“fazer dos mortos gente de hoje” joão penha na 1ª pessoa ... · meu pai, parente ainda do ......
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Carlos Jaca 1
“Fazer dos Mortos Gente de Hoje”
João Penha na 1ª Pessoa. (1838 – 1919)
por Carlos Jaca
Diário do Minho de 23 e 30 de Outubro de 2002
Por motivos óbvios, recorri, com frequência, às opiniões de contemporâneos,
amigos ou não, e também a pessoas e instituições, nomeadamente a Biblioteca Pública
de Braga, que depois do meu falecimento se interessaram pela minha vida e obra
evitando desse modo, aquilo a que poderia chamar de minha “segunda morte”.
A tempo: o meu espólio literário é pertença, desde a década de 20, da então
chamada Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Braga, sendo constituído pelos
originais manuscritos de obras publicadas, livros de poesias inéditos e
correspondência.
Conforme reza a certidão passada
pelo abade da freguesia de S. João do
Souto, João Ribeiro Pereira, nasci a 28 de
Janeiro de 1838 no prédio n.º 7 da Praça
Municipal, uma casa grande de enormes
varandas rasgadas sobre o mercado, sendo
meus pais José Joaquim Penha Fortuna e
Maria José Amália de Sousa.
Meu pai, parente ainda do Visconde de S. Romão, possuía ricas propriedades na
Póvoa do Lanhoso e uma quinta em Sequeira, a Quinta de S. Paio. Graças a estes
rendimentos pudemos gozar de uma existência relativamente fácil e desafogada até ao
momento em que a Primeira Grande Guerra tudo modificou. Os negócios tornaram-se
então difíceis e a partir desta data, a situação económica tomou proporções
desesperadas, até cair na tragédia final de 1919, precisamente o ano da minha morte.
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A nossa família era numerosa. Sete raparigas e outro rapaz, o meu irmão mais
velho, Manuel, advogado e professor do Liceu de Braga e, mais tarde, deputado pelo
círculo desta mesma cidade.
Da minha infância, já tão longínqua, não falarei nada de relevo a assinalar, tudo
simples, tudo calmo, seria um relatar de situações que hoje pouco vos poderia
interessar.
Direi, apenas, que a minha infância não decorreu totalmente aqui em Braga,
passei parte dela entre Viana e Ribeira de Pena, tendo aí nascido algumas das minhas
irmãs. Só mais tarde nos fixámos, definitivamente, em Braga, onde meu pai continuava
sendo tabelião.
Concluídos os estudos preparatórios para o ensino superior somente em 1864
parti para Coimbra, em princípio para cursar Teologia.
Os anos que passei em Coimbra acabariam por marcar toda a minha existência e,
tal como a “Nau Catrineta”, terei muito que contar.
Cheguei tarde à Universidade, aos 28 anos, mas ainda muito a tempo de me
enfadar com ela. Com a Universidade, não com Coimbra que considerei a cidade mais
poética do mundo. Do meu mundo, claro, porquanto não fui homem que me gastasse
por Franças e Araganças.
Por vezes, aborrecia-me de morte ao ler a “sebenta”, mas era com viva euforia
espiritual que me deixava ficar por Coimbra, mesmo depois de findarem as aulas.
Sinto, plenamente, que o sortilégio de Coimbra terá feito de mim um poeta, o
poeta que dizem ter sido, ou se quiserem, esse sortilégio teria funcionado como
catalisador de prováveis virtualidades poéticas.
Como já referi cheguei a Coimbra em 1864, mas só no ano lectivo de 1866-67
tive acesso à matrícula no 1º ano de Teologia. Dois anos perdidos? Talvez não! A pouco
e pouco irei explicando o que se passou.
Devo dizer-vos que não foi fácil a minha familiarização com a cidade. Quando
cheguei a Coimbra era, no dizer do grande poeta e meu querido amigo Gonçalves
Crespo, um mocinho tímido e mimoso, reinando então, desaforadamente, o costume da
troça académica: “caloiro” que fosse apanhado à boca da noite sem ser devidamente
protegido pelo “veterano”, era espancado quando resistisse e mostrasse prosápias de
pimpão, e quando se submetesse cortavam-lhe então magnanimamente a cabeleira, e
inchavam-lhes as mãos com rijas palmatoadas.
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Assim, nos primeiros tempos, temia as partidas que os “veteranos” me pudessem
fazer. Então para me furtar a essas partidas de mau gosto, encafuava-me no quarto, a ler
quanta literatura me chegava às mãos, excepto a literatura didáctica, pelo que, no
respeitante a preparatórios oficiais, sofri alguns atrasos... estava bem de ver, sol na eira
e chuva no nabal, ao mesmo tempo, eram um impossível. Para ler o que me aprouvesse,
não podia estudar os narcotizantes compêndios didácticos... e os mestres desde que o
estudante não soubesse a gordurosa ciência dos compêndios não me perdoavam.
