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s comunidades remanes- centes de quilombos em Alagoas guardam história e A tradições da época em que os escravos fugidos procuravam um lugar sossegado para organizar uma vida nova. Algumas dessas comunidades estão em locais de difícil acesso; outras não sabem ao certo a sua própria origem. Para dar Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas Quilombolas: resistência e tradições A história de perseguição aos quilombos deu origem a comunidades menores, que, apesar do medo natural e de tentar esconder suas origens, preservam alguns costumes da época colonial. Mais de 800 famílias já têm sua propriedade rural Com a posse da terra, produtores plantam, criam geram renda e desenvolvem a agricultura familiar. Somente pelo Programa Banco da Terra foram criados 35 assentamentos em Alagoas, num total de visibilidade e contribuir para o reconhecimento oficial dessas comunidades, o Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral) iniciou uma série de visitas a esses lugares. Estima-se que em Alagoas existem 52 comunidades quilombolas, mas apenas 23 foram reconhecidas oficialmente. 11.094 hectares. Eles reúnem 720 famílias e estão em 21 municípios. Outros 5 assentamentos foram criados há cerca de 20 anos e somam quase 100 famílias. Página Página FOLHA DO ITERAL Ano I - nº 01 – Out/Dez 2008 – Exemplar Trimestral – Maceió - AL Agricultura e Reforma Agrária Neno Canuto Sandreana Melo Universidade no assentamento Um convênio entre o Iteral e a Uncisal vai levar ações de capacitação em educação e saúde para assentamentos do Banco da Terra, a exemplo do assentamento Ceci Cunha, em Arapiraca, que já recebeu a visita de diretores do instituto e pesquisadores da universidade. De acordo com o reitor da Uncisal, André Falcão, um dos projetos que podem ser levados para o campo é o “Jovem Doutor”; Página Ascon/Iteral Assentamentos vão ganhar tecnologia de irrigação israelense Sistema chamado de Quintais Produtivos será implantado em assentamentos do Banco da Terra para combater a seca e produzir alimentos o ano todo, numa área irrigada de 500 metros quadrados, no quintal da casa do agricultor. Sem nenhuma contrapartida do assentado, a instalação dos quintais depende apenas de trâmites normais no Ministério da Ciência e Tecnologia. Página Ascon/Iteral

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s comunidades remanes-

centes de quilombos em

Alagoas guardam história e Atradições da época em que os

escravos fugidos procuravam um

lugar sossegado para organizar uma

v ida nova . A lgumas dessas

comunidades estão em locais de

difícil acesso; outras não sabem ao

certo a sua própria origem. Para dar

Instituto de Terras e Reforma Agrária

de Alagoas

Quilombolas: resistência e tradições

A história de perseguição aos quilombos deu origem a comunidades menores, que, apesar do medo natural e de tentar esconder suas origens, preservam alguns costumes da época colonial.

Mais de 800 famílias já têmsua propriedade rural

Com a posse da terra, produtores plantam, criam geram renda e desenvolvem a agricultura familiar. Somente pelo Programa Banco da Terra foram criados 35 assentamentos em Alagoas, num total de

visibilidade e contribuir para o

reconhecimento oficial dessas

comunidades, o Instituto de Terras e

Reforma Agrária de Alagoas (Iteral)

iniciou uma série de visitas a esses

lugares. Estima-se que em Alagoas

e x i s t e m 5 2 c o m u n i d a d e s

quilombolas, mas apenas 23 foram

reconhecidas oficialmente.

11.094 hectares. Eles reúnem 720 famílias e estão em 21 m u n i c í p i o s . O u t r o s 5 assentamentos foram criados há cerca de 20 anos e somam quase 100 famílias.

Página

Página

FOLHA DO ITERALAno I - nº 01 – Out/Dez 2008 – Exemplar Trimestral – Maceió - AL

Agricultura e Reforma Agrária

Neno Canuto

Sandreana Melo

Universidade no assentamento

Um convênio entre o Iteral e a Uncisal vai levar ações de capacitação em educação e saúde para assentamentos do Banco da Terra, a exemplo do assentamento Ceci Cunha, em Arapiraca, que já recebeu a visita de diretores do instituto e pesquisadores da universidade. De acordo com o reitor da Uncisal, André Falcão, um dos projetos que podem ser levados para o campo é o “Jovem Doutor”;

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Assentamentos vão ganhar tecnologia de irrigação israelense

Sistema chamado de Quintais Produtivos será implantado em assentamentos do Banco da Terra para combater a seca e produzir alimentos o ano todo, numa área irrigada de 500 metros quadrados, no quintal da casa do ag r i cu l to r. Sem nenhuma contrapart ida do assentado, a instalação dos quintais depende apenas de trâmites normais no Ministério da Ciência e Tecnologia.

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FOLHA DO ITERAL

Expediente

A Folha do Iteral pretende ser um instrumento de comunicação e

um meio de informação dos assentados da reforma agrária e da

agricultura familiar em Alagoas. O nosso jornal servirá, também, de

ferramenta para ajudar na prestação de contas do Iteral junto à sociedade

e, mais especificamente, aos agricultores familiares. Por meio deste

jornal, o Iteral vai mostrar o que tem feito para estimular e organizar as

atividades produtivas do campo.

O Iteral é o gestor de 40 assentamentos em todo o Estado. Eles

reúnem 820 famílias, que têm no trabalho com a terra sua principal fonte

de renda. Esses assentamentos estão em mais de 21 municípios de todas as

regiões de Alagoas e juntos possuem uma área com mais de 13 mil

hectares. Para estruturar e oferecer melhores condições aos assentados, o

Iteral tem buscado parcerias com o Incra, Fapeal, Uncisal, SECTI, MDA,

INFC, Escola Agrotécnica Federal de Satuba e vários outros órgãos,

como o leitor poderá conferir ao longo do jornal.

O leitor poderá ver também uma reportagem especial sobre as

comunidades quilombolas em Alagoas e o trabalho que vem sendo

desenvolvido pelo Iteral para conseguir o reconhecimento oficial dessas

comunidades, muitas delas esquecidas pelo poder público. Essas

comunidades são, desde sua origem, focos de resistência, pois surgiram

para abrigar escravos fugidos ou alforriados, que buscavam vida nova.

Vale destacar também – e o leitor pode conferir nas páginas

seguintes – o trabalho desenvolvido pelo instituto para realizar a

regularização fundiária dos municípios alagoanos, a exemplo de Paulo

Jacinto e Pindoba, que foram os primeiros municípios totalmente

georreferenciados, isto é, tiveram os seus imóveis rurais demarcados,

além de definição de vizinhança e localização exata com o auxílio de

tecnologia moderna, como o GPS.

Boa leitura.

Editorial

INSTITUTO DE TERRASE REFORMA AGRÁRIA

DE ALAGOAS

ITERAL

Geraldo de Majella Fidelis de Moura MarquesDiretor Presidente

Breno Ribeiro ArrudaChefe de Gabinete

Lailson Ferreira GomesDiretor Técnico de Política Agrária e Fundiária

Severino de Melo AraújoDiretor Técnico de Acompanhamento de Programas e Projetos

José Rodrigo Marques QuaresmaCoordenador Setorial de Gestão

José Ivanildo AlvesChefe do Setor de Discriminação, Titulação e Controle

Rodolfo César Moreira de CerqueiraChefe do Setor de Reordenação Fundiária

Mauro Bizzaro da RochaChefe do Setor de Cartografia e Geoprocessamento

Dulceana Palmeira de SáAssessora Técnica

ASCOM:Diego BarrosMTE: 1138/[email protected]

DIAGRAMAÇÃO:Jorge Santos

Avenida da Paz, 1.200, Centro, 57025-050, Maceió, Alagoas, telefones (82) 3315-6283 /

3315-7257, fax (82) 3315-6146.

Universidade no assentamentoAssentamento Ceci Cunha, em Arapiraca, receberá as

ações de um futuro convênio entre Iteral e Uncisal.

O assentamento Ceci Cunha, na zona rural de Arapiraca, recebeu a primeira visita de diretores do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral) e de um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal). O local receberá ações nas áreas de educação e saúde a partir de um convênio que será firmado pelas duas instituições.

C a r l o s S e v e r i n o d a S i l v a , p r e s i d e n t e d o a s s e n t a m e n t o C e c i C u n h a , f a l a d a s d i f i c u l d a d e s .

Iteral e Uncisal definem parceria que vai beneficiar assentamentos do Banco da Terra.

