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El Joaquim Benite C hegaram os argenti- nos. Os grupos de Rubén Sabadini e Juan Mako têm-se feito notar pela sua irreverência, simpa- tia e perseverança ao serem os últimos a abandonarem os beberetes – onde têm sempre mais uma piada para contar, ou um aspecto que acabam de descobrir no espectáculo dessa noite. Ninguém como os argentinos para admira- rem e se deliciarem com o trabalho dos outros criado- res. Ninguém como eles para amar o Teatro, que praticam em condições muitas vezes precárias, mas com a necessi- dade quase sempre aguçando o engenho. Com a chegada dos argen- tinos, chegou também uma subtileza linguística que, na última noite, nos fez inter- romper a fala por instantes. A combinar um encontro para esta tarde, um deles disse-nos: “Nos vemos en el Joaquim Benite”. “Vemo-nos no Joaquim Benite.” Nun- ca falamos do nosso teatro municipal desta maneira – e não há razão nenhuma para tal: marcamos sempre encontro no D. Maria, ou no São Luiz, ou no São Carlos, ou no Maria Matos, ou no Ta- borda. Mas nós, almadenses, nunca dizemos que vamos ao Joaquim Benite. Ou lhe chamamos TMJB, ou Teatro Municipal, ou Teatro Azul. Só Joaquim Benite”, nunca. E que bem que soa “encontra- mo-nos no Joaquim Benite- tendo sido o Joaquim um homem que ao longo da vida se fartou de promover encontros. Os jovens teatreiros argen- tinos cunharam uma nova expressão. “Teatro Municipal Joaquim Benite” é, de facto, muito comprido e pomposo. Vemo-nos no Joaquim Benite. Nº 11 – QUI. 14 de JULHO de 2016 O universo dos contos in- fantis não é novo para Joël Pommerat. Na ver- dade, Pinóquio surge depois de o criador francês ter adaptado e en- cenado, em 2004, O capuchinho vermelho, com muito sucesso. O mesmo acontece com o Festival de Almada, no qual se apresen- ta pela terceira vez no espaço de cinco anos, depois de êxitos como Círculos/ficções (2011) e A reunificação das duas Coreias (2014). Neste espectáculo, a his- tória do boneco de madeira inso- lente e mentiroso que, no final, se transforma num menino de carne e osso permite-lhe testar as fron- teiras entre o real e o imaginário. Para Daniel Loayza, conselheiro artístico do Odéon – Théâtre de l’Europe, as suas aventuras são a expressão de um desejo “de viver e de se sentir vivo”, perceptível tanto nas exigências que Pinóquio faz ao vir ao Mundo, a despeito da pobreza do pai, como na sua atracção por novas experiências, nomeadamente pelo espectáculo que o convence a vender o seu manual escolar para pagar a entra- da e abraçar a diva. No teatro de Dores de crescimento no CCB O SENTIDO DOS MESTRES Caderno de notas do primeiro dia O ntem, na Casa da Cerca, na abertura de mais uma edição do ciclo O sentido dos mestres, Ricardo Pais recor- dou as aprendizagens realizadas no Drama Centre, em Londres, e a influência que o convívio com ac- tores em formação teve sobre a sua forma de dirigir elencos. Embora reconheça a sua obsessão com o texto e com a língua portuguesa, o encenador admitiu também dar muita importância a questões re- lacionadas com o movimento e com a voz. Foram exibidos excer- tos de dois espectáculos seus, ba- seados em obras de Shakespeare Noite de Reis (1998) e O mer- Pinóquio estreou em 2008, no Odéon – Théâtre de l’Europe. Mantém-se em cena desde então, com vários interregnos e digressões pelo meio, tendo sido distinguido com o Prémio Molière 2016, atribuído ao Melhor Espectáculo para o Público Jovem apresentado em França no ano passado. cador de Veneza (2008) –, a partir dos quais se teceram várias consi- derações, nomeadamente sobre as diferenças entre os dois processos criativos e as prestações de An- tónio Durães, Micaela Cardoso e Albano Jerónimo. “Quando me corre bem, parece que as pessoas deslizam pelas coisas adentro”, acrescenta Ricardo Pais, aludindo à harmonia que procura constan- temente, no conjunto das opções tomadas ao nível da direcção de actores, da preparação física e vo- cal, da selecção musical e da con- cepção do espaço. No final, houve ainda tempo para falar do estado do ensino artístico em Portugal e das consequências nefastas que resultaram, no entender do cria- dor, da passagem do Conservató- rio Nacional a Escola Superior de Teatro e Cinema. Pommerat, “não se trata de trans- mitir lições, mas de partilhar ex- periências”. Pinóquio estará em cena nos próximos dias 15 e 16, às 21h e às 18h, respectivamente, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. © Rui Carlos Mateus © Elisabeth Carecchio

