firma predial meliá

10
Firma Confundibilidade Predial Meliá Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça Processo: 96B176 JSTJ00030626 Relator:MIRANDA GUSMÃO Descritores: CONCORRÊNCIA DESLEAL NOVIDADE FIRMA Nº do Documento: SJ199609260001762 Data do Acordão: 26-09-96 Votação: UNANIMIDADE Referência de Publicação: BMJ N459 ANO1996 PAG562 Texto Integral: S Privacidade: 1 Meio Processual: REVISTA. Decisão: CONCEDIDA A REVISTA. Indicações Eventuais: F CORREIA IN LIÇÕES DE DIR COM VOLI PÁG281 1973 PÁG263. P COELHO IN LIÇÕES DE DIR COM VOLI 1957 PÁG244. Área Temática: DIR ECON - DIR CONC. DIR COM - MAR PATENT. Legislação Nacional: CPI40 ART4 ART36 ART37 ART73 ART74 A ART79 ART126 ART141 A ART162 ART190. CCOM888 ART27. DL 176/80 DE 1980/05/30 ART7. DL 42/89 DE 1989/02/03 ART1 N1 N2 ART2 N1 N2 ART3 N2 ART5. Jurisprudência Nacional: AC STJ DE 1991/05/23 IN BMJ N407 PAG571. Sumário : I - No domínio do Código Comercial, segundo o princípio da verdade, a firma deverá corresponder à situação real a que respeita, não podendo conter elementos susceptíveis de a falsear ou de provocar confusão, quer quanto à identidade do empresário, tratando-se de comerciante em nome individual, quer quanto à identidade dos sócios, tratando-se de uma empresa colectiva, quer, ainda, quanto à natureza da sociedade e à índole ou âmbito do próprio estabelecimento. II - O princípio da novidade (inconfundibilidade) da firma ou da denominação consagrado no artigo 27 do Código Comercial e no artigo 2 do Decreto-Lei 42/89, de 3 de Fevereiro, não tem aplicação aos comerciantes (pessoas colectivas) que exerçam actividades ou ramos de comércio diferentes. Decisão Texto Integral: Acordam no Supremo Tribunal de Justiça I 1. No Tribunal Judicial da Comarca de Oeiras, A, Portuguesa - Viagens e Turismo Limitada intentou acção declarativa com processo ordinário contra B, pedindo a condenação deste - deixar de utilizar no nome do seu estabelecimento a palavra "Melia", bem como a não utilizar em todos os sinais e documentos identificativos do mesmo, e ainda a indemnizar a autora pelos danos resultantes da sua actuação ilícita,

Upload: mimififi

Post on 01-Oct-2015

218 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

DIREITO COMERCIAL

TRANSCRIPT

Acrdos STJ

Firma Confundibilidade Predial Meli

Acrdos STJAcrdo do Supremo Tribunal de JustiaProcesso:96B176

N JSTJ00030626Relator:MIRANDA GUSMODescritores:CONCORRNCIA DESLEALNOVIDADEFIRMA

N do Documento:SJ199609260001762Data do Acordo:26-09-96Votao:UNANIMIDADEReferncia de Publicao:BMJ N459 ANO1996 PAG562Texto Integral:SPrivacidade:1

Meio Processual:REVISTA.Deciso:CONCEDIDA A REVISTA.Indicaes Eventuais:F CORREIA IN LIES DE DIR COM VOLI PG281 1973 PG263.P COELHO IN LIES DE DIR COM VOLI 1957 PG244.rea Temtica:DIR ECON - DIR CONC. DIR COM - MAR PATENT.Legislao Nacional:CPI40 ART4 ART36 ART37 ART73 ART74 A ART79 ART126 ART141 A ART162 ART190.CCOM888 ART27.DL 176/80 DE 1980/05/30 ART7.DL 42/89 DE 1989/02/03 ART1 N1 N2 ART2 N1 N2 ART3 N2 ART5.Jurisprudncia Nacional:AC STJ DE 1991/05/23 IN BMJ N407 PAG571.