Participaram da visita o presidente do Iteral, Geraldo de Majella, o diretor-técnico de acompanhamento de programas e projetos do órgão, Severino Araújo, o reitor da Uncisal, André Falcão, o pró-reitor de Extensão, Cláudio Soriano, o coordenador de extensão, Luiz I ta , e a d iretora pedagógica e institucional, Maísa Kullok.

"A nossa intenção é firmar um convênio para então se elaborar projetos com a universidade para levar aos assentamentos do Banco da Terra capacitação em saúde e educação e, dessa forma, melhorar as condições de vida dessas pessoas", afirmou o presidente do Iteral, Geraldo de Majella. "Essa proposta tem como fim a transferência de tecnologia e conhecimento para os assentados", observou.

Para o reitor da Uncisal, André Falcão, os moradores do assentamento Ceci Cunha vivem uma situação social muito específica e será preciso criar uma rede de cooperação com atores que possuem uma contribuição ampla. "Queremos criar uma interface positiva a partir de uma atenção primária à saúde", disse o reitor.

Segundo ele, após a elaboração do convênio alguns projetos de extensão serão desenvolvidos para atender aos assentamentos e outros serão apenas ampliados, como o projeto "Jovem Doutor", no qual os alunos da universidade treinam e capacitam monitores das comunidades sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), sexualidade e gravidez.

CONDIÇÕES - O assentamento Ceci Cunha foi criado em 2001 pelo programa do governo federal Banco da Terra, cujo gestor em Alagoas é o Iteral. São 400 hectares de terra divididos para 60 famílias, entre elas a de Carlos Severino da Silva, presidente da associação. Ele trabalha na lavoura de milho, feijão, mandioca e fumo e cria alguns animais, como vacas e galinhas. Outra família que mora no local é a de Gilvete Jorge da Silva, mãe de três filhos, que reclama da falta de assistência médica.

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FOLHA DO ITERAL

Diretores e técnicos do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral), a diretoria e professores da Escola Agrotécnica Federal de Satuba estão discutindo os primeiros passos para a elaboração de um convênio entre as duas instituições que tem como objet ivo a transferência de tecnologia para os 40 assentamentos ligados ao Iteral.

O eixo norteador do futuro convênio será o apoio à agricultura familiar, por meio de capacitação dos assentados. O presidente do Iteral, Geraldo de Majella, destacou que a parceria com a Escola Agrotécnica Federal é viável e necessária, pois a instituição possui

Convênio vai transferir tecnologia e inovação a assentamentos do Banco da Terra

Agricultura familiar terá o apoio de técnicos agrícolas

e x p e r i ê n c i a , t r a d i ç ã o e c r e d i b i l i d a d e . “ E s s e acompanhamento va i gerar emprego, renda e melhorias para o campo e as cidades de Alagoas”, afirmou. Majella destacou ainda que os assentamentos do Iteral e do Incra no Estado, somados , equivalem a cerca de 146 mil hectares de terras onde se pratica a agricultura familiar com pouca assistência técnica.

De acordo com o diretor da Escola Agrotécnica, Jonas de Melo Alves, esse convênio com o Iteral também será muito útil aos alunos e técnicos, pois vai permitir a prática da extensão aliada ao ensino e à pesquisa. “Há um projeto de lei que

Incra já recebeu R$ 28 milhões paraassentamentos, em 2008

Superintendente do Incra, Gilberto Coutinho, destaca parceria com Iteral

O super intendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária em Alagoas (Incra/AL), Gilberto Coutinho, disse que a ampliação da parceria com o Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral) pode garantir melhores condições no tocante à assistência técnica e ao i n c e n t i v o d a p r o d u ç ã o e comercialização, a exemplo do macroprojeto de desenvolvimento econômico dos assentamentos do complexo Agrisa/Peixe.

“Historicamente o Incra tem assumido algumas áreas reformadas no Estado a partir de ações de

obtenção do Iteral. As famílias dessas áreas passam a receber todas as políticas de reforma agrária do governo federal, desde a liberação de créditos, a construção de moradias, investimentos em infra-estrutura, até as ações em assistência técnica”, afirmou Gilberto Coutinho.

Segundo ele, os recursos recebidos pelo Incra/AL do governo federal só no primeiro semestre de 2008 chegam a R$ 28 milhões para 3,8 mil assentados. Ainda de acordo com Gilberto Coutinho, serão disponibilizados cerca de R$ 18 milhões para 53 Projetos de Assentamentos no Estado. “Desses,

Foto: Ascom / Incra

Gilberto Coutinho fala sobre os números do Incra.

vai t ransformar as Escolas Agrotécnicas e os Cefets em Institutos Federais de Ensino, Ciência e Tecnologia (Infets) e, dessa forma, os alunos poderão ter, além do ensino em sala de aula e das pesqui sas or ientadas pe los professores, a extensão, ou seja, a prática do que estão aprendendo”, destacou o diretor.

PROJETOS – Durante uma das reuniões que estão definindo as prioridades do convênio, na sede da Escola Agrotécnica, em Satuba, alguns professores falaram sobre seus projetos e pesquisas, que poderão, a partir da assinatura do convênio, ser

35 já tiveram os contratos assinados, e 1.050 famílias de 20 projetos nas áreas da antiga usina Agrisa também serão beneficiadas com a liberação de cerca de R$ 10 milhões em c réd i to s de apo io in i c i a l ” , comentou.

O Incra é o gestor de 140 assentamentos no Estado, cujo número de famílias já se aproxima de 13 mil. Para o superintendente do órgão, “são famílias que, com a implementação dessas ações, além da terra, recebem assistência técnica e infra-estrutura para garantia da produção e conseqüente efetivação da reforma agrária em Alagoas”.

implantados nos assentamentos do Iteral. Os professores mestres e doutores da Escola Agrotécnica desenvolvem pesquisas nas mais diversas atividades ligadas ao campo, como a utilização do bambu, por exemplo.

A escola desenvolve estudos e habilidades tanto para o cultivo de plantas da agricultura familiar e melhoramento da produção, como também para tratamento e criação de suínos, bovinos, caprinos, ovinos, peixes e abelhas. As técnicas utilizadas na escola poderão ser transferidas aos moradores dos assentamentos do Iteral, após a formalização do convênio pelas duas instituições.

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FOLHA DO ITERAL

Quilombolas: resistência e tradição

A s c o m u n i d a d e s remanescentes de quilombos em Alagoas guardam um pouco da história e das tradições da época em que os escravos fugidos procuravam um lugar sossegado para organizar uma vida nova. Algumas dessas comunidades estão em locais de difícil acesso; outras não sabem ao certo a sua própria origem. Para dar visibilidade e contribuir para o reconhecimento oficial dessas comunidades, o Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral) iniciou uma série de visitas a esses lugares.

RECONHECIMENTO - Uma equipe multiprofissional, formada por um antropólogo, um historiador e uma graduanda em Ciências Sociais, começou em abril a visitar algumas dessas comunidades quilombolas que ainda não têm o reconhecimento oficial. O objetivo é visitar este ano 25 comunidades em

A história de perseguição aos quilombos deu origem a comunidades menores, que, apesar do medo natural e de tentar “esconder” seu passado,

resistiram ao longo dos séculos

comunidades adquirem direito a uma atenção especial, diferenciada, inclusive direito à demarcação das terras", garante Berenita Melo.

PASSADO ESQUECIDO - Em cada visita que faz, a equipe do Iteral observa as condições de vida e aponta as principais necessidades de cada comunidade. De acordo com o antropólogo Christiano Barros, integrante da equipe, o primeiro passo é conhecer um pouco a história da comunidade e conversar com os moradores. "É preciso que o próprio grupo se defina como remanescente de quilombolas e tenha noção da importância desse reconhecimento", comenta.

Segundo ele, a história de perseguição e combate aos negros e

Família da comunidade Birrus, em Teotônio Vilela, aguarda reconhecimento.

16 municípios do Estado para elaboração de um relatório, que será enviado à Fundação Palmares, do Ministério da Cultura, responsável pelo reconhecimento.

"Com esse reconhecimento para os povos quilombolas, é mais fácil conseguir recursos para aplicação em projetos de melhoria de vida, entre eles construção de casas, estradas de acesso, postos de saúde, escolas e ampliação de programas sociais do governo federal", explica a gerente do Núcleo de Quilombolas do Iteral, Berenita Melo, que coordena a equipe.

