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1 FACULDADE INTEGRADA DE SANTA MARIA - FISMA CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO II Renata Oliveira Poschi ADOLESCENCIA E USO DE DROGAS: UMA CARTOGRAFIA DOS MATERIAIS INFORMATIVOS SOBRE O USO DE MACONHA DISPONÍVEIS NA INTERNET Santa Maria, RS, Brasil 2016

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FACULDADE INTEGRADA DE SANTA MARIA - FISMA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO II

Renata Oliveira Poschi

ADOLESCENCIA E USO DE DROGAS: UMA CARTOGRAFIA

DOS MATERIAIS INFORMATIVOS SOBRE O USO DE

MACONHA DISPONÍVEIS NA INTERNET

Santa Maria, RS, Brasil

2016

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Renata Oliveira Poschi

ADOLESCENCIA E USO DE DROGAS: UMA CARTOGRAFIA

DOS MATERIAIS INFORMATIVOS SOBRE O USO DE

MACONHA DISPONÍVEIS NA INTERNET

Trabalho apresentado para avaliação na

disciplina de Trabalho de Conclusão de

Curso II, apresentado ao Curso de

Psicologia da Faculdade Integrada de

Santa Maria (FISMA).

Orientador: Prof. Me. Douglas Casarotto de Oliveira

Santa Maria, RS, Brasil

2016

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FACULDADE INTEGRADA DE SANTA MARIA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso

de Psicologia:

ADOLESCENCIA E USO DE DROGAS: UMA CARTOGRAFIA

DOS MATERIAIS INFORMATIVOS SOBRE O USO DE

MACONHA DISPONÍVEIS NA INTERNET

Elaborada por:

RENATA OLIVEIRA POSCHI

como requisito parcial para obtenção do grau de Psicólogo.

COMISSÃO EXAMINADORA:

__________________________________________________________

Prof. Ms. Douglas Casarotto de Oliveira - FISMA (Orientador)

__________________________________________________________

Prof. Dr. Guilherme Carlos Corrêa – UFSM

__________________________________________________________

Prof. Ms. Vânia Fortes de Oliveira – UNIFRA

__________________________________________________________

Prof. Ms. Guilherme Corrêa – FISMA

Santa Maria, dezembro de 2016.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que de algum modo incentivaram e me acompanharam durante este

percurso.

Imensuravelmente, agradeço à minha família por todo o suporte, em especial a meus

pais Dionisio e Jocenir, não só pela educação e ensinamentos que me deram durante

toda minha vida, mas também por sempre me apoiarem em minhas decisões e estarem

do meu lado todas as vezes que precisei, foram vocês que me possibilitaram chegar até

aqui onde estou, eu amo vocês!

Agradeço aos meus amigos e também às minhas colegas, que me acompanharam

durante todo este trajeto, o apoio e companheirismo de vocês foi fundamental para que

eu continuasse em frente.

Agradeço de forma geral a todos os professores que transmitiram seus conhecimentos

durante este tempo de formação, e também a equipe de funcionários da FISMA que

inúmeras vezes estiveram disponíveis para me auxiliar.

Por fim, agradeço ao meu orientador Douglas, pela disponibilidade para trocas,

aprendizado e principalmente pela paciência durante a construção deste trabalho, muito

obrigada!

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RESUMO

Este artigo apresenta a pesquisa realizada a respeito do material sobre o uso de maconha

disponível na internet para adolescentes, cujo território de pesquisa foram quatro sites,

dois de conteúdo considerado não proibicionista e dois considerados proibicionistas.

Essa pesquisa buscou problematizar que tipo de material está disponível para os

adolescentes na internet e a maneira como aborda o tema maconha. Para isto utilizou-se

o método cartográfico, sendo que para produção de dados foi utilizado o diário de

campo, construído a partir da análise das publicações encontradas nos sites ao pesquisar

o descritor “adolescente” na barra de buscas. Como aportes teóricos que direcionam o

olhar da pesquisadora, se fez importante trazer as noções sobre drogas, Proibicionismo,

Reforma Psiquiátrica, desinstitucionalização e Redução de Danos, as quais são

imprescindíveis para o entendimento da temática abordada neste trabalho. Como

conceitos ferramentas para a análise dos materiais, foram utilizados as noções de análise

de implicação e analisador, oriundas do Movimento Institucionalista. A partir do

material analisado, pode-se perceber o quanto ainda é difícil tratar sobre o tema uso de

drogas para adolescentes, e como essas informações chegam das mais variadas formas

para os mesmos, que sem a devida orientação, acabam “perdidos” em meio a tantas

informações de conteúdos opostos.

