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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

PROGRAMA MESTRADO NACIONAL PROFISSIONAL EMENSINO DE FÍSICA � POLO UFABC

Física na prática: produção de vídeosexplorando a Física Básica através de

aparelhos do cotidiano

João Rodrigo Escalari Quintiliano

Dissertação apresentada ao programa Mestrado Naci-onal Pro�ssional em Ensino de Física � MNPEF, PoloUniversidade Federal do ABC, como parte dos requi-sitos para a obtenção do título de Mestre em Ensinode Física.

Orientador: Prof. Dr. José Kenichi Mizukoshi

Santo André, dezembro de 2017

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃOFundação Universidade Federal do ABCPrograma de Pós-Graduação em Mestrado Nacional Profissional emEnsino de FísicaAvenida dos Estados, 5001 - Bairro Santa Tereziúa - Santo André - SPCEP 09210-580 . Fone: (11) 4996-0017ppg.mnpef@ufabc. edu.br

FOLHA DE ASSINATURAS

Assinaturas dos membros da Banca Examinadora que avaliou e aprovou a Defesa de Dissertaçãode Mestrado do candidato João Rodrigo ari Quintiliano,realizada em 30 de agosto de20ll:

Prof.(a) Dr.(a) Kenichi Mizukoshi (Universidade Federal do ABC) - Presidente

L L- t>-Prof.(a) Dr.(a) Rui Manoel de Bastos Vieira (Universidade Federal de São Paulo) - Membro

Titular

Prof.(a) Dr.(a) Letície Mendonça Ferreira (Universidade Federal do ABC) - Membro Suplente

Prof.(a) Dr.(a) Rebeca Vilas Boas Cardoso de Oliveira (Instituto Federal de São Paulo) -Membro Suplente

Prof.(a) Dr.(a) Regina iko Murakami (Universidade Federal do ABC) - Membro Titular

&, Universidade Federal do ABC

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Resumo

Física na prática: produção de vídeos explorando a Física Básica

através de aparelhos do cotidiano

João Rodrigo Escalari Quintiliano

Orientador: Prof. Dr. José Kenichi Mizukoshi

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação Mestrado Nacio-

nal Pro�ssional em Ensino de Física � MNPEF, Polo Universidade Federal do ABC, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ensino de Física.

Quando discutimos a problemática do ensino da Física no Brasil, um dos fatores que

contribuem com o fracassso na aprendizagem é o desinteresse dos alunos por esta disci-

plina. É bem possível que isso ocorra por falta de estímulos aos alunos, visto que muitas

vezes a Física é vista como uma disciplina onde se tem fórmulas decoradas que devem

ser usadas para resolver problemas arti�ciais, de forma a prepará-los para o vestibulares.

Na tentativa de contribuir para a melhoria desse cenário, criamos vídeos que exploram

a Física presente em aparelhos do cotidiano. É uma proposta que, embora tímida, se

trabalhada corretamente pode trazer benefícios signi�cativos às aulas de Física. Pautada

na teorica de aprendizagem de Ausubel e necessidade de se trazer novas ferramentas tec-

nológicas para o ensino, procurou-se desenvolver um objeto potencialmente signi�cativo

para os alunos, que pudesse aproximar a Física dos alunos. Através desses vídeos, con-

ceitos físicos podem ser discutidos de forma clara, objetiva e prática, complementando

o conteúdo trabalhado em sala de aula, deixando-o menos abstrato. Utilizando-se uma

linguagem jovial e descontraída, os vídeos estão disponibilizados num canal do Youtube,

o que faz com que o acesso a eles seja bastante fácil, mesmo em escolas com limitados

recursos tecnológicos e de informática.

Palavras-chave: Produção de vídeos; Ensino de Física, Física na Prática.

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Abstract

Physics in practice: production of videos exploring the Basic

Physics through everyday appliances

João Rodrigo Escalari Quintiliano

Supervisor: Prof. Dr. José Kenichi Mizukoshi

Abstract of master's dissertation submitted to Programa de Pós-Graduação Mestrado

Nacional Pro�ssional em Ensino de Física � MNPEF, Polo Universidade Federal do ABC,

in partial ful�llment of the requirements for the degree of Master in Physics Teaching.

When we discuss problems in teaching physics in Brazil, one of the factors that con-

tribute to the failure in learning is the students' lack of interest in this discipline. It

is quite possible that this occurs due to the de�cit of stimulus to the students, since

many times the Physics is seen as a discipline where the memorized formulas must be

used to solve arti�cial problems, with the purpose to prepare the students for the college

entrance examination. In an attempt to contribute to the change in this scenario, we

create videos that explore the Physics present in the everyday appliances. It is a propo-

sal that, although seems modest, could bring signi�cant bene�ts to the Physics classes,

provided that they are correctly used. Based on the learning theory of Ausubel and the

necessity to bring new technological tools for teaching, we attempted to develop a po-

tentially meaningful teaching object to the students, that is able to bring Physics closer

to them. Through these videos, Physics concepts can be discussed in a clear, objective

and practice ways, complementing the contents worked in the classroom, by making those

concepts less abstract. Using a youthful and casual language, the videos are available on

a Youtube channel, which makes the access to them quite easy, even in schools with a

limited resources in technology and computers.

Keywords: Video Productions; Physics Teaching; Physics in Practice.

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Dedico esta dissertação a todos que me apoiaram e estiveram co-

migo durante essa caminhada.

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Agradecimentos

Agradeço a elaboração e aplicação desse trabalho às muitas pessoas que se envolveram

e me apoiaram durante sua criação.

Em especial, preciso agradecer ao meu orientador, Prof. Dr. José Kenichi Mizukoshi,

que com brilhantismo conduziu a orientação das etapas com perfeição. Nos momentos de

di�culdades, soube ser calmo e preciso. Agradeço por sua dedicação aos ensinamentos e

inúmeras discussões onde tive a oportunidade de aprender muito sobre Física.

Agredeço igualmente à instituição Faculdades Oswaldo Cruz - FOC, nas �guras do

Prof. Antônio Dell Priore Filho, diretor da Escola Superior de Química - ESQ, que

permitiu utilizarmos as dependências dos laboratórios de Física para as gravações dos

vídeos e do Prof. Ms. Alexandre de Paula Mora, diretor da Faculdade de Comunicação e

Desing - FCD, que �rmou uma parceiria conosco e gentilmente colocou à nossa disposição

toda uma equipe de pro�ssionais para nos atender no que fosse preciso.

Ao Prof. Julio Marcionilio da Silva, coordenador do Curso de Publicidade e Propa-

ganda da FCD, que disponibilizou seu tempo e conhecimento técnico para nos orientar

quanto à forma de execução desse projeto, no que tange o formato de gravação. Obrigado

por toda ajuda; sem seus conhecimentos técnicos de gravação e formas de linguagem para

redes sociais, não conseguiríamos desenvolver os roteiros de gravação.

Ao cinegra�sta e editor da FCD, Ismael da Silva Mendes Junior, que com toda dedi-

cação e paciência, passou suas tardes e algumas noites fazendos as tomadas de vídeos e

as edições necessárias para que o produto �casse pronto. Além de acertar a luz, posicio-

namento de cameras, postura dos atores, cortes de edição, entre todas as outras funções

que desempenhou, você com certeza foi fundamental para elaboração desse projeto.

Aos alunos Gabriel Aubert Costa e Eduarda So�a Souza Consoli Santana, agradeço

muito o empenho e dedicação de vocês que tornaram possível a existência dos vídeos.

Obrigado pelos quase 3 meses de gravação e empenho para decorar textos muitas vezes

desconhecidos de vocês.

Obrigado a todos os colegas do Programa que trilharam comigo essa jornada, aos meus

familiares e à minha companheira Ingrid, que contribuíram de certa forma para que não

desanimasse e tivesse forças para continuar até aqui.

Finalmente, agradeço pela oportunidade de ter participado do Programa Mestrado

Nacional Pro�ssional em Ensino de Física - Polo Univesidade Federal do ABC, onde muito

mais que o título de Mestre, tive a oportunidade de crescer pro�ssionalmente. Através do

Programa, me tornei um pro�ssional melhor � minhas aulas melhoraram e saio sabendo

muito mais Física do que quando entrei.

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Índice

1 Introdução 7

2 O produto educacional 11

2.1 Panorama e perspectivas do Ensino de Física no Brasil . . . . . . . . . . . 11

2.2 O uso de recursos multimídias na educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

2.3 O Produto educional: vídeos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

3 Referencial teórico 18

3.1 A teoria da aprendizagem signi�cativa de Ausubel . . . . . . . . . . . . . . 18

3.2 Aprendizagem signi�cativa e o produto educacional . . . . . . . . . . . . . 20

4 Desenvolvimento do produto educacional 23

4.1 O produto educacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

4.2 A Física do Produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

4.2.1 O ferro de passar roupas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

4.2.2 O carregador de celular sem �o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

4.2.3 O balizador de jardim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

4.3 A Elaboração do Produto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

4.3.1 O desenvolvimento da ideia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

4.3.2 A gravação dos vídeos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

4.4 Os vídeos no canal �Física na Prática� do Youtube . . . . . . . . . . . . . . 38

5 Aplicação do produto 40

5.0.1 Aplicação da Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

6 Conclusões 52

A Autorização do uso da imagem 55

B Roteiros dos Vídeos 57

B.1 Objetivo, descrição e formato dos vídeos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

B.2 Roteiros originais dos vídeos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

B.2.1 Roteiro do vídeo �O ferro de passar roupas� . . . . . . . . . . . . . 58

v

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B.2.2 Roteiro do vídeo �O carregador sem �o� . . . . . . . . . . . . . . . 63

B.2.3 Roteiro de vídeo �O balizador de jardim� . . . . . . . . . . . . . . . 67

vi

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Capítulo 1

Introdução

Ensinar Física sempre foi um grande desa�o em todos os níveis de ensino. Particular-

mente no ensino médio, esse desa�o parece se potencializar. Essa problemática é objeto

de pesquisa em quase todos os grupos de pós-graduação sobre ensino de Física, isso para

não mencionarmos as preocupações e as discussões docentes nas inúmeras salas de aula

espalhadas pelo país.

Segundo o censo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira (INEP) de 2016 [1], o país possuía 8,1 milhões de matrículas no ensino médio,

sendo 87,5% delas em instituições públicas, com as redes estaduais sendo responsáveis por

84,8% de matrículas nesta etapa de ensino.

Ainda de acordo com esse censo, se analisarmos somente os números sem entrar em

detalhes, as instituições de ensino médio fornecem uma infraestrutura razoável: 89,5%

dos alunos matriculados possuem laboratório de informática; 96,5% deles têm acesso à

internet no ambiente escolar; 91,2% estudam em escolas com biblioteca ou sala de leitura.

Embora em menor número, 57,4% deles têm acesso a um laboratório de Ciências.

Apesar desses indicadores positivos, diversas avaliações de desempenho dos alunos

mostram que estamos muito mal. Uma grande parcela dos nossos alunos não consegue

atingir o mínimo do patamar de conhecimento exigido. Particularmente, foi pí�o o de-

sempenho dos nossos alunos no exame de 2015 do Programa Internacional de Avaliação

de Estudantes (PISA, na sigla em ingês), coordenado pela Organização para Cooperação

e Desenvolvimento Econômico (OCDE) [2].

O PISA avalia competências em Ciências, leitura e matemática a alunos de 15 anos

de idade. Na edição de 2015, cuja ênfase de avaliação foi dada a Ciências, participaram

70 países, sendo 35 deles membros da OCDE e 35 países/economias parceiras.

Com 401 pontos atingidos em Ciências, o país aparece na 63a posição e o desempenho

não foi muito diferente nas outras duas competências. Ademais, não apresentou evolução

signi�cativa em relação às três edições anteriores (2006, 2009 e 2012).

Em termos absolutos, numa escala que vai até 6, 56,6% dos alunos brasileiros estão

abaixo do nível 2 (mínimo desejável), enquanto que nos países do OCDE, o número é de

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20%. Na outra extremidade, pí�os 0,67% atingem os níveis 5 ou 6, enquanto nos países

da OCDE, é de 6,67%. Esse número chega a incríveis 24.2% para a Cingapura, o país no

topo do ranking.

Dos estudantes de 15 anos elegíveis no Brasil (os que estavam matriculados a partir do

7o ano), 77,7% deles estavam matriculados no ensino médio, sendo que as redes estaduais

respondiam com 73,8% das matrículas. Grosseiramente, a grande parcela se encontra

dentro do per�l do censo para o ensino médio apresentando acima.

Se olharmos para o desempenho por tipo de instituição, alunos de instituições federais

possuem os melhores desempenhos, com 517 pontos, seguidos pelos de redes particulares,

com 487 pontos, estaduais, com 394 e os municipais, com 329 pontos. Os resultados

apresentados comprovam o que a muito se sabe sobre o ensino no Brasil � há um enorme

gap de formação entre alunos da rede particular e as estaduais. Se levássemos em conta

somente o desempenho da primeira, saltaríamos para a 32a posição. Ainda assim, abaixo

da média dos países da OCDE.

Analisar em minúcias o resultado do PISA está além do escopo desta Dissertação. No

entanto, vale a pena observar que pelos dados do censo, corroborado pelos dados presentes

no relatório de desempenho do PISA 2015, as instituições brasileiras apresentam uma

infraestrutura razoável, portanto há outros fatores mais relevantes para o fracasso dos

nossos alunos.

No caso da rede privada, questionamos o caráter demasiadamente pragmático do pro-

cesso de ensino�aprendizagem, cujo sucesso é medido pelo desempenho de seus alunos no

ENEM e nos vestibulares. A�nal, é comum ver anúncios na grande mídia de que com

muito orgulho o colégio X aprovou um número Y de alunos para a Universidade Z ou que

está entre os primeiros no ranking do ENEM. Não se trata aqui de desmerecer o sucesso

dos alunos, mas apontar que esse sucesso pontual deveria vir de forma natural após uma

sólida formação acadêmica e não porque foram bem treinados em certas competências.

Quando voltamos os olhos para o ensino particular é notório que as escolas hoje dão

preferência ao sistema de ensino apostilado. Lellis [3], em seu artigo escrito para a Associ-

ação Brasileira dos Autores de Livros Educativos, traça um panorama interessante sobre

o avanço dos sistemas de ensino do gênero:

Atualmente, os sistemas de ensino privados chegam a manter con-

vênio com uma porcentagem bastante signi�cativa das escolas par-

ticulares de todo o país no nível fundamental e, no nível médio,

atingindo entre 40% e 60% dos estabelecimentos, além de terem

o monopólio da distribuição de material didático em várias redes

municipais de ensino. Tal material, originalmente um conjunto de

apostilas mal impressas, atingiu a qualidade grá�ca dos mais bem

produzidos livros didáticos. Os sistemas dispõem de ampla equipe de

marketing, possuem grá�cas, usam tecnologia avançada para pro-

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mover cursos e palestras, mantêm sob contrato autores de textos

didáticos e professores ou palestrantes que divulgam o material e

instruem o professorado adotante, além de contratarem �guras de

renome para ilustrar suas peças publicitárias.

Não há como o sistema apostilado por si só seja o responsável pelo distanciamento

dos alunos com algumas disciplinas, como Ciências. É possível que a combinação entre

uma imensa quantidade de conteúdos cobrados no Ensino Médio, o que muitas vezes não

corresponde ao número de aulas oferecidas semanalmente, e a pressão dos vestibulares

e o ENEM seja o responsável pela má formação dos alunos. Docentes da rede privada

precisam muitas vezes �correr� com o conteúdo na sala, pois são orientados a �ensinar�

todos os conceitos antes dos vestibulares e ENEM. Assim, a preocupação com o processo

de ensino�aprendizagem �ca em segundo plano. Quando o resultado do PISA passar a ser

um indicador relevante para atrair pais e alunos, é possível que a rede privada comece a

�treinar� os seus alunos para o exame do PISA, como ocorre hoje em relação às provas de

ingresso nas concorridas universidades brasilerias. Nessas instituições, as aulas não têm

espaço para a re�exão e acomodação dos conceitos abordados.

Diante desse cenário, vem a tona a necessidade de aproximarmos os alunos das dis-

ciplinas ou pelo menos, torná-las mais palpáveis, acessíveis e re�exivas. Para tanto, o

presente trabalho destinou-se a trazer uma singela contribuição, que até certo ponto se

apresenta como um complemento para o ensino da Física � um conjunto de três vídeos dis-

ponibilizados num canal do Youtube. Para tentar suprir a falta de tempo em desenvolver

todos os conceitos em sala, o nosso produto educacional lança mão do recurso tecnológico,

de forma que seja possível que alunos e professores o utilizem fora dos muros da escola.

Outra grande preocupação foi tentar adequar os vídeos com as novas políticas sobre o

ensino da Física no Brasil. Assim, os parâmetros curriculares nacionais PCNs [4] foram

os documentos que nortearam a elaboração do nosso produto.

A elaboração de vídeos para o ensino de Física é um recurso utilizado a muito tempo.

Porém, é na abordagem e na forma de utilização que se apresentam como novidades no

processo de ensino�aprendizagem da Física. A ideia foi utilizar aparelhos do cotidiano dos

alunos para apresentar os conceitos físicos e, desta forma, ir ao encontro com as de�nições

propostas na Base Comum Curricular de Física � BCC [5]. A de�nição de problemas,

proposta na BCC é de�nido através de três fatores: (i) observar o mundo à nossa volta e

fazer perguntas; (ii) analisar demandas, delinear problemas e planejar investigações; (iii)

propor hipóteses. Dos três apontamentos, os vídeos tem a intenção de se apronfundar

no primeiro. A�nal, a física surgiu e evoluiu a partir das observações da Natureza pelo

homem e as perguntas lançadas.

Além da preocupação em explorar a física ao nosso redor, o produto educacional foi

desenvolvido norteado pela teoria educacional de David Ausubel [6]. Dentre os fatores

que levaram a escolha desse teórico educacional, destacamos a ideia da Aprendizagem sig-

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ni�cativa. Criar um produto que fosse ao �nal potencialmente signi�cativo para os alunos

é a pretenção do trabalho. Quando conseguimos inserir para os alunos algo paupável e

que eles já possuam um conhecimento prévio, Ausubel nos diz que isso é potencialmente

signi�cativo e é a partir de então que a aprendizagem começa.

No que tange a elaboração desse produto, a Física é apresentada através de aparelhos

do cotidiano dos alunos de forma a utilizá-los como subsunçores [6] � em maior ou menor

grau, todos os alunos têm um conhecimento prévio sobre os aparelhos e/ou alguma noção

da física envolvida, não necessariamente conectados. Os vídeos têm o objetivo de modi�car

a forma de olhar o aparelho e a sua volta e questionar os princípios físicos por trás do

seu funcionamento. Para tirar um pouco a física da sala de aula, retirou-se em parte a

�gura do professor. O roteiro é baseado em alunos interessados em Física, que decidem

criar um Canal no Youtube para explicar como alguns aparelhos funcionam a partir dos

princípios físicos explorados no ensino médio.

Esta Dissertação, que documenta o processo de criação dos vídeos e os resultados

da sua avaliação por alunos do ensino médio, está dividida nos seguintes capítulos: no

Capítulo 2, apresentamos breves panorama e perspectiva do Ensino de Física no Brasil e

discutimos o uso dos recursos multimídias na educação. Fechamos o capítulo apresentando

o nosso produto educacional � um conjunto de três vídeos disponibilizados na plataforma

do Youtube.

No capítulo 3 apresentamos de forma suscinta a teoria de Ausubel, o referencial

teórico�pedagógico do nosso produto educacional, nos limitando somente à apresentação

dos elementos dessa teoria educacional relevantes às propostas da Dissertação.

No capítulo 4 apresentamos o nosso produto educacional de forma mais detalhada,

mostrando a elaboração dos roteiros dos vídeos, a Física abordada em cada um dos vídeos,

a escolha dos atores e os detalhes da gravação, como locais, pessoas envolvidas e parcerias,

além do processo de edição e sua dinâmica.

No capítulo 5 mostramos os resultados da pesquisa de avaliação dos vídeos realizados

junto aos alunos do ensino médio do Colégio da Polícia Militar � Osasco, onde o autor

desta Dissertação leciona Física.