"Esse reconhecimento é extremamente necessário, pois essas comunidades são muito carentes, os índices de analfabetismo são elevados e elas dispõem de poucas opções de t r a b a l h o e q u a s e n e n h u m a assistência", completa Berenita, demonstrando preocupação. "Após s e r e m r e c o n h e c i d a s c o m o remanescentes de quilombos, essas

República dos Palmares

aos quilombos fez com que muitas comunidades escondessem sua origem e fossem esquecendo seu passado naturalmente. "É como se o grupo não tivesse passado", observa. "Alagoas foi palco de uma grande batalha, que destruiu o Quilombo dos Palmares. Em todo o Estado havia muita perseguição", explica Christiano.

H I S T Ó R I A E TRADIÇÕES - De acordo com o "Mapeamento das Comunidades Quilombolas de Alagoas", produzido pelo Iteral, a comunidade Bom Despacho, em Passo de Camaragibe, reúne tradições cristãs e cultos afrodescendetes. A maioria da comunidade é católica, participa de missas, batiza os filhos e realiza festas

Fotos: Sandreana Melo

O quilombo mais importante foi organizado em Alagoas, a partir do ano de 1600, onde hoje fica a cidade de União dos Palmares. Mas uma empreitada do bandeirante Domingos Jorge Velho e suas tropas reprimiram violentamente o líder Zumbi dos Palmares, em 1695. Ao mesmo tempo, outros núcleos de povoação formados por negros iam surgindo no Estado. Juntos, esses quilombos, mocambos e núcleos remanescentes ocupavam terras de Pernambuco e Alagoas e formavam a chamada República dos Palmares, numa área de aproximadamente 260 quilômetros de extensão por 132 de largura. Em 1670, o Quilombo dos Palmares já era ocupado por cerca de 50 mil escravos fugidos.

Depois da invasão de Pernambuco pelos holandeses, a fuga de escravos intensificou-se. Eles procuravam abrigo no Quilombo dos Palmares. As principais atividades econômicas praticadas no quilombo eram: agricultura, caça, pesca, e desenvolveram uma relação comercial com vilas e povoados vizinhos.

O historiador Dirceu Lindoso explica que "o quilombo, cuja maior criação foi o Quilombo dos Palmares no século XVII, não é um fato social que encontrou o seu fim com a destruição de suas comunidades de mocambos em 1695. Os mocambos todos não foram destruídos". E completa: "Os que foram destruídos foram os principais quilombos de cercas reais com os ataques das colunas paramilitares de mamelucos paulistas e sertanistas pernambucanos, com o apoio de seus índios-servos do sertão".

Uma das duas hipóteses mais aceitas é de que alguns desses núcleos eram fundados por ex-escravos que conseguiam comprar sua alforria e as terras para cultivar. A outra afirma que essas comunidades eram criadas por negros que fugiam dos quilombos por conta da perseguição a esses núcleos de resistência.

Estima-se que em Alagoas existem cerca de 52 comunidades remanescentes de quilombos. Nem todas foram reconhecidas oficialmente pelo governo federal como tais.

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FOLHA DO ITERAL

Em seu artigo 2º, “consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida”. Ele também trata da demarcação das terras, no artigo 3º: “Para a medição e demarcação das terras, serão levados em consideração critérios de territorialidade indicados pelos remanescentes das comunidades dos quilombos, sendo facultado à comunidade interessada apresentar as peças técnicas para a instrução procedimental”.Os remanescentes de quilombos também adquirem, após o reconhecimento, o direito a uma atenção especial, como diz o artigo 20: “Para os fins de política agrícola e agrária, os remanescentes das comunidades dos quilombos receberão dos órgãos competentes tratamento preferencial, assistência técnica e linhas especiais de financiamento, destinados à realização de suas atividades produtivas e de infra-estrutura”.

Decreto 4.887

para os santos do Catolicismo. Mas lá também existem dois terreiros de Xangô.

Um deles é organizado por Benedita da Silva, a dona Biu, que é parteira e mãe-de-santo. "Isso vem da época dos cativos, do cativeiro. A minha mãe era espírita", conta. Ela disse também que sua mãe foi perseguida - "caçada a cachorro", nas palavras dela - por um senhor de engenho.

A maioria das comunidades remanescentes de quilombos não possui terras suficientes para os moradores cultivarem e delas extraírem o seu sustento. Na região da Mata, por exemplo, eles perderam ou tiveram de vender as terras às usinas. É o que conta Antônio Alves de Farias, mais conhecido como Antônio Brabo, da comunidade Abobreiras, em Teotônio Vilela. "Quando os antigos compraram a terra, era muito maior, eram 1.200 tarefas, mas foi vendida às usinas. Se o caba não vendesse, eles tomava. Pra o camarada não perder de vez, foi vendido pela metade do preço. Fiquemo só com um pedacinho pra plantar essas coisa", relata Antônio Brabo.

Segundo ele, a comunidade surgiu em meados do século XIX, quando seu avô, Mizael Farias de Oliveira, vindo de Palmeira dos Índios, comprou um pedaço de terra e se instalou no local. "Meu avô veio corrido de Palmeira dos Índios. Ele era escravo pras bandas de lá", conta.

DIFICULDADES - Como não têm a posse da terra ou são donos apenas de uma pequena propriedade, os moradores dos v i l a re jos remanescentes de quilombos conseguem plantar apenas o necessário para a subsistência.

"Nesses locais há baixos níveis de escolaridade, em alguns deles as casas ainda são de taipa e os moradores trabalham nas terras como meeiros", nota a graduanda em Ciências Sociais, Sandreana Melo. Nas visitas que fez às comunidades, ela soube que uma família inteira de Gurgumba, em Viçosa, mudou-se para a favela Sururu de Capote, em Maceió, na esperança de conseguir uma vida melhor. "Muitos deles não têm nenhuma documentação, nem ao menos carteira de trabalho", comenta.

omunidade Filus já foi reconhecida pela Fun ação Palmares.

C

dFilus: Comunidade de Santana do Mundaú o 35 fa ílias. c m m

C O M U N I D A D E S VISITADAS - Até agora 22 comunidades já foram visitadas pela equipe do Iteral. São elas: Jussarinha, em Santana do Mundaú; Gurgumba, em Viçosa; Abobreiras e Birrus, em Teotônio Vilela; Passagem do Vigário, em Taquarana; Bom Despacho, em Passo do Camaragibe; Lagoa das Pedras e Serra das Viúvas, em Água Branca; Sapé, em Igreja Nova; Alto da Madeira, em Jacaré dos Homens; Guarani e Aguazinha, em Olho D'Água das Flores; Malhada Vermelha, em Pariconha; Santa Filomena, em Palestina; Mocambo, Caboclo e Cacimba do Barro, em São José da Tapera; Belo Horizonte, Mumbaça e Uruçu, em Tr a i p u ; S í t i o M u c u c a , e m Japaratinga; e Sítio Serrinha dos Cocos, em Senador Rui Palmeira. Mais três comunidades ainda serão visitadas este ano. Outras quatro c o m u n i d a d e s e s t ã o a p e n a s aguardando o reconhecimento. São elas: Barro Preto, em Água Branca; Serra das Morenas, em Anadia; Vila de Santo Antônio, em Palestina; e Boca da Mata, em Limoeiro de Anadia.

O reconhecimento oficial como remanescentes de quilombos já foi garantido a 23 comunidades: Gameleira, em Olho D'Água das Flores; Cajá dos Negros, em Batalha; Carrasco e Pau D'Arco, em A r a p i r a c a ; G u a x i n i m , e m Cacimbinhas; Povoado Cruz, em Delmiro Gouveia; Palmeira dos Negros, em Igreja Nova; Paus Pr e t o s , e m M o n t e i r ó p o l i s ; Puxinamã, em Major Izidoro; Chifre de Bode e Poço do Sal, em Pão de Açúcar; Tabuleiro dos Negros e Oiteiro, em Penedo; Jorge, Alto do Tamanduá, Jacu e Mocó, em Poço das Trincheiras; Povoado Tabacaria, em Palmeira dos Índios; Quilombo, em Santa Luzia do Norte; Filus, em Santana do Mundaú; Mamelugo e Poços do Lunga, em Taquarana; e Muquém, em União dos Palmares.

Dentre e l a s , a menos populosa é Gameleira, em Olho D'Água das Flores, onde vivem 30 famílias. As que têm o maior número de pessoas são Carrasco, em Arapiraca, e Quilombo, em Santa L u z i a d o N o r t e , c o m aproximadamente 350 famílias cada uma.

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FOLHA DO ITERAL

Curtas

Terras do ProdubanAs terras do antigo Poduban estão sendo medidas por técnicos do Iteral desde o mês de junho. Eles também avaliam os bens de cada uma dessas fazendas. Ao final do trabalho de campo, serão elaborados um memorial e uma planta.

