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Nº 8 - 11 de Julho de 2012 folha informativa DOIS DE NÓS HOJE À NOITE NO PALCO GRANDE Montagem de emoções © Tomoaki Minoda Ana Pepine e Paul Cimpoieru P aul Cimpoieru, que em conjunto com Ana Pe- pine é responsável pela criação e encenação de Dois de nós – espectáculo exibido hoje no Palco Grande da Escola D. António da Costa, em Almada – está muito “curioso” relativa- mente à experiência de fazer esta performance em Portugal, pois acredita que o “público português é muito próximo dos actores. Queremos ver qual será a reacção do público ao nosso espectáculo.” Dois de nós, uma criação da companhia romena Passe-Par- tout Dan Puric, “conta uma his- tória de vida”, disse Paul Cim- poieru. “A essência desta pro- posta é a história do Homem, do que se passou na sua vida devido às diferentes escolhas que fez nessa mesma vida”. Apesar de este espectáculo já ter passado por várias cidades internacionais – depois da es- treia na Roménia, apresenta- ram-se na Sibéria, onde ganha- ram “o Grand Prix em 2011”, Hungria, Jugoslávia, Bielorrús- sia, França (Avignon) e na Sér- via, onde foi distinguido com a medalha de ouro do Festival Internacional de Teatro e Pan- tomima em 2010 –, esta será a primeira vez que a performance é “apresentada ao ar livre”. No entanto, o cenário de Dois de nós esteve a um palmo de ter de ser improvisado, pois a companhia Passe-Partout Dan Puric veio directamente do Rei- no Unido, de Birmingham, e as suas malas perderam-se no ca- minho. “Temos dois bastões a fazer de cenário, com os quais temos ensaiado, mas finalmente recuperámos as nossas malas e estaremos preparados para o espectáculo”, contou o actor e encenador, que não ficou preo- cupado com o acontecimento: “Não foi uma experiencia má, pois dá-nos emoção. O que po- deríamos fazer?” Quanto ao Festival de Almada, Paul Cimpoieru diz-se “muito impressionado com as pessoas e com a qualidade” do evento. “Estamos muito contentes com este convite e a trabalhar mui- to. Achamos que é um acon- tecimento muito importante”, acrescenta. No futuro, o criador gostaria de levar Dois de nós a outros con- tinentes e outras culturas, pois “a performance é atemporal e universal”. “É atemporal pois a nossa história pode ser iden- tificada com cada Homem de cada época. E é universal por- que a linguagem teatral pode ser compreendida por todas as pessoas do mundo”, defendeu Paul Cimpoieru, que acredita que as palavras não são neces- sárias para transmitir a história do espectáculo. “Como sabe- mos, a informação chega-nos primeiro de forma visual e audi- tiva, e temos música e imagens que transmitem uma história de emoção perceptível aos espec- tadores. Essa é a razão por que dizemos que esta é uma monta- gem de emoções. E, ao mesmo tempo, também transmite muita empatia, pois fala de algo que é comum a toda a gente, a cada homem ou a cada mulher”. A salvação pelo riso E streou ontem no Tea- tro Nacional de Lisboa A véspera do dia final, da encenadora israelita Yael Ronen. Entre várias outras informações para usos di- versos e imediatos, e desig- nadamente fornecidas por um futurólogo judeu (muito pouco futurista para todos os que não sejam judeus), uma primeira de divulgação prioritária: afinal o fim do Mundo não é em 2030 mas em 2020 – e a destruição co- meça já em 2018, daqui a seis anos portanto. Yael Ronen bem tinha avisado: “Estamos sempre prontos para que no fim de cada representação da peça o Mundo já não seja o mesmo”. Tem razão a encenadora: nunca o Dia Final nos pare- ceu tão fatalmente próximo como por estes dias de caos, em que talvez apenas reste a alguns celebrar a Vida com apoteótica arte, dançando o «turbilhão fantástico e fatal» que Maurice Ravel evocou em La Valse (amanhã na Sala Principal do TMA na visão de João Botelho e Paulo Ribeiro para os bailarinos da CNB), composta quando o fim do Mundo batia à porta do Oci- dente no século XX. O trabalho de Yael Ronen é um pouco isso: a salvação pelo riso de um teatro que ri de nós todos, expondo a esta- pafurdice das crenças religio- sas, racismos, preconceitos e alienações consumistas que apenas servem para eterni- zar a já decadente ciência (muito pouco exacta e ainda menos humanista) do mar- keting remédio santo sem qualidades, cujo target é jus- tamente essa massa humana prevalecente dos que, como todos na mesma torrente impetuosa, em vão tentam salvar-se. Em vez de abrirem mão do Ego e serem compas- sivos, como bem lembram os budistas há 2500 anos. Sarah Adamopoulos A manhã às 21h30, Aurélia Thierrée-Chaplin, filha de Victoria Thierrée-Chaplin (autora e encenadora de Murmú- rios dos muros), sobe ao palco do Grande Auditório da Culturgest, em Lisboa, para protagonizar um espectáculo absolutamente má- gico, belo e gracioso, evoluindo no espaço com inusitada graça (humor e subtileza): fumando pe- las orelhas, entrando numa caixa de papelão e reaparecendo nou- tra diferente, e exibindo, diante da nossa estupefacção, uma cadeia infinita e maravilhosa de MURMÚRIOS DOS MUROS ESTREIA AMANHÃ NA CULTURGEST Aurélia cheia de graça outros pequenos-grandes nú- meros de prestidigitação, de que são exemplo aqueles em que é colhida por uma figura que cres- ce e se agiganta sem que perce- bamos como se formou verda- deiramente, ou ainda quando se esfuma (!) às mãos de um grupo de malfeitores. Um espectáculo inelutavelmente habitado pela memória de Char - les Chaplin, avô de Aurélia e pai de Victoria (a quarta dos seus oito filhos), que várias vezes acreditamos vislumbrar quando, à consciência da sua perpetui- dade em Aurélia, se junta a ilu- são criada pela sábia combina- ção das luzes, sons e movimen- tos subtis que estranhamente evocam o espectro melancólico e cómico do mais famoso vaga- bundo da História do cinema. Aurélia Thierrée © Richard Haughton

