figura humana goodenough

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ESTUDO DA ESCALA DE GOODENOUGH LECYR MIRANDA DE PAIVA LESSA I) NOME DO TESTE - Es- cala de Goodenough. lI) AUTORES - Florence L. Goodenough, dos Estados Unidos da América do Norte, é a autora do teste acima mencionado. IlI) EDITORES - Entre os àutores que procuraram divulgar o teste podemos citar Jaime Berns- tein, diretor da Biblioteca de Psi- cometria, de Buenos Aires, comen- tàdor de excelente trabalho a res- da autoria da criadora do t e s t e, Florence Goodenough : "Test de inteligência infantil por medio deI dibujo de la figura hu- mana", publicado pela Editôra Paidos. IV) PROP6SITO DO TESTE A escala de Goodenough constitui um teste de inteligência infantil "pela análise dos pormenores de uma mera e ínfima expressão de sua totalidade: a representação da figura do homem". Note-se que, nos E. Unidos, o teste está sendo usado como diag- nóstico da personalidade, quando aplicado em adulto1'!. A) FUNDAMENTOS DO TESTE - partiu do seguinte ponto para explicar por- que a análise do desenho da figu- ra humana permite avaliar a inte- ligência de quem fêz o desenho: quando a criança desenha a figu- ra humana não desenha "o que vê senão o que sabe a seu respeito", isto é, não realiza um trabalho es- tético e sim intelectual. O volume dêste saber aumenta com a idade mental (I. M.) e êste progresso se reflete no desenho da figura hu- mana que faz o menino de 5 até 10 anos. A derivação psicométrica é lógica: a valorização quantitativa do "saber" pressupõe uma norma para estabelecer, diante do dese- nho, a I. M. da criança". Poder-se-ia, então, perguntar: por que a medida dêste "saber" comporta a medida da inteligên- cia? De acôrdo com Goodenough, ao medir o valor de um desenho, se mede o valor das funções de as- sociação, observação analítica, dis- criminação, memória de detalhes, sentido espacial, juízo, abstração, coordenação visomanual e adapta- bilidade. Quando a criança ex- pressa seu "saber" da figura hu- mana, isto é, quando desenha um "homem" ativa diversos recursos mentaie: associar os traços gráfi- , : . (*) Trabalho tiaal da cadeira de T.Lts t Medidae do CUiO de Edu- e Pré-pror..waal. ·1 I l t I i I

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Page 1: Figura Humana Goodenough

ESTUDO DA ESCALA DE GOODENOUGH (~)

LECYR MIRANDA DE PAIVA LESSA

I) NOME DO TESTE - Es­cala de Goodenough.

lI) AUTORES - Florence L. Goodenough, dos Estados Unidos da América do Norte, é a autora do teste acima mencionado.

IlI) EDITORES - Entre os àutores que procuraram divulgar o teste podemos citar Jaime Berns­tein, diretor da Biblioteca de Psi­cometria, de Buenos Aires, comen­tàdor de excelente trabalho a res­p~ito, da autoria da criadora do t e s t e, Florence Goodenough : "Test de inteligência infantil por medio deI dibujo de la figura hu­mana", publicado pela Editôra Paidos.

IV) PROP6SITO DO TESTE A escala de Goodenough constitui um teste de inteligência infantil "pela análise dos pormenores de uma mera e ínfima expressão de sua totalidade: a representação da figura do homem".

Note-se que, nos E. Unidos, o teste está sendo usado como diag­nóstico da personalidade, quando aplicado em adulto1'!.

A) FUNDAMENTOS DO TESTE - Goodeno~h partiu do

seguinte ponto para explicar por­que a análise do desenho da figu­ra humana permite avaliar a inte­ligência de quem fêz o desenho: quando a criança desenha a figu­ra humana não desenha "o que vê senão o que sabe a seu respeito", isto é, não realiza um trabalho es­tético e sim intelectual. O volume dêste saber aumenta com a idade mental (I. M.) e êste progresso se reflete no desenho da figura hu­mana que faz o menino de 5 até 10 anos. A derivação psicométrica é lógica: a valorização quantitativa do "saber" pressupõe uma norma para estabelecer, diante do dese­nho, a I. M. da criança".

Poder-se-ia, então, perguntar: por que a medida dêste "saber" comporta a medida da inteligên­cia? De acôrdo com Goodenough, ao medir o valor de um desenho, se mede o valor das funções de as­sociação, observação analítica, dis­criminação, memória de detalhes, sentido espacial, juízo, abstração, coordenação visomanual e adapta­bilidade. Quando a criança ex­pressa seu "saber" da figura hu­mana, isto é, quando desenha um "homem" ativa diversos recursos mentaie: associar os traços gráfi-

, : . (*) Trabalho tiaal da cadeira de T.Lts t Medidae do CUiO de Orien~.~o Edu­~~.~íc:~al e Pré-pror..waal.

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cos com o objeto real; analisar os componentes do objeto a ser repre­sentado; valorizar e selecionar os elementos essenciais, característi­cos; analisar as relações espaciais (posição) ; formular juízos de re­lação quantitativos (proporciona­lidade) ; reduzir e simplificar as partes de objeto em traços gráfi­cos; coordenar o trabalho visoma­nual e adaptar o esquema gráfico a seu conceito do objeto que deve representar.

Como diz Luquet: "A criança representa nos seus desenhos tudo o que faz parte de sua experiência, tudo o que se refere a sua per­cepção".

E ainda acrescenta em outro tó­pico de seu trabalho "Le dessin en­fantin: "O modêlo corresponde, pois, a uma realidade psíquica existente no seu espírito e que po­de ser chamada de "modêlo in­terno" .

B) CONSTRUÇÃO DO TESTE revisão histórica em relação

ao teste

a) Os estudos assistemáticos - Muitos estudos foram realiza­dos, desde o século XIX, visando desenhos realizados por crianças.

J á em 1885, Ebenezer Cooke es­crevia um artigo sôbre os desenhos infantis onde descrevia as fases de desenvolvimento, tal como êle as observara e na qual instava para que a instrução artística, nas es­colas, se efetuasse de modo mais ajustado à mentalidade e interês­ses infantis.