Territórios da CidadaniaO Iteral apresentou projetos durante o lançamento do Programa Territórios da Cidadania, em março, na cidade de Maragogi. O objetivo, segundo o gerente do Núcleo de Cidadania do instituto, Márcio Santos, é canalizar recursos do programa para ações que já estão definidas no plano de metas de 2008 do Iteral, em benefício de assentamentos rurais e comunidades quilombolas.

Palestra no ExércitoO presidente do Iteral, Geraldo de Majella, que também é historiador, falou sobre a importância da educação para o desenvolvimento do Estado, numa palestra, em março, no 59º Batalhão de Infantaria Motorizado (BIMtz), em Maceió, como parte da programação da 26ª Conferência Livre para a Juventude, a primeira do país dentro do Exército. Atentos à palestra, 250 recrutas do batalhão também ouviram o historiador falar sobre alguns números da violência em Alagoas.

C o n f e r ê n c i a N a c i o n a l d a JuventudeO gerente do Núcleo de Cidadania do Iteral, Márcio Santos, participou em abril da 1ª Conferência Nacional de Juventude, realizada em Brasília. Ele foi um dos 32 delegados que representaram Alagoas e discutiram temas como educação, cultura, sexualidade, trabalho, saúde, participação política, meio ambiente, segurança, direitos humanos, povos e comunidades tradicionais, esporte e lazer.

Conferência Nacional do Meio AmbienteO Iteral esteve representado por um delegado na 3ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, que foi realizada em Brasília, de 7 a 11 de maio. O objetivo da conferência era buscar propostas e refletir sobre leis ambientais que proporcionem melhor qualidade de vida para a população, além de discutir as mudanças climáticas e seus efeitos sobre a vida humana. O representante do Iteral foi Marcos Lemos, do Setor de Cartografia e Geoprocessamento.

Fundação PalmaresA diretora de Proteção do Patrimônio Afro-Brasileiro da Fundação Palmares, Bernadete Lopes, reuniu-se em março com o presidente do Iteral, Geraldo de Majella, para pedir o apoio do instituto numa ação conjunta que visava impedir a instalação de um aterro sanitário na comunidade quilombola Gameleiro, localizada em Olho D'Água das Flores, Sertão de Alagoas.

Mamona nos assentamentosAssentados do Banco da Terra participaram, em março, de uma palestra na sede do Iteral sobre a viabilidade do cultivo da mamona, ministrada pelo engenheiro agrônomo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Napoleão E s b e r a r d , e s p e c i a l i s t a e m biocombustíveis. O objetivo era sensibilizar os assentados para o cultivo da mamona nos lotes que ficam dentro dos municípios zoneados.

Festival da Reforma AgráriaOs assentados do complexo Agrisa-Peixe participaram, em Joaquim Gomes, do II Festival da Reforma Agrária, realizado em maio e que promoveu atividades culturais e esportivas e discutiu o papel social da terra. O Iteral apoiou o evento, que durou dois dias.

Fapeal apóia projetos que beneficiam assentamentos

Arranjos Produtivos Locais organizam a produção do campo

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) apóia projetos de fomento à produção, tendo como exemplo os que são vinculados aos Arranjos Produtivos Locais (APL), entre eles os de Apicultura, Laticínios, Mandioca e Ovinocaprinocultura.

“Esses projetos também beneficiam os assentamentos do Banco da Terra, que estão sob gestão do Iteral”, disse o chefe de gabinete do Fapeal, Antônio Fernando Peixoto.

Além disso, lembra Antônio Peixoto, a Fapeal, juntamente com o Iteral, está elaborando uma proposta para concessão de bolsas a técnicos agropecuários da Escola Agrotécnica Federal de Satuba que deverão atuar nos assentamentos do Banco de Terra.

Iteral vai participar de censo demográfico 2010

O Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral) vai colaborar com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a realização do censo demográfico 2010. Quando dois ou mais municípios disputarem a mesma área, o Iteral, utilizando equipamentos modernos e seguros, realizará a demarcação e irá emitir peças técnicas que comprovem a localização exata da região sob litígio.

De acordo com o chefe do departamento estadual do IBGE, André Figueiredo, o Iteral vai dar apoio na resolução de questões que envolvem áreas de disputa entre municípios. “Existem muitas pendências entre municípios em relação a território e população, e o Iteral, junto com outros órgãos do poder público, pode estimular os prefeitos a participarem de convênios que objetivam resolver essas questões”,

Instituto vai emitir laudos sobre áreas disputadas por municípios

comentou o chefe do departamento do IBGE. Ele cita que, além do Iteral, AMA, Seplan e IBGE devem participar desses convênios.

De acordo com o IBGE, o censo 2010 se constituirá no grande retrato em extensão e profundidade da população e de suas características socioeconômicas e, ao mesmo tempo, na base sobre a qual deverá assentar todo o planejamento público e privado da próxima década.

O IBGE está disponibilizando na i n t e r n e t , a t r a v é s d a p á g i n a www. ibge .gov.br / censo2010 , os questionários do Censo 2010, a m e t o d o l o g i a u t i l i z a d a , a s recomendações internacionais para os censos e um formulário para receber sugestões. Essas sugestões serão avaliadas pela sua relevância e aplicabilidade e discutidas numa reunião, da qual participarão todos os interessados.

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FOLHA DO ITERAL

“Através de um trabalho responsável e organizado, o Iteral mostra à sociedade a importância da agricultura familiar. O Iteral busca um desenvolvimento que garanta emprego e renda, pois sua atuação no processo de reforma agrária tem sido focada na perspectiva de que possa promover capacitação e assistência técnica.”

Alberto Sextafeira (PSB), deputado estadual.

“A reforma agrária hoje é fundamental para o desenvolvimento da agricultura familiar, e o Iteral tem um papel preponderante para operacionalizar esse processo e distribuir terras para quem quer plantar.”

Jorge Dantas, secretário de Estado da Agricultura e

Desenvolvimento Agrário.

“O desenvolvimento rural do Estado de Alagoas carece de ações governamentais em todos os níveis, daí a importância do Iteral na reforma agrária em Alagoas.”

Paulo Décio, professor universitário e diretor do

Instituto de Ciências Sociais da Ufal.

“É preciso ter sensibilidade para trabalhar a realidade dos assentamentos rurais, e o Iteral tem e x e r c i d o u m p a p e l f u n d a m e n t a l n o encaminhamento de questões que envolvem a vida do homem no campo.”

Ruth Vasconcelos, professora da Ufal e coordenadora do Núcleo de Estudos sobre a Violência em Alagoas (Nevial).

“O Iteral é um parceiro importante junto do MDA para a execução das políticas de regularização fundiária e apoio à agricultura familiar.”

Sandra Lira, delegada em Alagoas do Ministério do

Desenvolvimento Agrário.

Depoimentos

“Num estado como Alagoas, o Iteral é muito importante para desenvolver a agricultura familiar, capacitação, investimentos e também para intermediar os conflitos no campo. Nos últimos dez anos, o Iteral melhorou bastante, mas ainda precisa melhorar muito mais.”

Marcos Antônio da Silva (Marrom), coordenador estadual do MLST.

“O Iteral é um dos órgãos mais importantes no que concerne à carga patrimonial imobiliária do Estado de Alagoas e à distribuição social sustentável desse patrimônio. Também é um órgão fundamental na estrutura do governo no que diz respeito ao fornecimento de informações cartográficas, essenciais para a implementação de outras ações.”

Adriano Jorge, presidente do Instituto do Meio Ambiente.

“A ampliação da parceria com o Iteral pode garantir melhores condições no tocante à assistência técnica, produção e comercialização, a exemplo do macroprojeto de desenvolvimento econômico dos assentamentos do complexo Agrisa/Peixe.”

Gilberto Coutinho, superintendente do Incra/AL.

“O Iteral tem cumprido uma função importante no processo de articulação para melhorar a produção de alimentos e melhorar também a relação do governo com os movimentos sociais do campo.”

Kátia Born, secretária de Estado de Ciência,

Tecnologia e Inovação.

“O Iteral é um intermediador entre os movimentos sociais e o governo do Estado. Ele é um órgão de grande importância e tem atendido às demandas dos movimentos, desde cursos de formação de liderança a projetos de topografia.”

Eliane Silva, membro da coordenação estadual do MTL.

Deixe sua sugestão para a Folha do Iteral:

[email protected]@uol.com.br

“Num Estado pequeno, onde existem muitos assentamentos, o Iteral tem uma missão importantíssima de atender e dar condições de sustentabilidade econômica e agronômica a esses assentados.”

