fanzine literáriofanzine literário littera joão nery pestana conheci joão nery como aluno,...

12
Littera Fanzine Literário ANO I número 0 - Setembro - 2007

Upload: others

Post on 07-Jul-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Fanzine LiterárioFanzine Literário Littera João Nery Pestana Conheci João Nery como aluno, ouvidos atentos e olhos observadores. Quan-do resolve falar é preciso, ou melhor, é

Littera Fanzine Literário

ANO I número 0 - Setembro - 2007

Page 2: Fanzine LiterárioFanzine Literário Littera João Nery Pestana Conheci João Nery como aluno, ouvidos atentos e olhos observadores. Quan-do resolve falar é preciso, ou melhor, é

2 Li

tter

a

Fanzine Literário

A proposta de uma ofi-cina de criação lite-rária já é viável em

muitos lugares, no entanto, não entra com força nas uni-versidades. Desperta curiosi-dade, mas ao mesmo tempo, receios, incompreensões e preconceitos. Porém, conso-lidar um espaço de reflexão sobre o fazer literário é im-portante, pois possibilita a discussão de assuntos como a recepção literária; a criação e seu processo; o mercado edi-

torial, a linguagem, a literatu-ra de massa...Desse modo, o projeto, Littera - Fanzine Literário, tem como objetivo criar um meio de co-municação para agregar alu-nos que produzam textos li-terários e possam dividir essa experiência com outros. O re-sultado inicial dessa proposta é a edição zero do fanzine. Carlos Drummond de Andra-de escreveu no poema Nosso Tempo do livro A rosa do povo

que “Este é tempo de partido/ tem-po de homens partidos” e diante dessa fragmentação tendemos a ser abraçados pelo pessimis-mo que é acentuado pelo iso-lamento cultural. Contudo é na literatura que muitas vezes enxergamos uma forma de re-sistência. Hoje nasce, Littera - Fanzine Literário, uma forma de resistência pela palavra.

Eder Rodrigues Pereira

Littera - Fanzine Literárioa resistência pela palavra

Agradecimentos:

UNIBAN, Prof. Drº. Valdevino Soares de Oliveira, Profª. Drª. Márcia Regina Savioli, Profª. Drª. Roseana Ialongo, Profº. Drº. José Benedito Pinto (Bene), Profª. Neide Aparecida Silva, Profº. José Plínio Bertoloni, Profª. Simone Bizaco de Nóbrega, Profº. Cézar Vanzin e aos alunos do curso de Letras noturno do campus Rudge.

Comissão Editorial

Eder Rodrigues PereiraAna Alice Amorim

Cínthia MolinaDouglas SáppiaElaine RibeiroDaniela Souza

Esther MukaseyRoberta Domingues

Isaias CardosoJoão Nery Pestana

Contatos:

[email protected]@googlegroups.com

Page 3: Fanzine LiterárioFanzine Literário Littera João Nery Pestana Conheci João Nery como aluno, ouvidos atentos e olhos observadores. Quan-do resolve falar é preciso, ou melhor, é

Littera 3

Fanzine Literário

O Auto do embarque para o vôo 666, peça teatral escrita por Alziro Pie-

trângelo, Cléber Gimenes e Ivan Costa, conta com um humor sim-ples e com uma boa dose de sar-casmo e críticas sociais. Trata-se de uma adaptação do Auto da bar-ca do inferno de Gil Vicente.

Algumas estruturas da obra vi-centina estão presentes, mas fo-ram criados novos personagens, diálogos e até mesmo cenário. No lugar de barcas foram usados avi-ões, que têm como partida o “Ae-roporto da Espera Eterna” onde os passageiros chegam um a um sem saberem ao certo o destino do vôo.

As personagens alegóricas, como o Diabo e o Anjo, foram manti-das e há um pouco mais de espa-ço para o Companheiro do Diabo que ganha um tom mais engraça-do. Algumas outras são facilmente associadas com as de Gil Vicente, como, por exemplo, um banquei-

ro para substituir o onzeneiro; um empresário no lugar do fidal-go ou um pastor em substituição ao frade. Atendo-se a esse ponto, vale destacar o vendedor (substi-tuto do sapateiro) que apresenta uma fala bem típica à categoria da qual participa.

