fl1260_ferreira al 1988 mucajai

9
AMAzONIANA . x 3 339 - 352 Kiel.. Oktober 1988 Aspectosecológicos da ictiofauna do Rio Mucajai, na área da ilha Pareo, Roraima, Brasi l* de Efrem Ferreira, Geraldo M.dos Santos  Michel gu Efrem Ferreira. Geraldo M. dos Santos, INPA·DBA, c. p. 478 69 83 Manaus - AM, Brasil. Michel Jégu, ORSTOM/INPA, c. p. 478, 69083 Manaus - AM, Brasil. (aceito para publicação: Setembro 1988) Ecological aspects of the fish fauna of the MucajaiRiver, in lhe Paredão Island region, Roraima, Brazil . , Abstraci Ichthyofauna survey were carried out in the Paredão Island region of the Mucaja í River, where possibly. in the future, a hydroelectric damwill be built. A total of 126 fish species. belonging to 28 families were captured,at two collectíng sites, one below and other above the Paredão 2falls. Although these two stations were separated by a 20 meter waterfall, lhe sirnilarity between the two communities was hi h. Shannon s diversity index, evenness and catch per unir effort (CPUE) were rather high, cornparing to other Amazonian rivers. The high value of equitabil ity (0.82) suggests that lhefish communities are in equilibriurn. ln terms of biomass, lhe p.e dator species were dominant and in number of specimens the detritivores were more abundsnt. II iscxpected that lhe constructíon of adam wouId affect the equilibrium of thefish communties in this area, by lowering lhe number of fish species and changing the composition of the fish communities. Keywords: Mucajaí River, synecology, ichthyofauna, Amazónia, reservoir. .  .  Convênio INPA/CNPq MCTIENGE.RI0. 0065-67551 19881 3391 © MPI r Limnologie, AG Tropenõkologie, Plón: INPA, Manaus

Upload: ceflemos1043

Post on 19-Jul-2015

83 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai

5/16/2018 FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/fl1260ferreira-al-1988-mucajai 1/9

 

AMAzONIANA . x 3 339 - 352 Kiel..Oktober 1988

Aspectos ecológicos da ictiofauna do Rio Mucajai, na área da ilha Paredão,

Roraima, Brasil*

de

Efrem Ferreira, Geraldo M. dos Santos & Michel Jêgu

Efrem Ferreira. Geraldo M. dos Santos, INPA·DBA, c. p. 478,69083 Manaus - AM, Brasi

Michel Jégu, ORSTOM/INPA, c. p. 478, 69083 Manaus - AM, Brasil.

(aceito para publicação: Setembro 1988)

Ecological aspects of the fish fauna of the MucajaiRiver, in lhe Paredão Island region,

Roraima, Brazil

.,

Abstraci

Ichthyofauna survey were carried out in the Paredão Island region of the Mucaja í River, where

possibly. in the future, a hydroelectric dam will be built. A total of 126 fish species. belonging to 28

families were captured, at two collectíng sites, one below and other above the Paredão 2 falls.

Although these two stations were separated by a 20 meter waterfall, lhe sirnilarity between the

two communities was high. Shannon's diversity index, evenness and catch per unir effort (CPUE) were

rather high, cornparing to other Amazonian rivers. The high value of equitabil ity (0.82) suggests that

lhe fish communities are in equilibriurn.

ln terms of biomass, lhe p.e dator species were dominant and in number of specimens the

detritivores were more abundsnt.

II is cxpected that lhe constructíon of adam wouId affect the equilibrium of the fish communi·

ties in this area, by lowering lhe number of fish species and changing the composition of the fishcommunities.

Keywords: Mucajaí River, synecology, ichthyofauna, Amazónia, reservoir.

.'.

"Convênio INPA/CNPq!MCTIENGE.RI0.

MPI für Limnologie, AG Tropenõkologie, Plón: INPA, Manaus

Page 2: FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai

5/16/2018 FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/fl1260ferreira-al-1988-mucajai 2/9

0065-67551 19881 3391 © MPI für Limnologie, AG Tropenõkologie, Plón: INPA, Manaus 

Área de estudo

Figura I:

Mapa do Território Federal de Roraima, mostrando a área estudada e a local ização das estações decoleta.

Estação

montante

Ig Tra.ta I°

AMAZONAS

6 0'

:..RORAIMA :

_._ • _ ....... A.. \0(>

:}--

2'

AMAZONAS

4 " ".

