feira de santana no calor da hora - uefsleguaemeia.uefs.br/4/4_104imagens.pdfpor aqui, atraídas...
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Com uma população que já beira os 600mil habitantes, Feira de Santana vai comple-tando a primeira década do século 21 com aresde metrópole. Obras públicas de vultoimpactam o seu tecido urbano, a exemplo deuma série de viadutos que estão sendoconstruídos no cruzamento das principais viaslocais. O crescimento vertical impulsiona aeconomia e acrescenta novos signos visuais àpaisagem. Recentemente, em pesquisadivulgada pela Gazeta Mercantil, Feira deSantana foi considerada como um dos maisdinâmicos municípios do país: entre 300 mu-nicípios brasileiros com mais de 550 mil habi-tantes, ocupa a 21ª posição. São dados signifi-cativos, não resta dúvida, que destacam o po-tencial da cidade. Mas que escondem seus gra-ves problemas da infra-estrutura, em áreascomo saneamento, segurança, trânsito, uso dosolo, meio ambiente e patrimônio. Produzidono calor da hora, este ensaio fotográfico é umrecorte documental dessas e de outras contra-dições vividas por Feira de Santana nos diasatuais.
FFFFFEEEEE IRIRIRIRIRA DE SA DE SA DE SA DE SA DE SAAAAANTNTNTNTNTAAAAANANANANANAno calor da horno calor da horno calor da horno calor da horno calor da horaaaaa
(Ensaio Fotográf ico e Texto: J. D.)
Juraci DóreaJuraci DóreaJuraci DóreaJuraci DóreaJuraci Dórea (UEFS)
Feira da Estação Nova
FEIRFEIRFEIRFEIRFEIRA DE SA DE SA DE SA DE SA DE SAAAAANT’ANT’ANT’ANT’ANT’ANNANNANNANNANNA
O decreto imperial, de 13de novembro de 1832, des-membrou Feira de Santana daVila de Nossa Senhora do Ro-sário do Porto de Cachoeira,mas a criação do novo muni-cípio só se concretizou em 18de setembro do ano seguinte,após a instalação da CâmaraMunicipal.1 Com isso, o Arrai-al de Santana da Feira passouà condição de vila e tambémde sede do município. Daípara a frente, o crescimento dopovoado, que estava situadona rota das tropas e boiadasque se deslocavam entre o ser-tão e o Recôncavo, foi relati-vamente rápido.
Já em 16 de junho de 1873,mostrando a sua vocação para
as atividades comerciais, a vilapassou a se chamar de CidadeComercial de Feira de Santana.Entre fins do século XIX e iní-cio do século XX, uma ondade prosperidade modernizou oseu espaço urbano, que passoua exibir várias obras públicasimportantes, entre as quais, oMercado Municipal (1914-1915), os coretos das praçasBernardino Bahia (1915),Monsenhor Renato Galvão(1916) e Fróes da Motta (1917),o Grupo Escolar J. J. Seabra(1916), Escola João Florêncio(1917) e o Paço Municipal(1926). O processo de moder-nização contou também coma cumplicidade da sociedadelocal, responsável pela edi-
ficação de dezenas de casarõesque passaram a embelezar acidade, a exemplo da Casa deJoão Pedreira (Palácio do Me-nor), Vila Fróes da Motta,Casa de João Marinho Falcão,Chácara de Tertuliano Al-meida (Solar Santana), Casa deChico Pinto e Casa da Torre,entre outros.
Até os anos 30, a cidadecresceu de forma harmonio-sa, sendo chamada pelo escri-tor feirense Eurico AlvesBoaventura de “Cidade do si-lêncio e da melancolia”2. Pou-co tempo depois, no entanto,o próprio Eurico Alves regis-tra as mudanças da Feira deSantana num texto intitulado“A velha e a nova cidade”. Ex-
plica ele: “Em 1940, daí parafrente, todavia, operou-se re-pentina transformação aqui navida urbana. Como seguropetardo de progresso da noitepara o dia, o comércio sacudiua cidade. Ondas e mais ondasde nortistas, de nordestinos,sobretudo, de nordestinosbem intencionados, por aquibatiam.”3
Vale lembrar que, nessa épo-ca, Feira de Santana havia setransformado em importanteentroncamento rodoviário epor ela passavam obrigatoria-mente nortistas e nordestinosque se dirigiam para São Pau-lo, em busca de melhores con-dições de vida. Muitos dessesmigrantes terminavam ficando
por aqui, atraídas pelo poten-cial da cidade.
Na década de 1960, Feira deSantana voltou a experimentarnovo surto de desenvolvimen-to, com a chegada da industri-alização. A euforia dessa fase,apoiada em incentivos fiscais,durou pouco, como em outraspartes do país. Em conseqüên-cia, muitas indústrias locais fe-charam.