Sumrio :I - No domnio do Cdigo Comercial, segundo o princpio da verdade, a firma dever corresponder situao real a que respeita, no podendo conter elementos susceptveis de a falsear ou de provocar confuso, quer quanto identidade do empresrio, tratando-se de comerciante em nome individual, quer quanto identidade dos scios, tratando-se de uma empresa colectiva, quer, ainda, quanto natureza da sociedade e ndole ou mbito do prprio estabelecimento.II - O princpio da novidade (inconfundibilidade) da firma ou da denominao consagrado no artigo 27 do Cdigo Comercial e no artigo 2 do Decreto-Lei 42/89, de 3 de Fevereiro, no tem aplicao aos comerciantes (pessoas colectivas) que exeram actividades ou ramos de comrcio diferentes.

Deciso Texto Integral:Acordam no Supremo Tribunal de JustiaI1. No Tribunal Judicial da Comarca de Oeiras, A, Portuguesa - Viagens e Turismo Limitada intentou aco declarativa com processo ordinrio contra B, pedindo a condenao deste - deixar de utilizar no nome do seu estabelecimento a palavra "Melia", bem como a no utilizar em todos os sinais e documentos identificativos do mesmo, e ainda a indemnizar a autora pelos danos resultantes da sua actuao ilcita, nos termos dos artigos 211 e 227 doCdigo de Propriedade Industrial e artigo 827-A, doCdigo Civil, em indemnizao a liquidar em execuo de sentena. Fundamenta o seu pedido nos seguintes factos:- alm de ter registado a firma, tem ainda registados o nome e a insgnia relativos a "Mlia" sob o n. 3123, tem igualmente registadas as "marcas" cujo elemento nominal distintivos e o vocbulo "Mlia", com os ns.223488 e 223489;- o Ru, abusiva e ilicitamente, est a utilizar o nome"Melia" na sua actividade comercial, designadamente como nome do seu estabelecimento de Mediao de propriedades, com a denominao de "Predial Melia";- ao utilizar tal denominao o Ru est a agir de uma forma que constitui um evidente atropelo de elementares regras de lealdade da concorrncia;- no obstante a oposio e a recusa da pretenso doRu, este continua a utilizar a denominao com manifesto prejuzo para a Autora;- a utilizao do vocbulo diferenciador pelo Ru acarreta prejuzos e danos comerciais avultados para aAutora, que de momento no possvel ainda computar.- Contestou o Ru alegando, alm do mais, que a designao "Predial Melia" faz parte da denominao social de uma sociedade de que o mesmo scio-gerente. essa sociedade e no o Ru a proprietria do estabelecimento em causa.- A autora requereu a interveno principal de PredialMelia - Actividade Imobiliria Lda, o que veio a ser deferido e, por tal, a requerida citada apresentou contestao.- Procedeu-se a audincia de discusso e julgamento, tendo sido proferida sentena que julgou a aco improcedente em relao ao Ru B e condenou a R a deixar de utilizar o vocbulo "Melia" na sua firma, no seu estabelecimento e noutro meio de identificao, absolvendo-o do pedido de indemnizao contra ela formulada.2. Os Rus e a Autora apelaram. A Relao de Lisboa, por acrdo de 30 de Novembro de 1994, negou provimento aos recursos.3. A interveniente "Predial Melia - Sociedade deMediao Imobiliria Lda pede revista, formulando nas suas alegaes, as seguintes concluses:1) Nos termos do artigo 190 do anterior Cdigo dePropriedade Industrial "a prova dos direitos da propriedade industrial faz-se apenas por meio dos ttulos de registo correspondente s diversas categorias nele reguladas", no podendo por isso, substituir-se esse meio de prova por outros documentos; a recorrida no exibiu no processo tais ttulos, marca e insgnia que reivindica nem da denominao social que usa pelo que no se poder ter dado como provada a matria constante das alneas A), B), C) da especificao, sendo, apesar disso, lcito a esseTribunal, nos termos do n. 2 do artigo 722 do Cdigo deProcesso Civil, por se tratar de uma ntida violao da lei, reconhecer a ausncia de prova bastante para prova do direito da recorrida.2) No pode haver reproduo parcial dos elementos