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2

3

FICHA TÉCNICA

Alessandro Golombiewski Teixeira

Presidente ABDI

Maria Luisa Campos Machado Leal

Diretora

Miguel Antonio Cedraz Nery

Diretor

Carla Maria Naves Ferreira

Gerente de Desenvolvimento Tecnológico e

Inovação

Mariano Francisco Laplane

Presidente CGEE

Marcio de Miranda Santos

Diretor Executivo

Antonio Carlos Filgueira Galvão

Gerson Gomes

José Messias de Souza (19/08/2015)

Diretores

SUPERVISÃO

Maria Luisa Campos Machado Leal

SUPERVISÃO

Marcio de Miranda Santos

EQUIPE TÉCNICA DA ABDI

Carla Maria Naves Ferreira

Gerente de Desenvolvimento Tecnológico e

Inovação

Zil Miranda

Assessora Especial

Rodrigo Rodrigues

Analista Sênior

Carlos Venicius Frees

Especialista Setorial

Ricardo Gonzaga Martins

Especialista Setorial

Adriana dos Santos Ghizoni

Assistente de Projetos

EQUIPE TÉCNICA CGEE

Liliane Sampaio Rank de Vasconcelos

Coordenadora

Kátia Regina Araújo de Alencar

Assessora

Kleber de Barros Alcanfôr

Assessor

Lilian M. Thomé Andrade Brandão

Assessora

Rogério Mendes Castilho

Assessor

Simone Rodrigues Neto Andrade

Assistente Administrativo

4

COORDENAÇÃO TÉCNICA GERAL

Fabio Stallivieri (UFF)

Ricardo Naveiro (UFRJ)

Rodrigo Sabbatini (UNICAMP)

Jorge Britto (UFF)

COORDENAÇÃO TÉCNICA SETORIAL

Paulo Bastos Tigre (UFRJ) – Panorama

Econômico

Viviane Carvalho Nogueira (CTI) – Panorama

Tecnológico

COMITÊ TÉCNICO DE ESPECIALISTAS

Carlos Achete

Carlos Azen

Celso Pinto Saraiva

Flavia Carneiro Lopes Dantas

Marcos Cremona

Thebano Emilio de A. Santos

Victor Pellegrini Mammana

5

SUMÁRIO

1 Introdução ....................................................................................................................................... 9

2 Display de Cristal Líquido (LCD) ..................................................................................................... 11

2.1 Cristal líquido .......................................................................................................................... 11

2.2 Princípio de funcionamento ................................................................................................... 13

2.3 Modos de acionamento ......................................................................................................... 15

2.3.1 Multiplexado de matriz passiva ....................................................................................... 15

2.3.2 Multiplexado de matriz ativa ........................................................................................... 16

2.4 Unidade de retroiluminação (BLU, backlight unit) ................................................................. 18

2.5 Tecnologias para aumentar o ângulo de visão em displays de LCD ....................................... 23

2.6 Processos de fabricação de AMLCD ...................................................................................... 25

2.6.1 Generation (Gen.) ........................................................................................................... 25

2.6.2 Fabricação do TFT .......................................................................................................... 27

2.6.4 Fabricação da Célula de AMLCD ................................................................................... 28

2.6.5 Fabricação do módulo de AMLCD ................................................................................. 29

3 Display de OLED (Diodo Orgânico Emissor de Luz) ................................................................... 30

3.1 Princípio de funcionamento ................................................................................................... 30

3.2 Materiais para OLEDs ............................................................................................................ 32

3.3 Tecnologias para deposição de materiais orgânicos ............................................................... 34

3.4 Tipos de AMOLED ................................................................................................................... 38

3.5 OLED x LCD ............................................................................................................................. 41

3.6 OLEDs para Iluminação ......................................................................................................... 42

4 Display de e-paper ......................................................................................................................... 44

5 Transistor de Filme Fino (TFT) ..................................................................................................... 46

6 Eletrodos Transparentes e Condutores ......................................................................................... 50

7 Displays Flexíveis ........................................................................................................................... 51

8 Japan Display Inc. (JDI) ................................................................................................................ 55

9 Cenário Brasileiro ......................................................................................................................... 56

10 Considerações Finais ................................................................................................................... 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 63

6

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Matriz das principais tecnologias de displays .................................................................... 9

Figura 2 - Ilustração dos estados da matéria: sólido, líquido e cristal líquido ................................. 12

Figura 3 - Ilustração das partes que compõem um módulo de LCD ................................................ 13

Figura 4 - Ilustração do píxel RGB e seus subpíxeis vermelho (R), verde (G) e azul (B) ............... 14

Figura 5 - Ilustrações da polarização da luz para um display de fundo claro. (a) Mudança da

polarização da luz pelas moléculas de cristal líquido quando o display está desligado; e (b) não

alteração da polarização da luz devido ao alinhamento das moléculas de cristal líquido quando o

display está ligado ............................................................................................................................ 15

Figura 6 - Ilustração do modo de acionamento multiplexado de matriz passiva ............................. 16

Figura 7 - Ilustração do modo de acionamento multiplexado de matriz ativa ................................. 17

Figura 8 - Distribuição do consumo de energia para um display de LCD ....................................... 18

Figura 9 - Mercado de TVs por tecnologia1 ..................................................................................... 19

Figura 10 - Ilustração dos BLUs para LCDs: CCFL com montagem convencional e LED com

montagem na lateral (edge-lit) ......................................................................................................... 20

Figura 11 - Ilustração das camadas e filmes ópticos utilizados em um display de LCD.................. 21

Figura 12 - Espectro do filme óptico da Nanosys e 3M (quantun dot enhancement film (QDEF) .. 22

Figura 13 - (a) Componente óptico Color IQ da empresa QD Vision; (b) Ilustração do componente

óptico Color IQ no display de LCD ................................................................................................. 23

Figura 14 - Comparação do arranjo das moléculas de cristal líquido em displays de LCD com as

tecnologias TN, IPS e MVA ............................................................................................................. 24

Figura 15 - Ilustração comparativa da imagem de displays LCD-TN (direta) e LCD-IPS (esquerda)

em ângulo de 45° .............................................................................................................................. 25

Figura 16 - Ilustração do tamanho do substrato de vidro para Gen.7, Gen.5 e Gen. 3.5 .................. 26

Figura 17 - Ilustração das etapas de processo envolvidas na fabricação do TFT de silicio amorfo . 27

Figura 18 - Ilustração das etapas de processo envolvidas na fabricação do filtro de cor ................. 28

Figura 19 - Ilustração da integração do TFT com o substrato que contém o filtro de cor e das etapas

de corte e preenchimento dos painéis de AMLCD com cristal líquido ............................................ 29

Figura 20 - Ilustração das etapas de processo para fabricação do módulo ....................................... 29

Figura 21 - Ilustração da estrtura de um dispositivo OLED simples ............................................... 31

Figura 22 - Sistema de glove-box (câmaras de luvas) para fabricação de OLEDs e células solares

instalada no laboratório da Divisão de Mostradores de Informação do Centro de Tecnologia da

Informação Renato Archer (CTI) ..................................................................................................... 32

Figura 23 - Fórmula química estrutural de materiais utilizados em OLEDs: (a) polímero PFO; (b)

pequena molécula Alq3; e (c) complexo organometálico de Ir3+ ...................................................... 34

Figura 24 - Ilustração do processo de deposição de materiais orgânicos por evaporação térmica

utilizando máscara mecânica para gravação dos píxeis ................................................................... 35

Figura 25 - Comparação do custo de OLEDs de pequena e grande área obtidos por processos de

deposição de materiais em solução e PVD em relação ao custo do LCD ........................................ 36

Figura 26 - Protótipo de TV de OLED de 56 polegadas da Panasonic com camadas orgânicas

depositadas através da tecnologia de impressão jato de tinta ........................................................... 36

7

Figura 27 - Impressora jato de tinta DMP-2831 (FUJIFILM Dimatix) utilizada para a deposição de

polímeros na fabricação de dispositivos OLEDs e células solares orgânicas .................................. 37

Figura 28 - Comparação dos métodos de deposição e gravação dos materiais orgânicos em OLEDs

.......................................................................................................................................................... 38

Figura 29 - Características dos AMOLEDs fabricados pelas empresas Samsung e LG .................. 39

Figura 30 - Primeira TV de AMOLED comercializada no mundo, fabricada pela LG .................... 40

Figura 31 - Primeira TV de AMOLED 3D "curva" do mundo, fabricada pela LG: (a) vista fronta;

(b) vista lateral .................................................................................................................................. 40

Figura 32 - Desenho esquemático da estrutura de displays de LCD e OLED ................................. 41

Figura 33 - Comparação do desempenho de displays de LCD-IPS, AMOLED-RGB e AMOLED-

RGBW .............................................................................................................................................. 42

Figura 34 - Ilustração da utilização de painéis de OLEDs para iluminação em janelas ................... 43

Figura 35 - Luminárias de OLED: (a) Airabesc, da OSRAM; e (b) Living Sculpture, da Philips ... 44

Figura 36 - Ilustração das microcápsulas de partículas eletroforéticas ............................................ 45

Figura 37 - Displays eletroforéticos da E Ink aplicados em (a) relógio; e (b) etiquetas eletrônicas 46

Figura 38 - Ilustração das estruturas (em corte) dos TFTs de: (a) a-Si:H; (b) IGZO; e (c) LTPS .... 47

Figura 39 - Características requeridas para aplicação de materiais como eletrodos transparentes e

condutores em displays, telas de toque, células solares e dispositivos optoeletrônicos ................... 50

Figura 40 - Vidros "flexíveis" para displays: (a) Willow Glass de 0,1 mm de espessura adequado

para processo roll-to-roll (Corning); e (b) Spool de 0,05 mm de espessura da Asahi Glass ........... 52

Figura 41 - Previsão da evolução (da esqueda para a direita) dos dispositivos baseados em displays

flexíveis e-paper (topo) e displays AMOLED (embaixo) ................................................................ 53

Figura 42 - Protótipos de displays flexíveis: (a) e-paper da Elnk; (b) e (c) celulares com display

AMOLED da Samsung; (d) AMOLED da LG; e (e) AMOLED da Sharp ...................................... 54

