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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE ENGENHARIA
LABORATÓRIO DE METALURGIA FÍSICA
Av. Osvaldo Aranha, 99- 60 andar - Sala 610
CEP: 90035-190 - Porto Alegre - RS - Brasil
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LAMEF
FADIGA E ANÁLISE DE FALHAS
Afonso Reguly
Inácio Limberger
Marcio Levi Kramer de Macedo
Rodrigo André Hoppe
Sandro Griza
Telmo R. Strohaecker
Fadiga e Análise de Falhas 0
ÍNDICE
1 - FADIGA .............................................................................................................................23
1.1 - TIPOS DE CARREGAMENTO CÍCLICOS..................................................................25
1.2 - CURVAS DE WÖHLER OU S-N...................................................................................26
1.3 - DIAGRAMA DE GOODMAN ........................................................................................27
1.4 - ETAPAS DO PROCESSO DE FADIGA .......................................................................30
1.4.1 - ESTÁGIO I – NUCLEAÇÃO DA FADIGA............................................................31
1.4.2 - ESTÁGIO II – PROPAGAÇÃO ..............................................................................33
1.5 - FATORES QUE AFETAM A VIDA EM FADIGA DOS MATERIAIS ......................41
1.5.1 - ACABAMENTO SUPERFICIAL............................................................................42
1.5.2 - TAMANHO DA PEÇA.............................................................................................43
1.5.3 - FATOR DE CARGA ................................................................................................44
1.5.4 - TEMPERATURA .....................................................................................................44
1.5.5 - CONCENTRAÇÃO DE TENSÕES.........................................................................45
1.5.6 - EFEITOS MICROESTRUTURAIS ........................................................................46
2 - ANÁLISE DE FALHA.......................................................................................................47
2.1 - LISTA DE SUGESTÕES DE PONTOS A SEREM LEVANTADOS EM CONTA
PARA ANÁLISE COMPLETA DA FALHA..........................................................................50
2.2 - EXEMPLOS DE APLICAÇÕES EM ANÁLISE DE FALHA .....................................53
2.2.1 - ANÁLISE DE FALHA DO CONJUNTO DA CHAPA INTERMEDIÁRIA DE
EMBREAGEM ....................................................................................................................53
2.2.2 - ANÁLISE DA FALHA DO PARAFUSO DE FIXAÇÃO DO ESTABILIZADOR
DE UMA AERONAVE........................................................................................................59
2.2.3 - PINO DE ENSACADEIRA PNEUMÁTICA FRATURADO ................................63
2.2.4 - ANÁLISE DE FALHA EM CHAPA PARA APOIO DE MOLAS.........................71
Fadiga e Análise de Falhas 1
2.2.5 - ANÁLISE DE FALHA EM VIRABREQUINS PARA MOTORES DE
COMBUSTÃO INTERNA ..................................................................................................76
2.2.6 - ANÁLISE DE FALHA EM BARRA DE PRENSA ................................................96
2.2.7 - ANÁLISE DE FALHA EM MOTOR FORD 6.6..................................................105
2.2.8 - ANÁLISE DE FALHAS EM TURBINAS PARA MOTOR DIESEL ..................116
2.2.9 - ANÁLISE METALÚRGICA EM COXINS ..........................................................128
2.2.10 - ANÁLISE METALÚRGICA EM BARRA ESTABILIZADORA.......................133
2.2.11 - ANÁLISE DE FALHA EM HASTE DE COMPRESSOR.................................137
2.2.12 - ANÁLISE DE FALHA EM FOLE DE EXPANSÃO INFERIOR ....................143
2.2.13 - ANÁLISE DE FALHA EM GRANDE ENGRENAGEM DE REDUTOR........147
2.2.14 - ANÁLISE DE FALHA EM SUPORTE DE PNEU ESTEPE PARA
CAMINHÕES ....................................................................................................................168
2.2.15 - ANÁLISE DE FALHA EM TUBO API 5L X-56 DO OLEODUTO
TEDUT/REFAP.................................................................................................................179
2.2.16 - ANÁLISE DE TRINCAS EM CURVAS DE TUBOS DE AÇO INOXIDÁVEL
AISI 321H ..........................................................................................................................191
2.2.17 - ANÁLISE DE FALHA EM EIXO DE PRENSA PRR01...................................213
2.2.18 - ANÁLISE DE FALHA EM EIXO VIGA TUBULAR ........................................218
3 - BIBLIOGRAFIA..............................................................................................................228
Fadiga e Análise de Falhas 2
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1– Representação esquemática do gradiente de tensões num corpo de prova bi-
apoiado com uma carga de flexão aplicada.............................................................................24
Figura 2- Forma de carregamento onde a tensão varia senoidalmente com o tempo. ...........25
Figura 3– Tipos característicos de carregamento. ..................................................................26
Figura 4– Curvas de Wöhler para trilhos ferroviários novos e usados, utilizando flexão em 4
pontos. ......................................................................................................................................27
Figura 5- Diagrama de Smith para um componente com as mesmas propriedades em tração e
compressão. ..............................................................................................................................29
Figura 6- Representação de diagramas de Goodman, na região positiva da tensão média(5).30
Figura 7– Fotomicrografia demonstrando intrusões e extrusões na superfície(10)..................32
Figura 8– Diferença nos perfis da superfície, onde as bandas de escorregamento interceptam
a superfície. (A) Deformação unidirecional. (B) Deformação alterada(7). ..............................33
Figura 9– Estrias de fadiga numa liga 2024-T3 correspondem a seqüência variada da
amplitude de carregamento(4). ..................................................................................................34
Figura 10– Processo plástico de alargamento da ponta da trinca para o estágio II de
crescimento de trinca por fadiga(8)...........................................................................................35
Figura 11– Marcas de praia propagadas na seção transversal de uma haste de biela para
motor automotivo......................................................................................................................36
Figura 12– Fadiga em trilho ferroviário. Observa-se a nucleação subsuperficial na região do
boleto. .......................................................................................................................................36
Figura 13– Fadiga em válvula petroquímica...........................................................................36
Figura 14– Esquema de marcas nas superfícies de fraturas por fadiga produzidas em
componentes lisos e entalhados com seções transversais redondas, quadradas e retangulares
e em chapas espessas sob várias condições de carregamento em tensões nominais altas e
baixas........................................................................................................................................37
Figura 15– Curvas que relacionam o comprimento da trinca “a” com o número de ciclos em
dois níveis de tensões “σ1” e “σ2” para o estudo da fadiga. A taxa de propagação da/dN
está indicada para um comprimento de trinca “a1”nos níveis de tensão. ...............................38
Figura 16– Representação esquemática do comportamento do crescimento da trinca de
fadiga em meio não-agressivo..................................................................................................40
Figura 17– Taxa de propagação da trinca por ∆K para duas microestruturas em aço em
baixo carbono (0.15 – 0.20% C, 0.60 – 0.90% Mn, 0.04% máx P, 0.04% máx S). .................40
Fadiga e Análise de Falhas 3
Figura 18– Fator de redução para o limite de fadiga para um aço de baixa liga devido a
vários tratamentos superficiais. (De R. C. Juvinall. Stress, Strain, and Strength, p. 234,
McGraw-Hill Book Company, New York, 1967.).....................................................................42
Figura 19– Variação do índice de sensibilidade ao entalhe com o raio do entalhe para
materiais de diferentes resistências à tração. ..........................................................................46
Figura 20– Vista explodida do conjunto da embreagem .........................................................54
Figura 21– Conjunto da chapa intermediária com as quatro molas. À direita, detalhe da
região de engaste da mola a chapa de ferro fundido. ..............................................................54
Figura 22– Fratura em mola de retorno. Observam-se as marcas de praia de fadiga.
Aumento: 35x............................................................................................................................56
Figura 23– Fratura por cisalhamento no rebite. Aumento: 13X. ............................................56
Figura 24– Detalhe da fratura por cisalhamento do rebite. Aumento: 1168X........................56
Figura 25– Acima a macrografia mostrando a região de grãos ferríticos ocorrida no
processo de conformação do rebite. Ataque: nital 5%. Aumento: 2X. Ao lado, o gradiente de
durezas obtidos conforme o esquema.......................................................................................57
Figura 26– Mola de aço carbono com 0,70 – 0,80% C, temperada em óleo para uma dureza
de “RA” 72,4 – 75,2. A dimensão de 2,968 polegadas tem uma estreita faixa de tolerância (±
0,002)........................................................................................................................................58
Figura 27– Detalhe da fixação do estabilizador indicando a posição do parafuso. Na foto ao
alto, vista em corte do conjunto da porca com o pedaço remanescente do parafuso, após a
ruptura. .....................................................................................................................................60
Figura 28– Vista geral da superfície da fratura. As setas indicam a região de início da falha
num plano que contém o fundo do filete de rosca. ...................................................................61
Figura 29– Reprodução do desenho esquemático da embutidora feito pelo fabricante.
Algumas informações adicionais tais como a seqüência da falha e as modificações do projeto
foram acrescidas ao desenho pelo solicitante..........................................................................64
Figura 30– Esquema representando a mudança de projeto para o encaixe da tampa. O pino
foi soldado ao dispositivo de aperto e depois foi aderida uma camada protetora contra
corrosão de aço inoxidável. .....................................................................................................65
Figura 31– Fotografia da parte do pino fraturado indicando o ponto de solda e
esmerilhamento da superfície de fratura. Aumento: 0,7x. .......................................................66
Figura 32–Fotografia indicando as regiões da fadiga, quais sejam, a lisa e a fibrosa.
Aumento: 1,7x...........................................................................................................................66
Fadiga e Análise de Falhas 4
Figura 33– Estrias de fadiga observadas na superfície fibrosa, caracterizadas por linhas
paralelas dispostas radialmente a partir do ponto inicial da fadiga. As estrias são formadas
devido a deformação plástica localizada na ponta da trinca que se propaga.........................67
Figura 34– Fotomicrografia obtida do núcleo do pino, indicando a microestrutura ferrítica e
perlítica com linhas de fluxo do material devido a laminação. Aumento: 50x; ataque: nital
2%.............................................................................................................................................68
Figura 35– Microestrutura ferrítica e perlítica com tamanho de grão em torno de 8 ASTM
que caracteriza a superfície do pino. Aumento: 100x; ataque: nital 2%.................................68
Figura 36– Condição microestrutural numa região intermediária entre a superfície e o
núcleo do pino. Observa-se a variação do tamanho de grão e a formação de perlita
esferoidizada. Aumento: 100x; ataque: nital 2%. ....................................................................68
Figura 37– Tamanho de grão em torno de 6 ASTM junto ao núcleo do pino com matriz
ferrítica e perlita esferoidizada. Observa-se também o alinhamento microestrutural devido a
laminação. Aumento: 100x; ataque: nital 2%..........................................................................69
Figura 38– Diagrama de Goodman do pino fraturado mostrando que o seu projeto quanto a
resistência a fadiga não foi adequado, pois o ponto indicado acima da linha limite da zona de
dispersão prevê uma possível ruptura por fadiga. ...................................................................71
Figura 39– Imagem mostrando as duas peças recebidas para análise de falha. Uma delas
apresenta uma trinca conforme a próxima figura. Aumento: 0,3x. .........................................72
Figura 40– A seta indica a ruptura que inutilizou a chapa de apoio para molas. Aumento:
0,8x. ..........................................................................................................................................73
Figura 41– Vista de topo mostrando o acabamento superficial da região da chapa cortada
por guilhotina numa região simétrica àquela trincada. Na direita, metalografia indicando a
presença de uma trinca semelhante a que resultou na falha da peça, bem como as linhas de
fluxo oriundas da fabricação. Aumento: 6x e 200x; ataque: nital 2%.....................................73
Figura 42– Vista da região crítica. Notam-se, junto à aresta, os pontos onde ocorreu
deformação plástica localizada durante o processo de estampagem. Porém, esta metalografia
é referente a chapa isenta, o que determina que os pequenos pontos concentradores de tensão
formam-se já na fabricação da peça. Aumento: 6x e 200x; ataque: nital 2%. ........................73
Figura 43– A montagem mostra os micromecanismos de fratura correspondentes às regiões
indicadas na macrografia da fratura. Região próxima ao início da falha com clivagem (a);
direcionamento da fratura característico da região de propagação (b); região próxima a
Fadiga e Análise de Falhas 5
imobilização da trinca com a formação de clivagem e alguns indícios de coalescências de
microcavidades (c). ..................................................................................................................74
Figura 44– Metalografia de uma seção longitudinal simétrica àquela trincada. Observa-se o
encruamento do material com fluxo seguindo o sentido do corte por guilhotina. Tamanho de
grão em torno de 7 ASTM. Aumento: 100x; ataque: nital 2%. ................................................74
Figura 45– Microestrutura ferrítica com pequena quantidade de perlita e cementita
esferoidizada. Aumento: 500x; Ataque: nital 2%.....................................................................75
Figura 46- Esquema mostrando a nomenclatura utilizada neste trabalho..............................77
Figura 47- Imagem mostrando a superfície de fratura, observam-se as regiões distintas da
fratura. Aumento: 1x. ...............................................................................................................79
Figura 48- Micrografias mostrando regiões onde ocorreu formação de martensita não
revenida. Ataque: nital 3%. Aumento:180x..............................................................................79
Figura 49- A esquerda observa-se a superfície de fratura nucleada no raio de concordância.
A imagem da direita mostra as trincas radiais no raio de concordância. Aumentos: 0,8 e 6x
respectivamente. .......................................................................................................................80
Figura 50– Detalhe do plano de propagação desenvolvido numa extensa superfície que
abrange mais que 50% do total da seção resistente. Aumento: 0,6x. ......................................81
Figura 51– Macrografia mostrando a região temperada por indução (a) e a região do núcleo
(b). Observa-se que o término da camada temperada por indução ocorre imediatamente antes
do início do raio de concordância. Aumento: 12x. ..................................................................81
Figura 52– A imagem mostra alinhamento de inclusões na direção ortogonal à pista de
rolamento, próximo ao início da falha. Aumento: 500x. Sem ataque. .....................................82
Figura 53– A imagem mostra o extensômetro colado ao componente que permitiram medir a
variação de tensão com a progressiva relaxação das tensões residuais conforme a região era
secionada. Aumento: 0,6x.........................................................................................................82
Figura 54- Peças recebidas para a análise. Aumento 0,2X.....................................................83
Figura 55- À esquerda a fratura iniciada no munhão do virabrequim. A seta A indica o início
da fadiga e a seta B a zona onde aconteceu a ruptura final. À direita, fratura iniciada no
moente do virabrequim. Aumentos de 1,7X e 2,7X respectivamente........................................84
Figura 56- Inclusões presentes nos virabrequins. Observa-se a presença de Sulfeto de
Manganês (MnS). Aumento: 100x, Sem Ataque. ......................................................................84
Fadiga e Análise de Falhas 6
Figura 57- Microestrutura embaixo da camada temperada. Observa-se uma matriz perlítica
com ferrita em contornos de grão, com um tamanho grosseiro, em média de 1 ASTM.
A)Virabrequim 1, b) Virabrequim 2, c)Virabrequim 3. Aumento 100X. Ataque Nital 2%. .....85
Figura 58- A esquerda observa-se a região do início da falha (indicado pela seta) no raio de
concordância do virabrequim 2. A direita, início da falha no virabrequim 1. Zona de
transição da camada e o núcleo, com martensita revenida e perlita fina, além de ferrita nos
contornos de grão. O ponto de início também está indicado pela seta. Aumentos de 200X.
Ataque Nital 2%. ......................................................................................................................85
Figura 59- A esquerda fotografia obtida a partir de luz polarizada, mostrando perlita fina e
ferrita nos contornos de grão. À direita martensita revenida e ferrita nos contornos de grão
na região da camada temperada. Virabrequim 1. Aumento 750X e 1000X respectivamente.
Ataque Nital 2%. ......................................................................................................................86
Figura 60– Alinhamento de nódulos partindo do raio de concordância. Aumento: 20x.........89
Figura 61– Imagem mostrando o local de nucleação da fratura, um ressalto próximo ao raio
de concordância como indicam as marcas de praia. Aumento: 1,15x.....................................89
Figura 62–Micrografia do defeito responsável pela nucleação da fratura. Pode-se observar
que o defeito é um vazio no material........................................................................................90
Figura 63- A esquerda observa-se a formação de uma película de óxidos em contorno de
células. A esquerda observa-se a ocorrência de microrrechupes na região próxima ao início
da falha. Aumentos: 25 e 40x. ..................................................................................................90
Figura 64– Macrografia mostrando a superfície da fratura do virabrequim indicando o
início da falha num ponto abaixo da camada temperada. Aumento: 1x..................................91
Figura 65– Micrografias mostrando a presença de microrrechupes na região de início da
falha. Aumentos: 90x. ...............................................................................................................91
Figura 66- Peças recebidas para a análise. Aumento 0,3X.....................................................92
Figura 67- A esquerda falha no virabrequim 87 e a direita no virabrequim 30. Este último
apresentado um amassamento maior. A seta A indica a zona de início, seta B indica a zona de
ruptura final. Aumento 1,8X e 1,4X respectivamente...............................................................93
Figura 68- Imperfeições no raio de concordância de um dos virabrequins, aumento 1,35X..93
Figura 69- À esquerda, inclusões e microrrechupes alinhados. À direita microrrechupes e
agulhas de grafita mal formada. Amostra sem ataque. Aumento 115X e 285X.......................94
Figura 70- À esquerda, em uma das amostras, a seta indicando a superfície de fratura. A
microestrutura é formada por uma matriz perlítica com nódulos deformados de grafita e
Fadiga e Análise de Falhas 7
ferrita nos contornos de grão. Observa-se o alinhamento de inclusões e microrrechupes na
parte superior. À direita alinhamento de inclusões e microrrechupes na amostra do outro
componente. Aumento 135X e 100X respectivamente, ataque Nital 2%..................................94
Figura 71- À esquerda observa-se agulhas de martensita e austenita retida, com a presença
de microrrechupes. À direita, martensita, austenita retida e nódulos de grafita, além de um
microrrechupe (seta). Estas microestruturas foram observadas na camada temperada de um
dos componentes. Aumentos de 570X e 287X respectivamente................................................94
Figura 72– Imagem mostrando o componente analisado. Observa-se uma ruptura ao centro
(a) e rupturas nas extremidades (b). ........................................................................................97
Figura 73–Detalhe (b). Aspecto de ruptura por sobrecarga com linhas radiais seguindo a
partir de toda a aresta de mudança de seção...........................................................................97
Figura 74– Detalhe (a) da fratura central vista na figura 72. Observam-se as linhas radiais
partindo do vértice superior direito indicado pelo retângulo..................................................97
Figura 75– Detalhes da região crítica indicada na figura 73. A imagem a esquerda evidencia
as marcas radiais partindo do vértice. A imagem à direita, com maior ampliação, evidencia
uma pequena superfície lisa com aspecto de fadiga. ...............................................................98
Figura 76- A região de início da fratura vista em MEV apresenta marcas de praia bem
definidas. ..................................................................................................................................99
Figura 77- As imagens indicam o aspecto diversificado de micromecanismos de fratura sobre
a região inicial da fadiga. A esquerda, um micromecanismo típico de fadiga. A direita, um
aspecto intergranular próximo à superfície. ............................................................................99
Figura 78– Micromecanismos observados na região de propagação da fadiga. Observam-se
facetas de clivagem em segundas fases indicadas pelas setas. ................................................99
Figura 79– Imagens da região de propagação da fadiga. Observam-se, aqui também, facetas
de clivagem em segundas fases indicadas pela seta. À direita, já no final da propagação,
observa-se coalescimento de microcavidades........................................................................100
Figura 80– Ruptura final com coalescimento de microcavidades circundando os carbonetos
esferoidizados. ........................................................................................................................100
Figura 81– Aspecto da face retificada na qual iniciou o processo de fadiga. Foi aplicado um
ataque com nital 10% que revelou os carbonetos alinhados (placas claras). Observa-se, a
esquerda, uma trinca secundária seguindo um alinhamento. À direita, outra trinca
secundária oriunda de um “pitting” de corrosão. .................................................................100
Fadiga e Análise de Falhas 8
Figura 82– Aspecto superficial da face retificada junto à fratura. Aqui se confirma a
presença de carbonetos alinhados e “pittings” oriundos, provavelmente, do arrancamento de
carbonetos. .............................................................................................................................101
Figura 83– Espectro de microssonda EDS aplicada a uma das fases. Trata-se de carbonetos
com traços de vanádio, cromo e ferro....................................................................................101
Figura 84- Microtrinca partindo da parede externa logo abaixo da superfície de fratura. Sem
ataque; aumento: 100x. ..........................................................................................................102
Figura 85- Microestrutura do material formada por uma matriz martensítica revenida e uma
rede de carbonetos primários. Ataque: reativo de Villela; aumento: 50x. ............................102
Figura 86- Detalhe da imagem anterior, onde observa-se a formação de carbonetos
primários aciculares mas também outros alongados, compondo a rede. Ataque: reativo de
Villela; aumento: 200x. ..........................................................................................................102
Figura 87- A imagem mostra a mesma microestrutura anterior, agora com ataque de nital
10%. Observam-se grãos de pequeno tamanho formando uma matriz martensítica revenida e
carbonetos dispersos, além de um carboneto alongado. Aumento: 200x. .............................103
Figura 88- Microestrutura em detalhe da matriz do material. Grãos martensíticos com
pequeno tamanho (em torno de 9 ASTM) e carbonetos esferoidizados dispersos. Ataque: nital
10%; aumento: 1000x.............................................................................................................103
Figura 89– A imagem mostra os itens levados ao laboratório para análise. Em (a), com 0,4x
de magnificação, observa-se o pistão e as partes da biela com os parafusos, além das partes
fraturadas do comando de válvulas. Em (b), com 0,6x, os quatro parafusos separados para
ensaios mecânicos retirados aleatoriamente das demais bielas. ...........................................106
Figura 90– Imagem mostrando a ruptura da base do motor que permitiu a passagem da parte
da biela 4 ao exterior. A seta indica a superfície de fratura do parafuso. Aumento de 0,8x. 106
Figura 91– Vista da parte superior do pistão 3 e 4. A seta indica uma marca de contato com
uma válvula. Aumento de 0,3x................................................................................................107
Figura 92– Vista da parede interna da camisa do pistão 4. Nenhuma marca que indicasse
desalinhamento de montagem foi verificada. Aumento de 0,7x. ............................................107
Figura 93– Superfícies de fratura dos dois parafusos da biela 4 (aumento de 1,5x). Em (a),
ruptura dúctil por sobrecarga. Em (b), ruptura lisa típica de fadiga. Detalhes com 6x. ......108
Figura 94– Em (a), imagem com 20x de aumento mostrando o início da falha do parafuso
fadigado. Em (b), com 60x de aumento, um evidente defeito em outra estria vizinha à
anterior. ..................................................................................................................................109
Fadiga e Análise de Falhas 9
Figura 95– Macrografia com 6x de aumento da superfície de fadiga, à esquerda. A direita,
detalhe da região (a) junto ao final do processo de fadiga, onde já observam-se
microcavidades coalescidas. ..................................................................................................109
Figura 96– Superfícies de fratura do comando de válvulas. Nenhuma delas indicou algum
sinal de mecanismo de fadiga. Aumento de 1,1x....................................................................109
Figura 97– Detalhes do processo de fadiga do segundo parafuso (rompido no ensaio de
tração). Em (a) vista com 8x de aumento de um dos lados da fratura onde indica-se o início
da fadiga, a propagação lisa e a ruptura fibrosa por tração e depois a ruptura por
cisalhamento final. Em (b), com aumento de 20x, detalhe do início da fadiga em um defeito
superficial. ..............................................................................................................................111
Figura 98– O outro lado da fadiga da figura anterior. Em (a), com 15x de aumento, notam-se
as marcas de praia a partir do ponto inicial. Em (b), detalhe com ampliação de 60x do
defeito que originou o processo de fadiga. ............................................................................111
Figura 99– O início da fadiga do parafuso ensaiado em tração, como visto nas imagens
anteriores, foi em uma região da superfície onde se observa uma trinca. A imagem indica,
ainda, a microestrutura martensítica revenida do material. Ataque: nital 2%; aumento: 255x.
................................................................................................................................................112
Figura 100- Dobra de conformação em uma estria ao lado daquela da imagem anterior. À
esquerda, vista com 250x de aumento. À direita, detalhe com 750x. Ataque: nital 2%. .......113
Figura 101–Fotomicrografia mostrando uma dobra de um dos parafusos rompidos no ensaio
de tração. Nota-se, também, uma trinca propagando ao lado. Ataque: nital 2%; aumento:
540x. .......................................................................................................................................113
Figura 102– À esquerda, com 250x de aumento, fotomicrografia de uma seção transversal
próxima ao lugar de início da fadiga que originou a falha do parafuso do motor. Observa-se
um defeito superficial (dobra). À direita, detalhe com 500x de aumento. Ataque: nital 2%. 113
Figura 103- Esquema mostrando a região dos componentes que foi denominada neste
trabalho como sendo a região inferior e superior das palhetas. ...........................................116
Figura 104– A figura mostra a região da turbina onde desenvolveu-se uma fadiga em um dos
componentes. Aumento 1,5x. ..................................................................................................117
Figura 105– A imagem mostra as marcas de praia características de uma falha por fadiga
indicando propagação devido a cargas de flexão rotativa. Aumento 8x. ..............................118
Fadiga e Análise de Falhas 10
Figura 106– Macrografia mostrando uma descontinuidade oriunda do processo de fundição,
que acarretou na ruptura de parte da palheta por sobrecarga, após a ruptura do eixo por
fadiga. Aumento 6x. ................................................................................................................118
Figura 107– Micrografia mostrando aspecto de fadiga na superfície de fratura da palheta.
Aumento 158x. ........................................................................................................................118
Figura 108- A imagem mostra outra região da palheta da turbina onde ocorreu propagação
por fadiga junto a parte da frente da palheta. Aumento 306x. ..............................................119
Figura 109- Micrografia da última parte que rompeu, da mesma palheta da imagem anterior,
mostrando planos de clivagem, indicando fratura frágil. Aumento 817x. MEV....................119
Figura 110– Microestrutura da liga GMR 235. Matriz formada por solução sólida γ e
contornos interdendríticos. Aumento 100x.............................................................................120
Figura 111– Microestrutura de liga IN 713C. A matriz também é formada por solução sólida
γ, com fases γ’ primário (fases claras), além da formação de Widmanstatem (fase σ) e
carbonetos em contorno de célula. Aumento 200x.................................................................120
Figura 112- Micrografia mostrando a morfologia típica das superfícies fraturadas.
Micromecanismos de fratura interdendrítica, com a formação de coalescência de
microcavidades nos contornos de células e planos separando as dendritas. Aumento 113x.
MEV........................................................................................................................................122
Figura 113- Micrografia que mostra a grande quantidade de microrrechupes formados e
distribuídos em toda a seção resistente de uma das palhetas analisadas. Observa-se, ainda, a
presença de carbonetos metálicos em contornos dendríticos. Aumento 100x. ......................122
Figura 114- A imagem mostra outra palheta analisada. Observa-se que aqui também ocorre
a formação de microrrechupes. Microestrutura formada por solução sólida γ com carbonetos
dispersos em contornos dendríticos. Aumento 400x. .............................................................122
Figura 115- A imagem evidencia uma região da superfície de fratura de um dos componentes
onde se verificou uma inclusão de casca cerâmica. Aumento 1,5x........................................123
Figura 116- Detalhe da região da palheta onde foi encontrada uma inclusão de casca do
molde oriunda do processo de vazamento do material na fundição. A falha deste componente
partiu deste defeito. Aumento 6x. ...........................................................................................123
Figura 117- A imagem indica a região de inicio da fratura, junto a uma extensa porosidade
oriunda da fundição. Nota-se a presença de uma outra grande porosidade na seção da
palheta adjacente a rompida. Aumento 1.5x. .........................................................................123
Fadiga e Análise de Falhas 11
Figura 118– Macrografia mostrando a fratura da turbina que rompeu na base da palheta.
Nota-se, também, a extensa deformação plástica de outras palhetas vizinhas à rompida. ...124
Figura 119– Macrografia mostrando a fratura da turbina que rompeu no meio da palheta.
................................................................................................................................................125
Figura 120– Macrografia mostrando a fratura na base da palheta, onde pode ser observada
a presença de poros no início da falha, o que diminui a seção resistente facilitando a ruptura.
................................................................................................................................................125
Figura 121– Macrografia mostrando a presença de poros na base de outra palheta da mesma
turbina da figura 118..............................................................................................................126
Figura 122– Macrografia mostrando a fratura da palheta que rompeu no meio. Observam-se
marcas de fadiga. ...................................................................................................................126
Figura 123– Micrografia em microscópio eletrônico de varredura (MEV) mostrando a
superfície fadigada (zona elíptica lisa) e posterior zona de separação interdendrítica........126
Figura 124– Micrografia mostrando as microestruturas das duas turbinas. A esquerda
observa-se uma microestrutura formada por solução sólida γ, contornos interdendriticos bem
definidos e fases γ primário (fases claras em contorno). A direita observa-se uma
microestrutura semelhante, porém com a presença de microrrechupes e uma estrutura mais
grosseira. Ataque: Villela. Aumento: 100x. ...........................................................................127
Figura 125– Macrografia de um dos coxins recebidos. As setas indicam os esforços de
montagem do polímero elastômero ao suporte de alumínio. Aumento: 0,5X. .......................128
Figura 126– Macrografia de um coxim mostrando a trinca encontrada. Aumento: 4X.
Macrografia do mesmo coxim mostrando a superfície da trinca separada. Aumento: 1,25X.
................................................................................................................................................129
Figura 127– Macrografias da mesma superfície onde observa-se uma grande quantidade de
poros. Aumentos: 8X (esquerda), 14X (direita). ....................................................................129
Figura 128– Imagem no MEV da superfície fraturada mostrando mecanismos de fratura por
clivagem. Aumento: 1062X.....................................................................................................129
Figura 129– Imagens em MEV mostrando os poros da superfície de fratura. Aumento: 54X
(esquerda), 111X (direita). .....................................................................................................130
Figura 130– Micrografia mostrando a microestrutura da região próxima à falha, onde se
observam sludges provenientes da escória e as partículas de silício eutético na matriz.
Aumento: 200X. Sem ataque...................................................................................................130
Fadiga e Análise de Falhas 12
Figura 131– Micrografia mostrando a microestrutura da mesma região, onde pode-se
observar a presença de porosidades e microtrincas. Aumento: 200X. Ataque: HF 0,5%.....131
Figura 132– Análise química por microssonda. ....................................................................131
Figura 133- Macrografia de uma das barras. Observam-se os dois pontos de nucleação, a
extensa propagação a partir do ponto 1 caracterizada pelas evidentes marcas de praia e a
ruptura final, ao centro. Aumento: 2,6x. ................................................................................134
Figura 134– Micrografia da seção longitudinal de uma das barras mostrando a região onde
iniciou a fratura. Observa-se a presença de trincas secundárias. Aumento: 100x. Ataque:
Nital 2%..................................................................................................................................134
Figura 135- Micrografia do núcleo da barra mostrando a estrutura de martensita revenida e
as inclusões presentes. Aumento: 500x. Ataque: Nital 2%. ...................................................134
Figura 136- Micrografia mostrando as inclusões em uma das barras. Aumento: 100x. Sem
ataque. ....................................................................................................................................135
Figura 137- Micrografia da seção transversal mostrando um defeito superficial. Aumento:
200x. Ataque: Nital 2%. .........................................................................................................135
Figura 138- Micrografia mostrando a região que apresentou descarbonetação. Aumento:
100x. Ataque: Nital 2%. .........................................................................................................135
Figura 139– Imagem mostrando a haste rompida com os discos de alumínio. As setas
indicam o local da fratura. Aumento: 0,1x.............................................................................137
Figura 140– A imagem mostra o aspecto da haste original recebida para comparação.
Aumento: 0,1x.........................................................................................................................138
Figura 141– Marcas de deformação causadas pelo contato de componentes diversos com os
discos de alumínio após o colapso. Aumentos: 0,1x e 1,1x....................................................138
Figura 142– As setas indicam marcas de desgaste oriundas do contato dos discos de alumínio
com a camisa de cilindro. Aumentos: 1,1x.............................................................................139
Figura 143– A imagem indica a diferença geométrica entre as saídas de rosca das duas
hastes, como indicam as setas. Observa-se, também, a deformaçào plástica imposta à porca
após a ruptura. Aumento: 0,3x. ..............................................................................................139
Figura 144– Aspecto da superfície da fratura onde observam-se marcas de praia
características de processos de fadiga. Aumento: 2x. ...........................................................140
Figura 145– Micrografias mostrando a microestrutura esferoidizada de baixa dureza da
haste rompida. Ataque: água régia; aumentos: 500 e 1000x. ...............................................141
Fadiga e Análise de Falhas 13
Figura 146– Micrografias indicando a microestrutura martensítica revenida com carbonetos
dispersos da haste original. Ataque: água régia; aumentos: 500 e 1000x. ...........................141
Figura 147– Micrografia apresentando uma trinca junto a diversas microtrincas. 40X. Sem
ataque. ....................................................................................................................................144
Figura 148– Micrografia apresentando, em detalhe, contornos de grão já com corrosão
intergranular. Aumento de 2356X. Ataque: Solução 40 e Murakami. ...................................144
Figura 149- (a) Região a qual é possível observar a condição da matriz. 100X. Ataque:
Solução 40 e Murakami (b) Depósito de óxido em contorno de grão. 450X. Ataque: Solução
40 e Murakami. (c) Camada de óxido de cerca de 50µm de espessura. 932X. Sem ataque..145
Figura 150– A imagem mostra carbonetos metálicos em contornos de grãos austeníticos e
maclas de deformação. 500X. Ataque: Solução 40 e Murakami............................................145
Figura 151– Espectro de energia dispersiva por raios-X realizado no contorno de grão de
uma das amostras. ..................................................................................................................146
Figura 152– Imagem mostrando a ruptura da engrenagem do redutor. Observam-se as
marcas de praia caracterizando a propagação de fadiga na direção da aplicação da força no
dente e nos dois sentidos. Aumento: 0,4x. ..............................................................................148
Figura 153– Detalhes da grande superfície de propagação da fadiga. A ruptura final, por
outro lado, apresenta menor área. Aumentos: 0,3x e 0,5x respectivamente..........................148
Figura 154– A imagem mostra, em detalhe, a região de início da falha, na interseção dos
fundos dos furos. As marcas de praia evidenciam a propagação a partir desta região.
Aumento: 2,2x.........................................................................................................................149
Figura 155– Microestrutura martensítica de elevado carbono encontrada na camada
cementada da engrenagem. À esquerda, 500x de aumento; à direita, detalhe a 1300x de
aumento. Ataque: nital 2%. ....................................................................................................150
Figura 156– Aproximando-se do final da camada cementada observa-se maior quantidade de
microestrutura bainítica. Aumento: 1000x; ataque: nital 2%. ..............................................150
Figura 157– No núcleo a engrenagem apresenta microestrutura predominantemente bainítica
com alguma quantidade de martensita e ferrita em contornos. À esquerda, aumento de 500x;
à direita, aumento de 1000x. Ataque: nital 2%......................................................................151
Figura 158– Perfil de microdurezas partindo da superfície do flanco do dente (na altura do
diâmetro médio) e seguindo perpendicularmente em direção ao núcleo...............................151
Figura 159– Curvas de Wöhler para corpos de prova lisos e entalhados.(1).........................153
Figura 160– Curva da/dN X ∆K típica do aço ASTM A533 B1.(2) .........................................153
Fadiga e Análise de Falhas 14
Figura 161– Visualização da engrenagem e do tipo de entalhe utilizado (Chevron Notch). 155
Figura 162- Distribuição de tensões na engrenagem contendo um furo passante na posição
dos furos da engrenagem fraturada. ......................................................................................157
Figura 163- Distribuição das tensões na engrenagem contendo um furo passante na posição
dos furos da engrenagem G-5. ...............................................................................................158
Figura 164- Detalhe da concentração de tensão no fundo do furo do modelo contendo os
furos e um defeito entre eles. ..................................................................................................159
Figura 165- Furo com trincas nos pontos de maior tensão trativa na direção tangencial a
superfície do furo. Trinca superior, à esquerda: 0,26 mm, KI = 2,46 MPa.m1/2. Trinca
inferior, a direita: 0,33 mm, KI = 2,52 MPa.m1/2...................................................................160
Figura 166- Após simulação da propagação das trincas. Trinca superior, esquerda: 10,3 mm,
KI = 4,32 MPa.m1/2. Trinca inferior, direita: 12,8 mm, KI = 5,36 MPa.m1/2.........................160
Figura 167- Curva de taxa de propagação de trinca por fadiga em função do fator de
intensidade de tensões cíclicas obtida através de ensaio para o material da engrenagem...162
Figura 168– Furo com trincas nucleadas em pontos de máxima tensão trativa na superfície.
