fias. É este o material que mais de 17 países estudados, cuja mé- … · 2017-04-18 · fias. É...

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Tiragem: 72675 País: Portugal Period.: Diária Âmbito: Informação Geral Pág: 6 Cores: Preto e Branco Área: 25,50 x 30,00 cm² Corte: 1 de 3 ID: 69116139 17-04-2017 144 50 0. /0 leem por alto Mais de metade dos portugueses apenas lê na diagonal as licenças de autorização para consenti- mento fornecido pelas aplicações, segundo o estudo Kaspersky, di- vulgado recentemente. 78,2 por cento dos portugueses referem que os dados mais insubstituíveis que têm registados nos seus disposi- tivos electrónicos são as fotogra- fias. É este o material que mais temem perder. 18 por Inês Os portugueses descarregam uma média de 18 aplicações por mês, um valor francamente supe- rior ao detetado para o universo de 17 países estudados, cuja mé- dia se situou nas 12. Nacional Privacidade Estudo internacional revela que 83% das aplicações de telemóvel e tablet acedem a dados sensíveis do utilizador Apps com acesso ilegal a informações pessoais Apps pedem muitas informações desnecessárias para a prestação do serviço, alerta a Comissão de Proteção de Dados Dina Margato [email protected] Ao descarregar uma aplicação (app) para o telefone ou tablet, es- tamos a escancarar a porta para a nossa a vida, permitindo o acesso a informações pessoais. Um estu- do recente conclui que 83 em cem aplicações acedem a dados sensí- veis do utilizador. A Comissão Na- cional de Proteção de Dados (CNPD) alerta que as apps pedem acesso a dados desnecessários ao serviço, o que é ilegal. A pesquisa da Kaspersky (uma empresa que opera na segurança da Internet) - que incidiu em 17 países, entre eles Portugal (com mil partici- pantes) - conclui que "96 em cem apps android conseguem estar ati- vas, sem o utilizador saber, e 83% têm acesso a dados sensíveis do uti- lizador como contactos, fotografias, mensagens, chamadas". "A verdade é que corremos um grande risco". alerta o diretor da Kaspersky, Alfon- so Ramírez. "Pode haver falhas nos dispositivos, problemas com bateria ou infeção por maiware. As aplica- ções têm acesso a alguns dos dados mais pessoais que temos e os utili- zadores desconhecem muitas vezes que esta informação está a ser par- tilhada", adverte. O que acontece com frequência, explica Clara Guerra, da CNPD, é que as apps pedem informações desnecessárias ao serviço. "E pedir esses dados contraria a lei existen- te", garante. De acordo com a Lei 67/ 98, "os dados pessoais devem ser recolhidos para finalidades de- terminadas, explícitas e legítimas, não podendo ser posteriormente tratados de forma incompatível com essas finalidades". O novo regula- mento, a aplicar a partir de 25 de maio de 2018. aprofundará este con- trolo. Por outro lado, "mesmo quando pedem autorização, fazem-no fre- quentemente de modo desajustado, em linguagem complexa, em ter- mos longos para poder ser lido num telemóvel, ou então de forma insu- ficiente, não facultando a informa- ção básica de modo conciso para que o titular dos dados possa dar um consentimento consciente". Segundo um estudo da Global Privacy Privacy Enforcement Network Sweep (2014), mais de me- tade dos cidadãos referia que as apps pediam mais informação do que a necessária para o fim, susci- tando preocupação sobre a garantia de privacidade. Há apps a "funcionar como deve ser" e outras que não, sublinha a res- ponsável da CNPD, acrescentando que "deviam fornecer um serviço e não fazer dinheiro com os dados'. E adverte: " Se o serviço tem um cus- to, mais vale cobrarem. É mais ho- nesto. liso e leal do que roubá-los e fazer negócio". Investigadores portugueses criam uma app de fotos segura Foi durante o lanche que um grupo de amigos e investigadores do Laboratório de Software Confiável (HASLab), do Instituto de En- genharia de Sistemas e Computadores - Tecnologia e Ciência de Braga, entre eles Francisco Maia, resolveu criar uma app segura para fotos. A SafeCloud Photos nasceu na sequência das notícias que davam conta do roubo de fotos a celebridades e, desde setem- bro, já foi instalada em mais de quatro mil dispositivos. A solução tecnológica encontrada pressupõe que, por cada foto, se produzam vários pedaços de informação armazenados em espaços diferentes. Cada um dos pedaços não re- vela qualquer informação sobre a foto, que só pode ser composta na totalidade através da app. O desenvolvimento da aplicação insere-se no âmbito do projeto SafeCloud, liderado pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência-INESC TEC e vai contar com três milhões de euros da Comissão Europeia para combater a violação de da- dos nos telemóveis e computadores. O acesso aos dados particulares - contactos, fotos, informações de saúde, localização - pode também fazer-se recorrendo ao IMEI, um nú- mero de identificação único do te- lemóvel, para onde desaguam todas as informações das apps. "Juntando tudo, traça-se o perfil do cidadão." Mesmo as atualizações podem ser- vir para melhorar um serviço e si- multaneamente acrescentar os no- vos contactos do utilizador. Porta aberta através do telemóvel "As pessoas acham que o telemóvel é delas e ninguém entra. Não é ver- dade. Entra mais gente do que em sua casa", alerta Clara Guerra. "Mais vale escreverem as passwords numa folha de papel de terem-nas numa gaveta em casa. Correm mui- to menos riscos", enfatiza. Como é que acidadão sente isto na pele? Francisco Maia, um dos criadores da SafeCloud Photos (uma app que aposta na segurança), aler- ta para a falácia de acharmos que não há problema se nada temos a esconder, até porque "não conse- guirmos prever o que vão fazer aos dados". Lembra a história da rapari- ga norte-americana que recebeu peças de roupa para bebé em casa quando os pais ainda não sabiam da sua gravidez. "Perdeu a oportunida- de de ser ela a contar a novidade e de escolher a forma de o fazer". Como explica aos seus alunos na Universidade do Minho, estamos, em última análise, a abdicar da li- berdade de escolha, de poder fazer interpretações sobre o Mundo. con- tra o que pode ser categorizado. Francisco Maia considera positi- vas as iniciativas recentes do Face- hook e Google em prol da privaci- dade, que serão fruto, certamente, da pressão dos consumidores. diz. Estaremos também diante da abertura a novos modelos de crime. admitem os especialistas nesta área. Ainda estamos na pré-história do cl- bercrime, concordam. •

