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10 filmes que não pode perder no Doclisboa ARTES PÁGS. 32 E 33 Entre Muhammad Ali e Manoel de Oliveira, há mais de 250 títulos para ver em sete espaços.

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  • 10 filmes que não pode perder no Doclisboa

    ARTES PÁGS. 32 E 33

    Entre Muhammad Ali e Manoel de Oliveira, há mais de 250 títulos para ver em sete espaços.

  • Os dez filmesa não perderno Doclisboa

    Cinema. A 14. a edição do mais importante festival de cinemadocumental começa na quinta- feira. Até dia 30 de outubro,há mais de 250 filmes para ver em sete espaços da capital.Deixamos aqui os imperdíveis djêslourençojoaolopeseruipedrotendinhaAté que no dia 30 seja conhecido o vencedordesta edição do Doclisboa, há mais de 250filmes, oriundos de 41 países para ver.A competição internacional conta com 18filmes chegados a Lisboa de 13 países, en-quanto a competição nacional conta com 12títulos. Com mais uma secção, "Da Terra àLua", descrita por Cíntia Gil, diretora doevento juntamente com Davide Oberto,como uma espécie de "cápsula ou bola decristal" que procurará dar um panorama so-bre o mundo. E com uma novidade de últi-mahora, avançada jádepois de anunciadaa extensa programação deste ano: a estreianacional de Take me Home, último filme deAbbas Kiarostami, cineasta iraniano faleci-do em julho. Será numa sessão a realizar nodia 29 de outubro, às 19.00, no Cinema SãoJorge, altura em que será também projetadoo filme 76 Minutes and 15 Seconds withAbbas Kiarostami, de Seifollah Samadian.

    A Cidade onde EnvelheçoMARILIA ROCHADIA 23, ÀS 15.30, NO CINEMA SÃO JORGE

    Chega ao Doclisboa com um percurso deprestígio. Teve direito a seleção emRoterdão, San Sebastián e venceu oFestival de Brasília. Uma coproduçãoluso-brasileira que nos revela o talento deuma realizadora, Marília Rocha. Trata-sede uma ficção, sim, mas está neste festivalde documentários pela sua confeção comelementos reais (Belo Horizonte é uma ci-dade captada sem fabricação de ficção) .Aliás, cada vez há mais ficção por aqui. . .Aconteça o que acontecer, A Cidade ondeEnvelheço será um dos grandes momen-tos do festival. Uma experiência de umnovo caminho de respiração dramática noqual se conta a história de duas jovens

    portuguesas em Belo Horizonte. Franciscaestá num ponto da vida que começa a per-ceber a sua necessidade de regressar. Nocaso de Teresa é o contrário: sente a vonta-de de se afastar do seu país. O Brasil visto

    por um olhar estrangeiro num filme toca-do pela graça das atrizes, em especialElizabete Francisco. Será um crime se de-pois não encontrar salas para a estreia co-mercial. R.P.T.Ama-SanCLÁUDIA VAREJÃODIA 22, ÀS 18.45, NO CINEMA SÃO JORGEDIA 24, ÀS 10.30, NO CINEMA SÃO JORGE

    Estar à altura das pessoas que retrata.Será esse o manifesto do filme de CláudiaVarejão sobre um grupo de mulheres ja-ponesas que mergulha para pescar debai-xo das rochas. Um manifesto que é emsi mesmo uma declaração de intençõesnuma exploração humana com todaa justeza do mundo. A câmara de Cláudiaplana por entre a doçura humana destasmães e avós que na comunidade de Shimacontinuam a seguir uma tradição milenar- sereias plácidas que pescam nummundo aquático que não liga a idades eonde parece haver uma paz de Deus. AsAma-San não parecem deste tempo, sãomulheres intemporais e a cineasta portu-guesa encontrou o seu desígnio através deimagens que harmonizam uma ordem in-terior a caminho da transcendência. O es-pectador vai sair da sala toldado por essatal experiência de beleza, tão japonesacomo feminina, mas sempre ferozmenteserena. E é interessante que o bom gostoestético de Cláudia Varejão no cinema do-cumental continue tão minucioso como

  • na ficção. Forte candidato ao prémio dacompetição nacional. r.p.t.

    AusterlitzSERGEILOZNITSADIA 27, ÀS 21.15, NA CULTURGESTDIA 29, ÀS 16H30, NO SÃO JORGECineasta ucraniano nascido em 1964 naBielorrúsia (então parte da URSS), SergeiLoznitsa tem assinado alguns filmes de fic-ção que refletem as fundamentais matrizesdocumentais do seu olhar -recorde-se ocaso exemplar de No Nevoeiro (2012), umdrama da Segunda Guerra Mundial.Entretanto, o seu olhar tem procurado me-mórias que atravessam esse conflito e que,de uma maneira ou de outra, funcionamtambém como monumentos públicos.Assim acontecia em The OldjewishCemetery (2014), sobre o cemitério judeuda cidade de Riga, entre nós apresentadono Curtas de Vila do Conde; assim volta aacontecer neste Austerlitz, revelado em se-tembro no Festival de Veneza (extracompe-tição) , sobre os visitantes dos lugaresonde existiram campos de concentração.Segundo palavras do próprio Loznitsa,trava-se de fazer um filme sobre esse "mis-tério" que "leva milhares de pessoas a pas-sar os seus fins de semana de verão" a olharpara "fornos de um crematório". J.L.

