florianÓpolis, julho você querhemeroteca.ciasc.sc.gov.br/zero/zerojornais/zero1987jul.pdf ·...
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FLORIANÓPOLIS, JULHO DE 1987
Você quer•
assinar'esta carta?
Se você é contra: /obbies,o monopólio das comunicações,
a censura, as concessõesclientelistas de canais ...
Assine a proposta de dispositivoconstitucional dos profissionaisde comunicação. A liberdade
de expressão agradeceNa página dois
- ,
,
__�BOG.S.Quatrovisõesde um
problemaeternoNa central
TomMixinspiracombateaos
tóxicos
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
ZEROJornal laboratório do Cur
so de Comunicação Socialda Universidade Federal deSanta CatarinaEdição e supervisão:
Professores Henrique Finco,Sonia Maluf e Ricardo BarretoTextos: DauroVeras, Ma
ria Cristina Yoshizato, Monique Van Dressen, DeniseBezerra, Caê G. de Castro,Paula Remísio, Carlos Locatelli, Maria Teresa Cordeiro,Milene Corrêa, FranciscoLins, Clarissa Santos, AnaLavratti, Rubens ChavesVargas e Analú ZidkoFotografia: Carlos Au
gusto LocatelliIlustração: Frank MaiaDiagramação: Carol Pe
reira, Monique Van Dressen,Ney Pacheco, Ivan Santos,Marcos Cardoso e SimoneMüllerEdição gráfica: Ricardo
BarretoMontagem: VaurembergComposição e impres
são: Empresa Editora OESTADOCorrespondência: Caixa
Postal 472, Departamentode Comunicação e Expressão, Curso de Jornalismo,Florianópolis, SCTelefone: (0482) 33-9215Telex: (0482) 240 BR
Distribuição gratuitaCirculação diriqida
à utilizaçao gratuita da imprensa, do rádio e da televisão, segundo critérios a serem definidos por lei.
Art. - É garantido a qualquercidadão ou entidades, o direitode resposta, na forma da lei.Art. - Nos períodos eleitorais
os partidos têm direito a temposde utilização do rádio e da televisão, regulares equitativos, naforma da lei.
Art. - Todo cidadão tem direito, sem restrições de qualquernatureza, inclusive do Estado,à liberdade de opinião e expressão e este direito inclui a liberdade de procurar, receber e
transmitir informações e idéiaspor qualquer meio.Art. - Aos cidadãos, através
de instituições r�presentativas éassegurado o direito de participar da definição das políticas decomunicação.Art. - A comunicação deve
estar a serviço do desenvolvimento integral da Nação, da eliminação das desigualdades e
injustiças e da independênciaeconômica, política e cultural dopovo brasileiro.Art. - A imprensa, o rádio, a
televisão, os serviços de transmissão de imagens, sons e dados por qualquer meio, serãoregulados por lei, atendendo àssuas funções sociais e tendopor objetivo a consecução de
políticas democráticas de comunicação no País.Art. - Fica definido que os ser
viços de telecomunicações e decomunicação postal são mono
pólio estatal, tendo como princípio o atendimento igual a todos.
II - Da natureza dos Veículos de ComunicaçãoArt. - Os veículos de comuni
cação, inclusive os meios im
pressos, serão explorados porfundações ou sociedades sem
fins lucrativos.Art. - A administração e a
orientação intelectual ou comerciai das pessoas jurídicas men
cionadas neste artigo são privativas de brasileiros natos.
III - Do Conselho Nacionalde ComunicaçãoArt. - Fica instituído o Conse
lho Nacional de Comunicação,com competência para estabelecer, supervisionar e fiscalizar
políticas nacionais e comunica
ção, abrangendo as áreas de
imprensa, radio, televisão e ser
viços de transmissão de ima
gens, sons e dados por qualquer meio.Art. - Compete ao Conselho
Nacional de Comunicação a ou
torga, renovação e revogaçãodas autorizações e concessões
para uso de frequência e canaisde rádio e televisão e serviçosde transmissão de imagens,sons e dados por qualquermeio.Art. - O Conselho Nacional
de Comunicação é compostopor 15 (quinze) brasileiros natosem pleno exercício de seus di-
listas credenciados ao terceiroandar do Palácio do Planalto.As pressões não se limitaramàs estações do governo, mastambém a emissoras privadas,visando principalmente os programas de debates políticos.
A Federação Nacional dosJornalistas, através de seu presidente Armando Rollemberg, eCarlos Max Torres, presidentedo Sindicato dos JornalistasProfissionais do Distrito Federal, enviaram um telex ao presidente Sarney exigindo o fim dacensura. No texto, as entidadesrelatam casos como O do jornalista Carlos Chagas, que tevesua participação no programaJornal da Constituinte vetada
reitos civis, sendo 2 (dois) representantes de entidades empresariais, 5 (cinco) representantesde entidades representativas deprofissionais da área de comu
nicação, 7 (sete) representantes de entidades de categoriasprofissionais e de setores populares e 1 (um) representante deinstituição universitária.Art. - As entidades integran
tes do Conselho Nacional deComunicação serão designadas pelo Congresso Nacional,para mandato de 2 (dois) anosobservado o previsto em lei.Art. - Os representantes .das
entidades integrantes do Conselho Nacional de Comunicação não poderão exercer maisde um mandato consecutivo.Art. - Para viabilizar o desem
penho das funções do ConselhoNacional de Comunicação, a
União destinará ao órgão uma
parcela da arrecadação de im
postos e taxas previstos em lei.
Art. - O Conselho Nacionalde Comunicação poderá fazerrepasses do seu orçamento aos
órgãos de execução e fiscaliza
ção que, na forma da lei, foremcriados para implementar suasdecisões.
Art. - Ficam criadas as se
ções estaduais do ConselhoNacional de Comunicação, emcada unidade da Federação, integradas por 15 (quinze) brasileiros natos em pleno exercíciode seus direitos civis, indicadospor entidades da mesma natureza das integrantes do Conselho Nacional, a serem designadas pelas Assembléias Legislativas para um mandato de doisanos.
Art. - Compete às seções es
taduais do C. N. de C., a supervisão e fiscalização da execu
ção das políticas de comunica
ção em âmbito regional.Art. - A lei regulamentará as
atribuições e o funcionamentodo C. N. de C., bem como os
critérios da função social e éticado rádio e da televisão.
IV - Da Democratização e
Acesso aos Veículos de Co
municaçãoArt. - Em cada órgão de im
prensa, rádio e televisão seráconstituído um Conselho Editorial, com membros eleitos pelosprofissionais de comunicação,imcumbido de definir a linha de
atuação do veículo.Art. - Os partidos políticos, as
organizações sindicais. profissionais e populares, tem direito
pelo presidente da Raiobrás.Sob o tema notleia a favor, osdebates foram proibidos pelaRadiobrás, que, inclusive, res
cindiu o contrato que mantinhacom a Apoio 'Vídeo, produtorado Jornal da Constituinte. A TVEducativa não foi poupada, e
seu programa de debates 1987,foi suspenso por ordem diretado ministro da Educação, JorgeBornhausen. Outra denúnciarelatada do telex, foi a de queo programa Opinião Pública, daTV Brasília, cancelou uma en
trevista programada com o general Andrada Serpa, cedendoa ameaças de corte na publicidade, feitas diretamente pelo titular da Secretaria de Comuni-
Liberdade de expressão!
V - Dos Serviços de Radiodifusão.Art. - Dependem de conces
são ou autorização da União,outorgadas em caráter precário,atraves do C. N. de C., atendidas as condições previstas em
lei:& - O uso de freqüência de
rádio e televisão.§ - A instalação e o funciona
mento de televisão direcional e
por meio de cabo.§ - A instalação e o funciona
mento de outros serviços detransmissão de imagens, sonse dados por qualquer meio.§ - A retransmissão pública,
no território nacional, de rádio,televisão e dados via satélite.
Art. - O Conselho Nacionalde Comunicação mandará publicar, anualmente, as freqüências disponíveis em cada unidade da federaçã e qualquer umpoderá provocar a licitação.Art. - As concessões ou auto
rizações só poderão ser sus
pensas por sentença fundadaem infração definida em lei, queregulará o direito à renovação.Art. - Com a finalidade de im
pedir a concentração de propriedade dos meios de comuni
cação, fica estabelecido que cada concessionário poderá ser titular de apenas uma autoriza
ção ou concessão para execu
ção de serviço de rádio, televisão e serviços de transmissãode imagens, sons e dados porqualquer meio.Art. - Os concessionários que
acumularem mais de uma auto
rização ou concessão para exe
cução de serviço de radiodifusão deverão optar pela execu
ção de um dos serviços objetosde autorização ou concessão,devendo os demais ficar disponíveis para redistribuição através de licitação pública.Art. - Fica vedado o controle
indireto das autorizações e concessões para execução de ser
viços de radiodifusão por terceiros e concessão.
cação Social da AdministraçãoFederal. O jornalista Mino Carta, da TV Record, numa atitudede coragem e dignidade profissional, demitiu-se ao ser informado das pressões feitas porAntonio Carlos Magalhães, ministro das Comunicações, juntoà direção da empresa, para censurar o programa Jogo de Cartas por ele dirigido.O texto finaliza condenando
as atitudes dos falsos jornalistasque se travestem de censorese exige uma total transparênciados atos governamentais, condição básica para a democraciaque todos querem ver instaurada no país.
P 2.
ZERO. ,-- J.U�HO 87
FENAJ protesta contra a censura.
É o que quero País: ampla e
irrestrita
"A democratização dosmeios de comunicação é condição fundamental para a cons
trução de um regime efetivamente democrático no Brasil,em que os diversos segmentosda sociedade, independente desuas convicções políticas, possam livremente se expressar.Queremos garantir o pluralismoe preservar a diversidade cultural. Queremos pôr fim à censu
ra, inclusive àquela determinada pelos donos dos jornais, revistas, rádios e televisões. Queremos que a informação deixede ser tratada como se fosseuma mercadoria e passe a serencarada como um bem social.Queremos que a liberdade deexpressão no Brasil não se limite à liberdade que os empresários de comunicação têm de defender seus próprios pontos devista. Queremos garantir o am
plo acesso aos veículos de co
municação e a participação direta dos setores organizados dasociedade civil na definição deuma política democrática de co
rnunicação" .
