fisiologia articular - volume 3

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FISIOLOGIA ARTICULAR

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Fisiologia Articular volume 3 Kapanji

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Page 1: Fisiologia Articular - Volume 3

FISIOLOGIA ARTICULAR

Page 2: Fisiologia Articular - Volume 3

À minha mulher

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Page 3: Fisiologia Articular - Volume 3

A. I. KAPANDJI

Ex-Interno dos Hospitais de ParisEx-Chefe de Clínica-Auxiliar dos Hospitais de Paris

Membro da Sociedade Francesa de Ortopedia e Traumatologia IS.O.F.C.O. T.}

Membro da Sociedade Francesa de Cirurgia da Mão (G.E.M.)

FISIOLOGIA ARTICULARESQUEMAS COMENTADOS DE MECÂNICA H.UMANA

VOLUME 11I

5ª edição

TRONCO E COLUNA VERTEBRAL

I. - A COLUNA VERTEBRAL EM CONJUNTO

11.- A CINTURA PÉLVICA E AS ARTICULAÇÕES SACROILÍACAS

111.- A COLUNA LOMBAR

IV. - A COLUNA TORÁCICA E A RESPIRAÇÃO

V. - A COLUNA CERVICAL

Com 397 desenhos originais do autor

----.~-"'--Este livro pertence ao Sistema de Bibliote-cas da UCB U",8ra Sd entregue nos pra­

zos prev,stosou qUándo solfcitado o alunoserá responsável pelo livro e em caso de

danificação ou jlarda davirá rajM'~'

- EDITORIAL MEDICA-

Cpanamerícana =:>

y

~rMALOINE

Page 4: Fisiologia Articular - Volume 3

Título do original em francêsPHYSIOLOGIE ARTICULAIRE. 3. Tronc et Rachis

© Éditions MALOINE. 27, Rue de I'École de Médecine. 75006 Paris.

Tradução deEditorial Médica Panamericana S.A.

Revisão Científica e Supervisão por Soraya Pacheco da Costa, fisioterapeuta

ISBN (do volume): 85-303-0045-9

ISBN (obra completa): 85-303-0042-4© 2000 Éditions MALOINE.

27, rue de I'École de Médecine. 75006 Paris.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

K26fv.3

Kapandji, A. I. (Ibrahim Adalbert)Fisiologia articular, volume 3 : esquemas comentados de

mecânica humana / A. I. Kapandji ; com desenhos originaisdo autor; [tradução da 5.ed. original de Editorial Médica

Panamericana S.A. ; revisão científica e supervisão por SorayaPacheco da Costa]. - São Paulo: Panamericana ; Rio de

Janeiro: Guanabara Koogan, 2000: 397 i!.

00-1625.

231100

Tradução de: Physiologie articulaire, 3 : tronc etrachis

Inclui bibliografiaConteúdo: v.3. Tronco e coluna vertebral: A coluna

vertebral em conjunto - A cintura pélvica e as articulaçõessacroilíacas - A coluna lombar - A coluna torácica e a

respiração - A coluna cervicalISBN 85-303-0045-9

I. Mecânica humana. 2. Articulações - Atlas. 3.Articulações - Fisiologia - Atlas. I. Título.

CDD 612.75CDU 612.75

2-1-1100

UNIVERSIDADE CATOIICADE BRASILIA

SI.teml) de Bibliotecas

009949

Todos os direitos reservados para a língua portuguesa. Excetuando críticas e resenhas científico-literárias, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em sistemas computadorizados ou transmitida

de nenhuma forma e por nenhum meio, sejam eletrônicos, mecânicos, fotocopiadoras, gravadoras ou qualquer outro,

sem a prévia permissão deste Editor(Medicina Panamericana Editora do Brasil LIda.)

Medicina Panamericana Editora do Brasil LTDA.

Rua Butantã, 500 - IOº Andar - CEP 05424000 - Pinheiros - São Paulo - Brasil

Distribuição exclusiva para a língua portuguesa por Editora Guanabara Koogan S.A.Travessa do Ouvidor, li - Rio de Janeiro - RJ - 20040-040Te!.: 21-2221-9621Fax: 21-2221-3202

www.editoraguanabara.com.br

Depósito Legal: M-53.357-2001Impreso en Espana

Page 5: Fisiologia Articular - Volume 3

PREFÁCIO À EDIÇÃO EM PORTUGUÊS

Passaram mais de vinte e cinco anos desde o momento em que se escreveram estes três volu­mes de Esquemas Comentados de Fisiologia Articular obtendo grande sucesso entre os leitores detodo tipo, estudantes de medicina e fisioterapia, médicos,jisioterapeutas e cirurgiões. O fato de quecontinue atual se deve ao particular caráter destas obras, cujo objetivo é D ensino do funcionamentodo Aparelho Locomotor de maneira atratim, privilegiando a imagem diante do texto: o princípio éexplicar uma única idéia através do desenho, o qual permite uma memorização e uma compreensãodefinitivas. O fato de que estes livros não tenham competidor sério demonstra nitidamente o seu valorintrínseco. Na verdade, é a clareza da representação espacial do funcionamento dos músculos e dasarticulações o que faz com que seja tão evidente: estes esquemas não integram unicamente as trêsdimensões do espaço, mas tarnbém uma quarta dimensão, a do Tempo, porque a Anatomia Funcionalestá viva e, conseqÜentemente, móvel- isto é, inscrita no Tempo. Isto diferencia a Biomecânica daMecânica propriamente dita. ou Mecânica Industrial. A Biomecânica é a Ciência das estruturas evo­lutivas, que se modificam segundo os contratempos e evoluem em função das necessidades, capazesde renovar-se constantemente para compellSar o desuso. É uma mecânica sem eixo materializado,móvel inclusive no percurso do movimento. As suas superfícies articulares integram um jogo mecâni­co que seria por completo impossível na mecânica industrial, porém lhe outorga possibilidades adi­clOnazs.

Eis aqui o espírito que impregna estes volumes, ao mesmo tempo que deixa a porta aberta aosoutros métodos de ensino para o futuro. Este é, na ~'erdade, o segredo da sua perenidade.

A. I. KAPANDJI

Page 6: Fisiologia Articular - Volume 3

ADVERTÊNCIA DO AUTOR À QUINTA EDIÇÃO

A partir de sua primeira edição, há sete anos atrás, este livro. inspirado principalmente porDuchenne de Boulogne, o "grande precursor" da Biomecânica, permaneceu fiel a si mesmo, exceçãofeita por algumas pequenas correções. Neste momento, na oportunidade do aparecimento da quintaedição, achamos necessário incluir modificações importantes, em especial no que se refere à mão. Defato, o rápido desenvolvimento da cirurgia da mão exige um incessante aprofundamento quanto aoconhecimento de sua fisiologia. Este é o motivo pelo qual, à luz de recentes trabalhos, temos escrito edesenhado novamente tudo relacionado ao polegar e ao mecanismo de oposição: a função da articu­lação trapézio-metacarpeana na orientação e rotação longitudinal da coluna do polegar se explica demaneira matemática a partir da teoria das articulações de dois eixos tipo cardan; assim mesmo, se es­clarece afunção da articulação metacarpofalangeana no "bloqueio" da preensão de grandes objetose, enfim, a função da articulação inteJialangeana na "distribuição" da oposição do polegar sobre apolpa de cada um dos quatro dedos. A riqueza na variedade de preensão e preensões associadas àsações está ilustrada com novos. desenhos. Temos apeJieiçoado a definição das distintas posições fun­cionais e de imobilização. Por fim, como objetivo de estabelecer um balanço funcional rápido da mão,propõe-se uma série de provas d~ movimentos, as "preensões mais ação" que, melhor do que as 1,'a­lorações analíticas da amplitude de cada uma das articulações e da potência de cada mzísculo,faci·litam uma apreciação sintética do valorddutilização da mão.

No final do livro suprimimos alg~{ns modelos obsoletos ou que não oferecem muito interesse,e substituímos por um modelo da mão que ;explica, neste caso de maneira satisfatória, a oposição dopolegar. '. ~ ..

Em resumo, este é um livro renovado e enriquecido em profundidade.

Page 7: Fisiologia Articular - Volume 3

ÍNDICE

A COLUNA VERTEBRAL EM CONJUNTO

A coluna vert~bral, eixo mantidoA coluna vertebral, eixo do corpo e protetora do eixo nervoso

As curvaturas da coluna vertebral em conjunto

A aparição das curvaturas da coluna vertebral

Constituição da vértebra padrãoAs curvaturas da coluna vertebral

Estrutura do corpo vertebralAs divisões funcionais da coluna vertebral

Os elementos de união intervertebral

Estrutura do disco intervertebral

O núcleo comparado com uma patela

O estado de pré-compressão do disco e a auto-estabilidade da articulação discovertebral

A migração de água no núcleo

As forças de compressão sobre o disco

Variações do disco segundo o nível

Comportamento do disco intervertebral nos movimentos elementares

Rotação automática da coluna vertebral durante a inflexão lateral

Amplitudes globais da flexão-extensão da coluna vertebral

Amplitudes globais da inflexão lateral da coluna vertebral em conjunto

Amplitudes globais da rotação da coluna vertebral em conjunto

Avaliação clínica das amplitudes globais da coluna vertebral

A CINTURA PÉLVICA E AS ARTICULAÇÕES SACROILÍACAS

A cintura pélvica no homem e na mulher

Arquitetura da cintura pélvica

As superfícies articulares da articulação sacroilíacaA faceta auricular do sacro

Os ligamentos da articulação sacroilíaca

A nutação e a contranutação

As diferentes teorias da nutação

A sínfise púbica e a articulação sacrococcígea

Influência da posição sobre as articulações da cintura pélvica

A COLUNA LOMBAR

A coluna lombar em conjunto

Constituição das vértebras lombares

O sistema ligamentar na coluna lombar

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Page 8: Fisiologia Articular - Volume 3

8 ÍNDICE

Flexão-extensão e infiexão da coluna lombar

Rotação na coluna lombar

A articulação lombossacral e a espondilolistese

Os ligamentos ílio-lombares e os movimentos na charneira lombossacralOs músculos do tronco em corte horizontal

Os músculos posteriores do tronco

Papel da terceira vértebra lombar e da décima segunda vértebra dorsalOs músculos laterais do tronco

Os músculos da parede abdominal: o reto abdominal e o transverso do abdome

Músculos da parede abdominal: o oblíquo interno e o oblíquo externo

Músculos da parede abdominal: o contorno da cintura

Músculos da parede abdominal: a rotação do tronco

Músculos da parede abdominal: a flexão do tronco

Músculos da parede abdominal: a retificação da lordose lombarO tronco como estrutura inflável

Estática da coluna lombar em posição ortostática

Posição sentada e de decúbito

Amplitude de flexão-extensão da coluna lombar

Amplitude de inclinação da coluna lombar

Amplitude de rotação da coluna dorsolombar

O forame de conjugação e o colo radicular

Diferentes tipos de hérnia discal

Hérnia discal e mecanismo de compressão radicular

O sinal de Lasegue

A COLUNA TORÁCICA E A RESPIRAÇÃO

A vértebra torácica padrão e a décima segunda torácicaFlexão-extensão e inflexão lateral da coluna torácica

Rotação axial da coluna torácica

As articulações costovertebrais

Movimentos das costelas ao redor das articulações costovertebrais

Movimentos das cartilagens costais e do esterno

As deformações do tórax no plano sagital durante a inspiração

Mecanismo dos músculos intercostais e do músculo triangular do esterno

O diafragma e o seu mecanismo

Os músculos da respiração

Relação de antagonismo-sinergia entre o diafragma e os músculos abdominais

A circulação aérea nas vias respiratórias

Os volumes respiratórios

Fisiopatologia respiratória - Os tipos respiratórios

O espaço mortoA distensibilidade torácica

Mobilidade elástica das cartilagens costais

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Page 9: Fisiologia Articular - Volume 3

Mecanismo da tosse - Fechamento da glote

Os músculos da laringe e a proteção das vias aéreas durante a deglutição

A COLUNA CERVICAL

ÍNDICE 9

166

168

A coluna cervical em conjunto 172

Constituição esquemática das três primeiras vértebras cervicais 174

As articulações atlantoaxiais 176

A fiexão-extensão nas articulações atlantoaxiais e atlantoodontóides 178

Rotação nas articulações atlantoaxiais e atlantoodontóides 180

As superfícies da articulação atlantooccipital 182

A rotação nas articulações atlantooccipitais 184

A inclinação lateral e a fiexão-extensão na articulação atlantooccipital - 186

Os ligamentos da coluna suboccipital 188

Os ligamentos suboccipitais 190

Constituição de uma vértebra cervical 194

Os ligamentos da coluna cervical inferior 196Flexão-extensão na coluna cervical inferior 198

Os movimentos nas articulações uncovertebrais 200

A orientação das faces articulares - O eixo misto de rotação-inclinação 202Os movimentos combinados de inclinação-rotação na coluna cervical inferior 204

Determinações geométricas dos componentes de inclinação e de rotação 206Modelo mecânico da coluna cervical 208

Os movimentos de inclinação-rotação no modelo da coluna cervical 210

Comparações entre o modelo e a coluna cervical durante os movimentos de inclinação-rotação 212

As compensações na coluna suboccipital 212

Amplitude articular na coluna cervical 216

Equilíbrio da cabeça sobre a coluna cervical 218

Constituição e ação do músculo estemocleidomastóideo 220

Os músculos pré-vertebrais: o longo do pescoço 222

Os músculos pré-vertebrais: os retos anteriores maior e menor da cabeça e o reto lateral 224

Os músculos pré-vertebrais: os escalenos 226

Os músculos pré-vertebrais em conjunto 228

A fiexão da cabeça e do pescoço 230Os músculos da nuca 232

Os músculos suboccipitais 234

Ação dos músculos suboccipitais: inclinação e extensão 236

Ação rotatória dos músculos suboccipitais 238

Os músculos da nuca: o primeiro e o quarto planos 240

Os músculos da nuca: o segundo e o terceiro planos 242

A extensão da coluna cervical pelos músculos da nuca 244

Sinergia-antagonismo dos músculos pré-vertebrais e do estemocleidomastóideo 246

As amplitudes globais da coluna cervical 248

Relações entre o eixo nervoso e a coluna cervical 250

Relações entre as raízes cervicais e a coluna vertebral 252

Page 10: Fisiologia Articular - Volume 3

10 FISIOLOGIA ARTICULAR

Page 11: Fisiologia Articular - Volume 3

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 11

Page 12: Fisiologia Articular - Volume 3

12 FISIOLOGIA ARTICULAR

A COLUNA VERTEBRAL, EIXO MANTIDO

A coluna vertebral é o eixo do corpo e deveconciliar dois imperativos mecânicos contraditó­rios: a rigidez e aflexibilidade. Ela consegue estafaçanha graças à sua estrutura mantida. De fato(fig. 1-1), a coluna vertebral em conjunto pode serconsiderada como o mastro de um navio. Este

mastro, apoiado na pelve, continua até a cabeça e,no nível dos ombros, suporta uma grande vergatransversal: a cintura escapular. Em cada nívelexistem tensores ligamentares e musculares dis­postos como se fossem maromas, isto é, unindo omastro à sua base de implantação, a pelve. Nacintura escapular encontra-se um segundo siste­ma de maromas que constitui um losango de eixovertical maior e de eixo transversal menor. Na po­sição simétrica, as tensões estão equilibradas emambos os lados e o mastro é vertical e retilíneo.

Na posição de carga de peso unilateral(fig. 1-2), quando o peso do corpo recai sobre

só um membro inferior, a pelve bascula para olado oposto e a coluna vertebral está obrigadaa seguir um trajeto sinuoso: num primeiro mo­mento, convexo na zona lombar para o lado domembro em descarga, a seguir, côncavo na zo­na dorsal e por último, convexo. Os tensoresmusculares regulam a sua tensão de forma au­tomática para restabelecer o equilíbrio. Tudoisto acontece sob a influência do sistema ner­voso central. Portanto, neste caso, se trata deuma adaptação ativa graças ao ajuste perma­nente do tônus dos diferentes músculos da pos­tura pelo sistema extrapiramidal.

Aflexibilidade do eixo vertebral é devidoà sua configuração por múltiplas peças super­postas, unidas entre si por elementos ligamen­tares e musculares. Deste modo, esta estruturapode deformar-se apesar de permanecer rígidasob a influência dos tens ores musculares.

Page 13: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.1-1

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 13

Fig.1-2

Page 14: Fisiologia Articular - Volume 3

14 FISIOLOGIA ARTICULAR

A COLUNA VERTEBRAL, EIXO DO CORPOE PROTETORA DO EIXO NERVOSO

Na verdade, a coluna vertebral constitui opilar central do tronco (fig. 1-3). De fato, se nasua porção dorsal (corte b) a coluna vertebral seaproxima do plano posterior que se localiza a umquarto da espessura do tórax, na sua porção cer­vical (corte a), a coluna vertebral se situa maispara o centro, no terço da espessura do pescoço.Na sua porção lombar (corte c), a coluna verte­bral é totalmente central, visto que se localiza nametade da espessura do tronco. Esta diferença delocalização é devido às diferentes razões que va­riam segundo o nível. Na sua porção cervical, acoluna vertebral suporta o crânio e deve situar-seo mais próximo possível do seu centro de gravi­dade. Quanto à sua porção dorsal, os órgãos domedias tino, especialmente o coração, deslocam acoluna vertebral para trás. Contudo, na sua por-

ção lombar, a coluna vertebral, que suporta o pe­so de toda a parte superior do tronco, recuperauma posição central, constituindo uma proemi­nência na cavidade abdominal.

Além desta função de suporte do tronco, acoluna vertebral desempenha um papel prote­tor do eixo nervoso (fig. 1-4): o canal verte­bral que começa no nível do forame occipital,aloj a o bulbo raquidiano e a medula espinhal,de modo que constitui um protetor flexível eeficaz deste eixo nervoso. Esta proteção nãodeixa de ter a sua contrapartida, visto que, emcertas condições e em determinados pontos,tanto o eixo nervoso quanto os eixos vertebraisque saem dele podem entrar em conflito, comoveremos mais adiante, com a sua camada pro­tetora vertebral.

I~

Page 15: Fisiologia Articular - Volume 3

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBR.t\L 15

c1/2 ~

Fig.1-3 Fig.1-4

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16 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS CURVATURAS DA COLUNA VERTEBRAL EM CONJUNTO

Considerada em conjunto, a coluna verte­bral é retilínea vista de frente ou de costas(fig. 1-5). Contudo, em algun s indivíduos po­de encontrar-se uma curvatura transversal semque, por isso, se possa afirmar que ela sejauma curvatura patológica, evidentemente sem­pre que a mesma permaneça dentro de limitesestreitos.

Pelo contrário, no plano sagital (fig. 1-6) acoluna vertebral apresenta quatro curvaturas,que são, de baixo para cima:

1. a curvatura sacraI, fixa devido à sol­dadura definitiva das vértebras sacrais.Esta curvatura é de concavidade ante­flor;

2. a Iordose IOI)1bar, de concavidade poste­nor;

3. a cifose dorsal, de convexidade posterior;

4. a Iordose cervical, de concavidade pos­terior.

Quando o indivíduo está em equilíbrio nor­mal, na posição de pé, a parte posterior do crâ­nio, as costas e os gIúteos são tangentes a umplano vertical; por exemplo, uma parede. A im­portância das curvaturas é evidenciada pelas se­tas, que marcam as distâncias entre este planovertical e o vértice das curvaturas. Estas setas

serão definidas mais adiante com relação a cadasegmento vertebral.

Page 17: Fisiologia Articular - Volume 3

3. TRONCO E COLUNA VERTEBR.'\L 17

Fig.1-6 Fig.1-5

Page 18: Fisiologia Articular - Volume 3

18 FISIOLOGIA ARTICULAR

A APARIÇÃO DAS CURVATURAS DA COLUNA VERTEBRAL

Durante a filogênese, isto é, no percursoda evolução da espécie humana a partir dospré-hominídeos, a passagem da posição qua­drúpede à posição bípede (fig. 1-7) levou à re­tificação e depois à inversão da curvatura lom­bar, inicialmente côncava para a frente; destemodo apareceu a lordose lombar côncava paratrás. De fato, a retroversão pélvica não "absor­veu" totalmente o ângulo de retificação dotronco; ainda persiste um certo ângulo que acurvatura da coluna lombar deve anular. As­sim, se explica esta lordose lombar que, poroutra parte, varia segundo os indivíduos, de­pendendo do grau de anteversão ou de retro­versão da pelve.

Durante a ontogênese, isto é, no percursodo desenvolvimento do indivíduo (fig. 1-8, se­gundo T.A. Willis), se pôde comprovar como, nocaso da coluna lombar, ocorre a mesma evolu­ção. No primeiro dia de vida (a), a coluna lom­bar é côncava para a frente. Com cinco meses(b), a curvatura continua sendo ligeiramentecôncava para a frente; e somente aos treze mesesa coluna lombar se toma retilínea. A partir dostrês anos (d) se pode apreciar uma ligeira lordo­se lombar que vai se consolidar aos 8 anos (e) eadotar sua curvatura definitiva aos 10 anos (f).

Deste modo, a evolução do indivíduo é pa­ralela à evolução da espécie.

Page 19: Fisiologia Articular - Volume 3

ab

Fig.1-8

c

d

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 19

Fig.1-7

Page 20: Fisiologia Articular - Volume 3

20 FISIOLOGIA ARTICULAR

CONSTITUIÇÃO DA VÉRTEBRA PADRÃO

I

Quando uma vértebra padrão se decom­põe nas diferentes partes que a constituem (fig.1-9), se pode comprovar que é composta porduas partes principais: o corpo vertebral pelafrente e o arco posterior por trás.

Numa vista "desarmada" (a), o corpo verte­bral (1) é a parte mais espessa da vértebra: emgeral, ela tem uma forma cilíndrica menos altaque larga, com uma face posterior cortada. O ar­co posterior (2) tem a forma de uma ferradura. Aambos os lados deste arco posterior (b) se fixa omaciço elas apófises articulares (3 e 4); de moeloque se delimitam duas partes (c): por um lado, selocalizam os pedículos (8 e 9) pela frente elo ma­ciço elas articulares; e pelo outro, se situam aslâminas (10 e 11) atrás do maciço das apófisesarticulares; por trás, na linha média, se fixa aapófise espinhosa (7). Este arco posterior assimconstituído une-se (d) à face posterior do corpovertebral pelos pedículos. Além disso, a vértebracompleta comporta as apófises transversas (5 e6) que se unem com o arco posterior quase nonível do maciço das apófises articulares.

Esta vértebra padrão se localiza em todosos níveis da coluna vertebral, claro que com im­portantes modificações que podem ver-se tantono corpo vertebral quanto no arco posterior, e

geralmente nas duas partes ao mesmo tempo.

Contudo, é importante constatar que estasdiferentes partes que constituem a vértebra serelacionam no sentido vertical. Deste modo, ao

longo de toda a coluna vertebral, se estabelecemtrês colunas (fig. 1-10):

- pela frente, uma coluna principal forma­da pelo empilhamento dos corpos verte­brais;

- por trás do corpo vertebral, duas colu­nas secundárias constituídas pelo em­pilhamento das apófises articulares. Oscorpos vertebrais estão unidos entre sipelo disco intervertebral; enquanto asapófises articulares estão unidas por ar­ticulações de tipo artródia. Em cada ní­vel existe um forame vertebral delimita­

do pela frente pelo corpo vertebral e portrás pelo arco posterior. A sucessão detodos estes forames vertebrais confor­

ma, ao longo de todo o eixo vertebral, ocanal vertebral, formado alternadamen­

te por partes ósseas, em cada vértebra, epor partes ligamentares, entre as vérte­bras no nível do disco intervertebral e

dos ligamentos do arco posterior.

Page 21: Fisiologia Articular - Volume 3

a

d

5

4

6

b

Fig.1-9

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 21

9

c

e

Fig.1-10

Page 22: Fisiologia Articular - Volume 3

22 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS CURVATURAS DA COLUNA VERTEBRAL

A presença de curvaturas da coluna verte­bral aumenta a sua resistência aos esforços decompressão axial. Os engenheiros puderam de­monstrar (fig. 1-11) que a resistência de uma co­luna com curvaturas é proporcional ao quadra­do do nÚmero de curvaturas mais um. Portanto,se tomarmos como referência uma coluna retilí­

nea (a), cujo número de curvaturas é igual a O, econsiderarmos a sua resistência como uma uni­

dade, numa coluna com uma só curvatura (b), asua resistência é o dobro da primeira. Numa co­luna com duas curvaturas (c) a sua resistência écinco veces maior do que a da coluna retilínea.Por último, no caso de uma coluna com três cur­vaturas móveis (d), como a coluna vertebral coma sua lordose lombar, a sua cifose dorsal e a sualordose cervical, a sua resistência é dez vezesmaior do que a da coluna retilínea.

Pode-se medir a importância das curvaturasda coluna vertebral pelo índice raquidiano deDelmas (fig. 1-12). Este índice somente pode

ser medido num modelo anatômico: consiste na

relação existente entre o comprimento alcança­do pela coluna vertebral do platô da primeiravértebra sacral até o atlas e a altura entre o pla­tá superior de SI e o atlas. Uma coluna vertebralcom curvaturas normais (a) tem um índice de95%; os limites máximos da coluna vertebralnormal são 95 e 96%. Uma coluna vertebral com

curvaturas acentuadas (b) possui um índice deDelmas inferior a 94%. Isto significa que o seucomprimento é nitidamente maior do que a suaaltura. Contudo, uma coluna vertebral com cur­vaturas pouco pronunciadas (c), isto é, quase re­tilínea, possui um índice de Delmas superior a96%. Esta classificação anatômica é muito im­portante, visto que existe uma relação entre ela eo tipo funcional. De fato, A. Delmas demonstrouque a coluna vertebral com curvaturas pronun­ciadas é de tipo funcional dinâmico, enquanto acoluna vertebral com curvaturas pouco acentua­das é de tipo funcional estático.

Page 23: Fisiologia Articular - Volume 3

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 23

N=O I I N=1R=1 R=2

Fig.1-11b d

[

Fig.1-12

Page 24: Fisiologia Articular - Volume 3

24 FISIOLOGIA ARTICULAR

ESTRUTURA DO CORPO VERTEBRAL

o corpo vertebral tem a estrutura de um os­so curto (fig. 1-14); isto é, urna estrutura emconcha com uma cortical de osso denso envol­\'endo o tecido esponjoso. A cortical da face su­perior e da face inferior do corpo vertebral deno­mina-se platô vertebral (m). Ele é mais espessona sua parte central onde se encontra urna por­ção cartilaginosa. A periferia forma urna borda(fig. 1-13), o filete marginal (r). Este filete deri­va do ponto de ossificação epifisária que tem aforma de um anel e se une ao resto do corpo ver­tebral aos 14 ou 15 anos de idade. As alteraçõesde ossificação deste núcleo epifisário constituema epifisite vertebral ou doença de Schauerrnann.

Em um corte vértico-frontal do corpo ver­tebral (fig. 1-14), distinguem-se com nitidez, decada lado, corticais espessas, em cima e embai­xo, o platô tibial coberto por urna camada carti­laginosa e no centro do corpo vertebral trabécu­Ias de osso esponjoso que se distribuem segun­do linhas de força. Estas linhas são verticais eunem o platõ superior e o inferior, ou horizon­Tais que unem as duas corticais laterais, ou tam­bém oblíquas, unindo o platõ inferior com ascorticais laterais.

Em corte sagital (fig. 1-15), aparecem no­vamente as mencionadas trabécu1as verticais,porém também existem dois sistemas de fibrasoblíquas denominadas fibras em leque. Por umlado (fig. 1-16), um leque que tem origem noplatô superior para expandir-se, através dos doispedículos, em direção à apófise articular supe­rior de cada lado e à apófise espinhosa. Por ou­tro lado (fig. 1-17), um leque que tem origem noplatô inferior para expandir-se, através dos doispedículos, em direção às duas apófises articula­res inferiores e à apófise espinhosa.

O entrecruzamento destes três sistemas tra­beculares estabelece pontos de grande resistência,mas também um ponto de menor resistência, eem particular um triângulo de base anterior ondesomente existem trabéculas verticais (fig. 1-18).

Isto explica a fratura cuneiforme do corpovertebral (fig. 1-19): de fato, sob um esforço decompressão axial de 600 kg, a parte anterior docorpo vertebral sofre um esmagamento: é umafratura por esmagamento. Para esmagar porcompleto o corpo vertebral e fazer com que "omuro posterior" ceda (fig. 1-20), é preciso umaforça de compressão axial de 800 kg.

Page 25: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.1-19

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 25

- Fig.1-14

Fig.1-16

Fig.1-20

Page 26: Fisiologia Articular - Volume 3

26 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS DIVISÕES FUNCIONAIS DA COLUNA VERTEBRAL

Em uma vista lateral da coluna vertebral

(fig. 1-21, segundo Bruguer) se podem distinguircom facilidade as diferentes divisões funcionais.Pela frente (A) localiza-se o pilar anterior quetem o papel fundamental de suporte. Por trás, opilar posterior (B) onde se encontram, como jávimos, as colunas articulares que são sustenta­das pelo arco posterior. Enquanto o pilar anteriordesempenha uma função estática, o pilar poste­rior (B) desempenha uma função dinâmica.

Em sentido vertical, a disposição alterna­da das peças ósseas e dos elementos de uniãoligamentar permite distinguir, segundo Sch­morl. um segmento passivo (I) constituído pe­la própria vértebra e um segmento motor (II)cujo contorno, na figura, está representado porum traço negro espesso. Este segmento motorcompreende, de diante para trás: o disco inter­vertebral, o forame intervertebral, as articula­ções interapofisárias e, por último, o ligamento

amarelo e o intere~pinhoso. A mobilidade des­te segmento motor é responsável pelos movi­mentos da coluna vertebral.

Existe uma ligação funcional entre o pilaranterior e o pilar posterior (fig. 1-22) que ficaassegurada pelos pedículos vertebrais. Se consi­derarmos a estrutura trabecular dos corpos ver­tebrais e dos arcos posteriores, se pode compa­rar cada vértebra com uma alavanca de primeirograu, denominada "interapoio", onde a articula­ção interapofisária (1) desempenha o papel deponto de apoio. Este sistema de alavanca permi­te o amortecimento dos esforços de compressãoaxial sobre a coluna: amortecimento indireto epassivo no disco intervertebral (2), amorteci­mento indireto e ativo nos músculos dos canaisvertebrais (3), tudo isso pelas alavancas que ca­da arco posterior forma. Portanto, o amorteci­mento das forças de compressão é ao mesmotempo passivo e ativo.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 27

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Fig.1-22

Page 28: Fisiologia Articular - Volume 3

28 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS ELEMENTOS DE UNIÃO INTERVERTEBRAL

Entre o sacro e a base do crânio, a colunavertebral intercala vinte e quatro peças móveis;numerosos elementos ligamentares asseguram aunião entre estas diferentes peças.

Num corte horizontal (fig. 1-23) e em vistalateral (fig. 1-24), se podem distinguir estes ele­mentos fibrosos e ligamentares:

Em primeiro lugar, os anexos do pilar an­terior:

1. o ligamento vertebral comum anterior (1),que se estende da base do crânio até o sa­cro, na face anterior dos corpos vertebrais;

2. o ligamento vertebral comum posterior (2)que, na face posterior dos corpos verte­brais, se estende do processo basilar do oc­cipital até o canal sacral. Entre estes doisligamentos de grande extensão, em cadanível, a união fica assegurada pelo discointervertebral (D), que consta de duas par­tes, uma, periférica, o anel fibroso, consti­tuído por camadas fibrosas concêntricas (6e 7), e outra, central, o nÚcleo pulposo (8).

Numerosos ligamentos anexos do arcoposterior asseguram a união entre dois arcosvertebrais adjacentes:

1. o ligamento.amarelo (3), muito denso eresistente, que se une ao seu homólogona linha média ~ se insere, acima na faceprofunda da lâmina vertebral da vértebrasuprajacente e, abaixo na margem supe­rior da lâmina vertebral da vértebra sub­

jacente;

2. o ligamento interespinhoso (4), que seprolonga para trás pelo ligamento supra­espinhoso (5). Este ligamento supra-es­pinhoso é pouco individualizado na por­ção lombar: ao contrário, ele é muito ní­tido no ramo cervical;

3. na extremidade de cada apófise transver­sa se insere, a cada lado, o ligamento in­tertransverso (10):

4. por último, nas articulações interapofisá­rias, existem potentes ligamentos intera­pofisários (9) que reforçam a cápsuladestas articulações: ligamento anterior eligamento posterior.

O conjunto destes ligamentos assegura umaunião extremamente sólida entre as vértebras,dando uma grande resistência mecânica à colu­na vertebral.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 29

9

10

Fig.1-23

Fig.1-24

2

3

4

5

Page 30: Fisiologia Articular - Volume 3

30 FISIOLOGIA ARTICULAR

ESTRUTURA DO DISCO INTERVERTEBRAL

A articulação entre dois corpos vertebraisadjacentes é uma anfiartrose. Ela está consti­tuída pelos dois platôs das vértebras adjacen­tes unidas entre si pelo disco intervertebral. Aestrutura deste disco é muito característica.

De fato, ela está formada (fig. 1-25) por duaspartes.

Uma parte central, o núcleo pulposo(N), que é uma substância gelatinosa que deri­va embriologicamente da corda dorsal do em­brião. Trata-se de uma gelatina transparente,composta por 88% de água, portanto muito hi­drófila, e quimicamente formada por umasubstância fundamental à base de mucopolis­sacarídios. Nesta substância foram identifica­

dos condroitino-sulfato misturado com proteí­nas, certo tipo de ácido hialurônico e ceratos­sulfato. Do ponto de vista histológico, o nú­cleo contém fibras colágenas e células de as­pecto condrocítico, células conjuntivas e rarasaglomerações de células cartilaginosas. Não seencontram vasos nem nervos no interior do

núcleo. Contudo, o núcleo é septado por tratosfibrosos que partem da periferia.

Uma parte periférica, o annllllls fibroSllS(A) ou anel fibroso, conformado por uma sucessãode camadas fibrosas concêntricas, cuja obliqüida­de é cruzada quando se passa de uma camada pa­ra a camada vizinha, tal como está representado naparte esquerda (a) do esquema; na sua parte direi­ta (b), também se pode constatar que as fibras sãoverticais na periferia e que, quanto mais se aproxi­mam do centro, mais elas são oblíquas. No centro,em contato com o núcleo, as fibras são quase ho­rizontais e descrevem um longo trajeto helicoidalpara ir de um platá ao outro. Deste modo, o núcleofica fechado num compartimento inextensível en­tre os platôs vertebrais, por cima e por baixo, e oanel fibroso. Este anel constitui um verdadeiro te­

cido de fibras, que no indivíduo jovem impedequalquer exteriorização da substância do núcleo.Ele se encontra comprimido no seu pequeno com­partimento, de tal modo que quando o disco é sec­cionado horizontalmente se pode apreciar a saídada substância gelatinosa do núcleo por cima doplano da secção. O mesmo fenômeno também po­de ser comprovado quando se realiza um corte sa­gital da coluna vertebral.

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N

A

a

Fig.1-25

Fig.1-26

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 31

Page 32: Fisiologia Articular - Volume 3

32 FISIOLOGIA ARTICULAR

o NÚCLEO COMPARADO COM UMA PATELA

Fechado sob pressão no seu compartimen­to, entre dois platás vertebrais, o núcleo pulposotem uma forma parecida com uma esfera. Por­tanto, numa primeira aproximação, se pode con­siderar que o núcleo se comporta como uma bo­linha intercalada entre dois planos (fig. 1-27).Este tipo de articulação denominada "patela"permite três espécies de movimento.

Movimentos de inclinação:

- inclinação no plano sagital: neste casoobserva-se uma flexão (fig. 1-28) ouuma extensão (fig. 1-29);

- ou inclinação no plano frontal: inflexãolateral.

Movimentos de rotação de um dos platáscom relação ao outro (fig. 1-30).

Movimentos de 'deslizamento ou de CÍ­

salhamento de um platá sobre o outro atravésda esfera. Resumindo, este tipo de articulaçãooferece uma grande possibilidade de movi­mentos, exatamente seis graus de liberdade:flexão-extensão, inclinação de cada lado, des­lizamento sagital, deslizamento transversal,rotação direita e rotação esquerda; porém cadamovimento é de escassa amplitude. Os movi­mentos de grande amplitude só podem ser ob­tidos graças à soma de numerosas articulaçõesdeste tipo.

Page 33: Fisiologia Articular - Volume 3

UO - SISTEMA DE BI8110lHlS

Fig.1-27

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 33

Fig.1-28

Fig.1-30

Fig.1-29

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34 FISIOLOGIA ARTICULAR

o ESTADO DE PRÉ-COMPRESSÃO DO DISCO E A AUTO-ESTABILIDADEDA ARTICULAÇÃO DISCOVERTEBRAL

As pressões exercidas sobre o disco inter­vertebral são importantes, principalmente quan­to mais próximo estiver do sacro.

Considerando inicialmente as forças decompressão axial, se pode determinar que, quan­do o platô vertebral exerce uma força sobre odisco intervertebral, a pressão que o núcleo re­cebe equivale à metade da carga aumentada em50% e a pressão exercida sobre o anel equivaleà outra metade diminuída em 50%. Assim sen­do, o núcleo suporta 75% da carga e o anel 25%.De modo que, no caso de uma pressão de 20 kg,ela se distribui em 15 kg sobre o núcleo e 5 kgsobre o anel.

Contudo, o núcleo atua como distribuidorda pressão em sentido horizontal sobre o anel(fig. 1-31). Em simples posição de pé, no discoLs-S1, a compressão vertical que se exerce sobreo núcleo se transmite pela periferia do anel em28 kg por centímetro linear e de 16 kg por cen­tímetro quadrado. Estas forças aumentam demaneira considerável quando a coluna vertebralse sobrecarrega. Naflexão anterior do tronco, apressão por centímetro quadrado ascende a 58kg quando a força por centímetro linear atingeos 87 kg. Durante o esforço de retificação estascifras aumentam até 107 kg/cm2 e 174 kg porcentímetro linear. As pressões podem alcançarvalores mais altos se a retificação se realiza comuma carga. Neste caso, as citadas pressões seaproximam dos valores do ponto de ruptura.

A pressão no centro do núcleo não é nula,inclusive quando o disco não suporta nenhumacarga. Esta pressão se deve ao estado de hidro­filia, que faz com que ele aumente de volumedentro do seu compartimento inextensível.Deste modo se cria um estado de "pré-ten­são". Na tecnologia do cimento, se denominapré-tensão (fig. 1-32) a um estado de tensãoprévia criado numa viga que deve suportar umaearga. Se uma viga homogênea (A) recebe umpeso, se pode observar como ela toma uma in­curvação de valor fI denominada seta. Se então

se considera uma viga (B), em cuja parte infe­rior se introduz um cabo metálico fortementetenso entre as duas extremidades, se constituiuma viga pré-tensa que com o mesmo peso vaideformar-se em uma seta f2 nitidamente infe­rior à setafz.

A pré-tensão do disco intervertebral lhepermite, do mesmo modo, resistir melhor às for­ças de compressãô e de inflexão. Quando, com aidade avançada, o nú~leo perde as suas proprie­dades hidrófilas, a sua pressão interna diminui eo estado de pré-tensão tende a desaparecer, oque explica a perda de flexibilidade da colunavertebral senil.

Quando um disco é submetido a uma pressãoaxial assimétrica (fig. 1-33), o platô vertebral su­perior sofre uma inflexão para o lado com mais car­ga, deslocando-se um ângulo de oscilação a. As­sim, a fibra AB' estará tensa na posição AB, embo­ra simultaneamente, a pressão máxima do núcleodo lado da seta vai exercer-se sobre esta fibraAB de

modo que a leve de novo à sua posição inicial. Es­te mecanismo de auto-estabilidade está ligado aoestado de pré-tensão. Observar, então, que o anel eo núcleo formam juntos um par funcional cuja efi­cácia depende da integridade de ambos os elemen­tos. Se a pressão interna do núcleo diminui ou se acapacidade de contenção do anel desaparece, estepar funcional perde a sua eficácia imediatamente.

O estado de pré-tensão explica também asreações elásticas do disco, demonstradas pelaexperiência de Hirsch (fig. 1-34): quando se im­põe bruscamente uma sobrecarga (S) sobre umdisco previamente carregado (P), podemos ob­servar como a espessura do disco passa por umvalor mínimo e depois por um valor máximo,seguindo uma curva oscilante, que se amorteceinstantaneamente. Se a sobrecarga é excessiva, aintensidade desta reação oscilante pode chegar adestruir as fibras do anel. Assim se explica a de­terioração do disco após sofrer forças violentasrepetidas.

Page 35: Fisiologia Articular - Volume 3

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 3S

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Fig.1-32F

Fig.1-31

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Fig.1-33

Fig.1-34

Page 36: Fisiologia Articular - Volume 3

36 FISIOLOGIA ARTICULAR

A MIGRAÇÃO DE ÁGUA NO NÚCLEO

o núcleo repousa sobre a parte central doplatô vertebral, parte cartilaginosa, porém comnumerosos poros microscópicos que comuni­cam o compartimento do núcleo com o tecidoesponjoso situado debaixo do platô vertebral.Quando uma pressão importante é exercida so­bre o eixo da coluna vertebral, como no caso dainfluência do peso do corpo na posição de pé(fig. 1-35), a água contida na substância cartila­ginosa do núcleo passa através dos forames doplatô vertebral ao centro dos corpos vertebrais.Se esta pressão estática é mantida durante todoo dia, nas últimas horas da noite o núcleo estánitidamente menos hidratado que no início damanhã: então, se pode deduzir que a espessurado disco diminui sensivelmente. Para um indiví­duo normal, esta perda de espessura acumuladasobre a altura total da coluna vertebral podeatingir os 2 em.

Ao contrário, durante a noite, em decúbitosllpino (fig. 1-36), os corpos vertebrais não so­frem a pressão axial exercida pela ação da gravi­dade, mas somente a do tônus muscular, muitorelaxado também pelo sono. Neste momento, ahidrofilia do núcleo atrai a água que retoma doscorpos vertebrais para o núcleo. Assim, o discorecupera a sua espessura inicial. De modo quesomos mais altos pela manhã que pela noite. Co­mo o estado de pré-compressão é mais acentua-

do de manhã que de noite, a flexibilidade verte­bral também é maior no começo do dia.

A pressão de embebição do núcleo é con­siderável, visto que, segundo Chamley, pode al­cançar os 250 mm Hg. Com a idade, este estadode embebição diminui ao mesmo tempo que ahidrofilia, provocando uma diminuição do esta­do de pré-compressão. Isto explica a diminuiçãotanto de estatura quanto de flexibilidade verte­bral nos anciões.

