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Filosofia moderna é toda a filosofia que se desenvolveu durante os séculos
XV, XVI, XVII, XVIII, XIX; começando pelo Renascimento e se estendendo
até meados do século XIX.
Na modernidade passou-se a delinear melhor os limites do estudo filosófico.
Inicialmente, como atestam os subtítulos de obras tais como as Meditações
de René Descartes e o Tratado de George Berkeley, ainda se fazia
referência a questões tais como a da prova da existência de Deus e da
existência e imortalidade da alma. Gradualmente, contudo, a filosofia
moderna foi deixando de se voltar ao objetivo de aumentar o conhecimento
material, i.e., de buscar a descoberta de novas verdades – isso é assunto
para a ciência – bem como de justificar as crenças religiosas racionalmente.
Em obras posteriores, especialmente a de Immanuel Kant, a filosofia
claramente passa a ser encarada antes como uma atividade de clarificação
das próprias condições do conhecimento humano: começava assim a
chamada "virada epistemologica".
Em seu livro História da Filosofia, Hegel declara que a filosofia
moderna é o nascimento da Filosofia propriamente dita porque
nela, pela primeira vez, os filósofos afirmam:
1) que a filosofia é independente e não se submete a nenhuma
autoridade que não seja a própria razão como faculdade plena de
conhecimento. Isto é, os modernos são os primeiros a demonstrar
que o conhecimento verdadeiro só pode nascer do trabalho interior
realizado pela razão, graças a seu próprio esforço, sem aceitar
dogmas religiosos, preconceitos sociais, censuras políticas e os
dados imediatos fornecidos pelos sentidos. Só a razão conhece e
somente ela pode julgar-se a si mesma;
2) que a filosofia moderna realiza a primeira descoberta da
Subjetividade propriamente dita porque nela o primeiro ato de
conhecimento, do qual dependerão todos os outros, é
a Reflexão ou a Consciência de Si Reflexiva. Isto é, os
modernos partem da consciência da consciência, da
consciência do ato de ser consciente, da volta da consciência
sobre si mesma para reconhecer-se como sujeito e objeto do
conhecimento e como condição da verdade. A consciência é
para si mesma o primeiro objeto do conhecimento, ou o
conhecimento de que é capacidade de e para conhecer;
3) que a filosofia moderna é a primeira a reconhecer que,sendo todos os seres humanos seres conscientes eracionais, todos têm igualmente o direito ao pensamento e àverdade. Segundo Hegel, essa afirmação do direito aopensamento, unida à ideia de liberdade da razão para julgar-se a si mesma, portanto, o igualitarismo intelectual e arecusa de toda censura sobre o pensamento e a palavra,seria a realização filosófica de um principio nascido com oprotestantismo e que este, enquanto mera religião, nãopoderia cumprir precisando da filosofia para realizar-se: oprincípio da individualidade como subjetividade livre que serelaciona livremente com o infinito e com a verdade.
A EPISTEMOLOGIA
As teorias filosóficas do conhecimento, apesar dasua enorme diversidade, polarizam-se em grandesproblemas:
•Qual a natureza do conhecimento ?
•Qual o seu valor ou possibilidade?
•Qual a sua origem?
O Que É Que Conhecemos? Os Próprios Objetos, Ou As
Representações, Em Nós, Dos Mesmos?
• Realismo: Afirma a existência do real. O nosso conhecimento
corresponde à realidade, mas é da mesma distinto. Conhecer
é apreender a realidade existente na experiência interna (atos
da consciência) ou na experiência externa (objetos do mundo
sensível).Os objetos existem independentemente dos sujeitos.
• Idealismo: Nega a existência do real. A realidade é reduzida a
ideias: o mundo sensível é um mero produto do pensamento.
Os objetos só existem enquanto representações, não têm uma
existência independente.
EM BUSCA DO MÉTODO
A preocupação dos filósofos em não se enganar levou à
revisão da metafísica tradicional. Duas respostas surgiram
para essa nova questão: o racionalismo e o empirismo.
• Racionalismo: valorização da razão no processo de
aquisição do conhecimento (Descartes, Espinosa, Leibniz).
