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1- Relação entre convencer e persuadir. O conceito de persuadir, está relacionado com o convencer, no entanto, o discurso persuasivo não obedece a critérios de transparência e reciprocidade. Isto é, tem como objetivo induzir ou levar os interlocutores a acreditar em alguma coisa ou a fazer alguma coisa. Trata-se do ato de manipular símbolos para provocar mudança nos comportamentos, daqueles que interpretam esses símbolos. Os três elementos principais da persuasão são: A intenção consciente por parte do emissor para manipular o(s) recetor(s). Transmissão de uma determinada mensagem. Influência nas atitudes e comportamentos. Ex.: Discurso político e publicitário. Deste modo, persuadir é o objetivo do discurso dirigido a um auditório particular enquanto que o convencer é o objetivo do discurso dirigido a um auditório universal. Assim, persuade-se um auditório particular, tendo em conta a sua especialidade afetiva, valorativa, etc.; e convence- se um auditório universal a partir de argumentos racionais que são universalizáveis. 2- Relacionar Ethos, Pathos e Logos. No contexto da retórica, o Ethos refere-se ao caráter do orador, que se for considerado uma pessoa íntegra, honesta e responsável, conquista mais facilmente a confiança do público. Quando o público pressupõe que o orador é uma pessoa leal, séria e credível, está mais predisposto a aceitar o que é dito. É uma técnica retórica que não tem obrigatoriamente a ver com a forma de ser real da pessoa. O Pathos significa paixão, sofrimento, ser afetado. Na retórica, pathos refere-se às emoções despertadas no auditório, que constituem um elemento determinado na receção da mensagem. Dado que a reação do público é diferente conforme passa os estados de calma ou ira, alegria ou tristeza, amor ou ódio, piedade ou irritação, o orador deve desenvolver a técnica de despertar sentimentos.

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Page 1: Filosofia.docx

1- Relação entre convencer e persuadir.O conceito de persuadir, está relacionado com o convencer, no entanto, o

discurso persuasivo não obedece a critérios de transparência e reciprocidade. Isto é, tem como objetivo induzir ou levar os interlocutores a acreditar em alguma coisa ou a fazer alguma coisa. Trata-se do ato de manipular símbolos para provocar mudança nos comportamentos, daqueles que interpretam esses símbolos. Os três elementos principais da persuasão são:

A intenção consciente por parte do emissor para manipular o(s) recetor(s). Transmissão de uma determinada mensagem. Influência nas atitudes e comportamentos. Ex.: Discurso político e

publicitário.Deste modo, persuadir é o objetivo do discurso dirigido a um auditório

particular enquanto que o convencer é o objetivo do discurso dirigido a um auditório universal. Assim, persuade-se um auditório particular, tendo em conta a sua especialidade afetiva, valorativa, etc.; e convence-se um auditório universal a partir de argumentos racionais que são universalizáveis.

2- Relacionar Ethos, Pathos e Logos.No contexto da retórica, o Ethos refere-se ao caráter do orador, que se for

considerado uma pessoa íntegra, honesta e responsável, conquista mais facilmente a confiança do público. Quando o público pressupõe que o orador é uma pessoa leal, séria e credível, está mais predisposto a aceitar o que é dito. É uma técnica retórica que não tem obrigatoriamente a ver com a forma de ser real da pessoa.

O Pathos significa paixão, sofrimento, ser afetado. Na retórica, pathos refere-se às emoções despertadas no auditório, que constituem um elemento determinado na receção da mensagem. Dado que a reação do público é diferente conforme passa os estados de calma ou ira, alegria ou tristeza, amor ou ódio, piedade ou irritação, o orador deve desenvolver a técnica de despertar sentimentos.

Neste contexto, refere-se àquilo que é dito, ao discurso argumentativo, isto é, aos argumentos que o orador utiliza na defesa das suas opiniões. É esta a dimensão que Aristóteles mais desenvolve evidenciando as principais técnicas a ter em conta na retórica.

Estes tipos de provas tem todos o mesmo objetivo: Influenciar e convencer o ouvinte, por isso mesmo, podemos dizer que estão todas relacionadas.

8- Oposição Sofistas/Filósofos (Sócrates e Platão).A retórica, como arte de convencer e persuadir, tem as suas origens na

Antiguidade, devendo aos sofistas a sua proliferação. Professore itinerantes que se dedicavam ao ensino dos jovens cidadãos, os sofistas dominavam a arte de persuadir pela palavra. Eram dotados de habilidade linguística e de estilo eloquente e surpreendiam pela sua vasta sabedoria e pelos seus discursos expressivos. O seu

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ensino proporcionava aos cidadãos da Grécia antiga os meios e as técnicas necessários à inserção e participação na vida política.

Os sofistas dão conta que o uso da palavra, tendo em vista convencer e seduzir os ouvistes, é mais eficaz do que o conteúdo do próprio discurso. Por outro lado, o contacto com diferentes culturas faziam-nos acreditar e defender que a verdade dos discursos é a verdade que serve ao homem (concreto); é uma verdade relativa, feita medida das necessidades e circunstâncias de cada um. “O homem é a medida de todas as coisas” dizia o sofista Protágoras.

Ao afirmar o relativismo da verdade, os sofistas inauguraram uma longa batalha contra Sócrates, Platão e seus discípulos. Por oposição ou nome filósofo, amigo do saber, o termo sofista (que originariamente significa sábio) passa a estar associado ao falso saber, o sofista é aquele que detém uma sabedoria aparente, que faz uso do raciocínio falacioso.

Se, para o sofista, a retórica era arte de bem falar ou técnica de persuadir para ganhar dado auditório a favor de determinada opinião, para os filósofos como Sócrates e o seu discípulo Platão a argumentação só pode servir a busca da verdade. Uma boa argumentação é aquela que serve o filósofo na busca da verdade.

Com Aristóteles, a retórica torna-se um saber entre outros, uma disciplina que não faz uso do mesmo tipo de provas que as ciências teóricas, e que se ocupa do que verosímil. Ao distinguir os domínios das retóricas, da moral e da verdade, Aristóteles pôde libertar a retórica da m+a reputação que a ligava a sofistica. Come feito, pode-se fazer um bom ou mau uso da retórica, não é ela que é mora ou imoral, mas quem a utiliza.

