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FAZ O CURSO NA MAIOR NUNO FERREIRA COM BRUNO CALDEIRA ESTUDA O MÍNINO, GOZA AO MÁXIMO: Os conselhos de um Professor Universitário

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FAZ O CURSO NA MAIOR

NUNO FERREIRA COM BRUNO CALDEIRA

ESTUDA O MÍNINO, GOZA AO MÁXIMO:Os conselhos de um Professor Universitário

Índice

PARTE – INTRODUÇÃO 7

PORQUÊ ESTE LIVRO 9

A QUEM SE DESTINA ESTE LIVRO 13

NÃO ACREDITES NESTES MITOS UNIVERSITÁRIOS 15

MITO 1 - É PRECISO IR ÀS AULAS PARA PASSAR DE ANO 16

MITO 2 - SÓ PASSA QUEM ESTUDA DURANTE O SEMESTRE 18

MITO 3 - É PRECISO ESTUDAR A MATÉRIA TODA 21

MITO 4 - UM BOM ALUNO NÃO USA CÁBULAS 23

O PRINCÍPIO 80/20 25

COMO LER ESTE LIVRO 29

PARTE II – PRINCÍPIOS BÁSICOS 33

OS SETE PECADOS FATAIS 35

I - GULA: SE QUERES GANHAR O CAMPEONATO NÃO PENSES SÓ NOS DÉRBIS 35

II - AVAREZA: SE NÃO DERES, NÃO ESPERES RECEBER 37

III - VAIDADE: SE TE ARMAS EM BOM ACABAS POR TE LIXAR 39

IV - PREGUIÇA: SE NÃO TRABALHARES, NEM AS CÁBULAS TE SAFAM 41

V - IRA: SE TE PASSARES, QUE SEJA PARA ESTUDAR AINDA MAIS 43

VI - INVEJA: SE SÓ PENSAS NAS NOTAS DOS OUTROS NUNCA SERÁS O MELHOR 45

VII - LUXÚRIA: SE QUERES GOZAR À GRANDE, TENS DE ESTUDAR À GRANDE 46

FAZ O CURSO NA MAIOR

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O P.O.D.E.R. DOS ESTUDANTES EFICAZES 49

I – PREPARAÇÃO 51

II – ORGANIZAÇÃO 54

III – DETERMINAÇÃO 61

IV – ENFOQUE 66

V – REALIZAÇÃO 70

PARTE III – AS 10 ATITUDES QUE VALEM (MUITO) MAIS DO QUE 10 VALORES 77

VAI SÓ ÀS AULAS QUE INTERESSAM 79

SE FORES ÀS AULAS, GARANTE QUE O PROFESSOR TE TEM EM BOA CONTA 87

FAZ AMIGOS 91

DESPACHA ALGUMAS CADEIRAS EM AVALIAÇÃO CONTÍNUA (MAS NÃO MUITAS) 95

DESENHA O TEU CALENDÁRIO DE EXAMES 98

FAZ UM PLANO DE ESTUDO 108

ESTUDA SÓ PELA BIBLIOGRAFIA MAIS IMPORTANTE 116

INTERIORIZA EM VEZ DE LER 122

GERE BEM O TEU (PRECIOSO) TEMPO 128

PRATICA O MÁXIMO QUE PUDERES 133

PARTE IV – O EXAME 141

AS HORAS ANTES DO TESTE 143

O TESTE 145

I – MANTÉM A CALMA E A CONFIANÇA 147

II – LÊ O TESTE TODO ANTES DE COMEÇARES A RESPONDER ÀS PERGUNTAS 149

III – GERE AS PERGUNTAS 151

IV – GERE O TEMPO 154

V – ESCREVE O QUE O PROFESSOR QUER LER 156

VI – AJUDA QUEM TE VAI CORRIGIR O EXAME 159

VII – BOTÃO DE PÂNICO: O QUE FAZER QUANDO NÃO SABES MESMO O QUE RESPONDER 163

VIII – AS CÁBULAS 165

DEPOIS DO EXAME 175

PARTE V – CONCLUSÃO 181

AGRADECIMENTOS 183

PARTE I

INTRODUÇÃO

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Porquê este livro

Deixa -me utilizar este primeiro parágrafo para me apresentar. Talvez depois de me conheceres, compreendas melhor porque é que decidi escrever este livro. O meu nome é Nuno, nasci em 1980 e nunca gos-tei de estudar. Desde a primeira classe até ao mestrado nunca fui um aluno considerado exemplar. Nunca estudei durante o período de aulas e só me preocupava com os exames uns dias antes de começarem.