Hirsch demonstrou que, aplicando umacarga constante sobre um disco vertebral (fig.1-37), a diminuição da espessura do disco não élinear, mas sim, exponencial (primeira parte dacurva), o que sugere um processo de desidrata­ção proporcional ao volume do núcleo. Quandoa carga é retirada, o disco recupera a sua espes­sura inicial, porém, também neste caso, a curvanão é linear, mas exponencial inversa (segundaparte da curva), e a restauração total da espessu­ra inicial do disco precisa de algum tempo. Seestas cargas e descargas do disco se repetemcom muita assiduidade, o disco não tem tempode recuperar a sua espessura inicial. Igualmente,se as cargas e descargas se repetem de maneiramuito prolongada, embora se espere o temponecessário de recuperação, o disco não recuperaa sua espessura inicial. Neste caso se constataum fenômeno de envelhecimento.

Page 37: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.1-35

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 37

Fig.1-36

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I ESPESSURADO

DISCO

Carga constante

Fig.1-37

Page 38: Fisiologia Articular - Volume 3

38 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS FORÇAS DE COMPRESSÃO SOBRE O DISCO

As forças de compressão sobre o discosão mais importantes à medida que se aproxi­mam do sacro. Isto é compreensível porque opeso do corpo aumenta com a altura supraja­cente (fig. 1-38). No caso de um homem de 80kg se calcula que a cabeça pese 3 kg, os mem­bros superiores 14 kg e o tronco 30 kg. Se seestima que no nível do disco LS-Si a colunavertebral suporta apenas 2/3 do peso do tron­co, ainda se alcança uma carga de 37 kg, isto éaproximadamente a metade do peso do corpo(P). Também devemos acrescentar o tônus dosmÚsculos paravertebrais (Mi e M2), necessáriopara manter a estática e o tronco ereto. Se,além disso, somamos o peso de uma carga (E)e a intervenção de uma sobrecarga brusca (S),se pode compreender perfeitamente que os dis­cos mais inferiores da coluna lombar estejamsubmetidos a forças que ultrapassam, às vezes,a sua resistência, principalmente nas pessoasde idade.

A diminuição da altura do disco não é amesma, depende de o disco estar intato ou lesa­do (fig. 1-39). Considerando um disco sadio emrepouso (A), com uma carga de 100 kg, se podeobservar como ele se aplaina 1,4 mm, ao mesmotempo que se alarga (B). Se a um disco já lesa­do a mesma carga de 100 kg é aplicada, a alturadiminui 2 mm (C), e se comprova que depois dea carga ter sido retirada, a recuperação da suaespessura inicial é incompleta.

Este achatamento progressivo do disco le­sado não deixa de repercutir nas articulações in­terapofisárias (fig. 1-40): quando a espessura dodisco é normal (A), as relações das superfíciesçartilaginosas no nível das articulações interapo­fisárias são normais: a interlinha é paralela e re­gular. Quando a altura do disco diminui (B), asrelações articulares interapofisárias se alteram ea interlinha se entreabre para trás. Esta distor­ção articular épor si mesma, e depois de algumtempo, um fator de artrose.

Page 39: Fisiologia Articular - Volume 3

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A

Fig.1-38

DISCO SADIOSOB CARGA

B

Fig.1-39

A

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 39

DISCO LESADOSOB CARGA

c

B

Fig.1-40

Page 40: Fisiologia Articular - Volume 3

40 FISIOLOGIA ARTICULAR

VARIAÇÕES DO DISCO SEGUNDO O NÍVEL

A espessura do disco não é a mesma em to­dos os níveis vertebrais (fig. 1-41). Na colunalombar (b) o disco é mais espesso, visto quemede 9 mm de altura. Na coluna dorsal (a), elemede 5 mm de espessura e na coluna cervical(c), a sua espessura é de 3 mm. Porém, muitomais importante do que a sua altura absoluta é anoção de proporção do disco com relação à altu­ra do corpo vertebral. De fato, esta proporção dáuma idéia perfeita da mobilidade do segmentovertebral, visto que se constata que, quantomaior ele seja, mais importante será a sua mo­bilidade: em ordem decrescente se pode com­provar que a coluna cervical (c) é a mais móvel,visto que possui uma relação disco-corpórea de2/5, depois vem a coluna lombar (b), um poucomenos móvel que a cervical e que possui umarelação disco-corpórea de 1/3. Por último, o me­nos móvel dos três segmentos da coluna é o to­rácico (a); sua relação disco-corpórea é de l/S.

Em cortes sagitais dos diferentes segmen­tos da coluna vertebral, se pode observar que onÚcleo não se localiza exatamente no centro dodisco; dividindo a espessura ântero-posterior dodisco em dez partes iguais, o núcleo se situa:

• no caso da coluna cervical (fig. 1-42) a4/10 da margem anterior e a 3110 da mar-

gem posterior, ela mesma ocupando 3/1 O.A sua situação corresponde exatamenteao eixo de mobilidade (seta branca);

• no caso da coluna dorsal (fig. 1-43), alocalização do núcleo é a mesma comrelação, tanto à margem anterior quantoà margem posterior do disco. O núcleo,em si, ocupa 3/1 O, mas a sua situaçãocom relação ao eixo de mobilidade é es­tar deslocado para trás: a seta branca querepresenta o eixo passa nitidamente pelafrente do núcleo;

• no caso da coluna lombar (fig. 1-44), onúcleo se localiza a 4/10 da margem an­terior do disco e a 2/1 O da margem pos­terior, mas ele ocupa apenas 4/1 O; ou se­ja, uma supeifície maior que correspon­de a forças axiais mais importantes. Co­mo no caso da coluna cervical, a sua si­tuação corresponde exatamente à do ei­xo de mobilidade (seta branca).

Para Leonardi, o centro do núcleo se locali­za em uma distância igual a da margem anteriorda vértebra que do ligamento amarelo. Ele cor­responde nitidamente a um ponto de equilíbrio,como se a potência dos ligamentos posteriores"puxasse" o núcleo para trás.

Page 41: Fisiologia Articular - Volume 3

1/5

Fig.1-42

DORSAL

1/3

b

Fig.1-41

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 41

2/5

CERVICAL

c

Fig.1-43

410

2 Fig.1-44

Page 42: Fisiologia Articular - Volume 3

42 FISIOLOGIA ARTICULAR

COMPORTAMENTO DO DISCO INTERVERTEBRALNOS MOVIMENTOS ELEMENTARES

Consideramos, em primeiro lugar, os movi­mentos no eixo da coluna vertebral (fig. 1-45).Antes de qualquer esforço (A), já vimos queexiste uma tensão prévia nas fibras do anel, soba pressão do núcleo, definindo o estado de pré­tensão.

Quando uma força de alongamento axial(B) se exerce sobre o disco, os p1atôs vertebraistendem a separar-se, o que aumenta a espessurado disco; ao mesmo tempo, a sua largura diminuie a tensão das fibras do anel aumenta. O núcleo,que está ligeiramente achatado em estado de re­pouso, toma uma forma mais esférica. O alonga­mento diminui a pressão no interior do núcleo, oque constitui a base do tratamento das hérniasdiscais por alongamento vertebral: ao puxar o ei­xo da coluna vertebral, a substância gelatinosa dahérnia discal reintegra o seu compartimento ori­ginal no núcleo. Contudo, não sempre se obtémeste resultado e se pode imaginar que, por efeitoda contração das fibras centrais do anel, a pres­são interna do núcleo aumenta.

Quando se aplica uma força de compressãoaxial (C), o disco se achata e se alarga, o núcleose achata, a sua pressão interna aumenta de ma­neira notável e se transmite lateralmente em di­reção às fibras mais internas do núcleo; destemodo, a pressão vertical se transforma em forçaslaterais e a tensão das fibras do anel aumenta.

Vejamos agora as compressões assimétri­caso Durante os movimentos de extensão (fig.1-46), a vértebra superior se desloca para trás,o espaço intervertebral diminui na parte de tráse o núcleo se projeta para a frente, de modo quese situa sobre as fibras anteriores do anel au­mentando a sua tensão e levando a vértebra su­perior à sua posição inicial.

Durante a jiexão (fig. 1-47), a vértebra su­perior desliza para a frente e o espaço interver­tebral diminui na margem anterior; o núcleo se'desloca para trás de modo que se situa sobre asfibras posteriores do anel, aumentando a sua ten-

são. Aparece novamente o mecanismo de auto­estabilização devido à ação conjugàda do parnúcleo-anel.

Durante as forças de injiexão lateral (fig.1-48), a vértebra superior se inclina para o ladoda inflexão, o núcleo é deslocado para o lado daconvexidade da curva, daí a auto-estabilização.

Durante os .movimentos de rotação axial(fig. 1-49), as fibras do anel, cuja obliqüidade seopõe ao sentido do movimento da rotação, en­tram em tensão. Inversamente, as fibras das ca­madas intermédias, cuja obliqüidade é inversa,se distendem. A tensão é máxima nas camadascentrais cujas fibras são as mais oblíquas; nestecaso, o núcleo está fortemente comprimido e suatensão interna aumenta proporcionalmente como grau de rotação. Entende-se, então, que o mo­vimento que associa a flexão e a rotação axialtenha tendência a rasgar o anel fibroso ao mesmotempo que, aumentando a sua pressão, expulse onúcleo para trás através das fissuras do anel.

Durante as forças estáticas sobre uma vér­tebra ligeiramente oblíqua (fig. 1-50), a forçavertical (F) se decompõe em:

• uma força N perpendicular ao platô ver­tebral inferior;

• e uma força T paralela a este platô verte­bral.

A força N encaixa a vértebra superior sobrea inferior, enquanto a força T faz com que ela sedeslize para a frente, colocando as fibras oblí­quas sob tensão, alternadamente, em cada cama­da fibrosa.

Em resumo, se pode constatar que, sejaqual for a compressão exercida sobre o disco in­tervertebral, esta se traduz sempre por um au­mento da pressão interna do núcleo e da tensãodas fibras do anel; porém, graças ao desloca­mento relativo do núcleo, a entrada em tensãodas fibras é diferente, o que situa o sistema nasua posição inicial.

Page 43: Fisiologia Articular - Volume 3

B

Fig.1-46

Fig.1-48

A

Fig.1-45

Fig.1-50

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 43

c

Fig.1-49

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44 FISIOLOGIA ARTICULAR

ROTAÇÃO AUTOMÁTICA DA COLUNA VERTEBRALDURANTE A INFLEXÃO LATERAL

Quando a coluna vertebral se flexiona late­ralmente, se pode constatar como os corpos ver­tebrais giram sobre si mesmos de modo que asua linha média anterior se desvia em direção àconvexidade da curva. Isso se pode observar ni­tidamente numa radiografia de frente tomada eminflexão lateral (fig. 1-51): as imagens dos cor­pos vertebrais perdem a sua simetria e a linhadas apófises espinhosas (traços espessos) se des­loca para a concavidade. No esquema, uma vér­tebra foi desenhada de acordo com seu aspectoosteológico para que a sua orientação possa serentendida e assim possa permitir a interpretaçãodos aspectos radiológicos. Numa vista superior(fig. l-52 A), se pode constatar como, nesta po­sição de rotação, a apófise transversa da conca­vidade se projeta em todo o seu tamanho, en­quanto a apófise transversa da convexidade seprojeta em tamanho reduzido. Além disso, as in­terlinhas apofisárias da convexidade estão toma­das em fileira pelo feixe radiológico, enquantoas apófises articulares da concavidade se proje­tam de frente, assim como o pedículo vertebral.

Como explicar esta rotação automáticados corpos vertebrais? Principalmente por doismecanismos: a compressão dos discos e a entra­da em tensão dos ligamentos.

O deito da compressão dos discos pode serbem demonstrada graças a um modelo mecâni­co fácil de realizar (fig. 1-53): pegamos algumasrolhas de cortiça e borracha de espuma para quesejam cortadas em cunha a fim de construir osdiscos intervertebrais; colamos as duas cunhas etraçamos uma linha no meio, sobre a sua faceanterior; então é suficiente inclinar o modelo pa­ra um lado para apreciar a rotação dos corposvertebrais do lado oposto, perfeitamente visívelgraças à separação dos diferentes segmentos dalinha média de uma vértebra da outra. A inflexãolateral aumenta a pressão no disco do lado da

concavidade; como o disco é cuneiforme, a suasubstância comprimida tem a tendência de esca­par-se pelo lado mais aberto; isto é, em direçãoà convexidade, daí a rotação.

Esta sobrepressão se indica na figura 1-52 Acom o sinal + e a seta indica o sentido da rotação.

Por um mecanismo inverso, os ligamentosda convexidade, que se encontram em tensãodevido à inflexão lateral, têm a tendência a des­locar-se em direção à·linha média procurando ocaminho mais curto. Isto fica patente na figura1-52 A, pelo sinal - no nível de um ligamentointertransverso e a seta indicando a direção domovimento.

Note-se que estes dois mecanismos são sinér­gicos e contribuem, cada um da sua maneira, para arotação no mesmo sentido dos corpos vertebrais.

Esta rotação é fisiológica, porém, em cer­tos casos, determinadas alterações da estáticavertebral causadas tanto por uma má distribui­ção das tensões ligamentares quanto por desi­gualdades do desenvolvimento, determinamuma rotação permanente dos corpos vertebrais.Neste caso, existe uma escoliose que associauma incurvação ou uma inflexão permanente dacoluna vertebral a uma rotação dos corpos ver­tebrais. O exame clínico pode revelar esta rota­ção (fig. 1-54). De fato, num indivíduo normal(A), a flexão anterior do tronco determina umperfil simétrico com relação à coluna vertebral.Num indivíduo com escoliose (B), a flexão ante­rior do tronco determina um perfil assimétricocom uma corcova dorsal proeminente do lado daconvexidade da incurvação vertebral. Isto repre­senta a rotação permanente dos corpos verte­brais. Deste modo, o fenômeno fisiológico transi­tório da rotação automática dos corpos vertebraispassa a ser patológico quando se associa perma­nentemente à incurvação da coluna vertebral.

Page 45: Fisiologia Articular - Volume 3

3. TROXCO E COLUNA VERTEBRAL 45

B

A

Fig.1-52

Fig.1-51

Inclinação

A

Fig.1-54 Fig. 1-53

Page 46: Fisiologia Articular - Volume 3

46 FISIOLOGIA ARTICULAR

AMPLITUDES GLOBAIS DA FLEXÃO-EXTENSÃO DA COLUNA VERTEBRAL

Considerada no seu conjunto entre o sacroe o crânio, a coluna vertebral constitui o equiva­lente de uma articulação com três graus de li­berdade: permite movimentos de flexão-exten­são, inclinação lateral à esquerda e direita e ro­tação axial. As amplitudes destes diferentes mo­vimentos elementares, embora muito escassa emcada nível da coluna vertebral, são globalmentemuito importantes em função do número de ar­ticulações vertebrais.

Os movimentos de flexão-extensão se rea­lizam no plano sagital (fig. 1-55). A referência,ao nível do crânio, é o plano mastigatório: sepode imaginar com facilidade uma folha de pa­pelão fortemente apertada entre as mandíbulas.O ângulo formado pelo plano mastigatório entreas duas posições extremas (AT) é de 250°. Estaamplitude deve ser considerada se vemos que oresto das articulações do corpo somente tem180° de amplitude máxima. Naturalmente, estes250° representam uma amplitude extrema nosindivíduos especialmente flexíveis.

As amplitudes segmentares podem ser me­didas em radiografias de perfil.

Na coluna lombar:

- a flexão (FL) é de 60°;

- a extensão (EL) é de 35°;

Para o conjunto da coluna dorsolombar:

- a flexão (FDJ é de 105°;

- a extensão (EDL) é de 60°;

Na coluna cervical:

- a flexão (Fc) é de 40°;

- a extensão (Ec) é de 75°;

Portanto, aflexão total da coluna vertebral(FT) é de 110°.

Enquanto a extensão total da coluna verte­bral (ET) é de 140°.

Estas cifras são dadas a título orientativo;os autores ainda não estão de acordo sobre a

amplitude dos diferentes segmentos da colunavertebral. Por outro lado, estas amplitudes va­riam consideravelmente segundo os indivíduose a idade. De modo que aqui vemos as ampli­tudes máximas.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 47

Fig.1-55

Page 48: Fisiologia Articular - Volume 3

48 FISIOLOGIA ARTICULAR

AMPLITUDES GLOBAIS DA INFLEXÃO LATERALDA COLUNA VERTEBR>\L EM CONJUNTO

o movimento de inflexão lateral também

denominado inclinação da coluna vertebral serealiza no plano frontal (fig. l-56). Este movi­mento é fácil de medir com precisão nas radio­grafias de frente; baseando-se no eixo das vérte­bras, ou na direção do platõ superior da vértebraimplicada. No crânio se pode tomar como pontode referência a linha bimastóidea, que passa pe­lo vértice de ambos os mastóides.

A inflexão lateral da coluna lombar éde 20°.

A inflexão lateral da coluna dorsal éde 20°.

A infiexão lateral da coluna cervical éde 35° a 45°.

A infiexão ou inclinação total da coluna en­tre o sacro e o crânio é, então, de 75 a 85°.

Page 49: Fisiologia Articular - Volume 3

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 49

Lombar20°

Fig.1-56

Page 50: Fisiologia Articular - Volume 3

50 FISIOLOGIA ARTICULAR

AMPLITUDES GLOBAIS DA ROTAÇÃODA COLUNA VERTEBRAL EM CONJUNTO

As amplitudes de rotação são difíceis de seavaliar, visto que resulta impossível fazer radio­grafias no plano transversal e as tomografias axi­ais realizadas para o estudo dos órgãos não têma precisão necessária para medir a rotação dasvértebras. Pode-se medir a rotação total da colu­na vertebral fixando a pelve e contando o graude rotação do crânio.

Recentemente, os autores norte-america­nos, Greggersen e Lucas, puderam medir de ma­neira muito precisa as rotações elementares to­mando como pontos de referência agulhas metá­licas inseridas por anestesia local nas apófisesespinhosas. Trataremos novamente deste temaquando estudarmos a coluna dorso lombar.

A rotação axial na coluna lombar (fig. l-57)é muito escassa: 5°. Mais adiante, veremos as

causas desta limitação do movimento de rota­ção axial.

A rotação axial na coluna dorsal (fig. l-58)é muito mais acentuada: 35°, visto que está favo­recida pela disposição das apófises articulares.

A rotação axial na coluna cervical (fig.l-59) é muito ampla, visto que alcança de 45 a50°. Pode-se constatar como o atlas realiza uma

rotação aproximada de 90° com relação ao sacro.

A rotação axial entre a pelve e o crânio(fig. 1-60) alcança ou ultrapassa ligeiramenteos 90°. De fato, existem alguns graus de rota­ção axial na atlantooccipital, porém, comofreqüentemente a rotação axial é menor nacoluna dorsolombar, a rotação total mal al­cança os 90°.

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Fig.1-57 Fig.1-58

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 51

Fig.1-59

II

Fig.1-60

Page 52: Fisiologia Articular - Volume 3

52 FISIOLOGIA ARTICULAR

AVALIAÇÃO CLÍNICA DAS AMPLITUDES GLOBAISDA COLUNA VERTEBRAL

No caso da flexão-extensão e da inflexãolateral, as medidas exatas da amplitude global dacoluna vertebral só podem ser tomadas sobre ra­diografias do conjunto da coluna vertebral.

Contudo, a amplitude global dos movimen­tos da coluna vertebral pode ser avaliada clinica­mente pelos movimentos "testes".

Para mensurar a fiexão da coluna dor­solombar (fig. 1-61), se pode:

- medir o ângulo a entre a vertical e a lin­ha que une a margem ântero-superior dotrocanter maior (1) e o ângulo do acrô­mio (2); este ângulo inclui também umaamplitude de flexão do quadril;

- ou localizar o nível alcançado pela mar­gem dos dedos (d) ao realizar uma fle­xão de tronco em posição ortostáticacom os joelhos estendidos; neste caso, aflexão também inclui uma amplitude deflexão do quadril. Esta localização podeser realizada, medindo em centímetros adistância d dos dedos até o solo, ou bemsituando o nível n dos dedos com rela­ção aos membros inferiores: patela, me­tade da perna, garganta do pé ou dedos;

- ou medindo com uma fita métrica flexí­

vel a distância que separa a apófise es­pinhosa de C7 da primeira espinhosa sa­cral, primeiro em extensão e depois emflexão. No esquema, este alongamentoda distância C7-S1 é de 5 em.

Para medir a extensão da coluna dorso­lombar (fig. 1-62) se pode avaliar o ângulo a en­tre a vertical e a linha que une a margem ântero­superior do trocanter maior e o ângulo do acrô­mio em máxima extensão. Porém esta medidaintegra novamente um certo grau de extensão

nos quadris. Um método mais preciso consisteem medir o ângulo b de extensão total da colu­na e a seguir subtrair o ângulo de extensão dacoluna cervical isolado (esta última amplitude semede com o tronco vertical e a cabeça girada pa­ra trás); no indivíduo um bom teste de extensãoe de flexibilidade vertebral é o movimento deno­minado "ponte"; porém este, evidentemente,não é um movimento teste que possa ser utiliza­do em qualquer caso.

Para avaliar a "inclinação lateral da colunadorsolombar (fig. 1-63), se mede no indivíduovisto de costas o ângulo a constituído pela ver­tical e a linha que une o extremo superior do su­co interglúteo e a apófise espinhosa de e7• Con­tudo, seria mais exato medir o ângulo b forma­do pela vertical e a tangente da curvatura verte­bral no nível de C7• Um meio prático mais sim­ples, mais imediato, consiste em localizar o ní­vel n alcançado pelos dedos da mão do lado dainclinação: por cima do joelho, no seu nível ouabaixo dele.

Para avaliar corretamente o movimento derotação axial da coluna vertebral, se deve obser­var ao indivíduo de cima (fig. 1-64); para imobi­lizar a pelve, o sujeito deve sentar-se numa ca­deira de encosto baixo, segurando a pelve e osjoelhos, o plano de referência é o plano frontal(F), que passa pela parte superior (O) do crânio.A rotação da coluna vertebral dorsolombar seavalia pelo ângulo a formado pela linha dos om­bros EE' e o plano frontal.

A amplitude total de rotação da coluna ver­tebral se mede pelo ângulo de rotação (b) do pla­no biauricular e do plano frontal. Também se po­de medir o ângulo de rotação (b') constituídopelo plano de simetria da cabeça (S') e o planosagital (S).

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 53

Fig.1-63 Fig.1-62

Fig.1-64

s

Fig.1-61

F

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54 FISIOLOGIA ARTICULAR

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 55

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56 FISIOLOGIA ARTICULAR

A CINTURA PÉLVICA NO HOMEM E NA MULHER

A cintura pélvica forma a base do tronco.Ela também constitui o suporte do abdome econforma a união entre os membros inferiores eo tronco. Trata-se de um anel ósteo-articularfechado, composto por três peças ósseas e trêsQJ1iculações.

As três peças ósseas são:

- os dois ossos ilíacos, pares e simétricos;

- o sacro, ímpar e simétrico, bloco verte-bral constituído pela união de cinco vér­tebras sacrais.

As três articulações, de escassa mobilida­de, são:

- as duas articulações sacroilíacas queunem o sacro a cada um dos ossos ilíacos;

- a sínfise pÚbica, que une ambos os ossosilíacos pela frente.

A cintura pélvica tem, em conjunto, a for­ma de um funil com uma grande base superiorque conecta a cavidade abdominal com a pelveatravés da abertura superior. No caso da cinturapélvica, o dimorfismo sexual se aprecia nitida­mente; de fato, quando se compara a pelve mas­culina (fig. 2-1) com a feminina (fig. 2-2), se po-

de constatar cOmo a feminina é muito mais lar­ga e muito mais extensa: o triângulo em cujointerior se inscreve possui uma base mais amplaque o da pelve masculina.

Por outra parte, ela também tem menos al­tura que a pelve masculina: a altura do trapézioinscrito é menor.

Por último, proporcionalmente, a aberturasuperior (linha espessa contínua) é mais larga emais aberta na mulher que no homem.

Esta diferença na morfologia da cinturapélvica se relaciona com a função da gestação e,principalmente, com a do parto, visto que o fetoe especialmente a sua cabeça que é a parte maisvolumosa, num primeiro momento se situa porcima da abertura superior da pelve através daqual ele deve passar no momento oportuno paraencaixar-se numa escavação e a seguir abrir-secaminho pela abertura inferior da pelve. Portan­to, as articulações da cintura pélvica desem­penham uma função na estática do tronco emposição ortostática e também um papel impor­tante no mecanismo do parto, como veremosmais adiante ao falar da fisiologia da articulaçãosacroilíaca.

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Fig.2-2

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 57

Fig.2-1

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58 FISIOLOGIA ARTICULAR

ARQUITETURA DA CINTURA PÉLVICA

A cintura pélvica, considerada em conjunto,transmite forças entre a coluna vertebral e osmembros inferiores (fig. 2-3): o peso (P) que aquinta vértebra lombar suporta se reparte emduas partes iguais em direção às asas do sacro pa­ra depois, através das espinhas ciáticas, dirigir-seaté a cavidade cotilóide. Neste ponto, a resistên­cia do chão é recebida ao peso do corpo (R)transmitido pelo colo do fêmur e pela cabeça fe­moral; uma parte desta resistência fica anuladapela resistência oposta, no nível da sínfise púbicaapós ter atravessado o ramo horizontal do púbis.

° conjunto destas linhas de força constituium anel completo representado pela aberturasuperior da pelve. Existe um sistema trabecularpara dirigir estas forças através do anel pélvico(ver volume li, pág. 28).

Devido à sua largura, mais ampla em cimaque embaixo na sua parte articular, se pode con­siderar o sacro como uma cunha (triângulo tra­cejado em escuro) que se incrusta verticalmenteentre as duas asas ilíacas. Unido a elas por liga­mentos, o sacro está mais apertado entre as asasquanto maior for o peso exercido sobre ele: tra­ta-se de um sistema de autobloqueio.

Além disso,. o sacro se encontra encaixa­do entre as duas asas ilíacas no plano transver­sal (figs. 2-4 e 2-5). De fato, cada asa ilíacapode ser considerada como um braço de ala­\"anca (fig. 2-4) cujo ponto de apoio (O) e 02)estaria localizado nas articulações sacroilíacase cuja resistência e potência estariam situadasnas extremidades superiores e inferiores. Portrás, os potentes ligamentos sacroilíacos (LI eL) representariam a resistência e, pela frente,a potência de cada um dos braços de alavancaestaria representada pela sínfise pÚbica desen­volvendo uma força de aproximação SI e S2'

Quando se produz um deslocamento dasínfise púbica (fig. 2-5), a diástase dos dois pú­bis (S) permite a separação das superfícies ilía­cas das articulações sacroilíacas e, como nestecaso o sacro não está fixo, pode deslocar-se pa­ra a frente (d) e dJ

Desse modo, se entende a total interdepen­dência dos diferentes elementos do anel pélvico:qualquer ruptura de continuidade num ponto re­percute em todo o anel, comprometendo a suaresistência mecânica.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 59

R Fig.2-3 R

sFig.2-5

Page 60: Fisiologia Articular - Volume 3

60 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS SUPERFÍCIES ARTICULARES DA ARTICULAÇÃO SACROILÍACA

Se vemos uma articulação sacroilíaca (fig.2-6) aberta, como se fosse um livro, de modoque as duas peças ósseas pivotem em tomo deum eixo vertical (a, b, c), podemos comprovarnitidamente a correspondência das duas super­fícies articulares:

- a face auricular do osso coxal (A), situa­da na parte póstero-superior da face inter­na do osso ilíaco, logo atrás da linha ino­minada, que constitui uma parte da aber­tura superior da pelve. Esta superfície tema forma de meia-lua de concavidade pós­tero-superior; está recoberta com cartila­gem e é, em conjunto, bastante irregular,porém Farabeuf afirmou que parecia umtrilho ocupado: de fato, no eixo maiordesta superfície discorre uma crista alon­gada que separa duas depressões; estacrista se incurva sobre si mesma seguindoum arco de círculo, cujo centro se situaaproximadamente na tuberosidade ilíacaou pirâmide (marcada com uma cruz)que, como se poderá comprovar maisadiante, constitui a inserção dos potentesligamentos da articulação sacroilíaca;

- a superfície auricular da asa sacra(B), cujas margens se superpõem aos da

face auricular do osso coxal e cuja su­perfície tem uma conformação inversa:

Na linha axial'desta superfície existe umadepressão limitada por duas cristas alon­gadas, o conjunto se incUI\"aseguindo umarco de círculo cujo centro se localiza nonível do primeiro tubérculo sacro (marca­do com uma cruz) no qual se inserem po­tentes ligamentos da articulação. Fara­beuf afirmou que a superfície auricular dosacro estava conformada como um trilhooco, que corresponde exatamente à super­fície do trilho oCllpado do osso ilíaco.

Contudo, estas duas superfícies estão longede ter a regularidade descrita e se realizamostrês cortes horizontais (fig. 2-7) corresponden­tes aos níveis a, b e c da figura 2-6, se podeconstatar que, apenas na parte média (b) e naparte superior (a) da face auricular do sacroexiste uma depressão central. Ao contrário, nasua parte inferior (c), a face auricular do sacro éconvexa na sua parte central. De tudo isso se po­de deduzir a dificuldade que existe para realizaruma projeção radiológica da interlinha sacro­ilíaca, dependendo da parte que se deseje explo­rar, a projeção deverá ser oblíqua de fora paradentro, ou de dentro para fora.

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a

Fig.2-6

Fig.2-7

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 61

B

c

b

Page 62: Fisiologia Articular - Volume 3

62 FISIOLOGIA ARTICULAR

A FACETA AURICULAR DO SACRO

A faceta auricular do sacro pode apresentargrandes variações morfológicas dependendode cada indivíduo. A. Delmas demonstrou aexistência de uma correspondência entre o tipode coluna vertebral e a morfologia do sacro e dasua faceta auricular (fig. 2-8).

Quando as curvaturas da coluna vertebralsão muito acentuadas (A), o que corresponde aum tipo dinâmico, o sacro está muito horizontale a faceta auricular está muito incurvada sobresi mesma e ao mesmo tempo muito côncava. As­sim sendo, a articulação sacroilíaca está dotadade uma grande mobilidade que lembra à de umadiartrose; se trata de um tipo especialmente evo­luído, "sobreadaptado", que corresponde a umgrau extremo de adaptação à marcha bípede.

Quando as curvaturas da coluna vertebralsão pouco acentuadas (B), o que corresponde aum tipo estático, o sacro está quase vertical e afaceta auricular está muito alongada vertical­mente e muito pouco angulada sobre si mesma;por outro lado a sua superfície é quase plana.Esta morfologia da faceta auricular, muito dife­rente da que foi descrita por Farabeuf, corres­ponde a uma articulação de pouca mobilidadeque lembra à de uma anfiartrose; este aspectoque se observa amiúde nas crianças aproxima-seao encontrado nos primatas.

Seja como for, A. Delmas demonstrou quea evolução dos primatas até o homem se acom­panha de um alongamento e um alargamento dosegmento caudal da faceta auricular cuja impor-

tância é superior, no homem, à do segmento cra­niano. A angulação de ambos os segmentos po­de alcançar no homem o ângulo reto, enquantonos primatas esta face está muito pouco incurva­da sobre si mesma:

Weisel analisou, através de traçados carto­gráficos, o relevo da fáceta auricular do sacro, de­monstrando (fig. 2-9) que a aurícula é geralmen­te mais longa e estreita no sacro que no osso ilía­co e que se observa constantemente uma depres­são central na união dos dois segmentos (marca­dos com o sinal-) e duas elevações perto das ex­tremidades de cada segmento (marcadas com osinal +). No osso ilíaco, a disposição é recíproca,mas não exatamente simétrica. Desse modo, exis­te uma elevação na união dos dois segmentos quecorresponde ao tubérculo de Bonnaire.

Weisel também desenvolveu uma teoriapessoal sobre a disposição dos ligamentos destaarticulação sacroilíaca com relação às forças querecebe. Classifica estes ligamentos em dois gru­pos (fig. 2-10):

- um grupo cranial (Cr), de direção laterale dorsal, que se oporia ao componente FIdo peso do corpo (P) exercido sobre a fa­ce superior da primeira vértebra sacral.Estes ligamentos agiriam durante o des­locamento do promontório para a frente;

- um grupo caudal (Ca), de direção cra­nial, que se oporia ao componente F2

perpendicular ao plano da face supe­rior da primeira vértebra sacral.

Page 63: Fisiologia Articular - Volume 3

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 63

Dinâmico

A

Fig.2-9

c

Fig.2-8

B

Fig.2-10

Estático

Page 64: Fisiologia Articular - Volume 3

64 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS LIGAMENTOS DA ARTICULAÇÃO SACROILÍACA(Os números de referência são comuns às três figuras)

Numa vista posterior da pelve (fig. 2-11), sepodem observar, por uma parte, os ligamentosílio-Iombares:

- o fascículo superior do ligamento ílio­lombar (1);

- o fascículo inferior do ligamento ílio­lombar (2).

Do lado direito da figura se distingue o pla­no médio dos ligamentos ílio-sacrais. De cimapara baixo:

- o ligamento ílio-transverso sacro (3);

- os ligamentos ílio-transversos conjuga-dos (4) descritos por Farabeuf, divergemda extremidade posterior da crista ilíaca eterminam nos tubérculos conjugados.

O primeiro ligamento ílio-transverso conju­gado se estende da tuberosidade ilíaca, situada portrás do vértice da pirâmide, até o primeiro tubér­culo conjugado.

O segundo ligamento ílio-transverso conju­gado, de Zaglas, se fixa no segundo tubérculoconjugado.

O terceiro e o quarto ligamentos ílio-trans­versos conjugados se estendem da espinha ilíacapóstero-superior até o terceiro e o quarto tubércu­los conjugados.

No lado esquerdo está representado o planoligamentar superficial (5), leque fibroso que seestende da margem superior do osso ilíaco até ostubérculos póstero-internos.

Entre a parte inferior da margem externa dosacro e a grande incisura ciática se estendem doisimportantes ligamentos: os ligamentos sacrociá­ticos maior e menor:

- o ligamento sacrociático menor (6) oblíquopara cima, para dentro e para trás, se esten­de da espinha ciática até a margem lateraldo sacro e do cóccix;

- o ligamento sacrociático maior (7) atravessaobliquamente a face posterior do menor. Inse­re-se em cima, ao longo de uma linha que vaida margem posterior do osso iliaco às duas pri­meiras vértebras do cóccix. As suas vértebras

oblíquas para baixo, para a frente e para fora

estão torcidas sobre si mesmas e se inserem

abaixo na tuberosidade isquiática e no lábio in­terno do ramo ascendente do ísquio. Assim, agrande incisura ciática fica dividida por estesdois ligamentos sacrociáticos em dois orifícios:um orifício superior, pelo qual o músculo pira­midal sai da pelve, e um orifício inferior, orifí­cio de saída do obturatório interno.

Em vista ant~rior (fig. 2-12), se encontram denovo os ligamentos ílio-lombares (1 e 2), os liga­mentos sacrociáticos ~aior (7) e menor (6), porémtambém se encontra o ligamento sacroilíaco ante­rior, constituído por dois fascículos denominadosfreios de nutação superior e inferior:

- umfascículo ântero-superior (8);

- umfascículo ântero-inferior (9).

A figura 2-13 mostra a articulação sacroilíacadireita, com seus ligamentos, aberta pela rotação emtomo a um eixo vertical; deste modo, se pode obser­var o osso ilíaco (A) por sua face interna e o sacro(B) por sua face extema. Assim se pode entender:

- o enrolamento dos ligamentos ao redor daarticulação sacroilíaca e as condições nasquais entram em tensão durante a nutação ea contranutação;

- a direção oblíqua para baixo, para a frente epara dentro dos freios da nutação (8 e 9) apartir do osso ilíaco (A). A partir do sacro(B) são oblíquos para cima, para a frente epara fora;

- do mesmo modo se encontram de novo os

ligamentos mo-transversos conjugados (5);

- os ligamentos sacrociáticos menor (6) emaior (7);

- o ligamento axial (representado por umazona branca nas duas metades do desen­

ho) constitui o plano profundo dos liga­mentos sacroilíacos e se fixa por fora natuberosidade ilíaca, principalmente na pi­râmide, e por dentro nas duas primeirasfossas crivadas do sacro. Também se de­nomina interósseo ou ligamento vago, epara os autores clássicos representa o eixoem tomo do qual se realizam os movi­mentos do sacro; daí o seu nome.

Page 65: Fisiologia Articular - Volume 3

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 65

5

7

Fig.2-11

A

Fig.2-13

B

8

7

6

2

3

4

6

Fig.2-12

Page 66: Fisiologia Articular - Volume 3

66 FISIOLOGIA ARTICULAR

A NUTAÇÃO E A CONTRANUTAÇÃO

Antes de se analisarem os movimentos da

articulação sacroilíaca convém lembrar que asua amplitude não é muito grande e, além disso,é variável segundo circunstâncias e indivíduos,o que explica as contradições existentes entre osdiferentes autores quanto às teorias da funçãodesta articulação e à importância que estes mo­vimentos podem ter na fisiologia do parto. Estesmovimentos foram descritos pela primeira vezpor Zaglas em 1851 e por Duncan em 1854.

Definiçãoe mecanismossegundo a teoria clássica

Durante o movimento de nutação (fig.2-15), o sacro gira em tomo do eixo representa­do pela cruz preta e constituído pelo ligamentoaxiaI. de tal modo que o promontório se deslocapara baixo e para a frente (S) e o vértice do sa­cro e a extremidade do cóccix se deslocam paratrás (d2). Assim, o diâmetro ântero-posterior daabertura superior da pelve diminui uma distân­cia S:, enquanto o diâmetro ântero-posterior daabertura inferior da pelve aumenta uma distân­cia d2• Simultaneamente (fig. 2-16), as asas ilía­cas se aproximam enquanto as tuberosidades is­quiáticas se separam. O movimento de nutaçãoé limitado (fig. 2-13) pela tensão dos ligamentossacrociáticos maior (7) e menor (6) e dos freiosde nutação, a saber: os fascículos ântero-supe-

rior (8) e ântero-inferior (9) do ligamento sacro­ilíaco anterior.

O movimento' de contranutação (fig.2-14) realiza deslocamentos inversos: o sacro,ao pivotar em tomo do ligamento axial se endi­reita, de modo que o promontório se desloca pa­ra cima e para trás (S) e a extremidade inferiordo sacro e o vértice inferior do cóccix se deslo­

cam para baixo e para a frente (dJ O diâmetroântero-posterior da abertura superior da pelveaumenta uma distância SI' enquanto o diâmetroântero-posterior da abertura inferior da pelve di­minui uma distância di' Por outro lado, as asasilíacas se separam e as tuberosidades isquiáticasse aproximam. O movimento de contranutação élimitado (fig. 2-13) pela tensão dos ligamentossacroilíacos, distribuídos no plano superficial(5) e no plano profundo (4).

A título informativo, a variação do diâme­tro ântero-posterior da abertura superior da pel­ve pode variar de 3 mm para Bonnaire, Pinard ePinzani, até 8 a 13 mm para Walcher. A amplitu­de de variação do diâmetro ântero-posterior daabertura inferior da pe1ve pode variar de 15 mmpara Borcel e Femstrom a 17,5 mm para Thoms.Weisel confirmou recentemente o deslocamentotransversal das asas ilíacas e das tuberosidades

isquiáticas.

Page 67: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.2-14

Fig.2-16

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 67

Page 68: Fisiologia Articular - Volume 3

68 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS DIFERENTES TEORIAS DA NUTAÇÃO

Na teoria clássica de Farabeuf (fig. 2-17)que se acaba de descrever, o movimento de bás­cula do sacro se realiza ao redor do eixo consti­tuído pelo ligamento axial (O), o deslocamentoé angular e o promontório se desloca para baixoe para a frente ao redor de um arco de círculo decentro O retroauricular.

Na teoria de Bonnaire (fig. 2-18), o movi­mento de báscula do sacro se realiza ao redor deum eixo O', que passa pelo tubérculo de Bon­naire, na união dos dois segmentos da aurículasacra. O centro deste movimento angular bascu­lante do sacro é, então, auricular.

Contudo, os estudos de Weisel permitempropor outras duas teorias:

- uma teoria de translação pura (fig. 2­19), onde o sacro se deslizaria ao longodo eixo da porção inferior da aurícula.Trata-se então de uma translação se-

guindo uma distância d que afetaria domesmo modo ao promontório sacro e aovértice do sacro;

- uma outra hipótese retoma a idéia da ro­tação (fig. 2-20), porém desta vez ao re­dor de um eixo pré-auricular O" situa­do abaixo e pela frente do sacro. A loca­lização deste centro de rotação variariade um indivíduo a outro, e, inclusive nomesmo indivíduo dependendo do tipode movimento realizado.

A variedade destas teorias faz supor a difi­culdade para se analisarem os movimentos depouca amplitude, assim como a possibilidade dediferentes tipos de movimentos variando segun­do os indivíduos.

Contudo, estas noções não têm o caráter abs­trato que poderia ser-lhes atribuídas, visto que es­tes movimentos intervêm na fisiologia do parto.

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Fig.2-19

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 69

Fig.2-20

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70 FISIOLOGIA ARTICULAR

A SÍNFISE PÚBICA E A ARTICULAÇÃO SACROCOCCÍGEA

A sÍnfise púbica é uma anfiartrose, de pou­ca mobilidade, quase nula. Contudo, no final dagestação e durante o parto, a embebição aquosadas partes moles permite pequenos movimentosde deslizamento e a separação de um púbis comrelação ao outro. Nos roedores, estes movimen­tos são de grande amplitude.

Em corte horizontal (fig. 2-21), se distin­guem as extremidades ósseas dos púbis a cadalado da linha média, cujas superfícies axiais es­tão cobertas por uma cartilagem e unidas poruma fibrocartilagem denominada ligamento in­terósseo.

Em vista interna (fig. 2-22), a superfíciearticular do púbis aparece ovalada com um eixomaior oblíquo para cima e para a frente, cobertapelo tendão de inserção do músculo reto do ab­dome (1); a articulação é bloqueada pela frentepor um ligamento anterior (3), muito espesso,formado por fibras transversais e reforçado porfibras oblíquas, perfeitamente visíveis em vistaanterior (fig. 2-25): expansão das aponeurosesde inserção do músculo oblíquo (8), expansãodos músculos reto anterior (7) e piramidal (2),expansão dos tendões de inserção do reto inter­no e do adutor médio (9); todas estas fibras en­trelaçadas formam um tecido denso na face an­terior da sínfise.

