsável por

décadas de desvio de dinheiro do metrô, mantendo a extensão do mesmo medíocre se comparada a de outras grandes cidades do mundo. Este roubo é o que nos obriga a pagar caras passagens para sermos imprensados como sardinha em lata, por horas seguidas, para ir e voltar do trabalho e quando nos manifestamos reivindicando o pleno direito ao transporte público e gratuito que significa lutar por passe livre, ainda somos brutalmente atacados pelo aparato policial tucano. Só a unidade dos trabalhadores com a juventude estudantil pode dar um basta a esta opressão e exploração, lutando pela estatização de todo o transporte coletivo, hoje controlado pelas quadrilhas e

cartéis, sob o controle dos trabalhadores do transporte e do conjunto da massa usuária.

Tremsalão: quadrilha tucana desvia milhões de reais do metrô

Erwin Wolf e Marcelo Calasans

A conquista do direito de ir e vir, da mobilidade ur-bana, do passe livre estão indissoluvelmente ligados ao controle dos meios de transporte. Por isso, uma política consequente pelo passe livre condiciona-se a luta pela estatização dos transportes coletivos contra os interes-ses dos patrões e dos governos que os representam. No entanto, em seu curso de integração ao regime patronal, o PSTU faz demagogia em torno do passe livre sem ferir as “regras do jogo” burguês, sem lutar pela esta-tização dos transportes sob controle dos trabalhadores, nem fazer manifestações que contrariem a lei e a or-dem burguesas. Nas últimas eleições, pontuamos que o cretinismo eleitoral do PSTU para eleger candidatos a veradores em Belém do Pará e Natal, no Rio Grande do Norte a qualquer custo representava um rito de passa-gem deste partido para uma política abertamente opor-tunista contra os trabalhadores. Dito e feito, a eleição de dois vereadores do PSTU consolidou o giro reacionário deste partido.

No auge da perseguição policial aos Black Bolcs no Rio de Janeiro, o principal dirigente do PSTU, Zé Ma-ria, atacou aos Black Blocs (BBs), reivindicou que os

professores em greve isolassem e votassem uma moção de repúdio aos BBs. Todavia, apesar do sindicato dos professores ser co-dirigido pelo PSTU, o tiro saiu pela culatra e as assembleias docentes votaram moções de solidariedade aos Black Blocs. Zé Maria fez um enver-gonhado pedido de desculpas.

Poucos dias depois, quando a juventude potiguar, defensora do passe livre, revoltou-se contra a Câmara de Vereadores de Natal que apenas queria fazer dema-gogia com o passe livre, a vereadora do PSTU condenou os manifestantes e defendeu o parlamento municipal.

A atitude da Amanda Gurgel lembra o mesmo posi-cionamento de Heloísa Helena (HH) quando o Movi-mento de Libertação dos Sem Terra (MLST), liderado por Bruno Maranhão, invadiu o Congresso Nacional em junho de 2006. Naquela oportunidade a Senadora saiu em “defesa da instituição”, do Congresso Nacional, eufemisticamente chamado de a “casa do povo”, contra o povo em luta, atacando o movimento dos sem terras. Hoje, a vereadora do PSTU repete em uma versão mu-nicipal, miniaturizada, o mesmo cretinismo parlamentar de HH do PSOL, defendendo corporativamente a insti-tuição dos canalhas e corruptos vereadores contra a ju-ventude em luta e não por acaso sua “opinião socialista”

é projetada pela imprensa burguesa contra os “protestos violentos” (ver imagem ao lado).

O que pretende a oportunista vereadora é capitalizar

para si e seu partido as conquistas da revolta popular que obrigou a prefeitura de Natal a conceder o passe livre para uma parte dos estudantes, criticando a forma violenta da revolta que efetivamente foi quem tensionou a burguesia a ceder um pouco. Além de impor limites a forma da luta, a vereadora “socialista” trata de conter o conteúdo da luta se opondo a lutar pela estatização dos transportes coletivos que efetivamente garantiriam o passe livre limitando-se a reivindicar que os governos federal e estadual subsidiassem os donos de ônibus.

Hoje, Amanda Gurgel e outros vereadores do Psol estão sofrendo um processo de quebra de decoro par-lamentar. Nós da Liga Comunista somos contra esse ataque ao mandato desses parlamentares tanto do PSTU quanto do Psol. Porém, isso é a prova cabal de que esses companheiros entram na lógica do parlamento burguês, e depois, não sabem sair dessa lógica, ou seja, se insti-tucionalizam. Essa postura, é completamente aquem do que Lenin falava em ser um “tribuno do povo”.

Somos contra a perda de mandato desses parlamen-tares, mas, reafirmamos que eles precisam romper com o cerco institucional do parlamento burguês e usarem seus mandatos para a luta direta das massas e não para acordos institucionais com loby parlamentar.

Amanda Gurgel: Em defesa da “Casa do Povo” contra a luta do povoA LUTA PELO TRANSPORTE E O OPORTUNISMO

Os Black Blocs se dizem ser uma tática. Eles são mais um movimento policlassista do que pro-priamente um agrupamento, uma manifestação da resistência da juventude à repressão policial em todo mundo na era pós-URSS, onde se combina o retrocesso ideológico anti-comunista e anti-parti-do com um legítimo repúdio das jovens gerações pelos partidos pequeno burgueses que acentuaram sua tendência oportunista nos últimos 20 anos.

Ao contrário dos que pensam que se tratam de um fenômeno completamente inédito por sua forma e conteúdo, os BBs expressam todo este profundo retrocesso na consciência da atual ju-ventude lutadora na retomada de formas de ma-nifestações primitivas de combate ao capital su-peradas há séculos, como o ludismo, quando antes de sequer se organizarem em sindicatos e menos ainda em partidos, os trabalhadores quebravam as máquinas. Marx, no “O Capital”, t. I, foi o primei-ro a ensinar que:

“Foi necessário muito tempo e muita expe-riência para que os operários chegassem a dis-tinguir entre as máquinas em si e o emprego que lhes dava o capital e a dirigir seus tiros não con-tra os instrumentos materiais de produção senão contra a forma social em que se aplicavam.”

Como ensinava também o revolucionário rus-so Leon Trotsky:

“Épocas reacionárias como a atual não só debilitam e desintegram a classe operária, isolando-a de sua vanguarda, como também re-baixam o nível ideológico do movimento no seu todo, fazendo o pensamento político retroceder a etapas já superadas há muito tempo.” (Trotsky, Bolchevismo e Stalinismo, 29 de Agosto de 1937.

Por último, como ensinou o Juan Pablo Bache-rer, in “O POR se transformou em seita naciona-

lista”, abril de 1997, Edicio-nes Trinchera,

“Todo este d e s e n v o l v i -mento espontâ-neo e instintivo d e t e r m i n o u que a classe operária ama-durecesse para dar um salto qualitativo em seu desenvol-vimento, na perspectiva de transformar-se em ´classe para si` ou conscien-te.”

, ou seja, deixasse de ser classe em si para transformar-se em classe para si ou consciente, edificando seu próprio partido político, o partido da revolução mundial.

Em sua heterogeneidade, os BBs são horizon-talistas e reivindicam um anarquismo, principal-mente para se contraporem a forma partidária de organização, com superficiais referências teóricas no próprio anarquismo. Também, em sua maioria, embora se reivindiquem revolucionários, não têm qualquer preocupação estratégica com a organi-zação da ação violenta das massas exploradas para a conquista efetiva do poder político e estabele-cimento de um governo revolucionário do prole-tariado. Todavia, tanto por seu combate à simbo-logia nacionalista e patriótica quanto em termos de ação de rua e atitude de combate ao aparato repressivo policial, os BBs são progressivos frente à capitulação vergonhosa da maioria dos partidos

que se dizem da classe trabalha-dora ao regime democrático, ao legalismo paci-fista, pequeno-burguês e pró-i m p e r i a l i s t a (PT, PCdoB, PSOL, PSTU e seus respec-tivos satélites). Não podemos deixar de desta-car que os BBs se tornam rela-

tivamente progressivos tanto mais a canalha opor-tunista apóia as greves policiais (PSTU e PSOL) e a ocupação dos bairros proletários pelas UPPs (Marcelo Freixo/PSOL).

Os revolucionários não se juntam à direita na condenação dos BBs, como faz de forma infame o PSTU, nem fazem demagogia com este setor porque ele hoje está na vanguarda do enfrenta-mento com o aparato repressivo. Defendemos incondicionalmente aos Black Blocs, pois sua perseguição é uma caça às bruxas no melhor estilo fascista e que não pode ser tolerada por quem se reivindica revolucionário ou mesmo um defensor consequente dos direitos democráticos. Exigi-mos libertação imediata dos Black Blocs presos, a extinção de todos os processos criminais, o fim da perseguição política a todos os manifestantes, mascarados ou não, em todos os estados. Defen-demos o fim dessa absurda proibição de máscaras nos atos e passeatas, a extinção da Ceiv (Comis-são Especial de Investigação de Atos de Vandalis-

mo em Manifestações Públicas – a “Gestapo do Cabral”) e a plena liberdade de manifestação. Pela dissolução de todo aparato policial. Pela cons-trução de comitês de auto-defesa nos bairros ope-rários, constituídos a partir dos sindicatos e das associações comunitárias e de moradores.

Todavia, embora sirvam para que as novas ge-rações de lutadores acumulem experiência prática de enfrentamento contra o aparato policial e Esta-tal, os BBs e congêneres são extremamente limi-tados tanto na luta pelo atendimento das reivindi-cações materiais e imediatas dos protestos quanto na capacidade de enfrentamento efetivo contra o aparato repressivo e precisam ser superados por formas superiores de organização política, com métodos e estratégias proletários e revolucioná-rios. Não nos consola a mera destruição por um dia de instituições do capital comercial e financei-ro, cujos prejuízos são cobertos quase imediata-mente pelas companhias de seguros e pelo Esta-do, mas para expropriação definitiva dos mesmos para serem controlados pelos que neles trabalham e postos a serviço de toda massa.

