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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN 1808-8716 Silva, Miotello. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 3(gt33):1-12 Ferramentas de inserção da diversidade cultural no gênero televisivo: uma análise do programa Metrópolis. GT 33 - Sociotécnica e cultura contemporânea Thiago Rodrigues da Silva Valdemir Miotello Resumo: A televisão se configura diariamente como um meio de comunicação que rege influência a formação de pensamento crítico entre os mais variados grupos sociais brasileiros. É ela quem tem trazido de forma mais dinâmica os discursos que circulam e necessitam ser debatidos. A pesquisa proposta, teve como objetivo analisar o modo em que os canais de televisão têm trazido o discurso da diversidade cultural em um país com histórico de grande intolerância ao que é diferente para os padrões do formato da sociedade considerada tradicional. A partir da importância de trazer o discurso da diversidade como a capacidade de desenvolver a interação com o que é diferente, analisaremos os mecanismos que vem sendo utilizado por esses canais de informação para a promoção do dialogo intercultural. Esse processo, toma características diferentes quando são executados em um espaço que também tem a necessidade de satisfazer um padrão que busca a lógica do mercado e a que seguem lutando para conseguir mais reconhecimento e audiência. Para demostrar essa prática, analisaremos o programa Metrópolis da tv cultura paulista que no ar a quase a trinta anos busca abordar em seu conteúdo os diferentes campos de cultura e da arte, construindo elementos que ressaltem a importância da diversidade neste campo. Produzindo material informativo sobre os acontecimentos em áreas como teatro, música, dança e cinema, o programa coloca a diversidade existente no Brasil em pauta e propõe um diálogo entre as várias vertentes de história, costumes e crenças não só do país, mas do mundo inteiro. Para a identificação das ferramentas que vêm sendo utilizada pelo meio de comunicação para a promoção de uma sociedade que zele pela equidade dando direito aos sujeitos de serem diferentes, usaremos os caminhos desenvolvidos por Mikhail Bakhtin para estabelecer a relação da linguagem com o seu entorno. Ou seja, gêneros discursivos formados pela televisão, se tornam fontes de conhecimento por meio das linguagens que são escolhidas para conseguir levar esses conceitos aos telespectadores. Construir essa análise indica um olhar não só antropológico, mas também político e social sobre identificar que por traz das diferenças existe algo universal para quem assiste um programa que aborda o diálogo entre as culturas. Palavras – chave: Televisão, Gênero Discursivo, Cultura e Diversidade.

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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN∕ 1808-8716 Silva, Miotello. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 3(gt33):1-12

Ferramentas de inserção da diversidade culturalno gênero televisivo: uma análise do programaMetrópolis.

GT 33 - Sociotécnica e cultura contemporânea

Thiago Rodrigues da SilvaValdemir Miotello

Resumo: A televisão se configura diariamente como um meio de comunicação que rege influência aformação de pensamento crítico entre os mais variados grupos sociais brasileiros. É ela quem temtrazido de forma mais dinâmica os discursos que circulam e necessitam ser debatidos. A pesquisaproposta, teve como objetivo analisar o modo em que os canais de televisão têm trazido o discurso dadiversidade cultural em um país com histórico de grande intolerância ao que é diferente para ospadrões do formato da sociedade considerada tradicional. A partir da importância de trazer o discursoda diversidade como a capacidade de desenvolver a interação com o que é diferente, analisaremos osmecanismos que vem sendo utilizado por esses canais de informação para a promoção do dialogointercultural. Esse processo, toma características diferentes quando são executados em um espaço quetambém tem a necessidade de satisfazer um padrão que busca a lógica do mercado e a que seguemlutando para conseguir mais reconhecimento e audiência. Para demostrar essa prática, analisaremos oprograma Metrópolis da tv cultura paulista que no ar a quase a trinta anos busca abordar em seuconteúdo os diferentes campos de cultura e da arte, construindo elementos que ressaltem aimportância da diversidade neste campo. Produzindo material informativo sobre os acontecimentosem áreas como teatro, música, dança e cinema, o programa coloca a diversidade existente no Brasil empauta e propõe um diálogo entre as várias vertentes de história, costumes e crenças não só do país,mas do mundo inteiro. Para a identificação das ferramentas que vêm sendo utilizada pelo meio decomunicação para a promoção de uma sociedade que zele pela equidade dando direito aos sujeitos deserem diferentes, usaremos os caminhos desenvolvidos por Mikhail Bakhtin para estabelecer a relaçãoda linguagem com o seu entorno. Ou seja, gêneros discursivos formados pela televisão, se tornamfontes de conhecimento por meio das linguagens que são escolhidas para conseguir levar essesconceitos aos telespectadores. Construir essa análise indica um olhar não só antropológico, mastambém político e social sobre identificar que por traz das diferenças existe algo universal para quemassiste um programa que aborda o diálogo entre as culturas.