Apenas no século XX, assiste-se à nova retórica, com o fundamento de uma nova racionalidade, isto é, passa a considerar-se a sua importância no pensamento e para o conhecimento.

Diferença entre Retórica sofística e Platão

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Sofística

Conhecimento Empírico, erróneo, enganador

Conhecimento racional, inato

Platão

Relativismo Gnosiológico e as suas consequências morais

Relativo às opiniões pessoais (doxa)

Meio para atingir fins de poder político e pessoal, não interessa a verdade ou falsidade do seu discurso.

Verdade universal, inata presente em cada um de nós

Remete para o saber, ciência (epistéme)

A verdade desvenda-se pelo uso da razão, através da dialética.

Não há contestabilidade, dar possibilidade ao outro de contestar, nem horizontabilidade, o orador não está ao mesmo nível do auditório.

A retórica digna do filósofo é uma retórica subordinada à Filosofia, demonstradora de uma verdade absoluta.

“ Convence os ignorantes mas não os sábios”

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Retórica e Democracia

A retórica só pode ser pensada a par da democracia e da liberdade de discussão. Ela só poliferou devido ao triunfo das instituições democráticas nas cidades-estado gregas. O novo regime político da Grécia pressupunha a igualdade dos cidadãos perante a lei e o direito de participarem na vida pública. A igualdade perante a lei e o livre uso da palavra fumentaram a cidadania. Tal como na Grécia Antiga, nos países democráticos a palavra (retórica) é o primeiro instrumento de defesa da liberdade e da igualddade dos direitos do cidadão.

Mas se por um lado a retórica através de palavras põe fim à violência física, por outro lado pode ser usada de forma menos correta e perigosa através da manipulação e da demagogia.

Persuasão e manipulação dos dois usos da retórica

Persuadir ≠ Manipular

Torna-se eficaz quanto maior for a capacidade retórica-argumentativa do orador.

Objetivo: procurar a adesão, apelando a fatores recionais e emocionais.

Objetivo: procurar a adesão, apelando essencialmente a fatores emocionais desvalorizando intencionalmente (discurso baseado em falácias com intenção de confundir o Bom uso da retórica:

.predominância da logos;

.relação de igualdade:

.auditório crítico, ativo e consciênte.

Mau uso da retórica:

.todos os meios são legítimos para persuadir;

.predominância da pathos;

.relação de desigualdade;

.auditório crítico, passivo e inconsciênte.

Torna-se mais eficaz quanto maior for a passividade do auditório.

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Persuadir- levar alguém a aceitar ou a optar por determinada ação ou posição.

Finalidade: livre adesão do auditório.

Manipular- consiste em paralisar o juízo e tudo fazer para que o recetor abra ele próprio a sua porta mental a um conteúdo que de outro modo não aprovaria.

Finalidade: obriga o recetor a aderir a certa mensagem.

o Como enfrentar as estratégias manipuladoras?

.desenvolver o espírito crítico, o que implica:

Avaliar a consistência dos argumentos e questionar as crenças que se aceitam sem fundamento;

.atitude de observação atenta;

.domínio de competências retórico-argumentativas.

Retórica

Persuasão Manipulação

convencer iludir

retórica branca

retórica negra

.respeito pela liberdade de escolha e de pensamento;

.aceitamento depende do auditório.

.imposição da mensagem/tese;

.aceitamento depende do orador;

Deturpaçaocognitiva

Apelo aos afetos

Encontramos as armas contra a manipulação Visa enganar, iludir e

manipular

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3.2. Persusação e manipulação ou os dois usos da retórica

Um discurso retórico ou argumentativo tem como intenção influênciar aqueles a quem se dirige, levando-os a aderir ao ponto de vista que se considera melhor e a adotar o comportamento que se considera preferivel. As estratégias utlilizadas para atingir esse objetivo podem ser persuasiveis ou manipuladoras.

A persuação é o bom uso que se pode fazer da retorica. Na persuação ha um uso e uma predominância de principios éticos como o respeito pelo outro e o poder convincente da persuação advem daquiloque os argumentos expresão, neste caso os argumentos racionais, a uma predominância do LOGOS na persuação. Outra caracteristica da persuação é a relação de horizontalidade e contestabilidade entre o orador e o auditorio. Isto quer dizer que, o auditório tem o pder de contestar, de contrapor, ha uma relação de igualdade entre o orador e o auditório, o outro tem o acesso a palavra, tem o poder de criticar, é assim um auditório activio e consciente.

A percuação torna-se assim mais eficaz quanto maior for a capacidade retórica e argumentativa do orador.

A Manipulação é o mau uso da retórica. É sobertudo baseada em má fé pois todos os meios são legitimos para persuadir. Na manipulação ha uma predominância do PATHOS. O orador tenta manipular o auditório apelando aos seus desejos e as suas emoções. Entre o oradore o auditório naão se establece uma relação igual , existe sim uma relação de verticalidade, uma relação de desigualdade, uma relação de dominio do orador sobre o auditório. O orador propoem-se enganar intensional e voluntáriamente o auditório.

O Auditório é acritico, passivo e inconsciente, sem poder contextar e contrapor. A manipulação torna-se mais eficarz quanto maior for a passividade do auditório.

A retórioca não é uma tecnica manipuladora, quem manipula é a pessoa.

Modulo Iv

Unidade 1. Descrição e inerpretação da atividade cognoscitiva

1.1. Estrutura do ato de conhecer

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| Estrutura do ato de conhecer

-Conhecer é o ato que acontece quando um sujeito apreende um objeto.

-A função do sujeito é apreender o objeto e a do objeto é ser apreendida pelo sujeito.

-Sujeito e objeto têm de ser transcendentes e heterogéneos, ou seja, as suas origens são diferentes e nenhum deles pode ocupar o lugar do outro, para que se verifique a apreensão dos mesmos.

-A apreensão consiste na reprodução ou construção da imagem do objeto no sujeito.

-O sujeito é um agente no processo do conhecimento

-Ao tratar do ato de conhecer como uma relação entre um sujeito (cognoscente) e o objeto (cognoscível), a fenomenologia não pretende constituir-se como uma filosofia do conhecimento, mas como metodologia que descreve a estrutura essencial do conhecimento em geral e não uma análise ou interpretação de um modo específico e particular do conhecimento.