Faltei a muitas (mesmo muitas) aulas para ficar no bar da faculdade a jogar às cartas, ir à praia ou à happy hour da Portugália, onde cada imperial custava 30 cêntimos. Raramente estudava pelos livros reco-mendados, porque sabia que alguém já os tinha lido e havia algures uns apontamentos resumidos com a matéria que era preciso saber.

Fui dirigente associativo, primeiro na associação de estudantes, depois na comissão de finalistas e sempre com o pelouro da organi-zação das festas. Fui a todas as festas. Às da minha e às das outras faculdades. Cheguei a ir a duas festas universitárias na mesma noite e fazia quase sempre questão de fechar a pista.

No meio disto tudo ainda arranjei tempo para praticar remo e nunca deixei de ir ao ginásio três vezes por semana. Tudo levaria a crer que, com este estilo de vida, dificilmente teria sucesso nos estudos. O mais provável seria desistir do curso ou abdicar de várias destas activida-des para me dedicar mais aos livros e às aulas. Mas o mais provável não aconteceu...

FAZ O CURSO NA MAIOR

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Licenciei -me em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) em 2002. Dois anos mais tarde tirei o mestrado em Economia Monetária e Financeira com média de 16 valores e distinção de melhor aluno daquele ano. Nunca chumbei e fiz todas as cadeiras à primeira tentativa. A licenciatura era de quatro anos e concluí -a em quatro anos. O mestrado era de dois anos e concluí -o em dois anos. Hoje sou economista numa consultora internacional e professor uni-versitário. Tinha 23 anos quando dei a minha primeira aula e desde aí nunca mais parei. Já fui professor no ensino público, politécnico e privado. Já dei aulas de dia e de noite. Já tive alunos mais novos e bem mais velhos do que eu.

Por isso, acho que os meus 16 anos de experiência académica (quatro na licenciatura, dois no mestrado e dez como professor) são suficientes para te explicar como podes tirar um curso sem seres um cromo. Por-que é esse o meu objectivo: que todos os leitores deste livro possam ter sucesso académico sem abdicar da vida social que só a universi-dade permite.

Pedi ao Bruno para escrever este livro comigo. Para além de ser um amigo, ele foi também companheiro em alguns dias de estudo e muitas noites de festa. O Bruno é Engenheiro Florestal e dos Recur-sos Naturais pelo Instituto Superior de Agronomia (ISA/UTL) e tem uma pós -graduação em Energia e Bioenergia pela Universidade Nova de Lisboa. Tal como eu, nunca considerou que as aulas e os estudos fossem as prioridades da vida académica.

No entanto, o Bruno conseguiu em 2003 a proeza de concluir a licen-ciatura em cinco anos (naquela altura, os cursos de engenharia eram de cinco anos lectivos) quando era normal fazê -lo em sete. Além disso, foi sempre trabalhador estudante durante a licenciatura e a pós-gra- duação e é por isso a prova de que é possível ter o melhor dos dois mun-dos mesmo em cursos tão exigentes como as engenharias.

Estive do teu lado há pouco tempo e sei bem como as coisas são. Por um lado, tens um curso para tirar e um futuro para agarrar. Por outro, tens a vida académica que só se vive uma vez. As festas, os flirts, as namoradas/os, as tardes de sol passadas na esplanada, as manhãs de inverno em que não te apetece sair da cama, as ressacas

PARTE I > INTRODUÇÃO

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que não te permitem ir às aulas, os amigos que queres fazer e os copos que queres beber.

Pode parecer impossível levar uma vida universitária à grande e ter sucesso nos estudos. Os teus professores vão querer convencer -te de que tens de ir às aulas todas e estudar durante o semestre para passa-res. Os teus pais vão torcer o nariz quando chegares a casa de manhã a cheirar a vodka e a tabaco. E aqueles colegas cromos competitivos que estão sempre a estudar vão olhar para ti com aquele ar preten-sioso de quem diz: “Eu vou ter futuro e tu não”.

