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46 MERCADOS D urante os 10 anos que decorreram entre os anos 1998 e 2007, os preços dos cereais na Europa mantiveram-se relativamente estáveis, tendo-se verificado, a partir dessa data, na generalidade dos produtos, uma variação superior a 50% a preços nominais, conforme resulta de uma previsão da FAO 1 , apresen- tada em 2008, e que se tem verificado até ao presente (Gráfico 1). A partir do ano de 2008, ou seja, desde há uns curtos 5 anos até à presente data, come- çou-se a sentir que se estava a viver uma nova fase em termos de (in)estabilidade de preços e que, afinal, os preços baixos (e os altos) não eram garantidos e que, sobretudo, no final da linha, podia até não ser só uma questão de dinheiro, mas sim de produto, ou seja, de comida. Tudo tremeu, o mundo tinha mudado sem pré-aviso! O que procuramos neste curto artigo é, em primeiro lugar, identificar aquelas que são para nós as principais características dos mercados de cereais como os conhecemos hoje; e, em segundo lugar, abordar as principais ferramentas existentes ao dispor da produção nacional para minimizar os eventuais riscos associados às oscilações de preços praticados pelo mercado. É importante referir que nem as listas que agora enumeramos têm a pretensão de ser uma cartilha ou uma verdade absoluta, nem a ordem apresentada representa qualquer tipo de ordem de importância. Gráfico 1. Evolução de preços de alguns produtos agrícolas e agroindustriais entre 2008 e 2017, por comparação com 1998 e 2007. 1 FAO, Agência das Nações Unidas para a Alimentação (www.fao.org). O mercado dos CEREAIS no mundo e em Portugal Bernardo Albino A - As principais características dos mercados de cereais como os conhecemos hoje No fundo, numa lógica empresarial pura, trata-se de tentar conhecer o mercado onde queremos ou temos de operar, e, de seguida, analisar as eventuais ferramentas ao nosso dispor para trabalhar o melhor possível o nosso mercado potencializando as suas van- tagens e reduzindo o risco das suas quedas. As principais características dos merca- dos atuais de cereais são, na nossa opinião: i) Volatilidade de preços e imprevisibilidade das tendências; ii) O enorme conhecimento do mercado pelos principais agentes; iii) Interligação entre os preços das matérias-primas agrícolas a granel e outros indicadores ou factos da vida real corrente. Características essas que analisamos su- cintamente pela mesma ordem. i) Volatilidade de preços e imprevisibilidade das tendências A grande novidade para nós – que não es- tamos no mercado 24/7 x 365 – é a enor- me liquidez que envolve os mercados de cereais, o que sucede nos mercados físicos mas, e sobretudo, nos mercados de futuros e derivados. Esta liquidez é aportada por entidades financeiras e outros investidores, que, por um lado, geram uma enorme espe- culação, mas, por outro, levam à criação de mecanismos de securitização e afins que, no final, acabam por atenuar um pouco a pró- pria volatilidade criada. Outro aspeto que «apimenta» o já de si volátil mercado é o facto de ser o curto e o muito curto prazo que determinam de forma muito marcante os preços praticados nos mercados físicos. É claro que a forma como os nossos clientes (indústria) se posicionam no mercado, com posições mais longas ou mais curtas, com um maior ou menor apro- visionamento e compras diferidas, também não é de todo irrelevante. Senão vejamos. Apesar das projeções, sobretudo da FAO, que apontam para uma necessidade de aumentar em 50% a quantidade de alimento produzido até ao ano de 2050, pelo facto da população mundial passar dos atuais +/-6 000 000 000 para +/-9 000 000 000 2 de habitantes, o que é um facto é que, de 1 de Setembro de 2012 2 Em 1950, éramos apenas 2 500 000 000 habitantes. Albino, Bernardo (2013), «O mercado dos cereais no mundo e em Portugal», Grandes Culturas, 1, pp. 46-49.

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MERCADOS

Durante os 10 anos que decorreram entre os anos 1998 e 2007, os preços dos cereais na Europa mantiveram-se relativamente estáveis, tendo-se verificado, a partir dessa data, na generalidade dos produtos, uma variação superior a 50% a preços nominais, conforme resulta de uma previsão da FAO1, apresen-tada em 2008, e que se tem verificado até ao presente (Gráfico 1).

