finitude e transcendência

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    Ano 9 n. 1 jan./jun. 2009 - 119

    GORAFILOSFICA

    Finitude e transcendncia:

    o drama existencial de Santo Agostinho

    MSc. Regineide Menezes de Lima1

    Resumo

    Santo Agostinho, em sua inquietao, estudou, se aprofundou no problemahumano. Em sua busca, quer saber quem o homem? Logo concebe uma res-posta mais convincente questo instigante, qual seja: Que grande mistrio o homem! nas Confissesque o doutor africano, em autobiografia, vai revelartoda sua humanidade. Pecados sero declinados. No s confessa suas misri-

    as, porm se torna contrito adorador de Deus. Portanto, neste opsculo a pre-tenso caminhar tomados pela mo do singular e extraordinrio ser humanoque foi Agostinho, no desejo de imit-lo e abeberar-nos nas suas experinciasespirituais e, finalmente, sua semelhana, encontrar o caminho que leva felicidade e, logo, acalmar o nosso inquieto corao naquele que todorepouso, Deus.Palavras-chave:Agostinho, angstia, felicidade, finitude, transcendncia.

    Abstract

    Saint Augustine, within his inner anxiety, studied and reached full deepness inhis thoughts regarding to human problem. In his research concerning it humanproblem he wants to know: who is the human being? Right away he conceiveswith the utmost precision an answer to the instigating question, so to say whata great mystery represents the human being! It is in his Confessions that thisAfrican Doctor, through his autobiography, succeeds in showing off his wholesense of humaneness. Sins will be avoided, he did not only confess his miseries,but also he shows up himself as a penitent, a contrite worshiper before God.Therefore, in this booklet, our pretension is to walk headway guided by this

    singular and extraordinary human being, i. e. Saint Augustine, under the upmostyearning for imitating him and quenching our thirst from his spiritual experiencesand finally, at a his resemblance, finding out the path that can lead us to felicityand, so, as a result, to appease our restless heart in Whom that is rest, himself,i. e. God.Key words: Augustine, Anguish, Felicity, Finitude, Transcendency.

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    Introduo

    Caminhar com Agostinho e acompanh-lo em suas buscas dar-se

    conta do quanto fora inquieto. To cedo revela sua angstia exis-tencial. Homem de sentimentos profundos, inquieto com o viver huma-no. H dentro de si uma nostalgia de Deus que o persegue de modoto vivo que o faz bradar e d vazo a dor de sualma2. Abre os lbiose deixa sair do corao uma prece pungente que, alm de laudatria aDeus, denuncia a dor que o aflige e atormenta: ... esse homem,particulazinha da criao, deseja louvar-vos e ... porque nos criastespara Vs e o nosso corao vive inquieto, enquanto no repousa em

    Vs (Conf. 1, 1,1).A reflexo ora iniciada tomar por fonte bibliogrfica a mag-

    nfica obra Confisses3, e movida pela convico de que a referi-da obra no apenas um registro autobiogrfico mas vai alm, pois namaioria de seus captulos se encontra louvores a Deus, por sua graa esabedoria inefveis. Nela, Agostinho declara seu amor ao Deus cria-dor4. Sua leitura remete o leitor a um imperioso desejo de fazer umadevassa interior e, em assim fazendo, assumir seus erros e acertos.No h leitor que saia dessa experincia sem ser movido e comovidopor novos propsitos.

    Agostinho quer entender afinal: quem o homem? E por de-ter-se to atentamente na realidade humana5ousou dar a resposta maisprecisa: que grande mistrio o homem! (Conf.IV, 14. 22). Queser problemtico!6Talvez fosse mais fcil se utilizar de alguma dissi-mulao ou de um faz-de-conta. O que seria compreensvel. Mas est

    consciente de que no vale a pena se iludir7

    , ainda que semelhanteatitude no seja de todo reprovvel e assume a condio de um sertotalmente embaraado, atrapalhado, amarrado e pergunta: quemdesembaraar este n to enredado e emaranhado? asqueroso;no o quero fitar nem ver (Conf.II,10,18).

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    1 Um ser enigmtico

    Quando refletimos sobre as aes do ser humano, ficamos

    pasmos diante de suas possibilidades. Estamos perante um sermultifacetado que conhece, estuda, escreve, fala, trabalha, reza, ora,canta, ama, sofre, diverte-se, come, e elabora muitas outras ativida-des. exatamente por estarmos envoltos em tantas aes que os gran-des questionamentos aumentam e nos levam a seguir perguntando: quem este ser to enigmtico? (magna questio) e quem este grandeabismo? (grande profundum) (Conf.IV,4,9 e 14,22.

    Quanto mais questionamentos sobre o homem, mais perple-

    xidades surgem, haja vista as dimenses do pensar, do sentir e do agirque descortinam as possibilidades transcendentais. Este ser, no obstanteos liames de sua materialidade se projeta rumo transcendncia. Quecompreenso podemos ter de um ser ora finito8, ora eterno? Comocompreender sua essncia? Qual a sua origem e qual o seu fim ltimo?

