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FLÁVIA AMATA MUDADO CIMENTAÇÃO ADESIVA DE CERÂMICAS À BASE DE ZIRCÔNIA BELO HORIZONTE FACULDADE DE ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS 2012

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FLÁVIA AMATA MUDADO

CIMENTAÇÃO ADESIVA DE CERÂMICAS À BASE DE

ZIRCÔNIA

BELO HORIZONTE

FACULDADE DE ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

2012

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FLÁVIA AMATA MUDADO

CIMENTAÇÃO ADESIVA DE CERÂMICAS À BASE DE ZIRCÔNIA

Monografia apresentada ao programa de Pós-

Graduação da Faculdade de Odontologia da

UFMG como parte do requisito parcial para

obtenção do título de Especialista em

Dentística

Orientador: Prof. Dr. Hugo Henriques Alvim

Belo Horizonte

2012

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DEDICATÓRIA

Aos Meus Pais, que têm vibrado pelas mais simples vitórias da minha vida. Por

apoiarem e incentivarem todos os meus sonhos.

Ao Rodrigo por estar ao meu lado sempre, sem medir esforços, me enchendo

de amor e carinho. Por todos os momentos de aprendizado, incentivo e

motivação. Fonte de inspiração e um dos maiores motivos por eu estar aqui

hoje.

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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

À Deus, porque sempre me rege, me guia e me guarda. Por abençoar todos os

caminhos por mim trilhados, e por sempre colocar pessoas queridas na minha

vida.

Aos meus queridos Nando e Mari, por existirem na minha vida e estarem

presentes sempre, dividindo comigo todos os momentos.

Ao meu Orientador, Prof. Dr. Hugo Henriques Alvim, por toda atenção,

dedicação e confiança depositadas em mim. Não tenho como agradecer a

oportunidade de ter sido orientada por você. Sempre compreensivo, amigo,

disposto a ajudar, orientando com paciência e sabedoria.

Ao Prof.Dr. Lincoln Dias Lanza, pelos ensinamentos e oportunidades

oferecidas. Parte do meu despertar para a Dentística devo a você, a quem

sempre admirei desde a graduação.

Ao Prof. Dr. Luiz Thadeu de Abreu Poletto, por todo conhecimento

compartilhado.

Aos meus queridos amigos e colegas de especialização, por poder contar

com vocês em todos os momentos. Em especial às minhas queridas Nina e

Débora: a presença de vocês tornou tudo mais divertido e tranquilo. Obrigada

por todos os momentos!

Aos Professores que fizeram parte deste curso, por participarem da minha

formação doando conhecimento e experiência.

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Aos Funcionários Margarida, Cristina e Joaquim, pela convivência e carinho

com que sempre me trataram.

Aos meus Pacientes, pela colaboração e paciência, sendo incansáveis durante

os atendimentos.

À Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais.

Tenho orgulho em ter me formado nessa faculdade, que além do poderoso

instrumento de trabalho, proporcionou a convivência com pessoas tão queridas

a mim. Com respeito, admiração e gratidão, exaltarei sempre o nome desta

instituição.

Ao Laboratório CORTEC, em especial ao Telmo e Séfora, por contribuírem de

maneira significante com este trabalho.

À 3M ESPE, por todo material gentilmente cedido para este estudo.

Aos funcionários do Departamento de Dentística, por sempre estarem

solícitos em ajudar.

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RESUMO

As cerâmicas de alto conteúdo cristalino, como a zircônia, apresentam ótimas

propriedades mecânicas quando comparadas às cerâmicas convencionais,

sendo cada vez mais empregadas como materiais restauradores indiretos.

Entretanto, seu sucesso também depende da formação de uma união confiável

com os agentes de cimentação. O aumento do conteúdo cristalino modificou as

características de adesão entre cerâmica e cimento resinoso, não existindo um

protocolo de cimentação bem estabelecido na literatura. Este trabalho tem

como objetivo o estudo da resistência de união dos cimentos resinosos às

cerâmicas de zircônia correlacionando aos diferentes tratamentos de superfície

através de uma revisão de literatura. Estudos têm sugerido técnicas de

cimentação específicas para as cerâmicas a base de zircônia. Estas técnicas

incluem métodos de tratamento de superfície a exemplo do jateamento com

óxido de alumínio ou com partículas de sílica, além do uso concomitante de

materiais que promovam união química ao dióxido de zircônio. A realização de

um tratamento de superfície aumentou consideravelmente os valores de

resistência de união entre a cerâmica de zircônia e os cimentos resinosos de

uma maneira geral, sendo que quando associado ao uso de primers ou

cimentos contendo MDP, os valores de resistência de união são ainda

melhores.

Palavras-chave: Zircônia. Tratamentos de superfície. Cimentação adesiva.

Resistência.

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ABSTRACT

Adhesive cimentation of zirconia ceramics

High crystallline content ceramics, such as zircônia, show great mechanical

properties when compared to conventional ceramics, being increasingly used

as indirect restorative materials. However, its success also depends on the

reliable bond formation with luting agents. The high crystaline content modified

the adhesiveness between ceramic and resin cement, although there isn’t any

cementing protocol estabilished in literature. The purpose of this study was to

evaluate the bond strength of resin cements to zirconia ceramics through a

literature review. Studies have suggested cementing techniques specific to the

base ceramic zirconia. These techniques include methods of surface treatment

such as the shot blasting with aluminum oxide or silica particles, and the

concomitant use of materials which promote chemical bonding to zirconium

dioxide. The realization of a surface treatment greatly increased the values of

bond strength between the zirconia ceramic and resin cements in general, and

when associated with the use of primers or cements containing MDP values of

bond strength are even better.

Keywords: Zircon. Surface Treatments. Adhesive cementation. Resistance.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

EUA Estados Unidos da América

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

MDP Monômeros fosfatados

Y-TZP Zircônia tetragonal policristalina estabilizada por ítrio

SIE Selective Infiltration Etching – Técnica de condicionamento e

infiltração seletiva

CAD-CAM Computer Aided Design/Computed Aided Manufactured -

Projeto Assistido por Computador/ Fabricação Assistida por Computador.

Sistema computadorizado de produção de cerâmica.

Bis-GMA Bisfenol glicidil metacrilato

EGDMA Etilenoglicol dimetacrilato

TEGDMA Trietilenoglicol dimetacrilato

UEDMA Uretano dimetacrilato

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LISTA DE SÍMBOLOS

μm Unidade de comprimento (micrometro)

°C Unidade de temperatura (graus Celsius)

mm Unidade de comprimento (milímetro)

mm2 Unidade de área (milímetro quadrado)

Mpa Unidade de resistência em geral – força / área

nm Unidade de comprimento (nanômetro)

n= Número de amostras por grupo

kgf Unidade de força – carga aplicada (quilograma força)

% Porcentagem

h Horas

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SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO ...................................................................................... 12

2- REVISÃO DE LITERATURA ................................................................. 17

2.1- A Cerâmica de Zircônia ................................................................ 17

2.2- Cimentos resinosos ....................................................................... 21

2.3- Tratamentos de Superfície ............................................................. 25

2.4- União entre cimentos resinosos e zircônia .................................... 28

3- DISCUSSÃO ..........................................................................................47

4- CONCLUSÃO.........................................................................................54

REFERÊNCIAS ................................................................................... 56

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INTRODUÇÃO

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1 - INTRODUÇÃO

As cerâmicas são materiais utilizados com frequência na prática odontológica,

demonstrando uma série de características extremamente desejáveis, como por

exemplo, biocompatibilidade, alta resistência à compressão e abrasão,

radiopacidade, estabilidade de cor, baixa condutividade térmica, reduzido acúmulo

de placa bacteriana e estabilidade estética (BLATZ et al, 2003).

O recente aumento da demanda de restaurações estéticas de cerâmica pura, tem

levado ao desenvolvimento de materiais com propriedades mecânicas otimizadas,

como as cerâmicas à base de alumina e zircônia densamente sinterizadas (PICONE,

MACCAURO, 1999) que, por sua vez, vêm sendo cada vez mais empregadas como

materiais restauradores indiretos (PEJETURSSON et al, 2007).

O óxido de zircônio (ZrO2), ou zircônia, é um óxido metálico que foi identificado pelo

químico alemão Martin Heinrich Klaproth em 1789. A zircônia é polimórfica na

natureza, o que significa que ela exibe diferença de equilíbrio na estrutura cristalina

em temperaturas diferentes, sem alterações na química. Ela se apresenta em três

fases: monoclínica, estável até cerca de 1170°C; tetragonal de 1170°C até 2370°C;

e cúbica, de 2379°C até a temperatura de fusão (2680°C). Os grãos tetragonais da

zircônia, que são estáveis em temperaturas elevadas, podem ser mantidos assim à

temperatura ambiente através da adição de óxidos metálicos (PICONI; MACCAURO,

1999). O oxido de ítrio (Y2O3) é o mais utilizado em biocerâmicas, por permitir uma

maior resistência flexural quando comparado aos demais (CaO, MgO), apesar de

seu processo de sinterização ser muito mais difícil. A cerâmica formada dessa

adição é chamada de zircônia policristalina tetragonal estabilizada por ítrio (3%Y-

TZP) (PICONI; MACCAURO, 1999).

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A Y-TZP é uma cerâmica que tem interesse especial por sua propriedade de

tenacificação por transformação (“transformation toughening”), fazendo com que

ocorra uma mudança da fase tetragonal para monoclínica quando tensões são

aplicadas. Essa transformação é associada a um aumento local de 3-5% em volume,

o que resulta em tensões compressivas localizadas ao redor e nas bordas da trinca,

atuando contra as tensões de tração que podem levar à fratura do material (PICONI;

MACCAURO, 1999, VAGKOPOULOU et al., 2009).

Embora a Y-TZP tenha sido usada como um biomaterial cerâmico em aplicações

médicas desde o final dos anos 60, sua utilização na odontologia é relativamente

recente e ocorreu seguindo os avanços da tecnologia CAD-CAM (BLATZ et al.,

2004; VAGKOPOULOU et al., 2009).

