fios de memórias - teste - versão 1

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Fios de Memórias Maria José Lobo Zenha Inverno de 2013

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Livro sobre as memórias de Vovó Zezé e suas filhas...Uma história de amor.

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Page 1: Fios de memórias - Teste - Versão 1

Fios de Memórias

Maria José Lobo ZenhaInverno de 2013

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Para nossa mãe,

Acreditamos que quando alguém viaja pela estrada da vida enfrentando tempestades, gozando a luz do sol ou ficando no meio das tormentas, é a força de vontade que determina a sobrevivência. Portanto, dedicamos estes fios de memórias à mulher cujos ombros crescemos e cuja força herdamos, nossa mãe, Maria José Lobo Zenha.

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Ela ensinou às suas crianças a força da fé diante de adversidades impensáveis. Deu atenção aos seus oito filhos, uma proeza, e mostrou ser dona de uma inteligência brilhante, presença de espírito e sabedoria. Seus sacrifícios foram muitos: suas queixas poucas. Todos os seus filhos sabiam que ela oferecia tudo o que tinha, sem reservas. Ela viveu a perda de seu marido muito cedo e depois de alguns bons e longos anos o único filho homem e ainda manteve seu vigor para cuidar do resto da família.

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Sua generosidade e sua beleza, tanto interior quanto exterior ficarão inesquecíveis.

Mãe, nós te amamos e te respeitamos muito, agradecemos a Deus por sermos suas filhas. Esforçamo-nos para criar nossos filhos segundo os mesmos princípios que a senhora nos criou.

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Memórias não podem ser esquecidas...

“O passado, uma vez vivido, entra em nosso sangue, molda o nosso corpo, escolhe as nossas palavras. É inútil renegá-lo. As cicatrizes e os sonhos permanecem. Os olhos dos que sofreram e amaram serão, para sempre, diferentes de todos os outros. RESTA-NOS FAZER AS PAZES COM AQUILO QUE JÁ FOMOS, reconhecendo que, de um jeito ou de outro, aquilo que já fomos continua vivo em nós, seja sob a forma de demônios que queremos exorcizar e esquecer – sem sucesso -, seja sob a forma de memórias que preservamos com saudade e nos fazem sorrir com esperança.”

                                       Rubem Alves

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Zezé chegou ao mundo no dia 27 de agosto de 1913. Cercada de muito amor e saúde. Veio ao mundo através de uma parteira, Dona Bianca que era uma “italiana muito brava.”

Filha de Guiomar Lopes Lobo e Pedro Lobo nasceu em Queluz, município de Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais – terra das montanhas, do ouro e de gente de confiança.

É a mais velha de uma prole de onze irmãos: Nonô, Juquinha, Lili, Geraldo, João, Ignês, Filhinha, Nenem, Ilza, Antonina, Eulália.

Foi longo o itinerário que ela seguiu.... Em sua infância alguns ofícios marcaram suas habilidades: o pai, homem de grande virtude, costurava botinas para os fazendeiros da região e com ele aprendeu a arte do cozer. Com sua mãe, exímia dona de casa e prendas do lar, aprendeu a cozinhar, bordar em bastidor e pintar. Já na adolescência, sua mãe costurava para os maquinistas e num belo dia conheceu na Estação do Horto o elegante comerciante, ele era aprendiz de serralheiro e atuava na Serralheria Souza Pinto com o pai do papai, Manuel de Oliveira Zenha.         Casou-se no dia de Nossa Senhora da Conceição, 8 de dezembro de 1933, às 17 horas, na igreja tradicional de Santa Tereza e Santa Terezinha, no histórico bairro de Santa Tereza.

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“Cheguei no altar e vi a igreja repleta de gente. Era uma tarde linda, de muito sol. Teve uma procissão,  na minha frente, das Filhas de Maria. A festa foi linda! Muita gente para o jantar: amigos, padres da igreja, delegado, irmãs de caridade, vizinhos. Antigamente o povo celebrava os casamentos com muito carinho, festa, alegria e fé. Meu enxoval foi todo bordado a mão minhas irmãs e mamãe Lilica, feito em casa mesmo.”