Sendo o Estado um comitê gestor dos negó-cios da burguesia, inclusive dos donos dos meios de transporte, desvios de dinheiro da construção de metrôs para corruptos e corruptores como no trensalão são uma regra da governança burguesa. A liquidação deste problema e o pleno direito ao transporte público, o passe livre, etc. não serão ja-mais resolvidos unicamente por táticas como as do BBs, mas pela organização da população por local de trabalho e estudo para a revolução social, para a tomada do poder pelas massas organizadas em partido revolucionário, e pela estatização dos transportes sob controle dos trabalhadores.

Defender os Black Blocs e a liberdade para os presos políticos, e lutar táticas e métodos operários e revolucionários para conquistar o passe livre!

A LUTA PELO TRANSPORTE E A BURGUESIA

TÁTICA E ESTRATÉGIA NA LUTA PELO TRANSPORTE

“Durante o conflito e imediatamente após o combate, os operários, antes de tudo e tanto quanto possível, têm de agir contra a pacificação burguesa e obrigar os democra-tas a executar as suas actuais frases terroristas. Têm de trabalhar então para que a imediata efervescência revolucionária não seja de novo logo reprimida após a vitória. Pelo contrário, têm de mantê-la viva por tanto tempo quanto possível. Longe de opor-se aos chamados excessos, aos exemplos de vingança popular sobre indivíduos odiados ou edifícios públicos aos quais só se ligam recordações odiosas, não só há que tolerar estes exemplos mas tomar em mão a sua própria direcção.”

Mensagem da Direcção Central à Liga dos Comunistas, Karl Marx/Friedrich Engels, Março de 1850

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4 FdT 19 - nov/ 2013

Antonio Jr., o Carioca, metalúrgico, cipeiro e

militante da LC

A Campanha salarial meta-lúrgica começou esse ano com o final das “jornadas de junho”, em que a burguesia estava pre-ocupada que as mobilizações acontecidas em Rio e São Paulo pudessem chegar ao chão das fábricas.

Grande parte dos trabalha-dores de Campinas e Região participaram das mobilizações em junho, com destaque para a própria cidade de Campinas, Hortolândia e Sumaré.

Nessa campanha salarial, um dos maiores medos da bur-guesia, era que a continuidade das manifestações das “jorna-das de junho” tivessem uma adesão maciça da classe operá-ria em greve. Isso não ocorreu. Todas as burocracias sindicais se limitaram a fazer atos de faz de conta em 11 de julho e 30 de agosto, sem a unidade real da classe através de greves conjun-tas, assembleias intersindicais, etc. Esta política da burocracia sindical não correspondeu ao medo que a patronal tinha de nossa campanha salarial este ano, nem menos ainda serviu para potenciar as jornadas de junho a um nível mais avança-do da luta de classes contra os capitalistas e seus governos. Deste modo, apenas em algu-mas fábricas atomizadas que se mobilizaram além da política da burocracia sindical arrancaram

reajuste pequenos mas ainda acima da média.

A CAMPANHA

As negociações iniciaram

com a ANFAVEA (Associação Nacional de Fabricantes de Veí-culos Automotivos) e a FIESP (Federação das Indústrias do Es-tado de São Paulo) inauguraram a tática do dividir para vencer.

Não existiu mesa de negociação das montadoras, cada montado-ra de nossa região (Mercedes Benz-Campinas; Honda-Suma-ré; Toyota-Indaiatuba) fez uma mesa de negociação em separa-

do, impedindo assim um acordo geral para os metalúrgicos de montadoras.

Nos outros grupos, a FIESP bateu o martelo de 8%. As fá-bricas que foram para a luta, sejam em mobilizações com assembleias semanais e pressão com operação tartaruga (CAF-Brasil), ou as que foram a greve (Amsted Maxxion) consegui-ram mais que esse índice. 9,2% e 10% respectivamente (segue quadro abaixo).

Esses índices foram os maiores do Brasil tanto na ca-tegoria metalúrgica, quanto nas demais categorias.

O coletivo Vanguarda Meta-lúrgica afirma que a luta econô-mica por si só, não vai melhorar a vida dos trabalhadores, so-mente a mobilização permanen-te da classe operária na cons-trução de um partido operário e revolucionário e de comitês de fábrica que lutem pelo controle operário da produção poderão fazer tremer os pilares do siste-ma capitalista, e fazer avançar a consciência dos operários rumo a sociedade sem exploradores e explorados.

Quem foi à luta, arrancou reajuste maior do que a médiaBALANÇO DA CAMPANHA SALARIAL METALÚRGICA DE CAMPINAS E REGIÃO 2013

HORÁRIO DE VERÃO

Economia de energia duvidosa, lucrativo para os patrões e mais sufoco para a população trabalhadora. Pelo fim do horário de verão! Pela redução da jornada de trabalho!

Os governos justificam a adoção do horário de verão em nome da economia de energia. Foi instituído para durar quatro meses, começando no terceiro domingo de outubro e se prolongando até o terceiro domingo de fevereiro do ano seguinte. Em 2013, co-meçou no dia 20 de outubro e vai até o dia 16 de feve-reiro de 2014. Foi adotado pela primeira vez em 1931, abrangendo todo país. De-pois foi suspenso por vá-rias décadas. Voltou a ser adotado nacionalmente em 1985, mas sua abrangência vem sendo sucessivamente reduzida até hoje ser usa-do em 10 Estados mais o Distrito Federal. Em 2011, a Bahia aderiu ao Horário de Verão, mas a população reclamou e desde 2012 o Estado não participa mais desde 2012. O Tocantins aderiu em 2012, mas voltou atrás em 2013.

A medida, criada em paí-ses localizados em regiões de grande latitude (acima de 45 graus do Equador), onde há grande variação da duração de dias e noites ou que possuem muitos dias do ano sem sol, não se justifi-ca em países equatorianos como o Brasil cuja maior latitude sul é 33 graus. Não é por acaso que o Brasil é o único país localizado abaixo da linha do Equa-dor que utiliza o horário de verão.

Alguns Estados se reti-raram do horário de Verão porque estavam tendo pre-juízo. Foi o caso do Ceará onde, segundo estudo da própria Eletrobrás, houve um aumento no consumo de energia no Estado de 7,7% no horário de verão 99/2000.

Todavia, mesmo a alega-da economia de energia não beneficia a população, pois a energia produzida nesse

período que não é consu-mida simplesmente se per-de. A fatura de energia não fica mais barata durante o horário de verão e ao con-trário, as pessoas acordam ainda no escuro e começam a consumir energia mais cedo.

Mas o benefício na re-dução da carga máxima de energia elétrica em horário de pico, que mesmo nos cálculos mais otimistas chega no máximo a 5%, causam prejuízos à saúde e à segurança da população trabalhadora no trabalho, na direção de veículos e afe-tam principalmente pessoas que precisam acordar cedo e ir à escola ou ao trabalho,

quando é perigoso andar nas ruas ainda escuras.

Os que mais sofrem com essa mudança é a classe operária. João Costa, ope-rário da Bosch do primei-ro turno, entra pra bater o cartão, 5:48 da madrugada, mas, antes disso, acorda 3:00 horas para se arrumar e andar até o ponto de seu fre-tado. Os fretados na Bosch não pegam os trabalhadores em casa, eles passam em avenidas principais e são os trabalhadores que pre-cisam andar quilômetros e quilômetros para chegar ao ponto onde o fretado passa. Com o horário de verão, João Costa praticamente não dorme na madrugada

Essa é a realidade também de Rita de Souza, operária da E.M.S (farmacêutica localizada em Hortolândia-SP), Rita mora na cidade de Monte Mor, e precisa tam-bém caminha por um bom tempo madrugada a dentro para pegar seu fretado, o andiantamento da hora com o horário de verão, fazem esse companheiros serem vítimas de assaltos e infe-lizmente, ir ao trabalho se torna tarefa difícil por conta da escuridão da madrugada. Os trabalhadores não gan-ham nada com o horário de verão, as horas de dia claro no final da tarde, não signi-ficam nada, perto da escuri-dão da madrugada quando

esses companheiros saem para trabalhar mais cedo.

Os trabalhadores não sente nenhuma vantagem com o horário de verão, precisam acordar mais cedo e essa hora não é compen-sada na hora do descanso. Se já dormem pouco duran-te o resto do ano, situação que provoca acidentes de trabalho, com o horário de verão o risco se agrava mui-to mais.

Acidentes de trabalho e de carro, ataques cardíaco, maior exposição aos raios ultra-violeta e logo câncer de pele para os que trabal-ham ao sol, as pessoas se sentem com sensação de cansaço e sono durante o dia e insônia à noite au-menta a irritabilidade, a agressividade, a confusão mental, e com a queda da imunidade biológica e do rendimento em pratica-mente todas as atividades – tudo como conseqüência da alteração dos ciclos cir-cadianos, isto é, do “relógio biológico” a que estão sub-metidas todas as pessoas.” Por tudo isso nós da LC de-fendemos o fim do horário de verão e a redução da jor-nada de trabalho para 35h semanais para que efetiva-mente a classe trabalhadora goze de mais tempo livre e de descanso, combatendo simultaneamente o desem-prego repartindo as horas de trabalho

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FdT 19 - nov/ 2013 5

Humberto Rodrigues

A LC reformulou sua imprensa, aprimorando os instrumentos de di-vulgação de seu programa para que realizem melhor as três formas de luta: teórica, econômica e política [1]. Deste modo, damos um passo adian-te na tarefa de construção do partido comunista revolucionário dos trabal-hadores. A partir de agora, refletindo o crescimento (ainda que molecular) e o amadurecimento da LC na contra-mão da moda da “militância virtual”, nossos impressos vão adquirir maior peso em nossa atividade militante, es-treitando o contato pessoal, “homem a homem”, com nossos leitores.

Com estas medidas, não estamos criando a pólvora, apenas retoman-do os bons e velhos métodos dos re-volucionários que nos antecederam, em meio a deserção hegemônica na esquerda em direção ao mundo da “revolução” virtual e individual. De nossa parte, os nossos instrumentos virtuais blog e facebook servirão de auxiliares da nossa propaganda im-pressa. Teremos então três tipos de órgãos impressos: O Bolchevique, Folha do Trabalhador e os Boletins da LC, uma revista teórica, um jornal e panfletos, respectivamente. O Bolche-vique e Folha do Trabalhador serão completamente reformulados, assu-mindo funções distintas em relação às que tiveram até agora.

