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OS FARMACÊUTICOS E A REPÚBLICA

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Page 1: FICHA TÉCNICA - Ordem dos Farmacêuticos...Diploma da Universidade de Coimbra, atribuídao ao Dr. António Augusto D’Almeida 14 de Agosto de 1894 Col. Ordem dos Farmacêuticos A

OS FARMACÊUTICOS

E A REPÚBLICA

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FICHA TÉCNICA

Coordenação geralComissão para as Comemorações “Os Farmacêuticos e a República”José Aranda da Silva (Presidente)António Groen DuarteFrancisco Batel MarquesJoão Carlos Leal de MatosMadalena Nunes de SáJosé Pedro Sousa Dias

Coordenação científicaAntónio Groen Duarte

Coordenação executivaAna Sofia GuimasJosé Vicente

Produção de conteúdosAntónio Groen DuarteAna Sofia Guimas

Design e produçãoJosé Dias - In Two, Lda.

CarpintariaBarata e Santos, Lda.

Impressão digitalLinha Criativa, Lda.

SegurosCompanhia de Seguros Axa PortugalCorretoraLuso-Atlântica - Corretor de Seguros SA

TransportesTrans-Tourém – Transportadora, Lda.

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Esta exposição é uma mostra de acontecimentos, documentos,

iniciativas e personagens que se destacaram no período compre-

endido entre 1876 e 1935. Estes marcos cronológicos correspondem

à data de publicação de duas edições consecutivas da Farmacopeia

Portuguesa, e delimitam grosso modo o princípio da decadência da

Monarquia e o final da Primeira República.

Ao longo daqueles sessenta anos, Portugal foi palco de profundas

transformações sociais e políticas, que ditaram o fim de um regime

monárquico que vigorava desde a fundação da nacionalidade.

Durante aquele período, o país viu-se a braços com ameaças de

guerra por parte de uma super-potência (o chamado “Ultimato

Inglês”, em 1890); com o levantamento militar de 31 de Janeiro de

1891; com o assassinato do rei e o príncipe herdeiro, em 1908;

e com a implantação da República, a 5 de Outubro de 1910.

Os farmacêuticos portugueses viveram intensamente estes

sobressaltos da nossa história, e desempenharam um papel

relevante na consolidação dos ideais republicanos. As farmácias

eram tradicionalmente espaços de liberdade e locais de debate

e troca de ideias, e muitos farmacêuticos contribuíram através da

sua intervenção cívica e política para a implantação da República.

Através desta exposição, a Ordem dos Farmacêuticos presta

a sua homenagem a esses vultos do passado, associando-se

simultaneamente às comemorações de duas efemérides marcantes

na história de Portugal: o centenário da implantação da República

e os cem anos da refundação da Universidade de Lisboa.

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O ENSINO FARMACÊUTICO

O diploma de curso é uma realidade recente no currículo dos farmacêuticos portugueses. Tradicionalmente, os conheci-mentos de Farmácia eram transmitidos de mestres para aprendizes, ao longo de vários anos de prática nas boticas. Concluída essa aprendizagem, o aspirante apresentava-se a exame, perante um júri presidido por um médico, mediante o qual lhe era passada uma Carta de Aprovação.

Diploma da Escola Medico-Cirurgica de Lisboa atribuído ao Dr. Manuel Vicente de Jesus Abrantes11 de Outubro de 1882Col. Ordem dos Farmacêuticos

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Fotografia do Curso de Farmácia de 1900-1901Coimbra, 29 de Junho de 1925Col. Ordem dos Farmacêuticos

Só em 1836 foi instituído o ensino farmacêutico público e regular, leccionado por professores dos cursos de Medicina, nas Escolas de Farmácia criadas para o efeito em Lisboa, Porto e Coimbra. No entanto, poucos alunos se inscreviam nestes cursos, devido aos custos envolvidos na sua frequência, e também porque continuava a ser reconhecida a via tradicional de acesso à profissão, através da formação prática seguida de exame.

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Emílio Fragoso (1859-1930)O ensino e exercicio da Pharmacia em Portugal e outras naçõesTypographia de Pereira & Faria1898 – XIII, 400p., 1 f. desdobr.Col. Ordem dos Farmacêuticos

Estas duas formas de habilitação profissional traduziam-se na coexistência legal de uma pequena minoria de “Farmacêuticos de Primeira Classe”, com formação superior, e de uma esmagadora maioria de “Farmacêuticos de Segunda Classe”, com uma formação essencialmente prática.

A dualidade só foi desfeita em 1902, ano em que o curso das Escolas de Farmácia, com a duração de dois anos, foi finalmente reconhecido como única via legal de acesso à profissão. Para financiar esta nova forma de habilitação profissional, a classe farmacêutica aceitou suportar um novo imposto sobre os medicamentos.