Em 1887, Corrado Ricci publi­cou uma coletânea de desenhos de um grupo de crianças, nascidas na Itália, às quais observara durante

largo tempo. O informe de dese­nhos infantis de Ricci é, sem dú­vida, a mais antiga publicação, sô­bre o assunto, que possuímos.

Perez, Sully, Barnes, Baldwin, Shinn, Brown, Clark, Herrick, Lukens, Maitland, O'Shea e G6tze são os mais conhecidos autores en­tre os que, primeiramente, estuda­ram tal tema.

b) Os estudos sistemáticos -Foi, entretanto, o período entre 1900 e 1915 o de apogeu no que se refere ao interêsse científico pelos desenhos de crianças pois, até en­tão, nenhum meio objetivo houvera para catalogar as características surgidas do estudo dos desenhos.

E' desta época a afirmativa: "A criança mais do que vê, desenha o que sabe".

Sem nos determos em conside­rações sôbre cada estudo, já que foge ao plano de nosso trabalho, citaremos: plano de Lamprecht, baseado em Earl Barnes, estudos de Clapared.e (1907), Ivanoff, Katzaroff, Maitland, Schuyten (série de normas por idades; pri­meiros intentos de estabelecer uma escala de medida objetiva baseada nas normas de cada idade), Lob­sien, Kerschensteiner, Lena Par­tridge, Stern, Rouma (seu estudo talvez seja o mais amplo e valioso publicado acêrca dos desenhos in­fantis), Luquet (fêz experiências com sua própria filha, Kik, Ma­nuel) .

c) O estudo sistemático e ob­jetivo: o método de Goodenougp,. - Os estudos acima mencionados demonstraram, com acêrto, que é o desenvolvimento intelectual que rege a índole e conteúdo dos dese­nhos infantis. Entretanto, como se tentou fazer ver, as primeiras

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tentativas de classificá-los foram bem defeituosas.

O "método de enfoque", método Goodenough, empregado na dedu­ção de uma escala que presidisse o estudo dos desenhos infantis, di­feriu do dos investigadores ante­riores, nos seguintes pontos:

1. Não se admitiu decisão ar­bitrária alguma para o que cons­tituía 'ou não mérito intelectual do desenho.

2. Procurou afastar-se, dentro das medidas possíveis, o elemento subjetivo na avaliação dos dese­nhos.

3. A fim de serem estabeleci­das "normas", adotou-se o seguin­te critério para o julgamento do desenvolvimento mental: a ava­liação, ou melhor, a consideração da idade cronológica (1. C.) e o grau de escolaridade.

4. Foi escolhido um tema para o desenho, embora, a princípio, se pensasse em deixar à livre escolha da criança o desenho a ser feito; tal medida foi abandonada, pois implicaria numa menos objetivi­dade de valorização do teste.

O tema, então, deveria reunir as seguintes condições essenciais e imprescindíveis:

1) Tratar-se de alguma coisa familiar a tôdas as crianças.

2. Apresentar a maior variabi­lidade possível em suas caracterís­ticas essenciais.

3. Ser bastante simples a fim de que pudesse ser feito por uma criança de pouca idade e bastante minucioso para que pudesse me­dir as capacidades de cada aluno.

4. Atrair e ser de interêsse universal.

Dentro das condições exigidas, verificou-se que a "figura huma­na" era o tema mais indicado.

Dada a maior uniformidade da vestimenta masculina, considerou­se que o desenho de um "homem" constituiria o tema ideal, sendo, as­sim, escolhido, finalmente.

V) PARA NíVEL DE ESCO­LARIDADE - A escala Goode­nough se aplica a crianças de 4 a 10 anos, em sua preferência, po­dendo estender-se até os 12 e 15 anos, segundo alguns autores, no máximo.

E' empregada, pois, especifica­mente, para o nível primário.

Mais adiante, trataremos das idades a ser empregado o tes­te, com mais detalhes.

Nos E. Unidos, como já se dis­se, é aplicado o teste como diag­nóstico da personalidade, após os 12 anos.

A) PROGNóSTICOS DO REN­DIMENTO ESCOLAR- Goode­nough estudou os Q. 1. de 162 crianças, do 1.0 grau, comparan­do-os com seu rendimento escolar, durante o período de 3 (três) me­ses e constatou que nenhuma criança com Q. I. inferior a 100 se destacara e que todos os de Q. 1. inferior a 70 fracassaram, pelo menos, uma vez neste período.

O teste possui, assim, firme va­lor prognóstico do futuro rendi­mento escolar.

VI) CUSTO - O custo na aplicação da prova é mínimo, já que o material necessário reduz-se a uma fôlha de papel, em branco, para a construção do desenho e um lápis.

Goodenough confeccionou um papel especial de prova que faci­lita a contagem de pontos, sobre­modo. Ao nos referirmos à apu-

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ração do teste, explicaremos, me­lhor, êste ponto.

E' lógico que a confecção dêstes papéis especiais encarece, - um pouco, a prova.

VII) ÚLTIMA REVISÃO -Em fins de 1920 recolheram-se quase 4.000 desenhos de crianças de Jardim de Infância e dos qua­tro primeiros graus das escolas públicas de Perth Amboy, Nova J ersey. A fim de realizar um es­tudo preliminar dêstes desenhos, selecionou-se um grupo de 100 (a seleção se fêz à base da qualifica­ção: idade-grau e, quanto aos de­mais fatôres, a seleção foi deixa­da ao acaso) ; foram, então, cata­logados, ordenadamente, e foram feitas cuidadosas observações a fim de verificar em que aspectos se diferenciavam os desenhos dos grupos inferiores e superiores. Além das observações de Goode­nough, os desenhos foram compa­rados por outros estudiosos a fim de que o julgamento fôsse o mais objetivo possível.

Idealizou-se, daí, uma escala ru­dimentar de quase 40 pontos por separado. Baseava-se ela na pre­sença de certas partes do corpo humano assim como na relação destas partes entre si.

