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CURSO DE FORMAÇÃO Maio/2018 MATERIAL DIDÁTICO ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO NOÇÕES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR INSTRUTOR Abadio Souza e Silva Concurso Público FISCAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO Superintendência de Proteção aos Direitos do Consumidor PROCONGoiás

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CURSO DE FORMAÇÃO

Maio/2018 

MATERIAL DIDÁTICO  

ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO NOÇÕES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

INSTRUTOR

Abadio Souza e Silva 

Concurso Público 

FISCAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO 

 Superintendência de Proteção aos Direitos do Consumidor 

PROCON‐Goiás 

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ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

E

NOÇÕES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

DISCIPLINA: ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO E NOÇÕES DO PROCESSO

ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

CARGA HORÁRIA: 4 horas

TIPO: Teórica

Professor

Abadio de Souza e Silva Especialista

1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O curso será ministrado em aulas teóricas (uso de multimídia) e a matéria será

contextualizada com a atual orientação jurisprudencial e legal. Possibilita-se também a

intervenção do aluno para eventuais esclarecimentos de dúvidas teóricas ou casos

práticos relacionados aos assuntos tratados.

2. BIBLIOGRAFIA

2.1 Básica

1. Sampaio, Luiz Augusto Paranhos. Processo Administrativo. 2º Ed.

Goiânia; AB, 2000.

2. Mazza, Alexandre. Manual de Direito Administrativo. 5ª Ed. São Paulo:

Saraiva, 2015.

3. Costa, Elisson Pereira da, COSTA, et al. Direito Administrativo. 6ª Ed.

São Paulo: Saraiva, 2014.

2.2 Complementar

1. Goiás. Constituição (1989). Constituição do Estado de Goiás. Diário Oficial

do Estado de Goiás, Goiás, 5 out. 1989. Disponível em:

http://www.gabinetecivil.goias.gov.br/constiuição_1988.htm. Acesso em: 11 abr. 2017.

2. Goiás. Lei nº 10.460, de 22 de fevereiro de 1988. Estatuto dos Funcionários

Públicos Civis do Estado de Goiás e de suas Autarquias. Diário Oficial do Estado de

Goiás, 29 fev. 1988. Disponível em

http://www.gabinetecivil.goias.gov.br/leis_ordinarias/1988/lei_10460.htm. Acesso em

11 abr. 2017.

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3. Goias. Decreto nº 5.462 de 09 de agosto de 2011. Ver anexo do decreto.

Disponível em: http://www.gabinetecivil.goias.gov.br/decretos/numerados/2001/

decreto_5462.htm. Acesso em 05 abr. 2018.

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Unidade I

1. Da Defesa do Consumidor conforme a Constituição do Estado de Goiás:

O Estado promoverá a defesa do consumidor, mediante:

I - Política de acesso ao consumo e de promoção de interesses e direitos dos

destinatários e usuários finais de bens e serviços;

II - Proibição de propaganda enganosa e fiscalização da qualidade, preços,

pesos e medidas de produtos e serviços colocados à venda;

III - Atendimento, aconselhamento, conciliação e encaminhamento do

consumidor por órgão de execução especializado;

IV - Estímulo ao associativismo mediante linhas de crédito específico e

tratamento tributário favorecido às cooperativas de consumo;

V - Política de educação e prevenção de danos ao consumidor;

VI - Instituição de núcleos de atendimento ao consumidor nos órgãos

encarregados da prestação de serviços à população.

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Unidade II

ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO

1. O que é ética1?

Ética, vem do grego ethos e significa caráter, comportamento. O estudo da

ética é centrado na sociedade e no comportamento humano. O estudo da ética não é só

explorado pela filosofia, mas diversos profissionais se dedicam a ela (sociólogos,

antropólogos, psicólogos, biólogos, médicos, jornalistas, economistas etc.)

principalmente pelo fato de cada área ter um código para delimitar as ações daquela

profissão.

Ética X Moral

Moral É um conjunto de regras coletivas que facilitam o convívio, é

mutuamente aceito e intrínseco ao homem social. Advém dos

costumes e hábitos recebidos. O fundamento é nas normas,

costumes, mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos.

Subjetivo.

Ética Define como o homem deve comportar-se diante do meio

social. Norteia a conduta/comportamento humano na

sociedade. Fundamenta-se pela razão, o modo de viver pelo

pensamento humano. Objetivo.

Deontologia Comportamento de alguns profissionais. É ramo da ética cujo

objeto do estudo são os fundamentos do dever e as normas

morais. (Teoria do Dever - Jeremy Bentham 1834). Regras

objetivas de um determinado contexto.

1 Disponível em: https://www.significados.com.br/etica/.

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Ética no serviço público significa que os profissionais devem seguir um padrão

de conduta que norteia a administração. São valores que acrescem a eficiência no

serviço público.

A ética está ligado aos princípios e deveres dos servidores públicos como

decoro, zelo, dignidade, eficácia e honra, além de outras qualidades do servidor, suas

obrigações que visam o bem estar da população, bem como as proibições e punições

derivadas do serviço irregular de suas funções, que relembram os princípios

fundamentais da administração pública (Artigo 37 da CF).

2. Princípios Gerais do Serviço Público2

A ética preocupa com aquilo que traga o maior bem-estar a todos.

A igualdade: as pessoas devem ser consideradas iguais. Os desiguais de

maneira desiguais.

A liberdade: você é livre para todos os atos, porém a preocupação da ética é

quando causa impacto na sociedade. Ex. fumar.

A fraternidade: relaciona com sentimento de responsabilidade mútua que

deve existir entre as pessoas. Dever de cooperação.

A honestidade e transparência: ser verdadeiro. Não agir de forma enganosa.

Os servidores deverão ser honestos no cumprimento de suas funções.

A justiça: Dar a cada um o que é seu de direito. Deve ser compatibilizada com

a clemência, que outro é outro valor ético. Essa é dar uma coisa boa ainda que não

mereça. Então a justiça deve ser equilibrada.

Com isso:

⇒ Os servidores públicos devem ser leais as suas Constituições, leis e

princípios éticos acima dos interesses privados;

⇒ Os servidores não poderão ter interesses financeiros que causem conflitos ao

desempenho de sua atividade;

⇒ Os servidores deverão usar de sigilo, não utilizando informações

governamentais para seu próprio interesse. Além disso, não poderão fazer promessas

não autorizadas que comprometam o governo;

⇒ Os servidores deverão ser honestos no cumprimento de suas funções;

2 Disponível em: http://codigo-de-etica.info/etica-do-servidor-publico.html. acessado em 02.04.18.

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⇒ Os servidores não poderão aceitar presente ou item de valor de qualquer

pessoa ou instituição em busca de benefícios, nem realizar atividades não reguladas ou

permitidas pelo órgão do servidor;

⇒ Os servidores não poderão usar seu cargo para ganhos privados;

⇒ Os servidores devem agir com imparcialidade e não devem dar tratamento

diferenciado a nenhuma organização individual ou privada;

⇒ Os servidores deverão proteger e conservar o patrimônio do Estado, não os

utilizando para fins não autorizados;

⇒ Os servidores deverão confessar fraudes, corrupção, desperdícios e abusos

as autoridades responsáveis.

⇒ Os servidores deverão de boa fé satisfazer suas obrigações de cidadãos,

incluindo obrigações financeiras;

⇒ Os servidores deverão apoiar todos os regulamentos e leis que asseguram

oportunidades iguais para todos;

⇒ Os servidores deverão evitar toda a ação que crie a aparência de que estão

violando as leis ou normas éticas.

