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Os Nuer – Evans Pritchard 1. Prefácio - Estudo financiado em parte pelo governo do Sudão anglo-egípcio. - Mais de uma expedição. 2. Introdução Três grandes rios cortam a terra dos Nuer: o Bahr el Jebel (Nilo), o Bahr el Ghazal e o Sobat. Descrevo neste volume a maneira pela qual um povo nilota obtém sua subsistência e suas instituições políticas. Os Nuer que chamam a si mesmos de Nath (singular, ran), são aproximadamente 200 mil almas e vivem nos pântanos e savanas planas que se estendem em ambos os lados no Nilo, ao sul de sua junção com o Sobat e o Bahr el Ghazal, e em ambas as margens desses dois tributários. Culturalmente, assemelham-se aos Dinka, e os dois povos formam uma subdivisão do grupo nilota, que ocupa parte de uma área de cultura da África Oriental, cujas características e extensão encontram-se até o momento mal definidas. Os Nuer e os Dinka assemelham-se demais fisicamente, e suas línguas e costumes são por demais semelhantes para que surjam dúvidas quanto à sua origem comum, embora não se conheça a história de sua divergência. O problema é complicado: por exemplo, os Atwot, a oeste do Nilo, parecem ser uma tribo Nuer que adotou muitos hábitos dinka, enquanto que se atribui às tribos jikany da terra dos Nuer uma origem Dinka. As instituições políticas constituem seu tema principal, porém elas não podem ser compreendidas sem que se leve em conta o meio ambiente e os meios de subsistência. Será visto que o sistema político Nuer é coerente com sua ecologia. Cada um desses grupos é, ou faz parte de, um sistema segmentário, em referência ao qual ele se define, e, conseqüentemente, os status de seus membros, ao agirem uns em relação aos outros e em relação a estranhos, é não-diferenciado. Descreveremos, em primeiro lugar, o * inter-relacionamento de segmentos territoriais dentro de um território, os sistemas políticos, e, depois, o relacionamento de outros sistemas sociais para aquele sistema. O que entendemos por estrutura política tornar-se-à evidente à medida que avançamos, mas podemos afirmar, como uma definição inicial, que nos referimos aos *relacionamentos, dentro de um sistema territorial, entre grupos de pessoas que vivem em áreas bem definidas espacialmente e que estão conscientes de sua identidade e exclusividade. O sistema político nuer inclui todos os povos com os quais eles têm contato. barth Por “povo”, queremos dizer todas as pessoas que falam a mesma língua e que têm, sob outros aspectos, a mesma cultura e que se consideram diferentes de agregados semelhantes. O maior segmento político entre os Nuer é a tribo. Não existe grupo maior que, além de *reconhecer-se a si mesmo como uma comunidade local diferenciada, afirme sua obrigação de unir-se na guerra contra estranhos e reconheça os direitos de seus membros ao ressarcimento dos danos. Uma tribo divide-se em uma série de segmentos territoriais e estes constituem mais do que meras divisões geográficas, pois os membros de cada um consideram a si mesmos como comunidades distintas e

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nuer fichamento detalhado

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Os Nuer Evans Pritchard1. Prefcio

- Estudo financiado em parte pelo governo do Sudo anglo-egpcio.- Mais de uma expedio.

2. Introduo

Trs grandes rios cortam a terra dos Nuer: o Bahr el Jebel (Nilo), o Bahr el Ghazal e o Sobat.Descrevo neste volume a maneira pela qual um povo nilota obtm sua subsistncia e suas instituies polticas.

Os Nuer que chamam a si mesmos de Nath (singular, ran), so aproximadamente 200 mil almas e vivem nos pntanos e savanas planas que se estendem em ambos os lados no Nilo, ao sul de sua juno com o Sobat e o Bahr el Ghazal, e em ambas as margens desses dois tributrios.Culturalmente, assemelham-se aos Dinka, e os dois povos formam uma subdiviso do grupo nilota, que ocupa parte de uma rea de cultura da frica Oriental, cujas caractersticas e extenso encontram-se at o momento mal definidas.

Os Nuer e os Dinka assemelham-se demais fisicamente, e suas lnguas e costumes so por demais semelhantes para que surjam dvidas quanto sua origem comum, embora no se conhea a histria de sua divergncia.

O problema complicado: por exemplo, os Atwot, a oeste do Nilo, parecem ser uma tribo Nuer que adotou muitos hbitos dinka, enquanto que se atribui s tribos jikany da terra dos Nuer uma origem Dinka.

As instituies polticas constituem seu tema principal, porm elas no podem ser compreendidas sem que se leve em conta o meio ambiente e os meios de subsistncia.

Ser visto que o sistema poltico Nuer coerente com sua ecologia.Cada um desses grupos , ou faz parte de, um sistema segmentrio, em referncia ao qual ele se define, e, conseqentemente, os status de seus membros, ao agirem uns em relao aos outros e em relao a estranhos, no-diferenciado.

Descreveremos, em primeiro lugar, o * inter-relacionamento de segmentos territoriais dentro de um territrio, os sistemas polticos, e, depois, o relacionamento de outros sistemas sociais para aquele sistema.

O que entendemos por estrutura poltica tornar-se- evidente medida que avanamos, mas podemos afirmar, como uma definio inicial, que nos referimos aos *relacionamentos, dentro de um sistema territorial, entre grupos de pessoas que vivem em reas bem definidas espacialmente e que esto conscientes de sua identidade e exclusividade.

O sistema poltico nuer inclui todos os povos com os quais eles tm contato. barth Por povo, queremos dizer todas as pessoas que falam a mesma lngua e que tm, sob outros aspectos, a mesma cultura e que se consideram diferentes de agregados semelhantes.

O maior segmento poltico entre os Nuer a tribo. No existe grupo maior que, alm de *reconhecer-se a si mesmo como uma comunidade local diferenciada, afirme sua obrigao de unir-se na guerra contra estranhos e reconhea os direitos de seus membros ao ressarcimento dos danos.

Uma tribo divide-se em uma srie de segmentos territoriais e estes constituem mais do que meras divises geogrficas, pois os membros de cada um consideram a si mesmos como comunidades distintas e algumas vezes agem como tais.- Denominamos os maiores segmentos tribais de sees primrias, os segmentos de uma seo primria de sees secundrias e os segmentos de uma seo secundria de sees tercirias. Uma seo tribal terciria consiste de uma srie de aldeias, as quais constituem as menores unidades polticas da terra dos Nuer. Uma aldeia formada de grupos domsticos, que ocupam aldeolas, casas e choupanas.Chefe da pele de leopardo. Ele uma pessoa sagrada sem autoridade poltica. Na verdade os nuer no tem governo e seu estado pode ser descrito como uma anarquia ordenada.

As linhagens dos Nuer so agnticas, isto , consistem de pessoas que traam sua ascendncia exclusivamente atravs dos homens at um ancestral comum. - O cl o maior grupo de linhagens que pode ser definido tomando-se como referncia as regras de exogamia, embora se reconhea um relacionamento agntico entre vrios cls. Um cl est segmentado em linhagens, que so ramos divergentes de descendncia de um ancestral comum.- Denominamos os segmentos maiores em que se divide um cl de linhagens mximas, os segmentos de uma linhagem mxima de linhagens maiores, os segmentos de uma linhagem maior de linhagens menores, e os segmentos de uma linhagem menor de linhagens mnimas.- A linhagem mnima aquela normalmente mencionada por algum quando se pergunta qual a sua linhagem.- Uma linhagem , assim, um grupo de agnatos, vivos ou mortos, entre os quais pode ser traado um parentesco genealgico, e um cl um sistema exogmico de linhagens.

Esses grupos de linhagem diferem dos grupos polticos pelo relacionamento de seus membros entre si, pois tal relacionamento baseia-se na ascendncia e no na residncia, pois as linhagens esto dispersas e no compem comunidades locais exclusivas, e, tambm, pelos valores da linhagem, que freqentemente operam numa gama se situaes diversas da dos valores polticos.

A populao masculina adulta divide-se em grupos estratificados baseados na idade, e chamamos tais grupos de conjuntos etrios. Os membros de cada conjunto tornam-se tais pela iniciao e permanecem nele at a morte.- Os conjuntos no formam um ciclo, mas um sistema progressivo, o conjunto mais moo passando por posies de idade relativa at que se torna o conjunto mais idoso, depois do que seus membros morrem e o conjunto transforma-se em lembrana, uma vez que seu nome no volta a ocorrer.- No possuem funes corporativas embora tenham conscincia de sua identidade social.- Os membros de um conjunto podem agir conjuntamente em uma localidade pequena, mas o grupo inteiro jamais coopera exclusivamente em qualquer atividade.... a organizao social nuer simples e sua cultura pobre.

Quando eu entrava em um campo de criao de gado, fazia-o no somente na qualidade de estrangeiro, como tambm na qualidade de inimigo, e eles pouco esforo faziam para disfarar a averso minha presena, recusando-se a responder a minhas saudaes e chegando mesmo a dar-me as costas quando me dirigia a eles.- Alm do desconforto material a toda hora, da desconfiana e resistncia obstinada que encontrei nos estgios iniciais da pesquisa, da falta de um intrprete, falta de uma gramtica e dicionrios adequados e falta em obter os informantes usuais, surgiu uma outra dificuldade medida que a pesquisa prosseguia.- Os Azande no me permitiram viver como um deles; os Nuer no me permitiram viver de outro modo que no o deles.[21]3. Interesse pelo gado

Um povo cuja cultura material to simples quanto a do Nuer depende grandemente do meio ambiente. - So eminentemente pastoris, embora cultivem mais sorgo e milho do que se supe normalmente.- ...Consideram a horticultura como um pesado encargo que lhes imposto pela pobreza do rebanho, pois, no fundo, eles so boiadeiros, e o nico trabalho em que tm prazer no cuidar do gado.O gado seu bem mais prezado e eles arriscam suas vidas de boa vontade para defender seus rebanhos ou pilhar os de seus vizinhos.- ...as guerras contra as tribos Dinka tm objetivado tomar o gado e o controle dos pastos.

A atitude do Nuer e seu relacionamento com povos vizinhos so influenciados pelo amor ao gado e pelo desejo de adquiri-lo.

Cada tribo nuer e cada seo tribal possui seus prprios pastos e reservas de gua, e a ciso poltica relaciona-se intimamente com a distribuio desses recursos naturais, cuja propriedade geralmente vem expressada em termos de cls e linhagens.

Pequenos grupos locais pastoreiam seu gado em comum e defendem conjuntamente suas casas e rebanhos. * [sahlins] - Sua solidariedade torna-se mais evidente na estao da seca, quando moram num crculo formado por abrigos contra o vento em torno de um curral comum, mas tambm pode ser visto em seu isolamento durante a estao das chuvas.- * Uma nica famlia ou agrupamento domestico no pode proteger e cuidar sozinho do gado e a coeso dos grupos territoriais deve ser examinada luz desse fato.O gado propriedade das famlias. - Chefe da famlia tem plenos direitos de dispor do gado embora suas esposas tenham direitos de uso sobre as vacas e seus filhos possuam alguns bois.

Parentesco definido costumeiramente atravs de referncias a esses pagamentos, estando mais ntido por ocasio do casamento.- s vezes o nome de um homem que legado posteridade o nome-de-gado e no o nome que recebeu ao nascer.A maior parte do comportamento social nuer se relaciona diretamente com seu gado.- o gado importante no somente pelo seu valor econmico mas pelo fato de que ele constitui o vnculo de numerosos relacionamentos sociais.- Os Nuer tm tendncias para definir todos os processos e relacionamentos sociais em funo do gado. Seu idioma social um idioma bovino.- A dedicao nuer arte do pastoreio inspirada por uma gama de interesses muito mais ampla do que a simples necessidade de alimentos, e porque o gado um valor dominante em suas vidas.