    Tais indagaes levam a percepo de que tanto o homemmedieval quanto o homem hodierno est em processo e que ele no uma realidade esttica. Como homem, finito, inconcluso, indeterminadovive em constante busca de sua humanizao, ou seja, movimenta-serumo sua transcendncia. Sua vocao ser. O que Freire denominade a vocao ontolgica de ser mais9.

    Agostinho tem muita clareza de sua condio, pois fora naprpria pele que vivera toda dramaticidade da existncia humana. por isso que o seu ser assaltado constantemente pela angstia vital,clamando por um sentido, por uma resposta, enfim, por encontrar uma

    sada urgente. O homem um ser faltoso, incompleto, repleto de pen-dncias10. O hiponense jamais escondeu sua condio humana e bus-ca cessar suas lgrimas.

    Quanta inquietao tem lugar certo na vida de Agostinho!No sem motivo que se derrama em lgrimas a pedir abrigo. Estexausto, consciente de seus muitos desacertos. Agora deseja um lugarseguro para se abrigar e refazer sua alma abatida. Consciente de suasimpiedades, sabe-se merecedor de justo castigo ao tempo em que

    confessa que j punido por uma sano interior. Por isso pergunta: acaso pequeno castigo no Vos amar? (Conf. 1,5,5.).

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    Agostinho homem que conhece as dores da existncia; aangstia11parece ser-lhe a mais fiel companheira. Sabe o que a dorda perda de um ente querido. Sabe o que a tristeza da ausncia de

    uma amizade roubada sorrateiramente pela morte. Por isso diz: Comtal dor, entenebreceu-se-me o corao. Tudo o que via era morte(Conf.IV,4,9).

    Suas palavras reforam com desespero humano as experin-cias vividas diante da dor: ... chorava muito amargamente e descan-sava na amargura. Oh! Era desgraado!.. (Conf. IV, 6,11). Muitasvezes a angstia era tal que desejava fugir de si prprio, faltava-lhe atolerncia consigo mesmo12: ... continuando eu a ser um lugar de

    infelicidade, onde no podia permanecer e donde no podia afastar-me. Para onde o meu corao fugiria do meu corao? Para ondefugiria de mim mesmo? Para onde me no seguiria? ... (Conf. IV,7,12). desse modo que Agostinho se sente.

    Nas lgrimas encontrava um pouco de alento, pois para eles o choro me era doce. S ele sucedera ao meu amigo, nas delciasda alma (Conf. IV, 9). Agostinho recebe o acalanto que lhe proporci-onam as lgrimas. O tempo seu maior aliado, porque traz o alviodesejado, e qual blsamo aos desgraados.O choro sem dvida um lenitivo para aquele que busca o confortopara seus ais. Agostinho s encontra consolo quando lamenta e choraao abrigo de Deus:

    se no chorarmos a vossos ouvidos, nada restar danossa esperana. Donde provm o suave fruto que

    se colhe da amargura da vida, dos gemidos, dos pran-tos, dos suspiros, das queixas? Encontraremos a do-ura, pela esperana que temos de nos atenderdes?Na verdade, isto sucede na orao, porque esta en-cerra a nsia de chegar at Vs (Conf. IV, 5,10).

    Nesta etapa de profunda tristeza repete: s me condoa echorava, porque era infeliz e tinha perdido a minha alegria (Conf. IV,

    5,10). O tempo, que companhia! Conspira pacientemente com o fimde cumprir sua rdua misso: suavizar a dor que dilacera o corao: o

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    tempo vinha e passava, dia aps dia. Vindo e passando, inspirava-menovas esperanas e recordaes (Conf. IV, 8,13).

    Agostinho de fato um homem marcado pela experincia da

    dor. H momentos em que seus gemidos no expressam apenas a fragi-lidade de um ser existencial, contudo o reflexo do sofrer que vem daalma, do mais profundo do seu ser. Parece muitas vezes sucumbir di-ante da dor. Chega s raias do desespero. Chega a confessar que sesente miservel. Chora com amargura dalma e caminha de um extre-mo a outro sem saber o que escolher. Os sentimentos se misturam demaneira tal que se mostra indeciso: ...dominava-me um pesadssimotdio de viver e um medo de morrer... (Conf. IV, 6,11).

    Ao trilhar as veredas com Agostinho, logo se percebe nele ohomem de dores. O sofrimento que fustiga sua alma o faz escancararas dores mais ntimas sem qualquer reserva13. Os ais que o envolvemtornam-no, ao que parece, um ser frgil e vulnervel ao sofrimento. Desua boca saem apenas palavras e expresses doridas. De sua intimi-dade faz revelaes dramticas:

    ...alma despedaada a escorrer sangue [...] gemidose lgrimas [...] pesava sobre mim o grande fardo dadesgraa [...] nem tinha foras [...] continuando eu aser um lugar de infelicidade, onde no podia perma-necer e donde no podia afastar-me. (Conf. IV, 7,12).

