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Ficha Técnica Título As Condições Naturais e o Território de Ponte de Lima Texto e Coordenação Joaquim Mamede Alonso Fotografia Amândio de Sousa Vieira Coordenação Editorial Sónia Santos, Ovídio de Sousa Vieira, Vânia Silva Edição Município de Ponte de Lima Design Gráfico Xpto Design Lda [email protected] Impressão e Acabamentos Raínho & Neves, Lda Data de Edição 2008 Tiragem 1000 exemplares Depósito Legal 2689072/07 ISBN 978-972-8846-17-6 © Todos os direitos reservados. A reprodução total ou parcial, sob qualquer forma, dos textos e das fotografias contidas neste livro, carece de aprovação prévia e expressa dos respectivos Autores e do Município de Ponte de Lima.

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Ficha TécnicaTítulo

As Condições Naturais e o Território de Ponte de Lima

Texto e Coordenação

Joaquim Mamede Alonso

Fotografia

Amândio de Sousa Vieira

Coordenação Editorial

Sónia Santos, Ovídio de Sousa Vieira, Vânia Silva

Edição

Município de Ponte de Lima

Design Gráfico

Xpto Design Lda

[email protected]

Impressão e Acabamentos

Raínho & Neves, Lda

Data de Edição

2008

Tiragem

1000 exemplares

Depósito Legal

2689072/07

ISBN

978-972-8846-17-6

© Todos os direitos reservados.

A reprodução total ou parcial, sob qualquer forma, dos textos e das fotografias contidas neste livro,

carece de aprovação prévia e expressa dos respectivos Autores e do Município de Ponte de Lima.

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2008

Joaquim Mamede Alonso (Coordenador)

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2“A paisagem, a biodiversidade e a ocupação humana de um

território dependem em primeiro lugar da diversidade litológi-

ca e estrutural do seu espaço geográfico e da massa sub-super-

ficial que o suporta e se expressa no conceito abrangente de di-

versidade geológica. Este conceito engloba ainda o espectro da

variabilidade dos recursos minerais, hídricos e energéticos”.

e recursos mineraisDiversidade geológica

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As Condições Naturais e o Território de Ponte de Lima | 128

a) Doutorado.b) Mestre.

c) Licenciado.

Universidade do Minho

Quadro 2.8 Tipologia dos pontos culminantes. Nota:

altimetria barométrica – GPS

2.2. Fisiografia e geomorfologiaCarlos Leal Gomesa

Raquel Alvesb, Virginia Bentoc, Fernanda Limaa

A análise geomorfológica impõe a avaliação das principais condicionantes geológicas do mo-delo tridimensional do relevo (Pereira et al., 1989). As condicionantes podem classificar-se em antrópicas e naturais envolvendo estas últimas, o clima, a litologia e a estrutura. Na pre-sente abordagem procura-se encarar as formas e as suas organizações espaciais nas suas esca-las típicas enquadradas na morfogénese observada no território de Ponte de Lima.

2.2.1. Análise do relevo

A erosão diferencial é a principal determinante da fisiografia observada no concelho de Ponte de Lima e explica os rasgos essenciais do modelo geral do relevo.Os maciços graníticos tendem a gerar as elevações mais proeminentes, enquanto que os ter-renos metassedimentares, em especial os de natureza pelítica, afloram a cotas mais baixas, definindo extensas depressões alongadas em eixos NW-SE os quais, na sua origem, são deter-minados pelas estruturas definidas em regime dúctil no Varisco precoce. Num segundo nível de organização as encostas podem estar graduadas por relevos secundários gerados por for-mações metamórficas de carácter mais psamítico – quartzitos e turmalinitos ou então rochas filonianas aplito-pegmatíticas (Quadro 2.8).