Efectivamente, nesses primeiros tempos, grande parte das
noites entregava-me a grandes leituras.
O quarto era de pequenas dimensões e nele
só havia lugar para um leito, uma banca e um
cabide mas era bem situado e, da janela, poderia
atirar uma pedra ao Mondego, lançada com uma
fisga.
As donas da casa, as bondosas senhoras
Seixas, eram ao tempo muito conceituadas em
Coimbra e, desse modo, encontrei junto delas, o
ambiente familiar que deixara em Braga.
Foi, pois, aqui, no n.º 97 da Couraça de Lisboa, que vivi
todos os meus anos de estudante. O mesmo aconteceu com o Gonçalves Crespo que
habitava o rés-do-chão, numa antecâmara de três metros quadrados, com porta rasgada
para a rua.
A malta académica, representada ao tempo por Bernardino Machado, Frederico
Laranjo, Luís Jardim, Guerra Junqueiro e tantos outros, acorria todas as noites ao quarto
do Crespo, pois que, ao do 2º andar, o meu, o acesso era mais difícil devido à falta de
espaço e também porque, na expressão do Bernardino, “era um santuário inviolável”.
A propósito de malta académica permitam-me afirmar, e julgo que o faço com
justiça, que a geração a que pertenci talvez fosse de todas as que frequentaram a
Universidade de Coimbra no século XIX a mais brilhante.
Para além dos já referidos Gonçalves Crespo, Guerra Junqueiro, Bernardino
Machado, Frederico Laranjo e Luís Jardim (Conde de Valença), a essa geração
pertenceram entre outros, que não cuido de procurar, Teófilo Braga, Sérgio de Castro,
Alberto Braga, Cândido de Figueiredo, Luís Carlos Simões Ferreira, Eduardo Cabrita,
Sousa Viterbo, Manuel Duarte de Almeida, Borges de Avelar, Arnaldo Braga, Antero
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de Quental, Alberto Pimentel, Manuel Sardinha, Alexandre da Conceição, Eduardo
Vidal, Gomes de Amorim, Alberto Teles, Marçal Pacheco, etc.
Uma plêiade de futuros escritores e políticos que ilustraram a vida portuguesa no
último quartel do século XIX e princípios do XX, distinguindo-se muito notavelmente.
Então, e o Eça de Queirós? Ah! Pois, o meu amigo Eça! Bom, a minha
convivência com o autor de “Os Maias”
tornou-se mais assídua em 1866,
precisamente o ano da sua formatura.
Com ele, para além das
“discussões” sobre todas as matérias
relativas à arte ou às que constituíam o
saber humano, comi, bebi e... até dormi...
“honni soit qui mal y pense”. Explico: o
Eça nunca viveu em minha casa, isto é, na
das Seixas. Apenas nos dois últimos ou três
meses da sua estada em Coimbra, passou a
dormir comigo, “duo in eodem lecto”, e era
aí que de manhã, vinha-nos à cama num
tabuleiro, o nosso almoço, que
devorávamos com o apetite da mocidade, aberta a janela, e alongada a vista, por sobre o
plácido Mondego, até aos chorões da Fonte de Inês de Castro. Depois deste episódio,
Eça desaparecia, e só o tornávamos a ver ao pôr-do-sol, para as cenas nocturnas, que
nunca findavam senão depois da meia-noite, e que às vezes se prolongavam até ao
romper da aurora. Para nós, todos os dias eram vésperas de feriado.
Mesmo aqueles que tinham de fazer acto (exame), não deixavam, por isso, de
comparecer às horas do costume, e alguns deles, como por exemplo, o Marçal Pacheco
e o futuro Presidente da República, Bernardino Machado, eram dos premiados.
Com o canudo na mão o Eça fez-se à vida, parte para Lisboa onde se vai dedicar
à política e à literatura, sem contudo perdermos o contacto, já que nos carteávamos com
alguma frequência.
Recuemos dois anos.
Como já referi, ao tempo da minha chegada a Coimbra, perdido em terra
estranha fui muitas vezes obrigado a encerrar-me no quarto a fim de fugir às
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perseguições tradicionais a “caloiros” como eu. Mas foi sol de pouca dura! Depressa me
adaptei ao meio coimbrão... e a adaptação foi de tal ordem que, pouco tempo depois, um
só estudante era conhecido pelo nome de “João” . Quando se perguntava pelo João,
quando se falava do João, já todos sabiam que se tratava do Penha.