Por �m, apresentamos as nossas conclusões no Capítulo 6, onde tecemos os nossos

comentários �nais acerca da produção e a avaliação dos vídeos, além do seu impacto no

processo de ensino�aprendizagem, apontando contribuições que o trabalho pode trazer

para a comunidade acadêmica.

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Capítulo 2

O produto educacional

2.1 Panorama e perspectivas do Ensino de Física no

Brasil

A produção acadêmica sobre o ensino e a aprendizagem de Física no Brasil hoje é bas-

tante visível e deve-se à existência de um número razoável de pesquisadores que se reúnem

em diversos grupos de pesquisa atuantes no país. Esses pesquisadores são responsáveis

pela organização e edição de revistas, pela criação e manutenção de eventos, projetos e

cursos de formação continuada, pela implantação de dezenas de cursos de pós-graduação

lato sensu e pelo consequente credenciamento junto aos órgãos normatizadores, princi-

palmente a partir do �nal da década de 90, de diversos programas de pós-graduação em

Educação em Ciências em nível stricto sensu.

Contudo, apesar de todo esforço de pesquisadores, docentes e universidades em todo

território nacional, vemos um panorama diferente no ensino médio brasileiro. Se pesqui-

samos tanto, produzimos tanto material, porque temos um ensino de Física no ensino

médio de�citário? Por que não conseguimos estimular os alunos a aprenderem a disci-

plina? Por que temos tantas reprovações e relatos de aversão à disciplina nos colégios

do Brasil? Podemos pensar que talvez seja culpa de docentes mal preparados? Ou de

alunos desinteressados? Moreira, destaca que é verdade que no ensino de Física Geral há,

pelo menos, uma conscientização do problema [7]. As di�culdades naturais de um ensino

massi�cado, a integração (ou desintegração) teoria e laboratório e o despreparo dos alunos

em Matemática têm gerado preocupações e ações visando à melhoria do ensino de Física

Geral 1.

Apesar de inúmeras iniciativas, o ensino atual de Física no Brasil, desde os níveis

Fundamental e Médio e até o nível universitário pode ser classi�cado, no mínimo, como

de�citário. Poucos alunos se interessam pela disciplina e muitos já chegam no ensino médio

1O Brasil obteve 66a posição no PISA 2015 [2], desempenho pior do que em Ciências. É alarmanteque 70,3% dos alunos brasileiros estão abaixo do nível 2, o patamar mínimo desejável pela OCDE.

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com aversão à Física. É possível que parte disto se deve à má formação em matemática,

mas também deve-se ao fato da forma como ela é ensinada. O ensino de Física é formatado,

sem espaço para discussões e para inserção de novas metodologias pedagógicas.

Em particular, nos grandes colégios privados do país, a formatação é imposta pelos

grandes vestibulares e mais recentemente pelo exame do ENEM. No intuito de recrutar

futuros alunos, essas instituições apostam, como propaganda, no sucesso de seus alunos

ao ingresso nas universidades públicas de excelência.

É nesse contexto mercadológico que se critica a forma como foi se estruturando o

ensino de Ciências ao longo dos anos, em particular a Física, um ensino pautado em

resolução de exercícios e de preparação para os exames de admissão no ensino superior.

No Brasil, é comum a percepção de que aprender Física é sinônimo de decorar macetes para

resolver exercícios que podem cair nos vestibulares. Neste ambiente escolar, o processo de

pensar e propor soluções é abafado mediante à necessidade dos estudantes passarem nos

vestibulares.

A tendência que temos de ter o ensino da Física voltado para vestibulares e ENEM,

onde os materiais, como livros e apostilas, estão repletos de exercícios e teoria, apresenta

para o aluno uma ciência acabada e polida. Segundo Souza [8], os autores de materiais

para o ensino médio estariam dando essa ênfase demasiada nos vestibulares, como forma

de mostrar a sua preocupação com o futuro do aluno.

Se �zermos uma análise dos trabalhos publicados em Ensino de Física, percebemos que

em sua maioria a preocupação é o aluno como objeto de estudo, o que pode ser con�rmado

através das pesquisas de Nardi, as quais a�rmam que o ensino de Física [9]2

�tem assumido o caráter de preparação para resolução de exercí-

cios de vestibular. Para esses autores, a situação é comprovada

ao observarmos o uso indiscriminado de livros e assemelhados re-

cheados de exercícios preparatórios para as provas de vestibular e

que, na sua essência, primam pela memorização e pelas soluções

algébricas, deixando de fora o contexto histórico, social e cultural

da Física. Além é claro do carácter investigativo e re�exivo da

disciplina. Uma vez formatada a disciplina em alicerces prontos e

imutáveis, �ca difícil discurtir a criação de hipóteses para resolu-

ção de problemas dos fenômenos naturais. Não que a resolução de

exercícios não seja importante, nem que ela não deva existir, mas

a problemática é que o ensino de Física não pode e não é pautada

somente nessa vertente.�

Se por um lado o ensino formatado de física garante o sucesso no vestibular e ENEM a

uma parcela de alunos, parece que essa metodologia vem distanciando um número elevado

2Trata-se de uma pesquisa publicada em 1998, mas ainda é consistente com a realidade atual.

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de alunos, fazendo com que eles percam interesse em Ciências. Talvez a maior prova dessa

a�rmação sejam os inúmeros documentos o�ciais como os PNC`s [4], que para mudar esse

formato, trazem uma visão diferente do ensino de Física.

Quando consultamos os documentos o�ciais, como os PCN+ [10], estes destacam que:

�A Física deve apresentar-se, portanto, como um conjunto de com-

petências especí�cas que permitam perceber e lidar com os fenô-

menos naturais e tecnológicos, presentes tanto no cotidiano mais

imediato quanto na compreensão do universo distante, a partir de

princípios, leis e modelos por ela construídos.�

No entanto, como docentes podem realizar o que o PCN+ preconiza para o ensino

da Física, se a maioria das escolas públicas possuem tempo de aula reduzido, falta de

professores capacitados e estrutura de�citária, enquanto a maioria das escolas privadas se

preocupam somente com o encaminhamento de seus alunos nas melhores universidades,

sem no entanto, oferecer uma base sólida?

Cumpre observar que, após o sucesso no processo seletivo concorrido, uma grande

parcela dos alunos que ingressam nas melhores universidades brasileiras em cursos nas

áreas de Ciências Exatas, coleciona fracassos em disciplinas como a Física Básica e Cálculo,

o que mostra que as escolas do ensino médio não os prepararam adequadamente para o

ensino superior.

Ao analisarmos o panorama educacional brasileiro, �ca claro que é urgente �rmarmos

uma base sólida de ensino de Ciências no país. Necessitamos amadurecer as ideias de

ensino de Física, mas não podemos deixar essa missão apenas para os grupos de pesquisa

espalhadas pelo país. Uma solução parcial é investir mais na formação de professores, para

que estes sejam capazes de colocar em prática o que é pedido pelos PCNEM e PCN+, e

mais recentemente na Base Nacional Comum Currícular (BNCC) [5] mesmo que tenham

ainda que cumprir a missão de ensinar macetes para que os alunos consigam resolver

exercícios que podem cair nos vestibulares.

Neste contexto, emerge em 2013 o Mestrado Nacional Pro�ssional em Ensino de Física

(MNPEF), o programa de pós-graduação do qual esta Dissertação é atrelada. Trata-se de

uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Física (SBF), com a execução a cabo de dezenas

de Polos espalhados pelo Brasil. De acordo com o site do MNPEF/SBF [11]

�O objetivo é capacitar em nível de mestrado uma fração muito

grande professores da Educação Básica quanto ao domínio de con-

teúdos de Física e de técnicas atuais de ensino para aplicação em

sala de aula como, por exemplo, estratégias que utilizam recursos

de mídia eletrônica, tecnológicos e/ou computacionais para moti-

vação, informação, experimentação e demonstrações de diferentes

fenômenos físicos.�

13

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Percebe-se que esta é uma iniciativa que vai de encontro com todos os documentos

o�ciais na tentativa de abranger a capacitação de professores em nível médio e propor-

cionar a inserção de novas metodologias e didáticas, no intuito de melhorar as aulas de

Física ministradas por todo o país. Acreditamos que o nosso produto educacional possui

formato e conteúdo que cumprem com os objetivos estabelecidos pelo programa.

2.2 O uso de recursos multimídias na educação

Nas Ciências, em geral, e na Física, em particular, vários conceitos requerem uma

certa abstração e torna-se difícil para os alunos trabalharem com eles, visto que além de

abstratos, muitas vezes não são intuitivos. Como a capacidade de abstração dos mais

jovens é frequentemente reduzida por falta de orientação adequada, poucos conseguem

fazer a conexão dos fenômenos físicos com a vida real [12]. Yamamoto e Bartela a�rmam

que [13]

�A utilização de programas de simulação possibilita ainda uma me-

lhor compreensão de certos fenômenos físicos na medida que torna

possível a inclusão de elementos grá�cose de animação em um mesmo

ambiente. Isto aliado ao interesse dos estudantes pelo microcompu-

tador, pode a princípio tornar mais e�ciente e agradável o processo

de ensino-aprendizagem.�

Além do caráter abstrato de alguns conceitos físicos, a di�culdade enfrentada no uso

da Matemática pode fazer com que os estudantes se sintam entediados ou desmotivados

por não possuírem expectativa no seu estudo [14]. Acredita-se ainda que o aluno tenha

di�culdade em interligar as equações utilizadas como modelo da realidade com a realidade

à sua volta, o que também di�culta a aprendizagem. Medeiros [14], ressalta os aspectos

positivos do uso de recursos de multimídia na educação:

�Apesar de todas as críticas, entretanto, há de admitir-se que boas

simulações, criteriosamente produzidas, existem e que os profes-

sores guardam uma expectativa muito grande do potencial de suas

utilizações.�

Para complementar as aulas tradicionais de quadro�negro e giz, devemos lançar mão

de outros recurso educacionais. De fato, O uso de vídeos, por exemplo, para o Ensino de

Ciências não é algo novo, nem mesmo pouco explorado. Contudo, este recurso é muitas

vezes mal utilizado pela maioria dos educadores nas salas de aulas do Brasil. Este recurso

pode muitas vezes contribuir de maneira positiva para o processo de ensino�aprendizagem,

como também, pode servir como grande desmotivador. Miranda Jr. [15] chama atenção

para a prática de utilização dos recursos digitais dentro da sala de aula:

14

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�A introdução da informática no ensino de Física deve servir como

ferramenta auxiliar na prática pedagógica, permitindo situações cri-

ativas em sala de aula, que favorecem a aprendizagem signi�cativa.

A tecnologia da informática oferece uma série de possíbilidades,

como internet, o correio eletrônico, hipertextos, animações, simu-

lações e ambientes de ensino que podem viabilizar um espaço de

ensino�aprendizagem mais e�ciente, motivador e envolvente.�

É sabido por muitos pesquisadores que o uso de vídeos, por exemplo, em aulas deve

vir acompanhado de planejamento e organização do docente. Porém, muitos professores

os utilizam sem uma prévia preparação e só para contabilizar o tempo dos vídeos como

atividade didática. O professor que se utiliza desse recurso de forma correta tem uma

excelente ferramenta em mão. Sartori e Ramos [16] a�rma que quando o professor trabalha

com vídeos em sala de aula para a apresentação de um fenômeno ou experimento, ele está

valorizando a experimentação dos conceitos e os aproximando do dia�a�dia dos alunos.

Com a popularização da internet e o fácil acesso a ela, principalmente através de

smartphones, os recursos visuais ganharam uma nova roupagem. Mais do que explorar

recursos de vídeos, o desenvolvimento tecnológico nas últimas duas décadas impulsionou

as plataformas multimídias, um recurso didático que combina, além de vídeos, imagens,

sons, textos e simulações interativas online, entre outros recursos.

Como exemplo ilustrativo de um recurso multimídia, podemos citar o simulador vir-

tual PhET [17] (sigla em inglês para Physics Education Technology), da Universidade

de Colorado, Estados Unidos. Concebido por C. Wieman, um prêmio Nobel em Física,

quando atuava nessa instituição, no início só havia simulações computacionais interativos

em fenômenos físicos. Atualmente, há simulações em diversas áreas, entre elas Biologia,

Química e Matemática.

Este tipo de recurso pode suprimir a carência de laboratórios. É sabido que a Física é

essencialmente uma Ciência experimental, mas poucas escolas de ensino básico no Brasil

possuem um laboratório de Física. Muito provavelmente a não exigência explícita desse

tipo de instalação, aliada a um elevado custeio para mantê-la devam ser as principais

razões. Embora simulações não podem e não devem substituir experimentos reais in

loco, pelo menos o aluno pode ter algum contato com determinados fenômenos físicos,

mostrando que física não é meramente resolver problemas de livros didáticos, apostilas,

ENEM e vestibulares.

Se corretamente utilizados, essas plataformas multimídias podem auxiliar nas estraté-

gias de ensino-aprendizagem, tornando-se objetos potencialmente signi�cativos, comple-

mentando a aula tradicional com quadro�negro e giz. Essas plataformas, além de fornecer

imagens e sons, entre outros recursos, podem mudar a postura do aluno; da postura pas-

siva em receber informações, para se tornar um buscador de informação e conhecimento,

visto que muitas dessas plataformas permitem uma interatividade com o aluno, em qual-

15

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quer lugar, a qualquer hora. Não raramente, vemos alunos assistindo vídeos em canais

por toda a rede, a�m de suprir suas necessidades educacionais, ou mesmo, aprimorando

seus conhecimentos.

2.3 O Produto educional: vídeos

No intuito de contribuir para o ensino de Física no ensino médio, desenvolvemos o nosso

produto educacional; um conjunto de três vídeos disponibilizados no canal do Youtube

�Física na Prática Prof. João�. Trata-se de uma iniciativa que, embora tímida, poderia

eventualmente moldar a forma de ensinar a física, para �car mais de acordo com as

intenções do PCN+ [4].

Existe uma grande quantidade de vídeos de aulas na Internet, muitos organizados

dentro de um canal do Youtube. Embora alguns deles sejam de boa qualidade técnica

e os professores sejam bastante didáticos, muitos desses vídeos não fogem do método

tradicional, inclusive com �lmagens in loco, com os professores explicando e resolvendo

problemas usando lousa e giz, mas olhando e falando para a câmera.

Os nossos vídeos fogem desse formato tradicional. Eles têm como roteiro geral a apre-

sentação de um aparelho que, quando necessário, é desmontado para que sejam mostradas

as partes ou componentes onde pode-se observar a Física. Embora recursos de animações

e pequenos vídeos são inseridos com a fala do suposto professor para facilitar a compre-

ensão dos fenômenos abordados, a apresentação é realizada por dois adolescentes em um

estúdio ou laboratório, que nada fazem lembram a �gura do professor dentro de uma sala

de aula.

Cumpre observar que apesar do trabalhado tentar ao longo dos vídeos afastar a �gura

do professor, inserindo no seu lugar alunos, é notória a sua importância no processo de

ensino�aprendizagem. Em momento algum o produto educacional exposto tem a intenção

de minimizar a �gura docente e não obstante o trabalho apresentado, busca trazar novas

ferramentas de auxílio para que as aulas deste se tornem melhores e mais atrativas. O

professor é o agente transformador da educação e sua importância para todo este processo

é demasiadamente importante. Mesmo que não haja a �gura física do docente nos vídeos,

o produto educacional apresentado não poderia ser aplicado em sua plenitude sem a

orientação de um professor.

Utilizando aparelhos do cotidiano, o objetivo era de apresentar os conceitos de Física

estudados nas aulas tradicionais, mas que muitos dos alunos di�cilmente associariam as

fórmulas decoradas com os fenômenos do mundo real. A ideia de se utilizar aparelhos

conhecidos partiu da teoria de aprendizagem signi�cativa de David Ausubel [6], a qual

a�rma que para começar ensinar algo a alguém é preciso conseguir criar um objeto po-

tencialmente signi�cativo, onde os alunos pudessem ter algo de palpável para começar os

estudos.

16

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Não obstante, é importante ressaltar que a Física apresentada nos vídeos perpassa

muito mais que simplesmente os conceitos do aparelho em si. Todo o ambiente é com-

templado na intenção de apresentar ao aluno um contexto que de certo rodeia o ambiente

onde o aparelho está inserido. Devido à necessidade de falarmos sobre a eletricidade en-

volvida nos aparelhos, extrapolamos fronteiras e chegamos até as usinas hidrelétricas e

sua forma de geração de energia. Quando houve necessidade de falarmos sobre a energia

solar, trouxemos a tona a discussão sobre as reações nucleares do Sol. Assim, é possível

perceber que o aparelho em sí é apenas um apoio didático�pedagógico, que nos permitiu

inserir uma Física contextualizada para o aluno.

17

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Capítulo 3

Referencial teórico

3.1 A teoria da aprendizagem signi�cativa de Ausubel

A intenção do referencial teórico desse trabalho não é trazer ao leitor todos os conceitos

da teoria de Ausubel, nem sequer apresentar-se como um roteiro de consulta e estudos da

sua teoria. O que foi feito é apenas alicerçar-se em sua teoria para que assim, possa ter

o ferramental teórico�pedagógico necessário para embasar o produto desta Dissertação.

Dadas as características do produto educacional desenvolvido, julga-se que a teoria de

Ausubel é a mais adequada para referenciá-lo.

David Ausubel, um médico norte�americano, dedicou boa parte de sua vida como

pesquisador de psicologia da educação. Em 1963, apresentou à comunidade cientí�ca a

sua teoria sobre a aprendizagem signi�cativa. Desde então, o Professor Joseph D. Novak,

da universidade de Cornell, vem se dedicando à sua teoria, o que por sua vez, a tornou

conhecida como a Teoria de Ausubel e Novak [18].

A teoria de Ausubel e Novak traz à luz da discussão, em linha gerais, três tipos

de inteligência, a saber: cognitiva, afetiva e psicomotora. Apesar dessa classi�cação, o

enfoque de sua teoria é a cognição. Devido à sua formação, salta aos olhos na teoria

de Ausubel a existência prévia de organização e interação material, além da estrutura

mental, que por vezes é a base da teoria de todos os teóricos cognitivistas � e Ausubel

não é uma exceção.

Desde o início a teoria desenvolvida por Ausubel foi voltada para a sala de aula. Ele

acreditava que o professor devia ser o agente responsável em identi�car o que seu aluno

já tinha de conhecimento prévio e a partir deste referencial, iniciar o processo de ensino�

aprendizagem. Sua teoria concebe que o aluno só aprende algo novo � ou absorver uma

nova informação �, através de um ponto de ancoragem, o que, podemos entender como

conhecimento prévio. O professor então é o agente responsável em identi�car na sala qual

é o ponto de ancoragem que se deve usar para começar a introduzir um novo conteúdo.

É necessário partir do que o aluno tem de conhecimento e então, através disso, intro-

18

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duzir novos conhecimentos para que ele seja capaz de criar pontes cognitivas e processe a

informação, transformando-a em signi�cado. Mas Moreira [19], chama atenção para esse

ponto:

�dizer que o conhecimento prévio é a variável que mais in�uencia

a aprendizagem signi�cativa de novos conhecimentos, não signi�ca

dizer que é sempre uma variável facilitadora. A�nal, aprendizagem

signi�cativa não é sinônimo de aprendizagem correta."

Esse ponto da teoria cognitiva de Ausubel mostra a importância do papel do professor

na sala de aula e a relevância de conhecer seus alunos e os conceitos que são apresentados

em sala. Então, a partir de estruturas cognitivas já estabelecidas e claras, o professor

pode se ancorar e a partir de então ensinar seus alunos [6].

Há a necessidade de se criar condições para que os alunos aprendam. Ausubel de�ne

essa condição como um objeto potencialmente signi�cativo. Porém, não basta o material

ser potencialmente signi�cativo, já que há a necessidade do estudante estar pré�disposto a

aprender. Quando falamos sobre objetos potencialmente signi�cativos, é preciso entender

que a ideia de signi�cado está relacionada ao indivíduo e não com o material produzido.