    Esta reflexo mostra, de modo preciso, que a inquietao caracterstica prpria do ser humano que vive a experincia daincompletude. Entretanto, ser inquieto, conduz o homem a ter desejode completar-se no que lhe faz falto. No de todo trgico o sentir-seinquieto, porque esta inquietao leva-o busca da tranqilidade eAgostinho est convicto de que a inquietao que o perturba tem alvioem Deus, por isso afirma: em Vs h grande tranquilidade e vidaimperturbvel (Conf.II, 10,18).

    Se a inquietao (imperfeio) prpria do homem, a quie-tude e plenitude (perfeio) so prprias de Deus14. Ele est sempre

    solcito em receber este ser em rebolio interior para faz-lo conhecera mais completa paz. S nele o homem encontra quietude. Eis a segu-

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    rana oferecida: aquietai-vos e sabei que eu sou Deus (Sl. 46,10);Descansai nEle e descansareis Conf. IV, 12,18).

    Agostinho homem que conhece suas prprias misrias exis-

    tenciais, se angustia com sua condio de ru confesso, por isso diz: A minha alma estreita habitao para Vos receber; dilatai-a, Senhor.Ameaa ruir, restaurai-a. Tem manchas que ferem o vosso olhar. Eu oreconheo e confesso. (Conf. I, 5,6).

    Tais revelaes no passam de uma tragdia humana, pormestas no diminuem a figura do hiponense, ao contrrio o fazem cadavez mais humano, autntico. Eis aqui o Agostinho na sua mais fiel rea-lidade. Diante de tamanha sensibilidade percebe como o ser humano

    em sua criaturalidade um ser incompleto15e insatisfeito, susceptvel dor, por isso clama: Ai de mim! Senhor, tende compaixo demim Olhai, eu no escondo as minhas feridas. Vs sois o mdico, eeu o enfermo; sois misericordioso e eu miservel... (Conf. X, 28,39)

    Eis um ser vulnervel que ora busca a Deus, ora foge dele.Quando o busca o faz convencido de que lhe impossvel fugir de suapresena, porque intil seria tentar esconder-se daquele que tudo v,porque no h ningum que se furte ao Vosso calor (Sl, 18.7). Ten-tar fugir dessa presena vivificante seria privar-se do Bem maior, seriaum passo recalcitrante porque a encontrar o rejuvenescimento e averdadeira fora (Conf. V, 1,1).

    Convicto de que no se pode fugir do semblante de Deus,cuja presena est em toda parte, Agostinho mostra mais uma vez ohomem como um ser inconsequente que tenta escapar daquele que atudo assiste e v. Confessa que os que assim agem terminam tendo a

    experincia jamais pensada: ... mas, obcecados, depararam convosco,porque no abandonais nada do que criastes (Conf. V, 2,2).Este um encontro deveras acolhedor. Sem dvida, de que

    o homem mais necessita em seus momentos de dor e quebrantamento,e Agostinho descreve com detalhes, o modo amoroso como Deus orecebe, conquanto receba um ser alquebrado pelas dores e vicissitu-des da vida.

    Na sua magnanimidade Deus cuida de toda sua criao, mes-

    mo sabendo que este homem tem sido o mais vil perdulrio, motivoporque recebe o prdigo e lhe estende suas benesses. Disso Agosti-

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    nho no duvida e o sabe muito bem. o encontro do Criador com acriatura em que o prdigo acolhido e consolado: ... carinhosamentelhe enxugais as lgrimas, e tanto mais gozam com os prantos quanto

    mais choram, [...] mas sois Vs, seu Criador, que os robusteceis econsolais... (Conf. V, 2,2)

    2 Um ser angustiado e inquieto

    Talvez fosse de bom alvitre perguntar o porqu da angstiana trajetria humana, e por certo, ouvir-se-ia a voz dos mais experien-

    tes na angstia que declarariam que h nela a excelncia do carterpedaggico, porque esta educa e ensina16. Afinal, o que nos ensina aangstia? Ensina-nos de modo claro e objetivo, que no passamos donada17.

    O aspecto mais crucial de semelhante revelao feita ao ho-mem que, tendo possibilidades e no-possibilidades, as mesmas nolhe do qualquer garantia, porque sob o manto da possibilidade18hu-mana se esconde o insucesso e, por fim, a morte. Nesta tamanha pos-sibilidade, tudo possvel, no s o possvel, como tambm o possvellimite.

