fichamento: o espaço urbano

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CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: editora Ática. 1989. Capítulo 2 – O que é o Espaço Urbano? Para a análise do Espaço Urbano, ou a organização espacial das cidades, existem seis distintos momentos de apreensão: 1- O espaço Urbano éo conjunto de diferentes usos da terras justapostos entre si, desta forma, se apresenta como um espaço fragmentado ; 2- As relações espaciais, de natureza social, sendo explícitas (trânsito de pessoas e/ou mercadorias) ou implícitas (circulação de decisões, investimentos, ideologia), integram e articulam as diversas partes da cidade, ainda que diferentemente, demonstrando a natureza fragmentada e articulada do Espaço Urbano; “Cada uma de suas partes mantem relações espaciais com as demais, ainda que de intensidade muito variável.” (pág. 07) 3- Na análise desses espaços fragmentados e articulados, podemos perceber a segregação espacial oriunda da divisão de classes sociais, chegando à máxima de que: O Espaço Urbano é um reflexo da sociedade . Não apenas da atual, mas também do passado que deixaram marcas nas formas espaciais do presente. (+ A Geografia Cultural, Paul Claval); 4- “O espaço urbano é também um condicionante da sociedade ”. As formas espaciais fixadas pelo homem exercem uma tendência à reprodução das relações sociais e econômicas no espaço. A proximidade entre produtor e consumidor incentiva a continuidade das negociações, bem como bairros se tornam berço de determinado grupo social dentro das relações cotidianas; 5- É simbólico . Carregado de crenças, valores e mitos projetados em formas sociais, como: monumentos e lugares sagrados, etc; 6- “O espaço da cidade é assim, e também, o cenário e o objeto das lutas sociais , pois estas visam, afinal de contas, o direito à cidade, à cidadania plena e igual para todos.” (pág. 09) Temos ainda de analisar dois aspectos do Espaço Urbano:

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CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano

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Page 1: Fichamento: O Espaço Urbano

CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: editora Ática. 1989.

Capítulo 2 – O que é o Espaço Urbano?

Para a análise do Espaço Urbano, ou a organização espacial das cidades, existem seis distintos momentos de apreensão:

1- O espaço Urbano éo conjunto de diferentes usos da terras justapostos entre si, desta forma, se apresenta como um espaço fragmentado;

2- As relações espaciais, de natureza social, sendo explícitas (trânsito de pessoas e/ou mercadorias) ou implícitas (circulação de decisões, investimentos, ideologia), integram e articulam as diversas partes da cidade, ainda que diferentemente, demonstrando a natureza fragmentada e articulada do Espaço Urbano;

“Cada uma de suas partes mantem relações espaciais com as demais, ainda que de intensidade muito variável.” (pág. 07)

3- Na análise desses espaços fragmentados e articulados, podemos perceber a segregação espacial oriunda da divisão de classes sociais, chegando à máxima de que: O Espaço Urbano é um reflexo da sociedade. Não apenas da atual, mas também do passado que deixaram marcas nas formas espaciais do presente. (+ A Geografia Cultural, Paul Claval);

4- “O espaço urbano é também um condicionante da sociedade”. As formas espaciais fixadas pelo homem exercem uma tendência à reprodução das relações sociais e econômicas no espaço. A proximidade entre produtor e consumidor incentiva a continuidade das negociações, bem como bairros se tornam berço de determinado grupo social dentro das relações cotidianas;

5- É simbólico . Carregado de crenças, valores e mitos projetados em formas sociais, como: monumentos e lugares sagrados, etc;

6- “O espaço da cidade é assim, e também, o cenário e o objeto das lutas sociais, pois estas visam, afinal de contas, o direito à cidade, à cidadania plena e igual para todos.” (pág. 09)

Temos ainda de analisar dois aspectos do Espaço Urbano:

1- Pelo seu caráter fragmentado e por ser um reflexo da sociedade, o Espaço Urbano se apresenta profundamente desigual;

2- Por ser um reflexo da sociedade e de esta ser dinâmica, o Espaço Urbano é mutável, sendo esta mutabilidade complexa.

“Eis o que é o espaço urbano: fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas. É assim a própria sociedade em uma de suas dimensões, aquela mais aparente, materializada nas formas espaciais.” (pág. 09)

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Capítulo 3 – Quem produz o espaço urbano?

O espaço urbano capitalista é produto social da ação de agentes concretos atuando, ao longo do tempo, sobre um espaço abstrato. Esse espaço vem sempre mudando de forma complexa, mas é importante lembrar que nunca perde suas características.

“A desigualdade sócio-espacial também não desaparece: o equilíbrio social e da organização espacial não passa de um discurso tecnocrático, impregnado de ideologia” (p. 12)

Antes de se aprofundar em cada agente social que age na produção do espaço urbano, o autor destaca:

1- Esses agentes são regulados por um marco jurídico, sendo este marco “não-neutro” e refletindo o interesse de agentes dominantes e, muitas vezes, permitindo interpretações plurais;

2- Industriais, fundiários e imobiliários, mesmo que tenham diferenças em suas estratégias, buscam se apropriar da renda da terra: Ambos os três são importantes agentes na dinâmica das sociedades capitalista em prol do seu objetivo primeiro: a produção de capital; e o fazem por meio da posse, controle e uso da terra urbana;

3- O modelo apresentado é mais de natureza analítica que prática geral. Dentro do atual estágio do capitalismo, vários fundos de investimentos e grandes corporações se relacionam em diferentes atividades no propósito da produção do capital, o que acaba por estreitar as relações e diminuir os conflitos entre os mesmos;

4- Os agentes de produção do espaço estão sempre mudando as suas estratégias ao longo do tempo, seja por interferência de fatores externos ou internos.

Os proprietários dos meios de produção

A terra urbana tem, inicialmente, um duplo papel: o de suporte físico aos grandes proprietários industriais e o de expressar os requisitos locacionais específicos a cada atividade produtiva.

Existe um conflito entre os proprietários fundiários e industriais. A acumulação de terras é prática de ambos, porém a valorização desses terrenos é proveitosa aos fundiários: a escassez de espaço valoriza a terra; causando uma exigência de aumento de salários por parte dos funcionários das indústrias; em geral os proprietários dos meios de produção buscam grandes extensões de terra barata e dotada de infraestrutura. É habitual que esses conflitos sejam decididos em prol dos industriais, que pela pressão do capital conseguem que o Estado desaproprie terras, subsidie a construção da infraestrutura necessária e incentive a construção de residências populares.

Empresas antigas costumam se beneficiar por mudar suas fábricas de local quando o espaço à sua volta ganha algum status, se mudando para próximo a áreas residenciais do proletariado conseguem uma extensão espacial maior, barata, próxima à mão-de-obra e podem destinar o espaço da antiga fábrica à atividade fundiária.

Proprietários fundiários

O proprietário fundiário está preocupado com a valorização do espaço. Seja ele para uso residencial ou comercial e, muitas vezes, em esfera municipal, influencia o poder público para

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a valorização do espaço pela instalação de infraestrutura. Os fundiários prezam, pelo valor de troca do espaço e não pelo seu valor de uso.

“A demanda de terras e habitações depende do aparecimento de novas camadas sociais, oriundas em parte de fluxos migratórios e que detêm nível de renda que as torna capacitadas a participar do mercado de terras e habitações” (pag. 17)

Esses fluxos migratórios, são ainda influenciados pela possibilidade de reprodução do capital no novo espaço, podendo ser potencializados por políticas públicas, estrutura agrária, condições ecológicas, existências de eixos de circulação e dos tipos de uso a que se destina a terra urbana.

O autor relata duas diferentes formas nas quais a ocupação urbana ocorre nas periferias e ressalta que as estratégias dos proprietários fundiários variam dependendo da predominância de uma forma ou outra:

1- A ‘urbanização de status’ é realizada em periferias onde estão presentes atrativos naturais, como: a proximidade de rios, lagos, do mar, etc. Neste caso os fundiários pressionam o estado para a construção de infraestrutura urbana ou buscam linhas de crédito, junto a agentes financeiros, para eles mesmos construírem-na. São realizadas, ainda, campanhas publicitárias para a valorização das propriedades, gerando uma crescente demanda e valorização das obras lá empreendidas;

“Criam-se assim bairros seletivos em setores de amenidades: como a palavra “periferia” tem sentido pejorativo, esses bairros fisicamente periféricos não são mais percebidos como estando localizados na periferia urbana, pois afinal de contas os bairros de status não são socialmente periféricos!” (pág. 18)

2- Aos proprietários de terrenos localizados em periferias sem amenidades, resta a ‘urbanização popular’. Em geral, loteamentos populares, com pouca infraestrutura, pretendendo atingir uma parcela da população urbana com menor poder aquisitivo. É comum que os proprietários fundiários reservem terrenos nesses espaços, objetivando a utilização depois da eventual valorização dos mesmos.

Os promotores imobiliários

São o conjunto de agente que realizam, parcial ou totalmente, as operações a seguir:

1- ‘Incorporação’, que é a transformação do capital monetário em mercadoria imobiliária. As definições de localização, tamanho das unidades e qualidade da obra são definidos nessa etapa;

2- ‘Financiamento’, formação do grupo de investidores, pessoas físicas e jurídicas, que cederão os recursos monetários, de acordo com o plano de incorporação, para a compra do terreno e construção do imóvel;

3- ‘Estudo técnico’, análise realizada por economistas e arquitetos visando constatar a viabilidade técnica da obra, em conciliação do plano de incorporação e da legislação de obras;

4- ‘Construção’, atuação de empresas dos diversos ramos da construção civil;5- ‘Comercialização’, a transformação do produto do empreendimento em capital

monetário por meio da sua promoção e consecutiva venda.

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Podemos, segundo a conceituação de R. S. de Almeida (conforme citado pelo autor), classificar os agentes imobiliários, principalmente os incorporadores, por dois aspectos:

1- ‘Escala de operações’, ou o número de construções simultâneas que o incorporador é capaz de gerir;

2- E ‘escala espacial de atuação’, ou a área onde se localizam as obras e os estoques de terreno.

Os agentes imobiliários tendem a não construir imóveis que visam população de baixa renda, pois estes raramente se mostram rentáveis, isto ocorre quando: “superocupados”, péssima qualidade de construção ou quando há enorme escassez de habitação (elevando os custos).

A busca por espaços, dentro das cidades, a serem utilizados na produção de habitações para a população que constitui a demanda solvável está guiada por quatro indicadores:

1- Preço elevado da terra e status elevado do bairro;2- Acessibilidade e mobilidade;3- Amenidades naturais e/ou sociais;4- Esgotamento e condições dos imóveis anteriormente produzidos.

O Estado

Segundo o autor, o papel do estado na construção do espaço urbano varia, no tempo e espaço, refletindo as características da sociedade a qual ele faz parte. Nesta seção o autor disserta sobre o Estado capitalista das cidades latino-americanas, particularmente a brasileira, a priori.

O Estado participa da produção do espaço urbano em vários níveis. Ele é proprietário fundiário, das terras públicas; grande industrial, das empresas estatais; e promotor imobiliário, quando atua através de órgãos como a COHAB. Mas, é na construção de infraestrutura, na legislação e fiscalização das normas de uso do solo que o Estado atua de modo mais corrente e esperado.

O autor cita A. Samson, que enumera dez instrumentos do Estado para a produção do espaço urbano:

1- Direito de desapropriação e procedência na compra de terras;2- Regulamentação do uso do solo;3- Controle e limitação dos preços de terras;4- Limitação da superfície da terra de que cada um pode se apropriar;5- Impostos fundiários e imobiliários que podem variar segundo a dimensão do imóvel,

uso da terra e localização;6- Taxação de terrenos livres, levando a uma utilização mais completa do espaço urbano;7- Mobilização de reservas fundiárias públicas, afetando o preço da terra e orientando

espacialmente a ocupação do espaço8- Investimento público na produção do espaço, através de obras de drenagem,

desmontes, aterros e implantação de infraestrutura;9- Organização de mecanismos de credito à habitação; e10- Pesquisas, operações-teste sobre materiais e procedimentos de construção, bem

como o controle de produção e do mercado deste material.

A ação do estado é orientada, em vias gerais, pelos conflitos e/ou alianças entre diversos membros da sociedade de classes, tendendo a privilegiar as classes dominantes. O estado tem

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sua ação dividida em três níveis: municipal, estadual e federal. A cada nível, tanto as ações, quanto o discurso para encobrir o apoio aos interesses da classe dominante, mudam.

Outra característica fundamental da ação do estado é a criação de condições para que o corra a reprodução da sociedade capitalista, ou seja, da reprodução do capital e das classes sociais. Esta reprodução social pode ser dar por meio da valorização da terra, selecionando os habitantes de determinados bairros por poder aquisitivo, ou pelo planejamento das cidades, como aconteceu no zoneamento de Brasília, dividido em Plano Piloto e Cidades Satélites.

Os Grupos Sociais Excluídos

Esses agentes da produção do espaço urbano são compostos por uma população de baixa renda e baixa escolaridade, em geral, sem condições de pagar alugueis caros ou de adquirirem um imóvel, são obrigados a morar em cortiços densamente ocupados no centro da cidade, velhas residências que no passado pertenceram a casse dominante e se encontram degradadas e subdivididas, casas produzidas pelo sistema de autoconstrução em loteamentos periféricos, ou em favelas.

Nas três primeira hipóteses esses grupos sociais se vinculam a um a um proprietário de imóveis e desta forma não se caracterizam como produtores do espaço urbano, nem mesmo os que produzem o imóvel no sistema de autoconstrução, pois estão submetidos às determinações dos proprietários fundiários da periferia.

“É na produção da favela, em terrenos públicos ou privados invadidos, que os grupos sociais excluídos tornam-se, efetivamente, agentes modeladores, produzindo seu próprio espaço, na maioria dos casos independentemente e a despeito dos outros agentes.” (pág. 30)

A produção das favelas é uma forma de Resistência e sobrevivência, por parte desta população. Esses grupos excluídos se apropriam de terrenos inadequados para os outros produtores do espaço, como áreas alagadiças e íngremes.

A favela também tem a sua evolução como espaço urbano. Pouco a pouco os moradores conseguem, por meio de pressão ou por interesses eleitoreiros, a construção de uma infraestrutura básica nas favelas. Com o passar do tempo a valorização desses espaços acaba atraindo agentes imobiliários e novos habitantes, o que resulta na expulsão de alguns de seus moradores para regiões cada vez mais periféricas.

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Capítulo 4 – Processos e formas espaciais

Os processos espaciais são o elemento mediador que possibilitam aos processos sociais originarem as formas espaciais. Esses processos espaciais tem natureza social e são cunhados na própria sociedade.

“Os processos espaciais são as forças através das quais o movimento de transformação da estrutura social, o processo, se efetiva espacialmente, refazendo a espacialidade da sociedade.” (pág. 36)

O autor destaca seis processos espaciais e suas respectivas formas:

1- Centralização e a área centra;2- Descentralização e os núcleos secundários;3- Coesão e as áreas especializadas;4- Segregação e as áreas sociais;5- Dinâmica espacial da segregação;6- Inércia e as áreas cristalizadas.

O autor ressalta que esses processos espaciais não são independentes, podendo coexistirem na mesma cidade e/ou bairros, como processos complementares.

Centralização e Área Centra

“De fato, a Área Central constitui-se no foco principal não apenas da cidade mas também de sua hinterlândia. Nela concentram-se as principais atividades comerciais, de serviços, da gestão pública e privada e os terminais de transporte inter-regionais e intra-urbanos. Ela se destaca na paisagem da cidade pela sua verticalização.” (pág. 38)

A Área Central tem seu aparecimento paralelo ao desenvolvimento do capitalismo e dos transporte entre os séculos XIX e XX. A concentração de empregos, comércio e instituições públicas numa mesma área resultou no aumento crescente do fluxo de pessoas, na valorização do espaço central e, consequentemente, na sua importância estratégica para a concorrência capitalista. Assim, as empresas que não podiam financeiramente, ou não necessitavam, foram sendo relocadas para fora da Área Central.

Segundo o autor, o núcleo central da cidade fica caracterizado a partir da segunda metade do séc. XX, quando o processo de centralização se torna menos relevante quanto foi no passado, e cita Horwood e Boyce para caracteriza-lo:

1- Uso intensivo do solo;2- Ampla escala vertical;3- Limitada escala horizontal;4- Limitado crescimento horizontal;5- Concentração diurna;6- Foco de transporte intra-urbanos;7- Área de decisões;

Para as características da zona periférica do centro são elencadas:

1- Uso semi-intensivo do solo;

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2- Ampla escala horizontal;3- Limitado crescimento horizontal;4- Área de residência de baixo status social (mas foco da política de renovação urbana);5- Foco de transportes inter-regionais;

“A tendência da Área Central, especialmente do núcleo central, é a de sua redefinição funcional, tornando-se o foco principal das atividades de gestão e de escritórios de serviços especializados, enquanto o comércio varejista e certos serviços encontram-se dispersos pela cidade.” (pág. 44)

Descentralização e os núcleos secundários

O processo de descentralização é mais recente que o de centralização. Este processo vem ocorrendo, principalmente, pela busca das empresas de reduzir os gastos oriundos da centralidade excessiva e pela menor rigidez locacional, decorrente do aparecimento de fatores de atração em outras áreas da cidade. Outros dois fatores importantes vem sendo a flexibilidade dos transportes (das ferrovias às estradas) e o interesse dos proprietários fundiários e promotores imobiliários.

O autor cita Colby para elencar os fatores de repulsão da Área Central:

1- Aumento constante do preço da terra;2- Congestionamento e alto custo do sistema de transporte e comunicações;3- Dificuldade de obtenção de espaço para expansão;4- Restrições legais implicando a ausência de controle do espaço;5- Ausência ou perda de amenidades.

Além dos fatores de repulsão acima, o autor volta a citar Colby para elencar os fatores de atração em outras áreas não centrais:

1- Terras a baixo preço e impostos;2- Infraestrutura implantada;3- Facilidade de transporte;4- Qualidades atrativas do terreno (topografia, drenagem, etc);5- Possibilidade de controle do uso de terra;6- Amenidades.

Com a expansão das cidades há uma tendência à criação de filiais nas áreas afastadas do centro, por parte do comércio, que deixa de ver uma vantagem baseada na centralidade de suas lojas e passam a tirar maior proveito da proximidade com os mercados consumidores. Há também as empresas que já nascem em áreas não-centrais.

“A descentralização torna-se um meio de se manter uma taxa de lucro que a exclusiva localização central não é mais capaz de fornecer. Neste sentido constata-se que no capitalismo monopolista há centralização do capital e descentralização espacial, diferente, portanto, do que ocorria no capitalismo concorrencial, onde a centralização espacial derivava de uma dispersão de capitais.” (pág. 47)

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Nas palavras do autor “a descentralização é um processo complexo, caracterizando-se por diferentes tipos de seletividade” (pág. 49):

1- Seletividade em termos de atividades;2- Seletividade em termos temporais;3- Seletividade em termos de divisão territorial do trabalho;4- Seletividade em termos de tamanho da cidade;5- Seletividade em termos de território.

A descentralização do comércio e serviços acaba por gerar uma série de núcleos secundários, segundo Berry, conforme o autor.

FunçãoForma

Hierarquizada Especializada

ÁreasSubcentros: regional, de bairros,

de bairroLojas de esquina

Distritos médicosDistritos de diversões

Etc.

EixosRua comercial de bairrosRua comercial de bairro

Ruas de autopeçasRuas de móveis

Ruas de confecçõesEtc.

Coesão e as áreas centralizadas

O autor define Coesão como “o movimento que leva as atividades a se localizarem juntas” (pág. 56). E cita Colby para destacar as suas características:

1- Quando de mesma linha de produtos, criam um monopólio espacial que atrai consumidores interessados nesse tipo de produto, pela facilidade de comparação entre tipos, marcas e preços;

2- Quando de produtos diferentes, formam um conjunto coeso que pode induzir o consumidor a adquirir um produto o qual ele não estava procurando;

3- Podem ser complementares entre si, com associações funcionais, como fabricação, atacado de confecções, companhias de seguros, bancos, sedes de empresas e industrias;

4- Se unem para criar uma economia de escala. Quando várias empresas de pequeno e médio porte se unem para atrair a instalação de indústrias e serviços que não se deslocariam por uma pequena demanda.

5- Exigem contatos pessoais faco to face.

O autor corrobora com as colocações de Murphy, Vance Jr. E Epstein, afirmando que “no que se refere ao núcleo central, o processo de coesão aparece através de distritos especializados” (p.58), como:

1- Distrito varejista; 2- Distritos de escritórios; 3- Distrito de bancos e sedes sociais de empresa; 4- Distrito de diversões e hotéis.

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Ao contrário do que ocorre na Área Central, que apresenta uma Coesão Hierarquizada. Fora dos centros a Coesão é Especializada, em parte, “porque a circulação individual tende a se ampliar mais e mais sobre um espaço cujos entraves são cada vez mais reduzidos.” (p. 58-59)

Segregação e as áreas sociais

Enquanto os processos espaciais anteriormente citados descrevem a divisão econômica do espaço, este processo refere-se à divisão social do espaço, vinculada à reprodução dos diferentes grupos sociais.