Palavras-chaves: Drogas. Proibicionismo. Maconha. Adolescente.

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ABSTRACT

This article show the research made about the use of marijuana available on the internet

for teenagers, whose territory of research were the four sites, two not considered of

prohibitionist content, and two considered others considered prohibiotinist. This search

looked for to problematize what kind of material is available for teenagers on the

internet and a way to approach the marijuana issue. For this the cartographic method

was used, and for the production of data, the field diary were constructed from the

analysis of the publications found in the sites to search the descriptor "teenager" in the

search bar. As theoretical contributions that direct the look of the researcher, it is

important to bring the notions about drugs, Prohibitionism, Psychiatric Reform,

deinstitutionalization and Harm Reduction, as they are essential for the understanding of

the topic addressed in this study. The concepts for the analysis of the materials, they

were used the analysis and analysis, originating from the Institutionalist Movement.

From the material analyzed, can see how difficult it is to deal with the topic of drug use

for teenagers, and how information comes in a variety of forms for teenagers, who,

without proper guidance, end up "lost" amid so much information of opposing contents.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 8

1.1. UMA NOÇÃO SOBRE DROGAS .............................................................................. 9

1.2. O PROIBICIONISMO ............................................................................................... 10

1.3. A REFORMA PSIQUIÁTRICA E O CUIDADO DO USUÁRIO DE MACONHA

.................................................................................................................................... 13

2. PERCURSO METODOLÓGICO ............................................................................... 16

2.1. PRODUÇÃO DE DADOS ....................................................................................... 17

2.2. ANÁLISE DE DADOS ............................................................................................ 18

3. RESULTADOS .............................................................................................................. 19

3.1.MATERIAIS PARA ADOLESCENTES? ................................................................ 19

3.2. ORÓTULO: USUÁRIO DE DROGAS. .................................................................. 26

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 31

REFERENCIAS .............................................................................................................. 33

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1. INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta uma pesquisa acerca de como o tema “uso de maconha” é

disponibilizado para adolescentes por meio da internet. Para essa construção, optou-se

pela utilização do métodos cartográfico, onde foi possível a partir da produção de um

diário de campo das pesquisas em sites com conteúdos proibicionistas e não

proibicionistas, transformar em linguagem os afestos que dizem desta produção

conjunta. Suely Rolnik (2007) nos traz a cartografia diferentemente dos mapas

geográficos estáticos, mas como um mapeamento dos movimentos de transformação,

que acompanha e se faz ao mesmo tempo que o desmanchamento de certos mundos –

sua perda de sentido – e a formação de outros: mundos que se criam para expressar

afetos contemporâneos em relação aos quais os universos vigentes tornam-se obsoletos.

Para contextualizar o projeto e justificar sua relevância serão abordadas três linhas

que delimitam o problema apresentado: uma noção sobre drogas, o proibicionismo e a

Reforma Psiquiátrica e o cuidado com o usuário de maconha.

O interesse pelo tema para o desenvolvimento do seguinte trabalho se deu a partir da

experiência em um Projeto de Extensão como Acompanhante Terapêutica (AT) em um

Centro de Atenção Psicossocial (CAPS Ad) especializado no atendimento de usuários

de álcool e outras drogas. O AT investe em nomadismo e fornece segurança ao

acompanhado por estar inserida no próprio sistema de sua vida em sociedade.

(FINOTELLI JUNIOR, 2012).Conforme Oliveira (2013)o acompanhamento

terapêutico, tem como principais características: desacomodar,desestabilizar, produzir

diferença, considerando a delicadeza de respeitar o sujeito, os seus limites e seu tempo.

Nessa prática, foi possível conversar sobre o tema uso de maconha, tanto com usuários

da droga como com familiares, e observar diferentes perspectivas sobre o assunto, as

quais muitas vezes dificultam um dialogo entre as famílias e os adolescents. Além

disso, outro fator que influenciou na escolha do tema foi a partir de experiências

pessoais envolvendo os preconceitos relacionados aos usuários de drogas ilícitas, como

por exemplo, o fato de presenciar abordagens policiais a usuários de maconha e o

preconceito sofrido por eles por conta de estigmas já enraizados na sociedade atual.