Não obstante as propriedades mecânicas melhoradas serem importantes para o

desempenho em longo prazo de um material cerâmico, a performance clínica das

próteses fixas em cerâmica parece estar associada também ao processo de

cimentação (THOMPSON et al.,2004, CAVALCANTI et al. 2009). Desta forma, a

cimentação para zircônia tem se tornado um tópico de grande discussão nos últimos

anos (THOMPSON et al., 2011).

Apesar da cimentação de restaurações de zircônia com cimentos tradicionais

(fosfato de zinco ou ionôméricos modificados) garantir adequada fixação clinica e

sucesso, a utilização de cimentos resinosos possui algumas vantagens em relação a

outras classes de materiais, uma vez que apresentam baixa solubilidade ao meio

bucal e característica estética melhorada. Porém, para que se alcance adequada

resistência adesiva no uso dos cimentos resinosos em conjunto com sistemas

cerâmicos, o tratamento superficial das restaurações é tido como essencial (DELLA

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BONA et al.,2007a; OYAGUE et al.,2009a). Esse tratamento superficial destina-se a

dois propósitos fundamentais que podem ocorrer simultânea ou separadamente,

dependendo do procedimento adotado: gerar microrretenções superficiais que serão

infiltradas pelo cimento resinoso criando uma retenção do tipo micromecânica, e

ampliar a reatividade química da superfície com os produtos a serem aplicados para

adesão química (BLATZ et al.,2003).

É importante e fundamental que o tratamento superficial selecionado seja coerente

com o sistema cerâmico empregado, pois deve ocorrer uma concordância entre a

composição/microestrutura do material restaurador e a técnica de tratamento de

superfície (BLATZ et al.,2003).

Diversos métodos de tratamento superficial cerâmico têm sido relatados,

destacando-se como mais comuns o condicionamento com ácido fluorídrico,

silanização, jateamento com óxido de alumínio, jateamento com partículas

diamantadas e jateamento com óxido de alumínio revestido por sílica (BLATZ et

al.,2003). O domínio da técnica de cimentação para as cerâmicas a base de sílica é

confiável, entretanto, as cerâmicas de alto conteúdo cristalino em sua composição

possuem a fase vítrea muito reduzida ou até mesmo eliminada, o que modifica

consideravelmente as características de união aos cimentos resinosos.

Considerando que o condicionamento com ácido fluorídrico dissolve a fase vítrea da

cerâmica, quando esta fase é reduzida nenhum tipo de ácido produz retenção

micromecânica suficiente para o procedimento de união (DERAND; DERAND, 2000).

Vários mecanismos foram sendo introduzidos com o objetivo de melhorar a adesão.

Dentre as alternativas propostas, pode-se incluir o jateamento, seja com óxido de

alumínio de 50µm, ou com partículas de sílica, que podem variar de 30µm a 110µm,

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representados pelos sistemas Cojet e Rocatec (3M ESPE), respectivamente

(VALANDRO et al., 2005; ATSU et al., 2006); a deposição de estanho; o

condicionamento com ácidos, o tratamento térmico; a aplicação de primers ou

condicionadores para metal ou uma associação entre métodos.

Até o momento, não existe um consenso sobre o melhor método de tratamento de

superfície para alcançar uma ótima união dos cimentos resinosos à zircônia.

(QEBLAWI, 2010)

O objetivo deste trabalho envolve o estudo da resistência de adesão dos cimentos

resinosos às cerâmicas de zircônia através de uma revisão de literatura, na qual

avaliamos os principais trabalhos envolvendo tratamentos de superfície e resistência

de união.

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REVISÃO DE LITERATURA

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2 - REVISÃO DE LITERATURA

Quando se procura por fatores que possam melhorar a força de união de

restaurações cerâmicas e agentes cimentantes as variáveis mais comumente

estudadas e descritas na literatura são: o tratamento interno de superfície da

restauração (seja mecânico ou químico) e as propriedades dos agentes cimentantes.

Antes de revisar o que a literatura tem disponível sobre a interação adesiva das

restaurações de zircônia e os cimentos resinosos, é necessário conhecer um pouco

mais sobre as características das cerâmicas a base de zircônia e tratamentos de

superfície

2.1 - A CERÂMICA DE ZIRCÔNIA

A palavra cerâmica deriva do termo grego keramike, derivação de keramos, que

significa argila. Os primeiros indícios das cerâmicas foram encontrados há quase 13

mil anos nas escavações do Vale do Nilo, no Egito. Desde o século X, a China já

dominava a tecnologia da arte em cerâmica, a qual apresentava estrutura interna

firme e cor muito branca, chegando à Europa apenas no século XVII onde ficou

conhecida como “louças de mesa”. A partir de então, os europeus buscaram copiar a

composição da porcelana chinesa. Entretanto, somente em 1717 é que se

descobriram os segredos dos chineses, que confeccionavam as cerâmicas a partir

de três componentes básicos: caulim (argila chinesa), sílica (quartzo) e feldspato

(misturas de silicatos de alumínio, potássio e sódio) (DELLA BONA et al., 2004).

Em 1774 o francês Alexis Duchateau, insatisfeito com sua prótese total

confeccionada com dentes de marfim, decidiu troca-las por novas próteses de

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cerâmica, por verificar a durabilidade, resistência ao manchamento e a abrasão

deste material quando utilizado em utensílios domésticos. Com o auxilio de Nicholas

Dubois de Chemant, a arte das cerâmicas foi introduzida na Odontologia (KELLY et

al., 1996).

As restaurações de cerâmica apresentavam como principal desvantagem a alta taxa

de fratura, dada pela propagação de trincas inerentes a esse material. Esta foi a

razão pela qual os metais passaram a ser utilizados como infraestruturas para as

porcelanas nos anos 60, por terem alto modulo de elasticidade. A união conseguida

entre metal e cerâmica impede a flexão e a deformação das cerâmicas, reduzindo a

propagação de trincas e assegurando a longevidade das coroas (WALL E CIPRA,

1992) .

McLean e Hughes (1965) desenvolveram a primeira cerâmica reforçada pela

modificação da fase cristalina através da adição de cristais de alumina, a fim de ser

empregada como material para infraestrutura. Três materiais (porcelana, porcelana

reforçada com 40% de cristais de alumina e vidro) com e sem glaze, e duas

velocidades de resfriamento (rápido e lento) foram avaliados em relação à

resistência à fratura, em barras e discos. Discos também foram avaliados em relação

à máxima tensão suportada, em dispositivo específico para o teste. E, ainda, foi

realizado teste de absorção de água. Os resultados evidenciaram que a resistência

à fratura da porcelana reforçada foi quase o dobro em relação à convencional. A

máxima tensão suportada pela porcelana reforçada foi de 5:1 em relação à

porcelana convencional. Além disso, a porcelana reforçada não dependia da

presença de glaze para redução da propagação de trincas. Desde então, o enfoque

primário foi de melhorar, principalmente, a resistência à fratura das infraestruturas

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cerâmicas e, consequentemente, sua longevidade clínica. Assim, introduziram-se as

cerâmicas policristalinas a base de óxido de zircônio.

O interesse na utilização da zircônia como biomaterial odontológico partiu de sua

boa estabilidade química e dimensional, resistência mecânica, dureza e um módulo

de Young da mesma magnitude do aço inoxidável (PICONI; MACCAURO, 1999).

Segundo Sadan et al. (2005), a zircônia apresenta três formas cristalográficas:

monoclínica, tetragonal e cúbica dependendo da adição de componentes

estabilizadores como cálcio (CaO), magnésio (MgO), ítria (Y2O3) ou céria (CeO2).

Estes componentes estabilizam a fase tetragonal metaestável a temperatura

ambiente.

A concentração do agente estabilizador tem um papel determinante no desempenho

do material sob fadiga. Quando adicionada uma grande quantidade (8-12%) deste

agente, uma fase cúbica totalmente estabilizada pode ser produzida, o que

inviabiliza a transformação de fase tetragonal-monoclínica, resultando num pior

desempenho. No entanto, ao adicionar quantidades menores (3-5% em peso), é

produzida zircônia tetragonal parcialmente estabilizada. A zircônia tetragonal é

estável em temperatura ambiente, porém, sob tensão, esta fase pode sofrer

alteração para a fase monoclínica, com um aumento subsequente de cerca de 4,5%

em volume. Este mecanismo, conhecido como “tenacificação por transformação” ou

“transformation toughening”, é o principal responsável pelas propriedades mecânicas

superiores da zircônia (PICONI; MACCAURO, 1999 e DENRY; KELLY, 2008).

O tamanho do grão também desempenha um papel importante nas propriedades

mecânicas do material. Um tamanho de grão crítico existe para se obter uma

estrutura tetragonal metaestável à temperatura ambiente, sendo que este deve ser

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inferior a 0,8 µm. Grãos maiores que 0,8 µm promovem a transformação de fase

espontânea, ao passo que, quando a estrutura for formada por grãos extremamente

finos (~0,2 µm), a transformação tetragonal-monoclínica pode ser inibida (PICONI;

MACCAURO, 1999 e DENRY; KELLY, 2008).

Considerando que os precipitados tetragonais metaestáveis poderiam se transformar

em fase monoclínica, pelo avanço de uma trinca no material, a expansão em volume

resultante desta transformação teria um efeito positivo quando consideramos que

esta expansão comprime a trinca, se opondo à sua propagação. Desta forma, esta

alteração dimensional consome energia da trinca e pode impedir sua propagação

(GUAZZATO et al., 2004).

Outra característica interessante da transformação de fases nas cerâmicas de

zircônia é a formação de camadas compressivas na superfície. Isto é resultado da

espontânea transformação de fase tetragonal-monoclínica das partículas de zircônia

na superfície, ou perto dela, devido à ausência de compressão hidrostática. Na

superfície, grãos tetragonais podem se transformar em monoclínicos através de

tratamentos de superfície, que podem induzir tensões compressivas numa

profundidade de alguns micrômetros (GUAZZATO et al., 2004).