BOLETINS DE AGITAÇÃO REIVINDICATIVOS E O BOLHCHEVIQUE COMO REVISTA TEÓRICA

Em cada uma das categorias em que a LC possui hoje um trabalho es-trutural, seja por meio de colaterais de nossa organização seja em frentes sin-dicais com setores independentes, edi-taremos boletins de agitação específi-cos assinados por núcleos da própria LC como nos professores e nos ban-cários ou como Vanguarda Metalúrgi-ca, nesta categoria, e dos panfletos da Corrente de Trabalhadores da Saúde.

Nesta publicação, seguiremos a risca as recomendações do camarada Trotsky acerca dos periódicos fabris:

“aproximem-se dos trabalhado-res com as mais simples reivin-dicações e palavras de ordem, as quais brotam diretamente da vida nas fábricas. Não se apressem em dizer tudo em cada osasião, ou seja, em cada artigo. Cada dia tem sua tarefa.” (Trotsky, Periódi-co de fábrica e periódico teórico, 27/01/1938).Estes panfletos de agitação cum-

prirão a tarefa de dar a resposta ime-diata no campo da agitação. Esta ta-refa não pode ser exercida por órgãos informativos de caráter propagandís-tico semestrais, como passará a ser O Bolchevique, nem por órgãos agi-tativos maiores, mas de periodicidade bi-mensal (período de regularidade correspondente aos atuais limites or-ganizativos da LC), como será a Folha do Trabalhador de agora em diante.

Os boletins da LC embora se dedi-quem à luta econômica e reivindicati-va, servirão para ligar a teoria à prá-tica, em oposição ao economicismo, pois

“A agitação é um método para fomentar a atividade das massas, e não são os marxistas os únicos a utilizarem-na; a burguesia tem uma enorme e velha experiência neste sentido. Mas uma e outra agitação são em absoluto distintas. Só ‘a justa solução teórica assegu-ra o êxito sólido da agitação’, dizia Lênin no II Congresso do Partido. O menosprezo pela teoria e a sub-estimação da sua importância – ‘absolutamente independente da vontade de quem a faz’ – significa ‘fortalecer a influência da ideolo-gia burguesa sobre os operários’.” (Nadejda Krupskaia, Lênin, Pro-pagandista e Agitador, 1939).Esta especialização de nossos or-

gãos de propaganda e agitação não significa que realizamos as três for-mas de luta: teórica, reivindicativa e política, de forma separadas, mas, combinadas, pois, como bem indica Lenin, citado por Krupskaia, “a justa solução teórica assegura o êxito sólido da agitação”.

Por isso, possuir um boletim de agitação com as reivindicações mais simples exige da LC, de forma com-plementar e compensatória, possuir um orgão teórico que apresente res-postas de formas profundas e com-plexas sobre a a luta de classes.

“... Com a finalidade de fazer esse trabalho de massas disperso e descoordenado, o pensamento do

partido deve estar suficientemente centralizado e encontrar sua ins-piração diária em um laboratório onde todas as perguntas, inclusive as mais complexas, sejam analisa-das e enfocadas com sutileza. Pe-riodicamente, o Banco da França é obrigado a renovar suas reservas de ouro de tal modo que o dinheiro em circulação não se desvalorize pela inflação.“Não sei qual é a atual tiragem de Lutte, mas existem milhares de trabalhadores na França que não somente são capazes de entender um artigo que toma um ponto de vista mais amplo, mas que exi-gem a imprensa dos trabalhadores respostas mais profundas as mais complexas perguntas postas pela situação mundial.“... ao transformar o orgão cen-tral do partido em um certo tipo de periódico de fábrica, vocês nunca chegarão as massas e, ao contrá-rio, perderão seu caráter político distintivo e, com ele, seus próprios membros.“... como disse o apóstolo, se es-forçem pelos mosquitos e tragam camelos. Creio que a dificuldade da seção belga pode explicar-se até certo ponto pela falta de um periódico teórico em francês. A importância deste problema não pode ser exagerada. Estes são tempos agitados e as massas estão inquietas. Os trabalhadores mais inteligentes, que sobretudo tratam de aprender o que acontece, não estarão satisfeitos com a simples repetição das consignas comuns. Deve-se dar a eles uma resposta completa. Uma dezena ou uma centena de trabalhadores deste calibre, que podemos ganhar para nossas ideias gerais, podem trazer a milhares e milhares de trabalha-dores para o nosso movimento.“Nada disto está dirigido de forma alguma contra o trabalho massi-vo. Nosso trabalho nos sindicatos é decisivo. O pior erro cometido pelos camaradas de Borinage foi gastar seu tempo, energia e pres-tígio criando ‘sindicatos’ para sua própria satisfação. Se ins-piraram, não na experiência de décadas, nem nas lições dos pri-meiros quatro Congressos da III Internacional mas, no exemplo de um burocrata sem programa nem princípios como Sneelvliet. [Nesta parte, Trotsky nos dá uma bela orientação do quanto foi errado seguir a um partido sem princí-pios como o PSTU em sua ruptu-ra com a CUT].“O trabalho nos sindicatos refor-mistas, repito, deveria estar em primeiro plano. Mas para que este trabalho possa ser levado a cabo de uma maneira verdadeiramen-te revolucionária, o partido deve ter um bom periódico central e um teórico. (Trotsky, Periódico de fábrica e periódico teórico, 27/01/1938).O Bolchevique (OB) passará a ser

uma revista semestral, com o mesmo tamanho que tem hoje, mais páginas, mas, a partir de agora destinada a pro-paganda e a luta teórico-ideológica, a dar as “respostas completas” que um setor avançado do proletariado exige e com textos dirigidos à formação po-lítica e a polêmica no interior da van-guarda militante.

O NOVO FOLHA DO TRABALHADOR COMO JORNAL CENTRAL DE LUTA POLÍTICA DA LC

O Folha do Trabalhador (FdT) que antes assumia a tarefa sindical e agi-tativa voltado a acompanhar as lutas específicas passará gradativamente a ser o periódico central e mensal da LC dirigido fundamentalmente à luta po-lítica, combinando a agitação e a pro-paganda da organização, em tamanho standard, com a letra maior e tiragem de mil exemplares destinado a publici-tar a política da LC para amplos seto-res da classe trabalhadora. Através da luta política buscamos construir um órgão informativo onde o conteúdo do jornal e a militância diária não sejam tarefas autônomas, mas complemen-tares para a organização coletiva da nossa luta política em Congressos, reuniões, palestras, discursos, greves, campanhas salariais.

Nossa imprensa deve combinar habilidade propagandística e coragem de dizer a verdade dos trabalhadores, rompendo com a opinião pública fa-bricada pelas classes dominantes.

A elaboração da FdT será uma tarefa ainda mais difícil do que a de

uma revista para quadros. Vai reque-rer um aprimoramento permanente da forma escrita para melhor apontar as palavras de ordem e orientações que favorecem o avanço da consciência e da organização política das massas em correspondência a atual situação objetiva da luta de classes. Em outras palavras, de cada acontecimento ou fenômeno vai tirar conclusões e esta-belecer posições através do método do marxismo revolucionário e baseando-se na própria experiência das massas.

Não é uma tarefa simples porque se trata de acompanhar o aprendizado das massas com a própria luta de clas-ses não subestimando a capacidade de compreensão do leitor como fazem os céticos e também os demagogos adu-ladores. É preciso descrever os acon-tecimentos de forma correta, clara e inteligível para conduzir o leitor a ti-rar as conclusões às quais chegamos primeiro através da compreensão do mesmo acontecimento por meio do materialismo dialético. Sobre isso, Trotsky chama a atenção:

“Caros colegas jornalistas: o leitor lhes suplica que evitem dar-lhes lições, fazer sermões ou serem agressivos, mas sim, que descre-vam clara e inteligivelmente o que se passou, onde e como. As lições e as exortações ressaltarão por si mesmas. O escritor, e em particular o jornalista, não deve partir do seu ponto de vista, mas do ponto de vista do leitor. “É uma distinção muito importan-te, que se reflete na estrutura de cada artigo em particular e na do jornal em conjunto. No primeiro caso, o jornalista (inábil e pouco consciente do seu trabalho) apre-senta simplesmente ao leitor a sua própria pessoa, os seus próprios pontos de vista, os seus pensamen-tos e até, com freqüência, as suas frases. No outro caso, o jornalista que encara a sua tarefa com rigor, leva o leitor a tirar por si mesmo as conclusões necessárias, utili-zando para isso a experiência co-tidiana das massas.” (Trotsky, “O Jornal e seu leitor” em “Questões do modo de vida”, 1923)Lenin também apontava no mesmo

sentido:“Falar numa linguagem simples e clara, acessível às massas, aban-donando decididamente a artilha-ria pesada dos vocábulos sábios, das palavras estranhas, das pala-vras de ordens, definições e con-clusões aprendidas de antemão, mas que as massas ainda não en-tendem, nem conhecem.” (Lênin, “A socialdemocracia e os acordos eleitorais”, 1906).Mas isto nada tem a ver com fazer

populismo demagogo com as massas. Como apontava o mesmo Lenin em “O que fazer?”, “... não me cansarei de repetir que os demagogos são os piores inimigos da classe operária”. Os demagogos tentam converter es-tas orientações de Lenin e Trotsky em recomendações para baixar o nível do jornal ao nível da consciência do leitor e tomar carona na propaganda domi-nante como, por exemplo, centrando a luta política contra os governos do PT, na luta contra a corrupção como faz o PSOL, bem como todos os corruptos e demagogos políticos burgueses.

Os oportunistas se dedicam a fazer mais um jornal “de esquerda”, a adu-lar os leitores, a deixar de combater os preconceitos incutidos neles pela ideologia dominante, a escrever de forma ambígua, a ativa e deliberada-mente vender derrotas como vitórias. Por exemplo, como quando o “Opi-nião Socialista”, jornal do PSTU, trata de passar para seus leitores que a con-trarrevolucionária restauração capita-lista na URSS ou o recente golpe de Estado no Egito foram “revoluções”.

