fazer arte, fazer política - arte e resistência em tempos dificeis

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Trabalho de conclusão de curso.Este artigo visa uma reflexão sobre o autoritarismo da ditadura, censurando a arte, e a resistência desses artistas de ideologia socialista.O objetivo da pesquisa é demonstrar de que forma se deu tal resistência, qual era o objetivo desse embate com os militares.A proposta terá dois focos: O teatro de Arena, suas montagens e o seminário de Dramaturgia.

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Universidade Nove de JulhoFabiula Cristina AntoniniFazer Arte, Fazer Poltica:Arte e resistncia em tempos dificeis.So Paulo, 2012Fabiula Cristina AntoniniRA 910120431Fazer Arte, Fazer Poltica: Arte e resistncia em tempos dificeis. Trabalho de concluso de curso, apresentado como requisito parcial para obteno do grau de Licenciatura em Histria , da Universidade Nove de Julho.Professor Orientador: Dr Flavio Villas boas TrovoSo Paulo, 2012Resumo: Este artigo visa uma reflexo sobre o autoritarismo da ditadura, censurando a arte, e a resistncia desses artistas de ideologia socialista.O objetivo da pesquisa demonstrar de que forma se deu tal resistncia, qual era o objetivo desse embate com os militares.A proposta ter dois focos: O teatro de Arena, suas montagens e o seminrio de Dramaturgia.Palavras Chaves: Teatro Cultura Resistncia Ditadura Militar.O teatro poltico, como assunto, depende de um fluir histrico, de um desenrolar de fatos e conceitos. Conforme for o destino da esquerda, assim ser o seu. (Decio de Almeida Prado; IntroduoFim da segunda guerra mundial, em 1945, muitas expectativas sendo criadas. Iniciou-se a guerra fria. Uma disputa pelo poder entre a potncia econmica E.U.A e a comunista U.R.S.S. Uma intensa guerra ideolgica, econmica e tecnolgica era travada pela conquista de influencias territoriais. O mundo se via dividido em dois blocos: A esquerda e a direita. Tal movimento influenciava diretamente na poltica dos demais pases. O Brasil havia experimentado uma ditadura, de colorao fascista, com a implantao do Estado Novo, em 1937. Nesta poca, Partidos foram cassados, Cmaras foram fechadas, nova constituio nos moldes do atual governo autoritrio e centralizador foi promulgada, os direitos democrticos da populao foram eliminados. Este perodo foi considerado um atraso, por conta que a poltica Vargas transformou conquistas em concesses. Tal fato foi percebido por intelectuais e artistas, que buscavam uma oposio critica em suas poesias para um outro Brasil.O anticomunismo dava a nota, com forte propaganda poltica, fazendo frente negativa ao movimento comunista, apontando-os como perigosos e alimentando as iluses que se criavam em torno deles. Com o fim da segunda guerra, a volta dos pracinhas e contabilizando seus mortos. O sistema rapidamente comea a ser questionado. Antes mesmo do final da guerra j se discutia sobre esta ditadura nos moldes fascistas, que animava o sentimento de oposio, atravs dos estudantes, lideres sindicais e intelectuais. A democracia foi posta em xeque em vrios momentos antes. As ideias de esquerda j perambulavam pelo Brasil em meados dos anos 20, ps-primeira guerra. A semana de 22 j buscava, de certa forma, um nacionalismo. Havia inmeras revoltas que contestavam a forma de governo e exigiam mais participao do povo nas decises polticas. Tais impulsos estavam ligados, intencionalmente ou no, as ideias comunistas, anarquistas, ou seja, pensamentos de esquerda.Em 1964, com o golpe militar, o Brasil comeou a virar de cabea para baixo. Seus lideres comearam a lapidar o pas, aposentando compulsoriamente seus intelectuais, censurando a arte. Todo esse ato era para impedir a disseminao de ideias contrrias. Nada podia entrar em choque com os ideais militares. Os atos institucionais estavam acima da constituio.O sucesso do golpe