-O conhecer é descrever o real como ele é.

| Os elementos fundamentais do ato de conhecer: sujeito e objeto

Sujeito: quem conhece

Objeto: o cognoscível (representação do mundo)

CogniçãoCognoscitivo-Cognoscente (aquele que conhece o sujeito)-Cognoscível (objeto)

Notas:-É sujeito porque descobriu que depende do cognoscível-O ato de conhecer a cognição é a construção do sujeito-Se queremos construir o conhecimento, temos que ter algo em conta

| A relação sujeito/objeto no ato de conhecer.

-Este método chama-se fenomenologia

-No conhecimento encontram-se frente a frente a consciência e o objeto, o sujeito e o objeto.

-O dualismo sujeito objeto pertencem à essência do conhecimento.

-A relação entre os dois elementos é, ao mesmo tempo, uma correlação.

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-Uma vez que o conhecimento é uma determinação do sujeito pelo objeto, significa que o sujeito fica frente ao objeto.

-A função do sujeito consiste em apreender o objeto.

-O sujeito não pode captar as propriedades do objeto, senão fora de si mesmo, pois a oposição do sujeito e do objeto não desaparece na união que o ato de conhecimento estabelece entre eles.

-O objeto não é modificado pelo sujeito, mas sim o sujeito pelo objeto

-O objeto não se modifica mas o sujeito muda

-No sujeito nasce a consciência do objeto com o seu conteúdo, a imagem do objeto.

-O objeto é sempre construído pelo sujeito, mas o sujeito está sempre em construção (atualização)

-O conhecimento depende do sujeito e não o contrário

O conhecimento realiza-se em três tempos:1-O sujeito sai de si2-Está fora de si3-Regressa a si

A fenomenologia é o estudo dos fenómenos, é a discrição dos fenómenos presentes à consciência. É pura discrição daquilo que aparece, pois apenas pretende descrever a estrutura essencial do conhecimento. Trata do ato de conhecer como uma relação entre o sujeito (cognoscente) e o objeto (cognoscível).

Para haver conhecimento tem de existir alguém que conheça (sujeito) e algo que possa ser conhecido (objeto). Esta dicotomia é essencial e sem ela não há conhecimento. Por isso, podemos dizer, que quando um sujeito se encontra perante um objeto, estabelece-se entre eles uma relação que se traduz no conhecimento.

Há no ato de conhecer uma transcendência, ou seja, para existir o conhecimento, o sujeito terá que apreender o objeto que lhe é transcendente. Isto significa que o sujeito e o objeto são originariamente separados um do outro. O objeto não faz nenhum esforço para ser apreendido; e há uma correlação pois o sujeito e o objeto formam uma dualidade que se traduz numa separação completa, na qual o sujeito é sempre sujeito e o objeto é sempre objeto, nunca se fundindo um no outro, pois se tal acontecesse deixavam de ser dois e não haveria conhecimento. Desta forma, estabelecem uma relação de correlação, isto é, uma relação em que o sujeito é sujeito em relação ao objeto e o objeto é objeto em relação ao sujeito; e uma irreversibilidade pois apesar de ser uma relação de correlação, não podemos dizer que esta relação é reversível, já que as funções e características que cada um tem não podem ser aplicadas ao outro. O papel do sujeito é qualitativamente diferente do papel do objeto.

Page 9: Filosofia.docx

Argumentação, Verdade e Ser

O conceito de subjetividade no conhecimento

O elemento determinante no conhecimento é o sujeito, é ele que estuda o

conhecimento. O ser humano procura incessantemente a busca da verdade tendo a

perfeita noção que é esta é subjetiva, dado que se dá na consciência de cada

sujeito. Esta verdade subjetiva pode ser comprovada através da racionalidade

argumentativa, ou seja, da argumentação uma vez que esta visa a aceitação de

uma determinada ideia por um auditório.

A argumentação, a verdade e o ser formam uma trilogia dialética em aberto, é um

sistema em aberto. A argumentação só existe porque o ser humano é um ser

racional.

O ser relaciona-se com a verdade na medida em que o ser se assume como um

homem a caminho e “o caminho faz-se caminhando”. Deste modo, a verdade não

pode ser um conceito fechado porque o ser humano atinge verosimilhanças ao

longo do caminho. A argumentação relaciona-se com a verdade na medida em que

o discurso argumentativo tem como ponto de partida valorizar diferentes pontos de

vista e deste modo valoriza e aceita diferentes verdades.

O ser humano, sendo racional e reflexivo, é um ser a caminho da verdade porque

ele pretende conhecer a verdade daquilo que estuda. A verdade não é um ponto de

chegada, mas sim um ponto de partida porque chegando a uma conclusão que se

considera como verdadeira, podemos perceber que há uma verdade mais perfeita

que a anterior – é um ciclo virtuoso.

Existem dois modelos de racionalidade: o modelo clássico que defende a existência

de uma verdade absoluta e o modelo contemporâneo que apoia a existência de

verosimilhanças. Estes dois modelos são antagónicos. Assim sendo, consideramos

que há um conceito tradicional de verdade no conhecimento e um conceito

contemporâneo de verdade no conhecimento.

O conhecimento tradicional de verdade no conhecimento começa com Platão, na

antiguidade grega, e perdura até ao século XIX. É valorizado o conceito de verdade

absoluta, perfeita, que não é suscetível de se modificar. Logo, os conceitos de

verdade e de conhecimento são fechados. O modelo clássico da racionalidade

implica aceitar uma verdade absoluta e que sejamos rigorosos no caminho para

chegar até ela. Platão, no seu modelo de dualismo cosmológico defende que a

verdade é inatingível, é uma verdade utópica e então defende que a matemática é

o saber mais perfeito que o Homem possui. Porém, Aristóteles possuía uma visão

mais enquadrada da realidade, situada entre sofistas e filósofos, que defendia que a

verdade absoluta era atingível através de processos lógico – dedutivos, isto é,

através da via racional. Os sofistas foram visionários na sua época já que possuíam

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uma visão de verdade relativa, que contrariava as ideias até então vigentes. Para

os filósofos, a retórica sofistica era considerada a negação da própria Filosofia. Este

conceito de verdade absoluta foi-se mantendo o tempo porque já na Baixa Idade

Média, com Santo Agostinho (séc. IX) havia a cultura da razão iluminada de

natureza teológica e teocêntrica. Era uma época Neoplatónica, fortemente

influenciada por Platão. Considerava-se que a razão encaminhava o Homem para

luz e que por isso ele nunca poderá atingir a verdade. Na Idade Média havia uma

cultura de natureza eclesiástica, e por isso, defendiam uma verdade absoluta de

natureza dogmática. Na Alta Idade Média, com São Tomás de Aquino (século XII) é

uma época neoaristotélica (pós Aristóteles) e era defendido que o Homem através

da matemática poderia efetivamente chegar á verdade absoluta. No renascimento,

dá-se ao Homem o poder de conhecer e transformar, há uma valorização do

Homem em detrimento de Deus (teocentrismo). O Homem está assim preparado

para poder entrar na Idade Moderna.