E assim que a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) introduz sua proposta de dispositivo constitucional, apoiadapor diversas entidades representativas da sociedade, quedispõe sobre "o direito à comu
nicação, a natureza e o acesso
aos veículos de comunicação e
cria o Conselho Nacional de Comunicação". A proposta introduzida em parte, no relato dasubcomissão, necessita agorado apoio da sociedade civil, representada na campanha deassinaturas que lançamos aquipara ser enviada à AssembléiaNacional Constituinte até os primeiros dias de agosto. Em Florianópolis você pode procurar alista no Curso de Jornalismo(UFSC). A seguir transcrevemos a íntegra da proposta dedispositivo constitucional:
1- Do direito à comunicaçãoArt. - A comunicação é um
bem social e um direito fundamentai da pessoa humana e a
garantia de sua viabilização éuma responsabilidade do Estado.
CARLOSLOCATELLI
Utilizando mecanismos da ditadura militar, o governo federalvem coibindo o trabalho da im
prensa na cobertura da Assembléia Nacional Constituinte. Acensura voltou com força total,impedindo entrevistas, dificultando o trânsito de jornalistasno Palácio do Planalto e discriminando noticiários veiculadospela Radiobrás e Funtevê. Opróprio presidente da Repúblicaengajou-se nessa campanha,proibindo o acesso dos jorna-
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
-
.
'IMPRENSA
A imprensa do Rio Grande dosul está atravessando uma crisebastante séria, e corre-se o risco do agravamento do mono
pólio da informação nas mãosda RBS (Rede Brasil Sul de Comunicações), grupo poderosocuja televisão é afiliada à RedeGlobo. Mais de 600 profissionais já foram demitidos pelascinco principais empresas gaúchas - Grupo Caldas Júnior, Rede Pampa, RBS, Rede Bandeirantes e TV Educativa. A situação em Porto Alegre é tão graveque os sindicatos dos jornalistas, radialistas e administrativos- agora transformados em um
sindicato único - estão apelandoaos empresários e anunciantesdesses veículos para que man
dem telegramas aos proprietários exigindo a manutenção daqualidade da programação, jáque disso depende a audiênciado público, e a venda de seus
próprios produtos anunciados.
"Só temos liberdade de empresa"Lobby derrubatentativas dosjornalistaspor umaimprensa livre
DAURO VERAS
"O governador de Minas Gerais, Newton Cardoso, pressionou dois deputados a mudaremo voto, para derrubar o projetode democratização dos meiosde comunicação na Constituinte", denunciou o presidente daFederação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Armando Rollemberg, que esteve em Florianópolis no dia 2 de junho a convite
. do Movimento de Oposição Sindical M.O.S. dos Jornalstas.
Apresentada à subcomissãode comunicação social da Assembléia Constituinte pela deputada Cristina Tavares Correia(PMDB-PE), a proposta é baseada na seguinte premissa: ainformação deve ser considerada como um bem público, nãodevendo ser manipulada como
mercadoria. O interesse coletivo deve se sobrepor ao intersseparticular. ele foi elaborada pelaFenaj e pela Frente Nacional deLuta por Políticas Democráticasde Comunicação, após amplaconsulta aos vários segmentosda sociedade e à categoria.
"O governador de Minasameçaçou os deputados federais Aloísio Vasconcelos e Roberto Vital (ambos do PMDB deMG), dizendo que se eles nãovotassem coma o projeto, ve
riam rolar cabeças - as suas
mesmo. Com isso modificarama postura anunciada de apoioà proposta, e ela foi derrotada",disse Rollemberg. Ele citou também quatro constituintes quevotaram' contra, em causa própria, por serem proprietários demeios de comunicação em
massa: José Elias (PTB-MLS),Arnoldo Fioravante (PDS-SP),Rita Furtado (PFL-RO) e JoséCarlos Martinez (PMDB-PR).
ARMA pOLíTICAA proposta que foi rejeitada
pela subcomissão tem basica-'mente cinco pontos. O primeirodeles é a criação do ConselhoNacional de Cominicação Social, com 15 integrantes oriundos de entidades civis, designados pelo Congresso Nacional. Este Conselho teria o man
dato de dois anos e a atribuiçãode definir a política para o setor,inclusive passando a ter a prerrogativa de conceder canais de
Foto/André Dusek/Agil
Rollemberg: mais assinaturas
rádio e televisão - o que atualmente é privilégio do presidenteda República. "A concessãotem que deixar de ser moedade tráfico político", diz o presidente da Fenaj, lembrando queo presidente João Figueiredo,em seu governo, destinou 40%das concessões de rádio e TVdo país a grupos que pouco ou
nada têm a ver com os interesses populares. Um exemplo claro é Tarcísio Maia, representante da poderosa oligarquia Maia,do Rio Grande do Norte. Ele ganhou oito concessões de rádio,como forma de favorecimentopolítico.
Outro ponto é a desconcentração da propriedade no cam
po das comunicações. Nenhu-
ma pessoa física ou jurídica poderia ter a concessão de maisde uma canal de rádio ou TV.Isto traria uma série de vanta
gens, como o combate à massificação, e umamaior ênfase aos.valores regionais, também dimi-nuindo o poder de manipulaçãode informações. "Não faz sen
tido uma pessoa do interior dePernambuco falar com sotaquede Ipanema", acha Rollemberg.Ele ressalta que a intenção nãoé impedir a trasmissão em rede- fato inevitáel em um país dedimensões continentais como o
Brasil - e sim desconcentrara propriedade no setor, favorecendo as transmissões regionais.
Sobre as rádios livres, a Fenaj não tem posição oficial, masacredita que, dentro de uma política de democratização, é preciso que a sociedade tenhaacesso a elas. "Isto teria queser regulamentado, é óbvio.Uma rádio livre funcionando aolado de um aeroporto, porexemplo, poderia interferir deforma perigosa com as operaçõs de vôo".
SATÉLITEO projeto prevê a criação de
conselhos editoriais em todosos meios de comunicaçã demassa, de forma que os profissionais da área possam discutire deliberar sobe a linha do veículo. "Nõ existe liberdade de imprensa no Brasil, e sim de em-
presa", diz o jornalista. Essesconselhos editoriais ficariamresponsáveis pelo processo deprodução e difusão de informação, impedindo que a mesmafosse manipulada.Outro item importante: o direi
to de antena, ou seja, a ampliação do direito de resposta a todocidadão que se sinta atingidopor informações divulgadas porveículos de comunicação demassa. A resposta poderta sertransmitida da mesma forma,com o mesmo destaque.O quinto ponto é o monopólio
estatal dos sistemas postais, detelecomunicações e de satélites. Rollemberg chama a atenção para o fato de que doisgrandes grupos - a Rede Globo e o Bradesco estão fazendomanobras para conseguir a privatização do uso dos satélitesde comunicação, e isto é umatentado à segurança nacional.
.
O projeto foi derrotado na
subcomissão de comunicação,mas a luta prossegue. A intenção da Fenaj e da Frente é leválo às ruas o mais rápido possível e recolher assinaturas parareapresentar proposta no plenário da Constituinte. Resta agoramobilizar a sociedade, despertando as pessoas para a importântica vital da democratizaçãoda comunicação. Vamos torcer
para que os "representares dopovo" não se prostituam mais
uma vez.
Uma das providências maisradicais foi tomada pela direçãoda Caldas Júnior, que edita oCorreio do Povo e detém a Rádio e a TV Guaíba. O proprietário, Renato Ribeiro, inovou totalmente, reduzindo o tamanhodo centenário Correio do Povo,que era standard, para um tablóide com 16 páginas, três centímetros menor que o tamanhooficial, nas cores azul e preto.Além disso, iniciou a distribuição gratuita de 200 mil exemplares a seus assinantes, e ameta é chegar a um milhão. OCorreio do Povo também estásendo vendido em algumasbancas, pela metade do preçodos outros jornais. Mais de 60jornalistas já foram demitidoscom a mudança, e os programas de produção local da TVGuaíba - inclusive os de jornalismo - foram extintos. O telejornal agora se limita à leiturade telex vindos de agências de
A crise no RSreduz os
anúncios. Osjornaiscortam as
vagas. Retornao fantasma domonopólio
Correio:agora
tablóide
notícias, e teipes cedidos pelogoverno do estado.A Rede Pampa, que investiu
em programação jornalística hápouco mais de um ano, tantona TV como no rádio, empregando cerca de 100 novos pro-
fissionais, simplesmente decidiu fechar o departamento dejornalismo da rádio. A alegação? Prejuízo mensal de Cz$ 1milhão, por causa dos jurosbancários. Somente na redação
do jornal Zero Hora, que é o demaior tiragem e maior númerode leitores, 20 repórteres já foram para a rua. O Diário do Sul,editado pela Editora GazetaMercantil é o único que não demitiu ninguém até agora, masos salários vêm sofrendo atra-sos.
.
A crise ameaça se alastrar aSanta Catarina e a outros estados. Promover a alta rotatividade de jornalistas com um baixopiso salarial de ingresso, esteé o principal objetivo das grandes empresas. Elas pretendemeconomizar demitindo maisgente, e aproveitando-se dogrande número de desempregados para pagar cada vez menos a quem estiver entrando.Uma das lutas prioritárias da categoria, hoje, é pela estabilidadede emprego, concessão que está sendo difícil de arrancar namesa de negociações, e tampouco o será na Justiça:
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
MARIA VOSHIZATO
o Curso de ComunicaçãoSocial-, habilitaçãoem Jornalismo, da Universidade Federal de SantaCatarina apresenta carência de equipamentosconforme a Resolução de fevereiro de 84 do Conselho Federal de Educação que determina janeirode 87 como data limite para que todos os cursos
de Jornalismo estejam totalmente equipados.A necessidade de quipamentos e espaço físico
corresponde à quantidade de alunos por sala deaula. Com a implantação do novo currículo, ésubstancial o aumento das necessidades de ma
terial e equipamentos. Mas também é significativoao aumento qualificativo no ensino teórico e prático na área de Jornalismo. '
A lista de materiais e equipamentos técnicos
para completar a Resolução de 02/84 é grande.No Laboratório de Fotografia são necessárias 10câmeras fotográficas de 135mm com flash eletrônico que custam cerca de Cz$ 22 mil cada. Alémde 10 ampliadores fotográficos com as respectivas lanternas e banheiras (Cz$ 7 mil cada con
junto), uma teleobjetiva de 40mm por Cz$ 6 mile um projetor de diapositivos com sincronizadorde som e imagem por Cz$ 10 mil.