De facto, passado algum tempo, deixei de ter medo das troças académicas, e a
pouco e pouco fui adquirindo celebridade pela viveza das réplicas, pelo feitio cáustico
dos ditos e, sobretudo, por alguma extravagância do meu viver, passando a ser admirado
nos conciliábulos dos académicos, apesar da minha qualidade de caloiro.
Os graves doutores na arte “dicendi et coenandi” (de dizer e de cear), vendo que
era um “caloiro de raça” permitiram-me que passeasse por onde quisesse, que jogasse o
bilhar onde me aprouvesse e que bebesse onde muito bem me apetecesse.
Deste modo acabei por juntar-me ao grupo de boémios, veteranos das letras,
agitadores de ideias, caçadores de beldades, sentindo-me, subitamente, no meio da
borrasca dos frequentadores noctívagos do Homem do Gás, da Tia Maria Camela, do
Varão de Luxemburgo e do Conselheiro Rodrigo.
Na parte alta da cidade celebrizou-se a tasca da Tia Maria Camela, apesar de ser
uma lojinha escura e cheia de fumo, oferecia, por trinta e cinco mil réis, o seu bom
peixe frito e o vinho mais procurado de Coimbra.
Todas as noites, aí, se reunia, certo núcleo académico, do qual fez parte nos
últimos anos da sua formatura Eça de Queirós e que, na sua “Correspondência de
Fradique Mendes”, recordaria a “arte divina em frigir o peixe”, sardinhas, sável, eirós.
O António Nobre deixou-a para sempre imortalizada no seu livro “Só”.
Maria Camela era uma velhinha magra, um pouco corcovada, e tinha os olhos
avermelhados e humedecidos pelo fumo da frigideira. Nunca sentira amor mundano e
não sabia para que servissem os homens, a não ser para fregueses de peixe frito e vinho.
Acreditava piamente na existência de um coro celeste de onze mil virgens, entre as
quais sabia que tinha um lugar...
Lamentou-se um dia de já não ser jovem e, assim, não poder candidatar-se ao
celeste coro.
Para a tranquilizar, confortei-a com os meus obscuros conhecimentos,
dizendo-lhe: sossegue, Tia Maria, eu garanto-lhe que terá o seu lugar reservado num
coro muito distinto. Acredite no que lhe digo: há o coro das virgens que o foram por
acaso, e o das virgens pelas forças das circunstâncias...
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Na taberna do Homem do Gás, um lugar escolhido por muitos boémios para
debate de ideias, num cenário com as musas pipas ao fundo, travei um célebre despique,
bem ao jeito dos cantadores ao desafio, com o anticlerical Guerra Junqueiro.
Na cal da parede escrevi o seguinte:
“Junqueiro que vens de junco
Tu, que és pássaro bisnau
Não abres o bico adunco?
Pois não me sentiste o pau?
Perante o riso geral, Junqueiro respondeu:
“O Penha borracho
Corria cantando
No dorso de um macho;
Mas eis senão quando
A besta o estira
Na lama da praça;
Quebrou-se-lha lira
Quebrou-se-lhe tudo
E o pobre Oliveira
Só não diz asneira
Quando fica mudo.”
Sem me desconcertar encaixei o remate e joguei ao adversário:
“Afinaste a veia chata
Bebeste o copo dum borco
E a cidade estupefacta
Ouviu o grunhir de um porco.”
E o duelo continuou na noite seguinte, com íntima satisfação do Homem do Gás,
um latagão que tinha sido “patuleia” e, quando morreu, já depois da minha formatura,
dediquei-lhe o seguinte epitáfio:
“Ei-lo aqui jaz, aqui jaz
Nesta humilde campa fria
O nosso velho rapaz!
Deus em sua glória o tenha!
Era ele quem acendia
Inspirações em João Penha!
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Deus em sua glória o tenha!
Nesta humilde campa fria
Ei-lo aqui jaz, aqui jaz!”
Acerca do Curso ia tentando cumprir e foi … “comprido”.!
O facto de só dois anos depois da chegada a Coimbra ter ingressado na
Universidade, posso explicá-lo por alguns “chumbos” no célebre “exame de madureza”;
que hoje dir-se-ia de “maturidade”, talvez correspondente a um exame de aptidão. Esse
exame não era nada fácil. Os estudantes costumavam ir para Coimbra preparar-se para
essa prova. Tentei vencê-la, mas alguma cabulice e outros “afazeres” impediram que o
conseguisse em tempo devido.