Não existe sentido em algo que não tenha relação com a estrutura mental do que se

quer ensinar. Portanto, é necessário identi�car o ponto de ancoragem do aluno, chamado

de subsunçor por Ausubel [6]. De acordo com Moreira [19],

�Em termos simples, subsunçor é o nome que se dá a um conheci-

mento especí�co, existente na estrutura de conhecimentos do indi-

víduo, que permite dar signi�cado a um novo conhecimento que lhe

é apresentado ou por ele descoberto.�

Para o nosso produto educacional, estabelecer o ensino de eletricidade através do ferro

de passar roupas corrobora para que a estrutura cognitiva do indivíduo se torne mais

estável. Ele já tinha conhecimento prévio dos dois assuntos, mas não conseguia encontrar

relações entre eles. A partir de então, aumenta-se a estabilidade cognitiva, quando ele

percebe que a termodinâmica pode ser inserida nesse mesmo contexto. Quando o professor

aciona os subsunçores dos alunos, eles percebem que podem eletricidade e a termodinâmica

concomitantemente e, a estrutura se fortalece.

Ausubel de�ne essa forma de aprendizado como aprendizagem subordinada, que nada

mais é do que um novo conhecimento adquirindo signi�cado através da interação de sub-

sunçores de algum conhecimento que já estava previamente estruturado na rede de cogni-

ção do aluno [19]. O produto educacional proposto se estrutura a partir dessa primícia da

teoria de Ausubel. Mas Ausubel adverte: não existe aprendizagem signi�cativa se o aluno

não estiver disposto a aprender. A vontade de aprender algo é talvez a parte mais com-

plexas da teoria. Estimular o indivíduo para que ele queira aprender é responsabilidade

do educador.

19

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Na intenção de incentivar os alunos, alguns recursos didáticos foram tomados, como

produzir vídeos com alunos apresentadores; trabalhar com os objetos do cotidiano do

aluno para uma maior aproximação com a teoria; modi�car a linguagem, tornando-a mais

jovial e adequada à faixa etária. Esses pontos foram pensados para que fosse possível

despertar o interesse deles em aprender.

3.2 Aprendizagem signi�cativa e o produto educacional

Em termos gerais, Ausubel de�ne a aprendizagem como signi�cativa aquela em que

as ideias expressas aos indivíduos simbolicamente possuem interação substancial com a

estrutura cognitiva do sujeito, com seus subsunçores [6]. Essa interação, segundo Ausu-

bel, é não-literal e não-arbitrária. Em outras palavras, essa aprendizagem deve interagir

com os conhecimentos especí�cos da sua estrutura cognitiva existente [19]. Portanto, para

nós havia a necessidade de se produzir um produto educacional que pudesse vir a se tor-

nar potencialmente signi�cativo aos olhos dos alunos envolvidos. Logo, trabalhar com o

cotidiano seria um ponto de partida ótimo. Mas além de tentar elaborar um objeto poten-

cialmente signi�cativo para o aluno, era necessário que ele quisesse torná-lo signi�cativo.

Na tentativa de atingir a vontade dos alunos, deixamos o produto disponível aos mesmos,

porém, não obrigatório. Assim, somente quem tivesse interesse em tomar o objeto para

si como signi�cativo o faria espontaneamente.

A problemática do interesse ou do despertar para o estímulo, com certeza é a parte

mais complexa de se alcançar dentro da teoria de Ausubel. Contudo, o produto foi

pensado na intenção de alcançá-la. Mas como dito anteriormente, não é de competência

dos docentes essa fase. Não que se deva abrir mão dos alunos e deixá-los sozinhos; o papel

docente é estimulá-los, mas a obrigatoriedade proposta por alguns professores, no que

tange a realizar o que se é pedido nas tarefas, funciona muitas vezes como um fator de

afastamento dos alunos. Assim, deixá-los livres para que consumam os vídeos no momento

que se sentirem motivados foi uma das primícias do produto. Dentro da proposta, nada foi

obrigatório, desde os alunos assistirem aos vídeos até responderem a pesquisa de avaliação

do produto.

Quanto à primeira condição para a aprendizagem se tornar signi�cativa, essa sim com-

pete ao docente desenvolvê-la da melhor forma possível, mesmo sabendo que o signi�cado

é próprio da estrutura cognitiva do aluno. O professor, por sua vez, é o agente responsá-

vel por identi�car os pontos de ancoragem. É tarefa do professor utilizar-se deles e assim

propiciar um ambiente educacional ótimo para que os alunos sejam capaz de atingir a

aprendizagem signi�cativa.

Na teoria de aprendizado de Ausubel são pré-de�nidas três formas de aprendizagens

ditas signi�cativas: por subordinação, por superordenação e combinatória [19].

De acordo com Moreira,

20

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�A aprendizagem signi�cativa é dita subordinada quando os novos

conhecimentos potencialmente signi�cativos adquirem signi�cados,

para o sujeito que aprende, por um processo de ancoragem cogni-

tiva, interativa, em conhecimentos prévios relevantes mais gerais e

inclusivos já existentes na sua estrutura cognitiva.

Dentro dos vídeos, essa forma de aprendizagem pode ser veri�cada em diversas oca-

siões. Como exemplo ilustrativo, no primeiro vídeo � o do ferro de passar roupas a vapor

�, um aluno possui prévio conhecimento sobre a corrente elétrica contínua e entende que

ela é o movimento de carga, ou seja um �uxo de carga por unidade de tempo. Ao assistir

o vídeo, esse subsunçor pode ser modi�cado ao saber que para certas correntes, as cargas

não têm apenas um sentido de�nido de movimento, já que oscilam com o tempo. Desta

forma, é capaz de adquirir o conceito da corrente elétrica alternada.

O segundo vídeo, o do carregador sem �o, tem como princípio físico de funcionamento

a lei de indução de Faraday. No entanto, para se ter uma variação do �uxo magnético com

o tempo, precisamos primeiro explicar que a corrente elétrica cria um campo magnético.

Como a corrente elétrica no caso é alternada, o campo magnético deve oscilar com o tempo

e portanto o �uxo magnético desse campo deve também oscilar com o tempo. Neste caso,

ocorre uma aprendizagem superodernada, que na de�nição de Moreira [19],

�A aprendizagem superordenada envolve, então, processos de abstra-

ção, indução, síntese, que levam a novos conhecimentos que passam

a subordinar aqueles que lhes deram origem.�

Existe uma terceira aprendizagem, chamada de combinatória, que não pode ser clas-

si�cada nem como subordinada e nem como superordenada. De acordo com Moreira [19],

�Aprendizagem combinatória é, então, uma forma de aprendiza-

gem signi�cativa em que a atribuição de signi�cados a um novo

conhecimento implica interação com vários outros conhecimentos

já existentes na estrutura cognitiva, mas não é nem mais inclusiva

nem mais especí�ca do que os conhecimentos originais. Tem alguns

atributos criteriais, alguns signi�cados comuns a eles, mas não os

subordina nem superordena.�

Quando o aluno terminar de assistir os vídeos e for capaz de compreender o funciona-

mento dos aparelhos a partir da Física envolvida, muito provavelmente teria ocorrido uma

aprendizagem combinatória, visto que ele teria conseguido associar a sua base subsunçora

pré-existente com muitos conceitos e pontos de ancoragem expostos no vídeo.

Ao contrário do que muitos pensam, a aprendizagem mecânica também faz parte da

teoria de Ausubel e pode ser utilizada quando necessário. Em contraponto à teoria de

aprendizagem signi�cativa, Ausubel apresenta o conceito de aprendizagem mecânica [6].

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Para ele, deve-se utilizar desse mecanismo quando o que se quer ensinar tem pouco ou

nenhuma interação com o indivíduo. Ou seja, praticamente não existem pontos de ancora-

gens. Dessa maneira, não é possível o uso dos subsunçores. Nesse modo de aprendizagem,

as informações aprendidas não possuem relação com o que o indivíduo já sabe sendo, por-

tanto, aprendida de forma arbitrária. Na Física, a memorização de fórmulas ou equações

para resolução de problemas é considerada um aprendizado mecânico [6].

O terceiro vídeo proposto no produto é um exemplo do uso dessa forma de aprendi-

zagem. Muitos alunos do Ensino Médio nunca tiveram contato com os conceitos físicos

apresentados. Nele são apresentadas informações de física nuclear e de mecânica quântica.

Por esse motivo, é esperado que os alunos aprendam de forma mecânica, pois muito deles

não possuem qualquer estrutura cognitiva para se usar como ponto de ancoragem.

Pelo exposto acima, o é possível perceber que Ausubel alicerça boa parte da proposta

pedagógica presente no produto educacional. No entanto, devemos admitir que a análise

téorico�pedagógica mais aprofundadada não é o foco desta Dissertação e nem tampouco

do nosso produto. É perfeitamente possível que possamos realizar análises à luz de outros

teóricos da educação.

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Capítulo 4

Desenvolvimento do produto

educacional

4.1 O produto educacional

O uso do recurso de vídeos foi pensada a�m de ser uma ferramente universalizadora,

onde professores e alunos de qualquer parte do país ou do mundo pudessem ter acesso.

Muito do que é apresentado dentro dos vídeos pode e é desenvolvido nos laboratórios

de Física de todo o país, contudo, a escolha da linguagem e a forma de abordagem é

o que difere o produto das aulas tradicionais. Ao invés de abordar um tema sobre a

Física de forma compartimentada, tendo como referência o currículo escolar, exploramos

diversas áreas do conhecimento físico a partir de aparelhos elétricos ou eletrônicos que

fazem parte do dia�a�dia dos alunos. A intenção é mostrar que o princípio físico por

trás do funcionamento desses aparelhos muitas vezes está presente no currículo do ensino

médio, mas por diversas razões, não existe a conexão entre a �Física� que se aprende em

sala de aula com a �Física� do mundo real.

Sem seguir roteiros de experimentos, o objetivo dos vídeo é mostrar ao estudante toda

a física envolvida ao se desmontar um determinado aparelho, mesmo que essa esteja des-

conectada do currículo escolar. Desta forma, os vídeos foram produzidos pensando-se em

todo o conteúdo do ensino médio, e não, para uma determinada série. Com isto, há fenô-

menos físicos que alunos tipicamente do primeiro ano do ensino médio ainda não teriam

visto. Outro diferencial é a imersão de conteúdo, ou seja, não estaremos preocupados com

o funcionamento do aparelho (do ponto de vista técnico), mesmo que este apareça subli-

narmente dentro dos vídeos, mas estaremos preocupados somente com a Física envolvida

em cada um deles.

Para tentar modi�car a linguagem de sala de aula, os vídeos foram gravados por

alunos do ensino médio, ao invés de se colocar um apresentador que se apresenta como um

professor, no tradicional método da aprendizagem por transmissão. Os questionamentos e

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expliações, portanto, têm linguagem próxima dos alunos, o que, de certa forma, aproxima

os estudantes de ensino médio quanto ao interesse de assisti-los.

Outra preocupação em elaborar os vídeos foi quanto ao tempo de duração. De acordo

com alguns estudos [20], a atenção pode ser considerada uma função cognitiva que ocorre

desde os primeiros dias de vida, sendo sua principal função orientar os sentidos aos estí-

mulos do ambiente. Dessa maneira, na medida em que o cérebro se desenvolve, passa a

administrar de forma seletiva os recursos de processamento da informação, isto é, prestar

atenção em um estímulo e inibir outros.

Ao lado disso, vale destacar que nas Refs. [21] e [22], pesquisas relacionadas ao de-

senvolvimento cognitivo sugerem acréscimos, em termos de desempenho, desde a infância

até a idade de adulto jovem, seguidos de perdas signi�cativas decorrentes do processo de

envelhecimento, que se acentuam na fase que compreende a terceira idade. Sabendo que a

atenção pode sofrer variações de acordo com a idade do indivíduo que assiste aos vídeos,

havia uma preocupação inerente em apresentá-los no menor tempo possível de exibição.

Desta forma, os vídeos foram editados de forma que a duração máxima não passasse de

25 minutos aproximadamente, que de certa forma torna-se um desa�o para a explicação

de determinados conteúdos.

Tentando produzir videos dentro dos Parâmetros Curriculares Nacionais � PCN+, eles

seguem as orientações propostas no documento a luz da resolução que de�ne o papel do

uso da informática na educação, �reconhecer a informática como ferramenta para novas

estratégias de aprendizagem, capaz de contribuir de forma signi�cativa para o processo

de construção do conhecimento, nas diversas áreas� [10]. Tal a�rmação sobre o uso da

informática na educação vai de encontro com as ideias de Ausubel que diz que uma das

condições para a ocorrência da aprendizagem signi�cativa é que o material a ser aprendido

seja relacionável (ou incorporável) à estrutura cognitiva do aprendiz [6]. Desta forma, a

intenção de elaborar vídeos que apresentem a Física através de aparelhos já conhecidos

dos alunos e até certo ponto até o seu mecanismo de funcionamento, torna o uso da

informática, bem como o vídeo em si, um objeto potencialmente signi�cativo.

A preocupação maior em elaborar tal material é trazer para o aluno uma proximidade

do mundo real com a Física de sala de aula, e, desta forma, trazer novas possíbilidade

de pensamento quanto à realidade do mundo físico que ele está submetido. A partir

disso, o produto educacional foi pensado para abranger o maior volume de conhecimento

físico possível que se pretende ensinar no educação básica. Sendo assim, escolhemos

três aparelhos que abrangem desde a Física Clássica até a Física Moderna. São eles o

ferro de passar roupas, que abordará os conceitos de termodinâmica e eletricidade; o

carregador de celular sem �o, que abordará os conceitos de indução magnética; e por �m

as luzes de jardim carregadas através de energia solar. Esse último, além de envolver

o eletromagnetismo, apresenta alguns conceitos de física moderna, que também estão

previstos nos PCNs.

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4.2 A Física do Produto

Conforme já exposto, o objetivo dos vídeos é explorar a física que existe em aparelhos

bastante familiares aos alunos. Em relação ao conteúdo de física em si, a intenção é

mostrar que é possível interligar as aulas teóricas de sala de aula com o dia�a�dia do aluno.

A partir dessa primícia, objetivamos desenvolver conteúdos interdisciplinares (interáreas,

para ser mais preciso) dentro da própria disciplina, mostrando que em um mesmo aparelho

podemos ter presentes, por exemplo, a termodinâmica, a eletricidade e o magnetismo.

Outro aspecto importante é que os vídeos trazem consigo uma estrutura que não

apresentam a Física de forma solta e desconexa. Ao contrário, há dentro dos vídeos

toda uma contextualização que ampara os conceitos abordados e trazem para o aluno

um sentido no que tange à importância do que está sendo aprendido. Eles permitem que

o aluno perceba que a Física de sala de aula pode ter sentido real e que não é apenas

manipulação de fórmulas e resolução de exercícios formatados de vestibulares.

Escolhemos três aparelhos para serem estudados, cada um resultando em um vídeo: o

ferro de passar a vapor, o carregador de celular sem �o e o balizador de jardim de energia

solar. A intenção portanto, era perpassar a maior parte da Física de sala de aula, sem

precupação com uma sequência didática relativamente padrão proposta por diversos livros

disponíveis no mercado. A Física seria realmente aplicada, mostrando que as equações

que se aprendem em sala de aula, muitas vezes memorizadas sem signi�cado algum, na

verdade estão presentes no cotidiano do aluno.

Apesar de não obedecermos uma sequência didática dos livros tradicionais, os três

vídeos produzidos têm uma certa sequência, estabelecida por uma ponte de conexão entre

um vídeo e outro. No entanto, a princípio, não há a necessidade de se entender um vídeo

para avançar para o outro. Todas as explicações relevantes de um vídeo são dadas dentro

dele, sem a necessidade de se assistir o vídeo anterior.

Todos os conceitos físicos apresentados nos vídeos e apresentados neste capítulo foram

baseados em livros e referências teóricas já consolidados. Para facilitar a leitura do capí-

tulo e evitar excesso de referências espalhadas ao longo do texto, concentramos aqui as

referências utilizadas:

• Eletricidade e magnetismo: Serway & Jewett Jr., Vol. 3 [23], Alonso & Finn [24] e

Calçada [25];

• O efeito joule: Artigo de Joule [26];

• Ciclo próton-próton e relatividade restrita: Krane [27] e Gri�ths [28];

• Efeito fotoelétrico e radiação do corpo negro: Alonso & Finn [24] e Serway & Jewett

Jr., Vol 4 [29];

• Efeito fotovoltaico: Souza [30] e [31]

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4.2.1 O ferro de passar roupas

O ferro de passar a vapor foi escolhido pensando-se na interligação da Eletricidade e

da Termodinâmica. Embora a conexão entre a energia elétrica e o calor seja algo bastante

óbvia nesse aparelho e o mesmo apresentar uma simplicidade mecânica e eletrônica, é

possível explorar muito mais do que o efeito Joule presente no resistor do aparelho.

Começamos destacando o fenômeno mais evidente, o efeito Joule, justamente por estar

relacionado com a razão de existir do ferro de passar, que é transformar energia elétrica

em energia térmica. Já vem dai a primeira relação entre eletricidade e termodinâmica.

No vídeo, mostramos que o �agente� responsável pela dissipação da energia elétrica em

calor, o resistor, possui um comportamente um pouco diferente do que se vêm em sala de

aula.

Diferentemente do dispositivo ideal que possui resistência ôhmica, único tipo discutido

em aula, o resistor do ferro tem relação direta com a temperatura, não se mantendo

constante com ela, como normalmente é visto através da lei de Ohm, conforme mostra a

Fig. 4.1

U

I

Resistor ohmico Resistor nao-ohmico

U

I

Figura 4.1: Grá�co da resistência versus temperatura para o resistor ôhmico (esquerda)e de um resistor do ferro de passar (direira).

Logo que fazemos esse alerta e prosseguimos com o vídeo, é necessário dizer como

o resistor pode então dissipar essa energia. Ao mostramos que esse está ligado à uma

tomada, chamamos a atenção ao detalhe importante: esse aparelho, assim como quase

todos os outros aparelhos elétrico ou eletrônico doméstico, é alimentado por uma tensão

alternada, que por sua vez, produzirá uma corrente alternada.

Tensão e corrente variáveis não são de�nitivamente temas trabalhados explicitamente

em salas de aulas no ensino médio, mas, dentro da proposta do produto é necessário que se

fale deles. Acreditamos que não se pode furtar de trazer esse tema em sala de aula, visto

que no dia�a�dia, o aluno não tem contato somente com pilhas e baterias, que possuem

tensão constante e portanto que geram corrente contínua.

Ao invés de puramente mencionar a tensão alternada, é extremamente enriquecedor

mostrar que ela surge naturalmente, conforme a�rma a lei de Faraday da indução. Para

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explicar esse fenômeno, usamos os recursos de animações e simuladores dentro do vídeo,

mostrando como a energia elétrica é produzida numa usina hidrelétrica.

Esperamos que o aluno, após assistir o vídeo, seja capaz de perceber que essa corrente

alternada é produzida através da variação do �uxo magnético no tempo e perceber que

como a força eletromotriz induzida é variável e senoidal, a corrente também será variável

com o tempo.

Figura 4.2: Análise da corrente alternada em função da posição da bobina no tempo [32].

No decorrer do vídeo, com a necessidade de explicação do funcionamento do aparelho,

os fenômenos físicos vão saltando à tela de quem o assiste, de forma natural. Apesar da lei

de Faraday soar um tanto misterioso para muitos, o mesmo não se pode dizer da explicação

do porquê o ferro pode ser a vapor. Uma vez que a resistência já fez o seu papel de dissipar

energia elétrica em forma de calor, um aluno que estudou a Termodinâmica rapidamente

começa a lembrar de Q = mc∆T e Q = mLv, fórmulas extensamente trabalhadas em sala

de aula.

Por �m e não menos importante, nos atentamos a sistema de controle de temperatura

do aparelho, que apesar de simples mecanicamente, é muito interessante do ponto de

vista físico. Novamente, o aluno irá lembrar de diversos problemas em que se calculou

a dilatação térmica de sólidos, sem muitas vezes pensar numa aplicação prática para o

fenômeno. É importante mostrar que um resultado simples da física pode ser transformado

em algo prático. No caso, o sistema de controle de temperatura realizado através de uma

�ta bimetálica formada por lâminas que possuem coe�cientes de dilatação diferentes,

que ao sofrer variação de temperatura, pode arquear, fazendo o ferro ligar e desligar

automaticamente, ao atingir uma determinada temperatura.