Eu também ouvi tudo isso e a todos respondi da mesma forma: com resultados. É possível conciliar sucesso social com sucesso acadé-mico. Não tens de ser um cromo para tirar um curso com boas notas. Não tens de abdicar de nada. Tens apenas de te organizar e de alterar a forma como estudas. Se gostas de curtir à grande vais ter de estu-dar à grande também. E vais ver que não custa muito. Não importa o “quanto” estudas, mas sim o “como” estudas.

Este livro é para te ajudar a ter bons resultados sem abdicar de tudo o resto. Provavelmente até vais estudar menos tempo do que o que estu-das actualmente, mas vais ser muito mais eficiente e feliz. O impor-tante é passar às disciplinas com boas notas. E para isso acontecer não tens de saber tudo. Tens apenas de estar preparado para saber res-ponder às questões que te aparecem nos testes e nos exames. Parece a mesma coisa mas não é. Tive colegas de curso que sabiam muito mais do que eu sobre determinada cadeira mas no final acabaram por chumbar ou por ter uma nota mais baixa do que a minha. Hoje tenho alunos que participam bastante nas aulas e demonstram conhecimen-tos, mas que, por qualquer razão, chegam ao exame e não passam.

Não sou nenhum especialista em pedagogia e admito que este livro possa chocar muita gente habituada a ver a universidade como um local onde o professor ensina e o aluno aprende. Quando na verdade os pro-fessores universitários ensinam pouco e os alunos têm coisas muito mais importantes e interessantes para fazer do que apenas aprender.

Nenhum outro professor te vai dizer o que está escrito neste livro. Sabes porquê? Porque, ao contrário da maior parte deles, eu nunca fui um cromo quando era estudante. Mas acabei por chegar onde eles

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chegaram. O destino foi o mesmo: tirar um curso superior com boas notas. A viagem para lá chegar é que foi diferente. Enquanto a deles foi uma seca, a minha dava um livro.

Agora responde à pergunta: que viagem queres fazer? A deles ou a minha?

Se quiseres contactar os autores podes fazê-lo através do email: [email protected].

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A quem se destina este livro

Este livro destina -se a todos os alunos que queiram tirar um curso com boas notas sem serem os marrões da turma. A todos aqueles que olham para as aulas e para os estudos como algo menos prioritário. E neste universo, que aliás representa a esmagadora maioria dos estu-dantes em Portugal, estão incluídos vários tipos de alunos:

> Alunos para quem a universidade deve representar muito mais do que tirar um curso.

> Alunos que estão conscientes de que, mais importante que estudar, é fazer amigos para a vida e esticar a corda até ao limite (porque esta é a altura certa para o fazer).

> Alunos que não gostam de estudar.

> Alunos que até gostam de estudar mas querem maximizar os resultados nos exames.

> Alunos com outras ocupações para além das aulas (por exemplo desporto, dirigentes associativos, músicos).

> Jovens alunos trabalhadores estudantes.

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> Alunos trabalhadores estudantes com mais de 23 anos e que entraram para a universidade através de um exame ad -hoc (e que por isso têm poucas bases ao nível do ensino secundário).

> Alunos com uma situação familiar ou pessoal complicada que os impede de dedicar mais tempo aos estudos.

> Alunos finalistas do ensino secundário que queiram saber o que os espera na faculdade (para eles este livro é uma espécie de manual de sobrevivência universitária).

Este livro não é portanto para os alunos que passam a vida agar-rados aos livros, que vão às aulas todas e que têm sempre excelentes notas. Esses não precisam dos nossos conselhos. Ou porque desco-briram por si a forma ideal de estudar ou porque preferem comprar um livro acerca de técnicas de estudo com várias centenas de páginas e escrito por um académico brilhante numa linguagem que apenas os iluminados percebem.

Este livro é para quem quer, no final do curso, olhar para trás e pen-sar: Valeu mesmo a pena porque curti à grande e ainda assim conse-gui terminar a licenciatura (ou mestrado) com uma boa nota!

