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  • 7/25/2019 Flaviano Maciel Vieira Poeticas Digitais

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    E

    Texto Digital, Florian

    PERSPECTIV

    RESUMO: Novas formas denovo fazer potico apreconsequentemente categoriconfigurar nos sistemas criinterpretaes, numa adequartigo apresentar uma possda tecnologia e programasterica que auxiliar na exSanders Peirce. A importnciabrange o estudo dos signopeirceana destina-se a deseteoria. Espera-se, neste sentisobre poesia em meios compcomo Julio Plaza, AntnioBarbosa, Jorge Luiz Antonio,alguns importantes pesquisaPALAVRAS-CHAVE:Poesia

    Dando sequncia a um

    LES Laboratrio de E

    Amador Ribeiro Neto,Poesia Digital e Tradu

    UFPB, tambm sob orie

    de uma constante inquie

    da poesia digital. Em

    sentido so fundamenta

    literrias, principalmente

    O que motiva este traba

    de um delineamento si

    *Universidade Federal da Pa1 O presente trabalho integrandamento, intitulada Em budo prof. Dr. Expedito Ferraz(UNISO Universidade de S

    DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1807-92

    ta obra foi licenciada com uma Licena Creativ

    polis, v. 9, n. 1, p. 115-149, jan./jul. 2013. ISSNe:

    S DE LEITURA PARA POTICAS DIG

    Flavian

    fazer poesia surgem em meio aos suportes comenta uma inovadora forma de escritas poticas prprias do suporte computacionaados nestes meios. Isso exige dos leitoresada forma de ver-ler-ouvir-traduzir a poesia.vel metodologia de abordagem de poticas digit

    isponveis no momento histrico de suas com plicitao da abordagem ser a semitica tri

    a da semitica peirciana est em dispor de umverbais e no-verbais. Para Dcio Pignatari (

    mpenhar um papel de relevo, tanto na crtica liido, contribuir com o percurso conceitual-tericoutacionais, algo que vem sendo to bem desenv

    Risrio, Philadelpho Menezes, Jos AugustAlckmar Luiz dos Santos, Pedro Reis e Rui Toores.

    digital. Semitica. Metodologia de abordagem.

    pesquisa que se desenvolve desde 2

    tudos Semiticos, da UFPB, coordenad

    que resultou na dissertao de meso Intersemitica, defendida em 2011

    ntao do mesmo professor, este artigo

    tao, enquanto pesquisador, em rela

    tempos de revoluo tecnolgica, p

    is para melhor entendermos as novas r

    no campo da poesia.

    lho uma reflexo sobre as poesias di

    temtico em torno de algumas poss

    aba. Imeio: [email protected] parcialmente as pesquisas de minha tese dca de possveis modos de se ler a poesia digitJnior (UFPB) e co-orientao do prof. Dr. Jrocaba).

    88.2013v9n1p115

    Commons

    : 1807-9288115

    ITAIS

    Maciel Vieira*

    putacionais. Essepara os olhos,l comeam a senovos olhares e

    proposta desseais, independenteposies. A basedica de Charlesodelo terico que004), a semiticaiterria quanto nageral j existente

    olvido por autoresMouro, Pedro

    rres, s para citar

    09, atravs do

    o pelo prof. Dr.

    rado intitulada, no PPGL da1 o resultado

    o ao fenmeno

    squisas neste

    configuraes

    itais em busca

    eis categorias

    e Doutorado, eml, com orientaorge Luiz Antonio

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    potico-digitais existentes nos mais variados poemas feitos com os recursos do

    computador. Ser usado, para isso, o suporte terico vindo da Teoria Geral dos

    Signos, de Charles Sanders Peirce, principalmente o que se refere sua

    segunda tricotomia dos signos, que diz respeito s relaes entre os signos e

    seus objetos, em suas formas de representao simblica, indexical e icnica

    (esta ltima vista tambm na perspectiva da imagem, do diagrama e da

    metfora).

    O papel da abordagem semitica da literatura criar um discurso crtico

    pautado pela metalinguagem, medida que constri e desconstri modelos

    poticos atravs de sistemas estruturais. So muitos os autores que

    influenciaram os estudos semiticos sobre os textos literrios: Lvi-Strauss

    (noes de arqutipos nas estruturas literrias); Roland Barthes (crtica

    ecltica: semiologia, marxismo, psicanlise etc.); Todorov (crtica semitica-

    estruturalista); Greimas (sistemas de significao literria, relaes actanciais,

    modulaes etc.); Tinianov (sistemas correlatos e cultura dinmica); entre

    outros.

    A semitica peirceana nos parece das mais eficientes para abordagens desses

    tipos de objetos estticos, funcionando como chave de acesso fundamental

    para a poesia computacional, desengajada da noo antiga de lngua e

    pautada pela diversidade da linguagem polifnica. Tais caractersticas cabem

    perfeitamente a um olhar semitico, j que ocorrem nesta nova linguagem

    redefinies estruturais de signo e sentido. Entre outros, dois livros foram

    fundamentais para nortear a aplicao da semitica peirceana em objetos

    literrios: Semitica e Literatura (2004), de Dcio Pignatari, e SemiticaAplicada Linguagem Literria, de Expedito Ferraz Jnior.

    Com a semitica de Peirce, os enfoques ganharo certo sentido de

    organizao do fenmeno em questo. Dessa forma, ficar mais evidente

    perceber como pode ser analisada a semiose dos signos potico-digitais, seja

    na perspectiva de suas qualidades e propriedades internas, seja nas

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    referncias que fazem daquilo que indicam, com seu poder de significar, ou

    seja, nos tipos de efeitos que esto aptos a produzir em seus interpretantes.

    Entender as novas semioses nos novos meios caminho bsico para uma

    pesquisa nesta direo. Sendo assim, qualquer trabalho que tenha como

    objetivo orientar possveis abordagens de poticas digitais, na tentativa de

    amenizar a dificuldade que muitos ainda tm para ler poesias contemporneas,

    principalmente poesias digitais, uma contribuio para a pesquisa acadmica

    nesta rea do conhecimento. Para Lcia Santaella, no artigo Para

    compreender a ciberliteratura:

    A criao, a teoria e a crtica literrias exigem a redefinio de seusparadigmas herdados da era de Gutemberg. Mediante as mdiasdigitais, a configurao da literatura sofreu um salto qualitativo emtodos os seus aspectos (...). Isso obriga reflexo, a partir depressupostos digitais, sobre a produo literria, a recepomultimdia, a leitura e a interpretao literrias [...] (SANTAELLA,2012, p. 229).

    Para a autora, a literatura eletrnica exige uma leitura diferente da literatura

    impressa, sendo necessrio distinguir a literatura que nasce da transposio do

    papel para o digital e a literatura que produzida exclusivamente pelo digital(digital-born). A perspectiva adotada neste trabalho a do estudo que busca

    entender este digital-born, ou seja, as poticas produzidas no meio

    computacional, cuja morfognese inseparvel dos recursos digitais (2012,

    p. 233). Diz Santaella que Viires (2006, p. 2) concebe a expresso

    ciberliteratura, ou as similares, designando trs ramos da produo.

    1. Textos de escritores profissionais em poema e prosa disponvel nasredes (sites, blogs, antologias digitais, revistas eletrnicas on-line);

    2. Textos literrios no profissionais gerais disponveis na internet, num

    espao independente de produo;

    3. Textos literrios de estrutura mais complexa, hipertextuais e

    multimiditicos, repletos de misturas entre as artes visuais, o vdeo e a

    msica.

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    Tal panorama demonstra que as perspectivas da ciberliteratura so vrias e

    que ser necessria uma boa definio do(s) objeto(s) que se quer estudar e

    do que se entende por poesia digital. Sendo assim, apresentaremos um olhar

    conceitual sem pretenso de esgotar as possibilidades de anlise sobre as

    recorrncias de determinadas categorias atravs da nfase dos modos de

    representao nos objetos observados e chamar ateno sobre seus

    processos de significao e as eventuais misturas das categorias e

    predominncias de uma(s) ou outra(s).

    A tentativa de sistematizao de categorias potico-digitais e o esforo de

    pesquisa neste sentido demonstram que preciso ter cuidado quando se trata

    conceitualmente de poesias digitais. Afinal, nem toda poesia digital

    hipertextual ou interativa, assim como nem toda poesia digital em vdeo ou

    animada, citando apenas alguns exemplos de equvocos conceituais facilmente

    vistos em muitos textos que tratam de poesia digital.