Na face posterior (fig. 2-24) se pode ob­servar o ligamento posterior da sÍnfise púbica(5), membrana fibrosa que continua com o pe­riósteo. Em corte vértico-frontal (fig. 2-23) sepode apreciar a constituição das superfícies arti­culares com a camada cartilaginosa (10) das su­perfícies púbicas, afibrocartilagem (11) e afinafenda (12) escavada na espessura deste ligamen­to. A margem superior da sínfise é reforçada pe­lo ligamento superior (6), fascículo fibroso es­pesso e denso, e a margem inferior é reforçadapelo ligamento inferior (4) ou ligamento arquea­do subpúbico no prolongamento do ligamento

'interósseo, formando um arco de margem cor­tante que redondeia o vértice do arco púbico. Aespessura e a solidez do ligamento arqueado

subpúbico se pode observar com facilidade numcorte sagital (fig. 2-22). A força destes meios deunião fazem da sínfise púbica uma articulaçãomuito sólida, difícil de deslocar. Em traumatolo­gia, esta alteração é pouco freqüente, porém oseu tratamento é geralmente difícil, o que se tra­ta de um fato surpreendente tratando-se de umaarticulação que, em condições normais, carecede mobilidade.

A articulação sacrococcígea que une o sa­cro com o cóccix é uma anfiartrose. As suas su­perfícies articulares' são elípticas de eixo maiortransversal.

Em vista lateral (fig. 2-28), se pode obser­var que a superfície sacra é convexa, enquanto asuperfície do cóccix é côncava. Os meios deunião estão constituídos por um ligamento inte­rósseo, análogo a um disco inter\"ertebral e porligamentos periféricos que se classificam emtrês grupos: anteriores, posteriores e laterais.

Em vista anterior (fig. 2-26), se pode ob­servar o cóccix (1) formado por três ou quatropeças ósseas soldadas entre si, o sacro (2) e o li­garnento anterior:

- na face anterior do sacro, os vestígios doligamento vertebral comum anterior (3)que se prolongam pelo ligamento sacro­coccígeo anterior (4);

- também se podem apreciar três ligamen­tos sacrococcígeos laterais (5, 6 e 7).

Em vista posterior (fig. 2-27), se podemobservar vestígios ligamentares sobre a cristasacra (8) que se prolongam pelos ligamentos sa­crococcígeos posteriores (9).

A articulação sacrococcígea é dotada demovimentos de fiexão-extensão (fig. 2-28), quesão principalmente passivos e que intervêm nadefecação e no parto. De fato, no movimento denutação, a extensão do cóccix (deslocamento pa­ra cima e para trás), que aumenta o diâmetro ân­tero-posterior da abertura inferior da pelve nomomento da saída da cabeça fetal, pode ampliare prolongar a báscula para trás da ponta do sacro.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 73

Fig.2-31

A

Fig.2-33

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74 FISIOLOGIA ARTICULAR

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 75

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76 FISIOLOGIA ARTICULAR

A COLUNA LOMBAR EM CONJUNTO

Vista de frente (fig. 3-1) numa radiografia,a coluna lombar é retilínea e simétrica em rela­ção à linha das apófises espinhosas (m); a espes­sura dos corpos vertebrais, assim como a dasapófises transversas decrescem regularmente debaixo para cima. A linha horizontal (h), que per­corre a parte mais elevada das duas cristas ilía­cas, passa entre L4 e Ls' As verticais (a e a') tra­çadas da margem lateral da asa do sacro caemaproximadamente no fundo do cótilo.

Vista de perfil (fig. 3-2) numa radiografia,se pode constatar a característica da lordoselombar e da estática da coluna descritas por DeSeze:

~ o ângulo sacro (a) está constituído pelainclinação do platô superior da primeiravértebra sacra sobre a horizontal. O seuvalor médio é de 30°;

- o ângulo lombossacro (b), formado entreo eixo da quinta vértebra lombar e o eixodo sacro, tem um valor médio de 140°;

o ângulo de inclinação da pelve (c),constituído pela inclinação sobre a ho­rizontal da linha que se estende entre opromontório e a margem superior da

sínfise púbica, tem um valor médio de60°;

- a seta de lordose lombar (s) pode sertraçada a partir da corda da lordose lom­bar que une a margem póstero-superiorda primeira vértebra lombar com a mar­gem póstero-inferior da quinta vértebralombar. A seta representa o ponto máxi­mo da curvatura, geralmente no nível daterceira vértebra lombar. Esta seta émais pronunciada quanto mais acentua­da seja a lordose; pode ser nula quandoa coluna lombar é retilínea; inclusivepode estar invertida em certos casos,embora isto não seja freqüente;

- a reversão posterior (r) representa a dis­tância entre a margem póstero-inferiorda quinta vértebra lombar e a verticalque desce da margem póstero-superiorda primeira vértebra lombar. Esta dis­tância pode ser nula se a vertical se con­funde com a corda da lordose lombar.Pode ser positiva se a coluna lombar sedesloca para trás; pode ser negativa se acoluna lombar se desloca para a frente.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 77

Fig.3-1 Fig.3-2

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78 FISIOLOGIA ARTICULAR

CONSTITUIÇÃO DAS VÉRTEBRAS LOMBARES

r

Em vista posterior de 3/4 de uma vértebralombar (fig. 3-4) se podem apreciar os elemen­tos que a constituem; na figura 3-3 estes elemen­tos estão dispostos em "peças":

- o corpo vertebral (1), reniforme, é maisextenso na largura que no sentido ânte­ro-posterior; também é mais longo quealto e o seu contorno, profundamenteescavado, tem a forma de um diábolo,menos atrás onde é quase plano;

- as duas lâminas (2) são muito altas e sedirigem para trás e para dentro, porém oseu plano é oblíquo para baixo e parafora;

- elas se unem por trás para constituir aapófise espinhosa (3), muito espessa eretangular, que se dirige diretamentepara trás e se engrossa na sua extremi­dade posterior;

- as apófises costóides (4) incorretamentedenominadas apófises transversas, vistoque na verdade se trata de remanescen­tes de costelas, se implantam no níveldas articulações e se dirigem obliqua­mente para trás e para fora. Na face pos­terior da base de implantação das apófi­ses costiformes, se localiza o tubérculoacessório, que segundo alguns autoresseria o homólogo da apófise transversadas vértebras dorsais;

- o pedíclllo (5), porção óssea curta queune o arco posterior com o corpo verte­bral, se implanta na face posterior docorpo vertebral no seu ângulo súpero­externo. Ele forma o limite superior e olimite inferior dos forames interverte­brais; atrás, ele constitui a inserção domaciço das apófises articulares;

- a apófise articular superior (6) tem ori­gem na margem superior da lâmina nasua união com o pedículo; o seu plano éoblíquo para trás e para fora e apresentauma face articular coberta com cartila­

gem, orientada para trás e para dentro;

- a apófise articular inferior (7) se deslocada margem inferior do arco posterior,próximo à união da lâmina com a apófiseespinhosa. Dirige-se para baixo e para fo­ra e possui uma face articular cobertacom cartilagem orientada para fora e pa­ra a frente;

- entre a face posterior do corpo vertebrale o arco posterior se encontra delimita­do o forame vertebral, que forma umtriângulo quase equilátero.

Algumas vértebras lombares apresentamcertas características específicas: a apófise cos­tiforme da primeira vértebra lombar é menos de­senvolvida do que a das outras lombares.

A quinta vértebra lombar possui um corpovertebral mais alto para a frente que para trás, detal modo que, visto de perfil, ela é czmeiforme outem a forma de um trapézio de base maior ante­rior. Quanto às apófises articulares inferiores daquinta vértebra lombar, elas se encontram maisseparadas entre si do que as das outras lombares.

Quando duas vértebras lombares se sepa­ram entre si verticalmente (fig. 3-5A), se podeentender como as apófises articulares inferioresda vértebra superior se encaixam por dentro epor trás das apófises articulares superiores davértebra inferior (fig. 3-5B). Assim sendo, cadavértebra lombar estabiliza a vértebra superior la­teralmente, graças aos ressaltos que as apófisesarticulares representam.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 79

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Fig.3-3

Fig.3-4

A Fig.3-5 B

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80 FISIOLOGIA ARTICULAR

o SISTEMA LIGAMENTAR NA COLUNA LOMBAR

o sistema de união ligamentar se pode anali­sar corretamente através de um corte sagital (fig.3-6), neste caso as lâminas do lado esquerdo estãoseccionadas; seja por um corte frontal (fig. 3-7) nonível dos pedículos, com a metade anterior in­cluindo a face posterior dos corpos vertebrais;quanto à metade posterior do corte, após realizaruma rotação de 180°, ele inclui a face anterior dosarcos posteriores das vértebras lombares (fig. 3-8).Uma vértebra está separada acima. Observar queem ambos os lados (figs. 3-7 e 3-8) se podem veros cortes correspondentes aos pedículos; os núme­ros de referência são comuns às três figuras.

Em corte sagital (fig. 3-6) se podem distin­guir dois sistemas ligamentares:

- por um lado, ao longo de toda a colunavertebral, os ligamentos vertebrais co­muns anterior (1) e posterior (5);

- e por outro, um sistema de ligamentossegmentários entre os arcos posteriores.

O grande ligamento vertebral comumanterior (1) é uma longa fita espessa e nacaradaque se estende do processo basilar do occipitalaté o sacro, sobre a face anterior da coluna ver­

tebral. Ele está constituído por longas fibras quevão de uma extremidade à outra do ligamento ede fibras curtas arciformes que vão de uma vér­tebra à outra. De fato, ele se insere na face ante­rior do disco intervertebral (3). No nível dasmargens ântero-superior e ântero-inferior de ca­da corpo vertebral, existe um espaço descolável(4) onde os ostófitos se formam quando a artro­se vertebral se constitui.

O grande ligamento vertebral comumposterior (5) constitui uma fita que se estendedo processo basilar até o canal sacro. As suasduas margens estão recortadas, visto que, no ní­vel da face posterior de cada disco interverte­bral, as fibras arciformes (6) se inserem muitolonge lateralmente. Pelo contrário, o ligamentonão tem inserção nenhuma na face posterior docorpo vertebral, do qual se mantém separado porum espaço percorrido pelos plexos venosos pe­rivertebrais. A parte côncava de cada recorte co­rresponde aos pedículos (10).

Entre estes corpos vertebrais, o corte sagi­tal (fig. 3-6) mostra o disco intervertebral com oanel fibroso (8) e o núcleo pulposo (9).

No arco posterior, a união é assegurada pe­los ligamentos segmentários:

- cada lâmina está unida à seguinte por umligamento espesso, muito resistente, decor amarela; se trata do ligamento ama­relo (U), cuja secção (12) pode ser ob­servada na figura 3-6. Abaixo, se inserena margem superior da lâmina subjacen­te e acima na face interna da lâmina con­

tígua superior. A sua margem interna seune à do seu homólogo do lado opostona linha média (fig. 3-8) e fecha o canalvertebral totalmente por trás (11); para afrente e para fora. ela cobre a cápsula eo ligamento ântero-interno (14) das ar­ticulações interapofisárias. Desse modo,a margem ântero-externa do ligamentoamarelo toca o contorno posterior do fo­rame intervertebra1;

- entre cada apófise espinhosa se estende opotente ligamento interespinhoso (15)que se prolonga para trás pelo ligamen­to supra-espinhoso (16), cordão fibrosoque se insere no vértice das apófises es­pinhosas; na zona lombar ele quase nãose distingue do cruzamento das fibras deinserção dos músculos dorsolombares;

- entre os tubérculos acessórios das apófi­ses transversas se estende a cada lado um

ligamento intertransverso (17), bastan­te desenvolvido na porção lombar.

Em vista anterior do arco posterior (fig. 3-8),está descolada a vértebra superior graças à secçãodo ligamento amarelo (13); já entre a segunda e aterceira vértebras, o ligamento foi ressecado com­pletamente, deixando aparecer a cápsula e o liga­mento ântero-interno da articulação interapofisá­ria (14) e da apófise espinhosa.

O conjunto destes dois sistemas ligamenta­res constitui uma união extremamente sólida,não apenas entre dois corpos vertebrais, mastambém para o conjunto da coluna vertebral.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 81

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Fig.3-6

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82 FISIOLOGIA ARTICULAR

FLEXÃO-EXTENSÃO E INFLEXÃO DA COLUNA LOMBAR

Durante o movimento de flexão (fig. 3-9) ocorpo vertebral da vértebra suprajacente se incli­na e se desliza levemente para afrente no senti­do da seta F, o que diminui a espessura do discona sua parte anterior e aumenta a sua espessurana sua parte posterior. Deste modo, o disco in­tervertebral toma a forma de cunha de base pos­terior e o núcleo pulposo é deslocado para trás.Assim, a sua pressão aumenta nas fibras poste­riores do anel fibroso; simultaneamente, as apó­fises articulares inferiores da vértebra superiorse deslizam para cima e têm a tendência de se­parar-se das apófises articulares superiores davértebra inferior (seta 1); portanto, a cápsula eos ligamentos desta articulação interapofisáriaestão tensos ao máximo, assim como todos os li­gamentos do arco posterior: o ligamento amare­lo, o ligamento interespinhoso (2), o ligamentosupra-espinhoso e o ligamento vertebral comumposterior. Em resumo, esta tensão limita o movi­mento de flexão.

Durante o movimento de extensão (fig.3-10), o corpo vertebral da vértebra supraja­cente se inclina para trás e recua no sentido daseta E. Ao mesmo tempo, o disco intervertebralse afina na sua parte posterior e se alarga na suaparte anterior, tornando-se cuneiforme de baseanterior. O núcleo pulposo é deslocado para afrente, o que provoca que as fibras anteriores doanel fibroso entrem em tensão. Ao mesmo tem-

po, o ligamento vertebral comum anterior tam­bém entra em tensão (5). Pelo contrário, o liga­mento vertebral comum posterior se distende,constatando-se' simultaneamente que as apófisesarticulares inferiores da vértebra superior se en­caixam mais profundamente entre as apófises ar­ticulares superiores da vértebra inferior (3) en­quanto as apófises espinhosas entram em conta­to entre si. Desta forma, o movimento de exten­são fica limitado pelos ressaltos ósseos do arcoposterior e pela tensão do ligamento vertebralcomum anterior.

Durante o movimento de inflexão lateral(fig. 3-11), o corpo da vértebra suprajacente seinclina para o lado da concavidade da inflexão eo disco se torna cuneiforme, mais espesso no la­do da convexidade. O núcleo pulposo se deslocalevemente para o lado da convexidade. O liga­mento intertransverso do lado da convexidade(6) também entra em tensão e se distende do la­do da concavidade (7). Uma vista posterior (12)mostra um deslizamento desigual das apófisesarticulares: do lado da convexidade, a apófise ar­ticular da vértebra superior se eleva (8), enquan­to do lado da concavidade ela desce (9). Existeassim, simultaneamente, uma distensão dos liga­mentos amarelos e da cápsula articular interapo­fisária do lado da concavidade e, pelo contrário,uma tensão destes mesmos elementos do lado daconvexidade.

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Fig.3-9

Fig.3-11

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 83

Fig.3-10

Fig.3-12

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84 FISIOLOGIA ARTICULAR

ROTAÇÃO NA COLUNA LOMBAR

As faces articulares superiores das vérte­bras lombares estão orientadas para trás e paradentro (figs. 3-13 e 3-14, vista superior); elasnão são planas, mas sim, côncavas transversal­mente e retilíneas verticalmente. Geometrica­mente, elas estão talhadas sobre a superfície deum mesmo cilindro cujo centro O se situa atrásdas faces articulares, aproximadamente na ba­se da apófise espinhosa (fig. 3-17). Nas vérte­bras lombares superiores (fig. 3-13), o centrodeste cilindro se localiza quase imediatamenteatrás da linha que une a margem posterior dasapófises articulares, enquanto nas vértebraslombares inferiores (fig. 3-14), o cilindro temum diâmetro muito maior, o que recua na mes­ma medida o seu centro em relação ao corpovertebral.

É importante o fato de que o centro destecilindro não se confunda com o centro dos pla­tôs vertebrais, embora quando a vértebra supe­rior gira sobre a vértebra inferior (figs. 3-15

e 3-16), este movimento de rotação se realizeao redor deste centro e deve acompanhar-se,obrigatoriamente, de um deslizamento do cor­po vertebral da vértebra superior com relaçãoao da vértebra subjacente (fig. 3-17). O discointervertebral (D) não é, portanto, solicitado natorção axial, o que lhe daria uma amplitude demovimento relativamente grande, mas em ci­salhamento; isto explica que a rotação axial nacoluna lombar seja limitada, tanto em cada ní­vel quanto no seu conjunto.

Segundo os trabalhos de Grégersen e D.B.Lucas (ver pág. 121), a rotação total direita-es­querda da coluna lombar entre Lj e Sj seria de10° e, supondo que a rotação segmentária esti­vesse eqüitativamente repartida, isto seria iguala dois graus por cada parte, isto é, um grau a ca­da lado em cada nível. Portanto, podemos desta­car que a coluna lombar não está conformadapara realizar a rotação axial, limitada pela orien­tação das faces articulares.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 85

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Fig.3-14

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Fig.3-13

Fig.3-15 Fig.3-16

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86 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ARTICULAÇÃO LOMBOSSACRAL E A ESPONDILOLISTESE

r-

I

A charneira lombossacral constitui um pon­to fraco do edifício vertebral. De fato (fig. 3-18),devido à inclinação do platá superior da primei­ra vértebra sacra, o corpo da quinta lombar tema tendência de deslizar-se para baixo e para afrente: o peso P pode ser decomposto em duasforças elementares, uma força N perpendicularao platá superior do sacro e uma força G parale­la ao platô superior do sacro que desloca o cor­po vertebral de Ls para a frente. A sólida uniãodo arco posterior de Ls impede este deslizamen­to. Em vista superior (fig. 3-19) as apófises arti­culares inferiores de Ls se encaixam entre asapófises articulares superiores da primeira sacra,a força G' de deslizamento encaixa fortementeas apófises articulares de Ls sobre as apófises su­periores do sacro que resistem a ambos os lados,de acordo com uma força R. A transmissão des­tas forças se realiza através de um ponto de pas­sagem obrigatório, localizado no istmo verte­bral (fig. 3-20): denomina-se assim a porção doarco posterior compreendida entre as apófisesarticulares superiores e as inferiores. Quando es­te istmo se rompe ou se destrói, como está repre­sentado aqui, podemos dizer que existe uma es­pondilólise. Como o arco posterior não fica reti­do atrás nas apófises superiores do sacro, o cor­po vertebral de Ls se desliza para baixo e para a

frente provocando uma espondilolistese. Portan­to, os únicos elementos que retêm a quinta lom­bar sobre o sacro e-impedem que esta se deslizeainda mais são, por um lado, o disco lombossa­cral cujas fibras oblíquas estão tensas e, por ou­tro, os mÚsculos dos canais vertebrais, cuja con­tratura permanente é a origem das dores da es­pondilolistese. Pode-se medir a magnitude dodeslizamento para a frente pelo transbordamen­to da face inferior de Ls com relação à margemanterior do platô superior de SI.

Nas radiografias de projeção oblíqua (3/4)(fig. 3-21) se distingue com nitidez o clássico"cachorrinho", cujo focinho está constituídopela apófise transversa; o olho, é o pedículo vis­to obliquamente; a orelha, é a apófise articularsuperior; a pata dianteira é a apófise articular in­ferior; o rabo, é a lâmina e a apófise articularsuperior do lado oposto; a pata traseira é a apó­fise articular inferior do lado oposto; e o corpo,a lâmina do lado dos 3/4_ Um ponto importantea considerar é que o pescoço representa exata­mente o istmo vertebral: quando o istmo serompe, o pescoço do cachorro é seccionado; is­to permite diagnosticar a espondilólise e procu­rar o·deslizamento de Ls apreciável numa radio­grafia de perfil.

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Fig.3-18

Fig.3-19

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 87

Fig.3-20

Fig.3-21

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88 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS LIGAMENTOS ÍLIO-LOMBARES E OS MOVIMENTOSNA CHARNEIRA LOMBOSSACRAL

As duas últimas vértebras lombares estãounidas diretamente com o osso ilíaco pelos liga­mentos ílio-Iombares (fig. 3-22, vista anterior).Podem-se distinguir dois fascículos:

- o fascículo superior (1), também deno­minado fascículo ílio-transverso lombarsuperior: ele tem origem no vértice daapófise transversa da quarta vértebralombar, se dirige para baixo, para fora epara trás para se inserir na crista ilíaca;

- o fascículo inferior, também denomi­nado ílio-transverso lombar inferior, ori­gina-se no vértice e na margem inferiorda apófise transversa da quinta lombar,se dirige para baixo e para fora para seinserir na crista ilíaca para a frente e pa­ra dentro do fascículo superior. Às ye­zes, se distinguem dois pequenos fascí­culos fibrosos mais ou menos individua­lizados:

• umfascículo estritamente ilíaco (2);

• um fascículo sacro (3), nitidamentevertical, que se dirige levemente para afrente e finaliza na parte antérior da ar­ticulação sacroilíaca e na parte mais la­teral da asa do sacro.

Estes ligamentos ílio-lombares entram emtensão ou se distendem dependendo dos mo\'i­mentos realizados pela chameira lombossacral;

portanto, eles intervêm para limitar os mOVI­mentos.

-

Durante a inclinação lateral (fig. 3-23, vis-ta anterior) os ligamentos ílio-lombares entramem tensão do lado da convexidade e limitam a

inclinação da quarta lombar sobre o sacro a 8°.Está claro que no lado da concavidade estes li­gamentos se distendem.

Durante a flexão-extensão (fig. 3-24, vistalateral, asa ilíaca supostamente transparente): apartir da posição neutra (tracejada), a orientaçãodos ligamentos permite entender que no percursoda fiexão o fascículo superior do ligamento ílio­lombar entra em tensão, visto que se dirige obli­quamente para baixo, parafora e para trás. Pelocontrário, no percurso da extensão, ele se disten­de.

Pelo contrário, durante a flexão (F) o fas­cículo inferior do ligamento ílio-lombar se dis­tende visto que se dirige levemente para a fren­te, contudo ele entra em tensão durante a exten­são (E).

Em resumo, a mobilidade na chameiralombossacral é muito limitada devido à potênciados ligamentos aio-lombares. Em conjunto, eleslimitam mais a inclinação lateral do que a fie­xão-extensão.

Page 87: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.3-23

Fig.3-22

Fig.3-24

Page 88: Fisiologia Articular - Volume 3

90 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS DO TRONCO EM CORTE HORIZONTAL

Um corte horizontal que passe pela terceiravértebra lombar (fig. 3-25, parte inferior do cor­te) permite classificar os músculos do tronco emtrês grupos.

Os músculos do grupo posterior se distri­buem em três planos:

• um plano profundo que contém:- os músculos transverso-vertebrais (1),

que ocupam o ângulo diedro formadoentre o plano sagital das apófises es­pinhosas e o plano frontal das apófisestransversas, e que se amoldam estrei­tamente com as lâminas vertebrais;

- o músculo grande dorsal (2), que co­bre o anterior e o ultrapassa para fora;

- o músculo sacrolombar (3), massacarnosa volumosa localizada por forado grande dorsal;

- e, por último, o músculo epiespinhoso(4), que se insere nas apófises espin­hosas e se situa por trás do transyerso­vertebral e do grande dorsal.

Estes músculos constituem uma massa volu­mosa que ocupa os canais vertebrais, em ambosos lados das apófises espinhosas; por este motivodenominam-se músculos paravertebrais ou mús­culos dos canais.

• um plano médio conformado pelo serrá­til menor posterior e inferior (5);

• um plano superficial representado na re­gião lombar apenas por um músculo, ogrande dorsal (6); que se insere na espes­sa aponeurose lombar (8) que se fixa, en­tre outras, na linha das espinhosas; o cor­po muscular (6) forma uma camada car­nosa que cobre toda a parte póstero-Iate­ral da região lombar.

Os músculos látero-vertebrais são dois:

- o quadrado lombar (8), camada mus­cular que se estende entre a últimacostela, a crista ilíaca e o vértice dasapófises tranversas;

- o psoas (9), que ocupa o ângulo diedroformado pelas faces laterais dos corposvertebrais e as apófises transversas.

Os músculos da parede do abdome se dis­tribuem em dois grupos:

- os músculos retos do abdome (13), si­tuados pela frente, em ambos os ladosda linha média;

- os músculos largos do abdome quesão três e constituem a parede ântero­lateral do abdome, da profundidade àsuperfície se localizam:

- o músculo transverso do abdome (10);

- o oblíquo interno do abdome (11);

- o oblíquo e:rterno do abdome (12).

Pela frente estes três músculos conformamumas aponeuroses que constituem a bainha dosretos e a linha alva da seguinte maneira:

• a aponeurose do oblíquo interno se divi­de na margem lateral do músculo retomaior em duas lâminas: uma superficial(14) e outra profunda (15) que envolvemo reto abdominal. Na linha média eles secruzam formando um rafe muito sólido: alinha alva abdominal (16);

• as lâminas anterior e posterior da bainhados retos estão reforçadas atrás pela apo­neurose do transverso e pela frente pelaaponeurose do oblíquo externo. Isto so­mente é válido no caso da parte superior,mais adiante se poderá ver a disposiçãoexata na parte inferior.

Os músculos látero-vertebrais e os múscu­los largos do abdome delimitam a cavidade ab­dominal, em cujo interior sobressaem a colunalombar (20) e os grandes vasos pré-vertebrais(aorta e veia cava inferior). A cavidade abdomi­nal propriamente dita (18) é revestida pelo peri­tônio que cobre a face posterior do músculo re­to abdominal, a face profunda dos músculos lar­gos e a parede posterior onde os órgãos retrope­ritoneais estão presos, os rins, cobertos por umaregião adiposa retroperitoneal (19). Entre o pe­ritônio parietal e a parede do abdome se interca­la uma fina camada de tecido fibroso: a fásciatransversal (17).

Page 89: Fisiologia Articular - Volume 3

13 14 15 16 17

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 91

12

11

10

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20

19

3 2 7 5 4

Fig.3-25

9 6

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92 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS POSTERIORES DO TRONCO

Os músculos posteriores do tronco se distri­buem em três planos, da profundidade até a super­fície.

o plano profundo é constituído por múscu­los vertebrais, que se aplicam diretamente contra acoluna vertebral (figs. 3-26 e 3-27), daí sua deno­minação de músculos dos canais vertebrais, e seusfascículos são mais curtos quanto mais profunda éa sua localização. Estes são:

- o transverso-vertebral (1), constituído porlâminas dispostas como as telhas de um tel­hado; na figura, apenas uma dessas lâminasestá desenhada segundo o conceito deWinckler: as fibras se originam na lâmina deuma vértebra e, de forma oblíqua, para bai­xo e para fora, se inserem nas apófisestransversas das quatro vértebras subjacen­teso Segundo o conceito de Trolard as fibrasse originam nas lâminas e nas apófises es­pinhosas das quatro vértebras suprajacentespara inserir-se na apófise transversa da vér­tebra subjacente (ver figo5-85, pág. 241);

- os músculos interespinhosos (2), situadosem ambos os lados da linha média, unemas margens de duas apófises espinhosascontíguas. No esquema somente está re­presentado um par destes músculos;

- o epiespinhoso (3), fusiforme, localizadoem cada lado dos interespinhosos e atrásdos transverso-vertebrais, se insere porbaixo nas apófises espinhosas das duas pri­meiras vértebras lombares e das duas últi­

mas dorsais para terminar nas apófises es­pinhosas das dez primeiras dorsais. Os fas­cículos mais curtos são os mais internos;

- o grande dorsal (5), longa banda muscularlocalizada imediatamente por fora doepiespinhoso, ascende pela face posteriordo tórax para fixar-se nas costelas até a se­gunda costela (fascículos laterais ou cos­tais) e nas apófises transversas das vérte­bras lombares e dorsais (fascículos internosou transversos (ver figo4-29, pág. 151»;

- o sacrolombar ou z1io-costal (6), espessamassa muscular prismática situada por trás epor fora dos músculos citados anteriormen­te, ascende pela face posterior do tórax, ex-

pandindo fascículos terminais na face poste­rior das dez últimas costelas, próximos a seuângulo posterior. A seguir, estas fibras ficamsubstituídas pelas que ascendem até as apó­fises transversas das cinco últimas cervicais

(ver figo5-89, pág. 243).

Todos estes músculos se unem na sua parteinferior constituindo a massa comum (6), visíveldo lado direito da figura 3-27; as suas inserções selocalizam na face. profunda de uma espessa lâminatendinosa que se confunde, na superfície, com aaponeurose do grand.e dorsal (7).

O plano médio (fig. 3-27) é constituído por sóum músculo: o serrátil menor posterior e inferior(4), situado imediatamente detrás dos músculos doscanais e coberto pelo plano do músculo grande dor­sal. Ele se insere nas apófises espinhosas das trêsprimeiras vértebras lombares e das duas últimas vér­tebras dorsais e forma fascículos oblíquos para cimae para fora que finalizam na margem inferior e na fa­ce externa das três ou quatro últimas costelas.

O plano superficial está constituído pelomúsculo grande dorsal (7) que se origina na espes­sa aponeurose lombar; as suas fibras oblíquas diri­gidas para cima e para fora cobrem todos os mús­culos dos canais e dão origem às fibras muscularesseguindo uma linha de transição oblíqua para bai­xo e para fora.

O conjunto da aponeurose lombar forma umlosango de eixo vertical maior. As fibras muscula­res conformam uma camada muito extensa que en­volve a parte póstero-externa da base dorsal e fina­liza no úmero (ver volume I).

A ação dos músculos posteriores é essencial­mente a extensão da coluna lombar (fig. 3-28): to­mando o sacro como ponto fixo, tracionam a colunalombar e dorsal para trás com força; por um lado, aoredor da chameira lombossacral, e por outro, ao re­dor da chameira dorsolombar. Além disso, eles acen­tuam a lordose lombar (fig. 3-29) visto que consti­tuem as cordas parciais ou totais do arco formadopela coluna lombar. Portanto, não se pode afirmarque eles endireitem a coluna lombar, visto que eles apuxam para trás e a incurvam.

Também se poderá ver mais adiante o papelque desempenham estes músculos posteriores naexpiração.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 93

Fig.3-26

6

6

7

Fig.3-28Fig.3-29

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94 FISIOLOGIA ARTICULAR

PAPEL DA TERCEIRA VÉRTEBRA LOMBARE DA DÉCIMA SEGUNDA VÉRTEBRA DORSAL

Os trabalhos de A. Delmas puseram emevidência o valor funcional de determinadasvértebras (figs. 3-30 e 3-31 segundo Delmas)em posição ortostática. A característica cunei­forme da quinta vértebra lombar, que deve rea­lizar a transição entre o sacro, mais ou menoshorizontal, e uma coluna vertebral vertical, éconhecida desde muito tempo atrás. Contudo, opapel da terceira vértebra lombar começarecentemente a ser entendido (fig. 3-30). De fa­to, esta vértebra possui um arco posterior maisdesenvolvido, visto que serve de substitutomuscular, por um lado entre os fascículos lom­bares do grande dorsal procedentes do osso ilía­co que se insere nas apófises transversas de L3,

e por outro, ascendendo em direção à colunadorsal, os fascículos do epiespinhoso cuja inser­ção mais baixa localiza-se exatamente na apófi­se espinhosa de L3' Assim (fig. 3-31), os múscu­los com inserção sacral e ilíaca deslocam a ter­ceira lombar para trás, de modo que ela repre-

senta um ponto fixo para a ação dos músculosdorsais. Portanto, éla desempenha um papel pri­mordial na estática vertebral devido à sua situa­

ção no vértice da lordose lombar e porque osseus platás são paralelos e horizontais entre si.Trata-se da primeira vértebra da coluna lombarverdadeiramente móvel, visto que se pode con­siderar que a quarta e a quinta vértebras, muitoligadas ao osso ilíaco e ao sacro, constituemuma transição mais estática que dinâmica entrea coluna vertebral e a pelve.

Já a décima segunda vértebra dorsalconstitui o ponto de inflexão entre a cifose dor­sal e a lordose lombar. Trata-se de uma vértebra

chameira cujo corpo vertebral é relativamenteimportante com relação ao arco posterior, detrásdo qual os músculos dos canais passam forman­do uma ponte, sem fazer inserções notáveis. A.Delmas a compara com "uma verdadeira patelado eixo vertebral".

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Fig.3-30 Fig.3-31

Page 94: Fisiologia Articular - Volume 3

96 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS LATERAIS DO TRONCO

o grupo de músculos laterais do troncocompreende dois músculos: o quadrado lombare o psoas.

O quadrado lombar (fig. 3-32, vista ante­rior) forma, como seu nome indica, uma camadamuscular quadrilátera que se expande entre a úl­tima costela, a crista ilíaca e a coluna vertebral,e apresenta por fora uma margem livre. Ele estáconstituído por três tipos de fibras (lado direitoda figura):

- fibras que unem diretamente a últimacostela à crista ilíaca (setas brancas);

- fibras que unem a última costela com asapófises transversas das cinco vértebraslombares (setas tracejadas verticalmen­te);

- fibras que unem as apófises transversasdas quatro primeiras vértebras lombaresà crista ilíaca (setas cinzas), e que estãona continuação das fibras que provêmdo transversovertebral (setas pretas) queaparecem no espaço entre as apófisestransversas.

Os três tipos de fibras do quadrado lombarestão dispostos segundo três planos; o planomais posterior é formado pelas fibras diretascostoilíacas, cobertas pelas fibras transverso­ilíacas e a seguir, pelas costotransversas (1).

Quando o quadrado lombar se contrai uni­lateralmente, ele produz uma inflexão do troncodo lado da sua contração (fig. 3-33), esta açãoestá fortemente reforçada pela contração dosmúsculos oblíquo interno (seta cinza oblíqua pa­ra baixo e para fora) e oblíquo externo (seta tra­cejada oblíqua para baixo e para dentro).

O psoas se localiza na frente do quadradolombar (fig. 3-34), o seu corpo carnoso fusifor-

me (2) se insere em duas camadas musculares:por um lado, uma camada posterior que se fixanas apófises transversas das vértebras lomba­res, e por outro uma camada anterior que se in­sere nos corpos vertebrais da décima segundadorsal e das cinco vértebras lombares. Estas in­

serções ocorrem nas margens inferiores e supe­riores das duas vértebras adjacentes, assim co­mo na margem lateral do disco compreendidoentre estas duas vértebras. Existem arcos tendi­

nosos que unem as áreas de inserção muscula­res. O corpo muscular fusiforme, achatado dediante para trás, desce obliquamente para baixoe para fora, segue pela abertura superior da pel­ve, se reflete sobre a margem anterior do ossocoxal, ao nível da eminência ílio-pectínea e,junto com o músculo ilíaco, termina no vérticedo trocanter menor.

Quando o psoas toma a sua inserção sobreo fêmur como ponto fixo e o quadril é bloquea­do pela contração dos outros músculos periarti­culares, ele exerce uma potente ação sobre a co­luna lombar (fig. 3-35), que realiza, ao mesmotempo, uma inclinação para o lado da sua con­tração e uma rotação para o lado oposto da con­tração. Além disso (fig. 3-36), como este múscu­lo se insere no vértice da lordose lombar, elerealiza uma fiexão da coluna lombar com rela­ção à pelve e uma hiperlordose lombar que apa­rece nitidamente no indivíduo em decúbito supi­no, com os membros inferiores estendidos sobreo plano de apoio (fig. 3-62, pág. 115).

Em resumo, os dois músculos do grupo la­teral inclinam o tronco para o lado da sua con­tração, porém quando o quadrado lombar nãoexerce nenhuma ação sobre a 10rdose lombar, opsoas determina uma hiperlordose e uma rota­ção do tronco para o lado oposto.

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Fig.3-32

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 97

Fig.3-33

Fig.3-34Fig.3-35

Fig.3-36

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98 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS DA PAREDE ABDOMINAL:O RETO ABDOMINAL E O TRANSVERSO DO ABDOME

Os dois músculos retos abdominais (fig.3-37, vista de frente, e figo3-38, vista de perfil)constituem duas bandas musculares estendidaspela face anterior do abdome, em um lado e ou­tro da linha média. As suas inserções superioresocorrem nos Y', 6~ e 7~ arcos anteriores e nascartilagens costais, assim como na apófise xifói­de. A espessa banda muscular que sai destas in­serções se estreita gradualmente, entrecortadapor intersecções aponeuróticas (duas intersec­ções acima do umbigo, uma na sua altura e ou­tra abaixo). A espessura do corpo muscular émenor abaixo do umbigo para dar nascimento aum potente tendão que se insere na margem su­perior do púbis, na sínfise púbica, com expan­sões em direção ao lado oposto e aos adutores.Os dois músculos retos abdominais estão sepa­rados na linha média por um espaço mais longoacima do umbigo que abaixo deste. Eles estãoenvolvidos por uma bainha aponeurótica forma­da pela aponeurose de terminação dos músculoslargos da parede abdominal.

Os músculos transversos (fig. 3-39, vista defrente, o transverso está representado apenas nametade esquerda, e figo3-40, vista de perfil) cons­tituem a camada mais profunda dos músculos lar-

gos da parede ábdominal. Eles se inserem no vér­tice das apófises tr,!-nsversasdas vértebras lomba­res por trás; as suas fibras musculares horizontaisse dirigem para fora e diretamente para a frente erodeiam a massa visceral. Eles dão origem a fibrasaponeuróticas seguindo uma linha paralela à mar­gem lateral dos retos abdominais. Esta aponeuro­se de terminação do transverso se une à do ladooposto na linha média e, na sua maior parte, passapor trás do reto abdominal, participando, assim, naconstituição da lâmina posterior da bainha dos re­tos. Contudo, debaixo do umbigo, a aponeurosedo transverso passa pela frente do músculo retoabdominal, que a perfura para passar para trás. Apartir deste nível, marcado na face posterior do re­to abdominal pela arcada aponeurótica de Dou­glas, a aponeurose do transverso intervém naconstituição da lâmina anterior da bainha dos re­tos. Neste esquema também se pode constatar quesó as fibras da parte média são horizontais; as fi­bras da parte superior são oblíquas para cima e pa­ra dentro, as fibras da parte inferior são oblíquaspara baixo e para dentro e as fibras mais baixasterminam na margem superior da sínfise púbica edo púbis participando, junto com as do oblíquo in­terno, da formação do tendão conjunto.

Page 97: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.3-37

Fig.3-39

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 99

Fig.3-38

Fig.3-40

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100 FISIOLOGIA ARTICULAR

MÚSCULOS DA PAREDE ABDOMINAL:O OBLÍQUO INTERNO E O OBLÍQUO EXTERNO

o oblíquo interno (figs. 3-41 e 3-42) cons­titui a camada intermediária dos músculos lar­

gos da parede abdominal. A direção geral dassuas fibras é oblíqua de baixo para cima e de fo­ra para dentro; ele se insere na crista ilíaca; assuas fibras carnosas formam uma lâmina muscu­

lar localizada na parede lateral do abdome; algu­mas delas finalizam na décima segunda e déci­ma primeira costelas; outras terminam em umaaponeurose contígua ao corpo muscular seguin­do uma linha inicialmente horizontal, que sai dovértice da décima primeira costela, que poste­riormente se verticaliza ao longo da margem la­teral do reto abdominal; as fibras aponeuróticasfinalizam na décima cartilagem costal e na apó­fise xifóide, e contribuem para a formação da lâ­mina anterior da bainha dos retos; de modo queele se entrecruza na linha média com seu homó­

logo oposto, constituindo a linha alva abdol7li­flol. A parte inferior do oblíquo interno se inserena parte lateral da arcada crural; as suas fibrassão horizontais e, a seguir, oblíquas para baixo epara dentro; juntamente com as fibras do trans­verso formam o tendão conjunto; elas finalizamna margem superior da sínfise púbica e na es­pinha do púbis. Deste modo, o tendão conjuntolimita o orifício profundo do canal inguinal coma parte interna da arcada crural.

O oblíquo externo (figs. 3-43 e 3-44) cons­titui a camada superficial dos músculos largosda parede abdominal; a direção geral das suas fi­bras é oblíqua de cima para baixo e de fora paradentro. As suas digitações carnosas se inseremnas sete últimas costelas; elas se recobrem debaixo para cima e estão imbricadas com as digi­tações do serrátil anterior; os fascículos muscu­lares se situam na parede lateral do abdome edão origem a uma aponeurose que segue umalinha de transição inicialmente vertical, paralela

à margem lateral do reto abdominal; posterior­mente, será oblíqua para baixo e para trás. Estaapofleurose participa da constituição da lâminaanterior da bainha dos retos e se entrecruza na

linha média com seu homólogo oposto de modoque contribui para a formação da linha alva ab­dominal. As fibras da nona costela que provêmda digitação se inserem no púbis e enviam ex­pansões aponeuróticas em direção aos adutoresdo mesmo lado e' do lado oposto. As fibrasoriundas da digitação, que se origina na décimacostela, inserem-se no arco crural; estes doisfascículos tendinosos delimitam o orifício su­

perficial do canal inguinal. triangular de vérticesúpero-extemo, e cuja base ínfero-externa estáconstituída pelo púbis e a sua espinha onde a ar­cada crural se insere.

Da descrição destes músculos da parede ab­dominal que constituem o grupo anterior dosmúsculos motores da coluna vertebral, convémlembrar as seguintes noções:

- os músculos retos abdominais formam,na parte mais anterior do abdome, duasbandas musculares que agem a umagrande distância da coluna vertebral,entre o orifício inferior do tórax, na suaparte anterior, e a cintura pélvica, tam­bém na sua parte anterior;

- os músculos largos formam três cama­das sucessivas cujas fibras tomam a se­guinte direção: transversal na camadaprofunda do transverso, oblíqua para ci­ma e para dentro na camada média dooblíquo interno, oblíqua para baixo epara dentro na camada superficial dooblíquo externo (ver figo 4-31, pág.153).

Page 99: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.3-42

Fig.3-44

Page 100: Fisiologia Articular - Volume 3

102 FISIOLOGIA ARTICULAR

MÚSCULOS DA PAREDE ABDOMINAL:O CONTORNO DA CINTURA

As fibras dos músculos longos, prolonga­das pelas fibras das suas respectivas aponeuro­ses, formam um tecido, um verdadeiro espar­tilho ao redor do abdome (fig. 3-45). De fato, adireção das fibras do oblíquo externo de um la­do prolonga-se na direção das fibras do oblíquointerno do outro e vice-versa. De maneira que,considerados em conjunto, estes músculos oblí­quos interno e externo constituem um tecido emforma de losango em vez de retangular; as cos­tureiras diriam que este tecido está cortado emviés. Esta circunstância lhe permite estar adapta­do ao contorno da cintura.