Figura 43 - Ilustração do processo roll-to-roll para fabricação de displays eletroforéticos da SiPix

Technology ....................................................................................................................................... 55

Figura 44 - Protótipos de displays da JDI apresentados no evento Display Week 2013: (a) AMLCD

de 12.2” para aplicação automotiva; e (b) AMOLED de 5.2” com resolução de 423 ppi ................ 56

8

LISTAS DE TABELAS

Tabela 1 - Quadro comparativo das diferentes tecnologias de TFTs: silício amorfo hidrogenado (a-

Si:H), silício policristalino de baixa temperatura (LTPS) e óxido de índio, gálio e zinco (IGZO) .. 48

Tabela 2 - Migração das linhas de produção de TFTs a-Si:H para IGZO das principais fabricantes

de displays de AMLCD e AMOLED ............................................................................................... 49

9

1 Introdução

É indiscutível que atualmente os produtos eletrônicos, de informática e de

telecomunicações, sejam de uso profissional ou de consumo, dependam cada vez mais de

displays para sua operação. Há uma ampla variedade de tecnologias na área capazes de

manipular a cor, o brilho, o contraste e outros detalhes da imagem. Em 2012, a tecnologia

de displays de cristal líquido de matriz ativa (AMLCD) dominou o mercado. Neste mesmo

ano, a indústria de displays de diodos orgânicos emissores de luz de matriz ativa

(AMOLED) teve mais de 90 milhões de unidades vendidas. O mercado para estas duas

tecnologias somou mais de US$ 110 bilhões, com aplicações principalmente em televisões

de grande área, monitores para desktop, smartphones, tablets e notebooks.

As diferentes tecnologias de displays podem ser reunidas em dois grandes grupos,

emissivos e não emissivos, de acordo com sua capacidade ou não de emitir luz. A figura 1

apresenta uma matriz com as principais tecnologias.

Figura 1- Matriz das principais tecnologias de displays

Elaboração da autora.

Algumas tecnologias apresentadas na matriz não serão aprofundadas neste texto, uma vez

10

que estas oferecem poucas perspectivas de participação na corrida pelos displays planos

com alta resolução de imagem, embora possam atender a alguns nichos de mercado. Essas

tecnologias são descritas a seguir.

Displays de plasma: esta tecnologia apresenta boas características, e durante muitos anos

foi vista como a grande rival da tecnologia de LCDs. Porém, atualmente se encontra em

declínio devido a sua aplicação restrita a displays de grande área e à grande ascensão dos

displays de LCD. A maior fabricante de displays de plasma, a japonesa Panasonic,

anunciou recentemente o fechamento de sua maior fábrica de TVs de plasma, localizada

em Shanghai, China. A Panasonic não está abandonando totalmente a produção de displays

de plasma, mas irá diminuir sua capacidade de produção frente a uma demanda cada vez

menor. O objetivo agora é concentrar esforços na produção de displays de LCD e OLED.1

Displays de diodos emissores de luz (LED): os displays de LED consistem de diodos de

materiais inorgânicos e são utilizados principalmente em aplicações de grande área, como

outdoors, em estádios e para sinalização.

Displays de filme fino eletroluminescente (TFEL): têm estrutura bastante simples, cujo

elemento principal consiste de uma fina camada de fósforo. Apresentam algumas

características interessantes, tais como funcionamento em condições de temperatura

extrema (-60°C a 85°C), baixo custo e possibilidade de obtenção de displays flexíveis. Os

displays de TFEL foram muito utilizados no início da indústria de computadores portáteis

e, apesar de apresentarem características interessantes, algumas limitações tecnológicas –

tais como baixo tempo de vida, dificuldade de obtenção de displays de grande área, baixa

estabilidade dos fósforos e baixa luminância – impediram sua disputa com os displays de

alta performance, como o LCD.

Displays de emissão de campo (FED): da década de 1990 até meados dos anos 2000, a

tecnologia de FEDs foi bastante investigada por empresas como Motorola, Samsung,

PixTech, Futaba etc. Tais empresas acreditavam que esta tecnologia poderia ser mais barata

do que as tecnologias de LCD e plasma, porém, a grande dificuldade dos FEDs, que

culminou com o abandono da tecnologia pela maioria das empresas, foi o escalonamento

para produção em massa.

1 <http://online.wsj.com/article/BT-CO-20130111-701537.html>. Acesso em: 10 fev. 2013.

11

O texto a seguir apresenta um panorama tecnológico das tecnologias de LCD, OLED e e-

paper que estão presentes em inúmeras aplicações de displays (televisões, monitores,

tablets, smartphones, notebooks, livros eletrônicos etc.). Também serão apresentados dois

elementos fundamentais para os displays e que atualmente se encontram em processo de

inovação: os eletrodos transparentes e condutores e os transistores de filme fino (TFT). Por

fim, será apresentada a tecnologia que promete revolucionar o mercado nos próximos anos:

os displays flexíveis.

2 Display de Cristal Líquido (LCD)

2.1 Cristal líquido

A história do cristal líquido se inicia em 1888, quando Friedrich Reinitzer, um

pesquisador austríaco da área de botânica, descobriu um estado intermediário da matéria,

entre os estados líquido e sólido. Esse estado foi chamado de cristal líquido (figura 2). Um

líquido é isotrópico, ou seja, qualquer propriedade física verificada independe da direção

da medida. Um sólido cristalino, por outro lado, possui planos de simetria, e portanto é

anisotrópico. O cristal líquido combina a anisotropia ótica e elétrica do estado sólido com a

fluidez e a mobilidade molecular do estado líquido (Kim e Song, 2009).

12

Figura 2 - Ilustração dos estados da matéria: sólido, líquido e cristal líquido

Fonte: Ely, Hamanaka e Mammana (2007).

A possibilidade da utilização do cristal líquido em displays veio à tona somente por

volta de 1968, quando se demonstrou que uma fina camada desse material poderia espalhar

a luz quando submetida a uma tensão elétrica. A partir de então, expandiu-se rapidamente a

popularidade dos cristais líquidos e dos displays de LCD. O principal incentivo para o

desenvolvimento dos LCDs foi o baixo consumo de energia necessário para o controle da

transmissão da luz oriunda de uma fonte externa.

Entre os diversos tipos de cristais líquidos conhecidos, os nemáticos são os mais

importantes para aplicação em displays, devido à sua baixa viscosidade e baixo tempo de

resposta a impulsos elétricos (Ely, Hamanaka e Mammana, 2007, p. 1776-1779). Um tipo

particular de cristal líquido, chamado nemático torcido (TN), encontra-se naturalmente

torcido e a aplicação de uma diferença de potencial neste cristal líquido faz com que suas

moléculas alinhem ao campo elétrico, perpendicular ao substrato.

Atualmente, a empresa Merck, da Alemanha, é a líder mundial na fabricação de

cristais líquidos, fornecendo este material para quase todas as empresas fabricantes de

displays de LCD.

Usado em LCDs

Cristal líquido

Sólido Líquido

13

2.2 Princípio de funcionamento

Um módulo de LCD (figura 3) é composto basicamente por uma camada de

moléculas de cristal líquido alinhadas perpendicularmente entre dois eletrodos condutores

transparentes (vidro recoberto com uma fina camada de óxido de índio e estanho – ITO) e

dois filtros polarizadores. Além disso, há uma unidade de retroiluminação, ou backlight

unit (BLU), e uma série de filmes ópticos (difusores, realçadores de brilho), responsáveis

por espalhar a luz da BLU de maneira uniforme por toda a área de visualização do display

e extrair a luz da BLU com maior eficiência. As superfícies dos eletrodos que estão em

contato com o cristal líquido são tratadas a fim de alinhar as moléculas do cristal líquido

numa direção particular. O eletrodo superior contém o filtro de cor e o eletrodo inferior

pode conter os transistores de filme fino (TFTs) responsáveis pelo acionamento de cada

subpíxel (figura 4). Ao se aplicar uma diferença de potencial entre os eletrodos, um campo

elétrico é gerado. Este campo elétrico pode rotacionar as moléculas de cristal líquido,

alterando a transmissão de luz.

Figura 3 - Ilustração das partes que compõem um módulo de LCD

14

Fonte: Fujifilm (2012).

Figura 4 - Ilustração do píxel RGB e seus subpíxeis vermelho (R), verde (G) e azul (B)

Fonte: A autora.

Em um LCD com cristal líquido do tipo TN, as direções de alinhamento na

superfície dos dois eletrodos são perpendiculares, e assim as moléculas se organizam em

uma estrutura helicoidal. Há displays que, quando desligados, apresentam fundo claro, e

outros que apresentam fundo escuro. No primeiro caso, a luz que atravessa o filtro

polarizador é rotacionada pela hélice de cristal líquido à medida que esta passa pelas

moléculas de cristal líquido, permitindo assim que a luz passe através do segundo

polarizador, sem que seja bloqueada (figura 5-a). Quando se aplica uma diferença de

potencial entre os eletrodos suficiente para alinhar as moléculas do cristal líquido

(distorcendo sua estrutura helicoidal), não ocorre a rotação da luz incidente, de modo que a

luz sai perpendicular em relação ao segundo polarizador e, assim, é completamente

bloqueada, de modo que o píxel irá aparecer preto (figura 5-b). Ao controlar a tensão

aplicada através da camada de cristal líquido em cada píxel, a intensidade de luz pode ser

variada, de forma a controlar a iluminação do píxel. Para os displays com fundo escuro,

quando estes estão desligados, os polarizadores encontram-se alinhados paralelamente

Pixel (RGB)

Subpixels

15

entre si, de modo que, ao se aplicar um campo elétrico adequado, as moléculas de cristal

líquido se alinham perpedicularmente ao display e a luz atravessa o segundo polarizador.

(a)

(b)

Figura 5 - Ilustrações da polarização da luz para um display de fundo claro. (a)

Mudança da polarização da luz pelas moléculas de cristal líquido quando o display

está desligado; e (b) não alteração da polarização da luz devido ao alinhamento das

moléculas de cristal líquido quando o display está ligado

Fonte: Engineer Guy. Disponível em: <http://www.engineerguy.com/videos/video-

lcd.htm>.