    Pierre Lvy (1999) reflete sobre as implicaes culturais das novas tecnologias

    e pergunta quais so as novas formas artsticas relacionadas ao computador e

    rede. Seguindo esta preocupao, acreditamos que definir categorias

    analticas um passo fundamental neste processo de busca por uma

    metodologia de investigao eficiente que possa dar conta, em parte, do

    fenmeno da poesia digital.

    Antes de apresentar as categorias, vejamos alguns importantes endereos

    para leituras e pesquisas de poesia digital e uma rpida contextualizao sobre

    o tema:

    ERRTICA, revista virtual organizada por Andr Vallias

    (http://www.erratica.com.br/?id_obra=119); a revista digital ARTRIA 8,

    organizadas por Omar Khouri e Fbio Oliveira Nunes:

    (); ANTERO DE ALDA, Scriptpoemas organizados

    por Rui Torres: (); e Art

    Digital Brasileira e Poesia na Web, pgina organizada por Jorge Luiz Antonio

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    (); e a pgina Poemas

    Multimdia, de Paulo Aquarone

    (). Neles, pode-se observar

    vrios exemplos de toda essa reconfigurao semitica por que passa a poesia

    em meios digitais numa tela de computador.

    O que seria poesia digital?

    Estamos diante de novos objetos estticos que representam a passagem da

    logosfera para a videoesfera, o que representa a existncia de novas unidades

    de significao textual que passam a sistematizar-se numa nova gramtica do

    discurso, com novos paradigmas e novas constituies sintagmticas, atravs

    das mais variadas aes sgnicas, graas inovao do suporte. Esta nova

    escritura (nem sempre, mas muitas vezes) hipertextual, hipermiditica, no-

    linear, transmutvel e interativa, apresenta uma infinidade de semioses

    possveis, em que tanto os signos tecnolgicos quanto os que convergiram de

    outras artes, como a pintura, a msica e o cinema, por exemplo, reconfiguram-

    se atravs dos softwares numa linguagem de bits2.Este fenmeno potico ,

    mais do que nunca, hbrido, e justamente este super-hibridismo,

    multipotencializado em meio revoluo tecnolgica, que torna as obras

    digitais repletas de semioses diferentes, inesperadas e inovadoras, exigindo,

    assim, uma ampliao do leque terico do leitor e do crtico para se realizar

    abordagens efetivas e eficientes, j que apenas a teoria da literatura no mais

    d conta de traduzir, numa linguagem metalingustica apropriada, o que os

    novos signos representam.

    2 Bit (simplificao para dgito binrio, "BInary digiT" em ingls) a menor unidade deinformao que pode ser armazenada ou transmitida. Usado na Computao e na Teoria daInformao, um bit pode assumir somente 2 valores, por exemplo: 0 ou 1, verdadeiro ou falso.Embora os computadores tenham instrues (ou comandos) que possam testar e manipularbits, geralmente so idealizados para armazenar instrues em mltiplos de bits,

    chamados bytes. (Wikipdia) acesso em 13/05/2013.

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    O quem vem sendo chamado de poesia digital ou poesia eletrnica, entre

    outros termos3, faz parte das novas linguagens iconogrficas de natureza

    audiovisual e eletrnica instauradas em nosso contexto cibercultural. A

    iconografia potica coloca em crise os diversos sistemas de representao

    existentes, devido s suas novas caractersticas que se diferenciam

    enormemente das tcnicas instauradas pela tradio. Essa realidade nada

    mais do que o momento de uma convergncia pela qual vem passando a

    palavra potica, o que natural dada a natureza intersemitica da poesia.

    na dcada de 50 do sculo passado que surgem as primeiras discusses

    preocupadas em entender o fenmeno das relaes das artes com as

    tecnologias. em Londres, em 1968, que Max Bense e Jasia Reichardt

    realizam a exposio Cybernetic Serendipity. nela que, pela primeira vez,

    segundo Julio Plaza4, expem-se obras criadas com o auxlio do computador e

    em que se coloca a polmica sobre o computador poder ou no criar obras de

    arte e se estas obras possuem valor esttico. No Brasil, em So Paulo (1969),

    Waldemar Cordeiro realiza a exposio Computer plotter-arte e procura

    identificar a arte computacional com as tendncias da arte contempornea de

    cunho construtivo e industrial. J o ensaio Art ou non-Art?, ainda segundo

    Jlio Plaza, surgido em Dossiers de laudiovisuel, n. 15 (1987: 41-4), apresenta

    vrios depoimentos de artistas, posicionando-se a respeito destas questes.

    Vejamos alguns deles: Philippe Queau diz que "a iconografia computadorizada

    se anuncia como uma nova ferramenta de expresso artstica que dispe de

    um duplo campo de investigao formal e sinestsico" (QUEAU apud PLAZA;

    TAVARES, 1998, p. XVI); Gene Youngblood aponta que o computador

    terminar por englobar todos os meios, todos os sistemas diferenciados de que

    3 Jorge Luiz Antonio (2008) faz um levantamento de vrios termos usados por escritores eartistas de todo o mundo ao se referirem poesia realizada no suporte computacional. Soexpresses de acordo com a observao que faz das inmeras formas de expresso artstico-computacional-poticas a que teve acesso em sua pesquisa. Algumas delas so: Infopoesia,Poesia-cdigo, Poesia programa, Poesia internet, Vdeo-poesia, Poesia interativa, colaborativae performtica, Ciberpoesia, Poesia hipertextual, Poesia hipermdias, Holopoesia, Autopoema,Click poetry, Poema acrstico / messtico, Anipoema, Arte assistida por computador,Biopoesia, Cibervisual, Poesia cinemtica eletrnica, Poesia-do-clique, Clip-poemas digitais,Poesia gerada no/pelo computador etc. Jorge Luiz Antnio, atualmente, prefere o termo tecno-

    arte-poesia.

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    dispomos atualmente; fotografia, cinema e escritas funcionaro a partir de um

    certo cdigo numrico (PLAZA; TAVARES, 1998, p. XVI); Yoichiro Kawaguchi

    expe que " natural e evidente que a arte tradicional e a infogrfica recorrem a

    mtodos diferenciados para perceber o tempo e o espao, mas pode-se

    pensar, hoje, que vir o tempo onde a imagem e o som infogrficos vibraro

    sobre o mesmo diapaso de qualidade que as artes tradicionais"

    (KAWAGUCHI apud PLAZA; TAVARES, 1998, p. XVII); Franoise Holtz-

    Bonneau salienta que a pesquisa sobre a arte numrica no pode estar restrita

    tcnica. [...] A imagem numrica chama a critica. [...] Entendo por 'cratique'

    uma criao artstica gerada por computador [...] onde a gerao da imagem

    ser analisada e determinada, no pelos expertos em sistemas-expertos, mas

    pelos expertos em imagens, considerados enfim como os especialistas da

    criao artstica infogrfica (HOLTZ-BONNEAU apud PLAZA; TAVARES,

    1998, p. XVII); e para A. Moles "A arte no uma coisa como a 'Vnus de Milo'

    ou o 'Empire State Building'; uma relao ativa do homem com as coisas,

    mais-valia de vida, programao da sensualidade ou experincia de

    sensualizao das formas; sempre o mesmo jogo: 'formatar' o ambiente ou

    ser 'formatado' por ele [...] no mais o resultado de uma continuidade

    espontnea do movimento da mo, mas uma vontade de forma..." (MOLES

    apud PLAZA; TAVARES, 1998, p. XVII).

    Todas estas e outras discusses levantadas ao longo de seis dcadas

    demonstram que questes como relaes sinestsicas nas artes, sistemas

    diferenciados a partir de um cdigo numrico binrio, relao das obras digitais

    com as artes tradicionais, criao artstica feita por computadores, novas

    reconfiguraes das formas etc., precisam continuar sendo alvo de reflexes jque novos referentes tm sido criados nas composies poticas e, por isso

    mesmo, preocupa-nos considerar nos mais variados aspectos estas novas

    produes de nvel esttico em seus encontros com a tecnologia.