A preocupação maior referente ao uso da zircônia é a sua degradação em baixas

temperaturas (<300°C), na presença de umidade. O envelhecimento ocorre por uma

lenta transformação da fase tetragonal para fase monoclínica, que é estável na

presença de água ou vapor de água. A degradação em baixa temperatura inicia-se

na superfície policristalina e progride em direção ao interior do material. A

transformação de um grão provoca o aumento no volume causando tensões nos

grãos vizinhos e provocando o aparecimento de microtrincas. A penetração de água

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provoca uma degradação superficial transformando os grãos vizinhos. A

transformação inicial de grãos específicos pode ser devido ao estado de

desequilíbrio microestrutural ocasionado por diferentes fatores: tamanho maior de

grãos, por uma menor quantidade de ítrio, por uma orientação específica da

superfície, a presença de tensão residual ou a presença de fase cúbica

(CHEVALIER et al., 2004).

O processo de obtenção de zircônia parcialmente estabilizada mais utilizado e

também o mais descrito na literatura é o Y-TZP. Policristais de zircônia tetragonal

estabilizados por ítria (3 mol%) resultam em um material cerâmico de elevada

tenacidade e dureza, usado em sistemas como o LAVA (3M ESPE, St. Paul,

Minnesota, EUA), CERCON (Dentsply, York, Pensylvania, EUA), Procera (Nobel

Biocare, Gotemburgo, Suécia) e YZ Ceram (VITA Zahnfabrik, Bad Sackingen,

Alemanha) (DENRY; KELLY, 2008).

O In-Ceram® Zircônia utiliza a céria como agente estabilizador da zircônia, porém

pouco se sabe sobre a influência que a céria exerce sobre as propriedades da

zircônia. É comprovado que o sistema Ce-ZrO2 possui propriedades superiores aos

sistemas que incorporam MgO e CaO e que parece não apresentar envelhecimento

(DENRY; KELLY, 2008 e LUGHI; SERGO, 2010).

2.2 – CIMENTOS RESINOSOS

Os cimentos dentários, quando utilizados para cimentar restaurações indiretas, têm

o propósito de selar a fenda existente entre o dente e a restauração correspondente,

e aumentar a sua fixação no dente preparado,, conferindo retenção, resistência à

restauração e ao remanescente dentário, promovendo vedamento marginal e

favorecendo a longevidade dos trabalhos protéticos. Portanto, um agente cimentante

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ideal deveria ter resistência mecânica e ser insolúvel aos fluidos orais (RIBEIRO et

al., 2008).

O cimento de fosfato de zinco tem sido utilizado na odontologia por mais de um

século e sua confiabilidade clínica é bem estabelecida. É obtido através de uma

reação ácido-base iniciada através da mistura do pó (composto por 90% de óxido de

zinco e 10% de óxido de magnésio) com o líquido, que consiste aproximadamente

de 67% de ácido fosfórico tamponado com alumínio e zinco. É um dos cimentos

mais utilizados na cimentação de coroas, visto que apresenta baixo custo, facilidade

de trabalho e boas propriedades mecânicas, e ainda apresenta uma pequena

espessura de película, devido ao seu bom escoamento, o que favorece o

assentamento final da prótese (RIBEIRO et al., 2008).

Desde o inicio dos anos 50, os cimentos resinosos – com sua formulação inicial

baseada no polímero de metacrilato de metila – têm sido usados na odontologia,

inicialmente de maneira limitada, devido à microinfiltração e às restringidas

características de manipulação. Entretanto, com o advento da técnica do ataque

ácido para unir a resina ao esmalte, com o desenvolvimento das resinas compostas

e a descoberta de novas moléculas e técnicas de união com os diferentes

substratos, o seu uso tem sido cada vez mais recorrente e têm sido desenvolvida

uma grande variedade de cimentos resinosos com o desempenho clínico bastante

satisfatório (DeGOES, 1998).

Os cimentos resinosos são variações de resinas de Bis-GMA e outros metacrilatos.

A base composicional dos cimentos resinosos é um sistema monomérico Bis-GMA

(Bisfenol – metacrilato de glicidila) ou UEDMA (Uretano dimetacrilato) em

combinação à monômeros de baixa viscosidade (TEGDMA, EGDMA), além de

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cargas inorgânicas (lítio, alumínio e óxido de silício) tratadas com silano

(ANUSAVICE, 2005; DIAZ-ARNOLD, 1999). Para completar a composição, a resina

aglutinante foi combinada com partículas cerâmicas e sílica coloidal. As partículas

inorgânicas se apresentam nas formas angulares, esféricas ou arredondadas, com

conteúdo de peso variando entre 33 a 77% e diâmetro variável entre 10 a 15µm,

dependendo do produto (DIAZ-ARNOLD, 1999).

Estes cimentos apresentam menor percentual volumétrico de partículas

incorporadas à matriz orgânica com o objetivo de adequar sua viscosidade às

condições específicas e desejáveis de cimentação (DeGOES, 1998).

ROSENSTIEL et al. (1998) relataram alguns aspectos importantes relacionados aos

cimentos de uso odontológico e aos agentes resinosos de fixação. Ressaltaram que

o cimento de fosfato de zinco é considerado o cimento mais popularmente utilizado,

tendo como principais desvantagens a solubilidade e a falta de adesão e que estes

problemas não estariam presentes utilizando sistemas resinoso de fixação. Sobre os

sistemas resinosos, ressaltaram que a biocompatibilidade estaria diretamente

relacionada ao grau de conversão dos monômeros em polímeros. As causas de

irritação pulpar e sensibilidade pós operatória que ocorrem frequentemente, estariam

associadas provavelmente a erros de técnica, como consequência de contaminação

bacteriana ou ressecamento da dentina. Comentaram ainda, que um agente de

fixação ideal deveria prover uma união estável entre a estrutura dentária e a

restauração e, através da sua resiliência, aumentar a resistência à fratura da

restauração.

Segundo PIWOWARCZYK et al. (2003), cimentos resinosos apresentam maior

resistência flexural e compressiva. Um cimento resistente distribui melhor as

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tensões, tem uma menor probabilidade de falha e grande possibilidade de atingir o

sucesso clínico.

Além disso, fatores como biocompatibilidade, sensibilidade pós-operatória,

desempenho clínico, estética e facilidade de trabalho devem ser considerados na

escolha de um cimento.

Em um estudo sobre adesão, SÖDERHOLM et al. (1996) afirmaram que o sucesso

de uma fixação adesiva depende da união química com a superfície interna da

restauração. Também relataram que os sistemas de fixação resinosos são menos

solúveis na cavidade oral que a maioria dos cimentos odontológicos.

Segundo a especificação nº 27 (ANSI/ADA ISO 4049), esses cimentos podem ser

classificados pelo modo de polimerização, que pode ser através de reações

químicas, fotoativadas ou da combinação de ambas – dual. Contudo, esta

classificação limitada categoriza os cimentos unicamente pelo mecanismo de

polimerização e não descrevem o esquema de adesão ou união que utilizam. A

maioria dos autores recentemente vem utilizando outra classificação, baseada no

mecanismo que os cimentos utilizam para se unir às estruturas dentárias: Cimentos

de condicionamento total; cimentos autocondicionantes; e cimentos auto-adesivos.

Os cimentos auto-adesivos, mais recentes e modernos no mercado, foram

projetados para superar as limitações dos cimentos tradicionais e resinosos,

simplificando o processo de adesão dos cimentos resinosos de condicionamento

total e dos autocondicionantes (BURGUESS et al., 2010). Em sua matriz orgânica

foram incluídos metacrilatos de ácido fosfórico multifuncionais, ou simplesmente

monômeros ácidos, que interatuam com a hidroxiapatita das estruturas dentais.

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Revisando as publicações dos últimos anos, encontramos uma grande quantidade

de artigos que avaliam a interação de inúmeros cimentos resinosos com a zircônia

(especialmente Y-TZP), sendo evidente um aumento nesta linha de pesquisa desde

2008. É possível que este aumento de publicações seja maior pela presença de

marcas comerciais que oferecem infraestruturas de zircônia, evidentemente pelo

sucesso clínico que esta representa, e pela evolução dos cimentos resinosos até os

atuais cimentos resinosos auto-adesivos. Diversas pesquisas têm procurado a

melhora da união destas infraestruturas aos cimentos resinosos, testando diversos

agentes e tratamentos de superfície, ainda sem chegar a um consenso

(ABOUSHELIB et al., 2008 e 2009; ZHANG et al., 2010; YUN et al., 2010;

KITAYAMA et al., 2010; QEBLAWI et al., 2010; ABOUSHELIB et al., 2011).

2.3 – TRATAMENTOS DE SUPERFÍCIE PARA AS CERÂMICAS DE ZIRCÔNIA

A literatura é vasta em informações sobre a aplicação da zircônia na odontologia e,

apesar de apresentar um desempenho mecânico (resistência à fadiga) superior,

existem alguns problemas associados à zircônia, como por exemplo, a adesão

(THOMPSON et al., 2011).

Técnicas de cimentação convencional utilizadas com a zircônia não promovem

valores de resistência adesiva suficientes (BLATZ et al., 2003; BLATZ et al., 2004).

O protocolo de cimentação adesiva para as cerâmicas a base de sílica é bem

descrito na literatura, sendo suscetíveis ao condicionamento com ácido fluorídrico

(que, por sua vez, modifica as superfícies das cerâmicas a base de sílica em

superfícies rugosas, o que melhora a molhabilidade e aumenta a área de superfície

para união mecânica) e passíveis de serem silanizadas (BLATZ et al., 2003).

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Entretanto, a zircônia é um material policristalino, com a fase vítrea reduzida ou

eliminada, sendo que o condicionamento com ácido não produz qualquer

modificação em sua superfície, enquanto que a aplicação do agente silano sobre a

superfície é ineficaz, devido à ausência de sílica na matriz cerâmica (BLATZ et al.,

2003).