LocalCotas de refer-

ênciaLitologia Estrutura

Superfície de aplanação

Observações

Bretial 801 mGranito de 2 micas

Contacto apical do plutonito

Cúpula com enxames de encraves

Removida a cobertura de xisto aflora a cúpula do granito

Antelas 431 mGranito de 2 micas

Foliação NW-SE da 3ª fase Varisca

----------Lâmina granítica trun-cada pela erosão

Nora 577 mGranito de 2 micas

Foliação NW-SE da 3ª fase Varisca

----------Preservação de núcleo granítico em Plutão desgastado

Padela a Geraz

Entre 400 e 500 m

Predominância de granitóides

Fisiografia complexa – relevos de dureza e estruturais

Superfície elevada

Relíquias de um ciclo erosivo pré-glacioeus-tático

Formigoso 420 mMicaxisto anda-luzítico

Foliação NW-SE da 3ª fase Varisca

Cumeada alongada

Faixa de endurecimen-to pela multiplicidade de veios e filões

Cumieira 603 mAplito-pegmati-to e turmalinito

Foliação NW-SE da 3ª fase Varisca

Cumeada secundária

Erosão diferencial de filões e estratos duros truncados

A deformação frágil tardi-Varisca e todas as reactivações tectónicas que se lhe seguiram trun-cam esta estruturação principal NW-SE segundo azimutes N30-40ºE e N60-80ºE ou então quase N-S, onde se instalaram os leitos de alguns dos rios principais, incluindo o rio Lima.

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O vale aberto por onde corre o rio Lima.(Fotografia: Carlos Leal Gomes).

“Thor” granítico no Cerquido.

Estes rios e as várzeas que lhes estão adjacen-tes ocupam depressões de natureza tectónica, formuladas como sistemas “horst/graben”, ou muito simplesmente escavam o leito nos materiais de natureza mais branda que são gerados por deformação cataclástica a milo-nítica e pela alteração deutérica a supergénica associada. Neste casos surgem vales muito ca-vados com morfologia em V.Na bacia do rio Lima o leito principal cor-re num vale aberto, com uma morfogénese complexa que ainda evolui actualmente. É controlado por deslocamentos gravíticos em blocos depressionários desviando-se sempre no sentido dos últimos abatimentos.

2.2.2. Litologia, clima e formas típicas

Pode dizer-se que o território limiano corresponde na maioria dos seus aspectos gerais e geoformas a um sistema morfogenético do domínio temperado. Neste contexto a morfogénese mais difusa depende de meteorização, reptação e formação de escombreiras de gravidade ou cones e taludes de detritos. Também são típicas as grandes planícies fluviais (rio Lima), por vezes com indícios em megaescala de ambientes paleo-lacustres possivelmente ainda com um cariz peri-glaciar ancestral.

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As Condições Naturais e o Território de Ponte de Lima | 130

Caos de blocos.(Fotografia: Carlos Leal

Gomes).

As planícies aluviais de determina-ção original tectónica estão sujeitas a cheias sazonais, sendo alagados pre-ferencialmente os terrenos alveolares induzidos pelo deslocamento gravíti-co em sentido lato e também depres-sões abandonadas correspondentes a paleomeandros.As principais formas graníticas de escala intermédia são thors e caos de blocos mais típicos das elevações so-bre manchas graníticas de fácies porfi-róide essencialmente biotítica. Os acidentes tectónicos principais que controlam o leito actual do rio Lima têm azimute determinante ENE-WSW, mas ocasionalmente esta depressão maior estruturante expande-se sobre-tudo para N segundo azimutes N-S e NNW-SSE em alvéolos de grande es-cala. Entre estes é de salientar, pela sua grande área e actual perda de massa, o alvéolo de Bertiandos. A sua morfogénese inicial resul-tou da erosão diferencial da lâmina arqueada do granito de duas micas de Antelas e S.to Ovídio. Surgiu assim a sequência anelar de elevações que vai de S.to Ovídio ao Pico de Estorãos. O granito que rodeia quase totalmente o alvéolo aparenta uma forma em domo esventrado que é conhecida como anel de S.to Ovídio ou anel de Bertiandos.

2.2.3. Evolução quaternária da paisagem

A morfogénese fluvial depende da taxa de erosão e da taxa de soerguimento que tem ori-gem tectónica.Em termos geomorfológicos, a distribuição dos terraços fluviais favorece a ideia de uma gé-nese mais condicionada pelo clima (meteorização em domínio temperado) e pela tectónica ancestral do que pelos movimentos glacio-eustáticos em sentido estrito. A evolução dos me-andros também se relaciona e depende fortemente das rupturas nos perfis dos rios que, por sua vez, é determinada pelo deslocamento pós-Varisco em falhas antigas com regeito normal recorrente até à actualidade.O desgaste fluvial e respectivos aprofundamento e alargamento dependem da tectónica in-cluindo tectónica activa sobretudo nas cabeceiras dos cursos de 2ª ordem mas os ritmos de

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Figura 2.19 Cartografia dos atributos geológicos do sistema fluvial Lima.