O Diabo, figura principal da obra, merece evidentemente ser lembra-do aqui, pois apresenta caracterís-ticas como a ironia e o sarcasmo, mas surpreende em algumas pas-sagens, quando demonstra uma certa futilidade e insegurança, isso tudo acaba deixando-o mais engraçado.

Algumas outras idéias são muito interessantes, colocar um torce-dor argentino no lugar do judeu é uma dessas. Outras surpresas aparecem ao longo da história, como a opção escolhida para re-presentar os quatros cavaleiros ou o substituto do parvo. O Auto do embarque para o vôo 666 é

uma peça teatral de caráter popu-lar que cumpre com êxito as pre-tensões dos autores, garantindo assim boas risadas devido as pia-das inseridas nos diálogos. Quem tiver a oportunidade deve assistir a encenação ou então ler o texto.

Por: Pigico Lonestava.

Encenação: 25.09.2007 Horário: a partir das 22h

Organização:

Jornada de Letras Rudge

Noturno

O Auto do embarque para ro para substituir o onzeneiro; uma peça teatral de caráter popu-

O Auto do embarque para o vôo 666

Page 4: Fanzine LiterárioFanzine Literário Littera João Nery Pestana Conheci João Nery como aluno, ouvidos atentos e olhos observadores. Quan-do resolve falar é preciso, ou melhor, é

Fanzine Literário

� Li

tter

aChegança

Boa noite para todosPrestem muita atençãoNeste momento o cordelAlegria no coraçãoUso algumas palavrasFalo com admiração

Não sou eu pretensiosoDe ensinar algo alguémFalo de literaturaQue não encontra alémDa compreensão de todosAqui presentes também

Há pouco tempo apenasTive primeiro contatoCom a obra literáriaNo Brasil firmou retratoDessa grande riquezaFoi amor de imediato

Estes primeiros momentosLendo o primeiro cordelEssa história escritaNuma folha de papelPor instantes sentiComo estando no céu

Viajei com os poetasPatativa, Barros LeandroJoão Martins de AthaydeUgolino e irmão NicandroOutros famosos poetasPassaram a vida brincando

Agora paixão primeiraSenti um contentamentoConhecendo gente boaDe alto discernimentoAutores deste BrasilDo cordel o instrumento

Eles não perderam tempoDe viver a alegriaEstudar estes mestresNossa obrigação seriaQuero então finalizarCom uma certa maestria

Informo agora a vocêsSou um tanto apressadoAssim não corro o riscoInfeliz de ser vaiadoApelo a todos aquiSuas palmas ao soldado

Isaias [email protected]

Experiência

Conheci o amor Bem devagarQuando pude sorrirTive que chorarNo coração,Um sentimento carnal,Arde no peitoComo fere um punhalUm vazio preencheA AlmaA procura dessa dorPara dar calmaO tempo já não interessa,O sofrimento traráO amor na hora certa

Vanessa Araújo

Martírio

A cruz carregada,É a fé do cristãoO perdão dos pecadosUma triste ilusão

O caos tomou contaE a fé se escondeuNão há piedadeNeste mundo de Deus

O homem destróiO mundo, a esperança,A cruz que carregaÉ a sua própria herança

Vanessa Araújo

Retórica poética aos cegos de Platão

Enredo minhas raízespela essência da terra.Sou semente em gestação,fruto feito em fatos,intuito, intacto,floresço e fluo por águas,que lavam e levamo reflexo; e reflitosobre as sombrasque passam pela ponteda realidade, masminha voz é rouca,meu slogande um guerreiromudo e só.

A luz cega os cegosque não sentem,não sonham,nem suspeitamum suspirode outro mundo.

Quero um olharsensível, sensato,sonoro, sujeitoda oração,essência então,não se assombranem se aterra pálidono obscuro buraco,mas, não ouvemminha canção,não canto fácilnem enfeito em floressão só raízesque resistemàs ruínas do tempo.

Fábrika ou

Concepção da Indústria

Enalteço tecidos tortuosos,fabrico fissuras nas fibras,componho a interposiçãoe desfioa linha de produçãoa fumaça febrilde tua chaminéchamas o ardilchamaso ardil.

Sim, são tempos modernos.