Diversos autores sugerem que materiais cerâmicos de alta resistência como a

zircônia, requerem técnicas adesivas alternativas para obtenção de união satisfatória

aos materiais resinosos (BLATZ et al., 2004; ATSU et al., 2006; LUTHY et al, 2006;

YOSHIDA et al., 2006; LEE et al., 2007; WOLFART et al., 2007)

O jateamento com partículas de óxido de alumínio tem sido relatado como um dos

tratamentos de superfície mais utilizados por sua capacidade de aumentar,

mecanicamente, a rugosidade da zircônia, e consequentemente, a área de

superfície da cerâmica , facilitando o embricamento micromecânico da resina

(WOLFART et al., 2007). Por outro lado, este jateamento na superfície interna da

cerâmica Y-TZP pode criar microtrincas na superfície da cerâmica, enfraquecendo o

material ao longo do tempo (THOMPSON et al., 2004).

Mediante a possibilidade de tornar as superfícies das cerâmicas reforçadas mais

reativas à interação adesiva, os métodos de silicatização superficial têm ganhado

foco nas pesquisas. Em 1984 foi lançado o primeiro sistema de silicatização

superficial (Silicoater), baseado na incidência de uma chama do gás butano

contendo óxidos de silício que são então depositados na superfície “queimada”

(JANDA et al.,2003). Posteriormente, em 1989 foi lançado o sistema laboratorial

ROCATEC que realizava a silicatização de superfícies metálicas pelo jateamento

com partículas de óxido de alumínio revestidas por sílica, passando posteriormente

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a ser empregado em cerâmicas (KERN e THOMPSON, 1995). Este revestimento de

sílica fica aderido à cerâmica jateada, produzindo melhoria na interação química

adesiva (BLATZ et al.,2003; SOARES et al.,2005). Vários outros sistemas foram

idealizados para estes propósitos, como a caneta Pyrosil (JANDA et al.,2003), o

sistema COJET (SOARES et al.,2005) entre outros.

Em adição aos processos de silicatização, o desenvolvimento de novos monômeros

resinosos que pudessem interagir melhor com a superfície de óxidos metálicos

culminou com a performance melhorada dos cimentos contendo MDP (10-

metacriloxidecil dihidrogênio fosfato) na resistência de união ao substrato de zircônia

(KERN e WEGNER,1998; WOLFART et al.,2007; OYAGUE et al.,2009 a,b).

Estes monômeros, assim como os silanos, são moléculas bifuncionais que se unem

em uma extremidade aos óxidos metálicos da cerâmica e, na outra, apresentam

grupamentos que copolimerizam com a matriz resinosa dos cimentos. (KERN e

WEGNER,1998; WOLFART et al.,2007; OYAGUE et al., 2009 a,b; PIASCIK et al.,

2009).

Através de outro método ainda pouco estudado, diferentes substâncias foram

colocadas na superfície de cerâmica à base de zircônia pelo princípio do

condicionamento e infiltração seletivos (seletive infiltration etching - SIE),

promovendo poros em escala nanométrica e rugosidade aumentada (CASUCCI et

al., 2009), os quais permitiram a infiltração de cimento resinoso e resistência de

união alta e durável (ABOUSHELIB et al.,2007,2008). Ao trabalhar com metodologia

semelhante, Casucci et al. (2009) demonstrou rugosidade superficial aumentada

para o método SIE e também para o uso de condicionamento com ácido clorídrico

aquecido, o que poderia ampliar a resistência adesiva por retenção micromecânica.

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2.4 – UNIÃO ENTRE CIMENTOS RESINOSOS E ZIRCÔNIA

Nos últimos anos, diversos trabalhos foram realizados buscando analisar a

resistência de união dos cimentos resinosos às infraestruturas à base de zircônia,

principalmente avaliando diferentes tratamentos superficiais mecânicos e químicos.

Os métodos normalmente empregados para avaliar resistência adesiva são os

ensaios de tração e cisalhamento. Os testes de cisalhamento são menos confiáveis

que os testes de tração quando se objetiva avaliar a resistência da interface adesiva

(DELLA BONA e VAN NOORT, 1995). Os testes de cisalhamento são norteados

pela resistência coesiva do material de base, neste caso, cerâmica, sendo este fato

um resultado inerente à geometria do ensaio. Em seu estudo, Della Bona e van

Noort (1995) afirmam ainda que os resultados obtidos nos testes de cisalhamento

são relacionados à resistência do material de base em suportar as tensões geradas,

e não em função da resistência da interface adesiva. Em contrapartida, os testes de

tração tendem a produzir fraturas na interface adesiva, gerando dados mais

representativos em relação à área adesiva, do que em função do material de base. A

metodologia de microtração, uma variação do teste de tração, desenvolvida por

Sano et al. (1994) facilita a verificação da real magnitude da resistência e

principalmente caracteriza de forma mais precisa o padrão de fratura, pois limita a

ação das forças de tração em uma pequena área da interface adesiva.

Kern e Thompson (1995) avaliaram diferentes métodos adesivos na resistência de

uma cerâmica a base e alumina infiltrada por vidro, bem como sua estabilidade em

longo prazo e, determinaram os modos de fratura através de microscopia eletrônica

de varredura. Todas as amostras de cerâmica foram jateadas com óxido de alumínio

de 110 μm e divididas em seis grupos, de acordo com os métodos propostos de

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adesão: 1- Cimentação com cimento a base de Bis-GMA (Twinlook); 2- Aplicação de

silano para cerâmica (ESPE Sil) e o cimento a base de Bis-GMA; 3- Silicatização

(Rocatec - 3M ESPE), silanização e cimento a base de Bis-GMA; 4- Silicatização

(Sistema Silicoater MD), silanização e cimento a base de Bis-GMA; 5 e 6 – Ambos

foram cimentados com cimento resinoso contendo MDP, um grupo cimentado com

Panavia EX e outro com Panavia TPN-S. Após os procedimentos de cimentação,

cada grupo foi subdividido em três grupos de acordo com o tempo de armazenagem

e os ciclos de termociclagem: 24h imersos em saliva artificial a 37°C, 30 dias em

saliva artificial e termociclagem totalizando 7500 ciclos e, 150 dias com corpos

imersos em saliva artificial, totalizando 37500 ciclos. O grupo jateado e cimentado

com o cimento à base de Bis-GMA foi o que apresentou menores valores,

independente do tempo analisado (26,75MPa/1dia, 2,34MPa/30dias,

0,0MPa/150dias). A adição do agente silano a este grupo aumentou a resistência

inicial, sendo reduzido drasticamente após a termociclagem.o sistema de

silicatização, juntamente com a silanização, aumentou a resistência de união e esta

permaneceu estatisticamente semelhante após 150 dias (48,35MPa/1dia,

49,49MPa/30dias, 49,85MPa/150dias). A silicatização térmica também promoveu

aumento nos valores de resistência iniciais, mas houve grande redução após 150

dias (49,85MPa/1dia, 46,86MPa/30dias, 1,97MPa/150dias). Os cimentos que

apresentam MDP em sua composição obtiveram os maiores valores de resistência

(Panavia EX 54,09MPa/1dia, 48,19MPa/30dias, 41,17MPa/150dias e Panavia TPN-

S 59,67MPa/1dia, 38,54MPa/30dias, 35,75MPa/150dias), não havendo diferença

estatisticamente significante entre eles. Na microscopia eletrônica de varredura foi

possível observar que os grupos que obtiveram valores mais baixos de resistência

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sofreram falha do tipo adesiva, enquanto que os grupos que resultaram em valores

mais altos sofreram falhas do tipo coesiva ou mistas.

Kern e Wegner (1998) avaliaram o efeito de diferentes métodos de união sobre a

superfície da zircônia. Presumiram que os métodos de união apropriados para a

cerâmica à base de alumina infiltrada por vidro também poderia ser utilizados para a

Y-TZP. Para avaliar esta hipótese, aplicaram jateamento de oxido de alumínio e

limpeza em ultrassom com álcool 96% por 3 minutos em todas as amostras e

usaram sete tipos diferentes de sistemas adesivos: 1- sistema resinoso convencional

a base de Bis-GMA; 2- Silano anterior à aplicação do mesmo cimento; 3-

Tratamento triboquímico (sistema Rocatec), que emprega jateamento com partículas

de óxido de alumínio modificadas por sílica e silano, seguido da utilização do Bis-

GMA.; 4- Acrilização e cimento à base de Bis-GMA.; os grupos 5 e 6 aplicaram dois

cimentos resinosos à base de MDP (Panavia EX e Panavia 21 EX); 7- Cimento

resinoso modificado por ácido. Foram testados por meio de ensaio de microtração

em dois tempos: 3 e 150 dias em água destilada a 37°C mais termociclagem. Os

resultados mostraram que o jateamento abrasivo produz rugosidade, porém limitada

e com ranhuras rasa, se comparado ao jateamento de metais (14,0 MPa/3 dias e

0,0Mpa/150 dias). A adição de silano não aumentou a resistência adesiva (15,1

MPa/3 dias e 0,0Mpa/150 dias), indicando que o silano não se liga à Y-TZP, uma

vez que essa não contém sílica. A silicatização térmica aumentou a resistência

inicial, mas não gerou uma ligação durável (29,2 MPa/3 dias e 12,8Mpa/150 dias). A

acrilização (39,2MPa/3 dias e 0,0Mpa/150 dias) e o cimento ácido (31,6 MPa/3 dias

e 4,3Mpa/150 dias) também não foram estáveis. Os únicos grupos que não sofreram

diminuição estatisticamente significante da resistência após 150 dias foram os

cimentos modificados com MDP (Panavia EX 48,8 MPa/3 dias e 39,8 Mpa/150 dias

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e Panavia 21 EX 47,1 MPa/3 dias e 37,4Mpa/150 dias). Como conclusão, os autores

sugerem a existência de uma ligação química entre esse cimento e a zircônia.