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Diploma da Universidade de Coimbra, atribuídao ao Dr. António Augusto D’Almeida14 de Agosto de 1894Col. Ordem dos Farmacêuticos

A revolução republicana abriu caminho a profundas alterações no ensino superior: logo em 1911, o “Governo Provisório da República Portuguesa” criou as Universidades de Lisboa e Porto, integrando nelas as Escolas Médico-Cirúrgicas, sob a designação de Faculdades de Medicina, bem como as Escolas de Farmácia, que funcionavam na dependência destas.

O currículo de Farmácia foi alargado de dois para quatro anos, e os diplomados passaram a ser designados por “Farmacêuticos--Químicos”. Ainda durante a Primeira República, as Escolas de Farmácia foram desanexadas das Faculdades de Medicina (em 1918), e elevadas à categoria de Faculdades (em 1921), passando a conferir graus de licenciatura e doutoramento.

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Bernardino Álvaro de Pinho (1896-1969)Os cursos de farmácia em Portugal(Sep. do Relatório do Primeiro Congresso Nacional de Framacia p. 174-185)Lisboa, 1927Col. Ordem dos Farmacêuticos

Em 1932, nos primórdios do Estado Novo, as Faculdades de Farmácia de Lisboa e de Coimbra foram despromovidas a Escolas de Farmácia, passando a ministrar um curso médio de três anos, considerado suficiente para o exercício da profissão farmacêutica. Os alunos que pretendessem obter um grau de licenciatura ou doutoramento, eram obrigados a prosseguir os estudos durante mais dois anos na Faculdade de Farmácia do Porto. Só em 1968 foram restauradas as Faculdades de Farmácia de Lisboa e de Coimbra.

Vicente José de SeiçaProjectos de reforma de ensino da Pharmacia: trabalhos apresentados á Comissão nomeada pela Associação dos Pharmaceuticos PortuguêsesCoimbra, 1900. Typ. e Lit. Minerva Central, 16, [2] p.Col. Ordem dos Farmacêuticos

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O EXERCÍCIO PROFISSIONALÀ data da implantação da República, a classe farmacêutica celebrava ainda a aprovação da reforma do ensino de 1902. A legislação já impunha que a direcção técnica das farmácias fosse exercida de forma permanente por um farmacêutico, bem como a existência obrigatória de material de laboratório, de um copiador de receituário, e de um registo separado das receitas de estupefacientes.

Estas determinações, no entanto, não se reflectiam na qualidade do exercício profissional, caracterizado pelo livre

Raul Lupi Nogueira (1874-1945)Projectos de Lei reformando o exercicio profissional de Pharmacia em Portugal e Ilhas AdjacentesLisboa, 1906Typ. a vapor da Pap. Estevão Nunes & F.ºs. 29 p.Col. Ordem dos Farmacêuticos

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estabelecimento, pela ausência dos directores técnicos, e pela concorrência desenfreada entre farmácias, drogarias e mercearias, tudo agravado pela falta de fiscalização.

Para pôr cobro às infracções, foi criada em 1926 a Inspecção do Exercício Farmacêutico, cujas atribuições abrangiam não só a farmácia de oficina, mas também os laboratórios de produção. A este quadro veio juntar-se, em 1933, a consagração legal da indivisibilidade da propriedade e da direcção técnica das farmácias, um princípio que se manteve em vigor até 2007.

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O ASSOCIATIVISMO FARMACÊUTICO

O desenvolvimento da Farmácia em Portugal é indissociável da história das instituições representativas dos farmacêuticos. Dentre estas, destacou-se a Sociedade Farmacêutica Lusitana, fundada em 1835 por um grupo de farmacêuticos da capital, inspirados pelo triunfo dos Liberais na Guerra Civil de 1832-34. Ao longo de quase cem anos, esta associação desenvolveu um amplo leque de actividades científicas e profissionais, divulgadas em Portugal e no estrangeiro através do seu jornal, publicado ininterruptamente entre 1836 e 1933.

Jornal da Sociedade Farmaceutica Lusitana15ª Série - Tomo IVLisboa, 1919Col. Ordem dos Farmacêuticos

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Diploma do Centro Pharmaceutico Portuguez, atribuído ao Dr. Joaquim José Alves9 de Fevereiro de 1891Col. Ordem dos Farmacêuticos

Com a Sociedade Farmacêutica Lusitana, coexistiram duas outras associações de âmbito nacional: o Centro Farmacêutico Português, fundado no Porto em 1868; e a Associação dos Farmacêuticos Portugueses, criada em Lisboa em 1900. Já no século XX, viriam a nascer algumas agremiações de âmbito regional, como a União dos Farmacêuticos de Braga, e as Associações dos Farmacêuticos do Centro de Portugal, do Distrito de Setúbal e do Algarve.