nominativos que compem as marcas e as insgnias e quer no douto acrdo recorrido quer na deciso de primeira instncia, levou-se apenas em conta que na insgnia n.3123 e nas marcas ns. 223988 e 223989 o elemento nominal distintivo e o vocbulo "Meli" tendo-se desprezado as letras VM que, como se pode verificar dos documentos juntos aos autos, so, alis, as mais salientes do conjunto nominativo.3) Tendo-se em conta que: a recorrida usa a denominao social Meli Portuguesa - Viagens de Turismo Lda e a recorrente "Predial Meli" - Sociedade de MediaoImobiliria Lda; a recorrida se dedica ao exerccio da actividade de turismo e agncia de viagens e a recorrente tem como actividade de mediao no ramo imobilirio e ainda de que, como foi dada como provado, a recorrente apenas utiliza simultaneamente os elementos conjugados de "Predial Meli", sendo esteltimo correspondente ao diminutivo de Amlia, no possvel concluir pela existncia de semelhanas que induzam em confuso.4) A recorrente e a recorrida tm actividades completamente diferentes e as denominaes sociais, entre si ou com as marcas e insgnia, no so confundveis, pois nem sequer os elementos de fantasia so iguais (sobretudo no aspecto fontico e grfico) e, sobretudo, por a denominao social e o nome do estabelecimento da recorrente serem sempre precedidos da palavra "Predial" o que lhe confere uma individualidade e eficcia distintiva que permite aos comerciantes e consumidores distingui-lo do nome, da denominao social e marcas da recorrida.5) Os vocbulos a analisar no podero ser "Meli" e"Mlia" isoladamente, como se fez no douto acrdo recorrido, mas sim as denominaes de cada uma das sociedades ou, no mnimo, os vocbulos "Predial Mlia" e "VM Meli" pelo que no existe semelhana grfica, fontica ou gramatical entre os vocbulos em confronto.6) Mas ainda que se entendesse, na esteira do decidido no acrdo de 23 de Maio de 1991 publicado no B.M.J. n.407, pginas 571 e seguintes, o princpio da novidade da firma ou denominao social no se aplica aos comerciantes que exercem actividades ou ramos de comrcio diferentes, pois, nestas situaes, no h o perigo de confuso das denominaes que permita a um dos comerciantes a apropriao da clientela e dos fornecedores do outro.7) O douto acrdo recorrido violou o disposto no artigo 190 do anterior Cdigo da Propriedade Industrial e n. 1 do artigo 6 do actual C.P.I. e bem assim os artigos 228 e 229 e alnea a) do n. 1 do artigo 231 do actual Cdigo de Propriedade Industrial, o n. 1 do artigo 1 e n. 2 do Decreto-Lei n. 42/89, de 3 deFevereiro e artigos 141 e 142 do C.P.I.4. A recorrida no apresentou contra-alegaes.Corridos os vistos, cumpre decidir.IIElementos a tomar em conta:1) A Autora usa a denominao social Meli Portuguesa -Viagens e Turismo Limitada, tendo sido constituda em15 de Maro de 1967 e tendo por objecto principal o exerccio de qualquer actividade comercial ou industrial de turismo, agncia de viagens, transportes e representaes, assim como o planeamento, construo e explorao de hotis e ainda a explorao de qualquer ramo de comrcio e indstria para que no seja necessrio autorizao especial e que o Conselho de Administrao resolva explorar (alnea a) da especificao).2) A Autora tem registado em seu nome a designao e insgnia "Meli" sob o n. 3123 - alnea b) da especificao.3) A Autora tem registadas as marcas cujo elemento nominal distintivo o vocbulo "Meli" com os ns.223988 e 223989 - alnea c) da especificao.4) Atravs do D.R. III srie de 24 de Novembro de 1988 foi publicitada a constituio da R por escritura de 4 de Novembro de 1988.5) Em 20 de Maro de 1987 o primitivo Ru apresentou o pedido de inscrio do nome "Predial Meli", relativamente ao qual foi indicado como motivo de recusa o artigo 144 n. 6 do Cdigo de PropriedadeIndustrial.6) Em 20 de Maro de 1987 o Ru B pediu em seu nome a inscrio do estabelecimento denominado "Predial Meli" sito na Avenida ..., que actualmente explorado pela chamada sociedade "Predial