festa de olubajé no terreiro

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Festa de Olubajé no terreiro de Yaloshundê no Rio de Janeiro O ritmo da Avamunha reúne a todos. ê na mesma ordem da sequência anterior que os dançarinos, em número de vinte e um, dirigem-se a esse novo lugar, no exterior. Sobre as cabeças, os alguidares, cheio de iguarias , visto que o Olubajé é uma grande produção, distribuição e consumo do que se alimentam os orixás. Diante do cortejo, Yaloshundê. Atrás dela, uma filha de Oyá carrega algumas esteiras. Logo a seguir, uma outra traz, na louça de barro as folhas de “ ewe-lará”. Uma terceira filha sustenta em sua cabeça um pote de argila contendo o “ aluá “ , a bebida sagrada. Vinte e um tipos de comida geralmente são oferecidos, sete no mínimo. Um novo cântico de ritmo lento começa a ser ouvido. Ele marca o início do grande banquete do rei e vai se prolongar por muito tempo até o seu final. “ Aráayé a je nbo , Olúbàje a je nbo Aráayé a je nbo , Olúbàje a je nbo” Povo da terra, vamos comer e adorá-lo, o senhor aceitou comer. Povo da terra, vamos comer e adorá-lo, o senhor aceitou comer. As esteiras são desenroladas e sobre elas é colocado um tecido branco e imaculado. Um após outro, os alguidares e potes são colocados sobre a toalha e formam sobre o chão a grande mesa . Yaloshundê incumbe a três dos mais velhos iniciados a servir, sobre as folhas de mamona, utilizados como pratos, um pouco de cada alimento contido nos recipientes. Ela mesma se encarrega de oferecer os primeiros aos convidados mais importantes, aconselhando a todos a não ficarem imóveis, mas a dançar ou se mover sem parar e comer com as maõs. A música continua. Ao lado e a um canto da “mesa” uma grande bacia esta preparada para receber os restos que

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Page 1: Festa de Olubajé no terreiro

Festa de Olubajé no terreiro  de Yaloshundê no Rio de Janeiro

 O ritmo da Avamunha reúne a todos. ê na mesma ordem da sequência anterior que os dançarinos, em número de vinte e um, dirigem-se a esse novo lugar, no exterior. Sobre as cabeças, os alguidares, cheio de iguarias , visto que o Olubajé é uma grande produção, distribuição e consumo do que se alimentam os orixás.

 Diante do cortejo, Yaloshundê. Atrás dela, uma filha de Oyá carrega algumas esteiras. Logo a seguir, uma outra traz, na louça de barro as folhas de “ ewe-lará”. Uma terceira filha sustenta em sua cabeça um pote de argila contendo o “ aluá “ , a bebida sagrada. Vinte e um tipos de comida geralmente são oferecidos, sete no mínimo.

 Um novo cântico de ritmo lento começa a ser ouvido. Ele marca o início do grande banquete do rei e vai se prolongar por muito tempo até o seu final.

 “ Aráayé  a  je  nbo , Olúbàje  a  je nbo

 Aráayé  a  je  nbo , Olúbàje  a  je nbo”

Povo da terra, vamos comer e adorá-lo, o senhor aceitou comer.

Povo da terra, vamos comer e adorá-lo, o senhor aceitou comer.

 As esteiras são desenroladas e sobre elas é colocado um tecido branco e imaculado. Um após outro, os alguidares e potes são  colocados sobre a toalha e formam sobre o chão a grande mesa .

Yaloshundê incumbe a três dos mais velhos iniciados a servir, sobre as folhas de mamona, utilizados como pratos, um pouco de cada alimento contido nos recipientes. Ela mesma se encarrega de oferecer os primeiros aos convidados mais importantes, aconselhando a todos a não ficarem imóveis, mas a  dançar ou se mover sem parar e comer com as maõs.

