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FACULDADE MERIDIONAL – IMED
ESCOLA DE PSICOLOGIA
Glaucia Falcão de Almeida
A CONTRIBUIÇÃO DA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
PARA A COMPREENSÃO DA MATERNIDADE DE SUBSTITUIÇÃO
Orientador: Jandir Pauli
Passo Fundo
2015
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* Glaucia Falcão de Almeida, IMED, Passo Fundo, RS.
Autor
Glaucia Falcão de Almeida
A CONTRIBUIÇÃO DA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS PARA A
COMPREENSÃO DA MATERNIDADE DE SUBSTITUIÇÃO
Artigo apresentado ao curso de Psicologia, na
Escola de Psicologia da Faculdade
Meridional – IMED, como requisito parcial
para obtenção do grau de Formação em
Psicologia, sob orientação do Prof. Dr. Jandir
Pauli.
Banca Examinadora
Prof. Dr. Jandir Pauli – IMED Orientador
Prof.ª Me. Claudia Mara Bosetto Cenci - IMED Examinadora
Prof.a Me. Mariane Luiza Mattjie – IMED Examinadora
Passo Fundo
2015
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* Glaucia Falcão de Almeida, IMED, Passo Fundo, RS.
1. Apresentação
1.1 Dados do Autor
Nome: Glaucia Falcão de Almeida
E-mail: [email protected]
Telefone: (054) 9159-4656
Graduação: Escola de Psicologia
1.2. Orientador
Nome: Jandir Pauli
Titulação: Doutor em Sociologia pela UFRS (2012). Mestre em Sociologia pela
UFRS (2006). Graduação em Filosofia pela Universidade de Passo Fundo
(1998). Professor/Pesquisador.
E-mail: [email protected]
1.3. Área de Concentração
Processos e Intervenção em Saúde e Qualidade de Vida
1.4. Linha de Pesquisa
Linha 4: Processos e Intervenções Psicológicas em Diferentes Contextos
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* Glaucia Falcão de Almeida, IMED, Passo Fundo, RS.
A CONTRIBUIÇÃO DA TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS PARA A
COMPREENSÃO DA MATERNIDADE DE SUBSTITUIÇÃO
Glaucia Falcão de Almeida¹
RESUMO
O estudo buscou compreender as dimensões teóricas que estruturam as representações
sociais sobre a gestação por outrem. A metodologia de pesquisa procurou apresentar as
contribuições de diversos autores para fundamentação da problemática em torno da
maternidade por substituição sob a ótica das representações sociais. O contexto desta
discussão é o desenvolvimento de novos métodos de reprodução humana, evidenciando
diversos questionamentos no campo da Psicologia. Partindo disso, a pesquisa buscou
discutir, compreender e debater com autores sobre quatro categorias que contribuem na
compreensão das representações sociais: os mitos sociais, a ideologia, a ciência e a religião.
Palavras-chave: Maternidade de substituição. Representações Sociais. Técnicas de
reprodução humana assistida.
ABSTRACT
This analysis has aimed to understand the theoretical dimensions that structure the social
representations around the third-party reproduction. The survey methodology has sought to
present the contributions from many authors in order to substantiate the issues around
surrogacy from the standpoint of our social representations. This discussion comes from the
development of new assisted reproductive technologies, which rise many questions in the
field of Psychology. From that, this survey has discussed, tried to comprehend and debate
with authors about four categories that can help us understand the social representations:
social myths, ideology, science and religion.
Keywords: Surrogacy. Social Representations. Assisted Reproductive Technologies.
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* Glaucia Falcão de Almeida, IMED, Passo Fundo, RS.
2. Introdução
Apesar de fazer parte do nosso imaginário social, a maternidade vai muito além de
algo que é definitivamente verbalizado pela sociedade, é algo que nos envolve através do
inconsciente, está consolidado nos mitos sociais e, quando essa representação social de
algum modo não é suprida, ela acaba gerando anseios, dúvidas para os sujeitos que estão
envolvidos nesse enredo simbólico em uma sociedade que nos prende em uma trama de
anseios para sermos pais, uma teia simbólica que excede a biologia, mas que, a partir disto,
nos abre para novos descobrimentos do que é família, adquirindo espaço como um ser
(Farinati, 2009). Tal trama diz respeito à pressão imposta pela sociedade para que o sujeito
acredite que só evoluirá à um ser completo através da maternidade e, quando surge a ideia
de infertilidade, esta vai acometendo a personalidade social do sujeito por vias de ligar-se às
representações sociais de cada pessoa e na representação do sujeito no grupo em que ele
vive, podendo modificar seu papel civil.
No campo da psicologia, essa vontade inconsciente de ser pais traz consigo uma
forma mais fácil de sermos imortais, concedendo uma herança genética aos nossos
descendentes e, deste modo, não morrermos no aqui (Silva, 2011). O desejo inconsciente da
paternidade unido ao terror da infertilidade gera conflito no sujeito que espera alcançar a
completude e passar adiante sua herança genética e social e, sendo assim, surgiu a gravidez
por substituição como uma alternativa para que sujeitos presos neste conflito pudessem
atingir seu desejo. A gravidez por substituição ou “mãe solidária” é compreendida por
muitos estudiosos como sendo um ato de amor no qual a mulher concede seu útero para o
seu semelhante ter um bebê (Silva, 2011). A gravidez por outrem vem como uma
incorporadora civil para estas pessoas que buscam um papel para aquela sociedade em que
vivem e que, por muitas vezes, cobra a maternidade ou paternidade como uma obrigação
social daquele sujeito.
Deste modo, o objetivo desta pesquisa é compreender as dimensões que estruturam
as representações sociais sobre a maternidade por substituição, instrumentalizando o
profissional psicólogo no que diz respeito ao manejo do tema, compreendendo a importância
das representações sociais na construção da temática da “barriga de aluguel”. Relacionar
uma temática atual com o que tem já consolidado no campo da psicologia. Um estudo
ateórico baseado na obra de autores que possam contribuir para fundamentação desta
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problemática, dando subsídios para compreender as representações sociais da maternidade
por substituição.