64 ·

lOQkm

f-------<

No estudo da similaridade das faunas utilizamos dois índices, o de Sorensen e o de Raa be , comoutilizados por FERREIRA (1984a), sendo que no primeiro foram utilizados todos os exemplares capturados, independente do método empregado na captura, e no segundo apenas as espécies capturadascom malhadeiras, uma vez que este método leva em consideração o número de exemplares capturados.Para a diversidade utilizamos o índ ice de SHANNüN (I 948), de acordo com MERüNA (1986/87), Aequitabilidade (E) ou medida da diversidade relativa foi calculada pela fórmula: E = 1/101',:--1, onde N éa nqueza ou número de espécies, e I o índice de diversidade de Shannon.

As espécies foram classificadas. segundo sua alimentação, em cinco categorias: (I ) detritfvoras:(2) herbívoras; (3) onivoras; (4) carnívoras (invertebrados); e tS) piscívoras.

Consideramos como esrando em reprodução todos aqueles indivíduos qu e mostravam asgónadasprontas para desova. ou já desovadas.

VENEZUELA

A bacia do rio Mucaja í, está localizada na região centroocste do Território Federal de Roraima,entre as latitudes 2° 00' e 3° 00' N,e longitudes 60° 3D'e 64° 00 ' Wcom uma á re a de 19.490 km'.Esta bac ia tem aproximadamente 330 km de comprimento por 60 km de largura . enquanto que o r ioMucaja i tem cerca de 510 km de comprimento. É portanto um rio bastante SInuoso, com muitas,

cachoeiras e correde iras em seu curso médio e superior . Ele é um afluente do rio Branco, sendo navegável somente em pequenos t rechos próximos da sua desembocadura, e apenas na época de cheia.

ü r io Mucaj aí tem seu curso sobre o Escudo das Guianas. de origem pré-cambriana. Seu cursosuperior percorre solos podzólicos vermelho-amarelo. Seu curso médio, incluindo a região em estudo, écomposto de la tossolo, e o curso inferior .de solo hidromórfico (IBGE 1981).

Todo o cur so do r io Mucaj aj está local izado em região de floresta densa de baixas e médiasaltitudes. Somente a região do Cursosuperior. próxima das cabeceiras, encontra-se em região de florestadensa de montanha ({BGE 1981). -

Material e Métodos

Introdução

Foram amostrados dois locais no rio Mucajaí. dentro da área de influênc ia da provável futurahidrelétrica, Um destes está situado c erca de 5 km à montante e o outro c er ca de 2 km à jusante dacachoeira Paredão 2 (Fig. I). As coletas foram realizadas nos meses de outubro de 1986, fevereiro emaio de 1987.

Utilizamos nas capturas uma bateria composta por II malhadeiras com 20 metros de comprimento cada uma, e com tamanhos de malha variando de IS a 120 mm, d is tâ nc ia entre nós opostos.em pescarias de 24 horas de duração. Estes apare lhos foram utilizados para a obtenção dos dadosquantitativos que servem de base para asaná lises de densidade populacional. similaridade, diversidade,equitabilidade e riqueza ictiofaunística, além das informções sobre alimentação e reprodução. Tambémutilizamos timbó na capturados peixes, sendo que a s informações obtidas por este método serviram

para complementar o inventário ictiofaunístico.Todos os exemplares capturados nas malhadeiras foram identificados, contados e pesados , e

uma amostra foi trazida para o INPA. em Manaus. onde foi depositada na Coleção Central de Peixes.Alguns exemplares das espécies mais abundantes foram abertos e t iv eram o conteúdo estomacalretirado. para posterior análise da alimentação, sendo também observado o estádio de desenvolvimentogonadal.

ü estudo da densidade populacional foi fe ito a través da divisão da área das malhadeiras (450.83rn") pelo número e peso dos exemplares capturados em cada estação de col et a, o qu e nos forneceu acaptura por unidade deesforço (CPUE), em peso (gramas) e em número de exemplares/m" /24 horas.

A partir da década de 1970 seiniciou na Amazônia a construção de represas para aprodução de energia elétrica. Desde então elas vém aumentando significativamente, não sóem número mas também em área alagada. pois as duas primeiras. Paredão. no Amapá.eCuruá-Una. no Pará, não ultrapassavam 100 k m ~ , enquanto que a UHE Tucuruí , no Pará .e a UHE Balbina, no Amazonas, ultrapassam 2.000 km2 cada (JUNK & NUNES DE MELLO1987).