 A música continua. Ao lado e a um canto da “mesa”  uma grande bacia esta preparada para receber os restos que devem ali ser depositados. As folhas que servem de prato devem ser fechadas, juntamente com os restos de comida não consumidos, e passadas ao longo do corpo, as mãos não devem ser lavadas…elas serão limpas ao serem esfregadas nos braços, pernas ou cabeça para que o  Axé  se impregne na pele.

 Yaloshundê , assegurando-se de que cada um foi servido, dirige-se até um convidado de grande importância de outra comunidade, exortando-o a cantar as preces de Obaluaiê. 

 È é é ajeniníiyá, ajeniníiyá

Àgò  ajeniníiyá

Máà kà lo, ajeniníiyá,

Ajínsùn aráaye,  ó  ló  ìjeniníiyá

Page 2: Festa de Olubajé no terreiro

E wa ká ló

Sápadà  aráaye, ló ìjeniníiyá,

E wa ká ló

Ìjeniníiyá  aráaye

A vós punidor, te pedimos licença, não nos leve embora.

Ele pode castigar e levar-nos embora, mandar-nos embora de volta para o outro mundo( outro, o dos mortos).

Pode castigar e levar-nos embora, castigar nos humanos.

 Todos se ajoelham e um cântico em solo é ouvido de forma melodiosa e respondido pela audiência três vezes.Fora a voz humana, somente o  Agogô , marca os intervalos entre cada estrofe.

A prece continua…..

 Opeèré má dó péré           Operé(Pássaro) não ficará só                                   

Ó bèré ké se                              Ele começará a gritar.

Má dó há, má dó pèré          Partilhara sua comida,não ficará só

Opeèré má dó péré              Somente Operé não ficara só.

Ó bèré ké se                            Ele proclamará a todos.

Má dó há,   má dó pèré   Ele ficará e gritará, e não ficará só.

Don hòn há                    Os de Empé usarão barreiras contra feitiços,

Don hòn há é à ,  Empé                       se tornarão visíveis 

Don hòn há                                     e dividirão a sua comida

Don hòn há é à ,  Empé

Opèré má dó péré

Dó sú, màá  dó  é                                  Operé não ficará só

Dó sú, màá  dó , Dó sú, màá  dó               ficará cansado, ficará bem

Dó sú, màá  má  n’gbé                               ficará cansado e será ajudado.

Ayò  kégbe  hún  hún                                       Contende gritara, sim , sim

Page 3: Festa de Olubajé no terreiro

Ayò  kégbe  hún  hún

 ……. Todos batem palmas pausadamente – paó – saudando  Obaluaiê.

 com voz forte e cheia de entusiasmo, esta frase melodiosa ecoa. O conjunto dos participantes se levantan e cantan:

 Omolú Kíí bèrú jà                                                                Omolu não teme a briga.

Kòlòbó se a je nbo                                                                Em sua pequena cabaça traz axé e feitiço.

Kòlòbó se a je nbo                                                                Vamos  comer  cultuando-o

Kòlòbó se a je nbo                                                             Omolu não teme a briga.

Aráayé.                                                                                 Em sua pequena cabaça traz axé e feitiço.

                                                                                              Vamos  comer  cultuando-o, todos juntos.

  Dançam em volta da mesa até que a música termine.Novamente a  Avamunha  se instala. Toda a louça, a toalha ,a esteira , a bacia com os restos são retirados do local e a antiga roda sai em fila indiana, portando os recipientes sobre os ombros, os quais serão depositados na casa de Obaluaiê  e na manha seguinte serão despachados.

 Yaloshundê anuncia em voz baixa e alguém trás um grande cesto de pipocas que é depositado aos seus pés.Com um gesto delicado ela toma um punhado de Doburus lançando sobre os convidados caindo como chuva.

Um novo intervalo permite que os atabaques retornem ao seus lugares de origem.

 …. a dança do rei

 O Adjarim quebra o silencio , Yaloshundê a frente do cortejo entoa um novo cântico como súplica marcado ao tom do agogô.

 Ágò n’ilé , n’ilé                                                                     Permissão ( licença )

N’ilé ma dàgó                                                                                   para entrar na casa.