    Em sua misso antagnica, a angstia desvela o que o ho-mem em sua raiz: o nada. Porm, pura possibilidade. medida que ohomem esse nada, carrega consigo todas as possibilidades, ora rea-lizveis, ora no realizveis. E o salmista Davi corrobora com seusversos: que o homem mortal para que te lembres dele?... Contudo

    pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glria e de honra o coro-aste (Salmos8, 4,5).Tanto a inquietao quanto a angstia so traos meramente

    humanos e que, portanto, retratam a identidade desse homem possibi-lidade-impossibilidade e nesse perfil ora delineado at o Deus-homem19

    est contemplado. Logo, diante dessa conscincia do nada s restauma atitude: seguir o caminho que conduz ao encher-se de Deusporque a encontrar todas as benesses do Pai e o drama vivido cede-

    r lugar ao contentamento e, quando estiver unido a Vs com todo omeu ser, em parte nenhuma sentirei dor e trabalho. A minha vida ser

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    ento verdadeiramente viva, porque estar toda cheia de Vs. Libertaisdo seu peso aqueles que encheis. Porque no estou cheio de Vs, souainda peso para mim(Conf.X, 28, 39).

    Talvez esta leitura insinue e/ou retrate um Agostinho despro-vido de qualquer virtude, considerando as abundantes referncias aoseu passado vicioso e distante do Criador, porm, uma caractersticade sua personalidade falar exaustivamente de sua vida de filho prdi-go. Sem qualquer subterfgio, fala abertamente de todos os seus pe-cados infanto-juvenis. No deixa de mencion-los um a um. Sua lista infinitamente completa: nela esto os registros de furtos: na casa devizinhos, na prpria despensa de casa, a paixo pelo jogo, o orgulho,

    depravaes da juventude, dentre muitos outros.Atento, o leitor de Agostinho, nasConfisses, perceber com

    facilidade qual a linha narrativa de sua obra: a exaltao do Deuscriador de todas as coisas, senhor Absoluto; suas confisses de serhumano vicioso, de sua conduta delituosa e todo sofrimento interior;igualmente, sua admirao pela imutabilidade de Deus. No primeirocaptulo das Confisses(I, 1,1) comea com um fervoroso louvor eno ltimo captulo (XIII, 38,53) termina louvando a ao de Deus nasvidas das criaturas. Todo caminho percorrido permeado de louvor econfisso.Analisando o comportamento humano desde os tempos mais remo-tos,20podemos ver o ser humano agindo de duas formas equivocadas:ora negando suas atitudes reprovveis, ora culpando outrem pelos er-ros cometidos. Desse modo escapa ou pelo menos tenta eximir-se deculpa. Ao contrrio, Agostinho sempre assume suas culpas, para de-

    pois pedir perdo, buscando dessa forma a reconciliao consigo ecom Deus. Consciente de que Deus j sabe e conhece tudo, o SantoDoutor diz:

    Narro estas essas coisas no desejo de Vos amar.Tambm ns oramos e, contudo, a Verdade diz-nos:O vosso Pai conhece o que vos necessrio, antesde Lho pedirdes. Por isso, patenteamos o nosso amorpara convosco, confessando-Vos as nossas misrias

    e as vossas misericrdias, a fim de que ponhais ter-mo obra j comeada da nossa libertao e seja-mos felizes em Vs, cessando de ser miserveis em

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    ns [...] porque sois bom e a vossa misericrdia eterna (Conf. XI, 1,1).

    Sob o prisma antropolgico o ser humano tem a tendnciade ocultar, disfarar suas fragilidades, utilizando-se muitas vezes dailuso para esconder sua essncia. A falsidade e a verdade estabele-cem verdadeira guerra. H no homem um desconforto em mostrar-setal qual ele . Falsificamos nossa identidade. Por isso Agostinho foi oprecursor da autenticidade humana. Nada escondeu nas suas confis-ses. Eis algumas breves confisses21:

    Na infncia: Deus, meu Deus, que misrias e enganos

    no experimentei... (Conf.I, 9,14); andava longe de vossa face,retido por afeies tenebrosas (Conf. I,18,28); cometia furtos nadespensa e na mesa de meus pais (Conf. I, 19,30).

    Na adolescncia: quero recordar as minhas torpezas pas-sadas e as depravaes carnais da minha alma, no porque as ame,mas para Vos amar, meu Deus (Conf.II, 1,1.); Assim praticava omal no s pelo deleite da ao, mas ainda para ser louvado (Conf.I,3,7); na adolescncia, afastei-me de Vs, andei errante, meu Deus,muito desviado do vosso apoio, tornando-me para mim mesmo umaregio de fome (Conf. II, 10,18).

    Na juventude: tinha-me transformado num grande proble-ma. Interrogava minha alma por que andava triste e se perturbavatanto... (Conf. IV, 4,9); donde provm o suave fruto que se colhe daamargura da vida, dos gemidos, dos prantos, dos suspiros, das quei-xas? (Conf. IV,4,5,10). era desgraado, e desgraada toda alma

    presa pelo amor s coisas mortais...chorava muito amargamente e des-cansava na amargura. Oh! Era desgraado!... (Conf. IV, 6,11).Na madureza:sou necessitado e pobre, e o melhor que h

    em mim aborrecer-me a mim mesmo, entre os secretos gemidos domeu corao... (Conf.X, 38,63); Senhor, na misria desta vida, omeu corao agitado, ... anda profundamente inquieto... (Conf. XII,1,1); ...mas ao princpio, desertando de Vs, ramos arrastados parao mal... (Conf. XIII, 38,53).