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Page 1: F.I. N.º 11 14 de Julho - TMJB. Os grupos de Rubén Sabadini e Juan Mako têm-se feito notar pela sua irreverência, simpa-tia e perseverança ao serem os últimos a abandonarem os

El Joaquim Benite

Chegaram os argenti-nos. Os grupos de Rubén Sabadini e

Juan Mako têm-se feito notar pela sua irreverência, simpa-tia e perseverança ao serem os últimos a abandonarem os beberetes – onde têm sempre mais uma piada para contar, ou um aspecto que acabam de descobrir no espectáculo dessa noite. Ninguém como os argentinos para admira-rem e se deliciarem com o trabalho dos outros criado-res. Ninguém como eles para amar o Teatro, que praticam em condições muitas vezes precárias, mas com a necessi-dade quase sempre aguçando o engenho. Com a chegada dos argen-tinos, chegou também uma subtileza linguística que, na última noite, nos fez inter-romper a fala por instantes. A combinar um encontro para esta tarde, um deles disse-nos: “Nos vemos en el Joaquim Benite”. “Vemo-nos no Joaquim Benite.” Nun-ca falamos do nosso teatro municipal desta maneira – e não há razão nenhuma para tal: marcamos sempre encontro no D. Maria, ou no São Luiz, ou no São Carlos, ou no Maria Matos, ou no Ta-borda. Mas nós, almadenses, nunca dizemos que vamos ao Joaquim Benite. Ou lhe chamamos TMJB, ou Teatro Municipal, ou Teatro Azul. Só “Joaquim Benite”, nunca. E que bem que soa “encontra-mo-nos no Joaquim Benite” - tendo sido o Joaquim um homem que ao longo da vida se fartou de promover encontros.Os jovens teatreiros argen-tinos cunharam uma nova expressão. “Teatro Municipal Joaquim Benite” é, de facto, muito comprido e pomposo. Vemo-nos no Joaquim Benite.

Nº 11 – QUI. 14 de JULHO de 2016

O universo dos contos in-fantis não é novo para Joël Pommerat. Na ver-

dade, Pinóquio surge depois de o criador francês ter adaptado e en-cenado, em 2004, O capuchinho vermelho, com muito sucesso. O mesmo acontece com o Festival de Almada, no qual se apresen-ta pela terceira vez no espaço de cinco anos, depois de êxitos como Círculos/fi cções (2011) e A reunifi cação das duas Coreias (2014). Neste espectáculo, a his-tória do boneco de madeira inso-lente e mentiroso que, no fi nal, se transforma num menino de carne e osso permite-lhe testar as fron-teiras entre o real e o imaginário. Para Daniel Loayza, conselheiro artístico do Odéon – Théâtre de l’Europe, as suas aventuras são a expressão de um desejo “de viver e de se sentir vivo”, perceptível tanto nas exigências que Pinóquio

faz ao vir ao Mundo, a despeito da pobreza do pai, como na sua atracção por novas experiências, nomeadamente pelo espectáculo que o convence a vender o seu manual escolar para pagar a entra-da e abraçar a diva. No teatro de

Dores de crescimento no CCB

O SENTIDO DOS MESTRESCaderno de notas do primeiro dia

O ntem, na Casa da Cerca, na abertura de mais uma edição do ciclo O sentido

dos mestres, Ricardo Pais recor-dou as aprendizagens realizadas no Drama Centre, em Londres, e a infl uência que o convívio com ac-tores em formação teve sobre a sua forma de dirigir elencos. Embora reconheça a sua obsessão com o texto e com a língua portuguesa, o encenador admitiu também dar muita importância a questões re-lacionadas com o movimento e com a voz. Foram exibidos excer-tos de dois espectáculos seus, ba-seados em obras de Shakespeare – Noite de Reis (1998) e O mer-

Pinóquio estreou em 2008, no Odéon – Théâtre de l’Europe. Mantém-se em cena desde então, com vários interregnos e digressões pelo meio, tendo sido distinguido com o Prémio Molière 2016, atribuído ao Melhor Espectáculo para o Público Jovem apresentado em França no ano passado.

cador de Veneza (2008) –, a partir dos quais se teceram várias consi-derações, nomeadamente sobre as diferenças entre os dois processos criativos e as prestações de An-

tónio Durães, Micaela Cardoso e Albano Jerónimo. “Quando me corre bem, parece que as pessoas deslizam pelas coisas adentro”, acrescenta Ricardo Pais, aludindo à harmonia que procura constan-temente, no conjunto das opções tomadas ao nível da direcção de actores, da preparação física e vo-cal, da selecção musical e da con-cepção do espaço. No fi nal, houve ainda tempo para falar do estado do ensino artístico em Portugal e das consequências nefastas que resultaram, no entender do cria-dor, da passagem do Conservató-rio Nacional a Escola Superior de Teatro e Cinema.

