fe & nexo 3º trimestre 2014

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Lockmann: por uma Igreja madura e missionária Página 4 Departamento Nacional de Música e o som nas igrejas locais Página 12 Revista da Igreja Metodista no Estado do Rio de Janeiro Nº 42 • 3º Trimestre de 2014 Judeus X Palestinos Artigos tratam dessa histórica guerra que divide opiniões entre cristãos Páginas 7 e 9

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Page 1: Fe & nexo 3º trimestre 2014

Lockmann: por uma Igreja madura e missionária

Página 4

Departamento Nacional de Música e o som nas igrejas locais

Página 12

Revista da Igreja Metodista no Estado do Rio de Janeiro Nº 42 • 3º Trimestre de 2014

Judeus X

PalestinosArtigos tratam dessa histórica guerra

que divide opiniões entre cristãos Páginas 7 e 9

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Oremos pela paz em Israel e Palestina

Recentemente, a História registrou mais um sangrento capítulo na interminável guerra entre Israel e a Palestina. O principal confronto

entre eles se dá em torno da soberania e do poder sobre terras que envolvem com-plexas e antigas questões históricas, reli-giosas e culturais. Ao longo dos anos, as tentativas de paz entre eles foram sempre frustradas. Inevitavelmente, esse conflito acaba despertando opiniões divergentes, inclusive entre os cristãos.

Fé e Nexo decidiu, então, trazer esse assunto como destaque desta edição. Por conta da complexidade e seriedade do tema, dois articulistas, sob diferentes pontos de vistas, fazem uma abordagem sobre esse histórico conflito entre judeus e palestinos. Após resgatar a historicidade desse fato, Ricardo Lengruber Lobosco, no artigo Uma guerra sem Deus, objeti-

vamente declara: Não há inocentes em ne-nhum dos lados. No entanto, sob a ótica teológica, ele destaca a postura daqueles que veem os judeus como filhos legítimos da promessa e os palestinos como bastar-dos. Por canto disso, tornam-se defenso-res “povo de Israel”.

No seu artigo, a partir da página 9, pastor Edson Cortasio Sardinha também faz menção às opiniões discordantes sobe o conflito no Oriente Médio. Ele aborda os principais argumentos usados por cris-tãos, que se encontram em lados opos-tos. Os que são a favor de Israel alegam que eles ainda são o “povo escolhido de Deus”. No entanto, existe um grupo que acredita que eles perderam essa condição a partir do momento em que rejeitaram Jesus como o Filho de Deus.

Na verdade, esses dois artigos devem servir de ponto de partida para que os lei-

tores desta revista também pensem acerca desse tema. Opiniões à parte, um ponto mais crucial, que envolve essa histórica guerra, são as vidas, que, em ambos os la-dos, vêm sendo ceifadas. Sobre esse pon-to, não há argumento que justifique tanta morte. Aqui cabe um comentário de Ri-cardo Lengruber. Segundo ele, devemos acreditar num mundo de paz. Para tanto, ele sugere que nos unamos em torno de ideias de humanização.

Enfim, não podemos, diante de ques-tões tão complexas, perder o discerni-mento a ponto de ignorar o valor de uma vida. Para Deus, certamente, elas são va-liosas. Sobre a paz em Israel, continue-mos orando por ela.

Boa leitura!

Nádia MelloEditora

Teologia e História do MetodismoO livro Teologia e História do Metodismo, de Uriel Teixeira, é uma boa opção para quem deseja conhecer a fundo as raízes do metodismo. A obra expõe em detalhes a história desse movimento que surgiu no século XVIII. O livro faz uma síntese sobre as vertentes do metodismo tanto em termos religiosos como do ponto de vista filosófico teológico.

O autor da obra, pastor Uriel Teixeira, é formado em Teologia pelo ISEDET (Argentina) e em filosofia pela Universidade de Mogi das Cruzes. Uriel foi professor do Instituto Metodista Bennett, lecionando nos cursos de Economia, Artes, Administração, Direito e Arquitetura, dando aulas de Antropologia, Ética, Teologia e Cultura. Aproveite e adquira pela Editora Chama.

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Bispo da Primeira Região EclesiásticaPaulo Lockmann

Conselho Editorial

Coordenador Ronan Boechat de Amorim Selma Antunes da CostaNádia MelloPablo MassolarLuiz DanielGláucia MendesCamila AlvesCarla TavaresPaulo Welte Jarbas de SouzaEditoraNádia Mello (MT 19. 333)Assistentes de redaçãoCamila AlvesCarla TavaresRevisãoEvandro TeixeiraDiagramaçãoEstúdio Matiz

Circulação: 11.000 exemplaresEsta publicação circula como suplemento do Jornal Avante, não sendo, portanto, distribuída separadamente.

Rua Marquês de Abrantes, 55, Flamengo Rio de Janeiro – RJ – CEP 22230-061

Tel: (21) 2557-7999 / 2557-3542Site: www.metodista-rio.org.brTwitter: @metodista1reFacebook: www.facebook.com/metodista1re

4 Por uma Igreja madura e missionária

7 Uma guerra sem Deus

9 Conflito no Oriente Médio: contra ou a favor de Israel?

12 O suave som musical nas igrejas locais

14 Uma dedicação exemplar

CALENDÁRIO LITÚRGICO

Tempocomum–VivênciadoReino

A segunda parte do Tempo Comum, que também é o período mais longo, começa na segunda-feira após Pentecostes e dura até a véspera do Primeiro Domingo do Advento, quando tem início o Ciclo do Natal. Sua espiritualidade comemora o próprio ministério de Cristo em sua plenitude, principalmente aos domingos, e enfatiza a vivência do Reino de Deus e a compreensão de que os/as cristãos/as são o sinal desse Reino. Se na primeira parte do Tempo Comum a ênfase é o anúncio, na segunda é a concretização do Reino de Deus.

SímbolosparaoPrimeiroTempoComumFlores (sinalizando a Criação e a Nova Criação – consciência ecológica); feixe de trigo (sinalizando a colheita e os frutos da terra); a pesca / rede com peixes (sinalizando a missão do Reino); a mesa (representando a fartura e a comunhão); o triângulo (representando o equilíbrio e a constância necessários ao cotidiano cristão); e a coroa (sinalizando a consumação plena do Reino de Deus).