Sápadà , A jí nsún ,                                                              licença Sapatá                       

Ma dàgó                                                                                Ajinsun, permissão

Ágò n’ilé ágò.                                                                        Para entrar na casa, licença.

Page 4: Festa de Olubajé no terreiro

 A estrofe é repetida até que todo o cortejo esteja presente no interior do barracão.A cada vez, o nome litúrgico de Sapatá é substituído  saudando: Ajinsun – Omolu – Onilé – Obaluaê – Jagun – Azuane  e outros num total de 16.

 Um solo surge respondido em uníssono pelo público com entusiasmo:

 Ó gbélé ìko , sàlàrè                                                               Ele vive em casa de palha

Sálà rè lórí                                                                             que é o seu alá, que cobre a sua cabeça

Ó gbélé ìko, Ó gbélé ìko                                                       vive em casa de palha

Sálà rè lórí                                                                             o alá que cobre a sua cabeça.

 Três golpes fortes no Run , fazem cessar a melodia de maneira abrupta; é o remate, que se ouve para que um outro canto possa se elevar:

 Olórí ìjeníiyà a pàdé                                                            O Senhor que mata, o Senhor que castiga

Olorí  pa                                                                                vem ao nosso encontro.

Olórí ìjeníiyà a pàdé                                                            O Senhor que mata, o Senhor que castiga

Olorí  pa                                                                                vem ao nosso encontro.

 O canto repetido varias vezes fala daquele que castiga  e pune os  infratores.

O refrão a seguir , fala da proteção àqueles que sabem bem receber :

 

Jó  alé ijó , é                                                                          Dance em nossa casa,

Jó  alé ijó , é jó                                                                      dance, dance , dance em nossa casa.

 alé ijó ,                                                                                  dando força e energia à nossa casa.

Àfaradà a lé                                                                                                  Dançando ele dá proteção à  casa.

Njó  ó  ngbèlé

Um quarto e quinto cânticos falam da tradição e da constante peregrinação do Rei conquistador. O povo de santo sempre fala dos respeito que se deve aos andarilhos, pobres e pedintes, dizendo que “ são os afilhados de Obaluaê  ou até ele mesmo

Page 5: Festa de Olubajé no terreiro

disfarçado”  para observar os seus . E o último, dos campos daqueles que cultivam a terra, do lavrador que pede a Onilé fartura para seu povo

 

Àká  ki  fàbò  wíwà                                                               Celeiro para onde retorna a existência,

Àká  ki  fàbò  wíwà                                                               que possa você ter celeiro para onde

Wáá  kalé , wáá                                                                    retorna a existência, longa vida

Kalé sé awo orò                                                                    para cultuar as tradições, e que

Wáá  kalé , wáá                                                                    possa você  ter  longa vida

Kalé sé awo orò                                                                    para culturar as tradições.    

Ò  kíní  gbé  fáárà  farotì                                                      Ele é aquele que pode aproximar-se e dar apoio

Ò kíní  gbé  fáárà  àfaradà                                                   aquele  que pode dar força e energia

Oní pópó oníyè                                                                     com sua proximidade. Senhor das estradas

Kíní  ìyìyá  wa  ìfaradá                                                         e dos campos, Senhor da boa memória,

                                                                                              que pode nos dar força para resistirmos à dor.

Ò  ní  a  ló  ìjeníìyà                                                               Ele pode fazer secar a cabeça do homen,                

Ajàgun  tó  ló                                                                        levá-lo embora e

Ìjeníìyà  olúwàié                                                                   esculpir  a cabeça  do homem .

Táálá  bé  okùnrin                                                                Ele pode fazer definhar,

O  táálá  bé  okùnrin                                                            matar a cabeça do homen.

Wa  ki  ló  kun                                                                      É o executor que decapita ,

Page 6: Festa de Olubajé no terreiro

Táálá  bé  okùnrin                                                                que pode nos castigar .                                 

Abénilorí  ìbé                                                                        O   guerreiro que pode  castigar.                                    

Rí  ó  ní  je  olúwàié                                                              O  senhor da terra.                                                   

Táálá  bé  okùnrin                                                                O  guerreiro que pode punir.