contou com o apoio de uma parte da sociedade, empresrios, proprietrios rurais (latifundirios), alguns membros da Igreja catlica, a imprensa, alguns governadores e a classe mdia. Eles pediam a interveno militar no intuito de por fim a ala esquerdista do pas, por puro medo da fantasia que se criou da imagem do comunismo. Cada um combatia este fantasma da esquerda, a partir de suas crenas particulares. Muitos tinham medo do comunismo tomar conta do Brasil e acabssemos como a antiga URSS, Cuba entre outros pases que aderiram o sistema comunista. Este medo tambm partia dos E.U.A., que auxiliou e apoiou o golpe no Brasil. Algumas pessoas acreditavam que o mundo estava desregrado e precisava de um pulso firme, por isso muitos apoiaram o regime na iluso de ter ordem em seu pas. Jorge ferreira, em seu artigo para a RHBN1 Revista de Histria da Biblioteca Nacional, afirma que a participao ativa das lideranas de oposio do Poder Legislativo e a omisso do Poder Judicirio foram decisivas para o sucesso do golpe.No havia um plano de poder, a inteno inicial era afastar Joo Goulart, e fazer uma limpeza nos polticos comunistas, sindicalistas e trabalhistas. Eles colocavam como a luta do bem contra o mal. Os militares por sua vez justificaram tal ao como uma forma de restaurar a ordem, disciplinar e deter a ameaa comunista. Havia uma onda forte de manifestaes no s no Brasil, contestando a ordem estabelecida, um desejo latente de renovao.O Pas vivia uma democracia disfarada e moderada no inicio, com uma liberdade tolerada.A ditadura militar veio para garantir o capital e o continente contra o socialismo. Mas uma parte da sociedade se articulava para defender seus direitos, a voz. Mesmo vivendo numa represso, a cultura de esquerda no foi liquidada entre 64 e 69. Como aponta Schawrz, as livrarias de So Paulo e Rio de Janeiro eram repletas de obras marxistas, a cultura tambm. Havia uma relativa hegemonia cultural da esquerda no pas, como coloca Schwarz em sua obra Cultura e Poltica. ( p.8, 2009).Com a passividade da direita em relao produo cultural, a ala esquerdista ganhou um expressivo lugar entre a pequena burguesia anticapitalista. Revelando uma importncia social e disposio para a luta, dando inicio a propaganda armada da revoluo, tornando-se massa politicamente perigosa. Em 68, diante deste quadro, o regime responde com um endurecimento. Nesta fase comea a trocar o quadro dos professores, escritores, artistas em geral, uma forma de liquidar a cultura do momento. A classe artstica se mobilizava e contestava o regime nos palcos, criando espetculos que dialogavam com a sociedade, a fim de causar impacto e despertar o senso reflexivo e crtico no pblico. As produes efetuadas tinham carter de estabelecer um dialogo entre arte e sociedade, trazendo questes sociais e polticas. Denunciando as contradies sociais brasileiras atravs de uma linguagem critica por meio de textos elaborados. Costa ressalta em seu artigo que valorizar as produes artsticas a partir de suas interaes com o mundo social significa priorizar a obra de arte como expresso, validando seus possveis dilogos com as questes polticas sociais e estticas. No era uma norma de conduta ser adepto da contracultura, era antes de tudo uma opo de grupos. A luta pelo estado de direito era necessrio. Cada grupo optou pela forma que faria este embate. O Teatro de Arena se engajou numa proposta de teatro politizado, sem perder a esttica. Empenhado na ideia de transformao reflexiva da sociedade, apontou suas produes para um discurso arte poltica. Tal estmulo partiu do contexto histrico em que viviam e de ideias de cunho socialista. Estes grupos j contestavam o regime capitalista em que o mundo estava embebido, a partir do Golpe que culminou na ditadura, este embate se fez vital para despertar um senso critico na sociedade. A linguagem estabelecida no era a direta, e sim a de