Antônio Dias Santiago, coordenador em Alagoas da Embrapa.

“De alguns anos pra cá, o Iteral tem dado uma contribuição muito positiva para a resolução de questões ligadas à terra e tem procurado desenvolver projetos e dar condições para melhorar a vida do homem do campo”.

Antônio Vitorino, presidente da Federação dos Trabalhadores na

Agricultura em Alagoas (Fetag/AL).

“O Iteral tem um trabalho importante para o desenvolvimento do pequeno agricultor e dos assentados. Ele deve continuar realizando parcerias com o Incra para garantir melhorias, mas ainda falta muita coisa”.

José Carlos França, membro da direção nacional do MST.

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FOLHA DO ITERAL

Geraldo de Majella, presidente do Iteral, diz que o fortalecimento da agricultura familiar criará uma nova classe social em Alagoas, que é a classe média rural, oriunda da média e da pequena propriedade. Segundo ele, a agricultura familiar pode ajudar a combater os efeitos da crise mundial de alimentos, e, ao mesmo tempo, reduzir a miséria e a marginalização no Estado a partir da inclusão de mão-de-obra no mercado de trabalho. Para isso, ele destaca que o poder público deve oferecer algumas condições para que essa agricultura se desenvolva, a exemplo do que o Iteral vem fazendo, com a articulação de parcerias com Estado, prefeituras, Universidades e Ministérios.

Que avaliação o senhor faz da reforma agrária em Alagoas?

A reforma agrária é a grande reforma que o capitalismo brasileiro não fez na sua inteireza desde a Proclamação da República em 1889. A não realização da

reforma agrária motivou grandes movimentos sociais durante a segunda metade do século XX. A organização dos trabalhadores é um fator importante na realização da reforma agrária, que iniciou timidamente no

período da redemocratização em 1985. Podemos dizer que o processo da reforma agrária ganhou evidência a partir do governo José Sarney, em 1985, quando foi criado o Ministério da Reforma Agrária. É plausível afirmar que tem havido avanços consideráveis na implantação da reforma agrária. Houve nesse período, 23 anos, avanços e recuos tanto do lado do governo quanto dos movimentos sociais. Em Alagoas os números são favoráveis. Podemos contabilizar mais de 15 mil famílias assentadas pelos programas de reforma agrária do governo federal e estadual. E, pasmem! Mais de 137 mil hectares desapropriados ou adquiridos pelos programas do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA.

E em relação a Alagoas, quais foram esses avanços?

Os avanços que têm ocorrido em Alagoas, principalmente na última década, tanto no governo de Fernando Henrique Cardoso quanto no governo Lula, são significativos. Foi feito mais nesses dois períodos do que em todos os outros, tanto do ponto de vista das condições dos assentados e dos assentamentos quanto da quantidade de áreas desapropriadas e de orçamento destinado ao órgão que cuida da reforma agrária em nível federal em Alagoas, que é o Incra. Essa medida do avanço pode ser dar através de números preliminares de que dispomos. O Programa Banco da Terra, iniciado no governo de Fernando Henrique, conta hoje com

11.094 hectares de terras e cerca de 720 famílias. O programa que sucedeu o Banco da Terra, chamado de Crédito Fundiário, conta com 1.374 famílias e 14 mil hectares. Somando os dois, teremos pouco mais de 25 mil hectares. Já no programa de desapropriação do Incra, esses números são maiores. Chegaremos a um número um pouco superior a 100 mil hectares.

Quando juntamos os programas do Incra com os programas que estão aqui no Iteral, que são o Banco da Terra e o Crédito Fundiário – que está sendo trazido para cá –, nós vamos para algo em torno de 137 mil hectares. Para se ter uma idéia, a cana-de-açúcar ocupa uma área em Alagoas que não é superior a 406 mil hectares. Esses números da reforma agrária são expressivos, e isso já colocou, ao longo dos anos, cerca de 15 mil famílias assentadas em Alagoas.

De que forma o Iteral tem trabalhado para ajudar a desenvolver esses assentamentos?

Desde que chegamos ao Iteral, em janeiro de 2007, nós temos desenvolvido um trabalho para organizar os assentamentos do Banco da Terra. Já realizamos dois grandes encontros com esses assentados. Nos dois eventos, trouxemos técnicos do Ministério do Desenvolvimento Agrário e técnicos e consultores de Alagoas e de fora do Estado para discutir com os assentados no sentido de melhorar as condições e repassar informações do ponto de vista de novas tecnologias, elaborar projetos que venham a desenvolver os assentamentos.

“A REVOLUÇÃO EM ALA

“apreciação no Ministério da

Ciência e Tecnologia, no Ministério do Desenvolvimento

Agrário e na Fundação Palmares.”

Nós temos oito projetos em

Nós temos oito projetos em apreciação no Ministério da Ciência e Tecnologia, no Ministério do Desenvolvimento Agrário e na Fundação Palmares. Esses projetos têm como foco principal os assentamentos, principalmente a infra-estrutura, a educação nos assentamentos, a saúde, a transferência de tecnologia e a assistência técnica.

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GOAS VIRÁ DO CAMPO”

FOLHA DO ITERAL

“O Iteral não pode ser o órgão passivo que foi

durante muito tempo. Ele deve ser um órgão

propositivo nas ações.”

O que o Iteral tem feito para garantir assistência técnica a um número cada vez maior de assentamentos?

Nós colocamos os técnicos do Iteral para trabalhar prestando esse tipo de assistência, mas é muito pouco em decorrência da grande demanda. Nós estamos elaborando projetos para captar recursos para a assistência técnica, estamos montando uma parceria, através de um convênio, com a Escola Agrotécnica Federal de Satuba. Eu creio que será o grande diferencial na questão da assistência técnica para a agricultura familiar, porque há a possibilidade de repassar conhecimentos e inovação que vêm sendo trabalhados no dia-a-dia da escola. Se quisermos pensar numa assistência técnica sustentável e de qualidade, nós temos de pensar, tanto o Iteral quanto os movimentos, a Secretaria de Agricultura e a Fetag, projetos para a agricultura familiar a partir da Escola Agrotécnica. Isso, claro, sem deixar de lado a Universidade Federal de Alagoas e a Universidade Estadual de Alagoas, a Uneal, onde há a possibilidade de outros cursos trabalharem em prol da agricultura familiar, seja na área da zootecnia, da educação, da saúde, da ciência e tecnologia, da cultura. A partir daí, vamos desenvolver projetos não só focados na área agrotécnica, mas com várias faces e que tenham uma visão mais ampla dos assentamentos. Dessa forma, agregaremos inúmeros profissionais no mercado de trabalho da agricultura familiar.

Então, a partir de agora, o Iteral assume um papel de articulador dessas parcerias?

Também. Sobretudo para os assentamentos do Banco da Terra e do Crédito Fundiário. Nós queremos ser esse pólo difusor do conhecimento e montar parcerias com prefeituras, secretarias, MDA e Embrapa, pois é com ela que vamos alcançar a introdução de novas tecnologias que irão modificar a vida do homem do campo.

Como o Iteral está se preparando par ser o gestor dos assentamentos do Crédito Fundiário?

Esse é o grande desafio: vamos receber 1.374 famílias que vão se juntar às 720 que nós temos no Banco da Terra. Para tanto, temos de nos capacitar do ponto de vista da gestão. O Iteral não pode ser o órgão passivo que foi durante muito tempo. Ele deve ser um órgão propositivo nas ações, trabalhar a motivação dos assentados e, a partir daí, levar as políticas públicas no nível do Estado e do governo federal a esses assentamentos.

A agricultura familiar ganha destaque como uma das soluções para minimizar os efeitos da crise mundial de alimentos. Que avaliação o Iteral faz do papel dos assentamentos nesse contexto?

A crise de alimentos atinge principalmente o pobre. A agricultura familiar no Brasil já produz 70% de tudo o que chega à mesa do brasileiro. Em Alagoas há aproximadamente 115 mil agricultores familiares, mas

“agricultura familiar criará uma nova classe social em Alagoas,

que é a classe média rural, oriunda da média e da pequena propriedade.”