    Na inquietao ocorre algo deveras singular: d-se o encon-tro de um ser inquieto, insatisfeito, incompleto com Aquele que toda

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    perfeio. Este o momento da proximidade dialogante22. Momentode xtase. Momento de estupefao. Momento de transcendncia. E semelhana de J, Agostinho tambm pode repetir: com o ouvir dos

    meus ouvidos ouvi, mas agora te vem os meus olhos (J 42, 5).

    3 Um ser autntico

    Ao escancarar as debilidades de sua vida Agostinho assumesua humanidade e deixa-se ver em toda sua autenticidade de ser hu-mano. Entretanto persegue o seu ideal maior de perscrutador da per-

    sonalidade humana. Volta-se, com todo empenho, a investigar o pro-blema bsico do homem, ou seja, a busca da felicidade. Da vem afamosa doutrina do eudemonismo de Agostinho.

    Convertido de seus caminhos tortuosos, convicto de ter sidoacolhido pela graa divina, empenha-se com a felicidade e passa aafirmar que todos queremos ser felizes, isto , tendemos para a felici-dade e Agostinho repete: poderemos ento concluir que nem todosquerem ser felizes porque h alguns que no querem alegrar-se emVs, que sois a nica vida feliz? No; todos querem uma vida feliz(Conf.X, 23,33).

    Preocupado com a felicidade humana (no sentido mais am-plo da palavra), Agostinho est contemplando e buscando sua prpriafelicidade e consequentemente entra em dilogo com Deus e pergunta:

    Ento, como Vos hei de procurar, Senhor? Quando

    Vos procuro, meu Deus busco a vida feliz [...] Comoprocurar, ento a vida feliz? No a alcanarei en-quanto no exclamar: basta, ei-la. Mas onde pode-rei dizer estas palavras? Como procurar essa felici-dade? Como?... (Conf. X, 20,29).

    Trilhando as veredas em busca da felicidade, todo aspirantede tal benesse precisa dispor de sua existncia oferecendo-a numa

    entrega incondicional ao criador, num ato de sacrifcio vivo. Seme-lhante atitude demonstra a conscincia de um no pertencimento, por-que a rigor, ...o homem deve-se a si mesmo a Deus e para que seja

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    bem-aventurado deve restituir-se quele do qual recebeu a existncia.Este o significado... do Dai a Csar o que de Csar, e a Deus oque de Deus... Deus exige, assim, a sua imagem no prprio ho-

    mem... (Ep. 127,6). Agostinho est muito solcito em entregar-se comooferta viva no altar divino e diz:

    ... suplico-te: recebe teu fugitivo, Senhor e Paiclementssimo; j sofri muito [...] Recebe-me, quesou teu escravo[...] Sinto em mim que devo voltarpara ti. Abra-se tua porta para mim, que estou baten-do. Ensina-me como chegar a ti... (Sol.I, 1,5).

    Toda caminhada empreendida junto com Agostinho no con-duziria a nenhum lugar, caso no estivesse cimentada na condio depossibilidade de todo mortal encontrar-se com o absoluto e nEle re-alizar sua transcendncia. O que diria o homem quando ao final tivesseto somente de catalogar as desgraas e infortnios desta esfera finita.Em nada resultaria a colheita do nada. Porque ao listar o sofrimento,as lgrimas derramadas, enfim todo infortnio, ento s restaria repetir

    com o hiponense: uma s coisa reconheo: que tudo me corre malfora de Vs, e no s volta de mim, mas at em mim(Conf. XIII,8,9).

    Entretanto concentremos toda reflexo para a perspectivada transcendncia, momento em que a no-possibilidade se reveste depossibilidade. A referncia diz respeito ao encontro do homem em seuslimites, impostos pela materialidade, proporcionando-lhe o evento datranscendncia. Eis o sublime tempo do despir-se da finitude paravestir-se da eternidade. o absoluto inscrevendo na histria os queoutrora viveram margem da histria.

    Eis chegada a convocao da eternidade, evento extraordi-nrio no seu mais profundo sentido, quando o homem chamado plenitude ...Deus chama o temporal, diz Santo Agostinho, para faz-lo eterno: vocans temporales, faciens aeternos [Enarrt. in Ps. 101,II,10]23. Que mais desejariam os mortais?

    Quem ousaria descrever este timo! Verdadeira transfigura-o. Jamais, jamais fora revelado em sua inteireza. Unicamente os re-

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    midos podero detalhar semelhante experincia. Eis que diante de sisurge com todo deslumbre a Cidade de Deus. Que bela cidade! Li-bertos do mal e de todas as vicissitudes terrenas, deixam para trs os

    andrajos da finitude e agora se vestem com o manto da eternidade.Que experincia singular! Tm diante de si a Ptria Celeste, to anela-da de todos e ouvem do anfitrio o doce convite: Venham mesapara a Grande Ceia.