Notou-se a necessidade de mo­dificação da pontuação de vários itens, sendo feita, então, revisão na "escala", revisão esta renova­da e corrigida por 5 (cinco) vê­zes consecutivas.

Muitos pontos conservam - se iguais à primeira organização; o método de pontuação, entretanto, difere muito.

VIII) EVIDtNCIAS DE V A­LIDADE - A validade é, junto da fidedignidade, uma das medi-

das da segurança de um teste. De­nuncia ela o grau em que um tes­te mede aquilo para o qual se des­tina.

A fim de ser estabelecido o grau de validade, se correlaciona o tes­te com algum critério (exterior). Por exemplo: comparar os resul­tados obtidos por indivíduos de di­versos graus de inteligência obti­dos no teste cuja validade quer averiguar com os obtidos noutro teste de validade já provada como o Terman Merrill ou com o êxito ou fracasso ulterior, empiricamen­te observado. Aí, então, se o tes­te apresenta resultados que denun­ciem as mesmas diferenças apre­sentadas, num teste de validade segura, será válido.

O resultado desta comparação se expressa num coeficiente: "coe­ficiente de validade" .

Um baixo coeficiente de corre­lação prova que o teste oferece es­cassa exatidão no que diz respeito à função que se propõe avaliar. O coeficiente de validade, segundo as mais abalizadas opiniões, deverá estar compreendido entre . 90 e .94, podendo apresentar resultado mais baixo nos testes coletivos.

Goodenough obteve uma corre­lação promédio de .76 com a re­visão Stanford em crianças de 4 a 10 anos e um índice de aproxima­ção .44 entre as qualificações de seu teste e a estima da inteligên­cia destas crianças formulada pelos professôres. Também se en­controu correlação significativa com diversos testes coletivos.

Ansbacher: "Goodenough tem sido correlacionado, somente, com medidas de inteligência geral, nun­ca com alguns fatôres da inteli­gência."

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IX) EVIDtNCIAS DE FI­DEDIGNIDADE - Quando se aplica um teste, em idênticas ou diversas condições, podem ser ob­tidos diferentes resultados sem que se tenha segurança, assim, de qual é o exato. E' preciso, pois, conhecer a "fidedignidade" que nada mais é do que o grau de cor­relação do teste consigo mesmo ou em outras palavras, sua autocor­relação.

O grau de fidedignidade se ex­pressa pelo "coeficiente de fide­dignidade" .

A fidedignidade apresentada com um alto resultado significa que o teste ao ser reaplicado, em condições semelhantes, dará resul­tados semelhantes.

Não há critérios quantitativos precisos de quando é que um teste, ou melhor, um coeficiente de fide­dignidade, pode ser considerado alto pois o teste que se destina à valorização individual d e ver á apresentar um coeficiente superior (.90 e .94) ao que serve para a medição de grupos.

Utilizando a fórmula de Spear­man-Brown, Goodenough obteve, entre 4 e 10 anos, uma fidedigni­dade entre .80 e . 90 .

A exatidão de um coeficiente de fidedignidade se mede pelo seu "êrro provável". No caso do pre­sente teste obteve-se um coeficien­te de fidedignidade de .937 -+­-+- 0,06, para 194 escolares do pri­meiro grau (50 probabilidades de que a correlação verdadeira caia entre .943 e .931, em 100), sen­do o coeficiente de correlação, realmente, + .937.

X) CONTEÚDO DO TESTE

A) DescriçiúJ - O teste, como já dissemos, é por demais simples

Ja que exige, apenas, do proposi­tua o desenho da figura humana, ou melhor, o desenho de um "ho­mem".

B) A escala; número de "itens" - Com base experimental e esta­tística, Goodenough logrou, final­mente, estabelecer sua "escala", selecionando 51 "itens" (unidades da escala) ; catalogou-os em ordem de complexidade crescente.

Sua "escala" nada mais é de que o inventário dos traços gráfi­cos (itens) que melhor traduzem o já mencionado "saber" da crian­ça em relação à figura humana.

~ste catálogo permite verificar o grau de complexidade e perfei­ção de um desenho pela simples presença ou não de seus "itens" estabelecidos, em grande medida, emplricamente.

Podemos distinguir oito: 1. Número de detalhes apre­

sentados: representou a cabeça,? pernas? braços? número exato de dedos? cabelo? etc.

2. Proporcionalidade: a cabeça está proporcional? e as pernas? e os braços? etc.

3. Bidimensionalidade: as par­tes do corpo estão representadas por meio de uma linha ou duas?

4. Intransparência: as roupas são opacas ou transparentes? e os cabelos? etc.

5. Congruência: os membros estão unidos ao tronco? o cabelo não excede o contôrno da cabeça? as roupas se harmonizam ou são discordantes? etc.

6. Plasticidade: a mão se dife­rencia dos dedos e braços?

7. Coordenação visomotora: o desenho demonstra segurança de traçado? as partes estão bem dis­tribuídas?

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8. Perfil: conseguiu desenhar o perfil?

Goodenough contou, então, o nú­mero de "itens" (contagem bru­ta) reunidos por uma grande quantidade de crianças nas quais o teste foi aplicado, calculou a contagem média ou escore médio ("normas") das crianças normais de cada idade, tabulou-os e obteve a "tabela" (barema) para medir a L M. de qualquer criança, atra­vés de seu escore bruto ou conta­gem bruta.

C) Forma dos "itens" Transcreveremos, então, a "esca­la" de Goodenough a fim de que sejam conhecidos todos os seus "itens" :

CLASSE A

Desenho em que a figura huma­na resulta irreconhecível.

1. Rabisco casual, incontro­lado.

2: Linhas algo controladas que pareçam toscas formas geométri­cas.

CLASSE B

Desenhos em que a figura hu-mana pode ser identificada.

1. Presença da cabeça. 2. Presença de pernas. 3. Presença de braços. 4a. Presença de tronco. 4b. Tronco mais longo que

largo. 4c. Indicação de ombros. 5a. Braços e pernas unidos ao

tronco. 5b. Pernas unidas ao tronco.