I/IIO gado provavelmente no excede muito a populao humana.

Embora o gado constitua uma forma de riqueza que pode ser acumulada, um homem jamais possui mais animais do que seu estbulo pode abrigar, porque, no momento em que seu rebanho bastante grande, ele ou algum de sua famlia contrai matrimnio.O rebanho , assim, reduzido a dois ou trs animais e os anos seguintes so gastos em reparar suas perdas. Todo lar passa por esses perodos alternados de pobreza e relativa riqueza.- Casamentos e epidemias impedem a acumulao do gado e no existe disparidade na riqueza para ofender o sentimento democrtico do povo.

Nuer j foram mais pastores e nmades do que hoje e o definhamento de seus rebanhos pode explicar parcialmente sua agressividade persistente.

IIIO gado principalmente til pelo leite que fornece. - A safra de sorgo incerta e sua escassez freqente e mesmo quando abundante poucas vezes ingerido sozinho, pois sem leite os Nuer o acham pesado demais.- Leite considerado essencial para as crianas: as [sahlins] necessidades das crianas so sempre as primeiras a serem satisfeitas, mesmo que, como acontece em tempos de escassez, os mais velhos tenham que passar por privaes.- A situao ideal haver uma sobra para poder ser dedicada fabricao de queijo e ajudar os compatriotas a acolher hspedes.

ESCASSEZUm agrupamento domstico em geral consegue obter leite para suas crianas pequenas porque um compatriota lhe empresta uma vaca que fornece leite ou lhe d parte de seu leite, se ele no possui nenhuma.- Essa [sahlins] obrigao de parentesco reconhecida por todos e executada com generosidade, porque se reconhece que as necessidades das crianas constituem assunto que [sahlins] diz respeito aos vizinhos e parentes, e no somente aos pais.

- Escassez pode ocorrer aps epidemias e, em menor grau, depois que dois ou trs jovens do grupo casaram-se numa aldeola ou at aldeia. Ou pela tendncia de vrias vacas ao mesmo tempo pararem de dar leite.- As melhores vacas no so aquelas de melhor qualidade esttica mas as que tem traos que indicam uma boa vaca leiteira.

- Os nmeros do gado no permitem que os Nuer levem uma vida inteiramente pastoril como gostariam. (cerca de de litro por pessoa). Uma economia mista torna-se, portanto, necessria.- Alm de epidemias e casamentos, h tambm o fato da vaca produzir leite apenas por um determinado tempo aps o nascimento do bezerro e o fornecimento no ser constante.

... Portanto, uma vez que o leite considerado essencial, a unidade econmica deve ser maior que o grupo familiar simples.

Condies do meio ambiente, bem como necessidade de cereais a fim de suplementar a dieta de leite, impedem que os nuer sejam totalmente nmades, mas a alimentao baseada no leite permite-lhes levar uma vida errante durante uma parte do ano e lhes d mobilidade e capacidade evasiva.- O leite no exige estocagem nem transporte, sendo renovado diariamente; contudo, por outro lado, envolve uma dependncia direta da gua e da vegetao, o que no somente permite, mas fora, a levar uma vida errante.Uma vida assim nutre as qualidades do pastor coragem, amor luta e desprezo pela fome e pelas dificuldades mais do que forma o carter trabalhador do campons.

IV

Os nuer no criam rebanhos para corte, mas freqentemente sacrificam carneiros e bois nas cerimnias e ocasies festivas.- as pessoas no devem matar exclusivamente um boi pela carne...- ...o fazem quando a escassez grande.- qualquer animal que morra de morte natural comido. Os Nuer gostam muito de carne e declaram que, quando morre uma vaca, os olhos e o corao ficam tristes, mas os dentes e o estomago se alegram.- Bois so apreciados pelo prestgio que sua posse confere. Cor e formato dos chifres, mas, sobretudo, tamanho e gordura e quadril grande.- Ento embora no mantenha o rebanho a fim de obter alimentos o fim de cada animal , na verdade, a panela, o que satisfaz sua vontade de comer carne, no havendo maiores necessidades de caar animais selvagens, atividade pouco freqente.

V

Alm de carne, leite e sangue, o gado fornece aos Nuer inmeros utenslios domsticos. Ex: esterco utilizado como combustvel e no revestimento de paredes, assoalhos e no exterior das choupanas de palha de pequenos acampamentos.... a cultura material Nuer to simples que podemos entender como esses itens so importantes para eles.

Artigos essenciais: leite e carne. Artigos secundrios e importantes. Valor econmico do gado mais extenso. (tambm h valor social, como j dito).

Enfatizao de um nico objeto, que domina todos os outros interesses e coerente com a simplicidade, sinceridade e conservadorismo, qualidades to caractersticas dos povos pastoris.

VI

Descrever como se trata das necessidades do gado gua, pastos, proteo contra animais carnvoros e insetos que picam e mostrar de que maneira elas determinam a rotina dos homens e afetam as relaes sociais.

- Poucos animais reprodutores, o resto castrados para evitar brigas constantes.

Mortalidade muito baixa entre os bezerros. Os Nuer do a eles toda ateno.

VII

O relacionamento entre os Nuer e o gado simbitico: gado e homens mantm suas vidas graas aos servios recprocos. Nesse relacionamento, homens e animais formam uma nica comunidade do tipo mais ntimo.- Os Nuer conhecem todos os detalhes dos animais.- Alguns nuer conhecem os detalhes dos ancestrais animais at cinco geraes.

- Para as meninas as vacas so essencialmente fornecedoras de leite, as mulheres so leiteiras, os homens so boiadeiros. - Para um menino, elas so parte do rebanho da famlia ao qual ele tem direitos de propriedade.- Atitudes com relao ao gado: beb (comida), rapaz (trabalho), adulto: alm dos dois, um meio para exibir-se e casar-se.

- Somente quando um homem se casa , tem filhos e um lar independente com rebanho, quando ele se tornou um homem mais velho e de certa posio, que freqentemente emprega o gado nos sacrifcios, investe-o com uma significao sagrada e usa-o no ritual.Os Nuer e seu rebanho formam uma comunidade corporativa com interesses solidrios, a cujo servio as vidas de ambos esto ajustadas, e seu relacionamento simbitico de ntimo contato fsico.

* O gado no apenas um objeto de interesse absorvente para os Nuer, possuindo grande utilidade econmica e valor social, como tambm vive na mais ntima associao possvel com eles. Alm disso, sem se levar em considerao o uso, ele , em si mesmo, uma finalidade cultural, e sua mera posse e proximidade d ao homem tudo o que ele deseja. No gado concentram-se seus interesses imediatos e suas ambies maiores. Mais do que qualquer outra coisa, o gado determina as aes dirias do homem e domina sua ateno.

VIII

Evidncias lingsticas da identificao do homem com o gado.Ex: Cor, formato dos chifres.De fato, se se fosse contar todos os modos possveis de referir-se aos animais do rebanho, descobrir-se-ia que chegam a vrios milhares de expresses sistema imponente e complicado de ramificaes que testemunha de modo eloqente o valor social do gado.Como vimos, um homem toma um de seus nomes a partir do termo pelo qual um de seus bois descrito, e esses nomes-de-gado constituem as saudaes preferidas entre pessoas da mesma idade. (primeiro nome-de-gado vem geralmente do animal que o pai lhe d por ocasio da iniciao, porm mais tarde, ele pode adotar outros nomes a partir de qualquer boi de seu rebanho que lhe agrade).* No possvel discutir com os Nuer seus afazeres dirios, suas conexes sociais, atos rituais ou, na verdade, qualquer assunto, sem que ocorra uma referencia ao gado, que constitui o mago em torno do qual organizada a vida diria e o meio atravs do qual se exprimem as relaes sociais e msticas.- E tampouco o interesse dos Nuer pelo gado confina-se aos usos prticos e funes sociais; pelo contrrio, exibido em suas artes poticas e plsticas, das quais constituem o tema principal.- A superenfatizao que se d ao gado , assim, demonstrada de modo notvel na linguagem, a qual, alm de tudo, atravs de referncias obrigatrias ao gado, seja qual for o tema do discurso, continuamente enfoca a ateno no gado e transforma-a no valor maior da vida nuer.

IX

Outra maneira pela qual se pode demonstrar o envolvimento dos Nuer com o gado notando-se a vontade e freqncia com que lutam por ele, uma vez que as pessoas arriscam suas vidas por aquilo a que do grande valor e em termos desses valores.

Gado constitui a causa principal de hostilidade e suspeita para com o governo; taxao, mas, sobretudo, confisco.

Guerra dos Nuer com os Dinka tem sido quase totalmente ofensiva e dirigida para a apropriao de rebanhos e anexao de pastos.

O gado tambm tem sido a principal ocasio de atrito entre os prprios Nuer.- as tribos nuer atacam-se umas s outras para pilhar gado.

[Sahlins][bourdieu] Pilhagens de gado so acontecimentos comuns nas fronteiras tribais em todas as demais partes, pois roubar gado de outra tribo considerado louvvel.

Brigas dentro de uma tribo: freqentemente resultam de discusses a respeito de gado, entre suas sees e entre indivduos da mesma seo, at mesmo da mesma aldeia ou agrupamento familiar.- Por tais questes lutam conterrneos ntimos e lares so desmanchados.Os nuer esto prontos a brigar por qualquer provocao, mais ainda quando uma vaca est em jogo.

Quando a propriedade do gado est em discusso, os Nuer abandonam prudncia e sobriedade, arriscando-se, demonstrando-se temerrios e cheios de artimanhas.

Nuer dizem que o gado que destri as pessoas, pois mais pessoas morreram por uma vaca do que por qualquer outra causa.

Estria homem matou a me da vaca e do bfalo: e a vaca para se vingar permaneceu nas habitaes dos homens e causa infindveis brigas por dvidas, riquezas de casamento, adultrio, o que levaria a lutas e mortes entre as pessoas.

Os Nuer no vivem, entretanto, em constante tumulto: o prprio fato de que esto preparados para resistir a qualquer infrao de seus direitos sobre o gado provoca cautela nos relacionamentos entre pessoas que se consideram membros do mesmo grupo.

Vulnerabilidade do gado compatvel com amplo reconhecimento de convenes na soluo de disputas, ou em outras palavras, a existncia de uma organizao tribal que abrange um grande territrio e de algum tipo de sentimento de comunidade que se estende por reas ainda maiores.

Lutar pela propriedade de gado e tomar gado pelo que se chama de dvidas e ressarcimento de perdas so de ordem bem diferente do que pilhar gado sobre o qual nenhum direito se tem.

Guerra contra povos estranhos visa quase inteiramente o saque, ao contrrio da guerra na mesma tribo.

Nuer no so totalmente dependentes de seu prprio gado, mas pode aumentar seu rebanho ou reparar as perdas atravs do saque; condio que conformou seu carter, economia e estrutura poltica.

*Habilidade e coragem na luta so reconhecidas como as virtudes mais elevadas; pilhar, como a mais nobre, bem como rentvel, ocupao; e algum tipo de acordo poltico e unidade, como necessidade.

