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1 FACULDADES CEARENSES CURSO DE SERVIÇO SOCIAL UMA ANÁLISE DO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS PARA PESSOA IDOSA: UMA EXPERIÊNCIA DO CRAS PIRAMBU EM FORTALEZA-CE LUCYANA VANESSA LIMA DE CASTRO FORTALEZA CEARÁ 2014

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FACULDADES CEARENSES

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

UMA ANÁLISE DO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE

VÍNCULOS PARA PESSOA IDOSA: UMA EXPERIÊNCIA DO CRAS

PIRAMBU EM FORTALEZA-CE

LUCYANA VANESSA LIMA DE CASTRO

FORTALEZA – CEARÁ

2014

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UMA ANÁLISE DO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE

VÍNCULOS PARA PESSOA IDOSA: UMA EXPERIÊNCIA DO CRAS

PIRAMBU EM FORTALEZA-CE

LUCYANA VANESSA LIMA DE CASTRO

Monografia submetida à aprovação pela

Coordenação do curso de Serviço Social da

Faculdade Cearense - FAC, como requisito

parcial para obtenção do grau de

graduação.

Orientadora: Esp. Luciana Sátiro Silva

FORTALEZA

2014

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UMA ANÁLISE DO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE

VÍNCULOS PARA PESSOA IDOSA: UMA EXPERIÊNCIA DO CRAS

PIRAMBU EM FORTALEZA-CE

LUCYANA VANESSA LIMA DE CASTRO

Monografia como pré-requisito para

obtenção de título de bacharelado de

Serviço Social, outorgado pela

Faculdade Cearense – FAC, tendo

sido aprovada pela banca

examinadora composta pelos

professores.

Data de aprovação: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

Professora Esp.

Professora Ms.

Professora Esp.

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Dedico este trabalho em especial aos meus queridos pais, que sempre

foram muito dedicados e me deram muito amor, me ofereceram sempre o

melhor que puderam. Pessoas simples, trabalhadoras, honestas, exemplos de

vida que trago comigo sempre.

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me dado forças para prosseguir, mesmo quando a

vontade era de parar no meio do caminho e o medo me atormentava; fui forte e

consegui graças a Ele. Deus fiel!

A minha mãe Francisca, por me apoiar, ser meu braço direito e por estar

sempre ao meu lado, uma mulher de força, guerreira e que me ensinou a lutar

pelos meus ideais mesmo com todas as dificuldades.

Ao meu pai Francisco Luciano, por ser um pai leal e amoroso, por

iluminar meus caminhos quando tudo parecia obscuro. Por ensinar tudo o que

carrego dentro do coração até hoje. Homem honesto, digno de minha

admiração e amor.

Ao meu irmão Ramon Lima, por sempre estar ao meu lado e acreditar

nos meus sonhos, mesmo em momentos tristes. Pessoa iluminada e alegre;

um irmão querido que Deus me enviou.

Ao meu namorado e companheiro Jonas Carlos por sua admiração,

apoio e palavras de incentivo que sempre me motivaram a seguir em frente.

Um homem trabalhador, educado, meu cúmplice. A quem eu tanto deposito

meu amor e confiança.

A toda a minha família: tias, tios, primas, primos, avó e avô. Em especial,

a Tio Sebastião Machado a quem eu trago no coração por sua generosidade,

carinho e respeito, o que prova que família não é sangue, é amor! A Maria

Eduarda, minha querida afilhada, por ser um anjo nas nossas vidas e por me

fazer uma pessoa melhor.

A todos(as) professores(as) que contribuíram para o meu processo de

aprendizagem e crescimento pessoal e profissional, construindo e

desconstruindo conceitos.

A minha Orientadora Luciana Sátiro Silva pela gentiliza em aceitar meu

convite, bem como, pela paciência que sempre guiou nossas conversas de

trocas de conhecimento e experiência, sempre com dedicação e amor. Pessoa

inteligentíssima, amável e muito iluminada.

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As minhas amigas: Piedade Souza, Moara Martins, Kaelyne Ximenes

que mesmo, às vezes, distantes, contribuíram e renovaram nossa amizade.

Obrigada pelo carinho.

A todos os idosos e funcionários do Cras Pirambu, pelo respeito e

confiança; em especial à Silvia Louro pela atenção e contribuição à pesquisa.

As minhas colegas de turma e amigas especiais: Meire Rodrigues,

Fatima Evilene, Ana Beatriz, Nágila Peixoto, Joelma Araújo e Luciana Senarga.

Amigas que o Senhor colocou em meu caminho. Agradeço a paciência e

carinho. Vocês sempre tornaram as dificuldades mais fáceis e juntas

superamos desafios, medo, angústias e falhas. Mas não foi só angústia, mas

também alegria e muitas risadas.

As demais colegas que não foram citadas aqui, mas que de alguma

forma me ajudaram no caminho do conhecimento.

Aos membros da minha banca: Virzângela Paula Sandy e Mirles de

Andrade Morais que aceitaram também meu convite. Obrigada pela

oportunidade.

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RESUMO

Atualmente a política de Assistência Social busca atuar como um instrumento que contribua na efetivação de direitos, fortalecimento de vínculos familiares e comunitários e prevenção de violações de direitos sociais destinada ao público que vivencia as várias expressões da Questão Social. Dentre este, esta politica, por meio dos Centros de Referência da Assistência Social – Cras atende ao público de pessoas idosas através do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos- SCFV. Em Fortaleza, esse serviço é desenvolvido nos equipamentos de Cras com uma configuração metodológica orientada pelas direções normativas do governo federal, mas também por uma direção bem singular por meio da articulação das atividades de acompanhamento familiar do idoso pobre, participante das ações socioeducativas coletivas atravessadas por conteúdo de arte-educação. Muitas questões institucionais e estruturais que causem verdadeiramente impactos na vida social desses usuários requerem melhor análise. Neste sentido, o presente trabalho, focado em uma experiência especifica do SCFV para pessoas idosas na unidade de Cras no território Pirambu foi realizado por meio de pesquisa qualitativa e investigativa e teve por objetivo: analisar quais impactos o SCFV traz para os idosos e quais mudanças acontecem ao participarem desse serviço. A escolha das técnicas de entrevistas semiestruturadas e observação participante, tanto com os idosos quanto com as profissionais, nos possibilitou o conhecimento sobre a realidade a partir de vários olhares. Constatou-se que o grupo tem um papel fundamental para a vida dos idosos pobres residentes no Pirambu; o que possibilitou melhor potencial de participação em espaços políticos, ressignificação de valores, mudanças subjetivas sobre conhecimentos de direitos sociais, dentre outros. Todavia, não o suficiente para mudar efetivamente suas vidas. Inúmeros desafios se apresentaram em diferentes cenários, envolvendo a conjuntura contemporânea desigual que reproduz a intensificação das expressões da questão social; a atuação mínima do Estado e as limitações da própria política de Assistência Social na qual os idosos pobres estão inseridos.

Palavras-chaves: Questão Social; Assistência Social; Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculo; Idoso Pobre.

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ABSTRACT

Currently the Welfare Policy seeks to act as an instrument which contributes to the

implementation of rights, strengthening of family links and community and prevention of

violations of social rights for the public to experience the various expressions of the

Social question. Among this, this policy, by means of the reference Centres on welfare-

Cras meets the audience of elderly people through the service of coexistence and

Strengthening of ties-SCFV. In Fortaleza, this service is developed in the equipment of

Cras with a methodological setting normative directions guided by the federal

Government, but also by a singular direction by means of the joint follow-up activities of

the aged poor family end of the educational collective actions crossed by contents of

art education. Many institutional and structural issues causing truly impacts in the

social life of these users require better analysis. In this sense, the present work,

focused on a SCFV specific experience for older people in unit of Cras in the territory

was accomplished through Pirambu qualitative research and investigative and aimed

to: analyze what impact the SCFV brings to the elderly and what changes happen to

participate in this service. The choice of techniques of semi-structured interviews and

participant observation, both with the elderly and with the professionals, enabled us to

knowledge of reality from various perspectives. It was noted that the Group has a key

role in the life of the elderly poor residents in the Pirambu, which enabled better

potential for participation in political spaces, ressignification of subjective changes

values about social rights knowledge, among others. However, not enough to

effectively change their lives. Numerous challenges presented themselves in different

scenarios, involving the contemporary situation uneven reproducing the intensification

of expressions of the social question, the minimum State and the limitations of their

own Social Assistance policy in which the elderly poor are inserted.

Keywords: Social issue; Social Assistance; Roommate service and strengthening

Bond; Elderly Poor.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 12

CAPÍTULO I – Contextualizando a pesquisa 11

1.1 Problematização do objeto 18

1.2 Percurso Metodológico da Investigação

CAPÍTULO II - Questão Social e Políticas Sociais Brasileiras

para a Pessoa Idosa

2.1 Questão social e suas refrações para o idoso pobre no Brasil

2.2 Breve histórico da política social no Brasil

2.3 Instrumentos normativos da política de Assistência Social

2.4 Política Nacional do Idoso no Brasil e Estatuto do Idoso

CAPÍTULO III – Análise do Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos para Idosos desenvolvido pelo

Cras Pirambu em Fortaleza-CE.

3.1 A Política de Assistência Social em Fortaleza – Ce

3.2 O Centro de Referência da Assistência Social – Cras Pirambu

3.3 A comunidade Pirambu: sua história e suas relações

familiares

3.4 Análise das falas dos idosos pesquisados em relação a sua

realidade social e as ações do Cras

3.5 Análise do SCFV para pessoa Idosa sob a ótica das

profissionais do Cras Pirambu

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS

APÊNDICES

Apêndices A: Ficha individual das entrevistadas

Apêndices B: Roteiro de entrevistas

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CF – Constituição Federal

PBF – Programa Bolsa Família

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social

LBA – Legião Brasileira de Assistência

BPC – Benefício de Prestação Continuada

PNAS – Política de Assistência Social

FNAS – Fundo Nacional de Assistência Social

CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social

SENAS – Secretaria Nacional de Assistência Social

NOB – Norma Operacional Básica

SUAS – Sistema Único de Assistência Social

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

NOB SUAS – Norma Operacional Básica do Suas

PAIF – Proteção e Atendimento Integral à Família

CRAS – Centro de Referência e Assistência Social

SCFV – Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social

PAEFI – Programa de Atendimento à Família e Individuo

PAF – Plano de Acompanhamento Familiar

SETRA – Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social e Combate à Fome

PABI – Programa de Atendimento Básica à Pessoa Idosa

PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

SEMAS – Secretaria Municipal de Assistência Social

EAN – Espaço de Acolhimento Noturno

CREAS POP – Centro de Referência Especializado de Assistência Social para

a População em Situação de Rua

SAM – Serviço de Assistência ao Menor

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CAPÍTULO I – CONTEXTUALIZANDO A

PESQUISA

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INTRODUÇÃO

Para iniciar nossa discussão, destacamos os marcos legais brasileiros

referentes à política de Assistência Social. Essa ganhou relevantes avanços

com a implantação da Constituição Federal de 1988, na qual a Assistência

Social foi normatizada como uma política pública, inserida enquanto política

pública da Seguridade Social, ao lado das políticas da Previdência Social e

Saúde. Nesse período, foi inquestionável a ampliação de direitos sociais,

garantias de proteção a famílias, amparo às crianças e direitos mínimos à

pessoa portadora de deficiência e idosos, advindos com a referida Constituição

Federal.

A política de Assistência Social também foi normatizada após cinco anos

da homologação da Constituição, em 1993, com a criação da Loas (Lei

Orgânica da Assistência Social), a qual garantiu o modelo de gestão e de

controle social de forma descentralizada e participativa. Instituiu conselhos,

planos e fundos de Assistência Social para garantir o acesso aos recursos da

União, Estados e Municípios e também transformou em ações diretas os

pressupostos da Constituição Federal de 1988 e da LOAS em princípios e

diretrizes que nortearam a implementação e efetivação dos serviços de

Assistência Social em todo o país.

A Loas propôs que as ações passassem a ser integradas entre governo

e sociedade civil para a garantia da proteção social para quem dela

necessitasse. Ela surgiu com a regulamentação dos artigos da Constituição

Federal de 1988. Instituiu também o Conselho Nacional de Assistência Social;

o que antes tinha apenas um caráter filantrópico ligado a entidades privadas,

sem perspectiva do direito a participante da Política de Assistência Social como

dever do Estado e direito social.

Onze anos depois, em 2004, outra ferramenta normativa nacional

importante foi regulamentada; a Política Nacional de Assistência Social. Surgiu

como um modelo de gestão para a Assistência Social, a qual, junto com as

políticas setoriais, busca atender a população pobre brasileira, considerando as

desigualdades sócio territoriais.

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Posteriormente, em 2005, houve a realização da V Conferência Nacional

de Assistência Social, na qual foi aprovada a Norma Operacional Básica que

implementa o Sistema Único de Assistência Social-SUAS, que havia sido

debatido em seminários municipais e estaduais e sua versão final foi aprovada

em julho do mesmo ano. Sua publicação aparece para regulamentar a PNAS/

2004.

O SUAS modificou a política de Assistência Social em nível nacional e

avançou em diversas perspectivas administrativas, de gestão, monitoramento,

avaliação, fonte de financiamento e controle social.

Todos esses instrumentos legais foram importantes para os avanços

históricos da Assistência Social no Brasil e em Fortaleza- CE. Assim temos

uma política diretamente municipal que, atualmente, possui uma secretaria

administrativa, a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social e Combate

à Fome a qual desenvolve a gestão de 24 unidades de Cras1 e 06 unidades de

Proteção Especial2.

O presente estudo foi realizado no Centro de Referência e Assistência

Social-CRAS situado no território do bairro Pirambu, em Fortaleza-CE. O CRAS

é uma unidade pública estatal da política de Assistência Social, geralmente

localizado em áreas de vulnerabilidade social.

Seguindo a direção nacional, atuam com famílias e indivíduos na

condição de pobreza e miséria e é responsável pela organização e prestação

de todos os serviços, programas e benefícios vinculados à Proteção Social

Básica-PSB. Assim, tem como sua característica principal, ser porta de entrada

e uma unidade de referência de acesso para a rede de proteção social e

Assistência Social para a população de baixa renda.

Em relação ao CRAS Pirambu, neste equipamento, são desenvolvidos: o

Serviço de Proteção e Atendimento à Família - PAIF e Serviço de Convivência

1 Cras Barra do Ceara, Cras Pirambu, Cras Lagamar, Cras Mucuripe, Cras Praia do Futuro,

Cras Serviluz, Cras Bela Vista, Cras Quintino Cunha, Cras Couto Fernandes, Cras Serrinha, Cras Vila União, Cras Aracapé, Cras Bom Jardim, Cras Canindezinho, Cras Conjunto Esperança, Cras Genibau, Cras Granja Portugal, Cras Mondubim, Cras Castelão, Cras Dendê, Cras Jardim das Oliveiras, Cras João Paulo II, Cras Palmeiras e Cras Itinerante. 2 04 Centros de Referência Especializado da Assistência Social – CREAS; 01 Centro de

Atendimento à População de Rua; 01 Espaço de Acolhimento Noturno para a População em Situação de Rua e 01 Casa de Passagem

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e Fortalecimento de Vinculo- SCFV. Este último operacionaliza-se com ações

coletivas em diferentes ciclos etários: O SCFV para crianças de 0 a 06 anos;

SCFV para Adolescentes3 de 15 a 17 anos, e por fim, o Serviço para Pessoa

Idosa com idade superior a 60 anos. Este último é dividido em dois em grupos

os quais ocorrem em dias, espaços e com públicos diferentes. São assim

denominados pelos próprios idosos de: Grupo Nossa Praia e Grupo Nosso

Chão.

Em Fortaleza, o SCFV, pode-se dizer que se subdivide em duas

perspectivas metodológicas: as atividades coletivas4 com: encontros

socioeducativos, oficinas de convivência, atividades lúdicas e culturais,

campanhas educativas e preventivas, orientação sobre direitos sociais,

atividades de arte-educação5 com as linguagens de dança, artesanato

articuladas ao acompanhamento familiar6 do idoso que vivencia qualquer

violação de direitos. Para tanto, são realizados: atendimentos,

encaminhamentos a rede de serviços, visitas domiciliares, diagnósticos sociais,

dentre outros, a fim de responder às demandas relacionadas à realidade social

dos/as usuários/as que participam das atividades.

O campo de estudo onde irei me aprofundar, será o serviço de

convivência que trabalha com idosos no Cras Pirambu. Este desenvolve

atividades as quais contribuem no processo para um envelhecimento saudável,

desenvolvendo autonomia e sociabilidade, fortalecendo também vínculos

familiares prevenindo situações de risco.