................................................................................................................................................163
Figura 169– Modelo de elementos finitos da trinca propagada até aproximadamente 100 mm
(trinca inferior).......................................................................................................................163
Figura 170– Valores de K em função do tamanho de trinca na simulação por elementos
finitos. .....................................................................................................................................164
Figura 171– Curva de K vs. tamanho de trinca obtido através da simulação por elementos
finitos. .....................................................................................................................................164
Figura 172– Curva de tamanho de trinca vs. número de ciclos obtida através da simulação.
................................................................................................................................................165
Figura 173– Curva de K vs. número de ciclos obtida através da simulação. .......................165
Figura 174– Fotografia mostrando o caminhão após a falha com o suporte. ......................169
Figura 175– Vista de perfil ilustrando o chassi em seu estado original e após a colocação do
suporte utilizando o mesmo parafuso.....................................................................................169
Figura 176– Figura ilustrando as trincas na chapa de fixação e a posterior manutenção com
reparo de solda.......................................................................................................................169
Figura 177– Macrografia mostrando a peça após o colapso. Nota-se a separação das
extremidades da chapa circunvizinhas aos parafusos de fixação. O parafuso central perdeu-
se no colapso de forma que não pôde ser analisado. Aumento: 0,2x. ...................................170
Fadiga e Análise de Falhas 15
Figura 178– Figura mostrando o esquema da peça após a solda de reparo. As trincas
verticais reiniciam na solda de reparo devido ao maior nível de tensões cisalhantes na
região......................................................................................................................................170
Figura 179– Macrografia mostrando a região da solda de reparo com grande oxidação e a
propagação de trincas dentro do metal de solda. Aumento: 1,1x..........................................171
Figura 180– Macrografia mostrando a fratura do lado direito. Identificam-se as regiões de
fadiga perto do furo do parafuso e na solda, com maior oxidação, que iniciaram antes do
reparo. Após o reparo houve fadiga de baixo ciclo dando seqüência as fadigas iniciais nas
duas regiões. Finalmente observam-se as regiões de ruptura final. Os números 1 e 2 indicam
a 1a e a 2a frentes de fadiga. Aumento: 1,6x...........................................................................171
Figura 181– Macrografia mostrando a fratura do lado esquerdo, observa-se aqui uma maior
área de fadiga na zona do parafuso e a ocorrência de fadiga na solda de reparo. Após a
ruptura do parafuso central ocorreu uma fadiga de baixo ciclo na solda de reparo (parte
clara) e seguido de ruptura final. Os números 1 e 2 indicam a 1a e a 2a frentes de fadiga.
Aumento: 1,8x.........................................................................................................................172
Figura 182- Micrografia em MEV mostrando estrias de fadiga na segunda região. Aumento:
3360x. .....................................................................................................................................172
Figura 183– Macrografia mostrando uma trinca oxidada na solda do lado interno do perfil
”U” perto da fratura do lado direito. Aumento: 1x. ..............................................................172
Figura 184– Macrografia mostrando a propagação de uma trinca na solda da chapa
triangular soldada no fundo dos perfis “U”. Aumento: 1,5x.................................................173
Figura 185– Figura ilustrando a solicitação sofrida pela estrutura em serviço...................174
Figura 186– Esquema mostrando os pontos de maior solicitação e a propagação da trinca
por fadiga. O esforço na região de fixação pode ser resumido a um momento fletor devido ao
peso do estepe. A vibração em serviço determina uma solicitação dinâmica propícia para
processos de fadiga. ...............................................................................................................174
Figura 187– Esquema mostrando o espaço criado pela vibração em serviço devido a falta de
apoio na parte inferior. Nota-se a possibilidade de fadiga no ponto D.................................175
Figura 188– Gráfico mostrando os resultados do perfil de microdurezas. ...........................176
Figura 189– Micrografia mostrando o metal base da chapa. Observa-se uma grande
quantidade de ferrita com pouca perlita, típico de um aço SAE 1010. Ataque: nital 3%.
Aumento: 100x........................................................................................................................176
Fadiga e Análise de Falhas 16
Figura 190– Micrografia mostrando a zona afetada pelo calor onde ocorreu um refinamento
granular. Matriz ferrítica e perlítica próximo a solda de reparo. Ataque: nital 3%. Aumento
100x. .......................................................................................................................................176
Figura 191- Micrografia mostrando o metal de solda. Crescimento de grãos colunares
seguindo o fluxo de resfriamento da poça de fusão. Matriz formada por ferrita acicular e
estrutura de Widmanstätten. Ataque: nital 3%.Aumento: 100x. ............................................177
Figura 192- Micrografia mostrando o metal de solda com trincas e defeitos internos que
fragilizam a estrutura. Ataque: nital 3%. Aumento: 50x. ......................................................177
Figura 193– Macrografia mostrando a falha do tubo junto a solda “costura”(ERW). ........179
Figura 194– Detalhe da região de ruptura do tubo mostrando a região provável de início da
falha, que apresentou maior deformação...............................................................................179
Figura 195– Imagem mostrando uma das superfícies de fratura da solda ERW. Nota-se uma
linha arredondada escura que segue por todo o comprimento da trinca. Uma fina camada
metálica envolvia tal linha antes da separação. O restante da fratura é formado apenas por
cisalhamento final. .................................................................................................................180
Figura 196– O outro lado da fratura apresenta apenas cisalhamento como mecanismo da
falha e uma separação, também por cisalhamento, que coincide sua posição com a
descontinuidade da outra superfície. .....................................................................................180
Figura 197- Espectro representativo das análises por microssonda sobre a camada oxidada.
Nota-se a formação básica de óxido de ferro. Alguns elementos tais como silício e molibdênio
também aparecem por estarem presentes no substrato (matéria prima)...............................181
Figura 198– Micrografia da superfície da falha obtida em MEV após a limpeza com reagente
de Clark. .................................................................................................................................181
Figura 199– Micrografia em MEV mostrando a figura 198 em maior aumento detalhando a
linha de óxidos de ferro intrínseca ao material. ....................................................................182
Figura 200– Micrografia em MEV mostrando a região da falha no sentido transversal.
Amostra extraída junto ao início da falha (região de maior deformação plástica
macroscópica). .......................................................................................................................183
Figura 201– Micrografia em MEV mostrando com maior aumento a região da falha onde
observa-se a linha da solda tangenciando o defeito. .............................................................183
Figura 202– Micrografia em MEV detalhando a superfície da falha onde observa-se a
presença de óxidos de ferro na superfície e dentro da chapa. O perfil da separação
acompanha as linhas de fluxo do material.............................................................................183
Fadiga e Análise de Falhas 17
Figura 203– Micrografia em MEV mostrando a região da figura 202 com maior aumento,
detalhando a presença de óxidos de ferro (hematita). ...........................................................184
Figura 204– Micrografia em MEV da região da figura 204 com maior aumento, onde
observa-se o óxido de ferro dentro da chapa. ........................................................................184
Figura 205– Micrografia em MEV da mesma região das figuras de 202 a 204, com maior
aumento, destacando o óxido de ferro presente. ....................................................................184
Figura 206– Micrografia em MEV mostrando a superfície de fratura próximo a parede
interna do tubo onde se observa a presença de óxidos de ferro junto a superfície de fratura.
................................................................................................................................................185
Figura 207– A mesma região da figura 14 com maior aumento destacando os óxidos de ferro
junto a superfície de fratura. ..................................................................................................185
Figura 208– Micrografia em MEV de outra região junto a superfície separada apresentando
óxidos de ferro na superfície de fratura e dentro da chapa. ..................................................185
Figura 209– Micrografia em MEV de outra região junto a superfície de fratura
apresentando, também, óxidos de ferro junto a superfície e dentro da chapa do tubo. ........186
Figura 210– Micrografia em MEV da mesma região da figura 17 com maior aumento,
destacando a presença de óxidos de ferro dentro da chapa. .................................................186
Figura 211– Espectro da análise por microssonda das descontinuidades encontradas,
identificando-as como óxido de ferro.....................................................................................186
Figura 212– Espectro da análise por microscopia Raman dos óxidos de ferro encontrados na
superfície da falha e de dentro da chapa. ..............................................................................187
Figura 213– Espectros de microscopia Raman encontrados no trabalho realizado por
R.K.Singh Raman (Laser Raman Spectroscopy: a Technique for Rapid Characterisation of
Oxide Scale Layers)................................................................................................................187
Figura 214– Espectro por microscopia Raman de óxidos encontrados na superfície da chapa
do tubo, e por comparação com a literatura, identificados como óxido de ferro do tipo
hematita. .................................................................................................................................188
Figura 215– Micrografia em MEV mostrando inclusões dentro da chapa e próximo a
superfície em uma região longe das regiões da solda. ..........................................................188
Figura 216– Micrografia em MEV com maior aumento da região das inclusões.................188
Figura 217– Micrografia em MEV mostrando dobras de laminação junto a superfície e
próximo a solda ERW.............................................................................................................189
Figura 218– Micrografia em MEV detalhando a dobra de laminação. ................................189
Fadiga e Análise de Falhas 18
Figura 219– Micrografia em MEV da microestrutura da chapa do tubo que rompeu..........189
Figura 220– Micrografia em MEV destacando a segregação de manganês. ........................190
Figura 221– Corpos de prova utilizados no teste de tração à quente, utilizando latão e cobre
na superfície dos corpos de prova..........................................................................................193
Figura 222– Teste de susceptibilidade a corrosão intergranular..........................................193
Figura 223– Amostra de um tubo apresentando diversas trincas na região curva. ..............194
Figura 224– Micrografia em MEV da superfície de uma das amostras trincadas mostrando a
ocorrência de diversas trincas de forma intergranular. ........................................................195
Figura 225– Micrografia em MEV de uma das trincas salientando o aspecto de fratura
intergranular. .........................................................................................................................195
Figura 226– Micrografia em MEV de seção transversal mostrando diversas trincas. .........196
Figura 227– Micrografia em MEV de seção transversal mostrando uma trinca com
profundidade em torno de 800 microns..................................................................................196
Figura 228– Micrografia em MEV de outras trincas na mesma amostra da figura 226. .....196
Figura 229– Micrografia em MEV mostrando o aspecto intergranular da trinca e da camada
rugosa formada em cima dos grãos. ......................................................................................197
Figura 230– Espectro por EDS da camada rugosa, mostrando ser óxido de cromo. ...........197
Figura 231– Micrografia em MEV de uma outra trinca intergranular, destacando a camada
formada em cima do grão do material. ..................................................................................197
Figura 232– Espectro da análise por EDS mostrando a presença de cobre. ........................198
Figura 233– Micrografia em MEV mostrando a superfície de uma das amostras apresentando
um depósito que apresentou cobre e cloro, identificado por análise EDS como mostra o
espectro abaixo.......................................................................................................................198
Figura 234– Espectro da análise por EDS do depósito encontrado na superfície da amostra
da figura 235. .........................................................................................................................198
Figura 235– Micrografia em MEV do aspecto superficial dos tubos, região não aquecida e
curva. ......................................................................................................................................199
Figura 236– Micrografia em MEV do aspecto superficial de outra amostra de tubo, região
não aquecida e curva..............................................................................................................199
Figura 237– Micrografia em MEV mostrando o ataque intergranular da amostra da figura
236 vista transversalmente. ....................................................................................................199
Figura 238– Micrografia em MEV mostrando outra região apresentando ataque
intergranular. .........................................................................................................................200
Fadiga e Análise de Falhas 19
Figura 239– Micrografia em MEV da fratura do c.p. de tração ensaiado a temperatura
ambiente. ................................................................................................................................201
Figura 240– Micrografia em MEV da microestrutura do c.p. de tração ensaiado a
temperatura ambiente mostrando a superfície sem trincas. ..................................................201
Figura 241– Micrografia em MEV do c.p. de tração ensaiado a 650oC mostrando o aspecto
de fratura por coalescimento de microcavidades. .................................................................202
Figura 242– Micrografia em MEV mostrando a região do centro da fratura, apresentando
coalescência de microcavidades. ...........................................................................................202
Figura 243– Micrografia em MEV da microestrutura do c.p. de tração a 650oC apresentando
pequenas trincas na superfície e grãos sensitizados. .............................................................202
Figura 244– Micrografia em MEV da microestrutura da mesma amostra da figura 245 com
maior aumento, destacando os grãos sensitizados.................................................................203
Figura 245– Micrografia em MEV da fratura do c.p. de tração ensaiado a temperatura de
900oC mostrando na superfície fratura intergranular e em direção ao centro coalescimento
de microcavidades ..................................................................................................................203
Figura 246– Micrografia em MEV da fratura no centro do c.p. mostrando micromecanismos
de coalescência de microcavidades........................................................................................204
Figura 247– Micrografia em MEV da microestrutura do c.p. de tração ensaiado a 900oC
mostrando trincas intergranulares na superfície do material com produtos de corrosão
dentro destas...........................................................................................................................204
Figura 248– Micrografia em MEV da microestrutura do c.p. de tração ensaiado a 900oC
mostrando trincas intergranulares na superfície do material com produtos de oxidação
dentro destas em outra região e com maior aumento. ...........................................................205
Figura 249– Micrografia em MEV do c.p. de tração ensaiado a 1000oC mostrando o aspecto
da fratura, onde se pode observar na superfície fratura intergranular e ao centro
coalescimento de microcavidades. .........................................................................................205
Figura 250– Micrografia em MEV mostrando com maior aumento a região da superfície do
c.p. apresentando fratura intergranular. ...............................................................................206
Figura 251– Micrografia em MEV mostrando o centro da fratura apresentando coalescência
de microcavidades. .................................................................................................................206
Figura 252– Micrografia em MEV da microestrutura do c.p. ensaiado a 1000oC mostrando
diversas trincas intergranulares.............................................................................................206
Fadiga e Análise de Falhas 20
Figura 253– Micrografia em MEV da microestrutura do c.p. ensaiado a 1000oC mostrando
diversas trincas intergranulares em outra região do c.p. ......................................................207
Figura 254– Micrografia em MEV da fratura do c.p. de tração a 1050oC com cobre na
superfície. ...............................................................................................................................207
Figura 255– Micrografia em MEV da fratura do c.p. de tração a 1050oC com cobre na
superfície com maior aumento. ..............................................................................................208
Figura 256– Micrografia em MEV da microestrutura mostrando trincas na superfície do c.p.
com produtos de corrosão no interior das trincas. Sem ataque químico...............................208
Figura 257– Micrografia em MEV da microestrutura mostrando trincas na superfície do c.p.
com produtos de corrosão no interior das trincas em outra região do c.p. Sem ataque
químico. ..................................................................................................................................208
Figura 258– Micrografia em MEV da fratura do c.p. de tração a 1050oC com latão na
superfície. ...............................................................................................................................209
Figura 259– Micrografia em MEV da fratura do c.p. de tração a 1050oC com latão na
superfície, com maior aumento. .............................................................................................209
Figura 260– Micrografia em MEV da microestrutura mostrando trincas na superfície do c.p.
com produtos de corrosão no interior das trincas. Sem ataque químico...............................210
Figura 261– Macrografia em câmera digital dos corpos de prova achatados. ....................210
Figura 262– Macrografia em câmera digital mostrando a superfície das dobras do teste de
amassamento onde não foram observadas trincas.................................................................211
Figura 263– Macrografia mostrando o componente recebido. Aumento: 0,1x.....................213
Figura 264– Imagens mostrando as superfícies de fratura do componente recebido. Observa-
se a presença de linhas radiais originadas em toda a circunferência. Aumento: 0,8x..........214
Figura 265– Macrografia mostrando a superfície de fratura contendo marcas de praia
concêntricas e linhas radiais oriundas da superfície. Aumento: 1,4x. ..................................214
Figura 266– Imagem mostrando a região do raio de concordância contendo profundas
marcas de usinagem. Aumento: 2x. ........................................................................................214
Figura 267– A esquerda observa-se uma descontinuidade na superfície do eixo. À direita,
após ataque com nital 10%, podem ser observadas manchas e alterações na microestrutura,
mostrando que há metal de solda. Aumento: 0,8x..................................................................215
Figura 268– Imagem mostrando a superfície de fratura. Observou-se uma superfície
amassada devido ao processo de fadiga e regiões de fratura intergranular. À direita, com
maior aumento, a região intergranular apresentando tamanho de grão grosseiro. .............215
Fadiga e Análise de Falhas 21
Figura 269– À esquerda, micrografia mostrando a região de início da falha. Observa-se a
presença de metal de solda (parte clara, a) e microestrutura martensítica (fase escura, b). À
direita, com maior aumento a região martensítica formada na zona termicamente afetada.
Ataque: nital 3%. Aumentos: 25x e 100x, respectivamente. ..................................................216
Figura 270– Micrografia mostrando a região central do eixo. Microestrutura formada por
bainita e ilhas de perlita. Ataque: nital 3%. Aumento: 100x. ................................................216
Figura 271– A Região 1 indica o início da fratura e a Região 2 indica a propagação da
fratura próxima à solda da haste lateral. Aumento: 0,2x. .....................................................219
Figura 272– Em A, a região 1 indica o início da fratura, a região 2 é próxima à solda da
haste lateral, a região 3 mostra as marcas de sargento e a região 4 as estrias da superfície.
Em B a seta indica a região de início da fratura. Aumento: 0,6x. .........................................219
Figura 273- A seta 1 mostra as marcas de sargento e a seta 2 as estrias da superfície da
fratura. Aumento: 0,6x. ..........................................................................................................220
Figura 274- Região próxima à solda da haste lateral. Aumento: 0,6x. .................................220
Figura 275- Em A, superfície lateral externa do eixo, sendo que a seta indica o início da
falha. Aumento: 1,2x. Em B, vários pontos de nucleação da fadiga e a seta indica uma
pequena marca concentradora de tensões. ............................................................................220
Figura 276– Em A observa-se uma trinca secundária e em B estrias de fadiga. ..................221
Figura 277– Em A é mostrado um degrau do material na região de início da fratura. Em B é
mostrado o coalescimento de microcavidades na região próxima à solda............................221
Figura 278– Em A é mostrada a microestrutura do eixo formada por ferrita e perlita.
Aumento 1000x; ataque Nital 3%. Em B observa-se uma estrutura bandeada, típica de
laminação. Aumento: 100x; ataque Nital 3%. .......................................................................222
Figura 279- Em A é mostrada a camada de ferrita na superfície da amostra. Aumento: 100x;
ataque: Nital 3%. Em B a seta indica a camada de óxido. Aumento: 500x; ataque: Nital 3%.
................................................................................................................................................222
Fadiga e Análise de Falhas 22
1 - FADIGA
Fadiga, por definição, é a ruptura progressiva que ocorre em componentes e estruturas
devido a solicitações dinâmicas e cíclicas.
Por volta do ano 1850, Wöhler estudou a ruptura de eixos ferroviários. Tais falhas
eram imprevisíveis para os engenheiros da época. Os eixos podiam fraturar após algumas
centenas de quilômetros em serviço, e, embora projetados de acordo com critérios de
resistência estática, as fraturas ocorriam sob condições de carregamento normal. Além disso,
não obstante ensaios de tração realizados no material antes da entrada em serviço revelarem
adequada ductilidade, a ruptura em serviço não apresentava sinais de apreciável deformação
plástica. Ainda mais intrigante era o fato de que ensaios de tração realizados no material após
a fratura em serviço apresentavam as características de ductilidade iniciais.
Apesar de não ter sido o primeiro pesquisador a estudar a fadiga, Wöhler tem o mérito
de ter adquirido resultados e métodos até hoje empregados. Há quase cento e cinqüenta anos
Wöhler batizou com a designação de fadiga de materiais as fraturas que ocorrem em situações
de baixa tensão nominal em componentes sujeitos a cargas que variam ciclicamente. Foi
notado que estas fraturas iniciavam normalmente junto a uma mudança de seção, na
vizinhança de entalhes ou qualquer descontinuidade do material. Wöhler realizou experiências
de fadiga em corpos de provas lisos não entalhados e isentos de fissuras pré-existentes,
concluindo que existia um valor mínimo da amplitude de tensão abaixo da qual o corpo de
prova não rompia, independente do número de ciclos de carga aplicados.
Normalmente, em serviço, a ruptura ocorre devido à aplicação de cargas cíclicas com
tensão máxima muito inferior ao limite de escoamento do material. Neste caso a falha ocorre
após um elevado número de ciclos com pouca deformação macroscópica. Considera-se, então,
esta falha como sendo fadiga de alto ciclo, regida pela tensão.
Por outro lado, quando flexionamos um fino arame de aço ao carbono, por exemplo,
no intuito de parti-lo, na verdade estamos submetendo-o à ruptura por fadiga. Bastam algumas
poucas flexões para rompê-lo. Neste caso estamos aplicando tensões acima do limite de
escoamento do material a solicitações de flexão alternada. A ruptura é regida pela deformação
do material e ocorre geralmente com um pequeno número de ciclos. Este tipo de fadiga é
conhecido como fadiga de baixo ciclo.
Fadiga e Análise de Falhas 23
A fadiga é, portanto, dividida em dois tipos. Fadiga de alto ciclo, que os pesquisadores
geralmente consideram como sendo aquelas que ocorrem com 103 ciclos ou mais, e fadiga de
baixo ciclo, que ocorrem com menos de 103 ciclos.
Para que ocorra uma falha por fadiga é necessário que três fatores sejam aplicados
simultaneamente no material: solicitações dinâmicas, solicitações de tração e deformação
plástica.
É importante salientar que, mesmo que uma peça não esteja submetida a um esforço de
tração simples, ela pode sofrer tração localizada. Um corpo de prova bi-apoiado que sofre
uma carga ortogonal, ou seja, uma solicitação de flexão unidirecional tem a mesma
configuração de tensões distribuída de forma que numa geratriz ter-se-á um elemento
infinitesimal com tensão máxima de compressão e, no elemento diametralmente oposto, será
verificada a tensão máxima de tração, conforme mostra a figura 1.
Figura 1– Representação esquemática do gradiente de tensões num corpo de prova bi-
apoiado com uma carga de flexão aplicada.
Com efeito, é comum ocorrer a falha por fadiga em materiais não submetidos a
esforços cíclicos de tração simples. Mais adiante, quando serão abordados os aspectos
macroscópicos da fadiga, será mostrado um esquema que relaciona as características
superficiais da fratura com os respectivos esforços que a originaram.
Outro detalhe que deve ser considerado é o fato de sempre ocorrer deformação plástica
envolvida numa falha por fadiga. Foi dito anteriormente que a fadiga de alto ciclo é regida
pela tensão aplicada. Todavia, apesar de às vezes não ser visível macroscopicamente, sempre
ocorre deformação plástica num processo de fadiga, mesmo que tal deformação seja
localizada apenas na ponta da trinca que progride.
Fadiga e Análise de Falhas 24
1.1 - TIPOS DE CARREGAMENTO CÍCLICOS
Para que haja fadiga de um componente é necessária a presença de um carregamento
cíclico ou variável com o tempo.
A tensão estática aplicada eqüivale à tensão média, simbolizada por σm. A amplitude
de tensão será simbolizada como σa , sendo σa a amplitude de tensão cíclica que provoca
ruptura por fadiga. As tensões máxima e mínima são simbolizadas por σmax e σmin ,
respectivamente, como ilustra a figura 2 a seguir.
Figura 2- Forma de carregamento onde a tensão varia senoidalmente com o tempo.
As cargas solicitantes cíclicas são geralmente classificadas em três categorias:
I – Carga estática, cujo valor permanece constante ao longo do tempo ou apresenta
variação tão lenta que o efeito de massa pode ser considerado desprezível (figura 3-I).
II – Carga repetida, cujo valor varia periodicamente, entre um máximo e zero (figura
3-II). A tensão média é igual a tensão alternante e a metade da tensão máxima.
III – Carga alternante (ou cíclica pura), cujo valor varia periodicamente, entre um
máximo positivo e um negativo, simétrico em relação ao eixo do tempo (figura 3-III). A
tensão média neste tipo é nula.
O caso geral de carga dinâmica pode ser estudado como a combinação dos casos I e III
de carga. (figura 3-IV)(2) e é determinada de carga flutuante.
Fadiga e Análise de Falhas 25
Figura 3– Tipos característicos de carregamento.
1.2 - CURVAS DE WÖHLER OU S-N
Pelo ensaio de uma série de corpos de prova com cargas repetidas de valor máximo
decrescente, verifica-se que o número de ciclos necessários para a ruptura aumenta
rapidamente. A curva limite inferior do campo de dispersão dos resultados obtidos pelo ensaio
descrito anteriormente é a curva de Wöhler ou S-N (figura 4). Em aços observa-se a existência
de um patamar abaixo da qual a peça não rompe, independente do número de ciclos. Este
valor de tensão é denominado limite de fadiga. Nem todos os materiais apresentam um limite
à fadiga específico. O alumínio é um exemplo, sendo então convencionado como o limite à
fadiga para estes materiais o valor de tensão máxima no qual não se observa ruptura em 107
ciclos. Para as tensões acima do limite de fadiga pode-se determinar a resistência à fadiga. A
figura 4 mostra um exemplo da determinação das curvas de Wöhler para trilhos CSN novos e
usados.
Fadiga e Análise de Falhas 26
Figura 4– Curvas de Wöhler para trilhos ferroviários novos e usados, utilizando flexão
em 4 pontos.
A curva de Wöhler tem a limitação de valer apenas para o tipo de carregamento para o
qual foram ensaiados os corpos de prova. Se houver mudança do carregamento, ou no caso de
juntas parafusadas, da protensão, novas curvas terão que ser levantadas para a previsão do
limite ou resistência à fadiga.
1.3 - DIAGRAMA DE GOODMAN
A relação entre a tensão média e a resistência a fadiga de qualquer componente pode
ser avaliada através do diagrama de Goodman. Existem outras formas de expressar esta
relação. Contudo, o diagrama de Goodman traz a vantagem de incorporar diversos dados,
como a resistência a fadiga sob as diversas condições de solicitações (alternada, repetida e
flutuantes), a resistência ao escoamento e a resistência a ruptura(3).
Para construir o diagrama, atribui-se ao eixo das ordenadas os valores da tensão média
e no eixo das abcissas, além dos valores da resistência à ruptura estática e a tensão de
escoamento, os valores de resistência à fadiga ou limite de resistência à fadiga, qualquer um
dos dois que seja pré-determinado.
Sendo assim, em posse dos corpos de prova ou peças a serem analisadas, estabelece-se
um valor padrão de número de ciclos para os ensaios, e determina-se o valor da resistência
quando da ruptura do componente.
Fadiga e Análise de Falhas 27
O diagrama mostra que a medida em que aumenta a tensão média, aumenta também a
resistência à fadiga e diminui a amplitude de solicitação. Isto até chegar ao nível de
escoamento quando, então, o aumento da tensão média não mais implica no aumento da
resistência, apesar de continuar diminuindo a amplitude.
Goodman nos dá, em função da tensão média, os valores de tensões máximas e
mínimas a partir dos quais não ocorre mais a ruptura. Esta se mostra como uma alternativa
melhor do que a abordagem convencional onde teriam de ser traçadas as curvas de Wöhler
para cada caso de carregamento.
O diagrama de Goodman na realidade é uma simplificação, em favor da segurança, do
diagrama de Smith que será abordado a seguir para um melhor entendimento da procedência e
construção do primeiro.
O diagrama de Smith está na figura 5, onde a curva superior do diagrama representa as
tensões máximas e, a inferior, as tensões mínimas. AO representa a resistência à fadiga sob
carga alternante (σRIII), caso onde a tensão média é zero. CD representa a resistência à fadiga
sob carga repetida (σRII) onde a carga mínima é igual a zero.
O ponto G representa a tensão de ruptura sob carga estática (σRI) onde σmáx = σmín. Se
o material resiste igualmente a solicitações de tração como compressão o diagrama é
simétrico nos quadrantes I e III.
Uma reta a 450, a partir de zero, representa a linha das tensões médias σm.
A partir do ponto E do diagrama, as tensões ultrapassam a tensão de escoamento σe.
Como o estudo da fadiga é feito geralmente para componentes estruturais ou elementos de
máquinas onde não é admitido grande deformação, a tensão máxima admissível não é mais
governada pela ruptura da peça mas sim pela deformação; então o gráfico é interrompido por
uma reta EF paralela ao eixo das σm. Por simetria a reta FD constitui o limite inferior.
Fadiga e Análise de Falhas 28
Figura 5- Diagrama de Smith para um componente com as mesmas propriedades em
tração e compressão.
É possível simplificar o diagrama de Smith substituindo as linhas de tensão máxima e
mínima por retas, unindo os pontos AE e BF, ou ainda mais simples unindo os pontos AG e
BG, e fazendo o mesmo procedimento para o terceiro quadrante. A segunda simplificação
sugerida equivale ao diagrama de Goodman. Os erros decorrentes desta simplificação são
pequenos e contribuem em favor da segurança.
Desta forma é possível traçar o diagrama de Smith e determinar a resistência à ruptura
σr para qualquer carga média σm pelo simples conhecimento da resistência à fadiga σRIII, da
tensão de escoamento σe e da tensão de ruptura sob carga estática σRI(4).
A figura 6 apresentada a seguir ilustra a forma final de um diagrama de Goodman
representativo de aços ao carbono para solicitações com tensão média maior ou igual a zero.
Fadiga e Análise de Falhas 29
Figura 6- Representação de diagramas de Goodman, na região positiva da tensão
média(5).
O parâmetro que determina o local do diagrama onde se encontra o componente é
chamado parâmetro angular, que é definido como a relação entre a tensão máxima e média
aplicadas ao mesmo. Para a reta das tensões médias o parâmetro angular é unitário,
aumentando conforme aproxima-se do ponto de carregamento repetido onde vale 2 (a tensão
máxima vale o dobro da tensão média).
m
máxaττ
=
O diagrama é constituído a partir de amostras que devem apresentar mesmas
características, quer dizer, na construção do diagrama para analisar o limite de resistência à
fadiga sob solicitação de flexão rotativa de um material qualquer, deve-se usinar e retificar as
amostras cilíndricas a partir da matéria prima buscando a uniformidade de tais amostras.
1.4 - ETAPAS DO PROCESSO DE FADIGA
Fadiga e Análise de Falhas 30
As rupturas promovidas por processos de fadiga distinguem-se por apresentarem três estágios
conhecidos. O primeiro estágio é o que abrange o período de nucleação da falha, onde a
iniciação ocorre devido à máxima tensão principal de cisalhamento a 450 com a tensão
principal de tração aplicada.
O segundo estágio compreende a propagação de uma trinca, na direção ortogonal a tensão de
tração. Finalmente ocorre a ruptura catastrófica, que é o terceiro estágio, no momento em que
a seção resistente diminui o suficiente para que não mais suporte um ciclo de carga e rompa
por sobrecarga.
1.4.1 - ESTÁGIO I – NUCLEAÇÃO DA FADIGA
As fraturas de fadiga normalmente iniciam na superfície do corpo de prova.
Considerando ensaios por torção, flexão e até mesmo por tração-compressão simples, a tensão
máxima sempre estará situada em algum ponto na superfície. Além disso, as fraturas por
fadiga começam como trincas microscópicas, logo são sensíveis mesmo a pequenas
concentrações de tensão.
É por este motivo que um corpo de prova para o ensaio de fadiga só será
representativo para avaliar as características de um determinado material se estiver isento de
qualquer defeito superficial (ou seja, polido). Todavia, podem ocorrer casos em que a falha
inicia no interior do corpo de prova ou no componente. As tensões residuais, descontinuidades
e defeitos internos podem deslocar o ponto de tensão máxima efetiva para o interior do
material, não sendo, desta forma, regra geral a nucleação da fadiga na superfície do
componente.
Pesquisas indicam que os processos de deformação plástica envolvidos num
mecanismo de fadiga são o escorregamento e a maclação. Ensaios foram realizados a 4 K de
temperatura para descartar a contribuição da energia térmica. Pode-se concluir que é possível,
então, haver fratura de fadiga sem ativação térmica, o que indica que processos de difusão não
são necessários para a formação de trincas de fadiga(6).
Um grande número de mecanismos de discordâncias tem sido propostos. Contudo, nenhum
deles é completamente satisfatório.
O escorregamento parece ser o fator predominante na fadiga da maioria dos metais a
temperaturas próximas à ambiente. Considerando temperaturas muito baixas em ensaios de
corpos de prova de aço ou ferro fundido, a maclação é provavelmente importante(6).
O tamanho e o número de bandas de escorregamento são função do número de ciclos e
da amplitude de tensão aplicada. Conforme aumenta o número de ciclos, aumenta o tamanho
e o número de bandas, assim como níveis de tensões mais elevados também produzem valores
maiores.
Fadiga e Análise de Falhas 31
As bandas de escorregamento, sob ação de cargas cíclicas, tendem a agrupar-se em
pacotes que formam ressaltos ou depressões, dependendo do tipo de solicitação conforme
pode ser observado na figura 7. A formação de tais depressões está ligada à orientação do
cristal junto à superfície, sendo favorecida se a direção de cisalhamento for normal à
superfície.
Uma conseqüência do movimento de discordâncias durante a fadiga é a possível
ocorrência de pequenas e localizadas deformações chamadas de intrusões e extrusões. Uma
extrusão é uma pequena porção de material extrudada a partir da superfície da banda de
escorregamento. As intrusões, ao contrário, aparecem como cavidades em tais bandas. Essas
perturbações superficiais têm altura aproximada entre 1 e 10 µm e aparecem a cerca de um
décimo da vida total da amostra.
A nucleação, com efeito, é a etapa de um processo de fadiga que compreende a
formação de uma pequena trinca (não ultrapassando cinco grãos do material) que segue numa
direção a 450 em relação a tensão principal responsável pela falha. A trinca formada nesta
etapa é produzida pela máxima tensão principal de cisalhamento.
Figura 7– Fotomicrografia demonstrando intrusões e extrusões na superfície(10).
Fadiga e Análise de Falhas 32
Figura 8– Diferença nos perfis da superfície, onde as bandas de escorregamento
interceptam a superfície. (A) Deformação unidirecional. (B) Deformação alterada(7).
1.4.2 - ESTÁGIO II – PROPAGAÇÃO
A propagação corresponde ao crescimento da trinca num plano perpendicular à direção
da tensão normal principal. Este segundo estágio é o mais característico da fadiga. É sempre
visível a olho nu e pode corresponder a uma grande parte da seção resistente. As tensões de
tração provocam o crescimento da trinca neste estágio.
No momento em que a concentração de tensões produzida pela fissura da nucleação
for alta o suficiente, a direção de 450 muda para um plano perpendicular à tensão normal
principal que atua no elemento. Desta forma a trinca passa a crescer progressivamente e com
velocidade crescente na direção deste plano. Condições de escorregamento múltiplo, ou seja,
a variação dos planos preferenciais de deslizamento ao longo dos sucessivos grãos do material
a partir da região de nucleação favorece o estágio de propagação da fadiga. A transição do
primeiro para o segundo estágio é geralmente induzida quando uma trinca em um plano de
escorregamento encontra um obstáculo, tal como um contorno de grão.
Fadiga e Análise de Falhas 33
A superfície de propagação depende, então, da direção da tensão normal principal que
poderá variar em função das solicitações impostas. Esta superfície tem por característica uma
textura lisa e avança de forma semicircular provocada pelo estado triaxial de tensões
encontrado na ponta da trinca. A deformação plástica localizada pode provocar uma marca
superficial a cada ciclo ou a um conjunto determinado de ciclos de cargas. Tais marcas são
chamadas de estrias de fadiga e são encontradas mais facilmente em materiais dúcteis.
Figura 9– Estrias de fadiga numa liga 2024-T3 correspondem a seqüência variada da
amplitude de carregamento(4).