* preciso ver a luta (Nuer-Dinka) enquanto processo estrutural para ser totalmente compreendida, no apenas como desejo de ter gado ou pasto.4. Ecologia

As estaes de chuva e seca so, portanto, muito marcadas e a transio de uma para outra, muito repentina.Principais caractersticas da terra dos Nuer: 1. Ela plana; 2. Possui solo argiloso; 3. Florestas muito ralas e espordicas; 4. Fica coberta com relva alta nas chuvas; 5. Est sujeita a chuvas fortes; 6. cortada por grandes rios que transbordam anualmente; 7. Quando cessam as chuvas e os rios baixam de nvel, fica sujeita a seca severa.

Tais caractersticas interagem umas com as outras e compem um sistema ambiental que condiciona diretamente a vida dos Nuer e influencia a estrutura social. A determinao de natureza to variada e complexa...

- A regio que os Nuer ocupam mais adequada pra criao de gado, a tendncia do meio ambiente coincide com suas preferncias e no encoraja uma mudana de equilbrio a favor da horticultura.- Os Nuer no podem viver num s lugar o ano todo (exceto em alguns pontos favorecidos). As inundaes levam-nos, e a seus rebanhos, a procurar a proteo de terras mais altas. A falta de gua e de pastos nesse solo mais elevado fora-os a mudar durante a seca. Da sua vida ser migratria por necessidade, ou mais estritamente, transumante. Outra razo para mudar a sua falta de habilidade para subsistir unicamente com os produtos do gado.- Excesso ou falta de gua o primeiro problema com que se depara o Nuer.- Cada agrupamento domstico possui o seu prprio poo.* No s os movimentos dirios e peridicos so influenciados pela distribuio da relva, mas tambm a direo em que se d a expanso dos Nuer tem sido controlada por seu habitat.- Assim, variaes nas reservas de gua e na vegetao foram os Nuer a se mudarem e determinam a direo de tais mudanas. (a pesca Tb tem peso nesses movimentos...insetos...)- Os Nuer so forados a formar aldeias para ter proteo contra inundaes e mosquitos e para poderem dedicar-se horticultura, e so forados a deixar as aldeias para formar acampamentos em virtude da seca e escassez da vegetao e para dedicar-se pesca.- Grupos pequenos de casas pontilham aqui e ali, rodeados e separados pelas hortas e pastos. Os Nuer preferem viver nessa maior intimidade e no mostram ter inclinaes para a verdadeira vida de aldeia.- Casa Nuer: um estbulo e algumas choupanas.

* sahlins A construo e reparao em geral tm lugar no comeo da estao seca, quando h bastante palha para os telhados e bastante sorgo para fornecer cerveja aos que ajudam no trabalho.* sahlins/Barth Usar os pastos, relva, rvores, etc. direito comum de todos os membros de uma comunidade alde.

freqente que as famlias mudem sua residncia de uma parte da aldeia para outra e de aldeia para aldeia, e, no caso de aldeias pequenas, se ocorrerem muitas mortes, o gado *escasseia e h muitas lutas dentro da aldeia, ou se os pastos e culturas esto exauridos, pode ser que toda comunidade se mude para um novo local.

Insetos: outra circunstncia que determina os movimentos dos Nuer a abundncia de insetos, que constituem uma ameaa sempre presente, pois o gado descansa pouco com picadas de moscas e carrapatos da manh at a noite e chega mesmo a morrer se seu dono no lhe d alguma proteo. (os mosquitos abundam na estao das chuvas)- A existncia de ts-ts no cinturo de florestas que se estende ao longo das encostas da cadeia etope impediu que os Nuer se expandissem mais para leste do que fizeram.Duas doenas contagiosas mais srias: pleuropneumonia bovina e peste bovina (introduzida a menos de 50 anos)- A peste bovina tem causado e continua a causar uma terrvel devastao nos rebanhos. - Eles precisam ter uma economia mista para compensar at certo ponto...- Os Nuer procuram, como alternativa, reparar suas perdas pilhando intensivamente seus vizinhos dinka, transferindo para estes as perdas de cabeas de gado que sofreram. *Sabemos que os nuer pilhavam os Dinka antes que a peste surgisse na regio, mas provvel que as relaes estrangeiras tenham sido afetadas por um maior estmulo agresso.- eu Gado limitado pq: 1. Peste bovina. 2. Dotes de casamento. 3. Fornecimento de leite por tempo limitado.- eu Soluo: economia mista, diminuir valor dos dotes e pilhar os dinkas.Peixes: para subsistir os Nuer tm de lanar mo de uma economia mista, j que seus rebanhos no fornecem uma alimentao adequada. A safra de sorgo magra e incerta. Peixe torna-se indispensvel e a procura deles influencia os movimentos peridicos.- Os Nuer no se consideram um povo aqutico e desprezam povos como os Shilluk que, segundo eles, vivem principalmente da pesca e da caa aos hipoptamos.- Pesca idealmente desprezada, mas na pratica apreciam a pesca e sensao de bem estar de um dieta com peixe.- Pescam bastante no pice da estao da seca e os rios abundam de peixes.- Tribos e sees tribais guardam zelosamente seus direitos de pesca, e se as pessoas que quiserem pescar intensivamente em um reservatrio precisam primeiro obter permisso de seus proprietrios se no quiserem provocar lutas.- Os Nuer so bons arpoadores mas sob outros aspectos no so pescadores muito engenhosos.

Caa: a terra dos nuer tambm muito rica em caa, embora os Nuer no explorem intensivamente essa fonte de alimentos: rebanhos de tiang e COB, antlopes, bfalos, elefantes e hipoptamos.- Os Nuer comem todos os animais, exceto os carnvoros, macacos, alguns roedores menores e as zebras.- Raras vezes saem para caar animais, exceto gazelas e girafas, e perseguem apenas aqueles que se aproximam dos acampamentos.- No so caadores entusiastas e tratam o esporte com alguma condescendncia. - A falta de interesse tambm se explica pela natureza da regio de plancies abertas, o que oferece poucas oportunidades para caar com lanas.- Recusam todos os repteis.- Abundam aves: avestruzes, abetardas, galinhas-de-angola, gansos, patos, marrecos, porm os Nuer acham vergonhoso que os adultos as comam, exceto na escassez muito grande. No criam aves domesticas e mostram repugnncia a ideia de com-las.- Caa muito simples, como a pesca. Poucos artifcios tcnicos e, exceto a armadilha de rodas denteadas, nenhum artifcio mecnico. At desprezam-na, uso indigno de homens que possuem gado, mas permissvel para pessoas pobres.- Concluso: a caa no fornece aos Nuer muita carne e que eles no a apreciam muito enquanto esporte.Coleta: frutas selvagens, sementes e razes no constituem itens importantes na dieta Nuer.* Pesca, caa e colheita so ocupaes da estao seca e produzem, nessa estao, o complemento necessrio a uma dieta de leite insuficiente.- Na estao das chuvas, quando tais atividades no so mais rentveis e o leite tende a diminuir, as chuvas pesadas, que provocam as mudanas responsveis por essas perdas de suprimento, produzem condies adequadas a horticultura, impossvel na seca, que ir substitu-las.A variao no suprimento de alimentos durante o ano inteiro e sua suficincia para a vida em todas as estaes , assim, determinada pelo ciclo anual de mudanas ecolgicas.

* Sem cereais na estao das chuvas, os Nuer estariam em pssima situao e, j que eles podem ser guardados, os Nuer podem tambm, at certo ponto, fazer reservas, para enfrentar a fome na estiagem.

Horticultura: o principal cultivo o sorgo (at duas safras para mingau e cerveja), depois vem o milho e algum feijo. Tambm tabaco tambm.H terra suficiente para todos dentro da escala nuer de explorao do solo e, conseqentemente, no surgem questes sobre sua propriedade. * Parte-se do principio de que um homem tem o direito de cultivar o solo situado atrs de sua casa, a menos que algum j o esteja usando, e o homem pode escolher qualquer lugar fora da aldeia que no esteja ocupado pela horta dos outros.* Os recm-chegados sempre so, de alguma forma, aparentados a algum dos habitantes da aldeia, e parentes no brigam por causa de hortas.

- O sorgo muito difcil pegar, mas uma vez que pega bastante resistente s variaes climticas.- No conheci uma nica estao na terra dos Nuer em que a seca ou a chuva excessiva no tenham, at certo ponto, destrudo as colheitas depois da semeadura.- No conhecem rotao de plantio e no descansam o solo, usam-no at exauri-lo.- No armazenam em celeiros mas em receptculos feitos de plantas e cermica, guardados em choupanas.- O sorgo no apenas um substitutivo na dieta mas um alimento essencial do qual depende a sua sobrevivncia.- Os nuer reconhecem a sua importncia e so horticultores esforados. Contudo eles consideram a horticultura uma necessidade infeliz, que envolve trabalho duro e desagradvel, e no uma ocupao ideal, e tendem a agir baseados na convico de que quanto maior o rebanho, menor ter de ser a horta.Concluses: 1. Os nuer cultivam apenas cereal suficiente para constituir um dos elementos de duas reservas de alimentos enao o bastante para viver s dele. 2. No seria rentvel um aumento da horticultura com o clima e tecnologia atuais. 3. A predominncia do valor pastoril sobre os interesses hortcolas esto conforme s relaes ecolgicas, que favorecem a criao de gado s custas da horticultura.* Os valores nuer e as relaes ecolgicas, portanto, combinam-se para manter a preferncia pela criao de gado, apesar da peste bovina t-la transformado numa ocupao mais precria do que anteriormente.

Os nuer precisam de uma economia mista nas relaes ecolgicas dadas, porque nenhuma fonte nica de alimentao basta para mant-los vivos, e que a atividade predominante na produo de alimentos de cada estao determinada pelo ciclo ecolgico. Os diferentes elementos da dieta, portanto, possui um relacionamento ecologicamente determinado uns com os outros.

Quando h, no mesmo ano, peste bovina e falha das colheitas, sabe-se que as pessoas mais velhas sero dizimadas.- Meses de fome: maio a agosto, quando o suprimento de peixes diminui rapidamente e o sorgo e o milho esto ainda amadurecendo. Meses de fartura: de setembro a meados de dezembro, h sorgo abundante e muita carne e o final desse perodo a melhor poca para a pesca.* Mesmo em anos normais os Nuer no recebem tanta alimentao quanto precisam.

- Sorgo importante para as cerimnias, mingau e cerveja.

- Comeo da estiagem, final da estao das chuvas, melhor poca para pilhar os Dinka. Fome e guerra so ms companheiras.

***

* Sahlins A ocasional escassez de alimentos e a pequena margem que durante a maior parte do ano separa a suficincia da fome provocam um alto grau de interdependncia entre membros dos grupos locais menores, os quais, pode-se dizer, possuem um estoque comum de alimentos.* Embora cada agrupamento domstico possua seus prprios alimentos, cozinhe para si mesmo e abastea independentemente as necessidades de seus membros, homens e um pouco menos mulheres e crianas comem uns em casa dos outros at o ponto em que, olhando-se de fora, v-se a comunidade inteira partilhando de um mesmo suprimento.* sahlins As regras de hospitalidade e as convenes sobre a diviso da carne e do peixe levam a uma partilha muito maior da comida do que seria sugerido pela mera apresentao dos princpios da propriedade.- Os rapazes comem em todos os estbulos da vizinhana; toda casa d festas de cerveja que so freqentadas pelos vizinhos e parentes; as mesmas pessoas recebem comida e cerveja no mutiro feito por ocasio de qualquer trabalho difcil e trabalhoso; nos acampamentos, considera-se correto que os homens visitem os abrigos contra o vento de seus amigos para beber leite, e guarda-se para as visitas uma cabaa especial com leite azedo; quando se sacrifica um boi ou se mata algum animal selvagem, a carne sempre, de uma maneira ou de outra, distribuda amplamente; espera-se que as pessoas presenteiem parte dos peixes que apanham queles que pedirem; as pessoas ajudam-se mutuamente quando h escassez de leite ou cereais; e assim por diante.- essa assistncia mtua e consumo comum de alimentos, que se torna especialmente evidente nos compactos acampamentos da estao seca, pertence mais ao tema das relaes domsticas e parentesco do que ao presente relato.Sahlins Salientar: 1. O hbito de partilhar, a partilha, facilmente compreensvel dentro de uma comunidade onde provvel que todos se encontrem em dificuldades de tempos em tempos, pois a escassez e no a abundncia que torna as pessoas generosas, uma vez que todos ficam, assim, garantidos contra a fome. Aquele que passa necessidades hoje recebe ajuda de quem pode estar em situao semelhante amanh. 2. Enquanto a maior partilha se d entre grupos menores, domsticos ou de parentesco, existe tambm bastante assistncia mtua e hospitalidade entre membros de aldeias e acampamentos, que se pode falar de uma economia comum a essas comunidades, que so tratadas neste livro como os menores grupos polticos da terra dos nuer e no interior dos quais presumem-se existir laos de parentesco, afinidades, conjuntos etrios e assim por diante.