Foi necessário que meu irmão, à data
deputado, me recomendasse a um Mestre e,
ainda assim, faltei à chamada. A este propósito,
fez-se constar que o professor, por amizade a
meu irmão, resolveu mandar chamar-me a casa,
enviando-me um cartão, que eu teria devolvido
com a seguinte resposta: “Há generais que
dormem antes das batalhas. Outros que dormem
depois. Eu durmo durante.” Não me recordo
desse episódio e, mais, julgo que devido à amizade entre meu irmão e o Mestre, não
seria possível tal situação. Mas o certo é que não compareci, talvez por não me sentir
suficientemente preparado, e só consegui passar na segunda época. Este episódio do
cartão terá mais a ver com uma situação resultante do envolvimento do mito, da lenda e
alguma realidade, o meu humor crónico, passando, desse modo, o referido episódio a
fazer parte do anedotário académico.
Reparem! Disseram uns quantos: “João Penha só apreciava duas espécies de
bebidas – as nacionais e as estrangeiras…! No mundo do amor parece que não tinha
preferência por este ou por aquele tipo de mulher. Todas lhe serviam. Gostava mais de
todas.
Quanto à mesa, também não era homem para torcer o nariz diante dos mais
variados petiscos.”
Não direi que nestas palavras houvesse intenção em denegrir a minha imagem,
longe disso, mas há exagero, caricatura, talvez se pretendesse dar uma maior dimensão à
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minha veia humorística, a uma certa maneira de ser extravagante, por vezes,
premeditada.
Porém, outros terão dito: “Não era, contudo, grande amante das delícias do copo.
Bebia como estimulante aos seus génios e veia poética; raras vezes pedia mais de um
copo, que era dos pequenos, e até detestava os bêbados.”
Mais tarde, já em Braga, confessei a Alberto Pimentel que, em Coimbra, se
bebia, não para apagar a sede ou para afogar paixões, mas para dar tom aos nervos e
activar os movimentos do maquinismo intelectual..
Embora bebesse, amasse e tivesse o prazer da mesa, não fui um imoderado no
beber, no amor e no comer, porque se assim fosse, não teria chegado à casa dos oitenta,
que os excessos, em tais actividades, não costumam perdoar.
Fui boémio, sem dúvida. Mas de uma boémia relativamente disciplinada e de …
casaca, monóculo e luvas brancas.
Bebi, comi e amei, diverti-me, mas julgo que por conta, peso e medida. Fui
versado e conversado na fisiologia do gosto, mas sempre na justa medida, sem dar
escândalo. Não abusei do espumante, não me excedi na fatia do paio, nem na lasca do
presunto.
Hedonista, sim. Voluptuoso, sim. Mas dentro do equilíbrio do “est modus in
rebus”.
As causas que defendi, como advogado, certamente não as defendi em jejum.
Nunca, porém, com um grãozinho na asa. Nunca com digestões de jibóia. O espírito
crítico é incompatível com os pesadumes de estômago.
Amores? Absolutamente certo e natural que os tivesse:
“Pelo que a saias respeita,
Tive cheques amargos,
A minha lista: perfeita,
Mas isso são contos largos.”
Obviamente que não vou aqui “abrir o livro”, mas sempre poderei abordar um
ou outro caso concreto e dar algumas pistas ou, ainda, como era meu hábito, lançar a
confusão.
Já se disse que o vinho, as mulheres e o presunto foram a trilogia que me
inspirou. Não sou eu que o vou negar. De facto, o dedo é posto na “ferida”:
“Emprega o tempo na caça
Das Vénus de fácil presa
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E nas delícias da mesa
Onde espuma a rubra taça.”
A conclusão, lógica, é do Francisco Duarte Mangas, um minhoto de Rossas,
Vieira do Minho, que me honrou com uma “Antologia Poética”. Mas, já agora, àquela
trilogia poderia ter acrescentado …o paio.
Porém, não confirmo nem desminto que, por aí, nessa trilogia ou tetralogia,
possa haver muita “literatura” e, portanto, muita ficção, embora, confesso, debaixo
dessa ficção possa existir uma boa dose de verdade autobiográfica.
Amores reais? Literários? Raramente me abri ou abrirei até ao fundo. A vida
pareceu-me, muitas vezes um Carnaval. Assim, ter-me-ei “vestido”, ou “travestido”,
também muitas vezes, de soneto como um dominó?