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Não acredites nestes mitos universitários

Desde os seis anos de idade, quando entramos numa escola pela pri-meira vez, até ao dia em que saímos da universidade com 20 e pou-cos anos, ouvimos professores, colegas e familiares dizerem coisas que parecem fazer todo o sentido mas que estão erradas. São daque-las mentiras que de contadas e repetidas tantas vezes se tornam ver-dades. Ao fim de quase 16 anos de vida académica posso dizer -te que as frases seguintes não só não estão correctas como te podem preju-dicar se acreditares nelas. Chamei -lhes mitos universitários e vou ten-tar desmontá -los um a um.

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Mito 1

É preciso ir às aulas para passar de ano

Este mito é talvez o mais antigo e começaste a ouvi -lo quando ainda estavas na 1a classe e os teus pais te diziam: “Tens de ir à aulas, por-que é lá que se aprendem coisas”. Na altura eles tinham toda a razão. Ir às aulas é saudável até ao 12o ano. Porque é quando precisamos de adquirir ritmos de aprendizagem e os professores estão lá para nos ajudar. Têm formação pedagógica e são verdadeiros professores.

Na universidade a história é completamente diferente. És um estu-dante com pelo menos 12 anos de experiência e já tens autonomia para estudar sozinho. Além disso, uma boa parte dos professores uni-versitários não sabe ensinar. Não sabem dar aulas e não te vão ajudar durante as aulas. Não porque eles não queiram, mas porque simples-mente não conseguem. Muitas aulas não são mais do que 90 minu-tos em que o professor enumera aquilo que escreveu num powerpoint ou se limita a debitar monólogos que podes facilmente encontrar num livro ou numa sebenta. E lembra -te: um curso superior demora no mínimo três anos a tirar. E estes são os últimos anos antes de entra-res no mercado de trabalho. Não vais querer desperdiçá -los com tempo passado nas aulas pois não?

No ISEG tive um professor de Economia do Desenvolvimento Eco-nómico que não sabia dar aulas. Teria outras virtudes, mas a orató-ria não era uma delas. Limitava -se a ler uns acetatos já amarelados de tantos anos de uso e a pincelar o discurso com um ou outro exemplo

PARTE I > INTRODUÇÃO

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que eu podia facilmente encontrar fora da aula. Só fui a umas cinco aulas e deixei de lhe dar tempo de antena. Tinha coisas mais interes-santes para fazer com aquelas três horas semanais.

Acabei por fazer a cadeira com 13 valores estudando apenas pelas fotocópias dos acetatos e por uns resumos que me arranjaram. Nem toquei no livro. Não tive uma grande nota, é verdade. Mas tenho a cer-teza de que não conseguiria melhor se tivesse ido a mais aulas. Para mim, aquela matéria era chata e irrelevante. E por isso não me moti-vava. Era daquelas que se o professor me tivesse oferecido um 10 no início do semestre, eu teria assinado imediatamente por baixo.

Atenção, não estou a dizer que não deves ir às aulas. Podes e deves ir às aulas que achares que valem a pena. Ou porque gostas da matéria. Ou porque o professor explica bem e consegues compreender melhor as coisas com ele do que a ler os livros. Ou porque é uma cadeira difí-cil e a queres fazer por avaliação contínua (por exemplo Matemática ou Física). Ou porque é uma aula prática em que vais ter oportunidade de fazer exercícios. Ou porque é uma aula de revisões para o teste. São tudo boas razões para ires às aulas.

Mas lembra -te: faltar a algumas aulas (ou a muitas) não te faz mal nenhum e não te vai impedir de tirares um curso. Eu faltei a mais aulas do que às que fui e isso não me impediu de tirar um curso superior e um mestrado sem nunca ter chumbado. E hoje tenho muitos alunos que conseguem passar às cadeiras que eu lecciono sem ir às minhas aulas. Eles sabem o programa e conhecem a bibliografia. Estudam, vão a exame e passam.

Ir às aulas não é por isso condição necessária para passares. O sucesso depende dos teus objectivos e da tua motivação e nunca da assidui-dade nas aulas. Quem te disser o contrário está errado.