Esta instituição foi escolhida por ter como objetivo prevenir as várias

refrações da questão social com base em uma política de Assistência Social e

por se tratar de uma comunidade que se destaca por ter uma identidade de

representação social, onde tem em si uma história de luta, reivindicações

3 Posteriormente serão apresentados todos os serviços no decorrer da pesquisa.

4 Atividades desenvolvidas por educador social podendo ou não ter curso superior. Em Fortaleza, essas atividades são supervisionadas pelo coordenador de Cras e acompanhadas/planejadas por assistentes sociais ou psicólogos que referenciam o serviço de convivência e fortalecimento de vínculo. 5 As atividades de arte–educação são desenvolvidas por arte-educadores com conteúdos artísticos

específicos por linguagem e ocorrem em todos os Cras. No Pirambu, as atividades de arte-educação são: artesanato e danças regionais. 6 Por se tratar de atendimento técnico, essas atividades se dão por profissionais habilitados assistentes sociais e psicólogos.

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populares e políticas atuantes para a melhoria de vida do cidadão que vive

nessa comunidade.

O bairro Pirambu se localiza na zona oeste de Fortaleza, em um antigo

terreno marítimo, ocupado inicialmente por pescadores. É repleto de diferentes

problemas sociais, como: desemprego, a falta de moradia, fome e miséria,

baixos indicadores sociais, déficit habitacional, violência, uso de drogas,

violência urbana e policial, conflitos familiares, dentre inúmeros outros. Porém,

existem vários projetos sociais e ONGs ligadas ao bairro, que buscam melhorar

a exclusão social e a pobreza existentes no bairro.

O Cras é uma das referências no bairro no trabalho com idosos no

Pirambu. Em um de seus objetivos, busca mobilizar e acionar a rede de

proteção social vinculadas a diferentes políticas públicas, a fim de contribuir na

melhoria dos indicadores sociais; reduzir conflitos familiares e comunitários

com investimento em processos de fortalecimento de vínculos; orientar a

população a conhecer seus direitos e garantir a possibilidade de transformação

da realidade social desses indivíduos.

O tema Idoso foi colocado como objeto de pesquisa por ter suas

particularidades; por ser objeto de políticas públicas, tendo em vista ser um

público que, pelas limitações da própria faixa etária, é passível de sofrer

discriminação, negligência, maus tratos, abandono, dentre outros. Ademais, ao

ser exposto às desigualdades sociais, próprias do sistema capitalista vigente,

essa fase da vida pode vivenciar diferentes violações de direitos, sendo

importante a atuação da Política de Assistência Social para contribuir na

melhoria da vida social, familiar e comunitária desse segmento.

O interesse sobre essa pesquisa se tornou possível através do acesso

da pesquisadora ao universo do espaço a ser investigado, quando esta teve

sua primeira experiência de estágio supervisionado. Ao ser lotada na

Assistência Social, no Cras Pirambu, possibilitou a mesma vivenciar e

conhecer os desafios e possibilidades do Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos para os idosos que vivem à margem desse

equipamento.

O que conduziu às primeiras indagações foi a observação da condução

metodológica desenvolvida pelas profissionais sobre o Serviço de Convivência

e Fortalecimento de Vínculos nos convidando a elaborar as perguntas de

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partida. Ao participar desse cenário, possibilitou-me questionar: quais impactos

do SCFV para os idosos do Cras Pirambu? Quais mudanças ocorrem na vida

desses sujeitos que participam dos grupos? Quais estratégias o Cras

desenvolve em resposta a demanda dos usuários? Quais situações familiares e

comunitárias esses idosos vivenciam? Quem são esses idosos? Por que

participam desses grupos? E assim, tentar se aproximar dessa realidade e

trazer algumas respostas e, quem sabe, novas perguntas sobre o contexto

social analisado.

Para o início da pesquisa, propusemos entender e conhecer a realidade

dos idosos e também o que a política de Assistência Social modifica nas suas

realidades familiar, social, cultural e política.

Na tentativa de abranger o universo teórico e metodológico dessa

pesquisa, esta foi subdividida em três capítulos.

No primeiro, intitulado “Contextualizando a pesquisa”, buscamos

apresentar as contradições que o objeto investigado vivencia na

contemporaneidade; quais relações possuem com as desigualdades sociais do

modo de produção capitalista. Ainda, apresentamos o caminho metodológico e

as técnicas de pesquisa que utilizaremos para apreender o universo de

significados que o campo nos apresentou; sobre a realidade social dos sujeitos

pesquisados, finalizando com a apresentação do perfil desses sujeitos.

O segundo capítulo, “Questão Social e Políticas Sociais brasileiras para

a Pessoa Idosa”, se deu com nossa aproximação teórica com diferentes

estudiosos sobre os temas em alusão na perspectiva de discorrer sobre as

principais conceituações e discussões atuais. Esse processo nos serviu como

suporte teórico para compreender a malha de relações em que o sujeito

pessoa idosa encontra-se emaranhado; suas conquistas e desafios normativos

e legais e as principais relações socioeconômicas, políticas e jurídicas em que

este sujeito está envolvido historicamente.

Finalmente, o último capítulo de nome “Análise do Serviço de

Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Idosos desenvolvido pelo Cras

Pirambu em Fortaleza-CE” foi necessariamente nossa apresentação da

pesquisa empírica, a exposição de dados e informações sob análise mediante

o que o arcabouço teórico nos propiciou relacionar. Foi nossa apresentação do

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real, dos determinantes que esses interlocutores nos apresentaram ao nos

aproximarmos de suas realidades vividas.

Como toda pesquisa, sabemos que esta representa um determinado

recorte de pessoas em condições temporais e espaciais limitadas, mas que

intencionou compreender, analisar e refletir sobre a realidade social

investigada, inclusive com o objetivo de registro histórico do serviço de

convivência e fortalecimento de vínculos para pessoa idosa na realidade do

Cras Pirambu.

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1.1 Problematização do objeto

O desenvolvimento do capitalismo mundial configura-se como um

sistema que influencia no desencadear de várias fragmentações da pobreza,

isso porque, sua existência se dá pela diferença na geração de riqueza e

pobreza, alterações que são vistas na estruturação da economia e política dos

Estados Nações.

A pobreza contemporânea pode ser expressa de forma crescente, o que

torna a realidade precária e miserável. O processo econômico mundial sempre

foi marcado pelo aumento dos índices de desigualdade social, pobreza e má

distribuição de renda, exploração e dominação do homem pelo homem.

O agravamento da pobreza causa várias contradições na área

socioeconômica, acompanhada de diversos outros aspectos, como o modelo

produtivo vivenciado hoje, acarretado numa inversão na melhoria das

condições sociais para minoria ao mesmo tempo que expande a maioria à

convivência com as expressões da questão social, tornando cada vez mais

contraditória a nossa vida social.

Entretanto, o que nos é apresentada hoje é uma realidade perversa,

como consequência de um modo de produção desigual que acaba legitimando

cada vez mais a precarização do trabalho, predominando a exclusão social, o

empobrecimento da condição humana, fragilizando mais as relações sociais.

Desta maneira Iamamoto considera:

Assim, a produção social não trata de produção de objetos materiais, mas de relação social entre pessoas, entre classes sociais que personificam determinadas categorias econômicas [...] As relações sociais aparecem entre coisas, esvaziadas de sua historicidade. (2011,p. 36)

A desigualdade social é produto das relações sociais historicamente

construídas, as quais reproduzem seus princípios e valores ideológicos nos

planos, projetos sociais ou econômicos, favorecendo o lucro e a acumulação

desenfreada, ao mesmo tempo que ocasiona a banalização da pobreza,

causando uma imensa divisão entre a desigualdade social e riqueza produzida

socialmente.

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Não alheio, o Brasil vivenciou historicamente os processos do

capitalismo, certamente com diferentes fases e configurações. A

industrialização no Brasil, que se iniciou na década de 1930, ocasionou uma

grande expansão de população nos centros urbanos a partir da migração da

população do campo para cidade à procura de uma oportunidade de emprego

e de melhorias na qualidade de vida. Isso auxiliou o crescimento desordenado

e acelerado nas áreas urbanas.

A expansão econômica brasileira a qual está associada diretamente a

acentuação da pobreza e a desregulação do mercado de trabalho, contribuíram

para o agravamento das condições de vida, de trabalho, saúde, expressada no

setor de trabalho sem garantias mínimas de direitos e causando aumento das

manifestações da questão social na relação capital e trabalho.

No início do desenvolvimento industrial brasileiro, pode-se perceber que

essas várias refrações da questão social começam a ter visibilidade na

sociedade e o poder público então as coloca como parte das ações públicas.

Com isso, ganha visibilidade a cena pública, mesmo que o poder público às

vezes seja contrário a elas.

Face às contradições, os trabalhadores respondem as contradições com

movimentos de resistências e lutas sociais e ganham os espaços a fim de obter

garantias de direitos humanos e sociais. Diferentes processos de tentativa de

democratizar as relações políticas e econômicas que foram vivenciadas,

mediante a correlação de forças entre Estado e sociedade civil.

O Brasil vivenciou momentos importantes nas lutas e reivindicações a

favor da classe trabalhadora na era Vargas em 1930 e posterior a essa, com o

processo mais atual intitulado de redemocratização na década de 1980.

Considerando as colações, Iamamoto também afirma sobre esse período que:

O reconhecimento, ou melhor, a ampliação e generalização do reconhecimento da cidadania do proletariado se dá dentro de uma redefinição das relações do Estado com as diferentes classes sociais e se faz acompanhar de mecanismos destinados a integrar os interesses do proletariado através de canais dependentes e controlados. (2011,p. 162)

As conquistas para a sociedade com a garantia de alguns direitos e

instrumentos de democracia direta como o plebiscito e projetos de iniciativa

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pública, foram colocados como mecanismos de ampliação da participação

popular nas decisões políticas.

Nessa arena de forças, em resposta às lutas sociais, o Estado

influenciado pela direção burguesa dominante, passa a desenvolver políticas

sociais na tentativa de abrandar as manifestações e revoltas em defesa dos

trabalhadores mais pobres. É a partir desse processo que se configuram as

ações governamentais que temos hoje, voltadas ao acesso de direitos e

melhores condições de vida aos cidadãos, na tentativa de assegurar o acesso

a políticas sociais. Deve-se considerar conforme Behring que:

O surgimento das políticas sociais foi gradual e diferenciado entre os países, dependendo dos movimentos de organização e pressão da classe trabalhadora, do grau de desenvolvimento das forças produtivas, e das correlações e composições de força no âmbito do Estado. Os autores são unanimes em situar o final do século XIX como período em que o Estado capitalista passa a assumir e a realizar ações sociais de forma mais ampla, planejada, sistematizada e com caráter de obrigatoriedade. (2010, p. 64)

Na realidade brasileira, o enfrentamento da questão social tem sido

influenciado pelo cenário de cada momento histórico. Na atualidade, essas

medidas políticas tem cunho regulador; não dão conta de todas as questões

ligadas a essa conjuntura.

Nesse processo, a forma de enfrentamento a essas questões são

divididas com ações de iniciativa pública, mas também, de mobilizações

privadas e filantrópicas.

Em se tratando de políticas sociais, o que nos interessa destacar é a

Assistência Social a qual, desde o surgimento da industrialização brasileira até

o final do século XX, apresenta ações de natureza seletiva, assistencialista, de

controle social dos trabalhadores, políticas de higienização pública da pobreza

mediante ações policialescas de instituições que buscavam “corrigir” a pobreza

brasileira.

Outro fundamento importante foi a utilização desse público através das

ações políticas com troca de favores e vantagens de interesses privados por

parte de políticos que historicamente tiravam vantagens da condição de

pobreza da classe trabalhadora brasileira, ausente de consciência política,

econômica e cultural que pudesse enfrentar essa realidade.

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Em virtude das intensas lutas sociais principalmente com sujeitos

intelectuais, jornalistas professores, trabalhadores operários, dentre outros, no

pós-ditadura, criou-se um ambiente público no Brasil de conquistas e

estruturações dos direitos sociais. Dessa forma, a Constituição Federal de

1988 foi sancionada, aprovando a política de Assistência Social como política

pública de direito, integrante da Seguridade Social ao lado da Previdência

Social e Saúde, ampliando os direitos sociais nacionais. Conforme definido por

Mota como um período de instabilidade:

Ao longo dos anos 80, e até a primeira metade dos anos 90, essa questão se redefine. A Constituição de 1988 institui a Assistência Social como uma política não-contributiva, voltada para aqueles cujas necessidades materiais, sociais e culturais não podiam ser asseguradas quer pelas rendas do trabalho, quer pela condição geracional – infância e velhice-, quer por necessidades físicas e mentais. Também o crescimento da prática político-organizativo de algumas categorias profissionais – especialmente os trabalhadores de empresas estatais e de capital intensivo – ocasionava a emergência de reinvindicações por serviços e benefícios sociais como parte dos acordos coletivos de trabalho. (2010,p.15)

Focalizaremos na política de Assistência Social, tendo em vista sua

relação intrínseca com o objeto de estudo analisado. Esta passou a atender as

necessidades sociais, de forma a dar suporte para acolhimento às mínimas

condições de subsistência aos comprovadamente pobres que não integram as

demais políticas.

Conforme já apresentamos, em 1993, foi aprovada a Lei Orgânica da

Assistência Social – LOAS que garante o modelo de gestão e de controle social

de forma descentralizada e participativa; institui então conselhos, planos e

fundos de Assistência Social para garantir o acesso a recursos da União,

sendo a nível Municipal, Estadual e Federal.

Em 2004, outro marco importante foi sancionado, a Política Nacional de

Assistência Social – PNAS que objetivou organizar a operacionalidade da

política mediante a implantação do Sistema Único de Assistência Social –

SUAS que é o principal instrumento de direção para a gestão Social e

execução da política de Assistência Social Brasileira.

Com o SUAS, a política de Assistência Social buscou romper a imagem

de práticas assistencialistas e filantrópicas destinadas aos pobres, visando

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reconhecer e atender os motivos das situações de vulnerabilidade social e risco

social.

No contexto de Fortaleza - CE, essa política foi acontecendo de forma

secundária em comparação a outras políticas. Apenas em 2004 com a

organização da política em nível federal, e organização financeira, este

município se organiza e implanta os primeiros 10 equipamentos de Centro de

Referência e Assistência Social.

O Cras atua com famílias e indivíduos em seu contexto comunitário,

visando à orientação para o fortalecimento dos convívios sócio familiar e

comunitário. As equipes, através do Serviço de Proteção e Atendimento

Integral à Família (Paif) e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de

Vínculos, serviços da Proteção Social Básica no âmbito municipal.

Importa mencionar que a Tipificação Nacional de Serviços

socioassistenciais prevê o Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para

pessoas com deficiência e idosas, contudo à Assistência Social de Fortaleza

não se adequou administrativo, financeiro e metodológico ainda para

desenvolve-lo.

Nas unidades, são realizadas atividades socioeducativas,

acompanhamento social, oficinas de convivência, atividades lúdicas e culturais,

campanhas educativas e preventivas, concessão de benefícios eventuais

(cesta básica, auxílio-funeral, auxílio-natalidade) previstos em lei, entre outros

serviços.

Compreendendo a importância dessa unidade social para a implantação

e consolidação do Sistema Único da Assistência Social que realiza o Serviço

de Convivência e Fortalecimento de Vínculos com idosos, pretendemos neste

estudo analisar quais os impactos na realidade social dos idosos que

participam do SCFV.

O tema Idoso hoje é algo muito comentado, porém, suas

particularidades tem em si sua expressão nas demandas da política de

assistência social. Em pleno século XXI, o mundo se encontra em sua fase

capitalista mais explicita, com sucessivas crises, período em que os conceitos

ideológicos de individualismo e produtividade imperam sobre quaisquer outros.

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No ritmo de produção capitalista, quando algo se torna improdutivo, é

imediatamente considerado desnecessário e substituído, ocorrendo não

meramente aos produtos gerados, inclusive a redução do homem a condição

de objeto, sendo que esta relação reverbera, consequentemente, em todos os

ciclos etários, influenciando as relações sociais oriundas do modo de produção

vigente.

Sendo assim, como homem, os idosos também sofrem essas

influências, os quais vivenciam a imagem de serem descartados socialmente

por supostamente não terem o mesmo vigor da juventude, por perderem sua

produtividade material (vitalidade ao trabalho) e, na maioria das vezes, frente a

estrutura desigual e falta de empregos, não lhes é dada a menor oportunidade

de esclarecer o contrário. Ao idoso pobre, isso pode significar a completa

ausência de direitos, dentre eles a alimentação, saúde, habitação e todos os

outros.