Braços unidos ao tronco em cor­reta ligação.

6a. Presença de pescoço.

6b. Contôrno do pescoço como continuação da cabeça ou do tron­co ou de ambos.

7 a. Presença de olhos. 7b. Presença de nariz. 7 c. Presença de bôca. 7d. Bôca e nariz em duas di­

mensões; lábios assinalados. 7 e. Orifícios do nariz indica­

dos. 8a. Cabelos indicados 8b. Cabelos que não excedam

a circunferência da cabeça e que não sejam transparentes.

9a. Presença de vestimenta. 9b. Duas roupas não transpa­

rentes. 9c. Desenho completo, sem

transparências quando indiquem mangas e calças.

9d. Quatro ou mais artigos de vestir definidamente indicados.

ge. Vestimenta completa sem incongruências .

10a. Indicação de dedos. 10b. Número correto de dedos. 10c. Dedos representados em

duas dimensões, mais largos que compridos e que, em conjunto, for­mem um ângulo não maior de 180°.

10d. Indicação do polegar em oposição.

10e. Indicação da mão dife­renciada do braço ou dos dedos.

lIa. Articulação do braço: co­tovelo, ombro ou ambos.

11 b. Articulação da perna: joelho, cadeira ou ambos.

12a. Cabeça proporcional. 12b. Braços proporcionais. 12c. Pernas proporcionais. 12d. Pés proporcionais. 12e. Braços e pernas em duas

dimensões. 13. Indicação de "tacos". 14a. Coordenação motora. Li­

nhas A.

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14b. Coordenação motora. Li­nhas B.

14c. Coordenação motora. Con­tôrno da cabeça.

14d. Coordenação motora. Con­tôrno do tronco.

14e. Coordenação motora. Con­tôrno de braços e pernas.

14f. Coordenação motora. Fei­ções.

15a. Presença de orelhas. 15b. Orelhas proporcionadas e

corretamente localizadas. 16a. Detalhe do ôlho. Indica­

ção de sobrancelhas ou pestanas. 16b. Detalhe do ôlho. Indica­

ção de pupila. 16c. Detalhe do ôlho. Propor­

ção. 16d. Detalhe do ôlho. Olhar di­

rigido para frente, em figuras de perfil.

17a. Indicação de frente e queixo.

17b. Indicação da projeção do queixo.

18a. Perfil sem mais de um êrro.

18b. Perfil correto. Nota: Como se verificou, os

51 "itens" referem-se aos dese­nhos desta classe.

~stes "itens" se obtiveram, pois, em conclusão:

a) mediante a observação de diferenças que pareciam caracte­rísticas das manifestações infan­tis em idades e graus escolares su­cessivos.

b) mediante a formulação de definições ou descrições objetivas destas diferenças.

c) mediante sua avaliação es­tatística baseada na comparação dos rendimentos de crianças de idades diferentes e, também, entre crianças de escolaridade adianta­d,a ou retardada.

D) CHAVE DE AVALIAÇÃO - O teste se avalia muito simples­mente, verificando-se, no desenho, a presença ou ausência de cada um dos "itens" da "escola" e dan­do-se um ponto por cada "item" que satisfaça os requisitos exigi­dos: desde o primeiro, em que se dá um ponto pela presença da ca­beça até o último, em: que se exige, já, a difícil representação de um perfil correto.

E) CRíTICA DOS "ITENS" E DA CHAVE DE AVALIAÇÃO - Além de considerarmos os "itens" bem significativos acha­mos, também, bem natural que Goodenough tivesse dado o mesmo valor a "itens" de dificuldades bem diferentes, crítica esta feita por vários autores, já que seu tes­te vale pelo seu conjunto e não por suas partes. O resultado, o escore final, é o que importa no teste. Cada "item" revela um aspecto do grau intelectual da criança por as­sim dizer. Goodenough não pen­sou em "itens" fáceis ou difíceis e, sim, em "itens" significativos.

A-Iém do mais, a execução de ca­da "item" apresenta um campo bem largo de aceitação, já que não se trata de uma prova de desenho e sim de um teste de inteligência.

Daí vários problemas serem considerados

a) Influência do talento artís­tico sôbre o escore - Tem-se pro­curado averiguar se as crianças dotadas de um talento artístico es­pecial estão em melhores condições de um escore superior ao de outras crianças, de capacidade geral idêntica, porém, sem tais dotes.

Tropeçou-se, então, com uma enorme dificuldade: a de reconhe­cer essas crianças, já que a maio­ria dos estudiosos acham que, ra-

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rlssimamente, em seus primeiros anos, as crianças manifestam ex­cepcionais e genuínas capacidades artísticas, revelando-se, então, so­mente, depois de 12 anos (veja: estudo comparativo do mate­rial bibliográfico consignado por Champlin em seu "Cyclopedia of Painters and Paintings Y Cyclo­pedia of Music and Musicians" que confirma êsse conceito) .

Assim sendo, um escore ele­vado faz mais pensar num agudo poder de observação analítico e uma boa memória de detalhes que em capacidade artística, no senti­do ordinário do têrmo.

Daí Luquet fazer diferença en­tre "realismo intelectual" (pró­prio das crianças: representar os objetos como os vêem) e "realis­mo visual" (próprio dos adultos: submissão, na execução, à pers­pectiva) .

b) Influência da aprendizagem especial sôbre o escore - Pensou­se que as crianças que aprendem desenho, nas escolas primárias, pudessem, por êste motivo, apre­sentar um mais alto escore no tes­te em questão.

Entretanto, tal não ocorre, já que o desenho ensinado, no grau primário, se reduz a trabalhos de­corativos que nenhuma relação oferecem com o desenho da figu­ra humana.

Foi feito, mesmo, um estudo comparativo a respeito, não sendo encontrada diferença significati­va, de rendimento, entre crianças que aprendiam desenho e crianças que nunca haviam aprendido a de­senhar.