    Para entender melhor esta discusso das relaes da poesia com a tecnologia,

    preciso lembrar, mesmo que panoramicamente, o processo pelo qual a

    poesia se desenvolveu at os dias de hoje. Salvo alguns exemplos esparsos na

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    antiguidade clssica e na Idade Mdia, a partir do Simbolismo que a poesia

    vem cada vez mais interagindo com as outras artes e querendo saltar fora da

    folha de papel, atravs de cruzamentos sinestsicos nos quais as unidades

    textuais so recheadas de pores verbais, sonoras e visuais. a floresta de

    smbolos baudelairiana.

    Este processo de potencializao intersemitica ganha fora com as

    vanguardas europeias e amadurece com a poesia concreta, que seria uma

    espcie de poesia pr-digital, devido s sugestes que apresentou (ideia de

    movimento dos cones, espao em branco carregado de significado, parataxe,

    no-linearidade, visualidade etc.), caractersticas que agora so bsicas na

    potica dos computadores.

    Este momento atual de convergncia ocorre devido ao novo meio em que o

    fazer potico insere-se: um suporte computacional. Mudar de uma folha de

    papel para uma tela de computador vem possibilitando aos poetas e artistas

    em geral novas formas de expresso, atravs de linguagens artstico-potico-

    computacionais, que possibilitam melhor sintetizar esteticamente o momento

    histrico que ora se opera, o da revoluo digital.

    Esta nova configurao da palavra, esta nova forma de escrever com a

    palavra, em meio a uma tela de computador, onde se processam bitsem forma

    de feixes de luz, que bailam no espao do ecr numa linguagem binria e ao

    sabor dos softwares (programas de computador), representa uma nova forma

    de escritura potica, o que no anula as anteriores, obviamente.

    A poesia mais uma vez segue sua natureza intersemitica e passa a dialogar

    com os signos que melhor representam esta nova revoluo atual: os signos

    tecnolgicos. Tem-se ento processos de semioses potico-digitais nos quais

    se estabelecem aes realizadoras de novas formas, com novos modos de

    fazer, de criar, atravs de novos mtodos de recodificao.

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    Est bem claro, portanto, que nosso tempo de misturas: uma imensa

    possibilidade de linguagens, cdigos e hibridizaes so proporcionadas pelos

    meios tecnolgicos que homogenezam e pasteurizam as diferenas.

    Este novo fenmeno requer do leitor e da crtica, portanto, uma nova forma de

    aproximao, j que as linguagens digitais, como diz Julio Plaza, tendem cada

    vez mais para a desmaterializao (PLAZA, 2010, p. 206). Segundo o autor, o

    carter transductor e de interface das novas formas eletrnicas tem uma

    importncia ainda no avaliada na sua dimenso exata.

    As perspectivas de leitura para poticas digitais

    Pode-se definir como modelizaes potico-digitais emprestando o conceito

    de modelizao dos semioticistas russos a busca por um modelo estrutural

    que apresenta uma gramaticalidade organizadora da linguagem, nesse caso a

    linguagem binria dos computadores. Estas modelizaestambm podem ser

    vistas como ressonncias de sentido em meio s semioses potico-digitais.

    Tais ressonncias de sentido ou modelizaes so o resultado do esforo de

    compreenso dos signos poticos em meios eletrnicos-digitais para se

    conferir uma unidade dentro da estruturalidade dos sistemas realizadores de

    semioses desta natureza.

    Estas semioses apresentam, de acordo com o mtodo que ser apresentado,

    seis categorias essenciais, movidas por leis prprias. Elas no surgem

    isoladamente nos objetos, mas interagem e interpenetram-se nas semioses

    realizadas pelo receptor. Nem todas as categorias podem aparecer numa obra,mas muitas dialogam no mesmo objeto de acordo com certa predominncia de

    uma ou mais de uma delas.

    As categorias sero apresentadas e comentadas de forma panormica,

    naturalmente dada a pouca extenso de um artigo, mas cada uma delas

    apresentar um campo significativo para pesquisas e desenvolvimentos

    terico-conceituais, j que representam semioses novas e inovadoras, numa

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    nova configurao potica que apresenta imensas possibilidades de pesquisas

    no campo da ciberliteratura, especificamente no campo da poesia digital.

    Pesquisar, por exemplo, a poesia migrante obras que foram traduzidas

    intersemioticamente das folhas de papel para a tela do computador, como os

    poemas concretos que foram digitalizados j exige uma pesquisa de grandes

    propores. Da mesma forma com o estudo da nova dimenso da sonoridade

    potica, ou com o estudo da nova forma imaterial e transmutvel do verbo na

    tela de um computador, ou mesmo se se resolver pesquisar a imagstica na

    potica digital, to repleta de hibridismos entre as artes, a poesia, o design e a

    tecnologia. Enfim, so vrios os caminhos de pesquisa.

    Esta proposta de leitura segue um percurso conceitual terico j iniciado por

    outros, com maior ou menor flego, e apenas mais uma em meio a outras j

    existentes, como, por exemplo, as negociaes da poesia com os processos

    digitais, que est implcita em Poesia eletrnica (2008) e Poesia digital(2010),

    de Jorge Luiz Antonio, referncias obrigatrias para este tipo de pesquisa. Ele

    j cita a noo de predominncia das dimenses sgnicas ocorridas nas obras,

    por exemplo. Fala, como muitos outros (Jos Augusto Mouro, Antnio Risrio,

    Philadelpho Menezes, Wilton Azevedo, Rui Torres, Julio Plaza etc.), das

    dimenses verbais, visuais, cinticas, sonoras, interativas e hipertextuais. No

    entanto, nenhum deles se concentra objetivamente numa sistematizao

    destas novas formas discursivas, analisando-as em grupo(s) e isoladamente,

    assim situando-as melhor dentro de um complexo em que muitas interagem

    intersemioticamente entre si. Diz Jorge Luiz Antonio no artigo Leituras da

    Tecno-arte-poesia: importante mapear as leituras existentes e estabelecer

    um percurso (ANTONIO, 2012, p. 67).

    este o nosso desafio: contribuir para este caminho ao dar sequncia a um

    campo de discusso terico-crtico j iniciado. Nossas formulaes, atravs de

    observaes e de um raciocnio abstrato, pretendem seguir em busca de

    algumas verdades que devem aplicar-se aos mais diversos exemplos de

    poesia digital, situando cada obra a ser analisada dentro de um sistema

    semitico que possa auxiliar na abordagem. Tal perspectiva, alm de estender

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    as dimenses poticas costumeiramente apresentadas (verbal, sonora, visual,

    hipertextual, hipermiditica, interativa, animada, cintica) e categoriz-las em

    certa ordem, redefinindo posies, alm disso aborda cada uma delas,

    indicando caminhos de pesquisa.

    Cada categoria estudada deve ser vista em seus diferentes nveis, no

    podendo ser analisadas sempre numa mesma perspectiva. Ou seja, cada

    potica digital, em meio s mais variadas tipologias, traz um nvel prprio para

    cada categoria apresentada.

    Por outro lado, a presena de uma categoria numa obra no determinar que

    esta seja sua maior qualidade compositiva, j que seu nvel de representao

    pode estar menos expressivo, por isso no sendo to importante quanto outras

    categorias em meio s semioses de cada objeto. A diviso que ser

    apresentada ser apenas didtica, j que nenhuma das categorias pode ser

    interpretada sem ser luz de outra ou das outras.

    Em meio a uma exposio panormica sobre cada uma delas, algumas

    abordagens serviro de exemplos da metodologia exposta.

    Categorias potico-digitais:

    1. Categoria verbo-digital

    Esta categoria diz respeito ao signo verbal convertido em bits. Ao selecionar

    seu objeto de abordagem, movido, obviamente, por critrios que devem

    distingui-lo de pseudo-obras que no passam de experimentalismos semnenhuma conscincia da linguagem potica, ou seja, aps uma escolha movida

    pela filtragem necessria, pergunte-se: como o verbal est apresentado na

    obra?

    Um elemento metodolgico fundamental para uma anlise neste sentido a

    devida articulao dialgica que deve ser estabelecida entre a tradio potico-

    verbal, vinda da bidimensionalidade do papel, e a palavra-potica convertida

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    em bits. A forma de representao da palavra no meio digital em sua

    essncia imaterial e transmutvel vai dizer muito sobre as relaes sgnicas

    que podero ser estabelecidas quando se fizerem as devidas relaes

    intersistemas.