Finalmente, o vídeo foi �nalizado deixando a seguinte pergunta: �porque ao puxarmos

rapidamente o plugue do ferro de passar da tomada, se gera uma faísca?� Tal pergunta

foi deixada no ar, com a a explicação dada no segundo vídeo, o carregador de celular sem

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Figura 4.3: Termostato de lâmina bimetálica, de um ferro de passar comum. [33].

�o.

4.2.2 O carregador de celular sem �o

O carregador de celular sem �o é tido, entre os fabricantes de celulares, como a revo-

lução no sistema de carregamento da bateria desses aparelhos. Contudo, o princípio físico

do seu funcionamento é bastante antigo � data do século 19, pois é baseado na lei de indu-

ção eletromagnética, descoberta por Michael Faraday em 1831. No �nal daquele século,

o físico e engenheiro Nikola Tesla já testava a transmissão de energia sem �o. Conhecido

como o "pai do sem �o", Tesla, apesar do título, era desacreditado no seu tempo, visto

que muitos cientistas do seu tempo julgavam uma loucura transmitir energia wireless.

Quando pensamos no carregador wireless para elaboração do segundo vídeo, vimos

que ele seria importante no contexto pegagógico por dois fatores, a saber, (i) apesar

do eletromagnetismo ser uma parte da física que apresenta inúmeras aplicações e estar

presente em praticamente todos os dispositivos eletrônicos atuais, bastante familiares aos

alunos de ensino médio, o seu tratamento não possui a relevância que deveria ter, para

essa etapa do ensino; (ii) o conteúdo da Lei de Faraday já havia sido abordado no vídeo do

ferro de passar roupas a vapor, quando houve a necessidade de falarmos sobre a corrente

elétrica alternada. Contudo, o efeito não foi discutido devidamente, pois sobrecarregaria

o primeiro vídeo com muitos conceitos importantes de física.

O vídeo tem a Lei de Faraday como o tema principal a ser explorado. No entanto,

não seria possível trabalhar o tema sem comentar sobre a origem do campo magnético

em um circuito elétrico. Desta forma, dedicamos a parte inicial do vídeo à produção do

campo magnético a partir de uma corrente elétrica contínua, mencionando a experiência

de 1820 de Hans Christian Oersted. Para uma discussão mais técnica, apresentamos as

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leis de Biot�Savart e de Àmpere, as quais dão uma relação quantitativa entre a corrente

elétrica e o campo magnético produzido por ela, observada por Oersted.

Apresentamos na sequência a Lei de Faraday, mostrando que a força eletromotriz (fem)

induzida num circuito secundário se devia ao �uxo variável do campo magnético. Esten-

demos a discussão para o caso da corrente alternada, que produz um campo magnético

oscilatório e portanto causar uma variação do seu �uxo em uma espira imersa na região

desse campo.

Responder o questionamento do porquê ao retirarmos rapidamente o plugue do ferro

da fonte de tensão gerava faísca, era na verdade o nosso subsunçor, de acordo com a

teoria de Ausubel. A pergunta serve como estímulo para iniciarmos a discussão sobre o

tema Lei de Faraday, a principal física envolvida no produto. A resposta à pergunta feita

também traz a luz da discussão a Lei de Lenz como consequência da Lei de Faraday, ou

seja a faísca é apenas uma fem induzida, tentando se opor à variação do �uxo de campo

magnético, que vai a zero abruptamente porque a corrente é cortada quando o plugue é

desconectado da tomada.

A identi�cação da indução magnética no aparelho é evidenciada quando abrimos o

dispositivo e mostramos aos alunos os seus componentes. A apresentação visual das espiras

primária e secundária corroboram para o entendimento sobre o campo magnético induzido,

visto que espiras percorridas por correntes elétricas é um conceito explorado no Ensino

Médio. Talvez a grande novidade é o campo magnético variável e por consequência, a fem

induzida devido à variação do �uxo magnético.Evidentemente a visualização do fenômeno

de indução, facilita o entendimento do aluno. Ao aproximarmos as espiras primárias e

secundárias é possível observar no vídeo que o (LED) da espira secudária acende ante do

contato das espiras.

O vídeo segue e outros questionamentos são colocados em discussão. A�nal, se o carre-

gador �ca parado durante o carregamento, como há a indução eletromagnética mostrada

na animação? O nosso objetivo é evidenciar que a indução ocorre porque há a variação do

�uxo magnético no circuito secundário, o do carregador. Neste caso, a variação do �uxo

se deve a variação do campo magnético com o tempo, que por sua vez oscila porque a

corrente elétrica que a está produzindo, percorrendo a espira primária, é alternada. Isso

evidentemente porque a fonte de tensão é alternada, conforme já discutido no primeiro

vídeo.

O vídeo traz a dúvida: a fem induzida é alternada e portanto a corrente que surge no

circuito secundário é também alternada. Sendo assim, levantamos a seguinte questão: é

possível carregarmos uma bateria de celular através da corrente elétrica alternada?

A questão é bastante pertinente no contexto de circuitos elétricos, pois é comum um

aluno do ensino médio resolver um circuito elétrico com resistores e várias baterias. Num

circuito de mais de uma malha, é possível que a corrente possa atravaer uma bateria �no

sentido contrário� ao usual. Neste caso, pela polaridade, a bateria está sendo carregada, ao

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invés de fornecer uma ddp. Se a corrente estiver oscilando, a bateria carrega e descarrega

de forma oscilatória?

A questão é respondida de maneira super�cial no vídeo, apresentando a ponte reti-

�cadora, que na eletrônica, funciona como um transformador da tensão alternada para

tensão contínua.

Dentro do espírito dos nossos vídeos, em princípio essa questão poderia ser uma ponte

para o terceiro vídeo. Contudo, julgamos que seria um conteúdo de física contemporânea,

visto que a ponte reti�cadora é formada por um conjunto de diodos. A física destes

dispositivos datam da virada do século XIX. Contudo, achamos que a sua explicação foge

bastante do conteúdo programático do ensino médio.

Por conta disto, para manter a padronização do primeiro vídeo, deixamos um pequeno

questionamento, para re�exão. Para isto, observamos que a energia elétrica se transfor-

mou em calor no primeiro vídeo. No segundo vídeo, mostramos que corrente elétrica gera

campo magnético, que por sua vez, se transformou novamente em energia elétrica, ali-

mentando o corregador do nosso celular. Será que podemos transformar a energia elétrica

em mais alguma forma de energia e vice-versa?

Terminamos respondendo que sim, existe a possibilidade de transformar a energia solar

em energia elétrica, o tema para o terceiro vídeo.

4.2.3 O balizador de jardim

A ideia inicial que muitas pessoas têm de que gerar energia elétrica através da energia

solar é um investimento muito alto. Porém, a ideia de que placas solares são muito caras

cai por terra, quando apresentamos o balizador de jardim, um aparelho que é vendido

em casas especializadas em jardinagem e depósitos de materiais de construção entre 5 e

80 reais. No entanto, a ideia desse produto não é o apresentar uma análise econômica

para dizer se é ou não viável iluminar a sua casa com energia solar, muito menos discutir

a questão da matriz energética, sob a ótica de fontes renováveis, como está em voga

atualmente. O ponto central de discussão é o fenômeno físico presente nesse aparelho,

que é alimentado por energia solar.

Escolhemos o balizador de jardim para discutir a física presente nele por se tratar de

um equipamento ou dispositivo de simplicidade mecânica e eletrônica � além, é claro, de

se tratar de um equipamento presente no dia�a�dia do aluno.

Seguindo a abordagem de vídeos anteriores, a nossa intenção central neste vídeo é

explicar a física envolvida na placa solar. No entanto, não seria possível explicarmos

esse dispositivo, sem abordar uma questão fundamental: como o Sol consegue obter a

sua energia? Para responder a esta pergunta, explicamos os mecanismos de produção de

energia, no interior do Sol, e o mecanismo de emissão dessa energia, os quais envolvem

conceitos de moderna, particularmente física nuclear e radiação de corpo negro.

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Segundo os PCNs, a física moderna e contemporânea são tópicos que deveriam constar

no ensino de Física nos colégios brasileiros. Apesar disto, sabemos que essa não é uma

realidade; muitos colégios e professores não tratam do assunto. Mesmo sabendo das

di�culdades de apresentar tais conceitos no produto, assim como a quase nulidade desses

tópicos no ensino médio brasileiro, acreditamos que o nosso vídeo sirva de ilustração que

a física não é o estudo dos temas classi�cados como �tradicionais�, conteúdos presentes

em todos os livros didáticos e apostilas. Aqui encontramos uma oportunidade para que o

aluno possa pensar e ver que existe uma �física nova�.

Assim sendo, começamos a discussão do terceiro vídeo se perguntando como era pos-

sível o Sol brilhar? E para responder a essa pergunta, fomos obrigados a entrar a fundo

no Sol, mais especi�camente no seu núcleo, onde ocorrem reações nucleares para enten-

der porque o Sol brilha. Começamos então o vídeo caracterizando o Sol, uma estrela

considerada �mediana�, tanto em tamanho como brilho, sendo o hidrogênio o elemento

responsável por cerca de setenta por cento da sua massa. Ele possui um núcleo cuja

densidade é 150 vezes a densidade da água líquida, numa temperatura de 15 milhões de

graus Celsius, com uma pressão de 26.5 Ppa (petapascal), formado por gases em estado

de plasma � essencialmente hidrogênio ionizado (ou seja, prótons e elétrons dissociados).

A apresentação desses dados é importante para que o aluno entenda a discussão proposta

pelo vídeo. Dados como a composição do Sol, sua densidade e temperatura, ajudam na

compreensão dos fatores que levam o Sol a produzir energia da forma que o faz.

O vídeo, então, começa a discussão sobre o principal fator de produção de energia

do Sol: o ciclo próton�próton (ciclo pp), ou cadeia pp, que é o principal mecanismo de

produção de energia do Sol. O ciclo pp é uma série de reações nucleares que transforma

quatro núcleos de hidrogênio (próton) em um núcleo de 4He, liberando fótons, partículas

beta, neutrinos e energia, conforme ilustra a Fig. 4.4.

Durante o vídeo, teve-se a preocupação de detalhar melhor a reação, evidenciando

o fato que para a reação completa são necessários 6 prótons, que darão origem a dois

pósitrons (anti-partículas do elétron), 2 fótons (pela energia, são chamados de raios gama),

2 neutrinos (de sabor de elétron), 2 prótons e um átomo de hélio carregado duplamente

(sem os dois elétrons). Efetivamente, como a maioria dos textos trazem a reação reduzida

conforme abaixo, foi necessário esclarecer melhor a questão:

4H → 2 fótons+ 2 neutrinos+ 4He

Na verdade, existem várias maneiras intermediárias de produção do 4He num ciclo pp,

com participação de partículas/átomos diferentes, conhecidas como cadeia pp-1, pp-2 e

pp-3, todas elas levando ao mesmo produto. Como o nosso foco não é detalhar as reações

nucleares envolvidas, resolvemos omitir essas especi�cidades no vídeo.

Chamamos a atenção logo a seguir que na reação mencionada teríamos a liberação de

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Figura 4.4: Reações e partículas envolvidas no ciclo pp [34].

energia, devido a diferença da massa inicial e a massa �nal, fato que era previsto pela

teoria da relatividade restrita proposta por Einstein, onde a massa é considerada como

sendo uma forma de energia, expressa pela famosa equação E = mc2. Discutimos que ao

se calcular a diferenca de massa do sistema, obtemos um dé�cit de 0,048 × 10−27 kg, o

que representa em percentual real de apenas 0,7% da massa inicial. Diferença que apa-

rentemente é pequena, mas que é a responsável pela energia solar. A�nal essa diferença é

transformada posteriormente em energia cinética (térmica) e mantém praticamente inal-

terada as altas temperatura do Sol. O processo continua pois, mais fótons são gerados

através do processo

1 pósitron+ 1 elétron → 2 fótons

Apresentamos um eventual paradoxo, pelo menos aos aos olhos de um aluno de ensino

médio e dissemos que esses fótons, produzidos na reação, são quase que imediatamente

absorvidos no interior do núcleo e di�cilmente chegam até a fotosfera do Sol. Inicialmente,

os alunos poderiam se perguntar: mas se o Sol absorve o fóton que ele produz, como

que a luz chega até a Terra, a�nal, a luz é composta por fótons? A intenção com esses

questionamentos é apresentar outro conceito da física � que na verdade deveria ser familiar

ao aluno do ensino médio, quando estuda a termodinâmica �, que é a transferência de

calor através do processo conhecido como radiação. No caso, é preciso introduizir um

conceito talvez não muito familiar ao aluno do ensino básico, que é o do corpo negro.

Embora haja camadas mais externas do Sol, a fotosfera é a responsável pela emissão

da energia Solar para o espaço. Ela possui uma temperatura efetiva de 5778 K. Como

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é bastante conhecido, todo corpo a uma certa temperatura emite e absorve radiação

eletromagnética. O Sol, por emitir e absorver 100% de radiação, em todas as frequências,

é um exemplo de corpo negro ideal. Pois bem, se conhecermos a temperatura, sabemos

como é a radiância espectral, que é dada pela lei de Planck da radiação de corpo negro,

mostrado na Fig. 4.5. Evidentemente, esta curva é bem conhecida de um aluno de ensino

superior de curso de exatas, já que a sua explicação teórica, dada por Max Planck em

1900, é um marco do nascimento da mecânica quântica.

Figura 4.5: Radiância espectral do corpo negro [17].

Discutimos na animação um pouco sobre a Equação de Planck para a radiação do

corpo negro En = hf , mostrando que essa energia está relacionada a uma frequencia de

radiação f e com a constante de Planck.

Por �m, a intenção era analisar o grá�co acima e mostrar ao aluno que enxergamos

as cores do arco�íris não por coincidência, mas por uma questão de evolução natural, já

que o pico do comprimento de onda da radiação eletromagnética do Sol está no intervalo

de 450 a 650 nm, o chamado espectro visível.

Quando a radiação eletromagnética sai do Sol e chega até a nossa placa solar, a dis-

cussão do produto toma novos rumos. Agora o objeto de estudo é como a luz solar é

capaz de produzir uma corrente elétrica. Para isso era necessário focar na placa solar,

mais especi�camente no material constituinte da placa: os semicondutores. Apesar da sua

importância, optamos em não explicar os princípios físicos envolvidos nos semicondutores,

pois o produto em questão já está repleto de informações novas e conteúdos densos para

os alunos de ensino médio. Mencionamos apenas que semicondutores são materiais inter-

mediários quanto à transmissão de corrente elétrica e que sua resistência é alterada com

a absorção de energia térmica. Desta forma, focamos a explicação nos fenômenos físicos

considerados centrais para os nossos propósitos: o efeito fotoelétrico e o efeito fotovoltaico.

Os efeitos fotoelétrico e fotovoltaico são bastante similares. No primeiro, os elétrons

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são ejetados do material � geralmente para o vácuo �, após absorver a luz. Por outro

lado, no efeito fotovoltaico, os elétrons permanecem dentro do material. No caso de

semicondutores, a migração dos elétrons resulta numa diferença de potencial dentro do

material. Esta diferença de potencial é a responsável pelo funcionamento do balizador de

jardin.

Através de animações, foram apresentados aos estudantes os conceitos que envolvem

a retirada de elétrons de um material através da incidência da luz. A apresentação do

fenômeno foi pautada sobre a ótica da natureza quantizada da energia da luz. Discutimos

que a emissão dos elétrons de metais e outras substâncias, quando estas absorvem energia

de uma onda eletromagnética, tinha sido observada por Heinrich Hertz, em 1887. A

explicação teórica, por sua vez, veio em 1905 com Albert Einstein, que sugeriu que a luz

era formada por �pacotes de onda� discretas, os fótons, carregando uma energia E = hf ,

onde f é a frequência da onda eletromagnética. Este trabalho de Einstein e a já explicada

radiação do corpo negro foram fundamentais para o nascimento da mecânica quântica.

Para uma melhor compreensão do efeito fotoelétrico, mostramos um aparato em que

é possível se observar esse fenômeno (veja Fig. 4.6) e fazemos uma análise da equação

obtida por Einstein, onde a energia cinética máxima do elétron expelido do metal é dada

por

Kmáx = hf − ϕ

onde ϕ é a chamada função trabalho do metal, uma energia de ligação que mantem os

elétrons presos aos átomos do metal.

Mostramos, usando o simulador PhET, que o efeito é condizente com a equação acima.

Ou seja, não é a intensidade luminosa que causa o seu efeito, mas sim uma frequência da

onda eletromagnética adequada, que deve estar acima de um valor mínimo chamado de

frequência de corte f0.

Figura 4.6: Simulação do efeito fotoelétrico no simulador do PhET [17].

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Finalmente, após apresentar o efeito fotoelétrico, rapidamente discutimos o efeito fo-

tovoltaico, ilustrado na Fig. 4.7. Na placa solar, este fenômeno ocorre devido a uma célula

fotovoltaica, também chamada de célula solar. Basicamente, consiste de uma junção de

dois tipos de semicondutores, de tipos N e P , que são portadores de carga negativa e posi-

tiva, respectivamente. Conforme já exposto, a explicação da física envolvida na chamada

junção pn está além do escopo deste vídeo, não obstante um tema interessante para se

trabalhar no escopo da física contemporânea, visto que os semicondutores estão presentes

em diversos dispositivos eletrônicos.

Figura 4.7: Figura esquemática do efeito fotovoltaico. [35].

Finalizamos o vídeo apresentando o efeito fotovoltaico, como uma aplicação da ele-

trônica do efeito fotoelétrico. Destacamos que são efeitos similares, contudo, no efeito

fotoelétrico os elétrons são ejetados da superfície do metal para o vácuo ou para o ar. Já

no caso do efeito fotovoltaico, os elétrons permanecem na própria placa solar, que com-

posta de um material semicondutor com junção do tipo p e n, na prática isto resulta na

criação de uma corrente elétrica.

O detalhe da geração da corrente elétrica não foi explicada no vídeo, visto que ele já

tinha bastante conteúdo de Física Contemporânea e poderia �car bastante pesado incluir

a Física dos semicondutores. Trata-se de um assunto bastante importante e extrema-

mente relevante devido ao uso de semicondutores nos dispositivos eletrônicos disponíveis

atualmente. Acreditamos, no entanto, isto poderia ser explorado num quarto vídeo, onde

poderia se explicar essa Física, ao se mostrar uma placa de Peltier. Nela, pode-se observar

o efeito Seebeck, onde calor é convertido diretamente em energia elétrica. Infelizmente,

não dispusemos de tempo e nem recursos para fechar o ciclo de transformação de energia.

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4.3 A Elaboração do Produto

4.3.1 O desenvolvimento da ideia

Para não possuir um aspecto demasiadamente formal de sala de aula, onde se tem a

�gura de um professor, que é o detentor do conhecimento, resolvemos adotar um formato

mais informal, com dois atores egressos do ensino médio, sem apresentar a imagem estere-

otipada de nerd e utilizando uma linguagem coloquial, de forma que se possam identi�car

com o público alvo. Por outro lado, apesar do ar informal, os roteiros foram cuidadosa-

mente pensados, de forma a contemplar os aspectos educacionais, tanto em termos dos

conteúdos técnicos, assim como na transposição didática.

Sob essas premissas, o que seria mais cotidiano para o aluno, do que explorar a física

de sala de aula com instrumentos e aparelhos presentes na sua casa? Mas isso mostrou-se

um desa�o, a�nal como separar os temas de sala dentro dos aparelhos? Em alguns equi-

pamentos, essa física estava ofuscada e muitas vezes enraizada em processos tecnológicos.

A�nal, equipamentos muito complexos exigiam notariamente a explicação de conceitos

divergentes à �nalidade do estudo; alguns equipamentos são tão complexos, que seríamos

obrigados a dissertar sobre alguns fatores de engenharia ou eletrônica para que o conceito

físico fosse compreendido. Logo, a escolha pelo ferro de passar roupas a vapor, o carre-

gador sem �o e o balizador de jardim se mostraram viáveis dentro dos nossos propósitos.