A partir do ano de 2008, ou seja, desde há uns curtos 5 anos até à presente data, come-çou-se a sentir que se estava a viver uma nova fase em termos de (in)estabilidade de preços e que, afinal, os preços baixos (e os altos) não eram garantidos e que, sobretudo, no final da linha, podia até não ser só uma questão de dinheiro, mas sim de produto, ou seja, de comida. Tudo tremeu, o mundo tinha mudado sem pré-aviso!

O que procuramos neste curto artigo é, em primeiro lugar, identificar aquelas que são para nós as principais características dos mercados de cereais como os conhecemos hoje; e, em segundo lugar, abordar as principais ferramentas existentes ao dispor da produção nacional para minimizar os eventuais riscos associados às oscilações de preços praticados pelo mercado.

É importante referir que nem as listas que agora enumeramos têm a pretensão de ser uma cartilha ou uma verdade absoluta, nem a ordem apresentada representa qualquer tipo de ordem de importância.

Gráfico 1. Evolução de preços de alguns produtos agrícolas e agroindustriais entre 2008 e 2017, por

comparação com 1998 e 2007.

1 FAO, Agência das Nações Unidas para a Alimentação (www.fao.org).

O mercado dosCEREAISno mundo e em Portugal

Bernardo Albino

A - As principais características dos mercados de cereais como os conhecemos hojeNo fundo, numa lógica empresarial pura, trata-se de tentar conhecer o mercado onde queremos ou temos de operar, e, de seguida, analisar as eventuais ferramentas ao nosso dispor para trabalhar o melhor possível o nosso mercado potencializando as suas van-tagens e reduzindo o risco das suas quedas.

As principais características dos merca-dos atuais de cereais são, na nossa opinião:

i) Volatilidade de preços e imprevisibilidade das tendências;

ii) O enorme conhecimento do mercado pelos principais agentes;

iii) Interligação entre os preços das matérias-primas agrícolas a granel e outros indicadores ou factos da vida real corrente.

Características essas que analisamos su-cintamente pela mesma ordem.

i) Volatilidade de preços e imprevisibilidade das tendênciasA grande novidade para nós – que não es-tamos no mercado 24/7 x 365 – é a enor-me liquidez que envolve os mercados de cereais, o que sucede nos mercados físicos mas, e sobretudo, nos mercados de futuros e derivados. Esta liquidez é aportada por entidades financeiras e outros investidores, que, por um lado, geram uma enorme espe-culação, mas, por outro, levam à criação de mecanismos de securitização e afins que, no final, acabam por atenuar um pouco a pró-pria volatilidade criada.

Outro aspeto que «apimenta» o já de si volátil mercado é o facto de ser o curto e o muito curto prazo que determinam de forma muito marcante os preços praticados nos mercados físicos. É claro que a forma como os nossos clientes (indústria) se posicionam no mercado, com posições mais longas ou mais curtas, com um maior ou menor apro-visionamento e compras diferidas, também não é de todo irrelevante. Senão vejamos. Apesar das projeções, sobretudo da FAO, que apontam para uma necessidade de aumentar em 50% a quantidade de alimento produzido até ao ano de 2050, pelo facto da população mundial passar dos atuais +/-6 000 000 000 para +/-9 000 000 0002 de habitantes, o que é um facto é que, de 1 de Setembro de 2012

2 Em 1950, éramos apenas 2 500 000 000 habitantes.

Albino, Bernardo (2013), «O mercado dos cereais no mundo e em Portugal», Grandes Culturas, 1, pp. 46-49.

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para 1 de Setembro de 2013, os preços dos principais cereais desce-ram cerca de 30 a 50%. O mesmo sucedeu no ano de 2008, após o enorme boom de 2007, em que os preços médios dos cereais desce-ram de forma similar.