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Mito 2

Só passa quem estuda durante o semestre

É um daqueles mitos que os professores mais gostam de fomentar. Aquela ideia de que “se não acompanharem a matéria durante o semes-tre, depois já não vão a tempo”. Alguns até gostam de usar a metáfora do comboio: “Esta cadeira é como um comboio, não a deixem fugir”. Outros aproveitam -se da sina dos Portugueses para deixar tudo para a última hora: “Vejam lá, não deixem o estudo para as semanas antes do exame, porque não se safam”.

Existem algumas cadeiras (poucas) que carecem de algum acompa-nhamento durante o semestre. E alguns cursos (por exemplo Medi-cina) que requerem que os alunos estejam constantemente a estudar porque são muito exigentes, quer do ponto de vista teórico, quer do ponto de vista prático. Mas a esmagadora maioria dos cursos (Direito, Gestão de Empresas, Engenharias, Ciências Sociais) podem ser fei-tos começando a estudar algumas semanas ou mesmo dias antes do exame. Alguns alunos até conseguem fazer estes cursos enquanto tra-balham e não penses que eles estudam todos os dias!

Alguns professores gostam de argumentar que a profissão deles é ensinar e a dos alunos é aprender. E que por isso estes devem encarar as aulas e o estudo como um trabalho a tempo inteiro. Normalmente este tipo de argumentos vem de gente que não fez outra coisa na vida senão estudar e pensa que os outros devem fazer o mesmo.

Estudar uma ou duas horas por dia durante o semestre vai contribuir

PARTE I > INTRODUÇÃO

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muito pouco para a tua nota final. Ganhas alguma coisa, é certo. Mas perdes muito mais. Porque podes aproveitar essas horas em activida-des muito mais interessantes do que estudar: fazer desporto, ir à praia, teclar no Blackberry Messenger com várias amigas ao mesmo tempo, beber umas cervejas com os amigos, passar horas no Facebook ou no Youtube, trabalhar para financiar as próximas férias…

Sempre me fez muita confusão encontrar colegas a estudar em Outu-bro para exames em Janeiro. Achava aquilo um desperdício de tempo. Nunca estudei durante o semestre. Se os exames eram em Janeiro, começava a estudar em Dezembro. Durante o semestre limitava -me a ir às aulas que achava relevantes e a fazer o que me apetecia.

Com o programa da cadeira, os materiais distribuídos nas aulas, um bom caderno de apontamentos (meu ou de um colega) e os exames dos anos anteriores, sabia que em Dezembro, quando me sentasse para estudar, tinha tudo o que era preciso para tirar uma boa nota.

No terceiro ano do meu curso havia uma cadeira chamada Econo-mia Internacional que tinha um prémio associado. O aluno que tivesse melhor nota tinha direito a um estágio de seis meses no ICEP. Nunca pensei seriamente nesse prémio, até porque estava convencido de que estava destinado a alunos que acabassem o curso com média de 18 ou 19 valores. Além disso, ser funcionário público não era propriamente a saída profissional que mais me interessava.

Assisti a metade das aulas da cadeira e comecei a estudar cinco dias antes do exame. Percebi que os exames dos anos anteriores eram todos muito semelhantes e por isso apostei que o do meu ano não fugiria muito ao estilo. Concentrei -me nas perguntas que tinham saído mais, mecanizei respostas e acabei por ter 18 valores. Fui o melhor aluno daquele ano e quando terminei o curso acabei por fazer o estágio no ICEP. Mas despedi -me ao fim de quatro meses. Ser funcionário público não era de facto o que eu queria.

É possível passar às cadeiras sem ter de estudar durante o semes-tre. Sim, é possível “deixar tudo para a última hora” ou “apanhar o comboio a meio da viagem”. O segredo está no método de estudo e na definição de prioridades. Como tens menos tempo para estudar, tens de ser altamente eficaz e saber o quê, por onde, como e quando

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estudar. E é aqui que a maioria dos alunos falha. E como falham dão razão aos professores que advogam que só passa quem estuda durante o semestre.

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Mito 3

É preciso estudar a matéria toda

Muitos alunos pensam que têm de estudar a matéria toda para esta-rem a salvo de surpresas desagradáveis. A ideia é simples: como não sabem o que vai sair no exame, a melhor estratégia é pulverizar toda a matéria com estudo para assim estarem mais bem preparados para o exame. Estudar a matéria toda é importante porque dá -te oportunidade de adquirir conhecimentos sobre todo o programa da disciplina. Mas estudar a matéria toda não te garante o sucesso no exame! Lembra -te sempre que o tempo é limitado e que o segredo é seres eficaz.

