fapeal em revista - primeira edição

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Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas Ano 1 | Número 1 | Julho de 2015 | ISSN 2446-9920 DA ARIDEZ CASTIGANTE AO SOLO VERDEJANTE Os esforços de cientistas alagoanos para tornar o Canal do Sertão um meio transformador do semiárido DR. JOSÉ MEDEIROS “Na época da proposta do projeto da FAPEAL, ninguém acreditava na possibilidade de investir em ciência e tecnologia. Mas eu insisti.” A alagoana Hand Talk ganha o mundo com seu formidável tradutor português/Libras Hugo, nosso amigo tradutor Divulgação

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A "Fapeal em Revista" é um projeto idealizado por pesquisadores acadêmicos. Como publicação trimestral disponibilizada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas, pretende-se demonstrar à sociedade os impactos gerados a partir das pesquisas científicas realizadas no Estado.

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1FAPEAL EM REVISTA

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de AlagoasAno 1 | Número 1 | Julho de 2015 | ISSN 2446-9920

DA ARIDEZ CASTIGANTE AO SOLO VERDEJANTEOs esforços de cientistasalagoanos para tornaro Canal do Sertão ummeio transformadordo semiárido

DR. JOSÉ MEDEIROS“Na época da proposta do projeto da FAPEAL,

ninguém acreditava na possibilidade de investir em ciência e tecnologia. Mas eu insisti.”

A alagoana Hand Talk ganha o mundo com seu formidável tradutor português/Libras

Hugo,nosso amigo tradutor

Divulgação

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VEJA COMO A SAÚDE DE ALAGOAS COMEÇA A MUDAR:

"li O GOVERNO VAI FAZER FUNCIONAR O QUE JÁ EXISTE

"li RECUPERAÇÃO DOS HOSPITAIS DO INTERIOR, PARA REDUZIR OS ATENDIMENTOS NA CAPITAL

"li ABRIU O HOSPITAL DANIEL HOULY, EM ARAPIRACA, OBRA QUE SE ARRASTAVA HÃ ANOS

"li CRIOU AS UNIDADES DE INFARTO E AVC, NO HGE, PRINCIPAIS CAUSAS DE MORTE EM ALAGOAS

"li ENTREGOU SEIS NOVAS AMBULÂNCIAS DE RESGATE

"li EM BREVE, ENTRARÁ EM FUNCIONAMENTO A NOVA MATERNIDADE SANTA MÕNICA

G O V E R N O D O E S T A D O

TRABALHANDO S�RIO A GENTE CHEGA LÃ

4 5FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) tem

a satisfação de apresentar a primeira edição de sua revista para o público do

estado. O seu lançamento é parte das comemorações dos 25 anos de existência

da instituição, criada pela Lei Complementar N° 5, de 27 de setembro de 1990.

Durante esse tempo, a Fapeal desempenhou um papel estratégico para Alagoas,

contribuindo para ampliar os horizontes do conhecimento como ferramenta in-

dispensável para o desenvolvimento. Sua histórica missão de amparar a ciência,

apoiando a expansão das pesquisas e a formação de recursos humanos altamente

qualificados, se soma, nos dias atuais, às estratégias de fomento e desenvolvi-

mento das novas tecnologias e de um ambiente mais profícuo para a inovação.

Entretanto, apesar do longo período e dos altivos serviços prestados

ao povo alagoano, especialmente aos seus cientistas e àqueles que passaram

pelos bancos universitários, a Fundação é ainda pouco conhecida pela maio-

ria da sociedade. A Fapeal em Revista, portanto, tem a importante tarefa de

informar, comunicar, numa linguagem moderna e

visual inovador, sobre suas principais atividades

e programas, os resultados para os alagoanos das

pesquisas fomentadas e desenvolvidas e as oportu-

nidades para nossos pesquisadores. Enfim, com a

publicação que chega às mãos do povo alagoano,

pretende-se contribuir com a popularização da mis-

são da Fapeal e daquilo que é realizado em termos

de ciência, tecnologia e inovação em Alagoas. Boa

leitura e proveito!

Nesta edição: Memória| Tecnologia e Inclusão Social | Saúde Mental | Educação Básica| Educação em Saúde

Sumário

Quem quer ser cientista?Estudantes de vários níveis compartilham suas experiências como bolsistas da FAPEAL

Para início de conversa...

www.fapeal.br

Fábio Guedes GomesDiretor-presidente

CONSELHO SUPERIOR DA FAPEALFábio Guedes GomesPresidenteCarlos Guedes de LacerdaVice-presidenteCícero Péricles de Oliveira CarvalhoCiências da Educação, Saúde e Meio AmbienteHélvio Braga Vilas BoasAtividades EmpresariaisMarcelo Leite LyraCiências Exatas, Naturais, Tecnológicas e AgráriasMaria Alayde Mendonça da SilvaCiências Biológicas e da SaúdeMaria Francisca Oliveira SantosCiências Sociais e HumanasMário César JucáCiências Sociais e HumanasNídia Noemi FabréCiências Biológicas e da SaúdePablo Viana da SilvaSecretário de Estado da Ciência, da Tec-nologia e da InovaçãoSandra Helena Vieira de CarvalhoCiências Exatas, Naturais, Tecnológicas e Agrárias

Diretor da Unidade Gestora da Ciên-cia e Tecnologia (UGCT/FAPEAL): João Vicente Ribeiro Barroso da Costa Lima

Diretor da Unidade Gestora de Con-trole e Desenvolvimento Institucional (UGCDI): Georginei Souza Neri

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas – FAPEAL

Rua Melo Moraes, 354, Centro, Maceió – AL, CEP: 57020-330

Telefone: (82) 3315-2200

Inclusão SocialA Hand Talk e seu formidável tradutor português/Libras

32

Canal do SertãoOs esforços de cientistas ala-goanos para tornar o Canal do Sertão um meio transformador do semiárido

22

MemóriaNossa homenagem ao pioneiro fundador da Fapeal

14A Química da vidaProjeto propõe alternativas para experiências químicas em escolas com pouca estrutura

18

Educação em SaúdeUma nova disciplina escolar?

10

08

Renan Calheiros FilhoGovernador de Alagoas

Saúde mental “Transtorno mental pode acontecer comqualquer um” 36

Imagem da capa: pequena propriedade rural nos arredores de Inhapi.

Foto de Hyllane Salgueiro. [email protected]

7

Div

ulga

ção

Governador Renan Calheiros Filho

Editor-chefe e jornalista responsávelFabiano Melo Quirino(MTE 1508/AL)

Editora de arte e FotografiaHyllane Maria Salgueiro Lopes

Relações Públicas e “Social Media”Pollyanna Karine da Silva Martins

Revisão e Edição de ConteúdoDr. Fábio Guedes Gomes Dr. João Vicente R. Barroso da C. Lima

Fapeal em Revista é uma publicação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL). Idealizada e editada por

acadêmicos pesquisadores, busca uma forma mais popular e menos “academicista” de divulgar os resultados da pesquisa alagoana. A

Fapeal em Revista dá voz aos pesquisadores, apresentando à sociedade o que é, na prática, uma fundação de amparo e os resultados

de suas iniciativas. São os cientistas apoiados pela FAPEAL e os impactos sociais de seus trabalhos que norteiam o conteúdo da revista.

Os textos não assinados são de autoria do jornalista responsável pela revista.

sumário.indd 4-5 27/07/2015 08:31:59

2 3FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

De Alagoas para o mundo. São mais de duas décadas apostando no novo, buscando soluções, indicando rumos e criando caminhos para a inovação e o desenvolvimento de tecnologias. Uma trajetória feita por centenas de protagonistas, com êxitos que ultrapassaram barreiras.

FAPEAL, 25 anos.Idade de prata. Uma história de ouro.

Max

Mill

er U

gá L

una

| Fa

bian

o M

elo

Qui

rino

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2 3FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

De Alagoas para o mundo. São mais de duas décadas apostando no novo, buscando soluções, indicando rumos e criando caminhos para a inovação e o desenvolvimento de tecnologias. Uma trajetória feita por centenas de protagonistas, com êxitos que ultrapassaram barreiras.

FAPEAL, 25 anos.Idade de prata. Uma história de ouro.

Max

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o M

elo

Qui

rino

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4 5FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) tem

a satisfação de apresentar a primeira edição de sua revista para o público do

estado. O seu lançamento é parte das comemorações dos 25 anos de existência

da instituição, criada pela Lei Complementar N° 5, de 27 de setembro de 1990.

Durante esse tempo, a Fapeal desempenhou um papel estratégico para Alagoas,

contribuindo para ampliar os horizontes do conhecimento como ferramenta in-

dispensável para o desenvolvimento. Sua histórica missão de amparar a ciência,

apoiando a expansão das pesquisas e a formação de recursos humanos altamente

qualificados, se soma, nos dias atuais, às estratégias de fomento e desenvolvi-

mento das novas tecnologias e de um ambiente mais profícuo para a inovação.

Entretanto, apesar do longo período e dos altivos serviços prestados

ao povo alagoano, especialmente aos seus cientistas e àqueles que passaram

pelos bancos universitários, a Fundação é ainda pouco conhecida pela maio-

ria da sociedade. A Fapeal em Revista, portanto, tem a importante tarefa de

informar, comunicar, numa linguagem moderna e

visual inovador, sobre suas principais atividades

e programas, os resultados para os alagoanos das

pesquisas fomentadas e desenvolvidas e as oportu-

nidades para nossos pesquisadores. Enfim, com a

publicação que chega às mãos do povo alagoano,

pretende-se contribuir com a popularização da mis-

são da Fapeal e daquilo que é realizado em termos

de ciência, tecnologia e inovação em Alagoas. Boa

leitura e proveito!

Nesta edição: Memória| Tecnologia e Inclusão Social | Saúde Mental | Educação Básica| Educação em Saúde

Sumário

Quem quer ser cientista?Estudantes de vários níveis compartilham suas experiências como bolsistas da FAPEAL

Para início de conversa...

www.fapeal.br

Fábio Guedes GomesDiretor-presidente

CONSELHO SUPERIOR DA FAPEALFábio Guedes GomesPresidenteCarlos Guedes de LacerdaVice-presidenteCícero Péricles de Oliveira CarvalhoCiências da Educação, Saúde e Meio AmbienteHélvio Braga Vilas BoasAtividades EmpresariaisMarcelo Leite LyraCiências Exatas, Naturais, Tecnológicas e AgráriasMaria Alayde Mendonça da SilvaCiências Biológicas e da SaúdeMaria Francisca Oliveira SantosCiências Sociais e HumanasMário César JucáCiências Sociais e HumanasNídia Noemi FabréCiências Biológicas e da SaúdePablo Viana da SilvaSecretário de Estado da Ciência, da Tec-nologia e da InovaçãoSandra Helena Vieira de CarvalhoCiências Exatas, Naturais, Tecnológicas e Agrárias

Diretor da Unidade Gestora da Ciên-cia e Tecnologia (UGCT/FAPEAL): João Vicente Ribeiro Barroso da Costa Lima

Diretor da Unidade Gestora de Con-trole e Desenvolvimento Institucional (UGCDI): Georginei Souza Neri

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas – FAPEAL

Rua Melo Moraes, 354, Centro, Maceió – AL, CEP: 57020-330

Telefone: (82) 3315-2200

Inclusão SocialA Hand Talk e seu formidável tradutor português/Libras

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Canal do SertãoOs esforços de cientistas ala-goanos para tornar o Canal do Sertão um meio transformador do semiárido

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MemóriaNossa homenagem ao pioneiro fundador da Fapeal

14A Química da vidaProjeto propõe alternativas para experiências químicas em escolas com pouca estrutura

18

Educação em SaúdeUma nova disciplina escolar?

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08

Renan Calheiros FilhoGovernador de Alagoas

Saúde mental “Transtorno mental pode acontecer comqualquer um” 36

Imagem da capa: pequena propriedade rural nos arredores de Inhapi.

Foto de Hyllane Salgueiro. [email protected]

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ulga

ção

Governador Renan Calheiros Filho

Editor-chefe e jornalista responsávelFabiano Melo Quirino(MTE 1508/AL)

Editora de arte e FotografiaHyllane Maria Salgueiro Lopes

Relações Públicas e “Social Media”Pollyanna Karine da Silva Martins

Revisão e Edição de ConteúdoDr. Fábio Guedes Gomes Dr. João Vicente R. Barroso da C. Lima

Fapeal em Revista é uma publicação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL). Idealizada e editada por

acadêmicos pesquisadores, busca uma forma mais popular e menos “academicista” de divulgar os resultados da pesquisa alagoana. A

Fapeal em Revista dá voz aos pesquisadores, apresentando à sociedade o que é, na prática, uma fundação de amparo e os resultados

de suas iniciativas. São os cientistas apoiados pela FAPEAL e os impactos sociais de seus trabalhos que norteiam o conteúdo da revista.

Os textos não assinados são de autoria do jornalista responsável pela revista.

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6 FAPEAL EM REVISTA

QUEM QUER SER CIENTISTA?Estudantes de vários níveis compartilham suas experiências como bolsistas da FAPEAL.

por FABIANO MELO QUIRINO arte HYLLANE SALGUEIRO

“Tive o prazer de ser bolsista FAPEAL em duas fases distin-tas da vida: durante a gradua-ção, fui bolsista de iniciação científica por um ano; desenvol-vi um projeto de pesquisa e criei um amor com a ciência. Após graduado, fui bolsista de apoio técnico, desempenhando função de gerente de um laboratório de pesquisa. Sou grato por ambas as experiências, já que serviram para o meu desenvolvimento como profissional e para a mi-nha escolha em seguir na carrei-ra acadêmica.Hoje sou professor do

Instituto Federal de Alagoas e devo dizer que a pesquisa desde seu início vem sendo um grande incentivo para muitas das ati-vidades que pratico

dentro de sala de aula. “

O apoio da FAPEAL foi essen-cial à minha dissertação no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanis-mo, cujo título é Adequação de edifica-ções escolares ao contexto climático de Maceió, com vistas à otimização de seu desempenho térmico.

O envolvimento da FAPEAL na vida acadêmica é fundamental,

pois proporciona incentivo à pes-quisa na universidade, desenvol-ve profissionais qualificados, di-vulga conhecimento em diversas

áreas e, de um modo mais amplo, se compromete com o avançao da

ciência e da tecnologia.

A FAPEAL acompanha minha trajetória como pesquisadora desde a gra-duação em jornalismo na UFAL, quando a Profa. Magnólia Rejane me despertou para a pesquisa acadêmica, tornando-se minha orientadora de iniciação científica durante 18 meses, período em que fui bol-sista da Fundação. Depois, no mestrado em Letras e Linguística da UFAL, renovei meu vínculo com a FAPEAL, sob a orien-tação da Profa. Maria Stela Lameiras.Só tenho a agradecer, tanto à ins-tituição, fundamental para que eu pudesse dar seguimento aos meus estudos, quanto às minhas orien-

tadoras, exemplos de pessoas e de profissionais, imprescindíveis para meu amadurecimento nesse caminhar em busca do conheci-

mento

David Henrique de Souza Lima

mestre pelo Programa de Pós-graduação em Informá-tica da Ufal e professor do

Instituto Federal de Alagoas

Ana Paula Santos de Oliveira é doutora em

Letras e Linguística pela Universidade Federal de

Alagoas

Ana Márcia Viana da Costa, Mestre em Arqui-tetura e Urbanismo pela

UFAL

diretas.indd 6 27/07/2015 08:41:44

A FAPEAL acompanhou mi-nha trajetória desde a iniciação cien-tífica, (há 24 anos!), passando pela especialização e pelo aperfeiçoamen-to, até o mestrado. Continuar minhas pesquisas no doutorado e ingressar na UFAL como docente nos cursos de graduação e pós-graduação já foi, posso dizer, consequência desse apoio da Fundação no início da minha vida acadêmica.