3. Referencial Teórico
3.1.Maternidade por substituição
Alguns cônjuges planejam formar uma família, tratando isso detalhadamente,
investindo primeiramente na carreira, no seu lar e financeiro e apontando a hora propícia
para constituir uma família. Alguns casais podem tomar a posição de não ter filhos, aguardar
por novos métodos de procriação assistida, recorrendo aos doadores de óvulos ou esperma,
ou até em busca de mães solidárias que cedem seu ventre. Por mais que exista a alternativa
da adoção, este cenário não está se tornando funcional para estes casais que buscam a
maternidade, por ser um procedimento de longa espera e, até mesmo, por não encontrar o seu
bebê ideal ou porque não se encaixam nos pré-requisitos (Leonardo & Nodin, 2005).
Ainda, que estas mães solidárias são mulheres que cedem seu ventre para que ali seja
gerado um bebê de outra pessoa. Essas mulheres optam por ceder sua barriga, a fim de
auxiliar entes que tenham algum problema fisiológico, sendo membros do convívio familiar
e sentem-se felizes por ajudar a realizar o sonho de alguém que é impossibilitado de ter um
filho. O apreço que sentem pelos seus filhos e a gratidão, dividindo a sensação e vivências
representaria algo mais para estas mulheres hospedeiras. As representações sociais de cada
pessoa, incorporada em algum grupo, possuí o papel civil de cada mulher e da maternidade
tem se modificado gradualmente (Leonardo & Nodin, 2005).
Diversas mulheres estão aplicadas em diminuir a quantidade de herdeiros, deixando
para o futuro a prática de ser mãe, tal posição geralmente justificada pela existência de outros
tipos de afazeres que não ficam apenas no espaço familiar, posto que estas enxergam a tarefa
de ser mãe como algo que custa muito alto não apenas financeiramente, mas no que diz
respeito a questões de tempo e afeto. Quando se fala em ter filhos isto ainda recai como
absoluto compromisso administrado apenas pelas mulheres, contudo essa dificuldade atinge
plenamente o casal, posto que a exigência da sociedade é voltada a ambos cônjuges e se
diferencia diante de cada membro da família. Quando se trata do marido, ele é cobrado pela
hombridade, quanto à mulher, isto é associado à sua plenitude, considerando a crença de que
sua jornada como mulher só estará concluída quando for mãe (Borlot & Trindade, 2004).
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* Glaucia Falcão de Almeida, IMED, Passo Fundo, RS.
A esterilidade é uma dificuldade que cresce gradativamente na comunidade
contemporânea, enquanto as técnicas de reprodução se colocam em um papel mais relevante
para a procriação da raça humana. A descoberta da esterilidade afeta significativamente o
casal e é neste momento que as técnicas de reprodução, tais como a maternidade por
substituição, se apresentam à vida deste casal a fim de concretizar a gestação. Na ausência da
possibilidade da gravidez de forma natural as perspectivas do casal tornam-se distintas,
entretanto, estas vão de encontro ao preconceito vindo do âmbito social, gerando um
sentimento de tristeza pelas pessoas que veem essa situação. Assim, a maternidade por
substituição entra em ação devido ao progresso das tecnologias cientificas da multiplicação
humana assistida e do querer do esposo em se tornar eterno, pelo o seu fruto (Gago, 2012).
A prática da maternidade de substituição limitada tende a ser mais velada, em vista da
técnica total, entretanto, quando esta tornou-se um método mais complexo a população
tornou-se mais atenta ao tema, pedindo uma regulamentação deste exercício. A maternidade
por outrem como solução para o conflito da esterilidade supostamente gera anseios, por
muitas vezes, maiores do que os causados pelo método da adoção. Tal condição é
eventualmente retratada sob a sensação de que a ciência está mais no controle e deixando
para depois os princípios básicos (Gago, 2012).
Por causa deste acontecimento as mulheres tendem a fazer uso da técnica de
Reprodução Assistida (RA), buscando sair do estereótipo da esterilidade e, deste modo,
concretizar sua vontade de ser mãe. A começar pelos primórdios, o sexo feminino tem
trazido no seu inconsciente o desejo e o compromisso de ser mãe e isso é trazido fortemente
nas representações sociais. Este querer está interligado e retratado nos anais da sociedade
que, por sua vez, descobriu uma responsabilidade diante do assunto maternidade e,
constantemente, teme o risco de infertilidade. Este método artificial de procriação se molda
em utilizar um terceiro sujeito para a efetivação da maternidade, isto se dá por causa do útero
da mulher que, por alguma razão, não consegue segurar uma gestação, quando a gravidez é
de alto risco ou quando essa mulher não pode conceber filhos devido a ausência do útero
(Mendes, 2006).
A maternidade por substituição define-se na concessão do útero por tempo limitado,
sob as condições de que não pode haver fim lucrativo, sendo apenas admitida entre
familiares e, ainda, a mãe que procura outro útero deve ser mãe biológica do bebê. É
executável comprovar a compreensão caracterizada das aplicações, considerando que a
concessão da célula reprodutora feminina é compreendida com maior êxito na maternidade
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de substituição. Deve-se pontuar que em brasileiros e latino-americanos é onde surge maior
receio diante da gravidez substituta em comparação ao restante do mundo (Luna, 2005).
A Resolução CFM Nº 2.013/13, do Conselho Federal de Medicina, incorpora as
regras éticas para a aplicação desse método de reprodução assistida, adicionando a atual
decisão, como preceito deontológico a ser empregado aos médicos e anula a Resolução CFM
nº 1.957/10. VII – A respeito à gestação de substituição (doação temporária do útero). Os
laboratórios, policlínicas ou centros de reprodução humana podem colocar em vigor esse
método RA para elaborar o caso identificado como gestação de substituição, partindo do
princípio em que deve haver uma complicação médica que proíba ou não indique a gravidez
na doadora genética ou união homoafetiva.
A hospedeira temporária do ventre tem de ser membro da família de algum dos
cônjuges, com algum parentesco sanguíneo de até quarto grau, sendo estabelecida uma idade
limite de 50 anos. A doação momentânea do ventre não dever ter nenhum fim financeiro ou
mercantil. Nos locais de inseminação alguns documentos devem ser levados para o
preenchimento da ficha do submetido ao procedimento: TCI (Termo de Consentimento
Informado) firmado pelos envolvidos no processo, pais biológicos e pela hospedeira do
ventre. A descrição médica, juntamente com o laudo psicológico, documentando coerência
emotiva da mãe solidária.
