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27 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 19, MAIO 2004 E m 1896, o cientista francês Henri Becquerel, ao estudar a relação entre substâncias fosforescen- tes e os raios X, observou que sais de urânio emitiam um tipo de radia- ção que impressionava chapas foto- gráficas. Posteriormente, o casal Pier- re e Marie Curie descobriu que outros elementos também emitiam esse tipo de radiação, que foi batizada de ra- dioatividade por Marie Curie (Chas- sot, 1995). Nas décadas seguintes, pesquisadores co- mo Ernest Ruther- ford e Frederick Sod- dy elucidaram diver- sas propriedades da radioatividade e dos elementos radioa- tivos. Dentre as pesqui- sas desenvolvidas, a que proporcio- nou as mais marcantes aplicações foi a sobre a fissão do urânio. Em 1939, esta foi observada pelos alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann e inter- pretada pela física austríaca Lise Meitner (Figura 1), já radicada na Suécia devido à perseguição dos na- zistas. Nesse mesmo ano, o exército alemão invadiu a Polônia, iniciando a Segunda Guerra Mundial (1939- 1945). Em plena guerra, Niels Bohr foi um dos primeiros cientistas aliados a to- mar conhecimento de que os ale- mães tinham obtido a fissão do urâ- nio. Diante da enorme quantidade de energia liberada nesse processo, Bohr temeu por seu uso em uma ar- ma. Um fato que reforçou suas sus- peitas foi uma visita recebida, em plena Dinamarca ocupada pelos na- zistas, de seu colega alemão Werner Hei- senberg, que entre- gou a Bohr um dia- grama contendo da- dos sobre o progra- ma atômico alemão (ver a sugestão de leitura no Para sa- ber mais). Em função da perseguição pelos nazistas, Bohr fugiu para os Estados Unidos, onde encontrou Albert Eins- tein e advertiu-o que os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) tinham o conhecimento teórico para a fabri- cação de uma bomba. Einstein, por sua vez, alertou o presidente norte- americano Franklin D. Roosevelt. Posteriormente, países Aliados (Estados Unidos, França e Inglaterra) verificaram que o diagrama era de um reator inadequado. Porém, restou a dúvida se esta seria uma farsa para mascarar os progressos alemães. Se- gundo o historiador Eric Hobsbawm (1995, p. 509), Em essência, hoje está claro que a Alemanha nazista não conseguiu fazer uma bomba nuclear não porque os cien- tistas alemães não soubessem fazê-la, ou não tentassem fazê- la, com diferentes graus de re- lutância, mas porque a máqui- na de guerra alemã não quis ou não pôde dedicar-lhe os recur- sos necessários. Eles abando- naram a tentativa e passaram para o que parecia uma con- centração mais efetiva em ter- mos de custos, os foguetes, que prometiam um retorno mais rápido. Após a rendição da Alemanha, nove dos principais físicos alemães, Recebido em 06/03/03; aceito em 13/04/04 Fábio Merçon e Samantha Viz Quadrat Com o final da Segunda Guerra Mundial, alguns historiadores se debruçaram sobre a tentativa de explicar o que havia ocorrido com a humanidade nos anos do conflito. Com isto, surgiu o que chamamos de História do Tempo Presente, uma nova corrente historiográfica que se ocupa em analisar os fatos recentes. Nesse sentido, este texto – que traz o ponto de vista dos autores – se insere nessa corrente ao abordar uma questão polêmica: a utilização da energia das reações nucleares a partir da segunda metade do século XX, quando temas como o uso de armas atômicas ou a construção de usinas nucleares foram amplamente debatidos pela opinião pública. Foi uma época na qual os avanços tecnológicos passaram a se refletir em outros campos, como o político, o social, o ecológico e o econômico. radioatividade, energia nuclear, século XX A fissão do urânio foi observada por Otto Hahn e Fritz Strassmann, em 1939, e interpretada por Lise Meitner, homenageada pela IUPAC por meio do elemento 109, o meitnério Radioatividade e História do Tempo Presente

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QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 19, MAIO 2004

Em 1896, o cientista francês HenriBecquerel, ao estudar a relaçãoentre substâncias fosforescen-

tes e os raios X, observou que saisde urânio emitiam um tipo de radia-ção que impressionava chapas foto-gráficas. Posteriormente, o casal Pier-re e Marie Curie descobriu que outroselementos também emitiam esse tipode radiação, que foi batizada de ra-dioatividade por Marie Curie (Chas-sot, 1995). Nas décadas seguintes,pesquisadores co-mo Ernest Ruther-ford e Frederick Sod-dy elucidaram diver-sas propriedades daradioatividade e doselementos radioa-tivos.