E' necessário que se diga, po­rém, que o preparo específico do desenho da figura humana afeta,

em certa medida, o resultado da prova.

Foi realizado, também, um es­tudo, a respeito, que consistiu na dupla aplicação desta prova, en­sinando-se como deveria ser feito o desenho na primeira vez. Cons­tatou-se que 70% aumentou seu escore, 8 % não ganhou nem per­deu e 22% diminuiu seu escore.

Achamos, entretanto, que nes­tes 22% o escore apresentou-se di­minuído, por outros fatôres.

Consideramos que o texte Goo­denough, aplicado em qualquer si­tuação, será, sempre, significati­vo já que caso venha a perder seu valor, como teste de inteligência (ocorrência, esta, a nosso ver. inadmissível) será útil, entretanto, como um poderoso teste psicoló­gico, embora não seja usado, es­pecificamente, neste aspecto, em relação a crianças.

Vários estudos estão sendo pre­sentemente intensificados neste aspecto, distinguindo-se os do "De­partamento de Psicometria ou me­lhor, de Psicologia Educacional da Província de Buenos Aires" .

c) Outros fatôres - Ainda po­dem ser mencionados:

1. Não saber a criança lidar com um lápis.

2. Autocrítica das crianças mais velhas. Daí considerar-se que só deverá ser usado até os 10 a 12 anos.

d) Diferença de sexo - Po­demos citar, apenas, a coleção de 100 desenhos de crianças de am­bos os sexos, nível social e tipo ra­cial diversos, todos com escore en­tre 22 e 26, selecionadas ao acaso. Entre as crianças havia: negros de Tennessee, brancos de Louisia­nia, italianos de São José, mexica­nos de Los Angeles, índios de Roa-

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pa Valley, chineses e japonêses de várias cidade da Califôrnia, ju­deus de São José e Fresno e dois grupos de crianças americanas (de escolas californianas de densa po­voação estrangeira e dos bairros opulentos de Nova J ersey) .

As diferenças encontradas são, a princípio, consideradas tão tri­viais que não parecem merecer atenção mas, se atentarmos bem, elas talvez possam emitir grande significação, se possuirmos a sa­gacidade necessária para interpre­tá-Ias.

As diferenças são mais qualita­tivas que quantitativas.

Goodenough selecionou as ca­racterísticas mais representativas que achou em cada sexo (sete nos meninos e onze nas meninas) e com elas organizou uma tabela de diferença de sexos que aqui trans­creveremos:

CARACTERíSTICAS MASCULINAS

1. Pelo menos a cabeça e os pés estão de perfil e na mesma di­reção.

2. Presença de alguns acessó­rios, característicos, como: ca­chimbo, bengala, guarda-chuva, casa ou ambiente.

3. Calças transparentes. 4. Indicação de "tacos". 5. Figura. que caminha ou

corre. 6. Braços que chegam abaixo

dos joelhos. 7. Gravata.

CARACTERíSTICAS FEMININAS

1. Nariz representado somen­te, por dois pontos.

2. Pés menores que 1/20 do comprimento total do cürpo.

3. Olhos com dois ou mais dos detalhes seguintes: sobrancelhas, pestanas, pupilas, íris.

4. Cabelos alisados ou elegan-temente divididos.

5. Bôca em "arco de Cupido". 6. Indicação de faces. 7. Calças com base acampa­

nada. 8. Cabeça maior que o trünco. 9. Braços não mais longos que

a cabeça. 10. Cabelos encrespados. 11. Pernas não maiores que

1/4 do tamanho do tronco.

A maior tendência dos meninos a exagerar o tamanho dos pés, pernas, braços e mãos assim como de apresentá-los em movimento, em contradição às tendências fe­mininas, expressa, segundo Goode­nough, a diferente atitude dos se­xos frente à atividade física.

A tendência do menino ao "per­fil" expressa, segundo a mesma autora, a evasividade, mais co­mum nos meninos, menos sociá­veis e acessíveis que as meninas.

As meninas tendem a enfeitar, demasiado, os "olhos", como uma manifestação do maior valor de adaptação social e estímulo sexual que lhe conferem e a representar as figuras de frente que pode ser interpretado com uma inclinação ao exibicionismo e ostentação.

Quanto à representação do na­riz por somente dois orifícios e a bôca em "arco de Cupido" são con­sideradas, por Machover, como ín­dices de sexualidade precoce.

E' freqüente encontrar-se crian­ças cujos desenhos acusem grande semelhança com os do sexo opôs to. Resulta interessante, a propósito,

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116 ARQUIVOS BRASILEIROS DE P9ICOTÉCNICA

dizer que 14 desenhos executados por crianças diagnosticadas, como psicopatas, no "Lane Hospital", de São Francisco, pertenciam ao tipo acima mencionado.

O que dissemos, porém, de modo algum pretende dar a impressão de que o teste está em situação de prognosticar tendências psicopáti­cas nas crianças, mediante o de­senho.

Karen Machover, tàmbém, numa investigação clínica, pôde obser­var que os meninos extrovertidos, com tendência homossexual, pro­duziam, muitas vêzes, desenhos, cujos olhos se apresentavam cer­cados de pestanas que, na tabela de Goodenough, figura como ca­racterística do sexo feminino.

Como se pode deduzir, o teste Goodenough apresenta as mais variadas possibilidades no estudo da criança, em todos os seus as­pectos, bastando, para isto, que téc-

nicos competentes se encarreguem de seu estudo a fim de que seja ti­rado o maior proveito possível do teste ao qual nos referimos.

XI) NORMAS E PADRO­NIZAÇÃO

1. Normas - Os escores ex­pressos em promédio ou em qual­quer outra medida de tendência central, obtidos por grande núme­ro de crianças, de ambos os sexos, de zonas, idades e graus diversos, constituem os "escores médios" ("average score") que, por sua

vez, constituem as "normas". Es-tas agrupadas por idade, em uma "tabela" servem para que se in­terprete, comparativamente, os di­versos "escores brutos" obtidos pelas crianças, no mesmo teste, convertendo-os em L M.; e, em Q. L, quando se deseja medir o ní­vel mental.