Roberta [email protected]

POESIAS

POESIAS

Page 5: Fanzine LiterárioFanzine Literário Littera João Nery Pestana Conheci João Nery como aluno, ouvidos atentos e olhos observadores. Quan-do resolve falar é preciso, ou melhor, é

Fanzine Literário

Littera 5

Page 6: Fanzine LiterárioFanzine Literário Littera João Nery Pestana Conheci João Nery como aluno, ouvidos atentos e olhos observadores. Quan-do resolve falar é preciso, ou melhor, é

Fanzine Literário

6 Li

tter

a

João Nery PestanaConheci João Nery como aluno, ouvidos atentos e olhos observadores. Quan-do resolve falar é preciso, ou melhor, é a exatidão.

Coisas de poeta. E hoje passo a conhecê-lo como tal. Nasceu em Cururupu, litoral do Maranhão, estado esse cuja água parece ter alguma coisa especial, pois já nos ofertou nomes como Gonçalves Dias, Sousândrade, Aluísio Azevedo, Raimundo Correia, Ferreira Gullar e outros.

João Nery Pestana é dono de duas obras, Vias 1999 e Reverso de 2004, titular da Academia de Letras de Ri-beirão Preto e membro da Casa do Poeta e do Escritor de Ribeirão Preto. Ajudou a fundar a União dos Escri-tores Independentes, agora nos traz a sua experiência para a confecção e criação do Littera - Fanzine Literário que tem a oportunidade de apresentá-lo e entrevistá-lo.

Littera - Quais seriam, em sua opinião, as reais perspectivas da poesia na sociedade contemporâ-nea?

Em todos os tempos na história da civilização, a poesia tem cumprido um signifi cativo papel; como legitimar uma língua, exaltar os feitos de um povo, ou questio-nar os abusos imputados aos sistemas; sejam políticos, religiosos, econômicos, ou até mesmo lingüísticos. A verdade é que aquilo que nem sempre pôde ser expres-so ou registrado por outras vias, encontrou na poesia espaço e ressonância. Por tudo isso, é possível afi rmar que a poesia é a arte em que o belo e a inquietude se confundem, e, esse papel vanguardeiro, é o que faz da poesia uma arte em constante ebulição. Isso não é muito diferente nos dias de hoje; razão porque vejo a poesia como uma arte que transcende o seu tempo e vai espiar o porvir de onde traz notícias à contempo-raneidade. É por isso que nem sempre o poeta é com-preendido no seu presente. Fazer o quê? Como diria Quintana: Eles passarão... “nós passarinhos!”

Littera - Como você situa a sua obra no contexto atual?

Não me sinto preso a um gênero específi co, gosto da diversidade, da liberdade de ação e expressão, para as quais os movimentos de vanguarda prestaram signifi -cativa colaboração. Por isso, é possível encontrar na minha poesia desde uma atmosfera romântica com ressonâncias eróticas, passando por temáticas sociais; quer refl etindo o cotidiano, satirizando ou denuncian-do as mazelas a que grande parte da sociedade é sub-metida; ou até mesmo o brincar com o lado palpável das palavras na busca de um efeito visual ou sonoro. Portanto, nada do que não se fez ou faz nessa prazero-sa atividade artesanal, cuja matéria prima é a palavra. Atualmente trabalho alguns experimentos, nada de ex-traordinário. Acredito que da mesma forma que preci-samos ser livres para experenciar a felicidade a poesia também necessita de liberdade para ser plena.

Littera - Osman Lins disse certa vez que o homem diante de uma folha em branco é o homem mais livre do mundo. Como você vê o seu ato de cria-ção?

Osman Lins (1924/1978) fi gura entre os grandes no-mes da literatura contemporânea, o seu livro Nove, no-vena, se apresenta como uma inovação no modo de narrar. Isso é fruto de uma obstinação pelo novo e pela liberdade no melhor da sua acepção. É, pois, a obstinação, a liberdade e a busca do aprimoramento que nutrem o meu processo de criação, que em uma primeira instância se dá de forma trivial e não anuncia-do; pode ser uma observação banal do cotidiano, uma refl exão sobre as coisas que nos circundam, das mais simples as mais inusitadas; porque a poesia reside em todas as coisas. Porém, passado esse estágio que pode-mos atribuir à inspiração, vem a árdua tarefa do burila-mento que vai do reconstruir ao desconstruir o objeto observado, a partir da fusão de sentimentos e imagens na tentativa, às vezes insana, de uma obra bem acaba-da. Imagino que seja esse o processo comum à maioria das pessoas que se aventuram nessa solitária e, no meu caso, despretensiosa atividade.