desenvolvimento são fortemente incrementados por acções antrópicas, em especial a extrac-ção de inertes para betão no leito do rio Lima que teve o seu máximo desenvolvimento nas décadas de 70 e 80 do século XX.A morfogénese do sistema fluvial Lima-Estorãos é representativa da evolução quaternária que está bem expressa na paisagem central da Ribeira Lima e pode ser descrita recorrendo a dispositivos indicadores de movimento de massa que ainda estão em evolução actualmente (Freitas et al., 2005).Outros indicadores da evolução Quaternária da paisagem relacionam-se com fulcros privile-giados de incremento da dinâmica de vertentes. A evolução das vertentes depende dos declives prévios que ligam as superfícies principais de aplanação média. As pendentes mais acentuadas estão sobre afloramento granítico, as intermédias em terreno “xistento”, e as suaves na tendência para as planícies aluviais. A reactivação tectónica e os afundimentos baciais em alguns vales desencadeiam as formas mais súbitas de reequilíbrio gravítico, expressas como complexos de deslizamento rotacional e solifluxão e quedas de blocos. Em termos mais contínuos e difu-sos todas as encostas intermédias entre granitos elevados e eluvios ou aluvios estão sujeitas a reptação (“creeping”) bem marcada no arqueamento das árvores sobretudo das diferentes espécies de Pinus.No vale do Alto Trovela identificam-se os movimentos de terras mais vigorosos podendo gerar-se quebradas de grande magnitude as quais envolvem algum risco para a ocupação humana dos sopés.

Bacia hidrográfica do Rio LimaA bacia do rio Lima tem um padrão de drenagem dendrítico (Figura 2.19). Quanto à hierar-quização da rede fluvial em território do concelho as magnitudes de caudal e as ordens de dre-nagem mais significativas situam-se nos sistemas fluviais Estorãos – Lima e Labruja – Lima.

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As Condições Naturais e o Território de Ponte de Lima | 132

Figura 2.20 Locais chave para o estudo da evolução

tectono-sedimentar do alvéo-lo e sistema fluvial adjacente.

Figura 2.21 Carta de distribuição das formas me-

gaescalares onde se localizam dispositivos indicadores de

perda de massa.

Dispositivos indicadores de perda de massa no Sistema Estorãos – LimaA maior proliferação de dispositivos de desequilíbrio em perda de sedimentos nota-se no alvéolo de Bertiandos (Figuras 2.20 e 2.21). A sua manifestação mais discreta depende de escoamento subsuperficial na manta de sedimentação antiga saturada e revela-se por áreas de subsidência e abatimento circular em algumas várzeas, não só dentro do perímetro das lagoas de Bertiandos como também em alguns locais das lezírias adjacentes ao rio e afluentes.No leito do Rio Estorãos e nos taludes de margem mais abruptos encontram-se sulcos linea-res de abrasão por escorrência laminar que denotam um incremento recente da taxa erosiva (surtos de aumento de carga suspensa de partículas grosseiras) por descarga dos depósitos recentes e terraços situados a montante. Neste contexto faz sentido discutir o peso relativo da morfogénese antrópica e natural na definição destas formas e inserir a aproximação interpre-tativa num contexto mais vasto de apreciação de todo o sistema Estorãos – Lima.

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Figura 2.22 Distribuição dos dispositivos estruturais con-sistentes com o padrão global de perda de massa e descarga sedimentar preferencial a par-tir do alvéolo de Bertiandos. Nota: Depósitos de terraço designados de acordo com a nomenclatura usada em Medeiros e Teixeira (1970).

Figura 2.23 Distribuição geográfica e geológica dos epicentros correspondentes à crise sísmica de Junho de 2005 (localizada na figura 2.22).

Funcionamento recente do sistema fluvialA evolução tectónica e morfológica recente está bem marcada neste sector da rede fluvial (Fi-gura 2.22). Caracteriza-se por uma significativa perda de massa sedimentar que parcialmente pode ter origem antrópica (manipulação do leito e extracão de inertes, em especial até aos anos 80 do século XX) mas que sobretudo parece resultar da evolução tectónica recente (Fi-guras 2.23 e 2.24) (há evidências de deslocamentos de terraços fluviais quaternários em falhas que são consideradas activas; nos anos de 2005 e 2006 registou-se a proliferação de eventos sísmicos que atingiram por vezes a magnitude 5).

Evolução tectono-sedimentar do alvéolo e sistema adjacenteOs dispositivos inventariados concentram-se ao longo dos acidentes tectónicos que delimi-tam o carácter poligonal de terraços e aluviões (Figuras 2.23 e 2.24).