A construção de uma represa ocasiona graves impactos sobre o ambiente, e consequentemente sobre toda a vida existente nestas áreas. Os peixes. por serem os vertebrados dominantes e totalmente dependentes do ambiente aquático, são as principais vitimas desseprocesso. Estes impactos podem resultar na diminuição da oferta de alimento, no bloqueiode rotas migratórias,no desaparecimento de'&lótopos ou até na extinção de espécies (JUNK& NUNES DE MELLOr'9'8í):"Um fator agravante é que estas represas estão sendo, em geral.construídas em locais pouco conhecidos e ainda cientificamente inexplorados, o que tor nainadiável a necessidade de estudos sobre a ictiofauna, sob o risco de perdermos informaçõesvaliosas, caso estudos não sejam feitos antes do barramento do rio.

Desenvolvemos o presente trabalho com base em um projeto de estudos ambientaisno rio Mucajai ', onde se pretende construir uma hidrelétrica (UHE Paredão).

Os objetivos deste trabalho são: inventário das espécies de peixes, sua distr ibuiçãodentro da área de influência da possível futura hidrelétrica,e informações sobre a alimentaçãoe época de reprodução das principais espécies capturadas.

Page 3: FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai

5/16/2018 FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/fl1260ferreira-al-1988-mucajai 3/9

 

As margens do rio Mucajaí, na áreaem estudo,apresentavam-se um tanto íngremes e densamente

cobertas por vegetação. Contudo. observamos que a vegetação periodicamente alagada. igapó. era muito

reduzida, na realidade quase inexistente. Nascachoeiras e corredeiras notamosgrande quantidade de

plantas aquáticas da família Podosternonaceae, representada por, pelo menos. duas espécies diferentes.

Na região à montante da cachoeira Paredão o rio se apresentava com muitas cachoeiras e corre

deiras, e praticamente nenhum local de remanso. Naregião à jusante a quantidade de cachoeiras e corre

deíras era inferior ao da região à montante. e podiam ser encontrados munes Iocais de remanso.

Aságuas do rio Mucajaí seapresentam turvas na cheia, com pH acima de 5.8, condutividade em

torno de 37,0 ,"S/cm, e transparência média de 0.70 metros, osvalores de oxigênio dissolvido são super

iores à 91,0 %de saturação em todas asamostras (Dados fornecidos pela ENGE-RIO). Na época de seca,

as águas ficam cristalinas.com transparéncia superior a 1,5 metros. SANTOS et al, (1985) apresentam

informações lirnnológicas para a região do baixo rio Mucajaí, na seca.

Resultados

Foram capturadas 126 espécies de peixes, pertencentes à 28 famílias. A família co m

maior número de espécies foi Characidae co m 26, seguida por Loricariidae co m 19 e

Cichlidae com 14.A Tabela I apresenta as espécies capturadas de acordo com a estação e o

aparelho de captura. a classificação trófica das espécies coletadas, e as espécies encontradas

em reprodução. Do total de espécies capturadas 87.3·% são Ostariophysi, sendo 48,4 %

Characiforrnes, 31,8 %Siluriformes e 7, I %Gymnotiformes; os cíchlídeos representaram

l I. I %, e ou tros, 1.6 %.

6

Montante

Figura 2:

Nível das águas do rio Mucajaí, nas duas estaçõesamostradas, montantee jusante, com a média e os

valores máximos e mínimos, por mês.

Tabela I; Relação das espécies de peixes do rio Mucajaf, por estação, co m o método

utilizado na captura (M =malhadeira e T =timbó), regime alimentar (D =

dctritivoras; H =herbívoras; 0= onívoras; C=carnívoras: e P =piscívoras),

e mês em que a espécie foi encontradaem reprodução (Out = outubro 1986,

Fev =fevereiro 1987, Mai =maio 1987).