A documentação de um médico auxiliar, tendo tudo em pormenores e documentado,
explanando todas as consequências médicas do procedimento de RA e constando, ainda, tudo
sobre o perfil biológico, judicial, bioético, financeiro e os pareceres da equipe que irá realizar
o procedimento proposto. A convenção claramente acordada entre as partes (pais biológicos)
e a mãe solidária (que receberá o material genético), esclarecendo quesitos tais como a
afiliação do bebê, os quesitos psicossociais entrelaçados no procedimento gravídico-
puerperal tendo explanados os possíveis danos proeminentes da maternidade, bem como a
impossibilidade de uma interrupção voluntária da gravidez após ter-se iniciado o método de
procriação, salvo em casos onde hajam acordos pré-judiciais. Deve ser garantida assistência
médica, incluindo as equipes multidisciplinares, caso haja necessidade, à doadora do ventre,
até o nascimento. Deve-se também estar em contrato que o fruto deste procedimento será
registrado em nome dos pais biológicos e, ainda, em casos onde a hospedeira tem um
cônjuge, ela deve ter por escrito a aceitação deste.
São por várias situações que a vontade de ter um bebê e a maternidade se tornam um
planejamento já pré-definido, tornando, consequentemente, os significados de maternidade e
gestação diferentes. A maternidade é um acontecimento causador de inúmeras mudanças que
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marcam a vida funcional e a individualidade dessas mulheres e, assim, elas entendem sua
representação e sua atuação perante a sociedade (Mota, 2011).
Quando um filho é gerado, os pais criam utopias relacionadas a geração do bebê o
que, consequentemente, gera vários conceitos psicológicos característicos da gestação e tais
utopias, bem como as marcas feitas por elas ajudarão ou não na correlação da paternidade.
Sendo assim, é relevante para o profissional psicólogo saber como proceder diante do
processo reprodutivo e desenvolvimento de um filho no ventre da mulher, considerando que
alguns transtornos ou má formação têm sua gênese na fase uterina (Rappaport, Fiori, &
Herzberg, 1981).
3.2.Representações sociais
A representação social tem que ser entendida como um jeito de expressar tudo àquilo
que nós já compreendemos. Elas possuem um papel indagador na sociedade, servindo para
traduzir entendimentos e significados sociais, bem como colocar-nos em ação de forma
relevante no mundo em que vivemos, assim, o sujeito tem de ser olhado de forma ambiental,
relacionando-o a questões específicas da sociedade (Moscovici, 2005).
Os conceitos sociais possuem relevância bastante diferenciada em nossas vidas. Eles
nos lideram e definem grupos e pontos de vista distintos dentro do cotidiano, ajudando a
decifrá-los, guiá-los e, se possível, tomando algumas atitudes que envolvem se posicionar e
defender determinado conceito. O reconhecimento das concepções sociais é auxiliar em
várias situações e, deste modo, elas permeiam nas manifestações, levadas pelas palavras e
concretizadas nas ações. Constantemente desejamos descobrir se o universo que nos permeia
teria a ver conosco, se é preciso ajeitar-se, seguir algo ou identificar-se fisicamente ou em
seu entendimento, localizando e solucionando dilemas. O conceito social tem sua finalidade
na afinidade de significar, toma-se do seu ambiente e sua compreensão, conferindo os
significados. Tais interpretações geram consequências de um ato que faz da ideia uma
concepção e uma exteriorização da pessoa com dificuldades, assim, a simbolização adiciona
qualquer colocação das ações da continuidade da identificação na sociedade e da estabilidade
cognitiva, encontrando-se interligados (Jodelet, 1989).
De acordo com Duveen et al. (2012), as representações têm seu conceito sábio na
elaboração de uma concepção incorporada na memória do conhecimento humano. Na
sabedoria social, essas representações são elaboradas como etapas do conhecimento que
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mostram, exemplificam, justificam ou indagam a realidade. Esse pensamento é
plurifacetado, ou seja, em uma direção o conceito social é transparecido como um método
sociável que incorpora no diálogo, ao tempo que a representação e alvos sociais são
constituídos. Elas são exibidas como condições particulares do entendimento,
representações, simbolizações e afetividade entre os seres em equipes ou categorias. O
sociável é uma variável de problema no campo da Psicologia Social e é tido como um
quesito que influencia os eventos encobrindo os buracos que a cultura individual deixa para
trás e aos poucos vai se tornando um dilema civil, construindo os acontecimentos
psicossociais. As simbolizações sociais sempre serão produtivas, pois estas elaboram o
ambiente, como ele é familiarizado e a personalidade que elas afirmam, fortalecendo os
indivíduos em seus postos na sociedade.
O fruto é concebido em um sistema já constituído pelas simbolizações sociais,
garantindo um posto metodicamente vulnerável às relações e atos sociais. Este fruto que é
concebido em um mundo já organizado por simbolizações sociais da espécie e, partindo disto
ele é sugestivo a se configurar com as representações impostas pelo grupo social o qual ele
foi concebido (Duveen et al., 2012).
A missão das representações está interligada à edificação da visão do outro, deste
modo, podemos relacioná-la com os esquemas de entendimento da rotina que traçam a
orientação para conduzir a linguagem, mas expressando claramente a individualidade do
responsável social ao passo em que se constroem as relações. As pessoas em distintas
ocasiões elaboram vários tipos de interpretação, representações e narrativas diante do que é
realidade e é só a partir do entendimento do significado que iremos compreender como eles
se unem e quais os efeitos da sociedade na vida do sujeito. Representação social é um
procedimento importante que está unido ao progresso do entendimento do Eu, da
comunidade e da etnia (Joychelovitch, 2008).