São equipamentos que trazem consigo muitos conceitos físicos, mas simplórios do ponto

de vista tecnológico.

Outro aspecto relevante no planejamento dos roteiros foi o de separar o que poderíamos

explorar e até que ponto poderíamos ir nas explicações. Lembrando que os vídeos devem

ser relativamente curtos e o público alvo é formado por um amplo espectro de alunos do

ensino médio, houve casos em que tivemos que colocar limitações devido a enorme gama

de fenômenos físicos presentes. Foi o caso do balizador de jardim, onde decidimos não

explicar as propriedades de um semicondutor.

Um outro cuidado que tivemos foi quanto a interrelação de conteúdos de física, ou

seja, mostrar que num aparelho é possível encontrar fenômenos mecânicos, térmicos e

eletromagnéticos, por exemplo. Há casos em que é possível ir além da física clássica e

explorar fenômenos descritos pela física moderna e contemporânea. Isto certamente pode

confundir uma parte dos alunos do ensino médio, que vê a física particionada. Por outro

lado, insistimos em passar a mensagem de que em geral a física do mundo real não está

presente dessa forma.

4.3.2 A gravação dos vídeos

As gravações dos vídeos começaram no �nal de 2016 com a escolha dos alunos que

participariam dos vídeos. Já no início de 2017, tivemos a primeira reunião com a equipe

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de gravação uma parceiria que conseguimos com a Faculdade de Comunicação de Desing

(FCD), das Faculdades Oswaldo Cruz (FOC). Eles disponibilizaram toda uma equipe de

trabalho, cinegra�stas, editores, roteiristas e um pro�ssional especializado em vídeos para

internet. Na primeira reunião havíamos pensado em trabalhar com um grupo de alunos

de cinco integrantes. Após a conversa, decidimos que devido a necessidades técnicas de

áudio, câmeras e roteiro, seria melhor trabalharmos com apenas dois alunos. As ideias

dos roteiros, bem como as falas foram elaboradas e encaminhadas para o roteirista, que

auxliava quanto ao tempo de gravação e formato do programa. Assim que os roteiros

foram �nalizados com aval do orientador, encaminhamos aos alunos para que pudessem

estudar as falas. Os roteiros originais dos vídeos estão no Apêndice B.

Em fevereiro de 2017, iniciamos as gravações com os alunos Aubert e So�a. Essas

gravações foram realizadas nas dependências das Faculdades Oswaldo Cruz (FOC), nos

laboratórios de Física da instituição. Só com dois �atores�, �cou de�nido que o formato

do vídeo seria os alunos atuarem como apresentadores, sem sair de suas posições. O ce-

nário consistia em uma bancada com o aparelho do dia, com pouca decoração ao fundo.

Utilizaram-se duas câmeras pro�ssionais para as gravações, tripés, luzes auxiliares, micro-

fones e um cinegra�sta. As gravações aconteceram de segundas, quartas e sextas-feiras,

das 15h às 17h, sendo que cada vídeo levou em média três semanas para que as gravações

fossem concluídas. Desta forma, o �nal das gravações só ocorreu em meados de abril.

O tempo das gravações foi maior do que o planejado inicialmente. Isso se deveu a

diversos fatores, como o tempo restrito de gravação, que correspondia a apenas duas

horas por dia, os compromissos pessoais dos alunos atores, bem como os compromissos

trabalhísticos do cinegra�sta que nos acompanhavam. Como todo o processo de gravação

foi através de parceria, alguns dias de gravação tiveram que ser adiadas, pois o cinegra�sta

da FCD tinha compromissos de gravação em outros lugares e sendo assim, não podia estar

a disposição do projeto naquela data.

Outra grande di�culdade foi a adequação do texto com os alunos; inúmeras vezes

tivemos que repetir as tomadas de gravação por atenção aos detalhes e conceitos físicos.

Como se tratava de uma gravação instituicional acadêmica, a responsabildade de evitar

erros conceituais era importante. Sendo assim, muitas vezes o dia de gravação foi dedicado

a um único tópico conceitual. Outros contratempos surgiram, como duas semanas de

interrupção das gravações devido à manutenção no campus da instituição.

De�nitivamente, o terceiro vídeo sobre o balizador de jardim foi o mais difícil de gravar.

Nele, os conceitos físicos eram mais complexos, visto que envolviam conceitos de física

moderna e contemporânea. Conceitos estes que, apesar de constarem nos documentos

o�ciais como obrigatórios, são pouco trabalhados no ensino médio. Os alunos apresenta-

ram muitas di�culdades em memorizar as falas e essa gravação se estendeu mais do que

deveria. Foram quatro semanas de gravação apenas para esse vídeo.

Posterior ao processo de gravação, iniciou-se o processo de edição dos vídeos. Na

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primeira fase era necessário selecionar os takes que constariam nos vídeos. Para se ter

uma ideia do trabalho, para cada vídeo havia uma média de duas horas e meia de gravação

de conteúdos. Em média, havia 70 takes por vídeo, apesar de selecionarmos em média 10

takes na edição �nal. Assim, foram mais duas semanas assistindo os takes e fazendo a

sua seleção, colocando-os em ordem correta que apareceriam para facilitar o processo de

edição �nal.

Toda a fase de escolhas dos takes foi feita pessoalmente pelo autor desta dissertação,

enquanto que a edição �nal �cou sob a responsabilidade do editor da FCD, que recebeu os

takes selecionados e os organizou dentro do programa de edição com o programa comercial

Final Cut.

A segunda fase do processo de edição era a elaboração das animações, sob responsa-

bildade deste autor. Antes das gravações, foi feito um roteiro das falas, disponíveis no

Apêndice B. Após a aprovação dos roteiros de fala das animações, elas começaram a ser

produzidas através do programa comercial Camtasia 3, que permite a gravação em tempo

real das telas do computador. Esse recurso foi utilizado porque não pudemos contar com

um pro�ssional em animações grá�cas. Após duas semanas de trabalhos de edição, os

vídeos estavam prontos para serem disponibilizados nas redes sociais.

4.4 Os vídeos no canal �Física na Prática� do Youtube

Para se ter acesso aos vídeos produzidos, criamos o canal �Física na Prática Prof.

João� no site do Youtube, cujo link é

https://www.youtube.com/channel/UC9_HBGeDP3nppCjRigtvW_Q

Além do formato, o fácil acesso e um poder de penetração muito grande ao aluno do

ensino médio, nos motivaram a hospedá-los lá.

Criamos um logo para o canal e colocamos os devidos créditos, identi�cado os vídeos

como sendo resultados deste Mestrado e são identi�cados como produtos educacionais.

Apesar do público alvo ser os alunos do ensino médio, decidimos manter o acesso a todo

o público. A Fig. 4.8 mostra a tela impressa do canal.

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Figura 4.8: Canal do Youtube Física na Prática.

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Capítulo 5

Aplicação do produto

O produto educacional desenvolvido na dissertação foi aplicado para 110 alunos do

ensino médio da escola privada Colégio da Polícia Militar � Unidade Osasco, localizado

em Osasco, cidade da Grande São Paulo. Todos os alunos tinham entre 14 e 18 anos de

idade e estavam regularmente matriculados entre as três séries do ensino médio na época

em que o produto foi aplicado.

Devido às características do produto, que mistura conceitos de todos os anos do ensino

médio � e não se observa a sequência didática de todos os livros e propostas pedagógicas

�, a aplicação foi realizada para todos os alunos matriculados de forma indiscriminada,

sem adotar um controle série a série.

Por conta dessa peculiaridade e devido ao fato que os vídeos foram �nalizados próximo

do �nal do primeiro semestre, não se cogitou utilizá-los como material complementar às

aulas tradicionais.

Como os vídeos foram disponibilizados praticamente durante o recesso escolar dos

alunos, o autor desta Dissertação criou um link de acesso a eles na página pessoal do

Facebook 5.1. Em princípio, poderíamos ter utilizado o E-mail do canal no Youtube e

com ele seria possível criar uma página própria no Facebook. No entanto, se adotado esse

procedimento, a inclusão dos participantes poderia demorar.

Como o link do Facebook do autor �cou visível a todos os seus contatos e os vídeos

estão acessíveis a todos, é possível que não somente os seus alunos, mas curiosos também

tenham acessado os vídeos. Assim, é natural que o número de visualizações exceda o

número de alunos envolvidos, sem contar que um aluno poderia ter feito mais de uma

visualização. Apesar da permissão das visualizações sem restrições, o processo de avaliação

�nal do produto foi realizado somente com os alunos participantes.

Todos os processos de aplicação foram voluntários, sem quaisquer contrapartidas, até

para conseguirmos mensurar a aceitação do produto � nenhum aluno foi obrigado a visu-

alizar os vídeos ou a responder a pesquisa.

Com isto, a divulgação e a aplicação do produto educacional foi feita de forma bastante

condizente com o seu próprio conteúdo, ou seja, apresentar a Física de forma bastante

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Figura 5.1: Postagem na página pessoal do Facebook do professor, com link de acesso aoCanal do Youtube Física na prática Prof João.

informal, em uma plataforma bastante familiar aos alunos e totalmente voluntária.

5.0.1 Aplicação da Pesquisa

Comitantemente à �nalização dos vídeos, ocorreu a aplicação da pesquisa. Não era a

nossa intenção, mas devido aos problemas técnicos, não conseguimos manter o cronograma

traçado e por conta disto, os alunos assistiram somente os vídeos disponibilizados na

ocasião do acesso.

Apesar deste fator limitante, a pesquisa tinha como �nalidade avaliar o formato e a

estrutura do produto educacional para explorar uma determinada Física envolvida em

cada vídeo. Em princípio, um único vídeo poderia perfeitamente ter sido o nosso produto

educacional, juntamente com o canal �Física na Prática Prof. João�.

Como todos os vídeos possuem um formato padronizado de apresentação, roteiro e

disposição dos conteúdos, a aplicação da pesquisa não levou em conta a quantidade de

vídeos assistidos e quais foram. Não foi a intenção da pesquisa fazer uma comparação

entre os três vídeos criados.

Apesar do exposto, a pesquisa �cou aberta e disponível para os alunos desde a divul-

gação do primeiro vídeo, "A Física do ferro de passar roupas", até o último vídeo, "A

Física da Energia Solar". Um número expressivo de alunos evidentemente responderam

a pesquisa logo após a divulgação do primeiro vídeo, mas o que foi observado é que a

pesquisa continuou sendo respondida, com o lançamento dos vídeos subsequentes.

Acredita-se que o processo de aplicação do produto é completado quando o aluno, ao

terminar de assistir o vídeo, vá até o link e responda as questões propostas na pesquisa.

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É importante observar que não temos a intenção de mostrar que o nosso produto

educacional é melhor ou mais e�ciente para o ensino de Física e que eles possam substituir

as aulas tradicionais. Sendo assim, a avaliação do produto não tem a pretenção de avaliar

de forma minuciosa o processo de ensino�aprendizagem.

Posto isto, a pesquisa para o levantamento de opinião dos alunos acerca dos vídeos

foi de tipo misto [36, 37] , tendo por um lado o caráter survey, que é o tipo de pesquisa

que visa determinar informações sobre práticas ou opiniões atuais de uma população

especí�ca. Por outro o levantamente pode ser classi�cado como análise de trabalho, que

é o tipo de pesquisa que procura determinar a natureza de um trabalho particular e os

tipos de treinamento, preparação e competências (conhecimentos, habilidades e atitudes)

necessárias para o sucesso no trabalho.

A pesquisa foi aplicada através de um questionário online com a ajuda de uma ferra-

menta do Google, o formulário de questões online no Google Docs. O recurso se mostrou

satisfatório para o que se pretendia, visto que por estar disponível na rede, o seu acesso

foi bastante simples; conta com um recurso que encaminha por E-mail os convites para

participar da pesquisa e é de fácil divulgação nas diversas redes sociais.

Figura 5.2: Página inicial do questionário On line na plataforma do Google Docs.

De 110 alunos dos estudantes de ensino médio da escola Colégio da Polícia Militar �

Unidade Osasco convidados para participar da pesquisa, 61 assistiram os vídeos e retor-

naram as nossas pesquisas.

Para que os alunos pudessem responder ao questionário, inicialmente solicitamos que

o aluno aceitasse o termo de consentimento e nos informasse qual a série do ensino médio

a qual pertencia. Como não houve como controlar se o aluno estava regularmente matri-

culado, colocamos a opção �não estou matriculado� como um �ltro. A Fig. 5.3 mostra as

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distribuições nas três séries do ensino médio.

Figura 5.3: Percentual de alunos dividos por série.

A baixa participação dos alunos do segundo ano era esperada, visto que no colégio

onde foi aplicado o produto, há apenas uma turma dessa série, enquanto que o primeiro e

terceiro anos contam com duas turmas cada. Além disto, a maior participação dos alunos

do terceiro ano deve-se ao fato de serem as turmas com o maior número de alunos. Desta

forma, observamos que a porcentagem de distribuição está bem equilibrada. Em média,

55% dos alunos participaram da pesquisa. Se considerarmos que a pesquisa foi voluntária,

trata-se de um boa participação.

As perguntas seguintes foram feitas para tentar mensurar a qualidade e aceitação do

produto. A primeira pergunta refere-se à clareza de apresentar a Física dentro do produto.

Figura 5.4: Opinião dos alunos em relação à clareza das explicações dos conteúdos deFísica.

Conforme mostra a Fig. 5.4, para cerca de 95% dos alunos, a Física presente nos

vídeos é apresentada de forma clara e objetiva. Não solicitamos justi�cativas, contudo

acreditamos que houve um acerto quando explicamos os fenômenos através das animações

ou simulações. Várias simulações mostradas são do PhET, que possuem uma excelente

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qualidade e clareza na explicação dos fenômenos, o que deve ter re�etido na resposta dos

alunos.

Quando a questão é voltada para a realidade de sala de aula, a porcentagem de alunos

que disseram encontrar a Física de sala de aula nos vídeos reduz um pouco, para cerca

de 82% (Fig. 5.5), o que de certa forma era esperado. Como o produto foi aplicado para

alunos de todo o ensino médio, muitos conteúdos apresentados nos vídeos podem ainda

não ter sido apresentados para os alunos, especialmente os alunos do primeiro ano, que não

tiveram formalmente aulas de eletricidade e magnetismo, por exemplo. Se as respostas

fossem baseadas no terceiro vídeo, evidentemente esse número iria mudar muito, pois

quase não se ensina Física Moderna e Contemporânea no ensino médio. Nesse caso, pelo

menos a equação E = mc2 deveria soar familiar.

Figura 5.5: Percepção dos alunos em relação ao conteúdo aprendido em sala de aula versusos conteúdos abordados nos vídeos.

A avaliação do produto prossegue questionando os alunos quanto à validade de um

produto como esse para propósitos educativos. A Fig. 5.6 mostra que em torno de 87%

dos participantes disseram que os vídeos podem ser atrativos para se aprender Física. Se

basearmos na teoria de Ausubel, pode-se concluir que os vídeos são objetos potencialmente

signi�cativos, pois eles são capazes de despertar o interesse dos alunos em aprender.

A seguir, a pergunta sobre a opinião dos alunos quanto à a�nidade com a disciplina, o

resultado de 38% dizer naõ possui a�nidade (Fig. 5.7) con�rma um fato bastante conhe-

cido: a Física não está entre as disciplinas favoritas dos alunos do ensino médio.

Aos alunos que disseram não gostar de Física, pedimos a opinião se o formato de vídeos

no ensino de Física os fariam mudar de opinião. A resposta é muito satisfatória, pois 52%

dizem que os vídeos podem fazer com que eles mudem de opinião e 31% responderam que

talvez possam, conforme a Fig. 5.8. Para um número pequeno de alunos, nem os vídeos

vão conseguir fazer com que eles gostem de Física.

Este resultado traz um certo alento. Para que o aluno comece a gostar da disciplina

de Física, é preciso apresentá-la de forma atrativa, antes de mais nada, para aguçar a sua

curiosidade e despertar um interesse pela disciplina. A�nal, toda criança ou adolescente é

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Figura 5.6: Opinião dos entrevistados quanto à utilização de vídeos para o ensino daFísica.

Figura 5.7: Opinião sobre o aluno gostar de Física.

naturalmente curiosa, pois está em fase de conhecer as coisas em sua volta, experimentar

novas sensações, etc. Para corroborar, a Fig. 5.9 mostra que mais de 60% dos alunos

a�rmam se interessar por assuntos da Física fora da sala de aula.

Se levarmos em conta o grá�co da Fig. 5.7, onde observa-se que apenas 38% dos alunos

a�rmam gostar da disciplina de Física, há um número signi�cativo de alunos que a�rmem

se interessar por assuntos relacionados à Física extracurricular, mas não pela Física do

ensino básico. Esse dado traz à luz da discussão e re�exão se a forma com que a Física

vem sendo ensinada é a correta. Contudo, a pesquisa não tem a pretensão de analisar

essa problemática, mas sim con�rmar a viabilidade do produto.

Ao perguntar aos alunos se achavam interessante esse formato de vídeo fazendo uso

de aparelhos do dia�a�dia deles para explicar a Física, a resposta foi unânime, todos

a�rmaram que sim (Fig. 5.10). Apesar do nosso universo de participantes da pesquisa ser

bastante limitado e enviesado, se comparado ao universo total com todos os alunos do

ensino médio do Brasil, a resposta 100% positiva é algo bastante signi�cativo.

Outro aspecto analisado na pesquisa foi o tempo de duração dos vídeos. Devido à

quantidade de conteúdo abordado em cada um dos vídeos, a duração deles �cou entre 10

min. e 25 min. O tempo médio de vídeos da plataforma que utilizamos é bem menor que

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Figura 5.8: Respostas dos alunos que não gostam de Física se os vídeos podem ajudá-losa mudar de opinião.

Figura 5.9: Curiosidade por Física não explorada no ensino médio.

isso. Segundo o website Criadores de Conteúdo [38], não existe um tempo ideal para o

Youtube, desde que a mensagem seja passada de forma concisa e clara. Contudo, uma

rápida busca nos materiais disponíveis no Youtube mostra que o tempo dos vídeos do

produto supera em duração a maioria dos materiais disponíveis nessa plataforma. Não

obstante, mais de 74% consideraram o tempo como sendo adequado, conforme mostra a

Fig. 5.11.

Apenas um número muito baixo de entrevistados disseram que o tempo dos vídeos não

estava adequado. Pergunto qual deveria ser o tempo ideal, veri�cou-se que as respostas

são variadas: uns acharam muito tempo e outros pouco tempo. Como o número de pessoas

submetidas a essa pergunta foi baixa, é praticamente inconclusivo para qual sentido seguir;

reduzir ou aumentar o tempo.

Avaliamos também a aceitação de �atores� adolescentes na apresentação dos vídeos.

Apostamos que o produto se tornaria mais atrativo se fugíssemos de uma aula padrão. A

Fig. 5.12 mostra que foi uma boa estratégia, com a aprovação de mais de 75% de alunos.

Provavelmente a linguagem jovem e a faixa etária são os fatores mais relevantes para a

alta taxa de aceitação. Vale enfatizar que a troca pelos jovens não signi�ca uma tentativa

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Figura 5.10: Aceitação do uso de aparelhos do cotidiano do aluno para explicar a Física.

Figura 5.11: Apreciação do tempo de duração dos vídeos.

em diminuir o papel do professor. A troca foi realizada com a intenção de chamar a

atenção do aluno e aproximá-lo da Física.

Além da avaliação do produto em si, solicitamos aos alunos avaliarem a plataforma

a qual disponibilizamos os nossos vídeos. Era preciso saber se os alunos que assistiram

os vídeos já conheciam, tinham o costume e utilizavam com frequência o Youtube como

recusos de estudos.

As respostas apontam que a grande maioria dos entrevistados utilizavam a plataforma

como um meio de estudo, frequentemente ou esporadicamente (Fig. 5.13). Esse resultado

já era esperado, a�nal o Youtube é umas das plataformas de vídeos mais conhecidas no

mundo e bastante acessada por adolescentes.

Por �m, e talvez a parte mais importante da pesquisa no que tange a elaboração

desse produto, apresentamos três questões dissertativas. Trata-se de uma abertura do

espaço para que os alunos apontassem aspectos positivos, negativos e deixassem sugestões

variadas para melhoria do produto.