    Vestidos a rigor,24recebem seus trofus e coroas e, apostos,usufruem das amenidades do novo eterno lar. Desde ento gozam domais perfeito prazer o qual no lembra em nada as migalhas terrenas.Comeam a desfrutar da bela paisagem25e se apossam da verdadeira

    felicidade que segundo Agostinho possuir a Deus, o Sumum Bonnum.Esta , pois, a Cidade que no tem fim. Nela reina o onipotente, oabsoluto. To somente o repouso e a quietude passeiam nesse lugarsanto e o hiponense alegremente celebra: a repousaremos e veremos:veremos e amaremos e louvaremos. Eis o que haver no fim, sem fim(De civ. Dei, XXII, 30)..

    Concluso

    Que dizer da caminhada empreendida por Agostinho sob opeso das agruras desta vida, se foi a angstia, a inquietao, a consci-ncia do nada que o empurrou a uma postura corajosa ao assumir suasfragilidades. Sua atitude foge aos padres do primeiro homem (con-forme narrativa do Gnesis) que tomou duas atitudes reprovveis: pri-

    meira, se escondeu, segunda, culpou a outrem.Foi a autenticidade que o autorizou a expressar-se sem medoou qualquer subterfgio: ... Senhor, conheceis-me tal como sou... NoVos fao esta confisso com palavras e vozes de carne, mas com pa-lavras da alma e gritos do pensamento, que vossos ouvidos j conhe-cem... (Conf. X, 2,2).

    As experincias vividas tomados pelas mos de Agostinho um chamado interioridade, ou seja, um convite, ao que j foi dito

    nesse artigo, a uma devassa de nosso interior para arrancar de umavez por todas as razes danosas a arraigadas. De posse dessa com-

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    preenso, vem o confessar vcios e toda sorte de erros que ensombremuma real viso do criador. Que longe esteja o disfarce, a iluso, afelicidade atribuda aos bens terrenos.

    Que os olhares estejam voltados para a aquisio da verda-deira felicidade, que todos ambicionam sem exceo. Conservando alembrana de que toda e qualquer inquietao s ser banida do cora-o quando lanada fora para se dar guarida ao criador, porque comoafirma Agostinho em uma de suas cartas a Macednio: ...pois somen-te quem fez o homem pode torn-lo feliz (Ep. 155,1,2).

    Ao empossar a felicidade resta adentrar aos umbrais daEsplendorosa Cidade26e desfrutar de toda sua beleza, sabendo que

    nem as tristezas, nem dores e nem gemidos podero nela entrar27. Eainda que todo esforo seja feito para descrev-la, ser mera tentativade vislumbrar tamanho esplendor. Por essa limitao convm repetir orefro da belssima letra do hino A Bela Cidade: 28

    Jamais se contou ao mortal;Jamais se contou ao mortal;Metade da glria celeste,

    Jamais se contou ao mortal.

    Ora na eternidade no haver permisso para lembranaspassadas. No haver sequer memria dos erros da mocidade. Have-r sim motivo para muito louvor e gratido, porque chegado o mo-mento da eterna felicidade na Cidade de Deus, lugar onde o descansono ter fim e os seus moradores transbordantes de alegria poderorepetir: Quanta no ser a ventura dessa vida, em que haver desapa-recido todo mal, em que no haver nenhum bem oculto e em que nose far outra coisa seno louvar a Deus, que ser visto em todas ascoisas! (De civ. Dei, XXX, 1).

    Notas

    1

    Mestra em filosofia pela Universidade Estadual do Cear UECE e professo-ra substituta da Universidade Vale do Acara UVA.2 Para melhor entendimento desse conceito, vamos defini-lo etimologicamente:

    Dor do latim dolor, dolore, significa dor, aflio, sentimento, tristeza,

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    indignao. Isso ajudar nosso leitor a compreender o que a dormetafsica. A dor metafsica se difere da dor fsica. A dor fsica localizadaem algum membro ou rgo do corpo, sendo captada pelo aparelho sensiti-vo do ser humano e atravs do sistema nervoso transformado em sensao.

    Na dor metafsica o sujeito a sente, no fisicamente, mas na alma. Por exem-plo, a saudade, a ausncia ou perda de algum que se ama, a paixo, asolido, a culpa so tipos de dores metafsicas. Ou seja, elas no podem serdemonstradas empiricamente, pois no esto localizadas em alguma parte docorpo (matria), mas algo abstrato, entretanto, real, sendo somente capta-da pela conscincia humana que consegue intuir o que est para alm dofsico.