TABELA DE I.M.

AnOi I 3 -! 5 6 7 8 9 10 11 12 13 ------ ----- ---- ---- --- -----------~------------

- PONTOS-

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3

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7

8

9

10

11

12 16

lJ 17

14 18

L5 19

Para determinar-se o Q. L ("quociente intelectual") basta dividir-se a L M. pela I. C. (idade cronológica) e multiplicar-se por 100.

20 24 28 32 36 40

21 25 29 33 37 4l

22 26 30 34 38 42

2:~ 27 31 :35 39

Há tabelas já prontas de Q. I. (ver pág. 247 a 265 no livro: "Tes­te de inteligência infantil por meio do desenho da figura huma­na, da autoria de Goodenough).

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ESTUDO DA ESCALA DE GOODENOUGH 117

TABELA DE NtvEIS

(conversão de "quocientes intelectuais" em níveis de inteligência)

Q.I. DIAGN6STICOS

150 140

Genialidade (gênio)

139 -120 119 -110 109 - 90

Quase genialidade (quase gênio) Inteligência muito superior Inteligência superior

89 - 80 79 - 70 69- 50 49 - 20 10 - O

Inteligência normal ou média Inteligência lenta (inferior) Debilidade mental leve Debilidade mental bem definida Imbecilidade Idiotice

2. Padronização Um teste está padronizado quando satisfaz os seguintes requisitos:

a) seus "itens" estão "gradua­dos", por um trabalho experimen­tal e estatístico foram selecionados e distribuídos numa "escala" de "itens" ou idades, seriados por or­dem de dificuldade crescente.

b) sua "administração" (a pre­sentação e manejo) se executa de conformidade com instruções fi­xas.

c) sua "pontuação" se efetua de um modo objetivo mediante chaves e regras uniformes e cons­tantes para a avaliação parcial e total das provas, de modo que a "equação pessoal" do examinador fica excluída ao máximo.

d) sua interpretação se faz por uma apreciação objetiva do rendimento do indivíduo por com­paração com tabelas de normas de idade, sexo, etc.

O teste Goodenough preenche todos os requisitos acima citados.

A padronização final da "esca­la" se efetuou através de uma amostra de 3593 crianças de 4 a 10 anos.

A) POPULAÇÃO USADA -Em uma investigação psicológica, é impossível examinar-se todos os indivíduos. Por isto, se estuda só uma "amostra" que deve ser re­presentativa da população total.

Desenhos de 3.593 crianças, cujas idades estavam compreendi­das entre os 4 e 10 anos, serviram para que se efetuasse a padroniza­ção da "escala", como já dissemos.

~stes desenhos foram obtidos das seguintes escolas:

1 - Perth Amboy, Nova Jer­sey - 6 escolas. Desde o jardim de infância ao 4.° grau, mais duas classes do 5.° grau. Idades com­preendidas: 4 a 10 anos. Total 2.995 desenhos.

2 - South Orange, Nova Jersey. 6 classes do 1.0 ao 5.° grau. Ida­des compreendidas: 5 a 10 anos. 247 desenhos.

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118 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

3 - East Orange, Nova Jersey. Do 1.0 ao 2.° grau. Total: 86 de­senhos.

4 - Bogotá, Nova J ersey. Cin­co classes do 2.° ao 5.° graus. Ida­des compreendidas: 6 a 10 anos. Total: 167 desenhos.

5 - Escola privada, Nova York. Idades compreendidas: 4 a 10 anos, sem ter em conta o grau total: 44 desenhos.

6 - Pequenos grupos vários, idades de 4 a 10 anos. Total: 54 desenhos.

B) INDICAR SE A CONSIDE­RA REPRESENTATIVA - Con­sideramos, sim, a amostra repre­sentativa, já que satisfaz os se­guintes requisitos:

a) a escolha se procedeu ao acaso; tomaram-se indivíduos de diferentes idades, sexo, zona, es­colaridade, etc.

b) sua magnitude é suficien­temente grande (mais de 1 000 ca­sos) pois o maior tamanho da amostra implica em que a amos­tra seja representativa.

Assim sendo, a amostra de 3593 crianças, usada por Florence Goodenough, de 4 a 10 anos, cum­pre as condições assinaladas.

C) TIPOS DE ESCORES -Na escala "Goodenough" têm-se três espécies de escores:

1 - "escore bruto" (raw sco­re") que é a expressão numérica do rendimento da criança, dado no teste. Assim: "escore bruto" 25, indica que a criança teve 25 pon­tos pela correta solução de 25 "itens". tste escore não tem sig­nificação própria; para interpre­tá-lo, é preciso convertê-lo em:

2. "escore derivado" (em I. M. e em Q. I.) ; para isto é necessário converter o "escore bruto" da

criança no equivalente do escore médio obtido por uma amostra de crianças da mesma idade.

3. "escore médio" ("average score") são os escores expressos em premédios ou outra qualquer medida de tendência central obti­dos por grande quantidade de crianças das mais variadas idades, sexos, zonas e graus. Constituem, como já dissemos, as "normas" (ver "tabelas") .

D) IDADE - A nosso ver, o teste Goodenough deve ser empre­gado em crianças de 4 a 10 anos, embora alguns autores estendam seu emprêgo até 12 ou 15 anos. A própria tabela Goodenough, de I. M, apresenta os "escores bru­tos", até a idade de 13 anos e 9 meses.

Achamos que, além dos 10 anos, não deverá ser empregado, já que, após esta idade, como vimos ante­riormente, poderá influir, no tes­te, a capacidade artística da crian­ça e sua auto-crítica; não deverá ser empregado, é bom que se diga, como teste de inteligência, pois nos E. Unidos, após esta idade, já é usado como teste de personali­dade.

E) ANO - O teste foi padro­nizado em fins de 1920.