3. Ética na Administração Pública

Importância:

O administrador exerce parcela do poder estatal;

O agente utiliza recursos da coletividade;

O administrador deve atender as necessidades da coletividade;

A ética é essencial para a legitimidade do sistema;

3.1. Disposições da CF

Art. 37 da CF: a pessoa pode agir conforme a lei e não ser ético;

Art. 1º da CF, III: Dignidade da pessoa humana;

Art. 3º da CF, I, II, III, IV;

Art. 5º da CF, I, II, VIII, LXXIII.

4. CGE e Lei de Improbidade Administrativa

4.1. A Controladoria Geral do Estado de Goiás – CGE-GO – é o órgão

central do Sistema de Controle Interno e do Sistema de Correição do Poder Executivo

Estadual, integrante da estrutura do Governo do Estado de Goiás.

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Foi criada pela Lei 17.257 de 26 de janeiro de 2011, englobando também atividades de

Prevenção da Corrupção e Informações Estratégicas e Ouvidoria Geral do Estado.

Falar sobre ética implica conhecer o site da CGE de Goiás que cuida controle

interno da administração pública, principalmente dos seguintes quesitos:

Dar andamento às representações ou denúncias fundamentadas que receber,

relativas a lesão ou ameaça de lesão ao patrimônio público, velando por seu integral

deslinde.

Requisitar a instauração de sindicância, processo administrativo disciplinar,

tomada de contas especial e outros procedimentos, sempre que se constatar omissão da

autoridade competente e avocar aqueles já em curso em órgão ou entidade da

administração estadual, para corrigir-lhes o andamento, inclusive proferindo julgamento

e promovendo a aplicação da penalidade administrativa cabível, quando houver

necessidade à efetivação da correção.

4.2. Lei de Improbidade Administrativa (lei 8.429/92):

Regulamentação da CF art. 37:

§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos

direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o

ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação

penal cabível.

§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por

qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as

respectivas ações de ressarcimento.

Atos de Improbidade Administrativa que Importam Enriquecimento

Ilícito;

Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando

enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em

razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades.

Atos de Improbidade Administrativa que Causam Prejuízo ao Erário;

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Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário

qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,

apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades.

Atos de Improbidade Administrativa Decorrentes de Concessão ou

Aplicação Indevida de Benefício Financeiro ou Tributário.

Art. 10-A. Constitui ato de improbidade administrativa qualquer ação ou

omissão para conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tributário contrário

ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de

julho de 2003.

Dos Atos de Improbidade Administrativa que Atentam Contra os

Princípios da Administração Pública

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os

princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de

honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições.

5. Decreto nº 5.462/2001.

Neste decreto fala da Conduta da Alta Administração Pública Estadual, porém

alguns tópicos do anexo podem ser aproveitados a todos os servidores públicos.

Art. 1º.......

§ 1o A conduta da autoridade pública reger-se-á, especialmente, pelos

princípios da legalidade, impessoalidade, finalidade, motivação, razoabilidade,

proporcionalidade, moralidade, probidade, publicidade, ampla defesa e do

contraditório, da segurança jurídica, do interesse público, eficácia, eficiência,

hierarquia, autotutela e continuidade.

I - a dignidade, o decoro, a eficácia e o zelo na preservação da honra e da

tradição dos serviços públicos;

II - a ética como fator permanente de decisão entre o legal e o ilegal, o justo e o

injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, o honesto e o

desonesto;

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III - o bem comum como finalidade da administração pública, e o equilíbrio

entre a legalidade e a finalidade como indicador da moralidade do ato administrativo;

IV - a moralidade administrativa como elemento indissociável da aplicação do

Direito e de sua finalidade, erigindo-se, em conseqüência, como fator de legalidade;

V - a função pública como exercício profissional que se integra à vida particular,

de modo que o conceito funcional espelhe a conduta dentro e fora do exercício;

VI - a publicidade como requisito de eficácia e moralidade do ato administrativo,

consistindo o seu descumprimento em comportamento ético contrário ao bem comum;

VII - a verdade em oposição à mentira, ainda que contrária ao interesse da

Administração Pública, como fator de correção do erro e da opressão, bem assim de

aniquilamento da corrupção;

VIII - a cortesia, a boa vontade e o cuidado no atendimento ao contribuinte como

contrapartida ao pagamento de tributos;

IX - a deteriorização do patrimônio público, por descuido ou má vontade, como

ofença ao cidadão e a quem se esforçou por constituí-lo;

X - o respeito à hierarquia, ao servidor e ao cidadão como fator de harmonia e de

colaboração;

6. Fundamentos da conduta dos servidores públicos:

I - boa-fé;

II - honestidade;

III - fidelidade ao interesse público;

IV - impessoalidade;

V - dignidade e decoro no exercício da função;

VI - lealdade às instituições;

VII - cortesia;

VIII - transparência;

IX - eficiência;

X - presteza e tempestividade;

XI - respeito à hierarquia;

XII - assiduidade e pontualidade.

Isso nada mais é o que está mencionado no artigo 294 da Lei 10.460/88:

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Art. 294 - São deveres do funcionário:

I -assiduidade;

II - pontualidade;

III - discrição;

IV - urbanidade

V- lealdade às instituições constitucionais e administrativas a que servir;

VI - observância das normas legais e regulamentares;

VII - obediência às ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais;

VIII - zelo pela economia e conservação do material que lhe for confiado e

pelo desempenho dos encargos de que for incumbido;

IX - exposição, aos chefes, das dúvidas e dificuldades que encontrar no exame

dos documentos e papéis sujeitos ao seu estudo;

X - levar ao conhecimento de seu chefe imediato as irregularidades de que tiver

ciência, em razão de seu cargo, representando à autoridade superior, se aquele não levar

na devida conta a informação prestada;

XI - guardar sigilo sobre os assuntos de natureza confidencial;

XII - atender, com preterição de qualquer outro serviço:

a) as requisições para defesa da Fazenda;

b) a expedição das certidões requeridas para a defesa de direitos e

esclarecimentos de situações de que trata o inciso III do art. 282;

c) ao público em geral;

XIII - residir na localidade onde for lotado para exercer as atribuições inerentes

ao seu cargo, ou em localidade vizinha, se disto não resultar inconveniência para o

serviço público;

XIV - apresentar-se decentemente trajado ao serviço;

XV - trazer rigorosamente atualizados as leis, regulamentos, regimentos,

instruções e ordens de serviço, pertinentes às suas atribuições;

XVI - manter espírito de solidariedade, cooperação e lealdade para com os

colegas de serviço;

XVII - freqüentar cursos de treinamento, aperfeiçoamento e especialização

profissional legalmente instituídos.

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Unidade III

1. Fundamentos de Direito Administrativo e a Função Correicional

Os princípios da Supremacia do Interesse Público e da Indisponibilidade do

Interesse Público, apesar de implícitos no ordenamento jurídico, são tidos como pilares

do regime jurídico-administrativo. Isto se deve ao fato de que todos os demais

princípios da administração pública são desdobramentos desses dois princípios em

questão, cuja relevância é tanta que são conhecidos como supraprincípios da

administração pública.

Além destes chamados “supraprincípios”, os princípios administrativos

aparecem, seja de maneira implícita ou explícita, em diversas leis, das quais destacam-

se a Constituição Federal de 1988, no caput de seu art. 37, e a Lei nº 9.784/1999, que

discorre sobre os processos administrativos no âmbito federal, em seu art. 2º. Esta

última enumera os seguintes princípios: legalidade, finalidade, motivação,

razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança

jurídica, interesse público e eficiência. Já a CF/88 é mais restrita ao enumerar tais

princípios, explicitando apenas: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência, sendo este último acrescentado pela EC 19/1998.