Dentre as pesqui-sas desenvolvidas, a que proporcio-nou as mais marcantes aplicações foia sobre a fissão do urânio. Em 1939,esta foi observada pelos alemãesOtto Hahn e Fritz Strassmann e inter-pretada pela física austríaca LiseMeitner (Figura 1), já radicada naSuécia devido à perseguição dos na-zistas. Nesse mesmo ano, o exército

alemão invadiu a Polônia, iniciando aSegunda Guerra Mundial (1939-1945).

Em plena guerra, Niels Bohr foi umdos primeiros cientistas aliados a to-mar conhecimento de que os ale-mães tinham obtido a fissão do urâ-nio. Diante da enorme quantidade deenergia liberada nesse processo,Bohr temeu por seu uso em uma ar-ma. Um fato que reforçou suas sus-peitas foi uma visita recebida, em

plena Dinamarcaocupada pelos na-zistas, de seu colegaalemão Werner Hei-senberg, que entre-gou a Bohr um dia-grama contendo da-dos sobre o progra-ma atômico alemão

(ver a sugestão de leitura no Para sa-ber mais).

Em função da perseguição pelosnazistas, Bohr fugiu para os EstadosUnidos, onde encontrou Albert Eins-tein e advertiu-o que os países do Eixo(Alemanha, Itália e Japão) tinham oconhecimento teórico para a fabri-cação de uma bomba. Einstein, por

sua vez, alertou o presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt.

Posteriormente, países Aliados(Estados Unidos, França e Inglaterra)verificaram que o diagrama era de umreator inadequado. Porém, restou adúvida se esta seria uma farsa paramascarar os progressos alemães. Se-gundo o historiador Eric Hobsbawm(1995, p. 509),

Em essência, hoje está claroque a Alemanha nazista nãoconseguiu fazer uma bombanuclear não porque os cien-tistas alemães não soubessemfazê-la, ou não tentassem fazê-la, com diferentes graus de re-lutância, mas porque a máqui-na de guerra alemã não quis ounão pôde dedicar-lhe os recur-sos necessários. Eles abando-naram a tentativa e passarampara o que parecia uma con-centração mais efetiva em ter-mos de custos, os foguetes,que prometiam um retornomais rápido.

Após a rendição da Alemanha,nove dos principais físicos alemães,

��

Recebido em 06/03/03; aceito em 13/04/04

Fábio Merçon e Samantha Viz Quadrat

Com o final da Segunda Guerra Mundial, alguns historiadores se debruçaram sobre a tentativa de explicar o que haviaocorrido com a humanidade nos anos do conflito. Com isto, surgiu o que chamamos de História do Tempo Presente, umanova corrente historiográfica que se ocupa em analisar os fatos recentes. Nesse sentido, este texto – que traz o ponto devista dos autores – se insere nessa corrente ao abordar uma questão polêmica: a utilização da energia das reaçõesnucleares a partir da segunda metade do século XX, quando temas como o uso de armas atômicas ou a construção deusinas nucleares foram amplamente debatidos pela opinião pública. Foi uma época na qual os avanços tecnológicospassaram a se refletir em outros campos, como o político, o social, o ecológico e o econômico.

radioatividade, energia nuclear, século XX

A fissão do urânio foiobservada por Otto Hahn eFritz Strassmann, em 1939,

e interpretada por LiseMeitner, homenageada pela

IUPAC por meio doelemento 109, o meitnério

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dentre eles W. Heisenberg e O. Hahn,foram mantidos sob custódia na In-glaterra. Gravações secretas das con-versas mantidas por esses cientistasindicaram que o programa nuclear na-zista não fôra capaz de gerar um rea-tor nuclear auto-sustentável e queesses cientistas estavam confusossobre as diferenças entre um reator euma bomba atômica (Klotz, 1997).

O Projeto ManhattanEm 1941, os Estados Unidos en-

traram na Segunda Guerra Mundial edirecionaram sua economia para uma“guerra industrial”, na qual o modo deprodução em série, implantado porHenry Ford, foi direcionado para osprodutos bélicos (Rémond, 1974).Diante da possibilidade dos alemãesdesenvolverem a bomba atômica, foicriado o Projeto Manhattan. Com cus-to estimado em dois bilhões de dóla-res, esse projeto representou a maiorconcentração de cientistas já reunidapara trabalhar em um só tema (Stra-thern, 1998). Assim, cientistas de di-versas nacionalidades, inclusive refu-giados dos regimes nazi-fascistas,passaram a se empenhar na constru-ção da bomba norte-americana.