Essa violência é invisibilizada também pela família que vê isso como

algo natural e passam a responsabilizar as condições dos idosos por essa

violência e maus tratos. Eles internalizam isso e acabam aceitando a violação

de direitos. Essa afirmativa também é considerada por Figueiredo que diz “Os

idosos tendem a responsabilizar a si próprios pela situação de maltrato e não

ao agressor”. (FIGUEIREDO,1997, p.140/142)

Não apenas nos espaços de empregos, esses sujeitos vivenciam na

família, que também é espaço de contradição, e na própria sociedade, a

condição de alguém que incomoda, que não é útil, que se pode usufruir de

seus bens materiais e podem vivenciar diversas violações de direitos.

A discussão sobre os idosos se faz necessária, pois são sujeitos

presentes no cotidiano, nas relações sociais, nas demandas das políticas

sociais; são trabalho do assistente social.

No tocante à política de Assistência Social, esses espaços profissionais

têm vários desafios contemporâneos, mas também possibilidades, dentre elas,

as formas de trabalho metodológicas que se utilizam de diferentes atividades,

dentre elas as grupais que buscam contribuir para ressignificar valores,

conhecer as realidades desses sujeitos e contribuir com mudanças nas suas

histórias de vida.

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Como estratégia de grupalização, participação social e estudos sobre

idosos, precisamos entender se essas técnicas modificam suas realidades ou

não, e de que forma implicam em transformação no cotidiano dessas pessoas.

Para tanto, apresentamos no próximo tópico, as técnicas metodológicas

utilizadas neste estudo que permitiram apreender esses elementos.

1.2 Percurso Metodológico da Investigação

A presente pesquisa intencionou compreender os aspectos qualitativos

relacionados à realidade social e os impactos de um determinado serviço

promovido pela política municipal de Assistência Social em Fortaleza - Ce. Tal

serviço normatizado, em 2009, através da Tipificação de Serviços

Socioassistenciais, é intitulado nacionalmente de Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos/SCFV, e se refere às atividades individuais e

coletivas desenvolvidas com o público de idosos atendidos nos Centro de

Referência de Assistência Social/CRAS.

Essa pesquisa se desenvolveu em uma realidade específica: com os

idosos que participam do referido serviço no CRAS Pirambu.

Deste modo, a realização dessa pesquisa torna-se importante tanto para

compreender e registrar a realidade dos idosos que vivem no território do bairro

Pirambu, identificando suas relações familiares e comunitárias e aqueles que

participam do serviço desenvolvido em alusão, percebendo em que maneira o

CRAS Pirambu contribui na realidade social desses sujeitos, para assim,

colaborando inclusive enquanto conhecimento científico dos impactos da

política de Assistência Social na capital do Ceará.

Para alcançar os objetivos que serão propostos no processo teórico e

metodológico desta pesquisa, é preciso uma análise social cuidadosa da

relação indivíduo e sociedade, permitindo compreender a malha de relações

sociais em que esses sujeitos estão inseridos.

Por se tratar de análise social de fatos/fenômenos sociais relacionados a

sujeitos em um determinado território e período histórico, utilizaremos nesta

pesquisa a abordagem qualitativa, tendo em vista que esta permite a

aproximação do pesquisador com o fenômeno social analisado, possibilitando o

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máximo de aproximação deste com a realidade investigada, conforme Martinelli

explicita que:

Trabalhamos com os fatos de forma a poder aprofundar tanto quanto possível a análise e não para conhecê-los apenas de forma sumária, a partir de uma primeira apresentação. Nesse sentido priorizamos não os fatos épicos, os fatos de grande dimensão, mas aqueles que estão mais próximos do sujeito e que repercutem diretamente na sua vida. (MARTINELLI, 1999, p.22)

Ainda, a pesquisa qualitativa também se torna adequada porque esta

utiliza como objeto as situações sociais, compreendendo a subjetividade dos

sujeitos e suas particularidades, possibilitando uma maior profundidade do

objeto estudado, o que oportuniza uma investigação mais estreita da realidade,

como destaca MINAYO:

Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes. (MINAYO, 1993, p.21)

É importante, a partir dessa compreensão, perceber que a pesquisa

qualitativa é uma maneira direta de obter dados e informações através das

falas dos sujeitos entrevistados dentro da sua realidade, a partir de suas

histórias vivenciadas, opiniões e atitudes, devendo o pesquisador estimulá-los

a falar abertamente sobre o assunto proposto.

Deste modo, a presente pesquisa buscou compreender a realidade e os

significados atribuídos pelos sujeitos através de suas experiências de vida, o

que segundo Gil é um “Processo que, utilizando a metodologia cientifica,

permite a obtenção de novos conhecimentos no campo da realidade social”.

(GIL, 2001, p.26)

Consoante Minayo (1993), para conseguirmos alcançar os objetivos de

pesquisas sociais é necessário seguirmos um percurso metodológico

subdividido em três etapas: a primeira, fase exploratória; a segunda, fase de

trabalho de campo e por fim, a fase de análise documental de e do material

coletado.

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Dessa forma, seguindo as orientações dessa autora, dividimos esta

pesquisa no mesmo formato. Inicialmente, importa conceituar a primeira etapa

utilizada, a fase exploratória. Esta consiste,

[...] produção do projeto de pesquisa e de todos os procedimentos necessários para preparara entrada no campo. É tempo dedicado – e que merece empenho e investimento - a definir e delimitar o objeto, a desenvolvê-lo teórica e metodologicamente, a colocar hipóteses ou alguns pressupostos para seu encaminhamento, escolher e descrever os instrumentos da operacionalização do trabalho, a pensar o cronograma de ação e a fazer os procedimentos exploratórios para escolha do espaço e da amostra qualitativa. (MINAYO, 1999, p. 26)

Dada a problemática, ainda nessa fase, para desenvolvimento da

pesquisa, definimos a formulação de objetivos geral e específicos, tema e título

da pesquisa, hipóteses, perguntas de partida e roteiro de perguntas para então

termos uma visão geral do tema investigado. Sobre esses pontos, Minayo

esclarece, “Um peculiar processo de trabalho em espiral que começa com uma

pergunta e termina com uma resposta ou produto que, por sua vez, dá origem

a novas interrogações” (1993, p.26).

Para fundamentar melhor esta fase, trazemos também a concepção de

Gil sobre sua importância no processo inicial de toda pesquisa social, no qual

cita que as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver,

esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de

problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores.

(2008, p. 27)

Sobre o roteiro de perguntas, foram elaboradas algumas questões que

serão abordadas com dois tipos de interlocutoras/es: com os idosos que

participam do serviço e com as profissionais que o desenvolve.

Além do roteiro, também elaboramos o termo de livre consentimento a

partir de bases legais, onde deixamos explícito que os sujeitos teriam como

escolher se participariam ou não da pesquisa; sua vontade em continuar com a

pesquisa também, podendo ser cancelada a qualquer momento. Ademais,

buscaremos preservar o sigilo de todos os dados das/os informantes

garantindo a ética de sigilo em pesquisas.

Ainda como produto da fase exploratória, a pesquisa foi norteada pelo

objetivo geral: analisar os impactos das ações do SCFV pelo Cras Pirambu na

realidade social dos/as idosos/as participantes.

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Como objetivos específicos, delimitamos:

Identificar quais mudanças ocorreram na realidade social dos sujeitos

que participam do SCFV;

Analisar as principais demandas sociais do território Pirambu

apresentadas pelas/os usuárias/os;

Conhecer quais estratégias o Cras Pirambu desenvolve em resposta às

demandas das/os usuárias/os;

Mapear e definir o perfil das/os usuárias/os que participam dos serviços.

Chegando na segunda fase da pesquisa, a entrada no campo exige muita

atenção e compreensão da realidade e capacidade de entender o sentido da

pesquisa.

Nesse sentido, Minayo explicita que “A riqueza desta etapa vai depender

da qualidade da fase exploratória [...] depende da clareza da questão colocada

[...] do levantamento bibliográfico [...] que permita ao pesquisador partir do

conhecimento já existente” (1999, p.61)

Assim nessa fase, adentramos no lócus de investigação com fins de

coleta de dados dos sujeitos participantes da pesquisa, onde vamos fazer

acompanhamento das atividades realizadas pelo CRAS Pirambu com os idosos

que participam do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. Para

tanto, definimos com técnicas metodológicas de pesquisa de campo: a

observação participante e entrevista semiestruturada.

Na observação participante, trabalharemos com os idosos no ambiente

onde o grupo acontece, fazendo uma investigação do espaço social do grupo,

suas relações com os profissionais, suas relações com outros idosos, a

apreensão do conteúdo dos temas discutidos, como esses sujeitos significam

as questões familiares e comunitárias através de suas falas e indagações para

além do SCFV. Esse processo é definido por Minayo como “Processo pelo qual

o pesquisador se coloca como observador de uma situação social, com a

finalidade de realizar uma investigação científica” (1993, p.70)

Sobre a técnica de entrevista, utilizamos entrevista semiestruturada, pois

compreendemos que é uma conversa entre dois ou mais interlocutores na qual

o objetivo é um contato direto com o indivíduo, percebendo sua livre expressão

com o tema abordado, o que segundo esta mesma autora: “Combina perguntas

fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer

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sobre o tema em questão sem se prender à indagação formulada”. (Minayo,

1993, p.64)

Delimitamos como participantes das entrevistas, o quantitativo de 10

idosos/as todos/as participantes do grupo do SCFV há pelo menos um ano e

que residam no território do bairro Pirambu. Em relação aos profissionais,

definimos o número de 04 profissionais, que se referem a: 01 assistente social,

01 psicóloga e duas educadoras sociais.

O critério utilizado para identificar os idosos que passaram a ser

observados dentro do grupo será: os veteranos e acima de 60 anos, onde 10

iram responder a entrevistas semiestruturadas para facilitar o entendimento dos

idosos em responder as questões e também como uma maneira mais eficiente

de quantificar dados através do diálogo.

Por fim, o marco cronológico da pesquisa será no período de janeiro a

dezembro de 2013.

Na fase terceira, concluímos a análise e tratamento do material empírico e

documental extraídos dos vários momentos de interação com o grupo e

opiniões dos profissionais que referenciam o grupo. Diante do material

coletado, para valorizar, compreender e interpretar os dados empíricos,

devemos novamente subdividir o procedimento orientados por Minayo:

Ordenação dos dados, fundamentação teórica, leituras de

documentos do SCFV;

Classificação dos dados, articulação com as teorias;

Analise propriamente dita, onde vamos unir os conhecimentos

obtidos durante o percurso com a realidade expressada pelos

entrevistados.

Durante o tratamento do material, procuramos analisar o que é fundamental

para o pesquisador. Não é apenas a opinião do grupo, mas uma perspectiva

que pode ser transformada ou a descoberta de outras formas e formatos

sociais independentes do seu processo histórico.

A pesquisa não se encerra com a produção do conhecimento produzido

com o material coletado. Ela pode trazer novos olhares sobre a realidade,

novas ideias e sem ter um começo ou fim. Isto se afirma com palavras de

Minayo que indica: “uma provisoriedade que é inerente aos processos sociais e

que se refletem nas construções históricas”. (Minayo, 1999, p.27)

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Justificam os critérios para saber quais as articulações e atividades que

o Cras desenvolve e se essas atividades realmente trazem mudanças

significativas na vida desses sujeitos.

Considerando que para compreender a realidade é preciso ter uma visão

da totalidade dos fatos e fenômenos vividos, essa pesquisa buscou apreender

aspectos relevantes sobre a realidade social investigada, bem como trazer

reflexões sobre o objeto de estudo.

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CAPÍTULO II – QUESTÃO SOCIAL E POLÍTICAS

SOCIAIS BRASILEIRAS PARA A PESSOA IDOSA

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2.1 Questão social e suas refrações para o idoso pobre no Brasil

A exploração da classe trabalhadora, vivenciada em diferentes

sociedades, se expressa nas suas várias esferas da reprodução material e

social. Tanto na economia, política e social quanto também nas relações

culturais de diferentes sociedades.

O modo de produção capitalista tem como finalidade a apropriação

privada dos meios de produção e é neste processo que ocorre o agravamento

da questão social que tem vários significados e dimensões na nossa

sociedade, em diferentes períodos históricos.

Isso não implica em afirmar que as expressões da questão social

contemporâneas resultam em uma nova questão social. Neste debate,

Iamamoto ressalta que isto nada mais é do que novas expressões que

vivenciam metamorfoses, como esclarece neste trecho:

[...] a „velha questão social‟ metamorfoseia-se, assumindo novas roupagens. Ela evidencia hoje a imensa fratura entre o desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social e as relações sociais que o impulsionam. Fratura esta que vem se traduzindo na banalização da vida humana, na violência escondida no fetiche do dinheiro e da mistificação do capital ao impregnar todos os espaços e esferas da vida social. (2011, p.144)

O que podemos afirmar, é que a questão social é uma só e deriva da

relação do capital e trabalho, sendo desta a geração de todas as

desigualdades sociais e manifestações de exploração entre os homens. Assim,

importa conceituar esta categoria na leitura da autora em discussão, a qual a

compreende

[...] a questão social condensa o conjunto das desigualdades e lutas sociais, produzidas e reproduzidas no movimento contraditório das relações sociais, alcançando plenitude de suas expressões e matizes em tempo de capital fetiche. As configurações assumidas pela questão social integram tanto determinantes históricos objetivos que condicionam a vida dos indivíduos sociais, quanto dimensões subjetivas, fruto da ação dos sujeitos na construção da história. Ela expressa, portanto, uma arena de lutas políticas e culturais na disputa entre projetos societários, informados por distintos interesses de classe na condução das políticas econômicas e sociais, que trazem o selo das particularidades históricas nacionais. (IAMAMOTO, 2011, p. 156)

Contemporaneamente, a formação da acumulação financeira ocorre

através da mercantilização do dinheiro fictício, o qual permite a geração de

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grandes acumulações monetárias. Contudo, em período de crises, possibilita a

geração de dívidas crescentes para os grandes investidores do mercado

financeiro, implicando na agudização da miséria da classe trabalhadora.

Com o avanço desse cenário, em meados da década de 1970,

motivados principalmente pela crise mundial do petróleo e do aumento no

volume de dívidas dos países centrais, os países criam bases para conter as

crises econômicas que estavam efervescentes e iminentes, inclusive nos

países ditos desenvolvidos. Sobre as crises, ressalta Iamamoto:

O governo cria, então, instrumentos de liquidez para financiar a dívida, dando origem a economia do endividamento, com o reforço do dólar em relação a outras moedas, passando a alimentar os euromercados e os mercados financeiros. (2011, p.116)

Dessa forma, durante a crise, o mercado mundial busca obter lucros

articulados aos rendimentos da esfera financeira, investindo não só na

ampliação monetária, em função do crescimento financeiro em meio aos

direcionamentos do sistema neoliberal, mas no setor dos serviços e comércios

e em menor proporção, nas indústrias.

Tendo em vista as formas de trabalho postas pelo capital, a classe

trabalhadora luta por seus direitos frente ao agravamento das manifestações

da questão social. O Estado neoliberal e a burguesia recebem a pressão da

luta da classe trabalhadora que passa a ser em torno das questões associadas

à melhoria nas condições de trabalho e de políticas sociais.

Neste cenário, a questão social não é apenas um progresso dos

processos econômicos e políticos. Atinge também as formas culturais, as

identidades e grupos, reafirmando na sociedade uma banalização da vida, das

relações e da sociabilidade humana.

Como outrora apontado, a economia brasileira passou a funcionar em

função da produção agrícola até a década de 1930, período em que a agro

exportação e acumulação financeira brasileira estimularam vários

investimentos econômicos para a burguesia que cada vez mais intensificava

sua organização política e econômica.

Historicamente o Estado brasileiro sempre forneceu meios políticos e

financeiros para a concentração de renda e investimentos econômicos. Com

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isso, o processo de industrialização teve seu início na década de 1930, época

em que começou o desenvolvimento das primeiras indústrias no sudeste do

Brasil. Foi neste mesmo período que houve mais visibilidade também da

desigualdade social e das expressões da questão social no Brasil, como define

Iamamoto:

As configurações assumidas pela questão social integram tanto determinantes históricos objetivos que condicionam a vida dos indivíduos sociais, quanto dimensões subjetivas, fruto da ação dos sujeitos na construção da história. (2010, p. 156)

Ao final do século XIX, a modernização da produção brasileira, com o

uso das máquinas, tornou a produção mais eficiente, desencadeando o

processo de industrialização, substituindo paulatinamente a mão de obra

humana por máquinas a fim de intensificar a produção. Por outro lado,

ocasionou o aumento do número de desempregados pela substituição do

trabalho morto em detrimento ao trabalho vivo. A partir daí, aumentam os

movimentos dos trabalhadores em contraposição ao que se afirmava que era a

exploração por parte da burguesia ao proletariado.

A possibilidade de maior concentração dos trabalhadores em fábricas,

facilitou a organização para a reinvindicação de melhores condições de

trabalho. E a partir daí a classe trabalhadora passou a ter mais consciência de

sua condição de vida, reconhecendo- se como classe.