É de suma importância destacar que os princípios constitucionais ora citados

são de observância obrigatória para todos os Poderes, quando estiverem no exercício de

funções administrativas, e para todos os entes federados (União, estados, Distrito

Federal e municípios), alcançando a Administração Direta e a Indireta.

2. Corregedoria – Órgão Disciplinar ou Correicional?

Desde a sua origem, a Correição foi criada para perfeita e adequada prestação

dos serviços públicos jurisdicionais. Ela surge no sentido de resguardar os servidores

públicos de possíveis erros, excessos, equívocos ou mesmo atos abusivos e arbitrários

praticados, tendo por escopo a correta administração do serviço público. Assim, para

sanar equívocos procedimentais contrários a tais conceitos e decorrentes da

interpretação e aplicação errôneas destes e de outros dispositivos legais é que resulta

indispensável à presença de uma Corregedoria atuante e isenta.

Pode-se afirmar que, no Brasil, a atividade correicional não se confunde com a

atividade disciplinar. São funções distintas, porém com uma finalidade única: a

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eficiência do serviço público. Se a atividade correicional for desempenhada de forma

eficiente, a instauração de procedimentos disciplinares se torna quase improvável. Vale

dizer que a atividade correicional não é instrumento para intimidar os servidores

públicos, mas para aperfeiçoamento do serviço público.

A correição pode ainda ser classificada sob dois aspectos: geral (ou ordinária) e

parcial (ou extraordinária). A geral ou ordinária é atividade de fiscalização

desempenhada habitualmente pela corregedoria na área sob sua responsabilidade, em

decorrência de suas obrigações funcionais e sem motivo específico. A parcial ou

extraordinária é a fiscalização realizada pela corregedoria após tomar conhecimento de

fato particular, geralmente denunciado por pessoa interessada.

A atividade correicional permanente, ou seja, ordinária, tem por fim a

averiguação periódica da regularidade dos serviços públicos. Nela está contida também

a atribuição de expedir instruções para melhor regulamentar o funcionamento do serviço

interno ou externo prestado ao cidadão. Com isso, a Corregedoria mantém sob constante

inspeção as atividades públicas dos servidores do órgão a que é subordinado.

Observa-se que a atividade correicional no âmbito das Corregedoria da

Administração Pública dá-se na forma da inspeção, seja ela ordinária ou não, a que De

Plácido e Silva dá o seguinte conceito: “... derivado do latim inspectio (ação de olhar,

observação, verificação), entende-se, geralmente, a vigilância, direção e fiscalização,

mantidas ou promovidas a respeito de certas coisas, certos fatos ou certos negócios”.

A inspeção possui o sentido de direção e de fiscalização. Quando é tida como

direção, está se entende vigilante, para que tudo se processe segundo as regras ou

normas preestabelecidas. No sentido de fiscalização, se integra à observação a respeito

do que se deve inspecionar.

A inspeção pode ser permanente ou temporária, como pode ser determinada

para casos isolados. Assim, nesta última forma, indica-se no sentido de exame ou

sindicância, o que está conforme seu conceito, pois que, em regra, toda inspeção é

sindicante, porque possui a finalidade de observar e examinar.

A prática correicional recomenda que nas visitas as Unidades, o Corregedor

verifique a regularidade, a atualização dos registros e a correção no uso dos livros e

fichários utilizados pela repartição pública, os arquivos digitais e físicos, a

tempestividade dos atos que dependem de prazo, os processos, o ambiente de trabalho,

entre outras analises intrínsecas e extrínsecas que envolve o serviço público.

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Na constatação de alguma anormalidade, cumpre ao Corregedor apontá-la,

registrá-la e corrigi-la em ação pedagógica, mostrando e ensinando a forma correta de

agir, seja para o Chefe da Unidade, seja para os servidores da mesma. Não deve ser

escopo da correição constranger os servidores com observações depreciativas,

ameaçadoras ou que desmereçam o seu trabalho.

O estímulo a fazer o correto é a melhor forma de corrigir o ato do servidor que

pode estar na eminência de cometer uma irregularidade ou mesmo já ter cometido,

porém de forma que o dano ao erário ou ao cidadão seja de possível reparação,

buscando ainda conscientizar da necessidade de se manter a regularidade do processo. É

fundamental dialogar, orientado sobre porque razão se exige a prática de determinado

ato, qual a sua finalidade no processo, quais as possíveis repercussões de uma eventual

irregularidade, as consequências e os possíveis prejuízos ao erário e ao cidadão.

Ressaltamos o fato de que o Corregedor não poderá se escusar do seu poder-

dever de determinar a instauração de Sindicância, Processo Administrativo Disciplinar

ou outra medida administrativa quando se convencer da ocorrência de ilícito funcional,

civil ou administrativo, de desvio comportamental, de procedimento desidioso ou

contrário às normas regimentais ou estatutárias que regem o servidor, que, porventura,

constate nas correições.

A função corregedora deve prescindir de medidas coercitivas e punitivas

usadas normalmente em qualquer instituição pública, valendo-se da persuasão e da

sugestão, como meios excepcionais, que operam pela força da autoridade em

contraposição à autoridade da força.

Assim o Corregedor em seu papel correicional, mesmo sem poder intervir nas

relações discricionárias deve orientar, ensinar e conduzir os servidores sob a sua

jurisdição como um educador, ensinar, valendo-se, para isso, de procedimentos

pedagógicos e não apenas dos seus poderes hierárquico ou punitivo, devendo atuar

sempre no enfoque de um órgão de controle que se serve da sugestão e da persuasão, ao

invés da coerção e da restrição, ferramentas estas utilizadas em última instância.

O Corregedor deve expedir recomendações, no intuito de buscar a regularidade

e a uniformização dos serviços públicos, sempre observando a lei. Deve, ainda, utilizar-

se das correições ordinárias ou extraordinárias para averiguar a regularidade dos

serviços públicos no tocante à observância das normas procedimentais e da organização,

atento ao cumprimento dos prazos, formalidades e finalidade do órgão. Por fim, atuando

com o objetivo de correger, também chamado de emendar ou corrigir, o Corregedor

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opera como emendador, punindo através do devido processo legal o servidor

responsável pelo ato faltoso que tenha cometido.

3. Das Transgressões Disciplinares à Luz da Lei 10.460/88

Transgressão disciplinar pode ser definida como ato de natureza administrativa

contrário aos preceitos estabelecidos na Constituição Federal, Estadual e definidos no

Estatuto Funcional dos Servidores Públicos do Estado de Goiás. É a violação aos

preceitos éticos e aos princípios que atentem contra a Administração Pública.

Constitui transgressão disciplinar (ou falta disciplinar ou, ainda, infração

disciplinar) a violação, pelo servidor público, de um dever próprio de sua condição. A

doutrina mais especializada aponta cinco elementos para a sua composição: o material

(um ato ou omissão, ou uma série deles), o moral (a sua imputação a uma vontade

esclarecida e livre), o formal (a perturbação do funcionamento do serviço, ou afetação

imediata ou possível de sua), o legal (a necessidade de texto anterior para a

incriminação de certo fato) e o justo (a perpetração de um ato ou a verificação de um

fato, que não deve ter sido praticado ao abrigo da lei).

No tocante às transgressões disciplinares, aplica-se aos servidores do Estado de

Goiás a lei estadual nº 10.460, de 22 de fevereiro de 1988 (Estatuto dos Funcionários

Públicos Civis do Estado de Goiás e de suas Autarquias). É nesta norma que estão

elencadas as faltas passíveis de punição, bem como as sanções equivalentes e a forma

com que serão aplicadas.