Com o objetivo de determinar se a resistência de união é dependente do tratamento

de superfície para cerâmicas de elevado conteúdo cristalino, Derand e Derand

(2000) avaliaram a resistência ao cisalhamento entre agentes cimentantes e

cerâmica à base de zircônia, submetidas a cinco diferentes tratamentos: jateamento

com óxido de alumínio com partículas de 250µm, jateamento com óxido de alumínio

com partículas de 50µm, jateamento com óxido de alumínio com partículas de 50µm

associado ao condicionamento com ácido fluorídrico (38%), asperização com ponta

diamantada e sem tratamento. As superfícies foram tratadas com silano e

cimentadas com três sistemas de fixação: Panavia 21 (Kuraray), Twinlook (Kulzer) e

Superbond C&B (Sun Medical). As amostras foram avaliadas após diferentes

condições de armazenagem: 5 horas em ambiente seco, 1dia, 1 semana e 2 meses

em água destilada (35°C). Após ensaio de cisalhamento e analise, observou-se que

todas as amostras falharam na interface cerâmica-cimento. A rugosidade causada

pela ponta diamantada resultou em maior valor de resistência de união para o

cimento Superbond. O condicionamento com ácido fluorídrico não aumentou os

valores de forma significativa. A armazenagem por uma semana em água aumentou

os valores de adesão em cerca de 20% em relação aos demais grupos. Os maiores

valores de resistência de união foram apresentados pelo cimento Superbond. Os

autores observaram que ainda não foi possível estabelecer um tratamento padrão

para as cerâmicas de elevado conteúdo cristalino e, por apresentarem redução da

fase vítrea, são ácido-resistentes.

Em uma revisão da literatura sobre adesão a cerâmicas, Blatz et al.(2003) relataram

que materiais cerâmicos oferecem ótimas propriedades ópticas para restaurações

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altamente estéticas. A fragilidade inerente a alguns materiais cerâmicos,

modalidades de tratamento específico, e certas situações clínicas exigem

cimentação resinosa da restauração concluída em cerâmica às estruturas dentais,

de modo a garantir longo prazo de sucesso clínico. Embora a adesão para

cerâmicas a base de sílica seja bem pesquisada e documentada, poucos estudos in

vitro sobre a adesão de cerâmicas de alta resistência foram identificados na

literatura. Os dados disponíveis sugerem que a adesão a esses materiais é menos

previsível e requer métodos de ligação substancialmente diferentes do que as

cerâmicas a base de sílica. Outros estudos in vitro, bem como ensaios clínicos

controlados, são necessários.

Com o objetivo de avaliar e comparar a resistência de união de diferentes silanos e

cimentos para zircônia, Blatz et al. (2004) jatearam todas as amostras de zircônia

com partículas de oxido de alumínio 50µm e dividiram em 4 grupos: 1- Clearfil SE

Bond/Porcelain Bond Activador com cimento Panavia F; 2- Clearfil SE

Bond/Porcelain Bond Activador com cimento RelyX ARC; 3- Ceramic primer/ Single

Bond com cimento RelyX ARC; 4- Cimento Panavia F sem aplicação de silano. Os

espécimes foram armazenados em água destilada por 3 e 180 dias antes do teste

de cisalhamento. As amostras de 180 dias foram termocicladas por 12.000 ciclos.

Os autores observaram que o envelhecimento artificial reduz significativamente a

resistência de união e que, o agente silano que contem o monômero fosfato em sua

composição proporciona uma adesão superior para qualquer um dos dois cimentos.

Atsu et al. (2006) compararam os efeitos da abrasão por jateamento de partículas,

silanização, silicatização triboquímica, e uma combinação de agente adesivo/silano

na resistência de união da cerâmica Cercon, a base de óxido de zircônio,

empregando o cimento resinoso com MDP, Panavia F. Sessenta blocos

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(5x5x1,5mm) de cerâmica de óxido de zircônio (Cercon) e cilindros de resina

composta (Z-250) (3x3x3mm) foram preparados. As superfícies cerâmicas foram

jateadas com partículas de óxido de alumínio (Al2O3) de 125μm e, em seguida,

divididos em 6 grupos (n = 10), que foram posteriormente tratados da seguinte

forma: Grupo C, sem tratamento controle; Grupo SIL, silanizada com um agente

silano (Clearfil Porcelain Bond Activator); Grupo BSIL, aplicação do adesivo 10-di-

Metacriloiloxidecil monômero fosfato (MDP) e adesivo (Clearfil Liner Bond 2V /

Porcelain Bond Activator); Grupo SC, revestimento de sílica usando partículas 30μm

de Al2O3 modificadas por sílica (Cojet System); Grupo CNSIL, revestimento de sílica

e silanização (Cojet System) e Grupo SCBSIL, revestimento com sílica, silanização e

agente adesivo contendo MDP. As resistências de união (média ± DP; em MPa) dos

grupos foram as seguintes: Grupo C, 15,7±2,9; Grupo SIL, 16,5±3,4; Grupo BSIL,

18,8±2,8; Grupo SC, 21,6±3,6; Grupo CNSIL, 21,9±3,9 e Grupo SCBSIL, 22,9±3,1. A

resistência ao cisalhamento foi significativamente maior no grupo SCBSIL que nos

Grupos C, SIL, e BSIL, mas não diferiram significativamente dos grupos SC e

CNSIL. Os modos de falha foram principalmente adesiva na interface entre a

zircônia e o agente cimentante nos grupos C e SIL, e principalmente mista ou

coesiva nos Grupos de SC, CNSIL e SCBSIL. Os autores concluíram que a

silicatização pelo método COJET e a aplicação de um agente adesivo contendo

MDP aumentou a resistência ao cisalhamento entre cerâmica de óxido de zircônio e

agente resinoso (Panavia F).

Yoshida et al. (2006) realizaram ensaio de cisalhamento para avaliar a resistência de

união de um cimento resinoso ao oxido de zircônio puro e à zircônia policristalina

tetragonal estabilizada por ítrio (Y-TZP), bem como o efeito do MDP Primer e do

Zirconate Primer como tratamento. Metade das amostras não recebeu tratamento e

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na outra metade foram aplicados vários primers com diferentes concentrações

(monômero MDP foi adicionado ao MDP Primer em diferentes concentrações e o

agente de união zirconato, foi ainda adicionado ao Zirconate Primer em

concentrações variadas). Na Y-TZP também foi utilizado um primer cerâmico.O

ensaio de cisalhamento ocorreu em dois tempos 24h e 24 mais 10.000 termociclos.

Os autores observaram que a mistura do monômero MDP e o agente de união

zirconato foi efetiva para união forte entre o cimento resinoso e zircônia.

Aboushelib et al (2007) desenvolveram o método de condicionamento e infiltração

seletiva (“selective infiltration etching”) para uso nas cerâmicas Y-TZP. Seu estudo

avaliou a resistência de união de zircônia-resina, e sua durabilidade, usando este

novo método. Discos de cerâmica Y-TZP foram jateados com partículas de óxido de

alumínio (110μm) e divididos em 4 grupos (n = 18). Um grupo teste recebeu técnica

de condicionamento e infiltração seletiva, sendo cimentado com Panavia F, e os três

outros grupos foram cimentados com Panavia F 2.0 ®, RelyX ARC , e Bistite II DC .

Os ensaios de resistência à microtração foram realizados imediatamente, após 1, 2

e 3 semanas e, após 1 mês de armazenamento em água. Microscopia eletrônica de

varredura foi utilizada para examinar os palitos fraturados. Houve diferenças

significativas nos valores iniciais (MPa) entre as 4 técnicas de colagem (P<0.001).

Espécimes colados com Panavia F 2.0, RelyX ARC, ou Bistite II DC resultaram em

uma média de 23,3; 33,4; 31,3 MPa, respectivamente, enquanto a maior resistência

da união de 49,8 ±2,7 MPa foi conseguida para a técnica de condicionamento e

infiltração seletiva com Panavia F 2.0 . Para os materiais utilizados neste estudo e

nas mesmas condições de teste, a técnica de condicionamento e infiltração seletiva

foi considerada um método confiável para o estabelecimento de um vínculo forte e

durável com materiais à base de zircônia.

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O estudo do efeito do tratamento de superfície de restaurações de cerâmica pura

infiltradas por vidro do sistema In-Ceram Zircônia também foi testado por Della Bona

et al. (2007a), que avaliaram a hipótese de que o sistema de silicatização (Cojet,

3M-ESPE) produz valores maiores de resistência adesiva do que os demais

tratamentos de superfície utilizados. Para testar tal hipótese foram confeccionados

corpos de prova (n = 60) de cerâmica In-Ceram Zircônia. Os espécimes foram

divididos em três grupos (n = 20), de acordo com o tratamento de superfície

aplicado: I - ácido hidrofluorídrico a 9,5% por 1 minuto; II - jateamento com óxido de

alumínio 25 μm por 10s; III - silicatização por 10s. Em seguida, foram aplicados

silano e adesivo a fim de cimentar um cilindro resinoso. As amostras foram

submetidas a testes mecânicos (cisalhamento e tração), que revelaram, após

análise estatística dos resultados, que o grupo III (silicatização) demonstrou

aumento significativo na média de resistência adesiva em ambos os testes,

confirmando a hipótese inicial.

Em outro estudo, Della Bona et al. (2007b) realizaram a avaliação da estrutura

topográfica da cerâmica In-Ceram Zircônia. Foram confeccionadas amostras

experimentais da cerâmica que foram submetidas a diversos testes quantitativos e

qualitativos, como microestrutura, composição e propriedades físicas. Os corpos-de-

prova foram analisados em quatro situações distintas: polimento somente,

condicionamento da superfície com ácido fluorídrico a 9,5% por 90s, jateamento com

partículas de óxido de alumínio com 25 μm por 15s e jateamento com partículas de

óxido de alumínio modificadas por sílica com partículas de 30 μm por 15s. Os

resultados da análise de rugosidade superficial demonstraram que essa rugosidade

é maior quando é utilizado a silicatização ou jateamento óxido de alumínio do que

quando realizado polimento somente ou condicionamento com ácido fluorídrico.

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Assim demonstrou-se que a cerâmica In-Ceram Zircônia é ácido resistente e que o

jateamento da superfície da cerâmica com partículas abrasivas pode melhorar o

mecanismo de adesão dos cimentos resinosos. Concluíram também que o

jateamento com partículas de óxido de alumínio modificadas por sílica proporcionou

um aumento de 76% do conteúdo de silício em comparação ao polimento somente,

o que poderia beneficiar a união química resina/cerâmica por meio do agente silano.