- No tm ferro, pedra, usam materiais vegetais e terrosos e materiais dos corpos do gado e, em menor medida, animais selvagens.- Alguns exemplos de usos dos produtos animais do uma ideia geral das limitaes impostas economia nuer pelo meio ambiente e da maneira pela qual eles conseguem superar a pobreza natural da regio.- Os nuer no vivem na idade da pedra, nem do ferro, mas numa idade em que plantas e animais suprem as necessidades da tecnologia.* Deficincia de suprimentos alimentares e outras matrias-primas podem ser corrigidas pelo comrcio. Contudo, parece que os Nuer dedicaram-se muito pouco a ele.

- Parte do ferro foi pilhado, mas uma parte foi comercializada.

- Os Nuer obtm algumas poucas coisas dos mercadores rabes como lanas, enxadas, anzis em troca de peles de vaca e algumas vezes cabeas de gado. Os nuer no vendem sua fora de trabalho.

O comrcio um processo social de importncia muito reduzida entre os Nuer. Razes:- Os Nuer no tm nada para comercializar exceto gado, e no possuem qualquer disposio para desfazer-se dele; tudo o que desejam intensamente ainda mais gado. Os rebanhos tambm podem ser aumentados de modo mais fcil e agradvel por meio de ataques contra os Dinka.- Raras vezes esto em termos bastante amistosos com seus vizinhos para que o comrcio possa florescer entre eles. Embora possa ter havido algum espordico intercmbio com os Dinka e os Anuak, provvel que a maioria dos objetos obtidos desses povos tenha sido saqueada.- Interesse predominante pelo gado faz com que eles no prestem ateno aos produtos de outros povos, pelos quais no sentem, de fato, necessidade e, com bastante freqncia, demonstram desprezo.H muito pouco comrcio dentro da prpria terra dos Nuer, no havendo grande especializao e diversidade na distribuio da matria-prima. O nico comrcio que presenciei, alem do intercambio de pequenos utenslios e servios de pequeno porte mencionados na seo seguinte, o intercmbio de algumas reses, principalmente bois, feitos pelos Lou, em troca de cereais dos Gaajok do leste num ano de escassez.

Deve-se reconhecer que os nuer possuem uma tecnologia primaria que, tomada juntamente com seu magro suprimento de alimentos e seu comercio espordico, pode ter chegado a causar algum efeito sobre seus relacionamentos sociais e seu carter.* sahlins Os laos sociais esto como que estreitados e os habitantes das aldeias e dos acampamentos bastante unidos, num sentido moral, porque so, conseqentemente, altamente interdependentes e suas atividades tendem a ser empreendimentos conjuntos.(ex: estao seca: animais num kraal comum e atividades cotidianas so coordenadas num ritmo de vida comum).Arrisco-me a ser acusado de falar levianamente quando sugiro que uma cultura material muito simples estreita os laos sociais de uma outra maneira.- A tecnologia, sob um ponto de vista, um processo ecolgico:uma adaptao do comportamento humano s circunstncias naturais...* Sob outro ponto de vista, a cultura material pode ser considerada como parte das relaes sociais, pois os objetos materiais so correntes ao longo das quais correm os relacionamentos sociais e, quanto mais simples for uma cultura material, mais numerosos so os relacionamentos que se expressam atravs dela.- Ex: rebanhos de gado so ncleos em torno dos quais se renem os grupos de parentesco, e os relacionamentos entre seus membros se operam atravs do gado e so expressos em termos de gado. Um nico artefato como uma lana pode ser um vnculo entre pessoas: ela passa de pai pra filho como presente ou legado um smbolo de seu relacionamento e um dos vnculos pelos quais esse relacionamento mantido.- como os nuer possuem muitos poucos objetos materiais o valor social deles aumentado devido a terem de servir como mediao de muitos relacionamentos e, freqentemente, como conseqncia, investidos de funes rituais.- concluindo: os relacionamentos sociais, ao invs de estarem difusos ao longo de muitas correntes de vnculos materiais, esto estreitados pela pobreza da cultura em alguns simples focos de interesse.(pequena gama de formas de relacionamento com alto grau de solidariedade)

* Pode-se dizer que alguns traos salientes do carter nuer so coerentes com sua tecnologia primria e escasso suprimento de alimentos.- Escolados pelas dificuldades e pela fome manifestam desprezo por ambas eles aceitam as piores calamidades com resignao e suportam-nas com coragem. Satisfeitos com alguns poucos bens, desprezam tudo que se situa alm destes. - Dependentes uns dos outros, so leais e generosos para seus parentes.* As qualidades mencionadas coragem, generosidade, pacincia, orgulho, lealdade, teimosia e independncia so virtudes que os prprios nuer exaltam, e esses valores mostram-se muito adequados para o modo de vida simples que levam e para o conjunto simples de relaes sociais que geram.

Pontos finais:1. No se pode tratar as relaes econmicas dos nuer em si mesmas, pois elas formam parte de relacionamentos sociais diretos de um tipo geral sahlins.* A pessoa que quer o objeto e a pessoa que o faz sempre pertencem mesma comunidade local e fazem o negcio entre si, no havendo intercambio de objetos ou servios atravs de uma terceira pessoa, e sempre h entre elas um relacionamento social genrico de alguma espcie, e suas relaes econmicas se que podem ser chamadas assim devem estar conformes a esse padro geral de comportamento.2. H pequenos desnveis de riqueza e nenhum privilgio de classe. Uma pessoa no adquire mais objetos do que pode usar. Se fizesse, somente poderia dispor deles dando-os de presente.- rebanho tem proprietrio, se que se pode chamar proprietrio de um rebanho sobre o qual muitas pessoas possuem direitos de um tipo ou outro. (dispe dele contraindo casamento ou ajudando um parente a faz-lo).- as pessoas emprestam gado com um melhor devolvido, mas emprestam somente queles com quem estabeleceram relacionamentos sociais.3. A famlia simples pode ser chamada de unidade econmica, mas ela no auto-suficiente e a participao ativa num grupo mais amplo freqentemente necessria. (na construo, na pesca e na caa...)- H cooperao entre vizinhos que so tambm parentes.- H assistncia mtua, como na colheita, sendo obrigao ajudar um relacionamento de parentesco geral.4. Caa, pesca, cuidar do rebanho so sempre aes coletivas mesmo q no haja cooperao direta....uma nica pessoa pode levar o rebanho pro pasto, mas s pode fazer essas coisas porque pertence a uma comunidade e porque suas aes esto relacionadas com um sistema produtivo.A tradio dita fins e meios, e a organizao e fora potencial da comunidade fornece a coordenao e a segurana necessrias para a realizao da tarefa.- Toda comunidade da aldeia est consumindo um estoque comum de alimentos, o que quer dizer que toda a comunidade o cria.*As relaes econmicas entre os nuer so parte de relacionamentos sociais gerais e estes relacionamentos so principalmente de ordem domstica ou de parentesco.- Os membros dos vrios segmentos de uma aldeia possuem relaes econmicas ntimas e que os habitantes de uma aldeia possuem interesses econmicos comuns, formando uma corporao que dona de suas hortas particulares, das reservas de gua, dos reservatrios de peixes, e dos pastos; opera conjuntamente na criao de gado, defesa e outras atividades; e especialmente nas aldeias menores, existe muita cooperao no trabalho e na partilha de alimentos.

As condies climticas, juntamente com o modo de vida pastoril exigem relacionamentos que ultrapassam os limites da aldeia e do uma finalidade econmica a grupos polticos mais amplos.

Mais concluses:

1. as relaes ecolgicas parecem estar em equilbrio. Atividades presentes podem ser continuadas, mas no melhoradas.2. A necessidade de uma economia mista conseqncia do equilbrio ecolgico.- peste bovina impede uma dependncia completa de uma alimentao a base de laticnios; o clima impede uma dependncia completa dos cereais; variaes hidrolgicas impedem uma dependncia completa da pesca.- esses trs elementos em conjunto permitem que os nuer subsistam, e sua distribuio pelas estaes do ano determina o modo de vida deles nos diferentes perodos do ano.3. A ecologia d a essa economia mista uma inclinao para a criao de gado esse preferncia deve ter sido muito mais forte antes do surgimento da peste. Est de acordo com o lugar superlativo que o gado ocupa na escala de valores nuer.4. Uma vida totalmente sedentria ou nmade so igualmente incompatveis com a economia nuer que exige transumncia. A localizao e o tamanho das aldeias da estao das chuvas e a direo do movimento na estao da seca so determinados por sua ecologia.

5. a escassez de alimentos, uma tecnologia pobre, e a falta de comercio tornam os membros de grupos locais pequenos diretamente interdependentes e tendem a transform-los em corporaes econmicas e no meras unidades residenciais s quais se vincula um determinado valor poltico.(as mesmas condies e o fato de se levar uma vida pastoril em circunstncias adversas produzem uma interdependncia indireta entre pessoas que vivem em reas muito maiores e fora a aceitao, por parte delas, de convenes de ordem poltica).6. A antiga tendncia para migrar, a transumncia atual, e o desejo de reparar as perdas de gado atravs de saques contra os Dinka aumentam a importncia poltica das unidades maiores do que as aldeias, porque estas no podem, por razes econmicas e militares, manter com facilidade de um isolamento auto-suficiente, e permitem-nos discutir o sistema poltico principalmente enquanto conjunto de relaes estruturais entre segmentos territoriais maiores do que as comunidades das aldeias.5. Tempo e espao

Sistema social: sistema dentro do sistema ecolgico, parcialmente dependente deste e parcialmente existindo por direito prprio.A maioria dos conceitos de espao e tempo determinada pelo ambiente fsico, mas os valores que eles encarnam constituem apenas uma das muitas possveis respostas a este ambiente e dependem tambm de princpios estruturais que pertencem a uma ordem diferente de realidade.

- Interessados na influncia das relaes ecolgicas nas instituies.