Costumo dizer aos alunos, novos bolsistas, como o apoio à pesquisa faz o conhecimento avançar gerando diferenciais

na nossa cultura. E creio ser esta a missão da

FAPEAL: abrir ‘portas e janelas’ para a pesquisa em

Alagoas!

O PIBIC-Jr foi uma experi-ência incrível, pois, tive a oportunida-de de me engajar com a realidade de uma universidade, mesmo ainda cur-sando o segundo ano do ensino médio. Esse programa acrescentou muito na minha vida como estudante e como pessoa.

O PIBIC-Jr é sem dúvida uma grande iniciativa do Estado de Alagoas, mais precisamente da FAPEAL, para os jovens estu-dantes que desejam ingressar futuramente na vida acadêmi-

ca, proporcionando desde cedo contato com a universidade,

instigando cada vez mais sua vontade de estar inserido nesse

meio. “

Sempre gostei muito de Química e a FAPEAL me permitiu ter mais con-tato com essa área do conhecimento, podendo conhecer um laboratório, fazendo parte de um projeto dessa disciplina como bolsista PIBIC-Jr na UNEAL. A bolsa foi um grande incentivo, pois me possibilitou conhecer um pouco do cotidiano de uma universidade. Dessa forma, meu desenvolvimento na escola melhorou, pois, o projeto sai do cotidiano da sala de aula, do teórico, e vai para o prático, possibi-litando um melhor aprendizado.

São grandes iniciativas como a da FAPEAL que fa-zem alunos como eu chegar um dia a alcançar grandes sonhos e metas, como uma carreira profissional mais pro-missora, ingressando futuramente numa universidade ao terminar o ensino médio.

“Adna de Almeida Lopes, Doutora em Letras e Lin-

guística pela Universidade Federal de Alagoas, profes-sora da Faculdade de Letras

da UFAL

Thalita Hevelly de Oliveira Silva, de 16 anos, estuda na Escola Estadual Quintella Cavalcanti no 2º ano do Ensino Médio

Emily Caroline de Farias dos Santos, bolsista PIBIC-

-Jr durante o 2º ano doEnsino Médio

PIBIC-Jr: É a versão para os Ensinos Básico e Técnico do PIBIC tradicional. Em Alagoas, os estudan-tes desses níveis de ensino – selecionados por meio de provas – recebem R$100 mensais para atuar nos laboratórios das universidades públicas como pesquisadores júnior.

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8 9FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

EDUCAÇÃO EM SAÚDE

umanovadisciplina

escolar?Em 1847, apenas algumas décadas antes da in-

venção da lâmpada, era muito comum, em um hospital da capital austríaca, os médicos irem

do necrotério direto à maternidade. Ali, nas salas de parto, sucediam-se mortes “misteriosas” de mulheres e bebês devido a uma febre também estranha. Foi só depois de intensos esforços do médico Ignaz Sem-melweis que as razões foram identificadas e – para conter a mortandade – um método “revolucionário” definido: lavar as mãos. Os próprios médicos estavam carregando os “agentes invisíveis”. Atualmente, pas-sados 170 anos da descoberta dos micróbios naquele hospital europeu, mesmo com a rapidez dos avanços científicos e apesar da galopante medicina desafiar nossa imaginação, esse hábito tão simples continua sendo um dos principais meios de se evitar doenças. Mas, entre saber algo – a importância da higiene das mãos – e praticar há uma grande diferença. Isso mo-tivou a professora Almira Alves dos Santos, doutora em Odontologia e professora da Universidade Esta-dual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), a aplicar seus conhecimentos como pesquisadora da educação em saúde num problema bem conhecido: o alto índice de infecções intestinais causadas porvermes em populações de baixa renda.

Almira Alves dos SantosDoutora em Odontopediatria, é professora da UNCISAL. Pesquisadora nas áreas de Saúde Pública e Ensino em Saúde, é detentora de várias patentes na área.

A Fundação me custeou a confecção do material e me cedeu bolsa para dois es-tudantes, que contribuíram na coleta de dados. Sem o apoio da FAPEAL, a pesquisa não teria sido possível.

por FABIANO MELO QUIRINO fotos e arte HYLLANE SALGUEIRO

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8 9FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

EDUCAÇÃO EM SAÚDE

umanovadisciplina

escolar?Em 1847, apenas algumas décadas antes da in-

venção da lâmpada, era muito comum, em um hospital da capital austríaca, os médicos irem

do necrotério direto à maternidade. Ali, nas salas de parto, sucediam-se mortes “misteriosas” de mulheres e bebês devido a uma febre também estranha. Foi só depois de intensos esforços do médico Ignaz Sem-melweis que as razões foram identificadas e – para conter a mortandade – um método “revolucionário” definido: lavar as mãos. Os próprios médicos estavam carregando os “agentes invisíveis”. Atualmente, pas-sados 170 anos da descoberta dos micróbios naquele hospital europeu, mesmo com a rapidez dos avanços científicos e apesar da galopante medicina desafiar nossa imaginação, esse hábito tão simples continua sendo um dos principais meios de se evitar doenças. Mas, entre saber algo – a importância da higiene das mãos – e praticar há uma grande diferença. Isso mo-tivou a professora Almira Alves dos Santos, doutora em Odontologia e professora da Universidade Esta-dual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), a aplicar seus conhecimentos como pesquisadora da educação em saúde num problema bem conhecido: o alto índice de infecções intestinais causadas porvermes em populações de baixa renda.

Almira Alves dos SantosDoutora em Odontopediatria, é professora da UNCISAL. Pesquisadora nas áreas de Saúde Pública e Ensino em Saúde, é detentora de várias patentes na área.

A Fundação me custeou a confecção do material e me cedeu bolsa para dois es-tudantes, que contribuíram na coleta de dados. Sem o apoio da FAPEAL, a pesquisa não teria sido possível.

por FABIANO MELO QUIRINO fotos e arte HYLLANE SALGUEIRO

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10 11FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

Durante a experiência na escola municipal, a pesquisadora constatou grande dificuldade em encontrar material específico em educação em saúde. Isso foi como uma chamada à ação: com sua expertise no assunto e seu interesse em contribuir para a área, a professora decidiu criar uma empresa que produzisse justamente o material tão raro no mercado. “Partimos dos princípios da neurolinguística, da análise transacional e exploração dos sentidos, para que a experiência educativa altere a percepção a respeito do tema sem tecnicismos ou imposições”, esclarece a doutora que, junto de uma psicóloga, fundou há cerca de 2 anos a Hegaboo (acrônimo de Health Education, Games and Books), empresa gestada durante um ano na incubadora de empresas da UNCISAL com a missão de oferecer ao mercado material qualificado em educação em saúde.

No portfólio da Hegaboo constam jogos, livros, bonecos e aplicativos, produtos fiéis à proposta da empresa de estruturar recursos educativos que vão além da forma tradicional de aprendizagem. Vale ressaltar a temática de seus livros: saúde oral, depressão na infância e aceitação do diferente, este último voltado ao “bullying”, tema espinhoso nas escolas atuais. Quando perguntada sobre a possibilidade da inclusão da educação em saúde no currículo escolar, Almira – que negocia uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação – é categórica: “A legislação já prevê que o conteúdo seja oferecido, mas cabe a cada escola decidir como a educação em saúde será inserida na chamada ‘grade curricular’”.

de cartilhas, assistindo a palestras e participando de brincadeiras, tudo estrita e minuciosamente planejado, os alunos envolviam-se numa “aula” dinâmica (ministrada num ambiente simulando uma casa) que apresentava a lavagem das mãos como algo tão importante quanto escovar os dentes. Se bem-sucedida, a iniciativa conscientizaria os estudantes dos cuidados com o próprio corpo – uma ação estratégica e muito bem pensada, já que voltada a uma fase em que são definidos valores e personalidade – o que consequentemente melhoraria os indicadores de saúde.

“Relatos pós-pesquisa, vindos dos pais dos alunos, dão conta de que as crianças chegavam em casa falando em lavar as mãos”, anima-se a coordenadora do projeto, referindo-se à alentadora experiência, financiada pela FAPEAL através de recursos do PPSUS. “A Fundação me custeou a confecção do material e me cedeu bolsa para dois estudantes, que contribuíram na coleta de dados. Sem o apoio da FAPEAL, a pesquisa não teria sido possível”.

EDUCAÇÃO EM SAÚDE

Escola de Ensino Fundametal Walter Pitombo Laranjeira, no Vergel, escolhida para a pesquisa por estar inserida numa comunida-de que apresenta condições socioeconômicas preocupantes (40,52% recebem água da rede pública; 72,50% utilizam água sem tratamento; 0,73% possuem sistema de esgoto para destino de fezes e urina). Fonte: SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica.

Da pesquisa à ação

Acima: parte dos alunos que participaram da pesquisa. À direita, alguns dos personagens e produtos educativos da “Hegaboo”.

PPSUSPrograma de Pesquisas para o SUS. Incentiva especificamente pesquisas em saúde relacio-nadas ao desenvolvimento de novas tecnologias para o Sistema Único de Saúde.

SAIBA+www.hegaboo.com.br

EDUCAÇÃO EM SAÚDE

1312

A doutora, assessorada por seu grupo de pesquisa (dois graduandos e três professores), escolheu como público-alvo da pesquisa 75 crianças entre 7 e 9 anos de uma escola pública da periferia de Maceió para pôr à prova – durante dois anos – um ideal do qual fala com autoridade e empolgação: a educação para a saúde. “Se você se propõe a fazer educação em saúde e não muda comportamento, não é educação em saúde. Eu poderia dar apenas um livrinho, mas são raras as pessoas que mudam o comportamento apenas por uma informação”, esclarece a doutora, citando como exemplo a campanha contra o fumo, limitada à visão e à audição. Para ir além, explorar outros sentidos e motivar nas crianças cuidados básicos com a saúde, Dra. Almira estruturou um método educativo que não fosse tão-somente transmissão de conteúdo: testou a eficácia de brinquedos na aprendizagem e na consolidação do hábito de lavar as mãos. Manipulando bonecos – em versão masculina e feminina, em respeito àsindividualidades dos pequenos – acompanhados

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10 11FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

Durante a experiência na escola municipal, a pesquisadora constatou grande dificuldade em encontrar material específico em educação em saúde. Isso foi como uma chamada à ação: com sua expertise no assunto e seu interesse em contribuir para a área, a professora decidiu criar uma empresa que produzisse justamente o material tão raro no mercado. “Partimos dos princípios da neurolinguística, da análise transacional e exploração dos sentidos, para que a experiência educativa altere a percepção a respeito do tema sem tecnicismos ou imposições”, esclarece a doutora que, junto de uma psicóloga, fundou há cerca de 2 anos a Hegaboo (acrônimo de Health Education, Games and Books), empresa gestada durante um ano na incubadora de empresas da UNCISAL com a missão de oferecer ao mercado material qualificado em educação em saúde.

No portfólio da Hegaboo constam jogos, livros, bonecos e aplicativos, produtos fiéis à proposta da empresa de estruturar recursos educativos que vão além da forma tradicional de aprendizagem. Vale ressaltar a temática de seus livros: saúde oral, depressão na infância e aceitação do diferente, este último voltado ao “bullying”, tema espinhoso nas escolas atuais. Quando perguntada sobre a possibilidade da inclusão da educação em saúde no currículo escolar, Almira – que negocia uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação – é categórica: “A legislação já prevê que o conteúdo seja oferecido, mas cabe a cada escola decidir como a educação em saúde será inserida na chamada ‘grade curricular’”.

de cartilhas, assistindo a palestras e participando de brincadeiras, tudo estrita e minuciosamente planejado, os alunos envolviam-se numa “aula” dinâmica (ministrada num ambiente simulando uma casa) que apresentava a lavagem das mãos como algo tão importante quanto escovar os dentes. Se bem-sucedida, a iniciativa conscientizaria os estudantes dos cuidados com o próprio corpo – uma ação estratégica e muito bem pensada, já que voltada a uma fase em que são definidos valores e personalidade – o que consequentemente melhoraria os indicadores de saúde.

“Relatos pós-pesquisa, vindos dos pais dos alunos, dão conta de que as crianças chegavam em casa falando em lavar as mãos”, anima-se a coordenadora do projeto, referindo-se à alentadora experiência, financiada pela FAPEAL através de recursos do PPSUS. “A Fundação me custeou a confecção do material e me cedeu bolsa para dois estudantes, que contribuíram na coleta de dados. Sem o apoio da FAPEAL, a pesquisa não teria sido possível”.

EDUCAÇÃO EM SAÚDE

no Vergel, escolhida para a pesquisa por estar inserida numa comunidade que apresenta condições socioeconômicas preocupantes (40,52% recebem água da rede pública; 72,50% utilizam água sem tratamento; 0,73% possuem sistema de esgoto para destino de fezes e urina). Fonte: SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica.

Da pesquisa à ação

Acima: parte dos alunos que participaram da pesquisa. À direita, alguns dos personagens e produtos educativos da “Hegaboo”.

PPSUSPrograma de Pesquisas para o SUS. Incentiva especificamente pesquisas em saúde relacio-nadas ao desenvolvimento de novas tecnologias para o Sistema Único de Saúde.

SAIBA+www.hegaboo.com.br

EDUCAÇÃO EM SAÚDE

1312

A doutora, assessorada por seu grupo de pesquisa (dois graduandos e três professores), escolheu como público-alvo da pesquisa 75 crianças entre 7 e 9 anos de uma escola pública da periferia de Maceió para pôr à prova – durante dois anos – um ideal do qual fala com autoridade e empolgação: a educação para a saúde. “Se você se propõe a fazer educação em saúde e não muda comportamento, não é educação em saúde. Eu poderia dar apenas um livrinho, mas são raras as pessoas que mudam o comportamento apenas por uma informação”, esclarece a doutora, citando como exemplo a campanha contra o fumo, limitada à visão e à audição. Para ir além, explorar outros sentidos e motivar nas crianças cuidados básicos com a saúde, Dra. Almira estruturou um método educativo que não fosse tão-somente transmissão de conteúdo: testou a eficácia de brinquedos na aprendizagem e na consolidação do hábito de lavar as mãos. Manipulando bonecos – em versão masculina e feminina, em respeito àsindividualidades dos pequenos – acompanhados

Escola de Ensino Fundamental Walter Pitombo Laranjeiras,

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12 13FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

MEMÓRIA

“Amigo, faze o bem: esse prazer compensa a maior recompensa. Aqueles frutos saborosos que o teu vizinho colhe, às vezes, a cantar custaram, com certeza, os trabalhos de alguém que já sabia que nunca, em sua vida, os colheria. Mas nem por issoos deixou de plantar”. “Elogio do bem”, do escritor e poeta sergipano Cleómenes Campos, que o Dr. Medeiros gostava de ouvir ser recitado por sua caçula enquanto caminhava às margens do São Francisco.

