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1 CARDOSO, Fernando Henrique Fernando Henrique Cardoso nasceu em 18 de junho de 1931, na cidade do Rio de Janeiro. Formou-se em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), onde começou a lecionar na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, pouco antes de se graduar. Foi também na USP que se especializou em sociologia, trabalhando como assistente do renomado sociólogo Roger Bastide. Após o retorno de Bastide para a França, Florestan Fernandes assumiu a cátedra de sociologia, e Fernando Henrique se tornou seu assistente. Em 1961 obteve o título de doutor pela USP com a tese Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional: o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul. Entre 1962 e 1963 fez um curso de pós-graduação no Laboratoire de Sociologie Industrielle da Universidade de Paris. Após o golpe militar de 1964 exilou-se no Chile e posteriormente na França, onde lecionou na Universidade de Sorbonne. Durante esse período integrou a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) da Organização das Nações Unidas (ONU). Foi diretor-adjunto da divisão social do Instituto Latinoamericano de Planificación Econômica y Social (ILPES), em Santiago (1964). Retornou ao Brasil em 1968 e foi aprovado em concurso público para a cátedra de Ciências Políticas da USP. Contudo, no ano seguinte com o estabelecimento do Ato Institucional n° 5 (AI-5) foi aposentado compulsoriamente e teve os direitos políticos cassados. Nesse mesmo ano foi membro fundador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). Lecionou em universidades americanas e europeias e obteve o título de doutor honoris causa em mais de vinte universidades, além de ter presidido a Associação Internacional de Sociologia (1982-1986). Em 1978 foi suplente de André Franco Montoro pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), um partido de oposição à ditadura militar, e no ano de 1983 assumiu a vaga de senador após Franco Montoro ser eleito para o governo do estado de São Paulo. Foi candidato à prefeitura de São Paulo em 1985, porém foi derrotado por Jânio Quadros e no ano seguinte reelegeu-se senador por São Paulo. Divergindo do PMDB, fundou em 1988 o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), ao lado de Franco Montoro, José Serra, Mário Covas, entre outros.

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CARDOSO, Fernando Henrique

Fernando Henrique Cardoso nasceu em 18 de junho de 1931, na cidade do Rio

de Janeiro. Formou-se em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), onde

começou a lecionar na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, pouco antes de se

graduar. Foi também na USP que se especializou em sociologia, trabalhando como

assistente do renomado sociólogo Roger Bastide. Após o retorno de Bastide para a

França, Florestan Fernandes assumiu a cátedra de sociologia, e Fernando Henrique se

tornou seu assistente.

Em 1961 obteve o título de doutor pela USP com a tese Capitalismo e

Escravidão no Brasil Meridional: o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do

Sul. Entre 1962 e 1963 fez um curso de pós-graduação no Laboratoire de Sociologie

Industrielle da Universidade de Paris. Após o golpe militar de 1964 exilou-se no Chile e

posteriormente na França, onde lecionou na Universidade de Sorbonne. Durante esse

período integrou a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) da

Organização das Nações Unidas (ONU). Foi diretor-adjunto da divisão social do

Instituto Latinoamericano de Planificación Econômica y Social (ILPES), em Santiago

(1964). Retornou ao Brasil em 1968 e foi aprovado em concurso público para a cátedra

de Ciências Políticas da USP. Contudo, no ano seguinte com o estabelecimento do Ato

Institucional n° 5 (AI-5) foi aposentado compulsoriamente e teve os direitos políticos

cassados. Nesse mesmo ano foi membro fundador do Centro Brasileiro de Análise e

Planejamento (CEBRAP). Lecionou em universidades americanas e europeias e obteve

o título de doutor honoris causa em mais de vinte universidades, além de ter presidido a

Associação Internacional de Sociologia (1982-1986).

Em 1978 foi suplente de André Franco Montoro pelo Movimento Democrático

Brasileiro (MDB), um partido de oposição à ditadura militar, e no ano de 1983 assumiu

a vaga de senador após Franco Montoro ser eleito para o governo do estado de São

Paulo.