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Figura 2.24 Análise descritiva e explicação cinemática da

geometria do leito do rio Lima na confluência do rio Estorãos.

a) Utilização da cartografia de conteúdos de minerais densos

em prospecção mineralomé-trica como contributo para a

detecção de paleocanais pré--Lima na área de confluência

do rio Estorãos.

b) Reconstituição rudimentar dos deslocamentos recentes a actuais em feixes de falhas

cilíndricas (cariz lístrico) na Veiga de Bertiandos.

c) Vistas aéreas da Ribeira Lima (várzea e leito) na área crítica da confluência do rio

Estorãos.

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Figura 2.25 Generalização e interpretação cinemática da evolução do sistema fluvial Estorãos – Lima.

Os algarismos da figura indicam os principais deslocamentos gravíticos susceptíveis de discriminação em episódios tardi a pós-Variscos

1 Alguns acidentes E-W manifestam dispositivos estruturais mesoesca-lares indicadores de soerguimento recorrente dos blocos a N;

2 O alongamento N-S, do alvéolo de Bertiandos está numa faixa de abatimento gravítico;

3 Deslocamento complexo de tipo rotacional (com cariz lístrico) em feixes de estruturas paralelas de azimute N60-80ºE pode ter con-tribuído para truncar meandros convexos para S que pertenciam aos paleocanais do curso pré-Lima.

Do traçado fluvial pré-Lima persistem abandonados dois meandros principais que evoluem para as depressões actuais onde se situam os terrenos mais alagadiços das veigas da Correlhã e Deão (os correspondentes paleocanais são materializados pelas anomalias de minerais densos identificadas em prospecção mineralométrica e têm também expressão na análise topográfi-ca) (Figura 2.25).O soerguimento relativo do bloco N, bloco de Bertiandos, está provavelmente na origem do rejuvenescimento da drenagem superficial desse bloco e suscita o abandono dos paleocanais situados a S (Figuras 2.23, 2.24 e 2.25).Instala-se assim o ciclo actual de perda de massa que se tornou mais visível recentemente.

Perda de massa - balanço da magnitude de efeitosAs taxas de desenvolvimento ou evolução podem ser interpretadas à luz dos mecanismos de sequestro, suspensão e escoamento de cargas sedimentares, em depósitos de “placer” sujeitos a perda de partículas finas por rejuvenescimento tectónico.A elevada magnitude do transporte activo actual com expressão na perda de massa verificada no alvéolo de Bertiandos, deve-se essencialmente à evolução natural (tectónica) (Figura 2.25). As intervenções antrópicas ao longo do sistema fluvial do rio Lima apenas afectam as grande-zas que caracterizam os processos. Não afectam o tipo nem a natureza dos mesmos.

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As Condições Naturais e o Território de Ponte de Lima | 136

à direitaVista aérea do afundimento correspondente ao vale do

Trovela com o talvegue contro-lado por acidentes tectónicos de rumo N70ºE – imagem N-S

com o N à esquerda da foto. Pormenor do arqueamento

para N dos meandros do regato Trovela impostos pelos leques

de dejecção de S para N – já re-tomados para a actividade agrí-

cola. Nota: O sopé da vertente S é sem dúvida um sector de

risco para o povoamento pela possibilidade de se verificarem

deslizamentos e quebradas.(Fotografia: Carlos Leal Gomes).

Figura 2.26 Vista aérea do afundimento corresponden-

te ao vale do Trovela com o talvegue controlado por

acidentes tectónicos de rumo N70ºE – imagem N-S com o N à esquerda da foto. Curso alto em segundo plano que

denota a elevação do Bloco S e sucessão de cones de dejecção

de clastos para N.(Fotografia: Carlos Leal Gomes).

Quebradas e deslizamentos do Alto TrovelaOs movimentos de matéria mais evidentes decorrem de processos gravíticos onde se discriminam:i) reptação, incrementada em faixas de fluxo preferencial onde se concentram escombros de

clastos recentes angulosos, tetraédricos, de material “xistento” a migmatítico; este padrão de reptação sobressai do padrão difuso típico do “creep” regional;

ii) complexos de deslocamento súbito com deslizamento rotacional nas cabeceiras e soliflu-xão na base;

iii) meandrização do regato Trovela imposta pelos leques compostos por carga clástica dejec-tada a partir dos deslizamentos de encostas.