O Guerra Junqueiro não aceitava que eu, o poeta João Penha, vindo a público
fosse o verdadeiro. O vindo a público, escrevia ele, era o falso, simples disfarce de um
outro que se envergonhava de ser quem era. E continua, na “Crónica” n.os 63 e 64,
Lisboa, Abril de 1902:
“Por vezes, no riso de João Penha há um modo altivo de chorar. Sente a dor, mas
esconde-a. E, para que o mundo lha não suspeite, encara-o hostil, despede-lhe
sarcasmos. Bondade, timidez, orgulho. É bom e sofre; é tímido e cala; é orgulhoso e ri.
Poeta mascarado, os transeuntes só o reconhecem pela máscara. Há duas edições dos
versos do João Penha: uma a impressa, e a outra, inédita, a que ele guarda no coração
como um tesoiro inviolável. A edição para o mundo e a edição para Deus.”
Não sei se o Junqueiro terá querido dizer que eu fui a viva encarnação do “homo
duplex”: um para o “extra”, outro para o “intus”. Não comento!
Para estes assuntos, Gonçalves Crespo, o meu melhor amigo e companheiro, é
uma óptima fonte de informação.
Uma das musas inspiradoras, que em caso algum poderia ocultar, foi uma
senhora espanhola com quem, durante muitos anos, mantive uma relação amorosa. E
não ocultaria, porquê? Dessa relação nasceram dois filhos, João de Oliveira Fortuna, e
uma filha, morta pela tuberculose, e a quem me refiro numa poesia inédita, existente na
Biblioteca Pública de Braga. É verdade, muitos versos foram inspirados e dedicados à
mãe de meus filhos.
Numa segunda fase, correspondente às “Novas Rimas” (1905), Zulmira de Melo
foi, de facto, a musa inspiradora. Nobre por nascimento, Zulmira Pereira da Costa
Ferreira de Melo terá nascido no Solar de Agras, no antigo Couto de Fonte Arcada. Do
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avô, José Joaquim Ferreira de Melo Freire de Andrade, amigo de Camilo Castelo
Branco, herdou o espírito requintado de artista e a paixão pela poesia, para além de ser
extremamente bela, tão bela que a formosura de Zulmira de Melo seria aquela que um
pintor romântico, mas conscencioso, daria à Musa da Poesia.
Inspiradora? Sim e muito. Paixão? Fosse como fosse, não teve sequência
material. A esse tempo, Zulmira era uma jovem de dezoito anos e eu, já há muito,
entrara na casa dos sessenta!
Adiante.
Quanto a dar uma opinião sobre a minha obra literária (“Rimas”, 1882; “Viagem
por Terra ao País dos Sonhos”, 1898; “Por Montes e Vales” (prosa), 1889; “Novas
Rimas”, 1905; “Ecos do Passado”, 1914; “Últimas Rimas”, 1919; “Canto do Cisne”,
publicado postumamente, 1923), ou mesmo um breve comentário, compreenderão
perfeitamente que não me compete a mim fazê-lo, nem me sentiria à vontade, alguns já
o fizeram e outros fá-lo-ão ainda, certamente.
No entanto, apenas me seja permitido explicar o aparecimento e objectivos do
jornal literário, por mim fundado, “A Folha”.
Foi durante a minha frequência universitária que se suscitou a ruidosa discussão
sobre duas escolas literárias, então em foco, e na qual intervieram Castilho, Camilo
Castelo Branco, Teófilo Braga, Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Alexandre da
Conceição e outros, em arrebatada polémica, que chegou às culminâncias da mais
extraordinária vivacidade.
É, precisamente, neste contexto que resolvi fundar o referido jornal literário, um
jornal em que colaborasse o escol de uma valorosa geração que tanto se estava
evidenciando, e que se publicou entre Dezembro de 1869 e Abril de 1873.
Logo de entrada, no primeiro número, faço referência às duas escolas que então
existiam, a de Lisboa e a de Coimbra, declarando que era ecléctico em tudo, e que não
pertencia a qualquer das escolas considerando-as ambas excelentes.
De tal modo levei a peito a minha promessa de eclectismo, verdadeiro ponto
final da célebre “Questão Coimbrã”, que dela não deixei de dar provas a toda a hora e
momento, em qualquer página e linha. No mesmo jornal publicam-se, por exemplo,
excertos duma tradução de “Fausto” por Antero e excertos da mesma obra traduzida por
Castilho, dois nomes, portanto, que se afastam ideologicamente e a que nem por isso “A
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Folha” deixou de dar o devido lugar. Numa abertura de ideias, louvável sem dúvida,
presta-se homenagem a Castilho, dá-se à estampa
Teófilo, admira-se João de Deus, elogiam-se Eça e
Ramalho, acolhe-se D. Maria Amália Vaz de
Carvalho, imprimem-se Gomes Leal, Guilherme de
Azevedo e até mesmo o “Santo Antero” dos
“Sonetos”.