Uma demonstração permite ilustrar comfacilidade este fato (fig. 3-46): se estendemosuns fios ou elásticos entre dois círculos (A),

quando a sua direção é paralela ao eixo que uneo centro de ambos os círculos, vamos obteruma superfície cilíndrica. Ao contrário, se fa­zemos girar o círculo superior com relação aoinferior (B), os fios permanecem tensos porémtomam a direção oblíqua e a superfície que"envolve" todas essas retas é uma hiperbolóidede revolução cujo contorno fica talhado emforma de curva hiperbolóide. Este mecanismopermite compreender perfeitamente a forma dacintura, mais marcada quanto mais tensas este­jam as fibras oblíquas e, naturalmente, quantomenos espesso for o panículo adiposo. Para re­construir o contorno da cintura, será necessáriorestabelecer a tonicidade dos músculos oblí­

quos do abdome.

Page 101: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.3-45

Fig.3-46

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 103

A

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104 FISIOLOGIA ARTICULAR

MÚSCULOS DA PAREDE ABDOMINAL:A ROTAÇÃO DO TRONCO

A rotação sobre o eixo vertebral é realiza­da pelos mÚsculos dos canais vertebrais e osmÚsculos largos do abdome.

A contração unilateral dos músculos dos ca­nais vertebrais exerce um leve efeito rotador, po­rém a camada muscular mais profunda, a do trans­verso-vertebral (fig. 3-47), tem uma ação rotado­ra muito mais acentuada: tomando como ponto fi­xo as apófises transversas subjacentes, o transver­so-vertebral (TE) puxa a apófise espinhosa da vér­tebra suprajacente para fora, determinando, assim,uma rotação para o lado oposto da sua contração.

No percurso da rotação do tronco, a açãoprincipal é realizada pelos mÚsculos oblíquos do

abdome (fig. 3-48). De fato, o seu trajeto enrola­do em espiral ao redor da cintura lhe proporcio­na uma grande eficácia, assim como suas inser­ções à distância da coluna vertebral sobre a cai­xa dorsal, o que mobiliza a coluna lombar e tam­bém a coluna dorsal inferior. Para obter a rota­

ção do tronco para a esquerda (fig. 3-48), é ne­cessário que ajam, por um lado, o oblíquo exter­no (OM) do lado direito, e por outro, o oblíquointerno (Om) do lado esquerdo. É necessáriodestacar que estes dois músculos estão enrola­dos no mesmo sentido ao redor da cintura (fig.3-49) e que as suas fibras musculares e aponeu­róticas prolongam-se na mesma direção. Portan­to, na ação de rotação, eles são sinérgicos.

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Fig.3-47

Fig.3-48

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 105

Fig.3-49

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106 FISIOLOGIA ARTICULAR

MÚSCULOS DA PAREDE ABDOMINAL:A FLEXÃO DO TRONCO

Os músculos da parede abdominal são po­tentes fiexores do tronco (fig. 3-50). Situados pe­la frente do eixo vertebral, eles mobilizam oconjunto da coluna vertebral para a frente sobreas charneiras lombossacral e dorso lombar. A suaação é muito importante, visto que ela se realizaatravés de dois grandes braços de alavanca: obraço de alavanca inferior, constituído pela dis­tância promontório-púbica, e o braço de alavan­ca superior, representado pelo suporte que seapóia na coluna dorsal inferior, constituído peladistância dorso-xifóide; o reto abdominal (RA)

que une a apófise xifóide à sínfise púbica realizauma potente ação de flexão da coluna vertebral.Ele está reforçado por dois músculos largos, ooblíquo interno (Om) e o oblíquo externo (OM)que unem o orifício inferior do tórax à margemsuperior da cintura pélvica; enquanto o reto ab­dominal constitui um tensor direto, o oblíquo in­terno constitui um tensor oblíquo para baixo epara trás, e o oblíquo externo um tensor oblíquopara baixo e para a frente. Além disso, ambosdesempenham o papel de sustentadores quantomais oblíquos eles são.

Page 105: Fisiologia Articular - Volume 3

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 107

Fig.3-50

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108 FISIOLOGIA ARTICULAR

MÚSCULOS DA PAREDE ABDOMINAL:A RETIFICAÇÃO DA LORDOSE LOMBAR

A maior ou menor curvatura da coluna lom­bar não depende apenas do tônus dos abdomi­nais e vertebrais, mas também de certos múscu­los dos membros inferiores que estão unidos àcintura pélvica. Na posição denominada "astê­nica" (fig. 3-51 B), o relaxamento muscular pro­voca um aumento de todas as curvaturas verte­brais: hiperlordose lombar, acentuação da cifo­se dorsal e da lordose cervical. Além disso, apelve bascula em anteversão: a linha que une aespinha ilíaca ântero-superior à espinha ilíacapóstero-superior torna-se oblíqua para baixo epara a frente. O músculo psoas (Ps) flexiona acoluna lombar sobre a pelve e aumenta a lordo­se lombar que se agrava pela hipertonicidade domúsculo; esta atitude astênica é a que costumamadotar os sujeitos sem energia nem vontade.Também se observam curvaturas da coluna ver­tebral parecidas nas mulheres, em estado avan­çado de gestação, no qual a distensão dos mús­culos da parede abdominal, do mesmo modo queo deslocamento do centro de gravidade para afrente, devido ao desenvolvimento do feto, alte­ram notavelmente a estática pélvica e vertebral.

A retificação das curvaturas vertebrais (fig.3-51 A) começa na pelve. A correção da antever­são pélvica se obtém pela ação dos músculos ex­tensores do quadril: a contração dos ísquio-ti­biais (IT) e especialmente do glúteo maior (G)leva à báscula da pelve para trás e restabelece ahorizontalidade da linha biespinhosa. Assim, osacro verticaliza-se e a curvatura da coluna ver­tebrallombar diminui.

O papel mais importante na correção da hi­perlordose lombar corresponde aos músculos doabdome, principalmente aos retos abdominais(RA) localizados do lado da convexidade da cur­vatura lombar e que agem, como vimos anterior­mente, através de dois grandes braços de alavan­ca. Então, é suficiente contrair os dois glúteosmaiores e os dois retos abdominais para conse-

guir uma retificação da lordose lombar. A partirdeste momento, a ação extensora dos músculosdos canais lombares (L) pode conseguir a traçãopara trás das primeiras vértebras lombares.

A contração dos músculos do plano toráci­co provoca a diminuição da cifose dorsal.

A ação dos músculos da coluna cervical,como se poderá comprovar mais adiante, permi­te obter, do mesmo modo, uma retificação dalordose cervicaL Em resumo, com a supressãodas curvaturas, a coluna vertebral é mais alta (is­to corresponde a um ligeiro aumento do índicevertebral de Delmas) e, assim, o mesmo indiví­duo pode ganhar 1, 2 e inclusive 3 cm de altura.

Esta é a teoria clássica, porém, recentemen­te, estudos "inclinométricos" demonstraram(Klausen, 1965) que a coluna vertebral em con­junto comporta-se como um braço de guindaste,em posição de saliente anterior. Os eletromio­gramas simultâneos dos músculos do plano pos­terior e dos abdominais (Asmussen e Klausen,1962) põem em evidência que, em quatro de ca­da cinco indivíduos, a posição ortostática con­trolada pelo simples reflexo postural inconscien­te somente precisa de uma contração tônica dosmúsculos do plano posterior. Quando o sujeitocarrega a parte superior de sua coluna vertebralcolocando um peso sobre sua cabeça ou levandopeso nas mãos com os braços pendentes ao lon­go do corpo, o alpendre anterior da coluna ver­tebral aumenta levemente, enquanto a lordoselombar diminui e a cifose dorsal aumenta. Si­multaneamente, o tônus dos músculos vertebraisaumenta para limitar o alpendre. Portanto, osmúsculos abdominais não participam na estáticavertebral inconsciente, o que não significa quenão ajam durante a retificação consciente da lor­dose lombar, na posição de sentido por exemplo,ou no transporte de cargas pesadas na beira doalpendre ou saliente anterior.

Page 107: Fisiologia Articular - Volume 3

AFig.3-51

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 109

B

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110 FISIOLOGIA ARTICULAR

o TRONCO COMO ESTRUTURA INFLÁ VEL

Se na posição de inclinação para a frentesó considerarmos a ação dos músculos vertebrais(fig. 3-52), o cálculo das forças que se exercem so­bre o disco lombossacro demonstra que as forçassão consideráveis. De fato, o peso da parte supe­rior do tronco juntamente com a cabeça se aplicano nível do centro de gravidade parcial (P) locali­zado justo na frente da décima dorsal. Este peso(P) recai na extremidade de um grande braço dealavanca, cujo ponto fixo se situa no núcleo pulpo­so de LS-Sj' Para equilibrar esta força, os múscu­los vertebrais (E]), que agem sobre um braço dealav<:in",'ude 7 a 8 vezes mais curto, precisam deuma força 7 a 8 vezes superior ao peso PI. Estasforças podem ser reduzidas em função do ângulode inclinação do tronco para a frente, que faz comque aumente o comprimento do braço de alavancasobre o que age p]' De todos os modos, a força quese exerce sobre o disco lombossacro será igual àsoma de p[ e de E[ e será mais acentuada quantomais inclinado esteja o indivíduo para a frente e,principalmente, considerando o peso que carreganas mãos.

Calcula-se que para levantar uma carga de10 kg, com os joelhos tlexionados e o tronco ver­tical, a força E] desenvolvida pelos músculos ver­tebrais seja de 141 kg. A mesma carga de 10 kglevantada com os joelhos estendidos e o corpo in­clinado para a frente desenvolve uma força EI de256 kg. Se esta mesma carga é levada com os bra­ços estendidos para a frente, a força E] necessáriaé de 363 kg. Neste momento, segundo os autores,a carga que o núcleo suporta oscilaria entre 282 e726 kg podendo atingir os 1.200 kg, o que é niti­damente superior às cargas de ruptura dos discosvertebrais (800 kgantes dos 40 anos, 450 kg nosindivíduos de idade avançada).

Dois fatos podem explicar esta aparente con­tradição: por um lado, toda a força que se exercesobre o disco intervertebral não é suportada unica­mente pelo núcleo. Nachemson, determinando apressão do interior do núcleo, demonstrou que,quando se exerce uma força sobre um disco, o nú­cleo suporta 75% da carga e o anel 25%.

Por outro lado, o tronco intervém em conjun­to para suavizar a pressão sobre o disco lombossa-

cro e os discos da coluna lombar inferior (fig. 3-52B). De fato, se pode constatar que, durante os es­forços de levantamento, se desenvolve instintiva­mente uma "pressão abdominal". Em que consis­te esta pressão abdominal também denominadamanobra de Valsalva? Simplesmente em que elaassocia o fechamento da glote e de todos os orifí­cios abdominais, transformando, assim, a cavida­de tóraco-abdominal numa cavidade fechada paraa contração mantida dos músculos expiratórios e,especialmente, dos mlÍsculos abdominais. Destemodo, a pressão aumenta notavelmente na cavida­de tóraco-abdominal e a converte numa viga rígi­da situada na frente da coluna vertebral que trans­mite as forças à cintura pélvica e ao períneo. A in­tervenção desta estrutura inflável reduz bastantea compressão longitudinal nos discos: no discoTI2-LI ela decresce 50% e no disco lombossacro30%. Por este motivo, a tensão dos músculos ver­tebrais diminui 55%. Este mecanismo de hiper­pressão tóraco-abdominal é, portanto, muito útilpara suavizar as forças que se exercem sobre a co­luna vertebral; contudo, ele só age durante curtosespaços de tempo. De fato, ele provoca uma ap­néia absoluta e causa importantes alterações cir­culatórias: hiperpressão no sistema venoso cefáli­co, diminuição do retomo venoso ao coração, di­minuição do volume de sangue contido nas pare­des alveolares, aumento da resistência na circula­

ção menor. Além disso, ele supõe a integridadedos músculos da cinta abdominal e a possibilida­de de um fechamento da glote e dos outros orifí­cios abdominais. Por último, a hiperpressão tóra­co-abdominal acompanha-se de uma derivação dacirculação venosa de retomo pelos plexos venososperivertebrais. Isto leva, por sua vez, a uma hi­perpressão do líquido cefalorraquidiano. Esta si­tuação não pode ser prolongada indefinidamente eos esforços de levantamentos de cargas pesadassó podem ser breves e intensos. Por conseguinte, aconclusão prática que se pode deduzir é que, paradiminuir a compressão nos discos intervertebrais,é preferível levantar as cargas com o tronco verti­cal em vez de com o tronco inclinado para a fren­te com um alpendre importante. Este é o conselhoque deve ser dado aos indivíduos que sofrem dehérnias discais.

Page 109: Fisiologia Articular - Volume 3

FORÇAS SOBRE A CHARNEIRA LOMBOSSACRA

na posição de inclinação para a frente

Considerando a colunavertebral isolada

A

Fig.3-52

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 111

8

Coluna vertebral reforçada pelo tronco

ESTRUTURAINFLÁVEL

A compressão longitudinal diminui:

- 50% no disco T'2 -L,- 30 % no disco LsS,

A tensão dos músculos vertebrais diminui 55%

Page 110: Fisiologia Articular - Volume 3

112 FISIOLOGIA ARTICULAR

ESTÁTICA DA COLUNA LOMBAR EM POSIÇÃO ORTOSTÁTICA

Em apoio simétrico sobre os dois mem­bros inferiores, a coluna lombar, vista de perfil(fig. 3-53), apresenta, corno vimos anteriormen­te, urna curvatura de concavidade posterior de­nominada lordose lombar. Vista de costas (fig.3-54), ela é retilínea; ao contrário, na posiçãoem apoio as simétrico (fig. 3-55) sobre ummembro inferior, a coluna lombar apresentaurna concavidade para o lado do apoio, o que édevida a báscula da pelve, o quadril do lado doapoio está mais elevado que o quadril que nãosuporta carga. Para compensar esta inflexãolombar, a coluna dorsal adota urna curvatura de

concavidade oposta, isto é, para o lado do mem­bro sem carga. Por último, a coluna cervicaladota uma curvatura de concavidade para o la­do do apoio; ou seja, no mesmo sentido da cur­vatura lombar.

Os estudos eletrorniográficos de Brüggerdemonstraram que, durante a flexão do tronco

(fig. 3-56), os músculos vertebrais são os pri­meiros a contrairem-se energicamente, depoisos glúteos e, por último, os ísquio-tibiais e os só­leos. No final da flexão, a coluna vertebral se es­tabiliza unicamente pela ação passiva dos liga­mentos vertebrais (LR) que tornam a pelve co­rno ponto fixo, cuja anteversão é retida pelos ís­quio-tibiais (IT).

Durante a retificação (fig. 3-57), os múscu­los intervêm na ordem inversa: em primeiro lu­gar os ísquio-tibiais; em segundo lugar os glú­teos e em terceiro e último lugar, os lombares eos dorsais (E).

Em posição ortostática retilínea (fig.3-58), o leve desequilíbrio para a frente é con­trolado pela contração tônica dos músculos doplano posterior, tríceps surais (T), ísquio-ti­biais (IT), glúteos (G), músculos vertebrais(E); os abdominais, pelo contrário, estão rela­xados (Asmussen).

Page 111: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.3-53 Fig.3-54

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 113

Fig.3-55

T

Fig.3-56 Fig.3-57 Fig.3-58

Page 112: Fisiologia Articular - Volume 3

114 FISIOLOGIA ARTICULAR

POSIÇÃO SENTADA E DE DECÚBITO

N a posição sentada com apoio isquiático,na postura denominada da datilógrafa (fig.3-59), sem apoio no espaldar, o peso do corporepousa unicamente sobre os ísquios, a pelve seencontra em equilíbrio instável, solicitada emanteversão, daí uma hiperlordose lombar e ascurvaturas dorsais e cervicais acentuadas: os

músculos da cintura escapular, e especialmenteo trapézio, que suporta a cintura escapular e osmembros superiores, agem para manter a estáti­ca vertebral. A longo prazo, esta atitude causadores, conhecidas como a "síndrome das datiló­grafas" ou síndrome dos trapézios.

Na posição sentada com apoio ísquio-fe­moral (fig. 3-60) denominada de cocheiro, otronco inclinado para a frente repousando comos cotovelos sobre os joelhos, o apoio é obtidoatravés das tuberosidades isquiáticas e da faceposterior das coxas. A pelve está em anteversãoe o aumento da cifose dorsal provoca a retifica­ção da lordose lombar. Se os membros superio­res agem como escoras, o tronco permanece es­tável com um mínimo esforço muscular e inclu­sive é possível cair no sono. É uma posição derepouso dos músculos dos canais vertebrais, osdoentes afetados de espondilolistese adotam es­ta postura com freqüência, de maneira instinti­va, visto que ela diminui o efeito de cisalhamen­to sobre o disco lombossacro e permite o relaxa­mento dos músculos do plano posterior.

N a posição sentada com apoio ísquio-sa­cro (fig. 3-61), o tronco, totalmente girado paratrás, repousa sobre o espaldar da cadeira e oapoio se realiza com as tuberosidades isquiáti­cas e a face posterior do sacro e do cóccix; a pel­ve está em retroversão, a lordose lombar está re­tificada, a cifose dorsal aumentada e a cabeçapode cair para a frente sobre o tórax, ao mesmotempo, a lordose cervical se inverte. Também éuma posição de repouso que pode inclusive le­var ao sono, embora a respiração se torne difícil,devido à flexão do pescoço e ao peso da cabeçasobre o esterno: esta posição reduz o desliza­mento anterior de Ls e relaxa os músculos poste­riores da coluna lombar, aliviando as dores daespondilolistese.

o decúbito supino com os membros inferio­res estendidos (fig. 3-62) normalmente é a posiçãomais usada para o repouso: a tração sobre o psoasprovoca uma hiperlordose lombar e produz um oco"debaixo dos rins".

Na posição de decúbito supino com os mem­bros inferiores Bexionados (fig. 3-63), o relaxa­mento dos psoas provoca uma retroversão pélvica euma diminuição da lordose lombar: o "oco dos rins"entra em contato com o plano de apoio, conseguin­do um melhor relaxamento dos músculos vertebraise abdominais.

Na posição denominada "relaxamento" (fig.3-64), conseguida com almofadas ou assentos espe­ciais, em que o plano de apoio torácico é côncavo,produz-se uma retificação da lordose lombar e dalordose cervical; um apoio debaixo dos joelhos fte­xiona os quadris, com o psoas e os ísquio-tibiais re­laxados.

Na posição de decúbito lateral (fig. 3-65), acoluna vertebral segue uma curvatura sinuosa: con­vexidade lombar inferior, a linha das duas espinhasilíacas póstero-superiores marcada pelas fossetassacras e a linha dos ombros convergem por cima doindivíduo. A coluna dorsal apresenta uma curvaturade convexidade superior. Com esta postura não po­demos conseguir um relaxamento muscular geral eela pode provocar algumas dificuldades respirató­rias durante as anestesias.

Quanto à posição de decúbito prono, ela temtodos os inconvenientes do decúbito dorsal (hiper­lordose lombar) agravados pelas dificuldades respi­ratórias devidas ao apoio sobre a caixa torácica e oabdome, que comprime a massa abdominal contra odiafragma, diminuindo o seu deslocamento e, final­mente, a possível obstrução das vias respiratóriaspelo plano de apoio, as secreções ou os corpos es­tranhos. Contudo, muitas pessoas adotam esta pos­tura para dormir, embora a modifiquem em seguida.De maneira geral, uma mesma posição durante o so­no nunca se mantém durante muito tempo, a fim depermitir o relaxamento sucessivo de todos os gruposmusculares e, principalmente, o deslocamento dospontos de apoio, visto que é sabido que permanecernum mesmo ponto de apoio mais de três horas po­de produzir escaras por isquemia dos tegumentos.

Page 113: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.3-60

Fig.3-59

Fig.3-61

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 115

~~

Fig.3-62 .•.......•·:i,";~ ••.

Fig.3-63

Fig.3-64

Fig.3-65

Page 114: Fisiologia Articular - Volume 3

116 FISIOLOGIA ARTICULAR

AMPLITUDE DE FLEXÃO-EXTENSÃO DA COLUNA LOMBAR

As amplitudes de fiexão-extensão da colu­na lombar variam dependendo dos indivíduos eda idade. Portanto, todas as cifras propostas sãocasos particulares ou termos médios. Contudo,pode-se assumir (fig. 3-66):

- que a extensão, que se acompanha deurna hiperlordose lombar, tem urna am­plitude de 30°;

- que a flexão, que se acompanha de urnaretificação da lordose lombar, tem urnaamplitude de 40°.

Os trabalhos de David e Albrook (fig.3-67 A) permitem conhecer a amplitude indi­vidual de flexão-extensão em cada nível (colu­na da direita) e a amplitude total e acumuladada flexão-extensão (coluna da esquerda): 83°;ou seja, bastante próxima dos 70° citados ante-

riormente. Por outra parte, a amplitude máxi­ma de flexão-extensão se situa entre L4 e Ls:

24°, e a seguir, por ordem de amplitude decres­cente, vêm as interlinhas L3-L4 e LS-Sj todaselas de 18° e, quase da mesma amplitude, asinterlinhas Lz-L3 de 12° e L[-LZ de 11°. Destemodo, a coluna lombar inferior é, para estesautores, muito mais móvel no plano da flexão­extensão que a coluna lombar superior.

Corno seria de esperar, as amplitudes daflexãosão bem diferentes dependendo da idade(fig. 3-67 B). Este quadro, segundo S.S. Tanz,permite constatar que a mobilidade da colunalombar decresce com a idade, sendo máxima en­tre os dois e os treze anos. A mobilidade máxi­

ma se situa na parte baixa do segmento lombar,principalmente no espaço L4-LS'

Page 115: Fisiologia Articular - Volume 3

B

Fig.3-66

Fig.3-67

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 117

AMPLITUDE DEFLEXÃO-EXTENSÃOTotal Individual

11

12

18

18

segundo DAVID e ALBROOK

J. Bone J. Surg.

A

Page 116: Fisiologia Articular - Volume 3

118 FISIOLOGIA ARTICULAR

AMPLITUDE DE INCLINAÇÃO DA COLUNA LOMBAR

Como no caso da fiexão-extensão, a ampli­tude da infiexão lateral, também denominadainclinação, varia dependendo da idade e dos in­divíduos: contudo, pode-se afirmar (fig. 3-68)que, em média, a inclinação é de 20 a 30° de ca­da lado.

S. Tanz estudou as amplitudes da inclina­ção (fig. 3-69). Estas diminuem notavelmentecom a idade, elas são máximas dos dois aos tre­ze anos, alcançando 62° de um lado e outro daposição média; entre os 35 e os 49 anos, a am­plitude é de apenas 31° de cada lado; diminui a29° entre os 50 e os 64 anos e a 22° entre os 65

e 77 anos. Após ter sido muito importante até ostreze anos, a infiexão lateral permanece relativa-

mente estável em torno dos 30° de 35 a 64 anos,depois diminui para 20°. Na idade média da vi­da, a amplitude total da infiexão entre a direita ea esquerda é de 60°, o que é quase igual à ampli­tude total de fiexão-extensão da coluna lombar.Não deixa de ser interessante destacar que a am­plitude segmentária da inclinação no nível dodisco LS-Sl é bastante limitada, visto que de 7°na juventude diminui rapidamente a 2°, 1° e in­clusive 0° em idade avançada. A amplitude má­xima se localiza entre L4-LS e, principalmente,entre L3 e L4 onde é de 16° na juventude para de­pois permanecer relativamente estável ao redordos 8° entre os 35 e os 64 anos e, por último, di­minuir a 6° na idade senil.

Page 117: Fisiologia Articular - Volume 3

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 119

Fig.3-68

AMPLITUDE DE INCLINAÇÃO

DEPENDENDO DA IDADE(segundo S.S: TANZ)

Fig.3-69

Page 118: Fisiologia Articular - Volume 3

120 FISIOLOGIA ARTICULAR

AMPLITUDE DE ROTAÇÃO DA COLUNA DORSOLOMBAR

A amplitude de rotação segmentária e totalna coluna lombar e na coluna dorsal, durantemuito tempo, foi uma grande incógnita. De fato,é muito difícil imobilizar a pelve e apreciar a ro­tação na extremidade dorsal da coluna vertebral,visto que a cintura escapular é muito móvel so­bre o tórax, podendo assim cometerem-se errosfacilmente. Foi necessário esperar os recentestrabalhos de 0.0. Oregersen e D.B. Lucas paradispor de cifras viáveis. Estes autores decidiramimplantar agulhas metálicas sob anestesia localem cada uma das apófises espinhosas da colunadorsal e lombar para medir o seu deslocamentoangular através de sensores eletrônicos altamen­te sensíveis. Assim, puderam medir a rotação dacoluna vertebral dorsolombar durante a marcha

(fig. 3-70) e na sua amplitude total em posiçãosentada e posição ortostática (fig. 3-71).

Durante a marcha (fig. 3-70), o lado es­querdo do gráfico mostra que o disco Dj-DSper­manece no lugar, enquanto a rotação é máximanas duas vértebras adjacentes (lado direito dográfico). Portanto, as maiores amplitudes de ro­tação se situam ao redor deste "espaço-pivô", di­minuindo em seguida, de maneira regular, paracima e para baixo, para reduzir-se notavelmentena coluna lombar (0,3°) e na coluna dorsal supe­rior (0,6°). Portanto, a rotação da coluna lombaré duas vezes menor que nas zonas menos móveisda coluna dorsal; vimos anteriormente as causasanatômicas desta limitação.

Analisando a rotação total e máxima di­reita-esquerda (fig. 3-71), Oregersen e Lucaspõem em evidência uma leve diferença segundose tome a medida em posição sentada ou em po­sição ortostática. A posição sentada dá amplitu­des mais limitadas, visto que a pelve se imobili­za com mais facilidade quando os quadris estãojlexionados. Quanto à coluna lombar isolada, arotação total direita-esquerda para toda a colunalombar é de apenas 10°, o que corresponde a 5°

de cada lado e, portanto, 1° de rotação em cadasegmento em média. Na coluna dorsal, a rota­ção é notavelmente maior, porque alcança umtotal, entre a rotação direita e a rotação esquer­da, uma amplitude de 85° menos 10°, ou seja75°, e portanto, 37° de cada lado ou também, emmédia, 3°4' de cada lado e por segmento. Obser­var então que, apesar da presença da caixa torá­cica, a rotação é quatro vezes maior na colunadorsal em conjunto que na coluna lombar, noçãoque se tratará mais adiante. A comparação dasduas curvaturas permite constatar que tanto naposição sentada como na posição ortostática, aamplitude total da rotação direita-esquerda éidêntica. Unicamente variam as proporções en­tre estas duas curvaturas; e especialmente a cur­vatura em posição ortostática mostra quatropontos de inflexão, principalmente um ponto deinflexão na zona inferior da coluna lombar cujarotação é mais ampla na citada posição. Pareceque o mesmo acontece na zona de transição dachameira dorsolombar.

Na prática, como é impossível implantaragulhas nas apófises espinhosas dos indivíduospara medir a rotação da coluna vertebral dorso­lombar, é necessário que nos contentemos comos antigos métodos clínicos; para o que é neces­sário que o indivíduo esteja sentado (fig. 3-72),tentando que a linha dos ombros se mantenha es­tável com relação ao tórax; daí se pede que elerealize uma rotação para um lado e depois parao outro, depois se mede o ângulo formado pelalinha dos ombros com o plano frontaL Neste ca­so a amplitude é de 15 a 20°, embora não repre­sente a amplitude máxima de rotação unilateralque, segundo Oregersen e Lucas, é de uns 45°.Uma forma prática de fixar a cintura escapularcom respeito ao tórax consiste em situar os mem­bros superiores horizontalmente sobre o cabo deuma vassoura colocado nas costas no nível dasescápulas, marcando, assim, a linha dos ombros.

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122 FISIOLOGIA ARTICULAR

o FORAME DE CONJUGAÇÃO E O COLO RADICULAR

É impossível terminar este capítulo de ana­tomia funcional da coluna lombar sem dar umasquantas noções sobre a fisiopatologia radicularmuito abundante neste segmento vertebral.

Também são necessárias umas quantas no­ções de anatomia para compreender o mecanis­mo das lesões radiculares. Cada nervo vertebral(NE) sai do canal vertebral por um forame inter­vertebral (fig. 3-73). Este forame interverte­bral (2) (também chamado forame de conjun­ção) é limitado pela frente pelo contorno poste­rior do disco intervertebral (1) e a parte adjacen­te dos corpos vertebrais, abaixo, pelo pedículoda vértebra subjacente (10); acima, pelo pedícu­Ia da vértebra suprajacente (11); atrás, pelas ar­ticulações interapofisárias (9), cobertas pelafrente pela sua cápsula (8) e a margem lateral doligamento amarelo (6), que cobre a cápsula eavança levemente sobre o forame intervertebral.

Na área do forame intervertebral, o nervovertebral deve perfurar o saco dural (fig. 3-74):esta vista em perspectiva mostra como o nervo

vertebral (NE), situado em princípio no interiordo saco dural (3), aproxima-se da parede medialdeste (4) para perfurá-Ia no nível do colo radi­cular (5) que representa um ponto fixo, ponto depassagem obrigatório do nervo vertebral onde fi­cará fixo pelo saco dural.

Em vista superior (fig. 3-75), novamente seencontram todas estas ligações entre o eixo ner­voso e o canal vertebral. A medula, envolvidapelo saco dural (4), está alojada no canal verte­bral coberto pela frente pelo ligamento vertebralcomum posterior (12) e por trás pelo ligamentoamarelo (7). A face anterior das articulações in­terapofisárias (9) fica coberta por uma cápsula,reforçada por um ligamento (8), por sua vez co­berto por um prolongamento do ligamento ama­relo (6). O nervo vertebral, que repousa sobre opedículo da vértebra inferior, passa por um es­treito desfiladeiro entre o disco na frente, cober­to pelo ligamento vertebral comum posterior, e aarticulação interapofisária atrás, coberta por umprolongamento do ligamento amarelo.

Page 120: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.3-74

3

6

9

10

5

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 123

11

2

1

NE

Fig.3-73

12

4

10

9

7

Fig.3-75

Page 121: Fisiologia Articular - Volume 3

124 FISIOLOGIA ARTICULAR

DIFERENTES TIPOS DE HÉRNIA DISCAL

Sob o efeito da pressão axial, a substânciado núcleo pulposo pode fluir em diferentes dire­ções. Se as fibras do anel fibroso ainda forem re­sistentes, a hiperpressão pode provocar o afun­damento dos platôs vertebrais. Trata-se então deuma "hérnia intra-esponjosa" (fig. 3-76).

Contudo, alguns estudos recentes demons­traram que, a partir dos 25 anos, as fibras do anelfibroso começam a se degenerar, podendo produ­zir rasgaduras infrafasciculares entre as suas di­ferentes camadas. Então, sob a pressão axial, asubstância do núcleo poderia passar através dasfibras do anel (fig. 3-77). Estas fugas de substân­cia nuclear podem ser concêntricas, emboraamiÚde, sejam radiais. As fugas anteriores são asmais raras. Pelo contrário, as posteriores sãomuito freqÜentes, principalmente no sentido pós­tero-Iateral. Deste modo, quando o disco se acha­ta (fig. 3-78), uma parte da substância nuclear sedifunde seja para a frente, seja para trás, poden­do atingir a margem posterior do disco e aflorardebaixo do ligamento vertebral comum posterior(fig. 3-79). Num primeiro momento, embora per-

manecendo unida ao nÚcleo, pode ficar bloquea­da debaixo do ligamento vertebral comum poste­rior (A); neste caso, ainda é viável a sua reinte­gração no compartimento do núcleo através detrações vertebrais. Porém, com freqüência, elaafunda o ligamento vertebral comum posterior(B) e pode inclusive ficar livre no interior do ca­nal vertebral. Trata-se da hérnia discal denomi­nada "livre". Em outros casos, fica bloqueadasob o ligamento vertebral comum posterior (C),e as fibras do anel fibroso se fecham detrás dela,impedindo qualquer possibilidade de seu retor­no. E por último, outros casos que, após ter al­cançado a face profunda do ligamento vertebralcomum posterior, a hérnia pode deslizar para ci­ma, ou para baixo (D). Trata então de uma hér­nia migratória subligamentar.

Quando a hérnia discal alcança a face pro­funda do ligamento vertebral comum posterior,as suas fibras nervosas entram em tensão produ­zindo dores lombares ou lombalgia; posterior­mente, quando a hérnia comprime o nervo verte­bral é a causa das radiculalgias.

Page 122: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.3-76

Fig.3-77

Fig.3-78

A

B

c

D

3. TROKCO E COLUNA VERTEBRAL 125

Fig.3-79

Page 123: Fisiologia Articular - Volume 3

126 FISIOLOGIA ARTICULAR

HÉRNIA DISCAL E MECANISMO DE COMPRESSÃO RADICULAR

Hoje parece, sem nenhuma dúvida, que ahérnia discal se produz em três tempos (fig. 3­80). Todavia, a sua aparição só é possível se pre­viamente o disco foi deteriorado por microtrau­matismos repetidos e se, por outra parte, as fi­bras do anel fibroso começaram a se degenerar.Em geral, a hérnia discal aparece após um esfor­ço de levantamento de uma carga com o troncoinclinado para afrente: no primeiro tempo (A),a flexão do tronco para a frente diminui a alturados discos na sua parte anterior e entreabre o es­paço intervertebral para trás. A substância nu­clear se projeta para trás, através das rasgaduraspreexistentes do anel fibroso. No segundo tem­po (B), no início do esforço de levantamento, oaumento da pressão axial achata todo o disco in­tervertebral e desloca a substância do núcleoviolentamente para trás, que deste modo alcan­ça a face profunda do ligamento vertebral co­mum posterior. No terceiro tempo (C), a retifi­caçâo do tronco está praticamente finalizada, atrajetória em ziguezague pela qual o pedículo dahérnia discal passou se fecha novamente sob apressão dos platôs vertebrais e a massa consti­tuída pela hérnia fica bloqueada debaixo do liga­mento vertebral comum posterior. Nesse precisomomento é quando ocorre uma intensa dor naregião lombar, normalmente denominada "dorde rins" e também lombalgia, que correspondeao primeiro tempo da lombociatalgia. Esta lom­balgia aguda inicial pode remitir espontanea­mente, ou com tratamento, porém se se produ­zem episódios idênticos e repetidos, a hérniadiscal vai aumentar de volume e se protuirá ca­da vez mais para o canal vertebral, entrando, en­tão, em conflito com um dos nervos vertebrais,uma das raízes do nervo isquiático (fig. 3-81).Por isso, a hérnia discal aparece geralmente naparte póstero-lateral do disco, no lugar onde o li­gamento vertebral comum posterior é menos es­pesso; deslocando progressivamente a raiz donervo isquiático, até o momento que a parede

, posterior do forame intervertebral a detém, istoé, a articulação interapofisária é coberta pela suacápsula, que por sua vez é reforçada por um li-

gamento anterior e pela parte lateral do liga­mento amarelo. A partir desse instante, a raizcomprimida vai manifestar o seu sofrimentocom a aparição de dores nesse território e, in­clusive, posteriormente, distúrbios dos reflexos(abolição do reflexo aquiliano se se tratar dacompressão da raiz de S[ e distúrbios motores,na ciática paralisante).

Dependendo do nível onde a hérnia discale a compressãô radicular se produzem, a sinto­matologia clínica será diferente (fig. 3-82):quando a hérnia díscal se localiza no segmentoL4-LS (1), ela comprime a quinta raiz lombar (Ls)e a radiculalgia correspondente afeta o seguinteterritório: face póstero-lateral da coxa e do joel­ho, face lateral da panturrilha, face dorsallateralda garganta do pé e face dorsal do pé até o há­luxo Quando a hérnia discal se localiza no seg­mento LS-Sl (2), comprime a primeira raiz sa­cral (SI) e a radiculalgia afetará a seguinte topo­grafia: face posterior da coxa, do joelho e dapanturrilha, calcanhar e margem lateral do pé atéo quinto dedo. Contudo, é necessário corrigir es­ta sistematização, visto que a hérnia discal L4-LSao ficar mais perto da linha média pode compri­mir simultaneamente Lse S[ ou inclusive, às ve­zes, só SI' Se a exploração cirúrgica se limitar aoespaço LS-Sl pela topografia SI da radiculalgia,ela corre o risco de não perceber a lesão situadano segmento superior.

a corte sagital (fig. 3-82) corrige o cortetransversal (fig. 3-81): de fato, neste último amedula está representada. Na verdade, a medulase detém no nível do cone terminal (CT), na se­gunda vértebra lombar. Por baixo do cone termi­nal, dentro do saco dural, só existem raízes queformam a "cauda eqüina" e que saem de duasem duas pelos orifícios intervertebrais em cadanível. No nível de L4-LS'também existem quatropares de raízes no saco dural; no nível de LS-Sl'as duas raízes de Ls saem para cima, de modoque só ficam três pares de raízes no saco que ter­mina em forma de fundo de saco (D) na terceiravértebra sacral.

Page 124: Fisiologia Articular - Volume 3

CT

Fig.3-82

Fig.3-80

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 127

Fig.3-81

Page 125: Fisiologia Articular - Volume 3

128 FISIOLOGIA ARTICULAR

o SINAL DE LASEGUE

o sinal de Lasegue é uma dor provocadapela tensão do nervo iSqlliático ou uma das suasraízes. Se explora com o indivíduo em decúbitosupino, elevando progressiva e lentamente omembro inferior estendido. A dor reproduz a dorisquiática que o doente sente de maneira espon­tânea; isto é, na topografia da raiz atingida.

Os trabalhos de Charnley demonstraramque as raízes se deslizam livremente através dosforames intervertebrais e que no percurso da ele­vação do membro inferior, com os joelhos esten­didos, as raízes se deslocam fora do forame inter­vertebral num comprimento que pode alcançar12 mm no caso da quinta raiz lombar (fig. 3-87).

Eis aqui como o sinal de Lasegue pode serinterpretado:

- quando o sujeito está em decúbito supi­no, com os membros inferiores repou­sando sobre o plano de apoio (fig. 3-83),o nervo isquiático e suas raízes estãoperfeitamente distendidos;

- quando o membro inferior se eleva comos joelhos flexionados (fig. 3-84), o ner­vo isquiático e as suas raízes ainda per­manecem distendidos;

- porém, se o joelho se estende ou o mem­bro inferior se eleva progressivamentecom os joelhos estendidos (fig. 3-85), onervo isquiático é obrigado a percorrerum trajeto mais longo e conseqüente­mente é submetido a uma tensão cres­cente. No indivíduo normal, as raízes sedeslizam livremente pelo forame inter­vertebral e esta manobra não é dolorosa,só aparece dor na parte posterior da co­xa no final da elevação, quando o mem­bro inferior se aproxima da vertical (fig.3-86), devido à tensão dos músculos ís­quio-tibiais nos sujeitos que não têmmuita flexibilidade. Trata-se de umfalsosinal de Laseglle;

- ao contrário, quando uma das raízes ficabloqueada no forame intervertebral, ouquando deve percorrer um trajeto leve-

mente mais longo sobre a convexidadede uma hérnia discal, uma elevação mo­derada do membro inferior provocarádor ao entrar em tensão. Trata-se do ver­

dadeiro sinal de Lasegue que, geral­mente, aparece debaixo dos 60° de fle­xão; de fato, acima dos 60° já não se tra­ta do sinal de Lasegue, porque a tensãodo nervo isquiático alcança o seu máxi­mo aos'60°, Portanto, a dor ciática pro­vocada pode aparecer numa elevação de10°, 15° oú 20° do membro inferior, oque caracteriza um sinal de Lasegue a10, 15, 20 ou 30°, permitindo dar umanoção quantitativa.