    Diz Antonio Risrio, no Ensaio sobre o texto potico em contexto digital,

    que importante entender o significado geral da estruturao da informao

    esttica verbal, sob os efeitos das tecnologias contemporneas de inscrio

    sgnica (RISRIO, 1998, p. 43).

    Entender a unidade estrutural na qual a matriz sgnica verbo-digital est

    inserida, seja atravs de que recurso tecnolgico ou programa for4, entender

    a informao esttica verbal dos novos meios a que se refere Risrio.

    Tal esttica existe moldada em relaes intersemiticas que operam na tela do

    computador. Por isso preciso ter conscincia da palavra tipogrfica, da

    fisicalidade das letras (em movimento ou estticas), conscincia de suas

    materializaes e desmaterializaes, de suas sequncias e recorrncias (seja

    em uma ou em mais telas), possibilidade ou no de interao etc., tudo isso em

    meio a um cruzamento de signos que representam uma escrita digital em

    expanso.

    A atividade imaginativa ser necessria para uma reinveno da leitura da

    palavra potica, atravs de uma reinveno do olhar. preciso perceber as

    chaves perifricas de interpretao e os caminhos de experimentao de

    leitura, explcitos ou em forma de charadas e testes. Pignatari (2004) chama osigno literrio de signo verbal sensvel e que, para defender sua sensibilidade,

    4Sem dvida, em maior ou menor grau, certo conhecimento de programao e de softwaresso fundamentais na abordagem de poemas digitais. Concluem isso, em seus textos citadosneste trabalho, Lcia Santaella e Pedro Reis. Fiquemos com as palavras de outra defensoradesta perspectiva, Irene A. Machado, no ensaio Gneros no Contexto Digital: Se para ocontexto de investigao de Bakthin bastava afirmar que por trs de todo texto est umalngua, no ambiente cultura digital necessrio introduzir alguns acrscimos (...) precisoconsiderar tambm as ferramentas que constroem os gneros. A tela dialgica construda porprogramas capazes de modelizar as interaes. Desse conjunto resulta o enunciado concretoda comunicao digital (MACHADO, 2002, p. 75).

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    opera na interface (PIGNATARI, 2004, p. 13). esta interface entre os vrios

    signos diferentes que representa a prpria essncia da categoria verbo-digital e

    da poesia digital em geral. Esta interface apresentar o lirismo da obra, sua

    forma de representao e o papel da tradio no sistema. Neste sentido, a

    semitica peirceana fundamental para observar o funcionamento dos

    legissignos e dos sinsignos, assim como dos cones, dos ndices e dos

    smbolos nas obras, alm de suas misturas e relaes com as outras relaes

    tricotmicas.

    A esttica do estranhamento e sua fixao verbal podem ser abordadas

    atravs da compreenso de suas formas de representao. Isso quer dizer que

    os signos digitais verbais-poticos estaro amalgamados num determinado

    nvel semitico de relao inter-cdigos, repleto de mobilidades plsticas, e

    precisaro ser decifrados para a realizao das leituras e explicao das

    semioses, demonstrando o desempenho dos signos.

    O estudo das coordenaes entre sons e significados, prprios do estudo das

    lnguas, deve ser encarado, no contexto da poesia feita com computadores,

    como o estudo de uma nova lngua (computadorizada) que funde-se com os

    signos verbais.

    A palavra passa a se realizar atravs de feixes de luz que transitam no espao

    do ecr. Sendo assim, pode aparecer e desaparecer, ou aumentar de tamanho,

    ou mesmo transformar-se num cone ou em vrios. Alm disso podem ser

    expressas de forma mais ou menos tradicional (sintaxe linear, mesmo tamanho

    e cores dos caracteres etc.); de forma artstica e visual; em forma de conesanimados; em forma de oralidade nos vdeos etc. So extremamente

    transmutveis graas aos cada vez mais potentes softwares. Por isso mesmo

    precisam ser analisadas neste sentido de imaterialidade, pois oferecem novas

    formas de expresso que conduzem a leitura a novas percepes sensitivas e

    a novas configuraes do inteligvel.

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    1.1. Subcategorias do verbo-digital

    Com certo cuidado podemos atualizar teoricamente as categorias poticas

    poundianas de melopeia, fanopeia e logopeia em meios digitais. Os mesmos

    efeitos poticos de som, imagem e jogo de sentidos podem funcionar, em

    alguns casos, como em Soneto Digital5, de Fernando Aguiar, por exemplo, da

    mesma forma e irem alm, medida que esto envolvidos na interface com as

    imagens na tela do computador, que so lidas primeiramente com os olhos, e

    com a sonoridade das caixas de som ou dos fones de ouvido.

    A melopeia encontrada na linguagem dos poemas que compem a obra,

    exatamente como na bidimensionalidade da folha do papel, em meio a um

    discurso linear, ganha um novo tecido semitico, atravs da iconicidade

    (imagem) presente no espao do ecr, com, entre outros signos, vrios dedos

    dispostos na tela, sugerindo os 14 versos de um soneto, o que lembra um

    trabalho de artes plsticas ou uma pintura impressionista.

    Esta reconfigurao pode ser vista e estudada como uma subcategoria do

    verbo-digital chamada de melofanologopotica-digital. Cada uma das trs

    (melopaico-digital, fanopaico-digital e logopaico-digital) devem ser analisadas

    quando efetivamente presentes e envolvidas em determinadas formas de

    escritura digital.

    Tanto a subcategoria melopaico digital quanto a fanopaico digital no devem

    ser confundidas, respectivamente, com a categoria imagtico-digital (imagem

    computadorizada no espao do ecr, em forma de feixes de luz e numalinguagem binria) nem com a categoria sonoro-relacional (inter e

    multimiditica).

    5 AGUIAR, Fernando. Annexes: Imaginary Post Office. In: ANTONIO, Jorge Luiz. Poesiaeletrnica: negociaes com os processos digitais / Electronic poetry: Negotiations withDigital Processes: Theory, History, Anthologies. So Paulo, SP: Navegar; Columbus, Ohio,EUA: Luna Bisontes, 2010. DVD.

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    Imagem 1: Soneto Digital, de Fenando Aguiar.

    A essncia desta categoria fundamentalmente a natureza da reconfigurao

    do verbal em meios eletrnicos, convertido em bits, isso em vrios nveis de

    transgresso com a tradio. Diante da dialtica tradio/inovao, este

    conceito de verbo-digital deve ser estudado principalmente sob a perspectiva

    do legissigno e do sinsigno, j que tanto signos movidos por convenes

    poticas quanto signos resultados de singularidades especficas do suportecomputacional passam a dialogar na poesia dos verbos-digitais, suscitando

    nossos hbitos interpretativos e ao mesmo tempo nos conectando aos objetos

    destes novos signos.

    Existem, enfim, vrios nveis de representao do verbo-digital, desde casos

    em que umas poucas palavras surgem na tela, predominando o imagtico-

    digital e o sonoro-relacional, como em Comedia, de Andr Vallias, em ; at casos em que tanto

    palavras escritas digitalmente quanto palavras orais vindas das caixas de som

    surgem aos montes, de forma simultnea, dificultando, ou mesmo

    impossibilitando, o leitor de determinar um nico caminho de leitura, como em

    Candles for a street corner, de Robert Kendall, em

    , s para citar dois

    exemplos diferentes de representao do verbo-digital.

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    2. Categoria sonoro-relacional

    As mdias das sonoridades eletrnicas e digitais, sejam caixas de som, fones

    de ouvido ou qualquer outro objeto produzido para o mesmo fim, so o meio

    pelo qual a categoria sonoro-relacional se apresenta, atravs da produo de

    grficos sonoros que funcionam como imagens acsticas que mobilizam

    passagens do qualissigno (possibilidade lgica do signo) para um signo

    icnico, dando ideia de um ou mais objetos. Ser preciso relacionar os

    legissignos (leis, convenes) e os sinsignos (signos indicativos) em meio aos

    processos semiticos existentes nas obras.