Palavras – chave: Televisão, Gênero Discursivo, Cultura e Diversidade.

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Introdução:

A existência de diversas manifestações de comportamento e modos de vida sempre foi

motivo de conflitos na história da humanidade. A dificuldade de entender que as diferentes

experiências e culturas atribuídas nas relações sociais que interferem diretamente nos

costumes, crenças e comportamento podem se tornar agregadores dos embates envolvendo

intolerância e dificuldade de conviver com que se está acostumado.

No processo entre quem produz e quem recebe a informação estão entrelaçadas

questões sociais que são necessárias para pensar esses canais de comunicação que a todo

tempo estão se transformando com a influência da globalização. Com a evolução das

tecnologias responsáveis por transmitir informação, as práticas são encontradas em espaços

diversos como jornal, revistas, televisão, rádio e sites.

Nas últimas décadas vem se trabalhando com mais afinco sobre a necessidade de

garantir meios de comunicação que pensem a diversidade cultural, fortalecendo a luta pela

garantia da construção de espaços adequados para construir e reproduzir conteúdo marcados

pela riqueza e diferença do universo da cultura. Essas medidas trabalham para a construção do

direito a comunicação e representatividade que contemplem todas as vozes, cores e

pensamentos.

A convenção sobre a proteção e promoção da diversidade das expressões culturais

organizadas pela UNESCO1 no ano de 2005 coloca a importância da comunicação para o

processo de reconhecimento e preservação do direito a resistência das manifestações culturais

como uma das dimensões prioritárias para a garantia de meios de informação que funcionem

de forma democrática e acessível a todos. Na conferência foram discutidas formas de

preservar as expressões que careciam de incentivo para que não fossem apagadas com o

tempo e para isso, entre todos os espaços com poder de colaborar, seria imprescindível a

formação de meios de comunicação que tivessem essas características em suas produções.

1 A Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura (UNESCO) trabalha para a preservação de recursos naturais e culturais. Das diversas áreas em que atua, se destaca na formação de professores como meta de diminuir o analfabetismo mundial, preservação dos patrimônios culturais e defesa da liberdade de expressão.

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A partir de então, se percebe a necessidade da diversidade cultural para a sociedade

como parte de um plano político e estratégico que visa a manutenção e acesso das

manifestações culturais já reconhecidas como as que ainda encontram resistência, colocando

em contexto o que vem sendo produzido e a sua necessidade de expressar a realidade de um

número maior de sujeitos. Os espaços produtores de informação são identificados como

possíveis espaços capazes de agir ativamente para que seja garantido o direito a comunicação

que apresente a cultura como fator agregador.

Impulsionado pela visão otimista que muitas vezes se faz presente nas as relações que

se estabelecem sobre a diversidade cultural como algo já reconhecido não somente nos meios

de comunicação, mas também nas mais diversas áreas das relações humanas, o presente

trabalho tem a intenção de observar os discursos realizados sobre o tema para encontrar os

modos em que a ideia da necessidade de espaço para os mais as mais diversas manifestações

culturais vem sendo introduzida no ato de comunicar, principalmente na comunicação através

da televisão. Encontrar as marcas do discurso que reúnem a valorização da diversidade é

encontrar a interpelação ideologias que afetam os modos de valorização de diversas

manifestações artísticas e culturais que também são frutos das relações políticas, econômicas

e muitas outras capazes de influenciar os processos informativos colocando em questão a

função da mídia que é configurada como:

[...] uma “rede complexa de signos ideológicos” situada no interiorde ambientes múltiplos – o ambiente de gerador dos meios decomunicação, o ambiente gerador ideológico mais amplo, e oambiente gerador socioeconômico – cada um com as própriasespecificidades. (STAM, 2010, p. 333).