2.3 Modos de acionamento

Os displays de LCD, assim como os de OLED, são displays de matriz (com linhas de

varredura e colunas de dados), o que significa que cada subpíxel pode ser acionado de

maneira individual. Existem dois modos de acionamento para os displays de LCD e

OLED: o multiplexado de matriz passiva e o multiplexado de matriz ativa.

2.3.1 Multiplexado de matriz passiva

No LCD de matriz passiva (PMLCD), os subpíxeis estão localizados na intersecção

das linhas e colunas (figura 6). Subpíxeis de linhas diferentes não podem ser acionados

simultaneamente. Este modo possui uma configuração relativamente simples e de baixo

custo, e é utilizado em displays de pequena área com informações em formato de texto e

imagens estáticas de baixa resolução. Displays com este modo de acionamento apresentam

16

algumas limitações, tais como: longo tempo de resposta, controle de tensão pouco preciso,

baixo contraste e ângulo de visão estreito.

Figura 6 - Ilustração do modo de acionamento multiplexado de matriz passiva

Fonte: <http://informatica.hsw.uol.com.br/lcd7.htm>. Acesso em: 21 fev. 2012.

2.3.2 Multiplexado de matriz ativa

A expressão matriz ativa se refere ao emprego de um elemento ativo para comandar

cada subpíxel do display (figura 7), o que em eletrônica quer dizer um elemento que

apresente ganho de corrente, de tensão ou de ambas. LCDs com matriz ativa utilizam uma

rede de transistores como chaves para comandar a voltagem aplicada a cada subpíxel

individualmente. Idealmente, a matriz ativa de TFTs pode ser considerada como um

arranjo de chaves para os píxeis, construído diretamente sobre o display.2

A configuração deste modo de acionamento é mais complexa, porém permite um

controle de tensão – e, portanto, de brilho – muito preciso, e possibilita a obtenção de

displays com amplo ângulo de visão, baixo tempo de resposta, altos contraste e brilho.

2A. P. Mammana, Curso de Mostradores de Informação (2003).

Colunas (dados)

Linhas (varredura)

V aplicada aqui

Conexão terra

17

Figura 7 - Ilustração do modo de acionamento multiplexado de matriz ativa

TFT

R G B

18

Fonte: Adaptado pela autora de <http://informatica.hsw.uol.com.br/lcd7.htm>. Acesso em: 21 dez.

2012.

2.4 Unidade de retroiluminação (BLU, backlight unit)

A BLU é a fonte luminosa de um display de LCD. Devido às tendências mundiais

de consumo de energia racional e consciente, o consumo de energia dos displays é um

assunto de permanente discussão. Grandes esforços para diminuir o consumo de energia

dos LCDs se concentram na BLU, responsável por 67% do consumo de energia do display

de LCD (ver figura 8). Uma solução encontrada é a substituição das lâmpadas

fluorescentes de cátodo frio (CCFLs) por diodos inorgânicos emissores de luz (LEDs).

Esta substituição está ocorrendo de maneira acelerada (ver figura 9). Espera-se que, no

caso de televisões, em 2015 todos os LCDs tenham suas BLUs iluminadas por LEDs.

Muitas TVs atualmente comercializadas como LED-TV não são TVs de LED, e sim TVs

de LCD com BLU de LED.

Figura 8 - Distribuição do consumo de energia para um display de LCD

Fonte: Ely (2012).

19

Figura 9 - Mercado de TVs por tecnologia1

Fonte: DisplaySearch (2012).

Nota: 1 Atente-se para o crescimento das vendas de televisões de LCD com BLU de LED e

a extinção de LCD com BLU de CCFL em 2015.

Além da diminuição do consumo de energia, a substituição das BLUs de lâmpadas

fluorescentes por LEDs oferece muitas vantagens, tais como (Kobayashi e Mikoshiba,

2009):

os LEDs cobrem uma gama de cores maior do que as CCFLs;

os LEDs têm uma eficiência maior do que as CCFLs, o que é particularmente

importante para dispositivos que usam baterias, tais como netbooks, tablets e

notebooks;

a utilização de LEDs com montagem na lateral (edge-lit, ver figura 10) permite a

obtenção de displays muito finos;

os LEDs permitem o monitoramento localizado de brilho ao longo de toda a tela;

LEDs são fontes de luz ambientalmente corretas, pois não contêm mercúrio.

A produção em massa das lâmpadas de LED tem feito seu preço diminuir

significativamente ao longo dos últimos anos. Além da aplicação em BLU, as lâmpadas de

LED têm penetrado os importantes mercados de iluminação doméstica, automotivo e de

iluminação industrial.

20

Figura 10 - Ilustração dos BLUs para LCDs: CCFL com montagem convencional e

LED com montagem na lateral (edge-lit)

Fonte: Sony. Disponível em: <http://www.sony.com.au/article/306397/product/kdl-40zx1>.

Acesso em: 10 fev. 2013.

Neste ponto, é importante mencionar que nem toda a luz oriunda da BLU chega até

a superfície externa do display. Deste modo, filmes ópticos são inseridos no display de

LCD para melhorar sua eficiência de extração da luz, possibilitando a obtenção de displays

com maior brilho e menor consumo de energia.

Em geral, estes filmes ópticos são chamados de filmes realçadores de brilho

(brightness enhancement film – BEF) e consistem de folhas de substratos plásticos

texturizados. Diversos tipos de texturas já foram investigados, tais como: arranjos de

microlentes, texturas piramidais, texturas prismáticas, texturas randômicas, lentes de

Fresnel etc. (Semenza, 2011). A figura 11 apresenta uma ilustração das camadas e dos

filmes ópticos que compõem um display de LCD.

21

Figura 11 - Ilustração das camadas e filmes ópticos utilizados em um display de LCD

Fonte: Semenza (2011).

A Vikuiti 3M dominou o mercado de filmes ópticos durante muitos anos, sendo

praticamente a única empresa detentora das patentes e da tecnologia de produção de filmes

realçadores de brilho. Apesar da migração da indústria de displays para a Ásia, a Vikuiti

3M manteve as fábricas de filmes ópticos nos Estados Unidos, mostrando a importância

estratégica do setor. Com a expiração das patentes da 3M e com o aumento expressivo da

produção de displays, novas companhias fabricantes de filmes ópticos surgiram no

mercado, a maior parte delas localizadas na Ásia. Algumas das empresas fabricantes de

filmes ópticos são:

Vikuiti 3M

Keiwa

Gamma Optical Co.

MNTech

E-Fun

Mitsubishi Rayon

Doosan

Reflexite

Toray Advanced Film Co.

UBright Optronics Co.

22

Hi-Light Tek Co.

SABIC

Kimoto

Tsujiden

Recentemente a empresa Nanosys, juntamente com a 3M, lançou um filme óptico

de quantum dots (QDs) de nanopartículas de fósforo que convertem a luz azul dos LEDs

utilizados como BLU em diferentes comprimentos de onda. Os QDs de diâmetro menor

emitem luz em comprimentos de onda menores, próximos ao verde. Já os QDs de diâmetro

maior emitem luz em comprimentos de onda maiores, próximos ao vermelho. O filme

óptico das empresas Nanosys e 3M, chamado de quantum dot enhancement film (QDEF),

apresenta uma mistura de QDs com diâmetro controlado que emitem verde e vermelho. A

cor azul vem da BLU de LEDs de nitreto de Gálio (GaN). O diâmetro controlado e

bastante reduzido dos QDs, da ordem de 2 a 10 nm, permite a obtenção de cores mais

puras e intensas. A figura 12 apresenta o espectro do filme óptico QDEF.

Figura 12 - Espectro do filme óptico da Nanosys e 3M (quantun dot enhancement film

(QDEF)

Fonte: Nanosysinc. Disponível em: <http://www.nanosysinc.com/>. Acesso em: 10 maio

2013.

A empresa QD Vision também lançou recentemente um componente óptico baseado

em QDs para melhorar a qualidade da cores em displays de LCD. Este componente óptico,

chamado de QD vision, consiste de um pequeno tubo de comprimento variável de acordo

com o tamanho do display, que contém QDs que emitem luz vermelha e verde (figura 13a).

23

Este tubo é inserido na lateral do display, entre os BLUs de LEDs azuis e o painel de guia

de luz (LGP, ver figura 13b). A Sony já está utilizando esta tecnologia em suas TVs de

LCD de alta definição da linha Bravia. Estas tecnologias com QDs buscam melhorar a

performance de cor das TVs de LCD frente à excelente performance de cor dos displays de

OLED.

(a)

(b)

Figura 13 - (a) Componente óptico Color IQ da empresa QD Vision; (b) Ilustração do

componente óptico Color IQ no display de LCD

Fonte: A autora.

2.5 Tecnologias para aumentar o ângulo de visão em displays de LCD

Existem várias tecnologias para aumentar o ângulo de visão (ângulo máximo em

que as imagens do display podem ser visualizadas com um desempenho visual aceitável)

nos displays de LCD. A tecnologia de chaveamento no plano (in-plane switching – IPS) foi

desenvolvida pela Hitachi em 1996. Na tecnologia IPS, os eletrodos estão no plano e as

moléculas de cristal líquido se movem horizontalmente em relação aos eletrodos, ao invés

de perpendicularmente, como nos displays de LCD com cristal líquido TN convencionais.

A Hitachi, a Panasonic e a LG são algumas das empresas que utilizam esta tecnologia.

24

Outra tecnologia utilizada para melhorar o ângulo de visão é a tecnologia de alinhamento

vertical multidomínio (multidomain vertical alignment – MVA). Esta tecnologia foi

desenvolvida pela Fujitsu em 1998 e se baseia no alinhamento vertical das moléculas de

cristal líquido. Algumas das empresas que usam esta tecnologia são a Fujitsu, a AUO e a

Chi Mei. Há uma variedade de configurações associadas a estas duas tecnologias. Estas

configurações são desenvolvidas pelos fabricantes de displays e estão em constante

evolução. Por exemplo, a AUO desenvolveu a premium MVA (P-MVA) e a Chi Mei e a

Fujitsu desenvolveram a tecnologia super MVA (S-MVA). A Samsung desenvolveu as

tecnologias patterned vertical alignment (PVA) e super patterned vertical alignment (S-

PVA). A figura 14 apresenta uma ilustração comparando o arranjo das moléculas de cristal

líquido em displays de LCD com as tecnologias TN, IPS e MVA. Na figura 15, temos a

comparação da imagem de displays com tecnologia LCD-TN e LCD-IPS em ângulo de

45°.