A crise do modelo clássico da racionalidade dá-se no final do século XIX com o

apogeu do positivismo que acaba por distorcer o próprio modelo. A teoria da

relatividade de Einstein, a física quântica de Eisenberg e as geometrias não –

euclidianas puseram em causa conceitos até então inabaláveis e considerados

como absolutos. Por outro lado, o facto de diferentes filósofos chegarem a

conclusões muito diversas sobre um mesmo tema constitui razão suficiente para

rejeitar que estes processos não são demonstrativos, porque as verdades

demonstráveis sai universais e tal não acontece com as “verdades” que os filósofos

preconizam atingir. Surgiu assim um novo modelo de racionalidade, racionalidade

argumentativa, que pretende dar resposta a estes novos problemas levantados.

A racionalidade argumentativa pressupõe que é necessário fundamentar os próprios

princípios de que se parte. Este modelo também se pauta pela procura da busca da

verdade e o conhecimento do ser, mas implica uma diferente conceção de verdade:

não a considera absoluta e intemporal, percebe antes que ela depende das

condições em que o conhecimento é obtido.

Hoje em dia, a Filosofia não pode ignorar a argumentação e os processos retórico –

argumentativos. O discurso filosófico é argumentativo, mas nem toda a

argumentação é filosofia. Ao usar o discurso retórico – argumentativo, o filósofo

pretende dirigir-se ao auditório universal cuja adesão pretende suscitar para os

princípios e valores que ele filósofo considera válidos e desejáveis para todos os

seres humanos.

Page 11: Filosofia.docx

Argumentação e o auditório

Aquele que argumenta, se quer ser bem-sucedido e conseguir a adesão do auditório às teses que defende, tem de ter em atenção três aspetos fundamentais:

o A sua própria pessoa enquanto orador – ethoso O conteúdo da mensagem – logos o O público a que se dirige – pathos

O ethos

Diz respeito ao caráter do orador, que se for íntegro, honesto e responsável conquista mais facilmente o público. Enquanto orador, deve possuir certas competências para ter sucesso como a capacidade de dialogar (tanto de comunicar como de ouvir), de optar, de pensar e de se comprometer, por isso, ser-se uma pessoa cuja opinião se atribui algum valor, é já uma boa qualidade.

Aspetos significativos do ethos:

o Credibilidade do oradoro Presença e imagem do oradoro Uso de retóricao Utilização do exórdioo Eloquência

O pathos

Define-se pela sensibilidade do auditório que é variável em função das características do mesmo. Visto que o objetivo do orador é persuadir, é preciso perceber, por mera intuição, o que move o auditório, a que é sensível, numa palavra como quebrar o gelo inicial. O orador tem de selecionar as estratégias adequadas para provocar nele as emoções e as paixões necessárias para suscitar a adesão e levá-lo a mudar de atitude e de comportamento. Claro que o orador serve-se de argumentos racionais mas não pode deixar de usar o se carisma e a sua habilidade oratória.

Tipos de auditório:

o Juízes e jurados de um tribunalo Participantes de um comícioo Membros de uma assembleia política o Elementos de uma comunidade específica o Um único interlocutor

O logos

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É a consideração pelo conteúdo do discurso por parte do orador, se este quer que a mensagem passe. Para isso tem de apresentar claramente a tese que vai defender, selecionar bem os argumentos que fundamentam a tese (argumentos que diminuam as hipóteses de refutação), apresentando os mais fortes no início e repetindo-os no fim; antecipar objeções à tese (para desvalorizar os contra-argumentos) e procurar recursos estilísticos (retórica).

Deve-se cumprir os seguintes conteúdos na elaboração do discurso:

o Apresentar as ideias de uma forma natural e organizadao Utilizar uma linguagem precisa, específica e concretao Evitar linguagem tendenciosao Usar termos consistenteso Limitar-se a um sentido para cada termoo Utilizar exemplos.

o O discurso argumentativo – principais tipos de argumentos e falácias informais

Retórica e Filosofia

Platão e Sócrates insurgiram-se contra a retórica sofistica e extremaram o antagonismo entre a procura da verdade, que seria próprio dos filósofos, e a defesa das simples opiniões, proposta pelos sofistas.

Para Platão a retórica sofistica não era mais que uma manipulação da palavra e dos argumentos, sem qualquer preocupação com a verdade, preocupando-se apenas com a adesão. Ele defende que para governar o país deve haver conhecimento filosófico e poder.

Os sofistas faziam um uso da retórica que não era pautado por um código ético, chegando a gabarem-se de que seriam capazes de defender uma dada tese e em seguida defender o seu oposto com argumentos igualmente fortes. Os filósofos podiam reprovar-lhes a sua falta de idoneidade moral e intelectual.

Contudo, foram os sofistas que contribuíram para uma nova educação centrada no domínio da linguagem e das práticas discursivas, permitindo deste modo a participação dos seus discípulos de maneira eficaz na vida coletiva da cidade.

A educação da juventude – modelos em confronto

IDEAL EDUCATIVO – MODELOS EM CONFRONTOSofistas Filósofos

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o Ideal de vida ativa.o Aquisição de competências para o

exercício da cidadaniao Valorização da palavra e do discurso

eloquente.o Valorização do prazer e do sucesso.

o Ideal de vida contemplativao Busca da verdade e da sabedoriao Valorização do conhecimentoo Valorização das virtudes, como a

temperança e a moderação.

