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COMERCIALIZAÇÃO DE HORTIFRUTIS EM SUPERMERCADOS: UMA ANÁLISE PARA O ESTADO DO PARANÁ José Luiz Parré Djalma Fernandes Câmara RESUMO: O estudo apresenta a situação atual e perspectivas do mercado doméstico de frutas, legumes e verduras (FLV), citando a importância econômica e social da produção no estado do Paraná; questiona-se a maneira de comercialização entre os produtores rurais e os supermercados, diante das novas normas de padronização; efetua-se um aprofundamento para as oportunidades comerciais atribuídas aos hortifrutis diferenciados, principalmente os vegetais minimamente processados (VMP), os congelados e os orgânicos. Procura-se identificar os pontos conflitantes na comercialização de FLV; abordando a necessidade do associativismo ao produtor; levanta-se as causas das perdas e desperdícios; indicando aos agentes, quanto à necessidade de implantação das normas de classificação e padronização de hortifutis; salientando-se ainda as oportunidades existentes. PALAVRAS-CHAVES: Hortifrutis, Relação produtor-supermercado, Paraná 1. INTRODUÇÃO A realização deste trabalho baseou-se na relevância dos estudos sobre as dificuldades enfrentadas na comercialização de hortifrutis (HF), vivenciadas entre produtores e supermercados; a importância intrínseca do setor na geração de trabalho e renda para o Estado do Paraná; e por outro lado, na significativa participação do setor supermercadista no escoamento da produção de hortifrutícolas. Apresenta-se a situação atual e perspectivas do mercado doméstico de Frutas, Legumes e Verduras (FLV) do Estado do Paraná; questiona-se a forma de comercialização produtor-supermercado, diante das novas normas de padronização; efetua-se um aprofundamento para as oportunidades comerciais atribuídas aos hortifrutis diferenciados, principalmente os vegetais minimamente processados, os congelados e os orgânicos; além de mencionar o crescimento das vendas do setor nos supermercados. Procura-se identificar os pontos conflitantes na comercialização de FLV; abordando a necessidade do associativismo ao produtor; levanta-se as causas das perdas e desperdícios; indicando aos agentes, quanto à necessidade de implantação das normas de classificação e padronização de hortifrutis; salientando-se ainda as oportunidades existentes. 2. PROBLEMAS DA CADEIA DE HORTIFRUTÍCOLAS DO PARANÁ A cadeia produtiva de hortifrutícolas dentro do estado do Paraná apresenta peculiaridades estruturais evidenciadas por vários fatores, que inibem a competitividade e a rentabilidade da atividade agrícola, dentre os quais podemos destacar alguns aspectos importantes, tais como: desatenção com respeito à instituição de novas normas para a padronização de produtos, de acordo com as exigências do mercado comprador; atuação incipiente de associações de produtores na fase de comercialização, consistindo geralmente em negociações individualizadas;

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Visão atual do mercado de frutas, legumes e verdura para o Estado do Paraná

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COMERCIALIZAÇÃO DE HORTIFRUTIS EM SUPERMERCADOS: UMA ANÁLISE PARA O ESTADO DO PARANÁ

José Luiz Parré

Djalma Fernandes Câmara RESUMO: O estudo apresenta a situação atual e perspectivas do mercado doméstico de frutas, legumes e verduras (FLV), citando a importância econômica e social da produção no estado do Paraná; questiona-se a maneira de comercialização entre os produtores rurais e os supermercados, diante das novas normas de padronização; efetua-se um aprofundamento para as oportunidades comerciais atribuídas aos hortifrutis diferenciados, principalmente os vegetais minimamente processados (VMP), os congelados e os orgânicos. Procura-se identificar os pontos conflitantes na comercialização de FLV; abordando a necessidade do associativismo ao produtor; levanta-se as causas das perdas e desperdícios; indicando aos agentes, quanto à necessidade de implantação das normas de classificação e padronização de hortifutis; salientando-se ainda as oportunidades existentes. PALAVRAS-CHAVES: Hortifrutis, Relação produtor-supermercado, Paraná 1. INTRODUÇÃO

A realização deste trabalho baseou-se na relevância dos estudos sobre as dificuldades

enfrentadas na comercialização de hortifrutis (HF), vivenciadas entre produtores e supermercados; a importância intrínseca do setor na geração de trabalho e renda para o Estado do Paraná; e por outro lado, na significativa participação do setor supermercadista no escoamento da produção de hortifrutícolas.

Apresenta-se a situação atual e perspectivas do mercado doméstico de Frutas, Legumes e Verduras (FLV) do Estado do Paraná; questiona-se a forma de comercialização produtor-supermercado, diante das novas normas de padronização; efetua-se um aprofundamento para as oportunidades comerciais atribuídas aos hortifrutis diferenciados, principalmente os vegetais minimamente processados, os congelados e os orgânicos; além de mencionar o crescimento das vendas do setor nos supermercados.

Procura-se identificar os pontos conflitantes na comercialização de FLV; abordando a necessidade do associativismo ao produtor; levanta-se as causas das perdas e desperdícios; indicando aos agentes, quanto à necessidade de implantação das normas de classificação e padronização de hortifrutis; salientando-se ainda as oportunidades existentes.