Neste momento histórico temos a gênese da questão social no Brasil,

colocada não só como manifestação da pobreza, mas como reflexo da relação

capital e trabalho; com todos os processos de luta e contradição, pois esse

momento se dá no modo de produção atual que sempre se renova.

Diante dessas mudanças, podemos comparar passado com o futuro.

Quer dizer, o que se vive hoje é o desenvolvimento do que aconteceu no

passado, como novas estruturas que influenciam tanto o Estado como a

economia, o trabalho e as relações entre os indivíduos. Como ressalta

Iamamoto:

As marcas históricas persistentes, ao serem atualizadas, repõem se, modificadas, ante as inéditas condições históricas presentes, ao mesmo tempo em que imprimem uma dinâmica própria aos processos contemporâneos. O novo surge pela mediação do

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passado, transformado e recriado em novas formas nos processos sociais do presente. (2011, p.128)

Contudo, defronte a esse cenário, podemos compreender os vários

aspectos que foram e são postos a nossa sociedade: uma formação construída

ao longo de processos de relação entre Estado e a Sociedade e com históricos

de submissão e troca de favores. Desta forma, fica claro que o trabalhador

sempre foi visto com viés subalterno e como mero recebedor de benefícios, e o

que é mais preocupante como uma pessoa totalmente isenta de direitos.

Essa isenção de direitos coloca o indivíduo em um contexto de ausência

não só de direitos, mas de condições mínimas de sobrevivência, pois as várias

configurações da questão social não se expressam só nas políticas ou na

nossa economia, mas também no cotidiano com a pauperização, fome, miséria,

exploração, naturalização da violência nos centros urbanos. Todas essas

expressões estimulam um espaço de contradição e desigualdade social.

Portanto, não há várias questões sociais, mas uma mesma modificada

através das várias facetas do sistema vigente; várias expressões que afetam

diretamente a vida dos indivíduos, suas relações e que causam impactos

duradouros para toda a humanidade.

No tocante às contradições do ser idoso, estas não se tratam de um

contexto isolado, é reflexo das inúmeras necessidades e relações sociais que

estimulam o individualismo e a competitividade, e neste caso podemos citar a

realidade dos idosos a qual nos referimos neste trabalho, que são indivíduos

inseridos em espaço de vulnerabilidade social, que ao longo da vida não

tiveram oportunidade de se capacitar e estudar, pobres trabalhadores excluídos

de direitos, que se transformaram em usuários de benefícios sociais.

Entretanto hoje reconhecemos que existem várias nomenclaturas para

pessoas acima de 60 anos, por exemplo, para Ferreira (2000), significa muito

antigo, gasto pelo tempo, experimentado, veterano, que há muito tempo exerce

uma profissão ou tem certa qualidade, desusado, obsoleto.

Por outro lado, para a estudiosa no tema Ana Amélia Camarano (2004)

acredita-se que “idoso” identifica não somente indivíduos em um determinado

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ponto do ciclo de vida orgânico, mas também em um determinado ponto do

curso de vida social, pois a classificação de “idoso” situa os indivíduos em

diversas esferas da vida social, tais como o trabalho, a família etc.

CAMARANO, Ana Amélia. Como vai o idoso brasileiro? Cap. 1, p. 7. Rio de

Janeiro, dezembro de 1999.

Outro autor importante, segundo Debert (1996), essas novas imagens do

envelhecimento acompanham a construção da “terceira idade” que vem

transformando envelhecimento em uma experiência mais gratificante.

Com a intenção de esclarecer qual nomenclatura utilizaremos durante a

pesquisa, vamos nos referir, conforme o Estatuto do Idoso em Art. 1º, à pessoa

com idade superior ou igual a 60 anos de Idoso.

Os idosos analisados aqui se tratam de pessoas pobres que vivem à

margem da sociedade, geralmente tem seu valor reconhecido pela sua família

somente pelo suporte financeiro, quando existe, ou suporte nas tarefas

domésticas que oferece à família, o que de acordo com Alcântara:

É outro aspecto não muito raro que se configura atualmente é o papel do velho como arrimo de família. Sua aposentadoria ou pensão é uma renda fixa e de fundamental importância na redução do grau da pobreza, pois assegura o sustento da casa e dos filhos adultos, principalmente quando sobrecarregados por desemprego, crise conjugal e doenças. (2004, p. 26)

Observa-se, nessa discussão, o fato de que a sociedade deve ter mais

atenção a essas injustiças sociais, necessitando de políticas eficazes que

tenham como função a diminuição dos impactos das refrações da questão

social diretamente ligadas a esses indivíduos.

As contradições as quais estão expostos são várias; desde a condição

de maus tratos pelos familiares, até a ausência de políticas sociais que

atendam às necessidades, não só básicas, mas do seu próprio cotidiano.

Esses indivíduos são excluídos socialmente, sem direito a uma renda

fixa, alimentação digna, sem ter lazer e cultura. E hoje o que predomina é a

banalização dessas ausências de condições mínimas de sobrevivência.

Os idosos brasileiros são reféns de uma estrutura atual desigual,

opressora e violenta, gerenciada pelo desrespeito da atuação estatal dos

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recursos vindos do Estado. Estes passam a utilizar os serviços que são

ofertados, e de forma precária sobrevivem em um contexto sócio econômico

que não lhes garante nada.

2.2 Breve histórico da Política Social no Brasil

Para entendermos o presente, é preciso fazer uma breve reflexão do

Brasil colonial até os dias atuais. Esses processos influenciaram não só a

prática da política social brasileira como também os fundamentos que foram

postos.

O Brasil vivenciou uma colonização exploradora, desde seu

descobrimento, no qual os interesses portugueses eram na exploração da

Colônia. Em determinado período, cabia a Igreja Católica e ao Estado, através

do regime monárquico, organizar o país. Nesse período, não se tinha um

significado de direitos e cidadania. Coube, então, ao Estado garantir a

soberania e a Igreja ensinar obediência. Nesse contexto, a educação era

voltada para a dominação e não para a libertação.

Também se vivenciou uma cultura agrária-exportadora. Com o fim do

regime escravocrata, foi implantado aos poucos o regime republicano,

resultante das intensas mudanças econômicas, políticas, sociais que foram

acontecendo no país, influenciado pelas mudanças dos países mais

desenvolvidos. Tais mudanças, já neste período, mostravam uma intensa

tensão política, por parte da burguesia que se tentava firmar como classe

dominante.

A questão social ganha maior destaque e demandava uma resposta do

Estado brasileiro de modo a minimizar as revoltas dos trabalhadores que

lutavam por direitos, como já bem discutido no tópico anterior.

Assim sendo, compreendemos que o surgimento da política social está

intrínseco à relação capital e trabalho, pois buscou atender a parcela da

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população trabalhadora que lutava por melhorias trabalhistas, principalmente

em países com maior tradição de indústrias como os da Europa ocidental7.

Dessa forma, no final do século XIX, houve a criação e o aumento das

legislações e das medidas de proteção, pois a classe trabalhadora reivindicava,

enquanto classe, seus direitos e melhores condições de trabalho.

Na realidade brasileira, esse período se deu no início do século XX,

motivado pelas ideologias trazidas pelos imigrantes europeus que chegavam

no sudeste e sul do país, e estes conduziram os primeiros movimentos sociais.

Neste período, iniciam-se os primeiros partidos operários e lutas pelo

fortalecimento dos sindicatos e diminuição da jornada de trabalho com aumento

dos salários.

A primeira medida para atender aos trabalhadores foi a aprovação da Lei

Elói Chaves com o surgimento das Caixas de Aposentadoria e Pensões –

CAP‟s que tinham acesso restrito aos seus contribuintes. Esta postura

representou os primeiros passos para chegarmos até o que temos hoje, a

Previdência Social. As CAP‟s ficaram conhecidas como sendo um regime de

capitalização, no qual seu financiamento cabia a União, empresas

empregadoras e pelos empregados.

Aos seus contribuintes, oferecia benefícios como assistência médica,

aposentadoria por tempo de serviço, velhice e invalidez, pensão para os

dependentes e auxílio-funeral, os mesmos oferecidos hoje pela Previdência

Social.

Em 1937, na ditadura do Estado Novo, inicia-se a consolidação das Leis

do Trabalho – CLT, a substituição das antigas CAP‟s pelos institutos de

Aposentadoria e Pensões – IAP‟s. Este período foi marcado também pela

criação do Conselho Nacional de Serviço Social, em 1938, que exercia o

controle da caixa de subvenções sociais concedidas pela presidência da

república.

Podemos citar também o aparecimento de grandes instituições

assistencialistas como a Legião Brasileira de Assistência – LBA em 1942 como

7 Citamos a Inglaterra, França, Itália, dentre outros.

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sendo também uma responsabilidade estatal. A LBA perpetuou até final dos

aos de 1980 e nacionalizou as ações de Assistência Social com ações

primeiro-damista, benemerência e filantropia.

Outras instituições que surgiram para atender a pobreza foram as

entidades privadas, também com ações filantrópicas e de caridade, na

perspectiva de manter a ordem e controle social da população pobre, sendo

assumida como responsabilidade por parte do Estado. Assim, para responder a

essas manifestações sociais, a classe dominante então apela ao Estado a

concordância de legislações como uma maneira de refutar as lutas da classe

trabalhadora. Como esclarece Behring:

O Estado, então, reprimia duramente os trabalhadores, de um lado, e iniciava regulamentação das relações de produção, por meio da legislação fabril, de outro. A luta em torno da jornada de trabalho e as respostas das classes e do Estado, são portanto, as primeiras expressões contundentes da questão social, já repleta naquele momento de ricas e múltiplas determinações. (2010,p. 55)

Na Europa, o modelo econômico denominado de Keynesianismo,

desenvolvido na Inglaterra pelo economista John Keynes, tinha como objetivo a

realização do pleno emprego e do desenvolvimento de políticas sociais para a

classe trabalhadora, como uma maneira de minimizar a miséria e as

reivindicações e revoltas do pós II Guerra Mundial. Esse modelo também foi

chamado de Estado de Bem-Estar Social ou Welfare State.

Na passagem do Estado Liberal para o Social percebem-se as primeiras

ações de políticas sociais. Não houve mudanças radicais nesse período, foi

uma relação na qual as políticas sociais foram continuidades das

reivindicações e foram incorporadas algumas demandas que eram

necessidade da classe trabalhadora.

Como afirma Behring:

Houve, sim, uma mudança profunda na perspectiva do Estado, que abrandou seus princípios liberais e incorporou orientações social democratas num novo contexto socioeconômico e da luta de classes, assumindo um caráter mais social, com investimento em políticas sociais. (2010, p. 63)

Em resposta às reivindicações da classe trabalhadora, houve avanços e

conquistas nas políticas, enfraquecendo as bases materiais e de sustentação

dos argumentos liberais. Vale destacar os seguintes citados por Behring:

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O primeiro foi crescimento do movimento operário, que passou a ocupar espaços políticos e sociais importantes, como o parlamento, obrigando a burguesia a “entregar os anéis para não perder os dedos”, diga se, a reconhecer direitos de cidadania política e social cada vez mais amplos para esses segmentos. (2010,p. 67)

Importa destacar que o Brasil não teve um modelo de Estado de Bem-

Estar Social, mas recebeu influências no desenvolvimento de suas políticas

sociais, principalmente no período da redemocratização brasileira.

Nesse período, novas mudanças históricas ocorreram na sociedade

brasileira associadas a ampliação de lutas sociais diante da condição de

exploração dos trabalhadores, o que obriga a criação de novas formas de

estabilização, recuperação da produção econômica.

Por outro lado, o Estado brasileiro se uniu se às influências americanas

do neoliberalismo, processo que fez com que cada vez mais a questão social

se agravasse e junto com isso houvesse um retrocesso das políticas sociais

públicas.

Neste momento, o principal sustentáculo do mercado, segundo Behring,

foi o “princípio do trabalho como mercadoria e sua livre regulação” (2010, p.56)

baseada em novas reformulações de princípios com as teorias liberais do

século XVI. A formulação de uma justificativa econômica para uma necessária

busca individual é a tese do Estado liberal para condensar suas ações,

ressaltando que:

Cada indivíduo agindo em seu próprio interesse econômico, quando atuando junto a uma coletividade de indivíduos, maximizaria o bem estar coletivo. É o funcionamento livre e ilimitado do mercado que asseguraria o bem estar. É a “mão invisível” do mercado livre que regula as relações econômicas e sociais e produz o bem comum. (2010, p. 56)

A economia brasileira tinha um caráter centralizador e conservador no

qual seu objetivo era assegurar a consolidação da industrialização e fazer com

que a economia pudesse construir-se como uma potência no cenário mundial,

promovendo uma grande acumulação privada.

Mas para o Brasil também era de suma importância ter políticas

públicas, no sentido de promover crescimento econômico, acelerando

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processos de industrialização, transformando as relações da classe

trabalhadora que não conseguia emprego pela escassez desses.

O surgimento da política social no Brasil aconteceu de forma

diferenciada dos outros países. Por se tratar de um país do mundo capitalista

periférico e em desenvolvimento, tendo consequência com marcas da sua

realidade histórica, até as relações de subalternidade existentes, como aponta

a autora abaixo:

Afinal não fomos o berço da Revolução Industrial e as relações sociais tipicamente capitalistas desenvolveram se aqui de forma bem diferente dos países de capitalismo central, ainda que mantendo suas características essenciais. Daí decorre que a política social no Brasil, pais da periferia do mundo capitalista, se constitui com as marcas dessa particularidade histórica. (BEHRING, 2010, p.71)

Podemos perceber que as políticas, como forma de enfrentamento à

pobreza, sempre são vistas isoladamente da Economia, quando suas origens

se dão através da naturalização da nossa situação no sistema capitalista, tendo

reflexo na sua implementação com um caráter focalista e pontual.

Contudo, no período da terceira década do século XX, com a hegemonia

do neoliberalismo, e em contrapartida, o aumento das políticas públicas, o

estado brasileiro passou a ser o intercessor dos direitos sociais e das relações

de classes, contudo, abriu as portas para os ditames neoliberais e as políticas

sociais sofreram imensamente com sucateamentos e fragilizações.

Neste período a questão social se amplia e se redefine, incorpora outros

traços ligados não só ao modo de viver, mas também de ser como define Mota:

Os que “vivem do seu trabalho” passaram a se defrontar com questões que afetam severamente seu modo de ser e de viver: o desemprego estrutural e a crise do trabalho assalariado, o desmonte do Estado de Bem Estar e a supressão de direitos sociais e a fragmentação das necessidades e da organização política dos trabalhadores. (2010, p.29)

Como discurso de crescimento na economia nacional na década de

1990, acarretou o aumento da pobreza e fragilização das políticas sociais. O

Estado Brasileiro toma, então, diversas medidas como política de

financiamentos, privatizações, empréstimos aos fundos monetários a juros

elevados, ocasionando o déficit da balança comercial; gerando uma elevação

das taxas de juros. Os produtos importados passaram a substituir a produção

nacional, proporcionando, assim, uma desregulação de direitos.

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Vale ressaltar que a contra reforma e política de privatizações são

estratégias de um processo de sistema neoliberal no qual são favorecidos

segmentos como o capital nacional e financeiro internacional. Como destaca

Behring e outros autores:

Os libelos produzidos pelo jornalista Aloysio Biondi (1999 e 2000) acerca do significado dos processos de privatização no Brasil em termos da comparação entre os argumentos difundidos e seu impacto socioeconômico efetivo, mostram, de forma contundente e com riqueza de dados, o sentido de “reforma” do Estado, quando se tratou de retirá-lo de suas funções produtivas. (2010, p.152)

Portanto, com a redução fiscal através das privatizações, os cortes a

benefícios sociais começam a aumentar e consequentemente as conquistas da

Constituição Federal e LOAS em 1993 sofrem com perdas para a população. O

terceiro setor se fortalece diante dessa situação e passa a prestar serviços que

antes eram de responsabilidade só do Estado, transferindo responsabilidades

para a sociedade civil e setor privado.