Inicialmente, o objetivo da educação dos jovens focava-se no desenvolvimento harmonioso do corpo e do espirito. Contudo, este desenvolvimento do corpo não era mais do que uma preparação para as guerras, sendo igualmente desenvolvido a coragem e o sacrifício.

Com o decorrer dos seculos, outras competências foram exigidas. O domínio da cultura geral e das artes da linguagem e do discurso eram pontos fulcrais para a obtenção do poder.

Com isto os sofistas defendiam que os jovens deviam sentir-se motivados para a entrada na vida politica com o objetivo desta ser exercida pelos mesmos.

No entanto, os filósofos apresentam ideias contraditórias, defendendo então que os jovens deveriam partir em busca da sabedoria e da verdade. Era um ideal contemplativo. Platão, dizia também que para uma boa preparação para a ação, o conhecimento devia ser valorizado.

o Persuasão e manipulação – os dois usos da retórica

No discurso retorico-argumentativo está sempre presente a intenção de influenciar aqueles a quem se dirige, levando-o a aderir ao ponto de vista que se considera o melhor e a adotar o comportamento que se considera preferível. E para isso recorre-se a duas estratégias:

Persuasão – situação comunicacional que visa operar uma mudança no comportamento do outro. Aquele que persuade procura respeitar os legítimos direitos da pessoa. Envolve argumentos racionais e emocionais.

Manipulação – é um ultrapassar de certos limites. Não há um uso da retórica mas sim um abuso dela. Ignora deliberadamente as razões e as estratégias que visam o conhecimento e aposta na sedução e sugestão. Esta atua de forma ardilosa, explorando habilmente as fraquezas das pessoas, tende a iludi-las e oculta muita informação.

PERSUASÃO MANIPULAÇÃO

o Visa operar uma mudança no comportamento

o Pretende levar em conta os legítimos interesses do outro

o Utiliza estratégias que visam o convencimento – ênfase das razões

o Visa operar uma mudança no comportamento

o Não manifesta o propósito de respeitar os interesses do outro

o Utiliza estratégias que têm por base a sedução e a sugestão – ênfase nas

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o O auditório adere livremente à tese do orador

paixões o A mensagem é imposta, não havendo

liberdade na adesão por parte do auditório à tese do orador

Como enfrentar estratégias manipuladoras

Desenvolver o espírito critico: avaliar a consistência dos argumentos; escrutinar as crenças que se aceitam sem fundamento racional, e uma atitude de observação atenta. Generalizar o conhecimento das práticas retóricas e o desenvolvimento das respetivas competências.

o Argumentação, verdade e ser

1. Descrição e interpretação da atividade cognoscitiva

o Estrutura do ato de conhecer

Conhecer diz respeito à capacidade de o sujeito organizar os dados sobre um determinado objeto, de forma a conseguir pensá-lo ou produzir juízos acerca dele.

Análise fenomenológica do conhecimento

Fenomenologia – estudo descritivo dos fenómenos que aparecem à consciência do sujeito, possíveis de serem apreendidos por intermedio da representação. Esta caracteriza-se pela atividade intencional que o sujeito realiza em direção ao objeto com a finalidade de dele se apropriar. (Ato de conhecer)

Para haver conhecimento tem de existir uma correlação entre o sujeito (aquele que conhece) e o objeto (aquele que se deixa conhecer). Essa correlação é irreversível pois, os elementos que a constituem não são permutáveis (não se podem trocar). Não há conhecimento se não houver a dualidade sujeito-objeto. O objeto do conhecimento é sempre transcendente ao sujeito, mas a imagem ou representação é imanente, isto porque o objeto e o conceito do mesmo é sempre igual, o objeto não depende do sujeito, dai ser-lhe transcendente. Por outro lado, a imagem desse objeto varia de sujeito para sujeito, logo é-lhe imanente.

Tem de haver uma crença que seja verdadeira, que condiga com a realidade, e justificada, mas apenas isso não é suficiente, tem também de existir uma conexão entre esses três elementos.

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Conhecimento e crença

A crença é o fator subjetivo do conhecimento e, como tal, embora necessária não é suficiente para corresponder a conhecimento.

Conhecimento e verdade

O fato de as crenças serem verdadeiras também não corresponde necessariamente a conhecimento, pois podem ser verdadeiras por mero acaso, sem que haja justificação para a sua verdade.

Conhecimento e justificação

Três critérios para justificar as crenças:

o Verdade como correspondência (adequação de dizer à realidade) – implica a adequação entre aquilo que dizemos acerca das coisas e o que elas realmente são.

o Verdade como coerência (utilização de várias evidências conjugadas entre si) – aplica-se quando não é possível a verificação direta para provar que uma afirmação é verdadeira.

o Pratica como critério de verdade (utilização de proposições com resultados verificados) – permite decidir a verdade de uma proposição em função dos resultados, das consequências de que a sua aceitação se reveste.

Tipos de conhecimento:

o Saber fazero Saber queo Saber por contato

Afinal, o que é o conhecimento?

A palavra conhecimento deriva do latim cognotio, que significa captação conjunta

ou compreensão. Para haver conhecimento é necessário que ocorra a captação

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conjunta, isto é, a apreensão primária dos dois elementos que permitam que haja

conhecimento: o sujeito cognoscente e o objeto cognoscível (que é passível de ser

conhecido).

No processo de conhecimento há alteração do sujeito cognoscível apenas, mas

quando o objeto de conhecimento é o Homem ocorre alteração tanto do sujeito

como o objeto durante o processo de conhecimento.

O sujeito entendido como ser racional é valorizado neste processo, pois é ele que

tem a capacidade de compreender, percecionar ou pensar algo a partir de

elementos que lhe são fornecidos pelo meio que o envolve. Conhecer implica assim

a capacidade de um sujeito organizar dados sobre um determinado objeto,

pensando-o e inferindo, assim, juízos sobre ele. A formulação de juízos implica um

processo racional e reflexivo por parte do sujeito cognoscente que é o Homem. O

conhecimento assume extrema importância para o ser humano, pois este insere-se

num contexto científico – tecnológico e para usar os meios que tem ao seu dispor

necessita de conhecer.

A Filosofia preocupou-se também em conhecer os problemas do conhecimento, as

suas origens e o seu valor e limitações tendo por isso criado um ramo chamado

Gnosiologia que estuda o conhecimento em geral, interpretando-o.