    Observa-se/ouve-se em muitas obras diferentes tipos e nveis de semioses

    com efeitos audveis, ora apresentando-se reprodues sonoras da tradio,

    com sons facilmente identificveis e canes famosas, por exemplo, ora

    apresentando, ou mesmo misturando, inovaes acsticas prprias dos efeitos

    computacionais, algo conseguido apenas na linguagem de programao dos

    computadores.

    importante destacar que esta sonoridade no deve ser abordada sem as

    devidas relaes semiticas com as outras categorias existentes na obra, como

    a verbo-digital e a imagtico-digital, por exemplo. Sua funo semitica

    relacionar-se com os outros signos para gerar novos signos, que, por sua vez,

    reverberam na estrutura da obra, gerando semioses poticas dinmicas,

    polissmicas e polifnicas.

    Os cones acsticos so responsveis por boa parte do lirismo digital das

    obras, dando o tom necessrio para possveis leituras interpretativas. Tem-se a

    possibilidade de mesmices e estranhezas sonoras, combinaes e

    relatividades, charadas e testes, que nos levam a um estranhamento da

    linguagem, oferecendo-nos novas possibilidades de ver/ler/ouvir a poesia.

    Pode-se inclusive se apresentar a possibilidade do que Wilton Azevedo chama

    de processo de resposta interativa, quando sons so produzidos de acordo

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    com a interao do leitor-autor que manuseia os signos de acordo com suas

    escolhas, gerando sons consequentes destas escolhas de navegao do

    poema.

    Isso demonstra que na poesia digital em muitos casos, mas no em todos

    os paradigmas sonoros da lngua entram em tenso com novas formas de

    sonoridade, advindas de novas mdias e que, algumas vezes, funcionam como

    a prpria poesia sonora (parte das poticas contemporneas) dialogando com

    signos tecnolgicos e verbais para compor esta potica dos meios

    computacionais. A sensao de nossos ouvidos agora outra, porque precisa

    traduzir tais sons de maneira nova. Estas tradues so justamente o plano

    inteligvel e interpretativo entrando em cena para se explorar novas

    significaes. A obra digital Oraculum, de Joesr lvarez

    (), oferece-nos um

    bom exemplo da presena marcante da categoria sonoro-relacional, quando

    apresenta um sample de um mantra recitado por monges tibetanos quando

    passamos o mousesobre as palavras dispostas na tela.

    Imagem 2: Oraculum, de Joser lvarez.

    Este som envolve e envolve-se com as semioses realizadas pelas palavras

    (mistrio, transcendncia etc.), assim como com as cores (escuras preto e

    cinza) e a visualidade, j que faz uma analogia, atravs dos cones na tela,

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    com tambores, elementos prprios de situaes que envolvem rituais.

    Possibilita-se, assim, o funcionamento de vrias semioses nas relaes

    intersemiticas estabelecidas.

    Como os sons explorados podem ser conhecidos ou no, tambm deve ser

    vista sob a perspectiva das singularidades do sinsigno e tambm, quando for

    possvel, perceber o dilogo com as convenes, agora focando os legissignos.

    Num poema, por exemplo, podemos nos deparar com um refro de uma

    msica, ou som de um carro, ou o latido de um cachorro, mas tambm podem

    ser explorados sons novos, ininteligveis, fora das convenes de leitura.

    O poema Roda lume, de Melo e Castro que pode ser encontrado no DVD

    de J. L. Antnio (ANTONIO, 2008) apresenta a categoria sonoro-relacional

    como sendo uma das predominantes e responsveis pelos efeitos semiticos

    nas relaes entre os sistemas. A sonoridade neste poema baseada em

    cdigos verbais orais j estabelecidos pela tradio, no caso os sintagmas e

    paradigmas orais encontrados nas palavras roda e lume.

    J Andr Vallias, em ,

    apresenta uma sonoridade que deve ser vista como sinsigno indicial dicente,

    ou seja, signo afetado diretamente por seu objeto, o que leva o campo da

    segundidadepeirceana a um destaque na abordagem.

    So justamente os cones diagramticos na tela que dialogam com esta

    sonoridade adequada ao sistema icnico imagtico, tambm estranho e

    misterioso, que apresenta poucas palavras na obra.

    Enfim, cabe ao analista saber identificar os quadros indiciais das realizaes

    sgnicas e relacion-los tradutoriamente com as outras categorias que estejam

    presentes e predominantes nas poesias digitais abordadas.

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    3. Categoria imagtico-digital

    Alm da nova configurao dos paradigmas sonoros e verbais, temos tambm

    uma nova configurao dos paradigmas visuais que geram novas formas de se

    sentir/interpretar a poesia. As imagens poticas consagradas pela tradio e

    vistas por Ezra Pound como elementos da fanopeia passam a dialogar com

    variados tipos de outras imagens de natureza computacional, tais como

    grficos, diagramas, imagens representativas da pintura, da fotografia, do vdeo

    e tambm pelas animaes em geral, recuperando e traduzindo, assim, a

    memria artstico-histrica disponvel instantaneamente atravs das formas

    eletrnicas.

    Sendo assim, a boa coordenao entre as imagens do poema, independente

    de suas naturezas (dentro desta categoria imagtico-digital), seja em uma ou

    em vrias telas, [esta boa coordenao] imprescindvel nesta nova forma

    sensitiva de interpretar tais paradigmas e sintagmas, ou tais cones e smbolos,

    como diria Peirce.

    Nesta reconfigurao do plano inteligvel do discurso, importante observar o

    carter relativo das visualidades, j que semioses podem ser exploradas em

    imagens potico-digitais estticas e tambm em visualidades que apresentam

    movimento de cones, como nas imagens animadas em java script e flash, por

    exemplo.

    O grande desafio aprender, cada vez mais, a ler com os olhos, desvendando

    os caminhos de leitura possibilitados pelos quadros indiciais do poema, em suainterface grfica, num verdadeiro design de gneros na construo dos

    ambientes.

    Ser preciso desvendar, neste cenrio, a iconicidade imagtica, diagramtica e

    metafrica dos signos em meio aos processos de semiose instaurados. Para

    isso, fundamental perceber os quadros referenciais relativos aos segmentos

    precedentes ou consequentes no prprio discurso, em busca da auto-

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    referencialidade dos signos. Esta iconicidade, tambm chamada de endofrica,

    uma referncia icnica a outros momentos ou lugares de uma mesma

    estrutura textual, o que se configura num princpio da recorrncia da linguagem

    em meio a reiteraes, paralelismos, repeties etc., seja em uma ou mais

    realizaes na superfcie imaterial e transmutvel do ecr. Ou seja, ser

    preciso explorar cuidadosamente as vrias telas de leitura e o efeito do todo ou

    dos todos.

    So vrios os caminhos de leitura com os olhos. Neles, os signos indiciais

    implcitos e explcitos do o tom lrico da composio, seja com a presena ou

    no das categorias HHMI (que ser vista mais a frente) e/ou sonoro-relacional.

    Sero os softwarespeas importantes na criao dos signos perifricos, sejam

    estticos ou em movimento, em uma ou mais telas. O que se tem, muitas

    vezes, um lirismo no, ou quase nada, especificado, o que gera estranhezas

    na percepo. No entanto, os cones e os signos icnicos sero responsveis

    por uma gramaticalidade visual com combinaes e relatividades das imagens,

    numa nova sintaxe para os olhos-leitores. Este lirismo imagtico surge de um

    grande dilogo entre o design, o desenho, a pintura, o vdeo, a fotografia e a

    computao grfica, o que configura uma verdadeira esttica do

    estranhamento.

    No livro Potica e Visualidade, Philadelpho Menezes chama ateno de como

    a poesia de hoje uma arte, mais do que nunca, de especialistas da linguagem

    que tm plena conscincia dos instrumentos utilizados na construo de um

    poema (MENEZES, 1991, p. 9). Segundo o autor, a ampliao da articulao

    dos cdigos representa uma articulao da prpria linguagem. A leitura daarticulao imagtica, por parte do interpretante, fundamental neste

    processo.