Estudar as formas de linguagem que são produzidas nos meios de comunicação e o

modo como se apresentam as várias vozes que buscam dialogar com os mais variados tipos de

espectador, provando que nessa relação entre quem produz e quem faz uso das informações

não existe um produto singular que é recebido de maneira singular, constituindo conexões

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diferentes e vários sentidos. Essas relações ganham espaço dentro do que é produzido no

gênero televisivo.

Usa-se como base da construção da análise, o Programa Metrópolis da TV Cultura no

ar desde 1988 veiculado diariamente para apresentar questões sobre arte e cultura em suas

mais variadas abordagens mostrando que temas como música, teatro, dança e literatura estão

inclusos nas várias relações humanas que se estabelecem cotidianamente.

Transmitido em um dos canais abertos mais reconhecidos pela qualidade de sua

programação - a TV Cultura - o Metrópolis representa, mesmo antes dos discursos sobre

diversidade cultural serem recorrentes, um espaço capaz de apresentar as diversas

possibilidades que cercam as construções da cultura nos moldes considerado erudito, de

massa e o popular, criando um ambiente que batalha para que as diversas manifestações

possam

Como uma mistura de jornalismo e programa de entrevista, o Metrópolis começou a

trabalhar as possibilidades de reunir várias áreas da cultura, educação e arte quando ainda não

era tão comum o uso de internet e trazer ao público as diferentes manifestações artísticas

possíveis na capital paulista funcionando como um catálogo que leva ao público as

possibilidades de atividades aos arredores da cidade.

Para entender o formato atribuído ao programa estipulou-se como aporte teórico o

conceito de gênero discursivo discutido pelo filósofo Mikhail Bakhtin na obra Estética e

Criação Verbal (1997) que acredita que os gêneros são capazes de moldar suas maneiras de

propagar informação sempre acreditando que o discurso se forma na construção dos

enunciados apoiados ao seu acontecimento. Sendo assim, os gêneros se encontram

necessariamente ligados às relações cotidianas que geram as suas construções e modificações,

refletindo nos “processos de criação”:

Ao escolher a palavra, partimos das intenções que presidem ao todo donosso enunciado, e esse todo intencional, construído por nós, é sempreexpressivo. E esse todo que irradia sua expressividade (ou melhor, nossaexpressividade) para cada uma das palavras que escolhemos e que, de

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certo modo, inocula nessa palavra a expressividade do todo. Escolhemosa palavra de acordo com sua significação que, por si só, não é expressivae pode ou não corresponder ao nosso objetivo expressivo em relação comas outras palavras, isto é, em relação com o todo de nosso enunciado.(BAKHTIN,1997, p 311).

Sendo assim, os discursos sobre diversidade cultural que tem sido construído nos canais de

televisão influenciam diretamente no que a emissora tem intenção de dizer, muitas vezes

proporcionando mutações nos discursos, até então, presentes em sua forma de dialogar com o

público, se transformando para melhor para contemplar as necessidades de um número maior

de pessoas, como afirma BAKHTIN (1997), “o gênero sempre é e não é ao mesmo tempo,

sempre é novo e velho ao mesmo tempo” (p. 106).

Voltar os olhos a relação que se estabelece nessas modificações é estar atento as novas

respostas que emergem das relações instituídas entre os sujeitos e os meios de comunicação.

Buscando também, diagnosticar as diversas relações no campo da linguagem – verbal, não

verbal, e todas as outras possíveis para a comunicação – capazes de formar novos

conhecimentos e diagnosticar as dificuldades existentes nas interações comunicacionais para a

construção de espaços que promovam o reconhecimento das diferenças.

Nesse sentido, a pesquisa surge por meio investigar como tem se dado os processos de

divulgação da necessidade de olhar a cultura como campo capaz de reunir múltiplas práticas

sociais nos suportes de difusão de informação e faz com que se reconheça a capacidade de

formar espaços mais democráticos que entendam a diversidade cultural como positivo para o

comportamento humano. Possibilitando que os sujeitos se reconheçam no que é produzido,

mas que também consiga enxergar o que é diferente dele com respeito.