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Page 1: fias. É este o material que mais de 17 países estudados, cuja mé- … · 2017-04-18 · fias. É este o material que mais temem perder. 18 por Inês ... que davam conta do roubo

Tiragem: 72675

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 6

Cores: Preto e Branco

Área: 25,50 x 30,00 cm²

Corte: 1 de 3ID: 69116139 17-04-2017

144

500. /0 leem por alto Mais de metade dos portugueses apenas lê na diagonal as licenças de autorização para consenti-mento fornecido pelas aplicações, segundo o estudo Kaspersky, di-vulgado recentemente.

78,2 por cento dos portugueses referem que os dados mais insubstituíveis que têm registados nos seus disposi-tivos electrónicos são as fotogra-fias. É este o material que mais temem perder.

18 por Inês Os portugueses descarregam uma média de 18 aplicações por mês, um valor francamente supe-rior ao detetado para o universo de 17 países estudados, cuja mé-dia se situou nas 12.

Nacional

Privacidade Estudo internacional revela que 83% das aplicações de telemóvel e tablet acedem a dados sensíveis do utilizador

Apps com acesso ilegal a informações pessoais

Apps pedem muitas informações desnecessárias para a prestação do serviço, alerta a Comissão de Proteção de Dados

Dina Margato [email protected]

► Ao descarregar uma aplicação (app) para o telefone ou tablet, es-tamos a escancarar a porta para a nossa a vida, permitindo o acesso a informações pessoais. Um estu-do recente conclui que 83 em cem aplicações acedem a dados sensí-veis do utilizador. A Comissão Na-cional de Proteção de Dados (CNPD) alerta que as apps pedem acesso a dados desnecessários ao serviço, o que é ilegal.

A pesquisa da Kaspersky (uma empresa que opera na segurança da Internet) - que incidiu em 17 países, entre eles Portugal (com mil partici-pantes) - conclui que "96 em cem apps android conseguem estar ati-vas, sem o utilizador saber, e 83% têm acesso a dados sensíveis do uti-lizador como contactos, fotografias, mensagens, chamadas". "A verdade é que corremos um grande risco". alerta o diretor da Kaspersky, Alfon-so Ramírez. "Pode haver falhas nos dispositivos, problemas com bateria ou infeção por maiware. As aplica-ções têm acesso a alguns dos dados mais pessoais que temos e os utili-zadores desconhecem muitas vezes que esta informação está a ser par-tilhada", adverte.