Foi candidato à prefeitura de São Paulo em 1985, porém foi derrotado por Jânio

Quadros e no ano seguinte reelegeu-se senador por São Paulo. Divergindo do PMDB,

fundou em 1988 o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), ao lado de Franco

Montoro, José Serra, Mário Covas, entre outros.

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Foi Ministro das Relações Exteriores do governo Itamar Franco em 1992 e

assumiu o Ministério da Fazenda no ano seguinte. Elaborou um plano econômico para

reduzir a inflação que beirava 30%, o Plano Real. Em 1994 deixou a pasta ministerial

para candidatar-se à presidência da República, saindo vitorioso na disputa. Em 1998 foi

reeleito presidente.

Fernando Henrique Cardoso escreveu importantes obras de caráter político,

econômico e social. Na obra Capitalismo e Escravidão: O Negro na Sociedade

Escravocrata do Rio Grande do Sul, Cardoso estuda a participação do negro numa

sociedade que tem por principal pilar econômico o trabalho escravo, utilizado

principalmente na criação de gado (charqueadas) e na agricultura. Para tal tarefa, o autor

utiliza como fontes para sua pesquisa o depoimento de viajantes do século XIX tais

como Arsène Isabelle, Saint- Hilaire e Luccock. Muitos desses relatos estão eivados de

preconceitos, fortemente presentes na sociedade novecentista, implicando em possíveis

distorções na análise do papel do negro na sociedade daquele período.

O conceito-chave na pesquisa desenvolvida por Cardoso é o da coisificação do

escravo. Ele afirma que “do ponto de vista jurídico é óbvio que, no sul como no resto do

país, o escravo era uma coisa, sujeita ao poder e à propriedade de outrem.” De fato, no

âmbito do direito, o escravo era representado como uma peça; uma propriedade, e esse

era um importante mecanismo jurídico para a manutenção da economia colonial pautada

no escravismo. Entretanto, Fernando Henrique vai além da condição jurídica do

escravo, ao afirmar que “a reificação do escravo produzia-se objetiva e subjetivamente”.

Nesse sentido o escravo assimilaria a sua condição jurídica (objetiva) e a reproduziria

de forma subjetiva, ao se perceber como um simples objeto. Cardoso afirma que “O

escravo se autorepresentava e era representado pelos homens livres como um ser

incapaz de ação autonômica”. O problema fundamental dessa tese é a visão do escravo

como sujeito passivo, incapaz de articular qualquer forma de luta contra a estrutura que

lhe era imposta.

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Principais obras bibliográficas:

Capitalismo e escravidão no Brasil meridional: o negro na sociedade escravocrata do

Rio Grande do Sul. São Paulo: Civilização Brasileira, 1962.

Empresário industrial e desenvolvimento econômico no Brasil. São Paulo: Difusão

Européia do Livro, 1964.

Dependência e desenvolvimento na América Latina. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1967 (com Enzo Faletto).

Política e desenvolvimento em sociedades dependentes: ideologias do empresariado

industrial argentino e brasileiro. São Paulo, Zahar Editores, 1971.

As idéias e seu lugar: ensaios sobre a teoria da dependência. São Paulo, Editora Vozes,

1980

Economia e movimentos sociais na América Latina. São Paulo, Editora Brasiliense,

1985. (com Bernardo Sorj, Mauricio Augusto Font)

Fontes:

CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e escravidão no Brasil meridional: o

negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul. São Paulo: Civilização

Brasileira, 1962.

CHALHOUB, Sidney. Visões da Liberdade – uma história das últimas décadas da

escravidão na corte. São Paulo, Companhia das Letras, 1990

FERNANDES, C. Só Biografias. In: Universidade Federal de Campina. Disponível em:

<http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/PBFHCa.html> Acesso em: 22 out. 2012.

Arquivo Nacional – Centro de Informação de Acervos dos Presidentes da República

<http://www.an.arquivonacional.gov.br/crapp_site/default.asp> Acesso em 06 nov.

2012

Fundação IFHC <http://www.ifhc.org.br/fhc/vida/senado/> Acesso em 07 nov. 2012

Augusto Crespo