• Empirismo: valorização da experiência sensível no
processo de aquisição do conhecimento (Bacon, Locke,
Berkeley, Hume).
Descartes (1596-1650) buscava
encontrar um método seguro que o
conduzisse à verdade indubitável.
A dúvida metódica não admite certezas
que não estejam imunes à dúvida.
Descartes duvida do testemunho dos
sentidos e do senso comum.
Ele interrompe a cadeia de dúvidas
diante de uma primeira intuição: “Penso,
logo existo”(Cogito, ergo sum). Essa
intuição primeira leva à afirmação da
existência de Deus e do mundo.
O pensamento de Descartes é revolucionário para uma sociedade
feudalista em que ele nasceu, onde a influência da Igreja ainda era muito
forte e quando ainda não existia uma tradição de "produção de
conhecimento".
Foi um dos precursores do movimento racionalista e defendeu a tese de
que a dúvida era o primeiro passo para se chegar ao conhecimento.
Descartes viveu numa época marcada pelas guerras religiosas entre
Protestantes e Católicos na Europa. Viajou muito e viu que sociedades
diferentes têm crenças diferentes, mesmo contraditórias. Aquilo que numa
região é tido por verdadeiro, é considerado ridículo, disparatado e falso em
outros lugares.
Descartes observou que os "costumes", a história de um povo, sua
tradição "cultural" influenciam a forma como as pessoas veem e pensam
naquilo em que acreditam.
O MÉTODO
Descartes busca um ponto de partida sobre o qual possa fundar
sua filosofia, busca uma verdade que não possa ser questionada
como tal, um princípio que possa lhe dar uma certeza
inquestionável. Assim pensando ele cria a dúvida metódica, a
partir do qual ele duvida de tudo, inclusive da própria existência
e de todas as percepções dos seus sentidos. Todas as minhas
sensações podem estar me enganando, como me engano
quando sonho e acredito que o sonho é realidade.
No grau máximo da dúvida Descartes encontra a sua
primeira verdade inquestionável: enquanto duvido de tudo,
não posso duvidar de que esteja duvidando; se eu sou algo
que duvida, sou algo que pensa na dúvida, sou algo que
existe por pensar, se eu penso, eu existo.
"Dubito ergo cogito; cogito ergo sum". Discours de la Méthode
(1637)
O método cartesiano consiste no ceticismo metodológico - que nada
tem a ver com a atitude cética: duvida-se de cada ideia que não seja
clara e distinta. Ao contrário dos gregos antigos e dos escolásticos,
que acreditavam que as coisas existem simplesmente porque
"precisam" existir, ou porque assim deve ser etc., Descartes instituiu a
dúvida: só se pode dizer que existe aquilo que puder ser provado,
sendo o ato de duvidar indubitável. Baseado nisso, Descartes busca
provar a existência do próprio eu (aquele que duvida: portanto, é
sujeito de algo. EGO COGITO ERGO SUM, "eu que penso, logo
existo") e de Deus.
Também consiste o método de quatro regras básicas:
• VERIFICAR se existem evidências reais e indubitáveis acerca do
fenômeno ou coisa estudada;
• ANALISAR, ou seja, dividir ao máximo as coisas, em suas
unidades mais simples e estudar essas coisas mais simples;
• SINTETIZAR, ou seja, agrupar novamente as unidades estudadas
em um todo verdadeiro;
• ENUMERAR todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de
manter a ordem do pensamento.
Explicando:
Descartes cria um método para bem conduzir nossos pensamentos.
Para alcançar a verdade devemos seguir os seguintes princípios:
• Princípio da evidência, não admitir algo como verdadeiro se nãotivermos evidências suficientes para considerar como tal.
• Princípio da análise, dividir os problemas em tantas partes quantoforem possíveis para que melhor possam ser resolvidos.
• Princípio da síntese, estabelecer uma ordem de relação entre nossospensamentos, solucionando primeiro as questões mais simples edepois as mais complexas.
• Princípio de controle, fazer constantes revisões de todo processopara ter certeza de que nada foi omitido.