Quanto aos factores e manifestações morfológicas são de realçar a elevação tectónica do bloco granítico a S, a qual pode ser deduzida da fisiografia e análise estrutural. Apenas a pendente S do vale manifesta incremento de “creeping” expresso nas escombreiras de clastos e desli-zamentos recorrentes, os quais pelo avanço das frentes de dejecção sobre o ribeiro originam meandros com a convexidade dirigida para N.Na figura 2.26 no início da parte acidentada correspondente aos maciços graníticos notam-se deslocamentos gravíticos de massa (perfil em colher) mais ou menos cicatrizados. A soliflu-xão e o “creeping” mais pronunciado fazem-se de S para N em resposta à elevação recente do bloco S (à direita na foto). A instabilidade gravítica das vertentes e o deslocamento de massa são recorrentes e induzem leques de dejecção que por sua vez levam a que o curso do rio se arqueie em meandros com convexidade para N. Na imagem os planaltos distantes distinguem-se das terras baixas próximas pela erosão diferencial entre os granitos e os terre-nos metassedimentares encaixantes.

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As Condições Naturais e o Território de Ponte de Lima | 138

Figura 2.27 Perfil de solo de-senvolvido sobre cascalheira de vertente alóctone (eluvial

– com “graded bedding”). O micaxisto do substrato

encontra-se pouco alterado.(Fotografia: Carlos Leal

Gomes).

2.2.4. Meteorização e forma das vertentes

Como processo morfogenético elementar a meteorização depende de factores muito diver-sificados: litologia, clima, estrutura, topografia, drenagem, vegetação. No caso do concelho limiano produz perfis contrastantes ao nível dos mantos de alteração conforme se situa sobre granitos ou sobre xistos. Em qualquer caso a evolução mineralógica determinante é a argili-zação. Embora com tendências de evolução mineralógica específicas de cada tipo litológico, de uma forma geral, as associações argílicas comportam conteúdos variáveis de caulinite, ilite, haloizite, esmectites, montmorilonite e diversos inter-estratificados que podem incluir clorite e ainda óxido-hidróxidos, sendo os mais frequentes a gibsite, bohemite e a goethite.A argilização supergénica tem uma marcada tendência caulínica mas existem em alguns man-tos mais profundos, com substracto granítico ou xisto-migmatítico, ocorrências de gibsite e em paleoperfis podem observar-se fenómenos similares à crustificação ferruginosa em que a formação de goethite e a presença de gibsite residual são os aspectos mais salientes da neo-formação mineralógica.

Mantos de alteração sobre terrenos xistentosDe uma forma geral, nas terras altas e nas encostas junto ao contacto com os granitos, os per-fis de alteração supergénica de xisto são pouco possantes. O solo desenvolve-se sobre mantos estreitos de regolito. Muitas vezes um solo alóctone de fanglomerados de vertente a muro contacta imediatamente com rocha quase sã (Figura 2.27).

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As Condições Naturais e o Território de Ponte de Lima139 |

Figura 2.28 Espessuras de arenização encontradas nos diferentes locais a diferentes elevações.

Fácies Graníticas γ’πm porfiróide de grão médio;γ2mπ duas micas e tendência porfiróide;γ’m grão médio;γ∆ granodiorito;γπ g porfiróide de grão gosseiro.

Por vezes persistem nas encostas alguns relevos residuais de dureza correspondentes a litolo-gias pouco brandas, psamíticas ou aplito-pegmatíticas, que podem desenvolver formas típicas em crista ou pitão completamente desnudadas e que originam a refracção das pendentes e das curvas de nível. Nas terras baixas pelo contrário os mantos de alteração podem tornar-se bastante espessos com a aproximação a acidentes tectónicos com caixas de falha possantes. Nestes casos a argilização em-bora essencialmente caulínica desenvolve-se no sentido das esmectites e clorites, os óxidos de ferro e manganês tornam-se abundantes e o perfil de alteração adquire uma cor geral ocre ferruginosa.Pode dizer-se que a espessura de alteração e a meteorização que lhe corresponde em terrenos metamórficos da série pelítica é muito variável e depende muito particularmente das foliações e das estruturas frágeis.