Viveu um sonho de amor em formar uma grande família e na busca dessa alegria e graças a Deus, foi abençoada com 8 filhos (7 meninas e 1 menino), 21 netos, 27 bisnetos e 4 tataranetos..

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Cabide 1

Um vira lata, mas foi um grande companheiro, PORONGO! Sem raça, sem pedigree. Solto pelo quintal, ia para a rua, passeava, voltava. Todos lhe conheciam. Ao avistarmos a carrocinha de cachorros que passava uma vez por semana por aquele bairro tão elitizado, corríamos para saber onde ele estava, pois se fosse pego, viraria sabão!!!

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Cabide 2

Mês de junho era só festa, sanfona, bandeirinhas e roupa caipira. Dirceu e seus amigos organizavam a quadrilha em nossa casa. Os ensaios, toda noite, eram a melhor parte da festa e a maior diversão, regados de salgadinhos e cerveja. No quintal não se enxergava o céu pois acima de nossas cabeças, varais e mais varais de bandeirinhas coloridas. O verde dos bambus, roubados na Mata da Baleia dava um charme todo especial naquele quintal.

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Cabide 3

Dora e mamãe moravam na rua Padre Severino no bairro São Pedro. Nessa época, Márcia morava e trabalhava em Brasília e Fátima já tinha ido morar em São Paulo. Mamãe, na sua inquietude, resolveu hospedar algumas moças do interior que vinham estudar em Belo Horizonte.

“O apartamento é grande para nós duas! Temos que aproveitá-lo de alguma forma” – era a sua fala. Foram quase 10 anos com gente entrando e saindo, almoçando, dormindo jantando, estudando chorando de saudade de casa e algumas vezes se desentendendo umas com as outras. Durante as férias escolares ou feriados, voltava a reinar a calma... Quase todas partiam para suas cidades para matar a saudade dos familiares. Namorar dentro do apartamento... nem pensar. Mas elas se viravam e namoravam na rua. Algumas se tornaram grandes amigas como a Geralda e a Miriam.

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Cabide 4

Os almoços de domingo com toda a família reunida na nossa casa era uma grande alegria. Mas como dava trabalho!!! Cedo, levantávamos para ir à missa das 8h na capela do Colégio Dom Silvério e quando chegávamos mamãe colocava todo mundo para correr. A mesa era aberta no quintal onde só os adultos podiam se assentar. Como ela era grande para nós ainda tão pequenos! Papai não fechava o bar mas a toda hora ia dar um alô para todos os parentes e levava pé-de-moleque para a vovó Lilica adoçar a boca. Vovó Lilica chegava muito pronta com sua blusa branca toda rendada. Mamãe lhe dava um avental branquíssimo e lá ia ela se assentar em uma cadeira, debaixo do pé de laranja para picar a couve do almoço.

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Cabide 5

E como a mamãe trabalhou no bar do papai como cozinheira. Aos sábados, entre 5h até as 15h funcionava uma feira na rua Fernandes Tourinho que abrangia um quatro quarteirões. Era um verdadeiro Mercado Central a céu aberto. Cedo, o bar do papai começava a funcionar e para isso tínhamos que preparar os salgados na sexta-feira a noite. Era uma enorme bacia de feijão fradinho deixado de molho para fazer o bolinho de feijão, carne cozida, lingüiça, chouriço, coxinha, sem falar na sexta-feira santa que tínhamos um tanque de sardinha para limpar e fritar. Como sair para passear na sexta se tínhamos que ajudar a mamãe? Eu, Dora, chorava.... mas não tinha jeito. Não ia! Essa batalha é desde a época de Dulce e Terezinha, ainda jovens, quando tinham que ajudar a mamãe e ainda olhar as irmãs menores.