    CorrespondênciasRITA AZEVEDO GOMESDIA 27, 18.30, NO CINEMA SÃO JORGEDIA 28, 15.00, NA GULBENKIAN

    Depois de ter passado pelo Festival deLocarno, este belo filme de Rita AzevedoGomes está novamente em competição,agora em casa. Longe de qualquer catego-rização simples, Correspondênciasleva--nos na intensa viagem poética que são ascartas trocadas entre os amigos Sophia deMello Breyner Andresen e Jorge de Sena,ao longo de 19 anos (1959-1978). O tempoque aqui se nos revela é político, marcadopela angústia da emigração forçada deSena, e é também um estímulo para apoesia enquanto liberdade de expressão.Entre imagens de arquivo, poemas lidospelos próprios autores ou encenaçõesmúltiplas da palavra dita em várias línguas- por vários amigos - a realizadora deFrágil como o Mundo e Vingança de UmaMulher constrói um filme que é um colopara se estar. Há uma transparência técni-ca propositada, que nos insere na própriafeitura de Correspondências, e nos trans-porta com Sophia até à Grécia, esse berçodainspiração.ix.

  • 1 . Austerlitz, de Sergei Loznitsa 2. A Cidadeonde Envelheço, de Marflla Rocha 3.MuhamnmdAli, The Greatest, de WilliamKlein 4. Manoel de Oliveira: 50Anos deCarreira, de José Nascimento e Augusto M.Seabra 5. Os Interstícios da Realidade, deJoão Monteiro 6. OlegylasßarasArtes,âeAndrés Duque 7. Exile, de Rithy Panh 8.Correspondências, de Rita Azevedo Gomes

  • ExileRITHYPANHDIA 21, ÀS 16.00, NO CINEMA SÃO JORGEDIA 28, ÀS 19.00, NACULTURGEST

    Quem viu Almagem Que Falta (2013), oanterior documentário de Rithy Panh, es-tará familiarizado com o tema e as técni-cas narrativas do realizador cambojano.Quem se atreva a descobri-lo nesta ediçãodo Doclisboa, tem em Exileum muitobom exemplo do que torna o seu trabalhodocumental absolutamente singular.Com este filme, Panh mantém-se no tri-lho da memória, pessoal e histórica, doperíodo de terror dos Khmers Vermelhos(de 1975 a 1979) , e nessa comunicação si-multaneamente autobiográfica e coletiva,elabora um comovente ensaio visual emtorno da palavra "revolução". EmboraExilejá não se faça com bonecos de barro,como A Imagem Que Falta, a sua imagina-ção dá azo a outras formas de representa-ção plástica, como nuvens de algodão ouuma lua arenosa dentro do casebre ondesobrevive o exilado. Para contar o horror,Panh veste-o de sonho, sem, no entanto,suavizar a reminiscência ou o pensamen-to que pretende despertar, ix.

    Manoel de Oliveira:50 Anos de CarreiraJOSE NASCIMENTOE AUGUSTO M. SEABRADIA 24, ÀS 19.00, NA CULTURGESTFoi em 1982 que Manoel de Oliveira con-cluiu o seu filme Visita ou Memórias eConfissões, reflexão eminentemente pes-soal sobre ávida e o cinema que, satisfazen-do a sua vontade, permaneceu nos cofresda Cinemateca Portuguesa para ser mos-trado publicamente apenas depois da suamorte (o que ocorreu em maio de 20 15) .Apossibilidade de vermos ou revermos ofilme que José Nascimento e Augusto M.Seabra rodaram no começo da década de1980 constitui, por isso, um duplo e funda-mental acontecimento: primeiro, porquese trata de uma sistematização didática daobra de Oliveira; depois, porque a sua difu-são (no programa Écran, da RTP em 1981)ocorreu no mesmo período em que opróprio Oliveira ultimava o seu singularautorretrato. Esta é, por isso, uma oportuni-dade de ouro para repensar o universo deOliveira e também a sua inscrição na histó-ria e na mitologia do cinema português - asessão é dedicada a Augusto M. Seabra, emanos anteriores ligado à secção "Riscos" doDoclisboa. j.l.