Figura 14 - Comparação do arranjo das moléculas de cristal líquido em displays de LCD

com as tecnologias TN, IPS e MVA

Fonte: <http://uk.hardware.info/reviews/2582/4/background-display-technologies-current-

display-technologies>. Acesso em: 10 jun. 2013.

25

Figura 15 - Ilustração comparativa da imagem de displays LCD-TN (direta) e LCD-IPS

(esquerda) em ângulo de 45°

Fonte: Blog Why LG TV. Disponível em: <http://whylgtv.lge.com/archives/3508>.

Acesso em: 10 jun. 2013.

2.6 Processos de fabricação de AMLCD

Os processos de fabricação de displays de LCD são bastante similares aos

processos utilizados na indústria de semicondutores. Os processos de deposição de

materiais (isolantes, semicondutores e metais), fotolitografia e corrosão são comuns para

ambas as indústrias. A grande diferença entre a indústria de displays e a de semicondutores

é o substrato utilizado para a fabricação dos TFTs. Na indústria de displays os TFTs são

fabricados sobre substratos de vidro, enquanto na indústria de semicondutores o substrato

utilizado é o silício. A temperatura de processamento também é bastante inferior para os

displays (temperatura máxima entre 300 e 500°C), enquanto para a fabricação de

semicondutores a temperatura de processamento pode chegar até 1.000 °C. A seguir serão

apresentadas as etapas de processo envolvidas na fabricação dos TFTs e do filtro de cor,

bem como a integração destas duas camadas. Por fim, serão ilustradas as etapas de

processo finais para fabricação do módulo de AMLCD. Todas as etapas de processo são

realizadas em salas limpas, com controle dos contaminantes. Este controle é expresso pelo

número de partículas por metro cúbico.

2.6.1 Generation (Gen.)

Um conceito importante ao se tratar de displays é o termo generation (geração), ou

simplesmente Gen. Este termo indica o tamanho do substrato de vidro utilizado na

26

fabricação dos displays. A figura 16 apresenta uma ilustração do tamanho dos vidros Gen.

3.5, Gen. 5 e Gen. 7. Em geral, fábricas de gerações maiores produzem displays para

aplicação em grande área (televisões) e fábricas de gerações menores os produzem para

smartphones, tablets etc. Como o custo para se aumentar o tamanho do substrato de vidro

não é muito grande, o custo por metro quadrado diminui para fábricas de gerações maiores.

Por isso, as fábricas de displays estão em um constante processo de aumento do tamanho

do substrato de vidro de suas fábricas.

Vidros para display não podem conter sódio ou íons alcalinos, pois estes

contaminam os materiais e danificam o TFT. No mundo, as principais empresas fabricantes

de vidro para displays são a Corning, a Schott e a Asahi Glass. Atualmente a Sharp (Japão)

possui uma fábrica que opera com o maior substrato de vidro – Gen. 10 ou 2.85 x 3.05 m.

Os vidros são processados até a última etapa em seu tamanho original e somente

são cortados quando os painéis já estão prontos. A etapa de corte dos painéis é muito

importante, e as fábricas procuram otimizar esta etapa para ter um maior aproveitamento

dos painéis.

Figura 16 - Ilustração do tamanho do substrato de vidro para Gen.7, Gen.5 e Gen. 3.5

Fonte: Imagem adaptada de AUO. Disponível em:

<http://www.auo.com/?sn=188&lang=en-US>. Acesso em: 10 dez. 2012.

Gen 7 (2.25x1.95 m)

Gen 5 (1.1 x 1.25 m)

Gen 3.5

(0.65 x 0.83 m)

27

2.6.2 Fabricação do TFT

A figura 17 apresenta as etapas de processo envolvidas na fabricação do TFT de

silício amorfo hidrogenado (a-Si:H). Para outros tipos de materiais, como silício

policristalino e óxidos amorfos semicondutores (AOS), há um aumento do número de

etapas de processo para fabricação do TFT. A etapa inicial na fabricação do TFT de a-Si:H

consiste na deposição e gravação do metal do eletrodo de porta (gate electrode). Conforme

ilustrado na figura 17, esta etapa consiste de oito processos principais: deposição do metal

por deposição química em fase vapor assistida por plasma (PECVD) ou sputtering,

limpeza, deposição do fotoresiste por spin coating, exposição, revelação, corrosão,

remoção do fotoresiste e inspeção. Esta sequência de processos é realizada para a

deposição e gravação de cada uma das camadas do TFT: metal (eletrodo de porta), eletrodo

de fonte e dreno, camada de passivação e eletrodo de ITO.

Figura 17 - Ilustração das etapas de processo envolvidas na fabricação do TFT de silicio

amorfo

Fonte: Figura cedida por Daniel den Engelsen.

2.6.3 Deposição e gravação do filtro de cor

A figura 18 apresenta os processos envolvidos na fabricação do filtro de cor. O

processo inicial consiste na deposição e gravação da black-matrix, utilizada para evitar a

perda de luz da BLU. A black-matrix consiste de uma camada metálica; os processos para

28

deposição e gravação são similares aos descritos anteriormente para a fabricação do TFT.

Como o filtro de cor consiste de materiais orgânicos em matrizes poliméricas

fotossensíveis, estes são depositados e gravados pela sequência de processos: deposição do

filtro de cor por spin coating, exposição, revelação e inspeção.

Figura 18 - Ilustração das etapas de processo envolvidas na fabricação do filtro de cor

Fonte: Figura cedida por Daniel den Engelsen.

2.6.4 Fabricação da Célula de AMLCD

Na etapa de fabricação da célula de AMLCD, ocorre a integração do TFT com o

substrato que contém o filtro de cor. Após a integração, os painéis são cortados e

preenchidos com cristal líquido.

29

Figura 19 - Ilustração da integração do TFT com o substrato que contém o filtro de cor e

das etapas de corte e preenchimento dos painéis de AMLCD com cristal líquido

Fonte: Figura cedida por Daniel den Engelsen.

2.6.5 Fabricação do módulo de AMLCD

A figura 20 mostra as últimas etapas de processo de fabricação do módulo de

AMLCD. Nestas últimas etapas, a célula de cristal líquido é limpa antes da aplicação dos

polarizadores. Em seguida, as placas de circuito impresso são conectadas e os filmes

ópticos são inseridos, assim como as lâmpadas da BLU.

Figura 20 - Ilustração das etapas de processo para fabricação do módulo

Fonte: Figura cedida por Daniel den Engelsen.

30

3 Display de OLED (Diodo Orgânico Emissor de Luz)

3.1 Princípio de funcionamento

Os OLEDs são dispositivos autoemissores de luz que vêm despontando como uma

tecnologia promissora para aplicação em displays e, mais recentemente, na área de

iluminação. O marco inicial no desenvolvimento dos OLEDs foi o trabalho realizado por

pesquisadores da Eastman Kodak. Em 1987, C. W. Tang e S. A. Van Slyke reportaram a

bem-sucedida construção de um dispositivo eletroluminescente utilizando pequenas

moléculas orgânicas depositadas por evaporação térmica como materiais emissores de luz.

O dispositivo apresentou alta eficiência e alto brilho (> 1.000 cd/m2) com uma baixa tensão

de acionamento (10 V), mostrando a viabilidade da utilização de semicondutores orgânicos

em dispositivos do tipo OLED (Tang e Van Slyke, 1987).

A estrutura básica de um dispositivo OLED consiste em um empilhamento de

camadas orgânicas de espessura nanométrica (< 100 nm) entre um ânodo, em geral ITO

depositado sobre substrato de vidro ou plástico, e um cátodo metálico. As principais

camadas orgânicas dos OLEDs são: camada injetora de buracos (HIL), camada

transportadora de buracos (HTL), camada emissiva (EML), camada transportadora de

elétrons (ETL) e camada injetora de elétrons (EIL). A camada emissiva pode conter

materiais emissores de diferentes cores ou a mistura de materiais para obtenção de emissão

de luz branca. Para melhorar os processos de injeção e transporte de cargas e obter uma

melhor eficiência dos dispositivos, os OLEDs apresentam estruturas com mais de dez

camadas orgânicas. A figura 21 apresenta a ilustração da estrutura de um dispositivo OLED

simples.

31

Figura 21 - Ilustração da estrtura de um dispositivo OLED simples

Fonte: A autora.

Todos os processos de deposição e gravação das camadas que compõem um OLED

são realizados em ambientes inertes com controle de umidade e oxigênio chamados glove-

box, ou câmara de luvas (figura 22). Isto é necessário, pois os materiais orgânicos são

muito susceptíveis à degradação quando expostos à umidade. Antes de se retirar um

dispositivo OLED da glove-box, este é encapsulado com materiais que apresentam uma

taxa de transmissão de vapor de água (WVTR) da ordem de 10-6g/m2/dia (Mullen e Scherf,

2006). A tecnologia para encapsulamento que vem sendo atualmente desenvolvida por

empresas e grupos de pesquisa chama-se thin film encapsulation (TFE), e consiste de um

sistema multicamadas de materiais inorgânicos e orgânicos depositados de maneira

intercalada através de processos de deposição por sputtering ou PECVD. Os materiais

inorgânicos, como nitreto de silício (SiN), apresentam WVTR da ordem de 10-6g/m2/dia,

porém, quando na forma de filmes finos, podem apresentar defeitos que comprometem sua

excelente propriedade de barreira. Deste modo, camadas orgânicas são depositadas com a

finalidade de planarizar a superfície e melhorar a qualidade da deposição das camadas

inorgânicas. O uso de sistemas multicamadas dificulta a mobilidade e a penetração das

moléculas de água através dos defeitos das camadas inorgânicas.3

3 C-C. Wu, Fundamentals of OLED Technology, Curso ministrado no dia 19/05/2013 durante o evento Display Week 2013, realizado em Vancouver, Canadá.

32

Figura 22 - Sistema de glove-box (câmaras de luvas) para fabricação de OLEDs e células

solares instalada no laboratório da Divisão de Mostradores de Informação do Centro de

Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI)

Fonte: A autora.