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Em 1933, apesar da oposição de muitos farmacêuticos, o Estado Novo decretou a dissolução de todas as associações do sector, e a inscrição forçada dos seus membros num único organismo corporativo: o Sindicato Nacional dos Farmacêuticos.

Nos anos 40, o Estado delegou nesta nova estrutura algumas funções de fiscalização do exercício profissional, abrindo o caminho para a autorregulação, que se consolidou em 1972, com a transformação do Sindicato em Ordem dos Farmacêuticos.

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A FARMACOPEIA

À data da implantação da República, os farmacêuticos nacionais regiam-se ainda pela velha Pharmacopêa Portugueza, de 1876. Todos concordavam na necessidade de actualizá-la, e em 1903 chegou a ser nomeada uma Comissão para esse efeito, mas a hostilidade dos novos poderes republicanos para com alguns dos seus elementos inviabilizou a sua missão.

Pharmacopêa PortuguezaEdição officialLisboa, 1876. Imprensa Nacional, liii, 547 p.Col. Ordem dos Farmacêuticos

Pharmacopêa PortuguezaEdição officialLisboa, 1935. Imprensa Nacional, xlviii, 770 p.Col. Particular

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Em 1913, foi novamente constituída uma Comissão de Revisão da Farmacopeia. No entanto, a sua falta de representatividade desencadeou a contestação da classe farmacêutica, o que inviabilizou os trabalhos de mais esta comissão. Como resultado destas circunstâncias, a farmacopeia de 1876 manteve-se em vigor sem qualquer actualização até 1935.

Joaquim Urbano da Veiga (1836-1915)Alfredo da Silva MachadoEmílio Fragoso (1859-1930)Formulario officinal e magistral (...) Com um supplementoLisboa, 1886Typographia da Viuva Sousa Neves. 539 p.Col. Ordem dos Farmacêuticos

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O texto que finalmente a substituiu resultou essencialmente do trabalho de cinco farmacêuticos que, ao longo de cinco anos, tomaram a iniciativa de organizar uma farmacopeia actualizada e conforme às normas internacionais.

A Farmacopeia Portuguesa, publicada em 1935, foi redigida por três farmacêuticos militares e pelos dois Inspectores do Exercício Farmacêutico, tendo por base os métodos de controlo de qualidade utilizados na Farmácia Central do Exército, complementados por monografias recuperadas de farmacopeias anteriores, e actualizadas segundo as melhores farmacopeias estrangeiras.

A partir do pós-Guerra, iniciou-se um processo de gradual uniformização das farmacopeias a nível europeu. Actualmente, a Farmacopeia Portuguesa – tal como as suas congéneres de muitos outros países europeus –, resulta da adaptação da Farmacopeia Europeia.

Panorâmica do salão do Grémio Alentejano (actual Casa do Alentejo) durante o “banquete farmacêutico” de 10 de Março de 1935[Monitor de Farmácia, de 15 de Março de 1935]

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CIÊNCIA E TÉCNICA FARMACÊUTICA

Na transição do século XIX para o século XX, o mundo assistiu a uma verdadeira revolução farmacêutica, caracterizada pelo isolamento ou síntese de dezenas de novas substâncias activas, pelo desenvolvimento de novas formas farmacêuticas, e pela introdução de novos equipamentos e técnicas de produção e controlo de qualidade.

Gradualmente, a produção unitária de medicamentos, que durante séculos tinha caracterizado a farmácia de oficina, deu lugar a uma produção em série, à escala industrial. Estes desenvolvimentos tiveram um profundo impacto no circuito do medicamento, que passou a envolver novos agentes, com novas valências profissionais.

A maioria dos farmacêuticos portugueses foi apanhada de surpresa por esta revolução: o ensino mantinha-se em moldes arcaicos, ignorando os desenvolvimentos da microbiologia, e as novas formas farmacêuticas, como os comprimidos ou os injectáveis. Para além das lacunas no ensino, rareava a investigação científica, o exercício profissional não era fiscalizado e a farmacopeia estava obsoleta.

Apesar deste quadro, no início do século XX a produção de medicamentos em Portugal já tinha ultrapassado a escala da farmácia de oficina. Havia algumas poucas unidades industriais que se dedicavam essencialmente à produção de réplicas de medicamentos estrangeiros, para o que importavam igualmente as matérias-primas e a maquinaria.