MEMÓRIA

O significado de ser pioneiro

por FABIANO MELO QUIRINO fotos e arte HYLLANE SALGUEIRO

Dr. José Medeiros passa para a história alagoana como o homem que acreditou numa ideia que, concretizada, hoje é motivo de orgulho para o estado

SAIBA+ O Dr. José Medeiros foi o deputado que em 1989 não só acolheu o projeto de uma fun-dação que apoiasse a pesquisa em Alagoas, mas se empenhou pessoalmente na articulação para que fosse inserida na Constituição Estadual a pro-posta que tratava de Ciência, Tecnologia e Inovação. Em 27 de setembro de 1990, depois de meses de esforços de diver-sos acadêmicos – capitaneados por Dr. Medeiros – foi promul-gada a Lei Complementar que criou a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL).

Na casa da família Me-deiros, a FAPEAL era assunto para o café da manhã, o almoço e o jantar, com seu fundador e maior entusiasta à mesa sem-pre desejoso em saber e discutir tudo que dissesse respeito à sua amada Fundação. O Dr. Medei-ros foi um “apaixonado pela vida, daqueles de viver cada segundo, sempre com muita ale-gria”, conforme define uma de suas filhas. Pois foi esse vivaz pioneiro e visionário que per-demos em 12 de abril deste ano. Poucas vezes era visto triste, re-ferencial de felicidade que era para os à sua volta. Enfrentou com bravura o triste diagnóstico de câncer na bexiga, sem nun-ca reclamar de dor ou queixar--se de qualquer coisa, fazendo àsua fama de raramente questio-nar problemas e sempre buscarsoluções. Era também definidocomo uma pessoa extremamen-te simples em seus tratos comoutros, ficando feliz com peque-nas coisas, como ouvir o passa-rinho cantando em sua janela ousimplesmente refrescar os pésna água do mar.

Oriundo de Traipu, cos-tumava aproveitar as férias es-colares das filhas para sentá-las

numa rede e ler toda noite para suas pequenas trechos de “As mil e uma noites”, tendo – ali pertinho – a luz da lua cintilando nas águas do São Francisco. Sempre instigou nas herdeiras o desejo por conhecimento, fa-zendo todo o possível para faci-litar-lhes o acesso à cultura. Ora,parecia que – com a FAPEAL– o Dr. Medeiros ansiava queoutros jovens tivessem a mesmaoportunidade. Era comum vê-locaminhar no pomar de sua pe-quena e simpática propriedadeno interior – pela qual passavao famoso rio – a conversar comsuas crianças, incutindo-lhes va-lores para a vida.

Sobre uma de suas maio-res paixões, a FAPEAL, sem-pre teve consciência de não ser “dono” da instituição, enxergan-do-a como um bem coletivo, fi-cando contrariado apenas – vez por outra – com pequenas quere-las surgidas em épocas de tran-sição de gestores. Abnegado, foi diretor-presidente da Fundação diversas vezes, numa época em que o cargo não era remunera-do. Mas falamos de um homem que não se resumiu à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas, haja vista o grande

Com a Constituição Federal na mão, eu fui a todos os gabinetes falar sobre aquele projeto que, a meu ver, tratava diretamente do futuro do estado. Foram muitos os argumentos contrários, mas

felizmente conseguimos conven-cer toda a bancada da importân-cia de se ter uma fundação de

amparo à pesquisa em Alagoas.

Dr. José Medeiros, em depoimento para o especial de 15 anos “FAPEAL

– Uma história em construção”.

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MEMÓRIA

“Amigo, faze o bem: esse prazer compensa a maior recompensa. Aqueles frutos saborosos que o teu vizinho colhe, às vezes, a cantar custaram, com certeza, os trabalhos de alguém que já sabia que nunca, em sua vida, os colheria. Mas nem por issoos deixou de plantar”. “Elogio do bem”, do escritor e poeta sergipano Cleómenes Campos, que o Dr. Medeiros gostava de ouvir ser recitado por sua caçula enquanto caminhava às margens do São Francisco.

MEMÓRIA

O significado de ser pioneiro

por FABIANO MELO QUIRINO fotos e arte HYLLANE SALGUEIRO

Dr. José Medeiros passa para a história alagoana como o homem que acreditou numa ideia que, concretizada, hoje é motivo de orgulho para o estado

SAIBA+ O Dr. José Medeiros foi o deputado que em 1989 não só acolheu o projeto de uma fun-dação que apoiasse a pesquisa em Alagoas, mas se empenhou pessoalmente na articulação para que fosse inserida na Constituição Estadual a pro-posta que tratava de Ciência, Tecnologia e Inovação. Em 27 de setembro de 1990, depois de meses de esforços de diver-sos acadêmicos – capitaneados por Dr. Medeiros – foi promul-gada a Lei Complementar que criou a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL).

Na casa da família Me-deiros, a FAPEAL era assunto para o café da manhã, o almoço e o jantar, com seu fundador e maior entusiasta à mesa sem-pre desejoso em saber e discutir tudo que dissesse respeito à sua amada Fundação. O Dr. Medei-ros foi um “apaixonado pela vida, daqueles de viver cada segundo, sempre com muita ale-gria”, conforme define uma de suas filhas. Pois foi esse vivaz pioneiro e visionário que per-demos em 12 de abril deste ano. Poucas vezes era visto triste, re-ferencial de felicidade que era para os à sua volta. Enfrentou com bravura o triste diagnóstico de câncer na bexiga, sem nunca reclamar de dor ou queixar-se de qualquer coisa, fazendo jus à sua fama de raramente questio-nar problemas e sempre buscar soluções. Era também definido como uma pessoa extremamen-te simples em seus tratos com outros, ficando feliz com peque-nas coisas, como ouvir o passa-rinho cantando em sua janela ou simplesmente refrescar os pés na água do mar.

Oriundo de Traipu, cos-tumava aproveitar as férias es-colares das filhas para sentá-las

numa rede e ler toda noite para suas pequenas trechos de “As mil e uma noites”, tendo – ali pertinho – a luz da lua cintilando nas águas do São Francisco. Sempre instigou nas herdeiras o desejo por conhecimento, fa-zendo todo o possível para faci-litar-lhes o acesso à cultura. Ora,parecia que – com a FAPEAL– o Dr. Medeiros ansiava queoutros jovens tivessem a mesmaoportunidade. Era comum vê-locaminhar no pomar de sua pe-quena e simpática propriedadeno interior – pela qual passavao famoso rio – a conversar comsuas crianças, incutindo-lhes va-lores para a vida.

Sobre uma de suas maio-res paixões, a FAPEAL, sem-pre teve consciência de não ser “dono” da instituição, enxergan-do-a como um bem coletivo, fi-cando contrariado apenas – vez por outra – com pequenas quere-las surgidas em épocas de tran-sição de gestores. Abnegado, foi diretor-presidente da Fundação diversas vezes, numa época em que o cargo não era remunera-do. Mas falamos de um homem que não se resumiu à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas, haja vista o grande

Com a Constituição Federal na mão, eu fui a todos os gabinetes falar sobre aquele projeto que, a meu ver, tratava diretamente do futuro do estado. Foram muitos os argumentos contrários, mas

felizmente conseguimos conven-cer toda a bancada da importân-cia de se ter uma fundação de

amparo à pesquisa em Alagoas.

Dr. José Medeiros, em depoimento para o especial de 15 anos “FAPEAL

– Uma história em construção”.

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14 15FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

MEMÓRIA

número de cargos, funções e papéis que exerceu, tendo atu-ado nas áreas de saúde, educa-ção, política e ciência e tecno-logia. “Aposentado” de tantas atividades, passou a dedicar-se a empreitadas socioculturais, como a SOBRAMES (Socie-dade Brasileira de Médicos Escritores), de cuja regional alagoana foi presidente. Casado com dona Rosa, enfermeira e professora uni-versitária aposentada, culti-vava a tradição de juntar – a cada 2 anos – as três filhas, os seis netos e os quatro bisnetos para um tocante registro, em foto, da passagem do tempo. Tais encontros, eternizados em diversas molduras postas lado a lado nas paredes de seu apartamento, testemunham 84 anos de uma vida inspiradora para qualquer um.

“Na época da proposta do projeto da FAPEAL, ninguém

acreditava na possibilidade de investir em ciência e

tecnologia. Mas eu insisti.”Dr. Medeiros, numa conversa em

abril de 2015, em que - mesmo hospitalizado - dizia “ainda ter

muito a contribuir para a FAPEAL”.

“Dr. FAPEAL” me deixou intrigado a respeito das definições de “che-fe”, “patrão” e “líder”. Em qual encaixar o recém-entrevistado? Com tanta gente se digladiando em busca de destaque e de poder, geral-mente ignorando valores e princí-pios éticos para galgar uma vaga de “celebridade”, tive diante de mim um senhor com um raríssimo histó-rico de ações célebres de verdade e que tratou um reles jornalista como um igual, sem vaidades e tampouco falsa modéstia. Enfim, saí daquele prédio com a maravilhosa “desco-berta” de que nomeações, decretos e canetadas podem até fazer chefes, patrões e poderosos. Mas o líder é diferente; talvez a liderança seja algo “de nascença”, ou construída com muita paixão. Pois ainda me atormenta a dúvida se o Dr. Medei-ros foi um líder nato ou se seu lugar na história alagoana é uma maravi-lhosa consequência de sua abnega-da dedicação ao trabalho.

MEMÓRIASobre chefes, patrões e líderes

Por ocasião do meu primeiro encontro com o Dr. José Medeiros, incumbido de entrevistar o famoso nome por trás da FAPEAL, a ansie-dade e o nervosismo quase que me anestesiavam naquela tarde ensola-rada de 2013: não é todo dia que se conversa com pioneiros de verdade. Eu já tinha entrevistado o primeiro reitor da UFAL, o também médico A. C. Simões, e sabia que não era tarefa fácil: não perguntar tolices, deixar boa impressão e tentar tirar da entrevista algum detalhe “exclu-sivo”. Quando a porta do elevador se abriu, deparei-me com um se-nhor elegantemente sentado à nossa espera, (Hyllane Salgueiro, editora de arte, me acompanhava) numa sala cálida e muito acolhedora. Ao se erguer o doutor para nos cumpri-mentar, tentei disfarçar a comoção por estar conhecendo pessoalmente uma “sumidade”. Sorte minha, sofri por antecipação: Dr. Medeiros, médico aposentado, ex-deputado, ex-secretário estadual

de educação, ex-diretor de hospi-tais, ex-pró-reitor de universidades, diretor e membro de associações culturais, mostrou-se gentilíssimo. Ora, já sentado junto a nós, tendo ao fundo uma parede repleta de fo-tos de seus filhos e netos reunidos, o fundador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas foi mais que acessível. Perceben-do que eu estava nervoso, o típico bom velhinho meneava a cabeça e desviava a vista vez por outra, para tentar me deixar mais à vontade, o que funcionou. Para minha alegria, descobri que Dr. Medeiros também era fã de Érico Veríssimo, autor que li na infância; conversar com ele a respeito do romance Olhai os lírios do campo – do famoso autor gaúcho – me fez perder o resto de reservas que eu tinha para com o meu “entrevistado”. Concluída a conversa, percebi que tinha feito mais que uma entrevista para esta revista: havia recebido algumas lições. O contato com o simpático

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14 15FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

MEMÓRIA

número de cargos, funções e papéis que exerceu, tendo atu-ado nas áreas de saúde, educa-ção, política e ciência e tecno-logia. “Aposentado” de tantas atividades, passou a dedicar-se a empreitadas socioculturais, como a SOBRAMES (Socie-dade Brasileira de Médicos Escritores), de cuja regional alagoana foi presidente. Casado com dona Rosa, enfermeira e professora uni-versitária aposentada, culti-vava a tradição de juntar – a cada 2 anos – as três filhas, os seis netos e os quatro bisnetos para um tocante registro, em foto, da passagem do tempo. Tais encontros, eternizados em diversas molduras postas lado a lado nas paredes de seu apartamento, testemunham 84 anos de uma vida inspiradora para qualquer um.

“Na época da proposta do projeto da FAPEAL, ninguém

acreditava na possibilidade de investir em ciência e

tecnologia. Mas eu insisti.”Dr. Medeiros, numa conversa em

abril de 2015, em que - mesmo hospitalizado - dizia “ainda ter

muito a contribuir para a FAPEAL”.

“Dr. FAPEAL” me deixou intrigado a respeito das definições de “che-fe”, “patrão” e “líder”. Em qual encaixar o recém-entrevistado? Com tanta gente se digladiando em busca de destaque e de poder, geral-mente ignorando valores e princí-pios éticos para galgar uma vaga de “celebridade”, tive diante de mim um senhor com um raríssimo histó-rico de ações célebres de verdade e que tratou um reles jornalista como um igual, sem vaidades e tampouco falsa modéstia. Enfim, saí daquele prédio com a maravilhosa “desco-berta” de que nomeações, decretos e canetadas podem até fazer chefes, patrões e poderosos. Mas o líder é diferente; talvez a liderança seja algo “de nascença”, ou construída com muita paixão. Pois ainda me atormenta a dúvida se o Dr. Medei-ros foi um líder nato ou se seu lugar na história alagoana é uma maravi-lhosa consequência de sua abnega-da dedicação ao trabalho.