    J Julio Plaza, no livro Traduo Intersemitica (2010), diz que

    performances estticas so realizadas atravs das formas eletrnicas. Os

    meios eletrnicos geram efeitos poticos (Poe) que apresentam ressonncias

    entre suas imagens e o expectador. Diz Plaza:

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    As imagens eletrnicas criam efeitos inclusivos [...] so imagensvirtuais de algo que pode vir a ser, mas no por muito tempo, eque se desprendem das qualidades materiais dos suportes nos quaisesto incorporadas. Esta unicidade de aparncia dos meios cria

    relaes ressonantes com o sujeito que percebe. Uma ressonnciaque suspende o tempo de comunicao, um efeito de efmero-eterno(PLAZA, 2010, p. 207).

    A pesquisa em torno da categoriaimagtico-digital possibilita repensar as inter-

    relaes entre as imagens nos diversos sistemas de linguagens que propiciam

    as performances citadas por Plaza, estes efeitos encantatrios em instantes

    de qualidade. Assim como o autor estabelece em sua Traduo Intersemitica

    (tese de seu doutorado) uma viso co-extensiva formulada por Haroldo de

    Campos sobre a Traduo Potica, nossa pesquisa estabelecer uma viso

    co-extensiva com a teoria de Julio Plaza, adicionando elementos que seriam

    somados a suas reflexes sobre performances estticas em meio aos

    suportes eletrnicos.

    Enfim, a imaginao criativo-construtiva por parte do interpretante

    fundamental para preencher os vazios que as imagens podem apresentar.

    Deve ocorrer uma reinveno do olhar para melhor captar a essnciaimagtico-digitalde uma obra. Atravs de uma relao dialtica entre texto e

    leitor, o efeito esttico embora motivado pelo texto exige do leitor atividades

    perceptivas e imaginativas voltadas para as imagens digitais, j que tal leitura

    consiste na reanimao de imagens sensveis provenientes das percepes

    anteriores e nas infinitas possibilidades de combinao de imagens simples em

    outras mais complexas.

    Todas as poesias digitais apresentam a categoria imagtico-digital, afinal, so

    poemas para serem vistos/lidos nas telas de um computador. No entanto, cada

    obra traz nveis imagsticos diferentes a serem pensados na captao das

    semioses para serem levados em conta de acordo com suas importncias

    semiticas dentro dos sistemas. Em muitos casos, por exemplo, o verbo-digital

    ou caractersticas do hipertexto e/ou do interativo podem abafar a categoria

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    imagtico-digital no momento das leituras, levando a um enfoque

    primeiramente em outras relaes semiticas.

    Vejamos dois exemplos, um com um nvel simples e baixo da categoria

    imagtico-digital, a obra tempoespao, de Paulo Aquarone, encontrado no

    endereo ; e outro com

    uma complexidade imagtica de maior nvel, a obra logo logos, de Jorge Luiz

    Antonio e Regina Clia Pinto, encontrada em

    . No primeiro exemplo, apenas legissignos

    se apresentam em semioses sem grandes efeitos de desautomatizao da

    linguagem. J no segundo, os smbolos (as palavras lago, logo e logos) so

    iconizados para sugerir uma superfcie de um lago, em movimento de ondas

    constantes que redefinem e redistribuem espaos na tela, sugerindo o

    movimento das ideias (logo(s)) numa atmosfera lquida (lago). o prprio efeito

    potico de transformar smbolos em cones, agora superpotencializados

    atravs dos recursos computacionais e dos potentes softwaresda linguagem

    digital.

    4. Categoria HHMI (hipertextual, hipermiditica, multimiditica e

    interativa)

    Na categoria HHMI, o carter hipermiditico (interpenetraes das mdias) e

    multimiditico (justaposies das mdias) potencializa e transforma as

    semioses, assim como a hipertextualidade e a interatividade subvertem de

    forma profunda as formas estticas.

    A unio destas quatro caractersticas numa s categoria englobadora diz

    respeito aos traos comuns que, em maior ou menor grau, apresentam-se: a

    hipertextualidade quase sempre ocorre ao sabor das decises do leitor-autor

    que direciona suas leituras com as possibilidades interativas existentes, assim

    como a hipermidialidade e a multimidialidade geradoras de hipertextualidades

    so traos j presentes por natureza nas obras digitais.

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    Quando esta categoria predomina numa obra, isso quer dizer que as

    possibilidades de leitura e interpretao/criao sero imensas. Conceitos

    como navegar num site so aplicados aqui como navegar num poema. Isso,

    obviamente, faz da leitura um momento de escolhas, um caminho a

    percorrer/sentir/ler escolhido pelo prprio leitor, que se transforma em coautor

    potencial das possibilidades textuais que a obra pode oferecer.

    A categoria HHMI representa uma escrita digital em expanso que se vale de

    uma linguagem de programao possibilitadora de performances geradoras de

    vrios lirismos desfacelados em meio a uma migrao de formas discursivas

    cheias de combinaes, relatividades e correspondncias aproximativas. Para

    Peirce, um signo pode ter vrios objetos, o que ele chama de objeto complexo

    (PEIRCE, 1975, p. 96). Esta perspectiva semitica de observao dos objetos

    complexos fundamental na abordagem da categoria HHMI.

    A categoria HHMI traz em si, como vimos, uma escrita multi e intermiditica,

    interativa e hipertextual, o que propicia relao de participao. Tal relao diz

    respeito ao percurso interativo da escrita escolhido pelo leitor dentre as vrias

    possibilidades que os softwares usados na composio dos poemas

    apresentam.

    Pedro Reis, no artigo Media digital: novos terrenos para a expanso da

    textualidade (2012) reflete sobre as transposies dos limites convencionais

    da textualidade em meios digitais e demonstra como as transformaes de

    maior alcance que esta literatura digital pode produzir no contexto de texto so

    provocadas pelos textos mais interativos (REIS, 2012, p. 256). Pergunta-se oautor: Qual ser o estatuto de uma obra cujas manifestaes textuais so

    incessantemente mutveis? O que l o leitor quando l um percurso entre uma

    infinidade de percursos possveis?". Tais perguntas nos levam a reflexes em

    torno das aes dos leitores e seus percursos de leitura, operando variaes

    textuais e alterando o texto lido/percorrido, o que consequentemente passa a

    alterar o prprio contedo.

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    Antnio Risrio, no livro Ensaio sobre o texto potico em contexto digital, fala

    de uma materialidade textual atravs de arranjos sgnicos. Diz ele que o

    olhar crtico vai estar direcionado [...] mais para o plano estrutural do que para

    o plano semntico das mensagens poticas (RISRIO, 1998, p. 43).

    Como orienta o autor, a leitura deve enfocar menos as possibilidades

    semnticas de um resultado final de leitura do que o processo de construo

    das obras, sua estrutura. O que Risrio diz nos ajuda a entender as

    dificuldades de leitura das poticas digitais com categoria HHMI predominante,

    j que diz respeito noo do sistema funcional dos textos.

    Uma caracterstica marcante desta categoria diz respeito

    materializao/desmaterializao dos signos no espao do ecr do vdeo,

    quando, de alguma forma, so acionados na tela do computador.

    Jos Augusto Mouro, no livro Para uma potica do hipertexto, diz que esta

    desmaterializao espao resultante da virtualizao e simulao funciona

    da seguinte forma:

    Se nenhuma forma dada a priori, segue-se que toda a forma umagenciamento provisrio de singularidades moventes e livres e que ohomem ou o acaso so livres de as reunir de outro modo. E se nadaest gravado no mrmore da necessidade, ento tudo pode sercriado (MOURO, 2001, p. 2)6.

    Esta liberdade criativa a que alude o autor prpria do carter hipertextual e

    interativo de muitas poesias digitais, demonstrando que o plano semntico no

    mais fundamental do que o plano estrutural e que estudar a categoria HHMIexige, como podemos perceber, a necessidade de um esquema que possa dar

    conta destas singularidades moventes carregadas de possibilidades

    permutacionais, combinatrias e interativas.

    6

    Endereo eletrnico: .

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    Tudo isso traz uma complexidade que deve ser trabalhada a partir da

    relativizao dos nveis de cada um dos seus componentes (hipertextualidade-

    hipermidialidade-multimidialidade-interatividade), o que pode demandar uma

    pesquisa em torno de subcategorias.

    Cada obra que apresentar uma predominncia semitica desta natureza

    (HHMI) vai apresentar nveis prprios para cada componente. Isso quer dizer

    que a presena da interatividade, por exemplo, pode ser menos expressiva do

    que os hipertextos em determinada poesia digital e isso fazer diferena, ou

    vice-versa, assim como interatividade e hipertextualidade podem aparecer

    numa harmonia sgnica numa obra, ou no.