Começam a se evidenciar um momento de “substituição das

importações”. Iamamoto cita que:

A economia passa a mover-se entre reestruturação de sua indústria e a destruição de parte do aparato industrial que não resiste a competitividade dos grandes oligopólios e a grande expansão das exportações e importações. Cresce a necessidade de financiamento externo e, com ele, a dívida interna e externa, os serviços da dívida – o pagamento de juros -, ampliando o déficit comercial. (2011, p.142/143)

Diante desses cenários, novas práticas em relação a produção e formas

precárias de contratação são desenvolvidas, como é ressaltado por Iamamoto

como:

A resultante é um amplo de privatização da coisa pública: um Estado cada vez mais submetido aos interesses econômicos e políticos dominantes no cenário internacional e nacional, renunciando a dimensões importantes da soberania da nação (2011, p.144)

Essa mudança categórica na relação Estado/sociedade, que acontece

no neoliberalismo, resulta nas políticas de ajuste, onde o Estado intervém nos

serviços dos interesses privados, reduzindo gastos sociais e com isso

precarizando serviços públicos, como salienta Iamamoto:

Os impactos da redução dos gastos sociais e a consequente deterioração dos serviços públicos dependeram das relações entre Estado e sociedade, das desigualdades e das políticas sociais

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anteriormente existentes ao programa de “contra reforma”. (2010, p.147)

Neste momento, a política social se submete aos padrões da política de

economia e os programas de atendimento a pobreza não mostram resultados,

pois não reduzem a desigualdade e a carência socialmente produzida, só

contribuem para o aumento das representações da questão social que se

expressam de várias formas, porém Iamamoto interpela as mais importantes

como sendo:

O retrocesso no emprego, a distribuição regressiva de renda e a ampliação da pobreza, acentuando as desigualdades nos estratos socioeconômicos, de gênero e localização geográfica urbana e rural, além da queda nos níveis educacionais dos jovens. (2010, p.147)

Diante do exposto, podemos perceber que a sociedade tem, a todo

momento, interferências das formas de mercado e suas regulações. Isso

influencia não só na esfera social, mas regula a sociedade e as condutas dos

indivíduos, tornando-os competitivos e individualistas e com isso naturaliza a

pobreza e criminaliza as condutas, tanto nas esferas social, política quanto

cultural.

Entretanto precisamos entender que mesmo com a regulação do Estado

sobre a sociedade e sua dominação entre as relações sociais e econômicas,

temos aqui o início de uma Política Social que sobrevive em meio às

contradições do mercado e a necessidade dos trabalhadores. Portanto,

continuemos a entender de que forma o Estado foi sendo o regulador dessas

ações desde o seu surgimento.

Atualmente a forma de enfrentamento à pobreza são os programas de

transferências de renda, com o Programa Bolsa Família – PBF, no qual seu

principal objetivo é garantir que as famílias que vivem em situação de extrema

pobreza tenham a transferência de renda com condicionalidades e acesso a

outros serviços sociais como saúde e educação. Buscando a autonomia e

cidadania de pessoas que vivem em situação de alta vulnerabilidade social.

Embora o PBF tenha ofertado a muitos uma situação de melhor

qualidade de vida, ainda assegura minimamente todas as necessidades

básicas. Essas ações ainda estão distantes do combate à pobreza. Seria

possível banir a pobreza com atitudes focadas em mudanças não estruturais,

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mas econômicas, para que pudéssemos pensar em novas relações

econômicas e sociais.

2.3 Instrumentos normativos da política de Assistência Social

O marco legal de reconhecimento da politica de Assistência Social se

deu com a aprovação da Constituição Federal de 1988; período em que surge

o divisor de águas no cenário público brasileiro para políticas sociais, dentre

elas, a Assistência Social.

A década de 1980 é marcada pela atuação de um Estado com

características democráticas que reconhece o desejo de seus atores sociais

por ampliação e efetivação de direitos tais como: direitos das crianças,

adolescentes, idosos e pessoas com deficiência.

Porém, a partir desse momento, percebe-se o fortalecimento do ideário

neoliberal, que estimula o individualismo, a abertura e integração do país à

economia mundial, as privatizações de empresas estatais, o que enraíza os

processos de exclusão social. Como ressalta Mota:

Essa expectativa, entretanto, a partir dos anos de 1990, começa a ser ameaçada por uma agenda de prescrições neoliberais e de reformas voltadas para a descaracterização dos recém instituídos direitos. (2010, p.138)

A Assistência Social, neste momento, ainda exibe traços conservadores,

com ações emergenciais direcionadas a grupos mais vulneráveis, numa

perspectiva de desenvolvimento em prol de uma ação seletiva e focalista.

Foi neste período em 1993, cinco anos após a CF, que a Lei Orgânica

da Assistência Social – LOAS foi promulgada, com alguns obstáculos a serem

superados, tais como a visão de parte da população e de governantes da

Assistência Social que continuavam compreendendo suas ações como

filantropia, assistencialismo, desacreditando a mesma como política pública.

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Contudo, a LOAS objetivou o fortalecimento da concepção de

Assistência Social e reconhecimento desta como Função governamental e

política.

Art. 1º A Assistência Social, Direito do cidadão e dever do estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir atendimento às necessidades básicas. (LOAS, 1993)

Onze anos após a LOAS, em um novo cenário brasileiro, a Política

Nacional de Assistência Social - PNAS emerge como política de Proteção

Social, garantindo assim, a todos que dela necessitam, sem contribuição prévia

à provisão dessa proteção social. (BRASIL, MDS/ PNAS 2004)

A PNAS é resultante de um processo histórico e coletivo, o qual,

defendeu a Assistência Social como uma política de inclusão social. As

diretrizes dessa política foram baseadas na CF de 1988 e na LOAS e dispõem

sobre:

I- Descentralização político-administrativa, cabendo à coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de Assistência Social, garantindo o momento único das ações em cada esfera do governo, respeitando se as diferenças e as características sócio territoriais;

II- Primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de Assistência Social em cada esfera do governo;

III- Centralidade na família para concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos (BRASIL, 2004)

A Assistência Social como política pública passou a reconhecer direitos

e dá um novo significado às ações oferecidas à população de risco ou/e com

vulnerabilidade social. A PNAS ambicionou incorporar as demandas

vivenciadas pela sociedade brasileira no que diz respeito à responsabilidade

política.

Ainda possui como objetivo fundamental a gestão integrada de ações

descentralizadas e participativas de Assistência Social em âmbito nacional.

Nessa direção a materialização da Assistência Social em um sistema

denominado Sistema Único de Assistência Social-SUAS o qual prevê a

proteção social subdividida em níveis de complexidades, como: Proteção

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Social Básica e Especial sendo esta última subdividida em: Média e Alta

complexidades, ambas previstas na PNAS.

O Sistema Único de Assistência Social- SUAS é um sistema público

coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome-

MDS. Possui gestão participativa compartilhada pelo poder público e sociedade

civil, tendo como seus principais pressupostos a territorialidade, a

descentralização e intersetorialidade8.

O SUAS pode ser descrito como instrumento de organização das

diretrizes, ações e procedimentos conforme prevê a LOAS e a PNAS,

assegurando, de forma funcionalmente interligadas, a implementação e gestão

da política. Representou a intencionalidade de qualificar o conteúdo da

Assistência Social a nível nacional, sendo horizonte e direcionamento da -

organização da Assistência Social, associando a essa política novas bases

como direito de cidadania e de responsabilidade do Estado. Como fica indicado

na Norma Operacional Básica- NOB/SUAS/2005:

O SUAS, cujo modelo de gestão é descentralizado e participativo, constitui-se na regulação e organização em todo o território nacional das ações socioassistenciais. Os serviços, programas, projetos e benefícios tem como foco prioritário a atenção às famílias, seus membros e indivíduos e o território como base de organização, que passam a ser definidos pelas funções que desempenham, pelo número de pessoas que deles necessitam e pela sua complexidade.

8 Como não se tratam do objeto de estudo, cabe como analise sintetizada. Assim, compreende

territorialidade é a operacionalização da política de assistência social em rede, com base no território, constitui um dos caminhos para superar a fragmentação na prática dessa política. Trabalhar em rede, nessa concepção territorial significa ir além da simples adesão, pois há necessidade de se romper com velhos paradigmas, em que as práticas se construíram historicamente pautadas na segmentação, na fragmentação e na focalização, e olhar para a realidade, considerando os novos desafios colocados pela dimensão do cotidiano, que se apresenta sob múltiplas formatações, exigindo enfrentamento de forma integrada e articulada. (PNAS.2004, p. 44 -45)

A descentralização é a transferência da gerencia, da execução de ações e da prestação de serviços para instancias de gestão e decisão mais próximas dos usuários e beneficiários. Segundo o artigo 11 da LOAS, a descentralização indica que as ações das três esferas de governo devem ser realizadas de forma articulada, cabendo a coordenação e execução dos programas às esferas estaduais e municipais.

Intersetorialidade proposta pelo SUAS [...] mais do que articulação ou a comunicação entre os diversos setores sociais, tais como saúde, educação, habitação, emprego e renda, saneamento e urbanização, por exemplo. Ela aponta para uma visão integrada do problema da exclusão, em uma perspectiva que situa a pobreza como um problema coletivo, algo que diz respeito ao conjunto da sociedade e que deve ser coletivamente enfrentado. (BRONZO; VEIGA 2007, p. 11)

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Pressupõe, ainda, gestão compartilhada, co-financiamento da política pelas três esferas de governo e definição clara das competências técnico-políticas da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, com a participação e mobilização da sociedade civil e estes tem o papel efetivo na sua implantação e implementação. (PNAS, 2004, p.39)

Além de garantir o repasse automático de recursos, através do sistema

de co-financiamento, o SUAS recomenda que a responsabilidade entre os

entes federados deve ocorrer de forma partilhada, a partir de um sistema de

informação, monitoramento e avaliação.

Ainda funciona como instrumento de gestão e divulgação, permitindo a

gestores, técnicos e entidades a implementação da PNAS. Ficando ressaltada:

A Rede SUAS organiza a produção, o armazenamento, o processamento e a disseminação dos dados. Com isso, dá suporte à operação, financiamento e controle social no Suas e garante transparência à gestão da informação. A mesma é composta por ferramentas que realizam registro e divulgação de dados sobre recursos repassados; acompanhamento e processamento de informações sobre programas, serviços e benefícios socioassistenciais; gerenciamento de convênios; suporte a gestão orçamentaria; entre outras ações relacionadas à gestão da informação do Suas. (PNAS, p. 47/48 2013)

Concluímos então que o SUAS é produto resultante de lutas históricas

de formulação da Assistência Social como política pública, que ao longo dos

anos possibilitou um maior alcance dos usuários aos seus direitos.

A Proteção Social Especial - PSE através de programas, projetos,

serviços e benefícios que são voltados à indivíduos e famílias em situação de

riscos sociais e pessoais. Atua com viés protetivo, com ações que requerem

acompanhamento familiar e individual.

Suas ações são operacionalizadas nos Centros de Referência da

Assistência Social-CRAS. Já as ações da Proteção Social Especial-PSE são

voltadas a indivíduos e a famílias que já vivenciaram situação de risco e

direitos violados, estando com vínculos familiares e comunitários fragilizados

e/ou rompidos, e tem como equipamentos para operacionalizar as ações, os

Centros de Referência Especializados da Assistência Social-CREAS, conforme

a orientação da NOB-SUAS/2005.

A Proteção Social Básica - PSB é a porta de entrada do SUAS, o qual

atende e acompanha a população que vive em situação de fragilidade,

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decorrente da pobreza. Desenvolve serviços e programas de convivência e

socialização de famílias e indivíduos.

A fim de reorganizar metodologicamente os serviços, projetos e

programas de PSB e PSE, citamos a Tipificação Nacional dos Serviços

Socioassistenciais a que se refere a resolução de n º 109 de 11 de novembro

de 2009.

Daremos destaque à Proteção Social Básica pelo fato de ser o foco

dessa pesquisa. Sendo assim, segundo Tipificação Nacional citada, esta é

composta pelos serviços: Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família

– PAIF; Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos9.

O PAIF possui um caráter sistemático, como uma forma de fortalecer o

SUAS, garantindo direitos para as famílias e indivíduos que estão em situação

de vulnerabilidade e risco social. Tem como objetivos:

- Fortalecer a função protetiva da família, contribuindo na melhoria da sua qualidade de vida; - Prevenir a ruptura dos vínculos familiares e comunitários, possibilitando a superação de situações de fragilidade social vivenciadas; - Promover aquisições sociais e materiais às famílias, potencializando o protagonismo e a autonomia das famílias e comunidades; - Promover acessos a benefícios, programas de transferência de renda e serviços socioassistenciais, contribuindo para a inserção das famílias na rede de proteção social de Assistência Social; - Promover acesso aos demais serviços setoriais, contribuindo para o usufruto de direitos. (TIPIFICAÇÃO NACIONAL DOS SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS, 2009, p.7)

Podemos ressaltar que o PAIF prioriza o acompanhamento e

atendimento às famílias que vivem em decorrência da situação de

vulnerabilidade, com o acompanhamento familiar, no qual visa acompanhar

demandas de famílias em situação de pobreza e outras questões como saúde,

habitação e educação, dentre outros.

9 O Serviço de Proteção Social Básica no Domicilio para pessoas com Deficiência e Idosas

hoje não é operacionalizado em fortaleza, mas busca prevenir agravos que possam provocar o rompimento de vínculos familiares e sociais dos usuários tanto pela Proteção Social Básica quanto Proteção Social Especial.

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Neste sentido, é importante salientar que o PAIF, enquanto trabalho

social, podendo ser individual ou coletivo com a família e comunidade, é um

dos serviços que mais se destaca, o qual promove de forma metodológica o

atendimento e acompanhamento familiar. Propõe estabelecer um compromisso

da família com os profissionais de Cras para atender às demandas sociais

apresentadas pela família ou indivíduo.

Também são feitos atendimento técnico qualificado, busca ativa, visitas

domiciliares que se propõem a serem continuadas; são feitos estudos sociais,

até solucionarem as situações familiares e ou individuais mesmo que estas

estejam relacionadas a articulação com outras políticas sociais.

Dessa maneira, há a perspectiva de construir ações planejadas e a

participação dos indivíduos e famílias, para assim poder melhorar o serviço. É

importante ressaltar que o atendimento exige compromisso e compreensão

quanto às complexidades de situações que as famílias em condição de

pobreza estão submetidas, determinando um exercício profissional ético e sem

preconceitos.

Outro serviço desenvolvido no Cras é o Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos, o qual tem o objetivo do trabalho social coletivo,

definido também pela tipificação, que os serviços sócio - educativos ofertados

por diferentes ciclos etários (criança de 0-6 anos, jovens de 06-15 e idosos

acima de 60 anos). A Tipificação buscou aprimorá-los, reconfigurando novas

ações, definindo objetivos e metodologias.

Importa centralizar o Serviço ofertado aos idosos por ter relação direta

com esse estudo. Assim, o público do idoso é definido pelo recorte de renda;

além de serem pessoas em situação de vulnerabilidade social, sendo em

especial prioritário:

- Idosos beneficiários do Benefício de Prestação Continuada; - Idosos de famílias beneficiarias de programas de transferência de renda; - Idosos com vivências de isolamento por ausência de acesso a serviços e oportunidades de convívio familiar e comunitário e cujas necessidades, interesses e disponibilidade indiquem a inclusão no serviço. (TIPIFICAÇÃO NACIONAL DOS SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS, 2009, p.29)

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Conforme as orientações da Tipificação Nacional dos Serviços

Socioassistenciais de 2009, seus objetivos específicos são:

- Contribuir para um processo de envelhecimento ativo, saudável e autônomo; - Assegurar espaço de encontro para os idosos e encontros intergeracionais de modo a promover a sua convivência familiar e comunitária; - Detectar necessidades e motivações e desenvolver potencialidades e capacidades para novos projetos de vida. - Propiciar vivências que valorizam as experiências e que estimulem e potencializem a condição de escolher e decidir, contribuindo para o desenvolvimento da autonomia e protagonismo social dos usuários. (2009,p. 13)

O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos a Pessoa Idosa

deve proporcionar aos seus usuários a vivência de experiências que colaborem

para o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários; o desenvolvimento

da autonomia, das potencialidades, autoestima, protagonismo e outros.

Informar também sobre os direitos e prevenir situações de risco social é

o foco do serviço, o qual promove acesso a benefícios, trabalhando a

intergeracionalidade de forma a proporcionar as trocas de experiência e

vivências e potencializar a participação social.

Vale ressaltar que:

Tem por foco o desenvolvimento de atividades que contribuem no processo de envelhecimento saudável, no desenvolvimento da autonomia e de sociabilidades, no fortalecimento dos vínculos familiares e do convívio comunitário e na prevenção de situações de risco social [...] Devem incluir vivências que valorizam suas experiências e que estimulem e potencialize a condição de escolher e decidir (TIPIFICAÇÃO NACIONAL DOS SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS, 2009, p.11)

Tem como impactos sociais gerais esperados, contribuir na:

Redução da ocorrência de situações de vulnerabilidades sociais, Aumento do acesso de serviços socioassistenciais e setoriais e para idosos: Melhoria da condição de sociabilidade de idosos; Redução e Prevenção de situações de isolamento social e de institucionalização. (BRASIL, 2009, p. 16)

Diante do exposto, podemos perceber que a assistência social atua em

diversas situações do cotidiano de vários indivíduos e família, porém as

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inquietações a respeito da ausência de políticas para esse público ainda é

muito grande. Precisamos perceber que não são somente projetos e

programas, esses precisam ser implementados e colocados em primeiro

plano, como uma necessidade mínima para a sobrevivência com cidadania.