O Laboratório de Radiojornalismo precisa deuma mesa de som com seis canais (no mínimo,Cz$ 10 mil) e dois gravadores de som - Cz$4 mil cada. Para a disciplina de PlanejamentoGráfico são necessárias vinte pranchetas (Cz$1.500) e oito mesas luminosas para visão de
transparências (Cz$ 3 mil cada). Para a aula de
Redação são necessárias 30 máquinas de escrever que custam em torno de Cz$ 5.200 a unidade.:O total de verbas previstas para a compra des
tes equipamentos técnicos situa-se ao redor de5300 OTN (1 milhão 335 mil e 600 cruzados).Cobras-se em OTNs devido à inflação galopantedeste ano.
O Laboratório de Telejornalismo já é outro problema grave do curso pois são necessários maisde US� .119 mil (Cz$ 4.5 milhôes) para compraros equipamentos. Para se equipar um laboratórioé necessário: uma câmera portátil, duas ilhas deedição, um programador de edição, três grava
do�es p�Jrtáteis, cinco conjuntos de iluminação para hgaçao em corrente alternada, microfones paragravação externa e interna, monitores para o tra
b�lho nas ilhas de edição, televisores, tripés paracamera entre outros materiais, o mínimo para garantir o funcionamento. A verba estava aprovadadenro do Programa Nova Universidade mas foisuspensa. Em virtude disto soliciou-se adicionaro valor de US$ 119.500,00 ao Cz$ 1.335.600,00destinados pela Comissão de EspeCialistas doMEC à UFSC para equipar o curso.
Atualmente, os alunos da terceira fase editam
suas reportagens na ACARESC e os da sétima
fase, na produtora independente EVO. Enquantoo laboratório do curso não vem, se é que vem.
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: .',' .... CAMPUS.'
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MONIQUE VAN DRESSEN
Está em fase de revisão na Imprensa Universitária "OCinema em Santa Catarina" um dos primeiros livros abordando cinematografia do Estado. Feito em co-edição pelaUFSC e Embrafilme, a idéia surgiu de uma pesquisa feita
por alunos do curso de Jornalismo, que em 84 promoverama 1 � Mostra de Cinema Catarinense e lançaram a criaçãode uma Cinemateca. A mostra foi divulgada pelos jornaislocais e, através da revista Lux, que re-publica textos sobrecinema, a Embrafilme tomou conhecimento do trabalho e
interessou-se por sua publicação.Desde o ano passado a pesquisa dos estudantes Andréa
Grossenbacher, Zeca Pires, Maria Nesi, Norberto Depizzolatti e Sandra Araújo vem sendo atualizada e o seu texto
adaptado para a edição do livro. Taiana Oliveira, Beth Bie
ging e Simone Garcia colaboraram na nova versão e finalmente o livro vai sair.
Através de pesquisas em todo o Estado e na Cinemateca
de Curitiba mostrou-se, na primeira parte do livro, uma história do nosso cinema, desde as primeiras produções ama-
'
doras (principalmente filmes mudos feitos por imigrantesno início do séculO) até produçõesmais recentes. A segundaparte aborda, "O Preço da Ilusão", primeira experiênciacatarinense em longa-metragem. Feito em 1957 pelo GrupoSul, nosso primeiro longa tem valor documental e histórico,porque mostra uma Florianópolis que não existe mais. Suas
cópias foram perdidas restando na Cinemateca Brasileira
de novos professores. os autores do documento pro
põem a extinção do curso deciências sociais (bacharelado) no período noturno.
A escolha recaiu sobre o
curso noturno pois. conformesua versão "o turno diúrno
é o único utilizado pelos cursos sérios".
É conveniente saber o
conceito de "sério" utilizado
pelos professores para fazertal afirmação.Os professores desconen
tentes esquecem aquela parcela de estudantes que, porfalta de opções. são obrigados a freqüentar cursos paraos quais não possuem a me
nor vocação. E o fazem porum único motivo: durante o
dia eles trabalham para so
breviver.E este, se é com certeza
um problema a ser tratado.não nos autoriza a classificaros cursos noturnos de "pouco sérios".Quando este jornal estiver
circulando, o documento terásido discutido no departamento de Ciências Sociais.Mas isto não invalida a im
portância dessa notícia, pois.a qualquer momento podesurgir da mesma catacumba
de onde partiu a proposta,outra aíndamals aterradora.
� A,TERRADORA ,
, , CATACUMBA
apenas seus quinze minutos finais e toda a banda sonora,
Produzido por Armando Carreirão, "O Preço da Ilusão"não recebeu o certificado de qualidade, que obrigaria a
sua exibição, e acabou dando prejuízo, Para cobri-lo, Carreirão teve que produzir cine-jornais e documentários, montados em São Paulo e exibidos em Santa Catarina.
Para agradar os cinéfilos mais bairristas ou recordar os
tempos em que assistir cinema era "o melhor" programa,o livro conta que Paulo Emílio e outros tantos críticos, cineastras e artistas conheceram o "Cinema Novo" ali, no cine '
Ritz! A primeira Semana do Cinema Novo foi patrocinadapelo Gabinete de Relações Públicas e pelo extinto GrupoSul.
A terceira parte do livro narra a atuação do Grupo Universitário de Cinema Amador, (Guca) que continuou o trabalhona área de ficção, aberta por "O Preço da Ilusão". O GUCA
produziu cerca de seis curtas, dos quais os mais conhecidossão "O Novelo", "Via Crucis" e "Olaria". A produção atual,dos anos setenta para cá, foi dividida em fases, e a quartaparte do livro contém as sinopses das principais produções:filmes produzidos pelas prefeituras, projetos como "AnitaGaribaldi" e filmes na bitola super-8.
Na última parte o livro fala dos cineastas catarinenses
que alcançaram projeção nacional e internacional, ordenando as filmografias de Süvio Bach, Rogério Sganzela,Marcos Farias, João Caligaro, Ody Fraga e conclui, quetodos eles tiveram projetos para desenvolver o cinema catarinense, mas tiveram que deixá-los de lado e sair do Estado
para atingir seus objetivos. Será que a história do cinemacatarinense termina aí?
Cervejinha depoisda aula só é possível
fora do campus
PI./REMíSIOAh! Uma cerveja gelada de
pois de uma aula desoastantenuma tarde de calor! Existevontade mais fácil de satisfazer? É só ir ao bar da DonaNina, Pois é lá no Centro Tec
nológico, o único lugar ondeencontramos algum tipo de bebida alcóolica sendo vendidana UFSC,Temendo que a capacidade
dos alunos da UFSC seja afetada, a proibição foi imposta,E a medida foi adotada sem
que a comunidade estudantil tivesse sido consultada, justamente numa decisão que afetadiretamente, os alunos.Nos demais bares da UFSC,
o bar do Básico, a Cantina doConvivência, o bar da Medicina e o Natural do Centro deConvivência, a venda não érealizada.O gerente do bar do Básico,
Danilo, confirmou que lá nuncaforam vendidas bebidas alcóolicas e ele nem têm interesseem vender.JáMaurício, gerente da Can
tina do Convivência, é contra
apenas a venda de bebidas dealto teor alcóolico, como a ca
chaça, por exemplo, Mas a
proibição da cerveja é ridícula.
Ali, na cantina foi vendido cer
veja preta no ·horário do almo
ço.Um funcionário do bar da
Dona Nina, no Centro Técnológico, que não quis se identificar, afirmou que, o bar vende
cervejas, pois é preciso satisfazer a vontade do freguês,A comunidade estudantil,
que enquanto isso bebe sucos
e refrigerantes, aprovaria, semdúvida, a venda e está cons
ciente dos' horários de venda,Nilo Andrade, Presidente da
Comissão dos Bares da UFSCe dono da Cantina do Convivência e do Bar Natural, afirmou que se a venda fosse, liberada os estudantes permaneceriam dentro da Universidade, já que aqueles que vãobebericar nos arredores daUFSC, dificilmente voltam paraas aulas.Se os forrós, coquetéis, reu
niões e encontros que por aquiocorrem são regados a álcool,como é que fica a proibição,apenas para os bares?No dia 2 de junho às 9 horas,
na Reitoria da UFSC, a Pró-reitora de Assistência à Comunidade, o Pró-reitor de Adminis
tração, a Comissão de Baresda UFSC e a Diretoria do DCE,tinham marcada uma reunião,que acabou sendo adiada. Oassunto de pauta seria a liberação de vendas de bebidas alcóolicas após os horários deaulas, nos finais de semana e
feriados,Ao que parece, só "eles".
querem continuar bebendo.
Cinema de SC vira tema de livro
CAÊCASTROCuidado! Se você é um da
queles jovens, vindos do in
terior e sem parentes importantes. que tem de trabalhardurante o dia para poder semanter em Florianópolis e ãnoite estuda em algum doscursos da UFSC, preparese: estão querendo te expulsar da escola.Dessa vez não é oministro
da Educação ou o reitor.
Agora quem está propondoesta "jóia" é um grupo de
professores do curso deCiências Sociais.A proposta, enviada em
forma de documento à chefiado Departamento de Ciên
cias Sociais, é assinada pelos professores Euduardo
t!OI�c�e��; (l,���e�a�lijOÚII�Guivant. todos eles considerados "progressistas".Logo no início de seu do
cumento, os "mestres" constatam que no curso de ciên
cias sociais existe "um baixo
nível de aptidão acadêmica
e de vocação sociológica".Acusam as causas: "Inexis
tências de uma massa crítica
( ... ) e a imagem precária queo curso tem na comunidade.
não atraindo jovens talento
sos e empreendedores", esclarece o documento.Para os quatro professo
res, "60% dos alunos nãotem condições mínimas pararealizar o curso", acrescentando que esse pessoal atrapalha o restante.