Em dispositivos OLEDs simples, com o auxílio de eletrodos condutores, um campo

elétrico é aplicado ao material, de forma que elétrons são injetados do cátodo e buracos (ou

lacunas), do ânodo. Sob influência de um campo interno, estas cargas positivas e negativas

movem-se através do material, indo diretamente ao eletrodo de sinal oposto. Durante essa

migração, a probabilidade de encontro destas cargas de sinais opostos é proporcional a sua

concentração, e quando isso ocorre há a formação de espécies eletronicamente excitadas

denominadas éxcitons. Com o decaimento radiativo do éxciton, ocorre a emissão de luz.

3.2 Materiais para OLEDs

Os dois principais tipos de materiais utilizados na fabricação de OLEDs são os

polímeros semicondutores e as pequenas moléculas semicondutoras também conhecidas

como small molecules. Os polímeros são moléculas bastante grandes (macromoléculas),

compostas de unidades estruturais que se repetem várias vezes e, portanto, possuem alta

massa molar. Estes materiais são solúveis em solventes orgânicos e podem ser depositados,

por exemplo, através de impressoras especiais do tipo jato de tinta (ink-jet). As pequenas

moléculas semicondutoras são moléculas com baixa massa molar. Na maioria dos casos,

estes materiais são depositados por processos de deposição física em fase vapor (PVD),

33

mas já há pesquisas sendo desenvolvidas para a utilização das pequenas moléculas em

processos de deposição de materiais em solução como ink-jet. Até o momento, as pequenas

moléculas apresentam melhor performance (eficiência e tempo de vida) e menor custo para

aplicação em OLEDs. Desde a última década, materiais baseados em íons de metais de

transição (bloco d) e complexos contendo íons de terra rara (bloco f) têm sido utilizados na

confecção de OLEDs, com a finalidade de aumentar sua eficiência. Estes materiais,

também chamados de materiais fosforescentes, podem ser misturados aos polímeros ou às

pequenas moléculas, permitindo a utilização de éxcitons singletos e tripletos, podendo

atingir eficiência interna de até 100%, enquanto OLEDs de materiais fluorescentes

somente utilizam éxcitons singletos, o que resulta na limitação da eficiência interna a 25%.

Outro material também utilizado em OLEDs são os quantum-dots (QDs). Os QDs

consistem de cristais semicondutores com diâmetro de apenas alguns nanômetros que

possibilitam a obtenção de cores mais puras, devido ao estreitamento da largura da banda

de emissão. Em geral, pequenas quantidades de QDs são misturadas às matrizes

poliméricas.

A figura 23 apresenta três estruturas químicas de materiais utilizados na fabricação

de OLEDs – o polímero PFO (poli(9,9-di-n-octilfluorenil-2,7-diil)), a pequena molécula

Alq3(tris(8-hidroxiquinolinato de alumínio)) e o complexo organometálico Tris[2-

fenilpiridinato-C2,N]iridio(III). Para comprar em escala laboratorial no Brasil, o grama do

PFO custa aproximadamente R$ 2 mil, o grama do Alq3 custa R$ 500, enquanto 250

miligramas do complexo de irídio custam cerca de R$ 2,3 mil.4 Isto se deve aos processos

de síntese e purificação, que são muito mais complicados, usados para a obtenção dos

complexos organometálicos e polímeros.

4 Dados obtidos em 15 dez. 2012 no site: <http://www.sigmaaldrich.com>.

34

(a) (b)

(c)

Figura 23 - Fórmula química estrutural de materiais utilizados em OLEDs: (a) polímero

PFO; (b) pequena molécula Alq3; e (c) complexo organometálico de Ir3+

Fonte: A autora.

Moléculas orgânicas eletroluminescentes de derivados de dicianobenzenos têm sido

investigadas para a utilizacão em OLEDs, devido a sua capacidade de conversão dos

estados não radiativos tripletos em estados radiativos singleto, com o consequente aumento

da eficiência dos OLEDs. Estas moléculas são chamadas de thermally activated delayed

fluorescence (TADF), e são tão eficientes quanto os materiais fosforescentes, mas com

potencial de apresentar um custo mais baixo que os materiais fluorescentes (Uoyama et al.,

2012, p. 234-238).

3.3 Tecnologias para deposição de materiais orgânicos

Atualmente, a totalidade dos displays de matriz ativa de OLED (AMOLED)

comercialmente disponíveis são fabricados através de PVD de pequenas moléculas

orgânicas, utilizando-se máscaras mecânicas para gravação dos píxeis. Há um grande

esforço sendo realizado para se obterem AMOLEDs através de processos de deposição de

materiais em solução, com a finalidade de diminuir o alto custo dos processos de

fabricação de AMOLEDs por PVD. Este alto custo se deve ao uso de câmaras com alto

vácuo, desperdício de material depositado nas paredes da câmara de PVD e nas máscaras

mecânicas, e uso de máscaras mecânicas para gravação dos píxeis. Além disso, a sucessiva

introdução e retirada das máscaras mecânicas da câmara de PVD pode resultar na

introdução de partículas contaminantes na câmara. Estas partículas podem gerar defeitos

nos AMOLEDs, além de contribuírem para diminuição do tempo de vida. Um outro

aspecto negativo do processo de PVD para obtenção de AMOLEDs está relacionado com a

35

dificuldade de escalonamento do processo de PVD, que requer a fabricação de câmaras de

alto vácuo com dimensões muito grandes, além da utilização de máscaras mecânicas

também muito grandes. A figura 24 apresenta uma ilustração do processo de deposição dos

materiais orgânicos por PVD (evaporação térmica) utilizando máscara mecânica para

gravação dos píxeis.

Figura 24 - Ilustração do processo de deposição de materiais orgânicos por evaporação

térmica utilizando máscara mecânica para gravação dos píxeis

Fonte: <http://www.sinto-sp.co.jp/en/application/oled.html>.

Os problemas associados ao pior desempenho dos OLEDs preparados por técnicas

de deposição de materiais solúveis, como os OLEDs poliméricos, têm sido intensivamente

atacados através da melhora das propriedades dos materiais. Deste modo, há uma grande

expectativa da entrada deste tipo de AMOLED no mercado. Seu custo deve ser mais baixo

do que os dos OLEDs obtidos por PVD de pequenas moléculas, e o escalonamento para

grandes áreas deve ser mais fácil (figura 25). Recentemente, a Panasonic apresentou um

protótipo de TV de OLED de 56 polegadas (resolução 4K (3840x2160)) em que todas as

camadas orgânicas foram depositadas através da tecnologia de impressão jato de tinta (ink-

jet), conforme se vê na figura 26. A figura 27mostra uma impressora jato de tinta utilizada

para deposição de polímeros ou outros materiais solúveis para fabricação de dispositivos

OLEDs e células solares orgânicas.

36

Figura 25 - Comparação do custo de OLEDs de pequena e grande área obtidos por

processos de deposição de materiais em solução e PVD em relação ao custo do LCD

Fonte: Feehery et al. (2007).

Figura 26 - Protótipo de TV de OLED de 56 polegadas da Panasonic com camadas

orgânicas depositadas através da tecnologia de impressão jato de tinta

Fonte: PCWorld (2013).

37

Figura 27 - Impressora jato de tinta DMP-2831 (FUJIFILM Dimatix) utilizada para a

deposição de polímeros na fabricação de dispositivos OLEDs e células solares orgânicas

Fonte: A autora.

Uma outra técnica de deposição dos materiais orgânicos em OLEDs baseia-se na

aplicação de laser para a transferência e gravação dos materiais orgânicos. A técnica laser

induced thermal imaging (LITI) foi desenvolvida pela Samsung em conjunto com a 3M.

Nesta técnica, os materiais orgânicos são previamente depositados (podem ser utilizadas

diferentes técnicas, como evaporação térmica ou spin coating) em uma película plástica

juntamente com outras duas camadas intermediárias (estas camadas irão converter a

radiação do laser em calor). Em seguida, é realizado o alinhamento óptico do laser e do

substrato que receberá as camadas orgânicas. A película plástica com o material orgânico e

as camadas intermediárias é então laminada sobre o substrato e realiza-se a gravação e

transferência do material orgânico com o laser. A película plástica é então descartada. Esta

técnica permite a obtenção de OLEDs com alta resolução.

A figura 28 apresenta uma comparação das diferentes técnicas para deposição e

gravação dos materiais orgânicos em OLEDs.

38

Figura 28 - Comparação dos métodos de deposição e gravação dos materiais orgânicos em

OLEDs

Fonte: Semenza (2013)

3.4 Tipos de AMOLED

As empresas coreanas Samsung e LG dominam o mercado de AMOLEDs

atualmente. A principal diferença entre os OLEDs fabricados por essas empresas encontra-

se na estrutura do píxel. A LG utiliza um sistema de OLED branco com filtro de cor

(WRGB) para definir o padrão de cores RGB. Já a Samsung utiliza um sistema com os

subpíxeis nas cores RGB, e portanto não utiliza filtro de cor. Ambos os sistemas

apresentam vantagens e desvantagens. A figura 29 apresenta um quadro-resumo dos tipos

de AMOLED fabricados pela LG e pela Samsung.

39

Figura 29 - Características dos AMOLEDs fabricados pelas empresas Samsung e LG

Fonte: Kwon (2013)

Até o momento, a tecnologia da LG parece mais madura, uma vez que esta empresa

saiu na frente na corrida dos displays de grande área de AMOLED, com o início das

vendas na Coreia do Sul de sua TV de 55 polegadas em fevereiro de 2013 pelo preço de

US$ 10 mil (figura 30). Em breve, a LG deverá iniciar as vendas da primeira TV de

AMOLED 3D “curva” de 55 polegadas (figura 31). O display curvo promove uma melhor

experiência visual. O preço para a Coreia do Sul foi estimado em US$ 13,5 mil.

40

Figura 30 - Primeira TV de AMOLED comercializada no mundo, fabricada pela LG

Fonte: A autora.

(a)

(b)

Figura 31 - Primeira TV de AMOLED 3D "curva" do mundo, fabricada pela LG: (a) vista

fronta; (b) vista lateral

Fonte: A autora.