Logo o investimento trouxe resul-tados. Em 2 de dezembro de 1942,teve início a “Era Atômica”, com aoperação do primeiro reator nuclear

na quadra de squash da Universidadede Chicago, construído sob a super-visão do físico italiano Enrico Fermi.A conversão da reação controlada noreator em um armamento foi realizadanos laboratórios secretos de Los Ala-mos (Novo México - EUA), sob o co-mando de J. Robert Oppenheimer.Em 16 de julho de 1945 foi realizadoo primeiro teste com uma bomba atô-mica no deserto de Alamogordo.

Em função da enorme demonstra-ção de potencial destrutivo, LeoSzilard enviou ao presidente dos EUAuma petição assinada por inúmeroscientistas exigindo o controle interna-cional das armas atômicas. SegundoSzilard (Strathern, 1998, p. 72):

O maior perigo imediato é aprobabilidade de que nossademonstração de bombas atô-micas precipite uma corrida naprodução desses artefatos en-tre os Estados Unidos e a Rús-sia.

Em 1945, as explosões de duasbombas atômicas levaram à rendi-ção do Japão e ao final da SegundaGuerra Mundial. Em6 de agosto, cercade 80 mil pessoasmorreram na explo-são de uma bombade urânio em Hiro-xima. Três dias de-pois, outras 40 milforam vítimas fataisde uma bomba deplutônio em Naga-saqui. Esses núme-ros indicam as víti-mas diretas dasexplosões, não contabilizando asque vieram a falecer dos malesdecorrentes da radiação.

A necessidade do uso da bom-ba é questionada até os dias de ho-je. Antes do primeiro teste nuclear,a Alemanha já havia se rendido e aderrota do Japão, apenas com ouso de armamentos convencionais,já era prevista. Entretanto, para osEUA, a bomba representou muitomais do que a vitória na guerra: foiuma demonstração de poder.Segundo o historiador Paulo G.F.Vizentini (2000, p. 199),

As bombas atômicas lança-das sobre um Japão à beira darendição eram militarmentedesnecessárias. Foram, na ver-dade, uma demonstração deforça diante dos soviéticos edos movimentos de libertaçãonacional que amadureciam naChina, Coréia e países do Su-doeste Asiático.

A Guerra Fria

Como conseqüência da ordemmundial estabelecida no pós-guerra,teve início a Guerra Fria (1947-1989),na qual os EUA e a URSS passarama disputar a supremacia mundial.Nessa competição, o desenvolvimen-to tecnológico foi usado como de-monstração de prestígio e poder, e ti-veram início duas corridas: armamen-tista e espacial.

Diante da repercussão da bombaatômica, em 1949 os soviéticos explo-diram seu primeiro armamento nu-clear. O seu programa nuclear, quehavia sido interrompido durante osataques nazistas, foi retomado quan-

do Josef Stalin to-mou ciência dospossíveis avançostecnológicos da Ale-manha e dos Esta-dos Unidos.

A capacidadedos soviéticos teremdesenvolvido a bom-ba a partir de seuspróprios recursos foiposta em chequecom a prisão deKlaus Fuchs, cientis-

ta alemão que participou do ProjetoManhattan e que confessou terpassado informações do programaatômico norte-americano aos russos.Nos EUA, em plena época do macar-tismo (a “caça às bruxas comunis-tas”), o casal Julius e Ethel Ro-senberg, intermediários na transmis-são das informações fornecidas porFuchs, foi condenado à morte.

Como os soviéticos já possuíama bomba atômica, os EUA investiramna criação da bomba de hidrogênio(1952), sendo novamente alcançadospela URSS no ano seguinte. Por sua

Figura 1: Lise Meitner (1878-1968), físicaaustríaca que explicou a fissão do urânio,em foto de aproximadamente 1937, emBerlim.