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Nº 8 - 11 de Julho de 2012 folhainformativaDOIS DE NÓS HOJE À NOITE NO PALCO GRANDE

Montagem de emoções

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Ana Pepine e Paul Cimpoieru

Paul Cimpoieru, que em conjunto com Ana Pe-pine é responsável pela

criação e encenação de Dois de nós – espectáculo exibido hoje no Palco Grande da Escola D. António da Costa, em Almada – está muito “curioso” relativa-mente à experiência de fazer esta performance em Portugal, pois acredita que o “público português é muito próximo dos actores. Queremos ver qual será a reacção do público ao nosso espectáculo.”Dois de nós, uma criação da companhia romena Passe-Par-tout Dan Puric, “conta uma his-tória de vida”, disse Paul Cim-poieru. “A essência desta pro-posta é a história do Homem, do que se passou na sua vida devido às diferentes escolhas que fez nessa mesma vida”.Apesar de este espectáculo já ter passado por várias cidades internacionais – depois da es-treia na Roménia, apresenta-ram-se na Sibéria, onde ganha-ram “o Grand Prix em 2011”, Hungria, Jugoslávia, Bielorrús-sia, França (Avignon) e na Sér-via, onde foi distinguido com a medalha de ouro do Festival Internacional de Teatro e Pan-tomima em 2010 –, esta será a

primeira vez que a performance é “apresentada ao ar livre”.No entanto, o cenário de Dois de nós esteve a um palmo de ter de ser improvisado, pois a companhia Passe-Partout Dan Puric veio directamente do Rei-no Unido, de Birmingham, e as suas malas perderam-se no ca-minho. “Temos dois bastões a fazer de cenário, com os quais temos ensaiado, mas finalmente recuperámos as nossas malas e estaremos preparados para o espectáculo”, contou o actor e encenador, que não ficou preo-cupado com o acontecimento: “Não foi uma experiencia má, pois dá-nos emoção. O que po-deríamos fazer?”Quanto ao Festival de Almada, Paul Cimpoieru diz-se “muito impressionado com as pessoas e com a qualidade” do evento. “Estamos muito contentes com este convite e a trabalhar mui-to. Achamos que é um acon-tecimento muito importante”, acrescenta.No futuro, o criador gostaria de levar Dois de nós a outros con-tinentes e outras culturas, pois “a performance é atemporal e universal”. “É atemporal pois a nossa história pode ser iden-tificada com cada Homem de

cada época. E é universal por-que a linguagem teatral pode ser compreendida por todas as pessoas do mundo”, defendeu Paul Cimpoieru, que acredita que as palavras não são neces-sárias para transmitir a história do espectáculo. “Como sabe-mos, a informação chega-nos primeiro de forma visual e audi-tiva, e temos música e imagens que transmitem uma história de emoção perceptível aos espec-tadores. Essa é a razão por que dizemos que esta é uma monta-gem de emoções. E, ao mesmo tempo, também transmite muita empatia, pois fala de algo que é comum a toda a gente, a cada homem ou a cada mulher”.