Tipo e espessura das alterações superficiais graníticas por meteorizaçãoOs maciços graníticos mostram uma arenização superficial. A arenização é variável quanto à profundidade, quanto à coerência e carácter compacto do material que dela resulta e quanto ao tipo e conteúdo dos minerais de alteração que constituem as mantas de alteração.Revela-se por uma perda de coerência a partir da rocha mãe, mais ou menos sã e é imposta por um processo de meteorização complexo onde prevalecem as alterações supergénicas: ar-gilização, ferruginização e gibsitização. Os minerais primários mais afectados são os feldspa-tos e a biotite. A consequente remoção e/ou lixiviação de componentes mineralógicos e quí-micos deixa in situ uma matéria residual porosa e de menor coerência que pode ser referida como arena. Esta apresenta uma granulometria variável em função da granularidade da rocha mãe. Os termos mais grosseiros têm o aspecto de um saibro. A melhor percepção do alcance da alteração sobre um dado maciço, é proporcionada pela possança de arenização.Mediram-se possanças de arenização em cortes de estrada, desaterros, poços e alicerces para construção, em situações de escavação recente (Figura 2.28). Escolheram-se sempre pontos

em elevação, cumeada ou socalco re-lativamente às cotas ou pendentes de cotas determinantes da geomorfologia e da drenagem de superfície.Sobressaiem desde logo algumas dife-renças significativas entre possanças de arenização sobre diferentes litóti-pos graníticos. Assim, e em média, as possanças relativas aos granitos porfi-róides são as mais elevadas, as relativas aos granitos de duas micas são as mais baixas e as relativas aos granodioritos são intermédias.

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As Condições Naturais e o Território de Ponte de Lima | 140

Figura 2.29 Correlação linear possança arenizada / cota,

em dois tipos diferentes de granitos: γπg - porfiróide

biotítico; γ ´m – grão médio e duas micas.

Ao nível de um dado tipo de fácies, é bastante consistente o facto de que às cotas mais baixas existem as maiores possanças de arenização.A relação possança arenizada/cota está expressa na figura 2.29 de onde se ex-trai que para granitos com estruturas e composições muito distintas se observa uma correlação negativa entre as duas variáveis. O declive das rectas obtidas para litótipos distintos é similar o que indicia que o factor relevo é também determinante da espessura de arenização, à margem das especificidades composicionais.Ainda na figura 2.29, o subparalelismo das duas populações de pares ordenados confirma uma outra ideia: para os granitos porfiróides grosseiros é mais consistente o facto de às mais baixas cotas existirem as maiores possanças arenizadas.Persiste a ideia de que são os granitos de duas micas aqueles que apresentam menores possanças de arenização independentemente da altitude. No entanto, particularizando, verifica-se que tanto granitos grosseiros porfiróides como os de duas micas de grão médio, quando situados a grande altitude, em topos de cumeada, apresentam muito pequenas possanças de arenização. Neste caso a espessura dos perfis de alteração e de solo e a pedogénese dependem especialmente da inclinação das vertentes.Este facto, de importância determinante na pesquisa de locais para implantação de pedreiras de rocha industrial, não tem merecido a necessária consideração quando se equaciona a pos-sibilidade de reposição paisagística e a reabilitação dos espaços sujeitos a intervenção extrac-tiva. Após a extracção não é praticada a regularização dos declives das frentes de desmonte, nem se pratica a cobertura de granulados finos mais aptos à revegetação.

2.2.5. Património geomorfológico e paisagístico

No concelho de Ponte de Lima identificam-se vários locais de interesse geomorfológico onde ocorrem formas de pormenor que não são vulgares. Estas dependem da alteração supergénica e erosão típicas das condições de pluviosidade e temperatura dos climas temperados.Também existem geoformas de escala intermédia e megaescalares com interesse no que diz respeito ao património paisagístico (ver Teixeira e Medeiros, 1961; Medeiros e Teixeira, 1970; Pereira et al., 1989). Dependem essencialmente das estruturas com maior expressão cartográ-fica, sobretudo aquelas que são definidas ou reactivadas em regime frágil – fracturas, falhas, zonas de cisalhamento dúctil – frágil, blocos tectónicos recentemente deslocados, acidentes tectónicos de grande continuidade.

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Figura 2.30 “Tafoni” em micaxisto andaluzítico e cordierítico do Formigoso.(Fotografia: Raquel Alves).