É necessário destacar um ponto em particu­lar: durante a elevação forçada do membro infe­rior com a perna estendida, a força da tração so­bre as raízes alcança 3 kg. Contudo, a resistên­cia à tração destas raízes é de 3.200 kg. Se umadelas está bloqueada ou relativamente encurtadapor uma hérnia discal, uma manobra brusca po­de provocar uma ruptura dos axônios no interiorda raiz, o que se traduz numa paralisia, com fre­qüência transitória, mas às vezes de regressãolenta. Disto derivam-se duas precauções:

- por um lado, realizar a manobra de La­segue sempre com suavidade e com pre­caução, e deter a elevação do membroenquanto a dor apareça;

~ por outro lado, não realizar jamais estamanobra sob anestesia geral, visto quea dor não pode indicar a interrupção domovimento. Isto pode acontecer ao co­locar o paciente para a operação de hér­nia discal, quando em decúbito supinose flexionam os quadris deixando osjoelhos estendidos. O cirurgião deve co­locar sempre pessoalmente o seu pa­ciente e vigiar que a flexão de quadris seacompanhe simultaneamente de umaflexão de joelhos, distende~do então onervo isquiático e preservando a raizbloqueada.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 129

~~~ ~ ';: -~ ~ ~_ [- --:: Fig.3-83

Fig.3-84

Fig.3-85

Fig.3-87

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130 FISIOLOGIA ARTICULAR

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 131

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132 FISIOLOGIA ARTICULAR

A VÉRTEBRA TORÁCICA PADRÃO E A DÉCIlVIA SEGUNDA TORÁCICA

A vértebra torácica padrão (fig. 4-2) écomposta das mesmas partes que a vértebralombar; contudo, existem grandes diferençasmorfológicas e funcionais.

Numa vista "desarmada" (fig. 4-1), se podereconhecer o corpo vertebral (1) cujo diâmetrotransversal é quase igual ao diâmetro ântero­posterior. Ele também é proporcionalmente maisalto que o corpo das vértebras lombares; o seucontorno anterior e lateral é muito escavado. Naparte póstero-lateral dos platôs vertebrais pode­se observar uma face oval, talhada obliquamen­te e recoberta de cartilagem: se trata da fóveacostal que vamos tratar mais adiante com as ar­ticulações costovertebrais. Na parte póstero-Ia­teral do corpo vertebral se implantam os dois pe­dículos (2 e 3), a fóvea costal superior ultrapas­sa, com freqüência, a raiz do pedículo. Por trásdeste, se implantam as lâminas vertebrais (4 e 5)que constituem a maior parte dos arcos posterio­res. Estas lâminas são mais altas que largas e es­tão inclinadas como se fossem telhas; perto dopedículo, a sua margem superior dá origem àsapófises articulares superiores (6 e 7), que pos­suem uma face articular ovalada, plana ou leve­mente convexa, recoberta transversalmente decartilagem, orientada para trás, levemente paracima e para fora; na parte inferior das lâminas,sempre perto do pedículo, se implantam as apó­fises articulares inferiores, das que só se podeapreciar aqui o processo direito (8). Na sua faceanterior elas apresentam uma face articular oval,plana ou levemente côncava, orientada trans­versalmente para a frente e levemente para bai­xo e para dentro. Estas faces se articulam comas faces superiores da vértebra subjacente. Na

união das lâminas e dos pedículos, nas apófisesarticulares, se implantam as apófises transver­sas (9 e 11); que se dirigem para fora e leve­mente para trás, e apresentam uma extremidadelivre e grossa, que contém uma face articular de­nominadafóvea costal (10), na sua face anterior,que corresponde à tuberosidade costa!. As duaslâminas se unem na linha média e originam umaapófise espinhosa (12), volumosa, longa e bas­tante inclinada para baixo e para trás, com só umtubérculo no seu vértice.

A associação de todos estes elementos for­ma a vértebra torácica padrão (fig. 4-2).

A última vértebra torácica (décima segun­da torácica), vértebra de transição com a colunalombar, apresenta algumas particularidades:

- em primeiro lugar, o seu corpo vertebralsó possui duas faces costais situadas naparte póstero-Iateral do platá superior,em direção à cabeça da décima segundacostela;

- em segundo lugar, se as apófises articu­lares superiores estão orientadas comoas de todas as vértebras torácicas, paratrás e levemente para cima e para fora, asfaces articulares devem corresponder àsfaces superiores da primeira vértebralombar. Portanto, a direção é a mesmaque a das faces inferiores de todas asvértebras lombares; isto é, orientadasparafora epara afrente e com uma cur­vatura transversal levemente convexaque se inscreve numa mesma superfíciecilíndrica, cujo eixo se situa aproxima­damente na origem da apófise espinhosa.

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Fig.4-1

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Fig.4-3

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134 FISIOLOGIA ARTICULAR

FLEXÃO-EXTENSÃO E INFLEXÃO LATERAL DA COLUNA TORÁCICA

o movimento de extensão entre duas vér­tebras torácicas (fig. 4-4) se acompanha de umainclinação para trás do corpo vertebral da vérte­bra superior. Simultaneamente, o disco inter­vertebral se estreita por trás e se alarga pelafrente que, como no caso da coluna lombar, eleprojeta o núcleo pulposo para a frente. A limita­ção do movimento de extensão está determina­da pelo ressalto das apófises articulares (1) edas apófises espinhosas (2), que estão bastanteinclinadas para baixo e para trás, praticamenteem contato. Por outro lado, o ligamento verte­bral comum anterior (3) entra em tensão en­quanto o ligamento vertebral comum posterior,os ligamentos amarelos e os ligamentos interes­pinhais se distendem.

Já o movimento de ftexão entre duas vérte­bras torácicas (fig. 4-5) se acompanha de umaabertura posterior do espaço intervertebral, comdeslocamento do núcleo para trás. As superfíciesarticulares das apófises articulares se deslizampara cima, e as apófises inferiores da vértebra su­perior têm a tendência de ultrapassar as apófisessuperiores da vértebra inferior por cima. O movi­mento de flexão fica limitado pela tensão do li­gamento interespinhal (4), dos ligamentos ama­relos e das cápsulas das articulações interapofi­sárias (5) e pela do ligamento vertebral poste­rior (6). Pelo contrário, o ligamento vertebral co­mum anterior está distendido.

O movimento de inclinação de duas vérte­bras torácicas (fig. 4-6, vista posterior) se acom­panha por um deslizamento diferente nas articu­lações interapofisárias: do lado da convexidade,as faces se deslizam como na ftexão, ou seja, pa­ra cima; do lado da concavidade, as faces se des­lizam como na extensão, ou seja, para baixo. Alinha das apófises transversas mm' forma um ân-

guIo igual ao ângulo de inclinação (i) com alinha das apófises transversas nn' da vértebrasubjacente; a limitação do movimento está de­terminada, por um lado, pelo ressalto ósseo dasapófises articulares do lado da concavidade e,por outro, pela tensão dos ligamentos amarelo eintertransverso do lado da convexidade.

Contudo: seria um erro considerar os movi­mentos da coluna torácica unicamente no níveldas vértebras; de fato, a coluna torácica se arti­cula com a caixa torácica (fig. 4-7) e todos oselementos ósseos, cartilaginosos e articulares dacaixa torácica intervêm para dirigir e limitar osmovimentos isolados da coluna vertebral. Isto écorreto porque no cadáver se pode comprovarque a coluna torácica isolada tem uma maiormobilidade que quando ela está unida com a cai­xa torácica. Portanto, é necessário estudar as re­

percussões que os movimentos realizados na co­luna torácica têm no tórax.

Durante a inftexão lateral da coluna to­rácica (fig. 4-8), do lado da convexidade da co­luna, o tórax se eleva (1), os espaços intercostaisse alargam (3), o tórax se dilata (5) e o ângulocondrocostal da décima costela tem a tendênciade se abrir (7). Do lado da concavidade da cur­vatura da coluna, se observam os fenômenos in­versos: o tórax desce (2) e se retrai (6), enquan­to os espaços intercostais se reduzem (4) e o ân­gulo condrocostal se fecha (8).

Durante o movimento de ftexão da colu­na torácica (fig. 4-9), se abrem todos os ângu­los que articulam os diferentes segmentos do tó­rax entre si e com a coluna vertebral: ângulocostovertebral (1), ângulo esternocostal superior(2) e inferior (3) e ângulo condrocostal (4). Pelocontrário, durante o movimento de extensão to­dos estes ângulos se fecham.

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Fig.4-4

(i)

Fig.4-6

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 135

Fig.4-5

Fig.4-7

Fig.4-9

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136 FISIOLOGIA ARTICULAR

ROTAÇÃO AXIAL DA COLUNA TORÁCICA

Como se realiza a rotação elementar deuma vértebra sobre a outra na coluna torácica?É bastante diferente da rotação na coluna lom­bar. De fato (fig. 4-10), as articulações interapo­fisárias têm uma orientação totalmente diferen­te. A interlinha também está incluída numa su­perfície cilíndrica, mas o eixo deste cilindro sesitua aproximadamente no centro dos corposvertebrais (O). Durante a rotação de uma vérte­bra sobre a outra, o deslizamento das superfíciesnas apófises articulares se acompanha de umarotação de um corpo vertebral sobre o outro, so­bre o seu eixo comum; portanto, de uma rota­ção-torção do disco intervertebral e não de umcisalhamento como é o caso na coluna lombar.A rotação-torção do disco pode ter uma ampli­tude maior do que o seu cisalhamento: a rotaçãoelementar entre duas vértebras torácicas é, aomenos, três vezes maior que entre duas vérte­bras lombares.

Contudo, esta rotação seria ainda maior sea coluna torácica não estivesse estreitamenteunida ao tórax ósseo. De fato, cada segmentovertebral arrasta o seu par de costelas corres­pondente (fig. 4-11), mas o deslizamento deum par de costelas sobre o par subjacente estálimitado pelo esterno, com o qual se articulamtodas as costelas através das cartilagens cos­tais. A rotação de uma vértebra estará acom­panhada por uma deformação do par de coste­las associadas à vértebra, graças à elasticidade

costal e, principalmente, condral. As citadasdeformações são as seguintes:

- aumento da concavidade costal do lado

da rotação (1);

- diminuição da concavidade costal do la­do oposto (2);

- aumento da concavidade condrocostaldo lado oposto ao da rotação (3);

- diminuição da concavidade condrocos­tal do lado da rotação (4).

Por conseguinte, no percurso deste movi­mento, o esterno é submetido a forças de ci­salhamento e tem a tendência a se dirigir obli­quamente de cima para baixo para seguir a rota­ção dos corpos vertebrais. Contudo, esta obli­qüidade não deve ser muito pronunciada e é pra­ticamente inapreciável na observação clínica;radiologicamente também é muito difícil de seevidenciar devido às superposições.

A resistência mecânica do tórax intervém,então, para limitar notavelmente a amplitude dosmovimentos da coluna torácica; enquanto o tó­rax é flexível, como é o caso das pessoas jovens,os movimentos da coluna torácica são muito

amplos mas, pelo contrário, quando com a idadeas cartilagens costais se ossificam e a elasticida­de condrocostal diminui, o tórax constitui umbloco quase rígido, com amplitudes que dimi­nuem proporcionalmente.

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Fig.4-11

Fig.4-10

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 137

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138 FISIOLOGIA ARTIClJLAR

AS ARTICULAÇÕES COSTOVERTEBRAIS

Em cada segmento da coluna torácica, umpar de costelas se articula com as vértebras atra­vés de duas articulações por costela: a articula­ção costovertebral entre a cabeça costal e o dis­co intervertebral e os corpos vertebrais; e a arti­culação costotransversal entre a tuberosidadecostal e a apófise transversa da vértebra subja­cente.

Numa vista de perfil (fig. 4-12), uma dascostelas foi separada após terem sido secciona­dos os diferentes ligamentos, permitindo assimobservar as superfícies articulares do lado verte­bral. No segmento inferior, a costela permaneceno seu lugar com os seus ligamentos.

Em vista superior (fig. 4-13), a costela dolado direito permanece no seu lugar, embora asarticulações estejam abertas; do lado esquerdo acostela foi separada, depois de se seccionaremos seus ligamentos.

O corte vértico-frontal (fig. 4-14) passa pe­la articulação entre a cabeça costal e os corposvertebrais. Do lado oposto a costela foi separadadepois de ter sido realizada a secção ligamentar.

Descreveremos os elementos de maneirasimultânea nas três figuras, cujos números de re­ferência são comuns.

A articulação costovertebral é uma duplaartródia; constituída do lado vertebral por duasfóveas costais, uma na margem superior da vér­tebra inferior (5), e a outra na margem inferiorda vértebra superior (6). Elas formam, entre si,um ângulo diedro perfeitamente visível no corte(fig. 4-14), cujo fundo está ocupado pelo anel fi­broso do disco intervertebral. As superfícies co­rrespondentes da cabeça costal (12) são leve­mente convexas e formam, entre si, o mesmo ân­gulo diedro que encaixa exatamente no das facesvertebrais.

Um ligamento interósseo (8), que se origi­na no vértice da cabeça costal entre as duas fó­veas articulares, se fixa no disco intervertebral esepara esta articulação, recoberta por uma cáp­sula articular Única (9), em duas cavidades arti­culares diferentes, uma superior e uma inferior

(13). A articulação costovertebral está reforçadapor um ligamento radiado no qual se distinguemtrês feixes: umfeixe superior (14) e umfeixe in­ferior (15), que se inserem no corpo das vérte­bras adjacentes e umfeixe médio (16), que se in­sere no anel fibroso (2) do disco intervertebral.

A articulação costotransversal também éuma artródia constituída por duas faces ovala­das: uma no vértice da apófise transversa (18) ea outra na tubérosidade costal (19). Esta articu­lação se completa com uma cápsula (20), masela é especialmente reforçada por três ligamen­tos costotransversais:

- o ligamento costotransversal interósseo(23), bastante curto e resistente, que seestende da apófise transversa até a faceposterior do colo da costela;

- o ligamento costotransversal posterior(21), banda retangular de 1,5 cm decomprimento por 1 cm de espessura,que se estende do vértice da apófisetransversa até a parte lateral da tuberosi­dade costal;

- o ligamento costotransversal superior(24), bastante espesso e resistente, planoe quadrilátero, de 10 mm de compri­mento por 8 mm de espessura, que se es­tende da margem inferior da apófisetransversa até a margem superior do co­lo da costela subjacente.

Além disso, se descreve um ligamento cos­totransversal inferior que ocupa a face inferiorda articulação costotransversal.

Nestas figuras também se podem distinguiros detalhes do disco intervertebral com o núcleopulposo (1) e o anel fibroso (2), as articulaçõesinterapofisárias com as suas faces articulares (3)e as suas cápsulas (4).

Em resumo, a costela se articula com a co­luna vertebral através de duas artródias: umaartródia simples, a articulação costotransversal,e uma artródia dupla encaixada de forma maissólida, a articulação costovertebral; ambas dota­das de potentes ligamentos.

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Fig.4-14

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140 FISIOLOGIA ARTICULAR

MOVIMENTOS DAS COSTELAS AO REDORDAS ARTICULAÇÕES COSTOVERTEBRAIS

A articulação costovertebral, por um lado,e a articulação costotransversal, por outro, for­mam um par de artródias mecanicamente uni­das (fig. 4-15), cujo movimento comum so­mente pode ser uma rotação ao redor de um ei­xo que passe pelo centro de cada uma destasduas artródias. Assim, se pode descrever umeixo xx' que une o centro O da articulação cos­totransversal com o centro O' da articulaçãocostovertebral. Ele serve de charneira para acostela que, deste modo, fica "suspensa" na co­luna vertebral por dois pontos O e O'. A orien­tação deste eixo com relação ao plano sagitaldetermina a direção do movimento costal: nascostelas inferiores (lado esquerdo da figura) oeixo xx' se aproxima do plano sagital e, conse­qüentemente, o movimento de elevação da cos­tela provoca, especialmente, um aumento dodiâmetro transversal do tórax (1). De fato (fig.4-17), quando a costela gira ao redor deste ei­xo, ela descreve um arco de círculo de centroO; a sua obliqüidade diminui, e, ao tornar-semais transversal, o seu ponto mais lateral fica

deslocado para fora numa longitude l, que re­presenta o aumento do semidiâmetro transver­sal da base do tórax.

Pelo contrário, as costelas superiores (fig.4-15, lado direito da figura) se articulam atravésde um eixo yy' situado quase num plano frontal:o movimento de elevação da costela provoca umaumento bastante acentuado do diâmetro ântero­posterior do tórax (a).

De fato (fig. 4-16), quando a extremidadeanterior da costela eleva-se a uma altura h, eladescreve um arco de círculo que a desloca numalongitude a para a frente.

Portanto, se pode concluir que durante aelevação das costelas aparecem um aumento dodiâmetro transversal do tórax inferior e um au­mento do diâmetro ântero-posterior do tórax su­perior. Na parte média do tórax onde o eixo dasarticulações costovertebrais se localiza aproxi­madamente numa direção oblíqua a 45°, o au­mento do diâmetro se produz tanto no sentidotransversal quanto no sentido ântero-posterior.

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Fig.4-16

Fig.4-15

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 141

Fig.4-17

)

h

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142 FISIOLOGIA ARTICULAR

MOVIMENTOS DAS CARTILAGENS COSTAIS E DO ESTERNO

Até aqui consideramos somente o movi­mento das costelas ao redor das articulaçõescostovertebral e costotransversal, mas tambémse devem observar os movimentos das costelascom relação ao esterno e às cartilagens costais.Se compararmos uma vista superior do movi­mento das costelas (fig. 4-18) com uma vista an­terior deste mesmo movimento (fig. 4-19), cons­tatamos que, enquanto a parte mais lateral dacostela se eleva a uma altura h' e se separa do ei­xo do corpo a um comprimento I, a extremidadeanterior da costela se eleva a uma altura h e se

separa do plano de simetria a um comprimentol', sendo estes dois últimos comprimentos leve­mente maiores que os dois primeiros. Simulta-

neamente, o esterno se eleva e a cartilagem cos­tal adota uma direção mais horizontal formandoum ângulo a com sua posição inicial. Este movi­mento angular da cartilagem costal com relaçãoao esterno se realiza na articulação condroester­na!. Além disso, ao mesmo tempo, se produz umoutro movimento angular na articulação con­drocostal. Mais adiante vamos falar disso.

Durante a elevação da costela (fig. 4-18, la­do direito), o ponto m que produz o maior au­mento de volume do diâmetro torácico é o mais

afastado do eixo xx' . Esta constatação geométri­ca explica o deslocamento do ponto m sobre acostela quando a obliqüidade do eixo xx' varia.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 143

r--

Fig.4-18

m

Fig.4-19

---- ..

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144 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS DEFORMAÇÕES DO TÓRAX NO PLANO SAGITALDURANTE A INSPIRAÇÃO

Se imaginarmos a coluna vertebral imutá­vel durante o movimento de inspiração (fig. 4­20) e considerando somente, por um lado, o pen­tágono deformável composto pela coluna verte­bral e, por outro, a primeira costela, o estemo, adécima costela e sua cartilagem costal, se po­dem constatar as seguintes deformações:

- a primeira costela móvel ao redor da suaarticulação costovertebral (O) se eleva ea sua extremidade anterior descreve umarco de círculo AA';

--esta elevação da primeira costela produzuma elevação do esterno, que passa daposição AB à posição A'B';

- neste movimento, o esterno não estáexatamente paralelo a si mesmo, vistoque, como vimos anteriormente, naparte superior do tórax o diâmetro ân­tero-posterior aumentava mais que naparte inferior. Disto se deduz que o ân­gulo que formava com a vertical (ângu­lo a) se fecha levemente e simultanea­mente se pode observar como o ânguloOA'B' se fecha também levemente en­tre a primeira costela e o estemo. Estefechamento do ângulo estemocostal seacompanha de uma rotação longitudi-

nal da cartilagem costal (ver pág. 164);

- quanto à décima costela, ela tambémrealiza um movimento de elevação aoredor do seu centro (Q) e sua extremida­de anterior descreve um arco de círculoCC';

- neste movimento da décima costela edo estemo, a décima cartilagem costalpassa da posição CB à posição C'B'permanecendo aproximadamente para­lela a si mesma. Isto determina, poruma parte, o aumento do ângulo em C'de um valor equivalente ao ângulo c(observar que este ângulo c é igual aoângulo C'QC, ou seja, ao ângulo deelevação da décima costela). Por outrolado, aparece um leve aumento do ân­gulo C'B' A' que corresponde à articu­lação da décima cartilagem costal como estemo. Também neste caso, a aber­tura do ângulo se produz graças a umarotação da cartilagem sobre o seu eixolongitudinal. No nível de cada cartila­gem se produz uma rotação longitudi­nal idêntica. Mais adiante analisaremosa sua utilidade com a elasticidade dotórax.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 145

8'

Fig.4-20

c

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146 FISIOLOGIA ARTICULAR

MECANISMO DOS MÚSCULOS INTERCOSTAISE DO MÚSCULO TRIANGULAR DO ESTERNO

Numa vista posterior do tórax e da colunavertebral (fig. 4-21) se pode constatar a existên­cia de três tipos de fibras musculares:

- os pequenos músculos supracostais(5), que, procedentes do vértice da apó­fise transversa finalizam na margem su­perior da costela subjacente. Quando secontraem, elevam esta costela;

- os músculos intercostais externos (E)cujas fibras oblíquas para cima e paradentro têm uma direção paralela à das,fi­bras do músculo supracostal. Estes mús­culos intercostais externos são, como o

supracostal, elevadores das costelas eportanto, inspiradores;

- os músculos intercostais internos (I),cujas fibras são oblíquas para cima e pa­ra fora, produzem a descida das costelase portanto, a expiração.

O esquema de Hamberger explica perfei­tamente o mecanismo de ação dos músculos in­tercostais:

-- a ação dos intercostais externos (fig. 4­22) se entende quando se constata que adireção de suas fibras é a da grande dia­gona! do paralelograma OO'BA que ascostelas articuladas formam com a colu­

na vertebral e o esterno. Quando o inter­costal externo (E) se contrai, esta diago­nal diminui um comprimento r, defor­mando o paralelo grama e, supondo que00' permaneça fixo, produz a rotação deAI em Az e de BI em Bz: a contração dointercostal externo provoca uma eleva-

I -

ção das costelas e, portanto, se trata deum músculo inspirador;

- a ação dos intercostais internos (fig. 4­23) se entende de maneira análoga, masdesta vez o músculo tem urna direçãoparalela à pequena diagonal do paralelo­grama. Quando o intercostal interno secontrai (I), esta diagonal O' Aj diminuium comprimento r', o que levará AI atéAz e BJ até Bz, sempre no suposto de queo lado 00' permaneça imutável. A con­tração do intercostal interno produz adescida das costelas e, portanto, se tratade um músculo expirador. Parece que es­te esquema de Hamberger, apesar de tersido contradito pelas experiências de ex­citação elétrica de Duchenne de Boulog­ne, se considera válido atualmente gra­ças aos trabalhos eletromiográficos.

O triangular do esterno é um músculo ge­ralmente pouco estudado e normalmente es­quecido pela sua localização retroesternal (fig.4-24). De fato, ele está totalmente situado na

face posterior do esterno e as suas fibras, quese inserem nas cartilagens da segunda à sextacostelas, são oblíquas para baixo e para dentro.A contração dos seus cinco feixes determina adescida, com relação ao esterno, das cartila­gens costais correspondentes. Contudo, se po­de ver (fig. 4-19) que durante a inspiração acartilagem costal se eleva e que, pelo contrá­rio, ela desce durante a expiração. Isto permi­te deduzir que o triangular do esterno é ummúsculo expirador.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 147

Fig.4-21

o

O'

Fig.4-22

o

O'

Fig.4-23

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148 FISIOLOGIA ARTICULAR

o DIAFRAGMA E O SEU MECANISMO

o diafragma forma uma cúpula músculo­aponeurótica que fecha o orifício inferior do tó­rax e separa o tórax do abdome. Uma vista deperfil (fig. 4-25) mostra como esta cúpula vaimais baixo por trás que pela frente e seu pontomais elevado está constituído pelo centro frêni­co (1). Neste centro se originam os feixes de fi­bras musculares (2) que se dirigem radialmenteem direção ao contorno do orifício inferior dotórax e se inserem na face medial das cartilagenscostais, nas extremidades da décima primeira eda décima segunda costelas, nos arcos que unemas extremidades das três últimas costelas e, porúltimo, na coluna vertebral, no nível dos corposvertebrais, por uns pilares (pilar esquerdo 3 e pi­lar direito 4), nos arcos do psoas (7) e nos arcosdo quadrado lombar(8). Isto pode ser apreciadomuito melhor em vista anterior (fig. 4-26), ondese distinguem a face convexa do diafragma, naparte superior da figura, e sua face côncava nonível dos pilares. Também se podem distinguiros orifícios por onde passam o esôfago (6) aci­ma e a aorta (5) abaixo. Contudo, nestas figurasnão se visualiza o orifício da veia cava inferior

visto que não está representado.

Quando as fibras musculares do diafragmase contraem, o centro frênico desce: deste mo­do o diâmetro vertical do tórax se alarga, po­dendo ser, o diafragma, comparado com umêmbolo que se desliza no interior de uma bom­ba. Contudo, a entrada em tensão dos elementos

do medias tino e, especialmente, a presença damassa das vísceras abdominais limitam este

descenso do centro frênico. A partir deste ins­tante (fig. 4-27), o centro frênico se converte emponto fixo (grande seta branca) e as fibras mus­culares, que agem a partir da periferia do centrofrênico (seta branca pequena), passam a ser asque elevam as costelas inferiores. De fato, se oponto P é considerado como fixo e a costela gi­ra ao redor do centro O, o seu extremo descreve­rá um arco de círculo AB enquanto a fibra mus­cular correspondente vai encurtar-se a uma dis­tância A'B. Ao elevar as costelas inferiores, odiafragma alarga o diâmetro transversal do tó­rax inferior, mas, simultaneamente, através doestemo, eleva também as costelas superiores e,conseqüentemente, alarga o diâmetro ântero­posterior. Portanto, se pode afirmar que o dia­fragma é um músculo primordial da respiração,visto que, por si mesmo, alarga os três diâme­tros do volume torácico:

- alargamento do diâmetro vertical pordescenso do centro frênico;

- alargamento do diâmetro transversal porelevação das costelas inferiores;

- alargamento do diâmetro ântero-poste­rior por elevação das costelas superioresatravés do estemo.

Assim, pode-se compreender a importânciado diafragma na fisiologia da respiração.

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Fig.4-25

Fig.4-27

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Fig.4-26

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150 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS DA RESPIRAÇAo

Depois do que estudamos anteriormente,podemos deduzir que os músculos da respiraçãopodem ser classificados em duas categorias. Porum lado, os músculos da inspiração, que ele­vam as costelas e o estemo e, por outro, os mús­culos da expiração, que fazem baixar as coste­las e o estemo. Além disso, nestas duas catego­rias se distinguem dois grupos, os mÚsculosprincipais e os músculos acessórios, embora es­tes últimos só ajam durante movimentos anor­malmente amplos ou potentes.

Então, podem-se distribuir os músculos darespiração em quatro grupos:

Primeiro grupo: os músculos principaisda inspiração: são os intercostais externos e ossupracostais e, especialmente, o diafragma.

Segundo grupo: os músculos acessóriosda inspiração (figs. 4-28, 4-29 e 4-30):

- os esternocleidomastóideos (1), os esca­lenos anteriores (2), médios (3) e poste­riores (4); todos estes músculos somen­te são inspiradores quando tomam comoponto fixo a coluna cervical rígida pelaação de outros músculos (fig. 4-28);

- o peitoral maior (4) e o peitoral menor(5), quando estes dois músculos (fig.4-30) tomam a cintura escapular comoponto fixo e os membros superioresestão em abdução;

- os feixes inferiores do serrátil anterior(6) e do grande dorsal (10) quando eletoma os membros superiores, previa­mente abduzidos, como ponto fixo;

- o serrátil menor posterior e superior (11);

- as fibras superiores do sacrolombar(12), que tomam as cinco últimas apófi­ses transversas cervicais como ponto fi-

xo por cima e se inserem abaixo nos seisprimeiros arcos costais, deste modo,eles têm uma disposição semelhante àdos músculos supracostais de grandecomprimento.

Terceiro grupo: os músculos principaisda expiração; Este grupo só está representadopelos músculos intercostais internos. De fato, aexpiração normal é um fenômeno puramentepassivo de retomo do tórax sobre si mesmo pelasimples elasticidade dos elementos ósteo-carti­laginosos e do parênquima pulmonar. Portanto,a energia necessária para a expiração é, na ver­dade, uma restituição da energia desenvolvidana inspiração pelos músculos inspiradores e queé armazenada no nível dos elementos elásticosdo tórax e do pulmão. Mais adiante veremos opapel essencial que as cartilagens costais desem­penham neste mecanismo. Observar tambémque, na posição vertical, a gravidade intervémde maneira importante para fazer com que ascostelas baixem pelo seu próprio peso.

Quarto grupo: os músculos acessórios daexpiração. Não por ser acessórios, estes múscu­los deixam de ser importantes, nem extrema­mente potentes, visto que condicionam a expi­ração forçada e o esforço abdominal.

Os músculos abdominais (fig. 4-30), o retoabdominal (7), o oblíquo externo (8) e o oblíquointerno (9) fazem o orifício inferior do tórax bai­xar com força.

Na região tóraco-lombar (fig. 4-29) se en­contram outros músculos acessórios da expira­ção: a porção inferior do músculo sacrolombar(13), o grande dorsal (14), o serrátil menor pos­terior e inferior (15) e o quadrado lombar (nãorepresentado aqui).

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Fig.4-29

Fig.4-28

Fig.4-30

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152 FISIOLOGIA ARTICULAR

RELAÇÃO DE ANTAGONISMO-SINERGIA ENTRE O DIAFRAGMAE OS MÚSCULOS ABDOMINAIS

Já vimos previamente que o diafragma é ummúsculo inspirador e inclusive o principal mús­culo inspirador e que, por outro lado, os múscu­los abdominais são músculos expiratórios aces­sórios extremamente potentes, visto que são ca­pazes de produzir a expiração forçada. Pois bem,estes mÚsculos que parecem ser antagonistassão, ao mesmo tempo, sinergistas. Especialmen­te, se pode dizer que a ação do diafragma seriamuito menor se os abdominais não existissem.

Qual é a relação entre o diafragma e osabdominais no percurso das duas fases da res­piração?

Durante a inspiração (fig. 4-31, vista deperfil e figo4-32, vista de frente) a contração dodiafragma faz o centro frênico baixar, o que au­menta o diâmetro vertical do tórax; porém, emseguida, a resistência ao alongamento dos ele­mentos verticais do mediastino (M) intervém e,especialmente, a resistência da massa das vísce­ras abdominais (D). Esta massa está mantidapela "cinta abdominal" constituída pelos poten­tes músculos abdominais: os retos abdominais(RA), mas também os músculos transversos (T),oblíquos internos (Om) e oblíquos externos(OM). Sem eles, o conteúdo abdominal seriaempurrado para baixo e para a frente, e o centrofrênico não poderia tomar um ponto fixo sólidoque permitisse ao diafragma levantar as costelasinferiores. Deste modo, a ação antagônico-si­nérgica dos músculos abdominais é indispensá­vel para a eficácia do diafragma. Esta noção seconfirma na patologia, no caso das paralisias dos

músculos abdominais por poliomielite, em que aeficácia ventilatória do diafragma está diminuí­da. Na vista de perfil (fig. 4-31), a direção das fi­bras dos músculos largos forma o desenho deuma estrela de s~is pontas.

Durante a expiração (fig. 4-32, vista deperfil e figo4-34, vista de frente), o diafragma serelaxa, e a contração dos abdominais faz baixaro orifício inferior do tórax, diminuindo simulta­neamente os diâmetros transvérsal e ântero-pos­terior do tórax. Por outro lado, aumentando apressão intra-abdominal, os citados músculosdeslocam a massa das vísceras para cima e fa­zem o centro frênico subir, o que diminui o diâ­metro vertical do tórax, ao mesmo tempo que"fecham" os seios costodiafragmáticos. Os mús­culos abdominais são, então, os antagonistasperfeitos do diafragma, visto que diminuem si­multaneamente os três diâmetros do tórax.

Portanto, o papel respectivo do diafragmae dos músculos abdominais pode ser visto daseguinte maneira (fig. 4-35): cada um destes gru­pos musculares se contrai de maneira permanen­te, embora o seu tônus evolua de maneira inver­sa. Durante a inspiração, a tensão do diafragmaaumenta, enquanto o tônus dos músculos abdo­minais diminui. Pelo contrário, durante a expira­ção, a tensão dos músculos abdominais aumenta,enquanto o tônus do diafragma diminui. Destemodo, entre estes dois grupos musculares existeum equilíbrio móvel que se desloca perpetua­mente num sentido ou no outro e que ilustra comnitidez a noção de antagonismo-sinergia.

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INSP.

Fig.4-31

Fig.4-33

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 153

INSP.

Fig.4-32

Fig.4-35

Fig.4-34

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154 FISIOLOGIA ARTICULAR

A CIRCULAÇÃO AÉREA NAS VIAS RESPIRATÓRIAS

A experiência clássica de Funck (figs.4-36 e 4-37) ilustra a circulação aérea nas viasrespiratórias: se o fundo de um receptáculo ésubstituído por uma membrana elástica herméti­ca e, por outro lado, se um balão de borracha secomunica com o exterior através de um tubo queatravesse a tampa, se poderá realizar a insufla­ção ou a desinsuflação deste balão somente mo­bilizando o fundo elástico. De fato, se a mem­brana elástica é puxada (fig. 4-37), a capacidadetotal do receptáculo aumenta num volume suple­mentar igual a V, ao mesmo tempo que a pressãono interior dele diminui. A pressão atmosféricaé, então, superior à pressão interior e uma quan­tidade de ar, cujo volume é exatamente igual aovolume V, penetra pelo tubo e infla o balão, oque realiza o mecanismo da inspiração.

Pelo contrário, se soltamos a membranaelástica (fig. 4-36), esta volta à sua posição ini­cial e a capacidade total do receptáculo diminuino mesmo valor V, o que aumenta a pressão noseu interior. O ar que se encontrava no balão se­rá expulso através do tubo. Trata-se do mecanis­mo da expiração.

Assim, a respiração se baseia no aumentoou diminuição do volume da cavidade toráci­ca (fig. 4-38). De fato, se partirmos da posiçãoinicial, na qual o tórax realiza um volume ovóidetruncado com base ACBD, de diâmetro transver­sal CD, de diâmetro ântero-posterior AB e dediâmetro vertical SP, se pode considerar que aação dos músculos respiratórios e, especialmen­te a do diafragma, aumenta todos os diâmetros eo transforma num ovóide maior truncado quecontém o ovóide anterior, de base A'B'C'D', dediâmetro ântero-posterior A'B' maior que CD ede diâmetro vertical SP' maior que SP.A diferen­ça com a experiência de Fulk apóia-se em que to-

das as dimensões do receptáculo aumentam si­multaneamente. Contudo, existe uma notávelanalogia com esta experiência (fig. 4-39), vistoque nela se encontra novamente o tubo verticalonde o ar penetra: a traquéia; o balão que se in­fla: os pulmões; e a membrana elástica que subs­titui o fundo do .receptáculo: o diafragma, embo­ra este também aumente nos outros diâmetros.Contudo, dois pontos devem ser destacados:

- por um lado, os pulmões ocupam todo ovolume interior do tórax, e a união entreas paredes torácicas e o pulmão, em si,está assegurada pela pleura, cuja cavida­de permanece virtual. De fato, em esta­do normal, as suas duas folhas permane­cem unidas e deslizam-se livrementeuma sobre a outra, o que constitui umelemento importante de eficaz solidezmecânica entre os pulmões e a paredetorácica;

- durante a inspiração, a pressão intrato­rácica diminui e se toma negativa, nãosó com relação ao ar exterior, mas tam­bém com relação à cavidade abdomi­nal. Isto tem duas conseqüências: porum lado, a penetração do ar pela tra­quéia até os alvéolos pulmonares e, poroutro, a aceleração da circulação veno­sa de retorno para a aurícula direita(AD). Portanto, a inspiração é um im­portante e excelente elemento de re­cheio do coração e, através da circula­ção menor, da chegada do sangue veno­so até a parede alveolar ao contato doar fresco que acaba de penetrar nela.Assim, a inspiração assegura a circula­ção aérea e a circulação sangüíneapulmonar ao mesmo tempo.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 155

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Fig.4-39

Fig.4-38

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Fig.4-37

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156 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS VOLUMES RESPIRATÓRIOS

Denomina-se volumes respiratórios, ou vo­lumes pulmonares, a quantidade de ar que é pos­ta em movimento durante as diferentes fases darespiração e dos diferentes tipos respiratórios.

Achamos conveniente esquematizar estesdiferentes volumes utilizando-se das pregas deum acordeão, para permitir que eles sejam com­parados entre si.

Durante a respiração tranqüila, em re­pouso (fig. 4-40), os volumes respiratórios sedefinem da seguinte maneira:

- o ar mobilizado entre uma expiração euma inspiração normais representa o vo­lume corrente (VC): meio litro. No grá­fico, esta amplitude da respiração em re­pouso está representada pela faixa cinzacom o número 2 que contém as oscila­ções do espirograma;

-- se uma inspiração normal é prolongadapor uma inspiração forçada, uma quan­tidade adicional de ar penetrará nos pul­mões, o que representa o volume inspi­ratório de reserva (VIR): um litro emeIO;

-. a soma deste volume inspiratório de re­serva e do volume corrente constitui acapacidade inspiratória (CI): dois li­tros;

- se após uma expiração normal se reali­zar uma expiração forçada até o limite,o volume expiratório de reserva(VER) é expulso: um litro e meio;

- a soma do volume inspiratório de reser­va, do volume corrente e do volume ex­piratório de reserva constitui a capaci­dade vital (CV): três litros e meio;

- no final de uma expiração forçada ecompleta, ainda subsiste nos pulmões enos brônquios certa quantidade de ar de-

nominada volume residual (VR): meiolitro;

- a soma do volume residual e do volume

expiratório de reserva constitui a capaci­dade residual funcional (CRF): dois li­tros;

- por último, a soma da capacidade vital edo volume residual constitui a capaci­dade pulmonar total: quatro litros.

Durante o esforço (fig. 4-41), os diferentesvolumes se distribuem de forma diferente na ca­

pacidade pulmonar total:

- o único que não varia é o volume resi­dual visto que se trata de um ar impos­sível de expulsar, seja qual for a força ea intensidade dos movimentos respira­tórios;

- contudo, à medida que se acelera a fre­qüência respiratória, produz, em primeirolugar, um aumento do volume corrente(VC) até um máximo e, a seguir, como afreqüência respiratória continua aumen­tando, o volume corrente tem a tendênciaa baixar levemente. Denomina-se débitoventilatório o produto da freqüência res­piratória pelo volume corrente. De tudoisso deduz-se que o débito ventilatórioacaba alcançando um máximo;

- o volume expiratório de reserva au­menta de maneira notável, o que signi­fica que a amplitude da respiração rápi­da é mais próxima à dilatação máximado tórax que durante a respiração emrepouso;

- a conseqüência do aumento do volumecorrente e do volume de reserva expira­tório é a diminuição do volume inspira­tório de reserva (VIR).

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 157

VOLUMES RESPIRATÓRIOS EM REPOUSO

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Fig.4-40

VOLUMES RESPIRATÓRIOS DURANTE O ESFORÇO

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Fig.4-41

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158 FISIOLOGIA ARTICULAR

FISIOPATOLOGIA RESPIRATÓRIA - OS TIPOS RESPIRATÓRIOS

Muitos fatores podem alterar a eficácia daventilação.

A experiência de Funck pode modificar-se(fig. 4-42): se se substitui uma parte da parede doreceptáculo por outra membrana elástica; quandoa membrana do fundo é puxada, esta membranaparietal se deprime a um volume v que se subtraido volume V. O balão se infla com um volume me­

nor, igual a V-v. Isto ocorre em patologia quandose fratura uma costela após um forte traumatismodo tórax: uma superfície mais ou menos grande deparede torácica deixa de seguir os movimentos e sedeprime durante a inspiração: se trata da respira­ção paradoxal. O rendimento da ventilação dimi­nui, o que provoca um estado de dificuldade res­piratória. Se uma ferida comunica a cavidadepleural com o exterior, o pulmão se retrai sobre simesmo pela sua própria elasticidade, e, com cadainspiração, o ar penetra na ferida: se trata de umatrawnatopnéia, que causa uma grande dificuldaderespiratória, a sobrevivência da pessoa só fica asse­gurada, de maneira precária, pelo outro pulmãocom a condição de que ele seja suficiente.

Neste esquema (fig. 4-43), todos os elemen­tos que alteram a hematose foram agrupados. Nasua maioria, estes fatores são ventilatórios:

- um pneumotórax (1), compressão gaseo­sa originada por uma ferida pleuropulmo­nar ou por uma ruptura de um brônquioou de uma bolha de enfisema: a pleura jánão arrasta o pulmão;

- um hemotórax ou um hidrotórax, tam­bém denominado pleurisia (2), acumula­dos na base torácica. O pulmão se retraisobre si mesmo (3) e perde toda a capaci­dade funcional;

- uma fratura costal (4);

- uma atelectasia (5), exclusão ventilatóriapor obstrução bronquial: no esquema, o lo­bo superior esquerdo sofre uma atelectasiapor obstrução do brônquio do lobo supe­rior esquerdo;

- uma paquipleurite (6), engrossamentoimportante da pleura após uma pleurisia,pio tórax ou hemotórax, que forma uma ca­mada esclerosada que comprime o pulmãoe impede a sua expansão inspiratória;

- uma dilatação aguda do estômago (7),que dificulta o movimento do diafragma;

- um meteorismo abdominal importante(8), que, por oclusão, desloca o diafragmaem direção ao tórax;

- uma paralisia frênica (fig. 4-44): com onervo frênico esquerdo inutilizado, a me­tade esquerda da cúpula diafragmática ficaparalisada e segue os movimentos deno­minados de respiração paradoxal: durantea inspiração, a cúpula esquerda se elevaem vez de baixar.

A mecânica ventilatória pode ser modificadaem grande medida com a posição do corpo:

- em decÚbito supino (fig. 4-45), a massadas vísceras desloca o diafragma para ci­ma, a inspiração é mais difícil, o volumecorrente é menor e é deslocado para a par­te superior do gráfico, em detrimento dovolume inspiratório de reserva. Esta situa­ção ocorre no percurso das anestesias ge­rais, e inclusive se agrava pelos anestési­cos e os curarizantes, que diminuem a efi­cácia dos músculos respiratórios;

- em decÚbito lateral (fig. 4-46), o desloca­mento do diafragma aumenta mais no ladodo declive. Portanto, o pulmão inferiorrespira com maior dificuldade que o supe­rior, situação agravada pela estase circula­tória. Trata-se de uma posição especial­mente temida pelos anestesistas.

A mecânica ventilatória é diferente segundoa idade e o sexo (fig. 4-47): na mulher, a respira­ção é de tipo costal superior: a amplitude máximase localiza na parte superior do tórax por aumentodo diâmetro ântero-posterior; na criança, é de tipoabdominal, enquanto no homem, é de tipo mista,costal superior e inferior.