Diante da possibilidadedos alemães

desenvolverem a bombaatômica, os americanos

criaram o ProjetoManhattan. Com custo

estimado em dois bilhõesde dólares, esse projeto

representou a maiorconcentração de cientistasjá reunida para trabalhar

em um só tema

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vez, na corrida espacial os soviéticoslargaram na frente e surpreenderamseus adversários com o lançamentodo Sputinik (primeiro satélite artificial– 1957) e a célebre frase “a Terra éazul”, de Yuri Gagarin (primeiro ho-mem em órbita terrestre – 1961). OsEstados Unidos só conseguiram su-perar a União Soviética em 1969, coma chegada à Lua dos astronautas daApollo XI.

Com o tempo, outros países domi-naram a tecnologia e realizaram seustestes nucleares: Inglaterra (1952),França (1960) e China (1964). À medi-da que se ampliavam os arsenais nu-cleares, aumentava o risco de extin-ção da humanidade em uma guerranuclear. Esse temor desencadeou aoposição da opinião pública. Campa-nhas pelo desarmamento e pelo fimdos testes nucleares foram lançadasem todas as partes do mundo.

Em meio a incontáveis conferên-cias, diversos tratados antinuclearesforam assinados e, muitas vezes,desrespeitados. Somente com o finalda Guerra Fria e a desestruturação daUnião Soviética (1989), o receio doholocausto nuclear foi temporaria-mente amenizado.

As usinas e os acidentes nuclearesNa década de 50, o aproveitamen-

to racional da energia nuclear possibi-litou a criação das usinas nucleares.Segundo Goldemberg (1998, p. 100),

o uso da potência nuclearpara a produção de eletricida-de foi um subproduto do de-senvolvimento dos reatores nu-cleares com fins militares du-rante e após a Segunda GuerraMundial.

As usinas nucleares surgiram co-mo uma fonte poderosa para atenderà demanda de energia; não reque-riam características geográficasespecíficas ou áreas extensas (comoas hidrelétricas) e não utilizavam com-bustíveis fósseis ou poluíam a atmos-fera (como as termelétricas). Mashavia os altos custos de construçãoe manutenção, os riscos de acidentese os perigosos rejeitos radioativos. Nadécada de 80, o medo de um holo-causto nuclear foi desviado das bom-

bas para acidentes nas centenas deusinas espalhadas pelo mundo.

Dois acidentes foram decisivospara o questionamento da segurançanessas usinas. O primeiro ocorreu emThree-Mile Island (EUA), em 1979, on-de uma falha no sistema de refrigera-ção acarretou a liberação de umaquantidade de ra-dioatividade. A rápidaevacuação da popu-lação ao redor da usi-na evitou a ocorrênciade vítimas fatais.

Em 1986, emChernobyl (Ucrânia –URSS), o descontro-le da reação provo-cou um incêndio nonúcleo do reator econseqüente libera-ção de grande quan-tidade de materialradioativo na atmosfera. Faltando umedifício protetor, a nuvem radioativaespalhou-se pela Europa e contami-nou plantações, animais e seres hu-manos. Os países ocidentais só to-maram ciência do acidente quandoa radiação liberada acionou os alar-mes de uma usina nuclear sueca, si-tuada a 2 mil km de distância. Com ointuito de poupar seu prestígio tecno-lógico, o governo soviético só admi-tiu o acidente 48 horas após o ocor-rido, fato que acabou por retardar aajuda internacional. Devido ao lança-mento de isótopos radioativos deiodo na atmosfera, na década de1990 verificou-se um aumento subs-tancial na incidência de câncer detireóide em crianças nas regiões pró-ximas ao local do acidente, naUcrânia e em Belarus (Stone, 2001).

Em função de mobilizações popu-lares, muitos países começaram a de-sativar seus programas nucleares.Nos EUA, depois de Three-Mile Is-land, 21 dos 125 reatores foramdesligados. Na Europa, após Cherno-byl, apenas três reatores foram inau-gurados.

Mesmo com todos esses esfor-ços, chegou-se ao final do século XXcom 130 mil toneladas de lixo nuclear.Devido à contínua emissão de ra-diação, esse material deve ser isoladoaté que a radiação atinja níveis tole-

ráveis, o que pode levar algunsmilênios. Desta forma, os atuais locaisde armazenamento (minas, monta-nhas e subterrâneos) demonstram-seinseguros devido às incertezas quan-to às condições geológicas no longoprazo (Helene, 1996).