Cor:verdeSugerimos como material simbólico para a ambientação litúrgica do primeiro período do Tempo Comum

(Extraído do Calendário Litúrgico oficial da Igreja Metodista)

Fotos capa: Dreamstime.comJudeu: Bernhard RichterPalestino: Jeroen Van Oostrom

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1º caso: Eu, Paulo, vos digo se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará (Gl 5.2). Aqui ele está ensinando aos ir-

mãos da Galácia que a maturidade não está no rito, conforme tentavam enfati-zar judeus-cristãos vindos de Jerusalém, possivelmente os mesmos que haviam se confrontado com Paulo e Barnabé por ocasião do Concílio em Jerusalém. Paulo vai mostrar que a maturidade está em viver na liberdade do Espírito Santo, a qual está limitada apenas pelo amor com que devemos nos amar uns aos ou-tros que, por sinal, é um fruto do Espí-rito (Gl 5.13 e 22). Na verdade, o que importava era o significado que o ritual transmitia, e não ele em si mesmo.

2º caso: Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos... Ainda que eu tenha o dom de profetizar... (1Co 13. 1 e 2). Aqui Paulo en-

sina que os dons do Espírito Santo são rudimentos básicos da experiência cristã, mas não são sinais de maturidade cristã. Novamente, a maturidade cristã é repre-sentada pelo Amor.

Poderíamos apresentar muitos outros exemplos onde Paulo, o apóstolo, para corrigir comportamentos imaturos, es-creveu, orientando e mostrando o cami-nho a seguir para que a Igreja se tornasse madura, santa e irrepreensível.

De igual modo, a forma de apresen-tar o Evangelho do Senhor Jesus, por Mateus e sua comunidade, traduz o es-forço de levar a Igreja a uma experiência crescente de amadurecimento. Esse pro-pósito está evidente nos sinais de matu-ridade da Igreja de Mateus que vamos mostrar a seguir:

Outrossinaisdematuridadedaigrejaprimitiva

1. Perdão e reconciliação(...)ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão ... (Mt 5.23-24).

Praticamente, o texto fala por si mes-mo. Mas recordemos algumas questões. Ou seja, o culto a que Jesus se refere é o culto judaico, onde a oferta oferecida no

altar tinha caráter expiatório. Portanto, quem a trouxesse para expiação de peca-dos não deveria permanecer em pecado, deveria acertar sua vida perante os ho-mens e mulheres, e, então, sim, fazer sua oferta pelo pecado.

Este tema deve por isso ser recoloca-do na comunidade de Mateus e na nos-sa, em dois contextos da vida da Igreja. O primeiro no contexto da Ceia do Se-nhor, onde se dá a expiação de pecados, ato memorial que atualiza o sacrifício definitivo do Filho de Deus pelos nos-sos pecados. Não é à toa que o apóstolo Paulo adverte que quem come do pão e bebe do vinho sem discernir o corpo e o sangue do Senhor come e bebe juízo para si mesmo (1Co 11. 29). O segundo momento era o da oferta para os pobres e a missão, comuns nos cultos da igreja primitiva; tratava-se do momento de de-dicação a Deus. Alguns vendiam o que tinham para ofertar (At 2.45; 4. 36-37). Este momento era o da consagração pes-soal a Deus, Igreja e sua Missão. Não se supunha, nem se esperava que alguém se acercasse da mesa do Senhor, ou do altar da consagração estando com dívida

Reflexãobíblica

Por uma Igreja madura e missionária

Oqueématuridadecristã?OensinopastoraldePauloàsigrejasnosforneceinstrumentos

práticosparailustrararespostaaessapergunta.

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pendente com um irmão ou irmã. Aqui, dívida pode ser entendida da forma mais ampla possível. Por exemplo, algo que me prende a alguém, impede-me de ter paz e comunhão com esta pessoa, não me per-mitindo olhar nos olhos dela e dizer: “Eu amo você no Senhor Jesus meu irmão”.

Mas o tema do perdão tem no pró-prio Sermão do Monte outra implica-ção; vejamos: ...e perdoa as nossas dívidas, assim como temos perdoado aos nossos de-vedores...; ou ainda: ...porque se perdoar-des aos homens e mulheres as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens e mu-lheres, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas. (Mt 6. 12, 14-15). Aqui a questão vai além da Ceia do Senhor e da oferta de consagração, pois a questão toca na perda da Salvação. A abordagem é clara e direta: quem não perdoa ao seu próximo, não será perdoado por Deus. Tema que retorna na parábola do credor incompassivo, o qual foi perdoado, e depois recusou perdoar o seu próximo, e, por isso, foi preso e entregue ao car-rasco, e a parábola termina com a frase: ...Assim também meu Pai Celeste vos fará,

se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão. (Mt 18. 13-35). Esta parábola fala em perdoar no íntimo, atitude in-terior. Estou certo de que algumas das nossas igrejas locais vivem retornando a velhos conflitos, porque não houve per-dão de fato. Com isso, perde-se a bênção de Deus, do seu perdão, enfim do seu Espírito. Isso sem contar os lares, onde pessoas líderes na igreja estão sem falar com esposos, esposas, filhos, ou mesmo sogro, sogra, ou outros familiares. Com isso, não somente perdeu a salvação, como atraiu opressão sobre si mesmo, sobre sua família e igreja.

Por isso, hoje, o tema do perdão, da reconciliação, continua sendo vital. O absurdo é que muitas vezes as pessoas usam expressões que denotam seus maus sentimentos, em relação ao irmão ou irmã, dizendo: “Eu o perdoo, mas não esqueço.” Em ambos os casos, não hou-ve perdão, muito menos reconciliação. Aliás, a evidência de que houve perdão é a reconciliação, pois um não existe sem o outro. Deus, ao nos perdoar, nos re-conciliou com Ele em Cristo; passamos a ter acesso direto a Deus, porque fomos

perdoados e reconciliados (2Co 5.18-19; Ef 2. 14-16). Nossa sociedade ca-rece urgentemente deste ministério, pois famílias estão destruídas, doentes, por falta de perdão e reconciliação. Quanto mais a sério a Igreja tomar esse desafio de anunciar o perdão maior será o re-sultado de sua pregação como um todo.