O rol de transgressões disciplinares aplicáveis aos servidores encontra-se

previsto nos artigos 303 e 304do referido estatuto, porém o 304 é aplicável apenas aos

servidores policiais civis e segurança prisional. Cada artigo subdivide-se em dezenas de

incisos, cada um contendo um comportamento que deve ser compreendido como

faltoso. Ao todo, os dois artigos elencam 107 incisos (são 55 no art. 303 e outros 42 no

artigo 304).

Algumas condutas destacadas são bastante objetivas, como, por exemplo,

“abandonar, sem justa causa, o exercício de suas funções durante o período de 30

(trinta) dias consecutivos”. Outras, entretanto, exigem uma análise cuidadosa por parte

dos órgãos correicionais, visto que permitem uma interpretação amplificada, como é o

caso da infração disciplinar “trabalhar mal, intencionalmente ou por negligência”.

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Ao observar a existência de condutas definidas por meio de expressões

genéricas, como a famigerada “trabalhar mal”, notamos, como explica José Cretella

Júnior, que o legislador deseja dar margem de discricionariedade ao administrador para

que possa atingir pela repressão disciplinar, toda a infração aos deveres e obrigações do

funcionário, sejam quais forem (mesmo as que forem cometidas fora do serviço, quando

repercutirem sobre a honra e considerações do agente e sejam suscetíveis, pela

ressonância, de refletir-se no prestígio da função pública). Porém, continua o ilustre

professor, isso não indica que a ação administrativa se realize em caráter arbitrário ou

injurídico, pois a lei estabelece critérios dentro dos quais se graúda a responsabilidade

disciplinar, aferida, ainda, à luz de princípios gerais do direito.

A pena de repreensão, que será sempre aplicada por escrito e deverá constar do

assentamento individual do servidor, destina-se à punição de faltas de natureza leve. A

pena de suspensão, que não excederá a 90 (noventa) dias, será aplicada em caso de falta

grave ou de reincidência em qualquer das transgressões leves. Havendo conveniência

para o serviço, a pena de suspensão poderá ser convertida em multa, na base de 50%

(cinquenta por cento) por dia de vencimento ou remuneração, obrigando-se, neste caso,

o funcionário a permanecer no serviço.

A lei 10.460/88 prevê onze faltas passíveis de demissão (elencadas nos incisos

LIV a LXI e LXV do art. 303 e XLI e XLII do art. 304). Também será demitido o

servidor contumaz na prática de transgressões disciplinares puníveis com suspensão,

entendendo-se “contumácia” como a prática, no período de 5 (cinco) anos consecutivos,

contado da data da primeira transgressão, de 4 (quatro) ou mais transgressões

disciplinares pelas quais o servidor tenha sido efetivamente punido.

O estatuto reza ainda que será cassada a aposentadoria do funcionário quando

ficar provado que, ainda na atividade, houver praticado transgressão punível com

demissão; ou se aposentado ou colocado em disponibilidade, aceitar representação de

Estado estrangeiro, sem prévia autorização do Presidente da República.

4. Dos Deveres dos Servidores Públicos

I -assiduidade;

II - pontualidade;

III - discrição;

IV - urbanidade

V- lealdade às instituições constitucionais e administrativas a que servir;

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VI - observância das normas legais e regulamentares;

VII - obediência às ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais;

VIII - zelo pela economia e conservação do material que lhe for confiado e

pelo desempenho dos encargos de que for incumbido;

IX - exposição, aos chefes, das dúvidas e dificuldades que encontrar no exame

dos documentos e papéis sujeitos ao seu estudo;

X - levar ao conhecimento de seu chefe imediato as irregularidades de que tiver

ciência, em razão de seu cargo, representando à autoridade superior, se aquele não levar

na devida conta a informação prestada;

XI - guardar sigilo sobre os assuntos de natureza confidencial;

XII - atender, com preterição de qualquer outro serviço:

a) as requisições para defesa da Fazenda;

b) a expedição das certidões requeridas para a defesa de direitos e

esclarecimentos de situações de que trata o inciso III do art. 282;

c) ao público em geral;

XIII - residir na localidade onde for lotado para exercer as atribuições inerentes

ao seu cargo, ou em localidade vizinha, se disto não resultar inconveniência para o

serviço público;

XIV - apresentar-se decentemente trajado ao serviço;

XV - trazer rigorosamente atualizados as leis, regulamentos, regimentos,

instruções e ordens de serviço, pertinentes às suas atribuições;

XVI - manter espírito de solidariedade, cooperação e lealdade para com os

colegas de serviço;

XVII - freqüentar cursos de treinamento, aperfeiçoamento e especialização

profissional legalmente instituídos.

É dever do funcionário diligenciar para o seu constante aperfeiçoamento

profissional e cultural.

2. Das Responsabilidades

Pelo exercício irregular de suas atribuições, o funcionário responde civil, penal

e administrativamente.

A responsabilidade civil decorre de procedimento omissivo ou comissivo,

doloso ou culposo, que importe em prejuízo da Fazenda Pública Estadual ou de

terceiros.

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A responsabilidade penal abrange os crimes e contravenções imputados ao

funcionário como tal.

A responsabilidade administrativa resulta da prática de qualquer uma das

transgressões ou proibições previstas no capítulo anterior.

As sanções civis, penais e disciplinares poderão acumular-se, sendo umas e

outras independentes entre si, bem assim as instâncias civil, penal e administrativa.

A absolvição criminal só afasta a responsabilidade civil ou administrativa se

negar a existência do fato ou afastar do acusado a respectiva autoria.

3. Das Penalidades

Art. 311 - São penas disciplinares:

I - repreensão;

II - suspensão;

III - multa;

IV - destituição de mandato;

IV - destituição de função por encargo de chefia;

V - demissão;

VI - cassação de aposentadoria ou disponibilidade.

Quadro - resumo:

Transgressões Penalidades Prescrição

da ação

disciplinar

art. 322.

Incidência Incisos Natureza Tipo Incidência Rito

Art. 303 I a XI Grave Suspensão Art. 315 §

Sumário

3 anos

XII a

XVIII

Leve Repreensão Art. 314 PÚ

XIX a

XLVIII

Grave Suspensão Art. 315 §

XLIX Gravíssima Demissão Art. 317 Especial 6 anos

LIV a

LXI

Gravíssima

Demissão/cassação

de aposentadoria

ou disponibilidade

Art. 317

Ordinário

6 anos

LXII a

LXIV

Grave Suspensão Art. 315 §

Sumário 3 anos

LXV Gravíssima Demissão/cassação

de aposentadoria

ou disponibilidade

Art. 317

Ordinário

6 anos

Art. 304 I a VIII Leve Repreensão Art. 314 PÚ Sumário 3 anos

IX a XL Grave Suspensão Art. 315 § 1º

XLI e

Gravíssima

Demissão/cassação

de aposentadoria

Art. 317

Ordinário

6 anos

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a19

XLII ou disponibilidade

Art. 315 Art. 315 §

Grave Suspensão Art. 315 §

Sumario 3 anos

Nota 1: a pena de demissão também será aplicada no caso de contumácia de transgressão de suspensão nos termos do

art. 317 § 1º; Nota 2: cabe multa, cumulativa ou isoladamente com as sanções descritas (art. 311, § 1º); Nota 3: Art. 310 - A absolvição criminal só afasta a responsabilidade civil ou administrativa se negar a existência do fato ou afastar do acusado a respectiva autoria. Ver súmula 18 do STF; MS 20.814 STF; RESP 1.199.083-SP, RESP 1.012.647-RJ, MS 13.599-DF, Rcl 611-DF, todos do STJ; Nota 4: Art. 315 a pena de suspensão, que não excederá a 90 (noventa) dias, será aplicada em caso de falta grave ou de reincidência em qualquer das transgressões a que alude o art. 314; Nota 5: aplicação da pena segue: pena base (313) + agravantes (§ 1º) + atenuantes (§ 2º); Nota 6: pode converter a suspensão em multa na base de 50 % por dia de vencimento (art. 315 § 4º);