O estágio de propagação da trinca ocorre por um processo plástico que torna a ponta
da trinca rombuda, como pode ser visto na figura 10. No início do carregamento cíclico a
ponta da trinca é aguda (figura 10a). À medida que o esforço de tração é aplicado, o pequeno
entalhe duplo na ponta da trinca concentra o deslizamento ao longo dos planos que fazem 450
com a superfície da trinca (figura 10b). Conforme a trinca alarga para a sua extensão máxima
(figura 10c), ela avança por cisalhamento plástico ao mesmo tempo em que sua ponta se torna
rombuda. Quando a carga muda para compressão, as direções de deslizamento na extremidade
são invertidas (figura 10d), as faces da trinca são compactadas e a nova superfície da trinca,
criada na tração, é forçada para o plano da trinca (figura 10e) onde é parcialmente dobrada por
flambagem formando uma ponta de trinca novamente aguda. Assim, a trinca já está pronta
para avançar e seguir para o próximo ciclo.
Fadiga e Análise de Falhas 34
Figura 10– Processo plástico de alargamento da ponta da trinca para o estágio II de
crescimento de trinca por fadiga(8).
As marcas de praia podem ser consideradas como o mais característico aspecto das
falhas por fadiga. Assim como as estrias, as marcas de praia também são semicirculares mas
são, entretanto, visíveis a olho nu ou com o auxílio de lupa de baixo aumento. As marcas de
praia podem ser originadas através dos diferentes graus de oxidação, produzidos nas
sucessivas paradas para repouso do equipamento ou pela variação na amplitude ou freqüência
da solicitação. É evidente que se não ocorrer nenhum destes fatores na propagação da trinca,
não surgirão as marcas de praia. A proporção entre as etapas de propagação e ruptura final
indica o grau de sobrecarga da peça. A posição e a quantidade dos pontos de nucleação, bem
como a orientação das linhas de praia, indica qual o tipo de carga que provocou a fadiga
(flexão, rotação, flexo-rotação, tração, entre outros). As figuras 11 a 13 apresentam alguns
exemplos de propagação de trincas por fadiga observadas em diferentes componentes. A
figura 14 apresenta um desenho esquemático de marcas de fadiga produzidas em
componentes lisos e entalhados com seções transversais redondas, quadradas, retangulares e
em chapas espessas sob várias condições de carregamento em tensões nominais altas e baixas.
Através da comparação das marcas de praia observadas em componentes rompidos com o
quadro apresentado na figura 14, tem-se ter uma noção da forma e amplitude do carregamento
a que o componente estava submetido em serviço.
Fadiga e Análise de Falhas 35
Figura 11– Marcas de praia propagadas na seção transversal de uma haste de biela para motor automotivo.
Figura 12– Fadiga em trilho ferroviário. Observa-se a nucleação subsuperficial na região do boleto.
Figura 13– Fadiga em válvula petroquímica.
Fadiga e Análise de Falhas 36
Figura 14– Esquema de marcas nas superfícies de fraturas por fadiga produzidas em componentes lisos e entalhados com seções transversais redondas, quadradas e retangulares e em chapas espessas sob várias condições de carregamento em tensões nominais altas e baixas.
Fadiga e Análise de Falhas 37
O estágio de propagação de uma trinca de fadiga é alvo de muitos estudos e pesquisas,
sendo equacionado, hoje em dia, através de leis ditadas pela mecânica da fratura. A relação
entre a propagação de uma trinca por fadiga e o número de ciclos de solicitações é um
importante dado de projeto para estruturas, pois é possível, com isso, estimar a vida útil das
estruturas, mesmo com a presença de fissuras já em fase de propagação. No caso de fadiga em
componentes mecânicos, esta abordagem é de difícil aplicação, visto que, devido ao nível de
tensões empregado, e, portanto, a velocidade de propagação ser elevada,, não é simples o
acompanhamento do desenvolvimento da trinca em elementos de máquina e componentes
mecânicos em geral. Além disso, muitos pesquisadores atribuem ao estágio de nucleação em
componentes mecânicos a maior parte da vida em fadiga (em torno de 90%), o que torna
ainda mais difícil o acompanhamento da propagação da trinca no segundo estágio.
Resultados de estudos de fadiga mostram que a vida de estruturas pode ser relacionada
com a taxa de propagação da trinca. A figura 15 é um típico diagrama que relaciona o
crescimento da trinca com o número de ciclos para dois níveis de tensões aplicadas. Nota-se
que o maior nível de tensão diminui o número de ciclos necessários para a ruptura e que a
taxa de propagação é crescente com o número de ciclos de aplicação de carga.
Figura 15– Curvas que relacionam o comprimento da trinca “a” com o número de ciclos em dois níveis de tensões “σ1” e “σ2” para o estudo da fadiga. A taxa de propagação da/dN está indicada para um comprimento de trinca “a1”nos níveis de tensão.
Fadiga e Análise de Falhas 38
A taxa de propagação da trinca da/dN aparentemente segue uma equação do tipo:
da/dN = Cσaman
Onde:
C = constante;
σa = tensão alternada;
a = comprimento da trinca;
m = varia de 2 a 4;
n = varia de 1 a 2.
A propagação da trinca pode ser expressa também em termos de deformação total,
através de uma simples lei potencial que se aplica da região de deformação elástica até a
plástica.
da/dN = C1εm1
Onde:
C = coeficiente elástico;
ε = deformação;
m = sensibilidade à taxa de deformação.
A mecânica da fratura aplicada à fadiga relaciona a propagação de trinca com o fator
de intensidade de tensões K.
da/dN = A∆Kn
Onde:
n = varia de 1 a 16 dependendo do material e nível de tensões,
A = constante;
∆K = intervalo do fator de intensidade de tensões calculado a partir da variação de tensão no
ciclo de carga.
A mecânica da fratura apresenta, desta forma, o caráter da taxa de propagação
conforme a figura 16. Observa-se, ainda, o surgimento de uma região onde não é prevista a
propagação. Tais leis são de grande importância para a aplicação em estruturas e são mais
aprofundadas em estudos da mecânica da fratura aplicadas à fadiga. A figura 17 apresenta
outro exemplo de uma curva da/dN vs ∆K para um aço de baixo carbono em função do
Fadiga e Análise de Falhas 39
tratamento térmico a que este foi submetido. Conforme pode ser observado nesta figura, o
material com microestrutura martensítica apresenta um ∆K de iniciação bastante superior ao
do mesmo material na condição ferrítica.
Figura 16– Representação esquemática do comportamento do crescimento da trinca de fadiga em meio não-agressivo.
Figura 17– Taxa de propagação da trinca por ∆K para duas microestruturas em aço em baixo carbono (0.15 – 0.20% C, 0.60 – 0.90% Mn, 0.04% máx P, 0.04% máx S).
Fadiga e Análise de Falhas 40
1.5 - FATORES QUE AFETAM A VIDA EM FADIGA DOS MATERIAIS
Muitos são os fatores que diminuem a vida em fadiga dos materiais. Podem ser
considerados os expostos a seguir:
- efeitos superficiais (Ka);
- tamanho da peça (Kb);
- fator de carga (Kc).
- temperatura (Kd);
- concentração de tensões (entalhe);
- freqüência e amplitude de solicitação;
- tensão média;
- fatores microestruturais.
Todos os fatores afetam a vida em fadiga porque levam para baixo as linhas limite da
curva de Wöhler dos diversos materiais.
Shigley determinou uma equação linear que expressa a resistência à fadiga de um
componente levando em consideração a resistência à fadiga do material e os diversos fatores
de correção.
A teoria de Shigley permite, portanto, avaliar analiticamente a resistência de um
componente em projeto.
Se = Ka Kb Kc Kd Ke Se’
Onde:
Se = resistência à fadiga do componente
Se’ = resistência à fadiga do material
Ka = fator de superfície
Kb = fator de tamanho
Kc = fator de carga
Kd = fator de temperatura
Ke = fatores diversos.
Neste trabalho, além de expor os fatores discriminados na equação, analisaremos
alguns fatores que devem estar inseridos naqueles diversos (Ke), tais como a concentração de
tensões, freqüência e amplitude das solicitações, a tensão média e a microestrutura.
Fadiga e Análise de Falhas 41
Nos projetos mecânicos deve-se tomar cuidado de levar sempre em consideração todos
os fatores envolvidos para o cálculo da resistência à fadiga, a fim de introduzir coeficientes de
segurança adequados para o nível de tensões que o componente deve suportar.
1.5.1 - ACABAMENTO SUPERFICIAL
Foi dito anteriormente que ao ser realizado um ensaio de fadiga num corpo de prova é
fundamental que a superfície esteja polida e isenta de imperfeições. Se este cuidado não for
observado, os resultados da análise ficarão comprometidos. Com efeito, é conhecida a ação do
acabamento superficial na resistência à fadiga dos materiais.
O diagrama apresentado na figura 18 indica para um aço baixa liga, o quanto a
rugosidade superficial, caracterizada pelos diversos processos de obtenção de componentes,
influencia o comportamento em fadiga de materiais.
Observa-se, ainda, que os aumentos da dureza e da resistência exigem acabamentos
superficiais cada vez mais apurados. Enquanto um aço de baixa resistência pode ser utilizado
na condição bruta de usinagem, um material de alta resistência já exige um ótimo
acabamento.
Figura 18– Fator de redução para o limite de fadiga para um aço de baixa liga devido a vários tratamentos superficiais. (De R. C. Juvinall. Stress, Strain, and Strength, p. 234, McGraw-Hill Book Company, New York, 1967.)
Fadiga e Análise de Falhas 42
A descarbonetação da superfície de um aço tratado termicamente é particularmente
deletéria ao desempenho em fadiga, assim como processos de oxidação e corrosão. A
eletrodeposição na superfície de um aço geralmente diminui seu limite de fadiga. A eficiência
da cementação ou nitretação na melhoria do desempenho em fadiga de um material é maior
nos casos em que existe um grande gradiente de tensões, como na torção e flexão, do que num
ensaio de fadiga axial. Maior desempenho é verificado para o processo de nitretação de
corpos de prova entalhados.
O método mais efetivo de aumentar o desempenho em fadiga consiste na formação de
um espectro favorável de tensões residuais, como aqueles obtidos por meio de têmpera
superficial por indução, pela fretagem ou também pela auto-fretagem, processos mecânicos
como o “shot-peening” entre outros.
Convém salientar aqui que o descuido nos procedimentos de usinagem dos
componentes pode levá-los a rupturas por fadiga. Vários são os casos de peças que são
submetidas ao processo de retifica, para melhorar a sua condição superficial, e o excesso de
pressão do rebolo ou a falta de refrigeração adequada transformam em martensita não
revenida alguns pontos na superfície. Sabe-se que a microestrutura meta-estável martensítica
não revenida possui alta dureza e baixa tenacidade, sendo assim, ponto crítico para a
nucleação de trincas por fadiga.
1.5.2 - TAMANHO DA PEÇA
O tamanho das peças também segue as tendências anteriores, ou seja, quanto maior o
componente, menor é a sua resistência a fadiga.
A distribuição triangular de tensões na flexão e na torção é semelhante a distribuição
de tensões em uma barra com entalhe, ou seja, a flexão e a torção assemelham-se a
concentrações de tensões. Se, além disso, for considerado o maior efeito de superfície em um
corpo de prova maior, é possível imaginar a diminuição da resistência à fadiga com o
aumento de dimensão.
Alguns dados obtidos em ensaios relatam um fator de dimensão Kb distribuído como
segue(8):
Kb d (mm) 1 ≤7,6
0,85 7,6<d≤50 0,75 >50
Fadiga e Análise de Falhas 43
Sendo “d” o diâmetro do corpo de prova, a dimensão “d” corresponde à profundidade
de “h” de seções não circulares sujeitas a flexão.
Baseado em resultados obtidos a partir de um grande número de ensaios, Shigley
equacionou o efeito de tamanho para flexão e também para torção conforme a relação abaixo:
1133,0
62,7
−
=
dKb 2,79 ≤ d ≤ 51mm
Para diâmetros maiores, Kb varia entre 0.6 e 0.75, considerando flexão e torção. Para
cargas axiais, não existe efeito de tamanho e por isso considera-se Kb = 1.
1.5.3 - FATOR DE CARGA
Uma larga coleção de dados obtidos por ensaios mostrou que existe um fator de
correção para certos materiais solicitados com carregamento axial. Mostrou, ainda, que um
fator mais radical deve ser aplicado quando sob cargas de torção ou cisalhamento, se
comparados ao carregamento de flexão reversa. As equações abaixo resumem os resultados
dos ensaios:
Kc = 0,923 tensão axial Sut ≤ 220 kpsi (1520 MPa)
Kc = 1 tensão axial Sut > 220 kpsi (1520 MPa)
Kc = 0,577 torção e cisalhamento
1.5.4 - TEMPERATURA
Considerando temperaturas abaixo da ambiente, tem sido observado que os metais
apresentam um aumento na sua resistência à fadiga com o decréscimo da temperatura.
Por outro lado, no caso de aplicações a altas temperaturas, notou-se uma diminuição
da resistência, de forma que faz-se necessária a obtenção, a partir de ensaios reais, do fator de
temperatura Kd. No caso dos aços, o fator Kd segue a equação:
TKd +
=3,273
4,344 para T>71oC
Fadiga e Análise de Falhas 44
Com o aumento da temperatura bem acima da ambiente torna-se importante o
fenômeno de fluência, de tal forma que nas temperaturas em torno da metade do ponto de
fusão do material, o mecanismo de fluência é o principal responsável pela maioria das falhas.
1.5.5 - CONCENTRAÇÃO DE TENSÕES
Todas as descontinuidades tais como entalhes, furos e ranhuras modificam a
distribuição de tensões acarretando aumento de tensões localizadas. Usa-se um fator de
concentração de tensões Kt para relacionar a tensão real máxima na descontinuidade com a
tensão nominal.
Para materiais pouco sensíveis ao efeito de entalhe é usado o fator de concentração de
tensão de fadiga Kt, determinado pela relação do limite de resistência à fadiga para corpos de
prova sem entalhe e do limite de resistência à fadiga para corpos de prova com entalhe.
Define-se “q” como sendo o fator de sensibilidade ao entalhe de um material em
fadiga e expressa-se pela equação:
11
−
−=
t
f
kk
q Observa-se, pela equação, que tomando “q” igual a zero, Kf será unitário. Sendo
assim, conclui-se que o material não possui sensibilidade ao entalhe. Mas tomando “q” como
unitário, Kf terá o mesmo valor de Kt e o material terá sensibilidade plena.
Na realização de um projeto ou análise, antes determina-se o valor de Kt a partir da
geometria da peça. Depois de especificado o material é possível, então, determinar o valor de
“q” para calcular Kf segunda a equação(3).
Kf = 1+q (Kt-1)
A figura 19 demonstra a relação de “q” com o raio da ponta do entalhe para alguns
materiais mais utilizados.
Fadiga e Análise de Falhas 45
Figura 19– Variação do índice de sensibilidade ao entalhe com o raio do entalhe para materiais de diferentes resistências à tração.
1.5.6 - EFEITOS MICROESTRUTURAIS
O comportamento em fadiga dos aços é uma função da microestrutura apresentada,
bem como do nível de inclusões não metálicas presentes.
Um material temperado e revenido têm melhores características quanto à fadiga
comparado ao seu estado normalizado ou recozido.
Se tomarmos um mesmo material, com o mesmo teor de carbono e elementos de liga,
e confeccionarmos corpos de prova para o ensaio e aplicarmos têmpera com diversas taxas de
resfriamento e revenimento a mesma temperatura, será observado que a resistência à fadiga
será maior naquele com meio de têmpera mais severo (maior taxa de resfriamento). Desta
forma deduz-se que a maior quantidade de martensita indica maior resistência. Estes efeitos
observados são diretamente relacionados ao aumento no limite de escoamento do material,
uma vez que a iniciação de trincas por fadiga envolve deformação plástica localizada.
Variações metalúrgicas que dificultem a deformação plástica levam a um aumento na
resistência à fadiga.
O tamanho de grão também influencia as propriedades dos materiais em fadiga. Para
temperaturas baixas a diminuição do grão interfere favoravelmente na resistência. Contudo,
em elevadas temperaturas esta característica se inverte.
Maiores quantidades de inclusões bem como a disposição transversal destas no ensaio
diminuem a resistência à fadiga dos materiais.
Fadiga e Análise de Falhas 46
2 - ANÁLISE DE FALHA
A falha de componentes mecânicos e estruturas vêm ocorrendo desde os mais remotos
tempos e a muitos anos têm sido observadas pelo homem. A importância da análise de fratura
reside no fato de permitir, através de conhecimentos básicos, a identificação dos motivos pelo
qual a falha ocorreu. Conhecido o motivo que levou o componente à falha, pode-se, então,
chegar ao objetivo principal que é adquirir conhecimento para evitar novas ocorrências de
falhas.
A análise das causas de falhas pode ser feita através da interpretação e caracterização
morfológica da superfície da fratura, a qual é capaz de revelar a história dos eventos que
precederam a falha. A análise de falha tornou-se tão importante para a ciência dos materiais
que em 1914 foi criado o termo “fractografia” para designar o estudo da superfície da fratura
em elementos fraturados.
Considera-se um componente ou estrutura com falha quando este fica completamente
inutilizado, quando pode ainda ser utilizado, mas não é capaz de desempenhar suas funções
satisfatoriamente ou quando uma séria deterioração o torna inseguro para continuar a ser
utilizado.
Na maioria das vezes as falhas estão relacionadas à negligência no projeto, na
fabricação ou no uso dos componentes. Estes problemas podem ser evitados, pois existem
normas e procedimentos que, quando seguidos, podem impedir a ocorrência de falhas. A
fabricação mal feita, material inadequado ou abaixo do especificado, erros na análise das
tensões de operação ou erro de operação são exemplos de casos em que existe tecnologia e
experiência disponíveis mas que não são aplicados.
Falhas podem ocorrer, também, quando está se desenvolvendo novos projetos ou
novos materiais, onde o projetista não conhece todas as variáveis e propriedades envolvidas
no dimensionamento.
A aparência topográfica da trinca além de fornecer informações a respeito das
solicitações as quais o componente foi submetido, exibe também aspectos micrográficos que
ocorrem segundo uma seqüência lógica e também fornecem informações valiosas para a
identificação dos motivos da falha. Os aspectos micrográficos, por exemplo, são: acúmulo de
danos, iniciação de uma ou mais trincas, propagação das trincas e fratura do material.
Fadiga e Análise de Falhas 47
A fractografia associada a mecânica da fratura pode responder quantitativamente
muitos dos problemas relacionados à presença de trincas em componentes mecânicos e
estruturas.
A mecânica da fratura pode responder perguntas tais como:
- Qual é a resistência residual em função do tamanho da trinca?
- Que tamanho de trinca pode ser tolerado em condições de carregamento em serviço,
ou seja, qual é o tamanho máximo permissível de trinca?
- Quanto tempo vai ser despendido para a trinca crescer, do menor tamanho detectável
até o tamanho máximo permissível?
- Qual é a vida em serviço de um componente, quando um certo tamanho de defeito
pré-existente é considerado?
- Durante o período disponível para a detecção da trinca, quantas vezes deverá a
estrutura ser inspecionada?
Para chegar-se a este ponto é preciso uma grande quantidade de informações sobre o
componente que apresenta falha. As informações necessárias devem ser procuradas ainda na
fase de projeto do componente onde são definidas as solicitações que devem atuar sobre o
componente, que tipo de material foi indicado, as dimensões e o processo de fabricação
adequado ao uso do componente.
É necessário, ainda, acompanhar as solicitações durante o uso do componente, bem
como obter informações sobre a integridade do componente, antes e depois da colocação em
serviço.
Nesta fase pode-se detectar problemas e defeitos pré-existentes no material, detectar
sobrecargas sobre o componente, acompanhar variações de temperatura e diversos outros
tipos de parâmetros operacionais.
Quando da fratura de um componente ou estrutura deve-se ter o cuidado para, antes de
manusear os fragmentos, fazer-se um levantamento minucioso (fotográfico ou relatório
descritivo) sobre as condições e posições encontradas dos fragmentos em relação ao todo.
Após, deve-se remover os fragmentos com cuidado para não danificar a superfície da fratura,
se preciso fazer a proteção da superfície com produtos adequados e levar ao laboratório para
fazer-se observações da fratura a olho nú ou com lupa, auxiliado por sistema de iluminação
adequado.
Caso a superfície da fratura esteja suja ou oxidada é preciso proceder a limpeza da
mesma e, dependendo da sujeira, é indicado um tipo de processo de limpeza. A limpeza pode
Fadiga e Análise de Falhas 48
ser feita através de um simples jato de ar seco ou escovação com escova de cerdas macias até
o uso de produtos químicos como ácidos fortes para e remoção de materiais orgânicos
fortemente aderidos a superfície.
A remoção de impurezas da superfície a ser analisada é importante, principalmente
quando as amostras vão ser observadas em um microscópio eletrônico de varredura.
A tabela 1 apresenta algumas sugestões de processos de limpeza, dependendo do tipo
de depósito ou produto a ser removido.
Tabela 1 – Procedimentos para limpeza da superfície de fratura
Método de Limpeza Substância a ser removida Grau de Agressividade
(a) Jato fraco de ar seco;
escovação com escovas de
cerdas macias.
Partículas pouco aderentes Menos agressivo
(b) Solventes orgânicos(1)
Tolueno, xileno
Cetona (acetona,
metiletilcetona)
Álcool (metílico, etílico,
isopropílico).
Detritos e viscosos.
Óleos e graxas.
Latas, vernizes, colas.
Tintas, ácidos graxos.
↓
↓
↓
↓
↓
↓
(c) Sucessiva decapagem por
meio de acetato de celulose
(réplicas).
Detritos, oxidação e produtos
de corrosão.
↓
(d) Água com detergente
juntamente com agitação por
ultra-som(2).
Oxidação e produtos de
corrosão.
↓
(e) Limpeza catódica(3), (a
superfície a ser limpa é o
cátodo e o ânodo um material
inerte como carbono ou
platina).
Oxidação e produtos de
corrosão.
↓
(f) Limpeza por ataque
químico.
Oxidação e produtos de
corrosão fortemente aderidos.
Mais agressivo.
Fadiga e Análise de Falhas 49
(a) Pode ser usado com agitador por ultra-som. Solvente composto por 40% Tolueno, 40%
acetona e 20% de álcool isopropílico.
(b) Solução de limpeza: 15g de Álconox pó + 350 ml água. A solução deve ser aquecida a 950
C e agitada em vibrador por 15 a 30 minutos.
(c) Ver em: P. M. YUZAWICH e C. W HUGHES, PRAC. METALL. 15, 184 (1981).
R. LÖHBERG, A.GRÄDER, e J. HILKLING, MICROSTRUCTURAL Sci 9, 421 (1981).
Para tornar mais fácil a obtenção de dados para chegar aos motivos reais da falha,
sugere-se uma listagem de perguntas e dados a serem levantados sobre operação e material do
componente.
2.1 - LISTA DE SUGESTÕES DE PONTOS A SEREM LEVANTADOS EM CONTA
PARA ANÁLISE COMPLETA DA FALHA
Descrição do componente, tamanho, forma e uso.
Especificação das áreas de concentração de tensões no projeto.
Magnitude da concentração de tensões no local da falha.
Estado de tensões do componente.
Tipos de tensões.
Magnitude do nível de tensões no projeto.
Tensão média.
Amplitude da tensão.
Tipos de tensões (Modo I, II, III ou combinado).
Presença de gradiente de tensões.
Estado de tensões: tensão plana ou deformação plana.
Aparência da superfície de fratura: percentual de zona cisalhada.
Cálculo do tamanho da zona plástica em relação a espessura.
Natureza da variação das cargas.
Tempo de operação do componente.
Freqüência de carregamento.
Tipo de carregamento.
Carregamento aleatório.
Existência de sobrecarga durante o uso.
Detalhes do defeito crítico.
Fadiga e Análise de Falhas 50
Dados da inspeção anterior.
Informações da inspeção anterior.
Natureza do defeito crítico e direção da fratura.
Local do defeito crítico por exame macroscópico.
Tamanho do defeito crítico, forma e orientação.
Trinca interna ou superfície da falha.
Direção de propagação e tipo de marcas.
Marcas de sargento;
Marcas de praia;
Direção.
Defeitos de fabricação da peça como início da trinca.
Riscos de usinagem;
Rebaixo;
Defeitos de soldagem;
Problemas de ajustagem;
Outros.
Defeitos metalúrgicos como início da trinca.
Inclusões;
Partículas de Segunda fase;
Inclusões de escórias;
Vazios;
Interfaces fracas;
Outros.
Observações Fractográficas.
Observações qualitativas.
Microcavidades (dimples);
Clivagem;
Intergranular;
Estrias de fadiga;
Corrosão.
Observações quantitativas.
Espaçamento das estrias e a posição relativa.
Espaçamento das estrias evidenciando seções uniformes ou aleatórias.
Fadiga e Análise de Falhas 51
Extensão e largura da zona até iniciar o crescimento instável.
Especificação da composição do material.
Designação da liga.
Propriedades mecânicas.
σys σis % elong. % A R KIC KIEAC Caracterização
fadiga
Especificada
Peça
Composição química
Elementos
A B C D E F G
Especificada
Peça
Métodos de fusão.
Fundida ao ar;
Fundida a vácuo;
Outros.
Desdobramento do lingote.
Laminado a quente;
Laminado a frio;
Laminação cruzada.
Tratamento Termo mecânico.
Recozido ou solubilizado;
Revenido ou envelhecido;
Trabalho mecânico intermediário.
Processo de fabricação de peça.
Forjado;
Fundido;
Usinado;
Repuxado;
Extrusão;
Fadiga e Análise de Falhas 52
Outros.
Tipos de junções.
Soldada;
Brasada;
Parafusada;
Colada;
Outros.
Tratamento Superficial.
Shot Peening;
Roletada a frio;
Cementada;
Nitretada;
Endurecida por chama ou indução;
Eletrodeposição;
Decapagem;
Outros.
Microestrutura do componente.
Presença de fibramento mecânico e ou bandeamento por segregação química.
Tamanho e forma do grão.
Alongamento em relação a tensões axiais.
Grão esboroado em forjados.
Quantidade de inclusões e classificação.
2.2 - EXEMPLOS DE APLICAÇÕES EM ANÁLISE DE FALHA
2.2.1 - ANÁLISE DE FALHA DO CONJUNTO DA CHAPA INTERMEDIÁRIA DE
EMBREAGEM
Este trabalho é particularmente didático por envolver vários dos procedimentos
recomendados para uma análise de falha completa. É comum o emprego de técnicas pouco
eficientes que geralmente não seguem a metodologia adequada, acarretando em perda de
dados e até na conclusão errada da análise. Aconselha-se, desta forma, antes dos ensaios
destrutivos e até mesmo da análise da fratura, a observação de dados de projetos e o
Fadiga e Análise de Falhas 53
acompanhamento dos processos de produção, além de qualquer outro fator que possa estar
envolvido com o colapso. Os passos serão citados na ordem recomendada de aplicação para
este caso.
A partir de maio de 1996, começou a ocorrer quebra de embreagens que equipam
determinadas marcas de caminhões, de uma forma totalmente aleatória, ou seja, alguns casos
com baixa e outros com alta quilometragem.
Em todos os casos, a falha da embreagem se constituía na quebra da chapa
intermediária que corresponde ao item 25 da figura 20.
Figura 20– Vista explodida do conjunto da embreagem
Esta chapa intermediária é um conjunto formado por um anel espaçador de alumínio e
um disco de aço ou ferro fundido. Este conjunto é unido através de quatro molas de aço
rebitadas numa das extremidades ao disco através de rebite de aço e, na outra extremidade,
presa por meio de parafusos ao anel espaçador. A figura 21 ilustra montagem.
re
Figura 21– Conjunto da chaparegião de engaste da mola a ch
a
m
espaçador
intermediária comapa de ferro fundidrebit
as quatro moo.
Fadi
Parafuso fixado
Fixador para montage
mol
las. À direita, detalhe da
ga e Análise de Falhas 54
Foi observado que os discos de ferro fundido não romperam em nenhum caso, que o
anel espaçador de alumínio apresentava-se totalmente quebrado em alguns casos e inteiro em
outros e que nos casos em que rompeu, isto ocorreu por sobrecarga em conseqüência da
ruptura de molas e de rebites; sendo, portanto, uma conseqüência e não a causa.
Também foi constatada a ruptura de vários rebites, mas todos por cisalhamento
combinado com uma componente de tração que é o esperado nestes casos. Sempre que os
rebites permaneceram inteiros foi a mola que rompeu exatamente na seção transversal do furo
de fixação do rebite.
Algumas molas apresentavam ruptura por sobrecarga de tração enquanto no mínimo
uma por conjunto apresentava falha por fadiga produzida por tração variável.
Então ficou claro que a ruptura por fadiga da mola era a responsável pela quebra do
conjunto. Quando rompida apenas uma delas, as demais ficavam sobrecarregadas rompendo
por tração caso não ocorresse antes o cisalhamento do rebite. A partir daí, se continuar em
operação, a rotação do disco poderia provocar a quebra do anel.
Foi executado ensaio de dureza das molas cuja especificação estabelece os limites de
72,4 a 75,2 na escala Rockwell A. Tal faixa de dureza convertida para a escala Rockwell C
corresponde a 44 a 49 HRC e, na escala Vickers, entre 434 e 498 HV.
Conforme pode ser observado na tabela abaixo, os valores encontrados apresentam
dois níveis distintos de dureza para as molas. Um na faixa especificada outra mais acima,
convém por oportuno salientar que ambas romperam.
Amostra Dureza HRC Dureza HV
1 45 - 46 446 – 458
2 44 - 45 434 – 446
3 52 - 54 544 – 577
4 50 - 53 513 - 560
A análise da fratura das molas indicou que algumas romperam por sobrecarga de
tração, principalmente nas bordas do furo para o rebite, com a trinca propagando para fora
conforme indicam as marcas de sargento, e de um modo dúctil com schear lip nas bordas.
Outras romperam por fadiga em carregamento de tração, tendo nucleado nas bordas do furo
do rebite e propagado em direção ao lado de fora da mola, conforme pode ser observado na
figura 22.
Fadiga e Análise de Falhas 55
Figura 22– Fratura em mola de retorno. Observam-se as marcas de praia de fadiga. Aumento: 35x.
A análise da fratura dos rebites indicou ruptura por sobrecarga de cisalhamento em
alguns casos combinado com uma pequena componente de tração, conforme pode ser
observado na figura 23.
Figura 23– Fratura por cisalhamento no rebite. Aumento: 13X.
Com o propósito de se confirmar o cisalhamento dos rebites, as fraturas foram
observadas no MEV, que apresentou o aspecto da figura 24.
Figura 24– Detalhe da fratura por cisalhamento do rebite. Aumento: 1168X.
Fadiga e Análise de Falhas 56
Foram feitos diversos cortes tanto em molas rompidas por fadiga quanto nas rompidas
por sobrecarga, todos perpendiculares à superfície da fratura e junto a região de início da
falha. Nos rebites foram feitos cortes longitudinais e transversais. Todas as amostras foram
preparadas conforme procedimentos recomendados dentro das técnicas usadas em
metalografia.
Foram encontrados dois tipos de microestruturas. Nas molas de maior dureza era
martensítica com carbonetos espalhados na matriz. Já as de menor dureza apresentaram uma
microestrutura martensítica grosseira. A microestrutura dos rebites é predominantemente
ferrítica, típica de aços de baixo carbono.
Figura 25– Acima a macrografia mostrando a região de grãos ferríticos ocorrida no processo de conformação do rebite. Ataque: nital 5%. Aumento: 2X. Ao lado, o gradiente de durezas obtidos conforme o esquema.
Conforme já definido anteriormente o que determinou a falha da embreagem foi a
fadiga em uma ou mais molas de retorno. O exame macroscópico da fratura foi suficiente para
identificar o tipo de falha.
Ora se até aqui, ao se desenvolver a investigação em todos os estágios nada foi
encontrado em termos de defeito que pudesse justificar a falha, passou-se a procurar algo que
explicasse um aumento de carga.
Se a resistência está correta, então resta a solicitação estar muito elevada. Isto pode
ocorrer por problemas mecânicos ou por problemas operacionais. Entretanto, pelo fato destas
falhas terem iniciado a partir de uma determinada data e terem ocorrido aleatoriamente em
diversos caminhões, poderão ser excluídos os “problemas operacionais”.
Fadiga e Análise de Falhas 57
Passou-se, então, a analisar o funcionamento da chapa intermediária. Em resumo um
torque que é transmitido entre o disco de aço e o anel espaçador através de quatro molas
dispostas tangencialmente, e, conforme pode ser observado na figura 20, produz uma carga
tangencial no diâmetro correspondente à posição das molas, que deve se dividir igualmente
em todas as quatro.
Para tanto, torna-se importante uma grande precisão na distância entre centros dos dois
furos da mola que, aliás, é o que indica o desenho da figura 26.
Figura 26– Mola de aço carbono com 0,70 – 0,80% C, temperada em óleo para uma dureza de “RA” 72,4 – 75,2. A dimensão de 2,968 polegadas tem uma estreita faixa de tolerância (± 0,002).
Se esta distância entre centros que deve ser de 2,968 ± 0,002 polegadas (ou 75,3872 ±
0,0508 mm) for menor em uma das quatro molas, esta absorverá praticamente toda a carga e,
obviamente, entrará prematuramente em fadiga. Se for maior que das outras três, esta estará
praticamente descarregada e as outras três sobrecarregadas, havendo, neste caso, tendência de
falha por fadiga em uma delas.
Passou-se, então, a analisar a fabricação das molas. Descobriu-se que até maio de 96,
as molas eram obtidas a partir de uma chapa por estampagem em matriz, que a recortava e
perfurava numa única operação, e que após isto elas eram submetidas a tratamentos térmicos.
A partir daí, para simplificar a operação, o fabricante da mola substituiu a matéria prima em Fadiga e Análise de Falhas 58
forma de chapa por outra em forma de tira, já na largura certa, e já beneficiada. Então, em
uma matriz bem mais simples os dois furos eram estampados em operações separadas
possibilitando alterações na distância entre centros, pois esta passou a depender de um
posicionamento manual da peça em relação a um plano de referência na matriz quando da
execução do segundo furo.
Em vista disso foi realizada uma inspeção dimensional numa amostragem constituída
de cinqüenta molas, quando foi constatado que quinze delas (30%) estavam fora da tolerância
do desenho, havendo inclusive um caso em que o valor obtido encontrava-se cerca de 0,2 mm
abaixo do limite inferior de aceitação.
Com isto, concluiu-se que a causa da falha foi fadiga da mola provocada por uma
alteração no seu processo de fabricação.
2.2.2 - ANÁLISE DA FALHA DO PARAFUSO DE FIXAÇÃO DO ESTABILIZADOR DE
UMA AERONAVE
Durante um vôo de rotina de uma aeronave Ximango, o piloto sentiu uma vibração no
estabilizador horizontal de tal forma, que resolveu pousar o mais rápido possível. No solo, foi
constatado que o estabilizador estava frouxo tendo sido a este fato atribuído a vibração. Como
solução, foi dado um aperto no parafuso de fixação que então rompeu definitivamente por
ação do torque tendo sua extremidade que continha parte da rosca, ficada presa no interior da
porca, que por isso teve que ser trocada.
Sendo o estabilizador preso por este único parafuso, a sua ruptura em vôo significaria
um acidente fatal, tendo em vista que a aeronave fica totalmente sem controle com a perda
desta superfície. Na figura 27 pode ser visto como o estabilizador é preso na deriva através
deste único parafuso.
Fadiga e Análise de Falhas 59
Figura 27– Detalhe da fixação do estabilizador indicando a posição do parafuso. Na foto ao alto, vista em corte do conjunto da porca com o pedaço remanescente do parafuso, após a ruptura.
Em análise preliminar, além do exame visual da fratura e das demais peças, foram
colhidas algumas fotos como ilustra a da figura 28.
Foi realizado ensaio de dureza do parafuso que rompeu para comparar com a
especificada de 34 a 36 HRC. Os valores obtidos em uma seção longitudinal foram em média
de 50,18 HRC e, na superfície externa, em média 51 HRC. Considerando-se que o parafuso é
feito em aço SAE 4340, conclui-se que a temperatura de revenimento foi muito baixa
reduzindo com isso sua ductilidade.
A análise da superfície da fratura do parafuso revelou uma ruptura frágil por
sobrecarga de tração iniciada no núcleo da rosca na posição correspondente ao primeiro filete
Fadiga e Análise de Falhas 60
carregado, onde é maior a concentração de tensões e, em conseqüência, maior a probabilidade
de ruptura.
Na figura 28 as setas indicam a região de início da falha e as marcas de sargento
indicam o sentido de propagação, da direita para esquerda. Nota-se a total ausência de
cisalhamento a 45o nas bordas.