2. amor e misericórdiaEstava claro para Jesus que perdão só procede de um coração que ama, e amor vem de Deus, pois Ele é amor (1Jo 4. 8). Mas, no caso do texto de Mateus, a questão do perdão ilustrou o primei-ro exemplo da nova lei do Evangelho. Quando Jesus começa a reinterpretar a Lei dos judeus, o mandamento usado é: não matarás! Deste mandamento surge o tema do perdão, pois não devemos nem permitir que a ira nos domine na relação com os irmãos e irmãs. Em função disto que surge o tema da reconciliação ao le-varmos a oferta.

É interessante notar que o ensino de Jesus vai certamente de encontro a situa-ções práticas da vida da comunidade de Mateus, pois trata dos relacionamentos,

Meus irmãos, não existe fé sem compromisso,

mudança de caráter e de vida. Isso que Jesus estava

ensinando, e a comunidade de Mateus aprendeu.

Trata-se do o caminho para a maturidade cristã

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desentendimentos entre irmãos, dívidas, desentendimentos na família, adultério, os juramentos que eram feitos como forma de compromisso, a vingança que, segundo o Antigo Testamento, era uma forma de aplicação da justiça, por isso o famoso: ...olho por olho, dente por dente... Aqui, então, o Senhor afirma enfatica-mente o tema do amor.

Jesus não somente corrige a lei do di-reito à vingança, como inverte a lógica, ao dizer: se alguém te ferir na face direita, dá-lhe também a esquerda. Esse princípio subverte completamente a ética judaica, passa a ser fundamento e natureza do ser cristão. As guerras no Oriente Médio entre árabes e israelenses seguem a ética do “olho por olho”, são guerras “santas”. Todas as agressões podem ser justificadas no Corão ou no Antigo Testamento, me-nos no Novo Testamento. Infelizmente, a raiz dos conflitos que vivemos ainda hoje, entre nações, famílias, e irmãos na igreja é falta de conversão ao cristianis-mo. Há, inclusive, líderes evangélicos que se sentem no direito de amaldiçoar os seus adversários, contrariando fla-grantemente o ensino de Jesus e de Pau-lo: ... abençoai os que vos perseguem, aben-çoai e não amaldiçoeis (Rm 12. 14). O tema do amor é, então, consequência da inversão da lei da vingança, pois já não se devia odiar os inimigos, mas amá-los, e orar pelos que nos perseguem.

Você diria: “Mas isso é muito di-fícil, quase impossível”. Eu respondo

que você nem eu temos escolha, pois não amar os nossos inimigos nos colo-caria como alternativa, odiá-los. Com isso, não poderíamos perdoá-los, e sem perdão não há salvação, e por isso nos resta o inferno. Estou sendo muito duro? Exagerado? Não creio, até porque eu estou dizendo o que o Senhor Jesus ensinou no texto do Sermão do Mon-te. O problema é que nós lemos pouco a Bíblia, e preferencialmente, lemos os textos que não nos ameaçam. Mateus de 5 a 7 pede conversão, quebrantamento, arrependimento, confissão, para então nos garantir as bem-aventuranças. Meus irmãos, não existe fé sem compromis-so, mudança de caráter e de vida. Isso que Jesus estava ensinando, e a comu-nidade de Mateus aprendeu. Trata-se do caminho para a maturidade cristã. Sim, sem amor e misericórdia, sem perdão e reconciliação, podemos ter uma boa co-munidade “religiosa”, mas não seremos a Igreja de Cristo Jesus.

Maturidadecristã,caminhoparaumaigrejamissionáriaSeguramente, nós temos recebido bên-çãos incontáveis com a ênfase na evange-lização, por meio de dons e ministérios, e na busca de ser uma Igreja Missionária a Serviço do Povo. Nossas igrejas, em sua maioria, estão cheias, novos mem-bros são recebidos todos os meses, assim como novos pontos missionários são abertos; cada vez mais congregações es-

tão pedindo sua emancipação como igre-jas autônomas.

Isso nos faz felizes. Estamos vivendo a paixão de João Wesley; estamos ganhan-do vidas para Jesus. No entanto, conti-nuo preocupado com a maturidade cristã desses novos membros. Você, igreja; você pastor ou pastora, ao batizarem essas pessoas, assumem como igreja a respon-sabilidade de orientá-las, instruindo-as no caminho do discipulado, como João Wesley enfatizou. Estamos estimulando em nossas igrejas a formação de grupos pequenos, com vistas a compartilhar, orar e estimular os membros à maturi-dade cristã. Cada pastor deverá preparar lideranças leigas maduras, com o fim de organizar esses pequenos grupos de cres-cimento na experiência cristã, comunhão e oração.

Assim, estaremos preparando nos-sos membros a saberem responder sobre sua fé, não sendo presa fácil de qualquer vento de doutrina. Para isso, precisamos também da ênfase fundamental no tra-balho da Escola Dominical. Com to-das essas preocupações e ênfases levadas a sério, sim, estaremos edificando uma Igreja Metodista, verdadeiramente co-munidade missionária a Serviço do Povo, e que faça diferença na História do nosso Brasil.

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Primeira Região Eclesiástica

Sem amor e misericórdia, sem perdão

e reconciliação, podemos ter uma boa

comunidade “religiosa”, mas não seremos

a Igreja de Cristo Jesus

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Uma guerra sem Deus

Um dos principais pontos de dis-cordância era a existência de projetos nacionalistas diferen-tes. Discordavam sobre o que

seria uma Palestina independente: uma Palestina árabe ou um Israel judaico? São projetos nacionais que disputam o mes-mo território, que desejam criar um tipo de comunidade política em que o outro projeto não está incluído.

Gaza e Cisjordânia se mantiveram sob ocupação estrangeira árabe até 1967, quando a Guerra dos Seis Dias, entre Israel e as nações vizinhas, resultou na ocupação israelense da Faixa de Gaza e da Cisjordânia (incluindo a parte orien-tal de Jerusalém). A partir daí, Israel as-sumiu uma política de colonização de Gaza e da Cisjordânia com judeus, por meio de assentamentos. Por vários anos, a ONU considerou a ocupação dos ter-ritórios palestinos ilegal e determinou que Israel retornasse às fronteiras pré-1967, o que tem sido ignorado pelo go-

verno israelense. Essa guerra (de 1967) é o núcleo da problemática mais recente. É o empecilho da solução de dois Esta-dos [Israel e Palestina].