2. PROBLEMAS DA CADEIA DE HORTIFRUTÍCOLAS DO PARANÁ A cadeia produtiva de hortifrutícolas dentro do estado do Paraná apresenta

peculiaridades estruturais evidenciadas por vários fatores, que inibem a competitividade e a rentabilidade da atividade agrícola, dentre os quais podemos destacar alguns aspectos importantes, tais como:

─ desatenção com respeito à instituição de novas normas para a padronização de produtos, de acordo com as exigências do mercado comprador;

─ atuação incipiente de associações de produtores na fase de comercialização, consistindo geralmente em negociações individualizadas;

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─ pouca utilização de tecnologia em estocagem, classificação e embalagem por escassez de recursos, favorecendo a concorrência para fornecedores de outros estados;

─ falta de garantia mínima de comercialização e inexistência de parcerias comerciais concretas; salvo as empregadas na agroindústria.

─ baixa utilização de ferramentas de marketing no setor; ─ falta de utilização de refrigeração e descuidos na colheita e pós-colheita gerando

desperdícios e perdas; ─ necessidade da atuação de órgãos mediadores entre o produtor e o comprador. ─ indefinições com respeito aos financiamentos destinados ao setor.

2.1. PERDAS NA AGRICULTURA Há necessidade de ações governamentais diante da questão da redução das perdas,

uma vez que causam subutilização de recursos, ao alterar as quantidades e preços de equilíbrio, o que é socialmente indesejável.

Segundo levantamento realizado em agosto de 2002, pelo CEPEA, apontou que dependendo do produto e da distância a ser percorrida por ele, essa perda pode chegar a 30 ou 45% do total comercializado no mercado doméstico. Um dos prováveis agravantes desse problema é o não uso das câmaras frigoríficas (apenas 25% do total dos barracões possui) e transporte refrigerado (26% possuem) (Revista HF Brasil Set. 2002).

Outro fator que acentua a perda na comercialização é o uso inadequado da embalagem. Na amostra levantada pelo Cepea, 28% dos packing houses ainda utilizam a caixa de madeira (como a caixa K). Atualmente, recomenda-se o uso de caixas de papelão ondulado, que protegem o produto contra choques mecânicos e suportam ambientes úmidos.

O descarte de alimentos acontece em todas as cadeias da produção e está espalhado em diferentes graus, desde o cultivo agrícola à mesa do consumidor. Mas é no varejo que o descarte é maior, contudo, muitas perdas que ocorrem nessa fase são resultados de problemas em fases anteriores, tal como ponto de colheita inadequado.

Entre as empresas e centros de pesquisa, não há discordância. Todos apontam o manuseio inadequado, embalagens inapropriadas e falta de classificação e padronização dos produtos como os principais fatores responsáveis pelo descarte de hortifrutícolas. (VASCONCELOS, 2001).

3. SITUAÇÃO ATUAL DA PRODUÇÃO NA HORTICULTURA PARANAENSE Com objetivo de desenvolver uma produção mais limpa e com qualidade alimentar,

foi implantado em 2001 na região norte do estado o projeto Hortinorte; o qual possui várias alianças no estado e envolve profissionais da EMATER e da iniciativa privada, com o apoio do projeto estadual “Paraná doze meses”.

A produção de frutas e hortaliças têm experimentado expressivo crescimento nos últimos anos no Paraná com a formação de vários pólos produtores no norte do estado, como a banana em Andirá com 20% da produção estadual, o morango em Pinhalão representando 40% da produção estadual, o pêssego em Congonhinhas e Santo Antônio do Paraíso ultrapassando 1300 toneladas produzidas anualmente, a viticultura com 3118 produtores em 3800 ha. A Citricultura vem crescendo na região, voltando a revelar-se como bom investimento, devido à recuperação dos preços e o cultivo de hortaliças expandiu-se por apresentar boa rentabilidade por área em curto espaço de tempo. São Jerônimo da Serra,

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Reserva, Marilândia do Sul, Faxinal e Londrina possuem expressivas áreas de hortaliças sendo que o norte do Paraná tem mais de 1500 hectares de tomate.

A diversificação é uma saída interessante no aumento e estabilidade da renda dos produtores, importante gerador de emprego e receitas aos municípios. É importante frisar que a fruticultura e a olericultura geram oportunidades, porém exigem maior suporte de tecnologia, organização e comercialização pela característica de perecibilidade; essa lógica pressupõe maior profissionalização dos produtores e do corpo técnico de assistentes.

Com um ano de operação do Projeto Hortinorte, foram constatados resultados expressivos; como a ampliação da área de estufas, comercialização de uva, ampliação de áreas e melhoria na qualidade da banana e do pêssego, aumento do número de produtores de citrus, com instalação de um Packing House em Nova América da Colina; organização de produtores de morango na região de Pinhalão entre outros; com disseminação de tecnologias em mais de dez eventos, vinte e dois cursos e oito excursões; patrocinados pelo projeto Paraná 12 meses, envolvendo mais de 800 produtores e disponibilizou recursos da ordem de R$1,5 milhão nas regiões de Cornélio Procópio, Ivaiporã, Santo Antônio da Platina, Londrina, Apucarana, Ponta Grossa e Maringá.

O objetivo do projeto é o desenvolvimento da horticultura como atividade econômica sustentável através do aprimoramento da organização de comercialização, da melhoria e incremento de novas áreas visando a geração de emprego e renda no campo. O projeto Hortinorte, engloba projetos nas áreas de Viticultura, Laranja, Banana, Pêssego e Nectarina.

O projeto Laranja desenvolve ações para a comercialização conjunta da produção; implementação de sistema de certificado de origem (fitossanidade) e ampliação do plantio de novos cultivares de mesa; além da recente implantação de um packing-house com subsídio da Seab, através do Programa Paraná 12 meses.

De acordo com os dados disponíveis em www.pr.gov.br/ceasa pode-se verificar a movimentação de produtos e os principais estados produtores; notando grandes aquisições de outros estados; representando assim um grande nicho para produtores e governantes canalizarem esforços para a utilização das grandes potencialidades do Estado.