No Brasil, a energia nuclear tam-bém foi alvo de inves-timentos, que culmi-naram com a implan-tação de um comple-xo nuclear em Angrados Reis (RJ), du-rante o regime militar.Após 23 anos deobras e um custo cin-co vezes maior que oprevisto, as duas pri-meiras unidades (An-gra I e II, pois AngraIII ainda está emconstrução) geram

2% da energia elétrica nacional.Em 1987, o Brasil entrou para a lis-

ta dos acidentes radioativos. Em Goiâ-nia, dois catadores de lixo encontraramuma cápsula contendo césio-137abandonada em um hospital desa-tivado e venderam-na para um ferro-velho. O rompimento da blindagemprotetora acarretou a liberação do ma-terial radioativo. Por desconhecimentoda população, a livre manipulaçãocontaminou várias dezenas de pesso-as, das quais quatro faleceram nosdias seguintes. Nos anos subseqüen-tes, várias outras vítimas faleceramcomo resultado da exposição à radia-ção do césio.

Considerações finaisAs aplicações das reações nu-

cleares afetaram profundamente a so-ciedade nas décadas finais do séculoXX. Ao analisar as contribuições dasciências para a sociedade, Hobs-bawm (1995, p. 504) afirmou que

nenhum período da históriafoi mais penetrado pelas ciên-cias naturais nem mais depen-dente delas do que o séculoXX. Contudo, nenhum período,desde a retratação de Galileu,se sentiu menos à vontadecom elas.

No início do século XXI, a energia

As usinas nuclearessurgiram, na década de 50,como uma fonte poderosapara atender à demanda

de energia; não requeriamcaracterísticas geográficas

específicas ou áreasextensas (como ashidrelétricas) e não

utilizavam combustíveisfósseis ou poluíam aatmosfera (como as

termelétricas)

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Referências bibliográficasCHASSOT, A.I. Raios X e radioativi-

dade. Química Nova na Escola, n. 2, p.19-22, 1995.

GOLDEMBERG, J. Energia, meio am-biente & desenvolvimento. Trad. A. Koch.São Paulo: Editora da USP, 1998.

HELENE, M.E.M. A radioatividade e olixo nuclear. São Paulo: Scipione, 1996.

HOBSBAWM, E.J. Era dos extremosO breve século XX: 1914 - 1991. 2ª ed.Trad. M. Santarrita. São Paulo: Compa-nhia das Letras, 1995.

KLOTZ, I.M. Captives of their fantasies:the german atomic bomb scientists. J.Chem. Educ., v. 74, p. 204-209, 1997.

RÉMOND, R. O século XX. De 1914aos nossos dias. Trad. O.M. Cajado. SãoPaulo: Cultrix, 1974.

nuclear ainda se faz presente. As usi-nas respondem por 16% da energiaelétrica mundial e as bombas, agoraenglobadas nas armas de destruiçãoem massa, estão nas concepções bé-licas de países como Israel, Índia, Pa-quistão e Coréia do Norte. Entretan-to, é importante destacar as aplica-ções pacíficas da radiação, taiscomo: diagnóstico de doenças, este-rilização de equipamentos, preserva-ção de alimentos, datação de fósseise artefatos históricos e uso de traça-dores radioativos.

Todavia, com a diminuição dos ris-cos nucleares, esse tema passou a

ocupar um espaço cada vez menorna mídia e, conseqüentemente, nasdiscussões cotidianas. O foco éticodas discussões científicas foi trans-ferido para a genética e temas comoclonagem, DNA e alimentos transgê-nicos foram incorporados ao nossodia-a-dia. Um exemplo está no perso-nagem Homem-Aranha (criado porStan Lee e Steve Ditko) que ao serconcebido, em plena Guerra Fria(1962), obteve seus poderes ao serpicado por uma aranha radioativa. Em2000, foi proposto um novo começo,mais adequado aos jovens do séculoXXI: os poderes do herói vieram de

uma aranha geneticamente modifi-cada.

Fábio Merçon ([email protected]), licenciado emQuímica e engenheiro químico pela UniversidadeEstadual do Rio de Janeiro (UERJ), doutor emCiências (Engenharia Química) pela UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ), é docente doDepartamento de Ciências da Natureza do Institutode Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira daUERJ e do Departamento de Tecnologia dosProcessos Bioquímicos do Instituto de Química daUERJ (IQ-UERJ). Samantha Viz Quadrat ([email protected]), historiadora pela Universidade Fe-deral Fluminense (UFF), mestre em História pelaUFRJ e doutoranda (bolsista do CNPq) no Programade Pós-Graduação em História da UFF, é coor-denadora do Núcleo de Estudos Contemporâneosda UFF.

STONE, R. Living in the shadow of Cher-nobyl. Science, v. 292, p. 420-426, 2001.