Ao que tudo indica (veja-se o estudo da FAO já referido, e outros similares), a tendência, no médio prazo, parece ser ascendente, pois aquilo que nos mercados internacionais se apelida de «fundamen-tals», ou seja, o que é realmente fundamental – PROCURA E OFERTA – não é irrelevante e tem-se assistido, sobretudo nos últimos 10 anos, a uma curva tendencialmente ascendente do lado da procura e exis-tem sérios receios que a oferta não consiga acompanhar por muito mais tempo esse aumento, face à limitação de terra com aptidão agrí-cola, à mudança de hábitos de consumo e à tendente estabilização da produtividade agrícola nos países desenvolvidos. Mas o que ninguém consegue de todo antecipar são os trambolhões, às vezes para cima, outras vezes para baixo, que acontecem sem pré-aviso.

Neste mesmo sentido, e para incentivar a transparência dos mer-cados agrícolas e, dessa forma, tentar reduzir a volatilidade dos pre-ços em termos mundiais, o G20 criou recentemente a iniciativa AMIS (Agricultural Market Information System)3.

ii) O enorme conhecimento do mercado pelos principais agentesOs agentes relevantes no mercado, nomeadamente os grandes produ-tores, grandes importadores e traders globais, têm um conhecimento profundo das realidades existentes nos principais países importadores e produtores, pelo facto de serem seus potenciais clientes ou concor-rentes.

O objetivo final é desenhar e atualizar permanentemente um saldo das posições de produção e consumo nos mercados mais relevantes (Balance Sheets), somar todas as posições mais relevantes e, com isso, ter uma noção exata, em cada momento, em cada mercado, da posição

atual, ao minuto ou numa data específica, do indicie de STU (Stocks to Use), ou seja, que stocks existem para o consumo expectável, em cada local concreto do globo e no mundo como um todo, traduzido em número de dias de stocks disponíveis.

Por este motivo a FAO também padronizou os stocks mínimos que considerou aceitáveis em cada dado momento, em cada mer-cado de consumo, de onde resulta que abaixo de um determinado número de dias de stocks disponíveis (o número consensual são 15 dias) considera-se estar abaixo de um patamar razoável que garan-ta estabilidade de consumo.

A análise dos STU tornou-se assim uma ferramenta fundamen-tal na tentativa de determinar a evolução dos preços dos cereais.

O conhecimento exacto sobre a realidade agrícola atual (minu-to a minuto em alguns casos) nos grandes países/blocos de países produtores é outra manifestação clara da importância de conhecer com exatidão uma das variáveis fundamentais nesta equação: a oferta em cada campanha agrícola concreta. Quanto a este aspe-to, o país que demonstra um maior conhecimento da realidade dos seus concorrentes, mas sobretudo da sua própria realidade, são os Estados Unidos da América (EUA), onde a informação existe e é ob-jeto de um tratamento estatístico minucioso.

Exemplo disto é a análise estatística, por exemplo, dos seguintes dados:

» A percentagem de perda de rendimento potencial do milho por cada dia de sementeira, após o dia 10 de maio;

» A percentagem diária exata das principais operações agrícolas (sementeiras e ceifas, sobretudo) das principais culturas, por estado, e a comparação estatística da sua evolução com a média dos últimos 5 anos agrícolas;

O reconhecimento máximo do rigor informativo agrícola nos EUA manifesta-se também na importância que os relatórios agrí-colas regulares elaborados pelo seu Ministério da Agricultura – USDA4 – assumiram nos mercados mundiais, que praticamente congelam durante o dia da sua divulgação até que a mesma acon-teça, à exata hora programada, com difusão imediata para todo o globo.

Para se ter uma noção da dimensão deste tópico, é importante referir que o departamento de Economia, Estatística e Informa-ções de Mercados do USDA produz, anualmente, aproximadamente 2500 relatórios5 sobre temas agrícolas, nacionais e internacionais,

3 www.amis-outlook.org 4 www.usda.gov ou www.usda.gov/oce/commodity/wasde5 http://usda.mannlib.cornell.edu/MannUsda/homepage.do

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MERCADOS

quase todos marcantes nos setores a que respeitam, com a quantifi-cação exata de tudo o que se possa imaginar e a sua comparação es-tatística.

iii) Interligação entre os preços das matérias-primas agrícolas a granel e outros indicadores da vida real correnteÉ hoje uma verdade incontornável que os mercados (entre os quais os dos produtos agrícolas) funcionam num regime de vasos comunican-tes em que se tornou difícil delimitar com rigor a causa e o efeito dos acontecimentos, tal é o seu encadeamento.