O que acontece com frequência, explica Clara Guerra, da CNPD, é que as apps pedem informações desnecessárias ao serviço. "E pedir esses dados contraria a lei existen-te", garante. De acordo com a Lei 67/ 98, "os dados pessoais devem ser recolhidos para finalidades de-terminadas, explícitas e legítimas, não podendo ser posteriormente tratados de forma incompatível com essas finalidades". O novo regula-mento, a aplicar a partir de 25 de maio de 2018. aprofundará este con-trolo.

Por outro lado, "mesmo quando pedem autorização, fazem-no fre-quentemente de modo desajustado,

em linguagem complexa, em ter-mos longos para poder ser lido num telemóvel, ou então de forma insu-ficiente, não facultando a informa-ção básica de modo conciso para que o titular dos dados possa dar um consentimento consciente".

Segundo um estudo da Global Privacy Privacy Enforcement Network Sweep (2014), mais de me-tade dos cidadãos referia que as apps pediam mais informação do que a necessária para o fim, susci-tando preocupação sobre a garantia de privacidade.

Há apps a "funcionar como deve ser" e outras que não, sublinha a res-ponsável da CNPD, acrescentando que "deviam fornecer um serviço e não fazer dinheiro com os dados'. E adverte: " Se o serviço tem um cus-to, mais vale cobrarem. É mais ho-nesto. liso e leal do que roubá-los e fazer negócio".

Investigadores portugueses criam uma app de fotos segura • Foi durante o lanche que um grupo de amigos e investigadores do Laboratório de Software Confiável (HASLab), do Instituto de En-genharia de Sistemas e Computadores - Tecnologia e Ciência de Braga, entre eles Francisco Maia, resolveu criar uma app segura para fotos. A SafeCloud Photos nasceu na sequência das notícias que davam conta do roubo de fotos a celebridades e, desde setem-bro, já foi instalada em mais de quatro mil dispositivos. A solução tecnológica encontrada pressupõe que, por cada foto, se produzam vários pedaços de informação armazenados em espaços diferentes. Cada um dos pedaços não re-vela qualquer informação sobre a foto, que só pode ser composta na totalidade através da app. O desenvolvimento da aplicação insere-se no âmbito do projeto SafeCloud, liderado pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência-INESC TEC e vai contar com três milhões de euros da Comissão Europeia para combater a violação de da-dos nos telemóveis e computadores.

O acesso aos dados particulares -contactos, fotos, informações de saúde, localização - pode também fazer-se recorrendo ao IMEI, um nú-mero de identificação único do te-lemóvel, para onde desaguam todas as informações das apps. "Juntando tudo, traça-se o perfil do cidadão." Mesmo as atualizações podem ser-vir para melhorar um serviço e si-multaneamente acrescentar os no-vos contactos do utilizador.

Porta aberta através do telemóvel "As pessoas acham que o telemóvel é delas e ninguém entra. Não é ver-dade. Entra mais gente do que em sua casa", alerta Clara Guerra. "Mais vale escreverem as passwords numa folha de papel de terem-nas numa gaveta em casa. Correm mui-to menos riscos", enfatiza.

Como é que acidadão sente isto na pele? Francisco Maia, um dos criadores da SafeCloud Photos (uma app que aposta na segurança), aler-ta para a falácia de acharmos que não há problema se nada temos a esconder, até porque "não conse-guirmos prever o que vão fazer aos dados". Lembra a história da rapari-ga norte-americana que recebeu peças de roupa para bebé em casa quando os pais ainda não sabiam da sua gravidez. "Perdeu a oportunida-de de ser ela a contar a novidade e de escolher a forma de o fazer".

Como explica aos seus alunos na Universidade do Minho, estamos, em última análise, a abdicar da li-berdade de escolha, de poder fazer interpretações sobre o Mundo. con-tra o que pode ser categorizado.

Francisco Maia considera positi-vas as iniciativas recentes do Face-hook e Google em prol da privaci-dade, que serão fruto, certamente, da pressão dos consumidores. diz.