Como demonstra a Tabela 1, o Estado do Paraná tem um grande potencial de consumo que não está sendo atendido pela produção local, tendo que recorrer à outros estados para o atendimento da demanda. Note-se que muitas vezes há a preferência do atacadista por produtos de fora, devido à qualidade e a padronização serem superiores. Contudo, com a devida adequação do produtor local, para o aumento da produção de acordo com as expectativas dos clientes poderá redundar em grandes benefícios para o estado.

O volume de comercialização de hortifrutigranjeiros nas Ceasas do Paraná em 2001, aproximou-se de 1,1 milhão de toneladas. Pode-se observar a produção paranaense e as potencialidades de consumo; evidenciando assim, grandes oportunidades para a cadeia produtiva. Cada ponto percentual de elevação na participação do Paraná resultará na geração de postos de trabalho, e ampliação da renda dos atores.

Produtos de elevado consumo como o tomate, com produção de apenas 28% do consumo necessário; as potencialidades do abacaxi, onde se produz apenas 3,9% do que é consumido; com bons núcleos de produção na região norte; a banana, com o consumo sendo atendido por Santa Catarina, pois a produção estadual é de apenas 25,9% do necessário.

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TABELA 1 – Procedência dos HF comercializados nas CEASAS do Paraná em 2001 Produto Forn. 1 % Forn. 2 % Forn. 3 % % outros

Abacate SP 50,0 PR. 47,6 2,4 Abóbora PR 46,6 SP 33,1 SC 5,9 14,4 Alho PR 30,6 Argent. 27 SP 14,8 27,6 Banana SC 59,1 PR. 25,9 SP 9,9 5,1 Batata-doce PR 72,6 SP 19,5 AL 6,4 1,5 Berinjela PR 59,2 SP 37,7 SC 1,8 1,3 Caqui PR 58,7 RS 19,5 SC 13,7 8,1 Abacaxi SP 46,4 MG 45,5 PR 3,9 4,2 Cenoura PR 54,9 SP 32,6 MG 7,8 4,7 Laranja SP 73,6 PR. 24,8 1,6 Maçã SC 72,3 RS 15,7 PR 9,1 2,9 Tomate SP 41,7 PR. 28 SC 15 15,3 Batata PR 56 SP 35,1 MG 5,8 3,1 Goiaba SP 82,1 PR. 17,2 0,7 Maracujá SP 44,2 PR. 35,8 RS 9 11,0 Melancia SP 40,3 RS 21,5 GO 16,3 21,9 Pepino PR 76 SP 14,1 ES 4,1 5,8 Pêssego SC 56,6 PR. 24,8 RS 12,9 5,7 Uva PR 51,5 SP 36,7 RS 6,4 5,4 Beterraba PR 87,4 RS 5,2 SP 3,9 3,5 Tangerina PR 83,1 SP 13,8 RS 2,5 0,6 Ameixa PR 30,1 SC 27,8 SP 14,8 27,3 Chuchu PR 87,3 SP 4,7 ES 3,7 4,3 Cebola SP 40,6 SC 27,8 PR 20,9 10,7 Limão SP 86 PR. 13,3 0,7 Couve-flor PR 97,7 SP 1,6 0,7 Pimentão SP 51,7 PR. 34 SC 12,9 1,4 Quiabo PR 91,1 SP 5,1 ES 3,2 0,6 Vagem PR 87,2 SC 4,1 SP 3,5 5,2 Mandioquinha PR 94,2 SC 3,4 SP 2,1 0,3 Fonte: Ceasa/PR, 2003. Tabela elaborada pelos autores.

4. PERSPECTIVAS PARA A CADEIA PRODUTIVA DE HF NO PARANÁ O Estado possui condições ideais de fertilidade, recursos hídricos abundantes para

irrigação e malha viária adequada; apresentando áreas de produção distribuídas por diversas regiões do Estado e a utilização de modernas técnicas de produção; constituindo-se como fatores determinantes para o crescimento e o desenvolvimento da produção desse segmento no Estado do Paraná.

O desafio é padronizar a qualidade e conquistar mercados para grandes volumes de produtos; conseguindo assim, ampliar a produção e a geração de emprego e renda, principalmente ao pequeno produtor que depende da produção para o provimento de sua

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família. Contudo, devido à falta de acesso ao crédito, aliena o produtor da condição de utilização de melhores tecnologias e de implantação de procedimentos de classificação e padronização que poderiam agregar valor à sua produção.

No que tange à qualidade e know how em produção, destaca-se a região de São Gotardo-MG, principal produtora de cenoura do país, com substanciais investimentos em tecnologia e packing houses para padronização. Além disso, os produtores locais trabalham em cooperativa ou em grupos, com um sistema de comercialização bastante eficiente. Isso também facilita investimentos em tecnologias de produção e pós-colheita. (VITTI et al (2002).

Com a preferência de uma grande parcela do mercado de Curitiba e grande parte de São Paulo; a cenoura é enviada padronizada por classificação de qualidade, acondicionada em caixas de papelão com peso individual de 20 kg.; evitando a manipulação para a exposição do produto na área de vendas, consistindo em diferenciais no momento da compra.

A região paranaense de Marilândia do Sul, bastante semelhante à São Gotardo-MG é a maior produtora de cenoura do estado do Paraná, contudo o conceito de padronização ainda não é unânime; perdendo mercado para outras regiões. Durante a safra local, os produtores que não utilizam tecnologia de classificação não conseguem preços compensadores, destinando seus produtos para as ofertas semanais dos supermercados regionais e também para o interior do estado de São Paulo.