Wolfart et al. (2007) avaliaram in vitro a resistência e a durabilidade adesiva de dois

cimentos resinosos com uma cerâmica de zircônia estabilizada por ítrio (Cercon

Degudent, Hanau, Germany) após diferentes tratamentos de superfície. Concluíram

que a resistência adesiva foi influenciada em ambos os diferentes métodos de

condicionamento de superfície e as condições de armazenamento. Os espécimes

jateados e cimentados com cimento resinoso contendo MDP (Panavia F) mostraram

as maiores resistências adesivas. Uma pequena diminuição da resistência adesiva

foi observada acima de 150 dias de armazenagem e ciclos térmicos, porém, sem

relevância estatística. O grupo éster fosfatado do monômero adesivo MDP une

diretamente aos óxidos metálicos, portanto, sugerem uma união química entre MDP

e os óxidos de alumínio e zircônia. De acordo com o estudo, esses achados indicam

que não somente a limpeza, mas a asperização e a ativação da superfície com o

jateamento de partículas de óxido de alumínio previamente à união adesiva e o uso

do cimento resinoso contendo MDP é necessário para se conseguir uma união

durável das cerâmicas de zircônia densamente sinterizadas.

Aboushelib et al. (2008) avaliaram a resistência adesiva da interface resina/ zircônia

usando um tratamento superficial infiltrativo seletivo (SIE) e 5 novos agentes de

ligação silano. Foram confeccionados discos de zircônia (Procera Zircônia,

NobelBiocare, Goteborg, Sweden) e estes foram divididos em 2 grupos testes, em

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um deles usou-se a cerâmica controle sem tratamento e o outro que recebeu o SIE,

que consiste no jateamento com óxidos inorgânicos. Depois de lavados e secos

foram aplicados 5 diferentes tipos de agente silano de diferentes composições.

Discos de resina composta (Tetric Ivo Ceram) foram cimentados aos discos com

superfície tratada usando o cimento contendo MDP (Panavia F). Os blocos foram

cortados em barras e submetidos a teste de tração. A análise dos dados revelou

uma diferença significante entre os dois tipos de tratamento superficial, os 5 tipos de

agente silano e também da interação entre o tratamento superficial e o silano

utilizado, sendo o grupo controle o de pior resistência adesiva. O microscópio

eletrônico de varredura revelou que o tratamento superficial infiltrativo seletivo

resultou na criação de uma superfície altamente retentiva e capaz de se aderir com

o adesivo escolhido. Além da modificação superficial, a SIE modificou quimicamente

a superfície da zircônia, deixando-a mais reativa para a aplicação do silano.

Re et al. (2008) avaliaram a resistência ao cisalhamento de dois cimentos resinosos

contendo monômero fosfatado (RelyX Unicem - 3M ESPE e Panavia F 2.0 Kuraray)

para superfície de zircônia de dois fabricantes submetidas a três tratamentos de

superfície. Quarenta amostras de zircônia para um fabricante (Lava- 3M ESPE) e

quarenta para outro (Cercon – Dentsply) foram submetidas a quatro grupos de

tratamento: sem nenhum tratamento, jateamento com partículas de oxido de

alumínio de 50µm, jateamento com partículas de oxido de alumínio de 110µm e

silicatização (sistema Rocatec – 3M ESPE) associado a silanização (ESPE Sil – 3M

ESPE). Os dois cimentos foram depositados na superfície cerâmica com o auxílio de

uma matriz metálica. Pode-se concluir que a rugosidade da superfície dada por

jateamento aumentou a resistência de união dos cimentos para a zircônia, sendo

que o Panavia F 2.0 foi menos influenciado pelos tratamentos que o RelyX Unicem.

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Em mais um trabalho, Aboushelib et al. (2009), testaram o método de infiltração

seletiva de superfície tido como método capaz de criar uma superfície retentiva, na

qual o cimento resinoso pode infiltrar-se. O objetivo desse estudo foi avaliar a

resistência em longo prazo de cimentação adesiva da zircônia, utilizando a infiltração

seletiva como tratamento de superfície e quatro novos primers. Quarenta discos de

zircônia sofreram infiltração seletiva e foram separados em quatro grupos, sendo

que em cada grupo foi aplicado um primer fabricado pelos autores. As amostras

foram submetidas a teste de microtração imediatamente após a cimentação e após

90 dias de armazenamento em água. A ativação dos primers e o tipo de fratura

foram analisados em espectroscopia de infravermelho. O armazenamento em água

resultou em diminuição da assistência adesiva para todos os primers testados além

de aumentar as fraturas adesivas (interface). A espectroscopia mostrou que todos os

primers haviam sido devidamente ativados previamente a sua utilização. Concluiu-se

que a resistência em longo prazo da cimentação adesiva da zircônia esta

diretamente relacionada aos aspectos químicos dos materiais utilizados, e que,

materiais mais hidrofóbicos deveriam ser pesquisados e produzidos para resistir aos

efeitos prejudiciais da hidrólise.

Cavalcanti et al. (2009) avaliaram a influência dos tratamentos de superfície e de

primers metálicos na resistência adesiva de cimentos resinosos à zircônia

parcialmente estabilizada por ítrio (Y-TZP) (Cercon Smart Ceramics, Degudent,

Hanau, Germany). Duzentos e quarenta placas de cerâmica Y-TZP foram divididas

aleatoriamente em 24 grupos (n = 10) de acordo com a combinação do tratamento

de superfície (controle, abrasão com partículas de Al2O3, Er: YAG), primer para

metal (controle, Alloy Primer , Metal Primer II ou Metaltite) e cimento resinoso

(Calibra [Bis-GMA] ou Panavia F2.0 [MDP]). Fragmentos de dentina (0,8 mm de

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diâmetro) foram fixados nas superfícies cerâmicas com os cimentos resinosos.

Micro-cisalhamento foi realizado com 1mm/min de velocidade até a falha, e as

superfícies cerâmicas foram analisadas após descolagem. Mudanças na topografia

após tratamentos de superfície foram avaliadas com microscopia eletrônica de

varredura. Os tratamentos de superfície alteraram significativamente a topografia da

cerâmica Y-TZP. Abrasão do ar resultou em aumento da resistência de união para

ambos os cimentos resinosos. No entanto, o uso do laser ou jateamento resultou em

maior resistência de união com o cimento a base de Bis-GMA do que com o cimento

a base de MDP. Ambos os cimentos apresentaram comportamento semelhante em

superfícies sem tratamento. Os três primers para metal aumentaram

significativamente a resistência de união, independentemente do tratamento de

superfície e do cimento. Falhas adesivas foram as mais prevalentes. Abrasão a ar

com partículas de Al2O3 e aplicação de primers metálicos gera maior resistência de

união a Y-TZP para ambos os cimentos resinosos.

No mesmo ano, Cavalcanti et al. realizaram uma revisão de literatura com o objetivo

de apresentar conceitos fundamentais para aplicação clínica da zircônia (Y-TZP). Os

autores compreenderam que: jateamento com partículas de óxido de alumínio

(silanizados ou não) apresenta-se como o tratamento de superfície mais

frequentemente indicado para melhorar a união entre os cimentos resinosos à Y-

TZP. Embora estudos tenham indicado que alguns tratamentos de superfície podem

reduzir as propriedades mecânicas da Y-TZP, este efeito pode estar relacionado

com a técnica de jateamento. O uso de monômeros funcionais especiais pode unir

quimicamente ao dióxido de zircônio, parecendo melhorar a qualidade da união

entre cimento resinoso e cerâmica. Esses monômeros são encontrados tanto em

cimento resinoso quanto primer. Apesar de vários estudos científicos disponíveis,

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estudos clínicos são necessários para avaliar o comportamento em longo prazo das

restaurações Y-TZP e estabelecer quais materiais e técnicas devem ser

recomendados para cimentação dessas restaurações.

Considerando que o jateamento causa danos na superfície da cerâmica, uma

técnica de união para a zircônia seria através da interação química entre a zircônia e

os sistemas de cimentação. De Souza et al.(2010) analisaram efeito de primers,

sistemas de cimentação e envelhecimento na resistência adesiva da zircônia. As

amostras de zircônia (LAVA FRAME) foram tratadas quimicamente com Alloy Primer

(Kuraray), ou com Epiguard Primer (Kuraray), ambos contendo o monômero ácido

funcional (MDP), sendo que o primeiro possui outro monômero, em sua composição,

o qual apresenta uma ligação direta com metais nobres. O grupo controle não

recebeu nenhum tratamento. As amostras foram cimentadas com RelyX Unicem (3M

ESPE) ou com Panavia 21(Kuraray). Os ensaios de micro-tração foram realizados

em dois tempos, 24 horas ou 60 dias mais termociclagem (5000 ciclos), após

cimentação. Os autores observaram que os grupos tratados com o Alloy Primer

apresentaram valor de união mais alto que os grupos tratados com o Epiguard

Primer e que os grupos controle tiveram valores de união menor. Quanto ao agente

de cimentação, o RelyX Unicem promoveu resistência de união maior quando

comparado ao Panavia 21. A média de resistência de união diminui após o processo

de envelhecimento. Relataram ainda que a aplicação de primer contendo MDP pode

aumentar a resistência de união entre a zircônia e o sistema de cimentação, sem

nenhum tratamento mecânico dependendo do sistema de cimentação utilizado.

Concluíram que o tratamento químico pode resultar em uma alternativa confiável

para alcançar resistência de união.