Diversidade Cultural no Gênero Televisivo:

A televisão vem caminhando para a construção de um debate que coloca o seu papel e

para quais fins ela tem se demostrado útil ao executar o papel de informar. Um grande número

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de pesquisas tem se voltado para compreender o papel que a televisão ocupa em uma

sociedade onde mesmo com os avanços entorno das tecnologias como a internet e outros

dispositivos, o meio de comunicação ainda é o mais acessado pelos telespectadores.

No Brasil, a televisão pode ser considerada a grande máquina na disseminação de

informação nos últimos tempos. A Pesquisa Brasileira de Mídia no ano de 2016 confirma que

a televisão ainda é o lugar onde as pessoas se informam sobre o que acontece no país mesmo

com a proliferação do uso da internet.2 Dados como estes reforçam o poder de estabelecer

contato com os mais variados tipos de telespectadores. Surgindo posteriormente a meios de

comunicação como jornal impresso e o rádio, a televisão tem como sua marca registrada os

valores informativos e de entretenimento que contribuem, em grande parte, para o

pensamento crítico de quem opta por assisti-la.

Essa grande aceitação do meio de comunicação como lugar capaz de fazer com que as

informações cheguem a um grande número de pessoas tornou possível reconhecer as

deficiências em representar determinados grupos sociais e organizações, fazendo com que

muitas emissoras passem a repensar os rumos do lugar que sua programação deve assumir,

passando a se preocupar em representar questões antes não contempladas.

A Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais

organizada pela UNESCO, fez com que discutisse no Brasil e em outros países a necessidade

de garantir as práticas culturais o seu valor patrimonial, fazendo com que a diversidade

cultural se tornasse pauta a ser discutida com toda a comunidade e meios de comunicação.

O documento criado durante a convenção coloca a comunicação como canal de

extrema importância para a construção da preservação e do reconhecimento da diversidade

cultural, apresentando medidas para a manutenção das práticas extintas pela falta de

reconhecimento e o papel da cultura para a construção da liberdade de pensamento.

As questões defendidas pelo movimento negro e feministas ganharam mais espaços em

programas de televisão nos últimos tempos. Passou-se a abordar mais os temas como racismo

e descriminação de gêneros em programas de entrevista e em telenovelas, mostrando que é

necessário falar sobre o desnivelamento instaurado nas relações sociais brasileiras. Junto a

esses temas se juntam temas como os das questões voltadas as práticas religiosas, de

2 Pesquisa Brasileira de Mídia – PBM 2016. Acessado em: 26/06/2017

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diversidade sexual e étnica que procuram trazer para os espaços de informação a necessidade

de que elas sejam mais democráticas e rompam fronteiras.

O desequilíbrio encontrado nas informações reflete o que acontece no cotidiano das

pessoas, a luta de parte da população para ter seus direitos preservados e considerados

menores para ter as suas questões preservadas e consideradas importantes nos meios de

comunicação. A diversidade que se busca na televisão com certeza vai muito além da

diversidade cultural. É necessário lutar por uma diversidade que abarque as questões de

gênero, raça, sexualidade e muitas outras, mas a diversidade cultural pode contribuir para

pensar a questão de forma ampla. Permitindo que se reconheça o diverso em todas áreas,

práticas e intenções.

A diversidade cultural na televisão se torna requisito para a construção de conteúdos

que se tornem capazes de representar a maior parte da população que forma a nação brasileira

acabando com a visão colonizadora e dominante que tom conta das maiorias das emissoras.

Para isso é necessário reconstruir os fundamentos que dominam essas práticas que

reconhecem informação como simples e pura moeda de mercado.

Metrópolis:

O programa de televisão Metropólis traz informações sobre as produções

contemporâneas voltadas a arte e cultura. No caminhar das suas transmissões o programa vem

passando por várias modificações, mas mantendo os sentidos preservados ao longo das

décadas de existência. Com o crescimento das ferramentas tecnológicas, vem buscando cada

vez mais construir interação com o público que consegue estabelecer contato direto com os

temas e produções culturais veiculadas.