Com respeito à classificação, cabe frisar a atuação da Associação de Olericultores de Carlópolis no Paraná, apresentando uma ótima qualidade em goiaba e maracujá doce, os quais tem mercado garantido em grandes redes, dentre as quais o Carrefour e o Super Muffato; essa associação é conveniada à FEVALE – Federação das Associações de Produtores do Vale, de Ourinhos-SP, a qual comercializa a produção de legumes tradicionais e exóticos, com maior valor agregado, empregando processos de classificação, padronização e embalagem em caixas de papelão. A parceria entre a federação de Ourinhos e a associação de Carlópolis, proporciona a permuta de produtos de uma região para a outra, conseguindo assim, atender mais clientes e com maior variedade de produtos.

Em Medianeira no oeste do Paraná destaca-se a Cooperativa Agroindustrial Lar, atuando desde 1964 no segmento de grãos e indústria de óleo; implantou em 1998 uma unidade de beneficiamento de ovos; que são captados de 33 granjas de seus cooperados, onde são produzidas 6 mil dúzias por dia. A produção é destinada à supermercados do Paraná. A cooperativa inaugurou também no ano de 1998 na cidade de Itaipulândia, cidade próxima à sua sede; uma indústria de vegetais congelados. (GLOBO RURAL, 2001; COTREFAL, 2002). 4.1. MECANISMOS PARA A AUTO-SUFICIÊNCIA DA PRODUÇÃO

O Estado do Paraná poderá tornar-se quase que auto-suficiente na produção de FLV,

adquirindo de outros estados somente em situações de clima desfavorável, por chuvas ou geadas; incentivando a produção em estufas nas épocas em que o cultivo em campo torna-se impossível.

Por fatores mercadológicos, observa-se o tradicional passeio de hortifrutis, onde os produtos de uma região são vendidos para a capital ou para outro Estado, e de lá retornando para os consumidores locais, com preços alterados. Tal ocorrência se observa pelo fato do produtor local não ter sua produção valorizada, mesmo apresentando qualidade compatível com o produto de fora; diante da máxima que “santo de casa não faz milagre”; obrigando o produtor a buscar outros mercados, muitas vezes sendo intermediado por atravessadores para o escoamento da produção.

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Uma organização na cadeia produtiva, com associações de produtores e órgãos governamentais envolvidos, poderá minimizar ou evitar tais situações, gerando mais empregos e renda para a região produtora. A conscientização dos agentes é fator preponderante para a reposição habitual de estoques; conclamando o produtor para o atendimento das necessidades do cliente e este mantendo um relacionamento harmonioso, quanto à preferência aos produtos locais, visando o fortalecimento do produtor para que haja assim mais investimentos na produção. Não raro a comercialização com o mercado local somente se efetiva, com a finalidade de escoar excessos de produção, notando o mesmo comportamento do caso da cenoura abordado anteriormente.

Sem dúvida tal paradigma deve ser quebrado, com o incentivo do estado à produção de FLV, principalmente dos produtos mais adaptados em cada região. Nas regiões onde há uma central de abastecimento – Ceasa, a tendência é a ampliação da produção local, pois há mercado para escoamento.

Conforme revelado pela pesquisa do MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL (2002), o supermercado, na posição de maior cliente do produtor, direta ou indiretamente (via atacadista), procura parcerias comerciais onde possa adquirir produtos frescos, com qualidade, regularidade, volumes necessários e de fornecedores adaptados com avançados conceitos técnicos e mercadológicos; demonstrando grande interesse na negociação com grupos de produtores, associações ou cooperativa, revelando que há tendência de crescimento da demanda, constituindo um forte estímulo para o aumento da produção. Para isso, é necessário que o agricultor se prepare para produzir de acordo com as expectativas dos consumidores. Essa preparação envolve a modernização dos processos de produção, de novas técnicas de pós-colheita e de venda dos produtos, só será viável e sustentada com o associativismo. Essa é uma questão essencial para superar as desvantagens existentes hoje nas negociações com os intermediários, inclusive com as redes supermercadistas. As vendas devem ser processadas por meio de organizações que tenham dimensão capaz de equilibrar, entre as partes, o poder de barganha, pois atualmente, a concentração cada vez mais acentuada do setor confere a essas empresas tal supremacia.

Deve ficar claro também que a questão do associativismo não está ligada, restritamente, ao propósito de melhorar as condições de barganha dos produtores. A sua principal função está na criação de escalas que viabilizem instrumentos e ações capazes de influenciar decisivamente a melhoria da qualidade dos produtos, atendendo aos desejos do principal ator de todo este processo, que é o consumidor.

4.2. SUGESTÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DO SETOR NO PARANÁ:

─ Envolver a Ceasa, Faep, Hortiqualidade, Fábrica do Agricultor, Vilas Rurais,

Emater, Sebrae e a Apras-associação paranaense de supermercados, visando discutir os entraves do setor.

─ Definição de uma política de comercialização junto aos maiores clientes, atacadistas e supermercadistas, visando introduzir contratos de compromisso de compra da produção.

─ Auxílio técnico ao produtor, com a implantação de ferramentas para a Qualidade Total na Produção; tecnificando os produtores com respeito ao uso de agroquímicos, normas de classificação e padronização, embalagem, utilização de câmaras frias (cadeia do frio) quando necessárias.

─ Instrução ao agricultor familiar para a obtenção dos créditos disponíveis. ─ Utilização de ferramentas de marketing para a comercialização e o consumo dos

produtos locais e regionais.

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─ Implantação e assistência para associações de produtores ou cooperativas para o setor.