Outro grave problemaapontado é o de sobrecargahorária enfrentado pelos professores, que' estão sem
tempo para exercer outras
atividades.Em vez de propor uma am
pla discussão interna sobreos problemas e indicar uma
profunda reforma curricular
que venha a tornar o curso
mais estimulante. capaz de
desenvolver as aptidões dosalunos, além da contratação
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
JU�HO 87'
"
" .'.
ZERO,.
"
P 5' .
o mago datela fala desua pintura
DENISE BEZERRA
Apesar das demolições dos antigos prédios de Florianópolis, que as imobiliárias insistem em subistituir porpredios horrorosos de concreto, existe um mago chamado Aldo Seck, que pinta em seus quadros o queestá sendo destruâo e magicamente não deixa quemorra a memória de nossa cidade. Aclamado por muitos e ignorado por alguns, Aldo Seck é o único artistano estado que se dedica à preservação iconográficada arquitetura colonial de Florianópolis. Em seus quadros podemos ver como foi a cidade antes dos aterrose demolições, que a descaracterizaram muito.Homem simples e sensível, Aldo Seck pinta desde
1947, mas desenha desde criança. Fiel ao impressionismo, é autodidata em desenho, óleo, aquarela, xilogravura e nanquim. Já fez inúmeras exposições, inclusive em São Paulo e Curitiba, mas garante que nãovai expôr mais. O motivo? Fica muito nervoso com
a expectativa.E um mestre da arte; que nasceu e vive em Florianó
polis, mas que há apenas dois anos recebeu o merecidoreconhecimento. Muitas lições estão contidas nessa
verdadeira demonstração de amor em forma de artecom que Aldo Seck homenageia a Florianópolis atual.
Z - Como começou sua carreira?AS - Nunca entrei em escola de pintura e comecei
a desenhar quando ainda era criança. Como a escolanão dava muito tempo, desenhava nos finais de semana. Mais tarde passei para a aquarela. Com a aposentadoria é que eu pude me dedicar inteiramente à pintura.
Z - Por que a preferência pela arquitetura de
Florianópolis? .
AB - Comecei a observar que os antigos edifíciosestavam desaparecendo e resolvi fazer uma documen
tação histórica. Com o progresso, a cidade foi um poucoprejudicada e no lugar dos prédios antigos existem sócsixss de cimento, Acho que deviam preservar mais.
Z - Você teve o apoio necessário?AS - Sim. Fiz muitas exposições, até em outros
estados. Apenas uma vez me senti desestimulado e
parei completamente por mais ou menos quatros anos,devido às críticas que recebi. A crítica tanto pode ajudarcomo pode prejudicar e foi o que aconteceu na época.Hoje podem falar o que quiserem, pois eu pinto porprazer.
Z - E quanto aos artistas catarinenses de hoje,qual a sua preferência? ,
AS - Gosto muito do trabalho de Vera Sabino, Atilae Prético.
Z - Santa Catarina tem público para este tipode arte?AS - O meio de cultura evoluiu bastante em todo
o estado. Slumenau, Joinville e até Tubarão já têmseus artistas e seu público.
Z - Hoje, um artista consegue viver da pinturaem Santa Catarina?AS - Já foi pior, mas não em muito apoio. Quem
está começando agora não consegue mesmo. É maisfácil do que antigamente, até para fazer exposições,mas ainda falta apoio.
ALDO BECK
j'
-��
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
FOTOS: CARLOS LOÇôTELLl/ZE,RO
Esther Jean Langdon, antropóloga e professora da
UFSC, conviveu com grupos indígenas na Amazônia, onderealizou inúmeros trabalhos científicos sobre drogas, algunspublicados nos EUA, México e na Europa, Para ela, o
uso de drogas não pode ser excluído do contexto cultural
e, nesse sentido, as atitudes em relação a elas são decisões
de cada sociedade, Jean observa que o uso de alucinógenosse confunde com a história do homem, As religiões arcaicas, por exemplo, foram baseadas, entre outras coisas,na condição de êxtase que os alucinógenos trazem, Segundoela, o uso de drogas entre os indígenas é sagrado e muito
controlado. Além disso, há assistência de um Xamã, espécie de feiticeiro muito experiente no uso dos alucinógenos,que guia as pessoas durante as cerimônias. "Entre eles
não há casos de viciados ou pirados, pois conhecem o queestão usando há centenas de anos", comenta a antropóloga.Os índios com quem ela trabalhou nos Andes usam, além
dos alucinógenos para fins religiosos, a folha da coca, pararealizarem trabalhos físicos e conter a fome.VALORES"As pessoas estão usando drogas para obterem prazer,
e prazer é uma busca constante em nossa sociedade. Os
indivíduos se drogam conforme a sociedade propõe e aca
bam fazendo experimentos em si próprios", explica Jean.
Ela crê que a propaganda feita sobre as drogas atualmente,que as associam a comportamentos anormais, contribuimuito para que sejam utilizadas de forma absurda. Essa
propaganda é perigosa na medida em que os jovens veêm
na proibição um motivo de rebeldia, fazendo exatamente
o que a sociedade previu como resultado do uso de tóxicos.
Jean não concorda com a idéia de que a repressão vá contero consumo, lembrando a Lei Seca nos EUA durante os
anos 20, que proibiu a fabricação e comercialização de
bebidas alcoólicas, e que gerou o tráfico e o crime organizado. "A repressão deve ser repensada, pois esse método
é utilizado em outras áreas problemáticas, sem apresentarbons resultados" , analisa a antropóloga. Ela defende uma
visão mais realista do problema, e cita o exemplo do estado.
do Oregnon nos Estados Unidos, onde uma pessoa apreen-dida com pequena quantidade de maconha ou cocaína,é somente obrigada a pagar uma pesadamulta. Essa, segundo ela, é uma nova visão, mas a maneira do mundo encarar
a droga não mudou nada. Apenas a preocupação aumen
tou, com o crescente consumo de cocaína,
"A educação é fundamental para a resolução do problema", diz Jean. "Mas uma educação que não proíba necessa
riamente e se volte para a informação e pesquisa científica.É preciso dizer a verdade, pois uma realidade pode ser
danosa e outra não, afinal o medo não pode transformar
a educação em mentira", finalisa a antropóloga.Colaborou Marques E. Casara
Polêmico, o temadivide: os quecondenam e os queaprovam. Em quatrodepoimentos, asvisões de cada umdesses elos. E a
da antropólogaJean Langdon
Consumidores: "Polícia deveriase preocupar com a violência"
O.E., 16 anos, e D.C., 18, são dois jovens boa pinta,vindos do interior para cursarem pré-vestibular. Moramnum bom apartamento no centro de Florianópolis e usam
maconha e cocaína regularmente. E a nova face da droga,onde o consumo não se reflete na aparência dos que esco
lhem esse caminho.Eles recorrem à droga para irem a festas, para dormir,
ou mesmo para ficarem coçando o saco. Geralmente não
usam para estudar, pois ficam viajando o tempo todo. A
curiosidade foi o que os levou a experimentar pela primeiravez, há quatro anos atrás, um velho conhecido de muitas
gerações: o lança-perfume. Depois dele, o fumo e o pó."Quero experimentar tudo que estiver por aí", diz D.c.,"mas isso não significa que uma droga sirva de caminho
para outras mais fortes, é uma questão de estar a fim".
Ele não sabe quando vai parar, mas acredita que seja uma
fase. "Cheiro coca há muito tempo, mas já estou enchendo
o saco, e se quiser parar eu posso. A vontade de continuar
é muito grande, mas dá pra parar". Quando notam queseus hábitos estão mudando, dão um tempo na coisa paranão fissurarem. O.E., não acredita que o uso de tóxicos
gere violência, porque "dá muita paz interior, e quem viajanão está afim de agredir ninguém".
BASEADINHO
"Aqui em Florianópolis é difícil encontrar quem não
fume", dizD.C., pois tudo é mais liberal do que no interior.
Lá, segundo ele, "o uso de coca está em alta, pois dá
status cheirar. f como terum carro novo, coisa da moda".
Aqui eles adquirem a mercadoria com facilidade, pois está
em todo o lugar. Quanto ao medo de serem presos, confes
sam que existe, mas não é um fator que determine mudançade comportamento. "A polícia deveria se preocupar mais
com outras coisas, como a violência, os assaltos, a corrupção no governo e não ficar prendendo quem fuma um
baseadinho por aí", complementa D.C ..
CARLOS
LOCATELLI
Traficante: "Consumo cresceu muito
por causa da angústia generalizada" o xerife: "Política não pára investigação"Bebendo uma gelada na
mesa de um bar, converseicom um dos "pontas" (traficante), que passam a coca
em Florianópolis. Sem
identificar-se, ele esclareceu que não se considera um
delinqüente, pois sua filosofia difere damaioria dosqueestão no comércio das dro
gas. Além do lucro, ele curte muito as amizades que a
transa lhe trouxe ao longodos doze anos de atividade.Seu grupo é seleto, com
aproximadamente 20 usuá
rios, de bom nível cultural,a maior parte com curso su
perior, uma boa posição so
cial e que encaram a cocaína
como parte de um conjuntode coisas boas que a vidatem. Ele controla a quantidade que cada usuário ne
cessita e geralmente não
fornece doses extras, para"que ninguém se passe". Oscompradores são antigos e
podem pagar o pó quandorecebem seus salários. Parater uma vida normal, elemantém um emprego e não
quer aumentar o negócio,mas já teve oportunidade de .
passar "até tonelada", se .
quisesse.O TRÁFICO
Sem falar muito do sistema de tráfico, ele cita os trêselementos que estão no final do esquema: o "mula
,
(transportador), que trás a
mercadoria e recebe por es-,se trabalho uma cota fixa;o "meio campo", que rece
be e centraliza a distribui
ção e finalmente, "o ponta", que compra a merca
doria do "meio campo" e
vende para o usuário. O
"ponta", que geralmentetambém é usuário, é quemmais se arrisca em toda a
transação, já que se expõea um número maior de pessoas ao mesmo tempo. Afunção do "meio campo" é
a mais segura e mais rentá
vel do negócio. A coca, que
aparta em Florianópolis pode vir tanto do Rio Grande
do Sul, quanto do Paraguai,variando conforme se en
contra o "clima na Ilha",pois é grande a quantidadeque circula e a pressão da
polícia é constante.