Quanto aos aspectos positivos do produto, destacamos cinco respostas, a saber:

• �Explanação boa a respeito do assunto escolhido. Utilizar o eletrodoméstico para a

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Figura 5.12: Opinião sobre o formato dos vídeos com alunos apresentadores.

Figura 5.13: Frequência de utilização do Youtube como ferramenta educacional.

explicação é uma ótima forma de colocar o dia a dia em sala de aula, e conhecer

sobre o que se usa.�

• �A linguagem usada durante as explicações é clara e direta, formando um ótimo con-

junto com a linguagem utilizada ao manter um diálogo com o receptor o que ajuda

a memorização e o entendimento do conteúdo apresentado, fora as demonstrações

grá�cas de teoria que constam de tempos em tempos.�

• �A utilização de aparelhos do cotidiano para tornar o conhecimento adquirido em

algo que sejamos capazes de observar e realizar ao invés de só lermos e �carmos no

método maçante de sala de aula.�

• �Explicação clara e atrativa, alunos como apresentadores nos deixam familiarizados

com o conteúdo, ilustrações nos ajudam a compreender melhor o que nos é trans-

mitido, bem editado e formulado, os exemplos do cotidiano nos ajudam a visualizar

melhor a física na pratica, explicação pausada nos ajuda a �xar o conteúdo com

maior facilidade e o �nal foi sensacional (gostinho de quero mais).�

• �São muito dinâmicos e trabalham bem com edição (parte sonora, por exemplo),

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além de despertarem o interesse por estudar física fora do ambiente escolar."

A partir das respostas acima, podemos perceber a boa aceitação dos alunos quanto ao

formato dos vídeos. Percebe-se pelos comentários que utilizar aparelhos do dia�a�dia dos

alunos chamou atenção deles. Também é possível identi�car através das respostas que os

conceitos físicos foram transmitidos de forma clara e precisa.

Algumas respostas também fazem alusão aos apresentadores e a forma de apresentação,

um fato positivo, visto que isso era um dos aspectos que se queria atingir com a elaboração

dos vídeos. A fala da quarta resposta, a�rmando que os alunos como apresentadores nos

deixam familiarizados com o conteúdo, é uma con�rmação que a mudança de linguagem

traz uma proximidade dos conceitos com os alunos.

Quantos os aspectos negativos dos vídeos, destacamos os seguintes textos:

• �A interação entre os apresentadores é resumida a contatos curtos e relacionados

apenas ao conteúdo, e na minha opinião experiências �extra-curriculares� poderiam

também ser abordadas.�

• �O tempo de duração, porém se levarmos em consideração o detalhamento das ex-

plicações, é perfeitamente compreensível a duração do video.�

• �Precisa ter um pouco mais de �rmeza por parte dos alunos apresentadores na hora

de passar o conteúdo, porém não está ruim mas pode melhorar.�

• �A forma com que os apresentadores falam ainda está meio "dura", roteirizada, eles

precisam de soltar um pouco mais, falar como eles falam normalmente, por que

assim quem está assistindo se sente mais confortável e de certa forma íntimo. Mas

isso com o tempo melhora, para o primeiro vídeo está muito bom.�

• �O aspecto negativo do video é a velocidade com as informações são passadas, já que

por se tratar de assuntos com explicações extensas, uma fala extremamente pausada

é fundamental.

Algumas das críticas já eram esperadas. Se por um lado houve a aceitação de �atores�

adolescentes por um número grande de avaliadores (Fig. 5.12), houve também algumas

ressalvas. Ao assistirmos os vídeos, �cam evidentes as observações negativas dos apresen-

tadores, como a postura deles, a falta de �rmeza e de dinamismo, entre outros.

Certos aspectos dessas críticas eram esperados. Os apresentadores não são atores,

nunca atuaram ou sequer desenvolveram qualquer tipo de vídeo para nenhum tipo de

veículo de comunicação ou redes sociais. Além disto, existe a di�culdade inerente do con-

teúdo, mesmo sendo alunos interessados que gostavam de Física no colégio � ter segurança

para transmitir o conteúdo nem sempre é uma tarefa fácil. O nervosismo nas gravações

era notório e talvez a preocupação de fazer bem feito os tenham deixados mais retraídos.

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Entre outros aspectos negativos, podemos destacar o tempo de duração dos vídeos e

problemas de ordem técnica, como o som, imagens e edição de forma geral.

Por outro lado, vale observar que muitos não apontaram aspectos negativos nos vídeos.

Finalmente, quando é pedido que os alunos deixem sugestões de melhorias para os pró-

ximos vídeos, alguns comentários saltam aos olhos e devem ser levados em considerações

em produções futuras. Destacamos as seguintes opiniões:

• �Provavelmente uma boa opção seria propor desa�os para o telespectador ao longo

do vídeo, com intuito de maior interação.�

• �Atender os pedidos nos comentários para futuros vídeos e continuar explorando

coisas do nosso cotidiano que nos despertem curiosidade e interesse, pois assim como

no primeiro vídeo estaremos mais familiarizados com o conteúdo podendo revisá-lo

fora da sala de aula em uma plataforma móvel.�

• �Que houvesse uma junção com diversas materias na área de exatas.�

• �Participação da imagem do professor explicando a matéria, não somente a voz

deste. Muitos alunos são visuais e, na minha opinião, �ca uma explicação menos

"robotizada"."

• `O vídeo deveria ser uns 5 minutos menor para melhor interesse dos alunos."

As cinco sugestões destacadas apresentam ótimas opções de melhorias. A proposta de

colocar desa�os dentro dos vídeos é interessante, assim como propor fóruns de discussão

sobre o tema abordado nos vídeos.

Na terceira sugestão, sobre a junção das diversas áreas da Ciência em um único vídeo

é, com certeza, uma excelente proposta. Contudo, deve-se ressaltar que para se produzir

um vídeo nesse formato envolvendo todas as diciplinas de Ciências, há à necessidade que

seja formada uma equipe multidisciplinar de professores, cada um especialista numa área

e mais do que isso, tratar de problemas interdisciplinas. Como exemplo, podemos citar a

interação da radiação com o corpo humano.

Quanto a participação da �gura do professor, é compreensível que alguns alunos su-

giram tal coisa. A�nal, no Brasil há uma cultura inserida no aluno de que o professor é

o detentor do conhecimento e cabe a ele ensiná-los. Mas a proposta do produto diverge

desse ponto de vista; acreditamos que é possível trazer o conhecimento da forma como

foi apresentado, colocando �colegas� para apresentarem os vídeos. Observa-se no entanto,

que as explicações mais técnicas cabem às inserções das animações, narradas por uma

outra pessoa, supostamente um professor.

O tempo dos vídeo também foi citado como sugestão de melhoria, apesar de uma

porcentagem baixa dos alunos julgarem inadequado o seu tempo de duração. Contudo,

como já foi exposto, apesar do tempo de duração dos vídeos excederem o que alguns

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julgam o tempo ideal, deve-se levar em conta a coerência do tempo em relação o que

se pretendia ensinar. Sob essa ótica, podemos dizer que o vídeo teve sim um tempo

adequado. Contudo, é possível em outras oportunidades, trabalhar o processo de produção

para limitar a Física abordada para se ter um tempo mais ou menos padrão de duração.

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Capítulo 6

Conclusões

Encontrar uma forma de ensinar Física de modo que todos os alunos entendam e se

sintam atraídos pela disciplina seria, talvez, a maior felicidade de um professor que leciona

essa disciplina. Contudo, o que temos hoje é um quadro de distanciamento dos alunos e

um desinteresse quase mútuo deles por Ciências e em especial, a Física. Nas periferias de

grandes cidades, o poder público é incapaz de fornecer um mínimo de ensino de qualidade,

seja com uma infraestrutura de�citária ou por falta de recursos humanos. Em particular,

em Física, há falta professores formados na área e capacitados. No ensino privado, alunos

são inseridos num Ensino Médio pautado em resolução de problemas que não expressam

a realidade, onde as instituições estão preocupadas unicamente com vestibulares e ENEM

e não com uma Física associada ao seu dia�a�dia.

É dentro dessa realidade que esta Dissertação traz um produto educacional, cuja �-

nalidade é de contribuir de forma positiva para a melhoria do Ensino de Física e fazer a

aproximação dos alunos com a essa disciplina. A proposta, embora modesta, vem corro-

borar para a melhoria do cenário descrito acima. Ensinar Física sempre foi um desa�o em

qualquer nível de ensino. Assim, a proposta dos vídeos para o ensino da Física através de

aparelhos do dia�a�dia do aluno é um recurso didático�pedagógico relevante que aguce a

curiosidade dos alunos, de forma natural e voluntária. Evidentemente, se bem trabalhado,

pode ser bastante útil para complementar as aulas tradicionais.

A proposta educacional exposta na dissertação vem de encontro com as teorias educa-

cionais sólidas, em particular alicerçamos a produção dos vídeos na teoria educacional de

Ausubel. Na linguagem de Ausubel, os vídeos têm o potencial de se tornar objetos poten-

cialmente signi�cativos aos olhos dos alunos. Pensamos nos detalhes de apresentação do

conteúdo de Física usando como base os pontos de ancoragem dos alunos. Evidenciamos e

reforçamos informações relevantes ao longo dos três vídeos, de modo a conseguir modi�car

a estrutura cognitiva do aluno.

Os documentos o�ciais como PCNs, que estão presentes na Dissertação também são

destacados nos vídeos. Trabalhamos na tentativa de trazer sentido ao que se quer ensinar,

colocando os conceitos dentro da realidade do aluno. Apresentamos uma realidade física

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que permite que eles re�itam e discutam sobre o que foi exposto.

Para se ter um fácil acesso aos vídeos, criamos um canal no Youtube com essa �nali-

dade, denominado �Física na Prática Prof. João�. Como essa plataforma de exibição de

vídeos é bastante popular entre os alunos, esperamos com isso levar a Física para dentro

da realidade deles, de forma voluntária e prazerosa.

Contudo, A elaboração desse produto educacional trouxe muitos desa�os. Além da

problemática educacional, onde tinha-se que adequar a ideia inicial a um contexto edu-

cacional e pautá-la dentro de uma teoria sólida e reconhecida, enfrentou-se inúmeros

problemas de execução de ordem prática e técnica.

No intuito de testar a aceitação do formato e o conteúdo dos nossos vídeos, realizamos

uma pesquisa de opiniões junto aos alunos do ensino médio do Colégio da Polícia Militar

- Unidade Osasco, onde este autor leciona Física para as três séries.

Permitimos que expressassem suas opiniões através dos comentários no canal e res-

pondessem a uma série de perguntas, e deixassem suas críticas e sugestões de melhoria

através de plataformas de pesquisas online.

A não obrigatoriedade em assistir os vídeos também foi um fator relevante e positivo

� houve uma parcela expressiva dos alunos que viram os vídeos e que participaram da

pesquisa voluntariamente. Isso pode ser percebido mediante a análise dos indicadores de

acesso da plataforma que nos fornecem dados como número de visualizações.

Outra base de dados importante que corrobora no sentido positivo são os dados da

pesquisa em si que realizamos com os alunos. Todos os alunos avaliaram como positivo

o formato apresentado dos vídeos, ao trazer os aparelhos do cotidiano como fonte de

discussão. A decisão de usar alunos como apresentadores dos vídeos também foi muito

bem aceita por todos. Nas sugestões, recebemos elogios e alguns comentários de apoio

que fortalece a percepção de termos feito um bom trabalho.

Pelo feedback da pesquisa, os vídeos têm um bom potencial de desmisti�car a dis-

ciplina, que tem fama de difícil, incompreensível e provavelmente inútil na prática, na

mentalidade dos alunos atuais do Ensino Médio. De fato, embora aplicada num universo

bastante limitado, a discussão da Física nesse formato de vídeos chama a atenção dos

alunos e possui a perspectiva de atrair alunos que não se interessam pela disciplina. Mais

do que resolver a problemática do ensino de Física no Brasil ou no mundo, os vídeos

apresentam-se como mais uma alternativa, mesmo que singela, para aumentar o interesse

dos alunos pela Física.

Entendemos assim que o nosso produto educacional é uma ferramenta de auxílio que

pode ser interessante ao docente, visto que existe no produto uma gama de física que

pode ser explorada. Vale lembrar que embora até este ponto o nosso produto educacional

se resuma num conjunto de três vídeos, ele possui um enorme potencial e �exibilidade, se

pensado como um canal no Youtube que tem a intenção de mostrar a Física na prática.

É possível que num futuro breve, comecemos a aceitar vídeos produzidos pelos alunos,

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desde que o formato e o conteúdo sejam compatíveis com as nossas propostas. Sob essa

pespectiva, os vídeos elaborados nesta Dissertação são uma pequena amostra do potencial

do produto.

Finalmente, é importante mencionar que apesar da sua �roupagem�, caracterizada por

uma linguagem jovial e informal, a Física é apresentada de forma séria e na medida do

possível, clara e precisa. E além disto, tentamos sair do formato padrão de uma sequência

didática e abordamos diversos fenômenos simultaneamente num único vídeo. Ademais,

não nos limitamos aos tópicos padrões de Física Clássica, como mostra o terceiro vídeo,

onde abordamos a Física Moderna e Contemporânea.

Chamamos a atenção dos professores que desejam aplicar o nosso produto educacional

junto aos seus alunos. Há a necessidade que se apronfundem nos temas que são discutidos

nos vídeos, para que desta forma, estejam preparados para responder aos questionamentos

dos alunos.

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Apêndice A

Autorização do uso da imagem

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Apêndice B

Roteiros dos Vídeos

B.1 Objetivo, descrição e formato dos vídeos

• Duração: expectativa de 10 a 25 min., já editados.

• Objetivo: elaborar um Canal no YOUTUBE que tem a �nalidade de apresentar a

Física ensinada no Ensino Médio, através de equipamentos e situações cotidianas.

Com um discurso moderno, engraçado e próximo dos alunos, apresentar as equações

e teorias, através das demonstrações dos aparelhos e com auxílio, quando necessário,

de recursos visuais diferenciados, como animações e simulações.

• Objetivo especí�co: estimular e desenvolver nos alunos de ensino médio o in-

teresse pela Ciência, especialmente pela Física. Utilizando-se de uma linguagem e

forma de apresentação dos conteúdos diferenciadas, o Canal espera atrair e despertar

o espírito cientí�co dos alunos e que através disso, possam ser capazes de solucionar

os problemas de teorias propostos em sala, ou pelo menos pensar de forma crítica

sobre os mesmos.

• Formato: a ideia central é uma dupla de alunos que resolveram abrir um canal

na rede social a�m de demostrar na prática os conceitos teóricos da Física de sala

de aula. A partir desse viés, apresentam equipamentos e situações cotidianas na

discussão a�m de demostrar experimentalmente as teorias Físicas envolvidas em

cada um dos equipamentos. Com uma preocupação de ensinar, demonstram as

equações envolvidas em cada situação e colocam em discussão cada aspecto analisado

através dos aparelhos.

• Cenogra�a: um local com cortinas escuras, com cor só nas laterais, uma bancada

para os testes e os alunos pegando objetos para explicar melhor a ação e partes do

equipamento.

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• Inserções de animações: fórmulas e detalhes técnicos necessários são apresenta-

das em formato de animações.

B.2 Roteiros originais dos vídeos

Apresentamos nas próximas subseções os roteiros originais dos vídeos gravados. Os

vídeos são intercalados entre as falas dos apresentadores So�a e Aubert e animações.

Vale observar que após a edição, algumas dessas falas foram suprimidos dos vídeos,

portanto eles não correspodem às transcrições dos vídeos �nalizados.

B.2.1 Roteiro do vídeo �O ferro de passar roupas�

So�a: Fala galera ligada no YOUTUBE. Sejam bem-vindos ao nosso canal Física na

prática. Aqui vocês vão aprender a física de forma diferente. No �nal se gostou do vídeo

deixa o seu joinha ai embaixo, deixe comentário e sugestões para novos vídeos.

Aubert: Hoje vamos explorar os mistérios de um aparelho muito conhecido por todos,

o Ferro de passar roupas. Vocês sabiam que o ferro de passar é um instrumento que

começou a ser utilizado a centenas de anos? Desde o século IV já existiam meios de se

passar as roupas, principalmente as femininas. Os chineses foram os primeiros a utilizar

uma forma rudimentar desse instrumento, que consistia em uma panela cheia de carvão

em brasa e manuseada através de um cabo comprido, a �m de obter o resultado desejado.

Nos séculos seguintes, no ocidente passaram a usar a madeira, o vidro ou o mármore como

matéria-prima desse instrumento. Eles eram utilizados a frio, uma vez que até o século

XV as roupas eram engomadas, o que impossibilitava o trabalho a quente. No entanto, o

ferro de passar roupa propriamente dito na forma mais parecida com o que temos hoje,

tem suas primeiras referências a partir do século XVII.

So�a: Legal, mas eu acho que podíamos falar um pouquinho mais sobre os fatores que

causam o Efeito Joule. Por exemplo, como vimos em aula, os resistores dissipam a energia

elétrica em forma de calor. Mas como ocorre esse processo de transporte da energia

elétrica? Como os elétrons conseguem andar pelo �o?

Animação efeito joule

FALA 01: O efeito Joule, também conhecido como efeito térmico, é causado pelo choque

dos elétrons livres contra os átomos dos condutores. Ao receberem energia, os átomos

vibram mais intensamente. Quanto maior for a vibração dos átomos, maior será a tem-

peratura do condutor. Nessas condições observa-se, externamente, o aquecimento do

condutor.

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FALA 02: Esse efeito é muito aplicado nos aquecedores em geral, como chuveiros elé-

tricos, os ferros de passar, lâmpadas incandescentes, secadores de cabelos, chapinhas,

torradeiras, cafeteiras e muitos outros dispositivos elétricos.

FALA 03: Em meados do século XIX, James Joule demonstrou o efeito térmico ou Efeito

Joule da corrente elétrica. O aquecimento sofrido pelos condutores num circuito elétrico

pode ser observado com a seguinte montagem:

FALA04: Quando a corrente elétrica percorre o circuito, a resistência aquece, transfe-

rindo energia térmica para a vizinhança.

FALA 05: A energia transferida para a vizinhança é energia dissipada (desperdiçada)

pelo sistema por efeito Joule.

FALA06: Joule demonstrou que a energia elétrica transformada em energia térmica (E)

num condutor metálico é proporcional à resistência elétrica do condutor (R), varia com

o quadrado do valor da intensidade da corrente elétrica (I); é proporcional ao tempo de

funcionamento do circuito (∆T ). Desta forma, podemos de�nir a equação matemática do

Efeito Joule como:

E = RI2∆T

Aubert: Os elétrons percorrem o �o devido à uma diferença de potencial, ou simples-

mente (ddp), quando ligamos o ferro da tomada. Basicamente, em cada ponta do condutor

é colocada uma polaridade diferente; de um lado o pólo positivo e do outro lado o pólo

negativo. O que ocorre é que os elétrons do pólo negativo condutor, que são praticamente

livres, se sentem atraídos pelo polo positivo, então começam a migrar de um lado para o

outro do �o, gerando um �uxo de elétrons, que chamamos corrente elétrica.

Animação Corrente Elétrica

FALA 01: A corrente elétrica é de�nida como uma quantidade de carga positiva que

atravessa uma determinada área por intervalo de tempo. Na prática, num �o metálico,

por exemplo, são os elétrons que se deslocam, mas por convenção, o sentido da corrente

é estabelecido como sendo o das cargas positivas, ou seja, contrário dos elétrons.

A corrente elétrica surge quando estabelecemos uma diferença de potencial, que pode

ser estabelecido, por exemplo, por uma pilha ou uma bateria.

FALA 02: Existem dois tipos de corrente elétrica: a corrente contínua que é fornecida

por pilhas e baterias e a corrente alternada que é aquela fornecida pelas usinas para as

nossas casas e para as indústrias.

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A corrente contínua é aquele em que o sentido de movimento das cargas é sempre

o mesmo durante o funcionamento de um aparelho e tem como símbolo nos folhetos ou

mesmo nas chapinhas dos aparelhos as letras �CC� ou �DC�.