41

3.5 OLED x LCD

A estrutura dos displays de OLED é mais simples que a daqueles de LCD, pois, como os

displays de OLED são autoemissores de luz, não necessitam de BLU e filmes

polarizadores (figura 32). Portanto, os de OLED têm potencial para apresentar um custo de

fabricação mais baixo. A fina espessura do display, a alta razão de contraste, o baixo tempo

de resposta e o amplo ângulo de visão são vantagens comuns dos displays de AMOLEDs

em relação aos de AMLCDs. Displays de AMOLED de grande área ainda precisam ser

otimizados com relação ao tempo de vida e consumo de energia. A figura 33 apresenta uma

comparação do desempenho de displays de AMLCD com tecnologia IPS, AMOLED

branco com filtro de cor (RGBW) e AMOLED RGB.

Figura 32 - Desenho esquemático da estrutura de displays de LCD e OLED

Fonte: Nogueira (2012).

42

Figura 33 - Comparação do desempenho de displays de LCD-IPS, AMOLED-RGB e

AMOLED-RGBW

Fonte: Ukai (2013).

3.6 OLEDs para Iluminação

OLEDs com emissão de luz branca apresentam grande potencial para aplicação

como fontes de iluminação. A fabricação dos OLEDs para iluminação é mais simples do

que a fabricação de displays, pois lâmpadas de OLED não necessitam de TFTs. Empresas

como Philips, Novaled, Osram e muitas outras têm investido no desenvolvimento de

OLEDs para iluminação. Os OLEDs ainda apresentam tempo de vida e eficiência

inferiores aos LEDs, mas destacam-se pela liberdade de forma, fina espessura e

flexibilidade. Estas características permitem imaginar um futuro no qual as janelas de casas

serão substituídas por painéis de OLEDs brancos que, quando desligados, proporcionarão

visibilidade da área externa e, quando ligados, fornecerão iluminação para o ambiente

interno e ao mesmo tempo proporcionarão privacidade em relação ao ambiente externo

(figura 34). Os OLEDs com emissão de luz branca também poderão ser utilizados como

BLU em displays de LCD, além de outras inúmeras aplicações. Muitas luminárias de

OLED já foram desenvolvidas e estão sendo comercializadas, porém, devido ao alto custo,

43

até o momento o segmento atendido pelos OLEDs é o mercado de alto luxo, como hotéis

de alto padrão. A figura 35 apresenta luminárias de OLED.

Figura 34 - Ilustração da utilização de painéis de OLEDs para iluminação em janelas

Fonte: Osram (2013).

(a)

44

(b)

Figura 35 - Luminárias de OLED: (a) Airabesc, da OSRAM; e (b) Living Sculpture, da

Philips

Fonte: Osram (2013); Philips (2013).

4 Display de e-paper

Os displays conhecidos como e-paper, que consistem em um conjunto de

tecnologias que procuram imitar a aparência da tinta no papel, têm dominado o nicho de

mercado de livros eletrônicos (e-books). Este tipo não emite luz e não possui BLU,

gerando um grande conforto visual ao usuário em qualquer condição de iluminação. Outras

de suas vantagens estão relacionadas ao baixo consumo de energia, baixo custo de

fabricação e possibilidade da obtenção de displays flexíveis.

Até o momento, a tecnologia de e-paper mais madura é a da E-Ink. Trata-se de um

display eletroforético (EPD) com modo de acionamento vertical. Nesta tecnologia,

partículas eletroforéticas pretas e brancas com tamanho de dezenas de micrometros são

eletricamente carregadas com cargas de sinais opostos (Bert e D Smet, 2003, p. 103-110 e

223-230). Essas partículas são microencapsuladas e se encontram dispersas em fluido

transparente (Comiskey et al., 1998, p. 253; Park et al., 2006, p. 644-648). Quando

aplicado um campo elétrico, as partículas se movimentam em uma determinada direção,

dependendo de sua carga. Essa movimentação cria regiões com maior ou menor densidade

de partículas, consequentemente aumentando ou diminuindo o contraste nessas regiões

(figura 36). Mesmo quando não está sendo aplicado um campo elétrico, as partículas

45

continuam eletricamente carregadas, e deste modo só há consumo de energia quando é

necessário mudar o conteúdo a ser visualizado no display. Apesar de possuírem matriz

ativa, observa-se que estes displays ainda apresentam limitações, tais como o longo tempo

de resposta, a dificuldade de exibição de vídeos e a dificuldade de se obter displays

coloridos. Existem vários produtos no mercado baseados nesta tecnologia, sendo o livro

eletrônico Amazon Kindle o mais conhecido.

Figura 36 - Ilustração das microcápsulas de partículas eletroforéticas

Fonte: E-Ink (2012).

Além da aplicação em livros eletrônicos (e-books), estes displays apresentam

muitas outras aplicações, em etiquetas eletrônicas, celulares, relógios, placas de

sinalização, partituras eletrônicas, cartões inteligentes etc. A figura 37 mostra alguns

exemplos de aplicações de displays eletroforéticos. Outras tecnologias de e-paper são:

eletrocrômica, eletrocinética, electrowetting e MEMs-IMOD.

46

(a)

(b)

Figura 37 - Displays eletroforéticos da E Ink aplicados em (a) relógio; e (b) etiquetas

eletrônicas

Fonte: A autora.

5 Transistor de Filme Fino (TFT)

O elemento fundamental nos displays de matriz ativa, ou seja, aqueles que exibem

imagens em alta definição, com capacidade de exibição de vídeo, coloridos e de grande

área, é o TFT. Os transistores são responsáveis pelo acionamento de cada subpíxel

individualmente. Os principais materiais para fabricação de TFTs utilizados atualmente são

o a-Si:H, o silício policristalino obtido a baixa temperatura (LTPS) e o AOS, sendo o mais

conhecido o óxido de índio, gálio e zinco (IGZO). A figura 38 apresenta desenhos das

estruturas destes tipos de TFTs, podendo-se observar que a estrutura do TFT de LTPS é

bastante complexa se comparada com o a-Si:H e o IGZO, que apresentam estruturas

bastante semelhantes. Os TFTs de IGZO ainda se encontram em fase de desenvolvimento,

mas têm apresentado resultados promissores que atendem as tendências tecnológicas das

novas gerações de displays: displays de ultra alta definição, displays de grande área,

displays 3D, displays flexíveis e transparentes.

47

(a)

(b)

(c)

Figura 38 - Ilustração das estruturas (em corte) dos TFTs de: (a) a-Si:H; (b) IGZO; e (c)

LTPS

Fonte: Latin Display; IDRC – International Display Research Conference (2012).

A tabela 1 apresenta um quadro-resumo com as principais características dos TFTs

de diferentes materiais. Atualmente, a maioria dos displays AMLCD emprega a-Si:H como

material semicondutor no TFT, em virtude de sua boa uniformidade em grandes áreas e

baixo custo de fabricação. Porém, no caso de AMLCDs de maior definição, não é possível

utilizar TFTs de a-Si:H, devido à sua baixa mobilidade eletrônica (~1 cm2/Vs). Para

displays de AMOLED, os TFTs de a-Si:H também não são adequados, pois o display de

AMOLED é acionado por corrente e requer alta mobilidade eletrônica e boa estabilidade

elétrica para seu funcionamento, o que até o momento não foi possível com TFTs de a-

Si:H. Nestes casos, uma das opções é a utilização de TFTs de LTPS, cuja mobilidade

eletrônica varia de 10 a 500 cm2/Vs. Além disso, TFTs de LTPS apresentam excelente

estabilidade elétrica. Para a obtenção deste tipo de TFT, o silícioa amorfo é cristalizado

através de processos que envolvem a utilização de lasers. Este tipo de equipamento tem

um custo muito elevado e o processo de cristalização do silício ainda não apresenta boa

48

uniformidade para grandes áreas. Este é um dos fatores que tem dificultado a obtenção de

displays de AMOLED de grande área.

Tabela 1 - Quadro comparativo das diferentes tecnologias de TFTs: silício amorfo

hidrogenado (a-Si:H), silício policristalino de baixa temperatura (LTPS) e óxido de índio,

gálio e zinco (IGZO)

a-Si:H LTPS IGZO

Tamanho do

substrato de vidro

(generation)

Gen. 8

(2160 mm x 2460

mm)

Gen. 8

(Samsung)

Gen 8

(Sharp)

Mobilidade eletrônica Baixa

~ 1 cm2/Vs

Alta

10-500 cm2/Vs

Média

1-40 cm2/Vs

Uniformidade Alta Baixa

Alta

Custo/rendimento Baixo/alto Alto/baixo

Baixo/alto

Temperatura de

processamento

~ 250 oC

> 250 oC Temperatura ambiente

a ~300 oC

Tipos de display

LCD

LCD, OLED

LCD, OLED

Desafios Baixa mobilidade e

baixa estabilidade

Baixa

uniformidade,

escalonamento e

custo elevados

Baixa estabilidade da

tensão de limiar (Vth)

e reprodutibilidade

Fonte: Adaptado de Kamiya, Nomura e Hosono (2010); NPD DisplaySearch

(2012).

Desde 2004, AOS tais como o óxido de zinco e estanho (ZTO) e IGZO têm

demonstrado serem excelentes alternativas para TFTs da próxima geração de displays de

49

matriz ativa. TFTs de IGZO apresentam desempenho superior ao a-Si:H, baixa temperatura

de processamento e transparência próxima a 90% na faixa do espectro visível. Além disso,

os TFTs de AOS podem ser fabricados utilizando os mesmos equipamentos da indústria

atual de TFTs dea-Si:H com pequenas modificações. Muitas empresas têm divulgado

planos para converter suas linhas de produção de TFTs de a-Si:H em TFTs de IGZO,

conforme mostra a tabela 2.

Tabela 2 - Migração das linhas de produção de TFTs a-Si:H para IGZO das principais

fabricantes de displays de AMLCD e AMOLED

Fonte: Display Search (2012).

Apesar das inerentes vantagens dos TFTs de AOS, ainda existem questões

importantes a serem abordadas, como a reprodutibilidade dos transistores e a baixa

estabilidade da tensão de limiar (threshold voltage, Vth). Para aplicação em displays de

AMOLED, as dificuldades são ainda maiores, uma vez que o circuito de acionamento dos

displays de OLED é mais complexo que o dos displays de LCD e requerem mais de um

transistor por subpíxel. O transistor responsável pelo controle da corrente é bastante

sensível a variações de Vth. Pequenas variações de Vth levam a distorções significativas

nas imagens exibidas pelos displays (BNP Paribas, 2012, p. 1-16).