    Cada poesia traz sua potica e a potica digital, com natureza HHMI, traz a

    possibilidade de criao de infinitas outras, transformando o leitor, como vimos,

    num coautor. A trade leitor-texto-autor entra em crise e d espao a novas

    formas de aproximao entre leitores, autores e textos. A prpria noo de

    unidade textual se descontri diante desta nova configurao. A unidade passa

    a ser menos importante do que o caminho seguido, nico e, muitas vezes,

    incontornvel no processo de leitura.

    Um bom exemplo deste tipo de essncia pode ser visto no poema Amor de

    Clarice, de Rui Torres (http://telepoesis.net/amorclarice/). Nele, apresentam-se

    leituras hipertextuais atravs da interao possibilitada ao leitor que tambm

    torna-se autor do(s) texto(s), j que se pode mover e reposicionar os signos

    verbo-digitais. Poema j bastante estudado, serve como exemplo j bem

    definido de poesia digital: hipertextual, interatividade, possibilidade decoautoria, dilogo com a tradio e inovao da escrita, movimento dos cones

    na tela, interao entre artes diferentes, traduo intersemitica etc.

    Outra obra, agora de maior complexidade e transgresso com a tradio, que

    pode servir de exemplo j que tambm predominantemente composta pela

    categoria HHMI, Antilogia Laborntica (), de

    Andr Vallias. Nela, as possibilidades so muitas e os caminhos de leitura,

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    infinitos. Legissignos dividem espao com cones, diagramas, imagens, e a

    hipertextualidade e intertextualidade oferecem uma redistribuio sgnica na

    tela que exige do leitor uma boa capacidade de sistematizao em sua leitura,

    podendo faz-la de vrias maneiras a partir das sequncias de leitura

    percorridas. Neste caso, a interatividade predomina em relao

    hipertextualidade, j que esta tem limite no texto, mas aquela no, o que

    exemplifica o fato de que cada elemento da categoria HHMI deve ser visto em

    seus nveis semiticos.

    5. Categoria tempo-potico-digital

    O tempo de leitura de poemas entra em nova perspectiva com a poesia digital,

    j que a inscrio sgnica de obras impressas cede lugar a textos em gestao.

    Isso quer dizer que a categoria tempo-potico-digital deve ser vista como uma

    caracterstica importante na textualidade das obras digitais poticas,

    caracterstica esta que deve ser levada em considerao nas abordagens das

    semioses de cada objeto esttico analisado.

    Pedro Reis, no artigo j citado que trata das reconfiguraes da textualidade

    em meios digitais, aponta que a informtica introduz igualmente a

    temporalidade como elemento constitutivo dos textos, tanto no modo de

    produo como no da leitura (REIS, 2012, p. 262). Isso demonstra que o

    tempo um elemento que no pode ser desconsiderado nas abordagens das

    novas configuraes da textualidade das obras, j que os textos poticos

    criados atravs de recursos computacionais contemplam, segundo o autor,

    mais constituintes exteriores lngua, como o tempo e o movimento, porexemplo.

    Diz Pedro Reis em relao a esta nova perspectiva de leitura:

    Em vez de estar presente, o texto surge, sendo que o seuaparecimento pode ser global e instantneo ou, ento, podeapresentar-se sob forma de um encadeamento de chegadascontroladas dos seus elementos, havendo a considerar vrios fatores

    como os intervalos de tempo entre a chegada desses elementos, a

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    colocao da inscrio ou ainda as direes do deslocamento (REIS,p. 261).

    O que o autor demonstra que cada obra tem, em maior ou menor nvel,

    formas de representao que demandam tempos prprios de apresentao.Tem-se o tempo das essncias imagtico-digitais, das semioses verbo-digitais,

    das relaes intersemiticas, assim como o tempo dos programas que cada

    obra apresenta para operar realizaes sgnicas, como, por exemplo, a

    passagem de imagens numa tela para outras telas, a mudana de cores e

    tamanhos dos cones e o acesso a todas as possibilidades interativas que a

    poesia apresenta, entre outros. Tudo isso pode interferir na potica das obras,

    j que no ecr, diferentemente da bidimensionalidade do papel, a poesia (o

    texto) tem certa durao e diversas fases temporais.

    Diante disso, observa-se uma profunda alterao da leitura, medida que o

    leitor precisa ter sua ateno focada em diversos elementos textuais, como

    sons, cores, letras, slabas, palavras etc., e tambm focada nos processos de

    realizao desses mesmos elementos. Diz Pedro Reis sobre a instaurao da

    representao da temporalidade no texto digital:

    A questo do tempo e do ritmo no est totalmente ausente naexperincia de ler um livro de poesia impressa, dado que uma certadurao se encontra inscrita na experincia temporal vivida peloleitor. Porm, um poema animado em computador encontra-se sujeito durao de uma maneira dupla: nele se encontra a noo temporaltambm verificvel na leitura impressa que corresponde ao tempo daleitura do poema, varivel segundo a vontade do leitor, dado que estepode interromper a leitura, retom-la ou renunciar de forma definitiva,mas a esta acrescenta-se uma segunda noo temporal tributria dadurao da animao que determinada quer pelo funcionamentomaterial do computador, nomeadamente a sua velocidade deprocessamento, quer pela vontade do autor. Neste sentido, verifica-seuma expanso da noo de tempo, que na literatura impressa seencontra exclusivamente no domnio da atividade leitoral, enquantoque na literatura digital ela invade tambm o domnio do prprio texto.Esta instaurao do movimento e consequentemente datemporalidade como elemento estrutural do poema constitui, pois,uma inovao introduzida por esta corrente potica (REIS, 2012, p.263).

    Como explicitado pelo autor, esta caracterstica da temporalidade, consequente

    do movimento dos cones na(s) tela(s) dos computadores, representa um novo

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    campo de significao na textualidade dos textos digitais, j que os poemas

    animados em computador podem oscilar entre aparies rpidas e fugidias

    determinando, assim, efemeridades e evanescncias e a fixao permanente

    da escrita.

    O poema visual panpaz7, de Clemente Padin, em sua verso digital, por

    exemplo, desenvolve seu potencial esttico graas aos recursos

    computacionais empregados, os quais possibilitaram um aumento significativo

    de informao esttica na obra aps a traduo intersemitica realizada.

    Na perspectiva semitica, entre outras coisas, importante levar em

    considerao nas mais diversas relaes tricotmicas observadas as

    relaes dialgicas entre cone (imagem) e smbolo (palavra), em seus vrios

    nveis relacionais. Neste objeto, as categorias HHMI e sonoro-relacional no

    esto presentes, o que no desqualifica a construo potica estabelecida. O

    que, enfim, se observa nesta traduo uma poesia visual reconfigurando-se

    numa obra digital, com a adio do movimento do cone potico, o que gera

    inevitavelmente novas leituras.

    J um poema como Nous n'avons pas compris Descartes, de Andr Vallias,

    () apresenta um maior e mais

    complexo tempo de realizao de leituras. Ser importante, enfim, observar

    estes tempos de leitura em suas influncias nas poticas e vice-versa, como as

    poticas influem no tempo de leitura.

    6. Categoria de traduo-intercdigos

    Cada traduo , como diz Julio Plaza, no livro Traduo Intersemitica

    (2010), um momento de recriao, de metacriao, de prtica crtico-criativa,

    de dilogos intersignos, como sntese e re-escritura da histria. Isso quer

    7 Disponvel em: . Ascategorias predominantes que devem ser encaradas neste tipo de poesia digital a datraduo-intercdigos (prxima categoria a ser vista), do verbo-digital, imagtico-digital etambm o tempo-potico-digital, j que os poucos segundos de realizaodo poema podemsugerir a velocidade do objeto representado pelo cone indicial da estrutura verbal que nos fazver um bumerangueatravs do posicionamento das palavras pan e paz. Logo, esta categoriaprecisa ser trabalhada e bem configurada em meio s semioses

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    dizer que a captao desta categoria em uma leitura requer uma competncia

    semitica acentuada por parte do analista para no se perder o carter

    dialtico dos signos no dilogo com a obra anterior. Segundo o autor:

    A relao passado-presente constitui-se na realidade em dois polosdialticos cuja conjuno como opostos necessria, uma vez queeles se apresentam em qualquer projeto potico: mesmo quando anega, a origem de toda arte encontra-se sempre na arte precedente.O artista aprende (e ensina) do artista. Na traduo, entretanto, essacaracterstica se acentua. O espao-tempo da traduo o dacoincidncia e da sincronia entre passado e presente, o daressonncia entre formas artsticas (PLAZA, 2010, p. 205).