Indagado se a transaçãoda droga não é a causadora
da violência atual, ele res
pondeu que essa violência
não é fruto dos tóxicos, massim do próprio sistema, no
qual a droga também estáincluída. Para ele, o álcool
e o cigarro matam muito
mais que a cocaína, e todos
sabem disso. Mas a socie
dade se recusa a enfrentar
o poder político e econômi
co existente por trás desses
produtos, que é infinita
mente superior ao poder dadroga. Ele afirmou que o
ELÓI: As cidades com
maiores problemas são Flo
rianópolis, criciúma, Joinville e Itajaí. Elas recebem
as drogas através de auto
móveis que vão buscar fora
do estado, ou recebem co
mo encomenda pelos ôni
bus convencionais,
ZERO: Quem distribui as
drogras na i1ba?
ELÓI: OS donos de deter
minadas docas, como o
Morro do Mocotó, da caixa
d'água, a boca doGil no Estreito, e outros.ZERO: E por que a polícianão cbega nesses locais?
ELÓI Nós chegams, mas a
falta de pessoal e de um de
legado só para tóxicos difi
cultam as operações. Por
enquanto estamos improvisando. Outro problema é a
quantidade: tem muita dro
ga por aí. Florianópolis é
uma das capitais de maior
consumo de tóxicos do país.ZERO: Além do consumo,
Florianópolis não seria pon
te na distribuição para n res
to do país?ELÓI: Aí eu não sei. Eu
posso afirmar que é de con
sumo, agora se é ponte eu
não sei. Florianópolis fica
meio fora de rota para ser
ponte.
tável é que esses indivíduos
nem sempre se recuperam.
A maconha, que dizem ser
fraca, trás seqüelas irreversíveis e o viciado não volta
mais ao normal.
ZERO: A polícia distingueo usuário do viciado?
ELÓI: O usuário é quemtem mais chances de se re
cuperar. Ele para de dar
uma "bolinha" quando a
Polícia aperta. Se não aper
tarmos, ele se transforma
num viciado, e viciados nãoexistem muitos.
ZERO: Reprimir os usuã
rios tem o efeito esperado?ELÓI: Quando atacamos,
os indivíduos se recolhem,
porque esse tipo de pressãointimida não só quem acaba
preso, mas as pessoas quefazem parte de seu grupo.É uma maneira de se fazer
prevenção. Na prática, sa
bemos que é isso que ocor
re.
ZERO: Qual a estratégiautilizada pela polícia?ELÓI: Um policial tenta
comprar a droga para con
firmar o ponto, e, no mo
mento apropriado, caímosem cima deles.
ZERO: Quais são os principais centros tráficos e consumo no Estado?
Exercendo o cargo dediretor do DepartamentoEspecializado em Investi
gações Criminais
(DEIC), o delegado Elói
Gonçalves de Azevedo é
também o responsávelpelo combate ao tráficode tóxico em Santa Cata
rina. Favorável à pena demorte para traficantes,acredita na repressão co
mo forma de evitar o uso
de drogas, pois, segundoele, o tráfico está entre
os piores crimes cometidos contra a sociedade.
Nessa entrevista, o dele
gado Elói, que confessa
ter entrado na Polícia influenciado pelas históriasde Flash Gordon e Tom
Mix, fala como vê o problema das drogas e como
atua.
ELÓI: No grande traficantenós não chegamos, mas va
mos chegar. Ele só deixa a
mercadoria aqui e desaparece. Então temos de pegálo na hora. Esse elemento
que foi preso perto da As
sembléia é dos grandes, e
com ele foi encontrado,além de cocaína, uma lista
das pessoas que compravamo pó.
Lobão ou mesmo Gilberto
Gil, não são usadas paradesviar a atenção pública doelemento central da ques
tão, ou seja, o traficante?ELÓI: Nós, como policiais,temos que reprimir todos,sejam eles traficantes, usuários ou viciados. Não podemos abrir mão de nenhum
deles.ZERO: Qual seria a soluçãopara o problema?ELÓI: A médio e longoprazo seria através da edu
cação nas escolas, pois a
criança tomaria consciência
do perigo do tóxico. A curto
prazo seria necessário equipar a polícia e atacar. Aquiem Florianópolis é precisouma Delegacia Especializa
� com no mínimo, 50 homens e cinco delegados. Deimediato a única saída é a
respressão. Ela tem que ser
feita em todos os lugares e
sobre todas as pessoas sus
peitas, sem distinção alguma.
ZERO: O poder econômicodas drogas impede ou difi·
culta as investigações?ELÓI: Talvez influencie,mas não é o que nos impedede agir. Essa influência não
existe aqui, talvez em ou
tros lugares exista.
ZERO: E voces vão chegarnas pessoas, das listas?
ELÓI: Sim, vou checar to
das. A imprensa deu muito
destaque quando prendiGilberto Gil, mas a verdade
é que já detive todos os ti
pos de pessoas. A ivestigação que eu estiver condu
zindo, política não pára.ZERO: Como é pago o dedo
duro das organizações de
tráfico? Através de favores
ou com parte da mercadoria
apreendida, já que a políciatambém carece de verbas?
ELÓI: Nem com favores,nem com mercadorias. Na
SSP (Secretaria de Segurança Pública) existe uma ver
ba secreta utilizada para es
sas coisas. Mas o pagamento é efetuado sempre em di
nheiro.
_,ZERO: Prisões como a do
consumo cresceu muito nos
últimos anos "devido a uma
angústia generalizada das
pessoas em relação ao mun
do". "Com a cocaína, a pessoa pode encontrar o equilíbrio desejado, ou desequilibrar-se totalmente". Nesse
caso "a droga revela apenasuma fraqueza já contida nas
pessoas". Para ele, a propaganda negativa montada
contra a coca não leva em
consideração o trabalho quemuitos políticos, intelectuais, artistas e empresáriosrealizam para a sociedade,movidos pela energia que a
droga trás. Ele acredita quecom sabedoria, tudo podeser utilizado.
ZERO: Por que você entrou
na Polícia?
ELÓI: Eu entrei mais in
fluenciado por certas revis
tas, era fã do Tom Mix e
Flash Gordon, e sempre
gostei de investigações.ZERO: Como a Polícia vê
o viciado?
ELÓI: Eu considero o vi
ciado um doente. O larnen-
Elói: pena capital'
sam aplicar algum golpe.ZERO: Mas, justamente
por estar fora das rotas tra
dicionais, a cidade não esta
ria sendo utilzada para co
nexões?
ELÓI: Talvez. Talvez pos-
ZERO: Pelo visto, a polícialocal sõ prende o distribui
dor, porque não consegue
prender o traficante?
É'nfase na educação
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
CULTURA
Barreiras da criação em vídeoMARIA T. S. CORDEIRO
A novidade do vídeo já faz parte da rotina dos produtores dos grandes centros, mas em Florianópolis, capital do sol e do mar (que com certeza dão "altas cenas",como dizem os mais fissurados por imagem) fazer vídeo é um grande desafio.
Produzir aqui ainda implica em ter que enfrentar muitas dificuldades pois, como em todas as outras atividades culturais, o maior problema é a falta de apoio dosórgãos governamentais e eventualmente, de empresasprivadas. Mas estas dificuldades não amedrontamquem realmente está a fim de ver numa fita de VHSsuas idéias.
Na área de vídeo em publicidade, o problema nãopassa só pela falta de apoio, mas principalmente pelo"pão-durismo" das agências de propaganda. Janiseda Veiga, gerente da Cena 1, produtora de vídeo, afirmaque as agências querem um produto final de ótimaqualidade, mas sua preocupação maior se concentrano orçamento. "Elas (as agências) investem muito maisna mídia, porque o retorno financeiro é rápido", dizJanise. A parte que exige mais recursos é a produçãode VT que é a locação do estúdio e equipamento deedição. Tudo isso quem faz são as emissoras de TVque possuem o equipamento, o que torna mais cara
a produção.
Na área de vídeo em cinema, a história é outra: a
intenção maior não é ganhar dinheiro e sim mostraro trabalho. Charles da Silva, um dos novos participantes e produtores de vídeo em Florianópolis explica:
POemaS/Monique Van Dressen
Sem poesia
Não tem mais canoa quebradaNão tem mais ninguém em meu quartoNem bilhete najanela perguntando aonde eu quero chegar.Não tem mais poesia no cadernoNem certeza, nem tinta no chão.Não tem mais sonho de valsaNem sonho de sambaNem sonho nenhum.
A busca
Minha mãe me diz que eu sou tão equilibrada ...
E nesta corda que eu vou,
procurando em cada neo ou metao rosto que vai me jogar no chão.E cada vez que eu saio de pretodonão é sérioEstou só brincando de ser desenvolvida ...
"No cinema, o pessoal tá preocupado em mostrar otrabalho. No começo só tem dinheiro para fazer curtametragem".O pessoal que faz vídeo independente usa material
em VHS. O ideal é usar U-MATIC, mas é muito caro.Entre os trabalhos já realizados na ilha, vários delesaté já participaram de festivais: "Loba", "Duende" (quevai sair ainda), "O Espelho", "Política das Cores" (roteiro de Mauro Faccioni, direção de Angelo Sganzerla,feito para o Partido Verde). As produções de vídeotambém estão começando a ser usadas para despertara atenção da população para os problemas e parao folclore de algumas comunidades do interior da ilha,como é o caso de um grupo de Sambaqui que estáfazendo um filme sobre as lendas e magias do lugar.
Charles revela que "todo mundo que trabalha na
área de vídeo e cinema tá junto". E esta união só conta
ponto a favor do pessoal. O que importa mesmo éque tenha bastante gente a fim de fazer vídeo em Floripa, só que poucas pessoas têm algum conhecimentotécnico adequado, então a solução é promover um curso de cinema para que este grupo possa ter acessoa várias informações e partir com mais conhecimentopara campo", sugere.Mas no fundo, tem uma coisa: tudo é poesia, desde
pintura passando por fotografia até cinema também,por que não?