O cântico suplica ao Deus , cujo rosto oculto inspira temor e medo, porem todos sabem que padeceu enfermo, sofreu o flagelo  do abandono e, por  isso mesmo, ampara e protege os desafortunados.

 

Wúlò  ní wulò                                                                       Ele é importante e necessário

A  nilè  gbèlé  ibé  kò                                                            para nós da terra, dá proteção à casa

Wúlò  ní wulò                                                                        não permita que nossas  cabeças  tombem

A  nilè  gbèlé  ibé  kò                                                            ( pelas  mãos do inimigo  )

 aspecto punitivo do Orixá, é expresso em outra cantiga , assim como seu poder criador.

Omolú  tó  ló  kum eron ènìòn                                            Omolu é aquele que pode

E  ló  e  ló  e kum                                                                  esculpir  na carne das pessoas.

Omolú  tó  ló  kum eron ènìòn                                            Omolu é aquele que pode

E  ló  e  ló  e kum                                                                 esculpir  na carne das pessoas.

Omolú  tó  ló  kum eron ènìòn                                            Ele pode, ele pode  e  ele esculpe.

Omolú  tó  ló  kum eron ènìòn                                            Ele pode, ele pode  e  ele esculpe

Sábio-sacerdotes , diante de Onilé ( Senhor da terra )  se dizem pequenos: a modéstia , no entanto , é só aparência diante dos poderosos.

As  cantigas falam disso…………

Page 7: Festa de Olubajé no terreiro

Onilè  wà àwa  lèsé  òrisá                                                  O Senhor da terra está entre nós que cultuamos orixá.

Opé  ire onílè  wà   a  lèsé òrisá Opé ire                              Agradecemos felizes pelo Senhor da terra

E  kòlòbó  e  kòlòbó  sín  sín  sín                                         estar entre nós que cultuamos orixá.

Kòlòbó                                                                                               Agradecemos felizes.

E  kòlòbó  e  kòlòbó  sín  sín  sín                                         Em sua pequena cabaça traz remédios

Kòlòbó                                                                                               para livrar-nos das doenças

Omolú  pè  olóre  a  àwúre  e                                               Omolu  te pedimos Senhor da boa sorte,

Kú  àbó                                                                                 que use seus remédios ( sortilégios )

Omolú  pè  olóre  a  àwúre  e                                               para nos trazer boa sorte.

Kú  àbó                                                                                  Seja  bem-vindo!!!

Jé a  npenpe  e  ló gbé wàiyé                                       Senhor que tem boa memória e pode tornar-se inteligente.

Tó  ní  gbón  mi                                                           pois eu sou insignificante  ( pequenino )                           

Jé  a  npenpe                                                               É ele que pode dar proteção ao nosso mundo.

Omolú wàiyé  ( Obalúwaiyé )                                     È ele que pode dar inteligência, eu sou pequenino

Tó  ní  gbón  mi ó                                                       Rei, Senhor da terra, torne-me  inteligente.

Um último canto precede o balé dos outros orixás presentes á festa. Em algumas casas de santo  de tradição nagô, ele antecede o banquete. Os adeptos entram no barracão dançando.

Á frente do cortejo uma filha de Iansã tem sobre sua cabeça um balaio ornado com grandes laços.

Page 8: Festa de Olubajé no terreiro

Dentro um  “ assentamento “  de  Obaluaê recoberto de pipocas que são distribuídas aos presentes.

Em troca, quando podem oferecem pequenas quantias em dinheiro.

Kóró  nló  awo , kóró  nló awo                                            Ele vai embora,

 sé  ó gbèje                                                                             embora da cerimônia,

Kóró  nló  awo , kóró  nló awo                                            embora do culto.

 sé  ó gbèje                                                                             Ele  aceitou  comer.