Nós tomamos posição diante dos fatos e conduzimos o leitor às con-clusões que acreditamos serem neces-sárias para avançar sua consciência revolucionária. Por isso é preciso des-vendar amplamente os interesses de classe contidos nas informações, des-informações e análises da imprensa da classe dominante, predominantemente vinculada à oposição burguesa pró-imperialista, em suas diversas varian-tes escritas (Folha de São Paulo, Veja, Estado de São Paulo, Época, Istoé,...) áudiovisuais, televisivas, radialísticas e pela internet.

É preciso desmascarar de forma contundente a imprensa burguesa “de esquerda” ligada ao PT, PCdoB e seus satélites porque ela não passa de um porta-voz dos interesses destes parti-dos aburguesados e do governo bur-guês de Dilma.

Por fim, não podemos deixar de

combater também a imprensa oportunista ligada ao PSOL e PSTU que atinge um pe-queno setor da vanguarda dos assalariados, porque não passam de caixas de ressonância dos dois bandos fun-damentais patro-nais em disputa, muitas vezes servindo à opo-sição burguesa, à reação pró-imperialista e antico-munista da c h a m a d a o p i n i ã o p ú b l i c a burguesa, que estes partidos tra-tam de adornar com uma fraseo-logia “marxista” e as vezes “trots-kista” como, por exemplo, faz de forma infame o “Opinião Socialista” do PSTU em relação à “revolução síria”, à i m p o r -tação de m é d i -c o s c u -b a -

nos para o Brasil ou aos black blocs.O periódico deverá lutar com a in-

transigência leninista contra a influên-cia política dos partidos que se reivin-dicam da classe trabalhadora, mas que traficam para as massas uma política burguesa e pró-imperialista. Estes partidos, se opõem a ajudar ao leitor a sacar conclusões dos fatos, fazendo um jornalismo como faz a maioria das correntes centristas em sua imprensa. É contra isso que Trotsky alerta:

“Vamos supor por um momento que o GBL [Grupo Bolchevique-Leninista] consentisse em “sim-plificar” nosso programa, renun-ciando às palavras de ordem do novo partido e da Quarta Inter-nacional, renunciando às criticas implacáveis aos socialpatriotas (chamando-os pelo nome), re-nunciando às críticas sistemáticas contra a Esquerda Revolucionária e especialmente de [seu dirigente Marceau] Pivert. Eu não sei se um jornal como esse se tornaria, com a ajuda de uma varinha mágica, um jornal de massas. Eu duvido. Mas ele iria certamente se tor-nar um jornal partidário do SAP [grupo centrista alemão] ou de Pivert. A essência da corrente de Pivert é precisamente essa: acei-tar as palavras de ordem “revolu-cionárias”, mas não retirar delas as conclusões necessárias, que são um rompimento com Blum e Zyromsky [dirigentes da socialde-mocracia francesa], a criação de um novo partido e de uma nova Internacional. Sem isso, todas as palavras de ordem “revolucioná-rias” se tornam nulas e vazias. No presente estágio, a agitação de Pivert é um tipo de ópio para os trabalhadores revolucionários. Pi-vert quer ensinar-lhes que alguém pode ser a favor da luta revolucio-nária, da “ação revolucionária” (pegando emprestada uma frase muito em voga) e, ao mesmo tem-po, permanecer em bons termos com a escória chauvinista. Tudo depende do seu tom, percebe? É o tom que faz a música. Se o tigre rosnasse o som de um pinguim, todo o mundo ficaria encantado. Mas nós, com nossa linguagem rude, devemos dizer que os líderes da Esquerda Revolucionária estão desmoralizando e prostituindo a consciência revolucionária. Eu lhes pergunto: se vocês renuncias-sem às palavras de ordem que são ditadas pela situação objetiva, e que constituem a própria essência do nosso programa, em que nos distinguiríamos dos seguidores de Pivert? Em nada. Seríamos ape-nas pivertistas de segunda-mão. Mas se as “massas” tivessem que

decidir entre os pivertistas, elas prefeririam os de primeira-mão aos de segunda.” (Trotsky, “O que é um ‘Jornal de Massas’? “ em A Crise da Seção Francesa, 30/11/1935).Nesta luta o jornal cumprirá o pa-

pel de articulador entre a LC e seus leitores pela construção de um partido comunista dos trabalhadores destina-do a orientar a luta revolucionária por um governo próprio da classe.

A primeira edição do FdT nesse novo formato reflete a luta por livrar o marxismo do nosso tempo, o trotskis-mo, da influencia do radicalismo in-telectual pequeno-burguês para poder servir aos interesses imediatos, transi-tórios e históricos do leitor proletário.

Além de abordar conflitos cruciais como a guerra civil na Síria e a saúde nacional no governo Dilma em meio a importação de médicos cubanos para atender a população trabalhadora, se-gundo nossa corrente sindical entre os trabalhadores da saúde, o FdT regis-trará os pequenos mais importantes passos da LC no movimento operário, discutindo as polêmicas do Congresso dos Metalúrgicos de Campinas e re-gião, um relato histórico de uma tes-temunha ocular da luta dos metalúrgi-cos de São José dos Campos contra a GM em 1985 e a denúncia do acordo escravocrata fechado pelo sindicato dirigido pela CSP/Conlutas em 2013, os avanços e limites da recente luta campanha salarial dos bancários para além do debate sindical, etc. O FdT terá como encarte a tese ao próximo Congresso da APEOESP do Movi-mento Unificado de Oposição Clas-sista, do qual LC faz parte. Todavia, ressaltamos como ponto marcante do novo FdT, o debate contido em seu editorial da conquista da consciência dos trabalhadores como condição es-sencial para a reconstrução da IV In-ternacional.

Notas:

[1] Vide ENGELS, FRIEDRICH. Ergänzung der Vorbemerkung von 1870 zu „Der deutsche Bauernkrieg”(Suplemento à Preno-tação de 1870 acerca da „Guerra Cam-ponesa na Alemanha“)(1° de Julho de 1874), in: ibidem, Vol. 18, p. 513.; tb. LENIN, V. I. Shto Delat ? Nabolevs-hie Voprosy Nashevo Dvijenia (Que Fazer? Questões Candentes do Nosso Movimento)(Outono 1901 – Fevereiro 1902), Parte 1: Dogmatizm i “Svoboda Kritiki” (Dogmatismo e Liberdade de Crítica), Letra D: Engels o Znatchenii Teoretitcheskoi Borby (Engels sobre o Significado da Luta Teórica), in: ibi-dem, Vol. 6, pp. 22 e s. - https://www.marxists.org/portugues/lenin/1902/quefazer/index.htm

Por um jornal a serviço dos interesses históricos dos trabalhadoresIMPRENSA REVOLUCIONÁRIA

Page 6: Folha do Trabalhador # 19

6 FdT 19 - nov/ 2013

Para nós da LC a emancipação do proletariado negro na África do Sul passa pela construção de um partido revolucionário da classe trabalhadora. O RMG, Grupo Marxista Revolucionário, é uma organização trotskista sul africana que assinou juntamente com o CLQI uma declaração principista contra a intervenção imperialista na Líbia em abril de 2011. Todavia, o grupo passa por uma crise interna onde se estabeleceram posições antagônicas no interior do mesmo devido a desvios na concepção com relação a questão sindical. Sobre esta crise, o CLQI manifesta sua caracterização no texto “Sobre as diferenças no RMG”

Gerry Downing do Socialist Fight da Grã Bretanha

Começamos com duas longas citações de Trotsky sobre os sin-dicatos e o sindicalismo. Parece-nos que este é o problema central do RMG, manifesto na sua atitude para com a divisão na NUM [si-gla em inglês para a União Na-cional dos Mineiros da África do Sul] e sua relação política com a atual oposição dentro da COSA-TU [sigla em inglês para o Con-gresso dos Sindicatos Sul-Afri-canos], a sua atitude para com a questão da aristocracia operária, o imperialismo e sua incapacidade de orientar-se para lutar por um partido revolucionário no sentido trotskista, ou seja, como a seção sul africana do Partido Mundial da Revolução Socialista.

A primeira citação define a importância central da burocra-cia sindical para a manutenção do capitalismo. É claro que Trotsky fala apenas dos países imperialis-tas e das colônias. Mas para nós é evidente também que um podero-so movimento sindical surgiu em muitas semi -colônias avançadas nas últimas três décadas e esse já se tornou altamente burocratizado e submisso ao Estado capitalista, representando os interesses do imperialismo global. O centro deste processo na África do Sul é a aliança entre a COSATU, o CNA [Congresso Nacional Afri-cano, partido de Mandela e do atual presidente do país, Jacob Zuma] e o Partido Comunista da África do Sul, a “Aliança Tri-partite”. Outro exemplo é o Par-tido dos Trabalhadores (Partido dos Trabalhadores) no Brasil, com sua central sindical, a CUT. Contrapondo-se a Centrais como a COSATU e a CUT criam-se fe-derações sindicais “oposicionis-tas de esquerda”, tanto na África do Sul como no Brasil [Conlutas,

Intersindical], também burocra-tizadas e servindo como defesa do flanco esquerdo da própria burocracia central, muitas vezes em conflito com as centrais ofi-ciais, mas fortemente influencia-das por grupos centristas, algu-mas das origens trotskistas. Seu centrismo, com uma fraseologia revolucionária nos conflitos na-cionais, mas quase sempre social-imperialistas, diante dos conflitos internacionais e guerras, coloca-se invariavelmente em defesa do Estado capitalista em conjunto com todo o restante da burocracia sindical “de esquerda”.