Espécies Montant e Jusan te Regime alimen tar Mêsem reprodução

ERYTRHINIDAE

Hopdas sp. MT P

Hoplias malabaricus M P

CTENOLUCIIDAE

Boulengerella ocellata M M P Out., Fev.. Maio

CHARACIDIIDAE

Characidium cf. surumuensis T T D

Characidium cf. catenatum T D

Characidium cf. blennioides T T D

LEBIASINIDAE

Pyrrhulina gr .laeta T O

ANOSTOMIDAE

Leporinussp.2 MT MT O Maio

Leporinus agassizi M O Maio

Leporinus desmotes M O

Leporinus granti MT M O

Leporinus maculatus M T O Maio

Leporinus nigrotaeniatus MT O

Leporellus sp. T OAnostomus anostomus T O

HEMIODONTIDAE

Hemiodopsis microlepis M O

Hemiodopsis quadrimaculatus M O

Hemiodopsis semitaeniatus M O

Hemiodus unimaculatus M O Fev.

Parodon sp, 1 MT MT O

Parodon sp. 2 T O

PROCHILQDONTIDAE

Prochilodus cf. rubrotaeniatus M MT D Maio

Ze<ü=1l2,173 m

Zeroe88,315 m

"

"

--MÁX.

, - - - ~ M Á X .

M

1987

t M1987

-'o

D

I

b

o

Jusante

A

1986

J 11986

,-- --

"

~ - - - - '

M A M

.e••3

Nas duas estações de coletas, montante e jusante. o nível das águas é controlado pelas chuvas na

região (Fig. 2). A época decheiavaide maio a dezembro. ocorrendo dois picos, um maior em junho, e

um menorem novembro. A época de secavaidejaneiro a abril , com o valor mínimo da cota acontecendo

em abril ou maio. A diferençaentre O maisbaixo e o maisa lto nível da águapode ocorrer no mesmo

mês, ou logo no mês seguinte.

342

Page 4: FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai

5/16/2018 FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/fl1260ferreira-al-1988-mucajai 4/9

 

Tabela] : Conl.Tabela] : Conl.

Espécies Montante Jusante Regime alimentar ~ ê s em reprodução Espécies Montante Jusante Regime alimentar Mêsem reprodução

CHILODONTIDAEELECTROPHORIDAE

Caenotropuslabyrhinthicus \1 D Maio Electrophorus electricus \f i T P

ITRIMATIDAEGnfNOTIDAE

Curimata cyprinotdes \f D Maio Gymnotus carapo T

Curimata cf, spilura ~ T MT D MaioHYPOPOMIDAE

SERRASAUfIDAEHypopomus berbei T C

Myleus (Protomyleus} sp. A \I T MT HSTERNOPYGIDAEyleus (Myloptus} sp. MT H

Eigenmannia sp. MT MT C Maioyleuspacu \I T M HEigenmannia humboldti M Cyleus rubripinnis M HArcholaemus blax MT T Cerrasalmus sp. 1 ~ f M PSternopygus macruros T Cerrasalmus sp, 2 \l T ~ T P ~ a i o

Serrasalmus eigenmanni .\1 P AGENEIOSIDAE

Maiogeneiosus brevifilis PYNODONTIDAE

Hydrolycus sp. \f P CALLICHTHYIDAE

Callichthys cf. callichthys T T Dydrolycus scomberoides \1 p Out., Fev.• Maio

Corydoras ct. baderi T T Dhaphiodonvulpmus P

Oorydoras cf'. saramaccensis THARAClDAE

Hoplostemum cf', thoracatum T Dalminus hüarli .\1 PExodon paradoxus \f MT P Maio DORADIDAE

Maioseudodoras niger Hynopotamus amazonus MT MT P MaioGaleocharax sp. MT P

LORICARIIDAETriportheus albusC

Hypostomus sp.A MT MT OBrycon pesu 11,fT MT O MaioHypostomus sp .B M O

Brycon cf, brevicaudaO

Hypostomus cf. horridus MT MT DChalceus macrolepidotus M OLoricariacataphracta MT ~ T DPoptella orbicularis

CLoricaria cf. simillima M DAstyanax gr. polylepis \l T MT C Maio Loricaria sp. T DCreagrutus aff. beni T C Cochliodon sp, MT MT DCtenobrycon spilurus MT C Pseudancistrus barbatus MT MT OCheirodon sp. T C A ncistrus sp. MT MT DDeuterodon aff. pinnatus ~ T T C Maio Lasiancistrus sp. MT T DBry conops sp, M C Pseudoloricaria punctata MT DBryconops caudomaculatus M CPseudoloricaria laeviuscula M DMoenkhausia aff. browni MT MT C Peckoltia cf. vittata T M DMoenkhausia hemigrammoides T T C Peckoltia s p. A T OMoenkhausia gi.lepidura