Figura 28– Vista geral da superfície da fratura. As setas indicam a região de início da falha num plano que contém o fundo do filete de rosca.
Foi observado, também, um amassamento no final da haste do parafuso, exatamente
na região em que forma um pescoço antes de iniciar a rosca.
O exame da porca, na região de início da rosca também revelou um amassamento
semelhante, como se as duas peças fossem forçadas uma contra a outra durante um aperto do
parafuso.
A fractografia realizada no MEV confirma uma ruptura frágil intergranular do
parafuso.
Fadiga e Análise de Falhas 61
Foi feito um corte perpendicular à superfície da fratura no seu plano de simetria a fim
de examinar a microestrutura da região de início da falha. A amostra foi preparada conforme
procedimentos recomendados dentro das técnicas usadas em metalografia.
O resultado desta análise indicou uma microestrutura constituída de martensita
revenida, não tendo sido observada nenhuma anormalidade metalúrgica que pudesse ser
relacionada com a falha. A falha do parafuso ocorreu por ruptura frágil decorrente de
sobrecarga de tração.
Até este estágio, não surgiu com clareza a causa da falha do parafuso, entretanto,
chamaram a atenção alguns fatos extremamente importantes que podem ser relacionadas
como segue:
a) o estabilizador estava frouxo
b) o parafuso estava mais frágil do que deveria
c) a ruptura foi por sobrecarga de tração
d) ocorreu um forte contato entre o parafuso e a porca antes do início da rosca a ponto
de provocar danos (amassamento) nesta região em ambos os elementos.
Começando-se pelo item (d) acima, na tentativa de explicar e confirmar a interferência
encontrada, foi efetuado um corte da porca ao longo do seu eixo longitudinal e da
extremidade do parafuso que permaneceu montada, dentro dela. Logo após, foi colocada a
outra parte do parafuso no local na tentativa de juntar os dois lados da fratura. Como pode ser
observado na foto ao alto da figura 27, o contato entre o parafuso a porca na região dos
amassamentos impediu a junção das duas partes do parafuso, remanescendo entre os dois
lados da fratura um espaço de aproximadamente um milímetro.
Isto indica que o aperto do parafuso na tentativa de fixar o estabilizador que estava
frouxo, provocou o contato entre ele e a porca e, a partir daí, o torque aplicado tracionava o
parafuso na região da rosca, sem apertar o estabilizador. Com o aumento do efeito de entalhe
no primeiro filete carregado produzido pelo excesso de dureza (resistência) do parafuso, o
esforço de tração acabou provocando uma ruptura frágil por sobrecarga. É possível, também,
que esta trinca tenha se iniciado em vôo e assim afrouxado o estabilizador, pois na primeira
montagem já havia interferência das peças faltando somente uma sobrecarga adicional que
poderia ter ocorrido naquele vôo. Neste caso o reaperto do estabilizador apenas teria
terminado de romper o parafuso.
Fadiga e Análise de Falhas 62
Entretanto o exame do desenho de montagem do parafuso e porca da figura 27 mostra
que com o parafuso, anel e porca nas medidas constantes da especificação, não há
possibilidade alguma de contato, pois a diferença chega a ser de dois milímetros.
Então, se este contato ocorreu é porque estas peças estavam fora das medidas. Por esta
razão, foi então feita uma verificação da profundidade da porca, onde se obteve 12,4mm ao
invés dos 13mm do desenho, e do comprimento do parafuso que apresentou 100,80mm no
lugar dos 100mm. Nisto, os dois milímetros de folga ficam reduzidos para 0,6mm.
Não foi possível verificar o anel que estava instalado na aeronave, mas com certeza
também deveria apresentar um comprimento inferior aos 89mm previstos, tendo em vista que
o contato realmente ocorreu.
Chama a atenção no desenho das peças a não exigência de tolerância nestas três
medidas que na montagem se associam podendo seus erros “admissíveis” se somarem como
no caso, impedindo a correta fixação do estabilizador.
Assim sendo, a causa da falha neste caso pode ser atribuída aos erros nas dimensões
das peças, produzidas por ocasião da usinagem. Isto poderia ser evitado se fosse dada uma
folga maior, que seria conseguida, por exemplo, usando 95mm no comprimento da haste do
parafuso ao invés dos 100mm.
Ao longo desta investigação verificou-se, também, que o torque aplicado ao parafuso
(5 Kgm) estava exagerado, provocando uma redução importante na resistência à fadiga.
Procedendo-se então ao cálculo do torque ideal, obteve-se o valor de 0,64 Kgm, que é 7,8
vezes menor do que o especificado, mas que proporciona um aumento na segurança do
parafuso com relação à fadiga na ordem de oito vezes.
2.2.3 - PINO DE ENSACADEIRA PNEUMÁTICA FRATURADO
O trabalho visa identificar os motivos que levaram ao colapso o pino de segurança da
ensacadeira.
A leitura deste trabalho indica que a causa da falha foi o inadequado dimensionamento
do pino, que não apresentou resistência à fadiga adequada para sua aplicação.
Parte de um pino de segurança da tampa de uma ensacadeira pneumática para
embutidos de carne foi recebida, a fim de desenvolver análises buscando identificar a causa da
ruptura.
Fadiga e Análise de Falhas 63
Conforme informações do solicitante, a tampa da embutidora (A=0.1809m2) sofria
uma variação de pressão de 0 a 130 lbs/in2 (896,3 MPa). Este equipamento encontra-se ligado
em uma rede de ar comprimido onde, para compressão do produto fabricado, recebia uma
pressão de 130lbs/in2 e seu cilindro interno comprimia o produto. Posteriormente o sistema
era invertido para que o cilindro retornasse a sua posição inicial. Sendo assim espera-se uma
solicitação dinâmica repetida no pino variando de 0 a 130 lbs/in2. O pino rompeu em serviço.
Um desenho esquemático, feito pelo fabricante, também foi recebido junto com a parte
do pino (figura 29). Neste desenho algumas informações foram acrescentadas pelo solicitante.
Segundo informado, a primeira parte a romper foi a do pino (encaixe da tampa). Esta peça não
está de acordo com o desenho (figura 30). Depois ocorreu a fratura do lado oposto.
Figura 29– Reprodução do desenho esquemático da embutidora feito pelo fabricante. Algumas informações adicionais tais como a seqüência da falha e as modificações do projeto foram acrescidas ao desenho pelo solicitante.
Fadiga e Análise de Falhas 64
Figura 30– Esquema representando a mudança de projeto para o encaixe da tampa. O pino foi soldado ao dispositivo de aperto e depois foi aderida uma camada protetora contra corrosão de aço inoxidável. A parte do pino rompido apresentava péssimas condições para análise da superfície de
fratura. Além de sinais de desgaste abrasivo, provavelmente através do esmerilhamento, a
parte recebeu um ponto de solda que cobriu cerca de 30% da fratura. Estes procedimentos
foram realizados, segundo o solicitante, visando identificar o material do pino (figura 31).
A superfície possuía, ainda, camada de oxidação que dificultava a sua visualização
através de microscopia eletrônica.
Apesar disso, foi identificada uma região lisa na superfície, característica de processos
de fadiga. O esmerilhamento aplicado impediu de identificar exatamente o ponto inicial desta
fadiga e a sua real extensão. A peça foi, então, encaminhada ao microscópio eletrônico de
varredura (MEV) para averiguar o processo de fadiga e identificar os micromecanismos da
falha. A corrosão superficial dificultou a análise no MEV, mas foi possível identificar estrias
de fadiga em regiões determinadas. A corrosão foi, então, eliminada através da solução de
Clark e as estrias de fadiga ficaram evidenciadas não só na superfície lisa, como também na
parte mais fibrosa da falha (figuras 32 e 33).
O espaçamento entre as estrias apresentou-se de forma distinta. A parte lisa tem menor
espaçamento se comparada à fibrosa. Isto significa que ocorreram duas taxas de propagação
da trinca de fadiga.
Fadiga e Análise de Falhas 65
Figura 31– Fotografia da parte do pino fraturado indicando o ponto de solda e
esmerilhamento da superfície de fratura. Aumento: 0,7x.
Figura 32–Fotografia indicando as regiões da fadiga, quais sejam, a lisa e a fibrosa. Aumento: 1,7x.
Fadiga e Análise de Falhas 66
Figura 33– Estrias de fadiga observadas na superfície fibrosa, caracterizadas por linhas paralelas dispostas radialmente a partir do ponto inicial da fadiga. As estrias são formadas devido a deformação plástica localizada na ponta da trinca que se propaga. A fadiga averiguada no componente indicou a necessidade de análises metalúrgicas
complementares, para observar as condições microestruturais, a composição química e a
dureza do material.
A microestrutura é formada por matriz ferrítica com pouca perlita, típica de um aço de
baixo carbono no seu estado recozido. As linhas de fluxo do material indicaram que o pino é
confeccionado através de processo de conformação mecânica (laminação). O tamanho de grão
mostrou-se heterogêneo, com tamanho médio em torno de 8 ASTM junto a superfície e 6
ASTM mais para o núcleo. A dureza do pino é de 154 HB em média. A variação do tamanho
de grão e a presença de perlita esferoidizada em algumas regiões podem ter sido causadas
pelo superaquecimento localizado no processo de soldagem do pino ao dispositivo de aperto
da tampa (figuras 34 a 37).
A análise química realizada por emissão óptica indicou um teor de carbono de 0,09%
em peso, confirmando o resultado metalográfico.
Tabela 2 – Análise química
Elemento C Si Mn P S Cr Mo Ni Cu Ti Sn
Peso em % 0.09 0.25 0.86 0.02 0.02 0.09 0.02 0.09 0.09 0.01 0.03
Trata-se, portanto, de um pino laminado a partir de um aço baixo carbono (SAE 1010
ou similar).
Fadiga e Análise de Falhas 67
Figura 34– Fotomicrografia obtida do núcleo do pino, indicando a microestrutura ferrítica e perlítica com linhas de fluxo do material devido a laminação. Aumento: 50x; ataque: nital 2%.
Figura 35– Microestrutura ferrítica e perlítica com tamanho de grão em torno de 8 ASTM que caracteriza a superfície do pino. Aumento: 100x; ataque: nital 2%.
Figura 36– Condição microestrutural numa região intermediária entre a superfície e o núcleo do pino. Observa-se a variação do tamanho de grão e a formação de perlita esferoidizada. Aumento: 100x; ataque: nital 2%.
Fadiga e Análise de Falhas 68
Figura 37– Tamanho de grão em torno de 6 ASTM junto ao núcleo do pino com matriz ferrítica e perlita esferoidizada. Observa-se também o alinhamento microestrutural devido a laminação. Aumento: 100x; ataque: nital 2%. Levando em consideração as informações do solicitante quanto à pressão de trabalho e
dimensões do equipamento, foi desenvolvido um cálculo da resistência a fadiga do pino,
conforme os dados a seguir:
* vaso: diâmetro interno (Di)=480 mm
* pressão máxima em serviço (Pmáx.)=0,896 MPa
* pino: diâmetro da parte fraturada=40 mm
A área total da tampa é:
At = π (Di/2)2
At = 180955,7 mm2
O esforço máximo na tampa é:
F =Pmáx * At
F = 162.199,7 kN
Tal força distribui-se nos dois pinos que sustentam a tampa, de forma que o pino
fraturado suportou a metade desta força:
Fp = F/2
Fp = 81099,8 kN
A área do pino fraturado é:
Ap= π (40/2)2
Ap=1256,6 mm2
A tensão máxima no pino é (σp):
σp=Fp/Ap Fadiga e Análise de Falhas 69
σp=64,5 MPa
Então, a tensão máxima aplicada no pino é em torno de 64,53 MPa. Considerando a
solicitação dinâmica de tração repetida que sofre o pino, pode ser calculada a sua resistência à
fadiga.
S'n - resistência à fadiga de flexão rotativa para o aço SAE 1020
S'n=160 MPa
Ka - fator de correção devido ao acabamento da peça
Ka = 0,7 (pino usinado com dureza 154 HB)
Kb - fator de correção devido ao tamanho do pino
Kb = 0,85 (pino com 40 mm diâmetro)
α - correção entre ensaio de fadiga sob solicitação de tração repetida e flexão rotativa
α = 0,72
Sn - resistência à fadiga do pino sob tração repetida
Sn = S'n * Ka * Kb * α
Sn = 160MPa * 0,7 * 0,85 * 0,72
Sn = 68,5 MPa
Logo, a resistência a fadiga aproximada do pino, considerando os dados mencionados,
é de apenas 68,5 MPa.
Relacionando este valor de resistência com a tensão aplicada no pino, obtêm-se o
coeficiente de segurança determinado em projeto:
Sg = Sn/σp
Sg = 1,06
Tal coeficiente de segurança indica que a solicitação do pino é muito próxima (0,6 %
inferior) a resistência à fadiga.
Fadiga e Análise de Falhas 70
Lançando estes valores no diagrama de Goodman podemos avaliar o comportamento
em fadiga do pino, segundo o critério de Shigley, que determina que o ponto que relaciona a
amplitude máxima de solicitação (64,5 MPa) à tensão média da solicitação (32,25 MPa) deve
estar localizado abaixo do limite inferior da zona de dispersão. Este limite é determinado no
diagrama pela linha que liga a resistência à fadiga do componente (ordenadas) ao ponto de
resistência a tração (abscissa).
Goodman68,5
0
20
40
60
80
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
Tensão Média (MPa)
Tens
ão M
áxim
a (M
Pa)
64,5
32,25
320
Figura 38– Diagrama de Goodman do pino fraturado mostrando que o seu projeto quanto a resistência a fadiga não foi adequado, pois o ponto indicado acima da linha limite da zona de dispersão prevê uma possível ruptura por fadiga. O pino de segurança rompeu por fadiga sob solicitações repetidas de tração, devido ao
inadequado dimensionamento na especificação do projeto.
O coeficiente de segurança (Sg = 1,06) é muito baixo para a aplicação em um pino de
segurança de um vaso de pressão.
O pino deveria ter sido projetado com maior diâmetro ou, então, a partir de um
material com maior resistência à fadiga.
2.2.4 - ANÁLISE DE FALHA EM CHAPA PARA APOIO DE MOLAS
A falha ocorreu numa das quatro partes comprimidas caracterizadas em desenho pela
cota de raio R 20 das chapas para apoio de molas de suspensão automotiva (figura 39).
Fadiga e Análise de Falhas 71
Em primeira análise a trinca iniciou na aresta superior (formada no corte por
guilhotina) e propagou até aproximadamente vinte milímetros (20 mm) na direção da base,
paralelamente aos eixos de centro dos furos (figura 40). Esta aresta superior apresenta um
acabamento superficial irregular (figura 41), formado por estrias que aparentemente
direcionam o fluxo do material durante a estampagem do componente, resultando em pontos
de deformação plástica localizada na região comprimida da parede interna do componente
(figura 42). Cada uma das duas seções mencionadas, ou seja, a vista de topo e a parede
interna, foram analisadas microscopicamente de forma a verificar a condição metalográfica
nestes pontos críticos (as metalografias acompanham as respectivas figuras). Foi verificada,
assim, a formação de trincas no material em pontos concentradores de tensões devido ao
encruamento do material.
As duas superfícies da trinca foram retiradas para análise. Foi verificado, então, o
ponto de início da trinca como sendo a aresta interna, desde o vértice superior até cerca de
cinco milímetros (5 mm) abaixo. A fratura apresenta-se de forma frágil, com vasta zona radial
envolvida pela zona de cisalhamento final. O micromecanismo de fratura predominante em
toda a zona radial, incluindo as proximidades do início da falha, é caracterizado por clivagem
(figura 43).
A microestrutura do material é formada por ferrita e pequena quantidade de perlita,
típica de um aço com baixo teor de carbono, e carbonetos (cementita) esferoidizados
dispersos na matriz e em contorno de grão. O tamanho de grão do material encontra-se em
torno de 7 pela norma ASTM.
Foram realizados ensaios de microdureza na chapa resultando em uma dureza média
de 170 HV0,2, salvo nas regiões mais encruadas, próximo à região cortada por guilhotina, onde
a dureza aumentou para 200 HV0,2.
Fadiga e Análise de Falhas 72
Figura 39– Imagem mostrando as duas peças recebidas para análise de falha. Uma delas apresenta uma trinca conforme a próxima figura. Aumento: 0,3x.
Figura 40– A seta indica a ruptura que inutilizou a chapa de apoio para molas. Aumento: 0,8x.
Figura 41– Vista de topo mostrando o acabamento superficial da região da chapa cortada por guilhotina numa região simétrica àquela trincada. Na direita, metalografia indicando a presença de uma trinca semelhante a que resultou na falha da peça, bem como as linhas de fluxo oriundas da fabricação. Aumento: 6x e 200x; ataque: nital 2%.
Figura 42– Vista da região crítica. Notam-se, junto à aresta, os pontos onde ocorreu deformação plástica localizada durante o processo de estampagem. Porém, esta metalografia é referente a chapa isenta, o que determina que os pequenos pontos concentradores de tensão formam-se já na fabricação da peça. Aumento: 6x e 200x; ataque: nital 2%.
Fadiga e Análise de Falhas 73
Figura 43– A montagem mostra os micromecanismos de fratura correspondentes às regiões indicadas na macrografia da fratura. Região próxima ao início da falha com clivagem (a); direcionamento da fratura característico da região de propagação (b); região próxima a imobilização da trinca com a formação de clivagem e alguns indícios de coalescências de microcavidades (c).
Figura 44– Metalografia de uma seção longitudinal simétrica àquela trincada. Observa-se o encruamento do material com fluxo seguindo o sentido do corte por guilhotina. Tamanho de grão em torno de 7 ASTM. Aumento: 100x; ataque: nital 2%.
Fadiga e Análise de Falhas 74
Figura 45– Microestrutura ferrítica com pequena quantidade de perlita e cementita esferoidizada. Aumento: 500x; Ataque: nital 2%.
O trabalho indicou que a trinca ocorreu devido a uma sobrecarga por solicitação
estática principiada numa região de forte concentração de tensões imposta pela conformação
mecânica e caracterizada pelas marcas de deformação plástica localizada, visíveis inclusive a
olho nú. O micromecanismo de clivagem observado em toda a zona radial pode ter sido
incentivado exatamente por causa desta região concentradora de tensões (restringe a
deformação plástica).
A falha do componente, portanto, está relacionada com o processo de fabricação,
quando a rugosidade da aresta cortada por guilhotina direciona o fluxo do material originando
pequenas fissuras concentradoras de tensões. O esforço aplicado no processo de montagem,
por sua vez, torna-se suficiente para a propagação de trincas oriundas da fissura inicial,
inutilizando o componente.
Fadiga e Análise de Falhas 75
2.2.5 - ANÁLISE DE FALHA EM VIRABREQUINS PARA MOTORES DE COMBUSTÃO
INTERNA
Virabrequins são componentes excêntricos que transformam o movimento de
translação em rotação. Podem ser, portanto, considerados como o principal componente de
um motor de combustão interna. Nos últimos tempos, muitos casos de falha em virabrequins
foram verificados, apesar de normalmente ser um componente super dimensionado em termos
de cargas estáticas.
O motivo destas falhas se relaciona com problemas microestruturais oriundos da
própria fabricação ou até mesmo da manutenção, tensões residuais ou problemas de utilização
como falta de lubrificação, por exemplo. Sabe-se que qualquer um dos fatores acima pode ser
responsável pela nucleação de trincas de fadiga, o que certamente leva o componente ao
colapso.
INTRODUÇÃO
O virabrequim dos motores a combustão interna é o componente responsável por
transmitir a energia produzida pelos cilindros (câmaras de combustão), podendo ser
considerado como seu principal componente transformando o movimento de translação dos
pistões em rotação. Os virabrequins são peças robustas, super dimensionadas, construídas de
aço comum ao carbono ou microligado, ou ferro fundido nodular ou cinzento e, mesmo assim,
ocorrem muitos casos de falha nestes componentes.
Virabrequins são, portanto, eixos excêntricos fixados em seu eixo de simetria na
região dos mancais do bloco de motor. Estas regiões são normalmente chamadas de munhões.
Os moentes, por sua vez, são as regiões excêntricas ligadas as bielas. Geralmente o
virabrequim é rigidamente fixado, ou seja, são muitos os munhões ajustados a mancais do
bloco de motor. Cada moente se relaciona a dois munhões. Esta grande rigidez faz com que o
componente continue desempenhando sua função, mesmo após a ruptura. Outra característica
dos virabrequins, também conhecidos como árvore de manivelas, é a alta freqüência de
solicitações inerente ao funcionamento do motor. Sendo assim, comporta-se como qualquer
componente mecânico, ou seja, apesar de super dimensionado em termos estáticos, a
propagação da fadiga é muito rápida, sendo difícil o seu monitoramento. Na figura observa-se
Fadiga e Análise de Falhas 76
também a massa de ligação entre munhão e moente, freqüentemente denominada de cambota
ou palma.
Estes componentes devem possuir alta resistência à fadiga pois sofrem carregamentos
cíclicos durante toda sua vida útil. Entretanto muitos são os fatores que podem alterar esta
propriedade, introduzidos pelo processo de fabricação, montagem, manutenção, material,
operação, entre outros. Muitas vezes, devido a grande rigidez do sistema, o motor continua
em operação por algum tempo após a completa ruptura, podendo a superfície de fratura sofra
grande amassamento prejudicando a observação dos mecanismos de fratura.
Neste trabalho serão apresentadas algumas análises de falha onde serão mostradas
ocorrências de virabrequins fabricados em ferro fundido e casos de peças forjadas em aço. A
contagem das posições dos munhões e moentes tem origem na parte frontal do componente
em relação motor.
e
Figura 46- Esquema mostrando a nomenclatura utilizada neste
METODOLOGIA
Nesta parte do trabalho destinada a mostrar casos de fal
resumidos os pontos da análise que interessam a cada caso, deixa
relevância da metodologia de análise de falhas.
Todos os casos são de falhas por processo de fadiga. N
processo tem sua nucleação em um dos raios de concordância, se
ou entre cambota e moente. Em todos os casos a fadiga foi de
flexão, sendo que a parcela de torção comum a tal componente
propagação da falha.
A metodologia para as análises de falhas realizadas segue
Devido a grande quantidade de informações alguns resultados, que
Fad
Munhões
trabalho.
has em vir
ndo de lad
a maioria
ja entre ca
corrente d
em nada
o propost
não tiver
iga e Anál
Moent
Cambotaabrequins, serão
o parte de menor
dos casos, este
mbota e munhão
e solicitação de
contribui para a
o pela literatura.
em ligação direta
ise de Falhas 77
com o colapso, não serão citados. Serão discutidas, portanto, apenas as causas que levaram
cada componente ao colapso.
RESULTADOS
Serão apresentados, primeiramente, os casos de peças fabricadas em aço e
posteriormente os casos de peças fabricadas em ferro fundido.
PRIMEIRO CASO - AÇO
Neste caso foi analisado um virabrequim de motor de utilização náutica que rompeu em
serviço no terceiro moente. A falha ocorreu em serviço durante o funcionamento normal. Este
componente trabalhou durante cinco anos e sofreu processo de retífica rompendo após 7000
horas de uso, aproximadamente.
Uma análise visual das partes revelou marcas de desgaste irregular nos munhões e
moentes. O munhão fraturado e a biela correspondente apresentaram excessivas marcas de
deformação superficial devido ao atrito com conseqüente destruição do casquilho. Marcas de
queima foram observadas nas partes do moente danificado, tendo, inclusive, atingido um tom
azulado que indica ter alcançado temperaturas da ordem de 500° C.
A análise macroscópica da superfície da fratura determinou o início da falha por fadiga
em diversos pontos que compreendem cerca de um quarto do perímetro do raio entre o
terceiro moente e a região frontal da cambota (figura 47). A falha propagou a partir dos
diversos pontos atingindo cerca de um terço da seção resistente com solicitação de flexão. A
ruptura final ocorreu por sobrecarga com solicitação combinada com uma componente de
torção. A superfície fatigada encontra-se lisa e as marcas de praia características são pouco
evidentes.
Foi retirado um corpo de prova de uma região no raio de concordância que apresentou
estas marcas de queima e foi constatado uma região com martensita não revenida (figura 48).
Este constituinte é formado devido a altas temperaturas atingidas durante o processo de
retifica. Costuma-se denominar este fenômeno de "queima de retífica" e ocorre quando o
rebolo exerce uma pressão elevada sobre a peça ou falta fluido de refrigeração, que aumenta a
temperatura, ou seja, alguns pontos localizados atingem temperaturas elevadas, temperaturas
de austenitização e com a refrigeração ocorre a têmpera localizada. Foi constatado que a
dureza desta fase clara é muito superior a das demais regiões temperadas por indução,
confirmando assim a hipótese de ter sido formada martensita não revenida. A martensita não
Fadiga e Análise de Falhas 78
revenida é prejudicial por ser uma microestrutura extremamente frágil e tencionada, que
facilmente permite a nucleação de trincas.
Figura 47- Imagem mostrando a superfície de fratura, observam-se as regiões distintas da fratura. Aumento: 1x.
Figura 48- Micrografias mostrando regiões onde ocorreu formação de martensita não revenida. Ataque: nital 3%. Aumento:180x. Finalmente pode-se afirmar que a origem da falha está associada ao processo de
retifica que permitiu a formação de martensita não revenida junto ao raio de concordância
entre a cambota e o terceiro moente. A martensita não revenida é uma fase frágil, com tensões
residuais e elevada dureza; ou seja, uma fase preferencial para a nucleação de uma trinca.
SEGUNDO CASO - AÇO
Neste caso foi analisado um virabrequim de um motor de aeronave que sofreu queda
em decorrência da falha no motor poucas horas depois de ter sido submetida a uma revisão
geral.
A análise visual da superfície de fratura indicou que a ruptura ocorreu por fadiga em
carregamento de flexão nucleada no raio de concordância junto a cambota (figura 49).
Fadiga e Análise de Falhas 79
A análise metalográfica da região próxima a fratura mostrou a existência de uma
camada nitretada com espessura de 0,008 mm no flanco do munhão. Não foi observada,
porém, a existência de camada nitretada na superfície do munhão, evidenciando que houve
uma retirada de material devido a retificação ou desgaste que removeu a camada nitretada.
Em outra seção analisada foi encontrado uma região com formação de martensita não
revenida na superfície do munhão, localizada pouco antes do raio de concordância,
evidenciando que houve "queima" no processo de retífica, semelhante ao ilustrado na figura
48.
Foram realizados ensaios de líquido penetrante e partículas magnéticas em várias
regiões do virabrequim constatando-se a presença de trincas radiais em toda circunferência do
munhão, no raio de concordância entre o terceiro mancal e a cambota, exatamente onde
ocorreu a ruptura (figura 49).
Figura 49- A esquerda observa-se a superfície de fratura nucleada no raio de concordância. A imagem da direita mostra as trincas radiais no raio de concordância. Aumentos: 0,8 e 6x respectivamente. Pode-se concluir que as causas da falha por fadiga do virabrequim foram os defeitos
(trincas radiais e martensita não revenida) produzidos durante uma operação de retífica do
munhão.
TERCEIRO CASO - AÇO
Nestes dois casos foram analisados dois virabrequins de caminhões semelhantes que
romperam por fadiga nucleada num ponto junto aos raios de concordância do quinto e terceiro
munhão, para cada peça. Em ambas as situações não houve reparo no virabrequim.
A análise da fratura dos dois casos mostrou a nucleação da fadiga em um ponto junto
ao raio de concordância do munhão e a cambota do moente anterior. O plano de propagação,
Fadiga e Análise de Falhas 80
em ambos os casos, atingiu cerca de metade da seção resistente e posteriormente ocorrendo a
ruptura final, visto na figura 50.
A análise microestrutural das regiões próximas das fraturas mostrou uma estrutura
martensítica revenida na região de contato com os mancais, temperada por indução, e uma
estrutura bainítica nas demais regiões do virabrequim. Em ambos os casos foi constatado que
a camada temperada por indução termina imediatamente antes do início do raio de
concordância, como pode ser visto na figura 51. Sabe-se que o procedimento de têmpera por
indução introduz tensões compressivas na camada e que tais tensões são equilibradas com o
aparecimento de tensões trativas no final e abaixo da camada. As regiões com tensões trativas
encontram-se exatamente junto ao raio de concordância, diminuindo, assim, o efeito benéfico
do próprio raio.
No terceiro caso foi observada a presença de alinhamento de inclusões na direção
ortogonal à pista de rolamento próximo ao início da falha (figura 52).
Figura 50– Detalhe do plano de propagação desenvolvido numabrange mais que 50% do total da seção resistente. Aumento: 0,
Figura 51– Macrografia mostrando a região temperada por innúcleo (b). Observa-se que o término da camada temperaimediatamente antes do início do raio de concordância. Aument
Fadig
Marcas de
praia
Ruptura finala extensa superfície que 6x.
duçãda po: 12
a e A
Superfície
de fratura
Raio de
concordância
Início da falha
o (a) e a região do or indução ocorre x.
nálise de Falhas 81
Figura 52– A imagem mostra alinhamento de inclusões na direção ortogonal à pista de rolamento, próximo ao início da falha. Aumento: 500x. Sem ataque. No quarto caso devido a não ter sido encontrado nenhum defeito microestrutural foi
realizada uma análise de tensões residuais utilizando o método de seccionamento em dois
pontos, um na pista de rolamento e outro no raio de concordância (figura 53). Os resultados
desta análise mostraram que na pista de rolamento, com um corte de 3 mm de profundidade
foi medido um valor de tensão compressiva de 255 MPa e no raio de concordância, com um
corte de 1,5 mm de profundidade foi medido um valor de tensão trativa de 28 MPa,
confirmando a hipótese citada anteriormente.
Figura 53– A imagem mostra o extensômetro colado ao componente que permitiram medir a variação de tensão com a progressiva relaxação das tensões residuais conforme a região era secionada. Aumento: 0,6x. Conclui-se que o fato de haver tensões trativas no raio de concordância é um fator
agravante na vida em fadiga dos materiais. No terceiro caso o alinhamento de inclusões
próximo a superfície é mais um fator que diminui a resistência à fadiga do componente.
Fadiga e Análise de Falhas 82
QUARTO CASO – AÇO
Foi realizada a análise da falha de três virabrequins. A análise constatou que as falhas
aconteceram por fadiga, com nucleação nos raios de concordância entre munhão e cambota e
entre moente e cambota (figura 54).
A análise química determinou que se trata de um aço tipo SAE 1050. O perfil de
dureza constatou uma baixa dureza de núcleo do material.
A metalografia realizada indicou que a causa da falha foi o excessivo tamanho de grão
combinado com a falta de tratamento de têmpera superficial no raio de concordância.
No fim do trabalho, algumas sugestões foram dadas para sanar o problema, com
algumas modificações no processo de tratamento térmico.
Figura 54- Peças recebidas para a análise. Aumento 0,2X
As superfícies de fratura apresentavam uma zona de início por fadiga (Figura 55). Em
dois casos ocorreu a nucleação no raio de concordância entre o moente e a cambota, e no
outro caso com nucleação no raio de concordância entre o munhão e a cambota. A fadiga
avançou em um ângulo aproximado de 45 graus em direção ao núcleo.
Observou-se uma segunda zona, logo após a fadiga, onde aconteceu a ruptura final
(Figura 55, seta B).
As três peças recebidas apresentavam o mesmo aspecto na superfície onde aconteceu a
fratura.
Fadiga e Análise de Falhas 83
B
A Figura 55- À esquerda a fratura iniciada no munhão do virabrequim. A seta A indica o início da fadiga e a seta B a zona onde aconteceu a ruptura final. À direita, fratura iniciada no moente do virabrequim. Aumentos de 1,7X e 2,7X respectivamente. Foram retirados corpos de prova da zona de início da falha de todos os três
componentes e preparados metalograficamente.
A análise das inclusões foram feitas com os corpos de prova polidos, apresentando
inclusões de sulfeto de manganês (MnS) alongadas segundo o fluxo de material no
forjamento. A classificação da norma ASTM é tipo A 2 ½, serie fina. (Figura 57).
Após o ataque com Nital, foi analisada a microestrutura, apresentando uma matriz
perlítica com ferrita em contornos de grão. O tamanho de grão é 1 segundo a norma
ASTM.(Figura 58). A região do início das fraturas é mostrada na figura 59, onde se observa
que o início coincide com a ausência de transformação martensítica ou, no caso do
virabrequim 1, coincide com a zona de transição da camada.
A camada temperada apresentou uma microestrutura martensítica revenida com ferrita
em contornos de grão. (Figura 60).
A análise da profundidade da camada temperada na região do munhão foi realizada em
um dos virabrequins, e o resultado está no Gráfico 1.
Figura 56- Inclusões presentes nos virabrequins. Observa-se a presença de Sulfeto de Manganês (MnS). Aumento: 100x, Sem Ataque.
Fadiga e Análise de Falhas 84
Figura 57- Microestrutura embaixo da camada temperada. Observa-se uma matriz perlítica com ferrita em contornos de grão, com um tamanho grosseiro, em média de 1 ASTM. A)Virabrequim 1, b) Virabrequim 2, c)Virabrequim 3. Aumento 100X. Ataque Nital 2%.
Figura 58- A esquerda observa-se a região do início da falha (indicado pela seta) no raio de concordância do virabrequim 2. A direita, início da falha no virabrequim 1. Zona de transição da camada e o núcleo, com martensita revenida e perlita fina, além de ferrita nos contornos de grão. O ponto de início também está indicado pela seta. Aumentos de 200X. Ataque Nital 2%.
Fadiga e Análise de Falhas 85
Figura 59- A esquerda fotografia obtida a partir de luz polarizada, mostrando perlita fina e ferrita nos contornos de grão. À direita martensita revenida e ferrita nos contornos de grão na região da camada temperada. Virabrequim 1. Aumento 750X e 1000X respectivamente. Ataque Nital 2%.
0
100
200
300
400
500
600
0 1 2 3 4 5 6Profundidade (mm)
Dur
eza
HV
0,30
0 K
g
7
Gráfico 1 - Profundidade da camada temperada no Virabrequim 2.
A análise química foi realizada com um Espectrômetro de Emissão Ótica, marca
Espectrolab LAVMB08B, com amostras lixadas, e o resultado foi a média de 3 análises em
cada amostra. O resultado apresenta-se na Tabela 3. O material encaixa na classificação do
aço SAE 1050.
Tabela 3 - Análise Química dos Virabrequins
Elemento (%) C Si Mn Cr Ni Cu Mo S P Fe
Virabrequim 1 0,509 0,184 0,931 0,173 0,067 0,116 0,012 0,054 0,011 97,91
Virabrequim 2 0,494 0,202 0,935 0,168 0,099 0,073 0,025 0,057 0,013 97,90
Virabrequim 3 0,506 0,189 0,936 0,165 0,052 0,111 0,013 0,05 0,010 97,93
Fadiga e Análise de Falhas 86
DISCUSSÃO
A falha iniciou na metade dos raios de concordância, coincidindo com a máxima
concentração de tensões devido à flexão dos mancais (munhões e moentes).
As metalografias indicaram um tamanho de grão ASTM igual a 1, fato que é
considerado adverso para solicitações de fadiga. Apresentou-se um nível elevado de
inclusões, mas as mesmas são paralelas às tensões, de forma que não contribuíram
significativamente para o aumento das tensões localizadas e para a falha.
Observou-se, ainda, que a camada temperada apresenta um tamanho de grão menor
que o núcleo, mas a falha não está associada diretamente a têmpera. No entanto as camadas
não abrangem o raio, o que torna os componentes críticos em termos de tensões residuais e de
dureza.
A análise química determinou a igualdade de composição dos três virabrequins. A
quantidade de elementos de liga no material não é significativa, sendo, portanto, um aço do
tipo SAE 1050.
CONCLUSÕES
Todas as três falhas ocorreram por fadiga, nucleadas no raio de concordância entre a
cambota e o munhão ou entre a cambota e o moente. Nesta região constatou-se a formação de
microestrutura perlítica e ferrítica com elevado tamanho de grão (ASTM 1) e baixa dureza, de
forma que estes foram os fatores causadores das falhas.
SUGESTÕES
Para aumentar a vida em fadiga destes virabrequins algumas medidas podem ser
tomadas.
A primeira delas é verificar se a matéria prima está sendo fornecida com tamanho de
grão em torno de no mínimo 6 ASTM. Depois é aconselhável rever os parâmetros de
forjamento, visto que é comum o crescimento de grão neste processo.