Este canto anuncia que Onilé – Senhor da terra , aceitou as homenagens partilhando com todos , povo e Orixás,as oferendas.

 a  saudação  dos  convivas……

 È hora da família mítica de  Obaluaê. Vem dançar Oxumarê, seu irmão,  o arco-íris; depois Nanã, a sua mãe; em seguida Iemanjá,  sua mãe adotiva e finalmente Iansã, “ aquela que acalmou seu sofrimento na infância.

 Oxumarê, que se encontrava sentado placidamente, ao ouvir os primeiros acordes do seu  “Orô”. Isto é, da cantiga que fala de sua história. Curvando-se em uma saudação, todos ouvem seu assobio alto e melodioso, anunciando sua satisfação.

 A dança compassada deixa que todos possam admirar as roupas do Deus – Serpente .

 Òsùmàrè                                                                               Ele está sobre a casa.

Wàlé  lé  mo  rí ,  Òsùmàrè                                                  Eu vi , ele é imenso.

Lé´ lé  mo  rí ó ,  ràbàtà                                                        Ele está sobre a casa, é Oxumaré

Lé´ lé  mo  rí                                                                         Oxumaré está sobre a casa

Òsùmàrè                                                                               Eu vi Oxumaré.

 Um novo cântico, no mesmo ritmo , se ouve…..O texto fala do ´´àkoró ´´, isto é , do Senhor do àkorô – espécie de chapéu ou turbante que usam os poderosos em suas apresentações.

 Aláàkòró  lé  èmi  ô                                                             

Aláàkòró lé  ìwo                                                                    O Senhor do àkoró esta sobre mim.

Aláàkòró  lé  èmi  ô                                                              O Senhor do àkoró sobre você.

Page 9: Festa de Olubajé no terreiro

Aláàkòró lé  ìwo

 Òsùmàré ó  ta  kéré                                                              O Deus do arco-íris movimenta-se

Ta  kéré  ó  ta  kéré                                                               rapidamente.

Òsùmàré ó  ta  kéré                                                              Para diante, adiante , adiante.

Ta  kéré  ó  ta  kéré

 O Orixá dança por mais alguns minutos e, curvando-se em todas as direções , saúda os quatro cantos do mundo e a todos  os presentes, retirando-se  em  seguida.

 Os acordes dos atabaques, reverenciam  “ a mais velha das iabás’ , a venerável  Nanã. 

Yaloshundé dirige-se até ela, que placidamente aguardava seu momento de saudar  Obaluaê.

 E o cântico começa…….

 Òdí  Nàná  ni  ewà

Léwà  lèwá  e                                                                        A outra face( outro lado ) de Nanã é bonita

Òdí  Nàná  ni  ewà                                                               A outra face de Nanã é bonita

Léwà  lèwá  e

 Os versos da música sacra dizem que a “ Venerável  Anciã “ tem a outra face bela , deixando supor que existe uma que deve ser respeitada, pois Nanã está intimamente ligada ao culto dos “ egunguns “ , isto é , os espíritos dos ancestrais do povo-de-santo. A vinda do “ Ibirí “ – cetro daquela que é  “ a mais velha das deusas” é providenciado.

 Nàná  ayò                                                  Nanã Olocó(aquela que tem poderes para chamar um parente morto)

Àwa  ló bímon  ayó  alóko                        faça-nos felizes; nós poderemos tomar outra direção para termos a

Nàná  ayò                                                 alegria do nascimento de filhos.

Àwa  ló bímon  ayó  alóko                       Naná Olocó, faça-nos felizes.    

 Ò  iyá  wa  òré

Ò  ní  aijalò                                                                           Ela é nossa mãe e amiga;

Page 10: Festa de Olubajé no terreiro

Ò  iyá  wa  òré                                                                       Ela é a Senhora da alta sociedade.

Ò  ní  aijalòòde

 Ao sons dos atabaques, majestosamente ela  comprimenta a todos na sua despedida; os presentes respeitosamente a saúdam  e reverenciam………..- Sálù  bà  Nàná….. Sálù  bà  Nàná ….

….. outra mãe está  para chegar….

È a vez de  Iemanjá ,  a quem se pede proteção, filhos saudáveis , parto  tranquilo, beleza e prosperidade.