A presença da transferência uterina nasce da ajuda, entendimento e investida da
solução da dificuldade dos cônjuges que não são acometidos pela experiência de serem pais e
por muitas razões acabam achando que o acolhimento infantil é improvável, entretanto,
acontece também com cônjuges homoafetivos do sexo masculino e pessoas que ficam por
muito tempo sem ter filhos. Em um sentido, a maternidade é equivalente a uma etapa de
êxtase na existência de um casal, diante do qual os dois desejam ser pais, porém alguns
inscrevem experiências que ficam registradas como momentos vulneráveis (Leonardo &
Nodin, 2005).
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Estes critérios acabam afastando, embaçando ou tornando alvo de preconceito a busca
pela maternidade de substituição, agredindo ou acometendo o casal às regras sociais e
princípios morais. Os elementos de várias disciplinas se encontram ligados e a equipe técnica
de saúde é de muita relevância, neste procedimento, pois no momento em que a maternidade
surge há uma tendência em formar-se agrupados entre as representações e o motivo principal
da busca pelo procedimento. Alguns enfoques da maternidade por substituição se incorporam
na mentalidade cultural, como consequência de uma contingência da sabedoria que fica
interligada ao que a sociedade data como certo e o que influência as ações da população,
diferindo quando uma pessoa é uma boa mãe ou não. Frente ao dilema da hospedeira ter de
ser, obrigatoriamente, portadora de um laço de sangue com um dos pais biológicos, a ação de
gravidez por substituição, a concessão do útero, se choca nas subjetividades sociais
cristalizadas no elo mãe e espécie, incorporada com a biologia e as compreensões
psicológicas no desejo de ser mãe (Leonardo & Nodin, 2005).
Diante da complexidade do procedimento da maternidade por substituição, Leonardo
e Nodin (2005), afirmam que isto se dá não apenas, pois tal processo se desdobra em um
círculo distinto, mas como o fruto tende a ser nutrido pela mãe solidária. A biografia
demonstra o quão grande é a reprodução, e tem sido de muito valor nas mais diversas datas e
gerações. É importante pontuar que usualmente as crias são olhadas como fontículo de
agrado sentimental e como condutor do benefício e diversidade à vivência dos pais.
As simbolizações sociais têm sua continuidade e sua cristalização, e estão
intimamente ligadas a diversos conjuntos raciais, econômicos e culturais, expressando-se
pela linguagem e refletindo em diversas ações e em muitos atos sociais. Acredita-se que elas
são constituídas em pensamentos, assim, partindo disto, seria a atividade que se concretiza
no exercício psíquico da pessoa e na sabedoria. Ocasionalmente, as representações sociais
acabam espelhando juízo comum e são expostas pelos distintos meios de interlocução e,
possivelmente, introjetadas sem uma contemplação mais analisada aos ensinamentos
legítimos, cristalizados, crônicos, tecnológicos e doutrinários que se embasam (Franco,
2004).
Fundamentando que a gestação é contemplada como um espaço de grandes vivências,
transbordado de representações e esperança pode, concomitantemente, potencializar um
instante de impasse e de mais fragilidade. Todas as questões acerca das mudanças
fisiológicas e psicológicas têm de ser esplanadas, preparando a mulher para a futura
maternidade que, por sua vez, alcança um instante de aplicação sentimental, onde a mãe
busca entender, conhecer e ter expectativas contínuas. Pode-se afirmar que tal posição não
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chega a ser diferente para a mãe substituta, se revestindo de semblantes únicos de cada
pessoa do sexo feminino (Mota, 2011).
Em 1970, o assunto sobre a descoberta feita por cientistas que consistia em uma
técnica que imitaria Deus ao gerar um feto sem a relação tradicional começou a preocupar o
meio religioso, pois tal tecnologia poderia interferir na conduta ética. A opinião dos meios
religiosos, sendo uma delas a religião católica que, por sua vez, era a mais comum no Brasil
naquele tempo iria dificultar a discussão sobre a problemática da fertilização fora dos meios
tradicionais. O assunto trazia certo desconforto ao passo que tal tecnologia possibilitaria a
criação de um bebê que, na visão destes grupos, era entendida como uma benção de Deus e,
assim, a ciência estaria interferindo na “obra” de Deus (Meira, 2008).
Com os avanços da tecnologia e da medicina ajudando a realizar o sonho de várias
mulheres estéreis de se tornar mães, também modifica a família tradicional e alcançando a
reprodução (Junior, 2002). E nos dias de hoje, o lar institucional perde seu lugar para o lar
objeto, incorporando uma revolução no contato familiar, principalmente quando diz respeito
à afiliação, ao solidário, à afeição e ao cuidado, integralmente, da relação da união biológica
(Otero, 2012).
3.3.As representações sociais sobre barriga de aluguel
O ser invisível de um ser que é considerado não natural, sendo visto sem ver,
entendido sem compreender, sendo tocável sem ser tocável e afirma que o não natural indaga
a sociedade e, igualmente, nos retrai e nos faz levar algo para o visível como pressupostos
básicos. A vontade de pertencer a uma sociedade faz com que as possibilidades e práticas de
reprodução se multipliquem e se modifiquem gerando, a partir disso, novas necessidades
(Moscovici, 2005).
Estas necessidades deverão salientar que são fundamentos do nosso epistêmico e,
baseando-se nesses fundamentos, eles dão bases para as novas técnicas da ciência. Em outro
momento, a ciência faz parte de uma organização do desejo ou do comando governamental
modificando o saber da tecnologia para a prática instantânea de uso comercial. Os novos
meios de reprodução são complexos e saem do campo da reprodução tradicional, do contato
físico entre os sexos e embarcam no ambiente laboratorial. A alteração vista nas técnicas de
reprodução sai do meio do que é natural e do não natural. Tal alteração atua em três níveis:
no âmbito do que é normal, sobre reprodução e sobre o desejo de ser pai. Diante deste
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pensamento, sobre o que é natural e sobre as práticas de reprodução assistida, percebe-se que
mesmo usando um meio que pode parecer o mais natural possível, é possível esbarrar na
linha do que é aceito ou não pela sociedade (Grossi, Porto & Tamanini, 2003).
As representações sociais têm que estar em evidência e em correlação ao significado
da paternidade sob essas novas práticas de reprodução. É importante compreender o
significado de ser mãe diante das novas técnicas ou do método natural. Essas novidades
podem gerar novas representações e significados e, com o tempo, vai tomando outras formas.
