ferrugem asiática da soja

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FERRUGEM ASIÁTICA DA SOJA Angela A doença é causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, sendo, hoje, uma das doenças que mais têm preocupado os produtores de soja. O seu principal dano é a desfolha precoce, impedindo a completa formação dos grãos, com conseqüente redução da produtividade. O nível de dano que a doença pode ocasionar depende do momento em que ela incide na cultura, das condições climáticas favoráveis à sua multiplicação. Os danos podem chegar a cerca de 70%. A doença foi diagnosticada pela primeira vez no Brasil em 2001. Devido à facilidade de disseminação do fungo pelo vento, a doença ocorre em praticamente todas as regiões produtoras de soja do país. ETIOLOGIA A soja é infectada por duas espécies de Phakopsora que causam a ferrugem: a) Phakopsora meibomiae (ferrugem “americana”), nativa no Continente Americano, ocorre desde Porto Rico (Caribe) ao sul do Paraná (Ponta Grossa); b) Phakopsora pachyrhizi (ferrugem “asiática”), presente na maioria dos países produtores de soja. A doença era atribuída à Phakopsora pachyrhizi. Porém, a partir de 1992, após comparação com espécimes americana e asiática, a espécie americana foi denominada de Phakopsora meibomiae e considerada pouco agressiva à soja. Em 2001, amostras do fungo presentes no Brasil e Paraguai foram analisadas nos Estados Unidos empregando testes de biologia molecular e constatou-se ser a espécie asiática, Phakopsora pachyrhizi. Dois tipos de esporos são conhecidos em Phakopsora pachyrhizi: uredósporos e teliósporos. Os uredósporos (15- 24 μm x 18-34μm) são os mais comuns e se constituem na fase epidêmica da doença. São ovóides a elípticos, largos, com paredes com 1,0 μm de espessura, densamente equinulados e variando de incolor a castanho amarelo pálidos. A penetração ocorre de forma direta através da cutícula. O processo de infecção depende da disponibilidade de água livre na superfície da folha, sendo necessário no mínimo seis horas, com um máximo de infecção ocorrendo com 10-12 horas de molhamento foliar. Temperatura entre 15ºC e 28ºC são favoráveis à infecção. Phakopsora pachyrhizi apresenta grande variabilidade patogênica e, através do uso de variedades diferenciadoras, várias raças têm sido identificadas. Em Taiwan, foram identificadas nove raças e no Japão, onze. No Brasil, a quebra de resistência em uma safra evidenciou a existência de raças. Quatro genes dominantes com herança independente são conhecidos e denominados como Rpp1 – Rpp4. EPIDEMIOLOGIA O processo infeccioso se inicia quando os uredósporos germinam e produzem um tubo germinativo que cresce através da superfície da folha até que se formar um apressório. A penetração ocorre diretamente através da epiderme, ao contrário das outras ferrugens que penetram através dos estômatos. Urédias podem se desenvolver de 5 a 10 dias após a infecção e os esporos do fungo podem ser produzidos por até 3

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Page 1: Ferrugem Asiática Da Soja