Nota 7: extingue a punibilidade no seguinte caso: prescrição da ação e óbito do servidor (art. 316). Conta-se da prática do ato e regula pela maior sanção em abstrato (322, § 1º). Aplica-se os prazos da lei penal no caso de infração disciplinar prevista como crime (art. 322, § 2º); Nota 8: interrupção do prazo com a instauração do processo administrativo (§ 3º e § 7º, I do art. 322). Suspensão do prazo (§ 4º e § 7º, II do art. 322); Nota 9: veda-se a exoneração de ofício ou aposentadoria voluntária quando o servidor estiver respondendo a processo administrativo (art.325); Nota 10: afastamento cautelar (art. 326).

4. Sindicância e Processo Administrativo Disciplinar

A lei 13.800/2001, que regulamenta o processo administrativo comum na

esfera da Administração Pública do Estado de Goiás, é aplicável, no âmbito disciplinar,

quanto à forma, tempo, lugar, comunicação dos atos e prazos recursais. Também,

aplicam-se subsidiária e supletivamente ao processo administrativo disciplinar, os

princípios gerais de direito e as normas processuais penais.

Ao tomar conhecimento da prática de suposta transgressão disciplinar, a

Administração Pública age de ofício, ou seja, tem o dever de promover a apuração do

fato denunciado. Trata-se de um poder-dever o qual a autoridade é obrigada a exercitar.

Em outras palavras, na iniciativa privada o administrador frente a uma conduta irregular

de seu empregado, pode perdoar, mas na Administração Pública não há lugar para essa

liberalidade ante a falta cometida. Havendo omissão do administrador público, ele

poderá incorrer na prática de crime– prevaricação ou condescendência criminosa, a

depender do caso.

5.1. Princípios Norteadores da Sindicância e do PAD

a) Legalidade: O sindicante e o processante devem agir na forma e nos limites

da lei.

b) Moralidade: As providências tomadas nos procedimentos administrativos

devem obediência à ética, à honestidade, à boa-fé e à lealdade.

Págin

a20

c) Impessoalidade: A autoridade sindicante ou processante deve manter uma

postura neutra nos casos em que atuam.

d) Publicidade: Os atos administrativos praticados nos procedimentos devem

ser amplamente divulgados e informados às partes.

e) Eficiência: O administrador deve buscar a utilização dos melhores meios

para atingir os melhores resultados.

f) Isonomia: Veda-se tratamento diferenciado a partes que estejam em uma

mesma situação.

g) Motivação: O administrador deve fundamentar por escrito o que o levou a

tomar determinada decisão.

h) Proporcionalidade: O administrador deve agir de forma razoável, sem

cometer excessos.

i) Ampla Defesa e Contraditório: Prevalece o entendimento de que este

princípio é aplicado somente no PAD (e não na sindicância, que possui características

inquisitoriais). Significa permitir ao servidor conhecer todo o teor da acusação que lhe é

feita e proporcionar a ele os meios necessários para se defender.

j) Formalismo Moderado: Nos procedimentos administrativos exige-se rigorosa

observância apenas das formalidades necessárias.

k) Verdade Material: É a busca da verdade real, que permite ao administrador a

produção de ofício de provas para a elucidação do fato.

l) Non bis in idem: O servidor não pode ser processado e punido duas vezes em

razão do mesmo fato.

5.2. VPI – Verificação de Procedência das Informações

Esse modelo foi criado com base no artigo 5º § 3º do CPP, com vista a uma

apuração preliminar sem que seja necessário a instauração de sindicância. Esse

expediente é utilizado em casos de denúncias aberrantes ou de conteúdo vago. Assim,

colhe-se a manifestação do denunciado e analisa-se arquiva ou instaura a sindicância.

Isso desde que verificado os indícios de autoria e materialidade.

5.3. Sindicância

5.3.1. Conceito

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a21

Sindicância é um procedimento, via de regra, preliminar, antecedente ao

processo administrativo disciplinar, instaurado para se investigar um fato noticiado com

repercussão, ao menos, na esfera administrativa disciplinar. Visa, portanto, investigar a

existência da autoria e materialidade noticiados e uma vez concluída, poderá ensejar a

instauração de processo administrativo disciplinar. Ver art. 327 § 2º.

5.3.2. Características

É instaurada por meio de portaria, com ou sem autoria conhecida, bastando que

haja a notícia da infração administrativa, não havendo a necessidade de publicação da

portaria inaugural no Diário Oficial do Estado. A sindicância tem por finalidade

investigar irregularidades funcionais. Está para o Processo Administrativo Disciplinar

assim como o inquérito policial está para o processo penal. Prima pela informalidade,

discricionariedade e sigilo necessários à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da

Administração Pública.

Em tese, a sindicância pode ser dispensada, desde que a notícia do fato traga a

descrição da infração administrativa disciplinar, sua autoria, materialidade e

circunstâncias que envolvem o fato noticiado.

Nos termos do art. 327, § 3º da Lei 10.460/1988, a sindicância terá natureza

inquisitorial, ou seja, não há contraditório, assegurando-se no seu curso a informalidade,

a discricionariedade e o sigilo necessários à elucidação dos fatos ou exigidos pelo

interesse da Administração. Logo, o conhecimento da sindicância deve estender-se

apenas às pessoas envolvidas no fato investigado e, logicamente, às autoridades da

Administração Pública que necessitem dela conhecer.

5.3.3. Prazo

O prazo para conclusão da sindicância não excederá 30 (trinta) dias, podendo

ser prorrogado por igual período, a critério da autoridade que determinou a abertura do

procedimento.

5.3.4. Valor Probatório e Nulidades

Parte dos estudiosos entende que a sindicância, tal qual o inquérito policial, por

tratar-se de procedimento inquisitorial, não tem valor probatório, vez que prova só

existe no processo após passar pelo crivo do contraditório e da ampla defesa sob o olhar

dos princípios gerais de direito.

Págin

a22

Por não ser um procedimento com formalidades rígidas, cujas provas deverão

ser confirmadas durante o processo, não há que se falar em nulidades. Todavia, o

sindicante deve obedecer as regras que orientam a coleta dos elementos probatórios –

cadeia de custódia, sob pena de tornar as provas inidôneas, suspeitas e

consequentemente imprestáveis sob o ponto de vista jurídico.

Em outras palavras, tudo deve ser devidamente documentado para não pairar

dúvidas quanto à origem da prova, sua coleta e conservação durante o caminho

percorrido da coleta até o debate jurídico orientado pelo contraditório e ampla defesa

durante o processo. Desse modo, o julgador terá a necessária segurança jurídica para

decidir o fato denunciado.

5.3.5. Diligências

As diligencias possíveis de serem realizadas em sede de sindicância, são

basicamente as mesmas realizadas durante um inquérito policial e há, inclusive,

previsão de solicitação de perícia (art. 331, §§ 16 e 17).

Vale dizer: a sindicância é procedimento administrativo que visa

precipuamente investigar infrações administrativas disciplinares e não infrações penais,

embora cópia da sindicância possa embasar a instauração de inquérito policial, sendo a

recíproca verdadeira.