Esses significados que vêm sendo carregado há tempos pelos povos, no contexto em que a
gestação é modificada mostram que andar pelo caminho onde o entendimento do natural
pode passear por várias compreensões distintas (Grossi, Porto & Tamanini, 2003).
Quando a infertilidade se faz presente na vida do sujeito, automaticamente traz
consigo o tabu de que pode ameaçar a hombridade masculina, sendo compreendida como um
ser menos abençoado que os outros. Retrata-se que existem diferentes conceitos do que é
natural sobre a gestação, sobre a representação social de ser mãe ou pai e de ser infértil. Para
a mulher, a gravidez é imposta desde os primórdios como algo de muita relevância para sua
colocação social, ao passo que para o homem ser pai seria uma prova de hombridade diante
da sociedade e, deve-se ter muito claro que tudo isso será exigido em algum momento da
vida do sujeito. É possível afirmar que a mulher nasce, na prática, com a obrigação de ser
mãe, já o homem precisa passar por um desenvolvimento para atingir o paternalismo
(Trindade & Enumo, 2001).
Conforme já exposto, a questão da infertilidade não é bem vista aos olhos da
sociedade que espera que toda mulher seja mãe ou que todo homem seja pai e, a fim de
suprir este desejo e as expectativas sociais, as mulheres e homens inférteis acabam buscando
diferentes métodos a fim de concretizar a maternidade, sendo um deles a maternidade de
substituição ou a barriga de aluguel. No contexto da barriga de aluguel, ocorrerá uma
modificação de crenças, das quais é imprescindível destacar a fraternidade sobre o bebê que
possuí a genética de uma mulher e é gerado no ventre de outra (Mendes, 2006).
O método da barriga de aluguel se molda quando a gravidez ocorre em outro ventre
que não da mãe solicitadora e tal prática possui duas formas: em uma delas a mulher que
cederá o material genético e a gestação se dará no útero de outra mulher. O termo “barriga de
aluguel” caiu em desuso, sendo substituído pelo termo “maternidade por substituição”, pois o
uso da palavra “aluguel” conota fim lucrativo que é terminantemente proibido dentro do
processo de maternidade por substituição. O procedimento de pagar uma gravidez é um
problema moral, pois estaria comercializando uma vida e este não é o objetivo deste
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processo que deve ser solidário por parte alguém do meio familiar do sujeito que está
tentando a maternidade (Rodrigues, Rodrigues & Baiardi, 2014).
Perante o olhar da sociedade, o bebê concebido pelo meio desta prática teria duas
mães, a biológica que cederá a matéria genética e a mulher que gera a criança dentro do seu
útero, possuindo o papel de “casulo” onde o feto se desenvolve. Em alguns casos, podemos
observar que, o “empréstimo” do útero é feito por algum membro do meio familiar dos
sujeitos solicitantes, sendo alguma irmã, avó ou mãe de algum dos cônjuges e, partindo
disso, surge o contexto bioético, pois a prática de “barriga de aluguel” encara diversos
contratempos diante do moralmente aceito, do ético e até mesmo no âmbito judicial. Deste
modo é natural que o tema gere debates no corpo social, procurando solucioná-los a partir
dos preceitos dos direitos humanos e tendo isso como ponto chave do debate. Se estabelecido
algum tipo de acordo ligado ao empréstimo do útero, isso só se dará a partir de um vínculo
familiar entre casal solicitante e a mulher que cederá o útero, com isso evitando qualquer tipo
de comercialização da utilização do ventre alheio (Borges, 2012).
Esses métodos interferem na forma como as pessoas são criadas e este modo até
pouco tempo apenas era utilizado em raros casos decorrentes no ocidente, sendo mais
comum o ato sexual. Com a delegação da reprodução do sistema do casal e colocando isto no
campo laboratorial, esse método só tende a crescer para as novas tecnologias. O contexto
familiar é o arranjo regulador da constituição da família, pois é o que une perspectivas
biológicas e sociais da procriação na sociedade atual (Luna, 2001). Foi-se o momento em
que o bebê só vinha ao mundo por meios naturais e presidia a vinculação genética entre os
membros das famílias (Otero, 2012).
4. Metodologia
A elaboração desta pesquisa ocorreu a partir de fundamentos teóricos que não
prendessem foco em nenhuma corrente teórica especifica. Deste modo, foi realizada coleta
estudos em livros e bases de dados que pusessem em evidência o tema da maternidade por
substituição e as representações sociais. Podendo assim ser considerada uma pesquisa
bibliográfica. A pesquisa qualitativa tem como característica a investigação e a compreensão
da pesquisa com a realidade, deste modo, essa aproximação valoriza a ligação direta e
duradoura do investigador com o meio ambiente e o tema que está sendo estudado (Godoy,
1995). Para finalidade de estudo, foi realizada uma análise bibliográfica sobre o tema das
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representações sociais que evidenciaram quatro categorias de análise: mitos, ideologia,
ciência e religião.
5. Discussão
Quando falamos sobre inovações na área de reprodução humana, podemos começar a
falar em expandir as expectativas a fim de ajudar os indivíduos que desejam ter filhos e não
conseguem por métodos naturais. Essa área que envolve as novas técnicas de reprodução
humana vem crescendo no decorrer dos anos e, deste modo, foram crescendo diversos
métodos e, partindo disso, os sujeitos foram tomando um conhecimento maior sobre esta
área. Com o desenvolvimento desses novos métodos, eles foram gerando diversos
questionamentos em vários campos a serem discutidos e analisados, sendo eles: os mitos
sociais, a ideologia, a ciência e a religião. Diante dos campos citados acima, podemos
debater como eles influenciam a vida dos sujeitos que procuram estes métodos de
inseminação artificial ou a gravidez por substituição.
5.1.Mitos
Todos vivemos em um grande enredo de anseios em relação à maternidade. De
forma inconsciente, esse enredo nos vincula a uma rede simbólica que vai muito além da
biologia, ou seja, abre um leque de descobrimentos no que diz respeito ao que é família para
este sujeito que, a partir deste passo, alcança espaço como um ser completo (Farinati, 2009).