Suas vestes regiamente ricas em tons claros fazem dela uma das mais belas das Iabás.

Os cânticos falarão de seus atributos, os mesmos que seus adeptos em todos o Brasil desejam e suplicam á deusa das águas.

 As quatro cantigas que se seguem falam disso:

 

Yemonja  àwa                                                                                   Iemanjá  protege-nos e nos enche de

Ààbò  a  yó                                                                            satisfação.

Yemonja                                                                                È Iemanjá , estamos protegidos ,

Àwa  ààbò  a  yó                                                                   e nossa satisfação é completa.

 

Ìyààgbà  ó  dé  iré  sé                         A velha mãe chegou fazendo-nos felizes, nos cumprimentamos Iemanjá.

A  kíì   e Yemonja                              A primeira que chamamos para abençoar nossa casa e dar satisfação.

A koko  pè  ilé  gbè  a ó yó                Usar seu rio que escolhemos para nos banharmos,

Odò  ó  fi  a  sà                                   pois o rio que escolhemos

Wè  rè  ó                                            é o rio  que usas para seu banho.

 

Page 11: Festa de Olubajé no terreiro

A  sà  wè  lé  ó                                                                                   Nós escolhemos nos banharmos

Odò  fi  ó                                                                               em nossa casa.

A  sà  Wé  lé  ó                                                                      Ela  costuma escolher

A  sà  Wè  lé  ó                                                                      banhar-se no seu rio.

 

Ìyá  kòròba                                                                            Mãe que enfeita os cabelos dividindo-os

Kòròba  ní  sàbá                                                                   no meio da cabeça, ela tem o hábito de

Ìyá  kòròba                                                                            enfeitar os cabelos dividindo-os no meio

Kòròba  ní  sàbá                                                                   da cabeça.

 

A dança de  Iemanjá é solene  e altiva. Ora parece um minueto, onde uma dama graciosa caminha, ora simula um mergulho em águas imaginárias e profundas.

Todos repetem suas saudações em tom alto de admiração:

 

= Odò  Ìyá  – ah!! A mãe dos rios !!                            = Èérú  Ìyá   -  Mãe das espumas das águas !!

 Ao cessar o toque dos atabaques ela despede-se de todos os presentes, curvando-se de maneira graciosa; e assim é ela mesma, sozinha que se dirige para o quarto – de – santo.

 O silencio  no barracão e interrompido,  Oiá  “ Senhora dos raios, das tempestades, mãe de todos os ancestrais-egunguns” está chegando.

Quando começam as cantigas de Oiá, um frenesi percorre o barracão e o ritmo rápido de suas músicas contagia a todos.

E  assim começa seu grande bailado, numa coreografia com as mãos espalmadas para frente e para o alto evocando os ventos que antecedem as tempestades.

 

Oya  balè  e  Láárí  ó                                                            Oiá  tocou  a  terra, ela é importante.

Page 12: Festa de Olubajé no terreiro

Oya balè                                                                                Oiá  tocou  a  terra

Oya  balè  e  Láárí  ó                                                            Oiá  tocou  a  terra

Oya balè                                                                                Ela é e alto valor, Oiá  tocou a  terra.

Àdá  máà  dé  f´àrá                                                               Que sua espada não chegue até nós,

gè  ngbélé                                                                              e nem use seus raios para cortar a casa                   Oya  balè  e  Láárí  ó                      onde  vivemos.

 

Ó  ní  lábá-lábá  -  Ó lábá  ó                                                Ela ( Oiá ) é uma borboleta

Ó  ní  lábá-lábá  -  Ó lábá  ó                                                ela é uma borboleta.

 

Olúafééfé   sorí                                                                     Dona dos ventos que sopram sobre seus

Omon                                                                                    filhos.

 

Os textos da  Deusa guerreira, falam que ela é a senhora dos ventos e alguns ate afirmam  “ ela também  é bela e delicada como uma borboleta”  ….” quando quer “, …respondem outros.

= Epa  He  yi  Oyá !! – Salve Oiá !!…a assistência exclama em voz alta, e novamente o silencio se faz.