A primeira citação de Trotsky é “Sobre os erros de Princípios do Sindicalismo” (1929):

“Nos Estados capitalistas observam-se as formas mais monstruosas de burocratismo precisamente nos sindicatos. Basta ver o que se passa na América do Norte, Inglate-rra e Alemanha. Amsterdã é a mais poderosa organização internacional da burocracia sindical. Graças a ela man-tém-se de pé toda a estrutura do capitalismo, sobretudo na Europa e especialmente na Inglaterra. Se não fosse pela burocracia sindical, a polícia, o exército, os lordes, a mo-narquia apareceriam ante os olhos das massas proletárias como lamentáveis e ridículos joguetes. A burocracia sindi-cal é a coluna vertebral do im-perialismo britânico. Graças a essa burocracia existe a burguesia, não somente na metrópole, mas também na Índia, no Egito e nas demais colônias. Seríamos cegos se disséssemos aos operários in-gleses: ‘Guardem-se da con-quista do poder e recordem sempre que seus sindicatos são o antídoto contra os peri-gos do Estado.’ Um marxista

dirá: ‘A burocracia sindical é o princi-pal instrumento da opressão do estado burguês. É preciso arrancar o poder das mãos da bur-guesia, portanto seu principal agen-te, a burocracia sindical, deve ser derrubada.’ Entre parênteses, é justa-mente por isso que o bloco de Stalin com os fura-greves foi tão criminoso. [1]A segunda citação é do docu-

mento “Comunismo e Sindicalis-mo, também de 1929 e da mesma coleção. A frase abaixo parece-nos ser a tese mais relevante para situar as diferenças no RMG: A tarefa corretamente entendido do Partido:

“O partido comunista é a ferramenta fundamental para a ação do proletariado, a or-ganização de combate de sua vanguarda, que deve erigir-se em direção da classe operária em todos os âmbitos da sua luta, sem exceção, e portanto, também no campo sindical”.

“Aqueles que, em princí-pio, contrapõem a autonomia sindical à direção do partido comunista estão contrapon-do – queiram ou não – o setor proletário mais atrasado com a vanguarda da classe operá-ria; a luta pelas conquistas imediatas com a luta pela li-bertação dos trabalhadores; o reformismo com o comu-nismo; o oportunismo com o marxismo revolucionário”.

“A tarefa do Partido Co-munista não consiste apenas em ganhar influência sobre os sindicatos, tais quais eles são, mas de conquistar, através dos sindicatos, uma influên-

cia sobre a maioria da classe operária. Isto só é possível se os métodos empregados pelo partido nos sindicatos co-rresponderem à natureza e às tarefas destes últimos. A luta pela influência do partido nos sindicatos encontra sua ve-rificação objetiva no fato de que eles progridam ou não, e no fato de que o número de seus membros aumente, as-sim como suas relações com as massas mais amplas. Se o partido só adquire influên-cia nos sindicatos ao preço de uma diminuição e de um fracionamento deles – trans-formando-os em auxiliares do partido para objetivos mo-mentâneos e impedindo-os de tornarem-se verdadeiras or-ganizações de massas – é que as relações entre o partido e a classe são falsas. Não é ne-cessário que nos debrucemos aqui sobre as causas para tal situação. Nós temos feito isso mais de uma vez e fazemos isso todos os dias. A incons-tância da política comunista oficial reflete sua tendência aventureira para tornar-se di-rigente da classe trabalhado-ra no menor tempo possível, por meio de malabarismos, maquinações, agitação super-ficial, etc. Todavia, o caminho

para sair desta si-tuação não encon-tram-se na contrapo-sição do partido (ou a colaterais sindicais do partido) aos sindi-catos, mas na luta implacável para mudar toda a política do partido, bem como a política sindical.”

“A Oposição de Esquer-da deve associar indisso-luvelmente as questões do movimento sindical com as questões da luta política do proletariado. Deve dar uma análise concreta do atual es-tágio de desenvolvimento do movimento operário francês. É preciso fazer uma avaliação quantitativa, bem como quali-tativa, do presente movimento grevista e suas perspectivas em relação às perspectivas do desenvolvimento econômico da França. É desnecessá-rio dizer que está descartada completamente a perspectiva de uma estabilização e uma paz capitalista que durem décadas. Essa é uma carac-terística de nossa época revo-lucionária. Isso surge da ne-cessidade de uma preparação oportuna da vanguarda do proletariado diante das mu-danças abruptas que não são apenas prováveis como inevi-

táveis. Quanto mais firme seja a ação da Oposição de Esquerda contra os discursos supostamente revolucioná-rios da burocracia centrista , contra a histeria política que não leva em conta as con-dições objetivas, que confun-dem o hoje com o ontem ou com o amanhã, mais firme e resolutamente deve opor-se contra os elementos desta ala direita que utilizam nossas críticas para camuflarem-se sob elas, a fim de infiltrar-se no marxismo revolucioná-rio.” [2 ]

NOTAS[1] Leon Trotsky, The Errors in Prin-ciple of Syndicalism, in Communism and Syndicalismhttp://www.marxists.org/archive/trotsky/1931/unions/index.htmEm português: http://www.pco.org.br/biblioteca/socialista/autores/trots-ki/65_anos/textos/os_erros.htm[2] Leon Trotsky, Communism and Syndicalism, in Communism and Syndicalismhttp://www.marxists.org/archive/trotsky/1931/unions/index.htmEm castelhano: http://ceipleontrotsky.org/Comunismo-y-sindicalismo

INTERNACIONALISMO

Boletim sindical do RMG

A seguir a moção apresentada pelo Socia-list Fight da Inglaterra, em 23 de novembro, na Conferência anual dos comitês de base do Parti-do Trabalhista Britânico (Labour Representation Committee):"O imperialismo ameri-cano foi forçado a uma parcial retirada dos ata-ques na Síria em conse-quência de:1) A Casa dos Comuns votou, em 29 de agosto, por 332 a 220 contra o envolvimento britânico no bombardeio da Síria.2) A provável derrota de Obama no Congresso, impedindo a sua vo-tação.A opinião pública não comprou a óbvia menti-ra de ambas as adminis-trações imperialistas: a “guerra ao terror” para derrotar a Al-Qaeda com a derrubada de Assad aliando-se com a mesma Al-Qaeda. As atrocidades com o gás Sarin apareceram jus-ta e obviamente em um momento conveniente aos interesses imperia-listas.Os objetivos do ociden-te imperialista na Síria são:1. Aumentar a sua taxa de lucro e o controle econômico mais direto;2. Derrotar Hezbollah para proteger seu sócio Israel;3. Prepara-se para um ataque conjunto com Is-rael, contra o Irã.

O imperia-lismo esta-d u n i d e n s e continua a perseguir o objetivo de armar os “re-beldes” jiha-distas, sendo que 11 dos grupos alia-dos dos EUA, r e j e i t a r a m no dia 25 de setembro em Istambul, a Coalizão Na-cional pro-posta pelo ocidente e pelo “Exército Livre da Síria” (FSA). As milí-cias islâmicas vem sen-do manipuladas pela inteligência americana desde 1980, através da da embaixada america-na. Não haveria guerra civil na Síria sem a im-portação de jihadistas pela Arábia Saudita, Qatar, Jordânia, Tur-quia e ultimamente pelos Estados Unidos, Ucrânia e França. Al-guns protestos popula-res domésticos na Síria eram proporcionalmen-te pequenos se compa-rados com os ocorridos no Egito, Baharein e Arábia Saudita, mas esses regimes sobrevi-veram.A despeito da brutal ti-rania pró-imperialista anterior de Assad, de-fendemos a soberania nacional Síria através da vitória do Exército

Nacional Sírio contra as forças patrocinadas pelos Estados Unidos. A derrota da completa-mente da falsa “revo-lução” será a defesa da administração secular e a resistência da clas-se trabalhadora síria e seus aliados para ocu-par-se mais tarde de Assad.”A LRC luta no interior do movimento operário para a derrota de todas as forças patrocinadas pelo imperialismo. A de-rrota desta "revolução" completamente falsa poderá preparar um governo relativamen-te secular, fortalecer a classe trabalhadora na Síria contra Assad e golpear os interesses dos EUA, Grã-Bretanha e França.

A luta por um partido revolucionário na África do Sul

Moção em defesa da Síria contra toda intervenção imperialista, apresentada na Conferência dos Comitês de Representação do Partido Trabalhista, pelo Socialist

Em defesa do internacionalismo proletário contra a intervenção imperialista na Síria

A chave da atual conjuntura política se explica antes de tudo pelas tendências econômicas

ARGENTINA

Leon Carlos, Tendência Militante Bolchevique da

Argentina

Os principais produtos exportados pela Argentina, soja, milho, etc., que em longo prazo tendem a inflacionar, a curto prazo, apontam uma tendência de desvalorização. Isso se deve, so-bretudo, pela atual produtividade dos competidores históricos do capitalismo agro-pecuário argentino, o agronegócio estadunidense.

Nesse contexto, a alta volatilidade do mercado mundial de commodities exerce uma grande repercussão no inte-rior da chamada “economia argentina”. O conjunto das direções políticas tra-dicionais burguesas também estiveram influenciadas por este impacto, sobretu-do na impossibilidade manifesta da re-composição do bipartidarismo, tal como havia sido esboçado na tendência a uni-ficação entre a UCR com o PS, variantas “nacional-populares”.

A pulverização organizativa afe-ta tanto as alas burguesas que vem de dentro da coalizão kichnerista gover-nante (Libres del Sur), quanto as que vem de fora, ou partidos neouceerris-tas (GEN, Coalizão Civica), junto com ONGs como “La Alameda”. Se neste último caso ainda se nota uma tendên-cia a coesão de parte do arco político não peronista. Dentro do peronismo se aponta a existência de dois partidos, tal como manifesto na autêntica disputa in-terna aberta entre o PJ bonairense, com Massa e sua Liga de Prefeitos da Frente “Renovadora” e a Frente por la Victo-ria, dirigido a nível provincial por Scio-li, candidato testa-de-ferro de Cristina.

É nesse contexto das atuais variáveis econômicas de “ciclo curto” adversas no mercado mundial que precisamos en-tender os fatores que na atual conjuntura solaparam as bases da reconstrução do bipartidarismo histórico argentino. Essa inconsistência na reconstrução do siste-ma bipartidário após a crise de 2001 é o elemento essencial que explica que, a crise da economia mundial imperialista, abriu espaço para o crescimento de ten-

dências tanto a extrema direita como a “extrema” esquerda da ordem burguesa do regime democratizante.

UMA EXPLICAÇÃO MARXISTA PARA OS RESULTADOS ELEITORAIS DE SALTA

Foi nas províncias do norte e oeste do país onde, em função das distâncias com os portos do sistema do Prata e da Costa Atlântica, estas variáveis adver-sas dos mercado mundial se expressa-ram com maior intensidade. Vale uma moção especial para Salta (que produz 1% do PIB argentino e é a província menos industrializada do país), com toda a importância que os cultivos dos oaleginosos tem para a vida econômica provincial, não é por acaso que a incon-sistência da reconstrução do bipartida-rismo tenha se expressado em Salta com maior intensidade.