5.3.6. Relatório

Concluídas as investigações, tendo sido coletadas provas acerca do fato

noticiado, o sindicante fará minucioso relatório, endereçado à autoridade do órgão

corregedor, expondo e comentando os elementos de convicção produzidos para, ao

final, sugerir a denúncia com vistas à instauração de processo administrativo disciplinar,

a realização de diligências ou o arquivamento da sindicância.

Caso as provas coletadas durante as investigações apontem a autoria e a

materialidade da prática de infração administrativa, o sindicante manifestará pela

denúncia do sindicado, ou seja, pela instauração de processo administrativo disciplinar

para que nele o servidor seja processado sob o crivo do contraditório, da ampla defesa e

dos demais princípios que regem a matéria.

A sugestão de arquivamento ocorre nos casos de ausência de indícios

suficientes de autoria ou de materialidade do fato denunciada. Também podemos citar o

Págin

a23

caso de autoria atribuída a pessoa não mais ocupante de cargo público, quando cabe a

sugestão de arquivamento por ter ocorrido o rompimento do vínculo com o Estado.

Finalmente, pode também o sindicante sugerir novas diligências, julgadas

necessárias ao melhor esclarecimento do fato denunciado.

Com a apresentação do relatório a autoridade pode:

Receber a denúncia constante do relatório da sindicância e instaurar o

processo administrativo disciplinar;

Determinar que o mesmo ou outro sindicante realize novas diligências

julgadas necessárias ao melhor esclarecimento das irregularidades;

Concluir pelo arquivamento ou pela suspensão das atividades da

sindicância, podendo reativá-la a qualquer tempo.

5.4. PAD – Processo Administrativo Disciplinar

5.4.1. Conceito

Nos termos do art. 148 da Lei 8.112/1990 (Regime Jurídico dos Servidores

Públicos Civis da União e de suas autarquias e fundações públicas), “processo

disciplinar é o instrumento destinado a apurar responsabilidade de servidor por

infração praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha relação com as

atribuições do cargo em que se encontre investido”. No entanto, o processo

administrativo disciplinar não visa somente apurar infrações disciplinares, mas,

também, dar oportunidade de defesa ao acusado.

O processo administrativo disciplinar é instaurado pelo corregedor do órgão

por intermédio de delegação de competência do Governador do Estado ou do Secretário

de Estado.

Impõe dois ritos procedimentais: ordinário (pena de demissão), especial (pena

de demissão) e o sumário (pena de suspensão e repreensão).

As penalidades impostas aos servidores são diversificadas e alguns tipos

administrativos são considerados abertos, pois qualquer anormalidade encontrada na

conduta do servidor público pode incidir em punição pela administração pública. O

legislador não se preocupou em analisar o elemento subjetivo (dolo ou culpa) ao

estabelecer a punição, mas em repreender quaisquer desvios que entende alheio à

conduta do agente perante a administração.

Págin

a24

Desse modo, para os tipos gravíssimos, em tese, fechados, alguns são

equiparados a infrações penais e podem levar à demissão do servidor a bem do serviço

público, enquanto que outros tipos, considerados intermediários de acordo com o grau

de envolvimento, podem ser punidos com pena de suspensão. Já as infrações mais leves

podem ser punidas com repreensão. De acordo com o Estatuto Funcional,

estabelecemos uma gradação das infrações administrativas em ordem decrescente:

Pena de DEMISSÃO (Art. 317 A pena de demissão será aplicada nos casos das

infrações previstas nos incisos XLIX, LIV a LXI e LXV do art. 303 e XLI e XLII do

art. 304, bem como nos casos de contumácia na prática de transgressões disciplinares

puníveis com suspensão).

Pena de SUPENSÃO3 (consideram-se faltas graves as arroladas nos incisos I a

XI, XIX a XLVIII, L a LIII e LXII a LXIV do art. 303 e IX a XL do art. 304 ou de

reincidência em qualquer das transgressões a que alude o art. 314).

Pena de REPREENSÃO (punição de faltas de natureza leve de acordo com a

previsão nos itens XII a XVIII do art. 303 e I a VIII do art. 304)

5.4.2. Comissão Processante

O processo administrativo disciplinar será conduzido por uma comissão

constituída de 3 (três) servidores estáveis - presidente, vice-presidente e secretário, de

comprovada capacidade funcional e reconhecida integridade moral.

5.4.3. Atribuição para Instaurar PAD

O processo tem início com a portaria que o instaurou, devendo ser publicado

extrato da mesma no Diário Oficial do Estado, em cujo preâmbulo deverá constar a

legislação pertinente, assim como o número do decreto de delegação de competência, se

for o caso. Deverá contem também a exposição da infração disciplinar, com todas as

suas circunstâncias, a qualificação do acusado, a classificação do ilícito disciplinar, a

designação da comissão processante, assim como o rito que deverá seguir – sumário,

especial ou ordinário -, determinação de citação do acusado, intimação do sindicante ou

sua nomeação e o rol de testemunhas.

Preceitua o art. 328 da lei 10.460/88: “São competentes para determinar a

abertura de processo disciplinar, no âmbito de suas respectivas atribuições, as

autoridades a que se referem os itens I, II e III do art. 312 deste Estatuto”. Ou seja, o

3 Não excederá a 90 dias.

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a25

Governador, Secretários de Estado e autoridades equivalentes, assim como os dirigentes

de autarquias (CEF, INSS, IPASGO) e fundações (FUNAI, IBGE).

5.4.4. Efeitos da Publicação da Portaria no Diário Oficial

A publicação da portaria instauradora do processo administrativo disciplinar

interrompe a contagem do prazo prescricional, que recomeça, a partir de então, o seu

curso pela metade, de forma a não diminuir o prazo original. Além disso, é vedada a

exoneração a pedido, bem como a concessão de aposentadoria voluntária, a funcionário

que esteja respondendo a processo administrativo disciplinar.

Publicada a portaria de instituição da comissão no Diário Oficial do Estado, a

mesma iniciará a instrução do processo administrativo disciplinar em no máximo 02

(dois) dias úteis.

5.4.5. Providências iniciais

A instrução do processo se dá com a portaria inaugural, devendo a comissão

lavrar a ata de instalação, providenciando a juntada dos seguintes documentos: portaria

que designou a comissão, publicação da portaria inaugural no Diário Oficial do Estado,

juntada da sindicância, se houver. Também deve-se solicitar a certidão de vida funcional

do acusado à seção de recursos humanos do órgão a que pertence e proceder à citação

do acusado para acompanhar o processo.

No Estado de Goiás, os órgãos correicionais ou são Gerências de Correições ou

Superintendências, nas quais encontram-se instaladas comissões permanentes de

processo administrativo disciplinar com atribuição para processo de rito sumário,

especial e ordinário, devendo o presidente zelar, a todo tempo, para que o ambiente

onde funciona a comissão ofereça condições adequadas para a realização dos trabalhos.

O presidente da comissão assinará todos os documentos pertinentes aos

trabalhos, tais como citações, intimações, editais, ofícios e outros. A maioria dos atos

praticados durante a sindicância será repetida na instrução do processo, como os

depoimentos das testemunhas e a oitiva do acusado.

5.4.6. Suspeição e Impedimento

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a26

A suspeição ou impedimento, de acordo com a Lei Estatutária, encontra-se

previsto no artigo 330, § 1º e com a descrição das condutas consideradas impedidas ou

suspeitas no § 3º, da Lei 10.460/884.