─ Estimular as parcerias entre fornecedores para entregas conjuntas. ─ Ampliação de treinamentos técnicos no campo e cursos relacionados à

comercialização. ─ Fomentar a utilização do comércio eletrônico. ─ Ampliação da produção orgânica. ─ Incentivo ao processamento, visando a agregação de valor. ─ Realização de ciclos de debates com os agentes da cadeia, com o intuito de

estreitar os laços entre clientes e fornecedores. ─ Conscientizar sobre a utilização de embalagens adequadas, plásticas ou de

papelão. ─ Disponibilizar para qualquer produtor ou atacadista um cadastro de clientes

inadimplentes.

5. ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO DO SETOR SUPERMERCADISTA NA COMERCIALIZAÇÃO DE FLV

O real favoreceu o incremento das vendas. No segundo semestre de 1994, a Abras

registrou um aumento de 31,3% no volume total de vendas do segmento. O faturamento global dos supermercados saiu de R$ 39,9 bilhões em 1994, para R$ 67,6 bilhões em 2000.

Em 2001 a Abras contabilizou o faturamento de R$ 72,5 bilhões; com crescimento real de apenas 0,4%; salientando que as 500 maiores empresas supermercadistas do Brasil, representaram cerca de 70% do faturamento do setor.

A receita das 20 maiores redes de supermercados caiu 1,3%, enquanto o das pequenas lojas aumentou 3,5%, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

Hoje são mais de 18,7 mil empresas espalhadas em todo o País, com 156,22 mil “check outs”. Atualmente, os supermercados respondem por 6,2% do Produto Interno Bruto (PIB) e gera 710.743 empregos diretos (Abras).

5.1. DESAFIOS PARA O SUPRIMENTO DOS SUPERMERCADOS

Os produtores precisam preocupar-se com a padronização de seu produto,

classificação adequada e embalagens, que além da proteção permitem diminuir o manuseio. Estas devem ter a identificação do produtor, especificações do produto e local de produção.

Seguindo tendência mundial imposta pelos consumidores, os supermercados têm ampliado as áreas destinadas às frutas, verduras e legumes, dispensando atenção especial no setor de alimentos semiprontos e congelados. Essa nova postura orienta os sistemas de produção, que procuram adequar-se aos critérios adotados pelo setor.

Os produtos que já saem embalados da propriedade rural são preferidos pelos supermercados, por eliminarem o manuseio intermediário e irem diretamente para as gôndolas, poupando tempo, diminuindo perdas, ganhando em higiene e qualidade.

5.2. IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DA ÁREA DE FLV NO SUPERMERCADO

Segundo GORENSTEIN (2000), os supermercadistas trataram de dedicar maior

atenção aos produtos frescos, quando observaram que estes representavam cerca de 10% do faturamento, de modo a ampliar os lucros com sua venda. Hoje as grandes redes já suprem 80% de suas necessidades com aquisições diretamente do produtor. O Carrefour e o Pão-de-

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Açúcar, as duas maiores redes do Brasil, já se adiantaram na substituição das caixas de madeira pelas plásticas e de papelão, que são diretamente expostas nas lojas. Ambos estão procurando trabalhar com fornecedores permanentes, dos quais exigem maiores cuidados com a qualidade e a limpeza. (GORENSTEIN, 2000).

Os supermercados estão centralizando seus departamentos de compras e suas plataformas, de modo que, em breve, haverá preferência nítida por produtores maiores, que possam suprir boa parte das necessidades da rede.

Qualidade é uma exigência do consumidor que deve ser atendida por produtores e varejistas, de acordo com as opiniões dos dirigentes de onze redes de supermercados com sede no Estado de São Paulo, responsáveis por 37% das vendas totais do setor no país. (MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO, 2002).

Conforme declaração dos dirigentes das redes consultadas; afirmam que nos dias em que se realizam feirões, sacolões ou qualquer outro tipo de promoção, amplia-se o fluxo de clientes nas lojas. Eles esperam que o aumento da participação dos hortifrutis na venda total seja acompanhado ou até determinado pelo crescimento do número desses produtos, o que dependerá muito de lançamentos, principalmente entre os embalados, pré-processados e orgânicos.

5.3. FATURAMENTO DA ÁREA DE FLV E O ESPAÇO UTILIZADO NA LOJA

O setor supermercadista faturou R$ 3,1 bilhões com a seção FLV no Estado de São

Paulo, em 2000. São números impressionantes. A seção de FLV representa, em média, 12,5% das vendas totais dos supermercados do Estado de São Paulo.

Quando analisado por tipo e loja, observa-se que, basicamente, à medida que cresce o tamanho dos supermercados, e de seu mix, diminui a participação dos hortifrutis no faturamento das lojas, como é o caso dos convencionais onde esta participação corresponde a 14,3%, contra quase a metade nos hipermercados com 7,8%. Essa diferença significativa registrada nos hipermercados é explicada pelas seções com produtos de preços absolutos mais altos, como os eletrodomésticos, por exemplo.

Embora representem percentuais significativos em relação ao faturamento total, quando observado em termos de área constata-se que a participação da seção de FLV é ainda menor significando apenas 8% na média, no Estado de São Paulo, sendo 5% nos hipermercados e 10% na superloja. Estes números dão a importância desta seção que mesmo representando pequena área em relação à loja, são responsáveis por parcela significativa do faturamento total.