A corrente alternada é aquele em o sentido de movimento das cargas varia com o

tempo durante o funcionamento de um mesmo aparelho elétrico. Ela tem como símbolos

as letras �CA� ou �AC�.

FALA 03: Corrente alternada, CA ou AC (Alternating current do inglês), é quando

o �uxo de elétrons dentro do �o ocorre de maneira a ter troca do sentido da corrente

várias vezes por segundo, os elétrons fazem um movimento de vai-e-vem no �o. Com

esse movimento, é possível modi�car a voltagem de forma simples, o que é interessante

do ponto de vista prático: quanto maior a voltagem, menor a corrente e portanto maior

a distância que a rede consegue alcançar sem grandes perdas por efeito joule. Assim, a

corrente alternada se torna bem mais e�caz na transmissão que a corrente continua. A

frequência em que a corrente e a tensão fazem essa troca depende de pais para pais, mas

no Brasil a frequência é de 60 Hz, sendo assim a troca de sentido ocorre 60 vezes por

segundo. Se �zermos um grá�co da corrente ou tensão pelo tempo, veri�camos que a

curva possui um per�l de seno ou cosseno, daí dizemos que possui dizemos que se trata

de uma função senoidal.

FALA 04: A linha de transmissão pode ter uma tensão de até 750.000 V, mas a tensão

elétrica e�caz disponível em nossas casa é de 110 V ou 220 V.

Aubert: Muito legal! Tenho certeza que vocês que nos assistem nunca pensaram que

tinha dá para discutir tanta Física dentro desse aparelhinho, não é mesmo? Mas não

acabou não galera, se vocês observarem aqui, vemos essa parte do ferro, onde �ca a

resistência elétrica. Essa resistência é muito especial, ela funciona um pouquinho diferente

da nossa Resistência Ôhmica (lembram-se da lei de Ohm?); Essa resistência muda o seu

valor de acordo com a temperatura! Vamos ver melhor.

Animação Resistência Elétrica

FALA 01: O resistor é um dispositivo elétrico que ao ser colocado num circuito elétrico,

tem a propriedade de controlar a intensidade da corrente elétrica. Quando as cargas

móveis de um condutor são aceleradas por uma diferença de potencial (ddp), elas realizam

colisões contra os átomos e moléculas e seu �uxo através do material não é livre. A

resistência elétrica de um material é a medida da resistência à passagem de corrente

elétria através dele.

FALA 02: Quando a relação entre a diferença de potencial e a corrente que atravessa o

circuito é constante, dizemos que essa relação é ôhmica, ou seja, a resistência do circuito

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obedece a 1a Lei de Ohm, que diz que a relação entre a ddp U e a corrente I é constante:

R =U

I= constante

FALA 03: Para uma resistência ôhmica, observamos uma relação entre ddp e a corrente

elétrica é linear, o que no grá�co U versus I obtém-se uma reta. O coe�ciente angular dá

a resistência R.

FALA 04: Essa relação entre ddp e corrente nem sempre é constante. Veri�ca-se empi-

ricamente que a resistência é função da temperatura do material. Uma resistência possui

comportamento ôhmico quando o sistema mantiver a uma temperatura constante ou com

pequenas variações. Caso contrário, temos um comportamento não�ôhmico e dizemos

que o resistor é não�ôhmico.

FALA 05: No caso do ferro de passar a intenção é termos uma grande variação de

temperatura, portanto, a resistência é não�ôhmica, o que implica que a depêndencia de

ddp com a corrente não é constante.

Pelo segundo grá�co, podemos perceber que a resistência elétrica do material aumenta

com a tensão aplicada, pois, o coe�ciente angular da reta tangente à curva aumenta com

o aumento da temperatura.

FALA 06: Pelo segundo grá�co, a resistência aumenta quando a corrente aumenta. Mas

pelo efeito joule, a energia dissiada no resistor também aumenta, fazendo com que a sua

temperatura aumente. Como a resistência está aumentando, podemos concluir que a

resistência elétrica depende da temperatura do material.

De fato, veri�ca-se empiricamente que para uma temperatura T , a resistência elétrica

é dada por

R = R0(1 + α∆T )

onde, R0 é a resistência a uma temperatura T0, ∆T = T − T0) e α é o coe�ciente de

temperatura da resistividade.

FALA 07: Por �m, a resistêcia elétrica de um resistor depende tanto das suas dimensões

e formato, assim como, do material em si, cuja propriedade é chamada de resistividade

do material, ρ.

Uma rápida procura na internet nos fornece uma tabela com os valores de resistividade

de vários materiais.

Num caso particular em que se tem material de resistividade ρ, com comprimento L

e área de seção transversal constante A, a resistividade elétrica é dada por

R = ρL

A

Esta relação é conhecida como 2a Lei de Ohm.

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So�a: Mas está faltando apenas mais um detalhe. a dilatação térmica dos sólidos.

Sim galera, no ferro também observamos esse fenômeno, bem aqui, no termostato. Esse

dispositivo trabalha com a combinação de duas ligas metálicas diferentes. Desta maneira,

quando o ferro é aquecido, as lâminas se dilatam de forma diferente, fazendo essa laminas

se encurvar, ligando e desligando o ferro periodicamente, de acordo com a sua temperatura.

Animação Termostato

FALA 01: O Termostato é um dispositivo mecânico composto de duas lâminas metálicas

com coe�cientes de dilatação diferentes. Sua função é liga e desligar o ferro de passar,

mantendo a temperatura do sistema praticamente constante. Mas você sabe como ele

funciona?

FALA 02: O sistema de funcionamento do termostato é bem simples, como podemos

ver ele é composto de duas lâminas muito próximas, contudo é possível observar que uma

delas é fabricada com dois materiais distintos, constituindo assim uma lâmina bimetálica.

FALA 03: Ocorre que quando a corrente elétrica percorre o circuito através dos cabos

abaixo, por efeito joule, as lâminas se aquecem, como os materiais das lâminas são dis-

tintas, a dilatação das lâminas também serão diferentes, em outras palavras, uma vai

dilatação maior que a outra.

FALA 04: Como elas estão presas umas as outras, a lâmina bimetálica começa a se

curvar, retirando o contato elétrico, fazendo o ferro desligar automaticamente. Quando o

ferro desliga, a corrente cessa e cessa assim o efeito joule, fazendo o ferro esfriar. A lâmina

então volta para a posição inicial, retomando o contato elétrico e reiniciando o clico.

FALA 05: Não podemos nos esquecer que a dilatação sofrida pelas lâminas obedecem a

equação de dilatação dos sólidos, onde a variação do comprimento, depende do compri-

mento inicial da lâmina (L0) do coe�ciente de dilatação e da variação de temperatura do

lâmina.

So�a: Muito bem, espero que vocês tenham gostado do nosso primeiro vídeo do Canal

FÍSICA NA PRÁTICA. Quem gostou do vídeo, pode deixar seu comentário, seu joinha

e sugestões de novos vídeos.

So�a: Espera aí, não vamos terminar assim né, temos que fazer o Aubert se arriscar.

Kkkk. Sim, Aubert. Vamos contar até 3 e você faz o que combinamos, OK?

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Aubert: Fazer o que né, já que tenho que fazer vamos lá!

TODOS: 1, 2, 3 e já! (Nesse momento, Aubert puxa rapidamente a tomada do ferro

ligado da rede elétrica.)

Aubert: Aí galera?! Por que a tomada soltou faísca? Se não sabe o porquê, se liga no

nosso próximo vídeo que responderemos para vocês. Beijos a todos, e que a Física esteja

com vocês.

B.2.2 Roteiro do vídeo �O carregador sem �o�

So�a: Fala galera ligada do YOUTUBE. Sejam bem-vindos ao nosso canal FÍSICA

NA PRÁTICA. Aqui vocês vão aprender a física de forma diferente. Vamos mostrar

para vocês a Física na prática, complementando aquela Física de sala de aula, pautada

em teoria e exercícios de Vestibulares. No �nal se gostou do vídeo deixa o seu joinha ai

embaixo, deixe comentário e sugestões para novos vídeos.

Aubert: Muito bem, mas vamos ao que interessa. O que vamos explorar hoje nesse

vídeo? Hoje vamos explorar os mistérios de um aparelho, novo no mercado, mas que vem

fazendo muito sucesso entre os amantes de Smartphones e celulares mundo afora. Eu

apresento a vocês o carregador para celular sem �o.

So�a: Vocês sabiam que a primeira pessoa a propor a transmissão de energia elétrica

sem �o foi o físico Nikola Tesla? Já no �nal dos anos 1800, ele pesquisava e desenvolvia

suas teorias sobre a transmissão de energia sem �o. Por causa disso �cou conhecido como

o �pai do sem �o�.

So�a: Bem galera no �nal do vídeo passado, vimos o Aubert puxando rapidamente o

plug da tomada. Mas a pergunta é: porque ocorre a faísca?

Aubert: Quando se retira a tomada, a corrente vai a zero muito rapidamente. A Na-

tureza, no sentido de conter a diminuição abrupta do �uxo magnético, cria uma força

eletromotriz induzida, que tentará manter o sistema com a corrente original. Como o

circuito está desconectado, não haverá corrente, mas a fem induzida criará uma diferença

de potencial bastante elevada entre a tomada e o plug, de forma que ocorre a faísca.

Animação faísca da tomada

Quando retiramos a tomada da parede, a corrente vai a zero muito rapidamente. A

natureza no sentido de conter a direção abrupta do �uxo magnético, cria uma força ele-

tromotriz induzida, que tentará manter o sistema com a corrente original. Como o circuito

está desconectado, não haverá corrente. Mas a força induzida, criará uma diferença de

potencial elevada entre a tomada e o plug, de forma que ocorre a faísca.

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So�a: Que legal, mas agora vamos analisar mais de perto o nosso carregador sem �o, e

tentar desvendar seus mistérios. De cara, podemos perceber que esse aparelho funciona

através de um fenômeno eletromagnético, conhecido por Indução Eletromagnética.

CLOSE DE CAMERA, MOSTRANDO A DESMONTAGEM DO APARELHO.

Aubert: Exato! Na década de 1830, Michael Faraday, físico e químico inglês, descobriu

em seus experimentos que um campo magnético poderia gerar uma corrente elétrica.

Ele enunciou que uma força eletromotriz (fem) é produzida por condutores elétricos em

movimento num campo magnético uniforme, ou então por um campo magnético variante

no tempo. Mas você aí de casa sabe o que isso signi�ca? Preparamos uma pequena

animação para lhe ajudar a entender. Fica ligado!

Animação Fontes de Campo

FALA 01: Atualmente, conhecemos duas formas para se ter um campo magnético: a

primeira é através dos imãs permanentes, sendo que alguns deles são naturais e podem

ser encontrados na natureza, como um mineral chamado magnetita, um óxido de ferro.

Já os outros, como o ímã de geladeira, trata-se de um material chamado ferromagnético,

que adquire a propriedade magnética permanente ao ser exposto a um campo magnético

externo.

FALA 02 : A segunda forma é através dos eletroímãs, onde o campo magnético é gerado

através da corrente elétrica que percorre um condutor. Caso, por exemplo, de um sole-

noide, um dispositivo formado por um �o conduzindo corrente elétrica e enrolado em um

núcleo de ferro. Em 1820, uma Físico chamado Hans Cristian Oersted, que trabalhava

em seu laboratório montando circuitos elétricos, percebeu que a agulha de uma bússola

se moveu sozinha, quando o circuito foi ligado.

FALA 03: Oersted concluiu que o campo magnético que fez a agulha da bússola se mexer

foi produzido pela corrente elétrica. Após investigações, ele observou que esse campo

obedecia a uma série de regras, as quais �caram conhecidas como a Lei de Oersted.

FALA 04: Mas tarde, os físicos Jean-Baptiste Biot e Félix Savart encontraram uma ex-

pressão matemática, conhecida como a Lei de Biot�Savart, que fornece o campo magnético

gerado por um �o, complementando a Lei de Oersted. Uma relação entre o campo magné-

tico e a corrente elétrica foi também estabelecida por André-Marie Àmpere, a qual �cou

conhecida como a lei de Àmpere e é uma das equações fundamentais do eletromagnetismo.

Utilizando-se a lei de Biot�Savart ou a lei de Àmpere, podemos obter quantitativa-

mente o campo magnético gerado por um �o reto e longo conduzindo uma corrente I.

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Matematicamente, a intensidade do campo magnético a uma distância R do �o é dada

por

B =µI

2πR

onde o campo magnético (B), depende de uma constante de permeabilidade magnética

µ, que no vácuo tem o valor de µ = 4π × 10−7 T.m/A.

A direção do campo magnético é tangencial a um círculo imaginário de raio R centrado

no �o e o seu sentido pode ser determinado pela �regra da Mão direita�.

FALA 05: A regra da mão direita consiste em apontarmos o polegar da mão direita para

o sentido de propagação da corrente e fecharmos a mão em torno do �o (mostrar �gura)

FALA 06 (opcional): Embora tenhamos que utlizar os conhecimentos da mecânica

quântica, o campo magnético gerado por um ímã permanente também tem origem na

corrente elétrica. No caso, esse campo surge por causa do movimento dos elétrons nos

átomos do material. Em particular, a intensidade do campo é mais forte nos materiais

ferromagnéticos e podem ser permamentes, mas campos magnéticos podem ser induzidos

nos materiais chamados paramagnéticos e diamagnéticos, mas são temporários.

So�a: Mas Aubert, esse nosso carregador sem �o, não é explicado apenas pela Lei de

Faraday? Lembra que semana passada nós �zemos aquela experiência puxando o �o

do ferro da tomada? Então você não acha que tem alguma relação com a Lei de Lenz

também?

Aubert: Claro que tem So�a. Aliás para quem não assistiu o nosso vídeo da semana

passada, vamos mostrar o perigo que corri ao retirar o ferro de passar roupas da tomada.

REPRISE DA RETIRADA DO FERRO DA TOMADA.

So�a: Nossa, Albert, como você é exagerado! Correu perigo! Até parece! Uma faisquinha

de nada. Kkkkk, só você mesmo.

Aubert: Independente do perigo de morte que eu corri na semana passada, tínhamos um

objetivo que era mostrar o fenômeno para a galera de casa. Mas porque ocorreu aquela

faísca?

So�a: Olha não sei ao certo, mas tenho quase certeza que está relacionado a Lei de

Faraday.

Quando se retira a tomada, a corrente vai a zero muito rapidamente. A Natureza, no

sentido de conter a diminuição abrupta do �uxo magnético, cria uma força eletromotriz

induzida, que tentará manter o sistema com a corrente original. Como o circuito está

desconectado, não haverá corrente, mas a fem induzida criará uma diferença de potencial

bastante elevada entre a tomada e o plug, de forma que ocorre a faísca.

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So�a: Aí sim, explicou direitinho, mas vamos falar sobre a Lei de Lenz. A lei diz que o

sentido da corrente elétrica é tal que se opõe à variação do �uxo magnético que a produziu.

Isto é, a polaridade da força eletromotriz induzida em uma espira é tal que produz uma

corrente elétrica cujo campo magnético se opõe a variação do �uxo magnético através da

espira. Para entendermos melhor, podemos ver a animação.

Animação Indução Magnética

FALA 01: Oerted, em 1820, observou que a corrente elétrica podia produzir campo

magnético. Logo a seguir, acreditando na simetria da Natureza, os físicos se perguntaram:

não seria possível o campo magnético produzir corrente elétrica?

FALA 02: Então, em 1831, Michel Faraday mostrou que isso seria possível. Através de

experimentos ele observou que através da variação do �uxo de campo magnético com o

tempo podíamos induzir uma corrente elétrica.

FALA 03: Faraday então enunciou a Lei de indução magnética, ou simplesmente a Lei

de Faraday, que segundo ele

�se o �uxo do campo magnético através de uma espira sofrer variação com o tempo,

aparecerá uma força eletromotriz (fem) induzida, que será responsável pela geração de

uma corrente elétrica, no intuito de se opor à variação do �uxo.�

É importante ressaltar que essa fem induzida só existe enquanto houver a variação

do �uxo magnético. Se a espira não mudar de tamanho, a variação do �uxo ocorre se o

campo magnético variar com o tempo.

FALA 04: Matematicamente, a lei de Faraday é expressa como

E = −∆Φ

∆T

onde a força eletromotriz é menos a variação do �uxo magnético em relação a variação do

tempo.

FALA 05: O sinal de negativo da fórmula tem relação com uma consequência da Lei de

Faraday, que �cou conhecida como Lei de Lenz. A força eletromotriz induzida é tal que

ela gera uma corrente induzida, que por sua vez gera um campo magnético induzido, que

tentará se opor à variação do �uxo. O sinal negativo leva à polaridade correta da fem

induzida.

FALA 06: O interessante é perceber que o campo magnético não depende de um condutor

para existir, e já observamos brincando com imãs que não há a necessidade de termos o

contato mecânico entre eles para que os campos interajam.

FALA 07: O carregador wireless, assim como a maioria dos aparelhos elétricos e eletrôni-

cos que utilizam energia elétrica da tomada, são alimentados por uma corrente alternada,

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que por sua vez gera um campo magnético que oscila com a mesma frequência da corrente.

Se uma espira secundária estiver na região de alcance desse campo magnético variável com

o tempo, surge uma força eletromotriz induzida nessa espira, conforme diz a Lei de Fa-

raday. Como dissemos anteriormente, a força eletromotriz induzida gera uma corrente

elétrica induzida, que será a responsável pelo carregamento da bateria do celular.

FALA 08: O mesmo princípio de carregamento do celular é utilizado para gerar a energia

elétrica que chega nas nossas casas. Essa energia é decorrente da fem induzida num cir-

cuito equivalente ao secundário, se comparado com o carregador wireless. Note, contudo,

que no caso do carregador wireless a variação do �uxo magnético se deve ao campo mag-

nético variável produzido pela corrente alternada. No caso de uma usina hidrelétrica, o

surgimento a variação do �uxo se deve porque os ímãs responsáveis pela geração do campo

magnético giram com a força devido à queda d'água. Nesse caso, é a energia mecânica a

responsável pela variação do �uxo magnético na espira secundária.

Aubert: Legal, agora sabemos, que o carregador sem �o funciona induzindo uma corrente

elétrica, devido uma variação do �uxo magnético. Mas será que assim como tínhamos no

ferro de passar essa corrente elétrica é alternada?

So�a: Com certeza Aubert, o �uxo de campo magnético ou elétrico, só induz a corrente

quando esses são variáveis com o tempo, desta forma, se o �uxo de campo varia a corrente

elétrica também varia com o tempo, ou seja produzimos corrente alternada.

Aubert: Legal, então o nosso celular é carregado, através de uma interação de campo que

ao variar, induz uma corrente elétrica alternada, está é utilizada para alimentar a bateria

do meu celular, que fornece uma corrente elétrica contínua para o seu funcionamento.

So�a: Aubert? Agora estive aqui pensando, esse negócio de energia elétrica é muito

versátil, já vimos que ela pode se transformar em calor, agora, vimos que ela produz

campo magnético. E quando eu penso que não pode acabar, meu pai comprou para o

jardim de casa, unas pequenas lanternas, que só funcionam à noite. Ficam o dia todo

carregando e é só o sol se pôr que elas começam a iluminar o jardim. Vai me dizer que a

energia solar também pode ser transformada em eletricidade?

Aubert: So�a, isso eu vou deixar para responder no nosso próximo vídeo, mas para você

não �car tão curiosa, posso adiantar que falaremos de energia solar.

Todos: Beleza galera, então até o próximo vídeo do Canal Física na Prática, espero que

tenham gostado e pensem ai, será que o Sol pode gerar energia elétrica?

B.2.3 Roteiro de vídeo �O balizador de jardim�

So�a: Fala galera ligada do YOUTUBE. Sejam bem-vindos ao nosso canal FÍSICA NA

PRÁTICA. Aqui vocês vão aprender a física de forma diferente. Vamos mostrar para

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vocês a Física na prática, complementando aquela Física de sala de aula, pautada em

teoria e exercícios de Vestibulares. No �nal se gostou do vídeo deixa o seu joinha aí

embaixo, deixe comentário e sugestões para novos vídeos.

Aubert: Muito bem galera, hoje vamos tratar de um aparelhinho que muitas pessoas já

viram nos jardins de muitas casas, porém, não tinham nem ideia que nele temos muita,

mas muita física envolvida. O balizador de jardim, alimentado por energia solar.

So�a: Mas Aubert, energia solar? Isso não é caro e difícil de termos em casa?

Aubert: Bom, So�a. A energia solar já foi cara sim e rara, porém, atualmente com o

avanço da tecnologia e melhoria dos materiais está cada vez mais acessíveis termos apa-

relhos alimentados por energia solar. Esse balizador por exemplo, custou R$ 38,00 cada,

o que não é um investimento alto. Sem contar que atualmente temos inúmeros aparelhos

que possuem a tecnologia, mochilas, capinhas que carregam celulares, calculadoras. Por

falar em calculadoras, você quer aplicação da Energia solar mais antiga e barata que essa?

Essas calculadoras que compramos em bazar, papelarias são baratas, em torno de R$ 5,00

e já existem a mais de trinta anos.

So�a: Interessante, mas vamos ao que interessa. Para falarmos desse aparelho e tentar-

mos entender como ele funciona, vamos começar falando sobre o Sol. Na verdade vamos

começar falando o que acontece no Sol, mais precisamente dentro dele, para que essa

energia seja liberada, percorra milhões de quilômetros e chegue até nós.

Aubert: Boa So�a, o Sol, nossa estrela mais próxima, nossa vizinha de porta, que é

responsável por boa parte da existência de vida na Terra. Podemos começar explicando

que o nosso Sol, é uma estrela e é considerada uma estrela mediana, tanto no brilho,

quanto por sua massa. So�a, você pode nos contar como esse Sol, ou melhor, como as

Estrelas são formadas?

So�a: Claro que posso, no início da formação de uma estrela, e o Sol não foi diferente,

normalmente o que ocorre é que grandes quantidades de matéria leve, essencialmente ga-

ses, como o Hidrogênio se aglutinam, por atração gravitacional. Não é à toa que a massa

do Sol hoje é constituída de 70% e hidrogênio. Conforme a gravidade vai agindo e aproxi-

mando as partículas de gases a estrela vai �cando mais densa. O Sol por exemplo, possui

um núcleo cuja densidade é 150 vezes a densidade da água líquida. Para termos uma ideia,

sabemos que 1 litro de água tem a massa de aproximadamente 1 kg, se conseguíssemos 1

litro do núcleo do Sol, este teria uma massa de 150 kg.

Aubert: Nossa, So�a! Isso realmente impressiona, porém, tudo relacionado ao Sol nos

impressiona, você comentou sobre a densidade do núcleo, mas quando vemos os números

sobre a temperatura do Sol também �camos impressionados, a�nal seu núcleo atinge de 15

milhões de graus celcius, com uma pressão de 26,5 Ppa (petapascal) o que corresponde a 10

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elevado a 15 pascal, formado por gases em estado de plasma � essencialmente hidrogênio

ionizado (ou seja, prótons e elétrons dissociados).

So�a: Nossa! Impressionante mesmo! Mas vamos falar sobre como o Sol funciona kkk. O

principal mecanismo de produção de energia do Sol ocorre no núcleo, onde há abundância

de prótons (hidrogênio ionizado). Esses hidrogênios podem constantemente se fundirem,

processo conhecido como ciclo pp (próton�próton). Essa reação nuclear conhecida por

fusão, transforma 6 prótons (Hidrogênios ionizados) em um átomo de Hélio.

Animação do ciclo pp

FALA 01: No interior do Sol ocorre muitas reações nucleares, mas o ciclo pp, ou cadeia

pp, é o principal mecanismo de produção de energia do Sol.

FALA 02 : Essa reação consiste na fusão de prótons para a formação do Hélio 4. Mas

Vamos entender melhor como isso é possível.

FALA 03: A primeira condição para que isso aconteça é a temperatura. Sim, para que

ocorram reações nucleares é necessário atingir altíssimas temperaturas, No interior do

Sol a temperatura é estimada em 15 milhões de graus Célsius. Mas além da temperatura

temos que ter pressão su�ciente algo em torno de 1015 pascal. Nessas condições, os átomos

de hidrogênio que se encontram lá estão ionizados, ou seja, são prótons.

FALA 04: Em termos gerais, a reação p-p ocorre com a fusão dos prótons, formando

no segundo estágio o núcleo de deutério (também conhecido como hidrogênio pesado) ,

que é a junção de um próton com um nêutron. Para cada par de prótons, essa fusão

libera um neutrino e um pósitron (a antipartícula do elétron). Os neutrinos são neutros

eletricamente e só possuem interação fraca, portanto reagem muito pouco e escapam da

fotosfera, podendo chegar inclusive à Terra. Já os pósitrons chocam-se com os elétrons

presentes no núcleo do Sol. Um par elétron�pósitron se aniquila e produz dois fótons

energéticos, que formam os raios gama.

FALA 05: Um núcleo de deutério (2H) formado na primeira etapa da reação pode se

fundir com um hidrogênio ionizado, já que o núcleo do Sol está repleto deles, formando

o núcleo de hélio três (3He) (formado por dois prótons e um nêutron). Dois núcleos de

hélio três se fundem, produzindo dois hidrogênios ionizados e um núcleo de hélio quatro

(4He) (formado por dois prótons e dois nêutrons).

FALA 06: Como o núcleo do Sol está repleto de hidrogênio ionizado e a reação também

os libera, ocorre uma reação em cadeia e de forma cíclica, daí o nome ciclo pp, ou ciclo

próton-próton.

FALA 07: Vale ressaltar alguns números também, nessa reação, há a liberação de energia,

pois a massa inicial é maior do que a massa �nal, o que foi previsto teoricamente por nosso

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gênio Albert Einstein, mas, vale lembrá-los que não foi Einstein quem percebeu tudo isso.

Nessa reação portanto temos:

Massa inicial de quatro 1H = 4× 1,673× 10−27 kg = 6,692× 10−27 kg

Massa �nal de 4He = 4,0026 U.A = 4,0026× 1,6605× 10−27 kg = 6,646× 10−27kg,

o que nos leva uma diferença de 0,048× 10−27kg ou (0,7%) da massa inicial.

Aubert: So�a, a galera de casa pode até pensar, nossa mas a diferença de massa é muito

pequena, apenas 0,7% da massa inicial, ou seja é desprezível essa perda. Ai que a galera

se engana, pois, a teoria da relatividade de Eisntein, que determinou a equação E = mc2

, mostra que essa diferença de massa é na verdade transformada em energia, basicamente

energia cinética e térmica. E na verdade é essa diferença de energia a responsável por

manter a alta temperatura no interior do Sol.

So�a: Aubert, mas não para por aí não, continuando o processo, lembra da animação

quando os pósitrons eram liberados? Então eles voltam a se combinar com os elétrons

do núcleo, gerando mais fótons são (lembrando que o núcleo é uma �sopa� de prótons e

elétrons), então através do processo de combinação pósiton + elétron temos a formação

de 2 fótons.

Aubert: Lembrando a galera, que esses fótons que também foram chamados de raios

gamas devido a elevada energia, são quase que imediatamente absorvidos no interior do

núcleo e di�cilmente chegam até a fotosfera. Outras partículas que eram liberadas no

processo os neutrinos, por sua vez, como interagem muito pouco com a matéria ordinária,

conseguem atravessar todo o Sol e escapam e uma quantidade grande deles chegam à

Terra.

So�a: Galera, a essa altura do vídeo deve estar se sentido desesperado, acreditando

que não aprendeu nada de Física no colégio, a�nal, muito do que foi dito até agora

tenho certeza que a maioria nunca nem ouviu falar. Mas é o seguinte, para entendermos

completamente todo o processo que acontece no Sol e nas estrelas em geral, é necessário

que tenhamos conhecimento de física nuclear, física de partículas, as quais por sua vez,

requerem entendimento da mecânica quântica e da relatividade restrita.

Aubert: Agora vocês devem estar se perguntando, ok se preciso de tudo isso, porque

nunca estudei? Muitos desses conceitos apresentados até fazem parte do parâmetro cur-

ricular nacional de física, porém, normalmente não são trabalhados em sala de aula. Mas

apesar disso você deve ter percebido que com um pouquinho de dedicação é possível

entendermos tudo isso.

So�a: Mas vamos prosseguir galera que ainda não terminamos, na verdade para termi-

namos com a explicação sobre energia solar precisamos ainda de�nir um ultimo conceito.

Embora haja partes mais externas do Sol, a fotosfera é a responsável pela emissão da

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energia Solar para o espaço. Ela possui uma temperatura efetiva de 5778 K, o que é apro-

ximadamente 5500◦C. Como é bastante conhecido, todo corpo a uma certa temperatura,

emite e absorve radiação. O Sol emite e absorve 100% de radiação. Na Física, o corpo

que possui essa propriedade é conhecido como corpo negro. Pois bem, se conhecermos

a temperatura, sabemos como é a radiância espectral, que é dada pela lei de Planck da

radiação de corpo negro. Vamos ver o grá�co a seguir.

Animação Radiação do Corpo negro

FALA 01: O corpo negro ideal é o corpo capaz de absorver toda a radiação eletromagné-

tica que recebe, sem re�etir qualquer parcela da mesma. Da mesma forma, é também um

emissor ideal, ou seja, emite toda a radiação absorvida. Dizemos que se trata de um corpo

com emissividade igual a 1. A garrafa térmica é prateada ou espelhada, justamente para

que não haja transferência de calor por emissão ou absorção de radiação eletromagnética.

O aço inoxidável polido, por exemplo, possui emissividade igual a 0,17. A partir dessa

de�nição, o Sol é classi�cado como sendo um corpo negro com emissividade próxima de

1.

FALA 02: Quando analisamos o grá�co da radiância espectral de um corpo negro em

função do comprimento de onda, o seu pe�l e o comprimento onde ocorre o pico de emissão

e absorção dependem somente da temperatura T do corpo. Tendo emissividades iguais,

dois corpos com a mesma temperatura emitem e absorvem radiação da mesma forma.

FALA 03: Mas para entendermos melhor o grá�co, precisamos entender primeiro o

que signi�ca a grandeza �radiância espectral�. Essa grandeza pode ser de�nida como a

quantidade de energia emitida pelo corpo, por unidade de tempo e de área, num intervalo

de comprimento de onda.

FALA 04: Quando observamos o grá�co da radiância espectral do Sol, vemos que a maior

quantidade de energia emitida pelo sol por segundo numa área de um metro quadrado

está compreendida entre 400 e 700 nanômetros, aproximadamente, justamente no intervalo

correspondente ao espectro do visível do comprimento de onda eletromagnética.

FALA 05: Pelo valor do comprimento de onda do pico, dá para inferir a temperatura

do objeto. No caso do Sol, o pico corresponde a uma temperatura de aproximadamente

5700 K.

FALA 06: Em 1900, Max Planck conseguiu obter uma expressão matemática consistente

com o grá�co da radiância espectral. A origem dessa radiação deve-se à oscilação das

partículas carregadas do corpo negro. Planck postulou que essa oscilação era quantizada,

onde as possíveis energiais devem ser dados por E = hf , onde f é a frequência de oscilação

e h a constante de Planck. O trabalho de Planck é um dos marcos do nascimento da

Mecânica Quântica.

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Aubert: So�a quando a gente observa aquele grá�co do Sol da radiância espectral em

relação ao comprimento de onda, percebemos que o pico da emissão do Sol, nossa estrela,

está entre 400 nm (azul) e 600 nm (vermelho), o que para nós corresponde exatamente

ao espectro da luz visível. Então podemos nos perguntar, enxergamos as sete cores do

arco íris por pura coincidência, ou na verdade isso é uma questão de evolução e adaptação

biológica?

So�a: Pois é Aubert, tenho para mim que é evolução e adaptação, mas isso é assunto

para outro dia, a�nal até que en�m a luz saiu do Sol, ou do nosso corpo negro, e a essas

horas já deve estar chegando por aqui para alimentar nosso balizador e a partir de então

transformar toda essa física moderna e contemporânea em energia elétrica. Mas, a�nal

Aubert, você vai ou não nos explicar como essa energia solar que agora sabemos como

saio do Sol pode tocar nesse pedaço de material e simplesmente gerar a energia elétrica?

Aubert: Nossa! Isso é muito louco, por isso que eu gosto de ciências, a discussão e as

hipóteses, os erros os acertos as pesquisas, a busca de informação tudo isso é muito louco.

Mas, vamos ao que nos interessa, vamos falar sobre células fotovoltaicas.

So�a: Aubert, antes devemos explicar a galera de casa que existe diferença entre energia

solar térmica e Energia Fotovoltaica. O efeito fototérmico consiste na captação da Irra-

diação Solar e conversão direta em calor, esse fenômeno pode ser conseguido passando

a tubulação de água da casa por cima do telhado e pintando o encanamento de preto,

para ajudar na absorção do calor. É o que ocorre com os Sistemas de Aquecimento So-

lar que utilizam os Coletores Solares como dispositivo de captação energética. O efeito

fotovoltaico, observado por Edmond Bequerel em 1839, consiste no aparecimento de uma

diferença de potencial nos extremos de um semicondutor, quando esse absorve a luz visí-

vel. Esse só conseguimos quando possuímos uma placa fotovoltaica ou célula fotovoltaica.

Aubert: Bem lembrado So�a. Aliás, vamos mostrar para nossos amigos de casa o que

consiste em uma célula fotovoltaica, aliás vamos desmontar esse balizador e mostrar para

a galera os componentes desse aparelho.

CLOSE DE CAMERA MOSTRANDO AS PARTES MAIS IMPORTANTES DOS

COMPONENTES.

So�a: Depois de conhecermos os componentes o que nos interessa e nos chama a atenção

de verdade é a placa solar, colocada aqui na parte de cima desse balizador, normalmente

essas placas são concebidas por germânio ou silício. Atualmente a maior parte delas é

fabricada por silício. Apesar de teoricamente conseguirmos utilizar o carbono na confecção

dessas placas não temos placas de carbono por enquanto no mercado.

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So�a: Mas para entendermos melhor como as placas funcionam é necessário falar do efeito

fotoelétrico. O efeito fotoelétrico é a emissão de elétrons de metais e outras substâncias

quando absorvem energia de onda eletromagnética. A emissão desses elétrons aumenta

com a intensidade da radiação incidente na superfície do material, pois há mais energia

disponível para libertar elétrons. Mas, através da animação vamos observar uma depen-

dência com a frequência da radiação, pois para cada substância, existe uma frequência

mínima, que chamamos de frequência de corte .

Animação Efeito fotoelétrico

FALA 01: O efeito fotoelétrico é o fenômeno que permite retiramos elétrons de um

material, normalmente o metal, através da incidência da luz em sua superfície.

FALA 02: Vale lembrar que a luz nada mais é do que uma onda eletromagnética numa

determinada faixa de frequência.

FALA 03: Não é qualquer onda eletromagnética que consegue retirar elétrons dos metais.

Para que o efeito fotoelétrico ocorra, há a necessidade de incidirmos a luz com uma

determinada frequência mínima. Essa frequência é conhecida como frequência de corte.

FALA 04: O que ocorre é que para retirarmos os elétrons da superfície do metal precisa-

mos vencer uma energia de ligação que mantem os elétrons presos aos átomos do metal,

chamada de função trabalho, ϕ, cujo valor dependo do tipo de metal. Quando irradiamos

o metal acima da frequência de corte, os elétrons absorvem energia su�ciente da luz e

conseguem escapar do metal.

FALA 05: Uma vez que a placa metálica está sendo irradiada com a frequência correta,

podemos aumentar a emissão de elétrons aumentando a intensidade da incidência da onda

eletromagnética. Abaixo da frequência mínima, mesmo que se aumente a intensidade da

radiação, nada ocorrerá com o metal.

FALA 06: Em 1905, Albert Einstein lançou a hipótese de que a energia da luz ou da

onda eletromagnética comportava-se de forma discreta e quantizada, o que estaria de

acordo com as observações. Essa unidade de pacote de energia passou a ser chamada de

fóton. Para uma onda eletromagnética de frequência f, a energia de cada fóton é E = hf ,

exatamente igual a energia postulada por Planck aos osciladores do Corpo Negro.

FALA 07: A máxima energia cinética que o elétron ejetado da superfície do metal poderá

possuir é a diferença entre a energia do fóton absorvido no metal e a função trabalho. A

expressão matemática é dada por

Kmáx = hf − ϕ

onde hf é a energia do fóton e ϕ é a função trabalho do metal.

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FALA 08: Há um efeito muito similar ao efeito fotoelétrico chamado de efeito fotovol-

taico. No efeito fotoelétrico, os elétrons são ejetados no vácuo ou no ar após o material

ser irradiado por luz, enquanto que no efeito fotovoltaico os elétrons se movem, mas per-

manecem no material. O movimento dos elétrons produz uma diferença de potencial no

material. No caso de placas ou células solares, existe uma corrente elétrica relacionada

à essa diferença de potencial, que surge a partir do movimento dos elétrons, que são li-

berados do material semicondutor do tipo n, e do movimento dos buracos (ou ausência

de elétrons), no semicondutor do tipo p. Desta forma, pode-se dizer que o efeito fotovol-

taico, especi�camente a sua ocorrência numa placa solar, é oriundo da aplicação do efeito

fotoelétrico à eletrônica, combinada com a aplicação da física dos semicondutores.

Aubert: Como o efeito fotoelétrico ocorre normalmente em metais (condutores) sabemos

que em sua camada mais externa (banda de condução) os elétrons são mais livres para se

mover pela rede cristalina. Contudo, esses elétrons estão con�nados no metal através de

uma barreira de potencial situada na superfície. Desta forma, os elétrons devem ter energia

su�ciente para ultrapassar essa barreira e assim escapar do metal. Quando incidimos uma

radiação eletromagnética no material os elétrons absorvem essa energia conseguindo desta

maneira escapar do metal, gerando o que conhecemos como efeito fotoelétrico.

So�a: O interessante é que o fenômeno de efeito fotoelétrico e efeito fotovoltaico são

processos diferentes, mas que estão relacionados. O Efeito fotovoltaico é o surgimento de

uma tensão elétrica entre dois extremos em um material semicondutor, quando é exposto

à luz visível. A�nal, a luz visível é uma radiação eletromagnética e além, disso outra

forma que os elétrons tem para absorver energia é com o aumento da temperatura, o que

por sua vez é conseguido no efeito fotovoltaico.

So�a: Aubert, porque temos tanta di�culdade em produzir energia elétrica através da

radiação eletromagnética de luz visível?

Aubert: So�a, não se esqueça que temos muitos problemas na geração dessa energia,

a intensidade de radiação solar que chega a terra é em média menor que 1 quilowatt

por metro quadrado, o que pode ser considerado baixo quando comparado as fontes de

energia fosseis disponíveis. A captação dessa energia solar depende de fatores sazonais,

exemplo não podemos gerar energia solar o ano todo e geográ�cos, cidades como São

Paulo tem muita di�culdade de implantação de um pátio de energia solar, devido a imensa

quantidades de prédios presentes na cidade além, do investimento alto e área territorial,

pois, como temos baixa média de quilowatts por metro quadrado, teríamos que ter grandes

áreas territoriais.

So�a: Além de tudo que você colocou, precisamos destacar que essa forma de geração de

energia ainda tem um rendimento muito baixo, em torno de 15% de e�ciência energética,

o que em muitos países não é viável economicamente.

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So�a: Mesmo assim, apesar dos fatores que impedem de utilizarmos mais a energia solar,

como fonte de energia, fala a verdade galera. Pensar em toda a física envolvida é muito

louco. Temos essa energia sendo produzida pela queima de hidrogênio em hélio através

de reações nucleares no interior do sol. Que viajam a impressionantes 300 mil km/s,

chegam a terra irradiam um tipo de material conhecido como semicondutor. Através

da temperatura conseguimos fazer o elétron saltar a banda de valência para a banda de

condução e através da dopagem ajudamos na captação dessa energia elétrica.

So�a: Muito bem galera, se você curtiu nosso vídeo, deixa seu joinha seu like se ins-

creve no nosso canal e muito obrigado por estarem ligados até agora nos assistindo e nos

aguentando.

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