O conhecimento implica sempre uma relação dialética entre o sujeito e o objeto e

pode ser entendido de duas formas: como um produto/resultado ou então como um

processo/ato.

O conhecimento entendido como produto/resultado remete-nos para o modelo

clássico da racionalidade em que os conteúdos da consciência que o sujeito

apreende são os conhecimentos que possui, sendo assim defendida a ideia de uma

verdade absoluta, intemporal. Por outro lado, o conhecimento visto como

processo/ato é , na realidade, um conjunto de produtos, ou seja, é uma verdade a

caminho, uma verosimilhança. Remete-se, deste modo, para um sistema em aberto

apoiado pelo novo modelo de racionalidade. Pode ser definido como a atividade

intelectual pela qual o sujeito apreende o que lhe é exterior.

O conhecimento só tem sentido útil, na atualidade, quando é visto como um

processo em vez de ser visto como um produto, já que a ideia de verdade absoluta

tornou-se obsoleta.

Podemos, então, considerar que existem três tipos de conhecimento que se inter-

relacionam com as diferentes dimensões da vida humana: conhecimento prático,

conhecimento por contacto e conhecimento proposicional.

Estes três tipos de conhecimento possuem um ponto em comum – a relação

dialética que se estabelece entre o sujeito e o objeto. Tanto o conhecimento prático

como o conhecimento por contacto são assistemáticos e imediatos, distinguindo-se,

na medida em que o conhecimento prático prende-se com o experienciar, o saber -

fazer enquanto o conhecimento por contacto envolve o contacto direto com as

coisas, o experimentar. Devemos ter em atenção que experimentar é diferente de

experienciar. O conhecimento proposicional é sistemático, práxico (cariz teórico –

prático), preocupa-se com a causa das coisas, a raiz dos problemas diferenciando-

se assim dos outros tipos de conhecimento referenciados. Analisemos, assim, os

diferentes tipos de conhecimentos.

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No conhecimento prático estabelece-se uma relação entre o sujeito e o objeto, tal

como em qualquer tipo de conhecimento. O objeto de conhecimento, neste caso, é

uma atividade e o conhecimento traduz-se numa competência prática para

desempenhar um qualquer tipo de tarefa, um saber – fazer.

No conhecimento por contacto, o objeto de conhecimento é um objeto concreto

(uma coisa, uma pessoa, um estado mental, um lugar). Pressupõe-se também que

haja uma relação imediata entre o sujeito e o objeto que se traduz numa relação de

familiaridade e contacto, que não pode ser simplesmente comunicada por exigir

que haja contacto para se conhecer. Um dos grandes críticos do conhecimento por

contacto é Bertrand Russell que defende acerrimamente que não podemos

conhecer realmente algo por contacto mas apenas podemos adquirir e apreender

sensações acerca desse algo. Deste modo, podemos afirmar que o conhecimento

por contacto nunca é conhecimento verdadeiro.

O conhecimento proposicional opera sobre um conjunto de realidades que se

traduzem em proposições (preferencialmente verdadeiras pois são estas que

estabelecem uma relação adequada entre o sujeito e o objeto, mas podem,

também, ser falsas). É um conhecimento práxico, e por isso, mais geral e teórico

que baseia na explicação de algo assente em proposições. Ao contrário do

conhecimento por contacto, este pode ser simplesmente comunicado pois traduz-se

num “saber – que”. Todo o conhecimento cientifico, filosófico, matemático, literário

baseia-se no “saber que é verdade que” e por isso coloca-se impreterivelmente a

questão : “será que o que aprendemos é realmente verdadeiro?”

O conhecimento é um fenómeno que se dá na consciência de cada sujeito

remetendo-o, por isso, para o nível da subjetividade. É o sujeito que assume o papel

determinante na atividade cognoscitiva pois é ele que pretende conhecer e assim, o

conhecimento é determinado pelas vivências do ser humano (é de cada um de nós,

é um processo individual).

Platão foi o primeiro a determinar a necessidade de justificação (deve ser entendida

como explicação racional) e não apenas da verdade para determinar a existência

de conhecimento. De acordo com a definição tradicional de conhecimento em

Platão só existia uma verdade que era absoluta e inatingível. Segundo o dualismo

cosmológico de Platão o mundo em que vivemos é uma realidade ilusória e por isso

é-nos impossível atingir a verdade absoluta em vida, sendo assim utópica. Na

minha opinião, esta ideia de Platão é obsoleta e constitui uma visão pouco lúcida da

realidade. Aristóteles, seu contemporâneo, tem uma visão na mesma de verdade

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absoluta mas mesmo assim mais real. Defende que existe sim uma verdade

absoluta, mas que esta através de rigorosos processos lógico - dedutivos é

atingível. Resumidamente, para Aristóteles a verdade absoluta atinge-se através da

matemática (que é a ciência mais perfeita) e que esta pode ser atingida pelo

Homem. Baseando-nos no novo modelo de racionalidade, a verdade já não é vista

como absoluta e intemporal porque se percebe que a verdade depende das

condições sócio – histórico – culturais em que o Homem se o insere e que é útil

recorrer á argumentação (retórica) para determinar o que é verdade. A análise da

evolução do conceito de verdade insere-se neste contexto pois ela é condição

necessária para que haja conhecimento.

O conhecimento (episteme) para Platão envolve três condições fundamentais – uma

condição de crença/opinião (doxa), uma condição de verdade (aletheia) e uma

condição de justificação (logos). Deste modo, podemos dizer que o conhecimento

passa primeiro por uma condição de crença (que nos vem dos dados dos sentidos)

e depois tem que ser justificada para constitui uma verdade. As crenças falsas não

constituem conhecimento.

O conhecimento pressupõe uma conceção tripartida de natureza dialética que

constitui a Teoria Crença Verdadeira Justificada.