A melhor forma de saberes o que vai sair no exame é olhares para os exames dos anos anteriores. Esta foi sempre a minha estratégia quando começava a estudar. Olhava para o exame e pensava: “Deixa--me lá ver o que é que este gajo quer que eu saiba”. Alguns colegas meus não alinhavam pela mesma estratégia porque diziam que os exames dos anos anteriores podiam não ter nada a ver. Posso dizer -te que estava certo em 95% dos casos. E só mais tarde, quando me tor-nei professor, é que percebi porquê.

Existem três características dos professores que os levam a repetir conteúdos de exames de ano para ano.

Em primeiro lugar, a actividade docente é altamente rotineira. Alguns professores leccionam a mesma cadeira há anos. Com o mesmo pro-grama, a mesma bibliografia e as mesmas aulas. Se tudo é igual por-que é que hão -de mudar os exames?

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Em segundo lugar, os professores são preguiçosos. Bom, se calhar preguiçosos é uma palavra injusta. Digamos que eles têm coisas mais interessantes e importantes com que se preocupar do que com os exa-mes (preparar artigos científicos, escrever livros, mandar soundbites na televisão, terem outra actividade profissional, etc.). Por isso é nor-mal que não gostem de perder tempo a fazer exames. Logo, aprovei-tam muito do trabalho feito em anos anteriores.

Finalmente, os professores não gostam de exames. Provavelmente estás surpreendido porque pensavas que os professores adoravam avaliar alunos. Mas isso não é verdade. Não há nada mais chato do que corrigir um exame. Às vezes chego a ter 50 provas para corrigir. E colegas meus chegam a ter 100! Se cada prova demorar 10 minutos a corrigir são 1000 minutos (cerca de 16 horas e meia) a corrigir tes-tes. É por isso normal que repitam perguntas de ano para ano, para lhes dar menos trabalho a corrigir. As perguntas até podem parecer diferentes mas a matéria que lhes está subjacente é a mesma, logo a resposta também será a mesma (ou semelhante) e eles terão menos trabalho na altura de corrigir e dar as notas.

Lembra -te que não tens de saber tudo. Tens apenas de saber respon-der às perguntas do exame. E isso faz toda a diferença.

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Mito 4

Um bom aluno não usa cábulas

Um inquérito realizado em 2011 pela Universidade do Porto concluiu que 69,3% dos alunos admitiu ter copiado ou usado cábulas nos testes. E que destes, apenas 3,4% foram apanhados. Estes números revelam duas coisas. Em primeiro lugar, copiar e cabular são comportamentos recorrentes e frequentes nas universidades portuguesas. Toda a gente o faz! Não acredito que estes quase 70% que admitiram copiar e cabu-lar são todos “maus” alunos. Vou até mais longe: acredito que muitos alunos não quiseram admitir que o faziam por vergonha. Logo o ver-dadeiro número deve andar mais próximo dos 80% do que dos 70%.

O segundo facto que estes números revelam é que a probabilidade de ser apanhado é muito reduzida: 3,4%. E isto acontece porque é huma-namente impossível aos professores controlarem tudo o que se passa numa sala de aula no dia do exame.

Os professores têm de vigiar turmas de 20 a 50 alunos durante duas horas ou mais. Nenhum ser humano aguenta estar permanentemente a olhar para os alunos. Se os professores não gostam de fazer e corri-gir exames, eles ainda odeiam mais a vigilância do mesmo. E fazem tudo para que aquelas duas horas passem depressa: lêem o jornal, tra-balham nos seus artigos científicos, preparam aulas, jogam no tele-móvel, alguns até vão fumar um cigarro!

Por isso é perfeitamente normal que os alunos aproveitem para copiar e cabular. O poder está quase todo do lado dos alunos. Se eles quiserem

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copiar ou cabular podem fazê -lo. O uso de cábulas fica ao critério de cada um e a verdade é que pode ser um bom atalho para teres uma boa nota ou simplesmente para passares de ano.