Mlia Limitada".7) A denominao usada pela Autora e referida em 1) o primeiro vocbulo distintivo do seu grupo internacional de empresas de viagens e turismo, com patrimnio imobilirio em diversos pases.8) A denominao referida em 6) consta da lista telefnica para identificar o mencionado estabelecimento situado na avenida ... .9) A Autora notoriamente conhecida apenas por "Meli" junto dos seus clientes e nos mercados nacional e internacional, sendo esse nome que a situa no grupo empresarial de nvel mundial a que est.10) O Ru apenas mediador de seguros e no exerccio dessa sua actividade usa o nome individual, B.11) A expresso "Mlia" da R Predial Mlia -Actividade Imobiliria Limitada, corresponde ao diminutivo de Amlia, o nome da me do principal scio-gerente.12) Aparecendo sempre precedido do vocbulo "Predial".13) O nome "Predial Mlia" j figurava na lista telefnica de 1 de Julho de 1988.IIIQuestes a apreciar no presente recurso.- A apreciao e a deciso do presente recurso, delimitada pelas concluses das alegaes, passa pela anlise de duas questes: a primeira, se no poderia ter sido dada como provada a matria constante das alneas A), B), C) da especificao; a segunda, se entre a denominao social Meli Portuguesa - Viagens de Turismo Limitada e a "Predial Melia - Sociedade deMediao Imobiliria no possvel concluir pela existncia de semelhanas que induzam em confuso.Abordemos tais questes.IVSe no poderia ter sido dada como provada a matria constante das alneas A), B) e C) da especificao.1. Posio da Relao e da recorrente:1a) A Relao de Lisboa decidiu que com a petio inicial juntou a Autora documentao comparativa do registo a que o artigo 190 do Cdigo de PropriedadeIndustrial faz referncia e com base nos quais fundamentou o seu direito e formulou o pedido. Tais documentos no foram impugnados, quer pelo Ru, quer pela chamada. Sendo assim, h que admitir o que deles consta em relao ao articulado pela Autora, como verdadeiro. E foi com base neles, e por isso, que se formularam as alneas A), B) e C) da especificao, em que se faz referncia expressa documentao junta.1b) Por sua vez, a recorrente sustenta que, por um lado, os documentos juntos aos autos no provam os direitos de propriedade industrial invocados pelaAutora, na medida em que o artigo 190 do Cdigo dePropriedade Industrial fala em ttulos de registo e no somente em registo, uma vez que s atravs do ttulo que pode surpreender-se quem o actual titular dos direitos.Por outro lado, na apreciao do direito no pode ter-se apenas em conta que a marca e a insgnia da recorrida so compostas por um nico elemento nominal distintivo que o vocbulo "MELIA". que embora tal facto resulte da alnea C) da especificao, sempre se fez questo de salientar que as marcas ns. 223988 e223989 alm do vocbulo "MELI" incluem as letras "VM".Que dizer?2. Na interpretao do artigo 190 do anterior Cdigo daPropriedade Industrial (que prescreve "A prova dos direitos de propriedade industrial referidos no presente diploma faz-se por meio dos ttulos de patente, de depsito e de registo correspondentes s diversas categorias nele reguladas) h que ter em conta diversos elementos, sobressaindo o elemento sistemtico, que constitudo pelas disposies do instituto (tema, matria, etc) em que se integra a norma interpretanda e pelas disposies reguladoras de institutos ou problemas afins.Analisando-se os diversos direitos de propriedade industrial - patente (artigos 4 a 36), modelos (artigos37 a 73), marcas (artigos 74 a 162) nome e insgnia do estabelecimento (artigos 141 a 162) constata-se que os processos de concesso desses direitos terminam com a recusa ou a atribuio de um certificado ou ttulo - patente e depsito nos modelos e recusa ou registo - marcas, nome e insgnia do estabelecimento.Sendo assim, o artigo 190 tem o sentido de a patente e o depsito de modelos serem provados atravs de ttulo e a marca, nome e insgnia do estabelecimento serem provados atravs do registo.3. A