Estaremos também diante da abertura a novos modelos de crime. admitem os especialistas nesta área. Ainda estamos na pré-história do cl-bercrime, concordam. •

Page 2: fias. É este o material que mais de 17 países estudados, cuja mé- … · 2017-04-18 · fias. É este o material que mais temem perder. 18 por Inês ... que davam conta do roubo

Tiragem: 72675

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

Pág: 7

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Área: 11,29 x 30,00 cm²

Corte: 2 de 3ID: 69116139 17-04-2017

flash Novas regras não permitem agregar autorizações

Daniel Rala. Advogado, perito em proteção de dados

Que garantias vem promover o novo regulamento europeu? Há várias alterações aplicáveis às apps. A recolha de dados exigirá que seja explicado com detalhe o que a entidade que explora a app pretende fazer com eles. E será proibido "agregar" consentimentos. O titular terá tnn nukiojsggrolo sobre os dados (potlerá dar cõnsentimento para enviar dados para os EUA e recusar divulgação a terceiros).

De que forma se garante a darem das condições? O consentimento tem de ser realizado de forma positiva e explícita e pode ser retirado a qualquer momento. Apenas com fiscalização efetiva e eficiente é que pode existir essa garantia.

A aposta na fiscalização e em coimas é determinante? É essa a esperança das pessoas que lidam com temas de dados pessoais.

Qual é a principal cautela a ter com as apps? Perceber que dados são recolhidos (localização, perfis de comportamento), a quem são divulgados e para que finalidades. Um dos desafios é conseguir encontrar esta informação, porque é frequente "enterrá-la" em políticas de privacidade complexas e longas.

2200 apps portuguesas O site Apps Portugal reúne o re-gisto de 2200 aplicações criadas por portugueses ou desenvolvi-das por empresas portuguesas. Haverá muitas mais que não se inscreveram na plataforma.

Há mais de 165 mil aplicações na área da saúde RISCOS Hoje em dia, há aplicações para quase tudo: perder peso, re-gistar o período menstrual, saber a hora da amamentação, tomar os comprimidos. Se há área onde se multiplicou a oferta foi a da saú-de. Segundo um levantamento da Quintiles IMS Health, citado pelo jornal "El Pais", existem atual-mente em todo o Mundo mais de 165 mil aplicações na área de saú-de e pelo menos 500 milhões de pessoas a usá-las. A Comissão Na-cional Proteção de Dados tem es-tado especialmente atenta a este domínio, sublinha Clara Guerra.

"A área da saúde é muito valio-sa. É uma área fantástica para re-colher dados pessoais", lembra a responsável. "São as pessoas que estão a dar essas informações. Dessa forma, ultrapassa-se logo uma série de obstáculos."

Os idosos têm sido um alvo pre-ferencial porque são eles que po-dem fornecer informações sobre doenças crónicas a partir dos cómportamentos adotados. Em-bora essas apps possam facilitar a vida às pessoas, admite Clara Guerra, é preciso ter redobradas cautelas por causa dos seus obje-tivos eventualmente obscuros: criação de produtos, remédios.

A legislação refere no artigo 7.° que é proibido tratar dados pes-soais relativos à área da saúde e muito menos comunicá-los a ter-ceiros sem a devida notificação.

Clara Guerra está convencida que a certificação de qualidade, prevista no novo regulamento, po-derá não só ser útil aos cidadãos, por ganharem um selo de quali-dade facilmente visível, como às próprias aplicações, empenhadas em prestar um bom serviço.

A cientificidade de algumas apps é questionável. Um estudo publicado pela revista "The Lan-cei Psychatrist" mostrava que apenas duas em 3000 aplicações na área da saúde mental tinham comprovada eficácia em ensaios clínicos. D.M.

Page 3: fias. É este o material que mais de 17 países estudados, cuja mé- … · 2017-04-18 · fias. É este o material que mais temem perder. 18 por Inês ... que davam conta do roubo

Tiragem: 72675

País: Portugal

Period.: Diária

Âmbito: Informação Geral

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Cores: Cor

Área: 25,50 x 5,03 cm²

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Jorna de tf ias

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Segunda-feira 17 de abril 2017 • wwwjn.pt • Cl • N.'320 • Ano 129 • bebe Afonso Camões • Diretw-execrith1Dommgos de Andrade Sebehretores Daviel Pontes, Inês Cardoso e Pedro Ivo Carvalho • Diretor de Me Pedro Rolem&

Desligavam câmaras para comprar ouro roubado.

• Estudo revela que 83% recolhem informações sensíveis dos utilizadores • Programas podem estar ativos sem serem detetados P. 6 e 7

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