Quando um aluno meu me perguntou, em tom de brincadeira, se podia levar cábulas para o exame, respondi -lhe: “Pode e deve, mas se as utilizar faça -o de forma a que eu não o veja”. Foi a risada total na aula. Mas eu estava a ser sincero. Acho que deves fazer cábulas. Ajuda--te a sistematizar a matéria. É uma forma de colocares num pedaço de papel a matéria que consideras mais importante ou aquela onde sen-tes mais dificuldades. É mais uma forma de estudares.

E também acho que deves levar esses pedaços de papel (ou outros formatos de cábulas como por exemplo textos no telemóvel) para os exames. É uma forma de te sentires mais seguro. Podes até nem utilizá -las, mas elas estão lá para te ajudar em casos de apuros. Tens é de te lembrar de uma coisa: a utilização de cábulas é batota e implica a anulação da prova. É como violares uma regra e terás de ser pena-lizado por isso.

Conheço professores que adoram apanhar alunos a cabular. Dizem que lhes dá gozo anular as provas aos prevaricadores. Eu, sempre que apanho alguém a cabular, tenho pena. Por dois motivos: por ter de anular a prova e porque o aluno não conseguiu ser mais esperto do que eu. E é tão fácil cabular sem ser apanhado! É tão fácil ser mais esperto do que o professor em matéria de cábulas!

Dediquei uma parte deste livro às cábulas porque acho que elas devem ser feitas. E por isso quero contar -te como deve ser feita uma boa cábula. Relativamente ao uso das mesmas durante o exame, isso fica ao teu critério. Depende do quanto quiseres arriscar. O que te posso dizer é que a visão do professor durante o exame é muito limi-tada. E o que não faltam são oportunidades para o fazeres.

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O princípio 80/20

Os mitos enunciados no capítulo anterior são todos desmontados com recurso ao princípio 80/20. Este princípio, descoberto em 1906 pelo economista italiano Vilfredo Pareto, e mais tarde desenvolvido e apli-cado por muitos gestores e consultores, diz -nos que 80% dos resultados são gerados por 20% do esforço investido. Ou, se preferires, 20% das causas explicam 80% das consequências de um determinado evento. Parece -te estranho? As estatísticas demonstram que:

> 80% das vendas das empresas são geradas por 20% dos clientes.

> 80% dos livros vendidos em todo o mundo são da responsabilidade de 20% dos autores.

> 80% do impacto numa entrevista de emprego é gerado nos primeiros 10 minutos (20% do tempo da entrevista).

> 80% da população de um país vive em 20% das cidades.

Agora estás a pensar: “Muito bem, e como é que isto me pode aju-dar?”. Deixa -me então acrescentar mais alguns exemplos que te serão mais familiares:

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> 80% das chamadas de telemóvel que tu fazes são para 20% dos números que tens na tua lista de contactos.

> 80% dos likes, mensagens e posts no teu mural do Facebook vêm de 20% dos teus amigos.

> 80% do tempo que gastas a ouvir música no teu leitor de MP3 é dedicado a 20% das músicas que lá tens.

> 80% da roupa que mais vestes representa apenas 20% da roupa que tens no teu roupeiro.

20 : 80Esforço

Resultados

Já estás mais convencido? Nota que os números podem não ser 80% e 20%. Podem ser 70/30 ou até 95/5. Aquilo que eu te queria mostrar é que existe muito desperdício na nossa vida. Ou, por outras palavras, existe muito tempo e muitas coisas que fazemos que são irrelevantes ou que geram menos impacto.

Quem aplica o conceito 80/20 na sua vida, seja a nível pessoal ou profissional, consegue melhores resultados com menos esforço por-que este princípio permite:

PARTE I > INTRODUÇÃO

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> Atingir objectivos utilizando atalhos em vez de percorrer o percurso todo.

> Ser selectivo em vez de exaustivo.

> Alcançar a excelência em poucas coisas em vez de ser apenas suficiente em muitas.

> Concentrar esforços apenas naquilo em que somos bons e que gostamos de fazer.

Na universidade, o princípio 80/20 também se aplica:

> Não tens de ir às aulas todas, porque apenas 20% das aulas são efectivamente relevantes.