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Yun et al. (2010) estudaram a influencia do jateamento e de primers metálicos na

resistência ao cisalhamento de três diferentes cimentos resinosos para uma zircônia

de alto conteúdo cristalino (Y-TZP). As amostras de zircônia (Rainbow –Dentium)

foram divididas em 12 grupos, de acordo com o tratamento (controle, jateamento,

aplicação de primer metálico, jateamento mais aplicação de primer metálico), e com

o cimento resinoso (dupla polimerização: Panavia F 2.0 – Kuraray; polimerização

química: Superbond C&B – Sunmedical; autoadesivo: MBond Tokuyama Dental

Corp.). Os primers utilizados foram produzidos e recomendados pelos mesmos

fabricantes para cada cimento resinoso. Após os procedimentos de cimentação, as

amostras foram armazenadas por 24 horas à 37°C e termocicladas por 5000 ciclos

e, em seguida, submetidas ao ensaio de cisalhamento. Concluíram que o tratamento

de superfície somente com primers metálicos pode não garantir união durável da

zircônia à cimentos resinosos e que o jateamento associado a primers foi eficaz para

os três cimentos testados especialmente para Panavia F 2.0. Assim, consideraram

necessário o desenvolvimento de um primer especifico para zircônia, ao invés da

utilização de primers metálicos e cerâmicos existentes.

Com o objetivo de avaliar e comparar a influência de diferentes primers e cimentos

resinosos na resistência à tração para a cerâmica a base de sílica (GN-1 Ceramic

Block – GC) e zircônia (Cercon – Degudent), Kitayama et al. (2010) jatearam todos

os espécimes de ambas as cerâmicas com partículas de óxido de alumínio de 70µm,

e para cada agente cimentante, existia um grupo sem utilização do primer e outro

com a aplicação de primer do mesmo fabricante do cimento, da seguinte forma:

Bistiti II – Tokuso Ceramic Primer (Tokuyama Dental), Linkmax – CG Ceramic Primer

(GC), RelyX ARC – RelyX Ceramic Primer (3M ESPE), Panavia F2.0 – Clearfil

Ceramic Primer (Kuraray) e Resicem – Shofu Porcelain Primer ou AZ Primer (Shofu).

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Realizada a cimentação, os corpos de prova foram armazenados 24h à 37°C até o

ensaio de tração. Os autores observaram que os primers contendo agente silano

são efetivos para cerâmica à base de sílica e que os primers contendo MDP e

monômero éster fosfato aumentam a resistência de união dos cimentos resinosos à

zircônia.

Magne et al. (2010) testaram o efeito de um novo primer experimental, uma mistura

de ácido carboxílico e organofosfatos (Z – Primer Plus) na resistência adesiva da

zircônia. As amostras de zircônia foram jateadas com partículas de oxido de

alumínio de 50µm e divididos em 8 grupos (n=5), de acordo com o primer e o

sistema de cimentação. Os sistemas de cimentação (BisCem – Bisco Inc., Duo-Link

– Bisco Inc., Panavia F 2.0 – Kuraray) foram aplicados em superfícies sem

tratamento e tratadas com zircônia primer (Z-Plus, Bisco Inc.). o zircônia primer foi

testado com cilindros de resina composta (Z100 – 3M ESPE) e em um outro grupo,

utilizando o Panavia F 2.0 como cimento, foi aplicado outro primer (Clearfil Ceramic

Primer). As amostras foram armazenadas por 24h e submetidas ao ensaio de

cisalhamento. Os autores observaram que os grupos que utilizaram o Z-Primer Plus

apresentaram os maiores valores de união. Quando utilizaram o Panavia F 2.0 com

o Clearfil Ceramic Primer os valores foram baixos, similares as grupos sem

aplicação de primer, indicando que, quando o agente de cimentação apresenta MDP

em sua composição, pode não ser necessário utilizar um primer que o contenha.

Qeblawi et al. (2010) observaram a influencia do tratamento mecânico na resistência

à flexão da zircônia (Y-TZP) e o efeito de tratamentos mecânicos e químicos na

resistência de união entre a zircônia e um cimento resinoso. Para avaliar a

resistência à flexão, os espécimes de zircônia (IPS-e.max ZirCAD, Ivoclar Vivadent)

foram divididos em 4 grupos (n=16): sem tratamento, jateamento com partículas de

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oxido de alumínio 50µm, silicatização (partículas de oxido de alumínio 30µm

modificadas por sílica) e abrasão manual com instrumento rotatório sob irrigação. O

teste de resistência à flexão foi realizado 24horas após armazenamento das

amostras em água à 37°C. para avaliar a resistência ao cisalhamento, amostras de

zircônia foram divididas em 16 grupos (n=12). Cada grupo foi submetido a

combinação de tratamentos químicos (controle- sem tratamento, condicionamento

com acido fluorídrico e silanização, apenas silanização, aplicador de primer para

zircônia) e mecânicos (sem tratamento, jateamento com partículas de oxido de

alumínio 50µm, silicatização (partículas de oxido de alumínio 30µm modificadas por

sílica) e abrasão manual com instrumento rotatório sob irrigação), de forma que

todos foram cimentados com cimento resinoso Multilink Automix (Ivoclar-Vivadent).

Concluída a armazenagem, as amostras foram submetidas aos ensaios de

cisalhamento. Para analisar o envelhecimento artificial os grupos que obtiveram

maiores valores foram duplicados, armazenados por 90 dias e termociclados (6000

ciclos). Os autores identificaram que o jateamento com oxido de alumínio e a

abrasão manual aumenta significantemente a resistência à flexão. Quanto ao teste

de cisalhamento, os valores de resistência que foram encontrados:

silicatização+silanização > abrasão manual + zircônia primer > jateamento +

silanização > zircônia primer > jateamento + zircônia primer. O envelhecimento

artificial resultou em diminuição significativa na resistência de união. Concluíram que

a modificação mecânica na superfície da zircônia aumenta a resistência à flexão,

tratamentos de superfície melhoram a união do cimento resinos à zircônia e, que a

combinação de condicionamentos químicos e mecânicos são essenciais para uma

união duradoura entre a cerâmica e o cimento resinoso.

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Shahin e Kern (2010) avaliaram a retenção de coroas e zircônia cimentadas com

dois cimentos convencionais (cimento de ionômero de vidro e cimento de fosfato de

zinco) e um cimento resinoso antes e após o envelhecimento. As coras de zircônia

foram divididas em três grupos (n=32) de acordo com o cimento (cimento de

ionômero de vidro – Ketac Cem Maxicap/3M ESPE; cimento de fosfato de zinco –

Hoffman Quick Setting/Hoffman e cimento resinoso – Panavia 21/Kuraray) e cada

grupo foi subdividido em dois subgrupos: jateamento com partículas de oxido de

alumínio 50µm e sem jateamento. As amostras foram armazenadas em água

destilada à 37°C em dois tempos: 3 dias ou 150 dias + termociclagem (37500 ciclos)

+ ciclagem dinâmica (300000 ciclos). Foi observado que o jateamento aumentou a

retenção da coroa, enquanto que o envelhecimento diminuiu, bem como

perceberam, também, que o cimento resinoso apresentou valores de retenção

estatisticamente maior quando comparados aos cimentos convencionais. Relataram

ainda, que a utilização de cimentos resinosos contendo MDP em superfícies

cerâmicas jateadas podem ser recomendados como o método de cimentação mais

retentivo.

Com o objetivo de avaliar a influência de diferentes tipos de tratamento de superfície

na força de adesão por microtração do cimento resinoso à cerâmica de zircônia,

Casucci et al. (2011) dividiram 12 blocos de cerâmica de óxido de zircônio (Cercon®

Zirconia Dentsply) em quatro grupos baseado no tratamento de superfície a ser

trabalhado: grupo 1- jateamento com partículas de oxido de alumínio 125µm; grupo

2 - tratamento superficial infiltrativo seletivo (SIE); grupo 3 – solução experimental de

ácido aquecido aplicada por 30 minutos; e grupo 4 – nenhum tratamento. Cilindros

de compósito foram cimentados aos blocos de cerâmica utilizando um cimento

resinoso (Calibra® Dentsply) e adequado sistema adesivo. Após 24 horas foi

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realizado o tese de microtração. Os resultados mostraram que os valores de força

de adesão foram maiores para os grupos 2 e 3 quando comparados aos grupos 1 e

4. Fraturas prematuras foram encontradas com maior frequência no grupo controle.

Aboushelib (2011) realizou um estudo para avaliar a força de adesão zircônia-resina

após tratamento superficial infiltrativo seletivo (SIE) para modificar a superfície de

materiais a base de zircônia . Discos de zircônia receberam como tratamentos de

superfície: tratamento superficial infiltrativo seletivo (SIE) ou jateamento com

partículas de oxido de alumínio 50µ m, enquanto o grupo controle não recebeu

nenhum tratamento. Os discos de zircônia foram cimentados à discos de resinas

pré-envelhecidos utilizando cimento resinoso (Panavia F 2.0). As amostras foram

armazenadas em água destilada à 37°C e submetidas à termociclagem (10000

ciclos entre 5°C e 55°C). Testes de microtração foram feitos e repetidos nos

seguintes intervalos: 4, 26, 52 e 104 semanas. Os resultados mostraram que houve

diferença significante nos valores do teste de microtração entre os três grupos em

cada intervalo de tempo. Após dois anos de envelhecimento artificial, todas as

espécimes do grupo controle demonstraram falha espontânea, enquanto uma

redução significante da força de adesão no grupo o qual se utilizou o jateamento

como tratamento de superfície (21.3MPa). A forca de tração do grupo que recebeu

tratamento superficial infiltrativo seletivo (SIE) permaneceu relativamente estável

(44.1MPa) após o envelhecimento.

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DISCUSSÃO

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3 - DISCUSSÃO

O desenvolvimento de tecnologias para produção de novos materiais biocompatíveis

tem sido motivado pela demanda de materiais que executem novas funções ou

desempenhem antigas funções de forma mais adequada. Hoje as cerâmicas

constituem uma das principais alternativas para a reconstrução das estruturas

dentarias perdidas, já que se trata do material que melhor reproduz as propriedades

ópticas do esmalte e da dentina, como fluorescência, opalescência e translucidez

(VAN NOORT, 2004).

Embora as cerâmicas possuam excelentes propriedades físicas, são materiais

friáveis que, frente aos esforços, podem fraturar-se devido a propagação de defeitos

microscópicos presentes na superfície (BLATZ et al., 2003). Essa busca pelo

aperfeiçoamento estético associado à necessidade em se obter boas propriedades

mecânicas, levaram à substituição das infraestruturas metálicas, surgindo assim com

os sistemas cerâmicos reforçados.