Entrevista por Eder Rodrigues Pereira.

Page 7: Fanzine LiterárioFanzine Literário Littera João Nery Pestana Conheci João Nery como aluno, ouvidos atentos e olhos observadores. Quan-do resolve falar é preciso, ou melhor, é

Fanzine Literário

Littera 7

João Nery PestanaReverso

eu quero escrever um poemaque deforme a tua luae que tua alma seminua desfaleça ao percebê-lo

eu quero escrever um poemacom restos do meu soluçoque meus olhos dissolutosse entorpeçam de desejoo desejo de desvê-lo

eu quero escrever um poemaque resvale na ironiae revele em simetriaso desuso da saudade

eu quero um poema tortoescrito em linhas retas

que despoemise o amorque destrua a minha crençae me faça desigual

eu quero escrever um poemaque desdiga o que foi ditoque desfaça o que se fezque desnude o desgostodesbotado em cada gesto

e ao desanoitecer da noitena desordem indiscretado desbeijo dos teus beijosse estabeleça em teu regaço o reverso dos meus versose no desabraço dos teus braçoseu me sinta um despoeta.

DESDENHA

N A C A L Ç A D A D E S P R E Z A D A A G R A M Á T I C A I N E X A T A D E S G R A M A T I Z A D A E M C A D A E S Q U I N A L Í N G U A E P Á T R I A V I O L A D A S M A C U L A D A S D E S P O E T I Z A D A S F A B R I C A M - S E V E R S O S C E L E U M A E Q U I E T U D E D E S N U D A - S E O D I A F A Z - S E N O I T E D E S A N O I T E C E A U R O R A N Ã O V E M P O E S I A T A M B É M C A L A R A M - S E T O D O S O S P O E T A S P R O C U R O B A N D E I R A C E C Í L I A Q U I N T A N A A S N E I R A ! C H A M O - O S N I N G U É M R E S P O N D E N Ã O H Á M A I S M O D E R N I S M O N E M P Ó S N E M A N T E E A G O R A D R U M M O N D

?C A B R A L

P A R A O N D E?

Page 8: Fanzine LiterárioFanzine Literário Littera João Nery Pestana Conheci João Nery como aluno, ouvidos atentos e olhos observadores. Quan-do resolve falar é preciso, ou melhor, é

8 Li

tter

a

Fanzine Literário

As Antonímias em nossa vida

No decorrer de uma existência comprida, do Útero à Cova, as Antonímias invadem a vida.Para sair do lugar, uma perna vai a Frente a outra fica Atrás.Na respiração a todo instante são os pulmões os seus representantes.Eles não a esquecem, inspirando Sobem, expirando Descem.Pra um bom entendimento, elegemos a fala o melhor instrumento.Pensamento, movimento...Na comunicação o Som corta o Silêncio, lento...A natureza é perpassada em ritmo freqüente...Dia e Noite geram-se mutuamente...Rimos de Alegria, choramos de Tristeza.Gostamos de Salgado, mas de Doce na sobremesa.Surgem em nossas relações Ódio e Amor,Experimentamos assim Prazer e Dor.O dia passamos em Pé,Ora Tranqüilos, ora Assustados.À noite esquecemos o relógioDormindo Deitados.Não mais que de repenteTemos Saúde, ficamos Doentes,Às vezes temos Pressa,Às vezes sobra Tempo.Os olhos se abrem para a Vida,Se fecham para a Morte.Diante do AzarContamos com a Sorte.

André [email protected]

O filho da sala

Meias de seda, vídeos, cigarros. Ele estava ficando bonito, adquirindo jeito de homem maduro. Ia e vinha do Paraguai uma vez por semana e vivia mais feliz.Nasceu de novo em uma festa na casa da Marilia. Todo mundo dançando, de repente

o chão da sala afundou. Morreram seis. Ele ficou pendurado na viga do assoalho.Dolorido para todos. Os corpos mutilados, saindo pelo buraco no meio da sala. Acidente hor-rível. Vizinhos fazendo fila na porta.Embaixo tinha uma gruta e o chão não agüentou. Ele sentiu-se filho da sala, da festa. Nascer no meio de tanto sangue. Só tinha mesmo que alterar a sua vida; viu que era muito rápido morrer. E disse não. Ao banco. Aos pais. À carreira. Foi saber de si.Pendurado na cratera ouvia os gritos vindos de dentro e de fora. Não conseguia falar de tão assustado. Nunca o medo passou tão perto. Agarrado ali, só tinha uma certeza: Não vou cair. E não caiu mesmo. Único vivo. Nem ria, nem chorava olhos arregalados. Levou uma tapa e começou a chorar. Como que nascendo de novo.