M T C Sturisoma sp, M DMoenkhausia aff. grandisquamisC Rhineloricaria sp. T T OHemigrammus sp. T C

Parotocinclus sp. T DHemigrammus aff. guianensis T CPanaque sp. T T Dhinopetitta sp, T CAcanthicus cf. hy strix T DTetragonopterus argenteus ~ T C

PIMELODIDAEetragonopterus chalceus MT CPimelodusalbofasciatus M M Coeboides cf', bicornts M MT P MaioPimelodusornatus M CPTERONOTIDAE

Pimelodella sp. MT MT CSternarchorhynchus oxyrhynchus MT T CPseudopimelodus cf. zungaro T T Ppteronotus bonaparti T T CRhamdella sp. M C

Rhamdia sp, T C

344

Page 5: FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai

5/16/2018 FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/fl1260ferreira-al-1988-mucajai 5/9

 

Data Estação CPUE (g) CPL'E (n) N I E

Out.86 Montante 93.67 0.62 41 4.476 0.835

Jusante 73,10 0.44 40 4.671 0.878

Fev. 87 Montante 127.80 0,44 38 4.570 0.871

Jusante 119.74 0,59 40 4.016 0.755

Mai.87 Montante 70.94 0.22 28 4.178 0.869

Jusante 52.52 0,28 35 4.562 0,889-

TOTAL Montante 97.50 0,43 57 4,928 0.845

Jusante 81.80 0,43 63 4.855 0.812

TOTAL GERAL 89.65 0,43 84 5.247 0.821

Tabela 2: Características das comunidades do rio Mucajaí, por estaçãoe época de coleta:

CPUE =captura por unidade de esforço (g=gramas; n =número de exemplares);

N =riqueza; I =índice dediversidade de Shannon; E =equitabilidade.

do ' y .c : r . c,

c-CJL .. ( ' r ~ ~ ~ . r >

Em termos de biomassa asespécies de níveis tróficos mais baixos, detritivoras e

herbívoras, representampouco mais de 20,0 %do total. enquanto que asespécies de níveis

tróficos mais altos, carnivorase piscívoras, representam mais de 70,0 %. __ \ ~ ~Em termos de número de exemplares, herbfvor()&e detritivoros, represd;tam mais de

44,0 %do total, enquanto que os carnívorosepíscívoros, representammenos de 36,0%. -_.,. '

Duas espécies piscivoras, Boulengerella ocellata e Hydrolycus scomberoides, foram

responsáveis por mais de 50,0 %da biomassa capturada, e por apenas 11,3 %do número.

Estas duas espécies estão distribuídas por quase toda bacia Amazôníca, mas apenas nos

afluentes da calha do Amazonas/Solimões,em geral no curso médio e superior, é que são

encontradas em grande número, e em quase todo o tipo de ambiente: corredeiras,

remansos, praias e calha do rio.

Mesmo sendo um rio considerado pequeno, quando comparadocom o Tocantins ou

o Uaturnã. a captura por unidade deesforço, mostrou ser alta, com média de 89,7 g(m2 (24

horas, enquanto no Tocantins a média fo i de 114 g/m2(24 horas (MERONA 1986/87) e

no Uatumã 72,8 g/m2(24 horas (S. A. AMADlO, INPA, com. pess.).

Durante o período de amostragem 21 espécies se encontravam em reprodução no

mês de maio, enquanto que nos meses de outubro de 1986 e fevereiro de 1987. apenas 3

espécies em cada um. Indivíduos deHydrolycus scomberoides e Boulengerella ocellata,

foram encontrados em reprodução nos três períodos em que foram feitas coletas.

Tabela I: Cont.

Espécies Mont an te Jusan te Regime a liment ar ~ ê s em reprodução

Hemisorubim piatyrhynchus \1 P \1010

Pseudopietystoma fasciatum \1 P Maio

Leiarius marmoratus \1 PPaulicea lutkeni \1 P \Iaio

Myoglanis cf', schultzi T CMyoglanis sp. T CHeptapterus sp, T C

CETOPSIDAE

Cetopsis sp. T T P

TRICHOMYCfERIDAE

Trichomycterus sp. T P

BELONIDAE

Pseudotylosurus microps 1\1 P

OCHLIDAE

Geophagus sp. MT 1\IT O Oul.