Pommerat, “não se trata de trans-mitir lições, mas de partilhar ex-periências”. Pinóquio estará em cena nos próximos dias 15 e 16, às 21h e às 18h, respectivamente, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém.

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AGENDA DE AMANHÃO SENTIDO DOS MESTRES

15:00 Aprender a esquecerCom Ricardo Pais Casa da Cerca

18:00 SusnCentro Cultural de Belém

20:00 LullabyRua Cândido dos Reis (Cacilhas)

ESPECTÁCULO DE RUA

TEATRO

18:00 Graça – Suite teatral em três movimentosTeatro Taborda

TEATRO

21:00 O feioTeatro Municipal Joaquim Benite

TEATRO

RESTAURANTE DA ESPLANADA

• Empadão de atum• Carne marinada à Renana

Hoje

Amanhã• Carapaus fritos com açorda• Favas com entrecosto

De olho na ASAESegundo o jornal Público de hoje, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica avançou com multas de 917.750€ aos operadores do comércio, praticamente todas por vendas abaixo do preço de custo. Esta notícia fez soar de imediato os alarmes na redacção da Folha – ou não fosse o Festival de Almada o evento com Assinaturas do Verão teatral português mais baratas. Como a melhor defesa é o ataque, iremos ter a ASAE debaixo de olho – e assim talvez eles não notem que as nossas Assinaturas andam muito (mas muito) abaixo do preço do mercado. Aliás, no melhor pano cai sempre a nódoa, ou não se lembram da célebre foto do director da respeitabilíssima instituição a fumar uma cigarrilha no Casino do Estoril, justamente no primeiro dia em que passava a ser proibido fumar em locais fechados: o dia 1 de Janeiro de 2008?

21:00 PinóquioCentro Cultural de Belém

TEATRO

22:00 Manuel João VieiraEscola D. António da Costa

MÚSICA NA ESPLANADA

Manuel João Vieira actua amanhã na Esplanada

Músico, artista plástico, professor, apresentador de programas televisi-

vos, candidato à Presidência da República… São várias as facetas de Manuel João Vieira, o artista que toca amanhã na Esplanada da Escola D. António da Costa, em Almada, às 22h. Dos diferentes projectos musicais a que se entre-

gou, é impossível não destacar os Ena Pá 2000, os Irmãos Catita, o grupo Corações de Atum, o Quar-teto 4444, o Lello Perdido e o Pianista de Boite. Depois do êxito do último fi m-de-semana, com os concertos de Luiz Caracol e Jorge Palma, não perca mais uma noite de música portuguesa neste Festi-val de Almada.

A o contrário do que esta-va inicialmente previsto, o espectáculo Pozzo foi

substituído por outro, dos mesmos produtores, intitulado Lullaby. O local e a hora de apresentação mantêm-se: Lullaby acontece na

Alteração na programação dos espectáculos de rua

Graça – Suite teatral em três movimentos estreou no passado mês de Outu-

bro e é a proposta do Teatro da Garagem para o Festival de Al-mada deste ano. O espectáculo estará em cena a partir de amanhã, no Teatro Taborda, em Lisboa, e assim se mantém até Domingo.Este espectáculo inspira-se na vida e na obra da pintora Graça Morais, autora do cartaz da 33.ª edição do Festival, mas parte

A partir de amanhã no Teatro Taborda

igualmente das palavras de Antó-nio Tabucchi e de Carlos J. Pes-soa, o encenador desta produção. Com Graça – Suite teatral em três movimentos, o Teatro da Ga-ragem propõe-nos uma viagem ao universo da artista, em constante diálogo com as cidades do Porto e de Lisboa, com a região de Trás--os-Montes e com o Mundo.No primeiro movimento desta suite, destaca-se o papel decisivo dos sentidos na compreensão da

obra pictórica e na construção do pensamento da artista. No segun-do movimento, assume-se uma perspectiva mais crítica sobre a sua obra, encenando o texto de Tabucchi O fi m do mito: breve

Rua Cândido dos Reis, em Caci-lhas, às 20h. Trata-se, segundo a organização, de uma performance “cómica e provocadora que abre espaço ao jogo de improviso entre um palhaço transgressor e o es-pectador”. Este espectáculo per-

correu o País em 2015 e recebeu vários prémios nos festivais de artes performativas Imaginarius (Portugal), Circada (Sevilha) e Fringe (Edimburgo). Conta tam-bém com momentos de música ao vivo.

auto sobre um quadro de Graça Morais. Finalmente, no terceiro e último movimento, a companhia vai ao encontro do atelier da ar-tista e do seu complexo processo de criação.

© T

adeu

Mac

hado