Uma das condições essenciais para um bom
acolhimento, quanto a matéria de publicação, seria o
respeito pela língua.
Exigia-se aos colaboradores a vernaculidade
da língua, pois um escritor que não se trate por tu
com a língua vernácula – a que mamou com o leite
materno – será sempre um medíocre escritor.
Na direcção do periódico literário, “A Folha” era de um tal rigor em questões de
linguagem e versificação que, por vezes, fui obrigado, a recusar colaboração, e não raro
acontecer criar inimizades, até com escritores muito aplaudidos. Não me
incompatibilizei com Antero, nem era caso disso, mas recusei a poesia como facho da
Revolução defendida pela sua ala. A arte é uma das manifestações da liberdade do
pensamento, e não deve, por isso, demarcar-se-lhe o campo em que exerce a sua
actividade, aprisioná-la num circuito de regras e princípios que pejem e restrinjam a
amplitude da sua expressão de pensamento.
Ponto de honra, ainda, era o facto de não serem permitidos nomes que
escondessem a verdadeira identidade do seu autor. O tempo dos embuçados, da guitarra
misteriosa, de escadas de seda, de raptos nocturnos, de navalhadas na sombra, foi ...
chão que deu uvas. “A Folha” era independente, arrojada e corajosa, sabia enfrentar a
tirania do público e opor, à sua crítica severa e mordaz, a confiança num mundo melhor.
Apreciado em conjunto, o jornal que dirigi apresentava certo equilíbrio de ideias,
o que certamente terá contribuído para a celebridade de que gozou durante os quase
cinco anos de existência, que vão de 3 de Dezembro de 1868 a 6 de Abril de 1873.
Porém, essa celebridade tem muito a ver com a colaboração imprescindível de
Gonçalves Crespo, Guilherme de Azevedo, Gomes Leal, Antero, Teófilo Braga, Guerra
Junqueiro, Simões Dias, Guilherme Braga, Eduardo Cabrita, o próprio Camilo e outros.
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Sem dúvida, que a colaboração destes autores encheu a revista de um conteúdo
heterogéneo, mas nem por isso deixámos de defender ali a plena liberdade da arte.
Concluindo estas breves considerações sobre “A Folha”, direi que, numa hora
grave de desinteligências e amuos entre os maiores valores da nossa literatura, é
pertinente e extremamente feliz a expressão de um antigo e prestigiado catedrático da
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Professor Álvaro Júlio da Costa
Pimpão, ao salientar que pretendi “cultivar amorosamente o seu (meu) jardim, no
respeito inviolável dos jardins e ... hortas dos outros”.
Finalmente, em 1873, terminei o curso
de Direito, Em breve, regressaria a Braga para
me juntar ao meu irmão Manuel, advogado
nesta Comarca, e que me havia subsidiado os
estudos e até... a minha boémia na Lusa-
Atenas.
Este meu irmão tinha por mim muita
admiração, e tanta dedicação me votava que,
eu próprio, nos tempos de Coimbra, sobretudo quando recebia algum reforço à mesada,
comentava em tom brincalhão, mas carinhoso: o único vício do meu irmão ... sou eu.
Deixada, com todo o encanto das despedidas, a cidade do Mondego, regressei a
Braga abandonando o atalho caprichoso e pitoresco da poesia, pela estrada severa da
jurisprudência. Montado escritório de advogado no Campo da Vinha, é aqui que vou
assentar a minha vida de trabalho durante cerca de quarenta anos.
De facto, a minha vocação era a poesia, mas como ser poeta, em Portugal, era (e
é?) tirar bilhete de ida e volta para a miséria, tive de fazer advocacia. Que remédio! A
gente põe, mas a necessidade de ganhar o rico pãozinho dispõe:
“Para o pão de cada dia
(Eis-me aqui chegado à prosa)
Deu-me a sorte a advocacia
Uma velha remelosa.
Quis fugir-lhe: vão esforço!
Já quis impontá-la a murro,
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E filou-se-me no dorso
Como um moscardo de burro.
E que seria de mim
Sem os bons lados que tem?
Isto confirma o anexim:
Há males que vêm por bem.”
Teria de ser esse o meu modo de ganhar a vida – a banca de advogado – a ele
tive de recorrer, pois que, só pelas letras seria impossível manter-me a mim e a minhas
irmãs, solteironas como eu. Solteirão? Sim. Não fui misógino mas também, talvez
paradoxalmente, não mostrei grande vocação para o casamento. Dando de barato razões
de ordem temperamental, o receio das despesas que a criação dum lar implicaria, pode
ter sido motivo de peso para ficar eterno solteirão:
Não caso, nem me apodem de casmurro:
Não se casa no mundo quem bem quer,
Eu, se nem posso sustentar um burro,
Como sustentaria uma mulher!