MEMÓRIASobre chefes, patrões e líderes

Por ocasião do meu primeiro encontro com o Dr. José Medeiros, incumbido de entrevistar o famoso nome por trás da FAPEAL, a ansie-dade e o nervosismo quase que me anestesiavam naquela tarde ensola-rada de 2013: não é todo dia que se conversa com pioneiros de verdade. Eu já tinha entrevistado o primeiro reitor da UFAL, o também médico A. C. Simões, e sabia que não era tarefa fácil: não perguntar tolices, deixar boa impressão e tentar tirar da entrevista algum detalhe “exclu-sivo”. Quando a porta do elevador se abriu, deparei-me com um se-nhor elegantemente sentado à nossa espera, (Hyllane Salgueiro, editora de arte, me acompanhava) numa sala cálida e muito acolhedora. Ao se erguer o doutor para nos cumpri-mentar, tentei disfarçar a comoção por estar conhecendo pessoalmente uma “sumidade”. Sorte minha, sofri por antecipação: Dr. Medeiros, médico aposentado, ex-deputado, ex-secretário estadual

de educação, ex-diretor de hospi-tais, ex-pró-reitor de universidades, diretor e membro de associações culturais, mostrou-se gentilíssimo. Ora, já sentado junto a nós, tendo ao fundo uma parede repleta de fo-tos de seus filhos e netos reunidos, o fundador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas foi mais que acessível. Perceben-do que eu estava nervoso, o típico bom velhinho meneava a cabeça e desviava a vista vez por outra, para tentar me deixar mais à vontade, o que funcionou. Para minha alegria, descobri que Dr. Medeiros também era fã de Érico Veríssimo, autor que li na infância; conversar com ele a respeito do romance Olhai os lírios do campo – do famoso autor gaúcho – me fez perder o resto de reservas que eu tinha para com o meu “entrevistado”. Concluída a conversa, percebi que tinha feito mais que uma entrevista para esta revista: havia recebido algumas lições. O contato com o simpático

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EDUCAÇÃO BÁSICA

por FABIANO MELO QUIRINO

EDUCAÇÃO BÁSICA

QuímicaVidada

Projeto propõe alternativas para experiências químicas em

escolas com pouca estrutura

A professora Aldenir, da Univer-sidade Estadual de Alagoas (UNEAL), é pós-doutora em

Química pela Universidade Federal de Alagoas e orientadora do projeto “A escola vai à universidade: Química do cotidiano”, dirigido aos alunos da Licenciatura em Química da UNEAL Arapiraca, com uma proposta de con-textualização para melhorar a forma-ção do futuro professor, dando a ele um vislumbre de sua futura realidade: a sala de aula do Ensino Médio. Al-denir toca o projeto ao lado de 7 bol-sistas da FAPEAL: três graduandos e quatro estudantes do Ensino Médio. Os três alunos da UNEAL elaboraram um roteiro de experimentos interes-santes e possíveis de serem testados com materiais de fácil acesso. Dis-so, surgiram substituições inusitadas, como um “indicador de repolho”; co-pos de vidro na falta de vidraria ade-

Kelly Barbosa da SilvaLicenciada em Química pela UNEAL, foi bolsista da FAPEAL durantea graduação, período em que fez parte do projeto “A escola vai à universidade. Química do cotidiano.”

“As bolsas de auxílio financeiro da FAPEAL foram muito importantes para a expansão e aperfeiçoa-mento de minhas ideias, atuando de forma positi-va no meu crescimento profissional, pois, a partir delas, fui inserida no âmbito da pesquisa, na qual estou desde 2009. “

arte e fotos HYLLANE SALGUEIRO

Graduandos da UNEAL e estudantes do Ensino Médio

integrantes do projeto “Química da vida”, no labora-

tório da universidade onde são feitos os experimentos

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16 17FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

EDUCAÇÃO BÁSICA

por FABIANO MELO QUIRINO

EDUCAÇÃO BÁSICA

QuímicaVidada

Projeto propõe alternativas para experiências químicas em

escolas com pouca estrutura

A professora Aldenir, da Univer-sidade Estadual de Alagoas (UNEAL), é pós-doutora em

Química pela Universidade Federal de Alagoas e orientadora do projeto “A escola vai à universidade: Química do cotidiano”, dirigido aos alunos da Licenciatura em Química da UNEAL Arapiraca, com uma proposta de con-textualização para melhorar a forma-ção do futuro professor, dando a ele um vislumbre de sua futura realidade: a sala de aula do Ensino Médio. Al-denir toca o projeto ao lado de 7 bol-sistas da FAPEAL: três graduandos e quatro estudantes do Ensino Médio. Os três alunos da UNEAL elaboraram um roteiro de experimentos interes-santes e possíveis de serem testados com materiais de fácil acesso. Dis-so, surgiram substituições inusitadas, como um “indicador de repolho”; co-pos de vidro na falta de vidraria ade-

Kelly Barbosa da SilvaLicenciada em Química pela UNEAL, foi bolsista da FAPEAL durantea graduação, período em que fez parte do projeto “A escola vai à universidade. Química do cotidiano.”

“As bolsas de auxilio financeiro da FAPEAL foram muito importantes para a expansão e aperfeiçoa-mento de minhas ideias, atuando de forma positi-va no meu crescimento profissional, pois, a partir delas, fui inserida no âmbito da pesquisa, na qual estou desde 2009. “

arte e fotos HYLLANE SALGUEIRO

Graduandos da UNEAL e estudantes do Ensino Médio

integrantes do projeto “Química da vida”, no labora-

tório da universidade onde são feitos os experimentos

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18 19FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

quada; liquidificador à guisa de “triturador” etc., apresentando ao professor alternativas para que a Química seja ministrada de uma forma prática e li-gada ao dia a dia do estudante, independentemente de haver ou não um laboratório bem equipado na instituição de ensino. “O aluno acha que a Química é irreal, fic-tícia. Quando se fala do assunto, o jovem – a não ser que o professor esteja bem preparado para isso – não consegue perceber que aquele elemento quí-mico faz parte da vida dele e ele, como ser vivo, é formado por tais elementos, substâncias, mistu-ras...Enfim, que tudo ao redor pode ser considera-do Química”, justifica a também docente do Cen-tro de Estudos Superiores de Maceió (CESMAC) , emendando um desabafo: “Numa aula de Química, mesmo que o professor diga qual é a prática, se o aluno não faz, resta apenas a teoria. Decora para passar na prova e pronto: não tem aplicação nenhu-ma. Aí entramos na questão: se o professor fica na teoria é porque ele trabalha na escola estadual, que não tem laboratório, não tem recursos, não pode fazer a prática. Nossa proposta é ir além: elaborar práticas no ensino de Química que possam ser rea-lizadas nessas escolas”. Enquanto a estratégia pedagógica da pro-fessora não se populariza, por assim dizer, seu gru-po de pesquisa agenda visitas de turmas do Ensino Médio de várias escolas de Arapiraca a um labo-

ratório de Química da UNEAL, onde se estuda a disciplina a partir da proposta da pesquisa: teoria sempre seguida de prática. Não só os futuros licencia-dos em Química, alunos de Aldenir, ganham com a ex-periência. Os jo-vens da Educação Básica acabam sen-do treinados tanto na parte de pesqui-sa, de como lidar com a parte teórica, quanto na parte ex-perimental, tendo acesso a instrumen-tos – e alternativas à falta destes – que eles não encontra-riam fora da universidade, uma instituição da qual só haviam

ouvido falar e na qual agora iniciam uma vivência. Acabam,

assim, se tornan-do multiplicado-res do “ensino contextualizado e experimental de Química”, nas pa-lavras da doutora, levando as ideias apresentadas ali na UNEAL para as escolas nas quais concluem os últimos anos da Educação Bá-sica.“Não adianta um professor fazer curso de espe-cialização, por exemplo, para de-pois dar aula de

Química: todo mundo sabe que tem de ter prática; fica muito di-

fícil. Quando ele chegar à esco-la, não vai ter como reproduzir nada, porque não tem estrutura, não tem dinheiro para comprar reagente... É melhor você trei-nar um professor para que ele veja como fazer aulas práticas do cotidiano, dentro da sua rea-lidade, do que pode ser feito, e que vai contemplar as necessi-dades do aluno”, arremata a pro-fessora universitária, numa fala que reflete o momento delicado que vive o Ensino Médio no Brasil, após os desesperadores resultados das últimas edições do Índice de Desenvolvimen-to da Educação Básica (Ideb). A experiência da Dra. Aldenir, longe da cômoda “pesquisa de gabinete”, serve de exemplo e de norte para o envolvimento de acadêmicos e cientistas com os gargalos sociais de nossa re-alidade.

“Numa aula de Química, mesmo que o professor diga qual é a práti-ca, se o aluno não faz, resta apenas a teoria. Decora para passar na prova e pronto: não tem aplicação nenhuma.”

Dra. Aldenir

“Nossa proposta é ir além: elaborar práticas de ensino contextualizado e experimental de Química que possam ser realizados em escolas públicas.”

Na falta de labora-tórios bem equipa-dos, surgiram subs-tituições inusitadas, como um “indica-dor de repolho” e copos de vidro na falta de vidraria adequada, apresen-tando ao professor alternativas para que a Química seja ministrada de uma forma prática e li-gada ao dia a dia do estudante.

Aluna da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL),participante do projeto, em demonstração para a

“Fapeal em Revista”

Aldenir Feitosa dos SantosPós-doutora em Química pela UFAL, é professora titular e pesquisadora da Licenciatura em Química da Universidade Estadual de Alagoas.

2120

Na primeira foto, um dos integrantes do projeto explica quais e de que forma serão

realizados os experimentos, iniciados conforme visto na segunda imagem

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18 19FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

quada; liquidificador à guisa de “triturador” etc., apresentando ao professor alternativas para que a Química seja ministrada de uma forma prática e li-gada ao dia a dia do estudante, independentemente de haver ou não um laboratório bem equipado na instituição de ensino. “O aluno acha que a Química é irreal, fic-tícia. Quando se fala do assunto, o jovem – a não ser que o professor esteja bem preparado para isso – não consegue perceber que aquele elemento quí-mico faz parte da vida dele e ele, como ser vivo, é formado por tais elementos, substâncias, mistu-ras...Enfim, que tudo ao redor pode ser considera-do Química”, justifica a também docente do Cen-tro de Estudos Superiores de Maceió (CESMAC) , emendando um desabafo: “Numa aula de Química, mesmo que o professor diga qual é a prática, se o aluno não faz, resta apenas a teoria. Decora para passar na prova e pronto: não tem aplicação nenhu-ma. Aí entramos na questão: se o professor fica na teoria é porque ele trabalha na escola estadual, que não tem laboratório, não tem recursos, não pode fazer a prática. Nossa proposta é ir além: elaborar práticas no ensino de Química que possam ser rea-lizadas nessas escolas”. Enquanto a estratégia pedagógica da pro-fessora não se populariza, por assim dizer, seu gru-po de pesquisa agenda visitas de turmas do Ensino Médio de várias escolas de Arapiraca a um labo-

ratório de Química da UNEAL, onde se estuda a disciplina a partir da proposta da pesquisa: teoria sempre seguida de prática. Não só os futuros licencia-dos em Química, alunos de Aldenir, ganham com a ex-periência. Os jo-vens da Educação Básica acabam sen-do treinados tanto na parte de pesqui-sa, de como lidar com a parte teórica, quanto na parte ex-perimental, tendo acesso a instrumen-tos – e alternativas à falta destes – que eles não encontra-riam fora da universidade, uma instituição da qual só haviam

ouvido falar e na qual agora iniciam uma vivência. Acabam,

assim, se tornan-do multiplicado-res do “ensino contextualizado e experimental de Química”, nas pa-lavras da doutora, levando as ideias apresentadas ali na UNEAL para as escolas nas quais concluem os últimos anos da Educação Bá-sica.“Não adianta um professor fazer curso de espe-cialização, por exemplo, para de-pois dar aula de

Química: todo mundo sabe que tem de ter prática; fica muito di-

fícil. Quando ele chegar à esco-la, não vai ter como reproduzir nada, porque não tem estrutura, não tem dinheiro para comprar reagente... É melhor você trei-nar um professor para que ele veja como fazer aulas práticas do cotidiano, dentro da sua rea-lidade, do que pode ser feito, e que vai contemplar as necessi-dades do aluno”, arremata a pro-fessora universitária, numa fala que reflete o momento delicado que vive o Ensino Médio no Brasil, após os desesperadores resultados das últimas edições do Índice de Desenvolvimen-to da Educação Básica (Ideb). A experiência da Dra. Aldenir, longe da cômoda “pesquisa de gabinete”, serve de exemplo e de norte para o envolvimento de acadêmicos e cientistas com os gargalos sociais de nossa re-alidade.

“Numa aula de Química, mesmo que o professor diga qual é a práti-ca, se o aluno não faz, resta apenas a teoria. Decora para passar na prova e pronto: não tem aplicação nenhuma.”

Dra. Aldenir

“Nossa proposta é ir além: elaborar práticas de ensino contextualizado e experimental de Química que possam ser realizados em escolas públicas.”

Na falta de labora-tórios bem equipa-dos, surgiram subs-tituições inusitadas, como um “indica-dor de repolho” e copos de vidro na falta de vidraria adequada, apresen-tando ao professor alternativas para que a Química seja ministrada de uma forma prática e li-gada ao dia a dia do estudante.

Aluna da Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL),participante do projeto, em demonstração para a

“Fapeal em Revista”

Aldenir Feitosa dos SantosPós-doutora em Química pela UFAL, é professora titular e pesquisadora da Licenciatura em Química da Universidade Estadual de Alagoas.

2120

Na primeira foto, um dos integrantes do projeto explica quais e de que forma serão

realizados os experimentos, iniciados conforme visto na segunda imagem

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2 3FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

CANAL DO SERTÃO CANAL DO SERTÃO

Maria das Virgens Viana da Silva, senhora extremamente bronzeada apa-rentando bem mais que seus 55 anos, acorda às quatro da manhã, três vezes por semana, para “lutar” com seus vizinhos por alguns baldes de

água, distribuídos pela Defesa Civil a partir de uma grande cisterna comunitária, construída ao lado da escola do pequeno lugarejo nos arredores de Inhapi. Dona Maria tem sua própria cisterna, mas não pode pagar os 150 reais cobrados por um carro pipa para abastecê-la. “Mas antes era pior, nem isso tinha”, fala – resignada – a simpática senhora apontando para a casa do filho, num sítio ao lado, na mesmasituação. Tal realidade é típica da região, cuja aridez já foi inclusive retratada, porexemplo, nas tocantes obras “Vidas Secas” e “O Quinze”, livros saídos da lavra deintelectuais migrantes e sobreviventes da histórica seca nordestina.

Da aridez castigante ao solo verdejanteOs esforços de cientistas alagoanos para tornar o Canal do Sertão um meio transformador do semiáridofotos e arte HYLLANE SALGUEIROpor FABIANO QUIRINO

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2 3FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

CANAL DO SERTÃO CANAL DO SERTÃO

Maria das Virgens Viana da Silva, senhora extremamente bronzeada apa-rentando bem mais que seus 55 anos, acorda às quatro da manhã, três vezes por semana, para “lutar” com seus vizinhos por alguns baldes de

água, distribuídos pela Defesa Civil a partir de uma grande cisterna comunitária, construída ao lado da escola do pequeno lugarejo nos arredores de Inhapi. Dona Maria tem sua própria cisterna, mas não pode pagar os 150 reais cobrados por um carro pipa para abastecê-la. “Mas antes era pior, nem isso tinha”, fala – resignada – a simpática senhora apontando para a casa do filho, num sítio ao lado, na mesmasituação. Tal realidade é típica da região, cuja aridez já foi inclusive retratada, porexemplo, nas tocantes obras “Vidas Secas” e “O Quinze”, livros saídos da lavra deintelectuais migrantes e sobreviventes da histórica seca nordestina.