Apenas em 2005, Israel decidiu retirar seus colonos e militares da Faixa de Gaza, entregando sua administração à Auto-ridade Nacional Palestina (ANP). Ape-sar disso, Israel continuou a controlar as fronteiras e o acesso marítimo a Gaza. Na Cisjordânia, pouco mudou já que a políti-ca de assentamentos judaicos e a ocupação militar do território continuaram. Ainda hoje, grande parte desse território pales-tino tem sua administração civil e militar concentrada nas mãos de Israel.

Apesar da devolução de Gaza aos palestinos, o território passou a ser o principal foco de problema do conflito israelense-palestino, já que, em 2006, o Hamas, movimento fundamentalista is-lâmico, venceu as eleições parlamentares palestinas. Em seguida, o Hamas rom-peu com o Fatah, organização política e

militar palestina, tomando o controle de Gaza, enquanto seu rival político manti-nha o controle sobre a Cisjordânia.

Visto como um grupo terrorista por Israel, pelos EUA e por países europeus, o Hamas sofreu uma série de sanções por parte desses países. O governo israelense ampliou a vigilância sobre Gaza, aumen-tando seu controle sobre as fronteiras e restringindo a circulação de produtos e pessoas entre os dois territórios. Desde então, houve uma série de confrontos abertos entre as duas partes: o governo israelense e o Hamas.

Além dos confrontos abertos que resultaram em centenas de mortes (na maioria, de palestinos), a relação entre israelenses e palestinos nas últimas dé-cadas tem sido marcada por atentados, conflitos entre militares israelenses e ci-vis palestinos, intifadas (revoltas popula-res) e tentativas frustradas de acordos de paz. Entre os principais pontos de desa-cordo estão: 1) a divisão de Jerusalém, R

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em Gaza sofrem imensamente. Uma vasta proporção é afetada pelo regime de desnutrição imposto pelo bloqueio israelense. A prevalência de anemia en-tre menores de dois anos é de 72,8%; os índices registrados de síndrome consup-tiva, nanismo e subpeso são de 34,3%, 31,4% e 31,45%, respectivamente. E estão piorando. Quando Israel está em fase de ‘bom comportamento’, mais de duas crianças palestinas são mortas por semana – um padrão que se repete há 14 anos. As causas de fundo são a ocupação criminosa e os programas para reduzir a vida palestina à mera sobrevivência em Gaza. Enquanto isso, na Cisjordânia os palestinos são confinados em regiões in-viáveis, e Israel toma as terras que quer, em completa violação do direito interna-cional e de resoluções explícitas do Con-selho de Segurança da ONU – para não falar de decência.”

O Exército israelense, o quarto maior do mundo, mas o mais moderno e sofis-ticado do todos, sabe a quem mata. Não mata por engano. Mata por horror. As ví-timas civis são chamadas de “danos cola-terais”. Em Gaza, de cada dez “danos co-laterais”, três são crianças. E somam, aos milhares, os mutilados, vítimas da tecno-logia do esquartejamento humano, que a indústria militar está ensaiando com êxi-to nesta operação de limpeza étnica.

Não há inocentes em nenhum dos lados. De Israel, um governo reacionário que entende como sua a terra e exclusi-vamente seu o direito, sem falar numa população que apoia ou cala cinicamente perante o terror perpetrado por seu go-verno; da Palestina, uma liderança extre-mista que tem como arma o terrorismo clássico onde gente simples vira moeda de troca sem muito valor, com muito sangue e horror.

Teologicamente, há quem pense em Israel como o legítimo filho da promessa; e nos Palestinos como bastardos que não têm os direitos a que hoje reclamam. Isso é equivocado. Ler a Bíblia sob essa ótica

é reduzi-la e fazê-la dizer para o mundo contemporâneo verdades que estão cir-cunscritas a um outro tempo. Anacro-nismo. A perenidade da Bíblia está na sua capacidade de nos revelar o caráter de Deus: partidário dos que sofrem; soli-dário com os que morrem.

E, nesse pormenor, convém ler a história de Hagar (e seu filho bastar-do!) e descobrir que foi Deus quem foi salvá-la da morte no deserto, depois de expulsa por Sara e Abrão (os pais legíti-mos!). Convém ler as histórias do Egito opressor, de onde Deus fizera libertar os israelitas; mas é preciso não se esquecer do mesmo Egito que foi refúgio para o pequeno Jesus e sua família quando He-rodes os ameaçava de morte.

Não há lugares, povos e pessoas ab-solutas na Bíblia. Há, isso sim, a opção preferencial de Deus pelas vítimas que sofrem. Não importa seus nomes ou “de que lado estejam”. Se há vítimas, Deus está com elas. Sofre com elas. Eu creio assim: se hoje há um rosto para Deus no Oriente Médio, esse rosto é árabe--palestino, porque é aí que está o so-frimento. Mas não apenas aí. Antes de sermos “descendentes” do povo de Deus (Israel), somos discípulos de Jesus (que sofreu numa cruz como as vítimas desse mundo de terror).

Como cristãos que ousamos acreditar num mundo de paz, creio devamos nos unir em torno de ideias de humanização desse nosso tempo. Um clamor – poli-ticamente concreto junto a governos – pelo repúdio ao expansionismo violento e violador dos Direitos Humanos por parte de Israel e do Hamas talvez seja um bom começo. Fato é que não há lado com razão; há pessoas morrendo inutil-mente. Isso precisa de um basta.

Não creio que Deus esteja desse ou daquele lado; apenas chora cada criança que sofre. Está na cruz outra vez.

RicaRd o le n g Ru B e R loB osco

Pastor metodista

2) a retirada dos colonos israelenses de terras palestinas, 3) o retorno de refugia-dos das guerras árabe-israelenses a suas antigas terras e 4) o reconhecimento da Palestina como Estado independente.

Nos últimos dias, tem-se acompa-nhado a intensificação do conflito na Faixa de Gaza. Até o momento, mais de 260 pessoas morreram e 2 mil ficaram fe-ridas na sequência dos ataques iniciados em julho. A nova espiral de violência foi desencadeada após o sequestro e homi-cídio, em junho, de três jovens judeus na Cisjordânia (um ataque que Israel atribuiu ao Hamas, grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza) seguido da morte de um jovem palestino queimado em Jerusalém por extremistas judeus. A partir daí, tiveram início os lançamentos de foguetes do Hamas e os bombardeios de Israel.