Laercio Mello

Page 9: Fanzine LiterárioFanzine Literário Littera João Nery Pestana Conheci João Nery como aluno, ouvidos atentos e olhos observadores. Quan-do resolve falar é preciso, ou melhor, é

Fanzine Literário

Littera �

Nada Importa Mais

Nada mais importa muitoNão te verei amanhãTambém não te verei depois de amanhãE haverá um outro diaEm que vou te imaginar como hoje

Você não veioE mesmo que viesse não teria vindoPorque não teria vindo para mimTanto faz...

Teu suor derrama em outro corpoBebe tua paixão em outra bocaFez de mim esse quilômetro deNoite fúnebreJá não me importo

Ouça-me: Não quero nadaAs palavrasEnterrei numa estradaPor onde não mais passareiE usei o meu melhor perfume francêsPara tirar seu cheiro da memóriaE o que restou dentro de mimApenas um amorEm mil pedaços

Grace [email protected]

Paixão

Que chama é esta que incendeia meu coração?E me envolve como o calor de um vulcãoSerá que você não vê que o meu olhar insisteSua beleza é incansável, acredite.Meu coração será então seu temploCom as mais belas floresQue perfumam o ventoGozaremos de todas as nossas vontadesVamos esquecer todas as responsabilidadesEu olho para sua bela pele alvaSeus lindos cabelos anelados e negrosNão me faça sofrer negando-me beijosAh paixão, que arrasa meu coração.Me de uma chance de te fazer felizVocê me faz pensar em fazer coisas que jamais fizQuero compartilhar com você o calor da minha emoçãoMergulhar na cor dos seus olhosGuardar seu cheiro no meu corpoDeslizar no suor do seu dorsoSorrir ao ver a cor do seu rostoAh meu amor; deixe-me aquecer seu coração.Deixe para trás o tempoVamos passear no ventoPensar que só o amor é a maior razãoAh paixão, não me deixe adoecer.Não se esqueça da promessa, de não me fazer sofrer.Sem você não sei se existoMe deixe abraçar você, eu insisto

Daniela [email protected]

Alma Morena

Suave é o som que sai de suas mãosE terno é o tom que sai da sua boca.Morenos olhos, coração ligeiro.

Canção de ídolo profano,Paixão de carnaval diário.Morena alma, coração rebelde.

Segredos de amor platônico,Transpiração de amor sensual.Moreno corpo, coração barato.

Ansiedade clássica, clássica amargura.Caminhos fechados, calados os dias.Morenas estradas, coração aflito.

Cinthia Molina [email protected]

Poelisa

Por achar que não tem ninguémEntrega-se inteira.Acende um cigarro.Toma café.Sente saudade.Tem esperança.Expõe sua alma em guardanapos.Acha linda a melodiaEm uma tarde no parque.No espelho vê uma larva,Sonha um casulo.Mas já é borboletaSem o saber.

Cinthia Molina

Page 10: Fanzine LiterárioFanzine Literário Littera João Nery Pestana Conheci João Nery como aluno, ouvidos atentos e olhos observadores. Quan-do resolve falar é preciso, ou melhor, é

Sexo e construção

Penetrou a terra violento, sem permissãoCom seu corpo de ferro e estaca forteEra demais para aquela terra cercadaE ia e vinha o barulhentoCom frenesi desconjuntadoUm homem olhava, enquanto tele falavaViu o bate-estaca enfi ando a estaca na terraAbriu o zíper e imitou os movimentosAntes de desligar, ainda jogou o sêmen construção abaixoComo uma semeadura;Depois limpou a mão direita na paredePelo lado de fora dos prédios.

Laércio Mello

Prisão

Meus sentimentos estão barradosNa minha solidãoNos meus medosPresos na ilusão

Meus sentimentos estão amarradosNos meus tormentosConfundindo meus sentimentosMe arrastando pelo chão

Você é minha barraMinha solidãoMeu medoMinha ilusão

Em você estou amarradaPela paixão atormentadaMe humilhando pelo seu simFingido não ter ouvido o não

Ana Alice [email protected]

Você

Você! Por que não me encontra? O que nos separa?Será que segui o caminho errado daquela estrada?O que eu fi z para adiar o nosso encontro?

Ou será que foi, você, que não desceu no ponto?Talvez você, até tenha tentado me encontrar,Mas acabou por nos separar.

Voltemos então ao início da partida Assim seguiremos a estrada da nossa vida.Quem sabe desta vez não nos encontremos,

Para fi nalmente eu e, você, felizes vivermos. Brincaremos contentes naquele jardim,Nosso amor será concretizado enfi m.

Amor... amor, que procuramos sem relutânciaE encontramos graças à esperança,Que fi cou ao nosso lado como uma criança.

Daniela Souza

10

Litt

era

Fanzine Literário

Page 11: Fanzine LiterárioFanzine Literário Littera João Nery Pestana Conheci João Nery como aluno, ouvidos atentos e olhos observadores. Quan-do resolve falar é preciso, ou melhor, é

O MORTO ? VIVO?! VIVE? VIVE MORTO O VIVO. OH! MORTO VIVO, VIVA! O VIVO, MORTO VIVE. OH! MORTO VIVO, VIVA! O VIVO VIVE MORTO. OH! MORTO VIVO, VIVA! O MORTO VIVE.

Cremilda de Oliveira

EU!!!

QUANDO? AQUI!!! ONDE? AGORA!!! QUEM? PRESENTE... PASSADO FUTURO? -VIVER - ESQUECER - SONHAR

Littera 11Cremilda de Oliveira

1º Motivo da Insônia

Não te afl ijas com o boleto que chegaTem que pagar e não tem jeito não

Protesto terá, só com um dia de atraso,Mesmo que seja dívida de irmão

O envelope chega até por vizinhoSe vier de longe, o caminho não erra não

Quando chega o dia vão logo lembrandoQue ainda há tempo para renegociação.

Raquel Sanches

Fanzine Literário

Page 12: Fanzine LiterárioFanzine Literário Littera João Nery Pestana Conheci João Nery como aluno, ouvidos atentos e olhos observadores. Quan-do resolve falar é preciso, ou melhor, é

Há vida inteligente dentro do Mercado?

Somos todos seguidores do deus Mercado, queiramos ou não. Todos nós temos hoje como máximo mandamento a lei do lucro, o pior dos crimes que alguma coisa ou alguém pode cometer é não dar lucro, não ser produtivo, dar prejuízo então, nem pensar.

Caminhamos para nos tornar a civilização sem sonhos, sem utopias, a civilização da idéia única, do único valor, só o que importa é ter mais e mais aparelhos novos, não importando para que haverão de servir, temos que comprá-los, sejam carros, celulares, computadores ou televisores, precisamos desesperadamente comprá-los e logo a seguir precisamos desespe-radamente trocá-los por mais novos, o que não podemos é deixar de consumir.Esta diretriz pasteuriza o mundo, Pequim é igual a Nova York, que será igual a Nova Delhi que será igual a São Paulo, nada mais de diversidade apenas globalização, sempre com um MacDonalds em cada esquina é claro, inclusive no Kremlim (não é fantástico?).

A cultura é tratada como indústria, escancaradamente. Também pasteurizada, também pro-duzida em escala, também levando em conta a mais valia. Parem e pensem:

É ISSO QUE QUEREMOS?

A Cultura não pode ser um cartório, tem de ser diversidade, ousadia, atrevimento, liber-dade, é a arte que nos faz evoluir, que faz a humanidade avançar. Se continuarmos assim fi caremos estagnados e iremos emburrecer aos poucos, passaremos a achar que tudo isso é normal. Mas vejam:

NADA DISSO É NORMAL

Temos de criar alternativas a estagnação, à morte da cultura que querem nos impor, temos de dar voz aos artistas que estão fora da religião do Mercado. Ninguém fará isso por nós, é nossa tarefa, pensar, e buscar mudanças, fazendo saraus, revistas, jornais, abrindo as gave-tas e as mentes e trazendo a luz as grandes idéias que estão escondidas, porque não há canal algum para trazê-las até nós.

Lembrem-se de Álvaro de Campos e façamos de seu grito por liberdade o nosso grito:Sufoco de ter só isto à minha volta!Deixem-me respirar! Abram todas as janelas! Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo!

Elaine Ribeiro