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O regime republicano fomentou a expansão deste parque industrial, e quando a Guerra de 1914-18 veio limitar a importação de matérias-primas e reagentes, a indústria nacional conseguiu em boa medida corresponder às necessidades do país.

Embalada por este impulso, a indústria farmacêutica nacional floresceu depois à sombra da protecção do Estado Novo. Mas ao mesmo tempo que propiciava uma prosperidade temporária, este apoio estatal revelou-se um factor de desencorajamento

AutoclaveMetalSéculo XIX-XXCol. Ordem dos Farmacêuticos

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da inovação, quando o sector começava a confrontar-se com o encurtamento do ciclo de vida comercial dos medicamentos, a multiplicação de novas especialidades, o desenvolvimento dos sistemas de comparticipação, e a necessidade competir com o marketing dos laboratórios estrangeiros.

Com o enfraquecimento dos mecanismos de protecção estatal – no último quartel do século XX – a indústria farmacêutica portuguesa cedeu gradualmente à pressão das multinacionais, o que resultou num decréscimo acentuado do número de unidades de produção. As que se mantêm em actividade são na sua maioria constituídas por capitais nacionais, e produzem para multinacionais e para exportação.

Secção de Análises Clínicas da Farmácia Central do Exército1ª metade do século XXColecção do Laboratório Militar de Produtos Farmacêuticos

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OS FARMACÊUTICOS E A IMPLANTAÇÃO DA REPÚBLICAAo longo da Monarquia constitucional, a estrutura mais representativa dos farmacêuticos portugueses foi a Sociedade Farmacêutica Lusitana. Esta Sociedade tinha sido fundada em 1835, sob a égide da rainha D. Maria II, para quem foi expressamente criada a categoria de Sócia Protectora, e cujo retrato se conserva ainda na sede da Ordem dos Farmacêuticos.

Foram igualmente Sócios Protectores todos os sucessores do trono português até ao regicídio de 1908. No Jornal da Sociedade Farmacêutica Lusitana desse ano é bem patente a consternação causada pelo atentado perpetrado por dois republicanos, em plena Praça do Comércio, que vitimou o Rei D. Carlos e o Príncipe D. Luís Filipe.

Retrato de D. Maria II1838Col. Ordem dos Farmacêuticos

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Apesar desta proximidade entre a Sociedade Farmacêutica e o poder régio, muitos farmacêuticos desempenharam um papel activo na afirmação dos ideais republicanos. Os dois exemplos mais conhecidos são os portuenses Aníbal Cunha (1868-1931) e Carlos Richter (1861-1935), que se destacaram na propaganda anti-monárquica, tendo participado na revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891. Perante o insucesso da iniciativa, os dois farmacêuticos viram-se forçados a sair de Portugal, mas uma amnistia permitiu que regressassem e prosseguissem as suas carreiras. Aníbal Cunha foi durante vários anos professor e director da Faculdade de Farmácia do Porto, enquanto Carlos Richter viria a ser senador e deputado.

Muitos outros farmacêuticos exerceram funções políticas relevantes durante a Primeira República. É o caso de Inocêncio Camacho Rodrigues (1867-1943), natural de Moura, que em 1910 proclamou o Governo Provisório republicano em Lisboa,

Retrato necrológico do rei D. CarlosJornal da Sociedade Pharmaceutica Luzitana13ª Série - Tomo IVLisboa, 1908Col. Ordem dos Farmacêuticos

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e chegou a Ministro das Finanças em 1920. É também o caso de Manuel José Fernandes Costa (1870-1952), catedrático de Farmácia na Universidade de Coimbra, eleito deputado à Assembleia Nacional Constituinte pelo círculo de Arganil (1911), e posteriormente senador pelo Partido Liberal.

O farmacêutico Fausto Cardoso Figueiredo (1880-1950), natural de Celorico da Beira, destacou-se não só na política, como nos negócios. Foi o grande responsável pela transformação do Estoril numa estância turística de fama internacional, tendo fundado a Sociedade Estoril, e o Casino Estoril. Na década de 1920, desempenhou funções parlamentares como deputado eleito pelos círculos de Torres Vedras e da Covilhã, e posteriomente (já no Estado Novo), foi procurador à Câmara Corporativa.

Com um perfil diferente, fica ainda o exemplo de Custódio Maldonado de Freitas (1886-1964), farmacêutico nas Caldas da Rainha, que presidiu à Câmara Municipal dessa cidade, dirigiu os jornais “Direito do Povo” e “O Regionalista”, sendo depois eleito deputado pelo círculo de Alcobaça.

Retrato de Inocêncio Camacho Rodrigues (1867-1943)

>>Retrato de Custódio Maldonado de Freitas (1886-1964)

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