O linguista judeu, radicado nos EUA, Noam Chomsky ajuda a com-preender a dor do momento: “Um bom retrato está disponível num relatório da UNRWA (a agência da ONU para refu-giados palestinos). As crianças palestinas

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Cristãos a favor de Israel

De um lado, temos milhões de cristãos comprometidos, que creem que os judeus perma-necem o “Povo escolhido de

Deus”, e que a terra de Israel permanece a Terra Prometida por Deus àquele povo. Esses cristãos creem que as ondas de imi-gração de judeus para a histórica Terra de Israel, que começaram no final dos anos 1800, e o renascimento de um Estado nacional judeu independente naquela terra, são cumprimentos de profecias bí-blicas e, como tal, estão alinhadas com o plano pré-ordenado de Deus.

Eles esperam ansiosamente que essa reconstrução física seja seguida por um despertar espiritual e um reavivamento nacional em Israel, que significará “vida dentre os mortos” para toda a humani-dade. Eles creem que todas as nações do mundo que rejeitaram a Deus virão – e já estão vindo – e se posicionarão contra Israel e contra aqueles que se colocarem ao lado de Israel.

Assim, esses cristãos entendem que a vontade e o propósito de Deus são que eles se aliem a Israel e façam sua parte em confortar, encorajar e apoiar o an-cestral “povo de Deus” de inúmeras ma-neiras, especialmente em face de uma hostilidade sempre crescente por parte da comunidade internacional.

E eles entendem que o maior produ-tor dessa inimizade coesa contra Israel é a mídia noticiosa global, que descarada-mente patrocina a versão muçulmana/árabe sobre a história do Oriente Médio e a posse da terra, e rejeita a versão judaico--cristã que se baseia na Palavra de Deus, nos direitos históricos e nas reivindicações do povo judeu, e na lei internacional.

De acordo com esses cristãos: Deus deu incondicionalmente a Terra de Ca-naã (que inclui pelo menos toda a área que hoje está debaixo do controle is-raelense), exclusiva e irrevogavelmente para a descendência de Israel, o neto de Abraão. Essa descendência perdeu o direito de viver naquela terra porque foi infiel ao Senhor. Deus, por meio da

Babilônia e depois de Roma, expulsou--os de seu país, permitindo que outras nações governassem sobre a terra deles pelo tempo da duração de seu exílio. E Deus prometeu que, depois do segun-do exílio, Ele os ajuntaria novamente na terra e os manteria lá.

Os judeus nunca renunciaram ao direito documental de sua terra natal histórica. Nenhum outro grupo de pes-soas jamais estabeleceu sua terra natal naquele território. O Império Otomano perdeu essa terra (e outras) quando foi derrotado na Primeira Guerra Mun-dial, e os vitoriosos naquele conflito escolheram criar diferentes Estados in-dependentes no recentemente libertado Oriente Médio. Finalmente, 21 Estados foram estabelecidos para a nação árabe. Na Declaração Balfour, foi prometido o estabelecimento de apenas um pequeno Estado para a nação judaica – dentro das fronteiras de sua antiga terra, à época conhecida como Palestina.

A Liga das Nações ratificou a De-claração Balfour e, em San Remo, em

REPORTAGEM

Reflexãobíblica

Conflito no Oriente Médio: contra ou a favor de Israel?

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1923, estabeleceu-a em lei internacio-nal – lei esta que permanece até hoje, de acordo com a Carta das Nações Unidas. A Grã-Bretanha recebeu a tarefa de super-visionar a implantação daquela lei. Para apaziguar os árabes violentamente intran-sigentes, que exigiam soberania sobre toda a terra, os britânicos traíram os judeus, fechando uma potencial rota de escape para os judeus europeus, mesmo quando o Holocausto já se delineava.

Como resultado da carnificina de um terço da população mundial dos judeus, as Nações Unidas votaram a divisão de uma fatia do território original da Pales-tina entre os judeus e os árabes, mas de-pois planejaram revogar aquela resolução para novamente aplacar os clamorosos Estados árabes.

O povo judeu, por sua própria inicia-tiva, e totalmente dentro de seus direitos, baseados em fatos bíblicos, históricos e legais, declarou a independência e o re-nascimento, após 2000 anos, de seu Es-tado Judeu independente. Nos 64 anos desde então, o mundo árabe tem busca-do repetidas vezes apagar essa realidade, forçando os israelenses a enfrentarem pelo menos uma guerra a cada década e a suportarem ataques terroristas para des-truir Israel e matar seu povo, durante 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Mesmo assim, o Estado Judeu tem prosperado, evoluindo para ser uma potência econômica, tornando-se um exemplo de democracia e modelo de di-reitos humanos e civis no Oriente Mé-dio. Mas o antissemitismo, a maior parte dele camuflado com um disfarce mais politicamente correto de antissionismo, tem difamado Israel incansavelmente. Relatos diários de notícias falsas e enga-nosas, e favoritismos pró-Palestina, sub-jetivos e descarados, mascarados como jornalismo, têm sido explorados oportu-nisticamente pelas nações, mais interes-

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sadas em assegurar seu acesso ao petróleo árabe do que em seguir o caminho do que é correto e justo, moral e eticamente.

A despeito disso, a Bíblia promete que Israel sobreviverá, superará tudo, prospe-rará e florescerá, e que, um dia, será no-vamente elevado à posição de destaque, como cabeça das nações do mundo, em vez do que tem sido até agora – a cauda. Para esses cristãos, tomar o partido de Is-rael em tudo isso é tomar o partido dos propósitos de Deus e contra um mundo que odeia a Deus. A fé deles significa que não podem fazer nada menos que isso.

Cristãos Contra Israel

Do lado oposto desses milhões estão outros milhões de cristãos professos e comprometidos que defendem uma convicção tão

contrária à daqueles que se torna impossí-vel uma reconciliação entre os dois lados.

Essas pessoas creem que, já que Israel como nação rejeitou Jesus, perdeu seu status especial e já não pode afirmar ser o “povo escolhido de Deus”. Eles creem que a “Igreja” (não necessariamente alguma denominação em particular, mas o “Cor-po de Cristo” global) substituiu Israel, e que os cristãos – pela exclusão do Israel nacional – agora são os eleitos de Deus.