> Não tens de estudar durante o semestre mas apenas concentrar -te nas quatro semanas antes do exame (20% do tempo de um semestre lectivo).

> Não tens de estudar a matéria toda, porque os exames cobrem apenas uma parte do programa.

> Não tens de ter vergonha de usar cábulas, pois 80% dos alunos fazem -no e os bons alunos também. E só uma ínfima parte é apanhada.

Como podes ver, 80% da tua nota (16 valores) vai depender de 20% do esforço, tempo e dedicação que vais empregar nos teus estudos. Não tens de estudar muito para passar de ano ou teres uma boa nota. Tens é de ter a certeza de que cada minuto investido a estudar está dentro desses 20% que vão efectivamente contar para o teu sucesso. Tens de garantir que cada minuto gasto dentro de uma sala de aula a

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ouvir um professor está dentro desses 20% mágicos de que te falei. Foi por isso que escrevi este livro. Para te ajudar a utilizar os 20% mais eficazmente.

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Como ler este livro

Este livro está escrito na primeira pessoa e trata o leitor por tu porque quero que o leias como se estivéssemos a conversar num café. Ao leres este livro, quero que oiças um amigo mais velho a falar. Um amigo que já esteve onde tu estás e que hoje é professor. Mas que apesar de ter passado para o outro lado da barricada nunca esqueceu as suas ori-gens de aluno que tinha mais que fazer do que estudar.

Este livro é a minha resposta à pergunta: “Nuno, como é que conse-guiste borrifar -te para as aulas e ainda assim concluíres uma licencia-tura, um mestrado e ser convidado a ser professor?” Acredito que, se resultou comigo, com o Bruno e com alguns alunos e colegas meus, também vai resultar contigo. Podes ter (e é desejável que o faças) de adaptar as nossas dicas. Para teres o teu próprio estilo. Mas acredito que está aqui a espinha dorsal para se levar na boa os três ou quatro anos que tens pela frente.

Podes ler o livro todo ou apenas as partes que te pareçam mais impor-tantes e interessantes. Como não é um romance ou uma biografia, este livro tem a vantagem de poder começar a ser lido em qualquer página sem perderes o fio condutor da história.

Na parte seguinte vais encontrar aquilo que eu acredito serem os princípios básicos de um estudo eficaz. Vais conhecer os sete pecados que não deves cometer e alguns deles vão parecer -te muito familiares. Vou também dar -te a conhecer aquilo a que chamei de o P.O.D.E.R

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dos estudantes eficazes, centrado em cinco conceitos -chave que irás desenvolver durante o teu curso: Preparação, Organização, Determi-nação, Enfoque e Realização.

Na terceira parte do livro vou explicar -te passo -a -passo como podes alcançar o sucesso nos estudos. São dez atitudes que valerão mais do que 10 valores a cada disciplina que tiveres. Vou -te explicar a que aulas deves ir, como tirar partido das relações com colegas e professores e como e quando apostar na avaliação contínua. Vou contar -te como me preparava para os testes, como e por onde é que eu estudava. Quais as manhas que utilizava para interiorizar um conceito, mesmo que não o compreendesse. Vou explicar -te como podes desenhar o teu calen-dário de exames e elaborar um plano de estudo.

Na quarta e última parte vou dar -te uma ajuda nos exames. Quero dizer -te o que podes fazer antes de começares a resolver um teste, como dar uma boa resposta e como gerir o tempo. Até te vou dar sugestões para fazeres boas cábulas, que te vão ser muito úteis durante a tua vida académica.

PARTE I > INTRODUÇÃO

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Cábula

> Nos anos que vais passar na universidade existem coisas muito mais importantes para ti e para o teu futuro do que estudar (por exemplo, fazeres amigos, divertires -te, ires às festas, fazeres desporto).

> Não tens de ir às aulas todas para passares às cadeiras.

> Não tens de estudar todos os dias se quiseres ter boas notas.

> Não tens de estudar a matéria toda para passares com boa nota.

> Toda a gente usa cábulas (incluindo os bons alunos).

> Cerca de 80% dos resultados são explicados por 20% do esforço que tu empregas, por isso não importa o quanto, mas antes o como estudas.