 …celebrando  a  criação

 Vestido de branco , segurando um longo cajado e indiferente a toda agitação do barracão está

Oxalufâ  -  “ o Senhor da Criação “ .

 Amparado, é delicadamente erguido de sua cadeira; a passos curtos e lentos é conduzido até a orquestra, que  aguarda pacientemente sua caminhada até que chegue mais próximo, para então executar o seu ritmo Igbi.

 Ao seu lado, Oxaguiã ,  seu filho guerreiro, e como ele, também  “ Pai da Criação “.

Amparado pelo guerreiro, o mais velho encurvado começa a dançar, e todos exultam….

Page 13: Festa de Olubajé no terreiro

 = Epa  babá !!  -   Respeitos  ao  pai !!             ///         = Epa  babá !!  -   Respeitos  ao  pai !!

 

Èyin  rí  àwa                                                                         Vós vedes a nós e a crença em nossos corações.

ìgbàgbó  wa  okòn                                                                Vós vedes a nós e a crença em nossos corações.

Èyin  rí  àwa  , ìgbàgbó  wa  okòn                                       Façais com que haja concórdia em nossa reunião

Ètùtù  sé  ipadé  siré                                                             de xirê ( dançar e brincar para  orixás )

Kò  rú  lé, kò  rú  lé,                                                              Que não causeis confusão na casa,

Bàbá  Ifá                                                                               Pai Ifá.

E  sìn  sé  ipàde  siré                                                             Vos cultuaremos em nossas reunião de xirê,

Kò  rú  lé, kò  rú  lé,                                                             não causeis confusão em nossa casa,

Bàbá  Ifá                                                                               Pai Ifá.

 Sem cessar a dança e no mesmo ritmo, é saudado, agora, Ajalá , o grande oleiro, construtor das cabeças dos homens:

 

Àjàlá  mo  rí  mo  rí  mo  yo                                                 Ajalá fez o meu ori ( minha cabeça ),

Álá  forí  kòn                                                                         me germinou e fez crescer,alá que segura

E  àgó  fi rí  mi                                                                      e mantém a minha cabeça.

 

Bée  orí  kò  kíì  Àjàlá                                               Assim não há ori ( cabeça ) que não saúde Ajalá.

Bàbá  òkè  kí  a  mò  rè                                            O Pai que está no topo,  nós o conhecemos e saudamos.

Page 14: Festa de Olubajé no terreiro

Kíì  Àjàlá  bée  orí  kò                                               Ajalá , não há ori que não o faça.

 

Um último cântico  é executado para saudar os orixás funfun – donos do branco, da “ pureza” como dizem outros, é em especial a homenagem a  Oxaguiã, sempre louvado no alvorecer, nas preces feitas aos ancestrais.

 

Ojó  mò  tyìn  odó  aláyé  ojó                                                           Chefe do dia que entende o dia

Ojó  bí  walé  ojó                                                                   e tem pilão.

Ojó  mò  tyìn  odó  aláyé  ojó                                                           O que nasce em nossa casa ,

A  bo  wa  Bàbá  ó                                                                vamos cultuar o nosso pai.

 

Uma história ouvida  há alguns anos, na Casa Branca do Engenho Velho  –  Ilê  Ia – Nassô , relata…..

 “ Oguiã, que gostava muito de guerra…voltava para sua cidade, quando viu que ela estava muito vazia..soube então que parte de seu povo fora levado e escravizado…Cheio de raiva vai á floresta e arranca uma imensa árvore  e vem sobre o seu tronco até o Brasil…No meio do mar encontra  uma linda mulher, Iemanjá-Ogunté, guerreira como ele…fazem um filho – Ogunjá… e os três chegam à Bahia para lutar juntos por sua gente….”

 Neste dia  – o da festa – apesar das homenagens feitas a todos no xirê, dois Orixás estão ausentes:

Xangô – o irmão rival do homenageado.

Ogum, de quem o povo-de-santo diz ter com ele “ uma disputa” muito antiga com referencia  a faca.