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FICHA TÉCNICA
www.manuscrito.ptfacebook.com/manuscritoeditora
© 2015Direitos reservados para Letras & Diálogos,
uma empresa Editorial Presença,Estrada das Palmeiras, 59
Queluz de Baixo2730-132 Barcarena
Título: Juntos Conseguimos!Autora: Ágata Roquette
Copyright © Ágata Roquette, 2015Copyright © Letras & Diálogos, 2015
Capa: Catarina Sequeira Gaeiras/ Editorial PresençaImagens da capa: Jorge Nogueira
As imagens do interior foram gentilmente cedidas pelos próprios, com direitos reservados.
Composição: A. SenaImpressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráficas, Lda.
ISBN: 978-989-8818-05-8Depósito legal n.º 393 001/15
1.ª edição, Lisboa, junho, 2015
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO 9
1. PORQUE GANHAMOS PESO 13
Tendência hereditária 14
Mudança de hábitos 18
Más escolhas alimentares 24
Alterações no metabolismo 26
Gravidez e aleitamento 30
Alterações emocionais 33
Parar de fumar 35
Doença/medicação 36
2. PESO A MAIS: O QUE NOS PESA 39
Saúde 40
Anorexia/bulimia 46
Lidar com a imagem 49
Vergonha, autoestima e depressão 54
Inveja 60
3. TENTAR PERDER PESO SEM SUCESSO 63
Experimentar dietas sem sucesso 64
Emagrecer com exercício físico 71
Falta de motivação para começar 73
Oscilações de peso 76
8
Cirurgias e tratamentos estéticos 79
Medicação 83
4. RAZÕES PARA O SUCESSO DA MINHA DIETA 87
A fórmula certa 88
Motivação para começar 102
Limpar a sua despensa 107
Liberdade de opções 110
O dia da asneira 112
Adaptar a dieta ao nosso caso 116
É fundamental não passar fome 118
Motivação para continuar 120
Truques para as horas mais difíceis 126
Integrar o exercício físico 140
5. MANTER O PESO IDEAl COM PRAZER 147
Regras e truques para a manutenção 148
Fases de alerta 150
Estilo de vida ativo 153
As receitas mais saborosas 155
Top 20 das minhas receitas 157
E UM FINAl FElIZ... 181
9
INTRODUÇÃO
Quando escrevi o meu primeiro livro, em 2012, senti necessidade de
contar um pouco da minha história pessoal e da minha própria luta
contra o excesso de peso. Uma luta de vários anos, feita de altos e bai-
xos, muitos insucessos, muito sofrimento, muita vergonha e muita tris-
teza, que só compreende quem se debate diariamente com o mesmo
problema. Ao meu lado, nessa luta, tive a minha mãe e depois o meu
namorado, apoios imprescindíveis, que sempre me apoiaram e me ten-
taram devolver a autoestima que o excesso de peso me havia roubado.
Mas há quem não tenha ninguém... Quem sofra em silêncio, sozinho, e
se refugie ainda mais na comida por isso mesmo. Quem, em vez de ser
apoiado, é chamado de «gordo», «baleia», «monte de banhas», e outros
«mimos» que nos atiram, às vezes apenas por puro divertimento. Que é
«culpa nossa», dizem-nos. «Desleixo» ou «falta de vontade». E nós sabe-
mos que há um pouco disso tudo. Mas sabemos também que não é
assim tão fácil – não é nada, nada fácil – contrariá-lo. Porque a culpa que
sentimos ainda nos leva a comer mais e pior. Porque o «desleixo» é, na
verdade, cansaço de ter de viver todos os dias com o mesmo problema,
que nos olha ao espelho e nos sussurra ao ouvido «estás cada vez pior».
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juntos conseguimos!
Porque vontade nós até temos. Mas quando já experimentámos de
tudo para emagrecer e nada parece resultar, não há vontade que resista.