metfora e fatos histricos alusivos aquele momento. Concretizando o dialogo instigante entre arte, poltica e sociedade num momento de censura e tenso.Escolher textos estrangeiros que discutisse outros acontecimentos, mas que proporcionava uma analogia metafrica com os fatos polticos daquele instante, tambm foi uma das estratgias de montagens. Um belo exemplo de texto estrangeiro escolhido foi Tambores da Noite de Brecht. Tratava de uma derrota de um processo revolucionrio, na Alemanha em 1918. Tal texto propunha uma analogia com as derrotas esquerdista do Brasil, mortos em combates e nos pores da ditadura. A inteno era fazer o pblico refletir. Assim criar outras bases para lutar por uma normalidade democrtica.O teatro neste momento toma uma forma crtica, contestadora, contracultural. Refaz a dramaturgia, insere uma nova maneira de encenar. O intuito era chacoalhar a sociedade, e fazer que esta refletisse sobre os fatos. A arte e a poltica so consideradas como prxis. Esta postura prope ao espectador um movimento em direo as ideias socialistas. A autora Maringela, em seu texto, explica que quando o teatro assume esta postura, que at ento era reservada aos partidos polticos, sindicato e ao ativismo clandestino adquire uma dupla atribuio, fazer arte e histria. Cada espetculo tem um objetivo, uma meta. Tudo estratgico, o movimento, a fala, at o silncio tem uma direo. Todo o trabalho estava em sintonia com os fatos recentes.Esta renovao esttica nos palcos iniciou com o Teatro de Arena em 1958. Desde inicio foi considerado um grupo inovador, promessa do novo teatro brasileiro. A linguagem proposta pelo Arena quebrava com o clssico manjado do TBC. As montagens dos espetculos traziam novos elementos, outra esttica para o palco. Sendo considerado fenmeno nacional, no apenas paulista. O espao em formato de Arena trazia uma proposta mais econmica e com isso uma maior concentrao e proximidade com o espetculo. Nos antigos teatros convencionais uma montagem saia muito dispendiosa, e a distncia trazia uma iluso ao espectador e um distanciamento com a pea. Tal proposta j era utilizada na Europa, se apresentar em lugares alternativos. A primeira apresentao do grupo aconteceu no Museu de Arte Moderna - MAM, com a sede ainda localizada na Rua Sete de Abril, no centro de So Paulo, em 1953, com a montagem da pea de Stafford Dickens, Esta noite nossa. At o Teatro na Rua Teodoro Baima, as apresentaes ocorreram em clubes, fabricas e sales. Forma inusitada para a poca. O palco pequeno limitava o grupo, porm, fez com que eles buscassem novas alternativas o que resultou em inovao. Buscavam no marcaes ensaiadas e bonitas, mas uma relao humana. Essa atitude demonstra uma postura diferenciada dos outros grupos, dando lhes uma caracterstica audaciosa. A proposta de um teatro mais politizado comea com o Arena e influenciam vrios outros grupos pelo Brasil. Em Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Salvador. Os espetculos comeam a ter um valor estratgico, estando em sintonia com os fatos daquele momento. O peso da representao era dado ao homem na sociedade, agindo e sendo afetado pelas foras do poder, mostrando o jogo, atribuindo um juzo de valor, concluindo com uma ao transformadora.Essa forma de dramaturgia para os grupos trazia uma reflexo critica para os fatos, uma estratgia de conscientizao. Transpuseram para os palcos uma ideologia poltica inspirados pela teoria marxista.Em varias partes do mundo acontecia embate com regimes ditatoriais. Paris em 1968 significou uma ruptura radical com a poltica daqueles que aspiravam alcana-lo. Os velhos centros europeus j apresentavam sinais de cansao no combate. Porm na Itlia o regime fascista ajudou na criao artstica, que Hobsbawm chamou de Renascimento Cultural, por parte da liderana comunista do pas, que causou um impacto internacional com os filmes neorrealistas HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: Um breve sculo XX, 1914-1991. So Paulo: Companhia das Letras,2 edio, 1996, pag 486.. Sentimentos semelhantes floresciam em outras partes, como o Brasil. Ficando muito mais latente e evidente aps o golpe de 64. Tratava-se de mudar o mundo atravs do social. Por isso as ideias de esquerda, Marx, se faziam presentes. Por conta dessa postura, esses grupos comeam a ser vistos como perigosos para os militares que o identificam como inimigos pblicos, recebendo um tratamento repressivo a altura da sua pretenso. Para a censura o teatro teria que ser menos visvel.Para os artistas ideolgicos no perodo de 64 a 68, o golpe fora apenas uma interrupo para uma sociedade igualitria. A partir do AI5 este quadro fica mais tenso, o que faz com que os militantes passam a adotar uma estratgia mais silenciosa. Parte debanda para a clandestinidade e outra para a luta armada.Aps o AI5 a represso se torna mais acirrada. O cerco se fecha, comeam as prises, as torturas, os exlios, ameaas nas melhores das hipteses e censura. Podendo ser encarado como uma derrota poltica. A imagem da grande labareda purificadora da revoluo cede lugar s pequenas e incontestveis chamas que preciso manter acesas. (LIMA, 1994, p239).O mundo vinha do ps-guerra e se dividia em dois blocos: Esquerda e Direita. A gerao de esquerda vivia com a euforia da vitria sobre o fascismo e a perspectiva do socialismo. Todas essas ideias eram alimentadas pelos acontecimentos mundiais, fim da segunda guerra, Guerra fria, comunismo. Aps a segunda guerra mundial o capitalismo cresceu em ritmo acelerado. O consumismo no Brasil fica latente. Os anos 60 viram anos de rupturas, no s no Brasil, mas em todo o mundo de alguma forma. Um novo embate era travado: Capitalismo X Comunismo. Nesse momento ou voc era burgus ou de esquerda.Neste perodo a Amrica Latina estava sendo invadida pela cultura americana e sua tecnologia. Sua influncia era vista nas artes plsticas com a Pop Art, o cinema holiwoodiano, a introduo da guitarra eltrica nas musicas. A jovem guarda recebeu a influncia do rock americano e introduziu a guitarra em seus instrumentos. A sociedade de esquerda era antiimperialista, antiamericana, contracultura POP. Chegavam ao ponto de no beber coca-cola, mascar chiclete, vestir jeans. E nesse clima foi se configurando o Teatro de Arena alimentando o esprito contestador existente nos coraes de seus integrantes.Teodoro Baima, Black Tie, Seminrio de Dramaturgia, Arena conta... A ideia de um teatro em forma de Arena surge em uma conversa entre os alunos Jos Renato, Geraldo Mateus e o professor Dcio de Almeida Prado, para uma proposta de barateamento da produo teatral. No mesmo ano as ideias so colocadas em prticas por Jos Renato ainda na EAD.A companhia Teatro de Arena fundada em 1953, e seu repertrio continha gneros variados e a busca por uma esttica prpria. Em 1 de fevereiro de 1955 o grupo se instala na sede da Rua Teodoro Baima, 94. Em 1956 Augusto Boal se integra ao grupo para dividir a direo com o Jos Renato, neste mesmo perodo o Teatro Paulista do Estudante TPE se junta ao Arena trazendo Gianfrancesco Guarnieri, Oduvaldo Vianna Filho entre outros.Alguns dos integrantes do TPE faziam parte de algum partido de esquerda, eram em sua maioria engajados politicamente. E tinham como proposta teatral uma tarefa poltica. Mas no Arena nem todos os seus integrantes eram de esquerda, marxistas e partidrios. No era regra o ser. A proposta inovadora do Arena atraia outros atores para o trabalho. O Arena veio como sopro inovador no teatro brasileiro. Para a crtica Regina Helena Paiva, o teatro tem o poder de transformar as pessoas. A reforma agrria e urbana era assunto em pauta na poca. Em 64 havia uma nsia muito grande a participar, de algum modo, na vida do pas. Quando a imprensa esta limitada e a poltica desviada, as artes se sentem