Essas pessoas creem que, após a vida de Jesus na terra, e com a supressão cruel da rebelião judaica por Roma – a des-truição de Jerusalém e o banimento dos sobreviventes judeus para o exílio – a Terra de Israel perdeu todo o significado no que diz respeito ao plano de redenção de Deus para o mundo; o Senhor “já não se preocupa mais com territórios”.

Os judeus banidos e seus descenden-tes já não possuem um propósito nacio-nal; suas esperanças de um dia retorna-rem à sua antiga terra não são nada mais

que sonhos vãos; suas orações para retor-narem foram sempre ilusórias. Portanto, para esses cristãos, o fluxo de milhões de judeus para a Palestina (posteriormente Israel) tem sido um acontecimento por acaso; nada mais que uma reação instin-tiva a uma perseguição antissemítica. E a criação do Estado de Israel, em 1948, foi simplesmente uma ocorrência política – um “acidente”, como muitos afirmam – não tendo nada de profético.

Eles consideram a hostilidade do mundo contra Israel como uma resposta adequada ao “comportamento ímpio” – e cada vez mais da “ilegitimidade” – do Estado Judeu, como é veiculado inces-santemente pela imprensa. Conforme os relatos da mídia, a lista de crimes de Israel é deveras longa. Esses cristãos escolheram crer nela. Portanto, eles entendem que:

A Declaração Balfour foi um ato ilegítimo perpetrado pelo Império Bri-tânico colonizador e, como tal, não tem nenhuma validade. Depois da Segunda Guerra Mundial, as potências mundiais, levadas pela culpa por causa do Holo-causto, realizaram a criação de um Esta-do Judeu em cima de “terras ancestrais árabes” à custa do povo nativo dali, a sa-ber, os árabes. Usando o poderio militar, Israel purificou etnicamente essas terras árabes de seus proprietários legais, esta-belecendo seu Estado por meio da força e criando uma crise de refugiados pales-tinos pela beligerância.

Não satisfeitos com o território que tinham após 1949, os israelenses se tor-naram provocadores, por meio de repe-tidas agressões contra os árabes, esten-dendo seu controle sobre mais e mais terras, e causando cada vez maior miséria aos palestinos. Israel é uma potência que ocupa o território palestino, e, enquanto sucessivos governos israelenses falam da boca para fora clichês sobre a paz, conti-nuam a construir obstáculos para a paz e

a tornar cada vez mais difícil a sua remo-ção pelas Nações Unidas.

Os árabes palestinos têm direitos na-cionais históricos à Margem Ocidental e, na verdade, a todo o território atualmente sob o controle israelense. Os judeus rou-baram a terra dos árabes. Em seus esforços para suprimir os protestos legais dos ára-bes e os esforços dos mesmos para read-quirirem as terras, as Forças de Defesa de Israel lançam mão frequentemente do uso da força excessiva, e são culpadas de crimes de guerra e de crimes contra a humanida-de. Israel rouba as terras árabes, impede os árabes de terem acesso à água, destrói as plantações de oliveiras dos árabes, levan-ta muros de apartheid, atira contra civis árabes, espalha Aids e outras doenças de propósito entre as populações árabes ao redor de Israel, ameaça o mundo árabe/muçulmano com armamentos nucleares.

Destituídos de toda esperança em face da tremenda força israelense, os pobres pa-lestinos são deixados sem nenhum recurso a não ser usar quaisquer armas nas quais consigam colocar as mãos, inclusive seus próprios corpos, para garantirem que sua justa causa não seja esquecida. A resposta do mundo é a criação de um Estado Pa-lestino, mas nem esta solução de negocia-ção é aceitável para Israel. Israel prefere ter conflitos contínuos a ceder às exigências de renunciar às terras sobre as quais não tem direito algum.

Para esses cristãos, estar contra Israel é obedecer à ordem de Deus de clamar contra a injustiça e apoiar aqueles que são criminalmente oprimidos. Para eles hoje os Palestinos que são o Povo de Deus, pois é o povo que mais sofre e Deus sempre está ao lado dos sofredores.

A fé deles significa que não podem fazer nada menos que isso.

De que lado você está?

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O suave som musical nas igrejas locais

Amados irmãos e irmãs, o De-partamento Nacional de Mú-sica e Arte da Igreja Metodista tem se preocupado muito com

a qualidade da música e da arte apresen-tada às igrejas locais. Tenho ministrado palestras em algumas delas e aprovei-tado a oportunidade para deixar uma mensagem simples e verdadeira: “Uma igreja local que possui um Ministério de Música e Arte que saiba emitir um suave som, afinado, ungido, numa intensida-de equilibrada, ele ajudará o/a pastor/a a conquistar discípulos e discípulas para essa igreja. Porém, se isso não acontece, o efeito será contrário, ou seja, a música irá afastá-los”.

No que tange ao desempenho musical e sonoro das citadas igrejas, percebo que ainda há um longo caminho a percorrer. Dessa vez, torno público neste artigo a questão da intensidade e da qualidade do sistema de sonorização da Igreja. Na Faculdade de Música, essa matéria é cha-mada de dinâmica musical. Os Ministros de Música e Arte bem como os técnicos de som precisam perceber que tocar bem não é tocar alto; cantar bem não é can-

tar alto, acima do limite permitido. Os nossos ouvidos possuem um limite de alcance/captação do som. Esse alcance é medido em decibéis, e o limite máximo permitido na legislação brasileira, de ex-posição a sons é de aproximadamente 80 decibéis.

Creio que esse deve ser o grande de-safio das Igrejas locais nos dias de hoje, o de ouvir e ouvir bem, ouvir com qua-lidade um doce e suave som, quer seja no grupo de louvor, coral, solo, dueto, quarteto, etc. Nessa vida, tudo o que é oferecido em dose excessiva faz mal à saúde, e o som também está inserido nesse contexto. Conforme registra 2 Reis 3.15, quando o profeta solicitou a presença do músico, no meu enten-dimento, o som emitido por ele foi tão perfeito que a mão do Senhor veio sobre o profeta: Ora, pois, trazei-me um músico. E sucedeu que, tocando o músico, veio sobre ele a mão do Senhor.