50

6 Eletrodos Transparentes e Condutores

Como já mencionado nas seções que tratam sobre o princípio de funcionamento de

displays de LCD e OLED, os eletrodos transparentes e condutores são um elemento

comum não só em vários tipos de displays, mas também em telas de toque, células solares

e outros dispositivos optoeletrônicos. A figura 39 apresenta algumas características

requeridas destes eletrodos para tais aplicações.

Figura 39 - Características requeridas para aplicação de materiais como eletrodos

transparentes e condutores em displays, telas de toque, células solares e dispositivos

optoeletrônicos

Fonte: Displaybank (2012).

Atualmente, a tecnologia mais adotada consiste no filme de ITO fabricado por PVD

(sputtering). No entanto, filmes de ITO apresentam limitações em relação à flexibilidade e,

além disso, o índio é um metal raro, podendo apresentar problemas de esgotamento de

recursos.

Há uma demanda crescente por eletrodos transparentes e condutores, de modo que

o desenvolvimento de novos materiais com menor custo, maior flexibilidade e melhor

relação entre transparência e condutividade têm sido alvo de muitas empresas e grupos de

pesquisa. Eletrodos baseados em materiais orgânicos (como polímeros condutores) têm

sido desenvolvidos, mas muitos desafios ainda precisam ser vencidos com relação ao

comprometimento da transparência com o aumento da condutividade e a baixa

durabilidade. Até o momento, os materiais mais promissores para aplicação em eletrodos

são o grafeno, nanotubos de carbono e nanofios de prata (Displaybank, 2012; Kim et al.,

2009, p. 706-710).

51

O Brasil apresenta uma grande iniciativa para o desenvolvimento de pesquisas em

grafeno, com a criação de um centro de pesquisas dedicado ao estudo do grafeno e suas

aplicações nas áreas química, engenharia de materiais e fotônica. Trata-se do Centro de

Pesquisas Avançadas em Grafeno e Nanomateriais (MackGraphe), em operação desde

2013 e cuja sede própria está sendo construída nas dependências da Universidade

Presbiteriana Mackenzie e tem a inauguração prevista para o ano de 2015. O Centro conta

com investimentos da própria universidade, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado

de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq) (Barros, 2013, p. 52-54; Matsu, 2014)..

7 Displays Flexíveis

Displays flexíveis são aqueles que podem ser fabricados em substratos plásticos,

folhas metálicas flexíveis ou até mesmo em folhas de vidro muito finas (figura 40),

conferindo-lhes diversas características, como espessura bastante fina, baixo peso,

possibilidade de dobrar e enrolar sem perder sua funcionalidade (Crawford, 2005, p. 1-9).

(a)

52

(b)

Figura 40 - Vidros "flexíveis" para displays: (a) Willow Glass de 0,1 mm de espessura

adequado para processo roll-to-roll (Corning); e (b) Spool de 0,05 mm de espessura da

Asahi Glass

Fonte: A autora.

A figura 41 apresenta uma tendência da evolução em cinco fases dos dispositivos

baseados em displays flexíveis do tipo e-paper e AMOLED. De acordo com Ruiqing Ma e

colaboradores (Ma. Hack e Brown, 2010, p. 8-14), em um primeiro momento os displays

apresentam baixo consumo e, embora ainda sejam feitos em vidro, são leves e delgados.

Em uma segunda fase, o substrato de vidro é substituído por materiais flexíveis, tornando

os displays mais leves, “inquebráveis” e conferindo-lhes uma flexibilidade limitada. Em

uma terceira fase, os displays tornam-se dobráveis, devido à utilização de substratos mais

flexíveis e delgados. O fato de os displays tornarem-se dobráveis abre novas oportunidades

de aplicação como, por exemplo, a utilização de displays de OLED totalmente coloridos

com mapas em roupas de militares. Em uma quarta fase, tornam-se mais flexíveis ainda,

podendo ser enrolados e tornando-se bastante compactos. Em uma fase final, adquirem

uma grande flexibilidade, de modo que podem ser conformados de qualquer maneira,

como o papel. Cada uma das fases da evolução dos displays flexíveis apresenta uma gama

enorme de possibilidades de aplicação.

53

Figura 41 - Previsão da evolução (da esqueda para a direita) dos dispositivos baseados em

displays flexíveis e-paper (topo) e displays AMOLED (embaixo)

Fonte: Ma, Hack e Brown (2010).

Muitas empresas têm demonstrado protótipos de displays flexíveis, incluindo a

Samsung, LG, Plastic Logic, Bridgestone, E Ink, Fujitsu, Sharp e outras. A figura 42

mostra alguns protótipos. O processo de fabricação contínuo por rolos (roll-to-roll) é

parecido com a tecnologia off-set utilizada para a impressão de jornais e revistas e

apresenta-se como uma tecnologia chave para a obtenção de displays flexíveis com menor

custo e maior rendimento. De maneira geral, no processo de fabricação contínuo por rolos,

uma linha contínua de processos é alimentada por uma bobina de substrato plástico

adequado para a fabricação de displays, e rolos com padrões pré-gravados transferem

estruturas para os substratos flexíveis. Ao final da linha de produção, têm-se muitos metros

ou quilômetros de displays flexíveis, que são então cortados no tamanho adequado. Esta

tecnologia deve revolucionar a indústria em um futuro não muito distante. A figura 43

mostra uma ilustração do processo roll-to-toll para fabricação de displays eletroforéticos

desenvolvido pela empresa SiPix, que em 2012 foi comprada pela E Ink.

54

(a)

(b)

(c)

(d)

(e)

Figura 42 - Protótipos de displays flexíveis: (a) e-paper da Elnk; (b) e (c) celulares com

display AMOLED da Samsung; (d) AMOLED da LG; e (e) AMOLED da Sharp

Fonte: E Ink, Oled-Info; Autora (2013).

55

Figura 43 - Ilustração do processo roll-to-roll para fabricação de displays eletroforéticos

da SiPix Technology

Fonte: <http://www.printedelectronicsworld.com/articles/on-a-roll-why-e-ink-is-still-the-

leader-in-e-paper-00005183.asp?sessionid=1>. Acesso em: 10 jun. 2013.

8 Japan Display Inc. (JDI)

No início de 2012, as empresas japonesas Sony, Toshiba e Hitachi, juntamente com

a empresa de inovação ligada ao governo japonês, a Innovation Network Corporation of

Japan, se uniram, criando a Japan Display Inc. (JDI). A Innovation Network Corporation of

Japan fez um investimento de U$ 2,6 bilhões e detém 70% de participação na joint venture.

As demais empresas detêm aproximadamente 10% de participação (cada). O objetivo da

JDI é fabricar displays de LCD e OLED de área pequena e média, com foco em aplicações

para smartphones, tablets, câmeras digitais, equipamentos automotivos e industriais.

Atualmente, a JDI lidera o mercado mundial de displays de AMLCD de área pequena e

média.

Mais recentemente, a JDI decidiu investir em uma linha piloto para a fabricação de

displays de OLEDs com TFTs de LTPS. Em 31 de julho de 2014, a JDI, juntamente com as

empresas Sony, Panasonic e Innovation Network Corporation of Japan, formaram uma

nova empresa chamada JOLED, cujo foco é em OLEDs de área média. A JOLED será

lançada oficialmente em janeiro de 2015. A vasta experiência da Sony em OLEDs será de

extrema importância nesta nova empreitada da JDI.

56

Na última edição do evento Display Week, da Society for Information Displays

(SID), realizado em maio de 2013 no Canadá, a JDI apresentou uma série de protótipos de

até 15 polegadas de displays AMLCD de alta definição com TFT de LTPS e tecnologia de

toque incell (figura 44-a). Também foi apresentado um protótipo de display de AMOLED

de 5,2 polegadas com alta resolução (423 ppi) (figura 44-b).

(a)

(b)

Figura 44 - Protótipos de displays da JDI apresentados no evento Display Week 2013: (a)

AMLCD de 12.2” para aplicação automotiva; e (b) AMOLED de 5.2” com resolução de

423 ppi

Fonte: A autora.

9 Cenário Brasileiro

Com o fim da era dos displays de tubos de raios catódicos (CRTs), e o consequente

fechamento das fábricas, o Brasil passou a realizar somente a montagem final (back-end)

dos displays de LCD e plasma. Porém, nos últimos anos tem-se observado um grande

interesse no estabelecimento de uma fábrica de displays no país.

A China, um dos países que lidera a fabricação de displays de LCD, adotou uma

estratégia de longo prazo (30 anos) para alcançar a liderança neste setor. O apoio do

governo foi o fator determinante para o sucesso desta estratégia. Este apoio se deu através

57

de uma série de ações, como o provimento de suporte financeiro (o governo é

coinvestidor), a criação de políticas de incentivos fiscais para atração de indústrias da

cadeia de suprimentos, a atração de especialistas em displays, a formação de alianças

estratégicas, o estabelecimento de institutos de pesquisa e desenvolvimento em displays, a

criação de programas para formação de recursos humanos, o estabelecimento de acordos

para transferência de tecnologia, a importação de fábricas “usadas” de pequenas gerações

para capacitação, a criação de políticas para estímulo ao consumo interno e a criação de

parques industriais agregando toda a cadeia de suprimentos associada à fabricação de

displays (fábricas de vidros, LEDs, insumos químicos, circuitos integrados etc.),

minimizando assim o custo de transporte e os riscos.

O cenário brasileiro é bastante diferente do cenário chinês. Como já mencionado,

hoje no Brasil não há fábricas de displays e as ações no setor estão restritas à pesquisa

realizada nas universidades e laboratórios de pesquisa públicos. A temática das pesquisas

envolve basicamente a síntese de novos materiais (com foco principal em materiais

orgânicos com propriedades eletroluminescentes e cristais líquidos) e o estudo de suas

propriedades, bem como a montagem e caracterização de dispositivos. Poucos grupos

atuam na área de desenvolvimento de processos de fabricação. Os resultados gerados nas

pesquisas são disseminados na forma de publicações científicas em anais de conferências e

periódicos nacionais e internacionais, e nos últimos anos não foi observado o registro de

patentes em displays por pesquisadores brasileiros. Ações de financiamento foram

promovidas nos últimos anos através de chamadas BNDES-Funtec e FINEP, porém, o

baixo interesse de empresas nacionais dificulta o sucesso destas ações.