os responsveis por falar o que o povo, pensava e sentia.O Arena no foi projetado e pensado para ter um cunho poltico em suas montagens, mas por conta do engajamento de alguns e o cenrio poltico da poca o rumo foi esse. Mas as proposta com essas caractersticas no eram enunciadas. No era intencional desde o principio, foi tomando este formato no decorrer da trajetria. A vontade de participar colaborou para esta caracterstica poltica nas propostas de encenao do Arena, identificando-o como um teatro de interveno social.A situao do Arena se encontrava delicada. Seu fundador, Jos Renato quase fechava suas portas quando decidiu montar uma pea de um dos atores do grupo, Guarnieri. O texto em questo era Eles no usam Black Tie, que colocava como protagonista uma operria. Trazia a cena conflitos urbanos, discutindo a luta de classes.Para o critico Sbato Magaldi, que substitua Dcio no jornal O Estado de So Paulo, o texto tinha implcitas ideias marxistas que no permitia que o deforma-se deixando explicito o objetivo poltico, permitindo que a plateia fizesse a concluso. Ele tinha uma certeza de que a pea iria revolucionar a dramaturgia brasileiraEles no usam Black Tie, trata de problemas sociais oriundos da industrializao, trazendo lutas reivindicatrias. A pea,Eles no usam Black Tie, se passava numa favela do Rio de Janeiro, o pai da famlia era russo, a me italiana, o filho (o Guarnieri) era italiano, a Riva Nimitz era judia e o Flvio Migliaccio era oriundo. Tinha dois atores representando os brasileiros: o Milton Gonalves e Eu gnio Kusnet. Um elenco internacional fazendo referncia explicita a ala esquerda, que representava a vida num barraco, no morro do Rio de Janeiro. Isso gerou uma das maiores revolues do teatro, da histria do povo brasileiro.Eles no usam Black Tie, Gianfrancesco Guarnieri e Eugnio Kusnet, em 1958.Fonte: OTVIO - Farra?... Farra vo v eles lna fbrica. Sai o aumento nemqueseja a tiro!... Querendo podem aproveit o guarda-chuva, tfurado, mas serve... Eu acho graa desses caras, contrariam a leinuma poro de coisas. Na hora de pag o aumento querem seapoi na lei. Vai se preparando, Tio. Num dou duas semanas e vaiestour uma bruta greve que eles vo v se paga ou no. (Vai ato mvel e pega uma garrafa de pinga.) Pra combat a friagem... Se no pag, greve... Assim que ... (Trecho da pea Eles no usam Black Tie).Cartaz promocional do compacto lanado por Adoniran Barbosa com a msica-tema de Eles no usam Black-Tie, onde os autores so "Peteleco" (apelido de Adoniran) e "Tio" (o nome do personagem de Guarnieri na pea)Fonte: http://bernardoschmidt.blogspot.com.br/2009/12/os-50-anos-de-eles-nao-usam-black-tie.html" http://bernardoschmidt.blogspot.com.br/2009/12/os-50-anos-de-eles-nao-usam-black-tie.html O resultado positivo da montagem o grupo sentiu a necessidade de refletir sobre quais obras deveriam ser encenadas e discutia-se o que era preciso saber para se escrever textos bons e que discuti-se de forma espontnea a realidade nacional. Boal que adorava a cincia teatral, a pesquisa sugeriu um Seminrio de dramaturgia, no intuito de estimular o aparecimento de novas obras nacionais. A principal ideia deste seminrio era trazer essas novas obras que alimentariam um teatro nosso, brasileirssimo, com temas que trouxesse uma reflexo critica da realidade. Um dos itens para a seleo das obras era estudo da realidade artstica e social brasileira.No embalo da procura por inovao e uma linguagem social vrios textos que foram apresentados no seminrio comearam a ser montados. Os textos traziam discusses do mbito social da poca. Segundo Guarnieri Em entrevista para Fernando Peixoto do livro Teatro em Movimento, pag. 52., uma tendncia de praticar um teatro que alertasse para a libertao do povo brasileiro. E essa libertao s se poderia dar na medida em que o teatro estivesse preocupado com a luta de classes.A pea Arena Conta Zumbi