O fortalecimento da

lhes falta assistência técnica pública, o que não chega a ser uma novidade, pois com o desmonte do serviço público de assistência técnica, com a liquidação da Emater, Epeal e demais órgãos, o agricultor familiar foi abandonado. A retomada desse processo é lenta e vai

demandar muito esforço do governo estadual, e terá de haver muita ajuda do governo federal. A superação da estagnação ocorrerá com a união de todos: Seagri, Embrapa, MDA, Ministério de Ciência e Tecnologia, das Universidades Federal e Estadual, e devemos chamar para essa empreitada a Escola Agrotécnica Federal de Satuba. O trabalho seqüenciado é que levará a agricultura familiar a um porto seguro. O Iteral entrou nessa batalha recuperando os assentamentos do Banco da Terra e do Crédito Fundiário através da assistência técnica, porque entendemos que para Alagoas e para o Brasil a agricultura familiar é a grande alternativa para se produzir alimentos e gerar riqueza nas cidades do interior do país. A “pedra de toque” da agricultura familiar deve ser o treinamento e a capacitação dos assentados. A revolução em Alagoas virá do campo. O fortalecimento da agricultura familiar criará uma nova classe social em Alagoas. Havendo o fortalecimento da agricultura familiar, inevitavelmente surgirá uma potente classe média rural, oriunda da média e da pequena propriedade. Devemos tomar isso como uma meta, mais que isso, uma política de Estado. Esse é o grande desafio de Alagoas para a próxima geração.

Como tem sido a relação do Iteral com os movimentos sociais que lutam pela terra?

Boa. Nós temos trabalhado com todos os movimentos. Mantemos uma estreita relação com a Fetag e seus sindicatos. Somos aliados e desenvolvemos projetos em comum e respeitamos a autonomia de cada instituição ou movimento social. Temos consciência do papel dos movimentos sociais na sociedade contemporânea. Entendemos que são os movimentos sociais que mais têm interesse no êxito da reforma agrária. O ambiente em que está se concretizando a reforma agrária deve se transformar em pólos de desenvolvimento local, onde riquezas serão geradas e certamente haverá melhoria nas condições de vida dos agricultores familiares. Os sindicatos de trabalhadores rurais, a Fetag e os movimentos sociais que lutam pela terra em Alagoas são testemunhas do nosso propósito de contribuir com a realização da reforma agrária no Estado.

Fontes: Iteral, Incra e Seagri / 2008

PROGRAMA ASSENTAMENTOS ÁREA FAMÍLIAS MUNICÍPIOS

Banco da Terra 3511.094

hectares720 21

Crédito

Fundiário

81 + 26 propriedades

individuais

14.274

hectares1.374 36

Programa do Estado de Alagoas

52.094

hectares97 3

Programas do Incra

140110 mil hectares

13 mil 40

TOTAL 287 137.462 15.191 -------

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FOLHA DO ITERAL

Os principais assuntos da reforma agrária em Alagoas foram discutidos no II Encontro Estadual dos Assentados do Banco da Terra, que foi realizado nos dias 19 e 20 de junho pelo Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral), no Centro Social da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag), em Maceió.

O encontro reuniu mais de 100 participantes, entre assentados dos 35 assentamentos do Banco da Terra, técnicos, gerentes e diretores do Iteral e do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Dentre os principais temas que foram discutidos, estavam: política de assistência técnica púbica, inadimplência dos empréstimos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), Medida Provisória 432, renegociação das dívidas do Banco da Terra, revitalização das unidades produtivas, introdução do cultivo do bambu para uso múltiplo, agroindústria da agricultura familiar, quintais produtivos e Arcas do Saber, um projeto para instalação de bibliotecas nos assentamentos da reforma agrária.

MEDIDA PROVISÓRIA 432 – Uma das novidades foi explicada pelo gerente do Banco do Nordeste (BNB) em Alagoas, que trata do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), Manoel Roberto.

De acordo com ele, a Medida Provisória 432 (MP 432), já editada pelo governo federal, vai oferecer condições para aumentar a produção agropecuária dos pequenos produtores, reduzir o grau de endividamento do setor, adequar a dívida à capacidade de pagamento, estimular a liquidação antecipada da dívida e aumentar a capacidade de acesso a novos financiamentos.

Assistência técnica, renegociação das dívidas, Pronaf e quintais produtivos foram os principais temas

Encontro reuniu assentados do Banco da Terrapara discutir reforma agrária

Agricultores assentados conheceram os programas e tiraram dúvidas.

Medida Provisória 432 foi um dos principais asuntos.

Mais de 100 assentados do Banco da Terra participaram do II Encontro Estadual.

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Foto: Adailson Calheiros

Essa MP 432 vai ajudar a melhorar a vida do produtor rural Antônio Bezerra da Silva, presidente do assentamento Riacho Grande, em São José da Tapera. Ele é um dos assentados do Banco da Terra, tem cinco filhos que o ajudam na lavoura de feijão e milho e na criação de animais e deseja mais crédito para ampliar seu rebanho. “Quero comprar mais 10 vacas, pra vender o leite, e montar uma pequena granja”, disse o agricultor.

No assentamento Riacho Grande, todos os produtores estão adimplentes com as dívidas do Pronaf e o financiamento das terras. Por esse motivo, o gerente do BNB, Manoel Roberto, explica que ele tem grandes chances de conseguir um novo financiamento. “Vamos analisar se ele já aplicou o repasse anterior do programa, como estava previsto na contrato, quanto ele já quitou da dívida e então decidir quanto ele ainda pode receber”, esclarece o gerente do banco.

O presidente do Iteral, Geraldo de Majella, salientou a importância do evento para os assentados, que puderam interagir diretamente com os principais gestores do MDA que tratam do Programa Banco da Terra. “Foi uma boa oportunidade para debater com gestores, técnicos e consultores com longa experiência no trabalho de organização dos ag r i cu l to re s f ami l i a re s ” , r e s s a l tou . “Estabelecemos metas de trabalho e, ao mesmo tempo, aproximamos os assentados do Iteral do governo do Estado”, complementou Geraldo de Majella.

O coordenador dos assentamentos do Banco da Terra pelo Iteral, José Ivanildo Alves, destacou que “não só os problemas, mas também os modos de resolvê-los foram discutidos pelos assentados, que ainda puderam tirar dúvidas, fazer comentários e reivindicações”.

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Durante a finalização do II Encontro Estadual de Assentamentos do Banco da Terra, realizado em junho, no Centro Social da Fetag, em Maceió, os assentados conheceram uma tecnologia de irrigação desenvolvida em Israel que poderá beneficiar os assentamentos do Banco da Terra em Alagoas: os quintais produtivos.

Realizado pelo Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral), o encontro reuniu assentados dos 35 assentamentos do Programa Banco da Terra, que puderam discutir os problemas e soluções para alavancar a agricultura familiar no estado, além de conhecer as novidades que podem beneficiar o setor.

Um dos palestrantes do II Encontro foi o engenheiro agrônomo Carlos Henrique Carvalho, consultor do Ins t i tu to Novas Fronte i ras da Cooperação (INFC), que falou sobre os

quintais produtivos, uma tecnologia criada em Israel para enfrentar os longos períodos de seca. O projeto para implantação dos quintais está sendo desenvolvido pelo INFC em parceria com o Iteral, por meio de um convênio com o Ministério da Ciência e Tecnologia e uma parceria com a empresa multinacional Metafin. Para que seja instalado, esse sistema não precisará de nenhuma contrapartida financeira do assentado.

De início, entre dois e seis kits de material necessários para instalação do quintal produtivo serão implantados em alguns assentamentos para servir como demonstração. Esse kit de irrigação é suficiente para 500 metros quadrados, o que equivale a mais ou menos o quintal da casa do pequeno agricultor. "O interessante é que esse sistema utiliza pouca água e ali ele vai poder cultivar sua horta, com tomate, alface, cebola, batata,

m e l a n c i a , a b ó b o r a " , comentou o especialista do INFC.

"Um dos gargalos é a segurança alimentar. Se a gente garantir, por meio desse sistema, a alimentação da família ao longo do ano, o projeto de financiamento da terra e dos investimentos do Pronaf tende a ficar mais sustentável", esclareceu o consultor Carlos Henrique Carvalho.

Ele explicou que a tecnologia interna dos tubos d i s t r i b u i a á g u a p o r gotejamento com uma baixa pressão e uma coluna pouco elevada, em torno de um metro ou um metro e meio, o que evita o desperdício de água e o encharque do solo. Esse tipo de irrigação também não precisa de energia elétrica. A

Tecnologia de irrigação desenvolvida em Israel vai beneficiar assentados do Banco da Terra

Sem nenhuma contrapartida financeira do assentado, sistema de quintais produtivos poderá irrigar até 500 metros quadrados e garantir alimento o ano todo.