Mesmo contra vontade, contra as aspirações do meu espírito, dediquei-me de
alma e coração à advocacia, conquanto ao prefaciar o primeiro livro do Antero de
Figueiredo, “Tristia”, ter deixado escrito que, quem publicava um livro não o fazia para
o ler, publicava-o para que outros o lessem. Queria, portanto, produzir um efeito
qualquer, efeito que em todo o caso, não podia ser o do sono: para este havia o ópio, a
beladona e... o Código de Processo Civil.
Trabalhava infatigavelmente, encerrando-me no meu escritório e só à noite
passeava, fazendo, então, no regresso, paragem na confeitaria do Anacleto, na Rua de S.
Marcos.
Por este tempo, tal como em Coimbra, continuava a vestir-me com apurado
requinte de elegância e ainda não deixara o meu inseparável monóculo (dizem, dizem ...
que dormia com ele e até o levei para a cova) e a flor de botoeira.
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Como advogado tinha uma grande clientela, constando que a minha competência
em questões de cível não sofria rivalidade.
Posso dizê-lo, porque é público e notório, que grandes individualidades a mim
recorreram e os conselheiros José Dias Ferreira e Francisco da Veiga Beirão solicitaram
a minha colaboração nas leis que tiveram de editar no País.
Deixei publicados alguns trabalhos forenses que, dizem os especialistas, são
peças jurídicas onde sobressaem o alto espírito crítico, a profundeza do saber, a
perfeição da forma e a correcção e elevada elegância com que os assuntos eram
tratados.
Apesar das minhas responsabilidades como advogado e aturar todos os dias, no
meu escritório, uma chusma de clientes, que às vezes, o que me contrariava muito, me
assaltavam em plena rua, já depois de ter fechado o escritório, estava ao corrente de
todas as novidades literárias que a França inventava e exportava, porque as recebia
directamente de Paris, em primeira mão.
Um ano depois do meu regresso a Braga, 1875, dirigi a “República das Letras”,
revista literária que se publicou no Porto e da qual só saíram três números.
O meu viver mudou de aspecto, mas continuei poeta até morrer. Tomei-lhe o
gosto em novo. Quem uma vez entrou no mundo da arte, já dele não pode tornar a sair:
é mundo encantado, fora do qual não há salvação possível.
Também nunca vendi a minha arte. Pratiquei-a desinteressada e ludicamente,
sem outra intenção que a da arte pela arte. Fiz versos no ócio, nunca os fiz para negócio.
Aliás, isso não adiantaria um milímetro à minha bolsa, porquanto já referi o que
equivalia a ser escritor em Portugal.
O pãozinho veio-me da advocacia, não da poesia, veio-me da bolsa dos clientes,
não do Parnasianismo. Porém, o ganha-pão nunca abafou, em mim, o gosto da arte; o
advogado burguês não eliminou o poeta. Se a beca me dava o pão do corpo, a poesia
dava-me o pão do espírito.
Só a morte me fez depor a pena.
Entretanto, a velhice e a doença aproximavam-se.
Já em 1910, em carta a António Cabral, que me pedia cópias de cartas inéditas
do Eça e notícias de factos importantes da sua vida de estudante, queixava-me da surdez
que me acabrunhava e me veio a impedir de trabalhar no tribunal, restando-me o recurso
dos labores de gabinete, como jurisconsulto.
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Os meus últimos anos marcaram-me uma existência de lutas e misérias. Em
Fevereiro de 1917, o “Jornal de Notícias” referia que me encontrava impossibilitado de
sair do leito e insurgia-se contra a ingratidão dum País, que não socorria um homem que
foi o mestre e o amigo das letras portuguesas. Por este tempo, duas irmãs, tão velhas
como eu, encontravam-se também doentes.
Logo que teve conhecimento da situação, o meu querido amigo Guerra
Junqueiro telegrafou ao Presidente da República, outro querido amigo, o Bernardino
Machado, e ao Ministério, lembrando que me deveria ser atribuída uma pensão
nacional, no que eles concordaram da melhor vontade, pois que já era esse o seu desejo.
Algum tempo depois, recebi uma carta do Bernardino, participando-me que nada
tinha a agradecer pelo facto do Parlamento ter votado uma pensão, como homenagem
aos meus talentos e serviços das letras pátrias, como tinha feito a outros, entre eles, João
de Deus e Gomes Leal.