Conceitos nuer de tempo: (referem-se a sucesses de acontecimentos)1. Aqueles que so principalmente reflexos de suas relaes com o meio ambiente - o tempo ecolgico.- limita-se a um ciclo anual, no serve para perodos mais longos do que estaes do ano.- Cclico: um ano. Ano (ruon). Duas estaes: tot (meio de maro a meados de set) e mai. Tot a estao das chuvas mas no coincide exatamente com ela. * O conceito de estaes deriva mais das atividades sociais do que das mudanas climticas que as determinam, e o ano consiste para os nuer num perodo de residncia na aldeia (cieng) e em outro de residncia no acampamento (wec).2. E os que so reflexos de suas relaes mtuas dentro da estrutura social tempo estrutural.- Perodos maiores de tempo (pq os acontecimentos que relacionam so mudanas no relacionamento de grupos sociais)- futuro estrutural de um indivduo est previsto, se viver.#

H duas estaes de seis meses ou quatro estaes de trs, tot (aldeia/chuvas), rwil, mai (acampamento/seca)e jiom; mas no se deve considerar essas divises com muita rigidez j que no so tanto unidades exatas de tempo, quanto vagas conceituaes de mudanas nas relaes ecolgicas e nas atividades sociais que passam imperceptivelmente de um estado a outro.- clivagem entre dois conjuntos opostos de relaes ecolgicas e atividades sociais.

Uma vez que as palavras tot e mai no so puras unidades de contagem de tempo, mas fazem s vezes de amontoados de atividades sociais caractersticas do auge da seca e do auge das chuvas.

Calendrio lunar com ano de 12 meses.- Um ciclo de 12 meses no afeta os nuer, pois o calendrio est ancorado ao ciclo de mudanas ecolgicas.- Os nuer no usam muito os nomes dos meses pra indicar a poca de algum acontecimento, mas referem-se geralmente a alguma atividade de destaque que est em processo na poca de sua ocorrncia.- Dias: contam-se sonos, ou sois, mais dificilmente.- Dia preciso no futuro: qual noite do crescente ou minguante ocorrer.* Tempo, para eles, consiste numa relao entre vrias atividades.Movimentos do sol (posies): poucas- o relgio dirio o gado....* Seleciona-se apenas os movimentos dos corpos que so significativos para as atividades sociais.* So as prprias atividade (notadamente as de tipo economico) que constituem as bases do sistema e fornecem a maioria de suas unidades e notaes, e a passagem do tempo percebida na relao que uma atividade mantm com as outras.- atividades dependem do movimento dos corpos celestes mas o movimento dos corpos celestes significativo somente em relao s atividades.* Os movimentos dos corpos celestes permitem que os Nuer selecionem pontos naturais que so significativos em relao s atividades.- unidades de atividade claramente diferenadas.O tempo no possui o mesmo valor durante o ano.- seca: rotina mais precisa e sem acontecimentos marcantes...- ...seca: contagem do tempo dirio mais uniforme e precisa, enquanto q a contagem lunar recebe menos ateno.

*Os nuer no tem um sistema abstrato de tempo como nos temos. Os acontecimentos tem uma lgica mas no so controlados por um sistema abstrato, referencial autnomo ao qual as atividade tm q se conformar.Concluir: o sistema nuer de contagem de tempo dentro do ciclo anual e das partes do ciclo consiste numa serie de concepes das mudanas naturais e que a *seleo de pontos de referncia determinada pela significao que essas mudanas naturais tm para as atividades humanas.#

H um ponto onde os conceitos de tempo cessam de ser determinados por fatores ecolgicos e tornam-se mais determinados pelas inter-relaes estruturais, no sendo mais um reflexo da dependncia do homem da natureza, mas um reflexo da interao de grupos sociais.

(- Ano a maior unidade de tempo ecolgico.)Uma vez que o tempo para os nuer uma ordem de acontecimentos de significao importante para um grupo, cada grupo possui seus prprios pontos de referncia, e o tempo , em conseqncia, relativo ao espao estrutural, considerado em termos de localidade.- Nomes dados aos anos consistem em inundaes , epidemias, pestes, fomes e guerras pelos quais a tribo passou.Outra maneira de indicar quando os fatos ocorreram: no em nmero de anos, mas em referncia ao sistema de conjuntos-etrios.* - distncia entre acontecimentos cessa de ser calculada em termos de tempo, tal como o compreendemos, e calculada em termos de distncia estrutural, sendo a relao entre grupos de pessoas. , portanto, inteiramente relativo estrutura social.... Assim um nuer pode dizer que um acontecimento ocorreu depois que o conjunto etrio Thut nasceu ou perodo de iniciao do conjunto etrio Boiloc, mas ningum pode dizer h quantos anos aconteceu.- seis conjuntos existentes com intervalo de dez anos entre anos.- O tempo , aqui, calculado em conjuntos.* O sistema estrutural de contagem de tempo consiste parcialmente na seleo de pontos de referncia que sejam significativos a grupos locais e que forneam a esses grupos uma histria comum e distinta; parcialmente na distncia entre conjuntos especficos no sistema de conjuntos etrios; e parcialmente nas distncias de uma ordem de parentesco e linhagem.(tempo mtico e tradicional: reflexo de relaes entre linhagens)- Dimenso temporal nuer pouco profunda. (leva para trs dez, no Maximo doze geraes na estrutura de linhagem/a rvore de onde surgiu a humanidade existia h pouco tempo).- Distncia entre o comeo do mundo e o dia de hoje permanece inaltervel..... o tempo assim no um contnuo, mas um relacionamento estrutural constante entre dois pontos, a primeira e a ltima pessoa numa linha de descendncia agntica.

- Alm do ciclo anual, a contagem do tempo uma concepo da estrutura social, e os pontos de referncia so uma projeo no passado de relaes concretas entre grupos de pessoas. Ele no tanto um meio de coordenar acontecimento, quando de coordenar relacionamentos...

Conclusao: o tempo estrutural um reflexo da distncia estrutural.Barth A distncia ecolgica uma relao entre comunidades definida em termos de densidade e distribuio, e com referncia a gua, vegetao, vida animal e de insetos e assim por diante. A distncia estrutural de ordem muito diversa, embora sempre seja influenciada e, em sua dimenso poltica, amplamente determinada pelas condies ecolgicas.

* Por distncia estrutural queremos dizer a distncia entre grupos de pessoas dentro de um sistema social, expressa em termos de *valores.A natureza da regio determina a distribuio de aldeias e, por conseguinte, a distncia entre elas, porm os *valores limitam e definem a distribuio em termos estruturais e fornecem um conjunto diferente de distncia.(uma aldeia nuer pode estar eqidistante de outras duas aldeias, mas se uma destas pertencer a uma tribo diferente ela est estruturalmente mais distante daquela da outra tribo)Aldeia: tamanho de uma aldeia depende do espao disponvel para construes, pastagens e horticultura./aldeolas: pequenos agrupamentos de choupanas e estbulos. Separados por hortas e pastos de outras aldeolas.- Os grandes rios que correm nas terras dos nuer indicam muitas vezes as linhas de diviso poltica. (e pntanos)Distribuio demogrfica: 1. Condies fsicas so responsveis pela escassez de alimentos e tambm uma tecnologia simples e provocam uma baixa densidade e uma distribuio esparsa das reas de fixao.- A falta de coeso poltica e de desenvolvimento pode ser relacionada com a densidade e distribuio dos Nuer e sua simplicidade estrutural tambm pode ser devida s mesmas condies.2. O tamanho dos trechos de terreno mais elevado e as distncias entre eles permitem em algumas partes uma concentrao maior e mais compacta do que em outras.3. Onde h grande densidade de populao nas chuvas, h tendncia de haver maior necessidade de grandes deslocamentos (distncia) na estiagem.* - Essa necessidade fora ao reconhecimento de um valor tribal comum por grandes reas e permite-nos compreender melhor como que, apesar de uma necessria falta de coeso poltica entre as tribos, elas freqentemente possuem uma populao to grande e ocupam um territrio to vasto.[condies fsicas causam baixa densidade causam falta de coesao poltica / grande densidade nas chuvas causam deslocamentos distantes na estiagem causam reconhecimento de valor tribal comum por grandes reas]#introito ao prox. captulo#

* Distncia estrutural a distncia entre grupos de pessoas na estrutura social e ela pode ser de diferentes tipos.- * Distncia poltica, distncia de linhagem e distncia de conjunto etrio. (que aqui nos interessam)- A distncia poltica entre aldeias de uma seo tribal terciria menor do que a distncia entre segmentos tercirios de uma seo tribal secundria....- A distncia de conjunto etrio entre segmentos de um conjunto etrio menor do que a distncia entre conjuntos etrios sucessivos e est menor do que a distncia entre conjuntos etrios que no so sucessivos.- choupana grupo familiar residencial simples: esposa, filhos e ocasionalmente o marido.- casa o agrupamento domstico: um estbulos e choupanas, contm um nico grupo familiar ou uma famlia polgama e tvz um outro parente.- aldeola ocupada por parentes gnatos prximos.

- aldeia uma relao entre vrias unidades menores, no uma unidade no segmentada. Uma unidade muito diferenada._ cieng: aldeia, lar, casa.....aldeia: compreende uma comunidade, vinculada por residncia comum e por uma rede de parentesco e laos de afinidades, com grande cooperao....... aldeia o menor grupo nuer que no especificamente de ordem de parentesco e a unidade poltica da terra dos nuer.- as pessoas de uma aldeia tem um forte sentimento de solidariedade contra outras aldeias e grande afeio por sua localidade.- os membros de uma aldeia lutam lado a lado e apiam-se mutuamente nas contendas.- Acampamento de gado (wec): na estiagem, participam membros de aldeias vizinhas....sentido geral de comunidade local (cieng e wec)...composio algo diferente.... no acampamento h contatos mais freqentes entre eus membros e maior coordenao de suas atividades. (o gado pastoreado em conjunto, ordenhado ao mesmo tempo, etc. ...numa aldeia, cada agrupamento familiar cuida de seu prprio gado... desempenha suas tarefas domesticas e no kraal independentemente e em horas diferentes)

- Distrito: agregado de aldeias ou acampamentos que se comunicam fcil e freqentemente entre si.... no constitui uma categoria ou grupo poltico nuer pq as pessoas no vem a si mesmas, nem so vistas pelas demais, como uma comunidade nica.... termo que empregamos para denotar a esfera de contatos sociais de um homem ou dos contatos sociais das pessoas de uma aldeia, , portanto, relativo pessoa ou a comunidade da qual se fala.... tende a corresponder a um segmento tribal tercirio ou secundrio, de acordo co o tamanho da tribo.... a esfera de contatos sociais de um homem pode, ento no coincidir inteiramente com qualquer diviso estrutural.* sahlins compreensvel, portanto, que as comunidades locais que - embora isoladas nas chuvas so foradas na seca a relacionamentos que exigem algum sentimento de comunidade e a aceitao de certas obrigaes e interesses comuns, estejam contidas numa estrutura tribal comum. * sahlins Quanto mais severas as condies de estiagem, maior a necessidade de algum tipo de contato e, portanto, de tolerncia e reconhecimento da interdependncia.