SISTEMASOs sistemas usados na produção de vídeo são: VHS,
U-Matic e Betamax. As diferenças principais entre elesestão na qualidade da imagem e no custo do equipamento.O VHS (Vídeo Home Sistem) é o vídeo caseiro, a
qualidade da imagem é inferior à do U-Matic e ao Betamax. Porém, o equipamento é mais barato, menor e
a disponibilidade de fitas no mercado das locadorasé mais ampla. Já o equipamento de U-Matic é profissional e bem mais caro. A qualidade de imagem, no
entanto, é melhor, a bitola é maior e suas câmarastrabalham, com três tubos de imagem. O Betomax,que é fabricado apenas pela Sony tem menos opçõesde filmes, mas o equipamento é mais barato e tambémé caseiro, como o VHS.
MERCADOOs produtores independentes em Florianópolis não
vivem apenas de filmes. As opções de trabalho sã inúmeras, como a gravação de festas (casamentos, aniversários, etc) e trabalhos relaciorados com os departamentos de relações humana: .cl empresas (treinamentos). Outra opção é a gravação de vídeo-clips degrupos musicais locais.
Existe a alma brasileira?MILENE CORRÊA
Falando em símbolos nacionais,não o selo, o escudo ou a bandeira,mas o samba (que alguns desavisados insistem em confundir com
"rurnba", e que o diga Zé Carioca),a feijoada e o candomblé, vem-meà cabeça a questão da legitimidadedos seus significados enquanto ver
dadeiros símbolos nacionais. Ora, seperguntarmos sobre a origem destes
símbolos, veremos que os seus criadores são exatamente os negros,aquela raça desclassificada, base e
braço econômico do nosso Brasil-colônia e, atualmente, base subestimada (aliás, sempre o foram) do nosso
Brasil-ainda-colônia. Se o perigo das
manifestaçôes coletivas dos negrosjá não existe, e se elas já não afetamo sistema político e social do país,devemos isso a mais um tiro certeiroda nossa classe dominante que, aose apropriar da cultura negra e mar
ginalizada, não o fez por outros motivos que não o de mantê-Ia sob con
trole e, também, pela sua incontestável falta de originalidade e raízes,que a impossibilitariam de criar umacultura própria e significativa, mesmoque para isso tivesse um "HorárioCultural Gratuito".
Que todos nós temos, "lá no fundinho", um pouco de sangue negro,é verdade. Mas também é verdade
que temos, "lá no fundinho", um pouco de todos (ou quade todos) os sangues: o italiano, o alemão, o português, o índio, o francês. Acaso a polenta, a cerveja, o fado, as penas ou
a Estátua da Liberdade seriam símbolos dignos da nossa nacionalidade? Acredito que esse nacionalismobarato, que hoje toma forma alienante, mas que tem fundo essencialmente político, seja mais um escudo
(não símbolo) para que a elite se proteja da negritude, do que o líquidomágico da fusão das culturas e ra
ças.
Se o Brasil é vendável (talvez, umdia, venha a ser viável também), muito tem contribuído para isso a exportação do "nosso" samba, da "nossa"feijoada, do "nosso" Carvanal e deoutros "nossos" que não são bem
assim, até do "nosso' futebol (quenão é mais aquele). Será que os ne
gros, "nossos" negros, estariam dis
postos a vender suas almas (suasarmas), tendo em vista a sua subutilizaçáo, ou estariam eles, os desapropriados, rindo de nós, os expropriadores, ao ver-nos tão felizes por termos comprado as suas armas mas,nunca, as suas almas?
"PS','
.�. ':.' ,C', ',.' . ZERO -.', .' JULHO 87.
. .
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Terra para quem trabalha nelaMultistem50milhõesde hectares
MILENECORRÊA
o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é uma
articulação de lavradores dentrodo Movimento Sindical, que têmpor objetivo lutar pela terra e pela Reforma Agrária. Ele está or
ganizado em núcleos, comissões municipais e estaduais e
possui uma Coordenação e
uma Executiva Nacional.Reunido em Cascavel, no Pa
raná, em Janeiro de 1984, numEncontro Nacional, o Movimento discutiu e aprovou alguns dosprincípios que delinearam a suaconduta e forma de luta. Entreesses princípios deve-se destacar a necessidade dos participantes em esclarecer quem sãoos "sem terra" que, afinal, foramdefinidos como "os trabalhadores rurais que trabalham a terranas seguintes condições: parceiros, meeiros, arrendatários,agregados, chacreiros, possei'ros, ocupantes, assalariadospermanentes e temporários e
os pequenos proprietários commenos de cinco hectares". Foidepois deste encontro na cida-
I Papanduva: conflito que não deve se repetir
de de Cascavel, quando o Movimento surge como uma articulação nacional de trabalhadoressem terra, que se iniciam as
grandes ocupações e os acom
panhantes, nos Estados onde oMovimento já está consolidado,como é o caso do Paraná, SantaCatarina, Rio Grande do Sul,São Paulo, Mato Grosso do Sul,Bahia, Maranhão e outros.A luta pela Reforma Agrária
e por uma sociedade justa e
igualitária são alguns dos princípios gerais do Movimento, que
se apoiam em compromissospráticos como a sua articulaçãoe seu fortalecimento, a manu
tenção do movimento como or
ganização politicamente autônoma, a sensibilização da opinião pública, a união com a lutados trabalhadores urbanos e
dos indígenas, a busca de apoionas entidades, sindicatos e na
Igreja, a divulgação das suas lutas e conquistas, a discussãode formas alternativas de possee cultivo da terra e a exigênciade que o assentamento dos
"sem terra" seja feito nos Estados de origem dos lavradores.Um dos tópicos que funda
mentam o Movimento é o quediz respeito às terras reivindicadas. Dos 850 milhões de hectares da superfície total do Brasil, _a área cadastrada pelo InstitutoNacional de Colonização e Reforma Agrária INCRA é de 570milhões de hectares, dos quais400 milhões repartem-se emimóveis latifúndios. Essas sãoalgumas das terras reivindicadas pelo Movimento, além dasterras de multinacionais, que situam-se entre 30 e 50 milhõesde hectares. Há também a áreade terras devolutas pertencenteao Estado que, somadas, perfa-zem um total de 250 milhões de
hectares.Bem, terra é o que não falta,
e, como costumam dizer os líderes do Movimento, "se fosse desapropriado apenas um latifúndio em cada, teríamos um totalde cinco milhões de hectares.Distribuindo em lotes médios de15 hectares, daria para assentar326 mil famílias de trabalhadores sem terra". Convém lembrar, no entanto, que os grandes proprietários e mesmo o Estado, não estão dispostos à éntregar suas terras tão facilmente. De 1982 até hoje, conformelevantamento efetuado a partirdos arquivos da Comissão Pastoral da Terra e do MovimentoPopular, já foram assassinadosquase quatrocentos lavradoresque lutavam pelo direito à terrae, afinal, pelo direito à vida.
Da euforia à miséria em dois anos
CLARISSASANTOS
Dívida externa, moratória, superávit comercial, déficit público, são alguns dos vocábulosintegrantes da nomenclaturaatual divulgada através dosmeios de comunicação. O quesignifica essa terminologia, afinai?
Há quem diga que o montanteda dívida cresce a cada dia, masquais são suas causas e conse
qüências? De que maneira istoafeta a vida do brasileiro?
A história da dívida pode ser
analisada através da própriahistoria do país. Ela teve iníciono Império, pois, segundo os livros escolares, D. João VI literalmente limpou os cofres brasileiros. Transferindo a riqueza tupiniquim ao tesouro português,o rei obrigou o Brasil a contrairseus primeiros empréstimos,confinando o país ao seu destino de devedor.
Desde aquele tempo, a res
ponsabilidade da dívida vem
sendo administrada com cum
plicidade pelos sucessores deD. Pedro I. A construção de Brasília, Itaipu, Tucuruí, Complexode Urubupungá e as Usinas Nucleares de Angra dos Reis, sãoalguns dos exemplos que con
tribuíram substancialmente para ampliar a dívida externa.
O Brasil deve hoje ao FMI cerca de US$ 1 bilhão referenteaos juros mensais, que deverãoser pagos até o final do ano.
Mas, quem paga? O própriopresidente Sarney afirmou, numdiscurso de 1985, que a dívidaexterna não poderia ser pagacom a "fome do trabalhador".Naquela época, provavelmente,o atual sucessor do ex-PríncipeRegente estava prevendo a si
tuação financeira atual, pois o
arrocho salarial, aumento de Im
posto de Renda e pacotes e
mais pacotes econômicos sãosinônimos de menos dinheirono bolso do trabalhador.
Durante o ano de 1986, o paísvivenciou a euforia causada pe-
lo Plano Cruzado. A partir demarço-abril, a grande maioriada população resplandesceu e
O governo conseguiu estimularas exportações e, atualmente,tenta conter a demanda do mer
cado interno adotando um arrocho salarial sem precedentesna história do país.
desatou a comprar. Esse superaquecimento na economia interna refletiu na balança comerciaI. Produtos de primeira ne
cessidade, como gêneros alimentícios, começaram a escas
sear. A solução mais imediatafoi a importação. Ora, isso interferiu negativamente nos planosdo governo, onde a ordem sem
pre foi exportar, já que a cadaano o Brasil batia recordes em
sua balança, fechando-a sem
pre com superávits comerciais,provocados justamente pelo volume de exportações, e que tinham como finalidade únicatentar pagar alguma coisa dos
juros da dívida.
Mas, e quanto ao povo? A ex
plicação cabível caiu em tornoda palavra ESPECULAÇÃO.Nem sequer cogitou-se falar emrecessão, pois o país estava
passando por uma época de ouro, na aparência.
o descongelamento dos preços marcou o fim do sonho cor
de-rosa, e o monstro da inflaçãovoltou a tormentar a vida dosbrasileiros.
Bulhufas,conservadoramoderada
FRANCISCOLINS
A conclusão do trabalho das 24subcomissões é a primeira etapa doprocesso constituinte, ou seja, o esboço da nova Constituição, que temo seu desfecho previsto para 15 denovembro.
Se os anteprojetos das subcomissões fossem consolidados num texto único, ele teria uma parte de grandes avanços reformistas e outras decentro- direita. Os progressistastriunfariam nas subcomissões quetratam da ordem social, do trabalhoe da participação dos cidadãos. Ocentro e a direita ganhariam nas
questões referentes à ordem econômica.