O peronismo em Salta, com seu pro-vincianismo, além de debilitado, esteve profundamente dividido, como se pode notar na disputa interna aberta entre a Frente para a Vitória do cristinista Ur-

tubey e o atual governador contra a Frente Popular saltenha, originado do menemismo reciclado de Romero.

Essas foram as condições que pos-sibilitaram a “extrema esquerda” da ordem burguesa, o PO, alcançar um significativo resultado eleitoral, supe-rando estas duas variantes do peronis-mo saltenho que se apresentaram sepa-radamente no pleito.

Conclusão, este crescimento do pseudo-trotskismo, já em via de aberta socialdemocratização, só poderá man-ter-se por inércia na medida em que a autonomia econômica, vertebrada em função das relações da Argentina com o mercado mundial, não gere uma base mais sólida para a recomposição do bi-partidarismo.

Assim, a vanguarda política não deve deslumbrar-se pelos resultados eleitorais do PO, que mais do que apontar para uma ruptura dos trabal-hadores com os aparatos políticos burgueses, na realidade, consolidam a

definitiva integração de forças como o PO ao regime democratizante.

A vanguarda dos trabalhadores deve preparar-se para construir um partido de tipo bolchevique – identificando no atual entusiasmo eleitoral do pseudo-trotskismo com seu abandono declarado da sua independência de classe – uma vez que se o proletariado considerasse que sua emancipação poderia ocorrer pela via eleitoral, estaria renunciando as suas tarefas históricas. Em função disso, a atual embriaguez do pseudo-trotsksi-mo com os resultados eleitorais é tam-bém uma forma, entre o charlatanismo e o delírio, de alimentar expectativas na ordem burguesa.

Tudo que foi dito acima não exlcui, mas sim confirma que um partido bol-chevique deva usar as brechas dos siste-ma parlamentar para denunciar ao pró-prio cretinismo parlamentar, fato que, obviamente, os pseudo-trotskistas estão longe de realizar, o qual no fundo é uma confissão de que seu objetivo de máxi-ma é ser uma roda auxiliar do próprio cretinismo parlamentar.

Capa do jornal do PO com o eixo da campanha social democrata da Frente de Izquierda: “Levemos a esquerda ao Congresso”

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FdT 19 - nov/ 2013 7

ESPECIAL 96 ANOS DA REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUE

Moscou, 28 de janeiro de 2012, Tribuna Popular TP/N. Maksymchuk.

"Na segunda quinzena de dezembro, em um canal de televisão russo foi transmitido um documentário, um projeto de Dmitri Kiselev chamado “URSS. O naufrágio”. Nos anos 90 o novo governo nos prometia a abundância. A recebemos em sua totalidade. Gostaria de agradecer ao autor do filme, por recordarmos que uma vez fomos pessoas que viviam num grande país, onde ninguém descriminava quem era russo de quem não era russo. Todos tinham suficiente sol e pão. Todos eram soviéticos.Não sentem nostalgia pela União Soviética aqueles que tiveram tempo para roubar na chamada perestroika e se bronzear nas Ilhas Canárias e em Courchevel. Mas, inclusive estes, provavelmente também não vivam em paz hoje. Hoje em dia estão nas Ilhas Caná-rias, e no futuro talvez em um beliche. Íamos tranquilos para a cama e tranquilamente despertávamos pela manhã, sabendo que no dia de amanhã haveria trabalho, que no dia 10 do mês receberíamos o pagamento e no dia 25 um adiantamento de salário.Não tive que pagar por escola e a universidade, porém recebemos uma boa educação, com a qual podíamos encontrar facilmente trabalho no estrangeiro. Nos curavam gratuitamente. Em julho de 2010, minha prima morreu de câncer. Era pensionista, não pode obter 30.000 rublos para uma operação, para a qual nem sequer lhe dava qualquer garantia de vida. Ela esteve acamada por vários meses. Teve que pagar também as dolorosas injeções que tomou. Aí estão os encantos do rico capitalismo!Antes da queda da URSS não nos assustavam as histórias terríveis no rádio e na televisão. Nós com alegria escutávamos notícias de que em algum lugar introduziram uma nova fábri-ca, alguém obteve espaço de novo. Hoje em dia a crônica do dia é: em algum lugar uma casa para a terceira idade foi incendiada, em outro

lugar um edifício caiu, em outro um investiga-dor foi assassinado, em outro, um deputado... Vivemos por trás de portas de ferro, temendo aos vizinhos. A moral caiu para debaixo do chão. O roubo e a fraude converteram-se em negócios. Os ladrões estão no poder. O assassi-nato já não surpreende ninguém, converteu-se em norma da vida.Nos anos 90 o novo governo nos prometia abundância, criticando o governo soviético pelas prateleiras vazias. Recebemos abundância na totalidade. Nos anos 80, a salsicha custava 1 rublo e 40 centavos, eram feitas de chá e carne; agora a salsicha é de pudim de soja e papel higiênico e custa 200 rublos por quilo e está nas prateleiras não porque agora sejam abundantes, senão devido a que muitos não têm como comprá-la. Nem mesmo os miseráveis centavos que ganhamos trabalhando são pagos em seu devido tempo. Os atrasos nos salários de vários meses também se converteram em norma. Nos anos 80, todos os trabalhadores podiam permitir-se uma férias para descansar numa viagem pela União, e, às vezes comple-

tamente grátis. Agora, poucas pessoas saem de viagem de férias. O filme também se repete aqui novamente, vimos mais uma vez os mesmos rostos daqueles que sem limite de seus próprios interesses egoístas e por ambições, traíram nosso país. Estes personagens passam a ficar conhecidos também por aqueles que nasceram nos anos 90 e não os conheciam.Foi triste e doloroso rever também a bandeira soviética, a bandeira, que era o emblema dos construtores e criadores e daqueles que cultiva-ram o grão, e ficou dolorosamente gravado na alma das palavras do apresentador Kiseliov. Po-rém nas suas palavras o anacrônico da URSS converte-se em um sonho, o desafio soviético, inspira otimismo e esperança. Cedo ou tarde, a União Soviética voltará. A história às vezes re-gressa novamente. Na França, depois da vitória da revolução burguesa houve a restauração dos Bourbons. Porém apenas uma derrota temporá-ria. O atual regime depredador na Rússia não durará muito tempo, cairá de todas as manei-ras. Um sistema justo deverá regressar."

“Na URSS, todos tínhamos sol e pão. Todos eram soviéticos”

Em russo, no cartaz: Viva a Revolução Socialista!, manifestação com milhares de pessoas realizada no95o Aniversário da revolução em Moscou no 07/11/2012.

DEFENSISMO REVOLUCIONÁRIO - 1991: Frente Única na defesa da URSS

O que foi a revolução bolchevique?

O acontecimento da grande revolução bolchevique está a quatro anos de completar um século. Ela ocorreu no dia 7 de novembro de 1917. Foi o maior passo dado pelos trabalhadores em toda sua luta contra as classes dominantes. E este passo fundou pela primeira vez na história o primeiro Estado dos trabalhadores. Ele se chamou União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), ou simplesmente União Soviética.Esta revolução social foi possível pela fusão entre a consciência teórica dos objetivos estratégicos da luta e os próprios trabalhadores em luta contra a guerra entre as grandes nações burguesas, contra o imperialismo, contra o latifúndio e contra o capital. Esta consciência foi adquirida pelos dirigentes da luta que estudaram e compreenderam as experiências das lutas anteriores, aprendendo com seus erros e seus acertos. Os principais dirigentes deste partido bolchevique e desta revolução foram Vladimir Lenin e de Leon Trotsky. Organizados neste partido os trabalhadores tomaram a força, dos representantes dos patrões, o poder político e os seus locais de trabalho.

Porque “Bolchevique”

Este partido se chamava bolchevique, porque “bolchevique” em russo significa “maioria”. E a maioria deste partido se separou da minoria porque a minoria queria um partido frouxo para conciliar com a burguesia e a maioria queria um partido radical, forte e centralizado para derrotar os patrões.

O que eram os sovietes?

Soviet em russo significa Conselho Popular. O conselho popular era a forma de representação dos trabalhadores por local de trabalho. Foram criados durante a revolução derrotada de 1905. Cada fábrica, repartição, guarnição do Exército elegia seus representantes, parecido como hoje se elegem os cipeiros e os delegados sindicais, para um grande Conselho representando todos os locais de trabalho. Estes sovietes discutiam e aprovavam os assuntos dos interesses dos trabalhadores. Esta é a verdadeira democracia operária.

Por que foram burocratizados e derrotados os Estados operários?