O primeiro processo é a ‘segregação residencial’, sendo a concentração de tipos de população dentro de um dado território, conforme Mckenzie. A expressão espacial desse processo é a ‘área natural’, definida por Zorbaugh como, a área geográfica caracterizada pela individualidade física e cultural, uma resultante do processo impessoal de competição que dá origem a espaços de dominação dos diferentes grupos sociais.

Posteriormente, Shevky e Bell, atualizam o conceito de ‘área natural’ para ‘área social’, afastando a categoria de análise das raízes naturalistas. Seriam as ‘áreas sociais’: “marcadas pela tendência à uniformidade da população em termos de três conjuntos de características: status sócio-econômico, urbanização e etnia.” (p. 60) Seria então, a expressão da existência de diferentes classes sociais, materializada no espaço.

“A expressão desta segregação da classe dominante é a existência de bairros suntuosos e, mais recentemente, dos condomínios exclusivos e com muros e sistema próprio de vigilância, dispondo de áreas de lazer e certos serviços de uso exclusivo, entre eles, em alguns casos, o serviço de escolas públicas eficientes.” (p. 64)

Citando Lefébvre (1976) o autor afirma que o papel mais importante que a organização espacial da cidade desempenha é a reprodução das relações sociais e de produção; e que esse propósito é atingido através das áreas sociais segregadas. Desta forma, enquanto se constitui no lugar de trabalho um lugar de produção, as residências e os bairros, por meio da segregação habitacional, são espaço de reprodução social.

A segregação social resulta numa segregação espacial. Existem três modelos para representar a distribuição das classes sociais no espaço:

1- Modelo de Kohl, as classes dominantes ficam ao centro e as mais pobres cada vez mais à periferia.

2- Modelo de Burgess, inverso ao modelo de Kohl, as classes mais pobres na Área Central e as classes dominantes na periferia.

3- Modelo de Hoyt, diferente dos dois modelos anteriores, a distribuição não é mais em anéis concêntricos, mas em ângulos partidos do centro da cidade. A classe dominante ocupa o setor com mais amenidades, é rodeada pela classe média e a classe pobre fica na porção contrária da cidade.

Dinâmica espacial da segregação

O autor ressalta que este mesmo processo é conhecido na Escola de Chicago por “invasão-sucessão”.

“Em resumo, a segregação tem um dinamismo onde uma determinada área social é habitada durante um período de tempo

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por um grupo social e, a partir de um dado momento, por outro grupo de status inferior ou, em alguns casos, superior, através do processo de renovação urbana.” (p. 70)

O autor descreve que, na Escola de Chicago, surgiu uma classificação de “zona em transição”, ou “zona periférica do centro”, uma reserva espacial na periferia da Área Central. Imóveis antigos eram alugados à população pobre e imigrantes e deixados em processo de deterioração, para que no futuro, com a expansão da Área Central, fossem demolidos e construídos prédios comerciais.

A utilização desses espaços pela população de baixo status, criou uma imagem de pobreza, vício e crime, nessas áreas. Com a descentralização, e a dinâmica espacial da segregação, essas “zonas de transição” acabaram ficando cristalizadas.

Inércia e as áreas cristalizadas

“O processo de inércia atua na organização espacial intra-urbana através da permanência de certos usos em certos locais, apesar de terem cessado as causas que no passado justificaram a localização deles.” (p.76)

As principais causas para esse processo, são descritas como:

1- Altos custos para realizar uma relocação;2- Criação de fatores de permanência através do aparecimento de economias de

aglomeração;3- Conflitos com outros usuários do solo urbano em torno;4- Pela atribuição de sentimentos e simbolismos às formas espaciais e ao seu conteúdo.

O processo de inércia é bastante relativo. O que podemos acreditar ser um processo de cristalização do uso do solo pode tratar-se, na verdade, de um processo de mudança muito lento.

Segundo o autor, mencionando os estudos de Walter Firey sobre um bairro nobre no centro de Boston, o impacto de sentimentos estáticos, históricos e familiares aparecem através de três modos: retenção; atração e; resistência. Ressalta ainda que a força dos sentimentos é tão forte que se opõe à racionalidade da economia vigente.