Todo o conhecimento envolve crença, ou seja, quando sabemos algo acreditamos

nesse algo logo conhecer pressupõe acreditar. Mas, atenção, crença corresponde a

convicção, opinião e não associada á fé religiosa. A crença é uma condição

necessária para o conhecimento pois sem crença não há conhecimento mas não é

uma condição suficiente já que não basta acreditarmos em algo para que possamos

falar em conhecimento. O ser humano pode acreditar em falsidades e assim não irá

constituir conhecimento. Deste modo, é-nos possivel inferir que saber e acreditar

são conceitos distintos que, no entanto, se complementam. Só as crenças

verdadeiras, na realidade, é que podem constituir conhecimento e por isso

afirmamos que o conhecimento é factivo. Dizer que o conhecimento é factivo

implica aceitar que não se podem conhecer falsidades (ou seja, crenças falsas não

constituem conhecimento) e que sem verdade não há conhecimento. Assim sendo,

a verdade é uma condição necessária para o conhecimento pois aquilo em que

acreditamos tende a ser verdadeiro. Mas será que ela é uma condiçao suficiente? A

verdade não constitui condição necessária para o conhecimento porque podemos

acreditar em coisas verdadeiras sem saber que são realmente verdadeiras. De

acordo com a definição tradicional de conhecimento de Platão a crença verdadeira

só é conhecimento quando devidamente suportada por uma explicação racional,

uma justificação. A verdade no conhecimento classifica-se de três formas: verdade

como correspondência, verdade como coerência e verdade como prática.

A verdade como correspondência foi ilustrada pela primeira vez por Aristóteles e

implica a adequação entre a visualização das coisas e da sua verdadeira essência e

realidade e podem ser verificados através de factos empíricos comprováveis

através da experiência. A relação entre as proposições verdadeiras e as suas

condições de verdade traduz-se na correspondência. Porém, as condições de

verdade das proposições verdadeiras ilustram características objetivas do mundo. A

verdade como coerência aplica-se quando não é possível provar diretamente que

uma dada proposição é verdadeira. Assim sendo, utilizam-se raciocínios dedutivos

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que partem de determinadas evidências combinadas com outras evidências

permitem chegar a uma conclusão. São usados raciocínios dedutivos porque são

estes que possuem validade lógica, uma vez que se as premissas forem

verdadeiras, a conclusão é impreterivelmente verdadeira.

O modo como é determinada a verdade é das premissas é um critério que a

verdade como correspondência deixa em aberto. Muitas vezes esta verdade é

estabelecida pelo critério da correspondência em vez do critério da verdade como

coerência. A verdade como coerência tem grande utilidade tanto na vida quotidiana

como nas ciências. A relação de verdade entre as proposições verdadeiras é a

coerência mas as condições de verdade das proposições verdadeiras são outras

proposições. A verdade como prática permite decidir a verdade de uma proposição

em função das consequências que a sua aceitação se reveste, isto é, a verdade

depende dos resultados, é prática que avaliza a verdade dos nossos juízos. Este

critério tem aplicabilidade no teste de hipóteses, porque muitas vezes a sua

aceitação depende das consequências que ela permite prever. A relação entre as

proposições verdadeiras e as suas condições de verdade traduz-se pela prática e as

condições de verdade são determinadas pela sua utilidade, o melhor resultado, o

sucesso.

Justificação das crenças : critérios de verdade

A

justificação é uma condição necessária para o conhecimento, mas a crença

somente justificada não é suficiente para termos conhecimento. Por vezes,

acreditamos em algo para o qual até possuímos uma justificação só que aquilo em

que acreditamos não é verdadeiro.

Uma condição necessária e suficiente para podermos afirmar que possuímos

conhecimento é a CRENÇA VERDADEIRA JUSTIFICADA. As condições de crença, de

verdade e de justificação são separadamente necessárias para o conhecimento, isto

é, se uma das condições não for cumprida e totalmente satisfeita não é

conhecimento. Do mesmo modo, se todas as condições forem satisfeitas

afirmaremos então que estamos presentes diante de um exemplo de conhecimento.

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Edmund Gettier, epistemólogo e filósofo contemporâneo, através de contraexemplos( que colocaram o famoso problema de Gettier) demonstrou que as condições de crença, verdade e justificação eram necessárias mas não eram suficientes. Os seus contraexemplos mostram que podemos ter justificação para acreditar em algo verdadeiro sem que esse algo seja conhecimento. Então, de acordo com a visão de Edmund Gettier, a crença verdadeira e justificada não é suficiente para o conhecimento. Segundo Gettier, para existir conhecimento deve existir uma conexão adequada entre a justificação e a verdade da crença. Só esta justificação adequada e conexionada com a verdade da crença é aceitável, pois só esta elimina a interferência do fator “acaso” no estabelecimento da crença verdadeira. Concluímos então, que a análise platónica do conhecimento está incompleta.

Tipos de conhecimento

Saber-fazer: refere-se ao conhecimento de uma atividade, isto é, à capacidade, aptidão ou competência para realizar/efetuar alguma coisa.

Conhecimento por contacto: refere-se ao conhecimento direto de alguma realidade, seja de pessoas ou lugares.

Saber-que: refere-se ao conhecimento proposicional ou conhecimento de verdades.

Definição de conhecimento

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O conhecimento é uma relação entre um sujeito e um objeto.A crença é uma condição necessária do conhecimento, pois o conhecimento é uma convicção do sujeito relativamente ao objeto. Mas a crenças podem ser falsas, o que se verifica em discussões, em que existem muitas opiniões diversas e inconpatíveis sustentadas por diferentes pessoas, algumas delas, por conseguinte devem estar erróneas. O verdadeiro e o falso de qualquer crença dependem de algo exterior à crença. Ora, uma crença falsa não corresponde a qualquer conhecimento, ainda que aquele que a possui julgue deter o conhecimento.

Como tal, a crença, embora sendo uma condição necessária para o conhecimento, não é uma condição suficiente. Para haver conhecimento, para além de ser necessário que o sujeito acredite em algo, como que essa crença seja verdadeira.

Mas conhecimento não se reduz à mera crença verdadeira, para ser conhecimento esta precisa de estar devidadmente justificada.

→ Teoria CVJ: 1º Crença (doxa): S acredita em P; 2º Verdade: P é verdadeira; 3º Justificação: S dispõe de justificação ou provas para acreditar que P. A justificação tem que vir da razão (episteme) e possível de explicar, só assim serão cognoscíveis. Nenhuma das 3 condições consideradas isoladamente é suficiente para que haja conhecimento. Esta teoria foi defendida por Sócrates.