2.4 Política Nacional do Idoso e Estatuto do Idoso

Para falarmos das políticas voltadas para a pessoa idosa, precisamos

compreender que essas emergem em uma realidade brasileira contemporânea,

numa perspectiva de direitos que resulta de mudanças sociais e conquistas

políticas.

No início da década de 1960 o cenário brasileiro foi transformado

progressivamente com mudanças populacionais. Como ressalta Debert: “as

redes de parentesco, pela primeira vez na história, contarão com um número

maior de velhos do que de jovens, ao mesmo tempo em que os casados

tenderão a ter um número de filhos menores que o número de pais idosos”

(2012, p. 94)

A luta dos trabalhadores, nesta mesma época por direitos trabalhistas,

favoreceu a conquista de direitos voltados à população idosa. Inicia-se a

preocupação do Estado em formular uma legislação social e de políticas

públicas específicas para assegurar os direitos de cidadania do segmento

populacional idoso.

Essa preocupação girava em torno de muitos trabalhadores que depois

de terem trabalhado a vida inteira, chegavam a velhice sem amparo

socioeconômico e de saúde pública de qualidade, ficando abandonados à

própria sorte ou dependendo da família, da caridade de entidades religiosas ou

sociedade; reflexo de ausência de uma rede de proteção social estatal.

Sendo assim, as políticas sociais voltadas a pessoa idosa devem servir

como instrumento para assegurar o direito de cidadania, bem como procurar

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promover a integração com a sociedade, a fim de evitar a marginalização social

e a violação de direitos.

Somente a partir dos anos 70 começou-se a evidenciar o

envelhecimento da população brasileira, com as quedas das taxas de

fecundidade e preocupação do Estado em controlar a mortalidade infantil,

doenças transmissíveis e efetivar uma medicina mais preventiva.

Fazendo alusão especificamente às políticas voltadas ao idoso, pode-se

destacar conquistas como a de 04 de Janeiro de 1994, período em que entra

em vigor a Lei 8.842, que dispunha sobre a Política Nacional do Idoso –PNI.

Em seu artigo 1º, a Política Nacional do Idoso determina: “a política

nacional do idoso tem por objetivo assegurar os direitos dos idosos, criando

condições para promover sua autonomia, integração e participação ativa na

sociedade”. (BRASIL,1994)

Os princípios apresentados em seu artigo 3º são:

I – A família, a sociedade e o estado tem o dever de assegurara ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem estar e o direito à vida;

II – O processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos;

III – O idoso não pode sofrer discriminação de qualquer natureza; IV – O idoso deve ser o principal agente e o destinatário das informações a serem efetivadas através dessa política;

V – as diferenças econômicas, sociais, regionais e particularmente as condições entre o meio rural e urbano deverão ser observadas pelos poderes públicos e pela sociedade em geral na aplicação em geral na aplicação desta lei

Dentre os direitos assegurados pela PNI, como também pelo Estatuto do

Idoso podem- se destacar de acordo com Art. 3º:

Direito à assistência por parte da família, do Estado e da sociedade; Direito à vida; Direito à saúde; Direito à liberdade; Direito à propriedade; Direito à aposentadoria;

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Na perspectiva da Assistência Social, o Art. 1º da LOAS dispõe que a

Assistência Social é direito do cidadão e dever do Estado, sendo realizada

através de um conjunto de ações para garantir o atendimento às necessidades

básicas. E no Art. 2º inciso I fica explicito que a Assistência Social tem por

objetivo “a proteção à velhice”. (BRASIL, LOAS, 1993)

Ainda, concernente às conquistas de leis voltadas aos idosos, não

podemos esquecer a efetivação do Estatuto do Idoso, Lei 10.741 de 1º de

outubro de 2003. Esta vem para fortalecer a Política Nacional do Idoso, e

somar forças, agregando a garantia de penalidades às infrações cometidas

contra a pessoa idosa reduzindo a idade para a concessão do Benefício de

Prestação Continuada (BPC) de 70 para 65 anos.

Assim, o referido estatuto define direitos em seu no Art. 2º como: “todas

as oportunidades e facilidades para preservação de sua saúde física e mental e

seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de

liberdade e dignidade”. Também assegura, com absoluta prioridade, a

efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao

esporte, ao lazer, ao trabalho e cidadania.

Além disso, prevê penalidades para pessoas que cometem crimes

contra a pessoa idosa. Quando acontece crime em espécie, pode ocasionar em

reclusão que varia de 06 meses à 12 anos ou detenção de 2 meses à 3 anos e

multa, dependendo do grau da infração.

Ainda acerca do Estatuto do Idoso, este coloca em seu 8º artigo que “o

envelhecimento é um direito personalíssimo e sua proteção um direito social,

nos termos desta Lei e da Legislação vigente”. (Estatuto do Idoso, 2003)

As conquistas dos direitos citados simbolizam um marco nos direitos

sociais para os cidadãos brasileiros, explicitamente para o idoso, que passa a

ter seus direitos assegurados, bem como o respeito e a dignidade.

Nesse processo, o Estatuto do Idoso representa um grande avanço,

remetendo ao envelhecimento sob a lógica dos direitos e das políticas públicas

e ultrapassando a esfera do assistencialismo. O Estatuto não só contribuiu para

o acesso à cidadania como também para os direitos básicos, essenciais para

uma velhice com qualidade de vida.

Portanto, embora seja uma política consolidada e com parâmetros legais

que as justifiquem ainda temos um longo percurso pela frente no que diz

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respeito ao idoso. Precisamos entender o envelhecimento em vários aspectos,

para que a partir daí possamos ter também políticas que efetivem direitos a

essa parcela da população.

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CAPÍTULO III – ANÁLISE DO SERVIÇO DE

CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE

VÍNCULOS PARA IDOSOS DESENVOLVIDO

PELO CRAS PIRAMBU EM FORTALEZA-CE.

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3.1 Política de Assistência Social em Fortaleza-CE

O município em epigrafe começou sua organização administrativa

referente à política de Assistência Social por volta do ano de 2004,

acompanhando a tendência nacional, com a inauguração dos primeiros

Centros de Assistência Social, ainda dirigidos pela Coordenadoria de Políticas

públicas de Assistência Social – CASSI, órgão que à época, realizava a gestão

dessa política.

Em 2007, foi implantada a Secretaria Municipal de Assistência Social –

SEMAS. A mesma passou a expressar um novo modelo de gestão municipal,

agora com a implementação do SUAS, atendendo condições previstas na

Política Nacional de Assistência Social-PNAS e a Norma Operacional Básica-

NOB de 2005 que trouxeram inovações importantes no ponto de vista de

serviços, benefícios, programas e projetos voltados para a população que vivia

em situação de pobreza e vulnerabilidade social.

A SEMAS era constituída por Coordenações que se estruturavam em:

Gestão do Sistema Único da Assistência Social, Proteção Social Básica,

Proteção Social Especial, Cadastro Único, Programa Bolsa Família,

Coordenadoria Administrativo Financeiro e Fundo Municipal de Assistência

Social.

Importa mencionar que a Proteção Básica finalizou a gestão da SEMAS

em 2012 com 23 Cras fixos divididos em diferentes territórios e com um Cras

Itinerante o qual objetivava atender as áreas que não tinham cobertura dos

fixos. Quanto a equipamentos de Especial, eram 06 unidades, dados que sem

mantêm até hoje.

Os Cras desenvolviam programas, projetos e serviços como: Ações de

segurança alimentar e Nutricional, Gestão do Programa Bolsa Família e

Cadastro Único, Núcleos de Participação Popular – NUPP‟S, Programa de

Atendimento Básico à Pessoa Idosa – PABI, Serviço de Proteção e

Atendimento Integral a Família - PAIF, Pro jovem Adolescente, Serviço de

Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças e adolescentes,

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provenientes de trabalho infantil e concessões de benefícios eventuais – cestas

básicas, auxílio-natalidade e auxílio-funeral.

Já no contexto da Proteção Social Especial, houve a implantação dos

Centros de Referência Especializados da Assistência Social – CREAS, Centros

direcionados a População de Rua CREAS-POP e um Espaço de Acolhimento

Noturno, como também da Casa de Passagem.

Esta estrutura permaneceu até 2012, quando houve a mudança de

gestão da administração municipal, passando a SEMAS a se chamar

Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social de Combate à Fome -

SETRA. Com a mudança incluíram se outros dois eixos: Trabalho e Segurança

Alimentar que com assistência social integram o um cenário de geração de

trabalho, emprego, renda, cursos profissionalizantes e técnicos, voltados para o

público inserido em programas sociais.

Sem maiores mudanças na perspectiva metodológica, os Cras se

organizam atualmente através de programas, projetos e serviços como: Ações

de Segurança Alimentar e Nutricional, Gestão do Programa Bolsa Família e

Cadastro Único; Serviço de Proteção e Atendimento Integral a família-PAIF;

Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças,

adolescentes e idosos; e benefícios eventuais.

Enquanto Proteção Social Especial com a criação da Setra,

permanecem os mesmos equipamentos, sem alterações de nomenclaturas

nem de ordem metodológicas.

3.2 A Comunidade do Pirambu: sua história e suas relações familiares

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O bairro Pirambu localiza-se na zona oeste de Fortaleza, em um antigo

terreno marítimo ocupado inicialmente por um grupo de pescadores. Em 1950

ocorreu a intensa povoação da área, com a vinda dos imigrantes que estavam

fugindo da seca do interior do estado. Esses imigrantes foram se instalando em

barracos, localizados em terrenos próximos à ferrovia e às indústrias que já

começavam a aparecer com o usufruto da mão-de-obra barata.

Cabe ressaltar que a zona de praia e as margens dos rios eram áreas

desprezadas pela população de maior poder aquisitivo daquela época.

Na década de 60, o Pirambu tornou-se o bairro mais populoso da

cidade. Talvez por conta disso, sempre contou com uma população mobilizada

para conseguir o que almejava, como por exemplo, em 1962, quando os

moradores foram às ruas para reivindicar melhores condições de vida, lutando

contra a injustiça social. Ainda nesse ano, o grande Pirambu foi dividido com a

construção de duas paróquias, originando os bairros: Cristo Redentor e Nossa

Senhora das Graças. Esta divisão promoveu a origem de líderes comunitários

que formaram várias associações na luta pela melhoria do bairro.

A situação do bairro começou a ter algumas mudanças significativas

com a construção da Avenida Leste-Oeste, na década de 70 e a implantação

do saneamento básico nos anos 90, gerando alguma perspectiva de melhoria

de vida para os moradores. Porém, esses “investimentos” não foram suficientes

para melhorar as condições da população.

E hoje o Pirambu é o maior aglomerado urbano do estado do Ceará,

tornando se o 7º colocado em densidade populacional do país. De acordo com

o último Censo 2010 (IBGE) é o bairro mais populoso desde a década de 60

com cerca de 42.878 habitantes. Isto implica dizer que, embora tenha crescido

e aparecido diante de uma estado tão grande, esse crescimento desordenado

e sem planejamento causou muitos impactos na vida dos moradores que

tiveram suas casas construídas em ocupações irregulares onde sofrem as

ações externas da natureza, além do grave problema social que é a pobreza.

Com todos esses fatores, uma série de indicadores sociais deste bairro

manifestam os índices de difícil qualidade de vida desta população. A saúde

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pública como também tratamento de esgoto e a segurança são bastante

fragilizadas, o que acarreta diretamente diversas carências neste bairro.

Problemáticas que diminuem a qualidade de vida dos moradores e o colocam

com altos índices de violência.

Todos esses agentes, sejam eles naturais ou não, fazem com que as

situações de violência se tornem frequentes e essa violência chega até a vida e

a casa dessas pessoas. Tornando-se um aliado em crises conjugais,

desempregos, incapacidade, frustação, vícios, atribuições que geram a

fragilização de vínculos familiares e comunitários e aumentando a violência.

Os idosos, neste contexto, também são vítimas dessa violência que

incide nas relações sociais e familiares. Como se evidencia nas palavras de

Silva (1996) no qual descreve que as novas instalações ou arranjos de moradia

na periferia dificultam o acolhimento dos parentes idosos ou favorecem o

conflito por determinarem a coabitação de pessoas idosas com jovens e

adultos.

O Pirambu ainda é hoje repleto de refrações da questão social, como o

desemprego, a falta de moradia e os baixos indicadores sociais. Consoante

relatórios do Laboratório de estudos da violência da Universidade Federal do

Ceará feitos em 2011, o Pirambu apresenta os piores indicadores sociais e a

menor renda familiar média: 1,9 salário mínimo por mês. A principal atividade

econômica da Regional é a indústria.

Os bairros da SER I denominadas como "Essas regiões administrativas

recebem a denominação de Secretarias Executivas Regionais (SER‟s) ou

apenas “Regionais” advinda de reducionismo linguístico próprio da linguagem

coloquial. São atualmente conhecidas com Regionais I, II, III, IV, V e VI. Essas

Secretarias possuem autonomia política, administrativa e financeira, entretanto,

são articuladas as diversas Secretarias Temáticas (Assistência Social, Saúde,

Educação, Meio Ambiente, Infra-estrutura, Defesa Civil, etc.) e subdivide-se em

órgãos denominados Distritos, que planejam e operacionam as políticas

públicas em seus determinados territórios. No caso da Assistência Social,

Distritos de Assistência Social/DAS".

Respondem por 9,23% do total de empregos formais existentes em

Fortaleza. É aqui também onde está a maior taxa de inatividade de Fortaleza,

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com apenas 37,2% dos residentes entre a chamada população

economicamente ativa - ou seja, formal ou informalmente empregada, ou

procurando emprego.

As relações familiares são estreitas e seus membros estão sempre com

baixos índices de escolaridade e com uma saúde precária. Neste cenário o

fortalecimento de vínculos é feito não só para a garantir que a família seja um

elo contra essa escassez de recursos, mas como uma forma de evitar que a

violência chegue dentro de casa. Essa fragilidade causa o aumento da

violência dentro e fora de casa.

Esta realidade também não está longe dos idosos que vivem dentro da

comunidade, que também sofrem esses efeitos, além de terem seus direitos

esquecidos pelas políticas públicas; vivem em um território abandonado pelo

poder público no qual a violência predomina.

3.3. Análise das falas dos idosos pesquisados em relação a sua realidade

social e as ações do Cras

Entendendo esta parte como de muita vitalidade e valor a esta pesquisa,

damos início a nossas descrições, apresentando as principais falas observadas

durante as entrevistas. Para resguardar o sigilo dos interlocutores pesquisados,

utilizaremos codinomes fictícios de pedras preciosas.

Informamos inicialmente que, dos idosos entrevistados, todos residem

no próprio bairro e com faixa etária de 60 à 79 anos.

Dos participantes do grupo, a maioria frequenta o mesmo a pelo menos

cinco anos; vivenciaram várias mudanças entre gestões municipais, mudanças

no quadro dos funcionários, de ações que refletiram no trabalho com os idosos.

As mudanças são encaradas por eles como algo indesejado, pois têm o

costume de manter um viés paternalista nas relações.

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Em relação à escolaridade dos mesmos, dos 10 idosos analisados,

somente 02 dos entrevistados terminaram o ensino médio, outros 06

estudaram até o ensino fundamental e ainda 02 dos idosos são analfabetos.

Podemos perceber que na maioria dos casos, tiveram que trabalhar cedo e por

isso, abandonaram os estudos.

Fonte: pesquisa de campo

Essa realidade, associada a outros determinantes estruturais, se deu em

virtude da necessidade imediata de renda para sobreviver e, os estudos,

passaram a ser fator secundário frente à pobreza que viviam. Contudo, esse

processo contribui para a reprodução da pobreza pela dificuldade de mudança

de status social sem uma qualificação que demanda escolaridade. Nas falas é

possível perceber suas opiniões sobre trabalho e oportunidades:

Estudei só até o 2º grau, tive que trabalhar muito cedo, casei e depois tive que trabalhar muito para a minha família, ai tive como parar de trabalhar e agora depois de velho só penso em descansar e no futuro dos meus filhos. (TURMALINA)

Comecei a estudar mas meus pais não me incentivavam, parei de estudar e fui trabalhar, não sei ler nada, nem assinar meu nome, e lá até hoje tudo é muito difícil pra mim mesmo eu sendo velha. (ÁGATA)

Estudei até a 4º série e depois fui trabalhar, não dava tempo de estudar, trabalhei muito, mas hoje me arrependo de não ter estudado mesmo com as dificuldades. (TOPÁZIO)

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Em relação à situação socioeconômica dos idosos entrevistados, 08

destes são aposentados e 02 recebem pensões deixadas por seus

companheiros. Importa mencionar que curiosamente estes idosos conseguiram

se aposentar certamente pelo vínculo com a previdência social. Talvez a nossa

juventude produtiva hoje, em uma análise futura, não consiga este privilégio

pela inexistência de oferta de empregos formais, baixa escolaridade, entre

outros elementos, o que poderá torná-los futuros beneficiários de programas

sociais também na fase idosa, permanecendo a situação de vulnerabilidade

social sem conseguir romper com o ciclo da pobreza e da dependência da

transferência de renda para sobreviver.