fazia uma analogia entre a escravido e a colonizao portuguesa com a ditadura que acontecia. Para o critico Sbato Magaldi MAGALDI, Sbato. Um palco brasileiro: O Arena de So Paulo. So Paulo: Editora Brasiliense, 1984. nada houve entre ns, at aquele momento, que significasse uma condenao to radical a ditadura instalada pelos militares. Todos os aspectos do golpe so analisados, sem que se poupe um. Cena do musical Arena conta Zumbi, em 1965. Marilia Medalha, Guarnieri, Dina Sfat, Lima Duarte, Antero de Oliveira, Vnia SantAnna e Chant DessianFonte: http://www2.uol.com.br/teatroarena/arena.html.Registro fotogrfico Derly MarquesAt o figurino foi pensado propositalmente, j que estvamos em plena guerra fria, nada mais lgico que colocar um smbolo do grande pas imperialista para contestar a ditadura. Todos os atores e atrizes vestiram cala jeans ou rancheira como a chamavam, com botinhas de couro e camisetas coloridas. Tudo importado do E.U.A. Na pea se discutia a poltica exterior, a subservincia aos Estados Unidos, a aliana EstadoExercitoReligio, o moralismo pequeno-burgus, a aliana com a corrupo (o ex-governador Ademar de Barros) para combater o comunismo, a tortura. Tudo meticulosamente colocado em cena, a fim que o espectador crie conscincia dos fatos. Arena conta Zumbi, em 1965Ao centro, Gianfrancesco Guarnieri, agachados, Vnia SantAnna, Anthero de Oliveira, Izaas Almada, Deitado, Chant DessianFonte: http://www2.uol.com.br/teatroarena/arena.htmlArquivo Sociedade Cultural Flavio Imprio.O numero de mortos na campanha de Palmares, que durou cerca de um sculo, insignificante diante do nmero de mortos que se avolumam, ano a ano, na campanha incessante dos que lutam pela liberdade. Ao contar Zumbi prestamos uma homenagem a todos aqueles que, atravs dos tempos dignificam o ser humano, empenhados na conquista de uma terra da amizade onde o homem ajuda o homem. (Trecho da pea Arena conta Zumbi).Era dessa forma que o Arena se colocava diante dos fatos, era assim que eles contestavam o que lhe desagradava. Atravs de metforas que se discutiam as questes sociais e polticas da poca, para que o espectador refletisse sobre.E dessa forma tambm conceberam Arena conta Tiradentes, usando o mito para como um heri revolucionrio, servindo de exemplo para os anos 60. Tiradentes em seu tempo lutou contra um regime de opresso a favor de outro que trouxesse satisfao a seu povo. O Arena coloca-o como transformador da realidade e faz uma autocrtica a poltica vigente. Boal e Guarnieri consultaram a verdade histrica, podendo notar na composio do texto. Jogaram com a verdade e mito para darem o recado. Arena conta Tiradentes, em 1967. esquerda, Gianfrancesco Guarnieri, frente, e Jairo Arco e Flexa, ao fundo; no centro, Cludio Pucci, em primeiro plano, David Jos (Tiradentes), em segundo plano, Renato Consorte (Carrasco), ao fundo; direita, Clia Helena, frente, e Silvio Zilber, ao fundo. Cena: Sentena.Fonte: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/comum/Arena%20Conta%20Tiradentes" http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/comum/Arena%20Conta%20TiradentesAcervo Idart/ Centro Cultural So Paulo. Registro fotogrfico Dely MarquesA pea se apresenta como um tribunal, aonde Tiradentes julgado pelo juiz, representado no sistema coringa Sistema de representao elaborado pelo Boal, no qual os atores se revezam em cena, no mesmo papel.. O julgamento vai se desenrolando em flashback. A abertura da pea uma dedicatria ao estudante brasileiro, Jos Joaquim Maia, na Frana, pensa na Independncia do Brasil e escreve uma carta a Thomas Jefferson pedindo ajuda dos Estados Unidos para o movimento libertrio reproduzida tal e qual. Esses documentos, subversivos para a poca, foram bem utilizados por Boal em cena. A crtica ao Castello Branco, pelo sufocamento da economia nacional, quando aponta a vinda do Conde de Barbacena para garantir