→ Críticas à definição tradicional: Edmund Gettier revelou a possibilidade de termos uma crença verdadeira justificada e sem que tal crença equivalha a um efetivo conhecimento. Embora alguém tenha uma justificação razoável para acreditar que algo é verdadeiro, tal crença não é necessariamente conhecimento. Nestes casos, a relação da justificação com a crença verdadeira não é adequada, sendo a verdade da crença apenas o resultado de uma coincidência. Também pode acontecer inferir-se uma crença verdadeira de outra falsa.

1- Relação entre convencer e persuadir.O conceito de persuadir, está relacionado com o convencer, no entanto, o

discurso persuasivo não obedece a critérios de transparência e reciprocidade. Isto é, tem como objetivo induzir ou levar os interlocutores a acreditar em alguma coisa ou a fazer alguma coisa. Trata-se do ato de manipular símbolos para provocar mudança nos comportamentos, daqueles que interpretam esses símbolos. Os três elementos principais da persuasão são:

A intenção consciente por parte do emissor para manipular o(s) recetor(s). Transmissão de uma determinada mensagem. Influência nas atitudes e comportamentos. Ex.: Discurso político e

publicitário.Deste modo, persuadir é o objetivo do discurso dirigido a um auditório

particular enquanto que o convencer é o objetivo do discurso dirigido a um auditório

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universal. Assim, persuade-se um auditório particular, tendo em conta a sua especialidade afetiva, valorativa, etc.; e convence-se um auditório universal a partir de argumentos racionais que são universalizáveis.

2- Relacionar Ethos, Pathos e Logos.No contexto da retórica, o Ethos refere-se ao caráter do orador, que se for

considerado uma pessoa íntegra, honesta e responsável, conquista mais facilmente a confiança do público. Quando o público pressupõe que o orador é uma pessoa leal, séria e credível, está mais predisposto a aceitar o que é dito. É uma técnica retórica que não tem obrigatoriamente a ver com a forma de ser real da pessoa.

O Pathos significa paixão, sofrimento, ser afetado. Na retórica, pathos refere-se às emoções despertadas no auditório, que constituem um elemento determinado na receção da mensagem. Dado que a reação do público é diferente conforme passa os estados de calma ou ira, alegria ou tristeza, amor ou ódio, piedade ou irritação, o orador deve desenvolver a técnica de despertar sentimentos.

Neste contexto, refere-se àquilo que é dito, ao discurso argumentativo, isto é, aos argumentos que o orador utiliza na defesa das suas opiniões. É esta a dimensão que Aristóteles mais desenvolve evidenciando as principais técnicas a ter em conta na retórica.

Estes tipos de provas tem todos o mesmo objetivo: Influenciar e convencer o ouvinte, por isso mesmo, podemos dizer que estão todas relacionadas.

8- Oposição Sofistas/Filósofos (Sócrates e Platão).A retórica, como arte de convencer e persuadir, tem as suas origens na

Antiguidade, devendo aos sofistas a sua proliferação. Professore itinerantes que se dedicavam ao ensino dos jovens cidadãos, os sofistas dominavam a arte de persuadir pela palavra. Eram dotados de habilidade linguística e de estilo eloquente e surpreendiam pela sua vasta sabedoria e pelos seus discursos expressivos. O seu ensino proporcionava aos cidadãos da Grécia antiga os meios e as técnicas necessários à inserção e participação na vida política.

Os sofistas dão conta que o uso da palavra, tendo em vista convencer e seduzir os ouvistes, é mais eficaz do que o conteúdo do próprio discurso. Por outro lado, o contacto com diferentes culturas faziam-nos acreditar e defender que a verdade dos discursos é a verdade que serve ao homem (concreto); é uma verdade relativa, feita medida das necessidades e circunstâncias de cada um. “O homem é a medida de todas as coisas” dizia o sofista Protágoras.

Ao afirmar o relativismo da verdade, os sofistas inauguraram uma longa batalha contra Sócrates, Platão e seus discípulos. Por oposição ou nome filósofo, amigo do saber, o termo sofista (que originariamente significa sábio) passa a estar

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associado ao falso saber, o sofista é aquele que detém uma sabedoria aparente, que faz uso do raciocínio falacioso.

Se, para o sofista, a retórica era arte de bem falar ou técnica de persuadir para ganhar dado auditório a favor de determinada opinião, para os filósofos como Sócrates e o seu discípulo Platão a argumentação só pode servir a busca da verdade. Uma boa argumentação é aquela que serve o filósofo na busca da verdade.

Com Aristóteles, a retórica torna-se um saber entre outros, uma disciplina que não faz uso do mesmo tipo de provas que as ciências teóricas, e que se ocupa do que verosímil. Ao distinguir os domínios das retóricas, da moral e da verdade, Aristóteles pôde libertar a retórica da m+a reputação que a ligava a sofistica. Come feito, pode-se fazer um bom ou mau uso da retórica, não é ela que é mora ou imoral, mas quem a utiliza.

Apenas no século XX, assiste-se à nova retórica, com o fundamento de uma nova racionalidade, isto é, passa a considerar-se a sua importância no pensamento e para o conhecimento.

Anexos:Retórica - Pode entender-se por retórica a arte de argumentar, a arte de bem falar, cujo objetivo é persuadir e convencer um auditório a respeito de determinado assunto, levando-o a aceitar que uma certa tese ou opinião é preferível àquela que se lhe opõe.Argumentação – Argumentar é apresentar ideias pró ou contra uma determinada tese. Tem uma dimensão comunicativa e implica a existência de um orador que transmite uma determinada tese (conjunto de argumentos), e um auditório ou interlocutor que recebe essa mensagem, aderindo ou não a esses argumentos. O objetivo da argumentação é, portanto, convencer ou obter a adesão do auditório.

Demonstrar Argumentar (convencer)

Validade dos raciocínios (lógica formal) Linguagem natural

Linguagem formal (2+2=4) Auditórios particulares

Auditório Universal Verosímil ou plausível

Doxa (opinião)

Opinião Pública – A propaganda política que se pretende eficaz deve ir ao encontro ou responder às necessidades e preocupações manifestadas pela chamada opinião

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pública é o conjunto de pensamentos, conceitos e representações gerais dos cidadãos sobre as questões de interesse coletivo. A um primeiro nível, pode ser entendida como a voz da sociedade civil ou a expressão da vontade coletiva. Neste sentido, a opinião pública influencia a política e pode, inclusive, derrubar governos.