Fonte: pesquisa de campo

A situação de moradia deles é relativamente estável, pois a maioria

reside em casa própria e só 01 dos entrevistados, em casa cedida por

familiares. Porém são moradias em lugares de grande concentração de

pessoas, em condições sanitárias ruins e/ou irregulares e com altos índices de

violência, o que não oferece qualidade de vida para esses idosos.

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Fonte: pesquisa de campo

Em seus domicílios, segundo suas narrações, todas possuem água e

energia, como também moram com 02 ou mais pessoas. É interessante

ressaltar que das pessoas que moram com eles, poucos participam ou são

usuários da rede de serviços, somente 03 deles citaram que parentes

utilizavam serviços. E destes que utilizam, pelas entrevistas, é possível

perceber que eles vão a procura de serviços e benefícios por conta própria,

como segue abaixo.

Lá em casa só eu participo de grupo, minha filha tem bom emprego e não tem bolsa família e nem outro benefício, “não precisa” vive bem. É funcionária pública e se um amigo não tivesse me convidado, eu não saberia do grupo, lá em casa ninguém vai atrás dessas coisas. (PEROLA)

Do pessoal lá de casa, eu participo do grupo, minha filha tem bolsa família, a gente tem que usar o que tem pra gente, tanto no Cras como no posto de saúde. (ÁGATA LILAS)

Eu sempre vou ao posto de saúde e lá em casa sempre que a gente precisa de alguma coisa vamos lá no posto ver se conseguimos alguma coisa. Mas no Cras vamos ver algo do bolsa família quando precisamos. (TOPAZIO)

O grupo, na comunidade, se organiza com uma agenda de serviços para

idosos, com datas semanalmente agendadas. Estes afirmam q participam do

grupo há anos e têm sua assiduidade garantida.

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Gosto muito de participar deste grupo aqui conheço outras colegas e antes daqui, tinha vergonha de falar comas pessoas, venho pra cá a muito tempo e gosto de muita coisa que acontece aqui. (SAFIRA)

Acerca de como ficaram sabendo do grupo, 08 dos entrevistados ficaram

sabendo e foram convidados por amigos, outros 02 foram inseridos através de

serviços da rede que os colocaram em serviços como SCFV, de acordo com o

seu perfil.

Fonte: pesquisa de campo

Através das entrevistas, podemos perceber a fragilidade das políticas

que não chegam até esses sujeitos que ficam sabendo da abrangência das

políticas através de amigos e outros. Segundo eles:

Eu fiquei sabendo através dos contatos que tenho no posto de saúde, das minhas amigas de lá, se não fosse por elas, não tinha ficado sabendo. (RUBI)

Nessa parte, eu sou muito desenformada, se não fosse minhas amigas me convidar para o grupo, eu nunca ia ficar sabendo. (ESMERALDA)

Frequento o grupo há muito tempo Quando fiquei sabendo foi através de amigos que me convidaram a partir dali, fui fazendo isso também porque pra gente ficar sabendo por outra pessoa é muito difícil. (CRISTAL)

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As mudanças mais visíveis, segundo eles, depois da frequência no

grupo, foram segundo 02 deles culturais como conhecer outras políticas,

informações da atualidade, lugares como teatro e pontos turísticos e culturais.

05 citaram que ficaram mais esclarecidos quanto aos seus direitos e outros 03

melhoraram suas condições nos diversos serviços oferecidos como saúde e

previdência social.

Fonte: pesquisa de campo

Podemos salientar ainda que as mudanças que acontecem na vida

desses idosos são de imediato importantes, porém não definem outra condição

de vida para eles. Isso significa que as atividades informam, esclarecem,

exercitam o habito de aprender, mas de fato não mudam a realidade social

desse sujeito, em alguns casos só minimizam o efeito da vulnerabilidade social

em que vivem.

Essa realidade retrata a vida que esse idoso entrevistado tem, uma

experiência de dependência dos serviços públicos que por sua vez são

precários, deixando para a família a responsabilidade de assumir as

consequências deste. A família assume de forma passiva as responsabilidades

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de manter e cuidar posteriormente desse idoso, cheio de marcas de Estado

que regula sua atuação mediante a manutenção das desigualdades sociais e a

exclusão da classe social pobre. Esta situação também fica evidenciada nas

palavras de Debert:

Para os idosos [...] a pauperização, a passividade e a dependência marcarão a experiência de envelhecimento. As formas [...] de moradia e de associações são limitadas para esse grupo, e a precariedade das políticas públicas a ele destinada faz com que o peso de sua situação recaia nos ombros dos filhos e parentes. (2012, p.94)

Dentre as principais situações vivenciadas pelos idosos, tanto na família

quanto na comunidade dizem respeito às relações que são fragilizadas e

expostas por aqueles que tem coragem de falar ou citar em uma conversa ou

discussão, mas essa fala sempre é suprimida pelo preconceito e falta de

espaço para se pensar nos tema. Esse idoso, o qual citamos, segue sua

vivência dentro de uma crise não só política, mas estrutural, que o coloca de

frente a uma realidade que não pode ser modificada apenas por um indivíduo e

repercussão do processo continuo de isolamento, abandono etc. Essa situação

fica evidenciada em algumas palavras deles:

Tenho medo de falar o vejo na rua, fora daqui, pois as pessoas aqui no bairro são violentas e também minha opinião de velho não mudaria muita coisa. (ÁGATA ROSA)

As vezes aqui no grupo eu falo alguma coisa que vejo de errado por aí, ou que acontece lá em casa, mas percebo que os meus próprios companheiros aqui no grupo ficam me descriminando, achando que gosto de fazer confusão, aí fico com raiva, depois passa por que é um desabafo meu depois me calo. (AGATA LILAS)

Foi relevante também para a pesquisa entender que os idosos

participantes têm um senso crítico, no qual percebem que estruturalmente o

grupo acontece em condições precárias que para eles se resumem na

ausência de água e banheiros, em um lugar quente sem condições para

receber idosos.

Contudo ainda não compreendem que estas condições estão para além

dos profissionais que ali trabalham cotidianamente e dependem das políticas e

isso gera a migração deles para outros grupos que atuam na comunidade

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através até de influências políticas que contribuem também para seu bem estar

proporcionando momentos de lazer com música e mudança.

Desta forma, gostam muito dos profissionais que se dedicam dia após

dia em um trabalho que melhore a qualidade de vida deles; gostam da

alimentação e das danças regionais ou diversas que acontecem. Encontram no

grupo alegria e distração além das palestras e atividades que os tornam mais

informados sobre direitos sociais.

Outro ponto expressado por alguns deles foram as atividades de Arte

Educação, artesanato e também dança que são até uma característica cultural

da comunidade. Além das atividades com músicas populares, danças

regionais, também são feitos trabalhos manuais que retratam a cultura dos

pescadores, algo próprio de suas origens. Essas atividades são feitas com

prazer e entusiasmo.

O que menos gostam no grupo são as mudanças que sempre

acontecem com os profissionais, pois por estes serem terceirizados, há uma

rotatividade significativa e os usuários criam vínculos com estes que logo são

quebrados com os afastamentos desses profissionais.

Adoro dançar, aqui a gente dança com músicas que relembram momentos felizes da juventude, pena que nem toda semana tem essas atividades. (RUBI)

Um dia desses, fizemos um trabalho que retratamos o pirambu como era antigamente, foi muito bom, gosto dessas coisas com artesanato e papel, me distrai e eu esqueço até dos problemas. Gosto quando fazemos trabalho e ficam expostos e a gente sempre fica vendo. (SAFIRA)

Ainda, existem desentendimentos entre os próprios idosos, geralmente

associado a divergências de opiniões diferentes durantes as dinâmicas, o que

se considera normal em qualquer convivência coletiva. Ademais, uma das

queixas mais recorrentes refere-se a estrutura física do Cras Pirambu por esta

apresentar muitas limitações quanto a espaço físico, número de salas,

ausência de salão próprio para atividades coletivas, insuficiência de recursos

materiais e humanos, estrutura de banheiros em condições péssimos e

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inclusive que tivemos depoimentos de falta de água e em alguns períodos de

alimentação variada.

Ainda sobre as atividades executadas para esses sujeitos, houve relatos

da dificuldade de aquisição de materiais para o Cras, muitas vezes quando os

tem, não são o bastante e precisam ter mais opções, pois quando acabam

demoram a chegar e ainda são materiais que não possibilitam muitas

variedades de trabalhos artísticos com eles.

Por outro lado, não se pode deixar de considerar os aspectos positivos

que os interlocutores apontaram em relação ao serviço analisado. Estes o

consideraram como instrumento importante para a melhoria da qualidade de

vida desse idosos, muitas conquistas pessoais e até subjetivas já se tornaram

realidade na vida deles, os quais afirmam que após as atividades dos grupos,

passaram a participar de debates públicos e espaços sociais relacionados a

lutas para a comunidade.

Referem que inicialmente não saiam de casa ou tinham amigos, e que o

serviço teve uma conquista significativa no tocante à integração e

sociabilidade. Mesmo com as dificuldades o SCFV e o Cras Pirambu

possibilitam conquistas como amizades, melhor sociabilidade e integração

entre este público, além de manter os idosos, ainda que diminuto, com mais

acesso a informações e com uma auto- estima mais valorizada.

Eu era muito tímida e não conversava com ninguém, hoje sou outra pessoa e até alegre. (ESMERALDA)

Vivia em casa sozinha, conhecia e falava com poucos vizinhos, hoje me sinto melhor, converso com várias pessoas, o grupo me fez perder a timidez. (AGATA LILAS)

Eu sempre fui bem resolvido, mas agora participo de encontros que falam sobre idosos, reuniões e até visitas nas escolas. Fico feliz por estar representando meu grupo e também a comunidade. (TURMALINA)

Em se tratando do bairro, o mesmo se tornou um lugar superpovoado,

com altos índices de violência nos últimos anos, tendo em seus moradores as

vítimas dessa situação. Os idosos estão neste grupo que vivem à mercê dessa

desestruturação habitacional, coletiva e que influencia diretamente na vida

deles.

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Essa realidade de privações é fortalecida não só pela violência que

persiste no território, mas também pela família que vê o idoso como mais um

provedor de renda na casa. Estes pontos são bastante discutidos

coletivamente nas atividades e buscam a partir da troca de vivência e da

exposição das situações por parte dos participantes, abrir o espaço para o falar

das dificuldades que esses usuários vivenciam e a partir disso, ressignificar

valores, trazer novas perspectivas de comportamentos destes com suas

famílias, e em caso de situações de denúncia, as profissionais acionam a rede

de proteção especializada na pessoa idosa a fim de responder às demandas

de violação de direitos.

Dessa forma, evidenciamos que muitos desafios ainda persistem pela

frente, pois fazem parte desse grupo etário. Embora mencionada em vários

momentos no nosso cotidiano, ainda não são valorizados como devem. Muitas

vezes observamos a falsa imagem de que a velhice deveria ser a melhor idade,

contudo analisamos que nesta fase de vida também há muitas contradições e

que principalmente envolvendo o idoso pobre, sendo seu universo social

completamente diferente do idoso que não vivencia as contingências da

pobreza. É tempo de repensarmos o que foi discutido e fomentar novos

horizontes para esses sujeitos.

3.4 Análise do SCFV para pessoa Idosa sob a ótica das profissionais do

Cras Pirambu

A fim de atender a uma análise que busque atingir o universo

relacionado às maiores possibilidades de abrangência das relações que

envolvem o objeto de estudo analisado, consideramos importante trazer a

discussão dos olhares das profissionais que atuam neste serviço no Cras

Pirambu. Trata-se de três profissionais que identificaremos com nomes fictícios

de pedras.

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Podemos refletir que para o profissional que trabalha diretamente com o

público de idosos, é importante conhecer a realidade, desafios e possibilidades

de seu cotidiano profissional. Nesta perspectiva, a importância de analisar as

falas da atuação dessas profissionais se torna um acesso para entender como

os idosos se manifestam frente aos serviços oferecidos.

Inicialmente, evidenciamos em suas falas que as principais ações

desenvolvidas pelo SCFV no Pirambu são referentes a: acompanhamentos

familiares e as atividades socioeducativas coletivas com oficinas metodológicas

e as informações passadas sobre direitos, deveres sociais e cidadania com o

intuito de melhorar e empoderar esses indivíduos diante de sua realidade.

Quanto a essas últimas, destacamos a opinião dessas interlocutoras

sobre os impactos subjetivos desse serviço na vida dos(as) usuários(as).

Das ações desenvolvidas aqui no Cras Pirambu acredito que as principais ações desenvolvidas são fortalecimento de vínculos, atividades sócio educativas de lazer e cultura, tudo isso com o idoso como protagonista. (QUARTZO VERDE)

Sempre que posso acompanhar e participar de planejamentos sobre o grupo, coloco como prioridade esclarecer informações relacionadas aos direitos e deveres e o acompanhamento familiar que é muito importante no cotidiano dos idosos. (MADREPÉROLA)

Dentro das ações desenvolvidas aqui todas são importantes, mais as principais dentro do SCFV são os encontros e grupos de famílias, oficinas metodológicas desenvolvendo temas, planejamento realizado pelos técnicos e orientadores sociais mensalmente, atividades lúdicas aprimorando temas de acordo com a temática mensal. (ONIX)

De acordo com essas profissionais, as ações desenvolvidas no grupo

influenciam as opiniões e comportamentos dos idosos, que antes ficavam em

casa com poucos vínculos sociais, muitas vezes com pouco ou sem nenhuma

informação sobre as relações comunitárias e direitos sociais. O grupo também

contribui com a melhora na sua auto-estima, como também, tornam os idosos

mais ativos e motivados.

De acordo com as falas, nos encontros socioeducativos e de Arte-

Educação, os idosos dançam, discutem sobre temáticas sociais, fazem

artesanato, realizam passeios de turismo social e de lazer, na perspectiva de

contribuir para que esses se tornem indivíduos mais esclarecidos.

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Porém esses passeios e lazeres oferecidos têm sido dificultados pela

ações da gestão como burocracia e ausência da intersetorialidade que deveria

existir entre os equipamentos. Esta situação fica evidente na seguinte fala:

Os problemas institucionais são muitos, a burocracia dificuldade a viabilização de novos lugares para que o grupo aconteça. Sendo assim como profissionais temo que procurar outros serviços que possam ajudar nas atividades oferecidas, como uma forma de diminuir as dificuldades existentes dentro do Cras, procuramos parceiros e terceiros para realizar atividades principalmente externas. (QUARTZO VERDE)

No tocante às discussões das temáticas, as questões abordadas no

SCFV são sempre ligadas ao cotidiano dos idosos que não se resume apenas

à política de assistência social, mas de saúde, cidadania, direitos e legislações

nacionais, esporte e lazer, previdência social entre outros. Os temas incluem

também descontruir paradigmas e preconceitos de conteúdos morais como

sexo, homofobia, pedofilia etc.

Corroborando com essa discussão, destacamos

A convivência dos idosos dentro do grupo melhora a convivência familiar deles. Eles se tornam mais esclarecidos e isso melhora a vida daqueles que tem esclarecimento sobre seus direitos dentro e fora do grupo. (MADREPÉROLA)

Os resultados encontrados foram a melhoria da qualidade de vida é a mais evidente, os grupos no qual eles participam se encaixam na ausência da família e outros companheiros que não estão por perto. Fazendo danças e artesanato, eles se divertem e esquecem das frustações. (VERDE)

Os idosos passam a frequentar outros grupos, se envolvem com as temáticas, participam de atividades tanto voltadas para o lazer como para a auto- estima e o conhecimento. Isso os tornam mais sociais e fazem com que tenham o habito de trocar ideias. (ONIX)

Em relação às dificuldades encontradas no trabalho com o SCFV, essas

são várias, pois o serviço não está desligado das determinações que

impossibilitam a política de assistência social no cenário conjuntural.

Pelo que pudemos vivenciar nos contatos com as ações realizadas

neste equipamento é um enorme desafio trabalhar com as contradições entre

as relações do Estado associado a economia e a política brasileira. O que

segundo Mota significa dizer que vivemos em uma “complexa trama de

intervenção do Estado nas contradições sociais”. (2010.p. 148)

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Essas dificuldades não se resumem só a dificuldades políticas, mas

também estruturais. Segundo as falas, a questão da logística e estrutura que

acontece no Cras Pirambu, não atendem as necessidades do grupo como

também a burocracia das tentativas de mudanças atrapalham o desenrolar do

cotidiano profissional que tem poucas possibilidades de trabalho e pouco

material.