Quanto ao tratamento térmico, aconselha-se que o passe de têmpera superficial abranja
a totalidade dos raios de concordância atingindo a face das cambotas (palmas). Desta forma a
dureza da região crítica aumentará e a vida em fadiga do componente também. Mas é preciso
melhorar o processo de têmpera superficial, reduzindo a formação de ferrita em contorno.
Para isso, é necessário reduzir a potência da bobina e reduzir a velocidade do processo.
Fadiga e Análise de Falhas 87
Para concluir as sugestões quanto ao tratamento térmico, aconselha-se que seja feita
uma têmpera total antes da têmpera por indução, de forma que o núcleo apresente uma dureza
de aproximadamente 40 HRC ou mais. Caso não seja possível a têmpera devido ao
empenamento, sugere-se ao menos que seja realizada uma normalização.
Quanto à matéria prima, verificou-se que trata-se de uma aço comum ao carbono (SAE
1050) sem elementos de liga. Sugere-se que este material seja substituído por algum aço
microligado, como, por exemplo, o aço SAE 4140 ou similar.
Todas essas medidas tomadas garantirão a excelência do produto e devem ser tomadas
mesmo que gradualmente.
Mas uma atitude que deve ser imediatamente tomada é a modificação da têmpera
superficial. Ela atinge a causa raiz das falhas, ou seja, o tamanho de grão elevado e a baixa
dureza no raio. Caso a têmpera seja feita sobre a totalidade do raio, a vida em fadiga
aumentará.
QUINTO CASO - FERRO FUNDIDO NODULAR
Neste caso foi analisado um virabrequim fabricado em ferro fundido nodular. Durante
a utilização do veículo, ocorreu a queda de um parafuso de fixação da caixa de distribuição no
compartimento da correia de distribuição, ocasionando folga e um golpe reativo ao
movimento do virabrequim de uma determinada magnitude.
A análise da fratura indicou que o colapso ocorreu por fadiga devido a solicitação de flexão,
tendo a trinca nucleado junto ao raio de concordância entre a palma e o moente. A região de
propagação foi extensa, atingindo mais de dois terços da superfície total.
A análise microestrutural indicou que os nódulos apresentam heterogeneidade quanto
ao seu tamanho (apesar de estarem na faixa especificada) e distribuição, estando estes
alinhados em algumas regiões junto ao raio de concordância (figura 60), além da presença de
microrrechupes (porosidades) e grafita em forma de agulhas dispersas na matriz perlítica e
ferrítica.
Fadiga e Análise de Falhas 88
Figura 60– Alinhamento de nódulos partindo do raio de concordância. Aumento: 20x.
A análise dos resultados mostra que o componente apresentou propriedades mecânicas
e metalúrgicas dentro do especificado, porém pôde ser observado um alinhamento de nódulos
de grafita na região do raio de concordância o que determina um defeito de fundição. Este
alinhamento de grafita pode estar associado a inoculação ineficiente na fundição ou altas
temperaturas de vazamento. Tal defeito associado a um regime de trabalho mais exigente, no
caso houve falta de aperto dos parafusos da capa do quinto mancal propiciando uma
solicitação de flexão anormal no componente, levaram o virabrequim à ruptura.
SEXTO CASO - FERRO FUNDIDO NODULAR
Nestes casos foram analisados dois virabrequins de motores semelhantes. A ruptura ocorreu
na cambota dianteira e traseira do quarto munhão nos respectivos casos.
A observação com lupa da superfície fraturada indicou o local de nucleação da mesma
como sendo um ponto próximo ao raio de concordância no interior da cambota dianteira e
traseira do quarto munhão, respectivamente. O macromecanismo de propagação da fratura na
região próxima a de nucleação é por fadiga. A fratura final ocorreu por sobrecarga de tração,
devido à diminuição da seção resistente, como pode ser visto na figura 61.
Figura 61– Imagem mostrando o local de nucleação da fratura, um resraio de concordância como indicam as marcas de praia. Aumento: 1,15x
Fadiga e Aná
Início da
falha
salto próximo ao .
lise de Falhas 89
A observação em MEV identificou o ponto de nucleação como sendo uma
descontinuidade do material (microrrechupe) como mostra a figura 62. Na região final da
fratura o micromecanismo de propagação é por clivagem. Uma vez atingida a superfície, a
fratura propagou seguindo perpendicularmente ao raio de concordância.
Figura 62–Micrografia do defeito responsável pela nucleação da fratura. Pode-se observar que o defeito é um vazio no material.
Figura 63- A esquerda observa-se a formação de uma película de óxidos em contorno de células. A esquerda observa-se a ocorrência de microrrechupes na região próxima ao início da falha. Aumentos: 25 e 40x. Os dois componentes analisados apresentaram microestrutura perlítica com ferrita em
contorno de nódulos e raras ocorrências de má formação de nódulos. Cabe salientar que no
sétimo caso foram encontradas algumas películas de óxido em contorno das células eutéticas,
figura 63. A principal anomalia encontrada em ambos os casos foi a presença de
microrrechupes numa região próximo a falha.
As microestruturas das peças analisadas apresentaram-se dentro do especificado pelo
solicitante com exceção de má formação de nódulos e, no sétimo caso, a presença de óxidos.
A formação de películas de óxidos e a presença de microrrechupes, principais responsáveis
pela falha, devem ser associados a problemas de fundição ou vazamento do metal líquido.
Fadiga e Análise de Falhas 90
SÉTIMO CASO - FERRO FUNDIDO NODULAR
Aqui foi analisada uma seção de um virabrequim utilizado em um motor de veículo
agrícola de quatro cilindros que rompeu transversalmente em uma pista de rolamento, não
especificado se em algum munhão ou moente.
A análise visual da superfície de fratura mostrou indícios de ruptura por fadiga,
evidenciado pelas marcas de praia divergindo de um ponto subsuperficial (logo abaixo da
camada temperada por indução) e apresentando regiões distintas de propagação, como pode
ser observado na figura 64.
A microestrutura da seção analisada foi perlítica com pouca ferrita em contorno de
nódulos e com grande variação no tamanho dos nódulos. A região de início da falha
apresentou grande quantidade de microrrechupes, visto na figura 65.
a
Figura 64– Macrografia mostrando a superfície da fraturainício da falha num ponto abaixo da camada temperada. A
Figura 65– Micrografias mostrando a presença de microrrfalha. Aumentos: 90x. Conclui-se que o virabrequim rompeu por fadiga sob c
numa região logo abaixo da camada temperada por indução,
microrrechupes. A extensa zona de propagação e ausê
Início da falh
do virumento
echupe
arregam
devido
ncia d
Fadiga
Zona de
propagação
abrequim indicando o : 1x.
s na região de início da
ento de flexão nucleada
a grande quantidade de
e deformação plástica
e Análise de Falhas 91
macroscópica indica o baixo nível de tensões agindo na fadiga e superdimensionamento da
região resistente.
OITAVO CASO - VIRABREQUINS DE FERRO FUNDIDO
Foi analisada a falha de dois virabrequins de ferro fundido nodular que romperam em
serviço. Em ambos virabrequins observou-se o início por fadiga com nucleação no raio de
concordância entre o moente e a cambota, coincidindo com um defeito na usinagem dos raios.
A falha ocorreu devido a presença de inclusões e microrrechupes alinhados, baixo grau
de nodularização da grafita, combinado com defeitos no acabamento de usinagem.
Figura 66- Peças recebidas para a análise. Aumento 0,3X
Observa-se em ambos uma zona de início da fratura por fadiga, com nucleação no raio
de concordância entre o munhão e a cambota (Figura 67). A zona fadigada apresenta uma
inclinação em um angulo aproximado de 45°, e logo após observa-se uma zona de ruptura
final.
Também se observou (Figura 68) em ambos virabrequins a presença de imperfeições
no acabamento no raio de concordância.
Fadiga e Análise de Falhas 92
Figura 67-último aprindica a zo
Figura 68-
1,35X
Fora
metalografi
Fora
microrrechu
A s
de uma mat
As a
com um gra
A
A esesentna de
Imp
m ex
camen
m ob
pes (F
uperfíc
riz de
mostr
u de n
B
querda falha no virabrequim 87 e a dirado um amassamento maior. A seta A in ruptura final. Aumento 1,8X e 1,4X respec
erfeições no raio de concordância de um
traídas duas amostras ortogonais a zona de
te.
servadas sem ataque químico no micro
igura 69 e 70) e má formação dos nódulos d
ie próxima ao centro do munhão apresenta
martensita com austenita retida e nós de graf
as foram classificadas segundo a norma AST
odularização de 80%, com 75 nódulos por m
B
eita dicativa
do
iníc
scó
e gra
va-s
ita. (
M c
m2 e
Fad
A
no virabrequim 30. Este a zona de início, seta B mente.
s virabrequins, aumento
io da fratura, e preparadas
pio ótico a presença de
fita.
e temperada, com presença
Figura 71).
omo ferro fundido nodular
tamanho de nódulo 5.
iga e Análise de Falhas 93
Figura 69- À esquerda, inclusões e microrrechupes alinhados. À direita microrrechupes e agulhas de grafita mal formada. Amostra sem ataque. Aumento 115X e 285X
Figura 70- À esquerda, em uma das amostras, a seta indicando a superfície de fratura. A microestrutura é formada por uma matriz perlítica com nódulos deformados de grafita e ferrita nos contornos de grão. Observa-se o alinhamento de inclusões e microrrechupes na parte superior. À direita alinhamento de inclusões e microrrechupes na amostra do outro componente. Aumento 135X e 100X respectivamente, ataque Nital 2%.
Figura 71- À esquerda observa-se agulhas de martensita e austenita retida, com a presença de microrrechupes. À direita, martensita, austenita retida e nódulos de grafita, além de um microrrechupe (seta). Estas microestruturas foram observadas na camada temperada de um dos componentes. Aumentos de 570X e 287X respectivamente.
Fadiga e Análise de Falhas 94
DISCUSSÃO
A falha iniciou no raio de concordância entre o munhão e a cambota, ajudado pela
presença de defeitos de usinagem.
As metalografías indicaram a presença de microrrechupes e impurezas nos contornos
de células. O alto conteúdo de impurezas e de material nodularizante provocou a segregação
dos mesmos no contorno de grão na solidificação formando as inclusões e dificultando a
nodularização de grafita. Os microrrechupes foram provocados pela velocidade de
resfriamento alta. O fato de que os microrrechupes e as inclusões formarem redes na
microestrutura diminui de forma crítica a vida em fadiga.
Para a maioria das aplicações de alta responsabilidade de ferro fundido nodular em
termos de fadiga, o grau de nodularização deve ser no mínimo de 85%, o que indica que o
material está fora das especificações;
Na camada temperada observa-se uma matriz de martensita e nódulos de grafita, com
a presença de austenita retida, fato que não se associa diretamente com a falha, mas deve ser
evitada a austenita, pois diminui a vida em fadiga.
As falhas aconteceram por fadiga, com nucleação em alinhamentos no raio de
concordância entre o munhão e a cambota. A causa da falha foi a concentração de tensões
induzidas pela presença de inclusões, grafita não nodularizada e microrrechupes nos
contornos de célula e da grafita não nodularizada.
Observou-se a presença de austenita retida na camada temperada, que também é
danoso quanto à fadiga.
CONCLUSÃO
Dentre os componentes apresentados constatou-se que ocorreram falhas devido a
manutenção inadequada, processos de tratamento térmico irregular, operação inadequada
associado a um problema de material e, finalmente, colapsos onde o processo de fabricação
por fundição foi o principal responsável pelas falhas.
O estudo das situações acima mostra que quando o assunto é fadiga mesmo peças
robustas tornam-se susceptíveis à falha.
Fadiga e Análise de Falhas 95
2.2.6 - ANÁLISE DE FALHA EM BARRA DE PRENSA
RESUMO
Uma barra de prensa rompida em serviço foi analisada onde se constatou que a falha
foi oriunda da alta susceptibilidade ao entalhe do material utilizado aliada a defeitos
microestruturais.
Análises metalúrgicas indicaram que ocorreu um processo de fadiga com uma pequena
superfície de propagação originada em defeitos superficiais (arrancamentos e “pittings”).
As análises indicaram, também, a ocorrência de uma grosseira rede de carbonetos
primários sobre a matriz martensítica do material.
Finalmente, sugerem-se algumas alterações no material a fim de aumentar a vida em
fadiga da barra.
DESCRIÇÃO
Foram recebidas duas partes de uma barra de prensa para forjamento que rompeu em
serviço para desenvolver análises metalúrgicas visando evidenciar a causa da falha. Esta barra
possui seção de 220x140mm e 1700mm de comprimento e aciona cinco punções extratores.
Conforme as informações do solicitante, o projeto original da barra prevê a utilização
de um aço X210CrW12 (VC 131). No entanto, a barra foi fabricada com o aço VD2. A barra
reposta, por fim, foi fabricada com o aço AISI 4140 beneficiado e sofreu têmpera por indução
na face em contato com os punções extratores.
ANÁLISE VISUAL
As duas superfícies de fratura foram submetidas a inspeção visual e em lupa de baixo
aumento onde foi determinada uma pequena região de convergência das linhas radiais na
fratura do corpo da barra. Já a fratura da extremidade apresentou linhas radiais advinda de
toda aresta da mudança de seção, aparentando fratura por sobrecarga. Nesta etapa da análise o
foco de atenção foi concentrado para esta pequena região de convergência. Diversas imagens
foram realizadas em lupa e aparentaram tratar-se de um processo de fadiga.
Fadiga e Análise de Falhas 96
Figura 72– Imagem mostrando o componente analisado. Observa-se uma ruptura ao centro (a) e rupturas nas extremidades (b).
Figura 73–Detalhe (b). Aspecto de ruptura por sobrecarga com linhas radiais seguindo a partir de toda a aresta de mudança de seção.
Figura 74– Detalhe (a) da fratura central vista na figura 72. Observam-se as linhas radiais partindo do vértice superior direito indicado pelo retângulo.
Fadiga e Análise de Falhas 97
Figura 75– Detalhes da região crítica indicada na figura 73. A imagem a esquerda evidencia as marcas radiais partindo do vértice. A imagem à direita, com maior ampliação, evidencia uma pequena superfície lisa com aspecto de fadiga.
ANÁLISE EM MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA (MEV)
A região de interesse foi extraída através de corte metalográfico com serra abrasiva e
foi encaminhada ao MEV. Confirmou-se a suspeita de fadiga, inclusive observando-se duas
marcas de praia somente vistas ao MEV.
Foi observado micromecanismo de separação intergranular sobre a superfície de
propagação e, principalmente, no ponto inicial. Micromecanismos de clivagem foram
observados ao longo de toda a fratura, aparentemente advindas da separação de segundas
fases.
Chamou a atenção, entretanto, a grande dimensão da maioria destas fases com
clivagem. Mais ao final da fratura, observou-se a formação de coalescimento de
microcavidades.
Como esta parte cortada apresentava a face externa retificada da barra, esta também
foi analisada em MEV onde se observou que, apesar do processo de retífica ter sido realizado
ao longo do eixo principal da barra de tal forma que as marcas de desgaste abrasivo seguiam
ortogonalmente à fratura, ocorreram alguns pequenos pontos de nucleação de trincas
secundárias em concentrações das segundas fases e "pittings" de corrosão ou arrancamentos.
Tais fases foram analisadas em microssonda onde se observou alta concentração de Cr e V.
Fadiga e Análise de Falhas 98
Figura 76- A região de início da fratura vista em MEV apresenta marcas de praia bem definidas.
Figura 77- As imagens indicam o aspecto diversificado de micromecanismos de fratura sobre a região inicial da fadiga. A esquerda, um micromecanismo típico de fadiga. A direita, um aspecto intergranular próximo à superfície.
Figura 78– Micromecanismos observados na região de propagação da fadiga. Observam-se facetas de clivagem em segundas fases indicadas pelas setas.
Fadiga e Análise de Falhas 99
Figura 79– Imagens da região de propagação da fadiga. Observam-se, aqui também, facetas de clivagem em segundas fases indicadas pela seta. À direita, já no final da propagação, observa-se coalescimento de microcavidades.
Figura 80– Ruptura final com coalescimento de microcavidades circundando os carbonetos esferoidizados.
Figura 81– Aspecto da face retificada na qual iniciou o processo de fadiga. Foi aplicado um ataque com nital 10% que revelou os carbonetos alinhados (placas claras). Observa-se, a esquerda, uma trinca secundária seguindo um alinhamento. À direita, outra trinca secundária oriunda de um “pitting” de corrosão.
Fadiga e Análise de Falhas 100
Figura 82– Aspecto superficial da face retificada junto à fratura. Aqui se confirma a presença de carbonetos alinhados e “pittings” oriundos, provavelmente, do arrancamento de carbonetos.
Figura 83– Espectro de microssonda EDS aplicada a uma das fases. Trata-se de carbonetos com traços de vanádio, cromo e ferro.
MICROESTRUTURA E DUREZA
Realizou-se, então, uma análise microestrutural para confirmar a presença das
segundas fases.
Observou-se uma rede de carbonetos primários grosseira sobre uma matriz
martensítica revenida, com refinado tamanho de grão, e carbonetos esferoidizados dispersos.
Foi realizado, finalmente, um ensaio de dureza Vickers com carga de 30 kgf e sendo
constatada uma dureza média de 710 HV30 .
Fadiga e Análise de Falhas 101
Figura 84- Microtrinca partindo da parede externa logo abaixo da superfície de fratura. Sem ataque; aumento: 100x.
Figura 85- Microestrutura do material formada por uma matriz martensítica revenida e uma rede de carbonetos primários. Ataque: reativo de Villela; aumento: 50x.
Figura 86- Detalhe da imagem anterior, onde observa-se a formação de carbonetos primários aciculares mas também outros alongados, compondo a rede. Ataque: reativo de Villela; aumento: 200x.
Fadiga e Análise de Falhas 102
Figura 87- A imagem mostra a mesma microestrutura anterior, agora com ataque de nital 10%. Observam-se grãos de pequeno tamanho formando uma matriz martensítica revenida e carbonetos dispersos, além de um carboneto alongado. Aumento: 200x.
Figura 88- Microestrutura em detalhe da matriz do material. Grãos martensíticos com pequeno tamanho (em torno de 9 ASTM) e carbonetos esferoidizados dispersos. Ataque: nital 10%; aumento: 1000x.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS As análises indicaram que a barra rompeu por fadiga devido à solicitação de flexão
repetida. A trinca propagou de forma elíptica junto a um dos vértices inferiores, região de
maior tensão trativa com comprimento extremamente pequeno (menos de 10mm de
propagação) em relação à dimensão da barra (220mm). Tal morfologia indica o alto nível de
tensões envolvido e a grande susceptibilidade ao entalhe do material utilizado. Com efeito,
aços ferramenta como o utilizado, com elevada dureza, e também aquele prescrito em projeto
apresenta baixa tenacidade à fratura.
Qualquer anormalidade superficial tal como "pittings" de corrosão ou arrancamentos
de fases grosseiras já são suficientes para nuclearem uma trinca por fadiga.
Fadiga e Análise de Falhas 103
A condição microestrutural do material, com uma grosseira rede de carbonetos de
cromo e vanádio, aliada à questão superficial também é danosa à resistência à fadiga da barra,
pois acelera não somente a nucleação de trincas (arrancamento e concentradores de tensões)
como sua propagação, visto que ocorreram evidentes facetas de clivagem sobre estas fases
grosseiras.
CONCLUSÕES
O material utilizado (VD2) e o material especificado (VC131) são inadequados para a
aplicação na fabricação da barra suporte de punções extratores, visto que apresentam grande
susceptibilidade ao entalhe. A microestrutura formada por uma rede grosseira de carbonetos
primários, associada à questão das irregularidades superficiais, acelerara o processo de falha.
SUGESTÕES
Como foi observado neste trabalho, o ponto crítico quanto à fadiga encontra-se na face
oposta.
Foi sugerido a utilização de um aço AISI 4140 ou até mesmo um AISI 4340, que
apresenta maior tenacidade, mas que seja conservada a condição superficial de retífica e que
seja também temperada por indução a face crítica.
Fadiga e Análise de Falhas 104
2.2.7 - ANÁLISE DE FALHA EM MOTOR FORD 6.6
RESUMO
Foi aplicada uma análise de falha em um motor diesel, onde se constatou que o
colapso foi devido à falha por fadiga de um dos parafusos da quarta biela. Durante a análise
foi verificado que outro parafuso de outra das bielas apresentava também um processo de
fadiga.
Ambos os processos de fadiga apresentaram características de início por alta concentração de
tensões e susceptibilidade ao entalhe, incentivada por defeitos de fabricação nas ranhuras para
montagem por interferência da haste (recartilhado).
INTRODUÇÃO
Foi solicitada a aplicação de uma análise de falha em um motor automotivo de
combustão interna Diesel de marca Ford 6.6 que sofreu revisão na data de 05/02/2000 e veio a
entrar em colapso na data de 07/08/2000, ou seja, seis meses depois.
Sendo assim, foi efetuado o acompanhamento da desmontagem do motor e a análise
visual preliminar dos destroços. Foram observados, além da ruptura dos dois parafusos da
biela, a ruptura da base do motor, a ruptura do comando de válvulas em três regiões distintas,
e outras avarias tais como marcas de contato das válvulas sobre os pistões, trincas e rupturas
no quarto pistão, empenamento de tuchos, varetas e válvulas.
O solicitante informou que o torque de aperto recomendado é de 10kgfm. Antes da
desmontagem das demais bielas, foi aplicado um momento torsor (torque) nos demais
parafusos através de uma chave (torquímetro) de marca RAVEN, do tipo catraca e foi
verificado que eles estavam com os 10kgfm especificados.
Após a desmontagem, alguns itens (figura 89) foram separados para a análise em
laboratório como segue:
- Os dois parafusos rompidos com a 4a biela e pistão;
- 4 outros parafusos retirados das demais bielas;
- As partes fraturadas do comando de válvulas.
As análises em laboratório compreenderam análises visuais e em microscópio estereoscópico
de baixo aumento das partes fraturadas, ensaios de tração e de dureza nos 4 parafusos das
demais bielas e metalografias.
O parafuso segue a norma Whitworth UNF7/16 20 fios por polegada.
Fadiga e Análise de Falhas 105
Figura 89– A imagem mostra os itens levados ao laboratório para análise. Em (a), com 0,4x de magnificação, observa-se o pistão e as partes da biela com os parafusos, além das partes fraturadas do comando de válvulas. Em (b), com 0,6x, os quatro parafusos separados para ensaios mecânicos retirados aleatoriamente das demais bielas.
ACOMPANHAMENTO DA DESMONTAGEM
A primeira observação do motor mostrava a ruptura da base do mesmo, na região onde
ocorreu o impacto da biela. Aqui já podiam ser observadas as fraturas dos dois parafusos
(figura 90).
Foi, então, desmontada a tampa do motor, onde constatou-se algumas avarias já mencionadas
e as rupturas do comando. A desmontagem do bloco deixou à vista as partes superiores dos
pistões, onde observou-se marcas de impacto das válvulas, decorrência esta da ruptura dos
parafusos da biela, que tornaram o sistema assíncrono (figura 91).
Após a desmontagem dos pistões, e em particular do pistão 4, verificou-se que nenhuma
marca anormal de atrito existia na camisa (figura 92).
Figura 90– Imagem mostrando a ruptura da base do motor que permitiu a passagem da parte da biela 4 ao exterior. A seta indica a superfície de fratura do parafuso. Aumento de 0,8x.
Fadiga e Análise de Falhas 106
Figura 91– Vista da parte superior do pistão 3 e 4. A seta indica uma marca de contato com uma válvula. Aumento de 0,3x.
Figura 92– Vista da parede interna da camisa do pistão 4. Nenhuma marca que indicasse desalinhamento de montagem foi verificada. Aumento de 0,7x.
ANÁLISE VISUAL E POR MICROSCOPIA DOS DESTROÇOS
A análise visual dos dois parafusos rompidos da quarta biela indicou uma superfície
lisa, provavelmente devido ao mecanismo de fadiga em um deles. No outro foi verificada uma
evidente estricção e fratura do tipo taça–cone, típica de ruptura por sobrecarga (figura 93).
O parafuso crítico, ou seja, aquele com evidencias de fadiga, foi analisado, então, em
microscópio estereoscópico e microscópio eletrônico de varredura (MEV). Foi confirmado o
processo de fadiga nucleado numa das estrias da haste e propagando até quase a completa
redução da seção resistente (figura 94 e 95).
Fadiga e Análise de Falhas 107
A característica de fadiga com apenas um ponto de nucleação e grande propagação
indica baixa tensão média atuando, e solicitações de flexão.
A análise visual das fraturas do comando de válvulas indicou a ocorrência de ruptura por
sobrecarga, sem nenhum sinal de fadiga. Tais colapsos foram, portanto, decorrentes do
impacto das válvulas e os pistões (figura 96).
Figura 93– Superfícies de fratura dos dois parafusos da biela 4 (aumento de 1,5x). Em (a), ruptura dúctil por sobrecarga. Em (b), ruptura lisa típica de fadiga. Detalhes com 6x.
Fadiga e Análise de Falhas 108
Figura 94– Em (a), imagem com 20x de aumento mostrando o início da falha do parafuso fadigado. Em (b), com 60x de aumento, um evidente defeito em outra estria vizinha à anterior.
Figura 95– Macrografia com 6x de aumento da superfície de fadiga, à esquerda. A direita, detalhe da região (a) junto ao final do processo de fadiga, onde já observam-se microcavidades coalescidas.
Figura 96– Superfícies de fratura do comando de válvulas. Nenhuma delas indicou algum sinal de mecanismo de fadiga. Aumento de 1,1x.
Fadiga e Análise de Falhas 109
ENSAIOS MECÂNICOS
Os outros quatro parafusos e o crítico, rompido por fadiga, sofreram ensaios
mecânicos de tração estática e ensaios de dureza, a fim de determinar a sua classe de
fabricação. No primeiro ensaio de tração, o parafuso rompeu com um baixo valor de força de
tração (61,8kN). Isto se deveu ao fato de que este parafuso já estava sofrendo um processo de
fadiga. Os resultados do ensaio de tração e as características de ruptura estão na tabela 4. Os
ensaios de dureza estão na tabela 5.
Tabela 4 – Resultados dos ensaios de tração.
Parafuso Área da Seção
(mm2)
Carga de
Ruptura (N)
Tensão de
Ruptura (MPa)
Tipo de ruptura
1 72,3 61803* Transv. haste
2 72,3 84366 1102 Cisalh. rosca
3 72,3 99571 1300 Transv. rosca
4 72,3 94666 1236 Cisalh. rosca
*O parafuso encontrava-se em processo de fadiga.
Tabela 5 – Resultados dos ensaios de dureza
Parafuso Dureza Rockwell C
(HRC)
Média
(HRC)
Crítico 40 40 39 41 40
1 39 37 38 39 38,3
2 41 37 40 41 39,8
3 38 37 37 38 37,5
4 39 40 40 39 39,5
ANÁLISE DO SEGUNDO PARAFUSO FADIGADO
A observação em microscópio estereoscópico indicou o mesmo mecanismo de fadiga
para este parafuso (figuras 97 e 98). Isto indica que a falha não é típica da compressão ou
trabalho de um único sistema, mas que ocorre nos parafusos aleatoriamente (lembra-se que
este parafuso foi verificado antes da desmontagem e estava com 10 kgfm de torque).
Fadiga e Análise de Falhas 110
Figura 97– Detalhes do processo de fadiga do segundo parafuso (rompido no ensaio de tração). Em (a) vista com 8x de aumento de um dos lados da fratura onde indica-se o início da fadiga, a propagação lisa e a ruptura fibrosa por tração e depois a ruptura por cisalhamento final. Em (b), com aumento de 20x, detalhe do início da fadiga em um defeito superficial.
Figura 98– O outro lado da fadiga da figura anterior. Em (a), com 15x de aumento, notam-se as marcas de praia a partir do ponto inicial. Em (b), detalhe com ampliação de 60x do defeito que originou o processo de fadiga.
ANÁLISE DOS ESFORÇOS
Do modo como a falha ocorreu pode-se constatar que alguma componente de tração
contribuiu para tal fato. Apesar do pistão apresentar apenas movimento de translação, a biela
apresenta uma componente de rotação devido ao giro do virabrequim. Sendo assim, esta
rotação desmembra-se em uma componente de tração que atua nos parafusos.
Fadiga e Análise de Falhas 111
O principal carregamento de tração nos parafusos de biela de um motor Diesel ocorre na
admissão e mesmo assim o esforço ou nível de tensões envolvidas é baixo, visto que o pistão
tem ajuste com folga na camisa do cilindro.
ANÁLISE MICROESTRUTURAL
Para preservar o parafuso causador da falha foi antes realizado o ensaio destrutivo
neste segundo parafuso. Uma seção transversal contendo as estrias (recartilhado), logo abaixo
da fratura, foi retirada e preparada metalograficamente. Observou-se a ocorrência de
microtrincas na região superior de vários dos ressaltos das estrias e, inclusive, naquele da
origem da fadiga (figura 99). Em um deles, inclusive, observaram-se as linhas de fluxo
oriundas da deformação plástica do processo de recartilhado (figura 100). Observou-se que as
linhas de fluxo seguiam a deformação das cavidades e apresentavam um plano de encontro
coincidente com as microtrincas. Ou seja, apresentaram duas frentes de linhas de fluxo com
sentidos contrários seguindo as paredes projetadas da estria e estas frentes encontravam-se no
plano de trinca. Os outros parafusos do ensaio de tração foram preparados e as mesmas
características foram encontradas (figura 101).
Nesta parte do trabalho, já pode ser possível prever o fator de concentração de tensões
na microtrinca como o responsável pela falha daquele primeiro parafuso.
Para confirmar, o parafuso crítico foi, então, preparado metalograficamente da mesma
forma que os anteriores e as mesmas características foram observadas no parafuso crítico da
biela 4 (figura 102).
Figura 99– O início da fadiga do parafuso ensaiado em tração, como visto nas imagens anteriores, foi em uma região da superfície onde se observa uma trinca. A imagem indica, ainda, a microestrutura martensítica revenida do material. Ataque: nital 2%; aumento: 255x.
Fadiga e Análise de Falhas 112
Figura 100- Dobra de conformação em uma estria ao lado daquela da imagem anterior. À esquerda, vista com 250x de aumento. À direita, detalhe com 750x. Ataque: nital 2%.
Figura 101–Fotomicrografia mostrando uma dobra de um dos parafusos rompidos no ensaio de tração. Nota-se, também, uma trinca propagando ao lado. Ataque: nital 2%; aumento: 540x.
Fadiga e Análise de Falhas 113
Figura 102– À esquerda, com 250x de aumento, fotomicrografia de uma seção transversal próxima ao lugar de início da fadiga que originou a falha do parafuso do motor. Observa-se um defeito superficial (dobra). À direita, detalhe com 500x de aumento. Ataque: nital 2%.
ANÁLISE DA FABRICAÇÃO DO PARAFUSO
A seqüência de fabricação dos parafusos pode ser prevista com a análise visual,
microestrutural e de dureza. A provável seqüência é a seguinte:
- conformação das ranhuras (recartilhado) e cabeça e laminação da rosca a partir de uma barra
- comercial;
- têmpera e revenimento;
- retificação da região recartilhada.
DISCUSSÕES DOS RESULTADOS
As análises preliminares dos destroços indicaram fadiga em um dos parafusos
rompidos da biela 4, na região da haste onde eles recebem um processo de conformação
(chamado neste trabalho de recartilhado). Esta região coincide ou fica próxima ao plano de
montagem das duas partes da biela.
Posteriormente encontrou-se fadiga em um outro parafuso de outra das bielas, que
inclusive foi verificado antes da desmontagem estar com torque de 10 kgfm.
Nos parafusos, a maior concentração de tensões ocorre sempre na região dos filetes,
mais precisamente no primeiro filete carregado. Neste caso, a fadiga ocorreu na região da
haste, junto ao encontro das duas partes da biela. Isto indica que o ponto de maior
concentração de tensões foi transferido da região dos filetes para a haste recartilhada.
Com as metalografias, verificou-se um efeito maior ainda que a simples mudança de
seção: o efeito de entalhe causado pelas trincas. Em materiais de alta resistência mecânica,
tais como o destes parafusos, a susceptibilidade ao entalhe é evidente.
Desta forma, o parafuso passa a ser tratado como um pino com mudança de seção
(cantos vivos) e entalhes.
O fato de a fadiga ter nucleado em um único ponto e ter propagado até cerca de 80%
da seção resistente indica que o nível de tensões envolvidas é baixo, podendo ser aquele do
tempo de admissão do combustível.
Neste caso, pouco importa a tensão média aplicada ou o torque aplicado. O parafuso
romperia com qualquer valor de torque, o que mudaria seria o tempo necessário para a falha.
Observa-se que os parafusos possuem muitos defeitos (encruamento e microtrincas) na
maioria das suas 18 estrias. Mas as falhas, nos dois casos de fadiga, iniciaram em apenas um
Fadiga e Análise de Falhas 114
deles. Isto porque o ponto de início coincide com o maior esforço de tração, que no caso, é no
eixo de simetria transversal da biela, junto ao diâmetro de encaixe com o virabrequim.
Os ensaios mecânicos e as metalografias indicam que os parafusos são fabricados para
satisfazer a classe 8.2 conforme a norma SAEJ429 (1980) ou classe 12.9 pela norma EB168
(1972). Tais normas exigem materiais beneficiados de alta resistência. Com efeito, nenhum
defeito de material ou tratamento térmico foi encontrado.
CONCLUSÕES
O colapso do motor ocorreu devido à falha por fadiga de um dos parafusos da quarta
biela. O processo de fadiga iniciou num ponto de concentração de tensões junto à região
recartilhada da haste e devido à alta susceptibilidade a entalhes do material.
SUGESTÕES
Para evitar falhas futuras, é preciso agir no processo de recartilhado e posteriormente
na retífica.
Quanto ao recartilhado, é preciso diminuir o encruamento que leva ao fluxo de
material em sentidos contrários com a formação de microtrincas.
Quanto a retífica, é necessário maior retirada de material a fim de eliminar o problema
causado pelo recartilhado.
Fadiga e Análise de Falhas 115
2.2.8 - ANÁLISE DE FALHAS EM TURBINAS PARA MOTOR DIESEL
RESUMO
A primeira parte do trabalho trata da fratura do eixo e da parte inferior de turbinas para
motor diesel onde se observou que a causa das falhas das turbinas foi de natureza mecânica.
As fraturas por fadiga tanto no eixo quanto na região inferior das palhetas ocorreram devido a
problemas de desalinhamentos nos mancais ou desbalanço dos componentes, não tendo sido
evidenciados problemas metalúrgicos.
A segunda parte do trabalho trata da análise de fraturas ocorridas na parte superior de
turbinas. Ficou claro durante as análises que o motivo dos colapsos estava associado a
problemas oriundos do processo de fundição das turbinas.
Figura 103- Etrabalho com
Foram
Estas t
fundição. Elas
também pelo p
eixo e na parte
Levand
uma com rupt
das palhetas, c
Região inferior
squema mostrando a região dos componenteo sendo a região inferior e superior das palheta
PRIMEIRA PARTE
MATERIAL
enviadas para análise de falha turbinas utilizadas
urbinas foram fabricadas com a liga Inconel 7
romperam na parte inferior das palhetas. Out
rocesso de fundição, porém, a partir da liga GM
inferior de uma das palhetas.
o em conta estes fatores, restaram para análise d
ura no eixo e numa das palhetas, e outra com rup
onforme a figura 103.
F
Região superior
s que foi denominada neste s.
em motores diesel
13C através do processo de
ras turbinas foram fabricadas
R 235. Uma delas rompeu no
e falha apenas duas turbinas;
tura na região inferior de uma
adiga e Análise de Falhas 116
ANÁLISE DE FRATURA
A turbina que rompeu em duas regiões apresentou fadiga por flexão rotativa no raio de
concordância que ameniza a mudança entre o diâmetro do anel de vedação (pressão) e o
diâmetro da região dos mancais, figuras 104 e 105. A ruptura da palheta, por sua vez, ocorreu
em conseqüência da falta de rigidez provocada pela fadiga do eixo, ocasionando contato com
a carcaça do componente. A palheta rompida apresentou uma grande porosidade (rechupe)
oriunda do processo de fundição, figura 106. Possivelmente esta foi a única palheta a romper
porque apresentou uma diminuição de seção resistente imposta por tal defeito. Todas as
demais sofreram apenas deformação plástica.