Por isso decidi dedicar a minha carreira a ajudar aqueles que sofriam
do mesmo problema que eu, através de uma dieta que realmente funcio-
nasse, que apresentasse resultados imediatos, que motivasse, sem sacrifícios
nem restrições insuportáveis. Comendo de (quase) tudo o que os outros
comem. Ensinando a fazer as escolhas certas, mas com uma boa margem
de manobra, para que todas as pessoas possam ajustá-la ao seu dia a dia,
às suas preferências, às suas rotinas. E, ainda, que fosse possível manter, com
pequenos mas infalíveis truques que nos permitam usufruir dos prazeres
da vida, sem voltar a engordar nem comprometer a nossa saúde.
Os resultados, felizmente, não tardaram a aparecer. A minha dieta resul-
tou comigo, e resultou com milhares de pacientes que têm conseguido
baixar o seu peso de forma espantosa, perdendo às vezes 20, 30 ou 40 kg
num ano, com tudo o que isso lhes traz em saúde, vitalidade, autoestima.
Pacientes estes que nunca mais voltaram a recuperar o peso e que hoje
se sentem muito mais felizes, descontraídos, de bem com a vida. Muitos
deles foram partilhando a sua luta e conquistas em blogues, redes sociais,
fóruns e comunidades de leitores, para que ninguém se sentisse sozinho
na sua luta. Gerou-se uma partilha de histórias, de lutas e de conquistas,
que motivou tantas outras pessoas a tentarem-no também. Tornou-se um
fenómeno viral, muito maior do que eu ou do que qualquer livro, feito de
pessoas que tinham, como eu, uma história de sofrimento, mas agora tam-
bém uma história de superação.
Não pude acompanhar todas essas histórias, mas achei que elas deviam
ser transformadas em livro, para chegarem a ainda mais pessoas, a todas
aquelas que continuam a viver este problema em silêncio, sozinhas, sem
apoio. Um livro para lhes explicar que elas não estão sozinhas. Somos
muitos, passamos todos pelo mesmo, mas juntos conseguimos superá-lo,
com as regras, dicas e truques certos, que este livro compila e desvenda.
11
introdução
Ao meu lado, nestas páginas, tenho um conjunto de pessoas que vive-
ram histórias semelhantes à minha. Cada uma no seu contexto, com as
suas experiências diferentes, mas tendo como pontos comuns o sofri-
mento que o peso a mais lhes causava, as tentativas frustradas para o
combater, o sucesso que obtiveram quando decidiram experimentar a
minha dieta e a alegria que é perceberem que nunca mais vão voltar
a ganhar peso. O mérito não é só meu! O mérito é, em larga medida, do
empenho individual de cada um, que pode ser tanto mais forte quanto
mais for partilhado, apoiado, valorizado, celebrado.
Esta é a minha história, que hoje celebro como uma vitória. É a história
de todos aqueles que se juntaram a mim neste livro. E é também a história
de todos vocês, que o estão a ler agora, e que eu quero que venham, mais
cedo ou mais tarde, a celebrar comigo...
Colaboraram neste livro:
Ana Rita Silva (20 anos): 87 kg - 72 kg
Conceição Costa Lobo (39 anos): 64 kg - 58 kg
Isabel Neto (32 anos): 115 kg - 75 kg
Maria Filomena Miguéns (55 anos): 120 kg - 90 kg
Patrícia Amor da Silva (27 anos): 86 kg - 76 kg
Paula Silva (46 anos): 132 kg - 70 kg
Sónia Marques (33 anos): 71 kg - 55 kg
Susana Soares (36 anos): 105 kg - 75 kg
Teresa Baptista (39 anos): 64 kg - 52 kg
Tiago Guerreiro (36 anos): 114 kg - 88 kg
Vânia Pérsio dos Santos (28 anos): 85 kg - 62 kg
Vítor Hugo Faria (28 anos): 132 kg - 87 kg
13
1.