Nos últimos meses, os casos mais marcantes foram: os efeitos que tiveram nos preços dos cereais a guerra na Síria devido às suas con-sequências geopolíticas globais; a crise da dívida soberana na Europa; e a questão do limite ao endividamento nos EUA, em que, notícias positivas ou negativas, são capazes de provocar oscilações diárias nas cotações dos cereais de até 5% em alguns casos mais extremos.

B - As principais ferramentas ao dispor da produção nacional para abordar o mercado de cereaisPerante o acima exposto, cumpre-nos agora identificar algumas fer-ramentas ao dispor da produção nacional de cereais para gerir da melhor forma as vendas dos seus produtos, minimizando os riscos e potenciando os ganhos.

Também com as reservas antes referidas, as ferramentas mais importantes que identificámos são:

i) Conhecimento profundo do mercado alvo;ii) Concentração da produção (através de organizações

de produtores com dimensão);iii) Contratualização em fileira (estabilidade, homogeneidade

e profissionalismo);iv) Instrumentos financeiros (futuros e afins) e vendas diferidas; e v) Diversificação cultural e domínio técnico da cultura (gestão risco).

Procuramos agora analisar brevemente as principais ferramentas que identificámos e que, mais uma vez, resultam da nossa experiência concreta sendo assim provável não existir unanimidade nesta matéria:

i) Conhecimento profundo do mercado alvoNum mercado de concorrência internacional muito feroz (só no caso dos trigos panificáveis, por exemplo, a França e os EUA enviam mis-sões anualmente a Portugal que promovem encontros de apresenta-ção das suas produções e disponibilidades de cereais) existirá sempre alguém que se propõe fornecer ao nosso cliente aquilo que nós enten-díamos ser um produto único: o nosso.

Não podemos esquecer que Portugal, apesar da sua dimensão mo-desta do ponto de vista populacional, em que é apenas o 82° país no mundo em termos demográficos (representa apenas 0,15% da popu-lação mundial), na realidade é um importador mundial de commodi-ties agrícolas, pelo que, desperta o interesse dos grandes produtores mundiais.

Para se ter uma ideia, o nosso consumo anual de, aproximadamen-te, 1 milhão de toneladas de trigo panificável representa, a preços médios de 200€/ton, 200 000 000€ de compras deste cereal. Daí o apetite pelo nosso mercado.

Torna-se assim fundamental conhecer com exactidão a dimen-são do nosso mercado, dos seus players, as características deseja-das dos cereais adquiridos, (se possível) o seu grau de abastecimen-to presente e futuro, os parâmetros qualitativos mínimos exigidos, as características gerais dos cereais nossos concorrentes, sem os quais nunca conseguiremos ultrapassar aquilo que é vociferado por alguns entendidos: «Para a indústria, o parâmetro qualitativo mais relevante em cada ano é sempre aquele parâmetro que, por acaso, a produção não detém nesse preciso ano (...)».

O tratamento específico e com cariz estatístico da informação relevante e a sua divulgação atempada é também imprescindível para se poder ter uma ideia precisa do setor e fazer estimativas mais fidedignas e adequadas à realidade. É um esforço que não dá efeitos imediatos, mas com disciplina é suscetível de ser afinado até atingir uma margem de erro tolerável. Como diz um ilustre perito nos mer-cados de cereais em Portugal: «O que é normal é ser normal», pelo que, se começarmos por identificar o «normal», depois será mais fácil determinar os desvios.

ii) Concentração da produção (através de organizações de produtores com dimensão)A título de exemplo, em França, 95% do trigo mole semeado é de sementes aptas a produzir trigo de elevada qualidade (naturalmen-te que todos anos algum desse trigo degenera em forrageiro devido a questões climáticas) e a sua generalidade é comercializada por organizações de produtores (OP).

A maior OP francesa na área dos cereais e oleaginosas, o Grupo InVivo6, resulta de uma agregação de 241 cooperativas, comerciali-za anualmente um volume médio de 8 milhões de toneladas e apre-sentou resultados líquidos, em 2012, de 4,6 milhões de euros.