    Muhammad Ali, The GreatestWILLIAM KLEIN 1974DIA 20, ÀS 21.45, NA CULTURGESTDIA 28, ÀS 16.15, NA CULTURGEST

    Não confundir com The Greatest (1977),uma realização de Tom Gries em que, deforma sugestiva mas algo simplista, o pu-gilista Muhammad Ali (1942-2016) assu-mia o seu próprio papel, contracenandocom atores como Ernest Borgnine e JohnMarley. Este documentário, assinadopelo fotógrafo americano William Klein(n. 1928), resultou de umalonga gestação,uma vez que nasceu do acompanhamentoda consagração de Ali como campeão domundo de pesos pesados, em 1964, paradesembocar no registo do seu lendáriocombate com George Foreman, no Zaire,dez anos mais tarde. Nele podemos redes-cobrir as marcas de um impulso criativotantas vezes esquecido, ou simplificado,quando revisitamos o cinema nascido noturbilhão das "novas vagas" da década de1960: fiel ao espírito de reportagem quemarca o seu notável trabalho fotográfico,Klein faz um filme apaixonado pela vibra-ção física de cada momento, dir-se-iaobservando a contaminação dos factospelo apelo da mitologia. j.l.

    Oleg y las Raras ArtesANDRES DUQUEDIA 20, ÀS 21.30, NA CULTURGEST

    Eis o filme de abertura do Doclisboa. Noseu centro está um pianista de 80 e muitosanos, Oleg Karavaichuk, que sente a músi-ca como a camisola confortável que lhecobre a pele. É um erudito de figura muitofrágil, enrugado, voz balbuciante, devotode Catarina, a Grande, o último homem atocar o piano do czar Nicolau 11, e um nos-tálgico do Hermitage, do tempo em que lá

    fazia "voar" as notas do seu gesto musical.Karavaichuk morreu em junho deste ano,e Olegy las Raras Artes é a melhor home-nagem que lhe podia ser feita, poucotempo antes do seu adeus ao mundo. Umretrato prazeroso, conduzido pelo vene-zuelano Andrés Duque com a mesmasensibilidade evocada pelo protagonista.Tem sido um sucesso internacional, e nãoserá apenas pela curiosidade que o ante-cede na sinopse. É importante ver e ouvirKaravaichuk tocar e deixar-se levar pelopróprio monólogo: a sua paixão e fanta-sia humanas contaminam o traço do-cumental. O realizador estará presentena sessão. i.l.

  • Os Interstícios da RealidadeJOÃO MONTEIRODIA 29, ÀS 21.00, NA CULTURGEST

    Um dos grandes tesouros da programaçãodo Doclisboa é a seleção nacional. Tem sidoassim nos últimos anos e nesta edição háapostas valiosas. O filme de encerramentoserá certamente um dos seus trunfos. Olharsobre o patinho feio dos cineastas portu-gueses, António de Macedo, conhecido deobras como As Horas de Maria e o muitopopular Os Abismos da Meia-Noite. JoãoMonteiro, diretor do MOTELX, estreia-seno cinema com uma tese bem montada:afinal, Macedo poderá ser um dos cineastasportugueses mais fundamentais desde oCinema Novo. Uma tese que vai contratodos aqueles que silenciaram o realizadornas últimas décadas. Um documentárioque pode ser um petardo no cinema portu-guês e que tem declarações explosivas deFonseca e Costa, Fernando Lopes, António--Pedro Vasconcelos e Susana Sousa Dias, afilha do cineasta. Apenas se lamenta umacerta lógica convulsa de talkingheads, masterá sempre o efeito de nos fazer olhar comoutros olhos para a obra de Macedo.Ofenderá as "virgens" puristas do nossocinema. r.p.t.

    PunishmentParkPETERWATKINSDIA 24, ÀS 19H00, NA CINEMATECADIA 25, ÀS 15H00, NA CINEMATECAEis um símbolo exemplar da contracultu-ra, esse sistema de valores e contravalores

    que abalou a década de 1960 (estudadocom particular subtileza por TheodoreRoszakno seu clássico TheMakingofaCounter Culture, publicado em 1969) .Produzido em 1971, o filme de PeterWatkins coloca em cena um grupo de mili-tantes (contra a guerra, objetores de cons-ciência, defensores dos direitos das mu-lheres, etc.) que, de acordo com um decre-to do presidente Richard Nixon, são inter-nados num "campo de correção" e sujeitosa uma violenta prova de resistência, no de-serto, tentando escapar à perseguição daGuarda Nacional. A origem da história e asdramáticas peripécias são completamen-te ficcionadas, mas envolvem um pertur-bante elemento de verdade: Watkins ence-na tudo num "estilo" documental, direto,à flor da pele, capaz de suscitar reaçõespolémicas e contraditórias. Objeto raroe precioso, será, por certo, um momentoalto da retrospetiva dedicada à obra deWatkins. jx.