Para fins de informação, cerca de 15% a 20% da população brasileira ouve um pequeno zumbido em um ou nos dois ouvidos. A ciência prova que o zum-bido é um dos principais sintomas que dá

início ao processo da perda de audição. E cerca de 30 a 35% das perdas de audição são creditados à exposição a sons inten-sos, acima dos limites estabelecidos pela medicina. A partir do limite de aproxi-madamente 80 decibéis, o ser humano corre um grande risco de perda auditiva dependendo da intensidade do som (vo-lume) e também do tempo de exposição dessa pessoa ao ambiente do som.

Convém ressaltar que nossos cultos variam de uma hora e quarenta minutos a duas horas. Se o momento musical du-rar cinquenta minutos (sem contar com a mensagem que, às vezes, é muito alta) contando com os cultos matutino e ves-pertino, além das programações durante a semana e aos sábados, há uma exposição de aproximadamente cinco a seis horas semanais a um som acima da capacidade permitida. Não tem ouvido que resista tamanha agressão! Isso sem falar das pes-soas que, apropriando-se do apogeu da modernidade eletrônica, utilizam seus modernos aparelhos celulares com os “fo-nes de ouvido” e ficam às vezes ouvindo música o dia inteiro a uma intensidade de 110 decibéis ou mais.

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Coordenador do Departamento Nacional de Música e Arte da Igreja Metodista

A maneira como os instrumentos musicais são executados nas igrejas locais, e também como os ministros cantam, de-vem ser analisados e corrigidos. A inten-sidade das notas pode variar ao longo de uma música. Isso é chamado de dinâmica musical. Amados, normalmente, um som musical possui três particularidades: al-tura, timbre e intensidade. Chamamos de altura tudo o que está relacionado à frequência do som. Normalmente, essa frequência é assinalada pelo maestro pela posição da nota na partitura.

Por exemplo: em um quarteto vocal, a voz mais baixa é o “baixo”, e a voz mais alta (aguda) é o “1º Tenor”. O timbre já é a propriedade que nos consente apon-tar entre uma nota da mesma altura e intensidade causada por instrumentos di-versos, como, por exemplo, um saxofone ou um trombone. A intensidade sonora refere-se à potência com que a onda so-nora atinge nossos ouvidos. Para mostrar a intensidade do som executado por uma nota ou trecho musical, o maestro utili-za uma espécie de tabela que vai desde o molto pianissimo (intensidade sonora mínima, quase inaudível) até o molto fortissimo (o máximo de intensidade so-nora que se pode obter sem danificar a voz ou o instrumento).

É de praxe que o coordenador do Mi-nistério de Música e Arte e também aque-le que lidera o sistema de sonorização se reúnam periodicamente, a fim de traça-rem as diretrizes de música e som com ensaios, afinação e teste dos instrumen-tos musicais, além de teste e regulagem do P.A. (Sistema de Som), incluindo os microfones, os retornos, as caixas acústi-cas e os cubos. Tudo isso para que o culto transcorra da melhor forma possível. Para tanto, deixo aqui algumas dicas:

1. Os ensaios devem ser feitos de pre-ferência com instrumentos acústicos para que uns possam ouvir os outros. Caso isso não ocorra, façam os ensaios com os instrumentos eletrônicos na intensidade mínima necessária. Se uns ouvirem os outros ficará mais fácil de-tectar possíveis erros de harmonia ins-trumental e de desafinação vocal;

2. A intensidade do backing vocal não pode superar o Ministro de Louvor ou o solista. O backing sempre deve ficar atrás em intensidade de som. Quando essa regra é quebrada, a beleza da mú-sica é prejudicada;

3. A intensidade dos instrumentos mu-sicais também não pode superar o ministro do louvor, grupos vocais ou solista, a não ser se algum instrumen-to fizer um solo. Quando essa regra é quebrada, a música vira uma verdadei-ra guerra. Ninguém se entende e um fica atacando o outro, querendo apa-recer. Na ministração do louvor, quem deve “aparecer” na verdade é o Senhor;

4. Aconselho os pastores a investir nesse setor, adquirindo novos instrumentos musicais e um sistema de sonorização de ponta para sua igreja;

5. Nos ensaios, a bateria deve ser execu-tada de preferência com esteiras no lugar das baquetas (essas fazem muito barulho);

6. Não se esqueçam de que, uma boa par-te das nossas igrejas está instalada em áreas residenciais. Isso é muito bom em parte, mas por um outro lado, de-pendendo da vizinhança que estiver em torno da igreja, o som excessiva-mente intenso pode causar muito pre-juízo, gerando até processos judiciais para a igreja, incidindo no Art. 42 da Lei das Contravenções Penais.

Art. 42 – Perturbar alguém, o trabalho ou o sossego alheios:

I – com gritaria ou algazarra; II – exercendo profissão incômoda ou

ruidosa, em desacordo com as prescri-ções legais;

III – abusando de instrumentos sono-ros ou sinais acústicos; Pena – prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa.

7. Um Conselho para os pastores: Se sua igreja local estiver inserida em um lu-gar de grande movimentação popula-cional e grandes áreas residenciais e se sua vizinhança tem reclamado da in-tensidade do som, aconselho, além de educar seu Ministério de Música e Arte a tocar e cantar bem (Sl 33.3), equipar o templo com um isolamento acústico interno, o que pode amenizar o baru-lho externo em até 100%. Procure um técnico.

8. Para preservar a sua saúde auditiva, re-serve algumas horas de silencio ao seu organismo, principalmente na hora do sono noturno. Caso você more em ambientes onde há muito barulho, providencie um isolamento acústico ou use um protetor de ouvido. Os es-pecialistas afirmam que as pessoas que não dormem em local silencioso não alcançam todos os estágios do sono acordando cansado e sonolento. Isso também pode ocasionar problemas sé-rios à saúde física e emocional.

O instrumento apropriado para me-dir a altura do som se chama DECIBE-LÍMETRO. Ele pode ser comprado pela internet e custa em torno de R$ 300,00. Espero ter contribuído um pouco com o seu ministério. Deus te abençoe.