marca um sinal distintivo de mercadorias ou produtos (artigo 74 do Cdigo de Propriedade Industrial ou de servios (artigo 7 do Decreto-Lei n. 176/80, de30 de Maio, que pode ser constituda por um sinal ou conjunto de sinais nominativos (marca nominativa) figurativos ou emblemticos (marca figurativa ou emblemtica) ou por uma e outra coisa conjuntamente(marca mista) - artigo 79 do Cdigo de PropriedadeIndustrial anterior.4. Face ao resultado interpretativo a que se chegou do artigo 190 do Cdigo de Propriedade Industrial anterior, tem-se como correcta a deciso da Relao deLisboa em manter a matria fctica das alneas A) e B) da especificao (a referida em 1) e 2), pargrafo II do presente acrdo). Na verdade, os documentos juntos a folhas sete e catorze comprovam tal matria.5. Face a noo, composio e prova das marcas, no se tem como correcta a deciso da Relao de Lisboa em manter a matria fctica vasada na alnea c) da especificao (a referida em 3), pargrafo II do presente acrdo). Na verdade, o documento de folha dezasseis prova que a Autora tem registadas duas marcas compostas pelos mesmos sinais nominativos: as letras VM e o vocbulo MELIA.Conclui-se, assim, que no podia ser dada como provada, como o foi, a alnea c) da especificao, dado o que se encontra provado, face ao citado documento, que aAutora tem registadas duas marcas com as letras VM e o vocbulo MELIA.VSe no existe confundibilidade dos elementos "PREDIALMLIA" E "MELI PORTUGUESA - VIAGENS E TURISMO, LDA.1. Posio da Relao e da recorrente.1a) A Relao de Lisboa decidiu existir confundibilidade dos elementos "Predial Mlia" e "MeliPortuguesa - Viagens e Turismo Lda" por, por um lado, pode dizer-se facto notrio o conhecimento que grande parte das pessoas ter do nome Melia como empresa ligada a turismo - viagens e estadias em hotis, pelo que, aparecendo uma empresa com idntico nome - MELIA, com ou sem acento no "e" e Melia, com ou sem acento no"a" - poder criar-se no homem mdio a convico de que se est perante empresas ligadas uma outra: sabendo-se que a Autora uma grande empresa, ou tida como tal, as pessoas podero ser levadas a pensar que a empresa da R, j ligada da Autora, ter um grande suporte financeiro.Julga-se, por isso, que h possibilidade de criar confuso no "homem mdio" o uso da palavra "Melia" ou"Mlia" por parte da R recorrente.Por outro lado, a possibilidade de criar confuses no homem mdio continua a existir ainda que, como no caso, se trate de empresas com ramos de negcio diferentes, porquanto, se para o pblico - os clientes - pode no haver perigo de confuso, esse perigo continua a subsistir, por exemplo, para os fornecedores de matrias primas, para os bancos, etc" - Ferrer Correia,Lies de Direito Comercial, volume I, pgina 281).1b) Por sua vez, a recorrente sustenta que no existe possibilidades de confuso entre os elementos PredialMlia e Meli Portuguesa - Viagens e Turismo, Lda, porquanto:- a expresso "Predial Mlia" suficientemente objectiva para transmitir ao pblico a mensagem da actividade que lhe est subjacente.- no juzo a desenvolver para se aquilatar das semelhanas ou diferenas, sobretudo pelo facto apurado de a palavra "Predial" preceder sempre "Mlia", no se pode considerar isoladamente um s elemento mas sim as denominaes sociais completas ou, pelo menos, os outros conjuntos das marcas figurativas PREDIALMLIA.- o confronto assim operado no pode de forma alguma suscitar confuses ao homem mdio, at porque o cidado interessado numa viagem jamais se deixar seduzir pela denominao "PREDIAL MLIA", e nem a prpria recorrente jamais poderia prestar-lhe quaisquer servios para satisfazer semelhante pretenso.