FERRUGEM ASIÁTICA DA SOJA

AngelaA doença é causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi,  sendo, hoje, uma das doenças que mais têm preocupado os produtores de soja. O seu principal dano é a desfolha precoce, impedindo a completa formação dos grãos, com conseqüente redução da produtividade. O nível de dano que a doença pode ocasionar depende do momento em que ela incide na cultura, das condições climáticas favoráveis à sua multiplicação. Os danos podem chegar a cerca de 70%. A doença foi diagnosticada pela primeira vez no Brasil em 2001. Devido à facilidade de disseminação do fungo pelo vento, a doença ocorre em praticamente todas as regiões produtoras de soja do país.ETIOLOGIAA soja é infectada por duas espécies de Phakopsora que causam a ferrugem:a) Phakopsora meibomiae (ferrugem “americana”), nativa no Continente Americano, ocorre desde Porto Rico (Caribe) ao sul do Paraná (Ponta Grossa);b) Phakopsora pachyrhizi (ferrugem “asiática”), presente na maioria dos países produtores de soja. A doença era atribuída à Phakopsora pachyrhizi. Porém, a partir de 1992, após comparação com espécimes americana e asiática, a espécie americana foi denominada de Phakopsora meibomiae e considerada pouco agressiva à soja. Em 2001, amostras do fungo presentes no Brasil e Paraguai foram analisadas nos Estados Unidos empregando testes de biologia molecular e constatou-se ser a espécie asiática, Phakopsora pachyrhizi. Dois tipos de esporos são conhecidos em Phakopsora pachyrhizi: uredósporos e teliósporos. Os uredósporos (15- 24 μm x 18-34μm) são os mais comuns e se constituem na fase epidêmica da doença. São ovóides a elípticos, largos, com paredes com 1,0 μm de espessura, densamente equinulados e variando de incolor a castanho amarelo pálidos. A penetração ocorre de forma direta através da cutícula. O processo de infecção depende da disponibilidade de água livre na superfície da folha, sendo necessário no mínimo seis horas, com um máximo de infecção ocorrendo com 10-12 horas de molhamento foliar. Temperatura entre 15ºC e 28ºC são favoráveis à infecção. Phakopsora pachyrhizi apresenta grande variabilidade patogênica e, através do uso de variedades diferenciadoras, várias raças têm sido identificadas. Em Taiwan, foram identificadas nove raças e no Japão, onze. No Brasil, a quebra de resistência em uma safra evidenciou a existência de raças. Quatro genes dominantes com herança independente são conhecidos e denominados como Rpp1 – Rpp4. EPIDEMIOLOGIAO processo infeccioso se inicia quando os uredósporos germinam e produzem um tubo germinativo que cresce através da superfície da folha até que se formar um apressório. A penetração ocorre diretamente através da epiderme, ao contrário das outras ferrugens que penetram através dos estômatos. Urédias podem se desenvolver de 5 a 10 dias após a infecção e os esporos do fungo podem ser produzidos por até 3 semanas. A temperatura para a germinação dos uredósporos pode variar entre 8ºC a 30ºC e a temperatura ótima é próxima de 20ºC, porém, sob alta umidade relativa do ar, a temperatura ideal para a infecção situa-se ao redor de 18ºC a 21ºC.Nesta faixa de temperatura, a infecção ocorre em 6h30min após a penetração, mas são necessárias 16 horas de umidade relativa elevada para que a infecção se realize plenamente. Por isso, temperaturas noturnas amenas e presença de água na superfície das folhas, tanto na forma de orvalho como precipitações bem distribuídas ao longo da safra favorecem o desenvolvimento da doença.O vento é a principal forma de disseminação desse patógeno, que só sobrevive e se multiplica em plantas vivas, para lavouras próximas ou a longas distâncias. Desta forma,outro fator que agrava ainda mais o seu estabelecimento no Brasil é a existência de outras plantas hospedeiras, constituídas por 95 espécies de 42 gêneros de Fabaceae.

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CArolina CICLO DA FERRUGEM ASIÁTICADe uma infecção inicial, estima-se que uma primeira geração de pústulas pode manter a esporulação por até 15 semanas, mesmo sob condições de baixa umidade. Se as condições para reinfecção são esporádicas durante a estação, pode haver potencial de inóculo suficiente para restabelecer a epidemia. A ferrugem asiática possui diversos hospedeiros alternativos e assim há uma grande quantidade de fontes de inóculo. Os esporos são disseminados pelo vento, podendo viajar grandes distâncias (Figura 1).

  Por serem sensíveis à radiação ultravioleta, provavelmente estas viagens ocorrem em sistemas de tempestade aonde as nuvens protegem os esporos do sol. O sucesso da infecção é dependente da disponibilidade de molhamento na superfície da folha. Pelo menos 6 horas de água livre parece ser necessária para promover a infeccção. Chuvas abundantes e frequentes durante o desenvolvimento da doença têm sido associadas com epidemias mais severas. Após a infecção, as primeiras pústulas com uredósporos maduros surgem em 7 a 8 dias e este curto ciclo de vida da doença significa que, sob condições favoráveis, epidemias de ferrugem asiática podem progredir de baixos níveis de detecção para desfolhações dentro de um mês. 

FERNANDASintomatologia

Os sintomas causados pela ferrugem asiática (Phakopsora pahyrhizi) iniciam-se nas folhas inferiores da planta e são caracterizados por minúsculos pontos (1 a 2 mm de diâmetro), mais escuros do que o tecido sadio da folha, com coloração esverdeada a cinza esverdeada (Figura 1).

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 Figura 1 - Sintomas iniciais de ferrugem asiática na face abaxial da folha de soja.

 Essas lesões, provenientes da fase inicial da infecção,  correspondem a formação de protuberância, chamadas urédias (estruturas de reprodução do fungo), que se apresentam como pequenas saliências na lesão (Figura 2). 

Figura 2 - Pústulas de Phakopsora pahyrhizi na face inferior da folha de soja. 