Formas de pormenorEntre as formas de pormenor destacam-se as numerosas marmitas dos leitos de linhas de água com regimes mais ou menos torrenciais. Em todos os cursos de água sobre rochas cris-talinas observam-se marmitas. Nas cumeadas graníticas de fácies porfiróide são frequentes as pias – pequenas depressões em bacia de abertura e exposição horizontal.Os “tafoni” – escavações múltiplas de abertura não horizontal – observam-se frequentemen-te em cumeadas de granitos de duas micas e em alguns afloramentos de aplito-pegmatitos. Quando ocorrem em grandes blocos soltos na proximidade de pedreiras são colhidos e trazi-dos para junto das oficinas de transformação de granitos onde são vendidos para embeleza-mento de jardins. Esta prática não tem cobertura legal e deveria ser fortemente desencorajada pois penaliza o património geomorfológico.Mas não é só em afloramentos graníticos que se observam “tafoni”. Nos micaxistos com por-firoblastos de andaluzite e cordierite da região do Formigoso há belos exemplos (Figura 2.30) por vezes utilizados para nidificação por aves e pequenos roedores.Aqui os “tafoni” parecem estar relacionados com processos erosivos complexos que se iniciam a partir da decomposição e “box-work” dos porfiroblastos ou a partir de fracturas tardias. Em alguns casos a morfogénese poderá desencadear-se com a salinização pois foi identifica-da halite (cloreto de sódio) em eflorescências brancas nos bordos de uma destas escavações naturais. Seria também interessante saber qual o papel da ocupação faunística no aprofunda-mento das cavidades – as dejecções dos animais podem incrementar o carácter reaccional de algumas formas de meteorização.

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à direitaFigura 2.32 Vista aérea sobre

as cascatas da ribeira da Fisga contornando grandes blocos soltos em desequlí-brio – a escorrência galga

uma sucessão de linhas de falha com pequenas escarpas

que mostram estrias de deslocamento. A imagem foi obtida em período de estio.

À direita na foto notam-se pequenos afloramentos

de aplito-pegmatitos que enformam relevos de dureza responsáveis por cumeadas

secundárias.(Fotografia: Carlos Leal

Gomes).

Figura 2.33 Vista aérea sobre o vale de falha rectilíneo do

rio Estorãos com azimute N7ºE, visto de N.

(Fotografia: Carlos Leal Gomes).

Figura 2.31 Vista aérea sobre o bordo oriental da Serra de

Arga. À direita, a ribeira da Fisga nasce no contacto entre o granito e o xisto e tem a pri-

meira curva do seu percurso imposta pelas caixas de falha da zona de cisalhamento de

Argas-Cerquido.(Fotografia: Carlos Leal

Gomes).

Formas de escala intermédiaTambém com grande interesse geomorfológico e mesmo paisagístico é de referir a ocorrên-cia de escarpas compósitas – de falha ou de lineamento de falha – algumas delas capazes de induzir a meandrização dos cursos de água de 2º e 3º ordens (Figura 2.31). A erosão ao longo destes acidentes tectónicos desencadeia refracções de relevo tão significativas que levam ao aparecimento de cascatas as quais em período de invernia podem proporcionar vistas surpre-endentes (Figura 2.32).Na encosta oriental da Serra de Arga alguns vales de falha com direcções N-S ou NE-SW têm um perfil transverso assimétrico, com declives mais suaves nas vertentes orientais. Isto acontece porque os acidentes que induzem este tipo de forma são na realidade falhas inversas de baixo ângulo com transporte para E e inclinação para W as quais no início surgiram como cavalgamentos da 2ª fase Varisca de deformação. A assimetria verifica-se pela erosão prefe-rencial acima das rampas de carreamento que são agora as vertentes inclinadas para W.Os acidentes tectónicos que impõem um trajecto mais rectilínio e contínuo aos ribeiros, nos seus cursos altos, são os desligamentos tardi-Variscos, em especial os que apresentam azimu-tes próximos de N-S. Um dos exemplos mais espectaculares é o do vale do rio Estorãos entre Moreira do Lima e Cabração (Figura 2.33).