    Sendo a traduo vista pelo autor como potica sincrnica, ele reflete sobre as

    semioses entre os signos de naturezas diferentes, verbais e no-verbais, emmeio a um dialogismo entre passado e presente, observando como a traduo

    entre as variadas artes fundamental neste processo. A categoria da traduo-

    intercdigos representa a prpria dinmica essencial dos objetos estticos que

    apresentam poesia digital. Isso pode ser estudado em dois sentidos. Primeiro,

    seguindo a perspectiva da poesia migrante, de traduo de uma obra em outra,

    por exemplo, numa migrao da folha do papel para a tela do computador.

    Neste sentido, chamo de traduo-intercdigos externa a traduo que se d

    entre obras que apresentam suportes diferentes.

    Ser preciso perceber a diminuio ou aumento do tom lrico na traduo

    realizada, observando e levando em considerao, nas anlises, as

    informaes redundantes na obra traduzida, assim como as potencializaes

    semiticas desempenhadas pelos signos no suporte informtico, e tambm

    levar em considerao as informaes novas e consequentes novas

    semioses , isso graas s peculiaridades do novo suporte. Ou seja,

    imprescindvel, na categoria de traduo-intercdigos, manter o foco da

    abordagem voltado para a fora potica atingida na traduo intersemitica

    realizada. Um bom exemplo pode ser visto na obra Cinco Poemas Concretos,

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    de Cristian Caselli8, em .

    Neste caso, temos releituras das poesias concretas que potencializam as

    semioses j sugeridas pelos poemas na bidimensionalidade do papel e indo

    alm ao apresentarem novas possibilidades de leituras, graas aos recursos

    computacionais. Nela, encontramos algumas poesias concretas que foram

    reconfiguradas no suporte computacional, adicionando efetivamente o

    movimento sugerido nas poesias concretas e visuais vindas da

    bidimensionalidade das folhas de papel.

    O autor potencializa ao extremo a essncia semitica dos textos-base, quando

    consegue sugerir a transformao dos smbolos em cones. Enfim, o carter

    icnico, indicial e simblico dos signos so muito presentes nesta obra e

    devem ser observados, assim como os signos icnicos, como a imagem, o

    diagrama e a metfora.

    Uma segunda perspectiva que tambm pode ser estudada paralelamente

    primeira a da traduo-intercdigos realizada na estrutura de uma mesma

    obra, quando o autor, ou equipe de autores, cria estticas em que os sentidos

    podem ser bastante explorados nas tradues simultneas entre os diferentes

    cdigos disposio na leitura (signos verbais, sonoros, visuais etc.). Pode ser

    chamada de traduo inter-cdigos interna a composio que for explcita e

    semioticamente consciente por parte do autor ou autores do texto em relao

    criao de um espelhamento sgnico. Certamente, as obras poticas trazem

    tradues intersemiticas entre os diferentes signos que as compem, mas

    nem sempre isso reforado conscientemente e trabalhado a ponto de

    transformarem-na em elemento bsico de suas poticas. Um bom exemplo dascategorias de traduo-intercdigos externa e interna pode ser visto na obra

    8 Formado em Jornalismo, tem se destacado no audiovisual alternativo carioca por suaproduo acelerada (cerca de 30 obras, entre clipes e curtas) de baixo oramento, semprefazendo direo, roteiro e edio de todos. Seus filmes podem ser facilmente encontrados noYoutube e no site Curta o Curta. tambm curador e responsvel pela parte videogrficada Mostra do Filme Livre, que teve sua oitava edio no Centro Cultural Banco do Brasil (RJ)em 2012.

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    EUSENCONTROSEUSENCONTROS, de Clia Mello9, na Revista Artria 8

    ().

    Na perspectiva da traduo intercdigos-externa dessa obra, temos uma

    traduo que parte de uma exposio fotogrfica, da mesma autora, intitulada

    Eusencontros, para uma poesia digital em que a construo verbo-digital na

    exposio delimitada semanticamente em torno do ttulo da obra ganha

    contornos de alta poeticidade atravs dos recursos computacionais utilizados,

    potencializando ao mximo os efeitos poticos.

    No caso da traduo-intercdigos interna, o sistema verbal efetivamente refrata

    o sistema icnico, e vice-versa: dispostas na tela paralelamente, estes dois

    sistemas (verbal e imagtico) parecem refletir intersemioticamente um no outro,

    j que a estrutura truncada do ttulo , entre outros exemplos, sugerida pelas

    linguagens das imagens que se sucedem na tela. A ideia de vrios eus e seus

    encontros em oposio a um eu sem encontros (leituras possibilitadas pela

    construo verbal) so traduzidas explicitamente na sucesso de fotos-

    imagens que, algumas vezes, sugerem uma mulher se preparando para um

    encontro, outras do noes de solido e tristeza por parte dessa mesma

    mulher, ou seja, sem nenhum encontro. Este exemplo ilustra justamente esta

    possibilidade por parte dos poetas programadores de criar obras em que

    sistemas de naturezas diferentes se refratam implcita ou explicitamente, como

    ocorre neste exemplo de Clia Mello.

    9Clia Mello, nascida em So Paulo, mestre em fotografia desde 2001 pelo Departamento deRelaes Pblicas, Propaganda e Turismo da Escola de Comunicao e Artes (ECA), da USP;formada em Biologia Marinha pela Faculdade de Biologia e Psicologia Maria Thereza,Niteri/RJ, em 1987. Participou de diversos cursos na rea de fotografia. Atua desde 1993como professora de Fotografia e Anlise da Imagem na Faculdade de Comunicao e,atualmente, leciona na PUC-SP (Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo).J participou de diversas exposies coletivas e individuais, destacando-se, entre elas, aexposio "EUSENCONTROSEUSENCONTROS", Srie 1, realizada na Aliana Francesa, em1994; e, em 2008, na Galeria Colorida, em Lisboa, Portugal. Teve participao na II SemanaSergipana de Fotografia em 1993; II Bienal Nacional de Santos em 1991; I Bienal Internacionalde Fotografia Cidade de Curitiba em 1996. Participou do 3 e 4 Festival Internacional Paratyem Foco, em 2007 e 2008; e do DeVercidade - dentro e fora do olhar, em Fortaleza, 2010.Realizadora e editora do site www.fotografiacontemporanea.com.br e da Feira de Fotografia"Captura da Luz". (Informaes adquiridas no site da autora). Acesso em 10/04/2013.

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    PROSPECTS FOR READING POETIC-DIGITAL

    ABSTRACT: New ways of making poetry come amid media computing. This new poetry makingpresents an innovative form of writing for the eyes, hence categories poetic characteristic ofcomputational begin to configure the systems created in these ways. This requires readers newinsights and interpretations in a proper way to see read hear translate poetry. The purpose of

    this paper is to present a possible approach methodology of digital poetics, whatever theirtypology is independent of the technology available at the historical moment of hiscompositions. The theoretical basis to assist in the explanation of the approach is the semiotictriadic trichotomy of Charles Sanders Peirce. The importance of Peircean semiotics is thepractical ability of observation of any phenomenon, in our case situating best verbal signs andtheir new settings in relation to the signs of a different nature. The advantage is the possibility ofgreater understanding of the poetic phenomenon. To Decius Pignatari (2004), Peirceansemiotics is intended to play a major role, both in literary criticism and in theory. It is hoped, inthis sense, contribute to the route conceptual-theoretical overview of poetry in computationalmeans existing, something that has been so well developed by authors such as Julio Plaza,Antonio Risrio, Wilton Azevedo, Philadelpho Menezes, Jos Augusto Mouro, Pedro Barbosa,Jorge Luiz Antonio, Alckmar Luiz dos Santos, Pedro Reis and Rui Torres, to name a fewleading researchers.

    KEYWORDS: Digital poetry. Semiotic. Methodology approach.

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