As lesões da ferrugem tendem para o formato angular e podem atingir 2 a 5 mm de diâmetro, podendo aparecer nos pecíolos, vagens e caules. Progressivamente, as

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urédias, adquirem cor castanho clara a castanho escura, abrem-se em minúsculo poro, por onde é liberado os uredósporos (Figura 3). 

Figura 3 - Sintomas da ferrugem asiática da soja causada por Phakopsora pachyrhizi na face inferior da folha.

 A observação das urédias é a principal característica que permite a distinção entre a ferrugem da soja e outras doenças com outros sintomas semelhantes, tais como as lesões iniciais de mancha parda (Septoria glycines) que forma um halo amarelo ao redor da lesão necrótica, que é angular e castanho avermelhada (Figura 4). 

Figura 4  - Urédias com poros abertos de Phakopsora pachyrhizi. 

Os uredósporos, inicialmente de coloração hialina (cristalina), tornam-se bege e acumulam-se ao redor dos poros ou são carregados pelo vento (Figura 5). 

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Figura 5 - Uredosporos de Phakopsora pachyrhizi. 

A medida que prossegue a esporulação, o tecido da folha ao redor das primeiras urédias, adquirem coloração castanho clara (lesão do tipo “TAN”) a castanho-avermelhada (lesão do tipo “reddish-brown”- RB), formando as lesões que são facilmente visíveis em ambas as faces da folha. As urédias que deixaram de esporular apresentam as pústulas,nitidamente, com os poros abertos, o quê permite distinguir da pústula bacteriana, quefrequentemente tem sido confundida com a ferrugem.É considerada uma das doenças mais severas que incidem na cultura e pode ocorrer em qualquer estádio fenológico da cultura. Plantas infectadas apresentam desfolha precoce, comprometendo a formação e o enchimento de vagens, reduzindo o peso final dos grãos (Figura 6). 

Figura 6 - Danos decorrentes da infecção de Phakopsora pachyrhizi. Nas diversas regiões geográficas onde a ferrugem asiática foi relatada em níveis epidêmicos, os danos variam de 10% a 90% da produção. Em casos de ataques severos, as plantas ficam semelhantes a lavouras dessecadas com herbicidas, sofrendo abortamento de flores e vagens e deficiência na granação. Quanto mais cedo ocorrer a desfolha, menor será o tamanho dos grãos e, consequentemente, maior a redução do rendimento e da qualidade. http://pt.slideshare.net/robsonvidalouca/sistema-de-previso-de-doena-ferrugem-da-soja

http://www.apsnet.org/edcenter/intropp/lessons/fungi/Basidiomycetes/Pages/SoybeanRustPort.aspx

http://www.uteq.edu.ec/revistacyt/publico/archivos/C2_A%20ferrugen%20asi%C3%A1tica.pdf

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Ciclo da doença e epidemiologia:A infecção se inicia quando uredinósporos germinam e produzem um tubo germinativo que cresce na superfície da folha até que se forma um apressório. Esta ferrugem é única por ter a habilidade de também penetrar diretamente através da epiderme, ao contrário das outras ferrugens que penetram através dos estômatos. Urédias podem se desenvolver de 5 a 8 dias após a infecção e os esporos do fungo podem ser produzidos por até 4 semanas. De uma infecção inicial, estima-se que uma primeira geração de pústulas pode manter a esporulação por até 15 semanas, mesmo sob condições de baixa umidade. Se as condições para re-infecção são esporádicas durante a estação, pode haver potencial de inóculo suficiente para restabelecer a epidemia. A ferrugem-asiática possui diversos hospedeiros alternativos  e assim há uma grande quantidade de fontes de inóculo. Os esporos são disseminados pelo vento, podendo viajar grandes distâncias. Por serem sensíveis à radiação ultravioleta, provavelmente estas viagens ocorrem em sistemas de tempestade aonde as nuvens protegem os esporos do sol (suspeita-se que a ferrugem-asiática foi introduzida nos EUA pelo furacão Ivan). O sucesso da infecção é dependente da disponibilidade de molhamento na superfície da folha. Pelo menos 6 horas de água livre parece ser necessária para promover a infeccção. O fungo pode infectar a planta em temperatura variando de 15 e 28°C, com ótimo de 22 a 24°C. Chuvas abundantes e freqüentes durante o desenvolvimento da doença têm sido associadas com epidemias mais severas. Após a infecção, as primeiros pústulas com uredinósporos maduros surgem em 7 a 8 dias e este curto ciclo de vida da doença significa que, sob condições favoráveis, epidemias de ferrugem-asiática podem progredir de baixos níveis de detecção para desfolhações dentro de um mês.