Depois da revolução, uma coalizão militar de 14 países invadiu a URSS em apoio ao contrarrevolu-cionário Exército Branco burguês, impuseram um bloqueio econômico sobre a URSS e perpetraram uma guerra civil até 1921. O Exército Vermelho, composto pelos melhores e mais dedicados trabalhadores, criado por Trotsky, venceu a guerra civil, mas o esforço de guerra exauriu ainda mais o país que já saíra exaurido da I Guerra Mundial. Em tais condições, as massas estavam esgotadas. Neste momento ascende ao poder uma burocracia estatal sob o comando de Stalin que realiza uma depuração de extermínio dentro do partido contra os homens que dirigiram a revolução, desde Lenin o qual se suspeita que fora envenenado, passando por milhares de bolcheviques e operários, até Trotsky, assassinado no México em 1940. Em nome do marxismo-leninismo, mas degenerando e prostituindo completamente a tudo que ele defende, como o internacionalismo proletário, a burocracia stalinista proclamou a “coexistência pacífica” com os capitalismo mundial e a ilusão reacionária de criação do “socialismo em um só país”. Todavia, a URSS, com suas conquistas revolucionárias (pleno emprego, saúde, moradia, educação e transportes assegurados pelo Estado) exercia uma enorme influência e admiração sobre todos os povos explorados e oprimidos do planeta. Apesar das ilusões da burocracia nos acordos diplomáticos que estabeleceu com Hitler, foram as massas soviéticas que esmagaram a pior ameaça que a humanidade já sofreu, o nazismo, e venceram a II Guerra Mundial. A corrente internacional fundada por Trotsky antes de ser morto foi a única a dar continuidade ao marxismo revolucionário, explicando, por exemplo, as causas materiais da burocratização da URSS. Mas o trotskismo depois de Trotsky foi influenciado pela pequena burguesia e ficou reduzido a pequenos grupos sem influência sobre o proletariado. Pela ausência de partidos revolucio-nários com influência de massas, os movimentos revolucionários posteriores a 1917 foram dirigidos por grupos influenciados pelo stalinismo. Organizações políticas que no curso da luta de classes em seus países, como o castrismo em Cuba, o titoísmo na Yugoslávia ou maoísmo na China, por questão de sobrevivência, foram obrigadas a se tornarem exércitos centralizados e ir mais longe do que pretendiam no tensionamento e ruptura com a burguesia e o imperialismo. Estas organizações dirigiram revoluções sociais, conquistaram o poder político e foram obrigados a expropriar a burguesia, todavia, sem estabelecer uma democracia proletária ou qualquer coisa similar aos conselhos populares, dando origem a Estados operários que já nasceram deformadamente burocráticos.Depois da II Guerra mundial, o imperialismo se tornou mais profundamente parasitário e destrutivo. A corrida armamentista, a aposta na economia destrutiva produziu efeito inverso nos EUA e na URSS, ou seja, em um Estado capitalista e em um Estado operário. O armamentismo, ao destruir as forças produtivas dinamiza a economia imperialista, queimando capital constante e reduzindo os efeitos da crise de superprodução. Mas, na economia do Estado operário, isolado pela política de “socialismo em um só país” da burocracia stalinista, contribuiu fortemente para exaurir a economia da URSS e dos países do Pacto de Varsóvia, pavimentando o caminho da restauração capitalista.

Abaixo, a famosa entrevista da apresentadora da TV Globo, Ana Maria Braga, com o jogador Petcovick, quan-do a perua global foi surpreendida pela defesa que o jogador fez do Estado operário iugoslavo.

Dentre todos os socialistas e rebeldes sociais de toda sorte, incluindo os precussores anarquistas e os terroristas populistas, foram os bolcheviques os responsáveis por conduzir a luta de classes até a expropriação do capital. Isto não foi por acaso. Não foram as bombas populistas contra personalidades e instituições odiadas pelas massas, não foi a mera rebeldia espontânea, nem a “auto-organização” da po-pulação, concepções que voltaram a moda hoje, que catapultaram o movimento ao seu estágio superior e universal que a revolução de outubro atingiu. Foi um partido comunista de vanguarda da classe trabalhado-ra centralizado democraticamente e hierarquicamente disciplinado que dirigiu o maior passo dado pelas mas-sas em toda a história da luta de classes. Sem teoria revolucionária, não haveria movimento revolucionário como já insistia Lenin mesmo antes da revolução de 1905, revolução que criou os sovietes.Lenin aprimora suas concepções de “O Que fazer?” de 1902, quando teve como principais adversários o espontaneísmo, o tradeunismo e o populismo. Sob as ricas experiências do combate a degeneração social democrata, tanto dos mencheviques quanto da social democracia alemã, do curso do processo revolucio-nário de 1917 quando lança suas famosas “teses de abril”, da derrota da revolução alemã de 1918 e da pró-pria guerra civil russa, as concepções se aprimoram e se desdobram nas principistas resoluções dos quatro primeiros congressos da III Internacional.:Fazendo um balanço da tomada do poder pelas mas-sas em 1917, Trotsky deduz em sua obra “Lições de outubro” que a classe operária também não pode fazer valer seus interesses históricos de forma independen-te de uma direção revolucionária centralizada e fun-dida com as massas: “Não pode triunfar a revolução proletária sem o partido, a parte do partido ou por um substituto do partido” (Leon Trotsky, Lições de Outu-bro). Todavia, como explicar então a vitória de revo-luções como na China, Iugoslávia, Coréia do Norte, Cuba, Vietnã, apesar de que nenhuma delas possuía a sua frente um partido semilar ao bolchevique e às vezes nenhum partido? Primeiramente há que se destacar que precisamente nas últimas décadas quando prevaleceu principalmen-te entre a juventude o rechaço a rigidez bolchevique, de combate a forma de organização centralizada e de vanguarda, sob a influencia da reação democrática patrocinada pelo imperialismo e sua ofensiva anti-

comunista pós-URSS, nenhuma revolução social foi realizada. Se nas últimas décadas não houve nen-huma revolução social vitoriosa foi porque não existiu um partido. Como nos ensinou Trotsky “A. revolução proletária não pode triunfar sem o Partido, contra o Partido ou através dum sucedâneo dele. Este é o prin-cipal ensinamento dos últimos dez anos. É certo que

os sindicatos ingleses podem tornar-se uma poderosa alavanca da revolução proletária; em certas condições e durante um determinado período, poderão até, por exemplo, substituir os Sovietes operários. Mas, sem o apoio do Partido comunista e, com mais forte razão, contra ele, não serão capazes disso; só se a propa-ganda comunista se tornar preponderante no seu seio é que poderão desempenhar esse papel. Pagamos demasiado caro esta lição sobre o papel e importância do Partido, para não a termos retido integralmente.” (Lições de outubro, 1924).Segundo, a história da luta de classes sem direções bolcheviques por todo o ultimo século da menos ainda razão aos preconceitos autonomistas. Desde a revo-lução bolchevique de 1917 até hoje, dentre TODOS os processos revolucionários existentes, em sua totalida-de, sem uma direção revolucionária, sem uma teoria revolucionária e sem um sadio regime centralista de-mocrático, ou seja, mesmo sem um partido do tipo bol-chevique, só triunfaram os processos que tiveram em sua direção instrumentos políticos mais centralizados

e hierarquizados que os partidos políticos do proleta-riado, só triunfaram sob uma direção de exércitos cen-tralizados de trabalhadores. Esta inegável experiência histórica é suficiente para enterrar de vez com todos os preconceitos anarquistas contra a centralização e pela horizontalização das organizações.em terceiro lugar, dada a inexistência de uma teoria revolucionária internacionalista e de revolução per-manente, por um lado, combinado a inexistência de centralismo democrático por outro, tais direções não bolcheviques que conduziram revoluções, passada a fase inicial da luta em que o imperialismo e a burgue-sia não deixaram outra alternativa a estas direções como o maoismo ou o castrismo do que a ruptura com suas próprias concepções originárias e a condução prática e empírica da expropriação da propriedade pri-vada dos meios de produção, tais direções adotaram o chauvinismo nacionalista do “socialismo em um só país” (as vezes em uma pequena ilha, Cuba, ou em meio país, Coreia do Norte) que agravou o bloqueio imposto pelo imperialismo e em meio ao refluxo da luta de classes burocratizou os nascentes Estados operários, pavimentando o caminho da restauração do capitalismo e da contrarrevolução social com apoio de massas como ocorreu no Leste europeu, oriundos de processos de expropriação burocrática e onde as novas gerações nasceram tendo como principal ad-versário a opressora e parasitária burocracia stalinista.

PARA REFLEXÃO DAS NOVAS GERAÇÕES DE LUTADORES

Sem partido, sem centralização política da ação revolucionária, não há revolução

A maior lição da Revolução de Outubro

“No ano de 1917, a Rússia passava por sua maior crise social. Alguém certamente poderia dizer, entre-tanto, com base em muitas lições da história, que, se não houvesse o Partido Bolchevique, a imensurável energia revolucionária das massas teria se esgotado em infrutíferas explosões esporádicas e os maiores

levantes teriam terminado nas ditaduras mais contra-revolucionárias. A luta de classes é o motor

principal da história. Ela exige um programa correto, um partido firme, uma direção corajosa e digna de confiança — não heróis de salão, com suas frases parlamentares, mas revolucionários, prontos para ir até o fim. Essa é a maior lição da Revolução de

Outubro” (Writings of Leon Trotsky 1935-36, p. 166).

O Gol de Petcovick na TV Globo

Os povos que expropriaram a burguesia, criando Estados operários no século XX, prestaram um enorme serviço para toda a humanidade, abriram o caminho para e do fim da exploração do homem pelo homem.

Sob o impacto da revolução bol-chevique a classe operária arrancou das mãos da burguesia bancos, fá-bricas, as terras em mais de 30% do planeta e forçou a burguesia a fazer concessões como a legislação tra-balhista, previdência pública e o voto universal, dando os anéis para não perder os dedos nos outros 70% do mundo. A eliminação da proprieda-de privada dos meios de produção possibilitou o pleno emprego, a saú-de, educação, transporte e moradia gratuitos e outra série de conquistas impensáveis nos países capitalistas.

Defender os Estados operários contra a restauração capitalista é uma obrigação de classe trabalha-dora. Aqueles que são incapazes de defender as conquistas já obtidas, são incapazes de obter outras novas.

A tática defensista revolucionária é a defesa incondicional das nações oprimidas diante do imperialismo, dos Estados operários contra a res-tauração da propriedade privada, da mesma forma como defendemos os sindicatos ou uma ocupação diante da intervenção estatal-policial bur-guesa.

Por isso, se defendemos a Fren-te Única Antiimperialista (FUA) para Síria e Líbia, Estados capitalistas oprimidos que se derrotados terão destino igual ao Afeganistão, Iraque e Haiti, com maior vigor ainda defen-

demos uma frente única com quem quer que seja para a defesa de um Estado operário.

Assim, mesmo que a LC ainda não tivesse nascido em agosto de 1991, defendemos, retrospectiva-mente, uma frente única com a buro-cracia stalinista ligada a KGB contra a restauração capitalista encabeça-da por Yeltsin.

E mesmo que a vitoria do blo-co stalinista pudesse resultar em uma restauração de tipo chinesa na Rússia, isso valeria a pena para re-tardar por qualquer tempo a contra revolução. Desta tática também faz parte a preparação da derrubada do governo burguês da nação oprimida ou da burocracia stalinista através da revolução política.