Dias melhores virãoOs esforços de cientistas alagoanos para tornar o Canal do Sertão um meio transformador do semiáridofotos e arte HYLLANE SALGUEIROpor FABIANO QUIRINO

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4 5FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

CANAL DO SERTÃOCANAL DO SERTÃO

Em 2015, a mídia anunciou que cerca de 50 municípios estavam em “situação de colapso” devido à estiagem pro-longada. Estados como Ceará e Pa-raíba são aponta-dos como os mais prejudicados. Em Alagoas, segundo informações da Associação dos Municípios Ala-goanos (AMA), dezenas de mu-nicípios foram tidos como “em situação de emer-gência”. Seguindo também informa-ções da Secreta-ria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hí-dricos (Semarh), conclui-se – com uma olhada no mapa – que é a parte oeste do nos-

so estado que agoniza. A Fapeal em Revista fez uma visita à re-

gião – com des-tino ao municí-pio de Delmiro Gouveia, onde as obras do famoso canal estão pra-ticamente con-cluídas – passan-do por cidades como Maravilha, Canapi, Inhapi, Água Branca, Pariconha e Olho D´água do Casa-do, ou seja, bem no foco do semi-árido cada vez mais seco devido à longa estiagem. Num lugar em que o sol pare-ce mais incle-mente que em qualquer outro,

a árida paisagem é cortada ape-nas por intermitentes plantações

“Se houver um traba-lho de extensão junto às unidades de pesqui-sa, se tiver acompa-nhamento de um processo de extensão que chegue junto do produtor rural, cer-tamente o Canal do Sertão trará possibi-lidades de um melhor cultivo, melhor pro-dução e desenvolvi-mento social para a região” - Dra. Edna Peixoto da Rocha Amorim, professora da UFAL e assessora técnica da FAPEAL.

SAIBA+O Canal do Sertão é a maior obra de infraestrutura hídrica de Alagoas e uma das maio-res do Nordeste. A promessa é beneficiar 42 municípios e mais de 1 milhão de alagoa-nos, levando água para a po-pulação sertaneja anualmente atingida pela seca, melho-rando a qualidade de vida da população e desenvolvendo a economia regional, contri-buindo assim para a redução do êxodo rural no Sertão. O governo de Alagoas concluiu os dois primeiros trechos do canal, alcançando o km 65, e as obras do terceiro trecho já foram iniciadas. Quando estiver concluído, o Canal do Sertão alcançará a marca de 250 km de extensão, ligando Delmiro Gouveia a Arapiraca. Fonte: Portal Brasil

De acordo com Aluisio Norberto dos Santos, natural de Delmiro Gouveia e funcionário técnico do Campus Sertão da UFAL, já há razões para entusiasmo. “Mesmo ainda sem dados estatísticos comprobatórios, o Canal é sim um motivo de esperança para o povo do sertão; há muito se falava sobre ele. Muito tempo antes de as obras serem iniciadas, o povo aguardava com muita esperança. Lembro que no final dos anos noventa se falava muito sobre esta obra e nunca iniciava; houve um perí-odo em que foi feito o canteiro de obra, mas não passou disso. Agora o povo está vendo um sonho ser concretizado”. Ora, consta que o Imperador D. Pedro II, em visita à então famosa cachoeira de Paulo Afonso, na Bahia, em 1869, falou – em seus escritos – do aprovei-tamento daquelas águas através de um canal adutor para a região. Algumas décadas depois, o pioneiro Delmiro Gouveia, em 1903, fugido de Pernam-buco por questões políticas, chegou ao então povoado Pedra, pertencente a Água Branca, pôs a ideia em prática, fazendo a primeira canalização das águas do São Francisco com o intuito de viabilizar sua Usina de Angiquinho. Entre 1991 e 1992, alguns quilômetros do canal foram abertos, mesmo sem o revestimento de concreto. A partir daí o projeto foi retomado e deixado de lado várias vezes com maior ou menor apoio do governo federal, até ser finalmente incluído, no início dos anos 2000, no Programa de Aceleração do Crescimen-to (PAC) do Governo Federal, o que fez o Canal do Sertão passar a ser tratado, de fato, como uma prioridade.

UM PROJETO ANTIGO

A água do Canal do Sertão, conduzida por canos às plantações, faz vicejar terras antes ressequidas e incultiváveis

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CANAL DO SERTÃOCANAL DO SERTÃO

Em 2015, a mídia anunciou que cerca de 50 municípios estavam em “situação de colapso” devido à estiagem pro-longada. Estados como Ceará e Pa-raíba são aponta-dos como os mais prejudicados. Em Alagoas, segundo informações da Associação dos Municípios Ala-goanos (AMA), dezenas de mu-nicípios foram tidos como “em situação de emer-gência”. Seguindo também informa-ções da Secreta-ria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hí-dricos (Semarh), conclui-se – com uma olhada no mapa – que é a parte oeste do nos-

so estado que agoniza. A Fapeal em Revista fez uma visita à re-

gião – com des-tino ao municí-pio de Delmiro Gouveia, onde as obras do famoso canal estão pra-ticamente con-cluídas – passan-do por cidades como Maravilha, Canapi, Inhapi, Água Branca, Pariconha e Olho D´água do Casa-do, ou seja, bem no foco do semi-árido cada vez mais seco devido à longa estiagem. Num lugar em que o sol pare-ce mais incle-mente que em qualquer outro,

a árida paisagem é cortada ape-nas por intermitentes plantações

“Se houver um traba-lho de extensão junto às unidades de pesqui-sa, se tiver acompa-nhamento de um processo de extensão que chegue junto do produtor rural, cer-tamente o Canal do Sertão trará possibi-lidades de um melhor cultivo, melhor pro-dução e desenvolvi-mento social para a região” - Dra. Edna Peixoto da Rocha Amorim, professora da UFAL e assessora técnica da FAPEAL.

SAIBA+O Canal do Sertão é a maior obra de infraestrutura hídrica de Alagoas e uma das maio-res do Nordeste. A promessa é beneficiar 42 municípios e mais de 1 milhão de alagoa-nos, levando água para a po-pulação sertaneja anualmente atingida pela seca, melho-rando a qualidade de vida da população e desenvolvendo a economia regional, contri-buindo assim para a redução do êxodo rural no Sertão. O governo de Alagoas concluiu os dois primeiros trechos do canal, alcançando o km 65, e as obras do terceiro trecho já foram iniciadas. Quando estiver concluído, o Canal do Sertão alcançará a marca de 250 km de extensão, ligando Delmiro Gouveia a Arapiraca. Fonte: Portal Brasil

De acordo com Aluisio Norberto dos Santos, natural de Delmiro Gouveia e funcionário técnico do Campus Sertão da UFAL, já há razões para entusiasmo. “Mesmo ainda sem dados estatísticos comprobatórios, o Canal é sim um motivo de esperança para o povo do sertão; há muito se falava sobre ele. Muito tempo antes de as obras serem iniciadas, o povo aguardava com muita esperança. Lembro que no final dos anos noventa se falava muito sobre esta obra e nunca iniciava; houve um perí-odo em que foi feito o canteiro de obra, mas não passou disso. Agora o povo está vendo um sonho ser concretizado”. Ora, consta que o Imperador D. Pedro II, em visita à então famosa cachoeira de Paulo Afonso, na Bahia, em 1869, falou – em seus escritos – do aprovei-tamento daquelas águas através de um canal adutor para a região. Algumas décadas depois, o pioneiro Delmiro Gouveia, em 1903, fugido de Pernam-buco por questões políticas, chegou ao então povoado Pedra, pertencente a Água Branca, pôs a ideia em prática, fazendo a primeira canalização das águas do São Francisco com o intuito de viabilizar sua Usina de Angiquinho. Entre 1991 e 1992, alguns quilômetros do canal foram abertos, mesmo sem o revestimento de concreto. A partir daí o projeto foi retomado e deixado de lado várias vezes com maior ou menor apoio do governo federal, até ser finalmente incluído, no início dos anos 2000, no Programa de Aceleração do Crescimen-to (PAC) do Governo Federal, o que fez o Canal do Sertão passar a ser tratado,de fato, como uma prioridade.

UM PROJETO ANTIGO

A água do Canal do Sertão, conduzida por canos às plantações, faz vicejar terras antes ressequidas e incultiváveis

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CANAL DO SERTÃO CANAL DO SERTÃO

em toda parte. Segundo Genival Silva, 30 anos, frentista de um quase deserto posto de gasolina nos arredo-res de Água Branca, a economia local se sustenta a partir do Bolsa Família, já que a agricultura é – obviamente – uma atividade inviável ali. Mas Geni-val dá um suspiro de esperança: “Nas terras próximas ao canal estão plantando até melancia”. É comum os moradores do entorno falarem com esperança do canal. Cláudio Gonzaga, 38 anos, é um exemplo das razões para esse otimismo. Trata-se de um

de palma, pequenas e grandes, com seu verde a chamar a atenção no cinzento horizonte do semiá-rido alagoano. E mesmo ela, cactácea símbolo do nordeste, parece não resistir a tanto calor, haja vis-ta a amarelidão de algumas pequenas plantações vistas às margens de praticamente toda a rodovia. Numa viagem da capital alagoana até o municí-pio de Delmiro Gouveia, já na divisa com a Bahia, depara-se, invariavelmente, com pequenas escolas abandonadas; poucas e magras cabeças de gado, a fuçarem instintivamente o solo gretado em bus-ca de algo que comer na relva praticamente tosta-da. Inúmeras pontes sobre rios e riachos que hoje dão lugar a reluzentes leitos pedregosos: segundo

consta, não chove significativamente há cerca de 6 anos. Dificilmente vê-se uma casa sem sua cister-na ao lado, caiada, a embaçar a vista, cintilante ao reflexo do sol forte e esperando a água da chuva que, aparada do telhado, deveria ser represada nos tais tanques brancos de alvenaria. Dependendo de para onde se olha, podem-se ver grupos de ma-gros bois à sombra de um meio desfolhado angico, quietamente aguardando sua ração diária de pal-ma, mandacaru, xiquexique, folha de catingueira seca ou jurema, essas duas últimas também dadas aos bodes. É enorme a impressão de que tudo – terrenos, casas, sítios – está pronto para a chegada da chuva: a ânsia de plantar e colher é percebida

agricultor que, aproveitando-se da água do canal, escapou totalmente de sua antiga realidade. Em-polgado, ele fala no meio de seu “bolsão verde” do fato de agora não mais precisar emigrar em épocas

de seca extrema como a de agora. “Antes, para sobreviver, de tem-pos em tempos eu precisava viajar para São Paulo ou Rio de Janeiro, trabalhar em linhas de transmis-são para sustentar minha família”, desabafa Gonzaga, que mora com esposa e filha numa simples mas

simpática casa rodeada de plantações de alface, coentro, cebolinha, berinjela, pimentão, pimenta

“Nas terras próximas ao canal estão plantando

até melancia” - Genival Silva, frentista de

Água Branca, no semiárido alagoano.

“Antes era pior: nem carro-pipa tinha” – Maria das Virgens Viana da Silva, agricultora de Inhapi

“Antes, para sobreviver, de tempos em tempos eu pre-cisava viajar para São Paulo ou Rio de Janeiro, trabalhar

em linhas de transmissão” Cláudio Gonzaga, agricultor

de Delmiro Gouveia

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CANAL DO SERTÃO CANAL DO SERTÃO

em toda parte.Segundo Genival Silva, 30 anos, frentista

de um quase deserto posto de gasolina nos arredo-res de Água Branca, a economia local se sustenta a partir do Bolsa Família, já que a agricultura é – obviamente – uma atividade inviável ali. Mas Geni-val dá um suspiro de esperança: “Nas terras próximas ao canal estão plantando até melancia”. É comum os moradores do entorno falarem com esperança do canal.

Cláudio Gonzaga, 38 anos, é um exemplo das razões para esse otimismo. Trata-se de um

de palma, pequenas e grandes, com seu verde a chamar a atenção no cinzento horizonte do semiá-rido alagoano. E mesmo ela, cactácea símbolo do nordeste, parece não resistir a tanto calor, haja vis-ta a amarelidão de algumas pequenas plantações vistas às margens de praticamente toda a rodovia. Numa viagem da capital alagoana até o municí-pio de Delmiro Gouveia, já na divisa com a Bahia, depara-se, invariavelmente, com pequenas escolas abandonadas; poucas e magras cabeças de gado, a fuçarem instintivamente o solo gretado em bus-ca de algo que comer na relva praticamente tosta-da. Inúmeras pontes sobre rios e riachos que hoje dão lugar a reluzentes leitos pedregosos: segundo

consta, não chove significativamente há cerca de 6 anos. Dificilmente vê-se uma casa sem sua cister-na ao lado, caiada, a embaçar a vista, cintilante ao reflexo do sol forte e esperando a água da chuva que, aparada do telhado, deveria ser represada nos tais tanques brancos de alvenaria. Dependendo de para onde se olha, podem-se ver grupos de ma-gros bois à sombra de um meio desfolhado angico, quietamente aguardando sua ração diária de pal-ma, mandacaru, xiquexique, folha de catingueira seca ou jurema, essas duas últimas também dadas aos bodes. É enorme a impressão de que tudo – terrenos, casas, sítios – está pronto para a chegada da chuva: a ânsia de plantar e colher é percebida

agricultor que, aproveitando-se da água do canal, escapou totalmente de sua antiga realidade. Em-polgado, ele fala no meio de seu “bolsão verde” do fato de agora não mais precisar emigrar em épocas

de seca extrema como a de agora. “Antes, para sobreviver, de tem-pos em tempos eu precisava viajar para São Paulo ou Rio de Janeiro, trabalhar em linhas de transmis-são para sustentar minha família”, desabafa Gonzaga, que mora com esposa e filha numa simples mas

simpática casa rodeada de plantações de alface, coentro, cebolinha, berinjela, pimentão, pimenta

“Nas terras próximas ao canal estão plantando

até melancia” - Genival Silva, frentista de

Água Branca, no semiárido alagoano.

“Antes era pior: nem carro-pipa tinha” – Maria das Virgens Viana da Silva, agricultora de Inhapi

“Antes, para sobreviver, de tempos em tempos eu pre-cisava viajar para São Paulo ou Rio de Janeiro, trabalhar

em linhas de transmissão” Cláudio Gonzaga, agricultor

de Delmiro Gouveia

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TODOS DE OLHO NO CANAL

de cheiro e morango. Sim, moran-go! “Já cheguei a tirar daqui até

dez caixas da frutinha vermelha”, orgulha-se Gonzaga, que também se

gaba de não utilizar agrotóxicos em seus cultivos. “Tudo aqui é orgânico!”.

O agricultor escoa sua produção na fei-ra de Delmiro Gouveia, lucrando cerca de

R$2 mil reais por mês. O segredo de tal oá-sis vicejante em meio ao cenário ressequida

ao redor pode ser visto logo ali no cantinho, debaixo da cerca de qualquer sítio, chácara ou

fazenda semelhantes à de Gonzaga: uma enca-nação azul que irriga terras onde outrora só havia

poeira e pedregulhos. Trata-se de uma região tão seca e castigada pelo sol que ali percebemos na prá-

tica o poder vitalizador da água: um simples cano de PVC faz brotar “bolsões verdes” por todo o percurso do

famoso canal.

“O Canal do Sertão é sim um motivo de esperan-ça para o povo daqui, há muito se falava sobre ele;

anos antes de as obras serem iniciadas, o povo aguar-dava com muita esperança. No final dos anos noventa

falava-se muito sobre esta obra e nunca iniciava; houve um período em que foi feito o canteiro de obra, mas não

passou disso. Agora o povo está vendo um sonho ser concretizado”

Aluisio Norberto dos Santos, natural de Delmiro Gouveia e funcionário técnico

do Campus Sertão da UFAL

“Estamos formalizando convênios com a FAPEAL para que os técnicos da Fundação juntamente com os da Secretaria de Recursos

Hídricos e mais os peritos da UFAL, do IFAL e da UNEAL possam formar grupos de trabalho em que haja discussões concretas e objeti-

vas para concluirmos qual a melhor maneira de gerir o Canal do Sertão e com isso garantir a melhoria da vida dos sertanejos”.