A turbina que teve ruptura apenas na região inferior de uma das palhetas apresentou a
superfície de fratura com facetas lisas e uma região posterior mais fibrosa. A análise de tal
superfície em microscópio eletrônico de varredura (MEV) indicou marcas características de
fadiga na primeira região, figuras 107 e 108. A segunda zona, aquela mais fibrosa, apresentou
micromecanismos de fratura típicos de uma liga bruta de fusão, com a separação dendrítica e
a presença de clivagem, figura 109.
Tomando por base o sentido de rotação do componente, a superfície lisa na fratura está
junto a parte da frente da palheta, oposta ao contato inicial com os gases, descartando a
hipótese de ela ter nucleado a partir de esforços oriundos dos gases de escape. Desta forma,
duas hipóteses devem ser estudadas: ocorreu alguma falha de material ou algum problema
mecânico que possibilitasse o contato, em serviço, das palhetas e a carcaça.
Figura 104– A figura mostra a região da turbina onde desenvolveu-se uma fadiga em um dos componentes. Aumento 1,5x.
Fadiga e Análise de Falhas 117
Figurfadig
Figurfunddo ei
Figurpalhe
Ruptura final
aa
aiçxo
at
Propagação
105– A imagem mostra as marcas de praia características indicando propagação devido a cargas de flexão rotativa. Aume
106– Macrografia mostrando uma descontinuidade oriundão, que acarretou na ruptura de parte da palheta por sobrecar por fadiga. Aumento 6x.
107– Micrografia mostrando aspecto de fadiga na superfa. Aumento 158x.
Fadiga e A
Propagação
de uma falha por nto 8x.
s
ag
íc
n
Porosidade
do processo de a, após a ruptura
ie de fratura da
álise de Falhas 118
Figura 108- A imagem mostra outra região da palheta da turbina onde ocorreu propagação por fadiga junto a parte da frente da palheta. Aumento 306x.
Figura 109- Micrografia da última parte que rompeu, da mesma palheta da imagem anterior, mostrando planos de clivagem, indicando fratura frágil. Aumento 817x. MEV
ANÁLISE MICROESTRUTURAL
Para confirmar a hipótese de ter ocorrido alguma falha no material foi desenvolvido
um estudo microestrutural dos componentes junto a região da fratura.
As microestruturas de ambos os materiais (Inconel 713 C e GMR 235) apresentaram-
se semelhantes. Trata-se de uma estrutura bruta de fusão com matriz formada por solução
sólida γ típica de ligas a base de níquel usadas em altas temperaturas, figuras 110 e 111.
Não foi verificada a presença de qualquer defeito de fundição tal como porosidades ou
microrrechupes.
Fadiga e Análise de Falhas 119
Figura 110– Microestrutura da liga GMR 235. Matriz formada por solução sólida γ e contornos interdendríticos. Aumento 100x.
Figura 111– Microestrutura de liga IN 713C. A matriz também é formada por solução sólida γ, com fases γ’ primário (fases claras), além da formação de Widmanstatem (fase σ) e carbonetos em contorno de célula. Aumento 200x.
CONCLUSÃO
Os componentes apresentaram condições microestruturais típicas de ligas de níquel
para uso em altas temperaturas, não sendo verificado qualquer defeito que associasse as falhas
a defeitos metalúrgicos.
A turbina rompida no eixo apresentou marcas características de fadiga por solicitação
de flexão rotativa. A falha deve ter ocorrido devido a algum desalinhamento do sistema ou
desbalanço da peça.
A turbina rompida na região inferior da palheta, por sua vez, apresentou marcas de
fadiga que propagam a partir da parte frontal da palheta, indicando que ocorreu o contato
desta palheta com a carcaça, originando uma solicitação cíclica de flexão unidirecional que
levou o componente a fratura.
Fadiga e Análise de Falhas 120RUPTURA NA PARTE SUPERIOR DAS PALHETAS
MATERIAL
Foram enviadas para análise sete componentes de turbina para motor diesel,
fabricados em liga a base de níquel para uso em altas temperaturas GMR235, através do
processo de microfusão. Todas as peças apresentaram ruptura na parte superior das palhetas,
como indicado na figura 103.
ANÁLISE DE FRATURAS
Na análise das fraturas não foi verificado mecanismo de fadiga em nenhum dos
componentes, o que indica que os colapsos foram por sobrecarga. Na superfície foi
encontrado um extenso fibramento, que é atribuído à separação interdendrítica típica de uma
liga bruta de fusão, como pode ser verificado na figura 113.
ANÁLISE MICROESTRUTURAL
Foram confeccionados corpos de prova metalográficos extraindo-se amostras das
palhetas próximas às fraturadas. As amostras apresentaram uma grande quantidade de
microrrechupes, em alguns casos até 50% da seção resistente, ao longo da seção da palheta,
figuras 114 e 115.
A microestrutura, por sua vez, é típica de uma liga de níquel bruta de fusão, com a
formação de dendritas no sentido de crescimento preferencial segundo o resfriamento do
material na fundição. A matriz é formada por solução sólida γ e o contorno das dendritas é
formado por carbonetos metálicos.
Numa das turbinas foi observada a olho nu uma inclusão de material refratário do
molde na superfície de fratura, figuras 116 e 117. A falha propagou-se a partir deste defeito.
Outra turbina apresentou no início da falha e numa palheta adjacente a formação de
porosidades (bolhas) de extensa dimensão, também oriundas do processo de microfusão,
figura 118.
Fadiga e Análise de Falhas 121
Figura 112- Micrografia mostrando a morfologia típica das superfícies fraturadas. Micromecanismos de fratura interdendrítica, com a formação de coalescência de microcavidades nos contornos de células e planos separando as dendritas. Aumento 113x. MEV
Figura 113- Micrografia que mostra a grande quantidade de microrrechupes formados e distribuídos em toda a seção resistente de uma das palhetas analisadas. Observa-se, ainda, a presença de carbonetos metálicos em contornos dendríticos. Aumento 100x.
Figura 114- A imagem mostra outra palheta analisada. Observa-se que aqui também ocorre a formação de microrrechupes. Microestrutura formada por solução sólida γ com carbonetos dispersos em contornos dendríticos. Aumento 400x.
Fadiga e Análise de Falhas 122
s
Figura 115- A imagem evidencia uma região da superfície de fratura de um dos componentes onde se verificou uma inclusão de casca cerâmica. Aumento 1,5x.
Figura 116- Detalhe da região da palheta onde foi encontrada uma inclusão de casca do molde oriunda do processo de vazamento do material na fundição. A falha deste componente partiu deste defeito. Aumento 6x.
Figura 117- Aporosidade oriuseção da palhet
Porosidade
Início dafalha
Inclusõe
imagem indica a região de inicio da fratura, junto a uma extensa nda da fundição. Nota-se a presença de uma outra grande porosidade na
a adjacente a rompida. Aumento 1.5x.
Fadiga e Análise de Falhas 123
CONCLUSÕES
A presença de parte da casca do molde incrustado no interior do material indica que
ocorreu o desprendimento da casca durante o vazamento da liga no seu estado líquido. Após a
solidificação, restou uma inclusão que fragilizou a palheta e permitiu a ruptura.
Outro defeito, também detectado, foi a presença de microrrechupes. Defeito esse
detectável microscopicamente, que consiste de vazios interdendríticos. A causa do
microrrechupe resulta da contração metálica durante a solidificação onde a peça é
inadequadamente alimentada (pelo massalote) para compensar a contração do metal durante a
solidificação. Ligas com amplas zonas pastosas são particularmente mais susceptíveis a este
defeito.
As extensivas porosidades, por sua vez, tratam-se de vazios grosseiros, ou rechupes
também oriundos da falta de alimentação quando no processo de fundição.
Todas as falhas ocorridas nas turbinas decorreram de defeitos de fabricação.
TERCEIRA PARTE
DESCRIÇÃO
Foram recebidas para análise duas turbinas que apresentaram fratura nas palhetas em
serviço. Ambas apresentaram fratura na região inferior da palheta, sendo que uma rompeu na
base e outra no meio da palheta, conforme as figuras 118 e 119.
Fadiga e Análise de Falhas 124
Figura 118– Macrografia mostrando a fratura da turbina que rompeu na base da palheta. Nota-se, também, a extensa deformação plástica de outras palhetas vizinhas à rompida.
Figura 119– Macrografia mostrando a fratura da turbina que rompeu no meio da
palheta.
METODOLOGIA
As turbinas foram cortadas para separação das fraturas e retirada de corpos de prova
metalográficos. As fraturas foram analisadas primeiramente em lupa e, posteriormente, em
microscópio eletrônico de varredura (MEV).
ANÁLISE DA FRATURA
A superfície da fratura da turbina que rompeu na base da palheta apresentou
micromecanismos de fratura por sobrecarga nucleada em um poro presente na superfície,
como pode ser visto nas figuras 120 e 121. Foi observada a presença de deformações nas
palhetas que, provavelmente, são oriundas do contato da turbina com a carcaça.
A fratura da turbina que rompeu no meio da palheta apresentou micromecanismos de
fratura característicos de ruptura por fadiga, como pode ser visto nas figuras 122 e 123. Foram
observadas, também, marcas no topo das palhetas.
Figura 120– Macrografia mostrando a fratura na base da palheta, onde pode ser observada a presença de poros no início da falha, o que diminui a seção resistente facilitando a ruptura.
Fadiga e Análise de Falhas 125
Figura 121– Macrografia mostrando a presença de poros na base de outra palheta da mesma turbina da figura 118.
Figura 122– Macrografia mostrando a fratura da palheta que rompeu no meio. Observam-se marcas de fadiga.
Figura 123– Micrografia em microscópio eletrônico de varredura (MEV) mostrando a superfície fadigada (zona elíptica lisa) e posterior zona de separação interdendrítica.
Fadiga e Análise de Falhas 126
ANÁLISE MICROESTRUTURAL
A análise metalográfica mostrou uma estrutura bruta de fusão com matriz formada por
solução sólida γ típica de ligas a base de níquel usadas em altas temperaturas.
Na amostra da turbina que rompeu na base da palheta foi verificada a presença de
microrrechupes além das porosidades vistas a olho nu na superfície.
Figura 124– Micrografia mostrando as microestruturas das duas turbinas. A esquerda observa-se uma microestrutura formada por solução sólida γ, contornos interdendriticos bem definidos e fases γ primário (fases claras em contorno). A direita observa-se uma microestrutura semelhante, porém com a presença de microrrechupes e uma estrutura mais grosseira. Ataque: Villela. Aumento: 100x.
CONCLUSÕES
As análises indicaram diferentes motivos para a ruptura das duas turbinas.
A turbina que rompeu na base da palheta apresentou superfície de fratura frágil
interdendrítica, favorecida pela presença de porosidades e microrrechupes. Foram observadas
grandes deformações no topo das palhetas provavelmente oriundas do contato com a carcaça.
A microestrutura apresentou-se adequada ficando comprometida pela presença de
microrrechupes.
A outra turbina, rompida no meio da palheta, apresentou micromecanismos de fratura
típicos de ruptura por fadiga. Foram observadas, também, marcas no topo das palhetas
provavelmente oriundas do contato com a carcaça. A microestrutura apresentou-se adequada.
Fadiga e Análise de Falhas 127
2.2.9 - ANÁLISE METALÚRGICA EM COXINS
RESUMO
Foram recebidos coxins de alumínio que trincaram na montagem para análise
metalúrgica.
A análise dos esforços envolvidos na montagem indicou que a causa da falha estava
intrinsecamente ligada ao próprio processo, pois não existia grau de liberdade para evitar a
flexão na região da falha.
Este relatório foi complementado com análises de fratura, microestrutural, química e
ensaio de dureza onde se observou que a fratura foi incentivada por porosidades e outros
defeitos microestruturais.
Figura 125– Macrografia de um dos coxins recebidos. As setas indicam os esforços de montagem do polímero elastômero ao suporte de alumínio. Aumento: 0,5X.
METODOLOGIA
Para a análise da fratura, primeiramente as trincas encontradas foram observadas em
lupa de baixo aumento. Após elas foram separadas e suas superfícies foram analisadas em
microscópio eletrônico de varredura (MEV).
Para a análise metalúrgica foi retirado um corpo de prova da região que apresentou uma falha
de um coxim, o qual foi lixado e polido segundo o procedimento metalográfico padrão,
atacado com reagente de ácido fluorídrico e, posteriormente, observado em microscópio ótico.
Foram realizados ensaio de dureza Brinell, análise química por via úmida e
microssonda.
Fadiga e Análise de Falhas 128
ANÁLISE DA FRATURA
A fratura apresentou morfologia típica de sobrecarga, oriunda na compressão exercida
na montagem.
a
FiM1,2
Fide
Fifra
Trinc
gura 126– Macrografia de um coxim mostrando a trinca encontrada. Aumento: 4X. acrografia do mesmo coxim mostrando a superfície da trinca separada. Aumento: 5X.
gura 127– Macrografias da m poros. Aumentos: 8X (esquer
gura 128– Imagem no MEVtura por clivagem. Aumento:
Poros
esma superfície onde observa-se uma grande quantidade da), 14X (direita).
da superfície fraturada mostrando mecanismos de
1062X.
Fadiga e Análise de Falhas 129
Figura 129– Imagens em MEV mostrando os poros da superfície de fratura. Aumento: 54X (esquerda), 111X (direita). A análise metalográfica realizada na região próxima a falha mostrou uma
microestrutura formada por silício eutético e partículas intermetálicas (sludge) provenientes
da escória dispersas na matriz de alumínio, como pode ser observado na figura 130. Foram
observadas também a presença de porosidades, microrrechupes e microtrincas (figura 131).
Figura 130– Micrografia mostrando a microestrutura da rse observam sludges provenientes da escória e as partículasAumento: 200X. Sem ataque.
e
F
Sludg
egião próxima de silício euté
adiga e Anális
Silício eutético
à falha, onde tico na matriz.
Poros
s Microtrincae de Falhas 130
Figura 131– Micrografia mostrando a microestrutura da mesma região, onde pode-se observar a presença de porosidades e microtrincas. Aumento: 200X. Ataque: HF 0,5%.
A média das 5 indentações do ensaio de dureza Brinell realizado foi de 104HB.
A análise química realizada por via úmida no material e a média dos resultados estão
na tabela abaixo.
Composição da amostra (% em peso)
Elemento Si Fe Cu Mn Mg Zn Ni Pb Sn Ti
Especificação
Mínimo
8 - 2 0,1 0,1 - - - - -
Máximo 11 0,8 3,5 0,5 0 5 1,2 0,3 0,2 0,1 0,15
Amostra 8,53 1,33 2,18 0,19 0,83 1,353 0,21 0,4632 0,24 0,045
Também foi realizada análise química por microssonda em uma fase presente na
microestrutura na região da falha e o resultado está expresso na figura abaixo.
Figura 132– Análise química por microssonda.
CONCLUSÕES
A falha ocorreu por sobrecarga devido ao excesso de restrições no dispositivo de
montagem.
A partir da análise microestrutural realizada constatou-se a presença de sludge e poros
que não condizem com a especificação do solicitante. A presença de partículas intermetálicas Fadiga e Análise de Falhas 131
(sludge) foi confirmada pela microssonda que mostrou certa quantidade de ferro e manganês.
O aparecimento das microtrincas indicou que houve uma sobrecarga na montagem deste
componente.
A análise química indicou alguns componentes com teores acima do especificado
como: ferro, magnésio, zinco, chumbo e estanho.
A dureza encontrada está dentro do previsto pela especificação.
A análise da fratura mostrou uma grande quantidade de poros e micromecanismos de
fratura frágil por sobrecarga.
Fadiga e Análise de Falhas 132
2.2.10 - ANÁLISE METALÚRGICA EM BARRA ESTABILIZADORA
DESCRIÇÃO
Foram recebidas para análise barras estabilizadoras que fraturam em serviço. Este
trabalho consiste em análise microestrutural, de fratura, química e ensaios de dureza e de
tração a fim de comparar os resultados com a especificação do solicitante (MS-BAR e PS-1).
METODOLOGIA
Para a análise metalúrgica foram retirados corpos de provas da região da fratura de
uma das barras, os quais foram lixados e polidos de acordo com procedimento metalográfico
padrão, atacados com reagente nital e, posteriormente, observados em microscópio óptico.
Para a análise da fratura, a barra estabilizadora foi observada em lupa de baixo
aumento.
Foram realizados ensaio de dureza Rockwell C e análise química por espectroscopia
de emissão óptica. Foram confeccionados dois corpos de prova a partir das barras, os quais
foram submetidos a um ensaio de tração.
RESULTADOS
A fratura ocorreu por fadiga com dois pontos diametralmente opostos de nucleação,
sendo que a partir de um deles a propagação foi extensa. Tal morfologia indica solicitação de
flexão flutuante, com razão de carregamento negativa e baixa intensidade de tensão. A ruptura
final abrange cerca de 30% da seção resistente (figura 133).
A análise metalográfica indicou uma microestrutura martensítica com presença de
inclusões (ver figuras 134, 135 e 136). Também foi observada uma região descarbonetada na
periferia da barra. Foram encontrados defeitos superficiais como pode ser observado na figura
138.
Fadiga e Análise de Falhas 133
Ruptura final
1
Figura 133- Macrografia de uma das barras. Observam-se os dois pona extensa propagação a partir do ponto 1 caracterizada pelas evidentee a ruptura final, ao centro. Aumento: 2,6x.
.
Figura 134– Micrografia da seção longitudinal de uma das barras moonde iniciou a fratura. Observa-se a presença de trincas secundáriasAtaque: Nital 2%.
Figura 135- Micrografia do núcleo da barra mostrando a estruturevenida e as inclusões presentes. Aumento: 500x. Ataque: Nital 2%.
Fadiga e An
2
tos de nucleação, s marcas de praia
strando a região . Aumento: 100x.
ra de martensita
álise de Falhas 134
Figura 136- Micrografia mostrando as inclusões em uma das barras. Aumento: 100x. Sem ataque.
Figura 137- Micrografia da seção transversal mostrando um defeito superficial. Aumento: 200x. Ataque: Nital 2%.
Figura 138- Micrografia mostrando a região que apresentou descarbonetação. Aumento: 100x. Ataque: Nital 2%.
Fadiga e Análise de Falhas 135
O ensaio de dureza Rockwell C realizado no centro de uma das barras teve como
resultado 34 HRC e o realizado na lateral atingiu 35HRC.
A análise química foi realizada por espectroscopia de emissão óptica no material e a
média dos resultados está na tabela abaixo.
Tabela 6 – Análise Química por via úmida e a especificação do solicitante.
Composição (% em peso)
Elemento C Si Mn P S Cr Mo Al Ti
Amostra 0,577 0,242 0,861 0,0202 0,014 0,828 0,00657 0,0225 0,0067
Especificação
Mínimo
0,56 0,15 0,75 - - 0,7 - - -
Máximo 0,64 0,35 1,00 0,03 0,04 0,9 - - -
Os resultados do ensaio de tração executado estão expressos na tabela que segue.
Tabela 7 – Ensaio de tração estático realizado em 2 corpos de prova padrão.
Corpo de
prova
Tensão Máxima (MPa) Tensão de
Escoamento (MPa)
Tensão de
Ruptura
(MPa)
Elongação
(%)
1 1133,087 1000,476 1063,589 13
2 1119,615 975,715 1024,869 11,8
CONCLUSÕES
A fratura ocorreu por fadiga devido à solicitação flutuante de flexão, com dois pontos
distintos de nucleação diametralmente opostos e ampla zona de propagação (principalmente a
partir de um dos pontos). Tais características indicam um processo de nucleação com baixo
nível de carregamento mecânico. O acabamento superficial da barra é o responsável pela
falha.
Os resultados do ensaio de dureza (34 - 35 HRC) encontram-se abaixo do valor que a
norma determina, entre 36 e 42 HRC.
Fadiga e Análise de Falhas 136
2.2.11 - ANÁLISE DE FALHA EM HASTE DE COMPRESSOR
RESUMO
Foi analisada uma haste de pistão de um compressor que rompeu em serviço. O
colapso causou, além da inutilização da haste, outros danos diversos ao equipamento.
A análise visual da superfície de fratura indicou que ocorreu um processo de fadiga por
solicitações de flexão repetida na região do primeiro filete carregado da rosca de fixação dos
discos de alumínio à haste. A análise microestrutural e de dureza indicaram que a haste não
sofreu tratamento térmico posterior a usinagem, ao contrário do que foi feito em outra haste
íntegra analisada.
A ausência de tratamento térmico determinou uma reduzida dureza e resistência à fadiga,
justificando a fratura da haste.
DESCRIÇÃO
Foi recebida para análise de falha uma haste de pistão de um compressor. A haste
rompeu na altura do primeiro filete carregado da rosca de fixação, como visto na figura 139.
O colapso provocou danos aos discos de alumínio do pistão e também a ruptura da tampa do
cilindro.
A título de comparação, analisou-se também outra haste íntegra, considerada como
peça original, vista na figura 140.
Figura 139– Imagem mostrando a haste rompida com os discos de alumínio. As setas indicam o local da fratura. Aumento: 0,1x.
Fadiga e Análise de Falhas 137
Figura 140– A imagem mostra o aspecto da haste original recebida para comparação. Aumento: 0,1x.
ANÁLISE VISUAL
Algumas marcas de contato e deformações plásticas foram observadas nos discos de alumínio
(figura 141) e também na porca. A principal delas, em termos de análise de falha, é um
desgaste na superfície de contato dos discos de alumínio com a camisa do cilindro (figura
142). Este desgaste poderia ser o responsável pela flexão da haste. No entanto não foi possível
determinar se ele ocorreu antes ou depois do colapso.
A análise visual comparativa entre as duas hastes indicou, também, uma diferença no raio de
concordância de saída da rosca. Enquanto a haste original apresenta um grande raio de saída,
a haste rompida apresenta a saída brusca da rosca (figura 143).
Figura 141– Marcas de deformação causadas pelo contato de componentes diversos com os discos de alumínio após o colapso. Aumentos: 0,1x e 1,1x.
Fadiga e Análise de Falhas 138
Figura 142– As setas indicam marcas de desgaste oriundas do contato dos discos de alumínio com a camisa de cilindro. Aumentos: 1,1x.
Figura 143– A imagem indica a diferença geométrica entre as saídas de rosca das duas hastes, como indicam as setas. Observa-se, também, a deformaçào plástica imposta à porca após a ruptura. Aumento: 0,3x.
ANÁLISE DA FRATURA
A análise visual e em lupa estereoscópica de baixo aumento da superfície da fratura
indica que ocorreu um processo de fadiga nucleado em um arco que compreende cerca de um
quarto do perímetro total da rosca. Isto indica que a solicitação responsável pela falha foi de
flexão repetida. Após, a trinca por fadiga propagou por cerca da metade da seção resistente
quando, então, rompeu catastroficamente. Isto indica que a componente de tensão de tração,
responsável pela falha, foi baixa.
Fadiga e Análise de Falhas 139
Figura 144– Aspecto da superfície da fratura onde observam-se marcas de praia características de processos de fadiga. Aumento: 2x.
ENSAIOS DE DUREZA
Foram realizados ensaios de dureza na escala Rockwell C (HRC) na superfície do eixo
de acoplamento das hastes aos discos, logo abaixo da saída da rosca. A haste original
apresentou dureza média de 26 HRC. A haste rompida apresentou dureza abaixo da mínima
na escala HRC. Desta forma observou-se uma grande diferença de dureza, o que motivou a
preparação de corpos de prova metalográficos para verificar a diferença microestrutural entre
as hastes, bem como para ser possível um ensaio de dureza Vickers (HV) que possibilitasse
uma comparação. Da haste rompida foi retirado um corpo de prova transversal, logo abaixo
da ruptura. Da haste original, foi retirada uma amostra de cada extremidade, visto que não era
desejada uma análise que a tornasse inoperante. Sendo assim, obteve-se um corpo de prova
transversal da parte inferior (chavetas guias) e outro longitudinal de um dos filetes da rosca na
extremidade oposta (região crítica).
Foram realizados ensaios de microdureza Vickers com carga de 500g (HV0,5), na
amostra da haste rompida e na amostra da parte inferior da haste original. A dureza média de
190 HV0,5 foi verificada na haste rompida. A dureza média de 281 HV0,5 foi verificada na
outra.
ANÁLISE MICROESTRUTURAL E QUÍMICA
Foram obtidas microfotografias destas amostras, confirmando a diferença observada
no ensaio de dureza. A haste rompida apresentou microestrutura esferoidizada e a outra
apresentou microestrutura bainítica com carbonetos dispersos. Fadiga e Análise de Falhas 140
Figura 145– Micrografias mostrando a microestrutura esferoidizada de baixa dureza da haste rompida. Ataque: água régia; aumentos: 500 e 1000x.
Figura 146– Micrografias indicando a microestrutura martensítica revenida com carbonetos dispersos da haste original. Ataque: água régia; aumentos: 500 e 1000x. A análise química realizada em espectrômetro de emissão óptica indicou que a haste
rompida foi fabricada a partir de um aço inoxidável AISI 420 (tabela 8), enquanto que a haste
original foi fabricada a partir de um aço inoxidável AISI 431 (tabela 9).
Tabela 8 - Análise química em percentual por peso (%) da haste rompida
Elemento C Si Mn Cr Ni P S
Amostra 0,325 0.392 0,399 13,47 0,328 0,034 0,011
AISI 420 0,15 min 1,00 1,00 12,0-14,0 - 0,04 0,03
Tabela 9 - Análise química em percentual por peso (%) da haste original
Elemento C Si Mn Cr Ni P S
Amostra 0,172 0,585 0,567 16,95 2,07 0,020 <0,020
AISI 431 0,20 1,00 1,00 15,0-17,0 1,25-2,50 0,04 0,03
OBS.: Os valores são máximos aceitáveis, a menos que especificado.
Fadiga e Análise de Falhas 141
CONCLUSÕES
Através das análises realizadas constatou-se que a falha ocorreu devido à falta de
tratamento térmico na haste do pistão do compressor.
Uma componente excêntrica de tensão cíclica oriunda do contato entre as paredes ou
de alguma diferença na compressão propiciou a nucleação e propagação do processo de fadiga
até que a haste teve reduzida sua seção resistente a ponto de romper e provocar o colapso.
Fadiga e Análise de Falhas 142
2.2.12 - ANÁLISE DE FALHA EM FOLE DE EXPANSÃO INFERIOR
RESUMO
O objetivo deste trabalho é verificar a microestrutura deste componente a fim de
verificar sua integridade. A investigação realizada foi porque algumas trincas foram
detectadas no componente conectado a tubulações de vapor, que trabalhavam em uma
refinaria de petróleo. Levando em consideração que o material é um aço inoxidável AISI321,
estabilizado com Ti, e que a temperatura de trabalho era em torno de 270oC, a causa das
trincas deveria ser encontrada. Através de microscopia eletrônica de varredura e técnica de
análise química por espectrometria foi possível determinar que o material encontrava-se
sensitizado.
INTRODUÇÃO
Trincas em um fole de expansão inferior foram observadas durante uma inspeção de
rotina. O componente foi removido para analisar se haviam ocorrido modificações
microestruturais.
O componente foi utilizado, neste caso, para prevenir uma pressão extra na tubulação
de vapor, que trabalhava a aproximadamente 270oC. Estes tubos eram conectados a uma torre
de destilação atmosférica que faziam parte de uma planta de refinaria petroquímica. Os tubos
foram fabricados a partir de um aço inoxidável AISI 321.
METODOLOGIA
Neste caso de falha, a principal suspeita era evidentemente alguma modificação
microestrutural causada pela temperatura de trabalho. Desta forma, seis amostras
metalográficas foram preparadas a partir do material do componente.
As amostras foram preparadas segundo o método para caracterização microestrutural e
atacadas com a solução 40 (ASTM E 407 - Standard Test Methods for Microething Metals
and Alloys) e o reagente de Murakami. Um microscópio eletrônico de varredura, uma
microssonda EDS e um espectrômetro de emissão óptica foram utilizados para analisar as
amostras.
Fadiga e Análise de Falhas 143
RESULTADOS
Os resultados estão apresentados nas figuras 147, 148, 149 e 150 que seguem. A figura
147 apresenta uma trinca e demais microtrincas que aparecem na parte interna do fole. A
trinca tem cerca de 0,83mm de profundidade, embora tenham sido detectadas anomalias a
cerca de 1,45mm de profundidade.
A figura 148 exibe o mecanismo de corrosão intergranular que é o responsável pela
produção das trincas.
A figura 149(a) mostra uma região, na seção interna do fole, onde é possível verificar
que alguns grãos foram destacados da matriz. As figuras 149(b) e 149(c) mostram detalhes
desta região. A figura 149(b) exibe o quanto de óxido foi depositado nesta região. A figura
149(c) mostra uma camada de óxido de cerca de 50µm de espessura.
A figura 150 apresenta algumas partículas circulares entre os grãos. Conforme a
análise por microssonda trata-se de carbonetos metálicos.
Figura 147– Micrografia apresentando uma trinca junto a diversas microtrincas. 40X. Sem ataque.
Fadiga e Análise de Falhas 144
Figura 148– Micrografia apresentando, em detalhe, contornos de grão já com corrosão intergranular. Aumento de 2356X. Ataque: Solução 40 e Murakami.
(a) (b) (c)
Figura 149- (a) Região a qual é possível observar a condição da matriz. 100X. Ataque: Solução 40 e Murakami (b) Depósito de óxido em contorno de grão. 450X. Ataque: Solução 40 e Murakami. (c) Camada de óxido de cerca de 50µm de espessura. 932X. Sem ataque.
Figura 150– A imagem mostra carbonetos metálicos em contornos de grãos austeníticos e maclas de deformação. 500X. Ataque: Solução 40 e Murakami.
ANÁLISE QUÍMICA
A tabela 10 apresenta o resultado da análise química por espectrômetro de emissão
ótica.
Tabela 10 - Composição química básica do fole. Percentual em peso
C Cr Ni Ti Cu Si Mn Mo P S V Al
0,02 17 9,90 0,22 0,18 0,53 1,64 0,16 0,038 0,006 0,03 0,021
O resultado da análise química por microssonda realizado em contorno de grão foi
(percentual em peso %):
C – 14,63% Cr – 17,22% Fe – 58,65% Ni – 8,27% Si – 0,52% Cu – 0,71%
O espectro abaixo apresenta elementos como Cr, Ni obtidos pela referida análise em
contorno de grão do inoxidável austenítico AISI 321.
Fadiga e Análise de Falhas 145
Figura 151– Espectro de energia dispersiva por raios-X realizado no contorno de grão de uma das amostras.
DISCUSSÕES
A microestrutura do fole mostrou a ocorrência de corrosão intergranular. É possível
verificar que em algumas regiões o fole teve uma camada de óxidos. Estes óxidos também
penetraram nos contornos de grão. Alguns grãos destacaram-se da matriz devido à quantidade
de corrosão intergranular.
Corrosão intergranular devido à sensitização foi observada nas amostras analisadas
(Fig. 150). De acordo com a análise por microssonda existem carbonetos metálicos em
contorno de grãos.
A análise química por espectrômetro, segundo a literatura, ASM International
Handbook, mostrou que a quantidade de Ti está corretamente especificada para o material.
CONCLUSÕES
- As propriedades mecânicas e metalúrgicas sofreram mudanças que afetaram a vida em
serviço do componente.
- Levando em consideração a análise por microssonda, o material está sensitizado. Diferentes
carbonetos podem estar combinados nos contornos de grão e empobrecer a matriz de
elementos de liga (Cr, Ni) que dão as propriedades mecânicas e metalúrgicas ao material.
- A literatura diz que o material analisado quimicamente é um inoxidável austenítico (AISI -
321).
Fadiga e Análise de Falhas 146
2.2.13 - ANÁLISE DE FALHA EM GRANDE ENGRENAGEM DE REDUTOR
RESUMO
Este trabalho visa determinar as causas que levaram à ruptura uma grande engrenagem
motriz de um redutor petroquímico que rompeu após cerca de trinta meses de serviço.
O trabalho foi desenvolvido segundo uma metodologia recomendada de análise de
falhas. Sendo assim, foram analisadas as condições de carregamento em serviço da
engrenagem, levando em consideração o seu ciclo de carga bem como as suas paradas
previstas. Logo após foi analisada a morfologia da fratura através de microscopia óptica.
Posteriormente o material foi caracterizado metalurgicamente através de metalografia, análise
química por espectrometria de emissão óptica e ensaios de dureza. Finalmente foi efetuado
um ensaio de tenacidade a fratura do material (KIC) além da curva da/dN da mecânica da
fratura. Foi possível, a partir dos ensaios realizados, correlacionar a condição de serviço com
modelos de elementos finitos simultaneamente desenvolvidos.Resultados alcançados ou
esperados
A análise da superfície de fratura mostrou que ocorreu ruptura por fadiga nucleada em
uma região determinada pela sobreposição de dois furos para inserção de olhais. A
caracterização metalúrgica e os ensaios mecânicos definiram que sua geometria apresenta-se
crítica quanto à propagação de processos de fadiga.
INTRODUÇÃO
Foi analisada uma engrenagem de um redutor de grande porte que rompeu em serviço.
O objetivo do trabalho é determinar a causa da falha.
ANÁLISE VISUAL
A análise visual da engrenagem mostra que ocorreu ruptura por fadiga devido à
solicitação normal do componente.
A fadiga nucleou na região de interseção do fundo de dois furos feitos para
movimentar a peça e propagou de forma tangencial ao plano longitudinal do componente até a
ruptura final, com a separação de três dentes da engrenagem.
Fadiga e Análise de Falhas 147
Figura 152– Imagem mostrando a ruptura da engrenagem do redutor. Observam-se as marcas de praia caracterizando a propagação de fadiga na direção da aplicação da força no dente e nos dois sentidos. Aumento: 0,4x.
Figura 153– Detalhes da grande superfície de propagação da fadiga. A ruptura final, por outro lado, apresenta menor área. Aumentos: 0,3x e 0,5x respectivamente.
Fadiga e Análise de Falhas 148
Figura 154– A imagem mostra, em detalhe, a região de início da falha, na interseção dos fundos dos furos. As marcas de praia evidenciam a propagação a partir desta região. Aumento: 2,2x.
CONCLUSÕES
A falha ocorreu por fadiga devido ao efeito de entalhe criado pela interseção dos furos.
Tal usinagem originou uma trinca a cerca de 50 mm abaixo do fundo de um dos dentes. Esta
trinca propiciou a propagação pelo processo de fadiga por uma grande seção resistente,
culminando com a ruptura final, quando o plano de propagação tangencial atingiu a superfície
externa da engrenagem.
ANÁLISE METALÚRGICA
Uma engrenagem motora de redutor G5 G820 (potência 5500W) rompeu em serviço
após cerca de 31 meses de operação normal. A análise de falha foi realizada em relatório
anterior (LAMEF 172/00).
Devido à necessidade de reposição imediata do componente, foi solicitada uma
caracterização metalúrgica complementar da engrenagem para dar as informações necessárias
em termos de material e tratamento térmico.
O fabricante da engrenagem rompida informou que aquela havia sido fabricada a partir
do aço SCM420 (AISI 5120), cementada a 9500C, temperada a 8600C e revenida numa
temperatura entre 180 e 2000C. Uma análise química já realizada pelo solicitante classificou o
material como sendo um aço SCM2 (AISI 4130).
Uma seção metalográfica foi retirada de um dos dentes próximo à falha de forma a
revelar a sua seção transversal.
Após a preparação do corpo de prova, foram obtidas microfotografias em microscópio
óptico. Por ter sido revelada uma camada endurecida externa, foi realizado um perfil de
microdurezas na altura do diâmetro médio a fim de determinar a dureza e profundidade da
camada cementada. Foi, também, realizada análise química por espectrômetro de emissão
óptica para confirmar o material utilizado.
RESULTADOS
A metalografia da camada apresentou martensita revenida de elevado carbono, o que
confirma um processo de cementação (figura 155).
Fadiga e Análise de Falhas 149
A medida em que se desloca para o núcleo, a microestrutura passa a apresentar
transformação com microestrutura martensítica, ferrítica e bainítica (figuras 156 e 157).
O perfil de microdurezas foi realizado na escala Vickers com carga de 500g (HV0,5),
partindo de 0,05mm da superfície em direção ao núcleo. Considerando um limite de camada
de 550HV, a profundidade foi de cerca de 3,5mm (figura 158). A dureza de núcleo é de
335HV0,5.
A análise química do núcleo indicou que se trata de um aço para cementação
AISI5120, conforme indicado pelo fabricante, mas com algum teor de molibdênio (tabela 11).