Pólo Agroalimentar do Agreste deve ser aprovado ainda este ano pela Finep

O governador Teotonio Vilela aprovou a implantação do Centro de D e s e n v o l v i m e n t o Te c n o l ó g i c o Agroalimentar para o Estado de Alagoas, nos municípios de Batalha e Arapiraca. O p r o j e t o v i s a p r o m o v e r o desenvolvimento socioeconômico do Semi-Árido alagoano a partir de produtos como leite e derivados, milho, feijão e mandioca, fruticultura, além de produtos orgânicos, bovino, ovocaprino e aqüicultura e apicultura. Atualmente o projeto está em fase de pré-aprovação e está sendo apreciado pela diretoria da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), órgão vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia. A implantação d o P ó l o d e D e s e n v o l v i m e n t o Tecnológico Agroalimentar consta no PPA 2008-11.

A superintendente de Ciência, Tecnologia e Informação, Josefa Petrúcia

Melo Moraes, e o ex-diretor de Apoio a Fomento de Parques Tecnológicos da s e c r e t a r i a , L a u r o B a n d e i r a , encaminharam o pré-projeto para apreciação da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), órgão vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia. A implantação do centro está orçado em R$ 12 milhões, e a contrapartida do Estado em R$ 4 milhões. “Entre os benefícios da implantação do pólo estão o acesso do pequeno produtor e empresários à ciência e tecnologia e, a médio prazo, a geração de conhecimento e inovação tecnológica”, disse a secretária de Estado da Ciência, da Tecnologia e da Inovação, Kátia Born.

O projeto enviado à Finep é a resposta da Secretaria de Ciência e Tecnologia ao ofício N° 12/2007, encaminhado pelo órgão ministerial, convidando os estados a apresentarem

propostas de projetos estruturantes para o Sistema de Ciência e Tecnologia. As instituições parceiras são Ufal, Fapeal, Uncisal, Uneal, Fiea, Sebrae e as secretarias do Planejamento, da Agricultura e do Desenvolvimento Econômico.

Sua estrutura propõe a instalação de uma unidade agroindustrial em Arapiraca e uma unidade agropecuária no município de Batalha. Entre os setores da unidade de Arapiraca consta a instalação de dois laboratórios de controle básico de microbiologia e físico-química de alimentos, que darão suporte ao desenvolvimento de produtos e aos projetos de incubação. Conta ainda com uma incubadora para desenvolvimento de empresas do setor agroalimentar, além de capacitação profissional de recursos humanos.

A unidade de Batalha será composta de áreas de desenvolvimento e

C o n s u l t o r d o I N F C e x p l i c a c o m o funcionam os quintais produtivos.

Secre tá r i a Ká t i a Bor n des taca os benefícios do Pólo Agroalimentar.

liberação de recursos para instalação dos quintais produtivos depende apenas dos trâmites normais no Ministério da Ciência e Tecnologia.

demonstração na área de melhoramento genético, produção, salas de ordenha, cortes, unidade de beneficiamento de leite e derivados, entre outras.

Assessoria / SECTIColaboração

FOLHA DO ITERAL

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Todos os imóveis rurais dos dois demarcadas com o auxílio

Pindoba e Paulo Jacinto

Em 26 anos com o trabalho de regularização fundiária, o Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (teral) já regularizou todos os imóveis rurais de 35 municípios, a maioria deles no Sertão e no Agreste. Esse ano, com o apoio de tecnologias como o GPS, em dois municípios foi realizado um trabalho novo, mais moderno e preciso: Paulo Jacinto e Pindoba foram totalmente georeferrenciados.

P o r m e i o d o georeferenciamento, realizado a partir de um convênio com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, todos os imóveis rurais desses dois municípios tiveram suas áreas demarcadas. Essa demarcação define, além da área, a vizinhança e a localização exata de cada

uma das propriedades rurais.

PASSO A PASSO – Após concluído o trabalho de regularização fundiária, o Iteral entrega ao proprietário de cada imóvel três documentos: uma planta, um memorial descritivo e o título. Com os documentos em mãos, o proprietário vai ao cartório fazer o registro. Mas até chegar a esses documentos que caracterizam todas as propriedades rurais de cada município, há um trabalho longo e detalhista.

M u n i d o s d e a p a r e l h o s rastreadores conectados ao Sistema de Posicionamento Global (GPS), os técnicos do instituto visitam cada imóvel da zona rural, verificam os

documentos do proprietário e fazem a demarcação para saber se a extensão real do terreno corresponde àquela declarada no documento. Às vezes são encontradas diferenças, tanto para mais quanto para menos. “Algum tempo atrás, as pessoas usavam métodos inexatos para realizar a medida de grandes extensões, como a braça e até cordas”, explica o engenheiro cartógrafo Mauro Bizarro, chefe do Setor de Cartografia e Geoprocessamento (Secar) do Iteral. Os técnicos também conferem quem são os proprietários dos terrenos vizinhos.

Depois das visitas a todos os imóveis rurais do município, os dados são analisados por outros técnicos do Iteral, que determinam as coordenadas

Em Paulo Jacinto foram demarcados 451 imóveis rurais.

geográficas, ou seja, a latitude e a longitude de cada um deles.

COMISSÃO – Paralelamente ao trabalho dos técnicos que fazem a demarcação dos imóveis rurais, é cr iada , por meio de decreto governamental, uma Comissão Especial de Discriminação de Terras. Essa comissão atua exclusivamente no município para o qual foi criada e tem a missão de solicitar aos proprietários de cada um dos imóveis e ao cartório local os documentos que comprovem a posse da terra.

“Muitos não vão ter esses documentos, mas, ao provarem que são realmente os donos, vão receber do Iteral um título”, comenta o

www.maisalagoas.uol.com.br.

FOLHA DO ITERAL

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municípios tiveram suas áreas de tecnologia moderna

"Georreferenciamento? É uma metodologia empregada na Engenharia Cartográfica para que os mapas possuam o mesmo sistema de referência. A finalidade de se fazer o georeferenciamento do município é evitar a superposição de imóveis, ou seja, evitar que haja "invasão" da área de uma propriedade por outra quando se comparam mapas das duas. Por meio desse método, técnicos e engenheiros cartógrafos vão a campo demarcar as propriedades rurais munidos de aparelhos GPS, com os quais podem obter as coordenadas geográficas do imóvel (latitude e longitude) ou as coordenadas p lanas (UTM). As informações obtidas com o auxílio do GPS

O que é:são transformadas para o sistema Datum SAD 69, usado no Brasil. Ao final, são e m i t i d o s d o i s d o c u m e n t o s a o s proprietários de cada um dos imóveis rurais: a planta e o memorial descritivo. Em outras palavras, isso se chama regularização fundiária.

"Topografia Convencional? Por meio desse método, pouco usado atualmente, engenheiros e técnicos iam a campo fazer a demarcação dos imóveis rurais com o apoio de um equipamento chamado teodolito. Ele mede o ângulo e a distância de cada propriedade rural. Para isso, os profissionais tinham de percorrer toda a extensão das fazendas, sítios e chácaras,

muitas vezes tendo até de abrir caminhos nas matas. O objetivo final desse trabalho também é a emissão da planta e do memorial descritivo, para que haja a regularização fundiária.

"Fotogrametria? Esse método, que também já caiu em desuso, consistia nas seguintes etapas: primeiro um avião sobrevoava a área a ser demarcada - normalmente um município - e fazia fotografias aéreas de toda a sua extensão. Depois, de posse dessas fotos, os técnicos percorriam cada propriedade para identificar os pontos do imóvel. Ao final, os proprietários também recebiam uma planta e um memorial descritivo.

O município de Pindoba teve 322 imóveis rurais demarcados.

www.maisalagoas.uol.com.br.

engenheiro cartógrafo Mauro Bizarro, chefe do Secar. “Precisamos também que os vizinhos declarem que ele realmente vive ali há muito tempo”, esclarece Mauro Bizarro. Com esse título é possível obter a escritura, documento oficial que garante a posse da terra.

Integram a Comissão Especial de Discriminação de Terras para o município de Pindoba o advogado José Hugo Vieira Farias, que é o presidente, Luiz Augusto Freitas Falcão e Judite Cordeiro de França Casado. A Comissão criada para o município de Paulo Jacinto é formada pelo advogado Ricardo Bezerra Vitório, presidente, Gilmar de Almeida Lucena e Marilene Ferreira Soares.

FOLHA DO ITERAL

são georreferenciados

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O Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral), como gestor do Programa Fundo de Terra-Banco da Terra, do governo federal, já garantiu moradia e pequenas propriedades rurais para cerca de 820 famílias.