O autor traz que a família, bem como o desejo de ser mãe e pai, está consolidada de forma
inconsciente e que as representações sociais das quais fizemos parte tornam o sujeito
aprisionado nesta trama que é a maternidade. Deste modo, propõe que possamos olhar de
forma diferente para o ditado “pai é quem cria” e não aquele que gera de forma natural e,
assim, poder oferecer segurança e amor para aquele indivíduo que por muitas vezes é tão
esperado em algumas famílias.
Diante do exposto pelo autor citado acima, Spink (1993) ressalta que essas
representações sociais são geradas com base em fundamentos intelectuais como: as figuras,
definições, classes e princípios, mas isso não se define apenas na mente do sujeito. Os mitos
sociais são construídos juntamente com a organização da sociedade, edificando-se a partir de
um senso comum. Sendo assim, os mitos sociais são fundamentais, são eventos sociais e
devemos entendê-los levando em consideração a realidade de cada sujeito. A partir disso,
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* Glaucia Falcão de Almeida, IMED, Passo Fundo, RS.
questiona-se se este ser mãe com forte auxílio da ciência pode ser comparado com o ser mãe
no âmbito da natureza.
A figura de mãe e pai não são apenas as posições de maternidade e paternidade
biológica ou judicial, mas fatos vindos da cultura e do ambiente de cada sujeito (Abrahão,
2003). Abrahão defende que ser pai ou mãe não se reduz a fatores biológicos, mas é algo da
cultura na qual esse sujeito está inserido, bem como algo vindo de seu ciclo familiar, pois
podemos ver que quando estes sujeitos se tornam pais, sentem isso como algo que os torna
completos. Entretanto, nos dias de hoje, isso não é primordial para muitos que, por sua vez,
vão postergando esse ritual e, deste modo, o tempo passa trazendo o envelhecimento dos
sujeitos e, com ele, a dificuldade de se tornar mãe de forma natural. Estas pessoas que já
sofrem a pressão do seu círculo familiar em se tornarem pais, além da pressão da sociedade
para que aquele sujeito que, por muitas vezes, ainda não se casou venha a tornar-se pai e o
medo de que quando envelhecer não terá ninguém para cuidá-lo faz com que eles procurem
a maternidade por substituição ou a inseminação artificial.
5.2.Ideologia
É fundamental refletirmos sobre as associações entre as novas técnicas de reprodução
e suas respectivas formas de consumo, sobre o que ocorre com as mulheres e homens que
não tem convivência com essas novas tecnologias. Existem sujeitos que não tem condições
orgânicas de gerar seu próprio filho ao passo que outras pessoas geram seus filhos sem
nenhuma dificuldade física ou financeira, existindo assim uma discrepância no âmbito
social. Como vivemos em um país onde existem várias classes sociais e tendo um estado
denominado laico, ainda podemos ver que essas novas técnicas de reprodução não atingiram
todos os públicos, fazendo com que se torne ilegal ou não contemplando a todos que
desejam um filho. Como também podemos ver que não depende da condição financeira do
sujeito para que um filho seja cuidado de forma suficientemente boa, mas sim ter o respeito
com aquela vida nova que ingressará na família.
Essas novas técnicas de reprodução humana acarretam em um encontro junto aos
comportamentos da sociedade, abrindo novos caminhos para enfrentar estes novos conceitos
e paradigmas no contexto dos povos. Sabemos que muitas coisas mudaram sobre as
tecnologias, o que provocou mudanças nas práticas sociais de gênero, entretanto, deve-se
indagar o que realmente mudou na essência daquilo que se é considerado como maternidade
ou paternidade. Dizemos que a mudança teve sua fonte, acima de tudo, na família, pois ser
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* Glaucia Falcão de Almeida, IMED, Passo Fundo, RS.
pai ou ser mãe independe de configuração familiar, não existindo mais papéis fixos na nossa
sociedade. As implicâncias que envolvem as novas tecnologias de reprodução e maternidade
de substituição são vastas e têm motivado várias discussões e debates públicos, bem como
alguns impasses éticos, diante destes métodos de congelamento dos embriões e as
inseminações (Vitule, Couto & Machin, 2015).
O desenvolvimento científico e das técnicas de reprodução trouxeram enorme
expectativa de uma possível efetivação de um sonho intrínseco de se tornar pai e mãe e
então, a partir disso, vimos que algumas mulheres optam em se tornar mães através das
reproduções assistidas por causa das possibilidades naturais não terem dado certo, seja por
causa de uma condição de infertilidade ou pela ausência de um parceiro e procuram ser mães
ou pais independentemente. Essas novas tecnologias trazem consigo um objetivo primordial:
conceder àqueles indivíduos o desejo de serem pais, satisfazer aqueles anseios que foram
criados pela sociedade com o uso desses métodos de reprodução para combater as
inocorrências do corpo humano (Borges, 2012).
Questiona-se se seria possível tomar as reflexões feitas em outros contextos culturais
sobre as novas técnicas reprodutivas diante dos significados que elas têm e terão no contexto
do sistema brasileiro. Com isso, considera-se que por vivemos em um mundo onde existem
bilhões de pessoas e com elas diversas culturas e raças, aqui no Brasil, como em diversos
outros países, alguns métodos de reprodução ainda são considerados ilegais caso haja
recompensa em dinheiro para sua utilização. O Direito de família é uma área do Direito que
tem sofrido muitas mudanças ao longo do tempo, inclusive no Brasil e, apesar do estatuto
fazer parte dos mais antigos da humanidade, esses novos conceitos são diversos em plena
evolução e são totalmente diferentes ao antigo conceito de família tradicional (Abrahão,
2003).