- de acordo com o entendimento perfilhado no acrdo de 23 de Maio de 1991, publicado in B.M.J. 407, pginas571 e seguintes, "o princpio da novidade da firma no tem aplicao aos comerciantes que exeram actividades ou ramos de comrcio diferentes, pois, nestas situaes, no h perigo de confuso das denominaes que permita a um dos comerciantes a apropriao da clientela e dos fornecedores de outro comerciante".Que dizer?2. No domnio do Cdigo Comercial, segundo o princpio da verdade, a firma (formada, conforme os casos, por um ou vrios nomes de pessoas, completos ou abreviados - firma - nome -, por uma expresso alusiva ao comrcio exercido na empresa - firma- denominao -), dever corresponder situao real a que respeita, no podendo conter elementos susceptveis de a falsear ou de provocar confuso, quer quanto identidade do empresrio (tratando-se de comerciante em nome individual) quer quanto identidade dos scios (tratando-se de uma empresa colectiva) quer ainda quanto natureza da sociedade e ndole ou ao mbito do prprio estabelecimento" (FERRER CORREIA, Lies deDireito Comercial, volume I, 1973, pgina 263).- Este princpio, com o alcance dado por FERRERCORREIA, realado no artigo 1 n. 1 do Decreto-Lei42/89, de 3 de Fevereiro, que enuncia que "os elementos componentes das firmas e das denominaes devem ser verdadeiros e no induzir (no incutir) em erro sobre a identificao, natureza ou actividades do seu titular".- O n. 2 do artigo 1 do mesmo diploma legal, probe, com vista a proteger este princpio, o uso de certos elementos e expresses nas firmas, sendo certo que este princpio apresenta consagrao diversa, conforme se refere firma originria ou firma adquirida (PUPOCORREIA, Direito Comercial, 3. edio, pginas 153 a156).3. O princpio da novidade da firma estava consagrado no artigo 27 do Cdigo Comercial, que prescrevia que"a firma que cada comerciante adoptar deve ser completamente distinta das que j se achavam registadas na respectiva jurisdio;- Tal norma, tomado no seu sentido literal, torna muito difcil, quando no impossvel, a constituio de firmas novas: por exemplo, nos casos de homonmia.Daqui que FERRER CORREIA tenha firmado a doutrina de que "novidade significa o mesmo que inconfundibilidade", porquanto "o princpio da novidade destina-se a permitir a terceiros a fcil identificao dos comerciantes com quem pretendam entrar em relaes negociais."Ora evidente que esta identificao continua a ser possvel, mesmo nos casos em que as firmas contenham elementos comuns.- O que se impe que estes elementos comuns no sejam os prevalecentes, isto , os mais adequados a perdurar na memria do pblico, a impressionar". (obra citada, pgina 279.4. sombra do Cdigo Comercial discutia-se o problema de saber se o princpio da novidade deveria valer para os comerciantes que o fossem de ramos diferentes.Para PINTO COELHO deveria, nestes casos, considerar-se legitimo o registo de firmas idnticas ou confundveis(se olhadas em si mesmas) porque no haveria a possibilidade de inferncia entre a esfera em que opera uma e aquela em que opera a outra" (Lies de DireitoComercial, 1. volume, 1957, pgina 244).Para FERRER CORREIA, ainda aqui a diferenciao das firmas se impe: que, se para o pblico - os clientes- pode no haver perigo de confuso, este perigo continua a subsistir, por exemplo, para os fornecedores de matrias primas, para os bancos, etc. O princpio da novidade no se destina a proteger o titular da firma registada, mas ainda todos os terceiros que possam vir a ter relaes negociais com a empresa. Por isso, o princpio da novidade vem a traduzir-se na atribuio ao titular de qualquer firma registada de um direito absoluto ou de excluso dentro da rea em que o referido princpio tem eficcia (obra citada, pgina281).5. O realce dado pelo Decreto-Lei n. 42/89 ao princpio da exclusividade muito grande; basta analisar os artigos 2 ns. 1 e 2, 5 e 3 n. 2.Da anlise de tais normas verifica-se que, por um lado, o sentido deste princpio no consiste em que no hajam elementos comuns entre as firmas: o que necessrio que as novas firmas no sejam confundveis com as anteriores quando encaradas de modo global. E o critrio a usar para apurar essa inconfundibilidade deve ser o de verificar "com referncia diligncia normal do homem mdio, se