F) COMENTÁRIO E CRíTI­CA - Pese o coeficiente de fide­dignidade, na Argentina, o teste não recebeu, até o presente, um pronunciamento decisivo acêrca de seu valor. E' êle aplicado mas há discordância de opiniões. E, in­clusive, ao que parece, houve cer­tas decepções em trabalhos com grupos pouco numerosos. Três fa­tôres são considerados acêrca da razão dês se fracasso inesperado:

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ESTUDO DA ESCALA DE GOODENOUGH 119

a) ausência de uma investiga­ção na vasta escala.

b) falta de um barema na­cional.

c) deficiências das "escalas" vertidas ao castelhano.

A última hipótese é, a nosso ver, a principal, já que, se quisermos comprovar tal fato, basta que se vejam as alterações sofridas por muitos "itens" que influem, como ·é óbvio, decisivamente na avalia­ção e, conseqüentemente, no "es­core" final (veja tabela da pági­na 15 do livro de Goodenough: "Test de inteligência infantil".)

E' necessário, pois, que sejam seguidos e utilizados, à risca, os "itens" da original tabela, ou me­lhor, "escala" de Goodenough.

XII) APLICAÇÃO

A) Direção:

a) M ateria! - Dá-se a cada propositus um lápis, uma fôlha de ,papel em branco. E' mais conve­niente excluir-se o uso de lápis de côr.

b) Técnica - Devem ser re­tirados todos os livros, ilustrações, etc. a fim de evitar-se qualquer ~ossibilidade do desenho ser co­piado.

Após, deve ser dito o seguinte: "Nestas fôlhas vocês devem dese­nhar um "homem';. Façam o de­senho mais bonito que possam. Trabalhem com muito cuidado e empreguem o tempo que necessi­tem. Gostaria de que o desenho de vocês fôsse tão bom como os de outras crianças de outras escolas. Façam-no com entusiasmo e verão que lindos desenhos farão."

Durante a execução da prova, o examinando deverá ver se as ins­truções estão sendo seguidas e

animar os que se julgar necessá­rio, por meio de pequenos elogios.

Não deverá o examinador cha­mar a atenção sôbre cada desenho, em particular, a fim de evitar pos­sível inibição. Poderá, entretanto, fazer comentários em geral: "que lindos desenhos", etc.

Nunca deverá expressar críti­cas desaprovadoras dos trabalhos e, às perguntas formuladas, deve­rá dizer somente: "façam como melhor lhes parecer".

O examinador não deixará que as crianças falem durante a exe­cução da prova, pois poderá influir nos outros desenhos, desviando a atenção dos menos concentrados, assim como não deverá permitir que se levantem para examinar os desenhos alheios.

O examinador deverá apresen­tar uma atitude favorável, simpá­tica e afetuosa, já que o teste será válido se, cada criança, realizar o máximo de que seja capaz. Deve­rá, portanto, ser formado o "rapport" entre examinador e aluno.

No caso de um desenho muito rabiscado, deverá ser dada nova oportunidade à criança; no rever­so da prova deverá ser consigna­do tal fato.

Crianças maiores, muitas vêzes, desenham um "busto"; então, ser­lhes-á pedido que desenhem, nou­tra fôlha, um "homem" completo e conservar-se-á o desenho ante­rior para efeito de comparação.

B) TEMPO - Crianças pe­quenas, não demoram mais de 5 ou 10 minutos.

Se alguma criança demorar mais tempo, convém retirar as fô­lhas dos que já tiverem terminado a prova e fazer com que os outros

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120 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

terminem, já qüe a prova não tem tempo limite.

C) COMENTARIO - O teste Goodenough poderá ser aplicado individual ou coletivamente.

O examinador deverá ter pleno conhecimento das técnicas de apli­cação já que sua atitude influirá, sobremodo, na plena consecução da prova.

XIII) APURAÇÃO

A) Método - Reduz-se, como já dissemos, a contar o número de detalhes certos que a figura apre­senta, constituindo, assim, seu "escore bruto". Converte-se, en­tão, êste escore em Idade Mental e esta em Quociente Intelectual.

Para assegurar a condição de avaliar a prova com acêrto e fa­cilitar o trabalho da pontuação, contagem e contrôle, Goodenough confeccionou um protocolo espe­cial de prova.

Consiste em uma fôlha que leva impresso um retângulo cujo espa­ço se destina a encerrar o dese­nho; atrás, em coluna dupla, estão as cifras-chaves dos 51 "itens", seguidos de um espaço onde deve­rá ser colocada a qualificação po­sitiva (+) ou negativa (-) que corresponde a cada "item".

Deverão ser seguidas, ademais, as seguintes instruções gerais:

1. Em caso de não se compreen­d~r qualquer desenho, deverá ser chamada a criança e praticar a contagem tendo em base sua ex­plicação, que deverá preencher os mesmos requisitos especiais, no to­cante à representação de qualquer "item" particular.

2. Tôda contagem deverá ser revista. Considerar-se-á a I. C. segundo o mês seguinte.

3. Se se tem mais de um de­senho, deverão ser contados os pontos do melhor desenho.

4. As emendas e rabiscos de­verão ser, sempre, tomadas em consideração, já que pode signi­ficar auto-crítica do examinando.

Há duas classes às quais pode­rá o desenho pertencer: A e B.

Pertencerá à classe A quando a própria criança não sabe distin­guir seus rabiscos às perguntas do examinador.

Pertencerá à classe B quando tal não acontece e em todos os de­mais casos.

Cada "item" oscila de valor O a 1.

Terá valor {J se o desenho só está constituído de rabiscos inten­cionais e sem contrôle; terá valor 1 se as linhas acusam certo con­trôle e parecem ser tencionais e conscientes.

Como é claro, é necessário que haja uma norma para a conside­ração de ambos os valores a fim de que se saiba quais os requisi­tos necessários que cada "item'P deverá apresentar para ser válido.

Assim: 1 - Presença da ca­beça.

Requisito: Tôda forma clara que represente a cabeça. Somente a indicação das feições, faltando o contôrno da cabeça, tem valor ne­gativo para êste "item" .

etc., etc. (ver: Normas para pontuação. pág. 117: "Test de inteligência infantil" de Flo­rence L. Goodenough) .