    3 As Confissesso o primeiro tratado de psicologia moderna, pois, ao falarde suas inquietudes, de suas angstias, dvidas e conflitos interiores, Agos-

    tinho no est falando simplesmente de si mesmo, mas do homem ou dahumanidade. Essa obra, quando a lemos, nos faz olhar para dentro de nsmesmos. E cada vez que a relemos, vemos coisas diferentes. Por isso, ela sempre atual (cf. COSTA, Marcos Roberto Nunes. Santo Agostinho: umgnio intelectual a servio da f. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999. p. 165).

    4 E graas s Confisses, podemos acompanhar, passo a passo, o caminhointerior desse homem extraordinrio e apaixonado por Deus. Bento XVI.

    5 Agostinho pode ser considerado como o descobridor da personalidade hu-mana (cf. OLIVEIRA, Manfredo Arajo de. Dilogos entre razo e f. So

    Paulo: Paulinas, 2000. p. 64).6 O homem um ser problemtico, no sentido em que um ser de carncias.No tem em si a razo de existir, nem dispe imediatamente de tudo o quenecessita para viver.. Assaltam-no, portanto, vrios tipos de necessidades.Fsicas umas, como as de alimentar-se, de vestir-se, de morar. Espirituaisoutras, como a vontade de ser, de conhecer, de perscrutar o universo e seusmistrios, de mergulhar na profundeza dos segredos da vida, vontade desentir e de amar. Da ser o universo do homem cheio de questes , perguntas,interrogaes. Cheio de problemas, como se diz. Mas nem tudo so proble-

    mas em um sentido mais delimitado, tal como se precisou ao longo da hist-ria da reflexo filosfica (cf. CHIAVEGATO, Augusto Jos (Org.). Homemhoje. So Paulo: Cortez & Moraes, 1979. p. 8.

    7 A capacidade de nos iludir de nossa essncia, e possui um carter existen-cial positivo (cf. BRAGA, Olinda Jos . Cotidianidade e exisencialidade hu-mana viso sobre Fortaleza: angstia, corpo, mito e libido.In: Formaohumana: liberdade e historicidade (org.).OLINDA, Erclia Maria Braga de..Fortaleza: Editora UFC, 2004. p. 158).

    8 O ser humano, em seu cerne, a possibilidade de encontrar o absoluto, ouseja, a possibilidade de transcendncia de sua prpria finitude, confrontocom o absoluto (cf. OLIVEIRA, 2000, p. 64)

    9 FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1978. p.31.

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    10 Na vida, somos seres faltosos, marcados por uma gama de situaesinacabadas e pendentes (cf. BRAGA, 2004, p. 162).

    11 A angstia o caminho mais fcil para possibilitar a autenticidade. Ela sem-pre surge quando da iminncia de que nos deparamos com a compreenso

    da instabilidade inerente de nossa existncia (cf. BRAGA, 2004, p.160).12 Essa tendncia de no termos tolerncia verdade de ns mesmos, momen-to em que nos refugiamos na inautenticidade, no algo que possamoscorrigir, uma vez tomada como equvoco. No, essa tendncia parte inte-grante da existncia autntica. Esses dois momentos no se excluem. Ainautenticidade de fato a autenticidade mal compreendida. A autenticidadenos persegue, quando permanecemos escondidos atrs do biombo do im-pessoal. Ela se trata de uma verdade que sempre rejeitamos, mas que teimaem nos fazer lembrar, impossibilitando-nos de esquec-la completamente.

    Ela a voz de nossa conscincia... (cf. BRAGA, 2004, p. 162).13 Os antigos no gostavam de falar sobre si mesmos e, quando o faziam, erapara gloriar-se ou defender-se. Agostinho fala de suas fraquezas, de umaalma resgatada que se acusa para exaltar seu Deus (CF. COSTA, 1999, p. 165).

    14 Veja o que diz Agostinho nos Solilquios: Tudo o que eu disse s tu, Deusnico. Vem em meu auxlio, substncia una, eterna e verdadeira, em quem noh discrepncia, confuso, mudana, indigncia nem morte. Onde h plenaconcrdia, total evidncia, total constncia, suma plenitude e vida plena. Emquem nada falta, nada sobra... (Sol. I, 4.)

    15

    ... Temos de pensar no que o homem est sendo e no que ele pode vir a ser apartir de um processo formativo, lembrando que esse dever-ser contnuocaminhar, pois na sua finitude e historicidade o homem nunca est completo(cf.OLINDA, Erclia Maria Braga de, O conceito de formao integral noprojeto formativo moderno aprendendo com a experincia cearense. In:Formao humana: liberdade e historicidade. Fortaleza: Editora UFC, 2004,p. 123).

    16 A angstia educa e ensina. Nela aprendemos a nos predispor possibilida-

    de. Estar aberto e disposto possibilidade de tornar-se mais angustiante doque estar disposto e aberto realidade (cf. BUZZI, Arcngelo R. Introduoao pensar:o ser, o conhecimento, a linguagem. 24. ed. Rio de Janeiro, Vozes,1972. p. 169).