Por comparação, em Portugal, ninguém sabe ao certo as dezenas de variedades de trigos que são semeados, a aptidão qualitativa de muitas dessas variedades e pelo menos 40% da produção da gene-ralidade dos cereais praganosos é feita fora do circuito das OP. O resultado, em Portugal, é a produção de lotes de trigo pulverizados, de qualidade disforme, pequenos e com uma enorme variabilidade inter-anual.

Seguramente não será este o caminho correto, em nossa opinião, e estamos convictos que se tem vindo a inverter esta tendência.

iii) Contratualização em fileira (estabilidade, homogeneidade e profissionalismo)A contratualização em fileira é, em nossa opinião, fundamental para aumentar a estabilidade e homogeneidade dos cereais praganosos produzidos, e só assim atingiremos o profissionalismo que o merca-do hoje nos impõe.

É imperioso que conheçamos o potencial e o comportamento in-dustrial dos nossos produtos e que, em conjunto com a indústria, exploremos este potencial ao máximo. Decerto que, no limite, se pode pensar em subir industrialmente em fileiras específicas, mas atendendo à capacidade industrial instalada em Portugal dúvidas se levantam relativamente à bondade de eventuais investimentos nes-sa área. Este caminho tem sido traçado e todos os anos vemos mais e melhor negociação de fileira, desde a pioneira fileira da cevada dís-tica, passando pelos trigos para bebé e pelas produção de semente.

6 www.invivo-group.com

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iv) Instrumentos financeiros (futuros e afins) e vendas diferidasExistem uma série de ferramentas atualmente ao dispor de compra-dores (traders e indústria) e vendedores (produção), cujo utilização é já corriqueira do lado das compras e ainda algo desconhecidas pela produção.

O caminho tem sido invertido, sobretudo nos últimos dois anos, e o facto da nossa produção ser, atualmente, escassa e a presença no mercado reduzida não ajudam, mas é necessário desmistificar essas ferramentas e utilizá-las em prol da produção nacional.

As OP bem estruturadas também são fundamentais nesta área, pois a dimensão é, neste aspeto, muito relevante.

Exemplo claro deste esforço conjunto interprofissional da área dos cereais praganosos é o Clube Português dos Cereais de Qualidade, que junta produção, investigação e indústria e que já funciona há 14 anos em Portugal, nas fileiras do trigo mole, trigo duro e cevada dística.

v) Diversificação cultural e domínio técnico da cultura (gestão risco)Quase em tom de provocação deixámos esta fundamental ferramen-ta para o fim da lista, mas naturalmente que não é de todo a menos importante.

Quanto à diversificação cultural, a mesma justifica-se, não só pelos motivos agrícolas defendidos desde os manuais da escola (to-lerâncias de pragas, estrutura de solos, etc.), mas também pela di-versificação do risco do negócio, porquanto os comportamentos dos mercados dos produtos variam de produto para produto.

O domínio técnico de cada cultura que instalamos na nossa explo-ração e o conhecimento das especificidades edafo-climáticas de cada

zona são também determinantes para ajustar o itinerário técnico ao potencial produtivo (parcela a parcela e durante a própria campanha agrícola) e para conseguir produzir a qualidade e quantidade deseja-da ao menor preço possível. Acresce que no médio prazo estamos convictos que a Europa não se poderá dar ao luxo de prescindir de utilizar todas as ferramentas técnicas ao dispor da agricultura em todo o mundo, nomeadamente aquelas disponibilizadas pela biotec-nologia. É um tema que se tem encarado com o coração e não com a razão, e esperemos que não se acorde tarde demais para o problema na Europa.

ConclusãoApesar da existência, em Portugal, de algumas limitações (sobretu-do, edafo-climáticas) para a produção de cereais praganosos, olea-ginosas e proteaginosas, na Associação Nacional de Produtores de Cereais, Oleaginosas e Proteaginosas (ANPOC) estamos convictos que é possível produzir mais e melhor, e que é nesse sentido que vamos caminhar. É, assim, fundamental conhecer e respeitar o mer-cado, recorrendo para o efeito às ferramentas existentes e ao dispor da produção agrícola nacional. E já agora, boa sorte, para o começo deste novo ano para as culturas de outono/inverno, cujas sementei-ras agora começam.

Bernardo Albino,

Presidente da Direção da Associação Nacional de Produtores de Cereais,

Oleaginosas e Proteaginosas (ANPOC)

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