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Formas megaescalaresAs formas mega-escalares mais impressionantes deveriam ser classificadas como áreas de in-teresse natural.O alvéolo/bacia de Bertiandos já é uma área protegida que foi incluída na Rede Natura 2000. Também tem interesse geomorfológico e paisagístico por constituir uma das geoformas do concelho com evolução geodinâmica mais expressiva (Freitas et al., 2005) (Figura 2.34). O Vale do Alto Trovela, já atrás considerado pela sua representatividade no que respeita às evidências de dinâmica de vertentes, também deveria ser considerado num contexto abrangente como de interesse natural – geológico e biológico. As suas vertentes estão pouco povoadas e a cobertura vegetal inclui algumas áreas de carvalhal a meia encosta. A maior altitude mas ainda abaixo das cumeadas observa-se uma faixa com sobreiros es-parsos onde os depósitos de vertente estão bem representados. As cumeadas apresentam caos de blocos e rocha desnudada. Pelo contrário junto da Ribeira a vegetação é luxuriante com abundância de aveleiras em sebes que envolvem pequenas leiras e lameiros. O vale no seu conjunto é um elemento representativo da ocupação humana das linhas de água, típica das terras altas minhotas.A área do Lourinhal perto de Moreira do Lima (Figura 2.35) também merece uma classifica-ção abrangente em termos naturais.A paisagem está fortemente humanizada não só pelos aproveitamentos agrícolas como tam-

à direitaFigura 2.35 Vista aérea da

albufeira assoreada do Louri-nhal; em último plano a massa

granítica da Serra de Arga, com pendentes mais íngre-

mes, rupturas mais contínuas e menor cobertura vegetal,

distingue-se das vertentes em xisto. (Fotografia: Carlos Leal

Gomes).

Figura 2.34 Vista aérea deS para N sobre a Bacia deBertiandos (em segundo

plano).

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Figura 2.36 Vista aérea sobre a encosta E do Bretial (cons-

trução no topo da Serra) – são visíveis as principais direcções

de ruptura que comparti-mentam o granito da Serra

de Arga com os rumos: N-S, N30-40ºE; N70-80ºE.

(Fotografia: Carlos Leal Gomes).

bém em consequência da actividade extractiva do estanho até à década de 1960. A albufeira do Lourinhal foi assoreada por triturados estéreis expelidos a partir da lavaria da Mina de Cabração em Monteiros. Nos anos 90 (séc. XX) iniciou-se um trabalho de extracção desses estéreis para aproveitamento cerâmico (Valente et al., 1998 e Valente e Gomes, 2001), mas os trabalhos foram interrompidos sem que chegasse ao fim o plano de reabilitação, que dependia da extracção de todos os triturados quartzofeldspáticos.Desse trabalho resultaram as bacias inundadas que se observam na imagem da figura 2.35. É de interesse para a reabilitação daquele espaço concluir a extracção dos triturados e assim repor definitivamente o plano de água original. No enquadramento paisagístico em que está e em articulação com outros Locais de Interesse Geológico e Mineiro que se situam nas pro-ximidades (ver caracterização geológica), uma albufeira com o volume de armazenamento acima referido seria sem dúvida um fulcro de valorização do património natural com fácil adequação a formas variadas de utilização para a oferta turística.O Bretial é um local culminante da Serra de Arga – construção na linha do horizonte na figura 2.36. Situam-se ali as maiores altitudes do concelho. Dele se observa a maior parte do territó-rio limiano. Representa por isso um miradouro com interesse paisagístico de excelência. Por outro lado, na sua proximidade estão bem representadas em granito as principais direcções de ruptura Variscas e posteriores e a morfogénese que elas condicionam. Por isso é também um local de interesse geomorfológico em sentido estrito.

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2.2.6. Tópicos de valorização e promoção

Os locais de interesse geomorfológico de Ponte de Lima abrangem tanto as geoformas como as paisagens que podem ser explicadas do ponto de vista da morfogénese natural e/ou antrópica. É imediata a associação que suscitam relativamente à valorização arquitectónica, ambiental e turística do património geológico e mineiro. Percebe-se que contribuem para a diversifica-ção da oferta turística em espaço natural mas o seu usufruto deve ser sempre abordado em interface com o ordenamento do território e planeamento regional tentando ter em conta as fragilidades intrínsecas e as susceptibilidades à depreciação.Neste caso faz sentido promover uma aproximação bivalente à exploração de cada ambiente na-tural – biológica e geológica. A classificação, a expressão do valor e o desenvolvimento da apti-dão de algumas áreas de interesse geomorfológico assenta bastante na simultânea aproximação biológica e/ou ecológica. Assim, sistema geológico e ecossistema ligam-se exprimindo fulcros complementares de diversidade natural. Casos como as Lagoas de Bertiandos, o Vale do Trovela ou o Lourinhal justificam esta complementaridade que pode ser expandida para áreas periféri-cas onde uma das valências é preponderante em termos dos valores patrimoniais expressos.Em alguns casos a melhor expressão do interesse natural pode beneficiar de uma intervenção antrópica devidamente planeada, projectada e implementada.

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