Exibido diariamente desde 1988, o programa traz em seu conteúdo assuntos

relacionados a cultura de uma forma ampla mostrando atividades voltadas a arte, música,

dança, teatro e muitas outras. Neste caso, os gêneros apropriados e introduzido ao gênero

jornalístico conseguia apresentar os principais elementos da diversidade cultural do programa

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que apresenta traços da cultura erudita, popular que forma as manifestações artísticas

brasileiras.

Na formação diversificada dos temas debatido no Metrópolis é possível encontrar

como se dão gêneros discursivos diferenciados a favor da cultura e informação. O programa

que já teve vários formatos continua demonstrando como a diversidade cultural, refletida na

possibilidade da infinidade de gêneros, pode concluir para a construção da unidade por trás

das diferenças.

O tema teatro é muitas vezes abordado nas produções semanais do programa, que

sempre apresenta as obras em cartaz nos teatros espalhados pela cidade trazendo para a

discussão os mais diversos tipos de produções. O cinema sempre é pautado nas opções de

entretenimento do programa, sendo citado como opção para todos os tipos de público por

trazer em seu catalogo variações e classificações de filmes. Outro diferencial do programa é

promover bate papo com a equipe das produções em forma de entrevistas que ajudam a

divulgar e ampliar o alcance das produções.

Os apresentadores sempre trazem dicas de livros recentemente lançados para

estabelecer dialogo com que tem sido produzido em termos literários. A música, também é

parte que integra a pauta diária do programa que traz alguns lançamentos do mercado musical

e algumas vezes traz ao estúdio artistas para a divulgação de seus trabalhos, apresentando os

mais variados estilos musicais de artistas reconhecidos e ainda em ascensão.

Essas e outras representação artísticas dão ao programa as características de revista

cultural que transita entre os vários gêneros da comunicação. Com um modelo que vai de

jornal a talk show, o Metrópolis ao longo de sua exibição para a construção de um meio de

comunicação mais abrangente.

Conclusões:

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Com a análise dos discursos veículos pelas ferramentas de comunicação para

compreender como a mídia reproduz suas questões ideológicas nos assuntos relacionados a

diversidade cultural, afirma-se que por meio de atividades e políticas que entendam a

necessidade de promoção de espaços preparados para receber a pluralidade de manifestações

culturais presente entre o povo brasileiro colaborando para uma sociedade mais justa e

igualitária.

Mostrar como a mídia tem poder para mobilizar que a sociedade reconhece a

importância da diversidade das expressões culturais para melhorar as relações sociais nos

mais diversos lugares. A mídia também tem um papel fundamental para que esse tema seja

trabalhado em espaços educativos estimulando a preocupação com a função de papel social

dos meios de comunicação e as questões que abordam que tem como preocupação com a

tolerância e respeito ao diferente.

As ideologias que fundamentam os espaços de comunicação e informação agem para

estipular seus interesses e objetivos. Apesar de esforços como o da UNESCO para tornar

recorrente as práticas de proteção a diversidade cultural, cada meio de comunicação faz isso

de forma diferente, configurando que as ações vão de encontro a propósitos particulares.

O projeto e investigação observa o olhar midiático que vem se apresentando de

diversas formas e por variados motivos para a conscientização da necessidade de voltarem

seus olhos para a construção de uma linguagem que alcance e represente o máximo de

cidadãos brasileiros. Mostrando assim, que as interações culturais podem ser usadas não como

o que fazemos apesar das nossas diferenças, mas o que fazemos para que cada vez mais as

nossas diferenças possam ser reconhecidas.

Dessa forma, afirmando que a interatividade entre quem informa e quem recebe

informação acontece de maneira dividida. Criando uma relação de troca, pois quem fala, fala

esperando uma resposta, pergunta ou simplesmente convence-lo e dando aos constituintes o

direito de responder, concordar, completar e também contestar. A partir desse princípio, os

meios de comunicação se tornam ferramenta para pensar e agir levando em consideração a

criatividade cultural.

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A aceitação da diversidade cultural pode colaborar para a tolerância religiosa, sexual e

muitas outras relações que respingam nas relações humanas. Os grupos organizados têm sido

competentes em levantar o problema, mas devem evoluir para as proposições mais objetivas.

E devem manter a pressão sobre as emissoras, seus organismos de gestão e suas entidades

representativas, para trazê-las à discussão consequente e à disposição de mudar.

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