A pensão era extensiva a minhas irmãs, até à morte da última.
Pouco benefício tirei da referida pensão, porquanto vim a falecer a 3 de
Fevereiro de 1919, aos 81 anos, no número 107 do Campo da Vinha.
Os meus últimos momentos foram de amarga consciência da morte que se
aproximava.
Um quase terror se reflectia em algumas das minhas composições dos últimos
meses de 1918, terror misturado a uma amargura recalcada, que, por vezes, tomava
aspecto de despedida dolorosa e pungente à vida. Seis meses antes de falecer, triste e
desiludido, deixei nas “Últimas Rimas”:
“Cada dia que morre, amigo, é um passo,
Para as terríveis sombras do Infinito!”
Fui a enterrar, numa terça-feira de tarde, chuvosa e triste, a 4 de Fevereiro de
1919.
Post Mortem.
João Penha, que foi um dos mais notáveis poetas do seu tempo, ninguém o
excedia na elegância da forma, na vernaculidade e na correcção artística do verso,
ocupando um lugar de relevo na literatura portuguesa, tem sido vítima de um
esquecimento injusto.
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O mais recente e significativo passo para o trazer à luz do dia, foi dado há cerca
de uma dúzia de anos com a publicação da “Antologia Poética de João Penha”.
Esta “Antologia”, imprescindível para o conhecimento do ilustre bracarense, só
foi possível devido à conjugação de esforços e boa vontade da Biblioteca Pública de
Braga / Universidade do Minho, na pessoa do seu Director, Dr. Henrique Barreto Nunes
que, para além da iniciativa, faz a Apresentação e elabora uma notável bibliografia
(activa e passiva), e do Dr. Francisco Duarte
Mangas, responsável pela organização e
prefácio de um trabalho de indiscutível mérito,
o qual constitui, sem dúvida, uma base de apoio
necessária e suficiente para um conhecimento
mais profundo do poeta, ou elaboração de
trabalhos de maior fôlego.
Condição “sine qua non” foi o
patrocínio da Livraria Minho nas pessoas dos
seus proprietários, senhores Augusto Ferreira e
Armindo Salgado, integrando-se, desse modo,
numa exemplar colaboração à cultura
portuguesa.
Concluindo:
Se mais razões não houvesse para que João Penha começasse a ser relido e
revisitado, relançando, assim, o interesse pela sua pessoa e obra, bastaria referir aquelas
que Maria do Rosário Girão Ribeiro dos Santos apresentou, em 1998, na “Homenagem
a João Penha” (edição da Biblioteca Pública de Braga), e que passo a transcrever:
“A quantidade e qualidade das obras publicadas, que contraditam
indubitavelmente uma reputação conquistada com base apenas na sua figura carismática
de boémio coimbrão.
A independência do seu espírito, avesso a partidarismos estéticos e a sujeições
quer a programas ou manifestos, quer a escolas ou movimentos.
A perfeição formal do seu soneto, no qual se entrecruzam cómico e trágico, no
qual sublime e prosaico não deixam de convergir em feliz harmonia.
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A originalidade da sua temática, que tanto rende preito a motivos convencionais,
como parodia estereótipos gratuitos e clichés anquilosados.
Se Braga se esqueceu, no antigamente, do Dr. João Penha... ainda vai a tempo,
no tempo de hoje, de homenagear um grande poeta e um artista nato...”
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.
“ANTOLOGIA POÉTICA DE JOÃO PENHA” – Biblioteca Pública de
Braga/Universidade do Minho. Organização e prefácio: Francisco Duarte
Mangas. Apresentação e nota bibliográfica: Henrique Barreto Nunes.
Patrocinada por Livraria Minho – 1990.
BRAGA, António de Oliveira – “João Penha: o poeta e o advogado”. “Diário do
Minho”; 31/5/89 e 14/6/89.
CABRAL, António – “Camilo e Eça de Queiroz”. Coimbra Editora – 1924.
CABRAL, António – “Tempos de Coimbra”. Coimbra Editora. Terceira Edição – 1962.
FONSECA, Maria Amália Martins da – “Introdução ao Estudo de João Penha”.
Portugália Editora – 1963.
MALPIQUE, Cruz – “João Penha, anti-metrificador do ai!”. Braga – 1966
NASCIMENTO, Adriano do – “Homens Ilustres”: João Penha. Coimbra – 1957
PIMENTEL, Alberto – “Poetas do Minho” – João Penha. Cruz Editores – 1893.
PIMPÃO, Álvaro Júlio da Costa – “Algumas notas sobre a estética de João Penha”.
Coimbra – 1939.