PORQUE GANHAMOS PESO
Todos aqueles que lidam com o excesso de peso conhecem muito bem
o olhar reprovador das outras pessoas. Pelas suas cabeças paira sempre a
mesma pergunta: «Como é que se deixou engordar tanto?»
Todos nós, os gordinhos ou os que já passámos por isso, temos uma histó-
ria. Nunca se engorda do ar, como às vezes se diz na brincadeira. Raramente
se engorda sem uma mudança de hábitos, uma mudança no metabolismo,
escolhas alimentares erradas, sedentarismo, stresse, doença ou instabili-
dade emocional. Há sempre uma causa, ou um conjunto de causas, que
nos faz ganhar peso, e nem sempre temos noção de quais são estas cau-
sas. Quando comecei a engordar, no 12.º, achava que o meu corpo estava
simplesmente a mudar. Sabia que o facto de ter parado de fazer patinagem
de competição contribuía para esse aumento, mas não tinha tanta noção
de que comer um pacote de bolachas, todos os dias, enquanto estudava,
também pesaria, e muito, na balança. Não avaliei em condições o que o
meu estilo de vida sedentário e uma alimentação incorreta poderiam fazer
ao meu corpo e, quando dei conta, já era difícil perder os quilos a mais.
Com o excesso de peso veio a tristeza e a revolta, que compensava com
ainda mais comida. E o problema agravou-se.
14
juntos conseguimos!
Hoje, com algum distanciamento, consigo perceber a maioria dos
erros que cometi, assim como os dos pacientes que me procuram. Nas
consultas é muito importante estabelecer-se uma relação de confiança,
e se há algo em que os meus pacientes podem acreditar é que os com-
preendo, mesmo nos seus momentos de maior descontrolo, porque eu
também os tive.
Mas este livro serve também para todos aqueles que não são meus
pacientes e que querem tentar levar a cabo esta dieta, sem ajudas exter-
nas. Para tal, aconselho que se faça primeiro uma autoavaliação, sem culpa
nem julgamento. Por mais que tenhamos errado, estamos a tentar corrigir
os nossos erros. É, no entanto, importante saber que erros são esses, para
que a nossa dieta seja mais bem-sucedida.
Neste capítulo vamos falar de muitas situações que nos podem fazer
ganhar peso, com relatos da minha história e outros testemunhos variados.
Talvez se identifique com alguma destas histórias, ou com várias. A parte
positiva é que todas estas histórias, por mais negativas que possam pare-
cer neste capítulo, terão no último um final feliz.
E se nós o conseguimos, você também o conseguirá…
tendênCia hereditária
Apesar de o tipo de alimentação que se faz e de o estilo de vida que se leva
serem os fatores mais decisivos para o peso que se tem, os especialistas são
unânimes em afirmar que a tendência para engordar também se herda. Pais
com excesso de peso têm uma maior propensão para terem filhos gordi-
nhos. Pode até ser apenas um dos pais a ter essa tendência e a passá-la aos
filhos. Ou, no caso de haver mais do que um filho, pode acontecer que um
15
1. PorQue gAnHAmos Peso
deles seja muito magrinho e o outro gordinho, mesmo sujeitos ao mesmo
tipo de alimentação. O magrinho pode comer de tudo sem engordar. Já o
gordinho terá de ter cuidado a vida toda...
Sónia MarqueS, 33 anos
(71 kg - 55 kg)
Desde criança que sempre tive tendência para ter algum peso a
mais. Nasci com 4,259 kg e até aos 12 anos sempre estive perto do
percentil 90.
Tiago guerreiro, 36 anos
(114 kg - 88kg)
Todos na minha família têm tendência para engordar. Costumo di-
zer que até a água nos engorda...
Na minha família, sempre houve alguma tendência para engordar, mas
como eu e as minhas irmãs sempre fizemos muito desporto de compe-
tição, com muitas horas de treino todos os dias, nunca sentimos o peso
dessa herança. Para além disso, a minha mãe era cuidadosa com a nossa
alimentação. Sempre foi contra comermos comida congelada, ia ao super-
mercado todos os dias. Na altura também não havia a oferta de fast food
que há hoje. A primeira vez que ouvi falar nas cadeias de hambúrgueres
foi em Barcelona, tinha eu 8 anos e fui para lá viver (por dois anos apenas).
-16 kg
-26 kg
16
juntos conseguimos!
Era raríssimo lá irmos, não fazia parte dos nossos hábitos alimentares. Pizas
também só comíamos muito de vez em quando. Hoje recorre-se a fast
food com regularidade, a oferta é muita, em cada esquina, e os preços são
muito apetecíveis.
Na minha infância, também não existiam as tentações que hoje enchem
as prateleiras dos supermercados. Hoje é muito mais fácil recorrer a gulosei-
mas, há bolachas de todos os tipos e feitios, máquinas de doces em mui-
tos edifícios públicos (até escolas!)... e é muito fácil ceder à tentação e fazer
uma alimentação inadequada, todos os dias da semana.
Os jogos eletrónicos também roubaram muita da atividade física que
dantes preenchia o dia a dia das crianças. Os jogos de futebol na rua, a
macaca, a corda e o elástico foram substituídos pelos jogos de consola,
em casa, e esse estilo de vida mais sedentário afetou e continua a afetar
muitas crianças – sobretudo aquelas que já têm propensão para engordar.
Paula Silva, 46 anos
(132 kg - 70 kg)
Desde miúda que me lembro de ser gordinha. Sempre fui muito
gulosa e desde muito nova que sempre gostei de comer muito, e
tudo aquilo que me fazia mal (o enorme gosto por pão também não
ajudou em nada). Era a típica miúda que arranjava sempre desculpa
para não fazer ginástica nos dias de educação física e, embora gos-
tasse – e ainda goste – de assistir a provas de atletismo, mexer-me
era muito difícil.
-62 kg
17
1. PorQue gAnHAmos Peso
Devido a todos estes fatores, muitas crianças começam a acumular,
desde cedo, células adiposas ou de gordura, que são células que não desa-
parecem nem podem ser destruídas – quando se emagrece, elas apenas
diminuem de volume. Mas continuarão sempre prontas para acumular gor-
dura. Só recorrendo a alguns tratamentos estéticos – não comportáveis à
maioria das bolsas – se pode eliminar parte destas células adiposas. Muitos
pais, desconhecendo este facto, facultam aos seus filhos uma alimentação
incorreta e um estilo de vida pouco saudável, comprometendo assim a sua
saúde e o seu peso, não só na infância mas para o resto da vida.
No meu caso, a tendência para engordar acabou por se manifestar ape-
nas quando parei de fazer desporto (situação que abordarei mais à frente)
e comecei a fazer uma alimentação mais errada e desregrada. Deitada no
sofá, a estudar, comecei a devorar pacotes de bolachas, chocolates e gulo-
seimas, e a não ter regras nem horas para fazer as principais refeições (aliás,
cortava muito nas refeições principais e, com a fome com que ficava, devo-
rava ainda mais «porcarias»). Existindo a tendência, eu juntei-lhe dois pesa-
dos fatores (uma má alimentação e um estilo de vida sedentário) que me
fizeram atingir a barreira dos 90 kg em pouco tempo.
ana riTa Silva, 20 anos
(87 kg - 72 kg)
Sempre fui gordinha desde criança e nunca me preocupei muito
com o meu corpo. Até que, por volta dos 17 anos, comecei a engor-
dar cada vez mais, até chegar aos 87 kg.
-15 kg
18
juntos conseguimos!
Agora, o facto de a tendência para engordar nos poder estar nos genes
não significa que tenhamos que carregar connosco, por toda a vida, o peso
dessa herança. As células adiposas podem não ser destruídas, mas podem
ser emagrecidas, com a alimentação certa e, se possível, também com uma
vida mais ativa. É efetivamente possível libertarmo-nos desse peso e nunca
mais sofrermos com ele. Todos os testemunhos que aqui leram são de
pessoas que sentiam essa tendência desde a infância ou juventude e que
hoje têm um peso adequado, sem esforço. Essa é a prova de que é possí-
vel. Veremos mais à frente de que forma.
mudança de hábitos
Se é verdade que muitas pessoas começam a lidar com o excesso de peso
desde a infância, são também muitas aquelas que só se deparam com o
problema a um dado momento da vida, quando alteram determinados
hábitos, sejam eles alimentares e/ou de estilo de vida.
Como já referi anteriormente neste capítulo, passei toda a minha infân-
cia e adolescência sem qualquer preocupação com aquilo que comia. Fazia
patinagem desde os 5 anos e os treinos intensos abriam-me muito o ape-
tite. Lembro-me que, após a escola, lanchava em casa da minha avó, e por
vezes o lanche eram duas tostas mistas com um grande batido de banana,
que a minha avó preparava para eu ter energia para o treino. Depois do
treino jantava bem, estudava um bocadinho e deitava-me. Comia bastante,
mas desgastava ainda mais, e não tinha, na minha vida intensa, grande mar-
gem para os snacks fora de horas.
Os problemas começaram quando cheguei ao 12.º e comecei a baixar
as notas a Matemática. Como era um ano decisivo, achei por bem interrom-
per a competição. Como já não competia, os treinos tornaram-se menos
19
1. PorQue gAnHAmos Peso
interessantes, desmotivei-me e acabei por desistir da patinagem. Resultado:
voltei a ter muito boas notas a Matemática... Mas iniciou-se nesse ano a
minha luta contra o excesso de peso.
Talvez para um adulto seja mais claro que, ao reduzir o ritmo de vida, é
importante que se reduza também o aporte calórico daquilo que se ingere.
Mas para uma adolescente isso pode não ser tão evidente. No meu caso, não
foi. Apesar de ter interrompido a patinagem e de ter começado a andar de
moto, continuei a comer doses generosas. Com a agravante de que fiquei
com mais tempo para petiscar bolachas e guloseimas que antes não tinha
tempo de comer. O meu padrasto, entretanto, tornou-se diretor de uma
empresa do ramo alimentar e trazia para casa inúmeros pacotes de bola-
chas de diversos tipos, que faziam a minha delícia a toda a hora.
E foi assim que, rapidamente, passei dos 58 para os 72 quilos... E só parei
nos 90 quilos! Sim, leram bem: 90 quilos.
20
juntos conseguimos!
-45 kgvÍTor Hugo
faria, 28 anos
(132 kg - 87 kg)
Sempre fui gordinho, desde crian-
ça, mas com o passar dos anos e
com a entrada no mercado de
trabalho o peso começou a au-
mentar, talvez por ter deixado
de praticar desporto. Até há
quatro anos praticava hó-
quei em patins. Nestes últi-
mos quatro anos engordei
20 kg...
Nos primeiros tempos, quando as pessoas me diziam que eu estava
mais gordinha, eu pensava sempre que aquela era uma fase e que eu
iria controlar esse aumento de peso. Afinal de contas, sempre engor-
dara no verão (todos os desportistas engordam), mas sempre perdera
o peso ganho, com o retomar dos treinos. O problema é que eu, desta
vez, não iria retomar o estilo de vida intenso e, sem isso, não sabia o que
fazer para controlar o meu peso. O que eu achava que controlava trans-
formou-se afinal num descontrolo, que acabou por me afetar psicologi-
camente. A comida passou a ser a minha inimiga, mas uma inimiga que
me tentava a cada esquina, sem que eu soubesse como lidar com ela.
E, quanto mais isso me afetava, mais as minhas escolhas recaíam sobre os
alimentos errados, consumidos de forma descontrolada.
ANTES
21
1. PorQue gAnHAmos Peso
-30 kgSuSana SoareS, 36 anos
(105 kg - 75 kg)
No meu caso, a interrupção da prática desportiva aconteceu no 12.º,
mas ela verifica-se ainda com mais frequência aquando da entrada no mer-
cado de trabalho. O tempo dedicado ao desporto, no liceu ou na faculdade,
deixa muitas vezes de existir, dando lugar a uma vida muito mais seden-
tária, que obriga a muitas refeições fora e/ou falta de tempo para fazer
refeições de qualidade.
ANTES
Joguei voleibol alguns anos e,
aquando do ingresso na univer-
sidade, parei radicalmente com
aquela e qualquer atividade físi-
ca, o que acentuou o processo
de aumento de peso.
22
juntos conseguimos!
PaTrÍcia aMor da Silva, 27 anos
(86 kg - 76 kg)
Embora sempre tenha sido bem constituída, comecei a engordar a
partir dos 24 anos, provavelmente devido a uma má alimentação,
causada pelo trabalho que tinha.
O meu primeiro estágio, numa cadeia de gelados (área do controlo
alimentar), também contribuiu bastante para o meu aumento de peso.
Não foi um estágio que me agradasse particularmente e sentia-me desa-
nimada. Quando saía ao final do dia, tinha necessidade de relaxar e com-
pensar o desânimo que sentia... e a comida era o escape perfeito! Para
agravar a situação, a empresa deixava-me trazer para casa não só gelados
mas também caixas de cones, de nozes caramelizadas... que eu devorava
só no regresso a casa! A mudança de hábitos, o stresse, o desânimo e o
acesso diário a alimentos que engordavam muito foram fatores determi-
nantes para o meu aumento de peso nessa fase.
Casar é tido como outro fator que promove um aumento de peso. Um
estilo de vida mais «pacato», menos saídas com os amigos, menos exercí-
cio físico e adoção de certos hábitos mais negativos do companheiro ou
companheira podem ajudar a explicá-lo.
No meu caso, isso não me afetou, mas acompanho muitos pacientes a
quem o casamento trouxe uma mudança de hábitos nefasta, que se tra-
duziu num aumento de peso.
Mudar de cidade ou de país e, com isso, de hábitos alimentares e estilo
de vida pode também pesar na balança.
Mudar de cidade para estudar, por exemplo, pode implicar que se
coma mais vezes fora com os amigos; que se ceda mais facilmente às
-10 kg
23
1. PorQue gAnHAmos Peso
tentações (petiscos e guloseimas), às comidas pré-feitas e a mais álcool.
Muitos adolescentes que vão estudar para fora não sabem cozinhar, pois
sempre foram os pais que cozinharam em suas casas. A comida conge-
lada e pré-feita torna-se assim uma grande aliada... Mas com custos para
a saúde e para o peso.
No meu caso, não mudei propriamente de cidade para estudar: vivia
em Cascais e fui estudar para a Costa da Caparica, o que me permitia vir
dormir todos os dias a casa. Mas as saídas à noite, tão próprias da idade,
também não favoreceram o meu peso, porque efetivamente o álcool engor-
da – não nos esqueçamos de que é açúcar fermentado. Muitos jovens, na
faculdade, sentem-se «inchar», sobretudo na zona da barriga, e isso deve-
-se, em grande medida, ao álcool que é consumido nessa fase da vida.
Já mudar de país pode implicar uma mudança de hábitos alimenta-
res que não favorece o controlo do peso. Às vezes porque se descobrem
iguarias novas, outras vezes porque não se gosta da comida e se tende
a procurar as cadeias de fast food, onde os sabores são mais «habituais».
E o álcool, como vimos, também não ajuda. Tenho muitas pacientes ado-
lescentes que, após seis meses ou um ano a estudar noutro país, no âmbito
do programa Erasmus, regressam a casa com mais 10 kg...
TereSa BaPTiSTa, 39 anos
(64 kg - 52 kg)
Sempre fui gordinha mas nunca tive excesso de peso. Aos 18 anos
estive em Londres três meses e, quando cheguei a Portugal, tinha
64 kg. As minhas batalhas na luta contra o peso começaram pouco
tempo depois.
-12 kg
24
juntos conseguimos!
Independentemente daquilo que nos fizer mudar de hábitos alimenta-
res e/ou de estilo de vida, o importante é estarmos atentos a essa mudança
e percebermos até que ponto ela nos afeta. Antes que a situação se des-
controle, é importante encarar de frente essa mudança e perceber de que
forma ela pode ser nossa aliada, mais do que nossa inimiga.
más esColhas alimentares
Basta fazer um pequeno passeio pelo supermercado para constatar como
as prateleiras estão cheias de produtos que nos fazem engordar. Nas
pastelarias, a oferta é sobretudo de pão branco, bolos e folhados. Nos
restaurantes, temos ementas cheias de pratos cheios de molhos, acom-
panhados tantas vezes de batatas fritas, sobremesas de chocolate, cre-
mes, natas e chantilly... De tal forma que resistir à tentação é uma tarefa
árdua e exige uma enorme força de vontade, que nem sempre temos,
por diversos motivos e fatores.
As más escolhas alimentares começam muitas vezes na infância. Se os
pais fazem uma alimentação errada, é essa alimentação que os filhos vão
fazer. Por muito que na escola aprendam a roda dos alimentos e aquilo que
é ou não é saudável, é em casa e com os pais que fazem grande parte das
suas refeições, e aquilo que encontram no frigorífico e despensa é aquilo
a que serão tentados a comer. Se na escola também não houver cuidado
com aquilo que é oferecido às crianças em termos de alimentação (e essa
é a realidade em várias escolas), elas crescerão com um conjunto de maus
hábitos que serão difíceis de contrariar.
25
1. PorQue gAnHAmos Peso
vÍTor Hugo faria, 28 anos
(132 kg - 87 kg)
Sou uma pessoa que gosta de comer mas, até iniciar a minha mu-
dança alimentar, raramente comia fruta ou legumes. Por vezes até
brincava e dizia que era alérgico. Em compensação, era capaz de
devorar um pacote de bolachas ao lanche ou comer uma piza in-
teira ao jantar.
No entanto, nem sempre é na infância que os maus hábitos se insta-
lam. No meu caso, sempre comi com qualidade, e só aos 17 anos comecei
a descobrir e a integrar na minha dieta alimentos como bolachas, biscoitos,
chocolates, batatas fritas de pacote, frutos secos com sal, pizas e folhados...
entre vários outros alimentos que sabem muito bem, mas que é inegável
que fazem muito mal! Hoje sabe-se que o açúcar atua nos centros de prazer
que são ativados por outras substâncias como drogas e o álcool. Hoje
sabe-se que o açúcar vicia e que, após instalado o vício, a sua abstinência
causa um mal-estar semelhante ao de uma ressaca. Tudo isto é hoje sabido
e difundido, mas os supermercados continuam cheios destes produtos
que nos dão uma sensação de bem-estar, uma compensação emocional...
Ilusórias, no entanto.
Quando comecei a aumentar de peso, fruto das más escolhas alimenta-
res que fazia, sentia uma dificuldade cada vez maior em resistir a alimentos
que eu sabia que me engordavam. Quanto mais os ingeria, menos saciada
me sentia. Mais e mais alimentos desses me apetecia. E isto pode parecer
estranho a quem nunca sofreu de excesso de peso, mas este «efeito bola
de neve» é hoje amplamente estudado e sabe-se que é difícil de contrariar.
-45 kg