Re v e Re n d o ed son mu d e sto

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Há 50 anos, ele está casado com a dona Élida Therezinha Feliz Mesquita, 75 anos, com quem teve um casal de filhos. Patriar-

ca de uma linda família, o pastor Filipe Pereira de Mesquita, 76 anos, tem cinco netos e dois bisnetos, que são a sua ale-gria. Seu encontro com Jesus aconteceu na adolescência. Nascido em uma família evangélica, ele foi apresentado ao Senhor no templo ainda bem pequeno. Também na infância ele foi batizado nas águas. “Desde criança, tenho andado nos ca-minhos do Senhor e sentido a direção de Deus em toda a minha vida”, testemunha.

Logo no início da juventude, por di-versas maneiras e durante bastante tempo, o pastor Filipe percebeu que o Todo-Po-deroso estava chamando-o para o minis-tério pastoral. Segundo ele, em seu ínti-mo, sentia-se compelido a servir a Deus como pastor. Além disso, vários pastores sempre o incentivavam a seguir por esse caminho. “Os pastores João Augusto do Amaral, Luís Israel de Barros, Nadir Pe-dro dos Santos e Idelmício Cabral dos Santos me incentivaram a atuar na igreja, assim como pastorear”, relembra.

Filho de pastor metodista, em sua caminhada cristã, pastor Mesquita atuou como professor das classes de juvenis e jo-vens e chegou a ser eleito superintendente da Escola Bíblica Dominical. Já em outra ocasião atuou como guia-leigo, cargo que praticamente não existe nos dias de hoje na Igreja Metodista, mas que consistia em substituir o pastor quando este ne-cessitasse se ausentar momentaneamente. “Ainda bastante jovem preguei diversas vezes na Igreja Central de Petrópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro, e em muitas outras igrejas não metodistas na área de Petrópolis”, revela.

Foram 49 anos de dedicação exclu-siva ao ministério pastoral e, ainda hoje,

pastor Filipe segue pregando em algumas igrejas a convite dos líderes locais. “Parti-cipo do culto e de algumas atividades na Igreja Metodista do Catete, na zona sul carioca”, ressalta. Dos primeiros anos do ministério pastoral, ele enfatiza as limita-ções financeiras, já que, naquela época, as igrejas arrecadavam poucos recursos. De acordo com ele, a falta de dinheiro signi-ficou subsídios pastorais modestíssimos, como também a impossibilidade de ad-quirir boas propriedades para a expansão da Igreja no Rio de Janeiro.

Outra dificuldade enfrentada pelo pastor Filipe durante alguns anos de li-derança pastoral foi a mobilidade entre as igrejas. “Como não podia comprar um veículo para me locomover de casa até a igreja e entre as igrejas, eu dependia dos ônibus e dos trens, que demoravam mui-to”, recorda, citando, como exemplo, os três primeiros anos de ministério pasto-ral no município de Magé. “Eu atendia às igrejas de Piabetá, Andorinhas, Suruí e, posteriormente, Guapimirim. Depen-dendo do trajeto, eu pegava até três con-duções que demoravam muito, obrigan-do-me a pedir carona na estrada inclusive a caminhoneiros”, afirma, salientando que, por haver poucos pastores naquela

HISTóRIA VIVA

Uma dedicação exemplar

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época, um pastor ficava à frente, às vezes, de até quatro igrejas ao mesmo tempo e sem um pastor auxiliar. Hoje, ele diz que os desafios da igreja mudaram, princi-palmente porque o mundo não é mais o mesmo. “Atualmente, existem problemas maiores e mais complexos do que em épocas passadas. Um exemplo é a questão das drogas que tem afetado muitas pes-soas e famílias”, frisa.

Como assessor episcopal, o pastor Fi-lipe de Mesquita tem realizado a revisão de alguns textos do bispo Paulo Lock-mann, da Primeira Região Eclesiástica da Igreja Metodista. Admirador do mi-nistério do bispo Lockmann, ele vê no trabalho dele a base para o crescimento da denominação no Estado do Rio de Janeiro, como também o alicerce para o aperfeiçoamento da igreja. Isto porque,

segundo o pastor Filipe, o bispo Lock-mann tem dado estreita atenção às ini-ciativas missionárias, de evangelização, de ação social e de educação cristã. Ele cita, inclusive, a participação do bispo Paulo, que também é presidente do Con-cílio Mundial Metodista, no Seminário Mundial de Evangelismo realizado em Recife, Pernambuco, no início do mês de agosto. “A Igreja Metodista tem desenvol-vido muito no Estado do Rio de Janeiro graças também à Escola Dominical, que tem como objetivos reforçar os ensinos da Bíblia e as doutrinas da Igreja, forta-lecendo a fé das pessoas e capacitando-as para servir a Deus e ao próximo”, obser-va, considerando ainda que a ação social é outro braço ministerial que contribui para o avanço da denominação. “A Igreja Metodista se preocupa com a situação es-piritual e social das pessoas. Por isso, ela está dando, por exemplo, muita ênfase ao reforço escolar para crianças caren-tes. Há ainda o Projeto Dando as Mãos, que é uma resposta ao problema grave de desemprego”, assegura, completando que outra prioridade da denominação é o discipulado. “A partir do discipulado, o povo de Deus, que congrega na Igreja Metodista, é orientado em como ter uma

vida santa, íntegra e vitoriosa na presença de Deus, para, na autoridade, testemu-nhar a vitalidade do Evangelho”.

Analisando o Metodismo de anos passados e o atual, o pastor Filipe Mes-quita destaca que os membros da de-nominação estão mais interessados em conhecer as raízes da igreja e, sobretudo, exercerem uma ação missionária mais significativa. A visão dele é reforçada pelo texto que está na página da Igreja Metodista, na internet, sobre a ênfase na expansão missionária: A Igreja Metodista sempre se preocupou em evangelizar todas as pessoas, porque ela entende que isso é uma ordem do Senhor Jesus Cristo e é a razão de ser da própria Igreja. Ela diz a todas as pes-soas que Deus, em Jesus Cristo, quer salvar e transformar a cada ser humano. Ela tem crescido em número de membros, de igrejas e de congregações. Com base nessas palavras, pastor Filipe deixa uma mensagem para os leitores do Jornal Avante: “Amem mais e mais ao Senhor. Orem pelos seus pasto-res e por suas pastoras. Empenhem-se em anunciar o Evangelho a todas as criaturas, cumprindo Ide de Cristo que está escrito no livro de Marcos 16.15”.

patRícia scott

Jornalista

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