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8 FdT 19 - nov/ 2013

ESPECIAL 96 ANOS DA REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUE

A União das Repúblicas Socialistas Soviéti-cas (URSS, ou em rus-so, Союз Советских

Социалистических Республик, CCCP) sobreviveu por 74 anos du-rante o século XX, muito além dos 72 dias do primeiro governo operário ins-taurado na capital francesa no século anterior. Com a derrota de Napoleão para os exércitos da reacionária Santa Aliança em Waterloo em 1814, tam-bém se concluiu em derrota um ciclo de expansão para a Europa das vitórias da revolução burguesa francesa sobre o absolutismo feudal, derrotado em 1879.

Todavia, entre 1814 e 1871 teve início a organização política do pro-letariado em partido político próprio diante da incapacidade dos partidos liberais burgueses e pequeno burgue-ses de realizarem a luta democrática e menos ainda de servirem como ins-trumento para que o proletariado con-quistasse melhores condições de vida e de trabalho. O cartismo foi o primeiro ensaio da constituição de um partido operário. Com um programa burguês, depois constituindo-se em um partido operário burguês, o Partido Trabalhis-ta.

1848A PRIMEIRA GRANDE BATALHA ENTRE AS CLASSES DO CAPITALISMO

No continente, ainda que derrota-da, a revolução de 1848 foi, segundo Marx,

“a primeira grande batalha entre ambas as classes em que se divide a sociedade moderna. Uma luta pela manutenção outra pela des-truição da ordem burguesa”.

1871A PRIMEIRA VITÓRIA PROLETÁRIA

A Comuna de 1871 foi nada mais nada menos que a concretização da máxima de que quando a historia termina é para depois ela voltar a co-meçar com mais força. Falando-nos sobre as características da revolução proletária, Marx disse certa vez que nossas revoluções

“encontram-se em constante auto-crítica, (…) retornam ao que apa-rentemente conseguiram realizar, para recomeçar tudo de novo, (…) parecem jogar seu adversário por terra somente para que ele sugue dela novas forças e se reerga dian-te delas em proporções ainda mais gigantescas” (O 18 de brumário de Luís Bonaparte, p.30).

1917O PRIMEIRO ESTADO OPERÁRIO

A revolução bolchevique novamen-te “dobrou a aposta” desta lei do mate-rialismo histórico. Em toda a história, a derrota de um ciclo revolucionário apenas prepara um salto enorme para um novo ciclo revolucionário maior. Como acabamos de ver, foi assim com a revolução francesa sucedeu de forma superior as guerras dos camponeses pobres e que por sua vez foi sucedi-da pelo primeiro governo operário da história, a Comuna de Paris. A vaga de refluxo entre o fim de um ciclo marca-do por uma derrota histórica e o novo afluxo revolucionário desencadeadoa por um triunfo pode durar anos, às ve-zes décadas, mas a dinâmica imposta à luta de classes pelo próprio capitalis-mo já não permite séculos de refluxo como ocorreu durante o escravismo e o feudalismo.

Entre a derrota da Comuna e a vi-tória da revolução bolchevique se pas-saram quase meio século e o tempo que nos separa da contrarrevolução na URSS são ainda duas décadas. A luta de classes não obedece a numerologia, mas a uma dinâmica própria de con-dições objetivas e subjetivas, sendo que as últimas, precisamente a cons-trução de um partido de tipo bolchevi-

que em âmbito internacional, estão em imensa defasagem em relação a matu-ração das condições objetivas.

APÓS A II GUERRA MUNDIAL, CINTURÕES DE ESTADOS OPERÁRIOS OCUPARAM 1/3 DO PLANETA

Nos últimos anos, mesmo sob uma imensa ofensiva ideológica anticomu-nista, temos visto o centro gravitacio-nal da luta de classes migrar de um país a outro em lutas defensivas que dissipam todo seu potencial tanto pela ausência da entrada em cena da clas-se operária organizada quanto de uma direção consequente que organize o combate proletário até a conquista do poder pelos trabalhadores.

A Comuna de Paris inaugurou a era das revoluções proletárias. Por sua vez, diante das efêmeras semanas da Comuna, a URSS durou uma eterni-dade. A revolução de 1917 abriu um ciclo não mais de governos operários, mas já de Estados operários em quase todos os continentes do globo terrestre, do sudeste asiático ao caribe america-no, da Sibéria aos Balcãs. Este ciclo se fechou com a restauração capitalista na maioria dos Estados operários nas duas últimas décadas do século passa-

do.Ainda assim sobrevivem poucos

e pequenos Estados operários defor-mados como Cuba e Coréia do Norte, submetidos a um brutal estrangula-mento econômico combinado com a pressão da reação democrática orques-tradas pelo imperialismo.

Portanto, dos campos às cidades, de cidades a Estados, de Estados à vastidões inteiras intercontinentais, a história de todas as sociedades até agora nos ensina que o colosso revolu-cionário se ergue em proporções cada vez mais gigantescas depois da última derrota.

SEM A INTERVENÇÃO DO PROLETARIADO ORGANIZADO NOS LEVANTES POPULARES,NEM A ORGANIZAÇÃO DA ‘CLASSE PARA SI’, EM PARTIDO REVOLUCIONÁRIO,A LUTA DE CLASSES PATINA SEM AVANÇAR

Pelas crises econômicas, pelo aci-rramento das contradições inter-im-perialistas, pela miséria crescente das massas e outros elementos que cons-piram dentro das próprias megalópo-les imperiais não duvidamos que um próximo triunfo da revolução proletá-

A revolução proletária renascerá em proporções ainda mais gigantescas!

“A burguesia produz, acima de tudo, seus próprios coveiros. Seu declínio e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis” (MARX e ENGELS, Manifesto do Partido Comunista, 1848)

A escultura ao lado faz parte de uma coleção de 25 monumentos da antiga Iugoslávia que pare-cem ser do Futuro. Encomenda-dos pelo ex-presidente iugoslavo Josip Broz Tito em 1960 e 70 para comemorar a vitória sobre os nazistas nos locais onde ocorreram batalhas na Segun-da Guerra Mundial acontece-ram (como Tjentište, Kozara e Kadinjača), ou campos de concentração destruídos (como Jasenovac e NIS). Eles foram concebidos por diferentes escul-tores (Dušan Dzamonja, Vojin Bakić, Miodrag Živković, Jordan e Iskra Grabul, para citar alguns) e arquitetos (Bogdan Bogdanović, Gradimir Medaković ...), trans-mitindo poderoso impacto visual para mostrar a confiança e a força da República Socialis-ta. Na década de 1980, estes monumentos atraiu milhões de visitantes por ano. Depois da destruição contrarrevolucionária do Estado operário iugoslavo, na década de 1990, eles foram abandonados, mas ainda hoje seguem ostentando uma beleza deslumbrante e impactante como que vindos do futuro.

ria possa pela primeira vez se realizar no coração de uma nação imperialista. Todavia, todo esforço, toda energia em-pregada pelas massas nos levantes po-pulares tem se volatilizado porque tais levantes não contam com ingredientes fundamentais para o salto de qualidade revolucionário, a intervenção do prole-tariado organizado nos levantes popu-lares e a organização da classe para sim em partido revolucionário.

Militamos pela construção de um partido mundial da revolução socialista que conduza ao triunfo a revolução dos escravos modernos impulsionada pela primeira vez e em grande escala (100 mil escravos gladiadores) pela rebelião espartaquista contra o império romano em 73 a. C..

O DIREITO AO “OTIMISMO REVOLUCIONÁRIO”

A burguesia necessitou de vários ciclos revolucionários para consolidar-se (1789-1832-1848) e até contou com o subproduto da primeira revolução proletária em 1871. As revoluções bur-guesas também conheceram derrotas como em 1814 com Waterloo. Ora, se a burguesia necessitou de vários ciclos revolucionários para consolidar sua dominação social, não seria estupidez pensar que em apenas dois ciclos his-tóricos o proletariado, uma classe his-tórica convocada a realizar mudanças históricas ainda mais profundas, já haveria dado sua última palavra? Sob este raciocínio deduzimos que o ciclo da revolução bolchevique, não forma parte do epílogo das lutas históricas do proletariado, mas de seu prólogo.

Contra o triunfalismo oportunista e o pessimismo ceticista as seções do Comitê de Ligação pela IV Internacio-nal reivindicam o direito ao que Trots-ky denominava de “otimismo revolu-cionário” (Em defesa do Marxismo, 1940). A compreensão materialista da história, a dialética da luta de classes nos inspiram moralmente na prepa-ração atual, durante o refluxo e nas lutas cotidianas para a próxima onda ofensiva do proletariado:

“Na prática já percorremos dois ciclos análogos: 1897-1905, anos de afluxo; 1907-1913, anos de re-fluxo; 1917-1923, anos marcados por uma ascensão sem preceden-tes na história; depois um novo período de reação, que ainda não acabou. Graças a esses eventos, os ‘trotskistas’ aprenderam a com-preender o ritmo da história – em outros termos, a dialética da luta de classes. Aprenderam, parece que com sucesso, a subordinar a esse ritmo objetivo seus desíg-nios subjetivos e seus programas. Aprenderam a não desesperar, porque as leis da história não dependem de nossas inclinações

individuais ou de nossos critérios morais. Aprenderam a subordinar suas inclinações individuais a es-tas leis. Aprenderam a não temer nem mesmo os inimigos mais po-derosos, se a potência destes ini-migos estiver em contradição com as exigências do desenvolvimento histórico. Sabem nadar contra a correnteza com a profunda con-vicção de que um novo fluxo his-tórico de renovada potência os le-vara a outra margem. Nem todos chegarão: alguns se afagarão ao longo do caminho. Mas participar desse movimento com os olhos bem abertos, com a máxima tensão da vontade, esta já é por si só a su-prema satisfação moral que pode ser dada a um ser pensante!” (A moral deles e a nossa, Coyocan, 16/02/1938).

E então, que quereis?...Maiakóvski(1927)

Fiz ranger as folhas de jornalabrindo-lhes as pálpebras piscan-tes.E logode cada fronteira distantesubiu um cheiro de pólvoraperseguindo-me até em casa.Nestes últimos vinte anosnada de novo háno rugir das tempestades.

Não estamos alegres,é certo,mas também por que razãohaveríamos de ficar tristes?O mar da históriaé agitado.As ameaçase as guerrashavemos de atravessá-las,rompê-las ao meio,cortando-ascomo uma quilha cortaas ondas.