Pode ser que haja uma vasta disperso de comunidades e baixa densidade de populao, mas ocorre uma contrao peridica e ampla interdependncia.A variao em seus circuitos de transumncia tambm nos ajuda a entender a variao no tamanho das tribos nuer..... em parte alguma as condies do meio ambiente permitem completa autonomia e exclusividade dos pequenos grupos das aldeias (Anuak) ou uma alta densidade de populao e instituies polticas desenvolvidas. (como shilluk) [ver barth]* Assim, por um lado, as condies do meio ambiente e os objetivos pastoris so a causa dos modos de distribuio e concentrao que fornecem as linhas de diviso poltica e so contrrios coeso e desenvolvimento poltico; mas por outro lado, tornam necessrio extensas reas tribais dentro das quais existe um sentimento de comunidade e uma disposio de cooperar. Cada tribo possui um nome que tanto se refere a seus membros, quanto regio que ocupa.Os membros de uma tribo tm um sentimento comum para com sua regio e, portanto, para com os demais membros. ...se manifesta quando falam de sua tribo como objeto de lealdade, no orgulho que mostram, na depreciao jocosa de outras tribos e na *indicao de variaes culturais em sua prpria tribo como smbolo de sua singularidade.* [cad a estrut.inter. barth] .... um homem de uma tribo v os habitantes de outra como um grupo indiferenado, para o qual ele tem um padro indiferenado de comportamento, enquanto v a si mesmo como um membro de um segmento de sua prpria tribo.- * [aqui?] assim quando um leek diz que fulano um nac (rengyan), ele define imediatamente seu relacionamento com este.O sentimento tribal baseia-se tanto na oposio s outras tribos, como no nome comum, no territrio comum, na ao conjunta na guerra, e na estrutura comum de linhagem de um cl dominante.* A Tribo constitui o maior grupo cujos membros consideram como seu dever juntar-se para ataques ou aes defensivas.- disputas fronteirias entre tribos e mesmo uma tribo atacar a outra tendo em vista o gado; tais lutas so tradicionais entre os Nuer.

- Lutas: todas as suas brigas provm dos pastos, que disputam, o que no impede que uns viagem pelas terras dos outros sem qualquer risco, a menos, contudo, que haja algum parente a ser vingado.

- Uma tribo pode ser considerada uma unidade militar.(quando se une para guerra haver uma trgua nas disputas internas dentro de suas fronteiras)- As tribos especialmente as menores- freqentemente unem-se para saquear estrangeiros.A luta entre as diferentes tribos Nuer era de carter diverso da luta entre Nuer e Dinka. ....A luta intertribal era considerada mais feroz e mais perigosa, mas estava sujeita a certas convenes: mulheres e crianas nada sofriam, casas e estbulos no eram destrudos e no se fazia prisioneiros. E tambm, os demais Nuer no eram considerados como presa natural, como eram os Dinka.

Tribo.......dentro dela existe cut, riqueza paga como ressarcimento de um homicdio e os nuer explicam o valor tribal em termos dela....h ruok, ressarcimento de danos que no so homicdios, embora a obrigao de pagar seja menos enftica.... entre uma tribo e outra no se reconhece qualquer obrigao desse gnero....existe lei (no sentido limitado e relativo) entre membros de uma tribo, mas no entre tribos.... se algum comete o mesmo ato contra o homem de outra tribo no se reconhece qualquer rompimento da lei, no se sente que h qualquer obrigao para dirimir a questo, e no h negociaes para conclui-la.* Tribo definida por: 1. Um nome comum e distinto. 2. Um sentimento comum. 3. Um territrio comum e distinto dos demais. 4. Uma obrigao moral de unir-se para a guerra. 5. Uma obrigao moral de resolver brigas e disputas atravs do arbitramento. 6. Uma tribo uma estrutura segmentada e h oposio entre seus segmentos. 7. Dentro de cada tribo existe um cl dominante e a relao entre a estrutura de linhagem e o sistema territorial da tribo de grande importncia estrutural. 8. Uma tribo constitui uma unidade dentro de um sistema de tribos. 9. Os conjuntos etrios so organizados tribalmente.Tribo..- tribos adjacentes opem-se umas s outras e lutam entre si. Algumas vezes elas se juntam contra os Dinka, mas tais combinaes constituem federaes frouxas e temporrias para uma finalidade especifica e no correspondem a qualquer valor poltico ntido.*- alem desses sistemas de relaes polticas diretas, todo o povo nuer se v como uma comunidade nica e sua cultura, como uma cultura nica. - .... a oposio aos vizinhos d aos Nuer uma conscincia de grupo e um forte sentimento de serem exclusivos.*... sabe-se que algum nuer por sua cultura, que muito homognea, especialmente por sua lngua, pela falta de seus incisivos inferiores e, se for um homem, por seis cortes no superclio.*... todos os nuer vivem num territrio continuo. No h sees isoladas. Contudo seu sentimento de comunidade mais profundo do que o reconhecimento da identidade cultural... estabelecem-se relaes de amizade quando se encontram fora de sua regio, um nuer jamais um estrangeiro para outro nuer.... um intercambio social constante flui atravs dos limites de tribos adjacentes e une seus membros, especialmente membros das comunidades na fronteira com estrangeiros, por muitos laos de parentesco e afinidade. (se um homem muda de tribo ele pode de imediato inserir-se no sistema de conjuntos etrios da tribo que adotou).*...os limites da tribo no so, portanto, os limites do intercambio social, e existem muitos vnculos entre os membros de uma tribo e os membros de uma outra.*... crculo de relacionamentos sociais ultrapassam as divises tribais, de modo que um viajante que cruza os limites de sua tribo pode sempre estabelecer alguma ligao com indivduos da tribo que visita, em razo da qual ele receber hospitalidade e proteo.... as tribos so, dessa maneira, grupos exclusivos politicamente, mas no correspondem exatamente esfera de relaes sociais de um individuo. Embora essa esfera tenda a seguir as linhas da diviso poltica (da mesma forma como o distrito de uma pessoa tende a igualar-se a seu segmento tribal)*Distinguir:1. Distncia poltica no sentido de distncia estrutural entre segmentos de uma tribo (a maior unidade poltica) e entre tribos dentro de um sistema de relaes polticas;2. Distncia estrutural geral no sentido de uma distncia no poltica entre vrios grupos sociais na comunidade que fala a lngua nuer as relaes estruturais no polticas so mais fortes entre tribos adjacentes, mas uma estrutura social comum abrange toda a terra nuer.3. A esfera social de um indivduo, sendo seu crculo de contatos sociais de um tipo ou de outro com outro nuer.

Sistema poltico = estrutura poltica dos nuer + vizinhos- tribos nuer e dinka contiguas so elementos dentro de uma estrutura comum. Seu relacionamento social de hostilidade, que encontra sua expresso na guerra.- Dinka:...inimigos imemoriais dos Nuer.*....assemelham-se na ecologia, cultura e sistemas sociais, de tal modo que os indivduos pertencentes a um dos povos so facilmente assimilados pelo outro.* barth... e quando a oposio de equilbrio entre um segmento poltico nuer e um segmento poltico dinka se transforma num relacionamento onde o segmento Nuer torna-se totalmente dominante, resulta numa fuso e no uma estrutura de classes.- Pilhar os Dinka: dever (inclusive mtico)Lutar, como criar gado, uma das principais atividades e um dos interesses dominantes de todos os homens nuer, e atacar os Dinka por causa de gado um dos passatempos prediletos.- redistribuio das pilhagens: sentimento nuer de igualdade e justia. (todos responsveis pelo sucesso)- at a conquista europia, as nicas relaes estrangeiros que se pode dizer terem sido expressas por guerras constantes eram as com as vrias tribos dinka que fazem fronteira com a terra dos nuer.- Embora as relaes dos Dinka com os Nuer sejam extremamente hostis e a guerra entre eles possa ser chamada de instituio estabelecida, eles ocasionalmente chegaram a unir-se para guerrear contra o governo egpcio e algumas vezes houve reunies sociais conjuntas.

* sahlins/barth Nas pocas de fome, muitas vezes os Dinka vieram residir na terra dos Nuer e foram prontamente aceitos e incorporados s tribos Nuer.- Dinka esto numa categoria de estrangeiros (jaang) considerada mais prxima dos nuer.- Relaes com os povos estrangeiros: estado de hostilidade equilibrada, um equilbrio de oposies.

* Entretanto, os nuer demonstram maior hostilidade e atacam com maior persistncia os Dinka, que so sob todos os aspectos mais assemelhados a eles, do que qualquer outro povo estrangeiro.- isso se deve at certo ponto facilidade com que podem saquear os vastos rebanhos Dinka e das reas vizinhas aos nuer apenas as terras dinka no opem serias desvantagens ecolgicas a um povo pastoril.O tipo de guerra existente entre nuer e dinka, levando em considerao a assimilao dos cativos e as relaes sociais intermitentes entre os dois povos entre as guerras, pareceria exigir um *reconhecimento de afinidades culturais de valores semelhantes.- a guerra entre dinka e Nuer no meramente um conflito de interesses, mas tambm um relacionamento estrutural entre os dois povos; e tal relacionamento requer um certo reconhecimento, por ambos os lados, de que cada um, at certo ponto, *a partilha dos sentimentos e hbitos do outro.

*-... As relaes polticas so profundamente influenciadas pelo grau de diferenciao cultural existente entre os Nuer e seus vizinhos. Quanto mais prximos dos Nuer esto os povos em termos de subsistncia, lngua, costumes, mais intimamente os Nuer os encaram, mais facilmente iniciam relaes de hostilidade com eles e mais facilmente fundem-se a eles.A diferenciao cultural est fortemente influenciada pelas divergncias ecolgicas, particularmente pelo grau em que povos vizinhos so pastoris, o que depende dos solos, reservas de gua, insetos e assim por diante.*- mas tambm, numa extenso considervel, independente de circunstncias ecolgicas, sendo autnoma e histrica.(pode-se sustentar que a semelhana cultural entre Dinka e Nuer pode determinar amplamente as suas relaes estruturais)Os nuer guerreiam contra um grupo que possui uma cultura parecida com a sua, mais do que entre si ou contra povos com culturas muito diferentes da sua.[Se os nuer no pudessem pilha-los, seriam mais antagnicos entre si e isso teria levado a uma maior heterogeneidade cultural do que existe hoje.]* As tendncias predatrias que os nuer partilham com outros nmades, encontram uma pronta vlvula de escape contra os Dinka, e isso pode explicar no apenas as poucas guerras entre as tribos nuer, como tambm, ser uma das explicaes do notvel tamanho de muitas tribos nuer, pois elas no poderiam manter a unidade que possuem se suas sees ficassem saqueando-se umas s outras com a mesma persistncia com que atacam os Dinka.Os nuer s atacam povos que tm gado e os Shilluk no o tem...

Em parte alguma os nuer tenham sido profundamente afetados pelo contato rabe.A truculncia e desprendimento que os nuer exibem esto conforme a sua cultura, organizao social e carter. A auto-suficincia e simplicidade de sua cultura e a fixao de seus interesses nos rebanhos explica por que eles no quiseram, nem estavam dispostos a aceitar inovaes europias e por que rejeitaram uma paz com a qual tinham tudo a perder.**** Sua estrutura poltica dependia, para sua forma e persistncia, de antagonismos equilibrados que somente podiam ser expressos na guerra contra os vizinhos se a estrutura era pra ser mantida.* o reconhecimento da luta , enquanto valor capital, o orgulho nas realizaes do passado e um profundo senso de sua igualdade comum e sua superioridade em relao a outros povos tornaram impossvel para eles aceitar de boa vontade a dominao, que at ento jamais tinham experimentado.Tempo (review): numa parte do tempo, o sistema de cont-lo , em sentido amplo, uma transformao de conceitos, em termos de atividade, ou de modificaes fisicas que fornece pontos de referencia convenientes para as atividades, ou aquelas fases do ritmo ecolgico que tm particular significao para eles.- em outra parte do tempo, ele uma idealizao de relaes estruturais, estando as unidades temporais coordenadas com unidades do espao estrutural (vimos em sua dimenso poltica e territorial). - (vimos os) valores atribudos a distribuio (territorial)Cieng- os valores so incorporados em palavras, atravs das quais influenciam o comportamento.- quando um nuer fala em seu cieng, seu dhor, seu gol, ele est transformando em conceitos seus sentimentos da distncia estrutural, identificando-se com uma comunidade local e, ao faz-lo, isolando-se de outras comunidades do mesmo tipo.* exame da palavra cieng mostra a relatividade estrutural dos grupos locais nuer: significa lar, tribo, Cieng Nath = terra dos nuer, aldeia, seo tribal...depende do contexto.- as variaes de significado da palavra cieng no so devidas incoerncia da lngua, mas sim relatividade dos valores grupais a que se refere.