Mesonauta insignis MT 1\1 O

Caquetaia spectabilis MT MT PCrenicichla sp, T P

Crenicichla sp. A MT MT P

Crenicichla sp, C T P

Crenicichla cf. saxatilis M T PCrenicichlalugubris MT PCrenicichla strigata T PCrenicichla cf, waüaci T PAequtdens cf, tetramerus T CApistogramma sp. I T T OApistogramma rupununi M OApistogramrna sp. 3 T O

SOAENIDAE

Ptagioscion cf. squamosissimus M P Maio

o Tabela 2 apresenta as características das comunidades nas duas estações amostradas,

por coleta, e também o geral por estação ,e para o r io.

O Tabela 3 apresenta os parâmetros calculados para o rio Mucajaí, na área da i lhaParedão, comparados com dados da literatura. Embora o rio Mucajaínão apresente o

maior número de espécies, foi o que apresentou maiorvalor do índice de diversidade. Do

mesmo modo a equitabilidae é muito alta. Segundo OAGET (1976) equitablilidade superior

a 0,80 é representativo de comunidade em equílíbno.

O Tabela 4 apresenta os valores para o índice de sirrúlaridade calculados através das

fórmulas de Sorensen e Raabe. O Indice desimilaridade total atinge mais de 50 %entre as

estações, mesmo com uma grande cachoeira entre os dois pontos amostrados, indicando

que este acidente geográfico não é empecilho para o trânsito dos peixes entre um local e

outro.

A tabela 5 apresenta osvalores para número de espécies, número e peso dos exern

pares de cada categoria trófica.

I0 - ~

346

Page 6: FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai

5/16/2018 FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/fl1260ferreira-al-1988-mucajai 6/9

 

zo0Ó

.J

0r

ció

0e

0,,

'"_

0r,

0.

<CO<20<"

'"-

c

t>

o'2

.-:>

O

U<z.5"ou.-

o

0<1

.AO

Page 7: FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai

5/16/2018 FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/fl1260ferreira-al-1988-mucajai 7/9

 

Total: 59,70(50.67)

299 (25.9 %)

IS0.660 (74,5 %)

33

PiscÍvoros

n

u

35

111 (9,6 o/c)

Carnívoros

Maio

56.00 (41.39)

44,40 (30.20)

61,30 (29.59)

Discussão

233 (20,2 %)

23

Onívoros

Categoria T rófiea

Fevereiro

63,60 (46,41)

53,80 (57.34)

65,00 (49.73)

5

76(6,6 %)

Herbívoros

19,541 (S,1 %) S.771 (3.6 %) 2.309 (1,0 o/c)

Mon t an t e

Outubro

55.10 <76,44)

65.S0 (43,25)

61.70 (40.39)

30

31.666 (12,9 %)

Derritfvoros

437 (37,S %)

Os resultados da composição das espécies capturadas correspondem ao padrão geralde proporcionalidade entre os grupos de peixes na Amazônia(LOWE-McCONNELL 1987;GÊRY 1984), embora a quantidade de cichlídeos esteja bem acima dos 3 %esperados.

Um grande número das espécies capturadas são característicasde regiões decorredeiras e cachoeiras: Hoplias sp., Leporinus sp. 2, Leporinusgranti, Hemiodopsis

quadrimaculatus, Myleus [Prosomyleus} sp. A,Myleus (Myloplus) sp., Myleus rubripinnis,

Serrasalmus eigenmanni, Hydrolycus sp.,Pseudopimelodus cf. zungaro, Rhamdella sp.,

p

E

Tabela 5: Composição por categoria trófica dos peixes do rio Mucajaf:N =número de espécies; P=peso, em gramas; E =número de exemplares.

N

Fev.

Maio

Ou!.

Tabela 4: Valores calculados do indice de similaridade de Sorensen e Raabe (entreparênteses), nas duas estações amostradas no rio Mucajaf,na área da ilhaParedão. Os valores em negrito referem-se à comparação entre asestações:

mon tan te e jusante.

.".N

00

.".

z

.,.,-

o00

Ó.,.,,J,00 r-.c ió

....

" l9

O""... ,...

c ó

00o

.,.,00

e-. 00,.., ,...

'" 00

'O 00,..,-

... - . , .. ,

00 0.......

oõ ~É

«: 8

<CZo0<:-'_l 00

='"e: -

ozoo00c '"...J-

::>....:o '"o Ü

<CO<:

20<:'"; . ; . l ~~ -

'"ct...:;>

o '2.- :>O<:U

.",

E:>

o -;;:;3

2o ""- ..