Contudo, no ancião (fig. 4-48), as condiçõesrespiratórias estão modificadas pela cifose dorsal epela hipotonia muscular: o aumento da curvaturada coluna torácica superior leva à convergência dascostelas superiores e à diminuição da amplitudedos seus movimentos. Deste modo, o lobo superiordos pulmões carece praticamente de ventilação, e arespiração adota o tipo costal inferior e inclusiveabdominal.

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Fig.4-48

Fig.4-43

Fig.4-42 Fig.4-44

Fig.4-47

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160 FISIOLOGIA ARTICULAR

o ESPAÇO MORTO

Denomina-se espaço morto um volume dear que não participa dos intercâmbios respira­tórios. Na representação dos volumes respirató­rios através do acordeão (fig. 4-49), se o tubo deescape do ar se prolongar por um receptáculo degrande volume (EM), o espaço morto aumentaartificialmente. De fato, se somente se utiliza umvolume corrente de 0,5 litro e se o volume do tu­bo e do receptáculo adicionado é de 0,5 litro, aventilação só deslocará o ar no interior do espa­ço morto: nenhum volume de ar fresco penetra­rá no interior do acordeão.

O exemplo do mergulhador (fig. 4-51) per­mite uma melhor compreensão. Pode-se imagi­nar um mergulhador unido à superfície só atra­vés de um tubo pelo qual inspira e expira; se ovolume do tubo for igual a sua capacidade vital,em nenhum momento, apesar dos seus enérgicosesforços, poderá inspirar ar fresco. Em cada mo­vimento respiratório, ele inspirará o ar viciadoque enviou ao tubo. Deste modo, ele morrerá ra­pidamente por asfixia, coisa que aconteceu du­rante as primeiras tentativas de mergulho comescafandro. A solução consiste em administrarar fresco pelo tubo e eliminar o ar expirado atra­vés de uma válvula fixa ao capuz.

O espaço morto anatômico (fig. 4-50) re­presenta o volume da árvore respiratória, isto é,das vias aéreas superiores, boca, incluídas as

fossas nasais, da traquéia, dos brõnquios e dosbronquíolos. O volume de espaço morto é de150 mI, o que sjgnifica que durante a respiraçãonormal, quando se mobiliza unicamente o volu­me corrente, apenas 350 ml chegam às paredesalveolares e participam da hematose. Para au­mentar o rendimento é necessário acrescentar ovolume ventilado pela intervenção do volumeinspiratório ou expiratório de reserva ou dimi­nuir o volume do espaço morto, o que se podeobter com uma traqueotomia (T) que estabele­ce uma comunicação direta entre a traquéia e oexterior e diminui o espaço morto em quase pe­la metade. Contudo, a traqueotomia não é umato inócuo, visto que priva a árvore respiratóriadas suas defesas naturais e a expõe a infecçõesbroncopulmonares gra\'es.

No esquema de volumes respiratórios sim­bolizados pelo acordeão (fig. 4-52), a traqueo­tomia é representada pelos orifícios da base dotubo.

Contudo, existe outro tipo de espaço morto(fig. 4-53), o espaço morto fisiológico (EM'):corresponde à exclusão sangüínea de um territó­rio pulmonar produzida por uma embolia pul­monar (EP). Este território sem irrigar será a se­de de uma ventilação aérea absolutamente inefi­caz, o que aumentará. na mesma proporção, oespaço morto anatõmico.

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Fig.4-52

VR

Fig.4-50Fig.4-49

Fig.4-53

EP.

Fig.4-51

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162 FISIOLOGIA ARTICULAR

A DISTENSIBILIDADE TORÁCICA

A noção de distensibilidade está diretamenterelacionada com a elasticidade dos elementos

anatômicos do tórax e dos pulmões.

Durante a expiração normal (fig. 4-54), otórax e os pulmões tomam uma posição de equi-

, líbrio comparável à de uma mola que não estejanem comprimida nem esticada. Existe, então, umequiltbrio de pressão entre o ar intra-alveolar e oar atmosférico.

Através de um esforço muscular de expira­ção forçada (fig. 4-55), se comprimem os ele­mentos elásticos do tórax. Se, para que ela sejaexpressa em uma imagem, submetemos a molarepresentada pelo tórax a uma pressão, por exem­plo, de + 20 cm de água, a pressão intrapulmonarserá mais forte que a pressão atmosférica e o arescapará pela traquéia, porém o tórax terá a ten­dência de recuperar a sua posição inicial, como amola terá a tendência de voltar à sua posição O.

Pelo contrário, se um esforço de inspiraçãoé realizado (fig. 4-56), o que poderia ser compa­rado ao estiramento da mola, se criaria uma pres­são negativa intratorácica de -20 cm de água,com relação ao ar atmosférico; isto determina apenetração do ar na traquéia, mas, devido à suaelasticidade, o tórax tem a tendência a recuperar asua posição inicial.

Estes fenômenos podem ser representadosatravés de curvas de distensibilidade (fig. 4-57),que representam as variações da pressão intrato­rácica em abscissas, em função das variações dovolume torácico em ordenadas. Podem-se traçartrês curvas:

- a curva de relaxamento torácico total

(T), em que a pressão nula correspondeao volume de relaxamento (VR); estacurva é o resultado da curva volu­

me/pressão dos pulmões isolados (P) eda curva volume/pressão da parede to­rácica isolada (S); é de notar que o vo­lume de relaxamento corresponde a umaigualdade de força entre a elasticidadeparietal que desenvolve uma pressão Pse a elasticidade pulmonar que desenvol­ve uma pressão de sinal oposta Pp;

- no volume V3, isto é, aos 70% da capaci­dade pulmonar total, a pressão de origemparietal é nula e a pressão de relaxamen­to torácico total é inteiramente devida à

elasticidade dos pulmões (as duas curvasP e T se cruzam nesse ponto);

- em um volume intermediário V2, a pressãode relaxamento da parede torácica isoladaé igual à metade exata da pressão de rela­xamento pulmonar, de tal modo que apressão de relaxamento torácico totalequivale à metade da pressão de relaxa­mento pulmonar;

- convém destacar um último ponto: emexpiração máxima, os pulmões ainda nãoperderam a sua máxima elasticidade,porque a curva P ainda está à direita dozero de pressões; isto explica que, se dei­xarmos penetrar o ar nas pleuras, elasainda podem retrair-se até um volumemínimo Vp, onde perdem toda a força deretração e, portanto, toda a pressão sobreo ar que contêm.

Por conseguinte, se pode considerar a elasti­cidade total do tórax (fig. 4-58) como a associa­ção de duas molas (A): uma mola grande (S) querepresenta a parede torácica e uma mola pequena(P) que representa os pulmões. A dependênciafuncional das molas à parede torácica através dapleura equivale à associação conjunta de ambas asmolas (B), para o que é preciso comprimir a molagrande S e esticar a mola pequena P; a associaçãodestas duas molas equivale a uma só (C) que re­presenta a elasticidade torácica total (T). Porém,se a união funcional entre o pulmão e a parede to­rácica ficasse destruída, cada uma das duas molasrecuperaria a sua própria posição de equilíbrio(A). Voltando à noção de distensibilidade, repre­senta a relação entre um volume de ar e a pressãoparietal necessária para que ele seja movido. Nográfico (fig. 4-57), a distensibilidade representa otraçado da parte média da curva; então, podemosconstatar que a distensibilidade do pulmão isoladoé maior que a distensibilidade da parede torácicaisolada, sendo a distensibilidade torácica total asoma algébrica destas duas distensibilidades.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 163

A B

Fig.4-58

T

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164 FISIOLOGIA ARTICULAR

MOBILIDADE ELÁSTICA DAS CARTILAGENS COSTAIS

Já vimos anteriormente (figs. 4-19 e 4-20)que durante a inspiração as cartilagens costaisrealizam um deslocamento angular e uma torçãoao redor de seu eixo longitudinal. Esta torçãodesempenha um papel importante no mecanis­mo da expiração. De fato, quando o estemo seeleva durante a inspiração, devido à extremidadeposterior das costelas que permanece unida coma coluna vertebral pelas articulações costo-ver­tebrais (fig. 4-59), as cartilagens costais reali­zam uma rotação, representada pelas setas t e t' ,sobre o seu eixo longitudinal. Ao mesmo tempoexistem angulações (a) nas articulações con­drocostais e esternocondrais (para facilitar acompreensão, nesta figura o estemo é suposta­mente fixo e a coluna vertebral móvel).

Esquematicamente, estas articulações con­drocostais e estemocondrais (fig. 4-60) são in­crustações de cada uma das extremidades dacartilagem costal:

- a extremidade interna (3) está encaixadana margem do estemo (1) em ângulodiedro (2), que recebe exatamente a ex­tremidade da cartilagem, permitindo al­guns movimentos em sentido vertical,porém nenhum movimento no sentidoda torção;

- a extremidade externa (5) tem a formade cone plano de diante para trás; estecone se incrusta na extremidade anteriorda costela, escavada em forma de coneao contrário; também neste caso, a arti­culação permite deslocamentos verticaise laterais, mas nenhum movimento detorção.

Quando, durante a inspiração, a costela reali­za movimentos de descida com relação ao estemo,a cartilagem costal sofre uma torção sobre o seueixo, equivalente a um ângulo t e se comporta co­mo uma barra de torção. Este dispositivo, bemconhecido pelos engenheiros, se utiliza como mo­la amortecedora nos automóveis: se torcemos uma

barra sobre o seu eixo longitudinal, a sua elastici­dade armazena a energia da torção e a restituiquando soltamos a barra. Do mesmo modo, aenergia dos músculos inspiradores se concentranas barras de torção das cartilagens costais duran­te a inspiração e no momento do relaxamento doscitados músculos e só pela elasticidade destascartilagens, o tórax volta a sua posição inicial. Ascartilagens são mais flexíveis e elásticas quantomais jovem é o sujeito; com a idade elas têm a ten­dência a ossificar-se, o que explica a perda de fle­xibilidade torácica e respiratória dos anciões.

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Fig.4-60

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 165

Fig.4-59

Fig.4-61

Page 163: Fisiologia Articular - Volume 3

166 FISIOLOGIA ARTICULAR

MECANISMO DA TOSSE - FECHAMENTO DA GLOTE

o ar que penetra nas vias respiratórias sefiltra, se umedece e se aquece ao passar pelasfossas nasais. Em princípio, ele não contémnenhuma partícula em suspensão quando chegaà traquéia ou aos brônquios. Contudo, se porinadvertência se introduzem partículas estranhasna árvore bronquial, um mecanismo muito efi­caz as expulsará: a tosse. Assim, a tosse se en­carrega de expulsar os pacotes mucosos secreta­dos pelos brônquios, que englobam as finas par­tículas estranhas para, a seguir, deslocá-Ias parao orifício glótico pelo movimento incessante doepitélio ciliado bronquial.

Qual é, então, o mecanismo da tosse? Po­de-se explicar com três esquemas, visto queconsta de três fases:

1.3 fase (fig. 4-62): uma inspiração profun­da denominada preparatória, que faz a maiorparte do volume inspiratório de reserva entrar naárvore bronquial e nos alvéolos. Esta inspiraçãoprofunda tem o inconveniente de que pode arras­tar os corpos estranhos, que passaram pela glo­te, para os bronquíolos;

2.a fase (fig. 4-63): a entrada em tensão, naque intervêm dois fatores; por um lado, o fecha­mento da glote e, por outro, a contração violen­ta dos intercostais e de todos os músculos expi­radares acessórios e, especialmente, dos múscu­los abdominais. No percurso desta segunda fase,a pressão intratorácica aumenta notavelmente;

3.3 fase (fig. 4-64): a expulsão. Enquanto osmúsculos expiradores acessórios permanecemtensos, a glote se abre bruscamente e libera umaviolenta corrente de ar bronquial, que arrasta aspartículas estranhas e os pacotes de muco, fa­zendo-os passar pelo orifício glótico, para a fa­ringe, onde serão expectorados.

Parece então que, para ser eficaz, a tossedeve fazer intervir:

- por um lado, uns músculos abdominaiseficazes. Sabemos que nos poliomielíti­cos, cujos abdominais estão paralisados,ou inclusive nos operados do abdome,

quando a tensão dos abdominais é dolo­rosa e, portanto, temida, a tosse ou nãoexiste ou carece de toda eficácia;

- e por outro, o fechamento da glote, oque supõe a integridade do aparelho la­ríngeo e da sua inervação.

A tosse é um ato reflexo, desencadeado porzonas sensitivas na bifurcação entre a traquéia ea pleura, cuja via centrípeta é constituída pelospneumogástricos; os seus centros são bulbares;as suas vias efetoras afetam não só os nervos la­ríngeos, os ramos do pneumogástrico, mas tam­bém os nervos intercostais e abdominais. O seumecanismo, extremamente delicado, pode seralterado com facilidade.

Já vimos anteriormente que o fechamentoda glote era um dos mecanismos indispensáveispara a produção da tosse. Como a glote se fe­cha? Duas vistas esquemáticas superiores (figs.4-65 e 4-66; os números das figuras são comunsàs da página seguinte) vão permitir compreendero seu mecanismo: o orifício glótico visto da fa­ringe tem a forma de uma fenda triangular devértice anterior (fig. 4-65). As suas duas mar­gens estão constituídas pelas cordas vocais infe­riores (15), que vão da face posterior da cartila­gem tireóide (3) ao processo anterior ou proces­so vocal (25) das cartilagens aritenóides. Estascartilagens repousam na cartilagem cricóide (7)(cinza na figura) por duas articulações cujos ei­xos podem ser considerados verticais a O e O'.Quando os músculos cricoaritenóideos poste­riores se contraem (13), as cartilagens aritenói­des giram sobre o seu eixo O e O' e os proces­sos vocais (25) se separam, o que abre a glote.Ao contrário (fig. 4-66), quando os músculoscricoaritenóideos laterais se contraem (16), ascartilagens aritenóides pivotam no outro senti­do, os processos vocais (25) se aproximam dalinha média e as cordas vocais (15') entram emcontato, fechando o orifício glótico.

(Os outros detalhes destes esquemas serão explica­dos na página seguinte.)

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Fig.4-62 Fig.4-63

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 167

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Fig.4-65 Fig.4-66

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 169

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Page 166: Fisiologia Articular - Volume 3

170 FISIOLOGIA ARTICULAR

Page 167: Fisiologia Articular - Volume 3

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 171

Page 168: Fisiologia Articular - Volume 3

172 FISIOLOGIA ARTICULAR

A COLUNA CERVICAL EM CONJUNTO

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Considerada em conjunto (fig. 5-1), a colu­na cervical está constituída por duas partes ana­tomica e funcionalmente diferentes:

- a coluna cervical superior (1), tambémdenominada coluna suboccipital, quecontém a primeira vértebra cervical ouatlas, e a segunda vértebra cervical ouáxis. Estas peças esqueléticas estão uni­das entre si, além do occipital, por umacomplexa cadeia articular com três ei­xos e três graus de liberdade;

- a coluna cervical inferior (2), que seestende do platá inferior do áxis até o

platá superior da primeira vértebra to­rácica.

As vértebras cervicais são todas do mesmo

tipo, menos o atlas e o áxis, que são diferentesentre si e das outras vértebras cervicais. As arti­culações da coluna cervical inferior possuemdois tipos de movimentos: por um lado, movi­mentos de fiexão-extensão; e por outro, movi­mentos mistos de inclinação-rotação.

Funcionalmente estes dois segmentos dacoluna cervical se completam entre si para reali­zar movimentos puros de rotação, de inclinaçãoou de ftexão-extensão da cabeça.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 173

Fig.5-1

Page 170: Fisiologia Articular - Volume 3

174 FISIOLOGIA ARTICULAR

CONSTITUIÇÃO ESQUEMÁ TICA DAS TRÊS PRIMEIRASVÉRTEBRAS CERVICAIS

Nestes esquemas estão representados, umdebaixo do outro, no mesmo eixo vertical: oatlas (fig. 5-2), o áxis (fig. 5-3) e a terceira vér­tebra cervical (fig. 5-4), muito esquematiza­das.

O atlas (fig. 5-2), anel mais largo transver­sal que, sagitalmente, contém duas massas late­rais (1 e 1') ovaladas, de eixo maior oblíquo pe­la frente e para dentro, com uma face articularsuperior (2 e 2') orientada para cima e para den­tro, côncava nos dois sentidos e articulada comos côndilos do occipital, e umaface articular in­ferior que se dirige para baixo e para dentro,convexa de diante para trás e articulada com aface superior do áxis (12 e 12'). O arco anteriordo atlas (3) tem por face posterior uma face ar­tiCldar cartilaginosa ovalada (4) que se articulacom a apófise odontóide do áxis (11). O arcoposterior (5), em princípio plano de cima parabaixo, se alarga para trás na linha média, na qualnão existe apófise espinhosa, mas uma simplescrista vertical (6). As apófises transversas (7 e7') estão perfuradas para dar passagem à artériavertebral (8), que escava um profundo canal (8')por trás das massas laterais.

O áxis (fig. 5-3) apresenta um corpo verte­bral (9) cuja face superior (10) recebe no seucentro a apófise odontóide (11), também deno­minada processo odontóide, e que serve de pivôpara a articulação atlantoaxial; esta face superiortambém dá suporte a duas faces articulares (12e 12') como se fossem ombreiras, que sobres­saem lateralmente para fora do corpo vertebral eestão orientadas para cima e para fora; elas sãoconvexas de diante para trás e planas transver­salmente. O arco posterior (16) está constituídopor duas lâminas estreitas (15 e 15'), oblíquaspara trás e para dentro. A apófise espinhosa (18)comporta dois tubérculos, como o resto das es­pinhosas cervicais. Por debaixo do pedículo (16)

) se fixam as apófises articulares inferiores (17 e17') com as suas faces articulares cartilaginosasorientadas para baixo e para diante e que se arti­culam com as faces articulares superiores da ter­ceira cervical (24 e 24'). As apófises transversas

(13 e 13') apresentam um orifício vertical (14)pelo qual ascende a artéria vertebral.

A terceira vértebra cervical (fig. 5-4) éparecida com as quatro últimas vértebras cervi­cais; portanto, se trata de uma vértebra cervicalpadrão: possui um corpo vertebral (19), parale­lepípedo retangular alongado transversalmente;a sua face superior comporta um platá vertebralsuperior (20) limitada lateralmente pelos pro­cessos unciformes (22 e 22'), cuja face articularestá orientada para cima e para dentro e se arti­cula com as superfícies situadas em ambos os la­dos do platô inferior do áxis. A margem anteriordo platô vertebral superior também possui umasuperfície (21) orientada para cima e para dian­te, que se articula com a face posterior de um bi­co que prolonga a margem anterior da vértebrasuprajacente, neste caso o áxis. O platá verte­bral inferior, prolongado para a frente e parabaixo por um bico proeminente, é rodeado decada lado por duas faces articulares da articula­ção uncovertebral, orientadas para baixo e parafora.

O arco posterior é formado pelas apófisesarticulares (23 e 23'), cada uma das quais con­tém uma face articular superior (24 e 24') quese dirige para cima e para trás e se articula coma face articular inferior da vértebra suprajacente(neste caso a face articular inferior do áxis: 17)e umaface articular inferior, invisível na figura,orientada para baixo e para diante e que se arti­cula com a face articular superior de C4• Estasapófises articulares estão unidas ao corpo verte­bral pelo pedículo (25), o que suporta, em parte,a base da apófise transversa (26 e 26') que se fi­xa também na face lateral do corpo vertebral: eletem a forma de um canal de concavidade supe­rior, cujo fundo, próximo ao corpo vertebral,apresenta um orifício onde a artéria vertebral so­be; por último, ela acaba em dois tubérculos, umanterior e outro posterior. As duas lâminas ver­tebrais (27 e 27'), cujo plano é oblíquo para bai­xo e para fora, se unem na linha média para darorigem à apófise espinhosa (28), que contémdois tubérculos.

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Page 172: Fisiologia Articular - Volume 3

176 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS ARTICULAÇÕES ATLANTOAXIAIS

A união mecânica entre o atlas e o áxis es­

tá assegurada por três articulações mecanica­mente conectadas:

- uma articulação axial, a atlantoodon­tóide, onde a apófise odontóide serve depivô e que se analisará na página 180;

- duas articulações laterais e simétricas,as atlantoaxiais, que estabelecem a li­gação entre a face inferior das massaslaterais do atlas e as superfícies articula­res superiores do áxis.

Numa vista em perspectiva do áxis (fig. 5­5) e em vista de perfil (fig. 5-6), se apreciam tan­to a forma quanto a orientação desta face articu­lar superior (5) ovalada de eixo maior ântero­posterior, convexa de diante para trás seguindouma curva xx', mas retilínea em sentido trans­versal, de modo que se pode considerar comotalhada na superfície de um cilindro (C) cujo ei­xo (Z) se dirigiria para fora e levemente parabaixo, de tal maneira que a face articular estejaorientada para baixo e levemente para fora. O ci­lindro, onde as duas faces articulares estão talha­das, representado transparente, engloba a partelateral do áxis; que o extremo distal da apófisetransversa ultrapassa.

Também se observa nestas duas figuras aforma tão peculiar da apófise odontóide, quasecilíndrica, embora encurvada para trás e quecontém: pela frente, uma face articular (1) emforma de escudo, levemente convexa em ambosos sentidos e que se articula com a face articu­lar do arco anterior do atlas; por trás, um canalcôncavo de cima para baixo e convexo transver­salmente coberto com urna camada cartilagino­sa, que se articula com o ligamento transverso.

Um corte parassagital nas massas lateraisdo atlas (fig. 5-7) mostra as curvas e orientaçõesdas diferentes superfícies articulares:

- curvatura da articulação atlantoodon­tóide, com a sua face articular odontói­de (1) e a face articular do arco ante­rior do atlas (2) (este está seccionadopelo plano sagital médio), situada numcírculo de centro Q atrás da apófiseodontóide;

- aface articular superior das massas la­terais do atlas (3) é côncava de diantepara trás e se dirige diretamente para ci­ma. Articula-se com os côndilos do oc­cipital;

- a face articular inferior das massas la­terais do atlas (4) é convexa de diantepara trás num círculo de centro O e deraio de curva relativamente curto com

relação ao do círculo Q;

- a face articular superior do áxis (5) é

convexa de diante para trás numa cur\"ade centro P com um raio quase igual aodo círculo O. Portanto, as duas superfí­cies 4 e 5 repousam corno duas rodas,urna sobre a outra; a estrela representa ocentro do movimento de flexão-exten­

são do atlas sobre o áxis (ver pág. 178);

- por último, a face articular inferior doáxis (6) que está orientada para baixo epara diante; embora ela seja quase pla­na, ela apresenta, contudo, urna levecurva de raio maior cujo centro R estásituado para baixo e para a frente. Arti­cula-se com a face articular superior dasapófises articulares de C3•

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 177

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Fig.5-6

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178 FISIOLOGIA ARTICULAR

A FLEXÃO-EXTENSÃO NAS ARTICULAÇÕES ATLANTOAXIAISE ATLANTOODONTÓIDES

Supondo que, durante afiexão (fig. 5-8), asmassas laterais do atlas rodem sem deslizar-sesobre as superfícies superiores do áxis, o pontode contato entre estas duas superfícies convexasse deslocaria para diante e a linha que une o cen­tro da curva P com o ponto de contato destasduas superfícies se deslocaria de PA a PA'; si­multaneamente, se poderia apreciar uma abertu­ra acima, na articulação entre o arco anterior doatlas e a face articular anterior da apófise odon­tóide.

Do mesmo modo, durante a extensão (fig.5-9), se as massas laterais do atlas rodassem semdeslizar-se sobre as superfícies superiores doáxis, o ponto de contato entre estas duas super­fícies convexas deveria deslocar-se para trás e alinha que une o centro da curva P com o pontode contato deveria deslocar-se de PB a PB': aomesmo tempo, apareceria uma abertura inferiorna articulação entre o arco anterior do atlas e asuperfície anterior da apófise do áxis.

Na verdade, o exame atento das radiogra­fias de perfil mostra que esta abertura não exis­te (fig. 5-10): isto é devido à presença do liga­mento transverso (T) que mantém o arco ante­rior do atlas estreitamente unido com a apófiseodontóide (ver pág. 180). O centro real do mo­vimento de flexão-extensão do atlas sobre o áxis

não é, então (fig. 5-7), nem o ponto P, centro dacurvatura da superfície superior do áxis, nem oponto Q, centro da curvatura da face articularanterior da apófise odontóide, mas um terceiroponto representado aqui por uma estrela e que seprojeta quase no centro da apófise odontóidevista de perfil. Conseqüentemente, durante omovimento de flexão-extensão, a face articularinferior das massas laterais do atlas roda e se

desliza ao mesmo tempo sobre a superfície su­perior do áxis, exatamente como os côndilos fe­morais rodam e se deslizam simultaneamentesobre as cavidades glenóides da tíbia.

Contudo, é preciso destacar a existência deum elemento deformável, neste caso o ligamen­to transverso, que constitui a parte posterior daarticulação atlantoodontóide, e que permite cer­ta flexibilidade no funcionamento desta articula­

ção: este ligamento, incrustado no canal poste­rior da apófise odontóide pode incurvar-se paracima durante a extensão, ou para baixo durantea flexão, como se fosse a corda de um arco. Tam­

bém se pode entender por que a cavidade recep­tora da apófise odontóide não é totalmente ós­sea. Do mesmo modo que se podem encontrarrazões similares no caso do ligamento anular daarticulação rádio-ulnar superior, que também éuma articulação de tipo trocóide (ver volume I).

Page 175: Fisiologia Articular - Volume 3

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 179

Fig.5-10

FFig.5-8

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Fig.5-9

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180 FISIOLOGIA ARTICULAR

ROTAÇÃO NAS ARTICULAÇÕES ATLANTOAXIAISE ATLANTOODONTÓIDES

Acabamos de estudar a articulação atlanto­axial num corte de perfil; numa vista superiorcom o atlas em conjunto (fig. 5-11) e em primei­ro plano (fig. 5-12), permite entender a sua es­trutura e o seu funcionamento durante a rotação.

A articulação atlantoodontóide é uma tro­cóide com duas superfícies cilíndricas encaixa­das uma sobre a outra:

- uma superfície cilíndrica maciça, a apó­fise odontóide (1), cuja forma não é to­talmente cilíndrica, de modo que se po­de adaptar a um segundo grau de liber­dade aos movimentos de flexão-exten­

são. Esta apófise odontóide apresentauma outra face articular nas suas faces

anterior (4) e posterior (11);

- a cavidade que recebe este cilindro ma­ciço é um cilindro oco que envolve to­talmente a apófise odontóide e que estáformado pela frente pelo arco anteriordo atlas (2) e pelos lados pelas massaslaterais do atlas que comportam na suaface interna um tubérculo muito pronun­ciado (7 e 7') onde se fixa um potente li­gamento que se estende transversalmen­te para trás da apófise odontóide: o liga­mento transverso (6).

Portanto, a apófise odontóide está incrusta­da no interior de um anel ósteo-ligamentar, como qual entra em contato através de duas articula­ções diferentes:

- pela frente, uma articulação de tipo sino­vial (5) com uma cavidade articular e umacápsula sinovial com duas pregas, uma àesquerda (8) e outra à direita (9). Ela põeem contato a face articular anterior daapófise odontóide (4) e a face articularposterior do arco anterior do atlas (3);

- por trás, uma articulação carente decápsula, situada no interior de um teci­do célulo-adiposo (10) que preenche oespaço entre o anel ósteo-ligamentar e aapófise odontóide. Ela proporciona ocontato entre duas superfícies fibrocar-

tilaginosas, uma na face posterior daapófise odontóide (11) e a outra na faceanterior do ligamento transverso (12).

Durante o movimento de rotação, para a es­querda por exemplo, (fig. 5-12), a apófise odontói­de (1) permanece fixa e o anel ósteo-ligamentar,formado pelo áxis e pelo ligamento transverso, gi­ra em sentido imerso aos ponteiros de um relógioao redor de um centro que corresponde ao eixo daapófise odontóide (assinalado na figura com umacruz branca), a cápsula articular se distende para aesquerda (8) e entra em tensão para a direita (9).

Simultaneamente, existe um deslocamento

nas duas articulações atlantoaxiais direita e es­querda, mecanicamente unidas: na rotação daesquerda para a direita (fig. 5-13) a massa late­ral esquerda do atlas avança, enquanto a massalateral direita recua; durante a rotação da direitapara a esquerda (fig. 5-14), ocorre o contrário.

Porém, como as superfícies superiores doáxis são convexas de diante para trás (fig. 5-16),o trajeto descrito pelas massas laterais do atlasnão é retilíneo num plano horizontaL mas curvi­líneo de convexidade superior: quando o atlasgira ao redor do eixo vertical W, as suas massaslaterais descrevem o trajeto xx· ou yy'.

Se somente o círculo que contém a curvaturada face articular inferior das massas laterais do

atlas estivesse representado (fig. 5-15). se poderiaconstatar que, na sua posição média corresponden­te à rotação neutra, o círculo de centro O ocupariaa sua situação mais elevada na superfície superiordo áxis. Quando se desloca para a frente, este cír­culo "desce" pela vertente anterior da superfíciesuperior do áxis de 2 a 3 mm, enquanto o seu cen­tro só desce a metade (e/2); durante o deslocamen­to para trás o mesmo fenômeno se produz.

Portanto, durante a sua rotação sobre o áxis,o atlas se desloca verticalmente para baixo de 2 a3 mm, de modo que o seu movimento é helicoidal;pois bem, por um lado, o passo desta hélice é mui­to curto, e, por outro, existe uma hélice na rotaçãopara a direita e outra hélice de passo imerso na ro­tação para a esquerda.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 181

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Fig.5-12

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182 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS SUPERFÍCIES DA ARTICULAÇÃO ATLANTOOCCIPITAL

Na verdade, existem duas articulaçõesatlantooccipitais, mecanicamente unidas, parese simétricas, que relacionam as faces articularessuperiores das massas laterais do atlas com assuperfícies dos côndilos occipitais.

Numa vista superior do atlas (fig. 5-17), asfaces articulares do atlas são ovaladas de eixomaior oblíquo para a frente e para dentro, queconvergem num ponto N, localizado na linhamédia, um pouco para diante do arco anterior doatlas. Às vezes, estão retraídas na sua parte mé­dia e, inclusive, pode estar cada uma separadaem duas faces diferentes. Cobertas com cartila­gens, elas são côncavas em ambos os sentidos ea curvatura é quase idêntica tanto num sentidoquanto no outro. Portanto, pode considerar-seque estão compreendidas na superfície de umaesfera (fig. 5-19) cujo centro O se situaria acimado plano das superfícies articulares e se projeta­ria na intersecção do eixo de simetria e da linhaque une a margem posterior das duas faces arti­culares. Por outro lado, o ponto Q representa ocentro da curvatura das faces articulares no pla-

no secante horizontal; o ponto P é o centro dacurvatura das faces no plano secante vertical; afigura mostra a esfera, supostamente transpa­rente, apoiando-se exatamente sobre as superfí­cies articulares superiores das massas lateraisdo atlas.

Uma vista posterior das articulações atlan­tooccipitais (fig. 5-18), confirma que a curvatu­ra das superfícies condilares occipitais está si­tuada na mesma superfície esférica cujo centroO se encontra no interior do crânio, acima do fo­rame magno ou occipital. A articulação atlanto­occipital pode, então, considerar-se uma enar­trose, isto é, uma articulação de superfície esfé­rica (fig. 5-19) com três eixos e, portanto, comtrês graus de liberdade:

- rotação axial ao redor de um eixo verti­cal QO;

- flexão-extensão ao redor de um eixotransversal que passa pelo centro O;

- inclinação lateral ao redor de um eixoântero-posterior PO.

Page 179: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.5-17

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Fig.5-18

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 183

Fig.5-19

Page 180: Fisiologia Articular - Volume 3

184 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ROTAÇÃO NAS ARTICULAÇÕES ATLANTOOCCIPITAIS

Quando o occipital gira sobre o atlas(fig. 5-20), ele participa de um movimento geralde rotação do atlas sobre o áxis, que se realiza aoredor do eixo vertical que passa pelo centro daapófise odontóide. Contudo, esta rotação não éum fenômeno simples, visto que faz intervir atensão dos ligamentos e, em particular, a tensãodo ligamento lateral do ápice da odontóide (L):neste esquema onde o occipital (A) e as massaslaterais do atlas (B) estão seccionados por umcorte vértico-frontal, se representa uma rotaçãopara a esquerda do occipital sobre o atlas. Estemovimento se traduz pelo deslizamento para afrente do côndilo direito do occipital sobre amassa lateral direita do atlas (seta 1), porém, si­multaneamente, o ligamento occípito-odontóidelateral (L) se enrola ao redor da odontóide e en­tra em tensão. Esta tensão vai deslocar o côndi­10 direito do occipital para a esquerda (seta 2).

P0l1anto, a rotação para a esquerda se acom­panha, ao mesmo tempo, de um deslocamento de2 a 3 mm para a esquerda e de uma inclinação dooccipital para a direita. Por conseguinte, não exis­te uma rotação pura, mas uma rotação associadaa uma translação e a uma inclinação.

Pois bem, sabemos através da cinemáticaque uma rotação associada e uma translação

equivalem a outra rotação com o mesmo ângulo,mas com diferente centro e fácil de construir.

Numa vista superior (fig. 5-21) o atlas está re­presentado em cinza-claro, o áxis, em cinza-es­curo; se pode ver através do forame magno e so­bre as faces articulares laterais do atlas (traceja­do horizontal) as faces articulares dos côndilosoccipitais supostamente transparentes (tracejadooblíquo). Durante os movimentos de rotação pa­ra a esquerda, num ângulo â ao redor do centroda apófise odontóide O, se pode observar umdeslocamento lateral do occipital de 2 a 3 mmpara a esquerda, seguindo o vector V. Então, éfácil construir o centro real da rotação numponto P, situado levemente à direita do plano desimetria e na linha que une a margem posteriordas superfícies das massas laterais do atlas. Por­tanto, o centro real da rotação atlantooccipital sedesloca entre dois pontos extremos, o ponto Pno caso da rotação para a esquerda e o seu simé­trico P' no caso da rotação para a direita. Alémdisso, cabe destacar o interesse deste dispositi­vo que faz recuar o centro real da rotação parao centro do forame magno (traço espesso), detal modo que o eixo real do movimento de rota­ção corresponde ao eixo anatômico da medulaoblonga.

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Fig.5-20

Fig.5-21

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 185

Page 182: Fisiologia Articular - Volume 3

186 FISIOLOGIA ARTICULAR

A INCLINAÇÃO LATERAL E A FLEXÃO-EXTENSÃONA ARTICULAÇÃO ATLANTOOCCIPITAL

Durante a inclinação lateral (fig. 5-22),um corte vértico-frontal do occipital, do atlas,do áxis e da terceira vértebra cervical mostra

que não existe nenhum deslocamento na arti­culaçâo atlantoaxial. Por um lado, a inclina­ção se realiza somente entre o áxis e a terceiravértebra cervical e, por outro, entre o occipitale o atlas. Entre estes dois últimos existe poucaamplitude que se traduz por um deslizamentodos côndilos occipitais para a direita na incli­nação para a esquerda e vice-versa. Neste casouma inclinação para a esquerda está represen­tada, que mostra como o côndilo occipital es­querdo se aproxima da apófise odontóide, masnão entra em contato com ela, visto que o mo­vimento é limitado pela tensão da cápsula dasatlantooccipitais e, principalmente, pelo liga­mento odontóide-occipitallateral direito. A in­clinação total entre o occipital e a terceira cer­vical é de 8°, que se distribuem em 5° entre oáxis e C3, e 3° entre o occipital e o atlas.

Os movimentos de flexão-extensão do oc­cipital sobre o atlas se realizam pelo desliza­mento dos côndilos occipitais sobre as massaslaterais do atlas.

Durante aflexão (fig. 5-23), os côndilos oc­cipitais recuam sobre as massas laterais do atlas;simultaneamente, se pode observar como a esca­ma do occipital se afasta do arco posterior doatlas e como este movimento se acompanhasempre de uma flexão na atlantoaxial, tambémse vê como o arco posterior do atlas se afasta doarco posterior do áxis. A flexão está limitada pe­la entrada em tensão das cápsulas e dos ligamen­tos posteriores (membrana occípito-atlóidea e oligamento cervical posterior).

Durante a extensão (fig. 5-24), os côndilosoccipitais se deslizam para a frente sobre as mas­sas laterais do atlas. Simultaneamente, a escamado occipital se dirige para o arco posterior doatlas e como também existe uma extensão naatlantoaxial, o arco posterior do atlas se aproxi­ma do arco posterior do áxis. A extensão está li­mitada pelo contato destes três elementos ósseos;durante os movimentos de extensão forçada, oarco posterior do atlas fica preso, como se esti­vesse dentro de um quebra-nozes, pode fraturar­se entre o occipital e o arco posterior do áxis.

A amplitude total da flexão-extensão na ar­ticulação atlantooccipital é de 15°.

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Fig.5-23

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 187

Fig.5-22

Fig.5-24

Page 184: Fisiologia Articular - Volume 3

188 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS LIGAMENTOS DA COLUNA SUBOCCIPITAL

Os ligamentos da coluna suboccipital são muito nu­merosos e potentes (fig. 5-25. corte sagital; os números dereferéncia são comuns até a figura 5-33).

Vejamos, em primeiro lugar, os elementos ósseos: decima para baixo, o corte do processo basilar do occipital(b); o corte do arco anterior (e) do atlas e do seu arco pos­terior (O; o corte sagital da apófise odontóide (g) prolon­gando para cima o corpo do áxis (k). Na apófise odontóide,a face articular anterior (h) em contato com a face articularposterior U) do arco anterior do atlas; a face articular pos­terior (i). O resto do áxis está representado pela sua apófi­se espinhosa (n) e o corte de sua lâmina esquerda (o). De­baixo do áxis, a terceira vértebra cervical com a secção sa­gital do seu corpo vertebral (q). a sua apófise espinhosa (s)e a secção parassagital da sua lâmina esquerda (r). Emperspectiva, a fossa cerebelar por cima do forame magno euma parte do côndilo occipital direito, assim como, abaixo,a metade direita do arco posterior do atlas, do áxis e de C,.

A seguir, vejamos os ligamentos:

- o ligamento occípito-odol1tóide médio (1). muitocurto e espesso, que se estende verticalmente en­tre o processo basilar do occipital e o vértice daapófise odontóide;

- o ligamento trans\'erso (3). visto em secção, emcontato com a face articular posterior da apófiseodontóide (i):

- o ligamento occípito-trans\'erso (4). entre a mar­gem superior do ligamento transverso e o proces­:'0 basilar do occipita!:

- o ligamento tral1s\'ersoaxoidiano (5). entre a mar­gem inferior do ligamento transverso e a face pos­terior do corpo do áxis.

Estes três ligamentos: tranS\'erso, occípito-transversoe transversoaxoidiano formam o ligamento crucifol7ne.

- o ligamento occípito-axoidiano médio (7). portrás do ligamento cruciforme, se estende do pro­cesso basilar até a face posterior do corpo do áxis.Ele prolonga-se lateralmente pelos ligamentos oc­cípito-axoidianos laterais, invisíveis neste corte;

- a cápsula da articulação atlantooccipital (9) sepode observar no fundo. Ústa em perspecti\a;

- o ligamento vertebral comum posterior (ligamen­to longitudinal posterior) (12), situado atrás dosligamentos occípito-axoidianos médios e laterais,se insere no sulco do processo basilar e sobre amargem inferior do áxis e se prolonga por toda acoluna até o canal sacra!:

~ o ligamento atlantooccipital anterior, localizadona frente do ligamento occípito-odontóide médio,formado por uma lâmina profunda (13) e uma lâ­mina superficial (14). se estende da face inferior

do processo basilar até a margem superior e a fa­ce anterior do arco anterior do atlas;

- o ligamento atlantoaxoidiano anterior (16) prolon­ga o ligamento atlantooccipital anterior para baixo.Estende-se da margem inferior do arco do atlas atéa face anterior do corpo do áxis. Deste modo seconstitui, pela frente da apófise odontóide e do liga­mento occípito-odontóide médio e por trás dos liga­mentos atlantooccipital médio e atlantoaxóideo mé­dio, um espaço célulo-adiposo que contém a articu­lação atlantoodontóide e a sua cápsula (17);

- o ligamento vertebral comum anterior (ligamentolongitudinal anterior) (18) recobre todo este con­junto pela frente e se insere na face inferior doprocesso basilar do occipital, passa como se fosseuma ponte, pela frente do arco anterior do atlas,onde não se insere, para fixar-se depois na faceanterior do corpo do áxis (18'). A seguir, se pro­longa por toda a face anterior da coluna vertebralaté o sacro para inserir-se, em cada nível, na mar­gem anterior dos discos intervertebrais (18") e naface anterior dos corpos vertebrais (18"').

Os arcos posteriores estão unidos pelos ligamentosseguintes:

- o ligamento atlantooccipital posterior (19), tam­bém denominado membrana atlantooccipital, unea margem posteri<;>rdo forame magno ao arcoposterior do atlas. E o equivalente de um ligamen­to amarelo e apresenta um orifício por trás dasmassas laterais do atlas, onde a artéria occipitalpenetra e por onde o primeiro nervo cervical sai;

- o ligamento atlantoaxóideo posterior (21), mem­brana atlantoaxial, que une os arcos posterioresdo atlas e do áxis como se fosse um ligamentoamarelo; atrás da articulação existe um orifíciopor onde sai o segundo nervo cervical;

- um ligamento interespinhal (22) une o arco poste­rior do atlas com a apófise espinhosa do áxis, edepois, por baixo, com as apófises espinhosas dasvértebras cervicais entre si;

- o ligamento cervical posterior (23), septo fibrosomuito espesso, equivale a um ligamento supra-es­pinhal; se insere, acima, na escama occipital, nonível da linha média, e separa as massas muscula­res da nuca em duas metades direita e esquerda;

- a cápsula da articulação interapofisáría (24), entreo áxis e a terceira cervical, limita o forame interver­tebral por trás, por onde sai o terceiro nervo cervical;

- um ligamento amarelo (29) une o arco posteriordo áxis com o arco posterior da terceira vértebracervical.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 189

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Fig.5-25

Page 186: Fisiologia Articular - Volume 3

190 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS LIGAMENTOS SUBOCCIPITAIS

Para compreender a disposição destes liga­mentos, representamos em primeiro lugar uma vis­ta posterior da coluna cervical (fig. 5-26), após terrealizado uma secção vértico-frontal no nível dosarcos posteriores, que foram removidos. Encontra­mos os mesmos elementos que no corte da páginaanterior. Além do mais, se podem observar:

- os côndilos occipitais (c);

- as massas laterais do atlas (d);

- as articulações atlantoaxiais com a facearticular inferior das massas laterais doatlas (1) e a face articular superior doáxis (m);

- a secção do pedículo e da apófise articu­lar do áxis (t);

Neste plano esquelético se fixam os seguin­tes ligamentos:

No plano profundo (fig. 5-27):

- o ligamento occípito-odontóide médio(1);

- os dois ligamentos occípito-odontóidelaterais (2);

- o ligamento transverso (3), que se esten­de lateralmente de uma massa lateral doatlas até a outra;

- o ligamento occípito-transverso (4) foiseccionado ao nível da margem superiordo ligamento transverso e deslocado pa­ra Cima;