Uma pessoa membro de um grupo poltico de qualquer espcie em virtude de no ser membro de outros grupos da mesma espcie.- uma caracterstica de qualquer grupo poltico , conseqentemente, sua invarivel tendncia para divises e oposio de seus segmentos, e outra caracterstica sua tendncia para a fuso com outros grupos de sua prpria ordem em oposio a segmentos polticos maiores do que o prprio grupo.- os valores polticos, portanto, esto sempre em conflito, falando-se em termos de estrutura.- assim, se e de que lado um homem ir lutar depende do relacionamento estrutural das pessoas envolvidas na luta e do seu prprio relacionamento com cada um dos lados.Outro importante princpio da estrutura poltica nuer: *quanto menor o grupo local, mais forte o sentimento que une os seus membros:- mas tambm evidente que quanto menor o grupo, maiores os contatos entre seus membros, mais variados so esses contatos, e mais cooperativos so eles.- num grupo pequeno como a aldeia, no somente existem contatos dirios de habitao, freqentemente de natureza cooperativa, como tambm os membros esto unidos por ntimos laos agnticos, cognticos e de afinidade, que podem ser expressos na ao recproca.(os laos tornam-se menos e mais distantes quanto maior for o grupo)- tribo (maior grupo): contatos pouco freqentes e cooperao se restringe a incurses militares.

*- Tambm pode ser dito que as realidades polticas so confusas (nem sempre de acordo com os valores polticos) e conflitantes (os valores que as determinam esto eles tambm em conflito).

6. O sistema poltico

As tribos Nuer dividem-se em segmentos. Os segmentos maiores so chamados de sees tribais primrias, e estes dividem-se mais em sees tribais secundarias, que so, por sua vez, segmentadas em sees tribais tercirias.- uma seo tribal terciria compreende vrias comunidades de aldeias, que so compostas por grupos domsticos e de parentesco.Os segmentos de uma tribo possuem muitas das caractersticas da prpria tribo. Cada um possui um nome diferente, um sentimento comum e um territrio nico. - Em geral, uma seo est nitidamente separada de outra por um amplo trecho de mata ou rio.Quanto menor o segmento tribal, mais compacto seu territrio, mais contguos esto seus membros, mais variados e ntimos so seus laos sociais genricos, e mais forte, portanto, seu sentimento de unidade.- um segmento tribal cristalizado em torno de uma linhagem do cl dominante da tribo e, quanto menor o segmento, mais prximas so as relaes genealgicas entre membros desse fragmento de cl.

Tambm quanto menor o segmento, mais o sistema de conjuntos etrios determina o comportamento e provoca a cooperao dentro dele. - A coeso poltica, em conseqncia, no varia somente com as variaes da distncia poltica, mas tambm uma funo da distncia estrutural de outros tipos.

* Cada segmento , por sua vez, segmentado e h oposio entre suas partes. Os membros de qualquer segmento unem-se na guerra contra segmentos adjacentes da mesma ordem e unem-se com esses segmentos adjacentes contra sees maiores. [principio de segmentao e oposio entre segmentos](os prprios nuer colocam claramente esse princpio estrutural na expresso de seus valores polticos)Essas lutas entre sees tribais e as questes que da resultam, embora estando baseadas num princpio territorial, freqentemente so representadas em termos de linhagens, uma vez que existe um ntimo relacionamento entre segmentos territoriais e segmentos de linhagem, e os nuer costumam exprimir as obrigaes sociais empregando expresses de parentesco.

Esse princpio de segmentao e oposio entre segmentos o mesmo em cada seo de uma tribo e estende-se, alm da tribo, para relaes entre tribos.

Diagrama pg 155(Quando Z1 luta com Z2, nenhuma outra seo envolvida. Quando Z1 luta com Y1, Z1 e Z2 unem-se para formar Y2. Quando Y1 luta contra X1, Y1 e Y2 unem-se, e o mesmo fazem X1 e X2. Quando X1 luta contra A, X1, X2, Y1 e Y2 unem-se, todos, para formar B. Quando A saqueia os Dinka, A e B podem unir-se.)- Falta de controle poltico nas tribos nuer.- podemos concluir que a tribo de um homem apenas exige sua fidelidade nas lutas entre tribos e em guerras contra os Dinka. Em tempos normais, um homem pensa e age como membro de grupos locais muito menores, com cujos membros ele tem mltiplos contatos.Principio da contradio na estrutura poltica:- um membro da seo terciria z2 da tribo B v a si mesmo como membro de z2 em relao a z1, e todos os demais membros de z2 vem a si mesmos como membros desse grupo em relao a z1 e so assim considerados pelos membros de z1. Mas ele se considera membro de y2 e no mais de z2 em relao a y1 e assim considerado pelos membros de y1. Da mesma forma, ele se considera membro de y e no mais de y2 em relao a x, e como membro da tribo B, e nao de sua seo primaria Y, em relao tribo A.Qualquer segmento se v como unidade independente em relao a outro segmento da mesma seo, mas v ambos os segmentos como uma unidade em relao a outra seo; e uma seo que, do ponto de vista de seus membros, compreende segmentos opostos vista pelos membros de outra seo como uma unidade no segmentada.* Existe sempre contradio na definio de um grupo poltico, pois ele um grupo apenas em oposio a outros grupos.(um segmento tribal um grupo poltico em oposio a outros segmentos do mesmo tipo, e eles, em conjunto, formam uma tribo apenas quando relacionada a outras tribos nuer e estrangeiras adjacentes, que formam parte do sistema poltico)- [como cieng]: * os valores polticos so relativos e o sistema poltico um equilbrio entre tendncias opostas para a separao e a fuso, entre a tendncia de todos os grupos a se segmentarem e a tendncia de todos os grupos a se combinarem com segmentos da mesma ordem.

(a tendncia para a fuso inerente ao carter segmentrio da estrutura poltica nuer, pois embora todo grupo tenda a se dividir em partes opostas, essas partes precisam tender a fundir-se em relao a outros grupos, j que fazem parte de um sistema segmentrio)

Diviso e fuso dos grupos polticos: dois aspectos do mesmo princpio segmentrio. (.. e a tribo nuer e suas divises devem ser entendidas como um equilbrio entre essas tendncias contraditrias, contudo, complementares.)

A ecologia (o meio ambiente, o modo de subsistncia, comunicaes pobres, tecnologia simples e escassos suprimentos de comida )explica at certo ponto os aspectos demogrficos da segmentao poltica nuer, mas a *tendncia para a segmentao deve ser definida como um princpio fundamental de sua estrutura social.

Oposio entre segmentos de menor seo parece ter o mesmo carter estrutural que a oposio entre uma tribo e seus vizinhos Dinka, embora sua forma de expresso seja diferente.

* Muitas vezes no nada fcil decidir se um grupo deve ser considerado como uma tribo ou como um segmento de uma tribo, pois a estrutura poltica possui uma qualidade dinmica. - usando o *pagamento de indenizao de sangue como critrio principal h algumas dificuldades...(Gajook/Gaajak so nesse critrio distintas mas se consideram uma nica comunidade em relao aos Lou)

- Nesse conflito entre valores rivais dentro de um sistema territorial que consiste a essncia da estrutura poltica.- o valor tribal relativo e a qualquer momento est vinculado a uma determinada extenso de uma srie em expanso de relaes estruturais, sem estar inevitavelmente fixado a essa extenso. ( relativo [uma tribo hj pode ser duas amanha] mas tambm determina o comportamentoOs grupos polticos nuer devem ser definidos em funo dos valores, pelas relaes entre seus segmentos e por suas inter-relaes enquanto segmentos de um sistema maior numa organizao da sociedade em determinadas situaes sociais, e no enquanto partes de uma espcie de moldura fixa dentro da qual vivem as pessoas.

Quando menor o grupo mais coeso e quanto maior menos solidrio.Parece que a manuteno da estrutura tribal deve ser antes atribuda a oposio entre seus segmentos menores do que a qualquer presso externa.* [Paradoxo dos segmentos menores] Logo (a instituio da disputa sugere) quanto mais freqentes e mltiplos os contatos entre membros de um segmento, mais intensa a oposio entre suas partes.- parece que se sente maior hostilidade entre aldeias, grupos de aldeias em sees tribais tercirias do que entre sees tribais maiores e entre tribos.

#Disputa: hostilidades mtuas prolongadas entre comunidades locais dentro de uma tribo.- maior adequao: para descrever relaes entre os parentes de ambas as partes numa situao de homicdio (para especificar esse tipo de situao usamos Vendeta)

Vendeta: - constituem uma instituio tribal, pois podem ocorrer apenas quando se reconhece que houve uma infrao lei, j que constituem o modo pelo qual se obtm o ressarcimento.- O temor de provocar uma vendeta , com efeito, a mais importante sano dentro de uma tribo e a principal garantia de vida e da propriedade de um indivduo.- se a comunidade de uma tribo tentar vingar um homicdio contra a comunidade de outra tribo, segue-se uma situao de guerra intertribal, mais do que uma situao de disputa e no h modo de resolver a questo por arbitramento.

Causas para lutar: desentendimentos em relao a uma vaca; comer o sorgo de uma pessoa; direito sobre a gua na estao seca; direito sobre o pasto; um homem bater no filho pequeno de outro; adultrio; tomar emprestado algum objeto sem pedir licena ao dono. O nuer briga imediatamente se acha ter sido insultado, so muito sensveis e ofendem-se com facilidade.Quando um homem pensa ter sofrido um dano, no h qualquer autoridade a quem se possa queixar e da qual possa obter ressarcimento, de modo que ele, imediatamente, desafia para um duelo o homem que causou o dano, o desafio deve ser aceito.- no h outra maneira de resolver uma questo, e a coragem de um homem sua nica proteo imediata contra a agresso. (o parentesco ou o status do conjunto etrio podem impedir o apelo s armas).- crianas encorajadas desde tenra idade a resolverem todas as questes lutando, elas crescem considerando a habilidade de lutar como a realizao mais necessria e a coragem como a virtude mais elevada.- meninos brigam com braceletes pontiagudos. Homens da mesma aldeia ou acampamento brigam com clavas, pois no se emprega lanas contra vizinhos prximos.- uma briga entre pessoas de aldeias diferentes com lanas; todo homem adulto de ambas as comunidades toma parte nela; e no pode ser terminada antes que tenha havido uma perda considervel de vidas.- sabendo disso os nuer relutam em comear brigas com aldeias vizinhas e muitas vezes permitem de boa vontade que o chefe da pele de leopardo ou os ancios intervenham.- algumas vezes tribos atacavam-se por causa do gado, mas as lutas entre elas eram raras.- Lutas entre comunidades e as vendetas que delas resultam so parte das relaes polticas que existem entre segmentos de uma organizao tribal comum.