O<:z

.5

"u.- o

0<:1-

. , AO

Page 8: FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai

5/16/2018 FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/fl1260ferreira-al-1988-mucajai 8/9

 

Rhamdia sp., Myog/anis cf. schu/tzi, Myoglanis sp . e Heptapterus sp., espécies dos gênerosCharacidium e Parodon e várias espécies de Loricariídae.

A fauna {clicada região em estudo mostrou um grande número de espécies conhecidas. sendo semelhante à de outros rios que drenam o Escudo das Guianas, como o Uatumãe o Trombetas (AMADIO 1987; FERREIRA 1986).

O alto percentual de espécies piscivoras e carnívoras. provavelmente é ocasionadopela seletividade do aparelho de pesca utilizado, e não um reflexo daestrutura trófica dacomunidade, embora este fato seja comum na maioria das coletaefetuada nos rios daAmazônia.

O baixo número de espécies herbívoras (5) talvez seja uma consequência da quaseinexistência de igapó na área em estudo, estando estas espécies se alimentando principal.mente de Podostemonaceaee de algas filamentosas,

Nossos dados evidenciam que o mês de maio está dentro do período de reproduçãoda maioria das espécies. na área estudada. Sendo este mês correspondente ao inicio da cheia,parece que o padrão é semelhante àquele de outros rios da Amazônia, onde a época dereprodução coincide com o inicio da enchente (LOWE-McCONNELL 1987).

Assim sendo a construção de uma represa nesta áreacausará um desequilíbrio nacomunidade, que poderá acarretar uma diminuição do número de espécies, ocasionadapelo desaparecimento de espécies adaptadas a locais de corredeiras e cachoeiras, e pelaprovável hipoxia da região de montante, dentro do lago. Naregião dejusante o lançamentode água pouco oxigenada também deverá ocasionar modificações na comunidade, tudo isto,associado à mudanças no regime hidrológico ocasionarão muitas alterações na ictiofauna.

Os peixes migradores, incluindoProchilodus cf. rubrotaeniatus, asespécies deCurimata, várias espécies de Pimelodidae e Serrasalmidae, serão muito prejudicadas com aconstrução da represa. uma vez que suas rotas migratórias serão bloqueadas, e tenderão adesaparecer da área dolago, e eventualmente da região logo a jusante, embora seja possívelque continuem a ocorrer nas regiões mais à montante dolago e mais a jusante da represa.

Com a construção da represa em um primeiro momento asespécies com ciclo de vidamaiscurto, que seadaptarem ao novo tipo de ambiente, e puderem utilizar osnovos nichosque serão criados, terão um grande incremento em seu número e biomassa (FERREIRA1984b). Em seguida asespécies predadoras, comoHydro/ycus scomberoides, asespécies dogênero Serrasalmus, entre outras. irão dominar a área do futuro lago.

É provável que inicialmente ocorra uma elevação da biomassa total, ocasionada pelo"umento das espécies predadoras, mas que após alguns anos, quando o equilíbrio for

reestabelecido, os valores para riqueza e CPUE deverão ser bem menores que os atuais.

Agradecimentos

Nossos agradecimentosa Lucia Helena Rapp Py-Daniei. Paulo Buckup, Luiz Paulo S. Portugal.A1exP10ege Dr. Sven Kullander pela ajuda na iden tificação dos peixes. A Sidinéia Aparecida Amadiopelas informações sobre o rio Uatumã, e a ENGERIO pelas informaçõesIrmnológicas.

350

Resumo

Em um estudo realizado no rio Mucajaí, na área da ilha Paredão. Roraima. onde possivelmenteserá construída uma represa hidrelétrica. foram capturadas 126 espécies de peixes, pertencentes à 28farnilias . em dois locais de coletas , uma montante e outro a jusante da cachoeira Paredão 2.

Embora es tas estações estejam separadas por uma cachoeiracom cerca de 20 metrosde altura,a similaridade enIre as duas faunas foi alta. O índice de diversidade de Shannon, a equitabilidade e acaptura por unidade de esforço (CPUE) foram muito altos, comparados com outros rios da Amazônia,O alto valor da equitabilidade sugere que as comunidadesde peixes estão em equilíbrio.