    17 se perguntarmos qual o objeto da angstia, deve-se responder aqui comoem toda parte: o nada. A angstia e o nada marcham continuamente jun-tos (KIERKERGAARD, apudBUZZI, 1972, p. 170).

    18 Isso equivale a dizer que a existncia humana trgica porque todas as suaspossibilidades, alm de serem possibilidades-de-sim, so tambm possibili-dades-de-no. Elas nos envolvem na ameaa do nada (...) No h quem nosliberte da condio de discpulos da angstia. No possvel, tudo possvel.

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    Quer dizer: no possvel nada impossvel; a possibilidade favorvel nodetm mais crdito que a possibilidade desastrosa (cf. BUZZI, 1972, p. 170).

    19 Kierkegaard diz que a palavra mais angustiante pronunciada por Cristo nofoi: Meu Deus, por que me abandonaste?, mas a que dirigiu a Judas: o

    que tens a fazer, faze-o depressa! A primeira palavra expressa o sofrimentopor aquilo que estava acontecendo, a segunda, a angstia por aquilo quepodia acontecer. E s nesta ltima se revela a humanidade de Cristo, porquehumanidade significa angstia (cf. BUZZI, 1972, p. 170).

    20 A literatura bblica registra a passagem do Jardim do den no livro do Gnesis2, 1-17; 3.

    21 As confisses de Agostinho so encontradas em profuso na sua obraConfisses. As breves citaes declinadas no texto acima, objetiva mos-trar a autenticidade do homem singular que fora o doutor africano.

    22

    O contato com o absoluto, no entanto, no algo que se realiza simplesmen-te como a efetivao de uma potencialidade da natureza humana, mas umevento, uma ocorrncia histrica, e significa, precisamente, a humanizaodo ser humano. Numa palavra, a condio ltima de possibilidade de realiza-o do ser humano enquanto ser humano esse encontro com o absoluto,que Agostinho denomina iluminao (Cf. OLIVEIRA, 2000, p. 65).

    23 RAMOS, Francisco Manfredo Toms. A idia do Estado na doutrina ticopoltica de S. Agostinho: um estudo do epistolrio comparado com o DeCivita Dei.So Paulo: Loyola, 1984, p. 81.

    24

    Cf. Ap. 7,13 e 14.25 CF. o texto de Ap. 21, 9-26 nele h impressionantes detalhes da Nova Jerusa-lm.

    26 Cf. Ap. 21, 2 O apstolo Joo a nomeia de Cidade Santa e Nova Jerusalm.27 Cf. Ap. 21, 27.28 A letra do hino A Bela Cidade foi escrita por Jonathan Bush Atchinson,

    escritor sacro, protestante (1810-1882). A letra composta por trs estrofes,porm nos limitamos a citar apenas o estribilho (Cf. CANTOR cristo n. 498.4. ed. Rio de Janeiro. Casa Publicadora Batista. Julho de 1971).

    Referncias

    AGOSTINHO, Santo. Confisses. Trad. de J. Oliveira Santos e A.Ambrsio de Pina. So Paulo: Abril Cultural, 1973.

    ______. Solilquios; A vida feliz. So Paulo: Paulus, 1998 (Coleo

    Patrstica, n.11).

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    ______. A cidade de Deus:contra os pagos. 3. ed. Trad. deOscar Paes Leme. Petrpolis: Vozes; So Paulo: FederaoAgostiniana Brasileira, 1991. v. I, 414; v. II, 589 p.

    BUZZI, Arcngelo R. Introduo ao pensar: o ser, o conhecimento,a linguagem. 24. ed. Petrpolis: Vozes, 1972 .

    CANTOR cristo n. 498. 4. ed. Rio de Janeiro. Casa PublicadoraBatista. Julho de 1971

    COSTA, Marcos Roberto Nunes. Santo Agostinho: um gnio intelec-tual a servio da f. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999. (Coleo

    Filosofia, n. 91).FREIRE, Paulo. A pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz eTerra. 1978.

    MONDIN, Battista, Introduo filosofia: problemas, sistemas,autores, obras. Trad. de J. Renard. So Paulo: Paulus,1980. 272 p.(Coleo filosofia, n. 2).

    OLINDA, Erclia Maria Braga de (org.). Formao humana: liberda-de e historicidade. Fortaleza: UFC, 2004.

    OLIVEIRA, Manfredo Arajo de. Dilogos entre f e razo. SoPaulo: Paulinas, 2000. (coleo Pensamento Filosfico).

    RAMOS, Francisco Manfredo Toms. A idia do Estado na doutri-na tico poltica de S. Agostinho: um estudo do epistolrio compa-rado com o De Civita Dei.So Paulo: Loyola, 1984.

    http://www.cleofas.com.br/virtual/texto.php?doc=papa_santase&id=pss0114

    http://catolicismo.wordpress.com/2008/02/21/bento-xvi-santoagostinho-vive-em-suas-obras/

    Endereo para contato:

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