Figura 155– Microestrutura martensítica de elevado carbono encontrada na camada
cementada da engrenagem. À esquerda, 500x de aumento; à direita, detalhe a 1300x de
aumento. Ataque: nital 2%.
Figura 156– Aproximando-se do final da camada cementada observa-se maior quantidade de microestrutura bainítica. Aumento: 1000x; ataque: nital 2%.
Fadiga e Análise de Falhas 150
Figura 157– No núcleo a engrenagem apresenta microestrutura predominantemente bainítica com alguma quantidade de martensita e ferrita em contornos. À esquerda, aumento de 500x; à direita, aumento de 1000x. Ataque: nital 2%.
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5
350
400
450
500
550
600
650
700
Mic
rodu
reza
Vic
kers
(H
V0,
5)
Distância da Superfície (mm)
Figura 158– Perfil de microdurezas partindo da superfície do flanco do dente (na altura do diâmetro médio) e seguindo perpendicularmente em direção ao núcleo. Tabela 11 - Análise química realizada no núcleo da engrenagem.
Elemento C Si Mn Cr Ni Cu Mo S P
% peso 0,200 0,227 0,803 1,170 0,011 0,021 0,209 0,011 0,010
0,23 0,40 0,90 1,20 _ - _ 0,035 0,035AISI 5120
máx/mín 0,17 0,60 0,90 _ _ _ _ _
0,33 0,35 0,85 1,20 _ _ 0,30 0,30 0,30 AISI 4130
máx/mín 0,28 0,15 0,60 0,90 _ _ 0,15 _ _
CONCLUSÕES
Fadiga e Análise de Falhas 151
A análise indicou conformidade nas informações do fabricante com o processo
produtivo da engrenagem. Ela foi fabricada a partir de um aço AISI 5120 e cementada com
uma profundidade de camada de 3,5mm.
Porém a análise química realizada pelo solicitante, que sugere tratar-se de um aço
AISI 4130 apresenta conformidade com o teor de molibdênio da análise deste relatório.
O aço AISI 5120 apresenta baixo teor de carbono e não prevê o molibdênio, sendo
recomendado para componentes para cementação com resistência ao desgaste.
O aço AISI 4130, por outro lado, apresenta sensível acréscimo de carbono e
molibdênio, o que eleva a tenacidade do material sem perda de resistência ao desgaste com a
cementação. É, portanto, recomendado para a fabricação da engrenagem em questão.
ANÁLISE DE TENSÕES NA ENGRENAGEM G-5
OBJETIVO
Verificar a segurança da engrenagem G-5 devido à presença de um defeito originado na sua
execução
INTRODUÇÃO
A ruptura em operação de uma engrenagem do redutor demonstrou a necessidade de
verificar o nível de comprometimento de uma outra engrenagem que apresenta o mesmo tipo
de defeito da anterior, a engrenagem G-5. Em função da presença deste defeito originado na
fabricação, uma análise de tensões somente não descreve o comportamento do componente.
Isto porque a obtenção da curva de Wöhler exige a utilização de corpos de prova lisos/
polidos (Norma ISO 1099). Problemas de acabamento ou entalhes acarretam uma acentuada
queda no limite de fadiga do material, como mostra a figura 159.
Fadiga e Análise de Falhas 152
Figura 159– Curvas de Wöhler para corpos de prova lisos e entalhados.(1)
Já para componentes com trincas, a abordagem a ser utilizada passa a ser a mecânica
da fratura - com a curva da/dN vs ∆K, apresentada na figura 160.
Figura 160– Curva da/dN X ∆K típica do aço ASTM A533 B1.(2)
Desta forma, no caso da engrenagem com furos usinados de maneira descentrada, a
aplicação de critérios de mecânica da fratura passa a ser mandatória. O baixo nível de
Fadiga e Análise de Falhas 153
carregamento associado a região leva a um baixo valor de ∆K, nas proximidades do valor de
∆K0 do material. Deve ser salientado que o tipo de detalhe deixado para usinagem assemelha-
se a entalhes tipo Chevron (Chevron Notch), indicados pela Norma ASTM E399-90, para
facilitar a abertura de trincas de fadiga para corpos de prova da mecânica da fratura, como é
mostrada na figura 161.
Fadiga e Análise de Falhas 154
Figura 161– Visualização da engrenagem e do tipo de entalhe utilizado (Chevron Notch).
Ensaios de fadiga de amostras do material da engrenagem comprovaram que o valor
de ∆K0 é da mesma ordem do ∆K atuante na região do defeito da engrenagem Desta forma a
engrenagem que a apresenta o defeito de fabricação apresenta todos riscos para propagação de
trincas em serviço indicando que a mesma tenha que ser retirada de serviço para se antecipar a
falha.
Fadiga e Análise de Falhas 155
ANÁLISE DA ENGRENAGEM G-5
A análise de tensões da engrenagem G-5 foi feita a fim de verificar o nível de
concentração de tensões devido à execução dos furos para transporte e posicionamento da
engrenagem. A presença deste defeito faz com que a análise deste caso saia do escopo da
mecânica dos sólidos e precise ser utilizada a abordagem da mecânica da fratura.
Além da determinação do nível de tensões no componente, foi realizada a comparação
do estado da engrenagem G-5 (em operação) com o estado da que falhou recentemente. A
diferença entre estes componentes está apenas na posição dos furos relativamente ao centro do
eixo, sendo que no caso da engrenagem G-5 os furos estão deslocados 18mm em relação ao
centro, estando, portanto, em uma região de menor tensão.
A complexidade geométrica do componente tornou necessário o desenvolvimento de
várias análises por elementos finitos. Foi empregada a seguinte metodologia:
- determinação do campo de tensões em modelo tri-dimensional da engrenagem sem a
presença dos furos com as dimensões da engrenagem fraturada e para a G-5;
- determinação do campo de tensões em modelo tri-dimensional da engrenagem com a
presença de furos passantes para a engrenagem fraturada e para a G-5;
- determinação do campo de tensões em modelo tri-dimensional da engrenagem com a
presença dos furos para a engrenagem G-5;
- determinação do fator de intensidade de tensões associado ao defeito de fabricação
para a engrenagem G-5.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise da engrenagem sem furos mostrou que as tensões impostas à engrenagem
são bastante baixas, entre 0 e 250MPa aproximadamente. Na região dos furos as tensões são
inferiores a 70MPa. Na posição dos furos da engrenagem G-5 o nível de tensões é cerca de
25% menor do que na posição mais externa da engrenagem que rompeu.
Fadiga e Análise de Falhas 156
Figura 162- Distribuição de tensões na engrenagem contendo um furo passante na posição dos furos da engrenagem fraturada.
Na análise da engrenagem contendo furos passantes as tensões permaneceram baixas,
variando de 0 a 267MPa. Na região dos furos as tensões são inferiores a 90MPa. Na posição
dos furos da engrenagem G-5 o nível de tensões atinge 72MPa (Figura 163), enquanto na
engrenagem que rompeu as tensões chegam a 89MPa (Figura 162), o que significa que a
tensão máxima na engrenagem G-5 se o furo fosse passante, seria 8,1% menor do que a
tensão máxima na engrenagem que rompeu.
Fadiga e Análise de Falhas 157
Figura 163- Distribuição das tensões na engrenagem contendo um furo passante na posição dos furos da engrenagem G-5.
O baixo nível de tensões calculado justifica a grande extensão da trinca em fadiga na
engrenagem rompida anteriormente.
Na análise da engrenagem contendo os furos foi calculada uma tensão máxima na
região do defeito de 60MPa, a qual está mostrada no detalhe da Figura 164. Esta tensão foi
usada em um modelo bi-dimensional que considerou apenas a presença do defeito, cujo
diâmetro é de cerca de 6mm para calcular o fator de intensidade de tensões. Os fatores de
intensidade de tensões foram calculados para diferentes tamanhos de trincas nucleadas a partir
deste defeito.
Fadiga e Análise de Falhas 158
Figura 164- Detalhe da concentração de tensão no fundo do furo do modelo contendo os furos e um defeito entre eles.
O fator de intensidade de tensões varia com o comprimento da trinca. Assim foram
feitas análises considerando trincas incipientes, com menos de 1mm de comprimento, as quais
não podem ser detectadas pelas técnicas de inspeção como está apresentado na Figura 165. Na
Figura 166 está mostrada a distribuição das tensões em função da presença de trincas maiores,
entre 10 e 13mm de comprimento. Do ponto de vista de inspeção e delimitação de defeitos,
estas trincas ainda são muito pequenas.
Os fatores de intensidade de tensões calculados estão apresentados na tabela 12.
Tabela 12 - Fatores de intensidade de tensões calculados para diferentes tamanhos de trinca.
Trinca Comprimento
(mm)
Fator de intensidade
de tensões KI (MPa.m1/2)
Trinca superior 0,26 2,46
Trinca inferior 0,33 2,52
Trinca superior 10,3 4,32
Trinca inferior 12,8 5,36
Fadiga e Análise de Falhas 159
Figura 165- Furo com trincas nos pontos de maior tensão trativa na direção tangencial a superfície do furo. Trinca superior, à esquerda: 0,26 mm, KI = 2,46 MPa.m1/2. Trinca inferior, a direita: 0,33 mm, KI = 2,52 MPa.m1/2.
Figura 166- Após simulação da propagação das trincas. Trinca superior, esquerda: 10,3 mm, KI = 4,32 MPa.m1/2. Trinca inferior, direita: 12,8 mm, KI = 5,36 MPa.m1/2.
Fadiga e Análise de Falhas 160
CONCLUSÃO
Como o componente opera sob condições carregamento de fadiga, os fatores de
intensidade de tensões calculados são bastante significativos, sendo que a presença de tais
defeitos oriundos da execução dos furos não deve ser tolerada.
DETERMINAÇÃO DA VIDA REMANESCENTE DA ENGRENAGEM G5
O objetivo desta análise é a determinação da vida residual de uma engrenagem que
apresentou um defeito de fabricação com possibilidade eminente de nucleação e propagação
de trincas por fadiga. Através da determinação experimental da curva de taxa de propagação
de trinca em função do fator de intensidade de tensões cíclico e da simulação numérica da
propagação de um defeito no componente procurou-se determinar a sua vida em fadiga.
DETERMINAÇÃO DA TAXA DE PROPAGAÇÃO DE TRINCA
Foram utilizados corpos de prova Compact Tension extraídos da engrenagem já
fraturada para os ensaios de fadiga, com espessura (B) de 15 mm e comprimento útil (W) de
30 mm. O procedimento experimental utilizado seguiu as recomendações da Norma ASTM E-
647 que trata da medida da taxa de propagação de trinca por fadiga. Os ensaios foram
realizados de modo a permitir a determinação do limiar de fadiga (∆Kth - threshold). Para
tanto o ensaio foi realizado seguindo-se a metodologia de decrescimento da carga, e procedeu
até que as menores taxas de crescimento de trinca fossem atingidas ou que não houvesse mais
crescimento mensurável de trinca.
SIMULAÇÃO DA PROPAGAÇÃO DA TRINCA NA ENGRENAGEM – MÉTODO DE
ELEMENTOS FINITOS
Foi realizada uma simulação bi-dimensional da engrenagem G5 contendo um defeito
prévio na região relativa à posição onde ocorreu uma falha em outra engrenagem. O defeito
prévio foi introduzido no modelo sob a forma de um furo com as dimensões do defeito inicial
real na engrenagem fraturada.
Fadiga e Análise de Falhas 161
RESULTADOS
A Figura 167 mostra a curva de taxa de crescimento de trinca por fadiga obtida para o
material extraído da engrenagem fraturada.
Os parâmetros da relação de Paris estão descritas na figura, assim como o valor
operacional do limiar de fadiga, ∆Kth, que foi de 4,3 MPa.m1/2.
1 10 1001E-10
1E-9
1E-8
1E-7
da/dN = 3.19929E-13 x ∆K 4.03
∆KTH = 4.3 MPa.m1/2
da/d
N (m
/cyc
le)
∆K (MPa.m1/2) Figura 167- Curva de taxa de propagação de trinca por fadiga em função do fator de intensidade de tensões cíclicas obtida através de ensaio para o material da engrenagem.
Na Figura 168 observa-se a região do defeito prévio já com trincas incipientes
nucleadas nos pontos de máxima tensão trativa no modelo de elementos finitos.
A Figura 169 mostra o mesmo modelo com a trinca inferior propagada até
aproximadamente 100 mm. Observa-se que a trinca superior não propaga com a mesma
intensidade devido aos menores valores de KI associados à mesma.
Fadiga e Análise de Falhas 162
Figura 168– Furo com trincas nucleadas em pontos de máxima tensão trativa na superfície.
Figura 169– Modelo de elementos finitos da trinca propagada até aproximadamente 100 mm (trinca inferior).
A Figura 170 mostra os valores de K associados às duas trincas mostradas na figura
anterior. Como a trinca inferior apresenta a maior aceleração em função do tamanho, foi
adotada para a análise de vida residual da engrenagem. A progressão do K em função do
tamanho da trinca está apresentado na Figura 171.
As figuras seguintes apresentam os resultados da análise pela Mecânica da Fratura
Linear-Elástica. Para a simulação do crescimento da trinca partiu-se da hipótese que a razão
de carregamento, R = Kmin/Kmax, seria igual a zero, então ∆K = (Kmax - Kmin) = Kmax. Através Fadiga e Análise de Falhas 163
do uso da relação de Paris estimou-se o número total de ciclos desde o tamanho de trinca de 7
mm cujo K equivalente, de 4,34 MPa.m1/2, é superior ao limiar de fadiga (Figura 167). A
Figura 172 mostra a relação entre tamanho de trinca e número de ciclos enquanto a Figura
173 apresenta a relação entre Kmax e número de ciclos.
0 20 40 60 80 100 1200
5
10
15
20
25
Trinca Inferior Trinca Superior
K I (M
Pa.m
1/2 )
a (mm) Figura 170– Valores de K em função do tamanho de trinca na simulação por elementos finitos.
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16 0,18 0,200
20
40
60
80
100
K (M
Pa.
m1/
2 )
a (m) Figura 171– Curva de K vs. tamanho de trinca obtido através da simulação por elementos finitos.
Fadiga e Análise de Falhas 164
0 10 20 30 40 50 60 70 80 900,00
0,02
0,04
0,06
0,08
0,10
0,12
a (m
)
N x 106 Figura 172– Curva de tamanho de trinca vs. número de ciclos obtida através da simulação.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 900
20
40
60
K max
(MP
a.m
1/2 )
N x 106 Figura 173– Curva de K vs. número de ciclos obtida através da simulação.
Fadiga e Análise de Falhas 165
ESTIMATIVA DA VIDA RESIDUAL
CONDIÇÕES DE TRABALHO
O redutor onde a engrenagem fraturada trabalhou entrou em operação em dezembro de
1997, sendo que a quebra ocorreu em julho de 2000. O regime teórico de operação é de 24
horas por dia e de 365 dias por ano. O número médio de paradas é 8 por mês. A carga varia
pouco (entre 50 a 70 % da potência nominal do motor, que é de 5.500 kW), logo será
considerada como constante durante toda a vida do componente para fins de cálculo. A
rotação do eixo da engrenagem G5 (ou sua freqüência de engrenamento) é de 219,45 rpm.
Funcionamento entre paradas:
A duração da engrenagem foi de 31 meses sendo 248 paradas no total. Supondo-se o
tempo médio de parada como sendo de 4 horas, o tempo médio de funcionamento entre
paradas seria:
365 [dias/ano] ⁄ (12 [meses] × 8 [paradas/mês]) = 3,8 dias = 91,25 horas
Descontando-se a parada resultaria: 91,25h - 4h = 87,25 horas.
Número de ciclos entre paradas:
Se um ciclo completo de carregamento for relacionado a uma rotação da engrenagem
pode-se estimar o número médio de ciclos atingido entre cada parada, ou seja:
(87,25h × 60) min × 219,45RPM ≅ 1.149.000 ciclos/parada
Segundo a Figura 173, a propagação de uma trinca por fadiga com um ∆K inicial
acima do valor limiar ∆Kth levaria cerca de 75 milhões de ciclos até atingir o nível de
instabilidade. Como este valor é em ciclos contínuos em fadiga pode-se dividir este número
total de ciclos pelo número de ciclos por parada, resultando em um número inteiro de 65
paradas. Como ocorrem em média 8 paradas por mês, a engrenagem levaria cerca de 8 meses
até atingir a condição de instabilidade se mantidas as mesmas condições de trabalho.
CONCLUSÃO
Através do uso da curva experimental de taxa de propagação de trinca por fadiga e da
simulação da propagação da trinca na engrenagem por elementos finitos associados aos
conceitos da Mecânica da Fratura Linear-Elástica, foi possível estimar a vida remanescente da
Fadiga e Análise de Falhas 166
engrenagem. Determinou-se uma vida de cerca de 75 milhões de ciclos em fadiga (revoluções
da engrenagem), valor relativo a aproximadamente 65 paradas ou 8 meses se mantidas as
mesmas condições de trabalho. Para esta estimativa partiu-se de uma trinca cujo valor de ∆K
era superior ao limiar de fadiga, a partir do qual a propagação é observável. Neste valor de
vida remanescente não está incluído o tempo relativo à nucleação da trinca não tendo sido
levantada qualquer hipótese a este respeito.
Fadiga e Análise de Falhas 167
2.2.14 - ANÁLISE DE FALHA EM SUPORTE DE PNEU ESTEPE PARA CAMINHÕES
RESUMO
A leitura deste trabalho indica que a falha ocorreu devido ao incorreto
dimensionamento da chapa de fixação do suporte ao chassi, quando da fabricação. Um
processo de manutenção posterior, ainda, apresentou-se ineficiente para evitar o colapso.
DESCRIÇÃO
Um suporte de estepe para caminhões, fabricado como acessório e adaptado ao chassi
através de dois parafusos, entrou em colapso com o caminhão em movimento. As rodas
traseiras do veículo, então, chocaram-se com o suporte, desgovernando o veículo e causando
um acidente com perdas materiais (figura 174).
O suporte é preso ao chassi por dois parafusos originais de fábrica, que servem, ou
foram projetados para acoplar outro tipo de acessório. Como restava ainda uma área útil
nestes dois parafusos, eles foram aproveitados para o encaixe do suporte.
Conforme ainda as informações do solicitante, o suporte foi inserido no caminhão em outubro
de 1998. Em 28 de dezembro foi posto em manutenção, pois apresentava a formação e
propagação de trincas próximas a solda que une as vigas "U" à chapa de fixação.
A manutenção consistiu na aplicação de cordões de solda nos dois lados de cada trinca
com posterior esmerilhamento para retirada do excesso de material depositado. Um parafuso
central também foi inserido após furação do chassi. Em 11 de fevereiro de 1999 ocorreu o
colapso do componente, com a separação das duas partes circunvizinhas aos dois parafusos
originais. O parafuso central inserido na manutenção também rompeu.
A seqüência das figuras 175 a 177 ilustram a falha ocorrida.
Fadiga e Análise de Falhas 168
Figura 174– Fotografia mostrando o caminhão após a falha com o suporte.
Figura 175– Vista de perfil ilustrando o chassi em seu estado original e após a colocação do suporte utilizando o mesmo parafuso.
Figura 176– Figura ilustrando as trincas na chapa de fixação e a posterior manutenção com reparo de solda.
Fadiga e Análise de Falhas 169
Figura 177– Macrografia mostrando a peça após o colapso. Nota-se a separação das extremidades da chapa circunvizinhas aos parafusos de fixação. O parafuso central perdeu-se no colapso de forma que não pôde ser analisado. Aumento: 0,2x.
Figura 178– Figura mostrando o esquema da peça após a solda de reparo. As trincas verticais reiniciam na solda de reparo devido ao maior nível de tensões cisalhantes na região.
ANÁLISE DE FRATURAS
O colapso iniciou com a separação da chapa na região da solda de reparo, que coincide
com a região das trincas verticais observadas antes da manutenção. A separação foi devida a
sobrecarga de cisalhamento imposta numa região deformável da chapa, entre a solda dos
perfis (viga “U”) e os dois parafusos, extremos. Esta região é dita deformável, pois se localiza
entre dois vínculos rígidos. O parafuso que engasta a chapa ao chassi e o perfil soldado a
chapa, que determina a rigidez desta região, transferem o maior nível de tensões a solda de
reparo (figura 178).
Fadiga e Análise de Falhas 170
A oxidação da solda de reparo bem como a morfologia da fratura indica que esta
rompeu por sobrecarga antes das outras (figura 179).
Duas frentes de propagação de fadiga similares (indicadas na figura 180) partiram da
interface entre as arruelas e a face externa da chapa, horizontalmente ao plano base (figuras
180 e 181).
As frentes horizontais apresentaram duas regiões distintas. A primeira, mais oxidada,
iniciou e propagou antes do reparo ou da ruptura do parafuso central. A segunda região parece
ter propagado a partir da primeira pouco antes do colapso final.
A análise em microscópio eletrônico de varredura (MEV) confirmou a presença de
estrias de fadiga na segunda região, o que reforçou o histórico suposto (figura 182).
A análise do componente também indicou a propagação de outras trincas em diferentes locais
(figuras 183 e 184) além das que provocaram o colapso.
Figura 179– Macrografia mostrando a região da solda de reparo com grande oxidação e a propagação de trincas dentro do metal de solda. Aumento: 1,1x.
Figura 180– Macrografia mostrando a fratura do lado direito. Identificam-se as regiões de fadiga perto do furo do parafuso e na solda, com maior oxidação, que iniciaram antes do reparo. Após o reparo houve fadiga de baixo ciclo dando seqüência as fadigas iniciais nas duas regiões. Finalmente observam-se as regiões de ruptura final. Os números 1 e 2 indicam a 1a e a 2a frentes de fadiga. Aumento: 1,6x.
Fadiga e Análise de Falhas 171
Figura 181– Macrografia mostrando a fratura do lado esquerdo, observa-se aqui uma maior área de fadiga na zona do parafuso e a ocorrência de fadiga na solda de reparo. Após a ruptura do parafuso central ocorreu uma fadiga de baixo ciclo na solda de reparo (parte clara) e seguido de ruptura final. Os números 1 e 2 indicam a 1a e a 2a frentes de fadiga. Aumento: 1,8x.
Figura 182- Micrografia em MEV mostrando estrias de fadiga na segunda região. Aumento: 3360x.
Figura 183– Macrografia mostrando uma trinca oxidada na solda do lado interno do perfil ”U” perto da fratura do lado direito. Aumento: 1x.
Fadiga e Análise de Falhas 172
Figura 184– Macrografia mostrando a propagação de uma trinca na solda da chapa triangular soldada no fundo dos perfis “U”. Aumento: 1,5x.
ANÁLISE DAS SOLICITAÇÕES
A análise das solicitações envolvidas no suporte quando em serviço pode ser resumida
no desenho da figura 185.
Como pode ser observado, a região de maior momento fletor é justamente a que
fraturou. O momento fletor provoca um esforço cisalhante nas chapas de fixação, entre os
vínculos dos parafusos extremos e a junção da chapa com as vigas “U”.
Contudo, as fadigas verticais como as horizontais tiveram seu início e propagação num
local não previsto.
O esquema indica onde seriam previstos os três pontos de início de uma falha devida
às solicitações em serviço.
O ponto A seria o mais crítico, pois é onde ocorre o maior momento (maior tração) e
apresenta forte concentração de tensão. Tal ponto é caracterizado por ser a união soldada da
chapa com a viga superior. Aqui iniciaram as trincas que foram reparadas e as que
posteriormente determinaram o colapso.
Os pontos B e C correspondem às interfaces críticas dos parafusos, também fortes
concentradores de tensões e solicitados por tração. Tudo indica, entretanto, que os parafusos
estavam superdimensionados levando em conta o projeto do suporte. O único parafuso a
romper não suportou a carga (parafuso este não previsto no projeto original) após o
cisalhamento das extremidades da chapa (solda de reparo), tendo, provavelmente, rompido
por fadiga.
O ponto D, onde ocorreu a ruptura por fadiga, sofre apenas compressão levando em
conta a configuração de carga proposta. Não seria previsto o mecanismo de fadiga neste
ponto.
Fadiga e Análise de Falhas 173
Tal constatação indica que o modelo de solicitações previsto não foi o ocorrido e
sugere-se a necessidade de um novo modelo que se aproxime do real. A fadiga no ponto D
indica que ocorriam neste ponto solicitações dinâmicas de tração. Partindo desta informação,
sugere-se a configuração de cargas ilustrada na figura 186.
Como foi realmente observado nas análises preliminares, a chapa de fixação
encontrava-se fora de paralelismo em relação ao chassi, ou fora de perpendicularismo em
relação ao plano base, propiciando um distanciamento “d’’ como indicado na figura 186.
Desta forma, a parte inferior do suporte recebe um grau de liberdade e a região engastada
limita-se apenas à porção da chapa sob a arruela inserida na fabricação do suporte.
Sendo assim, tem-se uma nova configuração de solicitações que permite a formação de
um processo de fadiga no ponto D.
O distanciamento “d” formado com a deformação plástica da chapa, pode ter ocorrido
devido a vibração do componente em serviço após o trincamento estático das abas na região
soldada anteriormente.
Figura 185– Figura ilustrando a solicitação sofrida pela estrutura em serviço.
Figura 186– Esquema mostrando os pontos de maior solicitação e a propagação da trinca por fadiga. O esforço na região de fixação pode ser resumido a um momento fletor devido ao peso do estepe. A vibração em serviço determina uma solicitação dinâmica propícia para processos de fadiga.
Fadiga e Análise de Falhas 174
Figura 187– Esquema mostrando o espaço criado pela vibração em serviço devido a falta de apoio na parte inferior. Nota-se a possibilidade de fadiga no ponto D.
MICRODUREZA, METALOGRAFIAS E ANÁLISE QUÍMICA
A ruptura do componente, incluindo a formação de processos de fadiga indica duas
hipóteses: subdimensionamento da chapa (levando em conta os pontos, concentradores de
tensões) e/ou alguma falha metalúrgica que propiciasse a ruptura.
Foi realizado um perfil de microdurezas Vickers com carga de 200 gf (HV) em um
corpo de prova transversal à solda de reparo para verificação da taxa de variação de dureza da
linha média do metal de solda até o metal de base. Após o ensaio foi verificado que não houve
uma grande variação nos resultados como pode ser visto no gráfico da figura 188.
A metalografia mostrou microestrutura formada por ferrita e pouca perlita o que indica
um aço com baixo teor de carbono (figuras 189 e 190) como pôde ser confirmado com a
análise química. A região onde foi feita a solda de reparo notou-se, no metal de solda, defeitos
metalúrgicos e trincas (figuras 191 e 192).
Tabela 13 - Análise química da chapa de fixação.
Elemento C Si Mn P S Cr Ni Al Pb Sn
% em peso 0,10 0,01 0,44 0,019 0,012 0,02 0,01 0,041 0,002 0,013
Fadiga e Análise de Falhas 175
0 1 2 3 4 5120
140
160
180
200
Distância do metal de solda em direção a chapa (mm)
Dur
eza
Vic
kers
Figura 188– Gráfico mostrando os resultados do perfil de microdurezas.
Figura 189– Micrografia mostrando o metal base da chapa. Observa-se uma grande quantidade de ferrita com pouca perlita, típico de um aço SAE 1010. Ataque: nital 3%. Aumento: 100x.
Figura 190– Micrografia mostrando a zona afetada pelo calor onde ocorreu um refinamento granular. Matriz ferrítica e perlítica próximo a solda de reparo. Ataque: nital 3%. Aumento 100x.
Fadiga e Análise de Falhas 176
Figura 191- Micrografia mostrando o metal de solda. Crescimento de grãos colunares seguindo o fluxo de resfriamento da poça de fusão. Matriz formada por ferrita acicular e estrutura de Widmanstätten. Ataque: nital 3%.Aumento: 100x.
Figura 192- Micrografia mostrando o metal de solda com trincas e defeitos internos que fragilizam a estrutura. Ataque: nital 3%. Aumento: 50x.
DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Os resultados do trabalho permitem definir o motivo e o histórico da falha, após a
aplicação da solda reparo.
A região onde foram encontrados formação de trincas e que sofreu o reparo é crítica
quanto a fratura, pois apresenta forte concentração de tensões (tanto devido as mudanças de
plano entre a chapa e o perfil e entre a chapa e a arruela, como também pela menor rigidez) e
sofre um esforço cisalhante devido as solicitações em serviço.
Com a formação das duas trincas verticais, aumentou a solicitação de flexão do
parafuso central, que praticamente passou a suportar todo o esforço anteriormente distribuído
em três.
Fadiga e Análise de Falhas 177
Este parafuso, então, rompeu provavelmente por fadiga. Tal parafuso não foi analisado
por ter perdido-se na estrada. Ele inclusive pode ter caído muitos quilômetros antes do
colapso. Mas a pouca deformação plástica do furo de encaixe deste parafuso reforça esta
hipótese.
Com a ruptura do parafuso, toda a carga foi transferida para as duas extremidades na
sua posição horizontal, que sofreram um novo processo de fadiga, permitindo a completa
separação do suporte. Anteriormente ao reparo esta região provavelmente já estava fadigando.
CONCLUSÕES
A falha do componente ocorreu devido ao subdimensionamento da chapa para suportar
o esforço cisalhante aplicado entre os perfis soldados e os dois parafusos extremos. A rigidez
da vizinhança das trincas é muito superior, transferindo a concentração maior de tensões para
a chapa. A solda reparo aplicada somente diminui a resistência da região, pois um processo de
soldagem diminui a tenacidade do material e aumenta o nível de tensões residuais.
Os defeitos microestruturais observados na solda reparo também diminui a resistência
do material.
Fadiga e Análise de Falhas 178
2.2.15 - ANÁLISE DE FALHA EM TUBO API 5L X-56 DO OLEODUTO TEDUT/REFAP
DESCRIÇÃO
Foi recebido um segmento de tubo API 5L X-56 do oleoduto TEDUT/REFAP
apresentando uma ruptura ocorrida durante o teste hidrostático. A falha ocorreu junto à solda
longitudinal do tubo (Solda ERW) e próximo a uma solda de união de dois segmentos de
tubo, como mostram as figuras 193 e 194.
Figura 193– Macr
Figura 194– Detada falha, que apre
Foi realizad
e da solda radial v
Foi observada em
localizada próxima
solda radial
ografia mostrando a falha do tubo junto a solda “costura”(ERW).
lhe da região de ruptura do tubo mostrando a região provável de início sentou maior deformação.
ANÁLISE DA FRATURA
o um rastreamento sobre as superfícies separadas da região da solda ERW
isando identificar o macromecanismo de fratura em lupa de baixo aumento.
apenas uma superfície da trinca, na solda ERW, uma linha escura e lisa
a ¼ da espessura da chapa, partindo de seu diâmetro interno, que estava
Fadiga e Análise de Falhas 179
encoberta por uma camada metálica. As demais regiões foram apenas de cisalhamento
(figuras 195 e 196). Na solda radial não foi verificado nenhum indício de início de fratura.
e
Figura 195– Imagem mostrando uma das superfícies de fratura da uma linha arredondada escura que segue por todo o comprimento camada metálica envolvia tal linha antes da separação. O restante dapenas por cisalhamento final.
Figura 196– O outro lado da fratura apresenta apenas cisalhamenda falha e uma separação, também por cisalhamento, que coincidedescontinuidade da outra superfície.
Uma seção da fratura foi retirada então da região de maior deform
lado em que foi vista a linha escura e foi analisada em um micro
varredura (MEV) a fim de identificar os micromecanismos da fratura
além de uma camada de oxidação em toda a superfície. Convém salien
análise bem como o corte da amostra foram realizados sem qualquer limp
Logo após a superfície foi limpa com detergente comum e, nova
MEV. Mais uma vez nada foi observado além de oxidação. Uma análise
Fadiga e
descontinuidad
fina camada
metálica
cisalhamento
final
solda ERW. Nota-se da trinca. Uma fina a fratura é formado
to como mecanismo sua posição com a
ação (figura 194) do
scópio eletrônico de
. Nada foi observado
tar que esta primeira
eza ou lubrificação.
mente, observada em
por microssonda foi
Análise de Falhas 180
aplicada sobre a linha escura e na zona cisalhada nesta etapa, sendo que o resultado
basicamente foi óxido de ferro, como mostra o espectro da figura 197.
A amostra foi, por fim, atacada com reativo de Clark a fim de eliminar a oxidação
superficial e depois foi observada ao MEV. Desta vez alguns sinais de coalescimento de
microcavidades foram observados na região cisalhada e na linha escura a oxidação continuou,
como mostram as figuras 198 e 199. Uma nova análise por microssonda foi aplicada sobre
esta última região e o resultado foi o mesmo anterior.
Figura 197- Espectro representativo das análises por microssonda sobre a camada oxidada. Nota-se a formação básica de óxido de ferro. Alguns elementos tais como silício e molibdênio também aparecem por estarem presentes no substrato (matéria prima).
Figura 198– Micrografia da superfície da falha obtida em MEV após a limpeza com reagente de Clark.
Fadiga e Análise de Falhas 181
Figura 199– Micrografia em MEV mostrando a figura 198 em maior aumento detalhando a linha de óxidos de ferro intrínseca ao material.
ANÁLISE MICROESTRUTURAL
Após as constatações anteriores foram retirados corpos de prova da região de início da
fratura, da região mais ao final da fratura, da região da solda longitudinal por resistência
(ERW) fora da falha e de uma região da chapa do tubo fora das soldas com o objetivo de
investigar a condição microestrutural. Os corpos de prova foram preparados segundo
procedimento padrão de preparação metalográfica e após foram examinados em microscópio
óptico e MEV.
Nestas análises foi observada a presença de óxidos de ferro na superfície da fratura e
dentro do material de base, como se pode observar nas figuras 200 a 210. Estes óxidos de
ferro foram analisados por microssonda e por microscopia Raman, onde os espectros
encontrados (ver figuras 211 e 212) foram de um óxido de ferro do tipo hematita (Fe2O3)
conforme comparação com a literatura (ver figura 213). Foi, também, realizada uma análise
por microscopia Raman nos óxidos presentes na superfície da chapa do tubo, onde foi
encontrado óxido de ferro do tipo hematita, como mostra a figura 214. Na amostra da chapa
do tubo fora da região das soldas, também, foi observada a presença de inclusões de óxidos
dentro do material e próximo a superfície, com tamanho em torno de 40 µm, como mostram
as figuras 215 a 218. As figuras 219 e 220 mostram a microestrutura da chapa do tubo
apresentando ferrita e perlita, onde se observou uma forte segregação de manganês no centro
da chapa, no sentido de laminação.
Fadiga e Análise de Falhas 182
Figura 200– Micrografia em MEV mostrando a região da falha no sentido transversal. Amostra extraída junto ao início da falha (região de maior deformação plástica macroscópica).
Linha de solda
Figura 201– Micrografia em MEV mostrando com maior aumento a região da falha onde observa-se a linha da solda tangenciando o defeito.
Figura 202– Micrografia em MEV detalhando a superfície da falha onde observa-se a presença de óxidos de ferro na superfície e dentro da chapa. O perfil da separação acompanha as linhas de fluxo do material.
Fadiga e Análise de Falhas 183
Figura 203– Micrografia em MEV mostrando a região da figura 202 com maior aumento, detalhando a presença de óxidos de ferro (hematita).
Figura 204– Micrografia em MEV da região da figura 204 com maior aumento, onde observa-se o óxido de ferro dentro da chapa.
Figura 205– Micrografia em MEV da mesma região das figuras de 202 a 204, com maior aumento, destacando o óxido de ferro presente.
Fadiga e Análise de Falhas 184
a
Figura 20interna dfratura.
Figura 20ferro jun
Figura 2apresenta
parede
interna
6– Micrografia em MEV mostrando a superfície de fraturo tubo onde se observa a presença de óxidos de ferro ju
7– A mesma região da figura 14 com maior aumento destto a superfície de fratura.
08– Micrografia em MEV de outra região junto a ndo óxidos de ferro na superfície de fratura e dentro da ch
Fadiga e
falh
a próximo a parede nto a superfície de
acando os óxidos de
superfície separada apa.
Análise de Falhas 185
Figura 209– Micrografia em MEV de outra região junto a superfície de fratura apresentando, também, óxidos de ferro junto a superfície e dentro da chapa do tubo.
Figura 210– Micrografia em MEV da mesma região da figura 17 com maior aumento, destacando a presença de óxidos de ferro dentro da chapa.