A salvaçãopelo riso

Estreou ontem no Tea-tro Nacional de Lisboa A véspera do dia final,

da encenadora israelita Yael Ronen. Entre várias outras informações para usos di-versos e imediatos, e desig-nadamente fornecidas por um futurólogo judeu (muito pouco futurista para todos os que não sejam judeus), uma primeira de divulgação prioritária: afinal o fim do Mundo não é em 2030 mas em 2020 – e a destruição co-meça já em 2018, daqui a seis anos portanto. Yael Ronen bem tinha avisado: “Estamos sempre prontos para que no fim de cada representação da peça o Mundo já não seja o mesmo”. Tem razão a encenadora: nunca o Dia Final nos pare-ceu tão fatalmente próximo como por estes dias de caos, em que talvez apenas reste a alguns celebrar a Vida com apoteótica arte, dançando o «turbilhão fantástico e fatal» que Maurice Ravel evocou em La Valse (amanhã na Sala Principal do TMA na visão de João Botelho e Paulo Ribeiro para os bailarinos da CNB), composta quando o fim do Mundo batia à porta do Oci-dente no século XX. O trabalho de Yael Ronen é um pouco isso: a salvação pelo riso de um teatro que ri de nós todos, expondo a esta-pafurdice das crenças religio-sas, racismos, preconceitos e alienações consumistas que apenas servem para eterni-zar a já decadente ciência (muito pouco exacta e ainda menos humanista) do mar-keting – remédio santo sem qualidades, cujo target é jus-tamente essa massa humana prevalecente dos que, como todos na mesma torrente impetuosa, em vão tentam salvar-se. Em vez de abrirem mão do Ego e serem compas-sivos, como bem lembram os budistas há 2500 anos.

Sarah Adamopoulos

Amanhã às 21h30, Aurélia Thierrée-Chaplin, filha de Victoria Thierrée-Chaplin

(autora e encenadora de Murmú-rios dos muros), sobe ao palco do Grande Auditório da Culturgest, em Lisboa, para protagonizar um espectáculo absolutamente má-gico, belo e gracioso, evoluindo no espaço com inusitada graça (humor e subtileza): fumando pe-las orelhas, entrando numa caixa de papelão e reaparecendo nou-tra diferente, e exibindo, diante da nossa estupefacção, uma cadeia infinita e maravilhosa de

MURMÚRIOS DOS MUROS ESTREIA AMANHÃ NA CULTURGEST

Aurélia cheia de graçaoutros pequenos-grandes nú-meros de prestidigitação, de que são exemplo aqueles em que é colhida por uma figura que cres-ce e se agiganta sem que perce-bamos como se formou verda-deiramente, ou ainda quando se esfuma (!) às mãos de um grupo de malfeitores. Um espectáculo inelutavelmente habitado pela memória de Char-les Chaplin, avô de Aurélia e pai de Victoria (a quarta dos seus oito filhos), que várias vezes acreditamos vislumbrar quando, à consciência da sua perpetui-

dade em Aurélia, se junta a ilu-são criada pela sábia combina-ção das luzes, sons e movimen-tos subtis que estranhamente evocam o espectro melancólico e cómico do mais famoso vaga-bundo da História do cinema.

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AGENDA DE AMANhã

Charlot evadidoCharlot na rua da paz Charlot nas termasEsplanada da Esc. D. António da Costa

19h00 - herodíadesTeatro da Politécnica

21h30 - La valse e A Sagração da PrimaveraTeatro Municipal de Almada

21h30 - Múrmurios dos murosCulturgest

RESTAURANTE DA ESPLANADA

- Moussaka- Bacalhau com natas- Panados- Carne assada- Arroz e várias saladas

- Tarte de amêndoa- Bolo de Chocolate

- Arroz de pato- Filetes de pescada- Panados- Carne assada- Arroz e várias saladas

- Tarte de amêndoa- Bolo de Chocolate

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Amanhã

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COMPANHIA NACIONAL DE BAILADO EM PROGRAMA DUPLO NO TMA

Modernidade intocada de La Valsee de A Sagração da Primavera

Henriet Ventura e artistas da CNB

Primeiro na tela, depois ao vivo e a cores. Os espec-tadores que forem assistir

ao programa que a Companhia Nacional de Bailado (CNB) apre-senta amanhã e depois na Sala Principal do Teatro Municipal de Almada – La Valse/A Sagração da Primavera – vão ter a oportu-nidade de primeiro ver os baila-rinos numa curta-metragem de João Botelho e logo de seguida numa coreografia de Olga Roriz. Luísa Taveira, directora artística da CNB, salienta o facto deste ser “um programa totalmente constituído por autores portu-

gueses”. “Desde logo, a curta-metragem de João Botelho com o movimento que foi criado por Paulo Ribeiro, com interpreta-ção dos bailarinos da Compa-nhia Nacional de Bailado. Para a versão musical escolhemos também um outro português, Pedro Freitas Branco”. Sobre este projecto, Paulo Ribeiro afir-ma: “Adoro valsas, mesmo em silêncio, adoro o gingar e a fúria ternária. É uma obsessão, é um vento que acaricia ou devasta. É uma musicalidade de todas as possibilidades”. Já João Bo-telho recorda o tempo e o con-

texto em que a obra de Mauri-ce Ravel foi composta: “Então dancemos, dancemos, no ar, no fogo, na água e na terra, no meio da destruição e do caos que a Europa de hoje é quase tão an-gustiante como a Europa de há cem anos”.A segunda parte do programa é constituída pelo bailado A Sagração da Primavera, “talvez a grande obra de Olga Roriz e que os bailarinos da CNB dan-çam com uma enorme entrega”, diz Luísa Taveira. Já Olga Roriz reafirma o seu “fascínio e res-peito pela partitura”, que “foram

determinantes” para a sua “in-terpretação, construção drama-túrgica e coreográfica da peça”. “Apenas o facto de escrever ou deixar escapar-me da boca a conjugação destas duas simples palavras ‘a minha Sagração’, me transtorna a mente, o coração, a flor da pele”, conclui.

Ontem, a Sala Garrett do Teatro Nacional de D. Maria II (TNDMII) en-

cheu-se de público e de gente do teatro para assistir à estreia em Portugal de A véspera do dia final, uma encenação da israelita Yael Ronen. Imensamente desconcertante e divertida (e integrando de forma genial na encenação as tecnolo-gias digitais com que as socie-dades hoje em dia comunicam entre si – as webcams do Skype, por exemplo), a peça interpelou o público de forma surpreenden-te. Um constante diálogo entre o palco e a plateia que interrogou o público não só nas suas convic-ções, mas também muito con-cretamente, levando todos para o espectáculo – tendo partes do texto sofrido actualizações des-

de a estreia absoluta em Berlim, a que Yael Ronen e a sua equipa acrescentaram pequenas adap-tações expressamente prepa-radas para a apresentação em Lisboa. Assim, os actores (de várias na-cionalidades e culturas, facto que exploraram magistralmente como elementos de separação entre os povos que habitam o Mundo), numa cena evocadora das práticas dos pastores evan-gelistas brasileiros (numerosos entre nós), começaram por pe-dir aos espectadores presentes no TNDMII para que dessem as mãos – e se dispusessem, por-tanto, a fazer um cordão huma-no, unindo-se aos seus ‘irmãos de culto’: as pessoas que esta-vam sentadas ao seu lado, num momento provocador de gran-

de desconforto para a maioria, que, tal como a companhia bem previra (pois trata-se de um pa-drão humano), não se mostrou demasiado entusiasmada com a ideia. Num outro momento, os actores da Schaubühne tentaram vender ao público (como se numa feira de serviços) as diversas religiões predominantes no Planeta, fa-zendo perguntas sobre Deus, as práticas de vida e expectativas,

numa acção de marketing que pôs a nu a que ponto os credos religiosos condicionam a vida das pessoas e as separam. Mas foi talvez a ideia de identida-de – como pertença a determina-das e bem específicas culturas e territórios – aquela que mais terá atingido a consciência de quem compreendeu a distinção que segrega e gera os nacionalismos (e outros fundamentalismos) que minam o Mundo de ódio primário.

Os tentáculos das sagradas ideias

Ontem no foyer do Teatro Nacional D. Maria II