As cerâmicas de elevado conteúdo cristalino, como a alumina e a zircônia, por

exemplo, possuem propriedades mecânicas superiores quando comparadas às

convencionais. O uso da alumina, entretanto, tem sido questionado devido à

possibilidade de propagação de trincas entre os cristais, o que reduz sua resistência

à fadiga e faz com que este material seja considerado uma cerâmica de resistência

intermediária (ZHANG et al., 2004). Por outro lado, o dióxido de zircônia, uma

cerâmica de alta resistência, tem sido sugerido como material de eleição para

substituir a alumina (PICCONE E MACCAURO, 1999; ZHANG et al., 2004)

As propriedades mecânicas superiores e alta resistência à fratura deste material em

adição à tecnologia CAD-CAM permite a fabricação de restaurações complexas e de

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longa duração com alta precisão e taxa de sucesso. (ABOUSHELIB, 2009;

GUAZZATO et al, 2004).

Os elevados valores de resistência à flexão e tenacidade à fratura das cerâmicas Y-

TZP devem-se principalmente à atuação do mecanismo de tenacificação por

transformação martensítica da fase tetragonal para fase monoclínica induzida pelo

campo de tensão na ponta da trinca. O aumento de volume e o cisalhamento

promovido pela transformação martensítica tendem a contrapor a abertura da trinca.

Esse aumento na resistência ocorre porque a energia associada à propagação da

trinca se dissipa na transformação tetragonal-monoclínica com a expansão do

volume (PICONI; MACCAURO, 1999 e DENRY; KELLY, 2008).

Entretanto, seu sucesso clínico também depende da formação de uma união

confiável com os agentes de cimentação (DE SOUZA et al., 2010).

A utilização de cimentos resinosos possui algumas vantagens em relação a outras

classes de materiais, uma vez que apresentam baixa solubilidade e característica

estética melhorada (LUTHY et al., 2006).

As técnicas de adesão e os sistemas cerâmicos modernos oferecem varias opções

de tratamento. A união à cerâmica tradicional à base de sílica é um procedimento

previsível, que rende bons resultados quando determinadas diretrizes são seguidas.

Entretanto, a composição e as propriedades físicas dos materiais cerâmicos de alta

resistência diferem substancialmente das cerâmicas à base de sílica e exigem

técnicas adesivas alternativas para obtenção de uma união forte e duradoura ao

material resinoso (BLATZ et al, 2003; THOMPSON et al, 2011).

A adesão entre cerâmicas odontológicas e cimentos resinoso é resultado de

interação físico-química entre a interface da cerâmica/cimento. O tratamento de

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superfície tem como objetivo promover esta interação. A contribuição física para o

processo de adesão depende da topografia superficial do substrato e pode ser

caracterizada por sua energia de superfície. Alterações da topografia da superfície

por meio de condicionamento ou jateamento resultarão em mudanças na superfície

e consequentemente, na molhabilidade do substrato, podendo também, alterar a

energia de superfície e o potencial adesivo. O aumento na energia de superfície

cerâmica, obtido através de tratamentos químicos ou mecânicos, pode portanto,

melhorar a resistência de união entre cerâmica e cimento (DELLA BONA, 2005).

O jateamento com óxido de alumínio é o método de tratamento de superfície

preferencial para os materiais cerâmicos de alta resistência (BLATZ et al., 2003; RE

et al., 2008). Os sistemas micromecânicos de união utilizam essas partículas de

abrasão para melhorar a microrretenção e aumentar a área de superfície de união.

São métodos que asperizam a superfície, aumentando sua energia de superfície e,

consequentemente, o molhamento. (BLATZ et al., 2003)

Entretanto, alguns autores indicam que as microporosidades criadas pelos

tratamentos de superfície podem atuar como iniciadores de trincas, enfraquecendo

os materiais cerâmicos (THOMPSON et al., 2004). Além disso, o jateamento com

óxido de alumino puro nas cerâmicas reforçadas com zircônia não vem

apresentando resultados promissores em vários estudos (KERN e WEGNER,1998;

YOSHIDA et al.,2006; PIASCIK et al.,2009), e para essas cerâmicas, a durabilidade

da resistência adesiva tem sido mais associada ao cimento escolhido (por permitir

melhor interação química) do que à asperização superficial (KERN e

WEGNER,1998; OYAGUE et al.,2009b).

Na tentativa de melhorar quimicamente a resistência de união mecânica, vários

monômeros adesivos, presentes em primers e sistemas de cimentação também tem

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sido utilizados (CAVALCANTI et al., 2009; YUN et al., 2010). Esses monômeros

ácidos podem reagir com os óxidos presentes na superfície da zircônia. A

combinação dos dois métodos de pré-tratamento é recomendada para tentar

alcançar uma maior resistência de adesão (MAGNE et al., 2010).

Seguindo a intenção de melhorar os resultados encontrados, as pesquisas então

têm buscado materiais que possam interagir quimicamente com melhor efetividade

na superfície das cerâmicas a base de zircônia, tratadas ou não por meio do

jateamento. Os materiais resinosos a base de monômeros fosfatados,

particularmente o MDP (10-metacriloxidecil dihidrogênio fosfato), tem sido relatados

como os melhores cimentos resinosos para cerâmicas contendo zircônia, visto que

possuem capacidade de interação química com os óxidos de zircônio (WOLFART et

al.,2007) e mesmo alumina (MADANI et al.,2000), mediada por um grupamento

éster-fosfatado capaz de se ligar a íons metálicos (KERN e WEGNER,1998).

Em um estudo sobre durabilidade de resistência adesiva, Luthy et al. (2006)

demonstrou que a cimentação com cimento resinoso convencional sem a execução

de nenhum tratamento superficial, ou mesmo pela silicatização com o sistema

Rocatec, é estatisticamente inferior ao uso dos cimentos contendo MDP.

Wolfart et al. (2007), estudaram o efeito do jateamento com óxido de alumínio e o

tipo de cimento resinoso (contendo ou não MDP) e demonstraram, que os maiores e

melhores valores de resistência adesiva foram obtidos após jateamento e

cimentação com cimento a base de MDP. Questionando então a influência do tipo

de cimento e do tratamento superficial executado. Oyague et al. (2009)

demonstraram que a escolha do cimento é mais importante visto que o cimento

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Clearfil Esthetic Cement (que contém MDP) apresentou os mais altos valores de

resistência adesiva, independentemente do tipo de tratamento superficial (controle,

jateamento e jateamento com partículas revestidas por sílica).

Entretanto, é importante que estas análises possam predizer a durabilidade do

procedimento adesivo. Trabalhos têm mostrado que a resistência à união diminui

significativamente, abaixo de valores clínicos aceitáveis, após o armazenamento em

longo prazo e termociclagem. (KERN e WEGNER, 1998; AMARAL et al., 2008)

Amaral et al. (2008), em análise imediata mostraram que para o cimento Panavia F

(que contém MDP) o jateamento com óxido de alumínio contendo ou não sílica

resulta em semelhantes valores de resistência de união; entretanto, após

termociclagem e armazenagem em água por 150 dias a resistência de união do

grupo que recebeu jateamento convencional foi estatisticamente pior que o uso do

Cojet ou Rocatec, apesar de que a cerâmica usada em seu estudo foi a In-Ceram

Zircônia, que tem somente 13% de zircônia e 67% de alumina.

Estudos prévios mostram que a deposição de sílica pelo método de silicatização

Rocatec, amplia os resultados de resistência adesiva (MICHIDA et al.,2003), embora

após um regime de termociclagem a resistência tenha caído pela metade (KERN e

WEGNER,1998), o que pode sugerir a instabilidade da união obtida.

A associação sistemas para silicatização e cimento com MDP tem sido mostrada

como mais benéfica do que o uso dos cimentos com MDP somente (ATSU et

al.,2006; AMARAL et al.,2008) pelo fato de que a superfície mais áspera criada pelo

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jateamento torna-se também propícia a adesão mediada pelo silano, o qual amplia a

energia de superfície e se une quimicamente a mesma (ATSU et al.,2006).

Tendo em vista que as técnicas de cimentação adesiva para as cerâmicas à base de

óxido de zircônia ainda não estão bem estabelecidas, pesquisas futuras são

necessárias principalmente para investigar o comportamento desses matérias em

longo prazo. Entretanto todos os resultados já obtidos devem ser considerados,

sendo de extrema importância para a compreensão das características e

comportamento das cerâmicas de zircônia.

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CONCLUSÃO

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4 – CONCLUSÃO

A zircônia é um material comprovadamente indicado para uso restaurador sob os

aspectos biológicos, funcionais e estéticos. Cabe ao cirurgião dentista estar

informado quanto as suas propriedades, como dos estudos laboratoriais e clínicos

para indicar sua utilização de forma correta, extraindo o máximo proveito de suas

características.

Estudos têm sugerido técnicas de cimentação específicas para as cerâmicas a base

de zircônia. Estas técnicas incluem métodos de tratamento de superfície a exemplo

do jateamento com óxido de alumínio ou com partículas de sílica, além do uso

concomitante de materiais que promovam união química ao dióxido de zircônio.

A realização de um tratamento de superfície aumentou consideravelmente os

valores de resistência de união entre a cerâmica de zircônia e os cimentos resinosos

de uma maneira geral, sendo que quando associado ao uso de primers ou cimentos

contendo MDP, os valores de resistência de união são ainda melhores.

Tratamentos de superfície, como o jateamento com óxido de zinco, podem levar a

redução da resistência à fratura. Assim, o efeito dessas alterações na durabilidade

de restaurações de Y-TZP deve ser investigado em estudos de longo prazo para

determinar se a maior retenção conferida às superfícies abrasionadas compensa as

mudanças ocorridas nas propriedades mecânicas.

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Mais estudos são necessários para avaliar os efeitos dos tratamentos de superfície e

resistência de adesão, principalmente referente à analise em longo prazo, em

condições de armazenamento e termociclagem, de forma a predizer a durabilidade

do procedimento adesivo.

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