A esperança dos brasileiros, deter uma carta constitucional com asreformas desejadas, vai diminuindocom o desenrolar dos trabalhos. Adivisão interna do PMDB contribuiupara isso e a palavra de ordem agora é negociação. O líder do PMDBna constituinte, senador Mário Covas, diz que ainda é cedo para dizerse a constituição vai ser progressista ou conservadora. "Tudo vaidepender da capacidade de negociação", conclui.
O quadro demonstra que, para a
esquerda conseguir vitórias em algumas áreas, terá que ceder espaço para a direita em outras, principalmente na Comissão da OrdemEconômica. O líder do PCB, Roberto Freire, resume a questão: "Elesganham no capital e nós no trabalho".
Consenso, conciliação, negociação: palavras tão pronunciadas naAssembléia Constituinte, levam o
povo a temer pelo resultado finaldos trabalhos. As reformas desejadas pela maioria dos brasileiros, dará lugar ao espírito conciliador, defendido por Tancredo Neves ou ficarão restritas ao "Iobbysmo" indisfarçado e conservadorismo imobilista?
-_
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Contorcionismo
cerebral
A verdade é que há várias concepções enganosas para esclarecer ocontorcionismo cerebral.Partindo do direcionamento do acúmulo, en
volvendo-se em um cu
nho teórico incipiente, avisão que se vê não ébem por aí. Com o advento do potencial revolucionário e da heterogeneidade, a questão deequívocos ampliou-se.Hoje já se estabelece es
sa mediação, graças aum acúmulo histórico. Omecanismo filosóficoaliado a questionamentos e interpenetrações, trouxe à questãodo símbolo uma vertentepara clarear. Esta ver
tente nada mais é do queo motor histórico, o avivar das contradições quecapotava para o rural.
Justamente dentrodeste impasse, sob os
auspícios da identidadesimbólica, a construçãoé super delicada em doisaspectos: o patati-patatáe o esforço unilateral. Anível imeditato, o raciocínio lógico da sociedadefuncional jogou os elementos na panela. Qualo gancho? O ponto de
evolução e o de ficçãomostraram que a polarização das forças perdeucom mais produtividade.Os aliados naturais existem, não se podê negar.Neste vai-e-vem tão distinto quanto parece, a
questão da viabilidade éde um todo uniforme. Abarreira do telegráficonos mostrou uma visãoapocalíptica do inconsciente coletivo.Com esta sedimenta
ção do ponto de vistaapocalíptico, surge umarazão olhística para uma
coisa que parecia sermeio feudal. O momentode baixar o cacete, a sístole e a diástole, permeiam-se e leviatãs nos
apoiam numa escalaaxiológica de raças.Neste axiologismo, o
monolítico faz com quelaços sejam desenlaçados em cima do estereótipo. Contudo as raízeshistóricas do contextoatual da realidade con
juntural fizeram do bempossível um mal neces-
. sário. E aí que o valor deuso tanto quanto o valorde troca têm revelado oeu histórico social, criando o potencial de lucro.(R.C.V.)
U)I----- B
ualquer semelhança não é mera coincidência
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Enquanto isso no rádio doônibus que vai para UFSC ...
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Pára-choqueA vida e o jogo de xa
drez: grandes batalhasonde os reis nunca mor
rem e os peões dos exércitos lutam na linha defrente, como marionetes,destruindo-se LIns aos
outros. O xadrez e a vidaestão cheios de "quadra-dos", que inutilmente alternam suas cores na
tentativa de não parecerem tão iguais. No jogo,as peças brancas têm o
privilégio de iniciar a par-tida, em detrimento daspretas num flagrante"apartheid". A dama,
o
j
Camisinhas TrindadeNos mas de hoje cuide-seEvite apromiscuidadeCamisinhas Trindade
operigo se alastraNo campo e na CidadeCamisinhas Trindade
Não tira oprazerNão afasta o casalRelacionamento normal
Viva com Camisinhas TrindadePodegozar à vontade
....
apesar de sua força, éescrava do rei e está su
jeita a ser comida por todas as peças, indiscriminadamente. E um verdadeiro estupro. Até mes
mo os representanteseclesiásticos - os bispos - tomam parte dessa orgia, na qual tambémentram garanhões insaciáveis, os cavalos. A vida não é fácil ... Estásempre nos pondo em
xeque. Mas o gostoso éque também temos torres para encastelar nossos sonhos, temos rock,e mate com limão. (D.V.)
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
CULTURA
A música não é a vida real e nem
sequer seu reflexo. A música é, porsi só, criadora, cria sua própria vida,plena de beleza em sua abstração,ultrapassando os limites do tempoe do espaço.Você já imaginou a vida sem mú
sica? Não? Mas esta proposta nãoé inviável. Está cada vez mais difíclfreqüentar uma escola de músicaou sobreviver dessa arte no Brasil.Em Florianópolis há escolas ca
pacitadas para a formação de profissionais, como é o caso da Universidade para o Desenvolvimento doEstado de Santa Catarina (UDESC)e da OPUS. A UDESC tem como
proposta, na área de artes, estimular, apoiar e promover o acesso aos
bens culturais, e preservar seus vatores através de manifestações ar
tísticas. A Escola de Música do Centro de Artes da UDESC, com nove
pianos e 220 alunos, tem sempresuas vagas preenchidas, geralmente com um ano de antecedência. Omotivo dessa procura é o excelentenível dos professores e a mensa
lidade de apenas Cz$ 183,90 com
a possibilidade de 80% de descontocaso o aluno não possa pagar.A UDESC oferece cursos de violi
no, flauta, piano, violão, oboé, sax,clarinete, flauta transversa, violoncelo, canto, coral, todos acompanhados de teoria musical. A professora de iniciação à música, Diva Besen, acredita que os alunos que nãotêm interesse gradualmente vão desistindo. Durante o mês de maio,a UDESC promoveu quatro encon
tros denominados Momentos de Vilia-Lobos, em comemoração ao
centenário de nascimento do com
positor. Os alunos se apresentarame a participação foi aberta ao público.As escolas particulares têm como
pior adversário a crise financeira. AOPUS, por exemplo, esse ano aptau por um "saneamento". Está trabalhando com um menor número deprofessores, porém, com mais altonível de ensino. Um de seus diretores, Luiz Ekke Moukarzel, afirmaque a OPUS não tem fins lucrativos.Amensalidade da escola, que é Cz$600, fica dividida em 70% para os
professores e 30% para a escolà- pagamento de funcionários, aluguei do prédio, etc. Um fator quegera desistência dos alunos é o elevado preço da mensalidade. Devidoà conjuntura do país, o ensino 'demúsica não recebe subsídios o queimpede a concessão de bolsas deestudos, mesmo para os alunos esforçados e talentosos.A OPUS oferece cursos de piano,
técnica vocal, dicção e violão popular, todos com certificado registradona Secretaria de Educação. Mensalmente, a OPUS promove uma
semana de aulas coletivas, onde os
alunos apresentam sua música junto com filmes e slides. No primeiroencontro que realizou-se dia 26 demaio, foram feitas homenagens a
Villa-Lobos pelos alunos de cantoda professora Terezinha SimasAguiar. Esses encontros são importantes para a conscientização dosalunos de que um bom músico ne
cessita de muito investimento, tem-
o difícil aprendizado de músicaANA LAVRATIl
Aqui, as opções de ensino para uma
profissão desvalorizada, Situaçãoque alguns músicos querem mudar.
Músicos querem público mas também sua carta sindical
po e técnica, todos requisitos queas escolas de música particularesnem sempre têm condições depreencher em razão de suas limitações e propostas. Na opinião da
professora Terezinha, que estudoumúsica na Europa durante seteanos e está entre as melhores mestras de canto do sul do país: "talentoé imprescindível, mas sem muito es
forço não se forma um bom profissional". Uma frustração de Terezinha é ver seus alunos com ambi
ções profissionais, serem desestruturados quando se defrontam com
a realidade do músico no país.A música no Brasil é um grande
negócio, menos para o músico, noque se refere à remuneração. Geralmente são oferecidas "gorjetas"para a apresentação de um músico
que, por sua vez, tem que trabalharmuito para sobreviver e fica sem
tempo para praticar sua própria técnica. Terezinha sugere a organização de encontros musicais em Florianópolis para valorizar o potencialartístico-cultural dos músicos catarinenses e proporcionar a troca de
experiências.
A Escola de Música Hélio Amaral,dirijida por Maria Luíza Amaral, conta com aproximadamente 80 alunosde sete à 62 anos. Para aperfeiçoaros alunos de piano, a escola traz
mensalmente, do Rio de Janeiro, opianista Luiz Henrique Senise, quedá aulas de técnica e interpretaçãopianística.Na opinião dos diretores das es
colas, a música tem muita procura,mas a rotatividade nas escolas émuito grande. Damesma forma queentra, muita gente abandona as aulas por diversas razões - estudos,vestibular, proibição dos pais, emprego e outros motivos.A existência de professores que
ministram aulas em suas casas ou
nas casas dos alunos deve-se a
dois motivos: professores que não
querem dividir a mensalidade doaluno com a escola, ou professoresnão capacitados que não conse
guem emprego nos conservatórios.As vezes os professores fazem cur
sos nas escolas, que não oferecemcurrículo completo, e já saem dandoaulas. Assim, são professores sempreparo que enfrentam alunos
igualmente despreparados. Estes,por sua vez, dificilmente encaram
a música clássica como o básicopara se tocar qualquer tipo de música, escolhendo na maioria das vezes o processo contrário. Queremtocar jazz, popular, menos músicaerudita que exige maior rigor técnico. O ideal, porém, seria que os alunos procurassem conservatóriosque têm papel importante na divulgação da música. Existem escolasna cidade que já tem condições debuscar um maior profissionalismomas isso esbarra na falta de apoioe de pessoas especializadas.Há também a ausêmcia de insti
tuições que levem a sério a divulgação da música erudita. Existem pequenos grupos de pessoas interessadas, que freqüentam concertosou assistem a apres�ações de coros, mas o público atingido é pequeno.Além disso, a profissão de músicoé pouco reconhecida. Muitos achamque música não é profissão porqueos músicos gostam do que fazem,porém esquecem que o ideal é todos trabalharem com o que gostam.
É urgente que os músicos tomemconsciência da força de sua personalidade cultural.