5.4. A PROBLEMÁTICA RELAÇÃO COMERCIAL ENTRE O PRODUTOR RURAL

E O SUPERMERCADO NO ESTADO DO PARANÁ O produtor paranaense de hortícolas, mantém o hábito arraigado de comercializar a

produção utilizando a Ceasa, no espaço a ele destinado (pedra); direcionando seus produtos aos clientes que percorrem a Central de Abastecimento para o suprimento dos estoques; onde recebe com menor prazo; sem exigência de padronização, não necessita de efetuar entrega, pois o comprador realiza a comercialização na porta; contudo não tem a mínima participação na definição dos preços, imperando a oferta e a demanda, fatores geradores de insegurança no momento da venda.

Para conseguir melhores oportunidades de venda e preços mais atrativos, pode-se direcionar a safra ao supermercado, que é sem dúvida o principal elo da cadeia de comercialização de FLV. Agrupa a maior fatia de consumidores em só local; responsável pelo escoamento de produtos frescos, a granel ou embalados, orgânicos, hidropônicos e os vegetais

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minimamente processados; contudo exige o atendimento de quesitos básicos, quais sejam; qualidade, padrão de classificação, periodicidade, volume, estrutura de comercialização, reposição dos produtos deteriorados, verbas e prazos de pagamento mais longos. Além disso, o produtor deve preparar-se para as novas tendências, quanto à exigência da produção de alimentos limpos; respeitar adequadamente a carência do produto; não agredir o meio-ambiente e manter o acompanhamento de um agrônomo, apresentando-se como grandes diferenciais na decisão quanto ao fornecedor.

Porém, devido a evolução das grandes redes nacionais e internacionais no Estado, com a imposição de políticas de compra arrojadas, por muitos consideradas até coercitivas; dificultam a relação entre os fornecedores e o supermercado.

Em visitas profissionais, durante os meses de agosto a outubro de 2002 a produtores e atacadistas de Curitiba e região metropolitana; um dos autores constatou um posicionamento ambíguo; onde muitos fornecedores estão trabalhando com várias tabelas, embutindo nos preços os descontos relacionados com a venda; dentre eles, as verbas inaugurais, as bonificações e a substituição dos produtos deteriorados. Diante dessa realidade e muitas vezes levados por fatores econômicos, que obrigam à redução da estrutura comercial; muitos fornecedores (atacadistas e produtores) redirecionaram o foco de comercialização, atendendo grandes redes, mas concentrando a força de vendas para os pequenos supermercados de vizinhança, além de canalizar a comercialização “na porta” através da Ceasa; atendendo atacadistas de outras regiões, sacolões e pequenos supermercados; os quais não cobram verbas, não são tão exigentes; possibilitando o escoamento de produtos de categoria inferior, com a prática de descontos.

Um inconveniente ao produtor, sobretudo o pequeno, é a convivência com o oportunismo que impera no comércio da “pedra” (área destinada aos produtores), pois o grande produtor possui caminhos distintos para o escoamento da produção; com contatos em diversas regiões; já o pequeno sujeita-se aos dissabores da oferta e procura local por falta de opção. Na realidade, o que o pequeno produtor precisa é agrupar-se, participar de associação com outros produtores, visando fortalecer o poder de negociação; podendo fechar grandes negócios com supermercados da região ou mesmo atacadistas.

5.5. OPORTUNIDADES COM O CRESCIMENTO DOS PRODUTOS DIFERENCIADOS.

a) Hortifrutis Embalados Os consumidores de frutas, legumes e verduras embaladas são um segmento de

mercado com tendência de crescimento em grandes cidades do Estado do Paraná, onde os moradores buscam praticidade e diminuição do tempo para realização de compras. Eles são, predominantemente, das classes A e B e têm renda de R$ 1.900,00/mês, 15% superior à média dos que consomem produto a granel, que é de R$ 1.650,00/mês, conforme levantamento efetuado pelo MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO (2002).

Refletindo a tendência de crescimento dos embalados, 64% dos supermercados afirmaram ter a intenção de aumentar o espaço de venda para essa categoria. Como a oferta deste tipo de produto com qualidade ainda é pequena para atender a demanda dos supermercados, muitos deles têm realizado o embalamento na própria loja. A promoção do processo de embalamento pelos supermercados lhes propicia agregar valor aos seus produtos a granel e se apropriar de margens de comercialização que poderiam ser obtidas por produtores e suas associações que se dispusessem a oferecer ao menos parte de seus produtos já embalados.

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b) Vegetais Minimamente Processados Acompanhando a evolução dos hábitos alimentares dos consumidores, exigindo

produtos semiprontos, que agreguem praticidade, em face da redução do tempo disponível para o preparo das refeições domésticas, provocada pela maior participação da mulher no mercado de trabalho; tornando cada vez mais comum a presença no auto-serviço de hortaliças já lavadas, higienizadas e embaladas em porções adequadas com o público consumidor.

No Brasil, calcula-se que, em 1998 o setor tenha movimentado algo em torno de R$450 milhões, com uma evolução de mais de 200% nos últimos três anos.

O Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), no estado de São Paulo, desenvolve projetos sobre o embalamento das hortaliças minimamente processadas. Entre os aspectos fundamentais das pesquisas está o aumento do prazo de validade para um período de dez a quinze dias, como já se verifica nos Estados Unidos. Para tanto necessita-se o uso de equipamentos e sanitizantes adequados para a higienização, controle da qualidade da água empregada, redução do tempo entre a colheita e o processamento e a manutenção da temperatura ideal em toda a cadeia, desde a produção até o consumidor final.