A seguir são listados, por área de atuação, alguns grupos de pesquisa com atuação

em displays no Brasil.

Metrologia de displays

Laboratório de Colorimetria do CPqD (Campinas,

SP)

Divisão de Mostradores de Informação do Centro

de Tecnologia da Informação Renato Archer

(Campinas, SP)

Centro de Dispositivos Orgânicos (CeDO) –

Inmetro (Duque de Caxias, RJ)

58

Grupo De Dispositivos Optoeletrônicos

Orgânicos – Departamento de Física da UFPR

(Curitiba, PR)

Centro de Dispositivos Orgânicos (CeDO) –

Inmetro (Duque de Caxias, RJ)

Grupo de Polímeros Prof. Bernhard Gross do

Instituto de Física da UPS (São Carlos, SP)

Divisão de Mostradores de Informação do

Centro de Tecnologia da Informação Renato

Archer (Campinas, SP)

Laboratório de Optoeletrônica Molecular –

Departamento de Física da Pontifícia

Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-

RJ (Rio de Janeiro, RJ)

Grupo de Eletrônica Molecular da Escola

Politécnica da USP (São Paulo, SP)

Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da PUC-

SP (São Paulo, SP)

Departamento de Física da Universidade

Estadual de Maringá – UEM (Maringá, PR)

Departamento de Química da UFSC

(Florianópolis, SC).

Montagem e caracterização

de dispositivos

Síntese de novos materiais

Laboratório de Polímeros Paulo Scarpa -

Departamento de Química da Universidade

Federal do Paraná – UFPR (Curitiba, PR)

Grupo de Polímeros Prof. Bernhard Gross do

Instituto de Física da Universidade de São Paulo

– USP (São Carlos, SP)

Grupo de Cristais Líquidos e Micelas –

Departamento de Física do Centro de Ciências

Físicas e Matemáticas da Universidade Federal

de Santa Catarina – UFSC (Florianópolis, SC).

Divisão de Mostradores de Informação do

Centro de Tecnologia da Informação Renato

Archer (Campinas, SP).

59

Estudo das propriedades

(elétricas, ópticas, físico-

químicas) de novos

materiais

Laboratório de Espectroscopia de Materiais –

Instituto de Física da Universidade Federal de

Uberlândia – UFU (Uberlândia, MG)

Grupo de Polímeros Prof. Bernhard Gross do

Instituto de Física da USP (São Carlos, SP)

Laboratório de Fotofísica e Fotoquímica –

Instituto de Química da Universidade Estadual

de Campinas – Unicamp (Campinas, SP)

Divisão de Mostradores de Informação do

Centro de Tecnologia da Informação Renato

Archer (Campinas, SP)

Centro de Dispositivos Orgânicos (CeDO) –

Inmetro (Duque de Caxias, RJ)

Laboratório de Optoeletrônica Molecular –

Departamento de Física da PUC-RJ (Rio de

Janeiro, RJ)

Grupo de Cristais Líquidos e Micelas –

Departamento de Física do Centro de Ciências

Físicas e Matemáticas da UFSC (Florianópolis,

SC)

Grupo de Eletrônica Molecular da Escola

Politécnica da USP (São Paulo, SP)

OLEDs para iluminação

Centro de Dispositivos Orgânicos (CeDO) –

INMETRO (Duque de Caxias, RJ).

Centro de Mecaoptoeletrônica da Fundação CERTI

(Florianópolis, SC)

60

A Divisão de Mostradores de Informação do Centro de Tecnologia da Informação

Renato Archer (CTI) foi pioneira na atuação em displays no Brasil. Na década de 1980, o

CTI iniciou suas atividades na área, com a criação da primeira linha piloto da América

Latina para a fabricação de displays de cristal líquido TN. Desde então, foram fabricados

centenas de protótipos de LCDs para empresas e instituições de pesquisa e

desenvolvimento ibero-americanas. O CTI também foi pioneiro no desenvolvimento de

outras tecnologias de displays – tais como FEDs com nanotubos de carbono, OLEDs

flexíveis, e-paper, displays 3D, TFEL e eletrocrômicos –, abrangendo todo o seu ciclo de

desenvolvimento (projeto, desenvolvimento de processos, fabricação, montagem,

encapsulamento, caracterização eletro-óptica, análise de falhas, qualificação e ensaios de

confiabilidade). O CTI tem sido referência para instituições de pesquisa e desenvolvimento

e empresas nacionais e internacionais por sua atuação em pesquisa básica, pelo

desenvolvimento de tecnologias e produtos e pela prestação de serviços de fabricação e

caracterização de displays.

Em 2005, a partir dos esforços do CTI em displays, a mais importante sociedade

internacional de displays, a Society for Information Displays (SID), inaugurou no Brasil o

Capítulo Latino-Americano da SID. Atualmente, o Capítulo Latino-Americano da SID

promove eventos anuais no Brasil, mobilizando a indústria, a academia e o governo para

discutir os avanços e as tendências nas tecnologias de displays, bem como os desafios e

oportunidades para a participação brasileira neste importante setor da economia.

61

10 Considerações Finais

A fabricação de displays é uma atividade tecnologicamente complexa, porém de

extrema importância para o desenvolvimento econômico do Brasil, uma vez que os

displays são a interface cada vez mais requerida nos meios de comunicação e informação.

Além disso, o Brasil apresenta um atrativo mercado interno e, junto com o Mercado

Comum do Sul (Mercosul), desperta um grande interesse para a manufatura local de

displays. Atualmente, o mercado mundial no setor movimenta mais de US$ 100 bilhões.

A tecnologia de displays de LCD, que nos últimos anos tem apresentado hegemonia

em diversas aplicações, como em televisões, monitores, notebooks, tablets e smartphones,

tem procurado se reinventar constantemente com inovações que buscam principalmente

diminuir o consumo de energia, melhorar o desempenho de cor, aumentar o ângulo de

visão e diminuir o tempo de resposta dos displays de LCD, possibilitando, assim, a

obtenção de displays de ultra alta definição e de grande área. Algumas destas inovações

consistem na utilização de LEDs como BLU, utilização de filmes ópticos realçadores de

brilho, utilização de QDs na forma de filme óptico ou componente óptico,

desenvolvimento de TFTs de AOS e uso de tecnologias para aumentar o ângulo de visão,

como IPS, MVA e FFS.

As lâmpadas de LED são componentes chave dos displays de LCD e sua produção

em massa tem feito o preço diminuir significativamente ao longo dos últimos anos. Além

da aplicação em BLU, as lâmpadas de LED têm penetrado nos importantes mercados de

iluminação doméstica, automotivo e de iluminação industrial. A atração ou criação de uma

fábrica de LEDs no Brasil pode ser uma maneira de ingressar na cadeia produtiva de

displays.

Embora a tecnologia de LCDs seja mais antiga e mais madura, a tecnologia de

displays de OLEDs apresenta características promissoras que devem acirrar a disputa do

mercado. Entre estas características, destacam-se: sua estrutura simples (ausência de BLU

e filmes polarizadores de luz), sua alta razão de contraste, seu amplo ângulo de visão, sua

ampla gama de cores, sua fina espessura e a possibilidade de obtenção de displays

flexíveis. Apesar das características promissoras, o alto custo dos displays de OLED de

grande área ainda continua sendo uma barreira para a entrada das televisões de OLED no

mercado mundial. Inovações no processo de deposição dos materiais orgânicos em solução

através de métodos de impressão e o desenvolvimento de TFTs de AOS prometem

62

contribuir para a redução do custo de fabricação de displays de OLED de grande área.

Estas inovações têm sido perseguidas por algumas empresas e podem representar rupturas

tecnológicas importantes. Aqui também há oportunidade de inserção na cadeia produtiva

dos displays, uma vez que estas inovações são recentes e ainda há um longo caminho a

percorrer para sua consolidação. Nesse sentido, muitas possibilidades existem para

inovação, desenvolvimento de processos de fabricação e geração de propriedade

intelectual.

A tecnologia de displays e-paper, que tem se destacado nos últimos anos, consiste

na verdade de um conjunto de tecnologias que procuram imitar a aparência da tinta no

papel. A tecnologia eletroforética é a mais consolidada e domina o nicho de mercado de

livros eletrônicos (e-books). Este tipo de display não emite luz e não possui BLU, gerando

um grande conforto visual ao usuário em qualquer condição de iluminação. Outras de suas

vantagens estão relacionadas ao baixo consumo de energia, baixo custo de fabricação e

possibilidade da obtenção de displays flexíveis. Há oportunidade de inovação nesta

tecnologia com relação à obtenção de displays e-paper coloridos e com capacidade de

exibição de vídeo.

Os displays flexíveis representam o futuro das tecnologias na área e o processo de

fabricação contínuo por rolos (roll-to-roll) deve ser a tecnologia chave para a sua obtenção.

Esta tecnologia permitirá a obtenção de metros ou quilômetros de displays flexíveis,

revolucionando não só o conceito atual das fábricas, mas também as aplicações deste tipo

de display.

Independentemente da tecnologia escolhida, para o estabelecimento de uma

indústria de displays no Brasil, é necessário um compromisso público-privado de longo

prazo e a realização de grandes investimentos, visando à criação de um centro nacional de

pesquisa e desenvolvimento em displays, a formação de recursos humanos, a aproximação

do setor produtivo com os centros geradores de conhecimento, a importação de fábricas

“usadas” de pequenas gerações para capacitação, a atração de especialistas estrangeiros e a

criação de parques industriais que agreguem toda a cadeia de suprimentos associada à

fabricação de displays.

63

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GATE Electrode

SUBSTRATE DDeeppoossiittiioonn PPRR CCooaattiinngg EExxppoossuurree Glass DATA Electrode

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Patterning Process in Detail

Passivation Pixel Electrode

Patterning Patterning Patterning Patterning Patterning 5 mask steps!