LUTA PELA ASSOCIAÇÃOA Ordem dos Músicos do Brasil,
'com 35 delegacias em Santa Catarina é uma entidade governamentalpara fornecer carteira profissional etem caráter essencialmente fiscalizador. Em Santa Catarina há11.528 músicos registrados entreos quais 3200 estão na capital. AOMB funciona em Florianópolisdesde 1962 e é vinculada ao Ministério do Trabalho. Ano passado foram feitas 455 provas para se filiarem à OMB, e 253 foram reprovados. Como a ordem só oferece aos
seus filiados um advogado para so
lucionar questões jurídicas, os músicos de Florianópolis movimentaram-se novamente e estão batalhando para requerer a carta sindical junto ao Ministério do Trabalho,para transformar a Associação Profissional dos Músicos da GrandeFlorianópolis em sindicato. Houveuma nova eleição da diretoria e parapresidente foi eleito Luiz Moukarzel,que quer a adesão domaior númerode participantes possíveis na Associação, para que ela se torne cadavez mais forte.
ESCOLA GRATUITAUma opção para quem quer
aprender música é o Centro Suzukide Florianópolis que apoia o ProjetoEspiral, um programa de INM/FUNARTE que se destina à formaçãode instrumentistas de cordas. EmSanta Catarina o Projeto Espiral émantido pelo Governo do Estadoatravés da Fundação Catarinensede Cultura. Totalmente gratuito, ométodo Suzuki desenvolve uma filosofia de educação através da música e quer ser um fator de integração familiar. É uma atividade ultramoderna trazida do Japão pelomaestro e professor Carlos AlbertoAngioletti Vieira e já conta com trêsorquestras, divididas por níveis.Carlos Alberto recebe da FundaçãoCatarinense de Cultura uma pequena quantia mensal para ministraraulas aos 80 participantes da Orquestra Espiral Suzuki e é auxiliadopor seis monitores que ele mesmo
formou.A maioria dos alunos de música
de Florianópolis não tem ambiçãoprofissional. Estudam por "hobby".Os poucos que preocupam-se com
a profissionalização apresentamsuas frustrações: falta de garantiaque justifique toda a dedicação ne
cessária e o futuro incerto do músico profissional. Estudar música no
Brasil ainda é uma questão de amorà arte.Lia Rejane, musicoterapeuta do
Rio de Janeiro, acredita que atividades musicais ou uma educaçãomusicai bem feita deveriam ser partedo ensino básico de todas as crianças, porque a música é altamenteterapêutica.
ESCOLA DE ARTES NA UFSCA hipótese de formação de uma
escola de artes na UFSC é facilmente descartada. Os motivos sãosimples: falta de espaço físico, faltade verbas, falta de professores graduados e falta de apoio do Reitor
que acredita que a UDESC é suficiente para suprir a procura na área.
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Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
"Economiamatamais que polícia"Os 12 anos de exílio nãosilenciaram o intelectual
CARLOS LOCATELLI
,
EDUARDO GAlEANO
Galeano: "Medo é inimigo da liberdade"
ANALÚ ZIDKO
"Devemos resgatar cultura indígena, quenos dá chaves muito importantes para construir um mundo diferente desse mundo, cadavez mais parecido com um campo de concentração ...
"
a frase é do escritor e jornalistauruguaio, Eduardo Galeano, que conversoumais de duas horas com o público que se..
aglomerou no Plenário da Assembléia Legislativa, dia 9 de junho passado. Galeano, queé autor do livro "As Veias Abertas da AméricaLatina", veio a Florianópolis atendendo convite do Centro Acadêmico Livre de Letras(CALL) e do Núcleo de Estudos Latino-Americanos (NELA).
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Não houve a tradicional exposição iniciale o escritor propôs-se a um bate-papo como público. Lembrou que as preleções "invariavelmente são chatas ... ''.
COLONIALISMOQuestionado quanto a capitalismo é socia
lismo na América Latina, declarou que "o socialismo já é praticado em nosso continente:as perdas são socializadas e os lucros prlvatlzados". Quanto ao capitalismo, comentou serele "um' produto de importação", pais nãofoi criado pelos índios e sim trazido pelos colonizadores, que o implantaram aqui na América, sendo portanto, um sistema estranho anós. Um estrangeiro.
Separar um homem de sua terra natal, deseus laços culturais, políticos e humanos éum castigo duro, talvez pior que a própriaprisão. O escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano viveu essa experiência durantedoze longos anos. Primeiro foi a expulsãode seu país, depois da Argentina onde haviasido recebido. Nos dois casos pelas ditadurasmilitares. Sua atuação destacada no combateà opressão, através de sua atuação jornalística, fez dele um alvo-constante dos ditadores. Galeano foi perseguido por defender averdade.Aos 14 anos ele desenhava para o sema
nário EI Sol, do Partido Socialista. Depois,foi bancário. Aos 20 anos, abandona o emprego e vai para Buenos Aires trabalhar na revista Che. A experiência durou pouco, pois a
polícia argentina fechou a revista porque eleapoiou uma manifestação de ferroviários grevistas. De volta ao Uruguai, ele participou dojornal Epoca, que também lutava pela liberdade de expressão. Nesse período, era comum ele e os outros editores do jornal amanhecerem presos. No iníco de 73, a convitede Fico Vogelius, Galeano retorna a BuenosAires para dirigir a revista Crisis, recém fundada. Crisis foi o motivo que levou o govermomilitar argentino a repetir, em 1976, a atitudedos comandantes uruguaios em 73: Galeanoestava novamente exilado. Da Argentina paraa Espanha, de onde retornou, há dois anos
para Montevidéu, beneficiado pela anistia dogoverno atual.
CrisisA revista Crisis, fundada em fevereiro de
73, queria devolver as palavras às pessoas.Uma palavra que havia sido tirada por um
sistema que desprezava os indivíduos. Elapublicava poemas, contos, desenhos, relató-� rios e reportagens sobre os mais diversosassuntos que interessassem à coletividade.Do petróleo às comunicações, do ensinomentiroso de História nas escolas, até as denúncias de multinacionais, que vendiam produtos e ideologias. Logo após o golpe militarde 76, o governo publicou o novo Código deCensura, Estavam proibidas as reportagens,as entrevistas e as opiniões não especializadas. Para Crisis era o fim. Depois de poucomais de três anos e muito sucesso, a revistafecha em julho no mesmo ano de golpe. Masfoi enterrada em pé, como sempre viveu, segundo seus editores.
Veias AbertasAntes de escrever o seu principal livro: As
VeiasAbertas daAméica Latina, Galeano havia percorrido muitos países do continente.Esteve no Chile, na Nicarágua, e presencioua pior crise da revolução cubana, no fim dosanos 60. Ele estudou muito, baseou-se emdados reais e conseguiu escrever um livrobrilhante. A pobreza dos homens, o colonialismo, o capitalismo, o problema da terra, emuitos outros são abordados de forma C1ii8e objetiva. Curiosamente, o livro foi traduziãoprimeiro para o espanhol, italiano, holandêse até para o turco, para depois ser traduzidopara o português, apesar dos problemas es-
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truturais brasileiros também serem tratadosna obra.
Galeano foi enfático quando falou da cultura da América Latina, afirmando que "fomosprogramados para copiar" e que no nossomeio há uma total submissão à cópia e a
criação é alienada. Para ilustrar suas colocações, ele citou como exemplo os nossos artistas continentais, que não são valorizados emseus países de origem por serem do povoe retratarem esse povo, ao invés de se sujeitarem às regras estéticas do primeiro mundo.Para o escritor, existe um esquecimento quase compulsório da cultura popular: é que nóssomos "ecos de outras vozes e sombras deoutros corpos". Essa cultura importada, adicionada ao medo - que permanece mesmo
depois do fim das grandes ditaduras, sob a
capa da censura, e os sonhos que são as
constituições -, impedem a libertação dagrande massa latino-americana.
PALAVRA E PODER"Quem tem o poder tem a palavra, senão
não teria o poder" assim Galeano definiu imprensa, imprensa alternativa e sua função n?América Latina. Criticou os meios de comunicação que mentem "não só pelo que falammas pelo que caiam", e ressaltou a importância de um mercado alternativo que rachasse o muro e, se infiltrando através dele, pudesse revelar o que nos é omitido pela grandeimprensa. Deixa claro, porém, que as possibilidades de mudanças no campo social, através de um jornalismo independente e contestador, são muito pequenas. A imprensa es
querdista, por ser muito "difícil de ser engolida", é sempre muito censurada. A censura
invisível, na sua opinião é a pior, pois elanão é imposta por nenhum regime: existe "pelo próprio peso das coisas". Estamos acostumados à uma sociedade que marginaliza a
maioria de seu povo no acesso à cultura.
ALERTAPara Galeano é preciso haver um equilí
brio, nos países que se dizem democratas,entre a economia e o sistema de relação entrepessoas. Alertou que a "economia na América Latina mata mais que a polícia, que jámata muito". Quanto ao Brasil, Galeano ocoloca entre os países onde ainda persisteum sistema escravocrata, e compara a situação de multidões de trabalhadores marginais,submetidos à um regime capitalista, à.situação do escravo. Para ele, a realidade surrealista do país retrata o que acontece no restodaAmérica Latina. Uma América tomada pelomedo, um temor que existe dentro de cadaum, de agir, de ser, de transformar, de setransformar. "O medo é inimigo da liberdadee parente muito próximo da morte".Ao final do encontro, Galeano relatou o tris
te fim de muitos livros e jornais existentesno Brasil, todos convertidos industrialmenteem .papel higiênico: "Isto é o que a Américafaz pela sua memória".
Além de "As Veias Abertas da América Latina", suaobra smais famosa, foram publicados outros seis livrosde Eduardo Galeano no Brasil: A Caça de Nossa Gente, Dias e Noites de Amor e de Guerra, Memóriasdo Fogo, Nascimentos e Vagamundo, pela EditoraPaz e Terra; As Caras e as Máscaras pela Nova Fron
teira; e A Pedra Arde pela Loyola. A Biblioteca Centralda Universidade Federal de Santa Catarina dispõe so
mente de quatro títulos: A Pedra Arde, e As Carase as Máscaras, Dias e Noites de Amor e de Guerrae As Veias Abertas da América Latina. (C.t._:)
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina