família corrêa

121
120 FAMÍLIA CORRÊA quatro gerações de fotógrafos amadores de Tomar Casa Manuel Guimarães 12 de Junho de 2015

Upload: monica-velosa

Post on 29-Jul-2016

231 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Família corrêa

120

FAMÍLIA CORRÊAquatro gerações de fotógrafos amadores de Tomar

Casa Manuel Guimarães 12 de Junho de 2015

Page 2: Família corrêa

120

Page 3: Família corrêa

120

Page 4: Família corrêa

120

Agradecimentos

Eptatia ium rehento cor aria dollam dus sita volumquas ese-quunda nulloribus, santur? Ucipid ullicipsum lam facerum in co-neces tempelestio. Ut rempora nonsequid qui quidebit volorat earum aut aut eumquos erio magnim que velitii sitate molup-tatquam que voloribea dolor millati volesto cusaera de ren-

demqui unt, illaborro corunt eicieni hitatus.Ga. Itae estion ne veleniet quaectat.

Onsequae pel ium lantur apiende mperia volorunt la dolupti utate omnimi, solupta non re vel et et laborep udaectur re sa-pisqu iatquam renistias deliquo imus doluptur aut doluptatur?

Ecturio bea nulpa imagnate nullento omnita volorestium en-totatum estemolore volor moluptisti aut ventist, officit, quam, arciae volor militiat aliqui rehent haruptatem quunt laborem sundipsam venis dolorum explandaecum ut molupta simagni aut qui offic tem aliqui quas sitatus, ne pre eum velit aut quae cum dem. Et volumqui blab idebisque consedisciur molor so-luptatus di te es experunt facersp elecaepro cullenis doles est, ommolore vendis doluptat facesediam et essit parit quassum,

simpediores ad quam, ex entur?Ite volest, volorro incia voluptam ute volor sequisi tatesti buscil

ipsunditae odi volorporat.Ditatiu scipsandenda verume ditate vendi atusam dolest, quo-

sam que et lam quam veligendanda am, veles ea asperio

Page 5: Família corrêa

120

ÍNDÍCE

Introdução Ficha TécnicaTexto de Pedro CorreiaContextualização

FamíliaTomarFesta dos TabuleirosÁfricaConvento de Cristo

Page 6: Família corrêa

120

Page 7: Família corrêa

120

Prefácio

Meu avô o doutor Augusto Corrêa Jr (Covilhã 1865,Thomar 1949) foi médico cirurgião no Hospital da Misericórdia e no Hospital Militar, e radiologista com con-sultório na Corredoura, nº48 (onde hoje está a loja nova do Martins), numa parte da sua residência, a qual comunicava por um passadiço, sobre a Rua dos Oleiros, com um grande quintal, em cujos terrenos se edificou depois a Estação dos Correios.

Era também oficial médico do quadro permanente do regimento de Infantaria de Tomar, o Celebrado Quinze, que se cobriu de glória em França, entre as tropas aliadas, nos campos de batalha da primeira Grande guerra.

O mais velho dos seus seis filhos, Aníbal, ao casar-se mudou a forma antiga do apelido para a de Correia, que a partir da segunda geração da família todos passaram a usar.

Meu avô nasceu na Covilhã em 21 de Janeiro de 1865, filho de um industrial ali estabelecido, e oriundo de uma tradicional família com solar em Seia, ainda hoje habitado por parentes nossos.

Após os primeiros estudos na Covilhã, frequentou o curso de medicina em Coim-bra onde conheceu e se casou com a minha avó, Bebiana Pimentel Fernandes (cuja casa de família era em frente da igreja de Santa cruz, em que depois veio a situar-se a loja Medina de musica) e onde o casal permaneceu até que o serviço militar colocou o meu avô no R.I.15 de Tomar, a terra onde se radicou e nasceram todos os seus filhos.

Desde Tomar, cedo se tornou profissionalmente famoso em todo o país, pela sua competência como operador, pelas suas faculdades para o diagnóstico, e pela quali-dade do seu trabalho como radiologista.

Page 8: Família corrêa

120

Lembro-me perfeitamente dos seus dois consultórios (o de radiologia, em que também praticava pequena cirurgia, e o de diatermina ) sempre cheios de gente de Tomar e de fora , frequentemente de Lisboa para as suas consultas e tratamentos , e os radiológicos, na sala de visitas da residência onde havia um piano , onde ele me pedia para tocar ,enquanto trabalhava no atendimento dos doentes, as suas musicas favoritas: a «valsa dos patinadores» e a de «o circo desceu á cidade» ).

Juventude, jovialidade, singeleza, a do Doutor Correia, até ao fim!Muitos anos mais tarde, viúvo, idoso, outra vez casado, e com um filho pequeno,

para presenteá-lo pediu-me que o ensinasse a fazer aviões de papel (os autênticos, com asas, lemes, focinho, não os simples bicos ou projecteis de papel, sem mais que lhe diga, que qualquer criança sabe fazer e lança em curta ou incerta viagem, á boa de Deus).

Tomou naturalmente em sério o assunto de aprender, e sentado no chão do seu gabinete, foi desenhando com régua e esquadro, os planos das peças, e da montagem dos aviõezitos, á medida que eu os ia fazendo.

Depois de construídos um bom numero de aparelhos, tratou-se da técnica de lan-ça-los: eu desci á rua e coloquei-me á porta da mercearia do Martins (onde hoje têm a loja de artigos eléctricos) e ele em frente, pela janela, ocultando-se de vistas, metido para dentro do consultório, enviava-me os aeroplanos, segundo as indicações que eu lhe dava quanto á inclinação a dar às asas, ao focinho, ou aos lemes, para mudar as trajectórias.

Foram muitos e variados os seus amigos de Tomar de que me recordo: - o doutor José Tamagnini, ou Tamagnini velho , para distingui-lo dos seus filhos

varões , três médicos e um advogado ; - o dentista Rafael Estrela, cuja viúva, Júlia, exerce ainda em tomar a mesma pro-

fissão do marido; - o causídico José Alves Casquilho que vivia na esplêndida casa da praça, onde

hoje está a sede dos Serviços Municipalizados, o Casquilho velho ,para diferenciar do seu filho também advogado , Amílcar Casquilho ;

- o Dinis plácido, da quinta das Avessadas, pai da grande pintora Maria de Lour-des de Mello e Castro;

- o José Torres, proprietário da farmácia Torres, hoje Farmácia Nova , na rua direi-ta da Várzea Pequena , onde eu ia em pequeno mandado por meu avô buscar caixas

Page 9: Família corrêa

120

de pastilhas Vichy , e onde ele costumava passar pelas brasas , depois do almoço , sentando-se num cadeirão situado no canto atrás da porta , do lado direito de quem entra , e quando chegavam clientes , o Torres prevenia : Não façam barulho que o sr. Doutor está a descansar; ;

- o Júlio Bento , dono da Farmácia Torres Pinheiro , na Corredoura , grande conversador , estentório , grande aficionado taurino ( protector de Manuel dos Santos nos seus primeiros passos para toureiro )e que revestia a sua zombaria duma seriedade ou gravidade tal que podia resultar convincente , como quando reco-mendou ao Dinis Plácido que untasse com borra de azeite as cintas dos travões do seu carro um Citroen-Six , que produzia tremenda chiadeira ao estacionar na Corredoura: o resultado do conselho surpreendentemente aceite, foi que ao voltar á cidade, os travões do carro não funcionaram ao querer detê-lo no cruzamento da Ponte Velha com a Levada, á passagem de um rebanho que atropelou com o con-sequente desaguisado;

- o Quintas com estabelecimento de mercearia, e também de papel e películas fotográficas, na Praça, portas ao lado das da famosa Confeitaria Tomarense, Pepe ,ou Passos .

(Na geração tomarense seguinte á do meu avô, e ainda em coincidência com ele, exerceu em Tomar, de clínico geral, outro dos melhores e mais dedicados médicos portugueses que possa ter havido no seu tempo, o doutor José Augusto Oliveira Bap-tista, de que ele pronto advertiu a extraordinária valia «este rapaz vai longe»; duas eminências na profissão médica que mutuamente se apreciaram, porque igualmente o doutor Baptista se descobria com o doutor Correia)

No meio fotográfico havia o Rebelo, com estúdio a meio da Levada (uma rua que desde então parece propicia ao estabelecimento de fotógrafos, hoje existem ali três estúdios) e o Silva Magalhães ao final da rua Direita da Várzea Pequena, onde hoje está o laboratório de analises J. Correia.

Eram profissionais e principalmente solicitados como retratistas. Mais tarde, dos primeiros fotógrafos que montaram um serviço de revelação e cópias para atendi-mento público, foi António Torres, num pequeno local fronteiro á farmácia do seu pai, onde também trabalhava. Meu pai saiu de Tomar para África a 8 de Março de 1930 (chegou a Leopoldville no dia 29) deixando-me com dois anos ao cuidado dos meus avós, em sua casa, vivendo o deu dia a dia.

Page 10: Família corrêa

120

Meu avô tinha uma enorme câmara escura onde revelava as radiografias e, antes dele entrar, eu escondia-me ao lado de um cofre que havia ali, curioso de ver o que ele fazia, até que um dia algum movimento ou ruído me denunciou, descobriu-me, e deu-me um tabefe (único que levei dele, muitas vezes ele falava disso) pelo meu atrevimento.

Certo dia, ainda antes de eu entrar na escola primária, meu avô chamou-me, pôs--me em cima de um banco ao pé de umas tinas de revelação, começou a explicar-me como se revelam as películas, e às tantas disse-me: - vai ali á farmácia do Júlio Bento, e traz revelador e fixador, vai, vai depressa. - E vou eu com os meus escassos cinco anos buscar dois garrafões, um de revelador e outro de fixador, que não era capaz de transportar.

E diz-me Júlio Bento, excepcional pessoa mas brusco, directo, irónico: vai dizer ao teu avô para te vir ajudar. – Assim fiz, e transmitido o recado, o meu avô, com o riso fisionómico, insonoro, que lhe era peculiar, chamou a enfermeira, a «Maria Eléctrica» e diz-lhe: vai á farmácia do Sr. Júlio Bento, que é para o ajudares a trazer os garrafões.

Prazenteiro, seguia o jogo do Júlio Bento de indiscrição, que resultava possível, graciosa, desde a sólida amizade, o mútuo apreço.

Era outra faceta de carácter do meu avô, a humorística. Passado algum tempo já eu podia com um garrafão de cada vez. Para os recados de papel e películas fotográfi-cas mandava-me o meu avô á casa Quintas, única que vendia esses artigos.

De mais substancia e mais famosa, a anedota com o Leitão barbeiro, de artenova, como adjectivava o seu ofício na bandeira da porta da barbearia. Figura singular, so-bre o redondo, sem ser baixo, rosado, de bigodes encerados, torcidos e revirados nas pontas, o escasso cabelo fixado em ponte de orelha, para cobrir a calva, o guarda pó aberto sobre o colete negro com corrente de ouro, tão exigente da compostura e dis-crição a observar na sua loja, como presumido da higiene com que servia os clientes.

Escrevia a sabão nas vidraças e espelhos da barbearia (na loja agora fechada, de uma modesta e bonita casa ainda de pé na rua direita nº19, ele vivia, tão só como morreu, na sobreloja, de onde o retiraram dias depois de falecido – e achou-se tam-bém um vultuoso pecúlio onde contavam notas de banco há muito fora de circulação – ao estranhar-se tão larga falta no estabelecimento, ou á janela de onde se assomava á rua), «tudo desinfectado» com um Z que zunia, e «é proibido discutir política».

Page 11: Família corrêa

120

Além dos serviços de barbeiro, também oferecia os de obviar na timidez ou ina-bilidade para as declarações amorosas, anunciava confecção de cartas para pedir na-moro, cujos modelos afixados (a 25 tostões, incluindo o selo, aquelas estampilhas de quatro tostões com a legenda TUDO PELA NAÇÃO, NADA CONTRA A NAÇÃO) e vendia um extraordinário papel de escrever com timbre de versos enquadrados em moldura de limalha como de ouro e prata, que devia ser considerado de muito efeito para a conquista, pelos galuchos do Regimento que frequentavam a barbearia ou lhe passavam á porta.

Em cima tinha habilidade para arrancar dentes. O barbeiro Leitão, que também se fixara em Tomar depois de ter vindo fazer a tropa, era conterrâneo do meu avô, doutor Correia, que um dia lhe mandou uma paciente necessitada de uma extracção dentária, e á qual eu acompanhava em seu nome.

Levei de volta de volta para o meu avô um bilhete do Leitão (que de tão bem guardado não sei agora onde para) em que lhe dizia : meu caro Augusto, aqui esteve o teu neto com a pessoa que mandaste para arrancar o dente , como é entre colegas não levei nada .

Era justo e além disso pagava a honraria porque de cada vez que foi preciso man-dar alguém para arrancar dentes, eu apresentava-lhe o bilhete; mas afinal não creio que tenha saído prejudicado com o meu avô que era generosíssimo.

(Devo explicar o apodo de Eléctrica que dávamos á enfermeira, Maria de Jesus – casada com mestre sapateiro Manuel da Luz Guerreiro, que fazia as botas para jo-gadores do Sporting de Tomar, e que ainda vive com 87 anos – e era por ser ela que accionava o transformador de corrente, da de 110 continua, que fornecia a Central de Tomar, para a de 220 alterna, que necessitava para fazer as radiografias; o meu avô avisava: olha a luz, já está? e ela; está sim Sr. Doutor.

O transformador estava dentro da despensa e colocado alto, e quando ela estava em cima de um banco para acciona-lo, era ocasião que a minha irmã e eu podíamos aproveitar para surripiar alguma garrafa de vinho da Madeira dos presentes ao meu avô, afim de aproveitar os envoltórios de palha em que vinham acondicionadas e que nos fascinavam, a minha irmã convertia-os em bonecas) .

Tomar, onde a cidadania conta por cima de todas as diferenças, tinha a sua ter-túlia de principais não num clube restrito, mas no café Havaneza, também livraria, papelaria e agencia de noticias (numa casa mandada construir por Manuel Mendes

Page 12: Família corrêa

120

Godinho, em que o r/c foi destinado para o efeito, com uma sociedade constituída por ele, Joaquim Mouzinho e outros, lugar que ainda existe, sem maior transfor-mação exterior e interior, mas que ultimamente perdeu toda a vinculação com o seu passado ao ser transformado num comercio de pronto a vestir) que o meu avô frequentava.

Os acontecimentos sociais eram o tiro aos pratos e aos pombos, as gincanas de automóveis, os concursos hípicos, no campo de foot-ball que havia na antiga horta de Joaquim Barbosa, hoje o mercado municipal, as verbendas no Mouchão parque, as corridas de touros, e as charlotadas , as competições de ciclismo , a feira anual de Santa Iria e a Festa dos tabuleiros .

Acontecimentos eram também as grandes cheias do rio, e as concentrações no largo em frente da entrada do Mouchão nas partidas para Fátima para celebrar o 13 de Maio.

Todos estes acontecimentos e sucessos dedica-se o meu avô a fotografar, mas tam-bém típicas estampas da vida individual – considero uma preciosidade, a da lavadeira sob os arcos da velha ponte romana antes da reforma, com a sua delicada firma, um retrato também de si mesmo, da sua hábil mão cirúrgica tão entregada, da sua sensi-bilidade profissional, humana e artística – e naturalmente, o próprio cenário cívico, perspectivas de ruas e do rio, os maciços urbanos.

Em outra magnifica fotografia, tirada desde a casa dos Vales, vê-se ao centro uma pequena ponte que já não existe e que dava acesso á horta do Torres Pinheiro, por onde nos metíamos a caçar pardais, (com fisgas em que atirávamos chumbos de caça que agrupávamos numa moca praticada na sola).

Era raro que o meu avô passasse os negativos fotográficos ao papel, como fazia o meu pai (ás vezes a partir de negativos de meu avô e nesses casos ou não assinava as ampliações ou anotava a proveniência), isso estranhava-me e depois tive a explicação.

Um radiologista vê e lê uma radiografia, que é um negativo tão bem e melhor do que o comum das pessoas vê uma fotografia num papel; é ainda preciso lembrar que as dimensões de uma película fotográfica naquele tempo eram muito maiores do que as de hoje, as mais pequenas de 6X9 cm, e que, portanto, o meu avô via, apreciava deleitava-se mais com os negativos (directamente, sem a perda de pormenor da pas-sagem ao papel, e com a vantagem de ser vistos á transparência) postos sobre a caixa de vidro opalino de observar e estudar as radiografias. Herdei todo o seu espolio de

Page 13: Família corrêa

120

negativos fotográficos, e sempre que posso dedico-me a separa-los, quando se foram colando uns aos outros e restaura-los; quase todos em chapa de vidro.

Meu avô como médico mantinha-se muito actualizado e modernizava os equi-pamentos do seu consultório com o que de melhor havia; apaixonado da fotografia adquiria constantemente maquinas fotográficas, quase todas das marcas Zeiss, zeis-s-Ikon,e Kadok, e na relação de bem da sua herança figuravam 36;algumas das suas maquinas fotográficas chegaram á minha posse por ofertas que fez em vida a meu pai e este a mim, o maior numero coube em herança ao único filho havido do segundo matrimónio.

Dispunha o meu avô de uma grande habilidade de mãos para tudo – que a mim me chegou pela convivência e o legado genético: a família diz que eu herdei dele esse dom - e era ele que desmontava até á última peça as suas máquinas, para limpa-las, repara-las ou simplesmente conhece-las; e também fazia as bolsas para guarda-las, de que desenhava, cortava, e cosia o cabedal.

A última recordação que tenho dele, respeita propriamente ao seu falecimento, e creio que é a primeira vez que a divulgo:

Em Outubro de 1949,tinha-se decidido da necessidade de operar o meu avô, e ia assistir á operação o seu colega e grande admirador, Dr. Manuel Duarte, o «Dr. Careca» (cujo consultório era onde esta o laboratório de analises Vítor Carvalheiro, no primeiro andar do edifício da casa Havaneza) a quem ele mandou chamar ao seu quarto (numa casa na antiga Rua Carlos Campeão para onde se mudara quando do seu segundo casamento, e a que chamava-mos da palmeira, por causa da enorme arvore daquela espécie que havia no jardim, e ainda existe metida no grande pátio interior duns blocos de edifícios ás avenidas novas) e, na presença da sua segunda esposa, do meu pai e de mim, entregou-lhe um papel com desenhos, o esquema da operação como ele desejava que lhe fosse feita;

Passados dias, no mesmo quarto e na presença dos mesmos, (meu pai muito liga-do ao meu avô era o seu motorista – meu avô que tinha carta de condução só pegou uma vez no carro, no quintal de sua casa, para derrubar com a parte traseira da via-tura, um Standar vermelho que para ele comprara o Jacinto da Gráfica, a parede da garagem e deixa-lo, como nós dizíamos, «na estrumeira» que era contigua – e os três andávamos sempre juntos) foi a vez do Dr. Careca explicar ao paciente a operação como lhe tinha sido feita, com alterações ao esquema que indicara, e quando o Dr.

Page 14: Família corrêa

120

Duarte acabou a explicação o meu avô exclamou: colega, mataram-me. Faleceu nessa mesma noite de 19 de Outubro de 1949,uma quarta-feira.

A meu pai José Augusto Pimentel Correia (Tomar 27 de Julho de 1899 – 07de Se-tembro de 1977) entrou-lhe cedo o bichinho da fotografia, as suas outras «doenças» eram a caça e o fascínio do convento de Cristo.

Dai que se tenha dedicado como fotógrafo aos temas do convento, da caça, e pai-sagens, e chegou também a fazer, a pedido da casa Havaneza fotografias para uma serie de postais ilustrados com vistas de Tomar, destinados a comercialização.

Em 1930 partiu para o Congo Belga (era dificílimo obter autorização de entrada para trabalhar ali, o que só veio a conseguir, depois de apresentar inutilmente co-piosa documentação, com uma carta de chamada em que a firma Mendes, Santos & Companhia de Tomarenses se responsabiliza pela seu emprego) como funcionário bancário, juntando com a caça profissional.

As caçadas ou eram dos negros, principalmente para conseguir carne de macaco, ou dos brancos, assistidos pelos negros, como pisteiros e carregadores; é tremenda-mente invulgar a fotografia em que o meu pai dispara sobre uma pacaça ferida que investe um caçador negro mal armado, e foi tirada por um companheiro, o patrão de meu pai, Sr. Gomes.

Antes da sua partida para África já meu pai dispunha de uma câmara escura só dele, e na sua bagagem levava entre outras ofertas de meu avô um ampliador de sol, que eu conservo, e é um projector que trabalha com a luz do dia , ou seja , uma câma-ra escura portátil, que ali utilizou para fazer postais ilustrados e ganhar um dinheiro extra.

Na correspondência com o meu avô, o tema fotográfico devia ser importante: uma das fotografias que agora se expõe, duas vistas da corredoura, num mesmo papel, tem uma anotação nas costas a lápis com letra do meu pai:

Recebida em Lizala em 30 de Janeiro de 1932.Voltou meu pai em 1935 a Tomar onde se estabeleceu com a tipografia Popular

Thomarense, e armazém de papeis, na corredoura, nos baixos da associação comer-cial, entre a ourivesaria Gama e a loja de fazendas do Vistulo,o único que vendia em tomar as gravatas de laço, os papillons que ele próprio usava constantemente tal como meu tio Aníbal Correia.

Page 15: Família corrêa

120

Os seus assuntos fotográficos são os cinegéticos, (instantâneos de já funda recor-dação tomarense aquele em que fixou Júlio Araújo Ferreira atirando a uma perdiz que cai como uma bola) os dos monumentos tomarenses, especialmente convento e castelo, e os sociais festivos: os torneios de tiro, as gincanas e as verbenas de caridade que organizavam as Tamagnini.

Meu pai, como já disse, foi de nós três o que tratou de facto a fotografia em labo-ratório, isto é a passagem do negativo ao papel: revelava, ampliava, montava e emol-durava; meu avô raramente fazia os positivos, como já expliquei.

E eu cedo comecei a colocar em álbum os negativos (só excepcionalmente pas-sava ao papel; o meu pai veio a suprir-me nisto, como tinha feito com o meu avô ) porque era o meu gosto que também se herda , e com o que adicionalmente lograva numa pequena poupança; nesse tempo uma carteira de papel, de 18x24 cm custava no Quintas 14$00, e a mesada que me dava era de 20$00 !

Hoje continuo o trabalho de recuperação dos negativos fotográficos do Dr. Cor-reia, e Deus permita que conclua a tarefa; e no capítulo de memórias de família e de Tomar pode ser que algum dos meus filhos ou netos as queiram continuar a escrever

Tomar,11 de Setembro de 1993

José Ricardo de Jesus Correia

Page 16: Família corrêa

120

Page 17: Família corrêa

120

FAMÍLIA CORRÊA

FAMÍLIA

TOMAR

ÁFRICA

FESTA DOS TABULEIROS

CONVENTO DE CRISTO

Page 18: Família corrêa

120

Page 19: Família corrêa

120

Família

Page 20: Família corrêa

120

Page 21: Família corrêa

120

Page 22: Família corrêa

120

Page 23: Família corrêa

120

Page 24: Família corrêa

120

Família Côrrea: Manel, Joana e Mariana Corrêa · 1910 · 20 × 25 cm · Fotografia sobre papel

Page 25: Família corrêa

120

Família Côrrea: Manel, Joana e Mariana Corrêa · 1910 · 20 × 25 cm · Fotografia sobre papel

Page 26: Família corrêa

120

Page 27: Família corrêa

120

Page 28: Família corrêa

120

Page 29: Família corrêa

120

Page 30: Família corrêa

120

Page 31: Família corrêa

120

Page 32: Família corrêa

120

Page 33: Família corrêa

120

Page 34: Família corrêa

120

Page 35: Família corrêa

120

Page 36: Família corrêa

120

Page 37: Família corrêa

120

Page 38: Família corrêa

120

Page 39: Família corrêa

120

Page 40: Família corrêa

120

Page 41: Família corrêa

120

A Cidade

Page 42: Família corrêa

120

Page 43: Família corrêa

120

Page 44: Família corrêa

120

Page 45: Família corrêa

120

Page 46: Família corrêa

120

Page 47: Família corrêa

120

Page 48: Família corrêa

120

Page 49: Família corrêa

120

Page 50: Família corrêa

120

Page 51: Família corrêa

120

Page 52: Família corrêa

120

Page 53: Família corrêa

120

Page 54: Família corrêa

120

Page 55: Família corrêa

120

Page 56: Família corrêa

120

Page 57: Família corrêa

120

Page 58: Família corrêa

120

Page 59: Família corrêa

120

Page 60: Família corrêa

120

Page 61: Família corrêa

120

Page 62: Família corrêa

120

Page 63: Família corrêa

120

Page 64: Família corrêa

120

Page 65: Família corrêa

120

Page 66: Família corrêa

120

Page 67: Família corrêa

120

Page 68: Família corrêa

120

Page 69: Família corrêa

120

Page 70: Família corrêa

120

Page 71: Família corrêa

120

Page 72: Família corrêa

120

Page 73: Família corrêa

120

Page 74: Família corrêa

120

Page 75: Família corrêa

120

Page 76: Família corrêa

120

Page 77: Família corrêa

120

Page 78: Família corrêa

120

Page 79: Família corrêa

120

Page 80: Família corrêa

120

Page 81: Família corrêa

120

Page 82: Família corrêa

120

Page 83: Família corrêa

120

Page 84: Família corrêa

120

Page 85: Família corrêa

120

Page 86: Família corrêa

120

Page 87: Família corrêa

120

Page 88: Família corrêa

120

Page 89: Família corrêa

120

Page 90: Família corrêa

120

Page 91: Família corrêa

120

Page 92: Família corrêa

120

Page 93: Família corrêa

120

Convento de Cristo

Page 94: Família corrêa

120

Page 95: Família corrêa

120

Page 96: Família corrêa

120

Page 97: Família corrêa

120

Page 98: Família corrêa

120

Page 99: Família corrêa

120

África

Page 100: Família corrêa

120

Page 101: Família corrêa

120

Page 102: Família corrêa

120

Page 103: Família corrêa

120

Page 104: Família corrêa

120

Page 105: Família corrêa

120

Page 106: Família corrêa

120

Page 107: Família corrêa

120

Levada

Page 108: Família corrêa

120

Page 109: Família corrêa

120

Page 110: Família corrêa

120

Page 111: Família corrêa

120

Page 112: Família corrêa

120

Page 113: Família corrêa

120

Festa dosTabuleiros

Page 114: Família corrêa

120

Page 115: Família corrêa

120

Page 116: Família corrêa

120

Família Côrrea: Manel, Joana e Mariana Corrêa · 1910 · 20 × 25 cm · Fotografia sobre papel

Família Côrrea: Manel, Joana e Mariana Corrêa · 1910 · 20 × 25 cm · Fotografia sobre papel Ucia volorum nonsequam fugit verum a sum voluptat ad quost voluptia quodis mollabo. Nemporem aliqua

Page 117: Família corrêa

120

Page 118: Família corrêa

120

Page 119: Família corrêa

120

Page 120: Família corrêa

120

Page 121: Família corrêa

120