Devido à constante evolução do conceito de família, esta vem saindo gradativamente
da estruturação mãe-pai-filhos e se distanciando das antigas alianças e parentesco, criando-
se um pluralismo que deixa o entendimento de família tradicional e parte para a concepção
afetuosa dos seus membros (Abrahão, 2003). Essa família anteriormente era apenas
conhecida no âmbito social quando era sacramentado o casamento e, com essas mudanças
sociais e econômicas, passando do singular para a pluralidade (Abrahão, 2003). Por esse
contexto familiar ter se modificado, como exposto por Abrahão, as pessoas também têm
buscado diversas formas para conceber seus herdeiros e, como por muitas vezes não existe
um casamento formal, essas pessoas buscam se utilizar destas técnicas para poder constituir
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* Glaucia Falcão de Almeida, IMED, Passo Fundo, RS.
família fora do modelo tradicional mãe-pai-filhos, mas sim concebendo sua própria família e
tendo os mesmos direitos de qualquer outro casal ou família.
Pensando nisso, vimos que a família nuclear vem mudando desde o século passado,
considerando que estas famílias que eram formadas há mais de 30 anos vinham de um
casamento, desde o civil ao religioso e com essa relação vinham os filhos de forma natural
(Borges, 2012). Como pontuam Borges e Abrahão, aquela família que vimos há tanto tempo
atrás hoje se configura de forma diferente e, com isso, mudou também a visão de
contemplação dos seus herdeiros, tirando o foco do círculo familiar tradicional e visando a
contemporaneidade. Esta contemporaneidade incorpora as novas tecnologias de reprodução
e se unifica com a maternidade de substituição, pois elas fazem parte desta nova
configuração do que é família.
Esta relação de família, contemporaneidade e ideologia, complementam uma a outra
e juntas adentram o campo da ciência, das tecnologias e isso tem possibilitado a dissipação
destes serviços. A reprodução assistida, juntamente com esses serviços influenciam a
fantasia dos indivíduos que acreditam que os métodos de reproduções são uma abertura
latente para o desejo por uma prole (Vitule, Couto & Machin, 2015).
5.3.Ciência e tecnologia
Quando exploramos a área das tecnologias, vimos que o mercado que a envolve é um
mercado em ascensão, pois devido à correria do dia a dia em que vivemos e precisamos por
muitas vezes de uma praticidade para não sofrermos com as pressões diárias. Vivemos em
um mundo competitivo não só nas questões que envolvem o nosso trabalho, mas na vida
social e na vida privada e, com isso, muitas mulheres que trabalham o dia todo e que buscam
por uma qualificação na carreira acabam deixando a questão da maternidade para outro
momento da vida e muitas passam dos 35 anos sem nunca tentar engravidar. Hoje em dia as
mulheres têm focado mais na carreira e com isso o tempo vai passando e pressionando essas
mulheres que dentro do imaginário social têm de ser mães de qualquer maneira.
Muitas mulheres não se sentem inférteis e só descobrem a infertilidade quando
buscam ter filhos, entretanto, a fim de pontuar as possíveis causas desta infertilidade se faz
necessária uma avaliação minuciosa sobre cada caso. Contudo, não podemos apenas pensar
em infertilidade como única causa para o não ter ou não querer filhos, afinal existem várias
mulheres no mercado de trabalho e que afirmam não ter tempo ou desejo para a
maternidade.
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* Glaucia Falcão de Almeida, IMED, Passo Fundo, RS.
Leonardo e Nodin (2005) relatam que alguns cônjuges planejam formar uma família
tratando isso detalhadamente e investindo primeiramente na carreira, no seu lar e financeiro,
apontando um momento propício para constituir uma família. A realidade é que nos dias de
hoje vimos muito mais mulheres que vivem em outro momento cultural ao invés de
mulheres fisiologicamente inférteis. Deve-se deixar claro que mesmo estas mulheres podem
ser seduzidas pelo discurso da facilidade de ter um filho e estas procuram as clínicas apenas
após três ou quatro meses de tentativas frustradas de engravidar pelos métodos naturais.
Podemos ver nas clínicas de fertilização a facilidade de ter um filho hoje em dia, o que faz
com que as mulheres acreditem que não há mais nenhuma barreira que as impeça de ter um
filho. As nossas mulheres estão vivendo cada dia mais em ascensão, pois saíram de trás dos
seus maridos e foram buscar novos horizontes, tais como trabalhar fora, sustentar uma casa
sozinha e ser mãe independente. Essas mães independentes, por muitas vezes buscam o seu
sucesso profissional e depois pensam em formar sua família, o que pode ocorrer tanto pelo
método tradicional ou através de uma inseminação artificial.
Abrahão (2003) argumenta que essas técnicas de inseminação artificial, quando
usadas em mulheres sozinhas, tendem a ser um trabalho mais cuidadoso e este lado do tema
tem sido muito discutido em debates entre os médicos, psicólogos e profissionais do
jurídico. Eles tentam buscar compreender quais questões estão envolvidas para que se possa
amparar psicologicamente, fisicamente e judicialmente essa nova família em construção.
Existe, ainda, um simbolismo que entrelaça o tema da infertilidade, associados por
muitas vezes a questões de uma cisão entre bem e mal. Muitos dizem que há uma correlação
entre o pecado e a infertilidade e pontuam que quando se é fértil está no lado do bem. Vimos
em alguns contextos expressões como “autor tem ideia fértil” ou “a terra é estéril” por não
ser útil ao homem. Mesmo com toda a evolução da tecnologia, a sociedade ocidental cristã
ainda relaciona o ser infértil com a vontade divina, ao “foi assim que Deus quis” (De Souza,
2009). Sendo assim, mesmo tendo todas as possibilidades de serem pais, independentemente
se de forma natural ou não, como De Souza afirma, alguns povos creem que essa tecnologia
iria contra a vontade divina.
5.4.Religião
Quando entramos para o campo da religião, vimos que algumas religiões se
demostram a favor da inseminação assistida sob a condição de que não se pode utilizar
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* Glaucia Falcão de Almeida, IMED, Passo Fundo, RS.
material genético de uma terceira pessoa para a efetivação do mesmo. A igreja católica ainda
é contra quaisquer métodos que não a forma natural, gerando certa angústia naqueles que
buscam algo para se sentirem completos, sendo pais ou tendo um emprego perfeito. Sendo
assim, fica claro que a religião tem pleno poder de interagir na escolha de novos métodos de
reprodução humana como, por exemplo, a maternidade por substituição. Nos anos de 1970,
existia uma preocupação de que os cientistas quisessem imitar da dádiva de Deus em
construir a vida sem ser pelo método natural de reprodução. Isto indagava os religiosos e
quem pressupunha as questões éticas na sociedade (Meira, 2008). A religião exercia um
papel importante nesse processo, como apresentado por Araújo e Moura (2005) na fala de
algumas mulheres que diziam que se é a vontade de Deus que não pudessem ter filhos, que
assim fosse, ou seja, trazendo Deus e sua vontade em várias falas, bem como o valor da
religiosidade para um conforto diante da dificuldade orgânica ou criando em uma divindade
uma espécie de bode expiatório portador de toda a culpa das falhas do método natural ou da
técnica de inseminação malsucedida.