A m a i o r i a d e l a s , aproximadamente 720, estão em 35 assentamentos de 21 municípios no Agreste, Sertão e Zona da Mata, que juntos totalizam 11.094 hectares de terras. As outras 100 famílias estão em cinco assentamentos em três municípios, num total de 2.094 hectares, criados há quase 20 anos.

Mais de 800 famílias já têm

Com a posse da terra, produtores plantam, criam, geram renda e desenvolvem a agricultura familiar

O Programa Fundo de Terra-Banco da Terra durou três anos (2001-2003) e assentou agricultores familiares que viviam tanto no campo quanto na cidade, mas que não tinham moradia própria. A maioria vivia em fazendas ou em imóveis arrendados, e todas essas famílias tinham como vocação o trabalho com a terra.

POSSE DA TERRAPara que pudessem conseguir

seu próprio imóvel rural nos a s sen tamentos c r i ados pe lo programa, as famílias formavam uma

associação. Depois, negociavam o preço e a forma de pagamento das propriedades, que eram financiadas pelo Programa Banco da Terra por meio do Banco do Nordeste. O prazo que todas as famílias têm para quitar a propriedade é de 20 anos, com juros de 8% ao ano.

Depois de assentadas, as famílias tinham três anos de carência, ou seja, só começavam a pagar as parcelas anuais após três anos de instaladas nos assentamentos.

A parcela é paga apenas uma vez a cada ano, e cada família deve se responsabilizar pelo seu valor. As

Moradores de assentamentos do Banco da Terra plantam e criam para obter renda.

parcelas pagas dentro do prazo obtêm 50% de desconto no valor dos juros.

Por isso, elas devem cultivar a terra e desenvolver atividades que, além de lhes garantir seu próprio sustento, também gerem um excedente capaz de honrar a dívida pela posse da terra todos os anos. O tamanho de cada lote varia: no Sertão, a média é de 21 hectares; no Agreste, é de 10 hectares; na Zona da Mata, cada lote tem em média 7 hectares.

“Antes da instalação das famílias na terra, o Iteral começou a realizar trabalhos de registro e demarcação das propriedades, visando garantir efetivamente a posse a cada uma dessas famílias, e deu início às obras de construção das casas” afirma o coordenador dos assentamentos pelo Iteral, José Ivanildo Alves.

SUSTENTOAs atividades desenvolvidas

pelas famílias assentadas através do programa Banco da Terra para garantir seu sustento variam de acordo com as condições naturais de cada assentamento, como solo e clima. Também são desenvolvidas atividades que geram produtos de fácil comercialização na região. No Sertão, por exemplo, os assentados c r i a m c a p r i n o s e o v i n o s , bovinocultura de leite, plantam palma, feijão e milho. Na Zona da Mata, há uma maior tendência para o cultivo de frutas, inhame e macaxeira. Esses produtos são comercializados em feiras nas cidades de cada região, e também servem para o próprio sustento.

MAMONAA v i a b i l i d a d e d e s s e s

assentamentos é garantida com o auxílio de alguns programas estaduais e federais. Etse ano as famílias dos assentamentos do Banco

FOLHA DO ITERAL

Neno Canuto

Page 15: Folha do Iteral do Iteral.pdf · assentamentos foram criados há cerca de 20 anos e somam quase 100 famílias. Página Página FOLHA DO ITERAL Ano I - nº 01 – Out/Dez 2008 –

por exemplo”, afirma o coordenador dos assentamentos, José Ivanildo Alves.

MAIS ASSENTAMENTOSO Iteral também é o gestor de

outros cinco assentamentos que estão em três municípios do Estado: Flexeiras, Colônia Leopoldina e Delmiro Gouveia. Eles foram criados por meio de convênio entre o governo do Estado e o governo federal no fim dos anos de 1980 para garantir a posse da terra a trabalhadores rurais.

da Terra receberam sementes de mamona, passando a fazer parte da cadeia do biodiesel no Estado. “A compra da produção de mamona no Estado até aqui sempre foi garantida”, informa o gestor do Programa do Biodiesel de Alagoas (Probiodiesel/AL) pela Secretaria de Estado do Planejamento e do Orçamento (Seplan), Guillermo Hernandez.

No âmbito federal, essas f a m í l i a s p o d e m a d q u i r i r f inanciamentos do Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura Familiar (Pronaf). Para isso, o Iteral fornece a cada uma a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), que depois é levada para aná l i se em um dos bancos conveniados ao programa.

“Com os recursos do Pronaf, que são recebidos em três parcelas, de acordo com o uso do repasse anter ior, os moradores dos assentamentos do Banco da Terra podem financiar a compra de gado, caprinos, ovinos, palma forrageira, cerca, carro de boi, construção e recuperação de açudes e fruticultura,

Famílias assentadas estão incluídas em programas do governo federal e praticam a agricultura familiar.

sua propriedade rural

FOLHA DO ITERAL

Desde então até hoje, o Iteral realizou o mapeamento e demarcou as terras de cada um deles. Estes assentamentos são os seguintes: Nova Conquista e Vitória da Conquista, em Flexeiras; Gruta D'Água, em Colônia Leopoldina; Peba e Lameirão, em Delmiro Gouveia. Juntos, eles somam cerca de 100 famílias que vivem em 2.094 hectares. O Iteral também é responsável por prestar assistência técnica, distribuir sementes e facilitar o acesso das famílias a programas do governo do Estado e do governo federal.

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Cultura

Foto 8: Dona Josefa Flor, moradora mais antiga da comunidade Passagem do Vigário, em Taquarana, cantando um “pagode” (parecido com o coco-de-roda).

Foto 9: O uso de louça de barro e sua fabricação é tradição na comunidade Ponte do Vigário, em Taquarana.

Foto 10: Como não há sistema de abastecimento de água na comunidade Ponte do Vigário, em Taquarana, os moradores usam os potes para carregar a água que vão consumir durante o dia.

Foto 11: Dona Maria Abílio Flor é artesã da comunidade Ponte do Vigário, em Taquarana, e aprendeu a fazer panelas e potes de barro com sua mãe.

Foto 12: Aos poucos as mãos de dona Maria Abílio Flor, de Ponte do Vigário, em Taquarana, transformam o barro numa panela.

Foto 13: Dona Quitéria, moradora mais antiga da comunidade Jussarinha, a 10 km de Santana do Mundaú.

Foto 14: Dona Raimunda Caetana, representante comunitária de Jussarinha, em Santana do Mundaú, cuida das questões políticas e sociais de sua comunidade e fabrica esteiras.

“A imagem vai além de uma evidência documental, ela tem uma relação entre o espaço e o tempo, na qual o ser fotografado torna-se visível, podendo imortalizar o ser e momento”. (Roberto Cardoso de Oliveira).

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As fotografias a seguir foram tiradas por Sandreana Melo durante as visitas de uma equipe do Iteral a comunidades quilombolas de Alagoas. Nem todas foram reconhecidas oficialmente como remanescentes de quilombos, por isso o Iteral está elaborando um estudo que será encaminhado à Fundação Palmares para obter esse reconhecimento.

FOLHA DO ITERAL

Graduanda do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Trabalha há quatro anos com fotografia, faz parte do Laboratório de Antropologia Visual em Alagoas (AVAL/Ufal). Atualmente é responsável pelo registro imagético do mapeamento etnográfico realizado pelo Iteral. Habilitada em fotografia pelo SENAC/AL, além de cursos de aperfeiçoamento, com professores e antropólogos como Milton Guran, Siloé Amorim e o fotógrafo alagoano Celso Brandão, que são ícones brasileiros no uso da fotografia aplicada às Ciências Sociais.

Foto 1: Morador da comunidade Jussarinha, em Santana do Mundaú, recebe em sua casa os visitantes do Iteral.

Foto 2 : Seu Manoel, morador antigo da comunidade Jussarinha, em Santana do Mundaú, mostra a imagem do santo que representa a força do catolicismo no lugar.

Foto 3: Tamires, criança da comunidade Filus, que fica a 18 km de Santana do Mundaú e já foi reconhecida oficialmente.

Foto 4: Tamires, criança da comunidade Filus, em Santana do Mundaú, mostra do que gosta de brincar.

Foto 5: Meninas da comunidade quilombola Filus, em Santana do Mundaú, aparecem de forma descontraída.

Foto 6: Não é a cor o principal elemento que vai def inir uma identidade, mas seu auto-reconhecimento. Comunidade Filus, em Santana do Mundaú.

Foto 7: Comunidade Filus, em Santana do Mundaú, pode ser considerada um quilombo plurigenético, que tem a contribuição de outras etnias, como as de brancos pobres, mestiços e índios.