os dzimos da metrpole, decretar a derrama e conter o desenvolvimento da indstria e comrcio. Portugal faz referencia aos Estados Unidos na pea. O julgamento final dos inconfidentes se d de maneira ao espectador refletir sobre as atitudes dos militares, padres e intelectuais perante a mudana de poder.Tiradentes colocado como um revolucionrio fantico, de fala agressiva. Temido e respeitado por acha-lo alucinado. Suas falas so criadas encima de discursos demagogos de polticos, nos anos 60. Outra figura bem utilizada a do Marqus de Barbacena e o episdio da Derrama. Tudo representado com stira e referenciando o Brasil de 68, discutindo a dependncia econmica do Brasil com relao s grandes potncias. O Arena visa com esta montagem, questionar a plateia, para mostrar-lhe que enquanto contemplam seus heris, seus marqueses colocam os soldados na rua. O Arena no fazia concesses ao divertimento fcil, muito menos negligenciavam o seu desejo de levar os espectadores a refletir e a pensar enquanto riam. Citao: ALMADA, Izaas. Teatro de Arena: uma esttica de resistncia. So Paulo: Boitempo, 2004, pag. 147.Uma produo, tambm significativa para o Arena, foi a Feira Paulista de Opinies, que reunia vrios artista que exprimiam sua insatisfao em relao a censura, falta de liberdade de expresso. Suas criticas duras ao governo s fez aumentar a tenso entre eles. Aps o jantar oferecido pelo deputado Jos Felcio Castellano, ento secretrio do Governo do Estado, aos autores paulistas, referente premiao no concurso de peas do Servio Nacional de Teatro, em 1967, tiveram a ideia de juntarem vrios dramaturgos, para discutirem o Brasil daqueles dias.ConclusoOs atores no processo de criao adquiriam o mximo de informao possvel para poder usar na analise da realidade brasileira.A preocupao constante do Arena era registrar, documentar, criticar seu tempo. Todos os espetculos tinham esse vis direcionado a esta realidade. No Brasil tambm buscava-se uma renacionalizao do Teatro. Se Pensava que reintegrando a ele as camadas sociais excludas, renovar-se-ia o espetculo entregando a universalidade perdida.Tais tendncias coincidiam com a forma de pensar com a ala de esquerda, que crescia no Brasil, vendo no povo o verdadeiro portador da ideia de nacionalidade.A classe artstica e intelectual, especialmente o Arena, se preocupava em utilizar os palcos para transformar o social. Fazer com que o individuo cria-se uma auto critica do sistema governamental. Enxerga-se a real situao mundial, e exclusivamente o seu pas, o Brasil. Para atravs dessa reflexo conseguirem efetuar mudanas. Num trecho do seu livro, Almada revela que ...acreditava sinceramente na possibilidade de fazer uma revoluo no Brasil, uma revoluo popular e de carter socialista ALMADA, Izaas. Teatro de Arena: uma esttica de resistncia. So Paulo: Boitempo, 2004, pag 98..Poderia ser utopia toda essa crena de mudana social atravs do teatro, mas o Arena acreditou piamente que era esse o caminho a ser traado. Alimentados intelectualmente pelas ideias de cunho socialista, construram sua jornada. Tais ideias ficaram muito mais aparente a partir da pea escrita por Guarnieri, Eles no usam Black Tie. Da foi se configurando um Teatro Militante. Nos palcos foi forma que o Grupo encontrou de lutar por seus ideais. Referncias bibliogrficasMAGALDI, Sbato. Um palco brasileiro: O Arena de So Paulo. So Paulo: Editora Brasiliense, 1984.SCHWARZ, Roberto. Cultura e Poltica. 3 edio. So Paulo: Editora Paz e Terra, 2009ALMADA, Izaas. Teatro de Arena: uma esttica de resistncia. So Paulo: Boitempo, 2004.ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. So Paulo: Martins Fontes, 3 edio, 2006.HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: Um breve sculo XX, 1914-1991. So Paulo: Companhia das Letras,2 edio, 1996.PEIXOTO, Fernando. Teatro em movimento. 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