O declínio do parque indus-trial feirense ocorreu no últi-mo quartel do século passadoe coincidiu com uma fase nãomuito promissora para a cida-de. É que o rápido processode urbanização, que alcançouquase todas as grandes cida-des brasileiras nos anos 80, em
decorrência do êxodo rural,também abalou profundamen-te os destinos de Feira deSantana. Diante da ausência deplanejamento e do imobilismodo poder público, Feira deSantana assistiu à deses-truturação do seu espaço urba-no e ao crescimento desor-denado da periferia. Quasenada se fez diante da exacer-bação dos muitos problemassociais que logo surgiram emtodas as áreas. Para completar,ela perdeu ainda, nesse perío-do, referências identitárias fun-damentais, como a feira livre(1977), o Campo do Gado(1986) e a Festa de Santana(1988) e viu seu patrimônioarquitetônico agonizar diante
das pressões econômicas e dainsensibilidade de grande par-te do empresariado local.
Nos últimos anos, entretan-to, as coisas começaram a mu-dar. Atraindo investimentosem áreas diversas e com a pre-sença do poder público de for-ma mais visível, Feira deSantana parece ter encontra-do novamente seu rumo. Da-dos recentes dão conta de que
NOTAS
1 POPPINO, Rollie E. Feira de Santana. Salvador: Itapuã, 1968, p. 24-28.2 Boaventura, Eurico Alves. A cidade do silêncio e da melancolia. A paisagem urbana
e o homem: memórias de Feira de Santana. Feira de Santana, UEFS, 2006, p. 46.3 Boaventura, Eurico Alves. A velha e a nova cidade. A paisagem urbana e o homem:
memórias de Feira de Santana. Feira de Santana, UEFS, 2006, p. 84.
ela voltou a ser um importantepólo econômico regional. Asmudanças já começaram a serefletir no cotidiano dofeirense. Por um lado, elas pro-jetam sonhos, esperanças e féno futuro. Por outro, expõemas fraturas e contrastes sociaise físicos de um espaço urbanoem que convivem simultanea-mente a província e a metró-pole.
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Realizada às segundas-feiras, a emblemática feira livre de Feira de Santana ocupava as principaisruas do centro da cidade. Atraía gente de toda a região, numa expressão pungente de nossa econo-mia e da nossa cultura popular. Em 1977, ela foi transferida para o Centro de Abastecimento,perdendo a espontaneidade e representação cultural. Com o desaparecimento da “Grande Feira”,as feiras livres dos bairros ganharam força, a exemplo das feiras da Estação Nova, do Tomba e daCidade Nova.
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Centro de Abastecimento
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Durante a sua viagem às províncias do Nordeste, em1859, o Imperador D. Pedro II visitou Feira deSantana, interessado em conhecer o Campo do Gado,que era famoso por reunir grandes boiadas nos diasde feira. “Fui à feira, às 11. Pouco concorrida. Qui-nhentos a seiscentos bois quando aparecem 3.000 e4.000. O melhor era da Serrinha, havendo muito bonsbois, sobretudo touros, e sendo em geral gordo todoo gado da feira”, escreveu ele no seu Diário da via-gem, aparentemente satisfeito com o que viu.
Nessa época, o Campoocupava a área que hojecorresponde à praça doNordestino. Após ter fun-cionado em outros luga-res, ele foi transferido, em1986, para a zona rural.Com isso, caiu pratica-mente no esquecimento.Antigos freqüentadoresnão escondem o desen-canto com a situação atu-al: “O Campo acabou!”,dizem num misto de de-sabafo e nostalgia.
Campo do Gado Novo
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O Bando Anunciador integrava os festejos populares realizadosanualmente, em homenagem a Nossa Senhora Santana, padroeirada cidade. Era um cortejo irreverente que reunia figuras populares epessoas diversas da comunidade para anunciar a Festa. A partir de1988, por iniciativa da igreja, a parte da Festa, considerada comoprofana, foi extinta. Em conseqüência, o Bando Anunciador desa-pareceu. Em 2007, o Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA),da UEFS, criou um projeto para resgatar esta manifestação da nos-sa cultura popular. A primeira tentativa deu certo. Em 20 de julhode 2008, o Bando voltou às ruas pela segunda vez.
A Caminhada do Folclore foiidealizada, em 2000, por Tâ-nia Pereira, articuladora cultu-ral do CUCA, com o propósi-to de mostrar o potencial dosgrupos folclóricos da região deFeira de Santana e dos muni-cípios vizinhos.
Sempre realizada através do CUCA,a Caminhada chegou, em 2008, ànona edição, reunindo grupos de ca-poeira, reisado, bumba-meu-boi,repentistas, vaqueiros encourados,burrinha, grupos de samba de rodae de baianas, bandinhas típicas, ca-retas e outras expressões da culturapopular. São, atualmente, cerca de5.000 participantes envolvidos di-retamente no desfile, entre homens,mulheres, adultos e crianças.
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Caminhada do Folclore
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MEMÓRIA EM TRMEMÓRIA EM TRMEMÓRIA EM TRMEMÓRIA EM TRMEMÓRIA EM TRAAAAANSENSENSENSENSE
A partir da década de 1970, o processo de destruição do patrimônio arquitetônico de Feira de Santana tornou-se mais intenso, alcançando, em particular, os prédios edificados entre fins do século XIX e início do séculoXX. Esses prédios formavam um conjunto valioso sob muitos aspectos, inclusive como expressão do Ecletismona Bahia. Sem qualquerpolítica de proteção,quase todos eles foramdemolidos pelo empre-sariado local, ou trans-formados em ruínas,ante o olhar passivo dasautoridades. Só recente-mente a cidade teveseus primeiros monu-mentos tombados peloIPAC (Instituto dePatrimônio Artístico eCultural da Bahia), aexemplo do Paço Muni-cipal, restaurado no anopassado.