uma firma pode ser confundida com outra, se uma pessoa que tinha em mente o nome de uma firma e pretendia dirigir-se a esta, poder ser induzida em erro pela semelhana do nome e dirigir-se, portanto, outra firma. A possibilidade de confuso deve subsistir de modo objectivo" (FERRER CORREIA, obra citada, pgina 280).Por outro lado, luz do disposto no n. 2 do artigo 2(que prescreve: "No juzo sobre a distino e a insusceptibilidade de confuso ou erro, devem ser considerados o tipo de pessoa, o seu domiclio ou sede e, bem assim, a afinidade ou proximidade das actividades exercidas ou a exercer e o mbito territorial destas") afigura-se-nos liquido que o problema da novidade (inconfundibilidade) no se pe em relao a firmas de comerciante (ou pessoas colectivas) que exeram actividades de ramos diferentes.Se a soluo dada por tal norma possa parecer criticvel "de iure condendo" (atentas as observaes e a tese defendida por FERRER CORREIA a diferenciao de firmas impe-se, ainda, que diferentes os ramos de actividade - obra citada, pgina 281), o certo que no subsiste presentemente os perigos que o insignePROFESSOR apontava nas suas Lies de 1973, uma vez que sabido "que as empresas muito se tm modernizado, informatizando os seus servios, e atendem a continuar essa modernizao.Hoje no tm razo de ser os perigos apontados porFERRER CORREIA e, tanto assim , que o legislador adoptou, como vimos, a soluo de no ter aplicao o princpio da novidade da firma ou de denominao social aos comerciantes (pessoas colectivas) que exercem actividades ou ramos de comrcio diferentes.Soluo que se enquadra no artigo 27 do CdigoComercial conforme doutrina firmada no acrdo desteSupremo Tribunal de 23 de Maio de 1991 - B.M.J. n. 407, pgina 571.6. Face s consideraes expendidas em 2) e 5), em conjugao com a matria fctica fixada pela Relao, verifica-se que enquanto a Autora Meli Portuguesa -Viagens e Turismo Lda tem a sua sede em Lisboa e objecto principal o exerccio de qualquer actividade comercial ou industrial de turismo, agncia de viagens, transportes e representaes, assim como o planeamento, construo e explorao de hotis e ainda a explorao de qualquer ramo de comrcio e indstria para que no seja necessria autorizao especial e que o conselho de administrao resolva explorar, a chamada PredialMlia - Actividades Imobilirias tem a sua sede emOeiras e por objecto, conforme ressalta da sua prpria denominao, a actividade imobiliria - mediao.Autora e chamada exercem actividades diferentes, actividades que ressaltam ao homem mdio, - face s prprias denominaes de sorte que no h o perigo de confuso quer por parte da clientela de cada uma quer da parte dos fornecedores e dos bancos.Conclui-se, assim, no existir confundibilidade dos elementos PREDIAL - MLIA e "MELI PORTUGUESA - VIAGENSE TURISMO LDA".VIConcluso:Do exposto, poder extrair-se que:"O princpio da novidade (inconfundibilidade da firma ou da denominao consagrado no artigo 27 do CdigoComercial e no artigo 2 do Decreto-Lei n. 42/89, de 3 de Fevereiro, no tem aplicao aos comerciantes(pessoas colectivas) que exeram actividades ou ramos de comrcio diferentes".Face a tal concluso, em conjugao com os elementos reunidos nos autos, poder precisar-se que:1) No h possibilidade de confuso entre a Autora - que tem por objecto actividades ligadas ao turismo e planeamento e construo de hoteis - e a R - que tem por objecto a actividade imobiliria - mediao.2) O acrdo recorrido merece censura por no ter observado o afirmado em 1).Termos em que se concede a revista e, assim, revoga-se o acrdo recorrido, com substituio por outro a absolver a chamada Predial Mlia - Actividades Imobilirias Lda do pedido de condenao a deixar de utilizar no nome do seu estabelecimento a palavra"Melia".Custas pela Autora e nas instncias e neste SupremoTribunal.Lisboa, 26 de Setembro de 1996Miranda Gusmo,S Couto,Sousa Ins.Datas das decises impugnadas:I - 21 de Maio de 1994.II - 30 de Novembro de 1994.