Alexandre AyresSecretário Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos

Plantação de morango no pequeno sítio de Cláudio Gonzaga, próximo ao Canal de Sertão

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TODOS DE OLHO NO CANAL

de cheiro e morango. Sim, moran-go! “Já cheguei a tirar daqui até

dez caixas da frutinha vermelha”, orgulha-se Gonzaga, que também se

gaba de não utilizar agrotóxicos em seus cultivos. “Tudo aqui é orgânico!”.

O agricultor escoa sua produção na fei-ra de Delmiro Gouveia, lucrando cerca de

R$2 mil reais por mês. O segredo de tal oá-sis vicejante em meio ao cenário ressequida

ao redor pode ser visto logo ali no cantinho, debaixo da cerca de qualquer sítio, chácara ou

fazenda semelhantes à de Gonzaga: uma enca-nação azul que irriga terras onde outrora só havia

poeira e pedregulhos. Trata-se de uma região tão seca e castigada pelo sol que ali percebemos na prá-

tica o poder vitalizador da água: um simples cano de PVC faz brotar “bolsões verdes” por todo o percurso do

famoso canal.

“O Canal do Sertão é sim um motivo de esperan-ça para o povo daqui, há muito se falava sobre ele;

anos antes de as obras serem iniciadas, o povo aguar-dava com muita esperança. No final dos anos noventa

falava-se muito sobre esta obra e nunca iniciava; houve um período em que foi feito o canteiro de obra, mas não

passou disso. Agora o povo está vendo um sonho ser concretizado”

Aluisio Norberto dos Santos, natural de Delmiro Gouveia e funcionário técnico

do Campus Sertão da UFAL

“Estamos formalizando convênios com a FAPEAL para que os técnicos da Fundação juntamente com os da Secretaria de Recursos

Hídricos e mais os peritos da UFAL, do IFAL e da UNEAL possam formar grupos de trabalho em que haja discussões concretas e objeti-

vas para concluirmos qual a melhor maneira de gerir o Canal do Sertão e com isso garantir a melhoria da vida dos sertanejos”.

Alexandre AyresSecretário Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos

Plantação de morango no pequeno sítio de Cláudio Gonzaga, próximo ao Canal de Sertão

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CANAL DO SERTÃO CANAL DO SERTÃO

TODOS DE OLHO NO CANAL Quando questionada sobre as possibilidades de o Canal do Sertão mudar nossa realidade para melhor, a Dra. Edna Peixoto da Ro-cha Amorim, pro-fessora da Uni-versidade Federal de Alagoas e as-sessora científica da FAPEAL, não faz rodeios: “Sim, se houver um tra-balho de extensão junto às unidades de pesquisa. Um dos projetos liga-dos ao canal pre-vê, por exemplo, o uso das ener-gias, dos recur-sos renováveis, para melhorar um sistema de irriga-ção que não seria possível diante de nossa falta de água e problemas de distribuição de eletricidade. En-tão esse projeto é de suma impor-tância. Também contemplamos o uso do solo para saber o melhor tipo de preparo do solo, de la-vouras a serem empregadas; e, por fim, o uso do sistema integrado lavoura-pecuária, que é um sistema que entra com a parte ecológica e que pode ser ex-

pandido se tiver acompanhamento de um processo de extensão que chegue junto do produtor rural. Se assim for, certamente ele trará pos-

sibilidades de um melhor cultivo, melhor produção e desenvolvimento social para a re-gião”. O Dr. João Gomes da Costa, pesquisador da Embrapa, auxilia-do por oito bolsis-tas e em associação com a EMATER, a Secretaria Estadu-al de Agricultura, a UFAL e o IFAL, está à frente de um projeto que visa identificar plantas que se adaptem bem ao tipo de solo da área pela qual passa e pas-sará o canal. Essas plantas serão culti-vadas em conjunto e poderão servir para a alimentação tanto animal como humana. O prin-cipal objetivo da pesquisa é reco-mendar cultivos que sejam sus-tentáveis ao lon-go dos anos sem prejudicar o meio

ambiente. “A FAPEAL está sendo fundamental para a realização de

pesquisas que irão definir quais as culturas mais apropriadas e como deverão ser manejadas para que a irrigação, sem orientação técnica, não torne as áreas improdutivas num futuro próximo. A maior parte dos solos do Canal do Sertão, nos seus primeiros 65 km, não é a mais apropriada para a irrigação. Porém, com pesquisas como essas que a FAPEAL vem apoiando ficamos esperançosos de que o canal será de muita importância para a região não somente para abastecimento da população como também para uso na agropecuária”. A fala do Dr. João é corro-borada por seu colega pesquisador Stoécio Malta Ferreira Maia, dou-tor em Agronomia e professor do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) e coordenador de outro projeto li-gado ao canal do sertão. Seu grupo

também é constituído de doutores da UFAL, da Embrapa e do IFAL, cientistas que contam com uma equipe que – antes com 11 bolsistas – hoje é composta por 7. “A ideia é gerar uma série de indicadores li-gados ao solo, pensando nas áreas com melhor potencial para irriga-ção e identificar os tipos predomi-nantes para avaliar os efeitos dos sistemas de uso e seus impactos. Enfim, almejamos verificar como está o solo hoje e como poderá estar no futuro”. Os esforços da equipe do Dr. Stoécio também avaliam os efeitos do aquecimento global, em consonância com os nossos tempos, em que qualquer pesquisa do tipo leva em conta a questão ecológica. “Ora, Alagoas é o único estado que é cortado pelo São Francisco e que não tem perímetro irrigado. Na re-gião de Petrolina, em Pernambuco,

por exemplo, os solos são melhores que os daqui, apesar de mesmo as-sim a necessidade de cuidados não ser descartada. Irrigação é bom, mas tem de ser feita com cuidado, pois nem todos os tipos de solo são tão receptivos. Pelos mapeamen-tos que temos, identificamos que – considerando os tipos de solo – se o poder público não investir em pesquisa, pode haver salinização, degradação, erosão etc”. Enfim, moradores do semi-árido, estudantes, cientistas e ges-tores públicos: todos parecem estar mobilizados em torno de um canal que apresenta muitas perspectivas e promessas de dias melhores para uma região tão sofrida. Obviamen-te, apenas disponibilizar água não resolve o problema da seca. “Não é só construir o Canal do Sertão: o poder público tem de tomar a fren-

te, encaminhando, direcionando e oferecendo assistência técnica, para contornar possíveis efeitos da-nosos do uso amador da água pela população”, arremata o professor Stoécio, que acrescenta: “Com os editais, a FAPEAL tem papel fun-damental na indução dessas inicia-tivas. Mas, pensemos em pesquisas que tenham aplicação prática e não apenas enriqueçam os currículos dos pesquisadores. Além disso, os tomadores de decisão têm de utili-zar os resultados dessas pesquisas, senão a obra fica sendo subutiliza-da”. Ao fim e ao cabo, o intuito de todos é que – com a passagem do canal – o semiárido e o sertão dei-xem um dia de ser o desesperador cenário retratado por Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz.

“A FAPEAL está sen-do fundamental para a

realização de pesquisas que irão definir quais as culturas mais apropria-das e como deverão ser

manejadas para que a irrigação, sem orienta-ção técnica, não torne as áreas improdutivas

num futuro próximo. A maior parte dos solos

do Canal do Sertão, nos seus primeiros 65 km,

não é a mais apropriada para a irrigação. Porém,

com pesquisas como essas que a FAPEAL

vem apoiando ficamos esperançosos de que o

canal será de muita im-portância para a região não somente para abas-tecimento da população como também para uso

na agropecuária” - Dr. João Gomes da Costa, pesquisador da Embrapa.

Trecho concluído do Canal de Sertão, em Delmiro Gouveia

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CANAL DO SERTÃO CANAL DO SERTÃO

TODOS DE OLHO NO CANALQuando questionada sobre

as possibilidades de o Canal do Sertão mudar nossa realidade para melhor, a Dra. Edna Peixoto da Ro-cha Amorim, pro-fessora da Uni-versidade Federal de Alagoas e as-sessora científica da FAPEAL, não faz rodeios: “Sim, se houver um tra-balho de extensão junto às unidades de pesquisa. Um dos projetos liga-dos ao canal pre-vê, por exemplo, o uso das ener-gias, dos recur-sos renováveis, para melhorar um sistema de irriga-ção que não seria possível diante de nossa falta de água e problemas de distribuição de eletricidade. En-tão esse projeto é de suma impor-tância. Também contemplamos o uso do solo para saber o melhor tipo de preparo do solo, de la-vouras a serem empregadas; e, por fim, o uso do sistema integrado lavoura-pecuária, que é um sistema que entra com a parte ecológica e que pode ser ex-

pandido se tiver acompanhamento de um processo de extensão que chegue junto do produtor rural. Se assim for, certamente ele trará pos-

sibilidades de um melhor cultivo, melhor produção e desenvolvimento social para a re-gião”.

O Dr. João Gomes da Costa, pesquisador da Embrapa, auxilia-do por oito bolsis-tas e em associação com a EMATER, a Secretaria Estadu-al de Agricultura, a UFAL e o IFAL, está à frente de um projeto que visa identificar plantas que se adaptem bem ao tipo de solo da área pela qual passa e pas-sará o canal. Essas plantas serão culti-vadas em conjunto e poderão servir para a alimentação tanto animal como humana.

O prin-cipal objetivo da pesquisa é reco-mendar cultivos que sejam sus-tentáveis ao lon-go dos anos sem prejudicar o meio

ambiente. “A FAPEAL está sendo fundamental para a realização de

pesquisas que irão definir quais as culturas mais apropriadas e como deverão ser manejadas para que a irrigação, sem orientação técnica, não torne as áreas improdutivas num futuro próximo. A maior parte dos solos do Canal do Sertão, nos seus primeiros 65 km, não é a mais apropriada para a irrigação. Porém, com pesquisas como essas que a FAPEAL vem apoiando ficamos esperançosos de que o canal será de muita importância para a região não somente para abastecimento da população como também para uso na agropecuária”.

A fala do Dr. João é corro-borada por seu colega pesquisador Stoécio Malta Ferreira Maia, dou-tor em Agronomia e professor do Instituto Federal de Alagoas (IFAL) e coordenador de outro projeto li-gado ao canal do sertão. Seu grupo

também é constituído de doutores da UFAL, da Embrapa e do IFAL, cientistas que contam com uma equipe que – antes com 11 bolsistas – hoje é composta por 7. “A ideiaé gerar uma série de indicadores li-gados ao solo, pensando nas áreascom melhor potencial para irriga-ção e identificar os tipos predomi-nantes para avaliar os efeitos dossistemas de uso e seus impactos.Enfim, almejamos verificar comoestá o solo hoje e como poderá estarno futuro”. Os esforços da equipedo Dr. Stoécio também avaliam osefeitos do aquecimento global, emconsonância com os nossos tempos,em que qualquer pesquisa do tipoleva em conta a questão ecológica.“Ora, Alagoas é o único estado queé cortado pelo São Francisco e quenão tem perímetro irrigado. Na re-gião de Petrolina, em Pernambuco,

por exemplo, os solos são melhores que os daqui, apesar de mesmo as-sim a necessidade de cuidados não ser descartada. Irrigação é bom, mas tem de ser feita com cuidado, pois nem todos os tipos de solo são tão receptivos. Pelos mapeamen-tos que temos, identificamos que – considerando os tipos de solo –se o poder público não investir empesquisa, pode haver salinização,degradação, erosão etc”.

Enfim, moradores do semi-árido, estudantes, cientistas e ges-tores públicos: todos parecem estar mobilizados em torno de um canal que apresenta muitas perspectivas e promessas de dias melhores para uma região tão sofrida. Obviamen-te, apenas disponibilizar água não resolve o problema da seca. “Não é só construir o Canal do Sertão: o poder público tem de tomar a fren-

te, encaminhando, direcionando e oferecendo assistência técnica, para contornar possíveis efeitos da-nosos do uso amador da água pela população”, arremata o professor Stoécio, que acrescenta: “Com os editais, a FAPEAL tem papel fun-damental na indução dessas inicia-tivas. Mas, pensemos em pesquisas que tenham aplicação prática e não apenas enriqueçam os currículos dos pesquisadores. Além disso, os tomadores de decisão têm de utili-zar os resultados dessas pesquisas, senão a obra fica sendo subutiliza-da”. Ao fim e ao cabo, o intuito de todos é que – com a passagem do canal – o semiárido e o sertão dei-xem um dia de ser o desesperador cenário retratado por Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz.

“A FAPEAL está sen-do fundamental para a

realização de pesquisas que irão definir quais as culturas mais apropria-das e como deverão ser

manejadas para que a irrigação, sem orienta-ção técnica, não torne as áreas improdutivas

num futuro próximo. A maior parte dos solos

do Canal do Sertão, nos seus primeiros 65 km,

não é a mais apropriada para a irrigação. Porém,

com pesquisas como essas que a FAPEAL

vem apoiando ficamos esperançosos de que o

canal será de muita im-portância para a região não somente para abas-tecimento da população como também para uso

na agropecuária” - Dr. João Gomes da Costa, pesquisador da Embrapa.

Trecho concluído do Canal de Sertão, em Delmiro Gouveia

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TECNOLOGIA E INCLUSÃO SOCIAL TECNOLOGIA E INCLUSÃO SOCIAL

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ção

Hugo, nosso amigo tradutorA jovem empresa alagoana Hand Talk ganha fama internacional com seu formidável aplicativo que traduz o português para Libras

por FABIANO MELO QUIRINO arte HYLLANE SALGUEIRO

Comunicar é uma necessidade hu-mana básica. Na verdade, é impos-sível não comunicar. Precisamos expressar o que sentimos, pensa-

mos. Isso nos é vital. Tudo ao nosso redor remete à comunicação. E quando algo dificul-ta a satisfação dessa necessidade, criamos soluções para que o “fluxo” continue. Nada pode impossibili-tar nossa “fome” de se expressar. A distância, por exemplo, foi primei-ramente vencida pelo milenar cor-reio, depois pelo telégrafo, daí veio o telefone, depois o rádio, acompa-nhado pela televisão. E agora – na apoteótica era digital – pela onipresente in-ternet. Como os 5 sentidos são nossos meios utilizados no relacionamento com o mundo, como sobreviver quando nos falta algum de-les, como a audição, por exemplo? Dessa ne-

cessidade, nasceu uma língua específica para quem é surdo. A Língua Brasileira de Sinais (Libras), uma das duas línguas oficiais do Brasil, é um belíssimo idioma utilizado por pes-soas surdas e por um número cada vez maior de pessoas in-teressadas nessa fascinante forma de falar.