Prefeitura Municipal
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Palácio do Menor
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O progresso vem redesenhando rapidamente o mapa e os vários cenários de Feira de Santana. Alguns dessescenários são relativamente recentes, mas já estão enraizados no imaginário feirense. Lugares como o Ferro deEngomar, Usina de Algodão, Kalilândia, Esquina da Prefeitura, Abrigo do Marajó, Asilo Nossa Senhora deLourdes e Igreja dos Capuchinhos, entre outros, são referências físicas, mas são, antes de tudo, paisagenssentimentais de muitas gerações, memória na instável cena urbana feirense.
Esquina da Av. Senhor dos Passos com a Praça João Pedreira Antigo prédio da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
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O desenvolvimento urbano de Feira de Santana se deu de forma predominantemente horizontal,aproveitando a topografia amena da região. Com isso, durante muito tempo, o “prédio do INPS”reinou absoluto na praça Bernardino Bahia, como uma das mais altas edificações locais. A partir dosanos 80, a cidade começou a mudar, optando também pelo crescimento vertical, tendência que já seconsolida nos dias atuais. Completando o quadro de renovação do cenário urbano de Feira da Santana,
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Construção do Viaduto da Cidade Nova Rua Mal. Castelo Branco
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há dezenas de novos condomínios fechados em construção e a edificação de viadutos no cruzamento dosprincipais eixos viários da cidade. Não se deve esquecer ainda a expansão do comércio, que se espalha emtodas as direções e reconfigura inclusive logradouros tra-dicionais, como é o caso da avenida Getúlio Vargas.
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Prédio à Rua Domingos Barbosa de Araújo
Prédio à Rua Nossa Senhora Aparecida
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CENTRO COMERCIALCENTRO COMERCIALCENTRO COMERCIALCENTRO COMERCIALCENTRO COMERCIAL
A visualidade do centro comercial de Feira de Santana está muito próxima do kitsch. À margem dequalquer controle, ela reflete, entre outras coisas, o espírito competitivo e a sensibilidade do empresariadolocal. Nota-se que as fachadas originais dos edifícios praticamente desapareceram sob as imensas placasde identificação. E há ainda o emaranhado dos fios elétricos, postes de iluminação, cartazes diversos emuitos outros penduricalhos compondo a frente dos estabelecimentos. A quantidade de informaçõesparece desorientar o transeunte, que circula com dificuldade pelas calçadas tomadas por produtos,vendedores ambulantes, barracas, tabuletas e outros elementos de publicidade.
Avenida Senhor dos Passos
Avenida Senhor dos Passos
Rua Marechal Deodoro
Avenida Senhor dos Passos
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CIDACIDACIDACIDACIDA DES PDES PDES PDES PDES PAAAAA RRRRRALELASALELASALELASALELASALELAS
As pressões sociais e a incapacidade do poder público de entender as realidades decorrentes do intensoprocesso de urbanização das últimas décadas contribuíram para a ocupação e degradação de inúmerasáreas da cidade. O resultado pode ser percebido em toda parte: no meio ambiente, nas praças, notraçado das ruas, no uso do solo e, sobretudo, na estética urbana. Feira de Santana é na atualidade umacidade de múltiplas faces, distante de suas raízes e repartida entre velhos e novos hábitos.
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Avenida João Durval Avenida Senhor dos Passos
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Situado na faixa de transição entre o Recôncavo e o sertão, o município de Feira de Santana sempre teveuma posição privilegiada no que diz respeito à presença de fontes, nascentes e lagoas. Com o desenvolvimentoda cidade, no entanto, muitos desses mananciais, passaram a ser apenas incômodas referências na paisagemurbana. Sem qualquer preocupação com a preservação ambiental, o feirense vem progressivamenteagred??indo, ocupando, aterrando e comercializando estas áreas.
Juraci Dórea é artista plástico e poeta. Arquitetodiplomado pela Universidade Federal da Bahia e Espe-cialista em Desenho, Registro e Memória Visual pelaUEFS. Obteve o grau de mestre pelo Programa dePós-Graduação em Literatura e Diversidade Culturalda Universidade Estadual de Feira de Santana. Partici-pou, a partir dos anos 60, de numerosas exposições noBrasil e no exterior, dentre as quais: 19ª Bienal Interna-cional de São Paulo (1987), 43ª Bienal de Veneza (1988),3ª Bienal de Havana (1989), Pintura e Escultura do Nor-deste do Brasil, Lisboa (1996) e Projeto Terra, UniversitéParis 8, Vincennes Saint-Denis (1999). Publicou: EuricoAlves, poeta baiano (1978), O cavalo sépia (1979) e Terra(1985).
Lagoa Grande Lagoa Salgada
FOTOS: Julho-agosto de 2008