Asespécies predadoras foram dominantesem termos de biomassa, enquanto as espécies

detritívoras foram dominantes em termos de número de exemplares.Osdados evidenciaram que o mês de maioes tá dentro do período de reprodução da maioria

dasespécies.Uma vez que ascomunidadesde peixes naárea es tãoem equilíbrio. a construção de uma represa,

provavelmente. ocasionará desequilíbrio, resultando na diminuição do número de espécies. alteraçõesna composição da comunidade, entre outros efeitos negativos.

Referências bibliográficas

? AMADIO, S. A. (1987): Relatôrio Final do Subprojeto Levantamento Ictiofaunístico dos Estudos de.'" • Ecologia C Controle Ambiental na Região do Reservatório da UHE de Baibina.- Convênio ELN!

:. J C . < I ~ MCT!CNPq/INPA. Manaus: 78 pp.'. ' t BARTHEM, R. B. (1981): Consideraçõessobre a pesca experimental com redes de espera em lagos da

Amazônia Central,· Dissertação de Mestrado, INPA!FUA, Manaus: 84 pp. .DAGET, J. (1966): Abondance relative des poissons dans les plaines innondées par ia Benoué à hauteur

de Garoua (Cameron).- Bull. IFAN, A 18(1): 247·258.DAGET.J. (1976): Les Modeles Mathématiquesen tcologie,- Masson, Paris: 172 pp,DAGET, J. & J. R . DURAND (1968): Etude du peuplernent de poissons d'un rnilieu tropical poikilohalin:

la baie de Cocody en Côte d'ivoire.- Cah. ORSTOM, Hydrobiol. 2(2): 91- 111 .. FERREIRA, E. J. G. (1984): A ictiofauna da Represa Hidrelétrica de Curuá-Una, Santarém, Pará. I-

/ -/ Lista e Distribuição das Espécies.•Amazoniana 8(3): 351·363.FERREIRA, E. J. G. (1984): A ictiofaunada Represa Hidrelétrica de Curuá-Una, Santarém, Pará . I I

Alimentação e hábitos alimentaresdas principais espécies> Arnazoniana 90): I - 16.FERREIRA, E. J. G. (1986): RelatórioFinal dos Estudos e Levantamentos do Impacto Ambiental da

.(.- UHEde Cachoeira Porteira.Subprojeto Identificação e Descrição das Principais espécies de

Peixes.- Convênio INPA!CNPq!ENGE.R10, INPA, Manaus: 99 pp,GÉRY, J. (1984): The fishes of Amazonia.ln: SIOU, H. (ed.): The Amazon, Limnology and Landscape

Ecolozv 01'a Miehtv TrooicaI River and its Ba.<in.- Dr. W. Junk Publíshers, Dordrecht: 352 - 370.GOULDlNG, M., CARVALHO, M.L. &E.G FERREIRA (1988): Rio Negro, Rich Life in POOt Water.

Amazonian diversity and foodchainecology asseen through fish communities,- SPB Acadernic

Publishing, The Netherlands: 200 pp.IBGE (1981): Atlas de Roraíma- Fundação Insti tuto de Geografiae Estatís tica. Rio de Janeiro: 44 pp.JUNK, W. s. & J . A. S . NUNES DEMELLO (1987): Impactosecológicos das represas hidrelétricas na

bacia Amazónica brasileira.' Tíibinger Geographische Studien 95: 367 - 385 .LOWE·McCONNELL, R. H. (1987): Ecological Studies in Tropical Fish Communities.- Cambridge

Tropical Biology Séries. Cambridge University Press, Cambridge: 382 pp.MERONA. B. DE (1981): Zonation ichthyologique du bassin du Bandama, Côte d'Ivoire.- Rev.

Hyurobiol. Trop. 14(1) : 63 - 75.MERONA. B. DE (1986/87): Aspectosecológicosda ictiofauna no baixo Tocantins.- Acta Amazonica

16!17 (n' único): 109- 124.

1'i1

Page 9: FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai

5/16/2018 FL1260_Ferreira Al 1988 Mucajai - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/fl1260ferreira-al-1988-mucajai 9/9

 

SANTOS, C. ~ ! . . BRINGEL.S. R. 8.. RIBEIRO.M. N. G. &M. N. P. SILVA 119851: Rios da bacia

Arnazonica II. Os afluentes do rio Branco.· Acta Arnazoruca 1 5 ( L ' ~ ) : 147 - 156.SHANNON. C. E. (1948): A mathematical theory oi cOmmUnlCá!Íon.- Bell Syste m Technical Journal

27: 379 - 423.

352