O impedimento tem caráter objetivo, enquanto que a suspeição tem relação

com o subjetivismo, trata-se da parcialidade dos membros da comissão. No

impedimento há presunção absoluta (juris et de jure) de parcialidade em determinado

processo por ele analisado, enquanto na suspeição há apenas presunção relativa (juris

tantum).

5.4.7. Prazo

Nos termos do art. 331, §§ 21 e 22, da Lei 10.460/1988, os prazos para

conclusão do processo administrativo disciplinar, contados da data da citação, são de 60

dias para processo de rito sumário (cuja prorrogação mais o prazo original não poderá

exceder 90 dias) e 120 dias em se tratando de processo de rito ordinário (cuja

prorrogação somada ao prazo original não poderá exceder 180 dias). Foi acrescido o

procedimento especial com previsão de termino em 30 dias, admitindo a prorrogação

cujo somatório não pode exceder a 45 dias.

Tanto a doutrina quanto a jurisprudência têm entendido que a fixação do prazo

para conclusão dos trabalhos da comissão processante não é peremptório.

No Superior Tribunal de Justiça: “Esta Colenda Corte já firmou entendimento

no sentido de que a extrapolação do prazo para a conclusão do processo administrativo

disciplinar não consubstancia nulidade suscetível de invalidar o procedimento” (STJ,

Mandado de Segurança nº 7.962).

Vale lembrar que o processo de rito ordinário é aquele que trata de transgressão

disciplinar punível com pena de demissão, cassação de aposentadoria ou de

disponibilidade (art. 331, §1º) e o de rito sumário diz respeito às transgressões

disciplinares puníveis com pena de repreensão, suspensão, multa e destituição de

4 § 1

o A designação de funcionário para realizar procedimentos disciplinares constitui encargo de natureza obrigatória, exceto nos

casos de suspeição ou impedimento legalmente admitidos ou manifesta conveniência administrativa.

§ 3o É considerado suspeito ou impedido para atuar como sindicante ou processante o funcionário que:

I - seja amigo íntimo ou inimigo capital do indiciado ou acusado, ou seus parentes e afins até o terceiro grau;

II - seja parente ou mantenha relações de negócios com o indiciado ou acusado ou seu defensor;

III - tenha sofrido punição disciplinar, salvo se reabilitado;

IV - tenha sido condenado em processo criminal, salvo se reabilitado;

V - esteja respondendo a processo disciplinar ou criminal;

VI - participe como perito ou testemunha, restringindo-se essa suspeição ou impedimento ao processo em que atue nessa condição;

VII - esteja litigando judicial ou administrativamente com o acusado ou respectivo cônjuge ou companheiro;

VIII - tenha se manifestado anteriormente na causa que constitui objeto de apuração do processo disciplinar.

Págin

a27

mandato (art. 331, §2º). O procedimento de rito especial trata do acúmulo ilegal de

cargo.

5.4.8. Citação

É o ato que precede à instrução, por meio do qual o acusado é chamado para ter

vista dos autos e apresentar defesa prévia, sendo-lhe entregue uma cópia do

procedimento para conhecimento dos termos da denúncia que sobre si recai, garantindo-

lhe explicitamente e a todo tempo o direito ao contraditório, ampla defesa e

assegurando-lhe acompanhar o processo pessoalmente ou por meio de procurador

(defensor) legalmente constituído para esse fim.

"Pouco importa não haja a lei previsto a citação inicial: a garantia explícita do

contraditório na instrução envolve necessariamente a ciência ao acusado da instauração

do processo para que dela se possa valer" (STF: Min. Sepúlveda Pertence - MS-

21726.0-RJ, D.J. 11/03/94).

Como se vê, a citação não é singela notícia da acusação, mas oportunidade para

que o acusado venha exercitar seu direito à ampla defesa. Vez que ao acusado, em nome

de sua defesa, lhe é assegurado o direito de arrolar testemunhas, solicitar perícias e

outras diligências que entender cabíveis para promover sua defesa.

Achando-se o servidor em local ignorado, incerto ou inacessível, ou

verificando-se que o mesmo se oculta, a citação se fará por edital publicado uma vez no

Diário Oficial do Estado e em jornal de grande circulação na localidade do último

domicílio conhecido, para apresentar defesa.

5.4.9. Intimação

Tem por finalidade convocar o acusado para ser interrogado, assim como as

testemunhas para prestarem depoimento. Sob pena de nulidade do ato praticado, exige-

se que as intimações sejam feitas pessoalmente, utilizando-se a chamada intimação ficta

(editais) quando resultar provado, devidamente certificado nos autos, que o intimando

esteja em local incerto e não sabido.

5.4.10. Notificação

Trata-se de comunicação feita ao acusado, para dar-lhe ciência de atos praticados

ou a serem praticados, tais como a audiência de inquirição das testemunhas, despachos,

decisões tomadas pela comissão e outros.

Págin

a28

5.4.11. Inquirição de Testemunhas

As testemunhas serão intimadas a depor pessoalmente, com antecedência

mínima de 2 (dois) dias da data marcada para a audiência (art. 331, § 12, da Lei

10.460/1988), devendo a segunda via, com o ciente da testemunha, ser anexado aos

autos. O acusado ou o sindicante (acusação) poderá desistir do depoimento de qualquer

das testemunhas por eles arroladas, ou deixar de arrolá-las, se considerarem suficientes

as provas que possam ser ou tenham sido produzidas.

Não sendo encontrada a testemunha arrolada ou se esta se recusar a ser

intimada, será concedido, no prazo fixado pelo presidente da comissão processante, à

acusação ou à defesa o direito a uma substituição. No caso de testemunha que não seja

servidor público, incumbe à parte que a arrolar o ônus de trazê-la à audiência de

inquirição, hipótese em que não se procederá à sua intimação (art. 331, § 10º, Lei

10.460/1988).

Quando for necessária a presença de pessoa não servidora pública, com a

finalidade de prestar informação relevante para a sindicância ou instrução processual,

analisadas a conveniência e oportunidade pela autoridade instauradora, poderá ser

concedida, por quem de direito, ajuda de custo em valor não superior ao da diária, com

a finalidade de indenizar eventuais despesas (art. 331, § 11, Lei 10.460/1988).

Ao final de cada depoimento, faculta-se ao defensor reinquirir as testemunhas

por intermédio do presidente da comissão. Se o acusado e seu defensor estiverem

devidamente intimados e não comparecer para a audiência de inquirição de

testemunhas, será nomeado defensor dativo para o acusado.

5.4.12. Interrogatório do Acusado

Trata-se de ato inquisitorial a ser realizado buscando a completa elucidação do

fato denunciado, dando ao acusado a possibilidade de apresentar esclarecimentos acerca

da infração que lhe está sendo imputada e de manifestar-se sobre as provas carreadas

para os autos. Tem início com a qualificação do acusado, informando-lhe do seu direito

de permanecer calado e de não responder às perguntas que lhe forem feitas.

Não sendo o acusado obrigado a responder às perguntas feitas pela comissão,

será constado na ata as perguntas não respondidas. Havendo mais de um acusado, serão

ouvidos separadamente, podendo os advogados de uns e de outros assistirem aos

interrogatórios, sendo-lhes vedado interferir nas perguntas e respostas dos acusados que

não representam.

Págin

a29

5.4.13. Prova Pericial

Caso a infração disciplinar deixe vestígios que necessitem de exames periciais

visando a constatação da materialidade, autenticidade ou autoria, deve a comissão

lançar mão da perícia técnica.

Também é possível arguir o incidente de insanidade mental do acusado.