Isso significa que existe um receio diante da concepção da vida, em outras palavras,
por um lado a sociedade impõe que se tenha filhos, enquanto por outro lado você precisa
trabalhar para poder se constituir sujeito perante essa sociedade e, consequentemente
gerando um impasse, pois ou você trabalha para ter um bom futuro ou você gera um filho
para satisfazer a vontade do ambiente onde você vive. Por isso existem muitas mulheres não
tendo tempo e deixando essa vontade de lado, acarretando a procura de outros métodos de
gestação ou adoção anos mais tarde. Quando a adoção não é bem sucedida, o seguinte passo
geralmente está em buscar a inseminação artificial, porém muitos não têm condições de
bancar este procedimento devido ao seu elevado custo, então buscam a maternidade por
substituição como uma saída mais viável para a resolução do conflito, porém como algumas
religiões não aceitam o material genético de um terceiro. Essas mulheres se veem
aprisionadas na religiosidade ou na sua cultura que não permite determinados métodos,
entrando no âmbito do pecado.
As religiões têm grande ênfase e poder quando usadas para explicitar e realizar a
união entre as áreas racionais, emocionais, sensitivas e intuitivas (Véras, Vieria & Morais,
2010). A religião só tem poder quando damos poder a ela, mas reforçamos que a conduta
humana é a definidora dos rumos das novas expectativas da reprodução assistida. A própria
religião alimenta a ideia de que podemos buscar a felicidade e a realização e, por isso,
podemos usá-la em benefício da humanidade. Se nossa felicidade é sermos pais e
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* Glaucia Falcão de Almeida, IMED, Passo Fundo, RS.
necessitamos utilizar a maternidade ou a inseminação para nos sentirmos completos temos
todo o direito de fazê-lo, pois somos nós quem fazemos nossas escolhas.
6. Considerações Finais
É possível concluir que os principais achados do estudo foram que as representações
sociais influenciam as pessoas, o ambiente e suas vidas, pois agem como um formador de
comportamento. Com isso, o estudo apresentou que as representações sociais se dissipam
em quatro partes: mitos, ideologia, ciência e a religião. Deste modo, quando falamos em
mitos sociais, os mesmos reforçam que ser mãe no contexto dessas novas formas de
maternidade significa que ser mãe vai além do vínculo sanguíneo. O significado ultrapassa
essas barreiras e também anda por outros caminhos, fazendo com que aquele indivíduo que
procura ser pai-mãe, não fique apenas no desejo e concretize a sua vontade.
A partir do tema estudado pode-se refletir que as formas de consumo dessas novas
técnicas, tanto a maternidade de substituição como a inseminação artificial são bastante
complexas, pois estas esbarram na desigualdade social que no nosso país apresenta. Essa
desigualdade faz com que poucos tenham acesso a estes métodos, pois tratam-se de métodos
caros e que, por sua vez, alguns planos de saúde não arcam com tais despesas. Partindo deste
conceito, compreende-se que estas técnicas são praticamente iguais em todos os países, mas
como elas funcionariam, sua burocracia, leis e questões que envolvem a seu reflexo perante
a sociedade variam de país para país. Sendo assim, a maternidade por substituição no nosso
sistema brasileiro pode gerar algum desconforto nas famílias que procuram esta forma de
gestação, já que a barriga de aluguel não é legalizada, mas apenas aceita quando todos os
métodos de gestação ou adoção não tiveram o seu sucesso. A barriga de aluguel ainda requer
uma permissão do Conselho Federal de Medicina para assim ser realizada e aceita
judicialmente, assim, sem esta permissão ela se torna ilegal e, além disso, não pode haver
nenhum tipo de ganho financeiro envolvido no processo. Diante deste fator, fica clara a
razão para que o termo barriga de aluguel tenha caído em desuso, pois entende-se que a
palavra “aluguel” implica em receber dinheiro pelo empréstimo de algo, o que vai contra um
de seus preceitos, como pode ser visto na resolução do CFM, de que tal ato deve ser
totalmente generoso e a doadora do útero não deve ter nenhum tipo de gratificação e deverá,
ainda, ter vínculo sanguíneo com o sujeito que solicitou a utilização do método.
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* Glaucia Falcão de Almeida, IMED, Passo Fundo, RS.
Finalmente, por mais que este tema venha ganhando força, há uma inegável
necessidade de que este seja mais debatido e, com isso, não há dúvidas de que o estudo da
maternidade por substituição merece e necessita de mais pesquisas empíricas e teóricas no
que diz respeito a questões mais abrangentes e focados não apenas na parte fisiológica e sim
na sociedade, pois esse corpo social vive e cultiva estas questões em seu imaginário e no seu
inconsciente coletivo, gerando tabus em relação à maternidade por outrem. Uma vez que
este estudo teórico teve sua concentração nas representações sociais da maternidade,
houveram algumas limitações, pois ainda se trata de um tema em constante
desenvolvimento, resultando em uma carência em encontrar, nos bancos de dados teóricos,
uma análise empírica com profissionais da saúde e, principalmente, com psicólogos que
abordassem a questão do trabalho a ser realizado com estas famílias que procuram a “barriga
de aluguel”. Assinalo, por fim, a indicação de uma futura análise junto aos profissionais da
saúde e, diretamente, aos profissionais psicólogos para que se possa pensar em quais seriam
suas possíveis linhas de atuação e intervenções nesse campo em crescimento, visando o
auxílio ao sujeito que necessita da maternidade por substituição.
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