Ora, tudo hoje é perpassado pela tecnologia e com as línguas não seria diferente. Diversas empresas investem em aplicativos norteados por essa demanda. Pois é, a Libras também ganhou roupagens high-tech. Talvez a mais famosa delas seja Hugo, o simpático personagem da Hand Talk que traduz conteúdos de texto e voz para Libras. Como dito an-tes, a popularmente conhecida “língua dos surdos” é riquís-sima, mas o famoso aplicativo serviria, por exemplo, para o jornalista que escreve este texto, por enquanto um comple-to analfabeto em Libras. Indo além, a Hand Talk facilita e acelera a inclusão das pessoas surdas na dita “sociedade da informação”. E, por isso, a start-up alagoana teve seu apli-cativo premiado pela ONU, que o elegeu o melhor na cate-goria inclusão social, honraria recebida pelos idealizadores da empresa em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, em 2014. Desde sua criação, em meados de 2012, a empresa já havia sido premiada Brasil afora. Uma simples busca no Google já nos dá uma pequena noção da repercussão da Hand Talk, empresa desenvolvida a partir de um trabalho de graduação que por um tempo ficou engavetado, como contou um de seus fundadores.

A razão de tamanha notoriedade é o sucesso do “car-ro-chefe” da Hand Talk, seu aplicativo de mesmo nome re-

fotos Cortesia Hand Talk

“Acho uma excelente ferramenta de tradução/interpretação. Produtos com a qualidade do Hand Talk contribuem na difusão da Libras, e promovem a possibilidade de estreitamento dos dois ‘mundos’, dos surdos e dos ouvintes” Danielly Caldas de Oliveira, professora e intérpre-te de Libras do Instituto Federal de Alagoas (IFAL)

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TECNOLOGIA E INCLUSÃO SOCIAL TECNOLOGIA E INCLUSÃO SOCIAL

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Hugo, nosso amigo tradutorA jovem empresa alagoana Hand Talk ganha fama internacional com seu formidável aplicativo que traduz o português para Libras

por FABIANO MELO QUIRINO arte HYLLANE SALGUEIRO

Comunicar é uma necessidade hu-mana básica. Na verdade, é impos-sível não comunicar. Precisamos expressar o que sentimos, pensa-

mos. Isso nos é vital. Tudo ao nosso redor remete à comunicação. E quando algo dificul-ta a satisfação dessa necessidade, criamos soluções para que o “fluxo” continue. Nada pode impossibili-tar nossa “fome” de se expressar. A distância, por exemplo, foi primei-ramente vencida pelo milenar cor-reio, depois pelo telégrafo, daí veio o telefone, depois o rádio, acompa-nhado pela televisão. E agora – na apoteótica era digital – pela onipresente in-ternet. Como os 5 sentidos são nossos meios utilizados no relacionamento com o mundo, como sobreviver quando nos falta algum de-les, como a audição, por exemplo? Dessa ne-

cessidade, nasceu uma língua específica para quem é surdo. A Língua Brasileira de Sinais (Libras), uma das duas línguas oficiais do Brasil, é um belíssimo idioma utilizado por pes-soas surdas e por um número cada vez maior de pessoas in-teressadas nessa fascinante forma de falar. Ora, tudo hoje é perpassado pela tecnologia e com as línguas não seria diferente. Diversas empresas investem em aplicativos norteados por essa demanda. Pois é, a Libras também ganhou roupagens high-tech. Talvez a mais famosa delas seja Hugo, o simpático personagem da Hand Talk que traduz conteúdos de texto e voz para Libras. Como dito an-tes, a popularmente conhecida “língua dos surdos” é riquís-sima, mas o famoso aplicativo serviria, por exemplo, para o jornalista que escreve este texto, por enquanto um comple-to analfabeto em Libras. Indo além, a Hand Talk facilita e acelera a inclusão das pessoas surdas na dita “sociedade da informação”. E, por isso, a start-up alagoana teve seu apli-cativo premiado pela ONU, que o elegeu o melhor na cate-goria inclusão social, honraria recebida pelos idealizadores da empresa em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, em 2014. Desde sua criação, em meados de 2012, a empresa já havia sido premiada Brasil afora. Uma simples busca no Google já nos dá uma pequena noção da repercussão da Hand Talk, empresa desenvolvida a partir de um trabalho de graduação que por um tempo ficou engavetado, como contou um de seus fundadores. A razão de tamanha notoriedade é o sucesso do “car-ro-chefe” da Hand Talk, seu aplicativo de mesmo nome re-

fotos Cortesia Hand Talk

“Acho uma excelente ferramenta de tradução/interpretação. Produtos com a qualidade do Hand Talk contribuem na difusão da Libras, e promovem a possibilidade de estreitamento dos dois ‘mundos’, dos surdos e dos ouvintes” Danielly Caldas de Oliveira, professora e intérpre-te de Libras do Instituto Federal de Alagoas (IFAL)

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4 5FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

presentado pelo magro rapazinho de mãos gran-des, o Hugo. De acordo com Ronaldo Tenório, um dos criadores e sócios da empresa, o perso-nagem foi criado “com mãos e rosto grandes e a sobrancelha em destaque para que a mensagem fique mais clara. A diferença entre uma pergunta e uma afirmação está na expressão facial”. Tha-deu Luz, outro criador e sócio da empresa, ex-plica entusiasmado: “A partir da tecnologia 3D, concluímos que o Hugo deveria ser magro, com a cabeça grande e os dedos finos para facilitar sua gesticulação”. Nosso amigo tradutor é capaz de verter cerca de 200 mil palavras do português para Libras e a cada dia mais e mais termos, su-geridos pelos usuários, são acrescentados ao seu vocabulário. Muitos estudos e pesquisas foram feitos para garantir que o personagem fosse atra-tivo e que o aplicativo fosse mais que um simples dicionário ou tradutor. Thadeu explica: “Através de uma biblioteca de animação, programada por um conjunto de mais de 300 palavras, o Hand Talk converte dados de texto, som e imagem que são traduzidas em Libras pelo Hugo”.

“Acho uma excelente ferramenta de tra-dução/interpretação”, afirma a professora do IFAL e intérprete de Libras Danielly Caldas de Oliveira. “Produtos com a qualidade do Hand Talk contribuem na difusão da Libras, e promo-vem a possibilidade de estreitamento dos dois “mundos”, dos surdos e dos ouvintes”, acres-centa a especialista em Psicopedagogia, com experiência de dez anos em Língua Brasileira de Sinais, arrematando: “Costumo lembrar aos meus alunos na disciplina Libras, por exemplo, que o aplicativo é uma excelente ferramenta, mas que – assim como outras da mesma natureza

Parceria com a FAPEALO primeiro produto da Hand Talk, o aplicativo de mesmo nome

que tem o Hugo como tradutor, foi lançado como gratuito e continua sen-do, podendo ser baixado para uso em celulares e aparelhos semelhantes que comportem a tecnologia. Consta que, desde seu lançamento, já foram realizados mais de 350 mil downloads (www.handtalk.me/download). Mas o portfólio da empresa conta com outros sofisticadíssimos itens, todos aten-dendo à demanda de tradução português/Libras. A Hand Talk oferece tradu-tor de sites, totens de autoatendimento ao surdo e conteúdos em Libras paraTVs indoor. Como é natural, esses jovens empreendedores anseiam ampliarainda mais o sucesso da empresa, tendo como alvo serem referência nomercado de tradução simultânea e em tempo real de áudio, texto e imagenspara pessoas surdas. Almejam, inclusive, que uma tecla HT (de Hand Talk)esteja disponível nas próximas gerações de televisores, tal e qual a hojeexistente CC (de Closed Caption, expressão em inglês para “legenda ocul-ta”). E nessa fase de expansão, por assim dizer, a Hand Talk tem a FAPEALcomo parceira, através do Tecnova. O objetivo, segundo informa ThadeuLuz, “é o aperfeiçoamento da plataforma de traduções automáticas aplicadaem websites para conversão da língua oral/escrita para Líbras. Com esseprojeto, toda a plataforma da Hand Talk terá uma evolução significativana qualidade das traduções realizadas, o que permite que qualquer site sejatraduzido automaticamente para Libras de forma precisa e clara”.

A origem do conceito de start-ups é norte-americano. Significa empresas pequenas, recém-criadas e com

atividades na área de pesquisa e desenvolvimento, com baixo custo de manutenção e possibilidade de geração rápida de lucros, caso da alagoana. As start-ups de base

tecnológica, como a Hand Talk, são as mais comuns, com modelos de negócios inovadores. Fonte: Revista

Caros Amigos Especial - O Brasil da inovação.

O Tecnova é uma iniciativa da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia) programa que tem como objetivo criar condições financeiras favoráveis e apoiar a inovação - por meio de recursos de subvenção econômica - para o crescimento rápido de um conjunto significativo deempresas de micro e pequeno porte, com foco noapoio à inovação tecnológica e com o suporte aos

parceiros estaduais. A meta global é que cerca de 800 empresas sejam apoiadas em todo o território nacional. Em Alagoas, 13 foram contempladas. No nosso estado,

o programa é capitaneado pela FAPEAL em parceriacom a Secretaria de Estado da Ciência, da Tecnologia e

da Inovação (Secti), a Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (FIEA) e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL). Fonte:

Finep – Para mais informações, acesse www.fapeal.br

Start-up

Tecnova

SAIBA+As start-ups são um tipo de empresa que ganhou fama a partir da década de 80, com o sucesso de profissionais norte-americanoscujas iniciativas criativas transformaram-seem grandes negócios. Entre os exemplos estãonada mais nada menos que o Google e a Apple.Além dos fundos de investimentos, as start--ups brasileiras podem tentar o crescimento pormeio da participação em incubadoras, agênciasde fomentos (como a FAPEAL, por meio deseu programa Tecnova), grupos de investidoresde risco e os chamados “investidores anjos”.Também com origem nos Estados Unidos, o“investidor anjo” aposta em empresas nas-centes, em geral próxima de onde mora e temparticipação minoritária no negócio. Além dodinheiro, apoia o empreendedor iniciante comsua experiência e conhecimento. A Hand Talkiniciou suas atividades tendo em parte esse tipode financiamento. Fonte: Revista Caros AmigosEspecial - O Brasil da inovação.

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“A partir da tecnologia 3D, concluímos que o

Hugo deveria ser magro, com a cabeça grande e

os dedos finos para facili-tar sua gesticulação”

Thadeu Luz

– apresenta algumas limitações por lidar com lín-guas vivas. No entanto, procuro ressaltar que esteaspecto não retira em nada o brilho e função desseaplicativo”.

Mas os jovens empreendedores da Hand Talk estão mais do que atentos à ressalva da profes-sora. “Diariamente buscamos encontrar as melho-res soluções; fazemos muitos testes com a comu-nidade surda e recebemos muitos feedbacks para aperfeiçoar cada dia mais nossos serviços”, escla-rece Carlos Wanderlan, um dos três fundadores da empresa e seu diretor técnico.

“Através do apoio da FAPEAL, é possível reestru-turar nossa plataforma de tradução. Melhorare-mos exponencialmente a qualidade das traduções automáticas realizadas para Libras em páginas de internet. Será um passo fundamental no aprimo-ramento do sistema, o que nos torna preparados para escalar nacionalmente e avançar rumo à nossa internacionalização”Ronaldo TenórioExecutivo-chefe da Hand Talk

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Carlos Wanderlan, Thadeu Luz e Ronaldo Tenório - os

três fundadores da HandTalk - na entrega do prêmio da

ONU em Abu Dhabi

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presentado pelo magro rapazinho de mãos gran-des, o Hugo. De acordo com Ronaldo Tenório, um dos criadores e sócios da empresa, o perso-nagem foi criado “com mãos e rosto grandes e a sobrancelha em destaque para que a mensagem fique mais clara. A diferença entre uma pergunta e uma afirmação está na expressão facial”. Tha-deu Luz, outro criador e sócio da empresa, ex-plica entusiasmado: “A partir da tecnologia 3D, concluímos que o Hugo deveria ser magro, com a cabeça grande e os dedos finos para facilitar sua gesticulação”. Nosso amigo tradutor é capaz de verter cerca de 200 mil palavras do português para Libras e a cada dia mais e mais termos, su-geridos pelos usuários, são acrescentados ao seu vocabulário. Muitos estudos e pesquisas foram feitos para garantir que o personagem fosse atra-tivo e que o aplicativo fosse mais que um simples dicionário ou tradutor. Thadeu explica: “Através de uma biblioteca de animação, programada por um conjunto de mais de 300 palavras, o Hand Talk converte dados de texto, som e imagem que são traduzidas em Libras pelo Hugo”.

“Acho uma excelente ferramenta de tra-dução/interpretação”, afirma a professora do IFAL e intérprete de Libras Danielly Caldas de Oliveira. “Produtos com a qualidade do Hand Talk contribuem na difusão da Libras, e promo-vem a possibilidade de estreitamento dos dois “mundos”, dos surdos e dos ouvintes”, acres-centa a especialista em Psicopedagogia, com experiência de dez anos em Língua Brasileira de Sinais, arrematando: “Costumo lembrar aos meus alunos na disciplina Libras, por exemplo, que o aplicativo é uma excelente ferramenta, mas que – assim como outras da mesma natureza

Parceria com a FAPEALO primeiro produto da Hand Talk, o aplicativo de mesmo nome

que tem o Hugo como tradutor, foi lançado como gratuito e continua sen-do, podendo ser baixado para uso em celulares e aparelhos semelhantes que comportem a tecnologia. Consta que, desde seu lançamento, já foram realizados mais de 350 mil downloads (www.handtalk.me/download). Mas o portfólio da empresa conta com outros sofisticadíssimos itens, todos aten-dendo à demanda de tradução português/Libras. A Hand Talk oferece tradu-tor de sites, totens de autoatendimento ao surdo e conteúdos em Libras paraTVs indoor. Como é natural, esses jovens empreendedores anseiam ampliarainda mais o sucesso da empresa, tendo como alvo serem referência nomercado de tradução simultânea e em tempo real de áudio, texto e imagenspara pessoas surdas. Almejam, inclusive, que uma tecla HT (de Hand Talk)esteja disponível nas próximas gerações de televisores, tal e qual a hojeexistente CC (de Closed Caption, expressão em inglês para “legenda ocul-ta”). E nessa fase de expansão, por assim dizer, a Hand Talk tem a FAPEALcomo parceira, através do Tecnova. O objetivo, segundo informa ThadeuLuz, “é o aperfeiçoamento da plataforma de traduções automáticas aplicadaem websites para conversão da língua oral/escrita para Líbras. Com esseprojeto, toda a plataforma da Hand Talk terá uma evolução significativana qualidade das traduções realizadas, o que permite que qualquer site sejatraduzido automaticamente para Libras de forma precisa e clara”.

A origem do conceito de start-ups é norte-americano. Significa empresas pequenas, recém-criadas e com

atividades na área de pesquisa e desenvolvimento, com baixo custo de manutenção e possibilidade de geração rápida de lucros, caso da alagoana. As start-ups de base

tecnológica, como a Hand Talk, são as mais comuns, com modelos de negócios inovadores. Fonte: Revista

Caros Amigos Especial - O Brasil da inovação.