Figura 211– Espectro da análise por microssonda das descontinuidades encontradas, identificando-as como óxido de ferro.
Fadiga e Análise de Falhas 186
Figura 212– Espectro da análise por microscopia Raman dos óxidos de ferro encontrados na superfície da falha e de dentro da chapa.
Figura 213– Espectros de microscopia Raman encontrados no trabalho realizado por R.K.Singh Raman (Laser Raman Spectroscopy: a Technique for Rapid Characterisation of Oxide Scale Layers).
Fadiga e Análise de Falhas 187
Figura 214– Espectro por microscopia Raman de óxidos encontrados na superfície da chapa do tubo, e por comparação com a literatura, identificados como óxido de ferro do tipo hematita.
Figura 215– Micrografia em MEV mostrando inclusões dentro da chapa e próximo a superfície em uma região longe das regiões da solda.
Figura 216– Micrografia em MEV com maior aumento da região das inclusões.
Fadiga e Análise de Falhas 188
Figura 217– Micrografia em MEV mostrando dobras de laminação junto a superfície e próximo a solda ERW.
Figura 218– Micrografia em MEV detalhando a dobra de laminação.
Figura 219– Micrografia em MEV da microestrutura da chapa do tubo que rompeu.
Fadiga e Análise de Falhas 189
Figura 220– Micrografia em MEV destacando a segregação de manganês.
CONCLUSÕES
Pelas análises realizadas foi constatado:
- a falha não ocorreu na linha de solda e sim junto à zona afetada pelo calor;
- foi observada a presença de descontinuidades junto à superfície de fratura e dentro da chapa
identificadas como óxido de ferro do tipo hematita;
- os óxidos de ferro encontrados devem ser provenientes do processo de laminação (dobra de
laminação com caldeamento do óxido) ou do corte por cisalhamento provocando uma dobra
com a presença do óxido;
- o material da chapa do tubo apresentou segregação de manganês no centro da espessura da
chapa e, também, a presença de inclusões de óxidos próximas à superfície da chapa.
Fadiga e Análise de Falhas 190
2.2.16 - ANÁLISE DE TRINCAS EM CURVAS DE TUBOS DE AÇO INOXIDÁVEL AISI
321H
RESUMO
Diversas seções de tubos de aço inoxidável AISI 321H foram analisadas a fim de
identificar os motivos da formação de trincas macroscópicas na região de dobramento à
quente, processo sofrido por estes tubos.
Foram realizados as seguintes análises e ensaios:
- Análise visual;
- Análise em lupa de baixo aumento;
- Análises micrográficas em microscópio óptico e eletrônico de varredura;
- Análise através da técnica de espectroscopia por dispersão de energia (EDS);
- Ensaios mecânicos de tração a temperatura ambiente e a quente (650oC, 900oC, 1000oC,
1050oC com cobre na superfície e 1050oC com latão na superfície);
- Teste de sensitização (675oC por 1 hora);
- Teste de susceptibilidade à corrosão intergranular.
Os resultados do trabalho indicaram que todas as trincas ocorreram de forma
intergranular e que o tratamento de pickling e passivação possivelmente têm atacado
intergranularmente a superfície dos tubos.
Foi constatado também que o material está sensitizando a temperatura de 675oC, temperatura
similar a de trabalho destes tubos, e a temperatura de dobramento (em torno de 1050oC). Os
resultados mostraram que o material apresentou susceptibilidade à corrosão intergranular.
Devido a isso, sugeriu-se que seja realizado um tratamento térmico de solubilização antes do
dobramento, com objetivo de evitar a sensitização do material.
DESCRIÇÃO
Foram recebidas para análise amostras de tubos de aço inoxidável AISI 321H com 48 mm de
diâmetro e espessura de 3,8 mm, apresentando trincas na parede externa de regiões de curvas.
Estas trincas, segundo o solicitante, apareceram após o dobramento dos tubos. O dobramento
é realizado em uma temperatura em torno de 1050oC e a região de dobramento é retificada
com disco abrasivo. Os tubos trincados pertenciam ao lote de tubos com final 01A e 01B.
Fadiga e Análise de Falhas 191
METODOLOGIA
As amostras recebidas foram analisadas seguindo as seguintes técnicas: análise visual,
lupa de baixo aumento, microscopia óptica e microscopia eletrônica de varredura com
microssonda para análise por espectroscopia por dispersão de energia (EDS) acoplada. Para
análise metalográfica foram retirados corpos de prova das regiões que apresentaram trincas
(região do dobramento) e em regiões onde não houve aquecimento (regiões fora do
dobramento). Os corpos de prova foram preparados com lixamento seqüencial em lixas 120,
220, 320, 400, 600 e 1000 seguido de polimento em pasta de diamante de 3 e 1µm de
granulometria e, após, realizado o ataque eletrolítico em solução de ácido oxálico 10%.
Em análises complementares foram realizados ensaios de tração a temperatura
ambiente, a 650oC, 900oC, 1000oC, 1050oC com cobre puro esfregado na superfície do c.p. e
1050oC com latão (60% de Cu e 40%Zn) na superfície do c.p., como mostra a figura 221. Os
corpos de prova com cobre e latão foram realizados com o objetivo de observar a influência
destes materiais no aço inoxidável em estudo. Após os ensaios de tração foram retirados
corpos de prova para análise da fratura em MEV e da microestrutura em microscópio óptico.
Os ensaios de tração foram de acordo com as Normas ASTM E 8M-90 e ASTM E 21-92.
Foram realizados, também, testes de achatamento a frio, testes de sensitização e
susceptibilidade a corrosão intergranular segundo determinam as Normas ASTM A 312-95 e
ASTM A 262-93. O teste de sensitização consistiu em aquecer amostras dos tubos a uma
temperatura de 675oC deixando-os por 1 hora nesta temperatura com resfriamento ao ar.
Após, foram retirados corpos de prova, preparados segundo procedimento padrão de
metalografia e atacados através de ataque eletrolítico com ácido oxálico e analisados em
microscópio óptico. O teste de susceptibilidade a corrosão intergranular consistiu em colocar
corpos de prova, após sensitizados, em um recipiente do tipo Erlenmeyer com uma solução
contendo 100 gr de sulfato de cobre, dissolvidos em 1.700 ml de água destilada e 100 ml de
ácido sulfúrico, como mostra a figura 222. O teste deve ser realizado com a solução à quente
(fervendo) e com os corpos de prova cobertos com cavacos de cobre puro (os cavacos
utilizados foram de fios elétricos) por um período de no mínimo 24 horas. Neste caso foram
realizados por 110 horas, sendo 16 horas em solução fervente e 94 horas em solução a
temperatura ambiente. Após o teste, as amostras foram dobradas 180o como determina a
Norma ASTM A 262 e analisadas em lupa com 20 X de aumento e após, retirados corpos de
provas para análise em microscópio óptico.
Fadiga e Análise de Falhas 192
Figura 221– Corpos de prova utilizados no teste de tração à quente, utilizando latão e cobre na superfície dos corpos de prova.
Figura 222– Teste de susceptibilidade a corrosão intergranular.
Fadiga e Análise de Falhas 193
RESULTADOS
Resultados da Análise Visual
A análise visual das amostras de tubos mostrou que a maioria dos casos de
trincamento ocorriam na linha neutra da dobra do tubo e no sentido transversal ao
comprimento, como se pode observar na figura 223. Em alguns casos as trincas ocorreram no
cotovelo da curva, região de maior tensão trativa.
Trincas
Figura 223– Amostra de um tubo apresentando diversas trincas na região curva.
Resultados da Análise em Lupa de Baixo Aumento
Na análise em lupa de baixo aumento pode-se observar que as trincas ocorreram de
forma intergranular, confirmado através das análises com microscópio eletrônico de varredura
e pelo microscópio óptico.
Resultados da Análise em Microscópio Eletrônico de Varredura e Microssonda EDS
As figuras 224 a 227 mostram com clareza a ocorrência de trincas intergranulares,
sendo que suas profundidades chegaram em torno de 800 micrometros. Observou-se, também,
a presença de uma camada de aspecto rugoso encobrindo os grãos do material, que foi
identificada em análise por EDS como sendo rico em oxigênio, cromo e ferro (óxido de
cromo como provável composto formado) e em alguns casos com a presença de cobre, como
mostram as figuras 229 e 231 e o espectro da figura 230. A amostra que apresentou cobre no
interior da trinca, mostrou um depósito na superfície, que foi identificado por análise de EDS
ser rico em cobre e cloro, como mostram as figuras 232 e 234.
Fadiga e Análise de Falhas 194
Na análise de amostras não aquecidas e não curvadas, observou-se que a superfície do
tubo apresentava com aspecto de ataque intergranular, o que pode ser confirmado em análise
de amostras cortadas transversalmente ao sentido longitudinal ao tubo, como mostram as
figuras 234 a 237. Este ataque superficial do tubo deve ter ocorrido durante o processo de
pickling e passivação dos tubos.
Figura 224– Micrografia em MEV da superfície de uma das amostras trincadas mostrando a ocorrência de diversas trincas de forma intergranular.
Figura 225– Micrografia em MEV de uma das trincas salientando o aspecto de fratura intergranular.
Fadiga e Análise de Falhas 195
Figura 226– Micrografia em MEV de seção transversal mostrando diversas trincas.
Figura 227– Micrografia em MEV de seção transversal mostrando uma trinca com profundidade em torno de 800 microns.
Figura 228– Micrografia em MEV de outras trincas na mesma amostra da figura 226.
Fadiga e Análise de Falhas 196
Figura 229– Micrografia em MEV mostrando o aspecto intergranular da trinca e da camada rugosa formada em cima dos grãos.
Figura 230– Espectro por EDS da camada rugosa, mostrando ser óxido de cromo.
Figura 231– Micrografia em MEV de uma outra trinca intergranular, destacando a camada formada em cima do grão do material.
Fadiga e Análise de Falhas 197
Figura 232– Espectro da análise por EDS mostrando a presença de cobre.
Figura 233– Micrografia em MEV mostrando a superfície de uma das amostras apresentando um depósito que apresentou cobre e cloro, identificado por análise EDS como mostra o espectro abaixo.
Fadiga e Análise de Falhas 198
Figura 234– Espectro da análise por EDS do depósito encontrado na superfície da amostra da figura 235.
Figura 235– Micrografia em MEV do aspecto superficial dos tubos, região não aquecida e curva.
Figura 236– Micrografia em MEV do aspecto superficial de outra amostra de tubo, região não aquecida e curva.
Figura 237– Micrografia em MEV mostrando o ataque intergranular da amostra da figura 236 vista transversalmente.
Fadiga e Análise de Falhas 199
Figura 238– Micrografia em MEV mostrando outra região apresentando ataque intergranular. Resultados dos Ensaios de Tração
Os resultados dos ensaios de tração realizados à temperatura ambiente e à quente
encontram-se na tabela abaixo.
Identificação Limite de Resistência (MPa) Tensão de Escoamento (MPa)
Temperatura Ambiente 567 -
Temperatura de 650oC 334 135
Temperatura de 900oC 133 111
Temperatura de 1000oC 82 70
Temperatura de 1050oC c/cobre 56 39
Temperatura de 1050oC c/latão 46 29
Resultados da Análise em MEV dos Corpos de Provas Ensaiados por Tração
Dos corpos de prova de tração foram retiradas as fraturas e analisadas no MEV e,
após, cortadas transversalmente, preparadas segundo procedimento padrão de metalografia
para análise da microestrutura.
Tração a Temperatura Ambiente
A fratura do corpo de prova ensaiado a temperatura ambiente apresentou
micromecanismos de coalescimento de microcavidades, modo de fratura típica de material
Fadiga e Análise de Falhas 200
dúctil, como mostra a figura 239. A figura 240 mostra a microestrutura deste corpo de prova,
onde não foi observada a presença de trincas na superfície.
Figura 239– Micrografia em MEV da fratura do c.p. de tração ensaiado a temperatura ambiente.
Figura 240– Micrografia em MEV da microestrutura do c.p. de tração ensaiado a temperatura ambiente mostrando a superfície sem trincas. Tração a Temperatura de 650oC
Nos corpos de prova ensaiado a temperatura de 650oC, a fratura apresentou
micromecanismos de coalescência de microcavidades, como mostram as figuras 241 e 242. A
microestrutura deste c.p. apresentou pequenas trincas intergranulares e grãos totalmente
sensitizados como mostram as figuras 243 e 244.
Fadiga e Análise de Falhas 201
Figura 241– Micrografia em MEV do c.p. de tração ensaiado a 650oC mostrando o aspecto de fratura por coalescimento de microcavidades.
Figura 242– Micrografia em MEV mostrando a região do centro da fratura, apresentando coalescência de microcavidades.
Figura 243– Micrografia em MEV da microestrutura do c.p. de tração a 650oC apresentando pequenas trincas na superfície e grãos sensitizados.
Fadiga e Análise de Falhas 202
Figura 244– Micrografia em MEV da microestrutura da mesma amostra da figura 245 com maior aumento, destacando os grãos sensitizados. Tração a Temperatura de 900oC
A fratura dos corpos de prova ensaiados a temperatura de 900oC apresentou
mecanismos intergranulares na superfície e fratura com micromecanismos de coalescimento
de microcavidades no centro, como mostram as figuras 245 e 246. No sentido transversal a
microestrutura apresentou diversas trincas intergranulares com produtos de corrosão no
interior destas trincas, como verificado nas figuras 247 e 248.
Figura 245– Micrografia em MEV da fratura do c.p. de tração ensaiado a temperatura de 900oC mostrando na superfície fratura intergranular e em direção ao centro coalescimento de microcavidades
Fadiga e Análise de Falhas 203
Figura 246– Micrografia em MEV da fratura no centro do c.p. mostrando micromecanismos de coalescência de microcavidades.
Figura 247– Micrografia em MEV da microestrutura do c.p. de tração ensaiado a 900oC mostrando trincas intergranulares na superfície do material com produtos de corrosão dentro destas.
Fadiga e Análise de Falhas 204
Figura 248– Micrografia em MEV da microestrutura do c.p. de tração ensaiado a 900oC mostrando trincas intergranulares na superfície do material com produtos de oxidação dentro destas em outra região e com maior aumento. Tração a Temperatura de 1000oC
Nos ensaios de tração com a temperatura de 1000oC a fratura apresentou mecanismos
intergranulares na superfície e micromecanismos de coalescência de microcavidades no
centro, como pode-se observar nas figuras 249 a 251. Da mesma forma que no ensaio a
900oC, a microestrutura do material ensaiado apresentou diversas trincas intergranulares com
produtos de corrosão no interior destas trincas, como mostra as figuras 252 e 253.
Figura 249– Micrografia em MEV do c.p. de tração ensaiado a 1000oC mostrando o aspecto da fratura, onde se pode observar na superfície fratura intergranular e ao centro coalescimento de microcavidades.
Fadiga e Análise de Falhas 205
Figura 250– Micrografia em MEV mostrando com maior aumento a região da superfície do c.p. apresentando fratura intergranular.
Figura 251– Micrografia em MEV mostrando o centro da fratura apresentando coalescência de microcavidades.
Figura 252– Micrografia em MEV da microestrutura do c.p. ensaiado a 1000oC mostrando diversas trincas intergranulares.
Fadiga e Análise de Falhas 206
Figura 253– Micrografia em MEV da microestrutura do c.p. ensaiado a 1000oC mostrando diversas trincas intergranulares em outra região do c.p. Tração a Temperatura de 1050oC com Cobre na Superfície
No ensaio de tração a temperatura de 1050oC com cobre na superfície observou-se que
a fratura ocorreu, também, intergranular na superfície e com coalescência de microcavidades
ao centro, como mostram as figuras 254 e 255. A microestrutura apresentou diversas trincas
intergranulares na superfície do c.p. com produtos de corrosão dentro destas trincas, como
pode-se observar nas figuras 256 e 257.
Figura 254– Micrografia em MEV da fratura do c.p. de tração a 1050oC com cobre na superfície.
Fadiga e Análise de Falhas 207
Figura 255– Micrografia em MEV da fratura do c.p. de tração a 1050oC com cobre na superfície com maior aumento.
Figura 256– Micrografia em MEV da microestrutura mostrando trincas na superfície do c.p. com produtos de corrosão no interior das trincas. Sem ataque químico.
Figura 257– Micrografia em MEV da microestrutura mostrando trincas na superfície do c.p. com produtos de corrosão no interior das trincas em outra região do c.p. Sem ataque químico.
Fadiga e Análise de Falhas 208
Tração a Temperatura de 1050oC com Latão na Superfície
No ensaio de tração a temperatura de 1050oC com latão na superfície observou-se que
a fratura ocorreu, da mesma forma do que com o cobre, intergranular na superfície e com
coalescência de microcavidades ao centro, como mostram as figuras 258 e 259. A
microestrutura apresentou diversas trincas intergranulares na superfície do c.p. com produtos
de corrosão dentro destas trincas, como pode-se observar na figuras 260.
Figura 258– Micrografia em MEV da fratura do c.p. de tração a 1050oC com latão na superfície.
Figura 259– Micrografia em MEV da fratura do c.p. de tração a 1050oC com latão na superfície, com maior aumento.
Fadiga e Análise de Falhas 209
Figura 260– Micrografia em MEV da microestrutura mostrando trincas na superfície do c.p. com produtos de corrosão no interior das trincas. Sem ataque químico. Resultados do Teste de Achatamento
O teste de achatamento foi realizado segundo a Norma ASTM A530-96, e analisados
em lupa de baixo aumento e microscópio óptico não sendo observado nenhuma trinca nas
regiões das dobras, como mostram as figuras 261 e 262.
Figura 261– Macrografia em câmera digital dos corpos de prova achatados.
Fadiga e Análise de Falhas 210
Figura 262– Macrografia em câmera digital mostrando a superfície das dobras do teste de amassamento onde não foram observadas trincas. Resultados do Teste de Sensitização
Os resultados do teste de sensitização mostraram que todas amostras testadas
apresentaram-se sensitizadas, ou seja, com a microestrutura apresentando o contorno de grão
completamente circundado com precipitados de carbonetos de cromo. Notou-se que a
sensitização foi mais pronunciada nas regiões próximas a superfície externa dos tubos.
Resultados do Teste de Susceptibilidade a Corrosão Intergranular
Os corpos de prova utilizados no teste de susceptibilidade a corrosão intergranular
foram analisados em lupa de baixo aumento para identificação de possíveis trincas na
superfície, o qual não ficou muito evidente. Para tirar a dúvida, a Norma sugere a realização
de uma análise em amostras transversais em microscópio óptico, onde foi confirmado ataque
intergranular nas amostras, mostrando que o material dos tubos nestas condições está
suscetível a corrosão intergranular.
Fadiga e Análise de Falhas 211
CONCLUSÕES
Pelas análises realizadas pode-se obter as seguintes conclusões:
- As trincas estão ocorrendo de forma intergranular. Não foi observada nenhuma trinca
transgranular.
- A superfície dos tubos já se apresentava atacada intergranularmente, possivelmente devido
ao tratamento de pickling e passivação, o que foi comprovado pelas micrografias das
microestruturas do material das regiões sem aquecimento;
- O teste de sensitização mostrou que o material dos tubos está sensitizando na temperatura do
teste (675oC) e de dobramento (1050oC), comprovados pelos testes de sensitização e de tração
à quente.
- O teste de susceptibilidade a corrosão intergranular mostrou que o material nestas condições
está suscetível a corrosão intergranular.
- A presença de cobre ou latão na superfície dos tubos ajuda a acelerar o ataque intergranular.
SUGESTÕES
Realizar antes do dobramento um novo tratamento de solubilização dos tubos, com
objetivo de evitar a sensitização do material.
Fadiga e Análise de Falhas 212
2.2.17 - ANÁLISE DE FALHA EM EIXO DE PRENSA PRR01
DESCRIÇÃO
Foram recebidas, para análise de falha, duas seções de um eixo de prensa (PRR01) de
1000 toneladas fraturado em serviço. O objetivo deste trabalho é identificar os motivos do
colapso, via análise visual, metalográfica, fractografia em microscópio eletrônico de varredura
(MEV) e ensaio de dureza.
Figura 263– Macrografia mostrando o componente recebido. Aumento: 0,1x.
ANÁLISE DA VISUAL E EM LUPA DE BAIXO AUMENTO
Após o recebimento do componente foi realizada documentação fotográfica e,
posteriormente, limpeza das superfícies de fratura para análise detalhada.
A superfície de fratura apresenta marcas de praia e linhas radiais originadas em toda a
circunferência. A região onde ocorreu a falha coincide com um raio de concordância da
redução de diâmetro (figura 264).
Foram observadas descontinuidades na superfície lateral do eixo características de
marcas de cordões de solda. Após ataque macroscópico com nital 10% foi constatado que
haviam alterações microestruturais, confirmando a hipótese da presença de uma região
soldada, visto na figura 267.
Fadiga e Análise de Falhas 213
Figura 264– Imagens mostrando as superfícies de fratura do componente recebido. Observa-se a presença de linhas radiais originadas em toda a circunferência. Aumento: 0,8x.
Figura 265– Macrografia mostrando a superfície de fratura contendo marcas de praia concêntricas e linhas radiais oriundas da superfície. Aumento: 1,4x.
Figura 266– Imagem mostrando a região do raio de concordância contendo profundas marcas de usinagem. Aumento: 2x.
Fadiga e Análise de Falhas 214
Figura 267– A esquerda observa-se uma descontinuidade na superfície do eixo. À direita, após ataque com nital 10%, podem ser observadas manchas e alterações na microestrutura, mostrando que há metal de solda. Aumento: 0,8x.
ANÁLISE DA FRATURA EM MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA
Foi confeccionado um corpo de prova, para análise em MEV, de uma região de início
da fratura. Pôde ser observado que a superfície apresenta grande amassamento e áreas com a
presença de fratura intergranular.
inte r
Fratura
rgranula
Região de
início
Figura 268– Imagem mostrando a superfície de fratura. Observou-se uma superfície amassada devido ao processo de fadiga e regiões de fratura intergranular. À direita, com maior aumento, a região intergranular apresentando tamanho de grão grosseiro.
ANÁLISE METALOGRÁFICA E ENSAIO DE DUREZA
Foi confeccionado um corpo de prova metalográfico de uma região de início da falha
com o objetivo de identificar alguma alteração microestrutural que estivesse relacionada com
o processo de fratura.
Fadiga e Análise de Falhas 215
Observou-se a presença de metal de solda na superfície, microestrutura martensítica na
zona termicamente afetada e um metal de base formado por bainita e ilhas ferrita.
Foram realizados ensaios de dureza nas três regiões distintas encontradas no corpo de
prova. Na região do material de base a dureza média encontrada é de 250 HB, a região
martensítica apresentou média de 390 HB e na região do metal de solda o valor médio
encontrado foi de 280 HB.
Figura 269– À esquerda, microga presença de metal de solda (pab). À direita, com maior aumentafetada. Ataque: nital 3%. Aume
Figura 270– Micrografia mostrapor bainita e ilhas de perlita. Ata
Início
da falha
Superfícierafia mostrando a região de início da falha. Observa-se rte clara, a) e microestrutura martensítica (fase escura, o a região martensítica formada na zona termicamente ntos: 25x e 100x, respectivamente.
ndo a região central do eixo. Microestrutura formada que: nital 3%. Aumento: 100x.
Fadiga e Análise de Falhas 216
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A análise metalográfica e os ensaios de dureza comprovaram a presença de metal de
solda e microestrutura martensítica de alta dureza na zona termicamente afetada que coincide
com a zona de fratura intergranular, propiciando fragilização da região da fratura.
As análises mostraram uma superfície de fratura característica de ruptura por fadiga. O
mau acabamento superficial do raio de concordância e heterogeneidade microestrutural
próximas à superfície proporcionaram condições para a nucleação e propagação da falha.
A zona termicamente afetada, com formação martensítica, apresenta tensões compressivas
sendo compensada por uma região de tensões trativas nas regiões imediatamente anterior e
posterior a esta, coincidindo com a superfície externa do eixo.
A região do raio de concordância é uma região crítica em componentes.
Conseqüentemente, um bom acabamento superficial e boas condições metalográficas são
extremamente importantes para obter-se grande resistência à fadiga.
CONCLUSÃO
A ruptura do componente ocorreu por fadiga sob esforços de flexão e torção nucleada
na região do raio de concordância devido a presença de alterações microestruturais e mau
acabamento superficial.
Fadiga e Análise de Falhas 217
2.2.18 - ANÁLISE DE FALHA EM EIXO VIGA TUBULAR
RESUMO
Este trabalho visa determinar as causas que levaram à ruptura um eixo viga tubular
que rompeu em ensaio de verificação de fadiga por flexão vertical. O trabalho foi
desenvolvido segundo a metodologia recomendada de análise de falhas. Foram realizadas
análises visuais, análise da morfologia da fratura através da microscopia óptica e eletrônica de
varredura. Posteriormente o material foi caracterizado metalurgicamente através de
metalografia, análise química por espectrometria de emissão óptica, ensaio de dureza, ensaio
de tração e construção do diagrama de fadiga do componente.
Foi possível através dos ensaios realizados estabelecer os fatores que mais importância
tiveram no processo de fadiga. A falha por fadiga se deu por flexão na região que recebe
maior solicitação. Analisando a resistência à fadiga do componente, verificou-se que o fator
de segurança frente à solicitação é baixo. Outro fator que contribuiu para o início do processo
de fadiga foi o acabamento superficial aliado a oxidações oriundas da fabricação do
componente.
INTRODUÇÃO
O eixo viga tubular rompeu em ENSAIO DE VERIFICAÇÃO DE FADIGA POR
FLEXÃO VERTICAL EM EIXO VEICULAR AUXILIAR. O componente pode ser
observado na figura 271. O ensaio foi realizado segundo a metodologia da norma
NBR6744/87, com valores de carga mais elevados. A metodologia seguida para as análises de
falha realizadas segue o proposto pela literatura. Neste trabalhou a metodologia consistiu em
análise visual macroscópica, análise da morfologia da fratura em lupa de baixo aumento,
análise no MEV (Microscópio Eletrônico de Varredura), análises metalográfica e de
composição química, ensaios de dureza, ensaios de tração e construção do diagrama de fadiga
do componente.
Fadiga e Análise de Falhas 218
Figura 271– A Região 1 indica o início da fratura e a Região 2 indica a propagação da fratura próxima à solda da haste lateral. Aumento: 0,2x.
ANÁLISE MACROSCÓPICA
A análise visual em lupa de baixo aumento indicou que a fratura ocorreu por fadiga em
flexão. Foram observadas regiões distintas na superfície da fratura, como mostra a figura
272A, onde a região 1 é o início da fratura, a região 2 as proximidades da solda da haste
lateral, a região 3 apresenta marcas de sargento e a região 4 estrias. A região de início da
fratura não tem relação com o processo de soldagem como mostra a figura 272B. As estrias da
superfície foram ocasionadas pela elevada taxa de deformação, de acordo com a figura 293.
Na região próxima à solda ocorreu apenas propagação da fratura, como demonstra a figura
274. A superfície lateral externa do eixo, junto a região do início da falha (região 1), também
foi analisada e não apresentou irregularidades, conforme figura 275A. Conforme indicado na
figura 275B, uma pequena marca na superfície do eixo é a região em que iniciou a trinca.
Figura 272– Em A, a região 1 indica o início da fratura, a região 2 é próxima à solda da haste lateral, a região 3 mostra as marcas de sargento e a região 4 as estrias da superfície. Em B a seta indica a região de início da fratura. Aumento: 0,6x.
Fadiga e Análise de Falhas 219
Figura 273- A seta 1 mostra as marcas de sargento e a seta 2 as estrias da superfície da fratura. Aumento: 0,6x.
Figura 274- Região próxima à solda da haste lateral. Aumento: 0,6x.
Figura 275- Em A, superfície lateral externa do eixo, sendo que a seta indica o início da falha. Aumento: 1,2x. Em B, vários pontos de nucleação da fadiga e a seta indica uma pequena marca concentradora de tensões.
Fadiga e Análise de Falhas 220
ANÁLISE MICROSCÓPICA DA FRATURA
Foram analisadas no MEV (Microscópio Eletrônico de Varredura) duas amostras
retiradas do início da fratura dos dois lados do eixo e uma amostra retirada da região próxima
a solda da haste lateral. Os resultados das análises nas amostras retiradas do início da fratura
podem ser observadas nas figuras 276A, 276B e 277A, onde são mostrados uma trinca
secundária, estrias de fadiga e um degrau do material, respectivamente. Os resultados da
terceira amostra são mostrados na figura 277B, onde se destaca o coalescimento de
microcavidades.
Figura 276– Em A observa-se uma trinca secundária e em B estrias de fadiga.
Figura 277– Em A é mostrado um degrau do material na região de início da fratura. Em B é mostrado o coalescimento de microcavidades na região próxima à solda.
ANÁLISE METALOGRÁFICA
Foram preparados corpos de prova retirados da região próxima ao início da fratura. A
microestrutura encontrada é formada, basicamente, por ferrita e perlita, como observado na
figura 278A. O material apresenta uma estrutura bandeada, típica de laminação,, como
Fadiga e Análise de Falhas 221
mostrado na figura 278B. Na superfície aparece uma camada de aproximadamente 30µm
formada por ferrita, como mostra a figura 279A. Abaixo desta camada ferrítica encontra-se
uma camada de óxidos, de acordo com a figura 279B.
Figura 278– Em A é mostrada a microestrutura do eixo formada por ferrita e perlita. Aumento 1000x; ataque Nital 3%. Em B observa-se uma estrutura bandeada, típica de laminação. Aumento: 100x; ataque Nital 3%.
Figura 279- Em A é mostrada a camada de ferrita na superfície da amostra. Aumento: 100x; ataque: Nital 3%. Em B a seta indica a camada de óxido. Aumento: 500x; ataque: Nital 3%.
ANÁLISE QUÍMICA
A análise química foi realizada em uma amostra, com uma média de três análises,
utilizando-se Espectrômetro de Emissão Ótica. Os resultados obtidos estão de acordo com a
especificação, e são apresentados na tabela 14.
Fadiga e Análise de Falhas 222
Tabela 14 – Resultados da análise química.
ELEMENTO C Si Mn Cr Ni Cu Mo S P Al Ti
Percentual da análise
química
0,223 0,329 1,64 0,184 0,014 <
0,010
0,019 0,005 0,01 0,017 0,005
Percentual da
especificação
0,18/
0,26
0,60 1,7 0,20 - - - 0,05 0,05 - -
ENSAIO DE DUREZA
O ensaio de dureza foi realizado na escala Brinell (HB), utilizando-se uma carga de
62,5kgf, esfera de 2,5mm e obtendo-se como resultado a média de 182HB. Este valor está de
acordo com a especificação, cujo valor mínimo é de 150HB.
ENSAIO DE TRAÇÃO
Foram confeccionados três corpos de prova conforme a Norma ASTM E8M,
utilizando-se diâmetro de 4mm. Os resultados dos testes foram 390 MPa para tensão de
escoamento e 620MPa para tensão de ruptura. Os valores especificados são de 600MPa para a
tensão de ruptura e 440MPa para o limite de escoamento.
DIAGRAMA DE FADIGA
Para relacionar os valores de tensão aplicada e a resistência à fadiga do eixo, foi
construído o diagrama conforme a teoria de Goodman. O diagrama informa através da tensão
média os valores de tensões a partir dos quais não ocorre ruptura de um componente.
O diagrama é determinado conhecendo-se os valores da tensão aplicada (relatório
IPT), tensão de escoamento (ensaio de tração), tensão de ruptura (ensaio de tração) e
resistência à fadiga, conforme gráfico 2.
Fadiga e Análise de Falhas 223
a=1
620,4
391310,2
-310,2
a=2
Gráfico 2 – Diagrama de Goodman.
Cálculo da resistência à fadiga do componente
Utilizando a teoria de Shigley (1)(4) foi avaliada analiticamente a resistência à fadiga do eixo.
Se = Ka Kb Kc Kd Ke Se' (1)
Se : resistência à fadiga do componente
Se’ : resistência à fadiga do material
Ka : fator de superfície
Kb : fator de tamanho
Kc : fator de carga
Kd : fator de temperatura
Ke : fatores diversos.
Resistência à fadiga do material (Se')
Conforme o Diagrama de Goodman a resistência à fadiga do material permaneceu em
torno da tensão de escoamento (σe), ou seja, 391MPa. Este valor foi determinado pelo
parâmetro angular (a = Pmáximo/Pmédio).
Fadiga e Análise de Falhas 224
Fator de superfície (Ka)
Segundo a literatura o fator de superfície pode ser calculado para eixo forjado a frio e
assume valores de Ka igual a 0,82, considerando que a tensão de ruptura do material é
620MPa.
Fator de tamanho (Kb)
Considerando o efeito da superfície e flexão determinou-se Kb a partir do diâmetro
externo do componente, como sendo 0,75.
Os fatores de carga (Kc), de temperatura (Kd) e de entalhe (Ke) foram considerados
igual a 1.
A resistência à fadiga do componente (Se) calculada foi de 240,5MPa.
Coeficiente de segurança
O coeficiente de segurança (Sg) foi calculado considerando a resistência à fadiga do
componente (Se) sobre a solicitação empregada, de acordo com a equação 2. Para o cálculo da
solicitação utilizou-se o momento fletor (Mf) sobre o momento resistente (Wf) de acordo com
as equações 3, 4 e 5.
Sg = Se/S (2)
Sg: coeficiente de segurança
Se: resistência à fadiga do componente
S: solicitação empregada
S = Mf/Wf (3)
Mf: momento fletor
Wf: momento resistente
Mf = Pmáximo x L (4)
Pmáximo: carregamento máximo*
L: distância de aplicação do carregamento máximo*
*Valores obtidos do ensaio de fadiga do componente.
Wf =I/R=(π/64)(D4-d4)/R (5)
Fadiga e Análise de Falhas 225
I: momento de inércia
R: raio externo
D: diâmetro externo
d: diâmetro interno
O valor encontrado para o coeficiente de segurança foi de 0,6.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Quanto às informações preliminares, a carga dinâmica aplicada que resultou na fratura
é maior que a estabelecida em norma.
A norma de ensaio prevê que o tubo deve estar usinado, ou seja, isento de
imperfeições superficiais.
Quanto à análise da fratura, observou-se que esta ocorreu por fadiga na região de
maior tração quando da aplicação da carga de flexão, próximo ao centro do componente.
A região de início da fratura não tem relação com o processo de soldagem. A fratura,
enfim, ocorreu como esperado. Esta informação levou a algumas hipóteses:
- Sobrecarga oriunda do ensaio, ou algum erro de montagem do ensaio;
- Sobrecarga de fadiga devido ao subdimensionamento do componente. Hipótese esta
avaliada segundo o diagrama de fadiga do componente;
- Algum defeito microestrutural;
A Norma NBR6744, item 4.3, exige um “dispositivo que permita aplicar a carga de
ensaio igualmente sobre os assentos dos feixes de molas. O dispositivo deve ser
suficientemente rígido para que não afete os resultados”. Já o ensaio realizado empregou dois
atuadores para aplicar a carga. A rigor não está atendendo o especificado pela norma, sendo
que qualquer defasagem entre a freqüência dos atuadores já acarretaria problema no ensaio.
Quanto a microestrutura, observaram-se algumas imperfeições (oxidações) superficiais
oriundas da fabricação. A microestrutura, na superfície é formada por uma fina camada
(≅30µm) ferrítica. Esta camada atua de forma a diminuir a resistência do material a nucleação
de trincas de fadiga, visto que é prevista uma microestrutura ferrítica e perlítica típica de um
aço SAE1020. O coeficiente de segurança calculado (Sg≅0,6), considerando o fator de
superfície e de tamanho, comprova o subdimensionamento quanto à fadiga.
Fadiga e Análise de Falhas 226
CONCLUSÃO
Segundo a teoria analítica empregada, era prevista a falha, pois a solicitação é maior
que a resistência do componente.
A falha ocorreu por fadiga devido a flexão na região de maior solicitação. O início da
falha não teve nenhuma relação com a região da solda.
O componente apresenta baixa segurança para fadiga. Apresentou, também, uma
camada ferrítica na superfície além de oxidações oriundas da fabricação.
O componente, nas condições superficiais em que se encontra, é crítico quanto a
fadiga, considerando a solicitação empregada.
O método de ensaio, com dois atuadores independentes, pode apresentar variações na
solicitação prevista.
Fadiga e Análise de Falhas 227
3 - BIBLIOGRAFIA
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Fadiga e Análise de Falhas 228