Explicando a existência de Deus
Nosso pensamento é imperfeito, mas somente pode tersido criado por um ser perfeito que é Deus. Deus sendoperfeito não pode querer nos enganar em relação àsnossas sensações e se as nossas sensações tambémsão verdadeiras, o mundo exterior existe e é conformenós o sentimos e intuímos.
Na filosofia, empirismo foi uma doutrina segundo a qual todoconhecimento provém unicamente da experiência, limitando-se aoque pode ser captado do mundo externo, pelos sentidos, ou domundo subjetivo, pela introspecção, sendo geralmente descartadasas verdades reveladas e transcendentes do misticismo, ouapriorísticas e inatas do racionalismo.
Assim, a alma não é objeto de estudo do empirista. Para o empirista,um objeto não pode ser estudado cientificamente, quando para todaclasse de perguntas que façamos a nosso objeto de estudos nãoobtemos resposta perceptível pelos sentidos. É objeto de estudo doempirista todo aquilo que se pode indagar e receber uma respostaque seja perceptível.
Podemos saber se este mundo que vivemos é regido por leisou regras divinas?
Se formos empiristas, devemos preparar um experimentoque nos permita obter alguma resposta deste mundo.
O problema é que não existe tal experimento. Portanto, nãodeveríamos assumir uma resposta afirmativa. Entretanto, oempirista constrói sua ciência baseando-se no pressupostoque a natureza é regida por leis e somente devemosconsiderar uma lei como científica quando é possívelconstruir um experimento que nos possa indicar (através dossentidos) se ela é adequada.
John Locke (1632-1704) criticou a noçãode ideias inatas.
Para ele, a mente é como um papel embranco, por isso o conhecimento começacom a experiência sensível.
Distinguiu duas fontes possíveis para nossasideias: a sensação e a reflexão.
A sensação resulta de um estímulo externo,pelo qual a mente é modificada por meio dossentidos.
A reflexão se processa internamente, é apercepção que a alma tem daquilo que nelaocorre.
David Hume (1711-1776) considera que oconhecimento tem início com as percepçõesindividuais, que podem ser impressões ouideias.
As impressões são as percepções origináriasque se apresentam à consciência com maiorvivacidade, tais como as sensações (ouvir, ver,sentir dor ou prazer etc.).
As ideias são cópias pálidas das impressõese, portanto, mais fracas.
Hume criticou a noção de causalidade, porque,para ele, as relações de causa e efeitoresultam do hábito, criado pela associação decasos semelhantes.
Hume admite seu ceticismo ao reconhecer oslimites muito estreitos do entendimentohumano.
Hume explicitou a impossibilidade de se alcançar algumacerteza ou verdade absoluta nas ciências indutivas, alémde ter mostrado a impossibilidade de se provarfilosoficamente a existência do mundo exterior ou de seidentificar uma substância constitutiva do ego. Mesmoem seus próprios dias, essa foi a leitura predominante daobra de Hume.
O PROBLEMA DA CAUSALIDADE
• Quando um evento provoca um outro evento, a maioria daspessoas pensa que estamos conscientes de uma conexãoentre os dois que faz com que o segundo siga o primeiro.
• Hume questionou esta crença, notando que se é óbvio quenos apercebemos de dois eventos, não temosnecessariamente de aperceber uma conexão entre os dois. Ecomo havemos nós de nos aperceber desta misteriosaconexão senão através da nossa percepção?
•Hume negou que possamos fazer qualquer ideia decausalidade que não através do seguinte: Quandovemos que dois eventos sempre ocorremconjuntamente, tendemos a criar uma expectativa deque quando o primeiro ocorre, o segundo seguirá.
•Esta conjunção constante e a expectativa dela sãotudo o que podemos saber da causalidade, e tudo oque a nossa ideia de causalidade pode inferir.
•A perspectiva de Hume parece ser que nós temosuma crença na causalidade semelhante a uminstinto, que se baseia no desenvolvimento doshábitos na nossa mente. Uma crença que não podeser eliminada mas que também não pode serprovada verdadeira por nenhum argumento,dedutivo ou indutivo, tal como na questão da nossacrença na realidade do mundo exterior.