- o ligamento transversoaxoidiano (5)também foi seccionado e deslocado pa­ra baixo.

No plano médio (fig. 5-28) se distinguem:

- o ligamento cruciforme, intato (6),constituído pelos ligamentos transver­sos, occípito-transverso e transver­soaxoidiano;

-lateralmente aparece a cápsula da arti­culação atlantooccipital (9) reforçadapor fora pelo ligamento atlantooccipitallateral (10);

- no segmento subjacente, a cápsula daarticulação atlantoaxial (11).

No plano superficial (fig. 5-29), se loca­lizam:

- o ligamento occípito-axial médio (7),prolongado lateralmente pelos ligamen­tos occípito-axiais laterais (8);

- o ligamento vertebral comum posterior(ligamento longitudinal posterior) (12).

Page 187: Fisiologia Articular - Volume 3

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 191

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Fig.5-28

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Fig.5-29

Page 188: Fisiologia Articular - Volume 3

192 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS LIGAMENTOS SUBOCCIPITAIS(continuação)

Na metade esquerda da página, representa­mos as vistas esqueléticas, enquanto na metadedireita se acrescentaram os ligamentos.

Numa vista esquelética anterior (fig. 5-30)se observam todos os elementos descritos ante­riormente.

Os ligamentos anteriores (fig. 5-31) com­preendem:

- o ligamento atlantooccipital anteriorcom o seu feixe profundo (13) e seu fei­xe superficial (14), que recobre a cápsu­la da articulação atlantooccipital (9);

- o ligamento atlantooccipital ântero-Ia­teral (15) o cobre pela frente; se estendeobliquamente do processo basilar do oc­cipital até a apófise transversa do atlas;

--o ligamento atlantoaxial anterior (16) élateralmente a continuação da cápsulada articulação atlantoaxial (11);

- o ligamento vertebral comum anterior (li­gamento longitudinal anterior) (18) só es­tá representado na sua metade esquerda;

- a cápsula da articulação entre o áxis eC; (23).

Uma vista posterior dos elementos esquelé­ticos (fig. 5-32) mostra os arcos posteriores doatlas, do áxis e de C3• entre os quais se pode vero canal vertebral e entre a escama do occipital edo atlas, o forame magno.

Na vista posterior dos ligamentos (fig.5-33), no lado direito, representamos os ligamen­tos que recobrem a face anterior do canal verte­bral (representados anteriormente na figo 5-29):

- os ligamentos occípito-axiais médio (7)

e lateral (8);

- a cápsula da articulação atlantooccipital(9) reforçada pelo ligamento atlantoocci­pitallateral (10). Por último, se pode ob­servar como a artéria vertebral sobe pe­los orifícios das apófises transversas e co­mo se incurva para trás e depois para den­tro para contornar a massa lateral do atlaspor trás (25).

No lado esquerdo se representaram os liga­mentos posteriores:

- o ligamento atlantooccipital pOSTerior(19), recoberto por um ligamento atlan­to-occipital lateral (20) que se estendeda escama occipital até a apófise trans­versa do atlas;

- o ligamento atlantoaxial posterior (21);

- os ligamentos interespinhais (22), reco-bertos pelo ligamento cervical posterior,que só estão representados na sua meta­de esquerda;

- por último, a cápsula da articulação en­tre o áxis e C3 (24);

- também se pode ver o primeiro nervo cer­vical (26) saindo pelo orifício de penetra­ção da artéria vertebral e o segundo nervocervical (27), cujo nível posterior consti­tui o grande nervo occipital de Amold.

O nível posterior do terceiro nervo cervical(28) é um erro do desenho, visto que, na verda­de, ele sai pelo forame intervertebral, isto é. pe­la frente da articulação (24).

Page 189: Fisiologia Articular - Volume 3

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 193

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Fig.5-30

23

9

Fig.5-31

18

8 9 1019

Page 190: Fisiologia Articular - Volume 3

194 FISIOLOGIA ARTICULAR

CONSTITUIÇÃO DE UMA VÉRTEBRA CERVICAL

Uma vista póstero-superior de uma vérte­bra cervical (fig. 5-34) mostra as diferentes par­tes que a constituem, representadas também nu­ma vista "desarmada" (fig. 5-36):

- o corpo da vértebra (1) com o seu pla­tõ superior (2) tem duas proeminênciasplanas transversalmente de cada lado, osprocessos unciformes (3 e 3'), ou uncus,entre os que se encaixam as faces articu­lares correspondentes ao platô inferiorda vértebra superior. Também se podeobservar a superfície (4) da borda ante­rior do platô superior, assim como o bi­co (5), que prolonga para baixo e para afrente a margem anterior do platô infe­rior. Em conjunto, o platô superior écôncavo transversalmente e convexo dediante para trás e, através do disco inter­vertebral, se articula com o platô infe­rior da vértebra suprajacente, platô con­vexo transversalmente e côncavo de

diante para trás. Este conjunto articulartem a forma de uma sela de montar a ca­

valo e, principalmente, permite movi­mentos de flexão-extensão; os movi­mentos laterais estão limitados pela pre­sença dos processos unciformes que"conduzem" os deslocamentos ântero­

posteriores durante a flexão-extensão;

- na parte posterior da face lateral do cor­po vertebral se implantam, por um lado,os pedículos vertebrais (6 e 6'), pontode origem do arco posterior e, por ou­tro, a raiz anterior da apófise transver­sa (7 e 7'). As apófises transversas cer­vicais se caracterizam pela· sua forma eorientação (fig. 5-35): escavadas comose fosse um sulco de concavidade supe­rior, se dirigem para a frente e para fo­ra, num plano que forma um ângulo de60° com o plano sagital; além do mais,elas são levemente oblíquas para baixo,

formando uma inclinação de 15°. A ex­tremidade póstero-intema do sulco co­meça no forame Íntervertebral; a suaextremidade ântero-Iateral é flanqueadapor dois tubérculos, o anterior e o pos­terior, nos quais se inserem os músculosescalenos. Quanto ao seu fundo, ele éperfurado pelo forame intervertebral pe­lo qual ascende a artéria vertebral. Onervo cervical, após sair do canal verte­bral pelo foram e intervertebral, passapelo sulco da apófise transversa, de mo­do que cruza perpendicularmente a arté­ria vertebral para desembocar entre osdois tubérculos da apófise transversa;

- a perfuração do fundo da apófise trans­versa faz com que esta pareça ter a suaorigem em duas raízes, uma que se fixadiretamente no corpo vertebral e a outrana apófise articular;

- as apófises articulares (9 e 9') estão si­tuadas para trás e para fora do corpo davértebra ao qual estão unidas pelos pedí­culos (6 e 6'); elas suportam asfaces ar­tindares das que se podem observaraqui as superiores (10 e 10'), que se ar­ticulam com as faces inferiores da vérte­

bra suprajacente;

- o arco posterior completa-se com as lâ­minas (11 e 11') unindo-se na linha mé­dia ao nível da base da apófise espinho­sa (12) que é bífida;

- deste modo, o arco posterior está consti­tuído sucessivamente pelos pedículos,as apófises articulares, as lâminas e aapófise espinhosa;

- o forame intervertebral é limitado abai­

xo pelo pedículo, para dentro pelo corpovertebral e o processo unciforme e, porfora, pela apófise articular.

Page 191: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.5-34

3. TRONCO E COUJNA VERTEBRAL 195

Fig.5-35

10

Fig.5-36

3' 12

11

10'

9'

Page 192: Fisiologia Articular - Volume 3

196 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS LIGAMENTOS DA COLUNA CERVICAL INFERIOR

Acabamos de ver os ligamentos, muito es­peciais, que unem as vértebras da coluna suboc­cipital entre si; alguns deles seguem pela colunacervical inferior.

Os elementos fibroligamentares que unemas vértebras cervicais inferiores podem ser vis­tos detalhadamente num corte em perspectiva(fig. 5-37) que mostra uma vértebra cervical sec­cionada no plano sagital com o seu platô supe­rior (a) e o seu processo unciforme (b); esta vér­tebra está unida com a vértebra subjacente pelodisco intervertebral, que no corte apresenta duaspartes bem visíveis: o anel fibroso (1) e o núcleopulposo (2).

Pela frente dos corpos vertebrais se estendeo ligamento vertebral comum anterior (ligamen­to longitudinal anterior) (3), por trás o ligamen­to vertebral comum posterior (ligamento longi­tudinal posterior) (4). Uma cápsula (5) comple­ta as articulações uncovertebrais nos lados.

As articulações interapofisárias põem emcontato as faces articulares (d), unidas por uma

cápsula (6) que está representada aberta (6');entre as lâminas vertebrais se estendem, de cadalado, uns ligamentos amarelos (7); um deles es­tá representado seccionado (7').

As apófises espinhosas (j) estão unidas en­tre si pelos ligamentos interespinhais (8), pro­longados para trás por um ligamento supra-es­pinhal, muito bem individualizado na colunacervical num ligamento cervical posterior (9);nas suas duas faces se inserem o trapézio e oesplênio.

As apófises transversas, com os seus tubér­culos anterior (e) e posterior (f), estão unidas en­tre si pelos ligamentos intertransversos (10).

Podem-se observar na apófise transversa oforame vertebral ou transverso (g) e os fora­mes intervertebrais (y), limitados acima pelopedículo vertebral (h), por trás e por fora pelasapófises articulares e pela articulação interapo­fisária, pela frente e por dentro, pelo corpo ver­tebral, pelo disco intervertebral (1) e pelo pro­cesso unciforme (b).

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3

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b

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Fig.5-37

3. TRONCO E COLl~A VERTEBRAL 197

9

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198 FISIOLOGIA ARTICULAR

FLEXÃO-EXTENSÃO NA COLUNA CERVICAL INFERIOR

Na posição neutra, os corpos vertebrais(fig. 5-38, vista de perfil) estão unidos por umdisco intervertebral cujo núcleo está em posiçãoestável e todas as lâminas do anel fibroso estãosubmetidas à mesma tensão. Além do mais, asvértebras cervicais (fig. 5-39) entram em conta­to através das suas apófises articulares, cujas fa­ces estão incluídas num plano oblíquo para bai­xo e para trás. Na parte baixa da coluna cervicalinferior, estas faces possuem no plano parassagi­tal uma leve curvatura côncava para a frente, quecorresponde a um centro de curvatura (marcadocom uma cruz) situado bastante longe para bai­xo e para a frente; devido à lordose cervical, oscentros de curvatura estão separados um com­primento um pouco maior do que separa o planodas superfícies articulares. Mais adiante, na pá­gina 202, se poderá analisar o significado daconvergência destes eixos.

Durante o movimento de extensão, o cor­po da vértebra suprajacente (fig. 5-40) se inclinae se desliza para trás; o espaço entre os platôsvertebrais se estreita mais para trás que paradiante, o núcleo pulposo se desloca levementepara diante e, deste modo, as fibras anterioresdo anel fibroso entram em tensão. Este movi­mento de deslizamento para trás do corpo verte­bral não se realiza ao redor do centro de curva­tura das faces articulares e, conseqüentemente(fig. 5-41), aparece uma abertura na articulaçãointerapofisária: de fato, a face articular supe­rior não só se desliza para baixo e para trás emrelação à face articular inferior, mas tambémforma com esta um ângulo x' igual ao ângulo deextensão x, encontrado novamente em x" o ân­gulo formado pelas medianas das faces articula­res. O movimento de extensão é limitado pelatensão do ligamento vel1ebral comum anterior(ligamento longitudinal anterior) e, principal­mente, pelos ressaltos ósseos: o choque da apó­fise articular superior da vértebra inferior sobre

, a apófise transversa da vértebra superior e, prin­cipalmente, o contato dos arcos posterioresatravés dos ligamentos.

Durante o movimento de flexão, o corpoda vértebra suprajacente (fig. 5-42) se inclina ese desliza para diante, o que diminui a espes­sura da porção anterior do disco intervertebrale desloca o núcleo para trás, fazendo com queas fibras posteriores do anel fibroso entrem emtensão; este movimento de inclinação da vérte­bra suprajacente está favorecido pela superfíciedo platô superior da vértebra subjacente, quedeixa passar o bico do platô inferior da vérte­bra suprajacente. Como no caso da extensão, aflexão da vértebra suprajacente (fig. 5-43) nãose realiza ao redor do centro de curvatura dasfaces articulares, o que provoca, automatica­mente, uma abertura entre estas faces: a facearticular inferior da vértebra suprajacente sedesloca para cima e para diante, ao mesmotempo que se produz uma abertura para baixoe para trás, formando um ângulo y' igual aoângulo y de flexão e ao ângulo y" formado pe­las medianas das faces articulares. O movimen­to de flexão não é limitado pelos ressaltos ós­seos, mas somente pelas tensões ligamentares:tensão do ligamento vertebral comum posterior(ligamento longitudinal posterior), da cápsulada articulação interapofisária, dos ligamentosamarelos, dos ligamentos interespinhais e do li­gamento supra-espinhal ou ligamento cervicalposterior. Nos acidentes de automóvel por cho­que traseiro ou dianteiro, a coluna cervical é,freqüentemente, bruscamente lançada, primei­ro em extensão e depois em flexão: se trata dalesão "em chicotada" que produz um alonga­mento e inclusive rupturas nos diferentes liga­mentos e, no extremo, uma luxação anteriordas apófises articulares: as apófises articularesinferiores da vértebra suprajacente se engan­cham no bico ântero-superior das apófises arti­culares da vértebra subjacente; este tipo de lu­xação com "enganchamento" das apófises ar­tindares é muito difícil de reduzir e põe em pe­rigo tanto a medula oblonga quanto a medulacervical, com risco de morte súbita, de quadri­plegia ou de paraplegia.

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E

EXT.

Fig.5-41

NEUTRA

Fig.5-43

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 199

Fig.5-40

Fig.5-38

Fig.5-42

Page 196: Fisiologia Articular - Volume 3

200 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MOVIMENTOS NAS ARTICULAÇÕES UNCOVERTEBRAIS

Até agora estudamos os movimentos nasarticulações interapofisárias e nos discos inter­vertebrais, porém na coluna cervical existem,em cada segmento, duas pequenas articulaçõessuplementares: as articulações uncoverte­brais. Em corte frontal (fig. 5-44), se pode ob­servar, entre os dois platás vertebrais, o discocom o núcleo e o anel fibroso, mas o disco nãochega até a margem da vértebra. De fato, noplatá superior sobressaem dois processos situa­dos no plano sagital, os processos unciformes,cuja face articular interna, orientada para cima epara dentro, é recoberta de cartilagem e corres­ponde na margem Ínfero-Iateral do corpo verte­bral suprajacente a uma face articular semilu­nar, orientada para baixo e para fora recobertade cartilagem. Esta pequena articulação se en­contra no interior de uma cápsula articular quese confunde por dentro com o disco interverte­braI.

Nos movimentos de flexão-extensão,quando o corpo vertebral suprajacente se deslizapara diante ou para trás, se produz um desliza­mento concomitante entre as faces das articula­ções uncovertebrais. Os processos unciformes"conduzem" o corpo vertebral neste movimento.

Durante os movimentos de inclinação(fig. 5-45), nestas articulações uncovertebraisse produzem movimentos de abertura, cujo ân­gulo â e â é igual ao ângulo de inclinação â queaparece novamente no ângulo formado pelasduas horizontais nn' e mm' que passam pelasapófises transversas. Também neste esquemase podem constatar o deslocamento do núcleopulposo em direção à convexidade da curvatu­ra e a tensão da cápsula da articulação unco­vertebral do mesmo lado.

Na verdade, os movimentos na articulaçãouncovertebral são muito mais complexos: de fa­to, mais adiante poderemos comprovar comonão existe movimento de inclinação, mas movi­mentos de inclinação combinados com movi­mentos de rotação e de extensão. Portanto. nasarticulações uncovertebrais existem aberturaspara cima e para baixo e também deslizamentospara trás e aberturas para afrente. Isto é o queos dois esquemas em perspectiva transparente(fig. 5-46 A e B) sobre vértebras muito esque­matizadas tentam fazer compreender. Seriaconveniente que eles fossem vistos após ter-seassimilado o mecanismo dos movimentos deinclinação-rotação.

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Fig.5-44

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 201

a

Fig.5-45

AFig.5-46

B

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202 FISIOLOGIA ARTICULAR

A ORIENTAÇÃO DAS FACES ARTICULARES ­O EIXO MISTO DE ROTAÇÃO-INCLINAÇÃO

Os movimentos de inclinação e de rotação nacoluna cervical inferior estão detenninados pelaorientação das faces das apófises articulares, quenão permitem nem movimentos de rotação pura,nem movimentos de inclinação pura.

De fato, se considerarmos uma vértebra desituação média, como por exemplo a quinta cer­vical (fig. 5-47), podemos comprovar que as suasfaces articulares superiores são planas e estão in­cluídas num mesmo plano P oblíquo para baixo epara trás. Por conseguinte, qualquer deslizamen­to da quarta cervical que a ultrapasse só pode serde dois tipos:

- seja um deslizamento global para cima, setrata então de uma flexão ou deslizamentoglobal para baixo no caso da extensão;

- seja um deslizamento desigual: uma dasfaces articulares de C4, por exemplo a es­querda, se eleva para cima e para diante(seta a), enquanto a face articular direitavai para baixo e para trás (seta b). Destemodo, este deslizamento desigual no planoP é uma rotação em tomo de um eixo Aperpendicular ao plano P, eixo situado noplano sagital e por isso, na mediana da lin­ha que une o centro das faces articulares deCs. A rotação de C4 ao redor do eixo A,oblíquo para baixo e para diante, faz comque se realize sobre Cs, ao mesmo tempo,um movimento de inclinação e de rotação,ambos para a direita. Se trata neste caso deum movimento misto de rotação-inclina­ção que depende da obliqüidade do eixo A.

Os cortes horizontais realizados nas articula­

ções interapofisárias (fig. 5-48) mostram que as fa­ces articulares, nas partes superior e inferior, nãosão rigorosamente planas; elas apresentam uma le­ve convexidade para trás em C6 e C7 (fig. 5-48 A),ou uma leve concavidade para trás em C3 e C.; (fig.5-48 B). Isto não contradiz, de jeito nenhum, a de­monstração anterior, visto que então se pode consi­derar que o plano P (fig. 5-47) ficaria substituído poruma supelfície esférica de raio maior, cujo centrose localizaria no eixo A, seja para baixo da vértebrano caso de C6 e C7 (fig. 5-49 A), seja para cima davértebra no caso de C3 e C. (fig. 5-49 B); portanto,

o eixo misto de rotação-inclinação continua sen­do o eixo A da figura 5-47.

Numa radiografia de perfil da coluna cervical(fig. 5-50) é fácil traçar a direção do plano das fa­ces articulares:

- estes planos a, b, c, d, e,f são oblíquos comrelação à vertical;

- porém, além disso, a sua obliqiiidade écrescente de baixo para cima: o plano f, quecorresponde à interlinha C7-Tj, só tem umainclinação de 10° sobre a horizontal. Contu­do, o plano a da interlinha C2-C3 é inclina­do de 40 a 45° sobre a horizontal. Portanto,existe um ângulo de 30 a 35° entre o planoda interlinha inferior f e o da superior a.

Contudo, estes planos não convergem exata­mente num mesmo ponto: existem certas irregula­ridades na progressão da obliqüidade de baixo pa­ra cima; os três últimos planos (d, e, f) são quaseparalelos, enquanto os três primeiros (a, b, c) sãomuito convergentes.

Por conseguinte, se traçarmos uma medianaem cada face articular, esta representaria a proje­ção no plano sagital do eixo de rotação mista A, quejá vimos na figura 5-47. A obliqüidade destes eixos(1,2,3,4,5 e 6) também é regularmente crescentee se inscreve num ângulo de 30 a 35°, mas, fato im­portante, o eixo mais baixo (6) é quase vertical, oque implica uma rotação quase pura, enquanto oeixo mais elevado (1) está inclinado de 40 a 45° so­bre a vertical, o que implica uma igualdade entre ainclinação e a rotação (ver pág. 206).

Neste esquema (fig. 5-50), também está representada,com pequenas cruzes, a localização dos centros motores se­gundo o diagrama de Penning, que corresponde à localiza­ção do eixo transversal de fiexão-extensão de cada uma dasvértebras suprajacentes. Notar que quanto mais baixo vamospara a base da coluna cervical, mais se desloca o centro mo­tor para cima e para a frente do corpo vertebral. A posiçãodestes centros motores não corresponde exatamente ao quepoderia construir-se pela intersecção das medianas dos doiselementos móveis da vértebra suprajacente, por uma parte, amediana da sua face articular inferior, e, por outra, a media­

na do seu platô inferior. Esta posição teórica está representa­da no esquema por pequenas estrelas, enquanto os centrosmotores se deduzem de decalques das radiografias de perfil,realizadas em posições extremas de flexão e de extensão.

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Fig.5-48

Fig.5-47

A

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 203

Page 200: Fisiologia Articular - Volume 3

204 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MOVIMENTOS COMBINADOS DE INCLINAÇÃO-ROTAÇÃONA COLUNA CERVICAL INFERIOR

Acabamos de ver que, em cada segmento, arotação ao redor do eixo oblíquo realizava um mo­vimento misto de inclinação e de rotação. Se ago­ra se considerar toda a coluna vertebral inferior

entre C2 e TI, se pode comprovar que se acrescen­ta um componente de extensão (fig. 5-51). De fa­to, partindo de uma vértebra TI, situada exatamen­te no eixo, o movimento entre C7 e TI vai terminarnuma rotação-inclinação de C7 e o movimento en­tre C6 e C7, que parte de uma posição de inclina­ção-rotação ocasiona desta vez, além de uma rota­ção e uma inclinação, também uma extensão e es­te mecanismo vai acentuar-se de baixo para cima,de tal modo que se projetarmos o movimento mis­to da coluna cervical inferior em conjunto sobre ostrês planos de referência, ou realizarmos radiogra­fias de frente e de perfil (infelizmente é impossívelrealizar radiografias transversais), se pode apre­ciar como aparecem os seguintes componentes:

- no plano frontal (F), o componente deinclinação;

- no plano sagital (S), o componente deextensão;

- e no plano transversal ou horizontal(H), o componente de rotação.

Portanto, se pode afirmar que, além dosmovimentos de flexão-extensão, a coluna cer­vical só pode realizar movimentos sempre se­melhantes a si mesmos, estereotipados, movi­mentos mistos de inc1inação-rotação-extensão,estando o componente de extensão, em certamedida, automaticamente compensado poruma flexão na mesma coluna cervical inferior.

Ao contrário, se poderá ver que os outros com­ponentes só podem ser compensados na colunacervical superior.

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Fig.5-51

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 205

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206 FISIOLOGIA ARTICULAR

DETERMINAÇÕES GEOlVIÉTRICASDOS COMPONENTESDE INCLINAÇÃO E DE ROTAÇÃO

tg c = cos a

Para entender corretamente o mecanismodestes movimentos mistos se pode realizar umademonstração geométrica simples.

Um esquema no espaço (fig. 5-52) per­mite imaginar os efeitos da rotação ao redor doeixo UU', dirigido, como o eixo misto de incli­nação-rotação, obliquamente para baixo e paradiante. Este eixo se localiza no plano sagital, de­terminado pelo eixo de referência vertical ZZ' epelo eixo de referência horizontal YY'; se dirigepara a intersecção dos três eixos retangularesvertical ZZ', sagital YY' e transversal XX'. Seum segmento OK perpendicular ao eixo UU' gi­rar ao redor deste eixo, por exemplo, para a di­reita, ele toma a posição OL. Simultaneamente,a sua projeção O'M no plano horizontal toma aposição O·N e, do mesmo jeito que a sua proje­ção O"K' no plano frontal toma a posiçã~S~~ determinar o valor dos ângulos K~L'e MO'N em função do ângulo de rotação KOL eda inclinação do eixo UU' sobre a vertical.

Esta demonstração pode realizar-se numesquema simplificado (fig. 5-53), no qual apare­ce de novo o eixo UU' formando um ângulo âcom a vertical (v), um segmento OK em posiçãode partida e OL em posição de chegada apósuma rotação de um ângulo b em tomo do eixoUU'. Faltam calcular 9 ângulo de rotação â e oângulo de inclinação d.

Para os que estejam interessados por estademonstração matemática, eis aqui a seqüênciado raciocínio:

KM = OK.sen a;

MN KLtgc=- =-

OM OM

KL= OK.tg b;

OM = OK.cos a

KLtg b = - onde

OM

OMcos a = -- portanto

OK

resultado:

tg b

Além disso:

KMsen a = - onde

OK

KL I tg bTa d = - ou também tg d = ---b KM sen a

Esta demonstração é interessante porquepermite verificar os dois casos extremos:

1. se o eixo UU' é vertical, o ângulo â é nu­lo e, portanto, cos a = 1, portanto se de­duz que tg c = tg b; de modo que c = b;o que significa que quando o eixo é ver­tical, toda rotação em tomo deste eixodetermina uma rotação pura sem nenhu­Illa inclinação;

2. pelo contrário, se o eixo UU' pudesse serhorizontal (isto é impossível), sen a = 1,do que se deduz que tg d = tg b e d = b;o que significa que toda rotação em tor­no ao eixo UU' horizontal seria uma in­

clinação pura.

Contudo, existe um caso intermediário deinclinação a 45° do eixo UU' sobre a vertical;neste caso, se demonstra da mesma maneira queo ângulo J de inclinação é igual ao ângulo ê derotação.

Voltando à figura 5-52, se pode comprovarque quando a vértebra gira sobre a vértebra sub­jacente, um ângulo I{ôt arrasta com ela o eixoVI' porque se articula com a vértebra supraja­cente. Então este eixo gira em V 2 e, saindo doplano sagital, passa a ser oblíquo em relação aostrês eixos de referência, o que explica que a par­tir deste momento apareça um novo componen­te de extensão. Poderiam calcular-se os compo­nentes sucessivos nos seis segmentos; mas paraisto necessitaríamos de usar um computador,visto que as fórmulas incluiriam tangentes detangentes de tangentes até o sexto grau. Portan­to, para entender estes movimentos é muito maissimples recorrer a um modelo mecânico.

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Fig.5-53

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 207

Fig.5-52

v

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208 FISIOLOGIA ARTICULAR

MODELO MECÂNICO DA COLUNA CERVICAL

Partindo destas concepções mecânicas e dadivisão funcional entre a coluna cervical superiorsuboccipital e a coluna cervical inferior, foi cria­do um modelo mecânico (fig. 5-54) que permitepôr em evidência os diferentes tipos de funciona­mento das articulações da coluna cervical (I).

Na coluna cervical inferior, isto é, entreC2 e TI, só se realizaram movimentos mistos deinclinação-rotação, ao redor de eixos oblíquos(ver pág. 210), respeitando a sua obliqüidadeanatômica e a sua disposição em relação aoscorpos vertebrais que, neste modelo, não apre­sentam nenhuma articulação discal entre si; pe­lo contrário, estes eixos constituem, por si só, osfreios do movimento de inclinação-rotação. Aeliminação deliberada dos movimentos de fle­xão-extensão nesta parte do modelo permite queos movimentos de inclinação-rotação apareçamde maneira especialmente explícita.

A coluna cervical suboccipital foi realiza­da segundo os equivalentes mecânicos; de fato,se pode distinguir:

- um eixo vertical que corresponde àapófise odontóide e que permite, alémdos movimentos de rotação, alguns mo­vimentos de flexão-extensão do platáelíptico que representa o atlas, graças aum jogo mecânico introduzido volunta­riamente entre ele e o corpo de C2;

- um conjunto de três eixos ortogonaisde pouca amplitude que correspondem àarticulação atlantooccipital:

• um eixo vertical situado no centro doplatô do atlas;

• dois eixos perpendiculares entre si eem relação ao eixo vertical, visíveis noesquema, que formam um cardão e querepresentam, por um lado, o eixo de in­clinação lateral da atlantooccipital, e,por outro, o eixo de flL ..•..ão-extensãonesta mesma articulação.

Em resumo, a coluna suboccipital repre­senta uma cadeia articular de três eixos ecom três graus de liberdade assegurando aunião entre C1 e o occipital, representado nestemodelo por uma pequena placa horizontal, uni­da com os três planos principais de referênciada cabeça:

- o plano sagital, em traços claros;

- o plano frontal, em branco;

- e o plano transversaL em traços escuros.

Este modelo permite entender como os doissegmentos da coluna se completam funcional­mente; assim, no esquema se pode ver que o mo­vimento de inclinação-rotação à direita da co­luna cervical inferior se transfonna na colunasuboccipital num movimento de inclinação pu­ra, graças à eliminação dos componentes nãodesejados.

(llFar ser muito difícil de realizar segundo o métodode modelos para cortar e armar, este modelo foi elaboradopara ser realizado em material plástico.

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210 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MOVIMENTOS DE INCLINAÇÃO-ROTAÇÃONO MODELO DA COLUNA CERVICAL

Se observarmos agora detalhadamente a co­luna cervical inferior (fig. 5-55), poderemosapreciar que, funcionalmente, a cada corpo ver­tebral corresponde um arco posterior representa­do por uma pequena tábua inclinada para baixo epara trás e provida de uma peça em forma decunha. Se esta figura é comparada com a figura 5­50, se pode comprovar que o papel destas cunhasé o de reconstituir a convergência do plano dassuperfícies articulares e, portanto, realizar a lor­dose cervical. Em cada um destes planos de su­perfície articular se implanta perpendicularmen­te o eixo oblíquo, representado neste caso por umparafuso, e que permite a articulação com a vér­tebra suprajacente. Deste modo, esta vértebra su­prajacente só pode ser deslocada, com relação àque está situada acima, nos movimentos de rota­ção ao redor deste eixo oblíquo, tal como se ex­plicou na figura 5-50. Então, se uma rotação su-

cessiva for aplicada em tomo dos seis eixos des­te modelo, se poderia ver como ele realiza, aomesmo tempo, um movimento de inclinação e derotação (fig. 5-56), cujos 50° correspondem àamplitude de rotação da coluna cervical inferiore também um leve componente de extensão quequase não é visível nestes esquemas.

Assim sendo, notar a forma da face supe­rior de C2 que representa funcionalmente a arti­culação atlantoaxial:

- a forma convexa de diante para trásque corresponde às faces articularessuperiores do áxis e permite movimen­tos de flexão-extensão do atlas (não re­presentados aqui);

- o eixo vertical que ultrapassa e repre­senta funcionalmente a apófise odontói­de e permite os movimentos de rotação.

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Fig.5-55

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 211

Fig.5-56

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212 FISIOLOGIA ARTICULAR

COMPARAÇÕES ENTRE O MODELO E A COLUNA CERVICAL DURANTEOS MOVIMENTOS DE INCLINAÇÃO-ROTAÇÃO

Se olharmos o modelo de frente (fig. 5-57)durante um movimento de rotação pura, pode­mos comprovar que o movimento de inclinação­rotação unívoco da coluna cervical inferior rea­liza uma inclinação total de 25°.

Se, além disso, se obtém urna radiografia,exclusivamente de frente, da coluna cervical nopercurso de um movimento de rotação pura dacabeça (fig. 5-58), encontramos novamente estemovimento de inclinação que se traduz ao níveldo áxis numa inclinação exatamente igual a 25°sobre a vertical. Da comparação destes dois do-

cumentos se pode deduzir que na coluna cervi­cal existem, como já demonstraram Fick e We­ber no fim do século XIX, movimentos de incli­nação sempre associados à rotação e que, poroutro lado, como manifestaram mais recente­mente Penning e Brugger, os movimentos de in­clinação da coluna cervical inferior são compen­sados pela coluna cervical suboccipital paraconseguir a rotação pura e, vice-versa, os movi­mentos da coluna cervical inferior são compen­sados pela coluna cervical suboccipital paraconseguir uma inclinação pura (ver figo5-54).

AS COMPENSAÇÕES NA COLUNA SUBOCCIPITAL

Esta vista detalhada do modelo da colunacervical (fig. 5-59) em posição de rotação puramostra perfeitamente a constituição mecânica dacoluna cervical superior, assim corno os compo­nentes compensadores que ela introduz para rea­lizar o movimento de rotação pura.

De cima para baixo se podem observar:

- o platá horizontal (A) que representa abase do occipital;

- na sua parte inferior, os dois suportesfrontais para o eixo ântero-posterior (4)de inclinação da articulação atlantoocci­pital;

- este eixo (4) se articula com a peça in­termediária (C), atravessada por um ei­

. xo transversal (3), que representa o ei-

xo de flexão-extensão da articulaçãoatlanto-occipital;

- este último (3) está sustentado por doisfiancos verticais (D') unidos com umplatá horizontal (D) que gira sobre oplatá (E) graças a um eixo vertical (2)que representa o eixo de rotação da arti­culação atlantooccipital (oculto por C);

- o platá E, equivalente funcional do atlas,é articulado com o áxis (F) por um eixovertical (1) que representa a apófiseodontóide e representado neste caso porum parafuso que não está totalmenteapertado, o que permite, além dos movi­mentos de rotação, movimentos de fie­xão-extensão sobre a face superior con­vexa do áxis F.

Page 209: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.5-58

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 213

Fig.5-57

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214 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS COMPENSAÇÕES NA COLUNA SUBOCCIPITAL(continuação)

Em resumo, se não se distinguem os diferenteselementos desta coluna suboccipital anatomicamen­te, se podem localizar perfeitamente os seus equiva­lentes funcionais:

~ o áxis F com a sua apófise odontóide: eixo I;

~ o atlas E, que se articula com a apófiseodontóide e a face superior do áxis;

~ o occipital A, que sobrepuja um conjuntofuncional de três eixos perpendiculares entresi, os da articulação atlantoaxial: o eixo derotação (2), o eixo de flexão-extensão (3) e oeixo de inclinação (4). Estes dois últimosformam um sistema de "cardão" entre si.

Descritos os elementos da coluna suboccipital,vamos seguir com o seu funcionamento: para obtera rotação pura, uma vez que a coluna cervical infe­rior tenha realizado o seu movimento de inclinação­rotação, a cadeia suboccipital, com três eixos e trêsgraus de liberdade, deve realizar três componentes:

- um componente de rotação para a direita,ao redor dos eixos I e 2, que prolonga a co­luna cervical inferior e se realiza em gran­de parte na articulação atlantoaxial (ânguloâ) e menos na articulação atlantooccipital(ângulo b);

- uma extensão ao redor do eixo 3 de um ân­

gulo ê que compensa a flexão que aparece­ria por causa da rotação pura para a direitasobre o eixo I;

- e, por último, um leve componente de con­tra-inclinação de ângulo cÍao redor do eixo4; de fato, a maior parte da inclinação dacoluna cervical inferior já está neutralizadagraças à extensão ao redor do eixo 3.

Anatomicamente, os movimentos se realizam nacoluna suboccipital graças à ação dos pequenos mús­culos suboccipitais (ver pág. 234) que se poderiamdenominar músculos "nônio", visto que a sua funçãoprincipal é a de ajustar de forma correta os compo­nentes compensatórios a fim de neutralizar os movi­mentos não desejados e fazer com que apareça, no seu

,estado puro, o componente desejado. Assim, existeuma notável analogia entre os músculos "nônio" e osfoguetes "nônio" que, devido à sua exata ação calcu­lada, permitem controlar a posição de um veículo es­pacial em relação a pontos fixos de referência.

Durante o movimento de rotação pura da ca­beça para a direita (fig. 5-59), a rotação adicional dacoluna suboccipital para a direita está assegurada pe­la ação dos músculos oblíquo externo, reto anteriordo lado direito e pelo oblíquo interno esquerdo. To­dos eles são, ao mesmo tempo, extensores, portantorealizam simultaneamente a extensão descrita ante­

riormente. A contra-inclinação para a esquerda éconseguida através do oblíquo interno, do reto late­ral esquerdo e do reto anterior menor esquerdo. Aação flexora destes dois últimos músculos está cons­tituída pelo componente extensor dos anteriores.

Durante o movimento de inclinação pura dacabeça para a direita (fig. 5-54), o componente decontra-rotação para a esquerda se obtém pela con­tração dos músculos oblíquo externo, retos poste­riores maior e menor do lado esquerdo, a inclina­ção adicional para a direita pela ação dos músculosretos posteriores maior e menor do lado direito epelo oblíquo interno direito. Por último, o compo­nente de extensão destes músculos, assim como aextensão na coluna cervical inferior e a que apare­ceria pela contra-rotação pura para a esquerda estãocompostos pelos músculos flexores: reto anterior ereto anterior menor direitos, e reto lateral direito.

Desse modo, este modelo mecânico permitecompreender a relação anatômica e funcional entre:

- por um lado, a coluna cervical inferior, do­tada de movimento de enrolamento ou de tor­

ção, que associa inclinação, rotação, exten­são, e é provida de músculos longos, oblíquospara baixo, para fora e para trás, tal como oesplênio do pescoço, grande torácico, trans­verso do pescoço, sacrolombar, angular da es­cápula e, em menor grau, os escalenos; todosestes músculos estão dispostos de forma idealpara realizar este movimento unívoco;

- por outro lado, a coluna cervical superior,que constitui uma cadeia articular de três ei­xos e três graus de liberdade, ativada, entreoutros, pela ação dos pequenos músculos su­boccipitais, músculos "nônio ", visto que asua contração antagonista e sinérgica conse­gue, eliminando nas articulações suboccipi­tais os componentes não desejados proceden­tes da coluna cervical inferior, com que apa­reça unicamente o movimento desejado.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 215

A

A

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Fig.5-59

Page 212: Fisiologia Articular - Volume 3

216 FISIOLOGIA ARTICULAR

AMPLITUDE ARTICULAR NA COLUNA CERVICAL

A comparação de radiografias de perfil du­rante os movimentos extremos de flexão-exten­são (fig. 5-60) permite conhecer:

- a amplitude total de flexão-extensão dacoluna cervical inferior (ReI = de 100a110°);

- a amplitude total de flexão-extensão doconjunto da coluna cervical em relaçãoao plano mastigatório (RT = 130°);

- por uma subtração simples podemos de­duzir a amplitude de flexão-extensão nacoluna suboccipital (SQ = 20 a 30°).

Do mesmo modo, nas radiografias ante­ri01-es,tomadas com uma inclinação da cabeça

(fig. 5-61), podemos ver a amplitude total de in­clinação, que é, aproximadamente, de 45°.Além disso, traçando uma linha que une as duasapófises transversas do atlas por um lado, e, poroutro, uma linha que une a base das apófisesmastóides, encontramos aproximadamente,uma amplitude de 8° na inclinação lateral da co­luna suboccipital; isto é, somente na articula­ção atlantooccipital.

A amplitude de rotação é mais difícil de ob­servar, principalmente no que diz respeito às rota­ções elementares (fig. 5-62). A rotação total dacabeça é de 80 a 90° de cada lado. Dentro destaamplitude, se atribuem 1r à articulação atlanto­occipital e outros 12° à articulação atlantoaxial.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 217

Fig.5-60

Fig.5-61 Fig.5-62

Page 214: Fisiologia Articular - Volume 3

218 FISIOLOGIA ARTICULAR

EQUILÍBRIO DA CABEÇA SOBRE A COLUNA CERVICAL

A cabeça está em equilíbrio (fig. 5-63)quando os olhos estão na posição horizontal.Nesta posição, o plano mastigatório (PM), re­presentado por um papelão apertado entre osdentes, também é horizontal, do mesmo modoque o plano aUrlculo-nasal (AN), que passa pe­la margem superior do conduto auditivo externoe pela espinha nasal.

A cabeça realiza, no seu conjunto, uma al­vanca de interapoio:

- o ponto de apoio O se situa nos côndilosoccipitais;

- a resistência G é realizada pelo peso dacabeça contra o seu centro de gravidadelocalizado perto da sela túrcica;

- a potência F está constituída pela forçados músculos da nuca que, em todomomento, devem contrabalançar o pe­so da cabeça que tem a tendência decair para a frente.

Esta situação anterior do centro de gravida­de da cabeça explica a potência relativa dosmúsculos posteriores da nuca em relação aosmúsculos flexores do pescoço. De fato, os exten­sores lutam contra a gravidade, ao passo que osflexores, a força da gravidade os reforça. Isto ex-

plica também que existe um tônus permanentedos músculos da nuca que não permitem a que­da da cabeça para a frente: quando, durante o so­no em posição de sentado, este tônus diminui, oqueixo cai sobre o esterno.

A coluna cervical não é retilínea: ela apre­senta uma curva côncava para trás, ou Iordosecervical, que se caracteriza:

- pela sua corda (C), reta, que se estendedos côndilos occipitais até os ângulospóstero-inferiores da sétima vértebracervical;

- e pela sua flecha (f), perpendicular, tra­çada do ângulo póstero-inferior da quar­ta cervical até a corda.

Quanto maior é a lordose cervical, maisacentuada será a flecha; porém, ela será nula sea coluna cervical for retilínea, e inclusive podeser negativa quando na flexão, ela seja côncavapara a frente. Pelo contrário, a corda é, normal­mente, mais curta que o comprimento da colunacervical, e só é igual a este comprimento numúnico caso: quando a coluna cervical é retilínea.Neste caso, encontramos um índice cervical si­milar ao índice de Domas, que já foi menciona­do no primeiro capítulo (pág. 22).

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AN

PM

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 219

Fig.5-63

Page 216: Fisiologia Articular - Volume 3

220 FISIOLOGIA ARTICULAR

CONSTITUIÇÃO E AÇÃO DO MÚSCULO ESTERNOCLEIDOMASTÓIDEO

o músculo estemoc1eidomastóideo deveriaser denominado, para ser mais correto, estemo­c1eidooccípito-mastóideo (ECOM), visto que es­tá constituído por quatro porções (fig. 5-75):

- uma porção profunda, o cleidomastói­deo (Cm), que se estende do terço inter­no da clavícula até a apófise mastóide;

- três porções superficiais que, quando se­paradas, formam um N, mas que, na ver­dade, estão unidas umas com as outras,exceto na parte ínfero-medial, próximaà extremidade medial da clavícula, naque se forma a fosseta de Sédilot atravésda qual se transparece o cleidomastói­deo. Estas três porções são:

• a cleidooccipital (Co), que recobre amaior parte do cleidomastóideo e cu­jas inserções se estendem longe, portrás, sobre a linha curva superior dooccipital;

• a estemooccipital (Eo);

• e a estemomastóide (Em); ambas seinserem por um tendão comum namargem superior do manúbrio ester­nal. A estemooccipital se une com asinserções da cleidooccipital na linhacurva superior; quanto à estemomas­tóideo, ela se fixa na margem superiore margem anterior da apófise mastói­de.

En conjunto, o ECOM forma uma bandamuscular larga, que se estende sobre a face ânte­ro-Iateral do pescoço, oblíqua para baixo e paraa frente, cuja parte mais prominente está consti-

tuída, para baixo e para a frente, pelo tendão co­mum do estemooccipital e do estemomastóideo.Estes dois músculos formam um corpo camosofusiforme perfeitamente visível debaixo da pele.Os dois tendões direito e esquerdo limitam afosseta supra-estemal.

A contração unilateral (fig. 5-65) doECOM determina um movimento triplo que as­socia a rotação da cabeça para o lado oposto dasua contração, a inclinação para o lado da suacontração e a extensão. Este movimento dirige oolhar para cima e para o lado oposto da contra­ção do músculo. Esta atitude da cabeça é carac­terística do torcicolo congênito, que, freqüente­mente, é devido ao encurtamento de um dosECOM.

Mais adiante, veremos os efeitos da contra­ção simultânea dos dois ECOM, que dependemdo estado de contração do resto dos músculos dacoluna cervical:

- se a coluna cervical permanece flexí­vel, esta contração bilateral provocauma hiperlordose da coluna cervicalcom uma extensão da cabeça e umaflexão da coluna cervical sobre a colu­

na torácica (ver figo 92);

- se, ao contrário, a coluna cervical setoma rígida e retilínea devido à contra­ção dos músculos pré-vertebrais, a con­tração simultânea dos ECOM provoca afiexão da coluna cervical sobre a colu­na torácica e umafiexão da cabeça pa­ra afrente (ver figo97).

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 221

Fig.5-65

Fig.5-64

Page 218: Fisiologia Articular - Volume 3

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 223

Ip

Fig.5-66

Page 219: Fisiologia Articular - Volume 3

224 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS PRÉ-VERTEBRAIS: OS RETOS ANTERIORES MAIORE l\iIENOR DA CABEÇA E O RETO LATERAL

Estes três músculos estão situados na partesuperior da coluna cervical (fig. 5-67).

O reto anterior maior da cabeça (ra) é, dostrês, o mais próximo da linha média; entra emcontato com o seu homólogo oposto e se fixa naface inferior do processo basilar pela frente do fo­rame magno; além disso, ele recobre a parte supe­rior do músculo longo do pescoço (Ip) e terminaem tendões diferentes em cada um dos tubérculosanteriores da terceira, quarta, quinta e sexta apó­fises transversas cervicais. Ele é o motor da colu­

na cervical suboccipital e da parte superior da co­luna cervical inferior. A contração simultâneados dois músculos retos anteriores determina a

fiexão da cabeça sobre a coluna cervical e a reti­ficação da lordose da sua parte superior. A contra­ção unilateral determina a fiexão e a inclinaçãoda cabeça para o lado da sua contração.

O reto anterior menor da cabeça (ram) selocaliza atrás e por fora do reto anterior maior ese estende entre o processo basilar occipital e a

face anterior da massa lateral do atlas até o tu­bérculo anterior da sua apófise transversa. A suadireção é oblíqua para baixo e para fora.

A contração simultânea dos dois músculoshomólogos determina a fiexão da cabeça sobre acoluna cervical ao nível da articulação atlantooc­cipital. A sua contração unilateral determina ummovimento triplo de fiexão, rotação e inclinaçãopara o lado da sua contração. Estes movimentosse realizam na articulação atlantooccipital.

O músculo reto lateral (rI) é o mais supe­rior dos músculos intertransversos; ele se insereacima no processo jugular do occipital e por bai­xo no tubérculo anterior da apófise transversa doatlas. Ele se localiza por fora do reto anterior me­nor e recobre a face anterior da articulação atlan­tooccipital. A sua contração bilateral determina afiexão da cabeça sobre a coluna cervical; e a suacontração unilateral, uma leve inclinação para olado da sua contração. Estes dois movimentos serealizam na articulação atlantooccipital.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 225

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Fig.5-67

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226 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS PRÉ-VERTEBRAIS:OS ESCALENOS

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Os músculos escalenos são três e se esten­dem sobre a face ântero-Iateral da coluna cer~vical corno se fossem verdadeiras maromas

musculares (fig. 5-68); eles unem as apófisestransversas cervicais com a primeira e a segun­da costelas.

O escaleno anterior (ea), triangular devértice inferior, se fixa nos tubérculos anterio­res da terceira, quarta, quinta e sexta apófisestransversas cervicais através de quatro tendões;as suas fibras musculares convergem num ten­dão que se insere no tubérculo de Lisfranc, naface superior da extremidade anterior da pri­meira costela. A direção geral do corpo muscu­lar do escaleno anterior é oblíqua para baixo,para a frente e para fora.

O escaleno médio (em), situado por trás eem contato com o escaleno anterior, se fixa aci­ma por seis lingüetas tendinosas nas apófisestransversas das seis últimas vértebras cervicais,na altura dos tubérculos anteriores e na margemexterna da corredeira transversa da segunda, ter­ceira, quarta, quinta e sexta cervicais e na trans­versa da sétima. O corpo muscular, plano dediante para trás, triangular de vértice inferior, sedirige obliquamente para baixo, para fora e leve­mente para a frente para finalizar na face supe­rior da primeira costela, bem atrás da corredeirada artéria subclávia.

O escaleno posterior (ep) se localiza portrás dos escalenos anterior e médio; ele se inse­re acima através de três lingüetas tendinosas nostubérculos posteriores das transversas da quarta,quinta e sexta cervicais. O seu corpo carnoso,plano transversalmente, se situa por fora e portrás do escaleno médio, onde quase se confundecom o outro. Ele se insere por um tendão planona margem superior e na face externa da segun­da costela.

Entre os escalenos anterior e médio passamos níveis de origem do plexo braquial e a arté­ria subclávia.

A contração simétrica dos escalenos deter­mina afiexão da coluna cervical sobre a colunatorácica e uma hiperlordose, com a condição deque a coluna cervical não esteja rígida pela con­tração do músculo longo do pescoço; visto que,pelo contrário, a contração simétrica dos escale­nos determina somente afiexão da coluna cervi­cal sobre a coluna torácica (ver figo 5-93).

A contração unilateral dos escalenos de­termina a inclinação (fig. 5-70) e a rotação dacoluna para o lado da contração.

Além disso, os escalenos são músculos ace­sórios da inspiração, quando eles tomam cornoponto fixo as suas inserções cervicais, elevandoas duas primeiras costelas.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 227

Fig.5-68

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228 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS PRÉ-VERTEBRAIS EM CONJUNTO

Um esquema de frente, tomado de Testut(fig. 5-69) permite situar todos os músculospré-vertebrais:

- o músculo longo do pescoço com o seufascículo longitudinal (lpl), os seus fascí­culos oblíquos ascendentes (lpoa) e osseus fascículos oblíquos descendentes(lpod);

- o reto anterior maior da cabeça (ra);

- o reto anterior menor da cabeça (ram);

- o reto lateral (rl);

- os músculos intertransversos, que es-tão divididos em dois planos: os mús­culos intertransversos anteriores (ita)e os músculos intertransversos poste­riores (itp).

A ação destes músculos intertransversos

determina somente a inclinação da coluna para o

lado da sua contração (fig. 5-70); esta ação está

reforçada pela contração unilateral dos múscu­los escalenos:

- o escaleno anterior (ea), desenhado in­

teiro só na metade direita; enquanto na

metade esquerda só o seu tendão está re­

presentado, o que permite que o escale­

no médio (em) apareça;

- quanto ao escaleno posterior (ep), ele só

sobressai do escaleno médio na sua par­

te mais inferior, quando ele se insere na

segunda costela.

J

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ep

Fig.5-69

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 229

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Fig.5-70

ep

ea

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230 FISIOLOGIA ARTICULAR

A FLEXÃO DA CABEÇA E DO PESCOÇO

A flexão da cabeça sobre a coluna cervicale a flexão da coluna cervical sobre a coluna to­

rácica dependem dos músculos anteriores.

Na coluna cervical superior (fig. 5-71) osmúsculos retos anteriores menor e maior (ra) de­terminam uma flexão na articulação atlantoocci­pital. O músculo longo do pescoço (lPl e lpz) e oreto anterior maior determinam aflexão das arti­culações subjacentes e, muito importante, o lon­go do pescoço determina o endireitamento e aretificação da coluna cervical (fig. 5-72).

Longe da coluna cervical e, portanto dota­dos de um braço de alavanca maior, os mâsculosanteriores do pescoço (fig. 5-73) agem comopotentes flexores da cabeça e da coluna cervical.Trata-se dos músculos supra- e infra-hióideos:

- o miloióideo (rnh) e o ventre anterior dodigástrico (não representado aqui) queunem o maxilar inferior ao osso hióide;

- os músculos infra-hióides: tÍreo-hióide,esternoc1eido-hióide (ech), esternoti­

reóide (não representado aqui) e omo­hióide (oh). A contração simultânea des­tes músculos provoca a descida da man­díbula inferior; embora ela esteja blo­

queada contra a mandíbula superiorpela contração simultânea dos músculosmastigatórios, como o masséter (M) e otemporal (T), a contração dos músculossupra- e infra-hióides provoca a fiexãoda cabeça sobre a coluna cervical e afiexão da coluna cervical sobre a colunatorácica, ao mesmo tempo que apareceum endireitamento da lordose cervical.

Portanto, estes músculos desempenham

um papel primordial na estática da colu­na cervical.

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Fig.5-71

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 231

Fig.5-72 Fig.5-73

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232 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS DA NUCA

I

Antes de estudarmos a fisiologia dos mús­culos da nuca é indispensável entender correta­mente a sua disposição através de um corte emperspectiva (fig. 5-74): neste caso, se trata deuma vista póstero-direita da nuca, cujos múscu­los superficiais foram removidos, em parte, afim de se poderem ver os diferentes planos.

A zona da nuca se compõe de quatro pla­nos musculares superpostos. Da profundidadeaté a superfície se pode observar:

- o plano profundo, diretamente aplica­do aos ossos e articulações, contém:

• os músculos motores pequenos da co­luna suboccipital, que se estendementre o occipital, o atlas e o áxis:

- o retoposterior maior da cabeça (1);

- o retoposterior menor da cabeça (2);

- os oblíquos externo (3) e interno (4);

• a porção cervical do transverso-es­pinhoso (5);

• os músculos interespinhosos (6);

- o plano dos complexos, em parte resse­cado, contém dois músculos:

• o complexo maior (7);

• o complexo menor (8);

No mesmo plano, mais para fora, se SI­tuam:

• o transverso do pescoço;

• o torácico longo;

• e a parte superior do sacrolombar (11);

- O plano do esplênio e do angular, tam­bém em parte ressecado, compreende:

• o esplênio, dividido em duas partes:

• o esplênio da cabeça (9);

• e o esplênio do pescoço (10), do qualuma das digitações de inserção no tu­bérculo posterior da terceira apófisetransversa foi respeitada (10'); as ou­tras duas que se inserem no tubérculoposterior da primeira e da segundatransversa foram seccionadas;

• o angular da escápula (12);Estes músculos estão estreitamenteunidos aos do plano profundo e se en­rolam ao seu redor como se fossemuma polia (tese de Florent), de modoque a sua contração possui um impor­tante componente de rotação;

• o plano superficial comporta:

- essencialmente o trapézio (15), quenesta figura foi ressecado quase to­talmente;

- o esternocleidooccípito-mastóideo,que só forma parte da região da nu­ca na sua porção póstero-superior.Aqui ele está representado parcial­mente ressecado para mostrar assuas porções superficiais (14) e asua porção profunda cleidomastói­dea (14').

No fundo da região compreendida entre osinterstícios musculares, se podem apreciar asinserções superiores dos escalenos médio e pos­terior (13).

Resumindo, além dos músculos do planoprofundo, a maior parte dos músculos da nucasão oblíquos para baixo, para dentro e para trás,estão unidos ao plano profundo e determinam si­multaneamente a extensão, a rotação e a inclina­ção para o lado da sua contração, isto é, exata­mente os três componentes do movimento mistoda coluna cervical inferior ao redor dos eixosoblíquos (ver pág. 204). Pelo contrário, a cama­da superficial contém músculos de direção cruza­da, no que diz respeito aos planos intermediários;ou seja, oblíqua para baixo, para a frente e parafora e que, desta vez, não agem diretamente so­bre a coluna cervical inferior, mas sobre o crânioe a coluna suboccipital, onde determinam, comoos dos planos subjacentes, a extensão e a inclina­ção para o lado da sua contração, apesar de sercom uma rotação para o lado oposto. Deste mo­do, eles são ao mesmo tempo sinergistas e anta­gonistas dos músculos do plano profundo, aosque completam funcionalmente.

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Fig.5-74

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234 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS SUBOCCIPITAIS

A fisiologia dos pequenos músculos suboc­cipitais é habitualmente desprezada; isto é devi­do ao fato de ela não ser considerada um com­

plemento da fisiologia da coluna cervical infe­rior. Na verdade, o papel destes músculos "nô­nio" é primordial na atitude da cabeça, paraacentuar os componentes desejados ou eliminaros componentes não desejados, a partir do movi­mento unívoco da coluna cervical inferior.

Antes de se considerar a sua fisiologia, éconveniente recordar a sua disposição anatômi­ca assimilando corretamente a sua direção noespaço. Para isto, é necessário que eles sejamconsiderados em vista posterior (fig. 5-75), etambém em vista externa (fig. 5-76), além deuma vista em perspectiva póstero-direita e infe­rior (fig. 5-77). Deste modo se podem observar:

- o reto posterior maior da cabeça (1),músculo triangular de base superior, seestende da apófise espinhosa do áxis atéa linha curva inferior do occipital. A suadireção é oblíqua para cima e levementepara fora e para trás;

- o reto posterior menor da cabeça (2),também plano e triangular, mais curto emais profundo que o reto posteriormaior, situado bem por fora da linhamédia, ele se estende do tubérculo pos­terior do atlas, sobre o seu arco poste­rior, até o terço interno da linha curvaoccipital inferior. A sua direção é oblí­qua para cima, levemente para fora emais diretamente para trás que o reto

posterior maior. Isto é devido ao fato deo arco posterior do atlas ser mais pro­fundo que a apófise espinhosa do áxis;

- o oblíquo externo da cabeça (3), mús­culo alongado, grosso e fusiforme, si­tuado acima e por fora do reto maior, seestende da apófise espinhosa do áxis atéa face inferior e a margem posterior daapófise transversa do atlas. A sua dire­ção é oblíqua para cima, para fora e pa­ra afrente. Portanto, ele está cruzado noespaço com relação aos músculos retos,e especialmente no que diz respeito aoreto posterior menor da cabeça;

- o oblíquo interno da cabeça (4), mús­culo curto, plano e triangular, situadopor trás da articulação atlantooccipital,se estende da apófise transversa do atlasaté o terço externo da linha curva inferiordo occipital. A sua direção é oblíqua pa­ra cima e para trás. Ele está, praticamen­te, situado no plano sagital, visto que elenão se dirige para fora. A sua direção éparalela a do reto posterior menor e per­pendicular a do oblíquo externo;

- os músculos interespinhosos (5) estãosituados em ambos os lados da linha

média, entre as apófises espinhosas cer­vicais, por baixo do áxis; deste modo, osmúsculos retos posteriores maior e me­nor são equivalentes aos músculos inte­respinhosos.

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Fig.5-76

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 235

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Fig.5-75

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236 FISIOLOGIA ARTICULAR

AÇÃO DOS MÚSCULOS SUBOCCIPITAIS: INCLINAÇÃO E EXTENSÃO

Pela sua disposição, o oblíquo externo dacabeça desempenha um papel importante tanto naestática quanto na dinâmica da articulação atlan­toaxial. De fato, uma vista de perfil (fig.5-78) mostra que, e levando as apófises transver­sas do atlas para trás, este músculo provoca, quan­do os dois oblíquos externos se contraem simetri­camente, um movimento de retrocesso e de exten­

são do atlas sobre o áxis; esta extensão pode sermedida nas radiografias de perfil pelo ângulo â nasmassas laterais do atlas, ou pelo ângulo â' no seuarco posterior. Uma vista superior (fig. 5-79) mos­tra com nitidez o movimento de retrocesso (r) de­terminado pela contração simétrica dos dois mús­culos oblíquos, que, como a corda de um arco,propulsionam o áxis para a frente e por reação doatlas, para trás. Deste modo, o ligamento transver­so se descarrega, o que assegura a contenção pas­siva da apófise odontóide e impede que ela se lu­xe para trás: os dois oblíquos externos agem si­multaneamente de modo que desempenham umpapel essencial no comportamento dinâmico daarticulação atlantoodontóide.

A contração unilateral dos quatro mús­culos posteriores suboccipitais (fig. 5-80) de-

termina a inclinação da cabeça (seta y) para olado da sua contração, por mobilização na arti­culação atlantooccipital. Este ângulo de inclin~­ção í também pode ser medido pelo ângulo i 'compreendido entre a linha horizontal das apó­fises transversas do atlas e a linha oblíqua dasapófises mastóides. Certamente, o oblíquo in­terno (4), cuja contração provoca o alongamen­to (e) do seu homólogo oposto, é o mais eficazdos músculos da inclinação. O oblíquo internotoma como ponto fixo a apófise transversa doatlas, estabilizada, por sua vez, pela contraçãodo oblíquo externo (3); o reto maior (1) é menoseficaz que o oblíquo interno e o reto menor qua­se não age, porque está muito próximo da linhamédia.

A contração simultânea e bilateral dosmúsculos posteriores suboccipitais (fig. 5-81)determina a extensão da cabeça sobre a colunacervical superior: esta extensão se realiza na ar­ticulação atlantooccipital graças à contração dooblíquo posterior menor (2) e do oblíquo inter­no (4) e na articulação atlantoaxial pela contra­ção do reto posterior maior (1) e do oblíquo ex­terno (3) (fig. 5-78).

Page 232: Fisiologia Articular - Volume 3

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 237

Fig.5-78

Fig.5-80

Fig.5-79

Fig.5-81

Page 233: Fisiologia Articular - Volume 3

238 FISIOLOGIA ARTICULAR

AÇÃO ROTATÓRIA DOS MÚSCULOS SUBOCCIPITAIS

Além das suas ações de extensão e de incli­nação, os músculos suboccipitais estão dotadosde uma ação rotadora sobre a cabeça.

Considerando em primeiro lugar o nível su­boccipital, isto é, a articulação atlantooccipi­tal. Em vista inferior (fig. 5-82), pode-se ver ni­tidamente que a contração do músculo oblíquointerno (4) determina uma rotação da cabeça de10 graus para o lado oposto da sua contração;no exemplo que está ilustrado aqui, a contraçãodo oblíquo interno esquerdo provoca a rotaçãoda cabeça para a direita; neste caso pode-se ob­servar como o oblíquo interno direito (4') e ooblíquo interno posterior (2) entram em tensãopassivamente, de modo que eles asseguram o re­tomo da cabeça até a posição neutra.

Considerando agora o nível subjacente, oda articulação atlantoaxial. Em vista inferior(fig. 5-83), o áxis aparece em claro sobre oatlas em cinza. Pode-se constatar que a contra­ção dos músculos reto posterior maior (1) eoblíquo externo (3) determinam uma rotaçãoda cabeça de cerca de 12 graus para o lado da

sua contração. No exemplo que está ilustradoaqui, a contração do reto anterior maior direito(1) determina uma rotação da cabeça para a di­reita, na atlantooccipital e a atlantoaxial aomesmo tempo. Neste caso, o reto maior esquer­do se alonga num comprimento a que assegurao retomo da cabeça até a sua posição neutra; acontração do oblíquo externo direito (3) deter­mina a rotação da cabeça para a direita na arti­culação atlantoaxial. Uma vista em perspectiva(fig. 5-84) mostra como a contração do retomaior do lado direito, que se estende diagonal­mente entre a espinhosa do áxis e a transversadireita do atlas, faz com que esta gire para a di­reita, ao mesmo tempo que alonga o reto maioresquerdo (fig. 5-83) num comprimento b (mús­culo de volta).

Uma vez assimiladas todas as ações dosmúsculos suboccipitais, se pode estudar a pági­na 214 para compreender melhor o seu papel naanulação dos componentes não desejados de in­clinação ou de rotação no percurso dos movi­mentos puros da cabeça.

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Fig.5-82

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 239

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Fig.5-83

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240 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS DA NUCA: O PRIMEIRO E O QUARTO PLANOS

o plano profundo dos músculos da nuca, ao ní­vel da coluna cervical superior, está constituído pelosmúsculos suboccipitais anteriormente descritos e nacoluna cervical inferior pelos mÚsculos transversoes­pinhosos. Dispostos contra o plano ósseo, na corredei­ra formada pelas apófises espinhosas, as lâminas e asapófises transversas, estes músculos estão formadospor lingÜetas musculares que cobrem uns aos outros,como sefossem telhas. Existe, a cada lado da linha dasespinhosas, um traÍ1sversoespinhoso que ocupa a corre­deira vertebral do áxis até o sacro. A disposição das lâ­minas musculares (fig. 5-85) foi interpretada de diver­sas maneiras por autores diferentes:

- na descrição clássica de Trolard, as fibrasmusculares que partem das apófises espin­hosas e das lâminas das quatro vértebrassuprajacentes convergem na apófise trans­versa da quinta vértebra: neste esquema (T),pode-se observar a disposição do primeirosistema laminar completo que termina nasexta apófise transversa cervical e cobre ossistemas laminares incompletos que con­vergem na quinta, quarta e terceira apófisestransversas cervicais;

- numa descrição mais recente de Winckler,os fascículos musculares têm uma disposi­ção inversa (W): da lâmina e da espinhosada vértebra mais cranial, partem quatro lin­güetas musculares que finalizam nas trans­versas das quatro vértebras subjacentes. Noesquema está representado o sistema lami­nar mais cranial que parte do áxis e que co­bre, mais ou menos, os sistemas laminaressubjacentes.

Estas duas concepções são duas formas diferen­tes de descrever uma mesma realidade, dependendo separtirmos da inserção superior ou da inferior. Seja co­mo for, como a direção das fibras musculares sempreé oblíqua para baixo, para fora e levemente para afrente, a contração do transversoespinhoso determina:

- quando é bilateral e simétrica, uma extensãoda coluna cervical e uma hiperlordose. Trata­se do músculo eretor da coluna cervical;

- quando é assimétrica ou unilateral, a exten­são, a inclinação para o lado da sua contra­ção e a rotação da coluna vertebral para olado oposto. Portanto, esta ação sobre a co­luna vertebral é semelhante ao do ECOM

sobre a cabeça. Assim sendo, o transver­soespinhoso é sinergista do ECOM, mas oprimeiro age de maneira segmentária em ca­da um dos níveis da coluna cervical, en­quanto o segundo, cujas fibras têm uma di­reção geral parecida com a do transversoes­pinhoso, age sobre toda a coluna cervical emcujas extremidades se insere, através de doisbraços de alavanca muito importantes.

O plano superficial dos músculos da nuca (fig.5-86) está constituído pelo trapézio (Tr), cujas fibras,dispostas em leque, partem de uma linha contínua queocupa, por um lado, o terço interno da linha curva su­perior do occipital e, por outro, as apófises espinhosasaté a décima torácica e o ligamento cervical posterior.A partir desta linha de inserção contínua, as fibrasmais craniais descendem obliquamente para baixo,para fora e para a frente e se fixam no terço externoda clavícula, no acrômio e na espinha da escápula.Deste modo, o contomo da parte inferior do pescoçoestá constituído pela curva envolvente das direçõessucessivas das fibras do trapézio. Este desempenhaum papel essencial na motricidade da cintura escapu­lar (ver volume I); mas quando toma a cintura esca­pular como ponto fixo, ele age de maneira importan­te sobre a coluna cervical e sobre a cabeça:

- a contração bilateral simétrica dos trapé­zios determina uma extensão da coluna cer­vical e da cabeça com acentuação da lordo­se cervical; quando esta extensão é contra­balançada pela ação dos antagonistas ante­riores da coluna cervical, o trapézio desem­penha uma função de suporte, estabilizandotoda a coluna cervical;

- a contração unilateral ou assimétrica do tra­pézio (fig. 5-87, vista torácica e contração dotrapézio esquerdo) determina uma extensãoda cabeça e da coluna cervical com hiperlor­dose, uma inclinação para o lado da contra­ção e uma rotação da cabeça para o ladooposto. O trapézio é sinergista do ECOM domesmo lado.

Na parte súpero-extema da nuca (fig. 5-86) apa­rece a extremidade superior do ECOM. Por conse­guinte, o conto mo extemo da parte superior da nu­ca está constituído pela curva envolvente das dife­rentes direções sucessivas das fibras musculares doECOM torcido sobre o seu eixo.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 241

Fig.5-86

Fig.5-85

Fig.5-87

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242 FISIOLOGIA ARTICULAR

OS MÚSCULOS DA NUCA: O SEGUNDO E O TERCEIRO PLANOS

Por debaixo do trapézio se encontra o terceiro planomuscular (fig. 5-88) constituído pelo esplênio e o angular.

O esplênio descende até a região torácica e se insere nasseis últimas espinhosas cervicais, o ligamento cervical poste­rior. as quatro primeiras espinhosas dorsais e o ligamento in­terespinhoso; as suas fibras se dirigem obliquamente para bai­xo. para fora e para a frente, enrolando-se nos músculos doplano profundo, para acabar com duas porções diferentes:

- uma porção cefálica que forma o esplênio da cabeça(9) e que se insere no occipital, por debaixo do ECOMna metade externa da linha curva occipital superior esobre a mastóide. Ela recobre de maneira incompletaos dois complexos, que se localizam no triângulo for­mado pela margem interna dos dois esplênios;

- uma porção cervical que forma o esplênio do pesco­ço (10) que está representado no lado esquerdo nassuas conexões com o esplênio da cabeça, e no ladodireito está isolado para mostrar como ele se enrolasobre si mesmo, e as lingüetas terminais que se inse­rem sobre as apófises transversas do atlas, do áxis eda terceira cervical.

A contração bilateral e simétrica do esplênio determinauma extensão da cabeça e da coluna vertebral com hiperlordose.

A contração assimétrica ou unilateral do esplênio de­termina uma extensão, uma inclinação e uma rotação para olado da sua contração, isto é, no sentido do movimento unívo­C(J da coluna cervical inferior.

O angular da escápula (l2) se localiza por fora do es­p/<inio do pescoço e possui com ele inserções superiores co­mc:ns sobre as apófises transversas das quatro primeiras cervi­cais. O seu corpo muscular plano se enrola, graças ao mesmoI/W';imento que o do esplênio, apesar de ele se separar rapida­mente para dirigir-se obliquamente para baixo e levemente pa­ra fora e fixar-se sobre a escápula. Quando o angular toma acoluna cervical como ponto fixo, ele determina uma elevaçãoda escápula (ver volume I). Pelo contrário, quando a escápulaestá fixa, ele se converte em motor da coluna cervical.

A sua contração bilateral e simétrica determina uma ex­tensão da coluna cervical com hiperlordose. Quando os anta­gonistas não deixam que esta extensão aconteça, ele age comosuporte, estabilizando lateralmente a coluna cervical.

A sua contração unilateral ou assimétrica provoca, co­mo no caso do esplênio do pescoço, uma extensão com incli­nação e rotação para o lado da sua contração e, portanto, nosentido do movimento unívoco da coluna cervical inferior.

O segundo plano muscular, situado diretamente sobreo plano mais profundo (fig. 5-89), está constituído pelos doiscomplexos e pelo torácico longo, o transverso do pescoço e apane superior da massa lombossacra.

O complexo maior (7), situado imediatamente por forada linha média, forma uma banda muscular vertical, interrom­

pida por uma intersecção aponeurótica que lhe valeu o nomede "digástrico da nuca". O complexo maior se fixa por baixo

nas transversas das seis primeiras vértebras torácicas, na basedas transversas das quatro últimas cervicais e nas espinhosasda sétima cervical e da primeira torácica. O seu corpo muscu­lar, grosso e arredondado, recobre o transverso e termina depreencher a corredeira vertebral, ele está separado do seu ho­mólogo pelo ligamento cervical posterior. Os dois esplênios seencaixam na convexidade do complexo maior e este finaliza naescama occipital, por fora da crista occipital externa eentre asduas linhas curvas.

A contração simétrica e bilateral do complexo maiordetermina a extensão da cabeça e da coluna cervical com hi­perlordose; a sua contração assimétrica ou unilateral deter­mina uma extensão da cabeça associada a uma leve inclina­ção para o lado da sua contração.

O complexo menor (8), situado por fora do complexomaior, longo e fino, se dirige para cima e levemente para fora,fixando-se por baixo na base das transversas das quatro últimascervicais e da primeira torácica e, por cima, no vértice e mar­gem posterior da mastóide. O seu corpo muscular está torcidosobre si mesmo, visto que as suas fibras mais caudais tenninamsendo as mais internas por cima, enquanto as mais craniais naorigem cervical são as mais externas sobre a mastóide.

A sua contração bilateral e simétrica determina a ex­tensão da cabeça; quando esta extensão está contrabalança­da pela ação dos antagonistas anteriores, o complexo menorestabiliza lateralmente a cabeça, como se fosse um cabo desuporte invertido.

A sua contração unilateral ou assimétrica determina aextensão associada com a inclinação do mesmo lado. maisacentuada que no complexo maior e, além disso, uma rotaçãohomóloga.

O transverso do pescoço (lI), longo e fino, está situa­do por fora do complexo menor e se insere sobre o vértice dascinco últimas transversas cervicais e, por baixo, no vértice dastransversas das cinco primeiras dorsais. As fibras mais internassão as mais curtas entre C, e D,. As externas são as mais lon­gas e unem C, a D,.

A contração simétrica dos dois transversos detennina aextensão da coluna cervical inferior. Quando esta extensão es­tá contrabalançada pela ação dos antagonistas, os transversosagem como suporte.

A contração unilateral ou assimétrica de um transversodetermina uma extensão e uma inclinação homolateral.

O torácico longo forma parte dos músculos da nucapelas suas inserções mais craniais sobre as últimas transver­sas cervicais. Por outro lado, ele está mais ou menos confun­dido com a porção cervical do músculo sacrolombar (lI')que se origina na margem superior das seis primeiras coste­las, finaliza junto com o transverso do pescoço no tubérculoposterior das cinco últimas transversas. As suas ações são pa­recidas com as do transverso; além disso, a porção cervicaldo sacrolombar desempenha a função de suporte muscular dacoluna cervical inferior e de elevador das seis primeiras cos­telas (ver pág. 150).

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 243

Fig.5-89

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244 FISIOLOGIA ARTICULAR

A EXTENSÃO DA COLUNA CERVICAL PELOS MÚSCULOS DA NUCA

Todos os músculos da nuca são extensores

da coluna cervical e da cabeça, mas, dependen­do da sua disposição, eles podem ser classifica­dos em três grupos: o primeiro grupo (fig. 5­90) contém todos os músculos que se inserem nacoluna cervical na altura das apófises transver­sas e que se dirigem obliquamente para baixo epara trás até a região torácica; se trata de:

- o esplênio do pescoço (10);

- o transverso do pescoço e a porção cer-vical do sacrolombar (11);

- o angular da escápula (12).

Estes músculos são extensores da colunacervical e aumentam a sua lordose; a sua contra­ção unilateral determina, além disso, a inclinaçãoe a rotação para o lado da sua contração; eles sãoos mlÍsculos motores do movimento unívoco da

coluna cervical inferior (ver pág. 214).

O segundo grupo (fig. 5-91) compreendeos músculos de direção oblíqua para baixo epara a frente:

- por um lado, o transversoespinhoso (5),músculo próprio da coluna cervical infe­nor;

- por outro, os músculos que unem o oc­cipital com a coluna cervical inferior: ocomplexo maior (7), o complexo menor(8), o esplênio da cabeça, que apesar denão estar representado neste esquema,forma parte deste grupo;

- por último, os músculos suboccipitaisnão representados neste esquema (verpágs. 234, 236 e 238).

Todos estes músculos estendem a colunacervical, aumentam a sua lordose e estendem a

cabeça sobre a. coluna cervical devido às suasinserções diretas no occipital.

Finalmente, um terceiro grupo de músculosq~e passam como se fossem uma ponte por cimada coluna cervical, onde não tomam nenhuma in-

serção. Deste modo, eles unem diretamente ooccipital e a mastóide com a cintura escapular.Trata-se de:

- por um lado, o trapézio (fig. 5-91, 15);

- por outro, o ECOM (fig. 5-92), sistemadiagonal que cruza a direção da colunacervical e cuja contração bilateral e simé­trica tem três conseqüências: a extensãoda cabeça sobre a coluna cervical (1), aflexão da coluna cervical sobre a colunatorácica (2), e a extensão da coluna cervi­cal sobre si mesma, com hiperlordose (3).

A estática da coluna cervical sobre o pla­no sagital (fig. 5-93) depende de um equilíbriodinâmico permanente entre:

- por um lado, a ação extensora dos mlÍs­culos da nuca: esplênio (E), transversodo pescoço, sacro lombar e torácico lon­go (TL) e trapézio (Tr). Todos eles for­mam cordas parciais ou totais na conca­vidade da lordose cervical;

- por outro, os músculos anteriores e ân­tero-externos:

• o longo do pescoço (lp), que é fiexore retificador da lordose cervical;

• os escalenos (ES) que fiexionan a co­luna cervical sobre a coluna torácica,apesar de ter a tendência de causaruma hiperlordose cervical se a suaação não estiver compensada pelolongo do pescoço e pelos músculossupra- e infra-hióides (ver figo5-73).

A contração simultânea de todos estes gru­pos musculares determina uma retificação da co­luna cervical na sua posição média. Deste modo,estes músculos se comportam como se fossemcabos de suporte situados no plano sagital e nosplanos oblíquos; eles desempenham um papelprimordial no equilíbrio da cabeça e no trans­porte de cargas sobre ela.

Page 240: Fisiologia Articular - Volume 3

Fig.5-90

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 245

Fig.5-91

Fig.5-92

~x.

Tr

DL

Fig.5-93

Page 241: Fisiologia Articular - Volume 3

246 FISIOLOGIA ARTICULAR

SINERGIA-ANTAGONISMO DOS lVIÚSCULOS PRÉ- VERTEBRAISE DO ESTERNOCLEIDOlVIASTÓIDEO

Como já vimos anteriormente (fig. 5-92), osestemocleidomastóideos não podem, quando secontraem de maneira isolada, agir eficazmente pa­ra manter o equilíbrio da cabeça e a estática da co­luna cervical. Para isto, a ajuda dos músculos si­nergistas-antagonistas é necessária, e que eles pre­viamente tenham realizado o movimento de retifi­

cação da lordosecervical (fig. 5-94). Trata-se de:

- essencialmente, o longo do pescoço(Lp), situado imediatamente pela frentedos corpos vertebrais;

- os músculos flexores da cabeça sobre acoluna cervical (fig. 5-95) situados nonível suboccipital: retos anterioresmaior e menor da cabeça e reto lateral;

- por outro lado, os músculos supra- e in­fra-hióideos agem a distância sobre um

grande braço de alavanca situado pelafrente da coluna cervical, com a condi­ção de que a contração dos músculosmastigatórios esteja bloqueando o maxi­lar inferior sobre o maxilar superior.

A partir do momento em que a coluna cer­vical se retifica, a lordose retificada (fig. 5-96) ea extensão da cabeça sobre a coluna cervicalimpedida pelos músculos suboccipitais anterio­res e os supra- e infra-hióideos, a contração si­multânea dos dois ECOM (fig. 5-97) determinaaflexão da coluna cervical sobre a coluna torá­cica. Portanto, existem relações de antagonis­mo-sinergia entre os ECOM por um lado e, poroutro, os músculos pré-vertebrais, seja em con­tato com a coluna vertebral, seja a distância pe­la frente da coluna.

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Fig.5-96

Fig.5-97

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 247

Fig.5-94

Fig.5-95

Page 243: Fisiologia Articular - Volume 3

248 FISIOLOGIA ARTICULAR

AS AMPLITUDES GLOBAIS DA COLUNA CERVICAL

Como as amplitudes da coluna cervical po­dem ser medidas de forma prática? No caso daflexão-extensão e da inclinação, a medida podeser realizada, de forma precisa, por meio de ra­diografias de perfil e de frente, mas no caso dasrotações isto é muito mais difícil.

Pontos de referência exteriores também po­dem ser utilizados. Na flexão-extensão (fig. 5­98), o ponto de referência é o plano mastigató­rio, que, em posição neutra, é horizontal. Por­tanto, a extensão será o ângulo aberto por cima,formado pelo plano mastigatório e a horizontal,a flexão será o ângulo aberto por baixo, entre oplano mastigatório e a horizontal. As amplitudesjá foram -definidas anteriormente.

Para medir a inclinação (fig. 5-100), to­maremos o ângulo formado por duas linhas,por um lado, a linha das clavículas e, por ou­tro, a linha dos olhos.

Uma medida mais exata da flexão-extensão e

da inclinação pode ser conseguida, utilizando-seum goniômetro de bolha que se fixará no crânio,seja no plano sagital para medir a flexão-extensão,seja no plano frontal para medir a inclinação.

A medida da rotação da cabeça e do pes­coço (fig. 5-99) pode ser realizada com o indi­víduo sentado numa cadeira e imobilizando-se

corretamente a sua cintura escapular. Então, setomará como referência a linha dos ombros, e arotação será medida seja pelo ângulo (R) for­mado por esta linha de referência e o planofrontal que passa pelas orelhas, seja pelo ângu­lo (ROT) formado pelo plano sagital da cabeçacom o plano sagital do corpo. Pode-se realizaruma medida mais precisa com o indivíduo emdecúbito supino sobre um plano duro e hori­zontal, com um goniômetro de bolha fixo natesta no plano transversal.

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Fig.5-98

Fig. 5-100

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 249

Fig.5-99

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250 FISIOLOGIA ARTICULAR

RELAÇÕES ENTRE O EIXO NERVOSO E A COLUNA CERVICAL

o sistema nervoso cérebro-espinhal está den­tro da caixa craniana e do canal raquidiano. Na co­luna cervical, o canal raquidiano protege o bulbo,que sai do crânio pelo forame magno, e a medulacervical, que emite as raízes do plexo cervical e doplexo braquial. Portanto, o bulbo e a medula cer­vical realizam relações estreitas com elementosmuito móveis da coluna cervical, principalmenteno nível da coluna suboccipital numa zona detransição mecânica muito específica (fig. 5-101).De fato, desde a sua saída pelo forame magno, obulbo, prolongado pela medula (M), se situa portrás e entre os dois côndilos occipitais, que cons­tituem, neste nível, os dois pontos de apoio do crâ­nio sobre a coluna cervical. Porém, entre os côn­dilos occipitais e a terceira vértebra cervical, oatlas e o áxis vão distribuir o peso da cabeça entretrês colunas, suportado em princípio por duas co­lunas (C e C'). Estas três colunas, que se prolon­gam ao longo de toda a coluna vertebral, são:

- a coluna principal dos corpos vertebrais(CV), situada pela frente da medula;

- e das duas pequenas colunas lateraisdas apófises articulares (A e A'), situa­das em ambos os lados da medula.

A divisão das linhas de força se realiza nonível do áxis, que, deste modo, representa umverdadeiro distribuidor de forças entre o crânioe o atlas, por um lado, e o resto da coluna cervi­cal, por outro. De fato (fig. 5-102), as forças quesuportam cada um dos côndilos occipitais (CC)se dividem em dois grupos:

- por um lado, para a frente e para dentro,as principais forças estáticas caem so­bre os corpos vertebrais (CV) atravésdo corpo do áxis;

- por outro, as forças dinâmicas caem so­bre a coluna das articulares (A), para tráse para fora, através do pedículo vertebraldo áxis e da apófise articular inferior si­tuada debaixo do arco posterior do áxis.

Portanto, esta zona suboccipital representa,ao mesmo tempo, o pivô, o ponto mais móvel dacoluna cervical, e o lugar mais solicitado meca-

nicamente. O que equivale a reconhecer a im­portância dos elementos de união ligamentar edos fatores ósseos de estabilidade, dos que oprincipal é a apófise odontóide; urna fratura dabase da apófise odontóide produz urna instabili­dade completa do atlas sobre o áxis, que podebascular para trás, ou o que é pior, para a frente,provocando uma verdadeira luxação anterior doatlas sobre o áxis com a conseguinte compressãodo bulbo e morte imediata.

Outro elemento muito importante da esta­bilidade do atlas sobre o áxis é o ligamentotransverso. A sua ruptura provoca a luxação an­terior do atlas sobre o áxis, permanecendo a apó­fise odontóide no seu lugar e comprimindo e le­sando gravemente o bulbo. Novamente a mortesúbita acontece. Contudo, as rupturas do liga­mento transverso não são tão freqüentes quantoas fraturas da apófise odontóide.

No nível cervical inferior, o ponto maissolicitado se localiza entre Cs e C6• É neste nívelonde mais freqüentemente se produzem as luxa­ções anteriores de Cs e C6, com as articulares in­feriores de Cs enganchadas nas articulares supe­riores de C6 (fig. 5-103). Nesta posição, a medu­la está comprimida entre o arco posterior de Cs

e o ângulo póstero-superior do corpo de C6• De­pendendo do nível, a compressão medular pro­voca uma paraplegia ou uma tetraplegia, que po­de ser rapidamente mortal.

É óbvio, que todas estas lesões que criamuma grande instabilidade na coluna vertebral po­dem ser agravadas por manipulações inadequa­das durante o manejo e transporte dos feridos e,principalmente, se pode entender que qualquermovimento de flexão da coluna cervical e de fle­xão da cabeça sobre a coluna cervical pode piorara compressão do bulbo ou da medula. Portanto,quando se levanta um ferido de acidente de tráfe­go, por exemplo, urna das pessoas que está aju­dando deve desempenhar corno única e primor­dial tarefa manter a cabeça no eixo da colunavertebral, assim corno a estender levemente paraevitar os deslocamentos de urna eventual fratura,seja no nível occipital ou por debaixo dele.

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Fig.5-101

Fig.5-103

3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 251

Fig.5-102

Page 247: Fisiologia Articular - Volume 3

252 FISIOLOGIA ARTICULAR

RELAÇÕES ENTRE AS RAÍZES CERVICAIS E A COLUNA VERTEBRAL

Acabamos de ver as importantes relaçõesentre a coluna cervical e o bulbo e a medula.

De cada nível da coluna cervical saem asraízes dos nervos cervicais pelos forames inter­vertebrais. Estas raízes podem estar afetadas porprocessos patológicos (fig. 5-104): as hérnias dis­cais são raras na coluna cervical; a sua saída pós­tero-lateral (seta 1) está dificultada pela presençadas apófises unciformes de tal modo que, quandoexistem, elas estão muito mais próximas da linhamédia (seta 2) que na região lombar, razão porque podem provocar compressões medulares.

Contudo, o processo de compressão maisfreqüente na coluna cervical é devido à artrosedas articulações uncovertebrais (seta 3).

De fato, uma vista de perfil (fig. 5-105)mostra as relações estreitas das raízes cervi-

I .~-

cais saindo dos farames intervertebrais com as

articulações interapofisárias par trás e com asarticulações uncovertebrais pela frente. Quan­do o processo da artrose cervical se inicia (par­te inferior da figura), se podem apreciar os bi­cos osteofíticos na parte anterior dos platôsvertebrais e principalmente nas projeções ra­diológicas oblíquas, as vegetações osteofíticasque partem das articulações uncovertebrais eformam uma proeminência na área do forameintervertebral. Assim, os osteófitos avançampor trás a partir da articulação interapofisáriae a raiz cervical pode ser comprimida entre ososteófitos anteriores que têm o ponto de parti­da uncovertebral e os osteófitos posteriores deponto de partida articular. Deste modo se podeexplicar a sintomatologia radicular das artro­ses CerVICaIS.

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3. TRONCO E COLUNA VERTEBRAL 253

Fig.5-104

Fig.5-105

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