A logística da instituição não favorece o grupo, pois o mesmo acontece fora do Cras, enquanto instituição é muito burocrática e no equipamento o nosso cotidiano profissional sempre é rodeado de uma demanda muito grande e não existe um tempo para rever as atividades e aprofundar questões que aparecem, também não temos participação em outros espaços, não se conhece as redes de proteção e com isso a intersetorialidade se torna muito difícil. (ENTREVISTA Nº 2 QUARTZO VERDE)

Ainda falando sobre a falta de estrutura, enquanto equipamento, o Cras

também não oferece salas e estrutura física para que os profissionais possam

trabalhar. Diariamente recebem uma demanda grande de usuários o que torna

o profissional sobrecarregado e com condições mínimas de trabalho, pois não

existem computadores e telefones suficientes para o órgão.

Essa precarização se expande nas formas de contratação dos

funcionários, sejam eles Assistentes Sociais ou não. Geralmente são

terceirizados, o que torna comum a rotina de trocas de funcionários,

prejudicando o vínculo com os usuários e a motivação desses profissionais.

Apesar da importância do grupo, muitos aspectos ainda podem contribuir

para a melhoria das atividades do SCFV, como a mudança da estrutura, do

material didático, contribuição de materiais eletrônicos, novas atividades, as

quais melhorariam não só o grupo, mas as condições em que ele acontece.

É importante destacar que a realidade social vivenciada pelos idosos

não é fácil. Os idosos vivem em meio a violência, negligência, abandono, e

descaso por parte de pessoas da comunidade e mesmo, de seus familiares.

Diante disso, as profissionais buscam solucionar as questões quando são

acionadas. Estas desenvolvem parcerias com órgãos públicos e da sociedade

civil organizada a fim de retirá-los dessa situação. Ademais, até as profissionais

também se queixam de insegurança, medo e aflição, pois vivenciam situações

com dificuldades de estrutura no equipamento.

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Face a todo o exposto, pudemos perceber que o serviço de convivência

e fortalecimento de vínculos desenvolvido no Cras Pirambu contribui

significativamente com mudanças na vida dos idosos. Mesmo diante de tantas

contradições, o trabalho social feito tem surtido efeito e gerado mudanças.

Dentre essas mudanças, destacamos a participação e posturas desses em

seus cotidianos familiares e comunitários, sendo essas assertivas corroboradas

pelas profissionais entrevistadas.

Mas esse trabalho, embora feito com entusiasmo e profissionalismo, não

consegue romper com a condição a que estão expostos os idosos. Uma

condição de dependência e mínimos sociais. Mesmo com o trabalho realizado,

os idosos não deixam de ser pobres ou desfavorecidos, o que no entanto não

depende só do trabalho realizado pelo Cras, mas depende de assertivas de um

Estado que deve cumprir seu papel sem injustiças sociais e mais políticas

públicas.

Contudo, este serviço vivencia muitas dificuldades, em alguns

momentos, expressadas em inquietações e atitudes dos idosos no próprio

grupo. Os desafios no trabalho com o idoso dentro da assistência social

aparecem com similitudes nas demais políticas públicas.

Consideramos que os objetivos foram alcançados com os resultados das

entrevistas tanto dos idosos quanto dos profissionais. Conseguimos entender a

realidade deles e as mudanças que acontecem com as intervenções do grupo

na sua realidade.

Evidenciamos durante toda a pesquisa que o trabalho realizado no Cras

sempre está tentando superar limites e fragilidades, garantindo sempre a

efetivação das demais políticas públicas através da Assistência Social. Todo

esse trabalho tem um significado maior que é o de contribuir com o

esclarecimento de direitos sociais e cidadania a esses indivíduos, gerando uma

transformação, ainda que pontual, das relações familiares e comunitárias as

quais este sujeito está imerso.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa buscou responder às indagações propostas inicialmente,

ampliando a compreensão sobre o tema o Idoso e a Assistência Social ao

tempo que buscou discutir a realidade social do idoso no Brasil.

Refletindo sobre o tema idoso, podemos observar que o mesmo tem

sido objeto de estudo de várias linhas teóricas e discussões profissionais sob

as mais variadas vertentes.

O objetivo deste trabalho final de curso foi analisar o Serviço de

Convivência e Fortalecimento de Vínculos para a pessoa idosa, a experiência

vivenciada no Cras Pirambu dentro do que é proposto pela Assistência Social.

A partir das indagações pertinentes no momento da pesquisa, a

construção da mesma permitiu entender o universo do SCFV, a realidade dos

idosos e suas necessidades. Compreender o universo desses indivíduos em

meio a tantas necessidades e envolto em uma realidade cheia de contradições,

fruto das relações no modo de produção capitalista.

Faz-se necessário fazermos uma reflexão sobre as mudanças materiais

e subjetivas que ocorrem na vida desses sujeitos que participam do grupo;

ações desenvolvidas diante das situações familiares e comunitárias

vivenciadas por eles.

Não se tratando de qualquer idoso, este estudo teve como objeto o idoso

pobre como fruto das contradições da questão social, que é vivenciada em

várias fases vida, não só na terceira idade, mas sua fragilidade se evidencia

neste período por este permitir neste ciclo etário a condição de diferentes

situações de vulnerabilidade e risco social.

Em relação aos idosos que participam dos grupos, estes trazem consigo

uma aparência de sabedoria e conhecimento, trazem experiências próprias que

são adquiridas ao logo da vida, por meio do senso comum, que não

ultrapassam muitas vezes as relações sociais conservadoras. Ademais, na

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maioria das vezes, são vítimas da ausência de políticas públicas e

reconhecimento dos direitos por toda sua vida.

Podemos entender como a Assistência Social está intrinsecamente

relacionada à exclusão, negação de direitos e vulnerabilidade social. Esta se

apresenta como política de proteção social e intervém junto à população que

vive em situação de pobreza, público-alvo desta pesquisa. Para tanto, deve-se

buscar amparar os cidadãos idosos numa concepção de garantir uma

intersetorialidade com outras políticas como: educação, habitação e saúde.

Focalizando enquanto análise do SCFV do Cras Pirambu, este

apresenta potencialidades como organização metodológica e profissionais

qualificados contudo, ainda é um serviço que não consegue romper com

demandas sociais das famílias e da comunidade onde este idoso pobre reside.

Sabemos que para isto, é necessário mexer nas bases do modo de produção

capitalista e sobretudo, na atuação estatal.

. Como isso não ocorre mudanças profundas, as políticas sociais

necessitam de melhor articulação, precisam responder as contradições das

relações sociais que ocorrem na esfera da Família e da Sociedade para se

atender as demandas da pessoa idosa no Brasil, a fim de reduzir os

indicadores de desigualdade, miséria, violência, negligência, abandono dentre

outros, que o idoso pobre possa vivenciar.

Neste sentido, esta pesquisa não objetivou somente realizar perguntas

ou indagações sobre as questões apresentadas, mas também fomentar nos

participantes reflexões sobre o assunto colocado.

Durante as observações realizadas no percurso da pesquisa na

instituição, foi possível perceber e entender que outros aspectos também

merecem destaque, como a importância do SCFV para a pessoa idosa.

A coleta e análise dos materiais obtidos através das falas nas

entrevistas, oportunizou traçar um perfil dos entrevistados. Neste sentido foi

possível observar a percepção deles acerca do SCFV, sua influência na

realidade deles, bem como também os direcionamentos que o serviço oferece

ao idoso.

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Destaca- se o acolhimento e trabalho feito no amplo campo dos direitos

dos idosos que reconhecem a assistência social como um instrumento para

viabilizar sua concretização, e a boa relação entre educadores e técnicos com

o grupo, o que causa estímulo e reflete a importância do trabalho com os

idosos.

Assim, articulamos as limitações e possibilidades encontradas dessa

política social brasileira com a crise atual da estrutura econômico-social

vivenciada em esfera mundial, inclusive hoje com o empobrecimento dos

países centrais com reflexo na ausência de empregos e seus reflexos no

mundo do trabalho e dos direitos trabalhista, formando o contingente de

pobreza atendido pelas políticas sociais em especial a Assistência Social.

Em Fortaleza, afirmamos que esta política padece com a ausência de

incentivos municipais e estaduais para a ampliação e fortalecimento das ações

que dê conta do quantitativo de miséria deste município. Dessa forma,

percebemos que os projetos e benefícios são em sua maioria destinados ao

combate à pobreza social na tentativa de desenvolver economicamente o país

ao atender as demandas do público desempregado, pobre, pessoas

impossibilitadas de trabalhar, que acabam fazendo com que a política tenha

tendência pontual e focalista, mas que não garante a transformação de

consciências políticas coletivas.

Dessa forma, este estudo averiguou a atuação do Serviço de

Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoa idosa do Cras Pirambu

que se desenvolve mediante atividades coletivas e palestras, orientando os

participantes acerca dos seus direitos e também deveres que consistem em

esclarecer suas dúvidas, mantendo uma relação entre o idoso e o profissional.

Neste momento, eles reconhecem o profissional como uma pessoa que

organiza o serviço, que torna sua vida mais leve e orientada no sentido de

direitos.

Como resultados dessas atividades, inicialmente, pudemos considerar

importante a dificuldade dos idosos em compreender as pautas discutidas nos

grupos, certamente reflexo de seus perfis de baixa escolaridade. Os sujeitos

apresentam limitações de linguagem e escrita, o que faz com que exista um

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esforço maior do profissional em se fazer compreender e traduzir as linguagens

jurídicas dos direitos, em situações da vida prática.

Percebemos que a Assistência Social recebe demandas que outras

políticas sociais não conseguem atender como neste exemplo a educação,

mas que podemos citar inúmeros quanto as demais políticas, fazendo desta

uma política meramente intersetorial. O que a diferencia, é o objetivo de

garantir reflexões com os sujeitos a fim de conquistar aquisições subjetivas e

materiais que contribuam para suas retiradas da pobreza não só econômica,

mas também a pobreza política.

Ademais, as contradições existentes na esfera familiar, que muitas

vezes é a causadora das demandas com este público; as limitações estruturais

e materiais do próprio equipamento para dar respostas a essas demandas; a

realidade conjuntural de um território periférico repleto de manifestações da

questão social e as dificuldades com a efetivação dos encaminhamentos

dessas demandas à rede de Proteção a pessoa idosa, aos resultados do objeto

encontrado.

Portanto apesar das várias dificuldades encontradas, certamente essas

situações não se restringem à atuação de um determinado equipamento e

principalmente de um profissional do Cras, pois as respostas das demandas da

vida social desses indivíduos excedem os muros institucionais.

Fortalecendo direitos e reafirmá-los diariamente não é uma tarefa fácil,

pois não envolve somente uma mudança de estrutura do equipamento, mas

uma mudança na forma do Estado. A Assistência Social, junto com SCFV,

provoca mudanças imediatas na vida dos idosos, porém o que é preciso hoje

são ações e organização que atendam às necessidades do cotidiano, e não só

as do momento.

Quanto a nossa análise, não só enquanto pesquisadora deste estudo

mas com conteúdos resgatados no período em que fui estagiária do Cras

Pirambu, durante 01 e três meses, esse processo me oportunizou conhecer

dados e informações positivas deste serviço como: o fortalecimento de vínculos

e sociabilidade dos participantes; o esclarecimento desses sobre os direitos

sociais e cidadania com abrangência desde a criança, o adolescente,o idoso a

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fim de trazer mudanças subjetivas na esfera singular deste público que vivencia

as atividades deste serviço.

Outro elemento importante refere-se às discussões de pautas sociais

como discussão sobre mulheres, buscando desconstruir inclusive as

desigualdades relacionadas à questão de gênero, público LGBT, raça e etnia,

etc que são situações sociais em que os sujeitos do serviço vivenciam em suas

famílias, mas que historicamente carregavam tabus conservadores, e que o

SCFV traz para reflexão a partir de uma perspectiva mais progressista.

Além da família, os impactos dessas informações na vida prática da

pessoa idosa participante do serviço também se observou que estes atuam

como disseminadores de informações através dos encontros com a

comunidade, colocando-os como agentes da participação popular. Estas

assertivas ainda não são suficientes para mudar a realidade dos usuários, pois

não conseguem atender a totalidade das necessidades sociais diversas;

condição esta que a Assistência social certamente terá limitações para

ultrapassar, tendo em vista que são respostas envolvidas pelas desigualdades

oriundas ao modo de produção vigente que trouxemos na discussão no tópico

da problematização do objeto deste estudo.

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http://lidesealgomais.wordpress.com/2012/04/26/populacao-pirambu-e-o-

setimo-maior-aglomerado-urbano-do-brasil em 20/11/2013

http://lidesealgomais.wordpress.com/2012/04/26/ceara-segundo-ibge-pirambu-e-7o-maior-aglomerado-subnormal-do-pais acessado em 25/11/ 2013 as 14:30

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APÊNDICES

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APÊNDICE I

ROTEIRO COM USUÁRIAS(OS)

1. DADOS PESSOAIS

1.1 Idade: _________ 1.2 Escolaridade: _______________________

1.3 Estado Civil: ( ) Solteira(o) ( ) Casada(o) ( ) Viúva(o) ( ) Divorciada(o)

1.4 Você estudou: ( ) Sim , Até que ano ? ( ) Não

2. SITUAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA

2.1 Renda:______________ BPC: ( ) Sim ( ) Não

2.2 O Sr/a é provedor da renda familiar? ( ) Sim ( ) Não

2.3 Situação de moradia: ( ) Própria ( ) Alugada ( ) Cedida ( ) Outros

2.4 Possui água: ( ) Sim ( ) Não

2.5 Possui energia: ( ) Sim ( ) Não

2.6 Quantas pessoas moram com sr/a? ____________

3. RELACIONADAS À PARTICIPAÇÃO

3.1 Das pessoas que moram com você, alguma participa de outro serviço do

Cras? ( ) Sim ( ) Não Qual? ______________________________________

3.2 Há quanto tempo participa do Serviço? ( ) Meses ( ) Anos

3.3 Como ficou sabendo do grupo?

( ) Amigos ( ) Familiares ( ) Instituição da rede de serviços ( ) Material de

informação ( ) Outros

3.4 Aconteceram algumas mudanças em sua vida depois do grupo, como:

( ) Culturais ( ) Econômicas ( ) Esclarecimento de direitos ( ) Melhoras nos

acesso a direitos sociais

3.5 O que mais procura no grupo?

( ) Diversão ( ) Esclarecimentos/orientações sobre direitos ( ) Trabalho (

) Ocupação do dia

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4. RELACIONADAS A CONVIVÊNCIA SOCIAL E GRUPAL

1. Como o sr(a) chegou até o grupo?

2. Por que participam do grupo?

3. Quais as mudanças que SCFV trouxe para sua vida?

4. Quais as principais atividades desenvolvidas pelo Cras? O que

vocês costumam fazer?

5. Quais as principais situações vivenciadas na sua família que o

sr/a traz para discutir no grupo?

6. Quais as principais situações vivenciadas na sua comunidade que

o sr/a traz para discutir o grupo?

7. Como o/a sr.(a) avalia as ações desenvolvidas pelo SCFV?

8. O/a sr/a participa de outro serviço coletivo na comunidade? Se

sim, o que ele tem de diferente do Cras Pirambu?

9. O que o sr(a) mais gosta no grupo? Por quê?

10. O que o sr(a) menos gosta? Por quê?

11. Como o sr/a avalia a estrutura do CRAS: espaços físicos,

alimentação, profissionais, material utilizado etc.?

12. Quais as principais conquistas na sua vida depois do Cras

Pirambu?

13. E quais os desafios que ainda não conseguiu superar?

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APÊNDICE II

ROTEIRO PARA PROFISSIONAIS: PERGUNTAS ABERTAS

1. Quais as principais ações desenvolvidas no SCFV Pelo Cras Pirambu?

2. Quais os principais resultados encontrados na vida dos idosos que

frequentam o grupo?

3. Quais as principais mudanças, em sua opinião, que o SCFV trouxe a

vida dos idosos?

4. Quais as dificuldades encontradas no SCVF? Institucionais, políticas,

território, equipe e para os(as) usuários(as) idosos(as)?

5. Na sua opinião, o SCFV aborda questões que realmente são

importantes para a vida dos(as) idosos(as)?

6. Quais aspectos podem contribuir na melhoria das atividades do SCFV?

7. De que forma você articula as demandas do SCFV com a realidade dos

serviços do CRAS?

8. Em sua opinião, é possível perceber as reais mudanças na vida dos

idosos após o SCFV?