STRATHERN, P. Oppenheimer e a bom-ba atômica. Trad. M.H. Geordane. Rio deJaneiro: Jorge Zahar, 1998.

VIZENTINI, P.G.F. A Guerra Fria. Em:REIS FILHO, D.A. (Org.). O Século XX. Riode Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

Para saber mais

HERSEY, J. Hiroshima. Trad. H. Feist.São Paulo: Companhia das Letras, 2002.Esta obra relata a trajetória de seis sobre-viventes ao ataque nuclear norte-ameri-cano, desde o dia do bombardeio até 40anos mais tarde.

Peça teatralCopenhagen, peça teatral de Michael

Frayn, no Brasil apresentada pelo grupoAmaná-Key, Desenvolvimento & Educa-ção. Na peça, que pode ser consideradacomo quase uma aula de História eFilosofia das Ciências, três personagens(Niels Bohr, sua mulher Margarethe Bohre Werner Heisenberg) se encontram emCopenhagen, às vésperas do lançamen-to das bombas atômicas pelos EstadosUnidos, e discutem as possibilidades daAlemanha também produzir esse arma-mento.

Na InternetAssociação Brasileira de Energia

Nuclear (ABEN), http: //www.aben.com.br.

Comissão Nacional de EnergiaNuclear (CNEN), http://www.cnen.gov.br.

Abstract: Radioactivity and the Present-Time History - With the end of World War Two, some historians dedicated themselves to the effort of explaining what had occurred with mankind in the yearsof the conflict. Hence, what is known as Present-Time History arose, a new historiographic current devoted to the analysis of recent facts. In this sense, this text - that brings forward the point of viewof the authors - is inserted in this current, treating a polemic question: the usage of the energy from nuclear reactions starting from the second half of the 20th century, when themes such us the useof atomic arms or the construction of nuclear power plants were widely debated by the public. This was a time in which the technological advancements started to be reflected in other fields, suchas the political, the social, the ecological and the economical.Keywords: radioactivity, nuclear energy, 20th century

Radioatividade e História do Tempo Presente

NotaAssessores QNEsc - 2003

Gostaríamos de agradecer aos as-sessores que colaboraram, ao longo de2003, emitindo pareceres sobre osartigos submetidos para publicação emQuímica Nova na Escola:Adhemar C. Rúvolo Filho – DQ/UFSCarAécio P. Chagas – IQ/UnicampAgustina Echeverria – IQ/UFGAlice R.C. Lopes – FE/UERJ e UFRJAttico I. Chassot – UnisinosBernardo J. de Oliveira – UFMGCarlos A.L. Filgueiras – IQ/UFRJCarlos A. Montanari – UFMGCarol H. Collins – IQ/UnicampCecília Laluce – IQ/UNESPEduardo B. Azevedo – UERJEduardo F. Mortimer – FE/UFMG

Eduardo Peixoto – IQ/USPElizabeth Macedo – FE/UERJFátima K.D. de Lacerda – IQ/UERJFrancisco C. Biaggio – FaenquilHélio A. Duarte – UFMGHenrique E. Toma – IQ/USPIrene de Mello – UFMTJoana Mara T. Santos – IQ/UERJJoão B. Fernandes – DQ/UFSCarJosé Cláudio Del Pino – IQ/UFRGSJulio C. F. Lisboa – Gepeq/USPLenir B. Zanoni – UnijuíLigia M. M. Valente – IQ/UFRJLuiz Henrique Ferreira – DQ/UFSCarMarcelo Giordan – FE/USPMarcia S. Ferreira – FE/UFRJMarco-Aurelio De Paoli – IQ/UnicampMarco Antonio Moreira – IF/UFRGS

Maria Emília C. Lima – UFMGMaria Inês P. Rosa – FE/UnicampMurilo C. Leal – FUNREIOrlando Aguiar Jr. – FE/UFMGOtávio A. Maldaner – UnijuíPedro C. Pinto Neto – UnicampPer Christian Braathen – DQ/UFVQuézia B. Cass – DQ/UFSCarReinaldo C. Silva – Cefet-SCRenato José de Oliveira – FE/UFRJRicardo Ferreira – UFPERoberta Ziolli – PUC/RJRoberto R. da Silva – IQ/UnBRochel M. Lago – UFMGRomeu C. Rocha Filho – DQ/UFSCarRoseli P. Schnetzler – FE/UnimepWildson L. P. dos Santos – IQ/UnB