O Tecnova é uma iniciativa da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos, ligada ao Ministérios da Ciência e Tecnologia) programa que tem como objetivo criar

condições financeiras favoráveis e apoiar a inovação - por meio de recursos de subvenção econômica - para o crescimento rápido de um conjunto significativo deempresas de micro e pequeno porte, com foco noapoio à inovação tecnológica e com o suporte aos

parceiros estaduais. A meta global é que cerca de 800 empresas sejam apoiadas em todo o território nacional. Em Alagoas, 13 foram contempladas. No nosso estado,

o programa é capitaneado pela FAPEAL em parceriacom a Secretaria de Estado da Ciência, da Tecnologia e

da Inovação (Secti), a Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (FIEA) e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL). Fonte:

Finep – Para mais informações, acesse www.fapeal.br

Start-up

Tecnova

SAIBA+As start-ups são um tipo de empresa que ganhou fama a partir da década de 80, com o sucesso de profissionais norte-americanoscujas iniciativas criativas transformaram-seem grandes negócios. Entre os exemplos estãonada mais nada menos que o Google e a Apple.Além dos fundos de investimentos, as start--ups brasileiras podem tentar o crescimento pormeio da participação em incubadoras, agênciasde fomentos (como a FAPEAL, por meio deseu programa Tecnova), grupos de investidoresde risco e os chamados “investidores anjos”.Também com origem nos Estados Unidos, o“investidor anjo” aposta em empresas nas-centes, em geral próxima de onde mora e temparticipação minoritária no negócio. Além dodinheiro, apoia o empreendedor iniciante comsua experiência e conhecimento. A Hand Talkiniciou suas atividades tendo em parte esse tipode financiamento. Fonte: Revista Caros AmigosEspecial - O Brasil da inovação.

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“A partir da tecnologia 3D, concluímos que o

Hugo deveria ser magro, com a cabeça grande e

os dedos finos para facili-tar sua gesticulação”

Thadeu Luz

– apresenta algumas limitações por lidar com lín-guas vivas. No entanto, procuro ressaltar que esteaspecto não retira em nada o brilho e função dessedo aplicativo”.

Mas os jovens empreendedores da Hand Talk estão mais do que atentos à ressalva da profes-sora. “Diariamente buscamos encontrar as melho-res soluções; fazemos muitos testes com a comu-nidade surda e recebemos muitos feedbacks para aperfeiçoar cada dia mais nossos serviços”, escla-rece Carlos Wanderlan, um dos três fundadores da empresa e seu diretor técnico.

“Através do apoio da FAPEAL, é possível reestru-turar nossa plataforma de tradução. Melhorare-mos exponencialmente a qualidade das traduções automáticas realizadas para Libras em páginas de internet. Será um passo fundamental no aprimo-ramento do sistema, o que nos torna preparados para escalar nacionalmente e avançar rumo à nossa internacionalização”Ronaldo TenórioExecutivo-chefe da Hand Talk

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Carlos Wanderlan, Thadeu Luz e Ronaldo Tenório - os

três fundadores da HandTalk - na entrega do prêmio da

ONU em Abu Dhabi

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2 3FAPEAL EM REVISTA FAPEAL EM REVISTA

SAÚDE MENTAL

“Transtorno mental pode acontecer com qualquer um”Pesquisadora lança livro que resgata a história da reforma psiquiátrica alagoana e propõe um “novo cuidado” em Saúde Mental

arte HYLLANE SALGUEIROpor FABIANO MELO QUIRINO

Na capa e na contracapa do livro – adaptado de sua tese de doutorado – a professora faz

uma metáfora poética para representar os meandros da pesquisa. “O filé utiliza novas

linhas, novas cores dentro de um tear fixo, que vai cruzando desenhos diferen-

tes, e é isso que a Saúde Mental utiliza também: um novo olhar, a variedade

de pessoas e de ações que formam uma rede forte de cuidados”.

A professora da Universidade Esta-dual de Ciências da Saúde de Ala-goas (UNCISAL) Mara Cristina tornou-se recentemente doutora

pela Universidade de São Paulo com a tese A saúde mental em Alagoas: trajetória da cons-trução de um novo cuidado, agora publicado em livro por recomendação da USP. “O estu-do tratou do cuidado recebido pelos usuários dos serviços de saúde mental e a complexida-de envolvida nesse cuidado que hoje, devido ao movimento da reforma psiquiátrica, tam-bém é prestado fora dos hospitais psiquiátri-cos”. Não seria ilícito lembrar aqui o famoso neurocientista inglês Francis Crick – a quem é creditada a explicação da estrutura do DNA– que afirmou certa vez: “Apesar do contínuoacúmulo de conhecimento pormenorizado, ofuncionamento do cérebro humano ainda éprofundamente misterioso”. Esse maravilho-

so centro de nossas emoções e personalidade, entretanto,é tão complexo quanto sensí-vel, e pode apresentar avarias as mais diversas, desencade-ando inúmeros problemas, sendo os transtornos mentais os mais comuns. Segundo a Dra. Mara, “tais distúrbios podem acontecer com qual-quer um, devido a razões mul-tifatoriais, desde genéticos a socioafetivos”. Haja vista a quantidade de trabalhos so-bre o tema, essa paulistana da

Zona Norte, há dez anos em Alagoas, gradua-da em Terapia Ocupacional e Mestra em En-fermagem Psiquiátrica pela mesma universi-dade onde fez o doutorado, esclarece: “Por que meu trabalho é inédito? Por que ninguém havia escrito ainda sobre a história da refor-ma psiquiátrica alagoana, de como aconteceu esse movimento. Não existia nada escrito, descrito. Temos alguns relatórios de pesqui-sa, mas muito segmentados. Eu reúno vários depoimentos de pessoas que vivenciaram esse movimento, mas a tese não é resultado só de entrevistas, também é de levantamento histórico, incluindo depoimentos, livros, re-latórios...Enfim, tudo o que se escreveu com relação à mudança de tratamento, do cuidado

O filé é uma técnica artesanal típica de Alagoas, considerado um dos 134 símbolos representativos da cultura do estado. Reconhecido em 2014 como patrimônio cultural, esse tipo de bordado é a princi-pal fonte de renda de várias comunidades alagoanas, como Pontal da Barra e Marechal Deodoro. (Fonte: Secretaria de Estado do Planejamento e do Desenvolvimento Econômico - SEPLANDE)

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SAÚDE MENTAL

“Transtorno mental pode acontecer com qualquer um”Pesquisadora lança livro que resgata a história da reforma psiquiátrica alagoana e propõe um “novo cuidado” em Saúde Mental

arte HYLLANE SALGUEIROpor FABIANO MELO QUIRINO

Na capa e na contracapa do livro – adaptado de sua tese de doutorado – a professora faz

uma metáfora poética para representar os meandros da pesquisa. “O filé utiliza novas

linhas, novas cores dentro de um tear fixo, que vai cruzando desenhos diferen-

tes, e é isso que a Saúde Mental utiliza também: um novo olhar, a variedade

de pessoas e de ações que formam uma rede forte de cuidados”.

A professora da Universidade Esta-dual de Ciências da Saúde de Ala-goas (UNCISAL) Mara Cristina tornou-se recentemente doutora

pela Universidade de São Paulo com a tese A saúde mental em Alagoas: trajetória da cons-trução de um novo cuidado, agora publicado em livro por recomendação da USP. “O estu-do tratou do cuidado recebido pelos usuários dos serviços de saúde mental e a complexida-de envolvida nesse cuidado que hoje, devido ao movimento da reforma psiquiátrica, tam-bém é prestado fora dos hospitais psiquiátri-cos”. Não seria ilícito lembrar aqui o famoso neurocientista inglês Francis Crick – a quem é creditada a explicação da estrutura do DNA – que afirmou certa vez: “Apesar do contínuoacúmulo de conhecimento pormenorizado, ofuncionamento do cérebro humano ainda éprofundamente misterioso”. Esse maravilho-

so centro de nossas emoções e personalidade, entretanto, é tão complexo quanto sensí-vel, e pode apresentar avarias as mais diversas, desencade-ando inúmeros problemas, sendo os transtornos mentais os mais comuns. Segundo a Dra. Mara, “tais distúrbios podem acontecer com qual-quer um, devido a razões mul-tifatoriais, desde genéticos a socioafetivos”. Haja vista a quantidade de trabalhos so-bre o tema, essa paulistana da

Zona Norte, há dez anos em Alagoas, gradua-da em Terapia Ocupacional e Mestra em En-fermagem Psiquiátrica pela mesma universi-dade onde fez o doutorado, esclarece: “Por que meu trabalho é inédito? Porque ninguém havia escrito ainda sobre a história da refor-ma psiquiátrica alagoana, de como aconteceu esse movimento. Não existia nada escrito, descrito. Temos alguns relatórios de pesqui-sa, mas muito segmentados. Eu reúno vários depoimentos de pessoas que vivenciaram esse movimento, mas a tese não é resultado só de entrevistas, também é de levantamento histórico, incluindo depoimentos, livros, re-latórios...Enfim, tudo o que se escreveu com relação à mudança de tratamento, do cuidado

O filé é uma técnica artesanal típica de Alagoas, considerado um dos 134 símbolos representativos da cultura do estado. Reconhecido em 2014 como patrimônio cultural, esse tipo de bordado é a princi-pal fonte de renda de várias comunidades alagoanas, como Pontal da Barra e Marechal Deodoro. (Fonte: Secretaria de Estado do Planejamento e do Desenvolvimento Econômico - SEPLANDE)

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SAÚDE MENTAL

do doente mental: na tese, eu monto essa trajetória!”. Mara entrevistou gestores, trabalhadores, professo-res universitários, usuários dos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e seus familiares, buscando fazer uma avaliação de como tais pessoas viam esse novo cuidado. “Constatei que a assistência recebi-da nos CAPS é incomparavelmente melhor que a oferecida nos hospitais psiquiátricos, que – mesmo oferecendo um tratamento medicamentoso adequado – mantêm os pacientes “presos” num lugar onde não há liberdade, não têm roupas próprias, não têm con-vívio com a família ou com sociedade. O indivíduo é “arrancado” da própria vida e passa meses e até anos morando no hospital. Com esse novo cuidado, não é assim! Ele recebe toda a assistência: terapias, grupos, oficinas, profissionalização e está com a família, está com a comunidade. Enfim, é outro cuidado porque, para além da doença, considera o direito à cidada-nia dessas pessoas!”. Ainda no início do doutorado, ela não se limitou a Alagoas em busca de respostas: em 2009 visitou a Universidade de Turim, na Itália, país que, segundo ela, inspirou a reforma psiquiátri-

ca brasileira. O recém-publicado livro da professora – educada integralmente em escola pública, como faz questão de frisar – registra a passagem de um único e antigo modelo de tratamento psiquiátrico para uma nova proposta de cuidado, uma transição que explica as rupturas, as questões e os desafios apresentados em seu trabalho de doutoramento.

Segundo a própria autora, “a primei-ra motivação para a publicação do livro foi a recomendação da USP, na época de defesa do Doutorado, que avaliou que o estudo tinha potencial para ser publicado não só em artigos científicos mas também em formato de livro, por se tratar de tema de in-teresse científico, histórico e também público, em que vários dados obtidos em seus resultados ainda não tinham sido publicados e eram – e ainda são – de extremo interesse para o Estado de Alagoas”.

Vilm

a N

aysia

Xav

ier

A impressão do livro teve auxílio da FAPEAL e a distri-

buição da primeira tiragem foi totalmente gratuita. Solicitou-se à Secretaria de Estado da Saúde

a relação dos CAPS de todo o estado para que cada unidade

tivesse seu exemplar. Assim, a cada um dos 55 serviços

desse tipo foram enviados 03 exemplares, para utilização entre

funcionários e usuários. Foram também fornecidos exemplares às bibliotecas das universidades públicas do Estado e da Univer-

sidade de São Paulo.

Fabi

ano

Mel

o Q

uirin

o

Nosso negócio é inovação. Os resultados estão ao redor.

Max

Mille

r Ugá

Lun

a |

Fabi

ano

Mel

o Q

uirin

o |

Hyl

lane

Salg

ueiro

O Tecnova é um programa que apoia a inovação em empresas de micro e pequeno

porte. Afinal, além da possibilidade de novos negócios, o desenvolvimento

tecnológico gera também impactos sociais.

Saiba mais em

O Tecnova é um programa que apoia a inovação em empresas de micro e pequeno

porte. Afinal, além da possibilidade de novos negócios, o desenvolvimento

tecnológico gera também impactos sociais.

www.fapeal.br

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SAÚDE MENTAL

do doente mental: na tese, eu monto essa trajetória!”. Mara entrevistou gestores, trabalhadores, professo-res universitários, usuários dos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e seus familiares, buscando fazer uma avaliação de como tais pessoas viam esse novo cuidado. “Constatei que a assistência recebi-da nos CAPS é incomparavelmente melhor que a oferecida nos hospitais psiquiátricos, que – mesmo oferecendo um tratamento medicamentoso adequado – mantêm os pacientes “presos” num lugar onde não há liberdade, não têm roupas próprias, não têm con-vívio com a família ou com sociedade. O indivíduo é “arrancado” da própria vida e passa meses e até anos morando no hospital. Com esse novo cuidado, não é assim! Ele recebe toda a assistência: terapias, grupos, oficinas, profissionalização e está com a família, está com a comunidade. Enfim, é outro cuidado porque, para além da doença, considera o direito à cidada-nia dessas pessoas!”. Ainda no início do doutorado, ela não se limitou a Alagoas em busca de respostas: em 2009 visitou a Universidade de Turim, na Itália, país que, segundo ela, inspirou a reforma psiquiátri-

ca brasileira. O recém-publicado livro da professora – educada integralmente em escola pública, como faz questão de frisar – registra a passagem de um único e antigo modelo de tratamento psiquiátrico para uma nova proposta de cuidado, uma transição que explica as rupturas, as questões e os desafios apresentados em seu trabalho de doutoramento.

Segundo a própria autora, “a primei-ra motivação para a publicação do livro foi a recomendação da USP, na época de defesa do Doutorado, que avaliou que o estudo tinha potencial para ser publicado não só em artigos científicos mas também em formato de livro, por se tratar de tema de in-teresse científico, histórico e também público, em que vários dados obtidos em seus resultados ainda não tinham sido publicados e eram – e ainda são – de extremo interesse para o Estado de Alagoas”.

Vilm

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A impressão do livro teve auxílio da FAPEAL e a distri-

buição da primeira tiragem foi totalmente gratuita. Solicitou-se à Secretaria de Estado da Saúde

a relação dos CAPS de todo o estado para que cada unidade

tivesse seu exemplar. Assim, a cada um dos 55 serviços

desse tipo foram enviados 03 exemplares, para utilização entre

funcionários e usuários. Foram também fornecidos exemplares às bibliotecas das universidades públicas do Estado e da Univer-

sidade de São Paulo.

Fabi

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Nosso negócio é inovação. Os resultados estão ao redor.

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O Tecnova é um programa que apoia a inovação em empresas de micro e pequeno

porte. Afinal, além da possibilidade de novos negócios, o desenvolvimento

tecnológico gera também impactos sociais.

Saiba mais em

O Tecnova é um programa que apoia a inovação em empresas de micro e pequeno

porte. Afinal, além da possibilidade de novos negócios, o desenvolvimento

tecnológico gera também impactos sociais.

www.fapeal.br

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