O principal impedimento ao crescimento dos volumes comercializados dos pré-processados, na avaliação dos supermercadistas, está nos preços altos. A pouca variedade e a ainda diminuta quantidade disponível para fornecimento também foram destacadas. Além desses problemas, a descontinuidade da oferta é um dos pontos negativos, percebidos principalmente pelos hipermercados.

c) Vegetais Congelados

Segundo JUNQUEIRA (2000), no Brasil o segmento de vegetais congelados

experimenta desde 1995, crescimento anual da ordem de 30%. No mercado total de alimentos congelados, os vegetais participam com 37%. Ainda assim, o consumo interno é bastante baixo frente aos padrões internacionais, evidenciando notável potencial de expansão nos próximos anos.

No Brasil, como na maioria dos países, a batata é a líder no segmento de vegetais congelados, encontrando também, brócolos, milho doce, ervilha, cenoura, mandioca, vagem e outras hortaliças.

Destaca-se como exemplo nacional de agroindústria do gênero, a atuação da Cooperativa Agroindustrial Lar, sediada em Medianeira, no oeste paranaense, que implantou na cidade de Itaipulândia, uma indústria de vegetais congelados, onde foram investidos R$ 8 milhões, com a produção concentrada na própria região, envolvendo 450 produtores cooperados; processando mandioca de mesa, milho doce, batata inglesa e legumes congelados, além de frutas para sucos e conservas. A cooperativa determina a área a ser plantada e compromete-se na aquisição de toda a safra, entregando ao produtor as sementes, adubos e fertilizantes, cujo valor é descontado do pagamento da colheita.

Segundo a empresa, os vegetais Lar detém 7% de participação, comercializando em supermercados, cozinhas industriais e embalamento para terceiros. A linha de vegetais compõe 10 produtos, sendo que o milho-doce é o carro-chefe, respondendo por 76% da produção no ano 2000, destacando que nesse mesmo ano a indústria processou 2660 toneladas de vegetais congelados (TRIBUNA DO PARANÁ 2002; REVISTA GLOBO RURAL, 2001).

d) Produtos Orgânicos

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A demanda por produtos orgânicos cultivados sem agrotóxicos, fertilizantes químicos ou hormônios de crescimento é crescente, especialmente entre os consumidores de maior poder aquisitivo. A consciência ecológica e os cuidados dedicados pela população à busca de uma vida saudável, que têm marcado as duas últimas décadas, são dois fatores que impulsionam este mercado, estimado no mundo em US$ 24 bilhões pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, em 2001. No Brasil, este mercado ainda é considerado pequeno, sendo estimado em cerca de US$ 260 milhões/ano.

A comercialização de orgânicos enfrenta alguns problemas, como a desinformação dos consumidores: 45% dos consumidores simplesmente não sabem o que é “produto orgânico”. O conceito mais aproximado do correto (produto natural, sem química, sem agrotóxicos e sem conservantes) foi dado por 28% dos entrevistados. Os demais apresentaram conceito incorreto ou não souberam descrevê-lo. Entre as noções incorretas, há confusão com os hidropônicos e os transgênicos.

Entretanto, o principal fator que impede o aumento do consumo, citado pelos supermercadistas em relação aos alimentos orgânicos, é seu alto preço. Mas também a pouca variedade e a quantidade disponível são pontos negativos. A exemplo do que acontece com os pré-processados, a descontinuidade da oferta é um aspecto destacado pelos hipermercados.

e) Marketing Social

Como uma fonte alternativa e promissora de divulgação, o marketing social também

opera no setor supermercadista, observando que o Grupo Pão de Açúcar lançou o programa Caras do Brasil. A idéia é comercializar produtos que vão de alimentos orgânicos a artigos de decoração produzidos por pequenas e médias cooperativas brasileiras, caracterizadas pelo desenvolvimento sustentável. O programa contribui para a geração de riquezas e a fixação da população em seus locais de origem. (AC NIELSEN, 2002).

5.6. PERDAS NOS SUPERMERCADOS

Segundo a APAS - Associação Paulista de Supermercados, as perdas dos

supermercados brasileiros na venda de frutas, legumes e verduras, representam em torno de 24% da produção nacional desses produtos, correspondendo a 13 milhões de toneladas de alimentos, avaliados em aproximadamente R$ 4 bilhões. (REVISTA DO FRIO, 2003).

Mesmos nos grandes supermercados são raros os produtos agrícolas que são comercializados refrigerados. A utilização da refrigeração é normalmente vista como um aumento nos custos de comercialização.

De acordo com a pesquisa do MINISTÉRIO DE INTEGRAÇÃO (2002) em São Paulo, o índice de quebra (perda) dos hortifrutis comercializados nos supermercados chega a aproximadamente 10% e apenas um terço das lojas – as de melhor padrão operacional – declara que esse nível está caindo. O manuseio do consumidor representa o maior percentual de perdas (46%), mesmo quando analisado por tipo de loja. A falta de qualidade dos produtos aparece em segundo lugar, o excedente de oferta e a falta de refrigeração vêm a seguir. Vale ressaltar a alta representatividade das perdas atribuídas à equipe dos próprios supermercados, cerca de 10% – o que demonstra a necessidade de capacitação dessa equipe, pelos supermercados.

Cerca de um terço das lojas não possui refrigeração em nenhum dos setores da seção de FLV. O desperdício onera o produtor com despesas de reposição que seriam dispensadas se os produtos fossem armazenados e expostos de forma mais adequada. Mas este prejuízo se reflete também na residência do consumidor.

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5.7. RECURSOS HUMANOS Os recursos humanos envolvidos no setor de FLV do supermercado, principalmente

o quadro operacional, praticamente não recebem treinamento inicial na função, não raro, por falta de pessoal, são captados de outros setores da empresa, de onde exerciam funções de empacotadores ou repositores. Consiste em um dos setores com o maior turn-over do supermercado, abrangendo indivíduos não qualificados e sem aspirações de carreira no setor.