Dentro de uma tribo, existe um mtodo pelo qual tais disputas podem ser resolvidas por arbitramento.- Procedimento de resolver uma vendeta: logo que um homem mata outro, corre para a casa do chefe da pele de leopardo a fim de limpar-se do sangue que derramou e procurar refgio contra a retaliao em que incorreu. Ele no pode comer nem beber at que o sangue do morto no tenha sado de seu corpo (incises no brao).... o assassino presenteia o chefe com uma novilha que sacrificada. (rito bir: inciso + sacrificio)... logo que os parentes do morto ficam sabendo que ele foi assassinado, tentam vingar-se do assassino, pois a vingana a obrigao mais coercitiva entre parentes paternos e constitui a eptome de todas as suas obrigaes.... assassino hspede e asilo na casa do chefe at a soluo final. No se mata em sua casa que solo sagrado.... o chefe verifica quando gado possuem os parentes do assassino... depois visita os parentes do morto e pedem que aceitem o gado em troca da vida. A recusa a norma no comeo... o chefe insiste at chegar a ameaar a amaldioa-los...depois de muita negociao os parentes do morto cedem declarando que aceitam s para honrar o chefe.... paga-se de 40 a 50 reses geralmente aos poucos... depois de pago o assassino pode andar sem medo de ser emboscado.- Um homicdio no diz respeito somente ao homem que o cometeu, mas tambm a seus parentes gnatos prximos..... h mtua hostilidade entre parentes de ambos os lados e esto proibidos sob pena de morte de comer ou beber uns com os outros ou dos mesmos pratos ou vasilhas, mesmo que seja na casa de um homem no aparentado a nenhum dos lados. (essa obrigao cessa depois do pagamento em gado, mas ainda perdura anos sem que comam junto)- os nuer reconhecem que, apesar dos pagamentos e sacrifcios, uma vendeta continua para sempre, pois os parentes do morto jamais cessam de ter morte em seus coraes.- portanto, embora o chefe avise os parentes do morto, nas cerimnias de reconciliao, que a vendeta terminou e no deve ser reiniciada, os Nuer sabem que uma vendeta jamais termina.... pode no haver lutas ou uma hostilidade incessante e contnua, mas a ferida ulcera-se e a disputa, embora formalmente terminada, pode a qualquer momento irromper novamente.Esse estado de hostilidade latente aplica-se somente quando os homicdios so entre sees tribais primrias, secundrias ou tercirias. Em grupos menores isso no ocorre, pois, apesar da fora dos sentimentos despertados e de sua persistncia aps ter sido efetuado o ressarcimento, as disputas tm de ser resolvidas com maior rapidez e no provvel que irrompam novamente depois da soluo.A habilidade de levar adiante uma vendeta e, conseqente, de obter reparao por meio de uma vida ou pelo pagamento de gado depende at certo ponto da fora da linhagem do homem e de suas relaes de parentesco. Mas a intensidade de uma disputa e a dificuldade de solucion-la dependem principalmente do tamanho do grupo envolvido.(se um homem mata seu primo paterno ainda h pagamento de gado mas bem menos)- provvel que uma vendeta possa ser resolvida com maior facilidade quando ocorre no interior de um cl, pois os Nuer consideram errado que os membros de um cl se envolvam numa vendeta.(a vendeta foi cortada para trs, ns voltamos ao parentesco) (dois grupos que se casam muito tambm dificultam uma vendeta)Matar algum da prpria aldeia ou da vizinha com a qual mantenha relaes sociais ntimas, a vendeta logo resolvida. - vida cooperativa incompatvel com uma situao de vendeta.

As disputas so resolvidas com certa facilidade num meio social restrito onde a distncia estrutural entre os participantes pequena, mas tornam-se mais difceis de resolver quando o meio se expande, at atingirmos relaes intertribais, onde nenhum ressarcimento oferecido ou esperado.-* disputas prolongadas e intensas podem ter lugar entre sees tribais tercirias, mas em geral faz-se um esforo para termin-las, pois um segmento de tais dimenses possui um forte sentimento de comunidade, ntimos laos de linhagem e alguma interdependncia econmica.- menos fcil deter disputa entre sees tercirias diferentes, as pessoas dizem que h pagamento de indenizao de sangue entre sees tribais primrias, mas no se sente uma grande necessidade de pag-la.- A tribo constitui o ltimo estgio nessa anarquia crescente: ela ainda tem uma unidade poltica nominal, e sustenta-se que as disputas entre seus membros mais distantes podem ser resolvidas pelo ressarcimento, mas no raro elas no so resolvidas, e se muitos homens so mortos numa grande luta entre grandes sees , nada feito para ving-los ou para indenizar suas mortes.- os parentes ficam esperando at haver uma nova luta. O tegumento poltico pode, em conseqncia, ser esticado a ponto de romper-se e a tribo separar-se em duas.(a fenda entre as sees torna-se mais ampla at que elas tem muito pouco a ver uma com a outra...)A probabilidade de um homicdio se transformar numa vendeta, sua fora e suas possibilidades de soluo, dependem, portanto, das inter-relaes estruturais das pessoas envolvidas.* A vendeta pode ser vista como um movimento estrutural entre segmentos polticos por meio do qual mantida a forma do sistema poltico nuer, que conhecemos.

- Apenas parentes gnatos prximos de ambos os lados so envolvidos imediata e diretamente, mas as disputas acabam influenciando as inter-relaes das comunidades inteiras a que pertencem.... mas matar somente os gnatos prximos... (no o filho do irmo da me, por ex.)

* Embora as brigas ocorram com maior freqncia dentro de uma aldeia ou entre aldeias e acampamentos vizinhos, uma vendeta, no sentido de uma relao de partes entre as quais existe uma dvida no saldada de homicdio que pode s-lo, ou pela vingana, ou pelo pagamento de indenizao (um estado temporrio de hostilidade ativa que no fora a uma soluo imediata, porm exige uma concluso eventual) *somente pode persistir entre sees tribais que estejam bastante prximas para manter relaes hostis e ativas e bastante distantes para que essas relaes no impeam contatos sociais essenciais de tipo mais pacfico.

* A funo da disputa , portanto, manter o equilbrio estrutural entre segmentos tribais opostos que esto, no obstante, fundidos politicamente quando comparados a unidades maiores.

- Atravs da vendeta sees inteiras so deixadas num estado de hostilidades mtuas sem que elas levem a guerra.. vendeta direta apenas entre as linhagens que perderam um membro.A vendeta uma instituio poltica, sendo um modo aprovado e regulado de comportamento entre comunidades dentro de uma tribo.- a oposio equilibrada entre segmentos tribais e suas tendncias complementares de fundir-se e dividir-se que vimos constiturem um principio estrutural torna-se evidente na instituio da vendeta que, por um lado, d vazo hostilidade por uma ao ocasional e violenta que serve para manter as sees distanciadas, e, por outro lado, em virtude dos meios fornecidos para a soluo, impede que a oposio se desenvolva at o rompimento total.- a constituio da tribo precisa de ambos os elementos de uma disputa, a necessidade de vingana e o meio de soluo. O meio de soluo o chefe da pele de leopardo.- ns consideramos a disputa essencial para o sistema poltico.- dentro de uma tribo, as lutas sempre produzem disputas, e uma relao de disputa caracterstica dos segmentos tribais e fornece estrutura tribal um movimento de expanso e contrao.- uma luta numa aldeia que leva de imediato ao pagamento de ressarcimento por mortes e uma luta entre tribos onde no h, so dois plos distintos...quanto mais distanciamos da aldeia mais as lutas entre sees se assemelham s tribais.

- Valor tribal relativo situao estrutural

As vendetas envolvem diretamente apenas umas poucas pessoas e que, embora por vezes provoquem violncias entre comunidades locais inteiras, os contatos sociais normais continuam apesar delas.

*Os fios do parentesco e afinidade, das filiaes a conjuntos etrios, e dos interesses militares e mesmo econmicos permanecem intactos; e esses fios funcionam como elsticos entre as sees, sendo capazes de considervel expanso pelas relaes polticas conturbadas, mas nem sempre contendo as comunidades e mantendo-as enquanto um nico grupo em relao a outros grupos do mesmo tipo.A coeso social aumenta medida que o tamanho da comunidade diminui.#Os nuer no tem lei. H ressarcimentos convencionais por danos, adultrio, perda de membros, mas no h qualquer autoridade com poder para pronunciar sentenas sobre tais questes ou fazer cumprir vereditos.- muito raro que um homem obtenha ressarcimento a no ser pela fora ou a ameaa de empregar a fora.

- Um homem que tem uma vaca roubada pode pedir ao chefe da pele que v junto com ele pedir a sua devoluo.

Elementos importantes num acordo mediado pelo chefe:1. O desejo dos litigantes de resolver a disputa;2. A santidade da pessoa do chefe e seu tradicional papel mediador;3. Discusso completa e livre que conduz a um alto nvel de concordncia entre todos os presentes;4. O sentimento de que um homem pode ceder ao chefe e aos ancios sem perder sua dignidade, quando no poderia ceder frente a seu oponente;5. Reconhecimento, pela parte perdedora, da justia, no caso apresentado pela outra parte.* esse mtodo raro e usado s por vizinhos prximos de comunidades intimamente ligadas por laos sociais.

Numa tribo, um ladro de gado sempre acha que est pegando aquilo que lhe devido.- Nunca ouvi falar que um nuer roubasse gado de um companheiro de tribo simplesmente pelo fato de querer esse gado.- por outro lado, ele no hesita em roubar vacas de pessoas pertencentes a tribos vizinhas e chega mesmo a ir com amigos a tribos vizinhas a fim de roub-las e esse roubo no considerado algo errado.- adultrio numa aldeia raro, acham errado e quase incestuoso. Mas no consideram imoral adultrio com as mulheres de pessoas que vivem em outras aldeias.- no se mantm relaes sexuais com moas de sua prpria aldeia, pois geralmente existem relaes de parentesco.

Lei: no sentido de uma obrigao moral de resolver questes por mtodos convencionais, e no no sentido de procedimento legal ou instituies legais.- a lei nuer tambm relativa como a prpria estrutura: ela no tem uma fora uniforme dentro de uma tribo, mas relativa posio das pessoas na estrutura social, distncia que as separa no sistema de parentesco, de linhagem, de conjunto etrio, e, acima de tudo, poltico.- quanto mais ampla a rea que contm as partes de um litgio, mais fraco o sentimento de obrigao de solucion-lo e mais difcil a tarefa de fazer com que seja solucionado; e , conseqentemente, menos possibilidades dele ser solucionado.

Razo de peso para que haja poucas possibilidades de indenizao entre membros de sees tribais secundarias ou tercirias diferentes que a base da lei a fora.- a chance de se obter reparao s h se a pessoa estar preparada para usar a fora. A clava e a lana so as sanes dos direitos. O que faz com que as pessoas paguem uma indenizao , principalmente, o medo de que o prejudicado e seus parentes apelem para a violncia.- se ele est distante do homem que lhe causou danos a possibilidade de ser ressarcido pequena.

Maioria dos litgios ocorre em aldeias ou acampamentos e entre pessoas de aldeias prximas, j que as pessoas que vivem perto umas das outras tm mais oportunidade de brigar do que as que vivem distanciadas. Podem sim levar a violncia se no forem solucionadas pela mediao de parentes.

Os nuer possuem um agudo senso de direito e dignidade pessoal. Reconhece-se que um homem deve ser indenizado por determinados danos.- se tiver razo ter apoio dos seus parentes. necessrio a aprovao da comunidade a que se pertence e o apoio dos parentes a fim de lanar mo da violncia ou enfrent-la.- Razo: litgio nuer um equilbrio de danos.

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As vendetas so resolvidas atravs do chefe da pele de leopardo e ele desempenha papel de pouca importncia na soluo de disputas que no se originam de homicdios.- possui uma associao sagrada com a terra que lhe d certos poderes rituais em relao a ela, incluindo o poder de abenoar ou amaldioar. - os chefes no tm autoridade em virtude de seu poder de amaldioar.- embora o nome chefe, ele no possui autoridade secular, porque seus atos pblicos so notadamente rituais.* sua funo poltica, pois as relaes entre grupos