B) CRiTICA - A crítica que fazemos a êste respeito é que o teste se nos parece muito subjeti­vo, ainda que seguidas, bem de perto, as "normas de pontuação" P

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ESTUDO DA ESCALA DE GOODENOUGH 121

já que consideramos um tanto va­gos os requisitos exigidos para cada "item", podendo ocasionar, assim, várias interpretações por parte dos examinadores.

C) COMENTÁRIO FINAL­A "escala de Goodenough" carac­teriza-se, em resumo, dêste modo:

1 - Só utiliza a simples figura de um "homem", desenhada por uma criança.

2 - E' não verbal, tornan­do-se, pois, conveniente para o exame mental de crianças estran­geiras ou surdo-mudas (mais vá­lido que o Binet em crianças de lu­gares estrangeiros) .

3 - Não requer mais de dez mi­nutos para o exame de uma classe completa e, aproximadamente, dois para o resultado de cada criança.

4 - Resulta particularmente útil quando se trata de crianças entre 4 e 10 anos de I. M.

5 - Para o dito período e com um grupo de idades sem selecio­nar sua fidedignade oscila entre .80 e .90.

6 - Para o mesmo período, e eom um grupo de crianças homo­gêneas, apresenta uma correlação promedio de .76 com a revisão Stanford da escola de Binet.

O teste Goodenough, a nosso ver, deverá ser aplicado por quem conheça bem tôdas as técnicas de aplicação, apuração, avaliação, já que embora o teste seja bem sim­ples de execução, se nos parece bastante complexo em sua inter­pretação final.

Consideramos, entretanto, que tal teste deverá ser aplicado, sis­temàticamente, em tôdas as esco­las, pois o consideramos como uma prova de alta significação quanto ao que pretende medir e quanto

ao que poderá medir, após uma sistematização final: a personali­dade infantil.

A autora não pretende que sua "escala" substitua, satisfatoria­mente, os testes individuais como o de Binet. Serve para exames ge-

. rais e ensaios de classificações. Daí dizer Lewis Terman: "A

familiaridade desta prova deverá tomar parte na bagagem básica dos professôres de Jardim de In­fância e primeiros anos".

"O teste Goodenough mede a in­teligência, o nível mental da crian­ça além de, como já dissemos, apresentar magníficas oportunida­des de examinar a personalidade infantil, estudo êste que vem sen­do intensificado nos últimos anos" (J aime Bernstein).

"O teste não é inteiramente mental, de inteligência, já que o desajustado emocionalmente apre­senta baixo escore".

Como já se disse, "a criança desenha o que sabe e não o que vê", tendo mesmo Kerchensteiner provado tal afirmativa ao compa­rar desenhos de crianças pequenas realizados, de memória, e, com um modêlo à vista; as crianças acostumadas a desenhar a figura humana,de frente, continuavam a proceder assim, ainda que o modê­lo estivesse de perfil.

Na concepção infantil, um de­senho, para ser exato, deverá con­ter todos os elementos reais do ob­jeto, mesmo que não estejam pre­sentes no modêlo apresentado. E' o que Luguet chama de "realismo intelectual", que faz com que sejam representados não só os elementos concretos invisíveis mas também os abstratos.

Por conseguinte, parece eviden­te que "a explicação das funções

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122 ARQUIVOS BRASILEIROS DE PSICOTÉCNICA

psicológicas que intervêm no de­senho espontâneo das crianças pe­quenas excede o terreno da mera imaginação visual e da coordena­ção viso-manual e se relaciona com processo de pensar superior."

Quando se pede a uma criança para desenhar um "homem", de­riva-se um processo psicológico que, segundo Goodenough, poderá ser assim descrito:

1. Associação por semelhança. A criança nota uma semelhança entre uma série de linhas traçadas sôbre o papel e o objeto concreto que elas representam. E' a etapa prévia a todo intento ativo de re­presentação por parte da própria criança.

2. Análise. Decomposição nos elementos do objeto a desenhar.

3. Valorização destas partes e seleção das que parecem essenciais ou características. No que se re­fere à criança, êste processo é, em grande parte, inconsciente, porém muito significativo, pois se julga determinado pela nobreza de seus interêsses e pelos seus hábitos fun­damentais de pensar.

4. Análise das relações espa­ciais; da posição relativa.

5. Juízos de relações quantita­tivas; de proporção relativa.

6. Mediante um processo ulte­rior de abstração, redução e sim­plificação das diversas partes do objeto em contornos gráficos.

7. Coordenação dos movimen­tos visomanuais no ato de dese­nhar.

8. Adaptabilidade. Capacida­de de ajustar o esquema desenhado a novos traços que se agregam progressivamente, conforme evolu­ciona o conceito.

o teste Goodenough, em seu as­pecto intrínseco, não esgotou tô­das as possibilidades que êstes de­senhos encerram para o estudo da evolução infantil. Muito ao con­trário, opina a própria autora que, bem interpretados, contribuirão muito, sôbre os traços da persona­lidade e interêsses da criança.

Assim, ulteriores investigações mostrarão, bem claro, o caminho de novas possibilidades dentro desta forma de expressão infantil, investigações estas que já se vêm processando em ritmo bem acele­rado pelos esclarecidos espíritos da gente estudiosa.

BIBLIOGRAFIA

"Test de inteligência infantil por médio deI dibujo de la figura humana" - Florence L. Goode­nough.

Les Testes" - Bela Székely (págs. 168 a 171).

"Le dessin enfantin" - G. L. Luquet - (pgs. 15, 16,21, 80, 165, 166, 223, 226, 242, 243).

"American J ournal of Artho­psychiatry" - (volume XXI -n. o 3 - págs. 586, 594) .

"Journal of consulting psycho­logy" - (volume XVI - n.o 3 -pág. 176 a 180).

"O método dos testes" - René Nihard.

"Testes mentais" - Henri Pié­ron.

"Manual de mediciones de la in­teligencia" - Carlota Felix de Garcés.

"Mental testing,· its history, principIes and applications" Florence L. Goodenough.