Diante da considerável participação do setor na venda total da loja; torna-se primordial um bom gerenciamento do setor, para evitar o turn-over e reduzir os desperdícios e perdas. Envolve muito treinamento, reuniões constantes com a equipe e as definições de metas de vendas da empresa. Uma equipe afinada pode elevar uma rentabilidade baixa de 3 à 8% para 20% em média. A falta de um treinamento adequado ou mesmo equipe insuficiente no setor, revela uma economia equivocada, pois ocasiona a presença de produtos deteriorados e até vencidos na área de vendas; comprometendo não só a redução da rentabilidade do setor, mas também o nome do supermercado como um todo.

O profissional é quem proporciona a diferença; pois onde há um comando ético, participativo, transparente; faz com que cada membro sinta-se importante e reconhecido em suas funções. Além disso, estará apto a prestar um atendimento especial e criterioso a todos os clientes indistintamente; tornando um grande diferencial em relação à concorrência.

A utilização de ferramentas de remuneração por produtividade, pode ser um bom caminho para o setor de FLV; considerando a ausência de faltas ao trabalho, o faturamento mensal, a redução das perdas ou a quantidade comercializada, torna-se uma forma de envolver seus membros a almejar premiações ou ganhos superiores, proporcionando muitas vezes uma saudável disputa entre lojas.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sistema de comercialização realizado através das Centrais de Abastecimento, não conseguiu acompanhar a evolução mercadológica do setor hortifrutícola; comumente adotado por produtores, principalmente oriundos de pequenas propriedades rurais, as quais utilizam mão-de-obra familiar como base da produção. Devido à precariedade estrutural desse sistema produtivo, comumente deficiente em volume de produção, logística e padrão de qualidade; tornam-se dependentes de intermediários para o escoamento da safra.

Considera-se também os entraves provocados pela descontinuidade da oferta regional, a inobservância de fatores de qualidade ou classificação, levando os compradores à optarem pela reposição em outras praças, regionais ou estaduais; não raro ocasionando queda nas cotações locais.

Para que o produtor consiga transpor as barreiras existentes para a comercialização direta com redes de supermercados; recomenda-se a junção em grupos de produtores, organizando-se em associações ou cooperativas, possibilitando minimizar as dificuldades comerciais e logísticas oriundas desse canal.

O associativismo poderá facilitar também, o grande desafio quanto a implantação das normas de classificação e padronização dos hortifrutícolas; tão necessários para a obtenção de melhores preços pela safra, além da possibilidade do direcionamento de produtos de categorias inferiores ao mercado institucional e à agroindústria. Considerando ainda o leque de possibilidades comerciais que se abre, com a agregação de valor à produção; como o

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embalamento de produtos, a instalação de estruturas para pré-processamento, além da redução de custos logísticos, dentre outros.

Ressalta-se a carência de ações efetivas no controle das perdas no campo; subdimensionando a gravidade da problemática, as quais necessitam de atuação dos órgãos estaduais envolvidos com a horticultura.

Diante do elevado volume de produtos comercializados nas Ceasas do Paraná, procedentes de outros estados, principalmente de São Paulo, pode-se identificar uma grande oportunidade para o aumento da produção desse segmento no estado, com reflexos diretos no nível de emprego e na renda do campo.

Um ponto a destacar é quanto às dificuldades de negociação entre produtores e supermercados no Paraná; que mesmo empregando modernos conceitos produtivos, resultando em produtos saudáveis, com igual, ou melhor, qualidade que os produtos procedentes de outros estados; por não haver uma constância na produção, habitua o atacadista a efetuar carregamentos em outros estados, não raro, pelo fator comodidade. O estreitamento de laços entre os agentes proporcionará a ampliação de oportunidades em todos os elos da cadeia.

Para a maximização do relacionamento comercial com o supermercado, há a necessidade da atuação eficaz e determinada dos produtores paranaenses; aprimorando a qualidade dos produtos, desde o cultivo até o ponto-de-venda; realizando a colheita no estágio ideal de maturação, com a apresentação de características de padronização adequadas; conquistando o canal de supermercados e hipermercados para a preferência dos produtos do Paraná.

A produção de hortifrutis orgânicos foi destacada como uma grande oportunidade de crescimento para o estado do Paraná; observando que a maior parte dos fornecedores é composta por pequenos produtores familiares que habitualmente comercializa os produtos em feiras-livres específicas, mas com a ampliação do consumo, também as redes de supermercados procuram esses fornecedores, ou seja, é o consumidor quem exige que o produto orgânico esteja na área de vendas; para tanto, os supermercados maiores já mantém seções especiais para atender esse público diferenciado.

As perdas com hortifrutis no setor supermercadista constituem-se gargalos que podem ser eliminados, com a avaliação adequada e a resposta efetiva às suas causas. A doação das sobras para entidades carentes previamente conveniadas pode tornar-se um bom instrumento de marketing social; além de reduzir os dispêndios com a coleta desses produtos.

A falta de treinamentos destinados à equipe envolvida com a seção de FLV é um importante fator gerador de desperdícios no ponto-de-venda. O desenvolvimento de treinamentos regulares aos membros representa uma importante ferramenta para a melhoria da qualidade dos produtos, bem como para o aumento da satisfação do cliente. Visando ampliar a satisfação dos funcionários, torna-se imperioso motivar a equipe e proporcionar uma boa atmosfera de trabalho, o que não é tarefa fácil, contudo, de sua eficácia depende a satisfação do maior patrimônio da empresa, o cliente.

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BIBLIOGRAFIA

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