Embora a lei 10.460/1988 não trate expressamente dessa matéria, prevê em seu art. 331,

§§ 17 e 18, a possibilidade da realização de perícias, de forma genérica. Assim,

subsidiária e supletivamente (art. 331, § 22), aplicam-se os arts. 149 a 154 do Código de

Processo Penal, que prevêem a realização de exame de insanidade mental do acusado.

5.4.14. Diligências

Havendo necessidade, a comissão não pode limitar sua atuação apenas à

inquirição das testemunhas e interrogatório do acusado, devendo lançar-se na busca de

outros elementos de convicção para dirimir dúvidas sobre ponto relevante ou suprir falta

que prejudique o esclarecimento do fato denunciado.

A diligência de iniciativa da comissão será marcada pelo presidente, via

despacho, do qual constará as atividades a serem realizadas no ato, sendo o acusado e o

sindicante (acusação) notificados, com antecipação, da data e local em que há de

realizar-se, assim como a finalidade da mesma. As diligências solicitadas pelo acusado

serão indeferidas, mediante despacho fundamentado, se forem manifestamente ilícitas,

impertinentes, desnecessárias ou protelatórias.

5.4.15. Alegações Finais

Concluída a fase de inquirição das testemunhas e realizada as diligências

deferidas, abrir-se-á, sucessivamente, o prazo de 3 (três) dias, se rito sumário, e de 5

(cinco) dias, se rito ordinário, para alegações finais da acusação e da defesa (art. 331, §

1º, IV, V, § 2º, IV, Lei 10.460/1988). No Especial as alegações é em 5 dias (§ 3º do art.

331).

5.4.16. Relatório Final

Apresentadas as alegações finais ou exaurido o prazo para esse fim, a comissão

processante elaborará relatório final, podendo, antes de concluí-lo, sanear eventuais

nulidades (despacho saneador), sendo admitida a realização de diligências para dirimir

dúvidas sobre ponto relevante ou suprir falta que prejudique o esclarecimento dos fatos.

Págin

a30

O relatório final constitui-se na mais esperada das peças produzidas pela

comissão, no qual deverá constar a exposição minuciosa de todos os acontecimentos,

coleta de provas e fatos ocorridos durante a instrução, concluindo, ao final, pela

absolvição ou pela aplicação de pena ao acusado, citando o dispositivo legal que prevê a

transgressão disciplinar praticada, assim como as circunstâncias agravantes e atenuantes

que envolvem o fato denunciado.

Após a juntada do relatório final aos autos, o processo será remetido à

autoridade instauradora para julgamento, quando, então, estarão encerrados os trabalhos

da comissão processante. No Estado de Goiás, pode ocorrer que a autoridade

instauradora do processo não seja a mesma que o julgará.

A comissão, quando não permanente, após elaborar o relatório final, se

dissolverá, mas os seus membros prestarão, a qualquer tempo, à autoridade competente,

os esclarecimentos que lhes forem solicitados a respeito do processo findo (art. 322, Lei

10.460/1988).

5.4.17. Julgamento

Ao receber o processo, a autoridade julgadora o julgará no prazo de 30 (trinta)

dias. Antes, porém, em cumprimento a determinação contida no art. 22, V, da Lei

Complementar Estadual 58/2006, remeterá os autos à Procuradoria Geral do Estado para

emissão de parecer quanto à sua legalidade.

Como durante o processo o acusado defende-se da imputação de um fato

determinado, a autoridade julgadora poderá adotar capitulação diversa da que lhe deu a

comissão processante, sem que isso implique cerceamento de defesa.

Quadro – resumo: No Estado de Goiás com a alteração da Lei 19.477/2016, temos

três ritos procedimentais:

Ordinário Quando se tratar de transgressões disciplinares puníveis com demissão, destituição de

mandato, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e multas a elas relativas, exceto

em caso de acúmulo ilegal de cargos, empregos ou funções públicas.

Sumário Nos demais casos, exceto no de acúmulo ilegal de cargos, empregos ou funções públicas.

Especial Quando se tratar de acúmulo ilegal de cargos, empregos ou funções públicas.

Págin

a31

1. Organograma do PAD – rito sumário: art. 331 § 2º e § 21, II (prazo de

60 dias) § 22 (até 90

dias).

P.A.D.S.

Instauração (portaria art. 327 2º).

Encaminhamento a CPAD art. 329/331.

Ata de instalação.

Oitiva de testemunhas da acusação e defesa – Art. 331 § 2º III e §§ 8º

a 11.

Defesa Prévia: 03 dias – Podendo arrolar 03 testemunhas, juntar documentos, solicitar perícias. Art. 331 §§ 17, 18 e 19.

Interrogatório do acusado. Art. 331 21º, I e II.

Citação do acusado e intimação do sindicante: art. 331 § 1º, ou por edital na forma do § 5º, no caso de ignorado, inacessível ou ocultação. Pode aplicar a revelia §§ 6º e 7º.

Relatório Final: Art. 331 § 2º V e § 20

Saneamento de Irregularidades: Art. 331 § 2º V.

Diligências Complementares: Alegações Finais: 03 dias (acusação e defesa). Art. 331 § 2º IV.

Págin

a32

2. Organograma do PAD – rito especial

Art. 331 § 3ª. Prazo de 30 dias prorrogáveis por 15 dias.

PAD – Especial: Acúmulo de Cargo.

Detectada a acumulação ilegal: Parecer da PGE.

Notificação do servidor para opção no prazo de 10 dias.

Instauração de PAD: Comissão 02 servidores e indicação de autoria e materialidade.

No caso de má-fé: Demissão, destituição ou cassação da aposentadoria ou disponibilidade.

Termo de indiciamento: 03 dias; Defesa escrita: 05 dias. Ainda pode optar por um dos cargos no prazo da defesa, sendo boa-fé.

Instrução sumária: indiciação, defesa e relatório e Julgamento (05 dias) autoridade, se tiver delegação ou Governador.

Págin

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2. Organograma do PAD – rito ordinário

Processo administrativo rito ordinário (demissão/cassação de aposentadoria ou

disponibilidade): art. 331 § 1º, § 21, III (prazo de 120 dias), § 21 (até 180 dias).

P.A.D.O.

Instauração (portaria art. 327 §1º).

Encaminhamento a CPAD art. 329/331.

Ata de instalação.

Oitiva de testemunhas da acusação e defesa – Art. 331 § 1º III e §§ 8º a 11.

Defesa Prévia: 03 dias – Podendo arrolar testemunhas, juntar documentos, solicitar perícias. Art. 331 § 17, 18 e 19.

Interrogatório do acusado. Art. 331 § 1º, I e II.

Citação do acusado e intimação do sindicante: art. 331 § 1º, ou por edital na forma do § 5º, no caso de ignorado, inacessível ou ocultação. Pode aplicar a revelia §§ 6º e 7º.

Relatório Final: Art. 331 § 1º V e § 20.

Saneamento de Irregularidades: Art. 331 § 1º V.

Diligências Complementares. Alegações Finais: 05 dias (acusação e defesa). Art. 331 § 1º IV.

Págin

a34

3. Organograma do PAD – Revisão

Arts. 338 a 345.

Revisão

Sem previsão de tempo. Exigem fatos ou circunstâncias suscetíveis de justificar a inocência do requerente.

Segue apenso ao processo originário. Pedido à autoridade que impôs a pena.

Autoridade designará comissão especial, composta de 3 (três) membros.

Chefe do Poder Executivo: demissão, cassação de aposentadoria e disponibilidade.

Prazo de 60 dias, podendo haver prorrogação por 30 dias. Julgamento 40 dias. Mesma autoridade ou Superior.

Decisão: Manter a punição; desclassificar a infração ou julgar procedente a revisão, restabelecendo direitos.