Sendo assim, o problema de pesquisa é focado em “como o tema “uso de

maconha” é disponibilizado a adolescentes em materiais informativos oriundos da

internet?”, tendo como objetivo geral problematizar o conteúdo dos materiais que

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abordam o tema “uso de maconha” disponíveis a adolescentes na internet, a partir dos

saberes oriundos do campo da Reforma Psiquiátrica, e como objetivos específicos,

descrever os materiais pesquisados em sites da internet, que se colocam a partir de uma

perspectiva considerada proibicionista e não proibicionista relativo ao tema “uso de

maconha entre adolescentes”, e problematizar o conteúdo dos materiais encontrados a

partir das noções de redução de danos e clínica ampliada.

1.1. UMA NOÇÃO SOBRE DROGAS

Exposto o problema e os objetivos da pesquisa, é imprescindível apresentar uma

visão sobre as drogas que contribua para o leitor a fazer uma reflexão sobre o tema a

partir de diferentes ângulos. Para isso, as observações sobre drogas que serão expostas

foram concebidas a partir de pesquisas descritas no livro denominado “O Livro das

Drogas: Usos e Abusos, Desafios e Preconceitos” (1997), realizadas pelo sociólogo

espanhol Antônio Escohotado.

Anteriormente à implementação das leis repressivas, o mais cabível como

definição geral sobre drogas era a palavra grega phármakon, como uma substância que é

simultaneamente remédio e veneno. Paracelso, um estudioso suíço-alemão, já dizia que

“somente a dose faz de alguma coisa um veneno”. Na atualidade, pouco se considera o

conceito científico da palavra. Discute-se sobre drogas e remédios, substâncias decentes

e indecentes, drogas boas e más, medicamentos curativos e delituosos. A ação particular

de cada composto é desprezada, e a partir dessa ignorância reincidem pensamentos

distintos à ação de uns e outros. Escohotado (1997, p.36) descreve que:

Talvez seja ainda mais decisivo lembrar que se qualquer droga se constitui

em um veneno potencial ou um remédio potencial, o fato de ser nociva ou

benéfica em um determinado caso depende exclusivamente de: a) dose; b)

objetivo do uso; c) pureza; d) condições de acesso a esse produto e modelos

culturais de uso. A última circunstância é extrafarmacológica, ainda que

tenha atualmente um peso comparável às circunstâncias farmacológicas.

Partindo deste ponto de vista, é impossível conferir um caráter especialmente

negativo às drogas. É preciso que elas sejam vistas de maneira despersonalizada para

que se possa considerá-las como remédio e como um veneno, isto é, sem o emprego de

que elas tenham um caráter bom ou mau. Antes do controle médico sobre os

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psicoativos, esses eram utilizados a partir de práticas de automedicação, que de certa

forma se mantém ainda hoje com o uso de drogas ilícitas e mesmo com o uso das lícitas

de acordo com as inclinações pessoais, sem o seguimento da prescrição médica

(ESCOHOTADO, 1997).

Para Escohotado (1997), há uma classificação que fala sobre drogas “fatalmente

aditivas” e drogas que “somente criam o hábito”. Em 1953, o médico A. Parot sugeriu

fazer a distinção entre os irrelevantes costumes familiares em relação a algumas

substâncias inofensivas de utilização habitual (café, tabaco, álcool, soníferos) e as

grandes toxicomanias (ópio, cocaína, maconha). Constatou-se que as substâncias

“criadoras de pequenos hábitos familiares” e consideradas “inofensivas” são

responsáveis por milhares de dependências, lesões e até mortes do que as ocasionadas

nas “grandes toxicomanias”.

A maconha, ou cânhamo, é um arbusto natural que atinge até três metros de

altura. Eschotado (1997 p.199) relata que “os machos, de difícil diferenciação das

fêmeas antes da floração, têm quantidades mínimas do princípio psicoativo,

tetrahidrocanabinol ou THC, e costumam ser arrancados antes de expulsarem o pólen

para que as fêmeas produzam a variedade mais potente e de uso mais cômodo,

conhecida como „camarão‟”. Além disso, o autor afirma que “não se conhece nenhum

caso de pessoa que tenha sofrido intoxicação aguda ou mortal por via inalatória, dado

bastante considerável quando se leva em conta o elevado número de usuários

cotidianos” (ESCOHOTADO, 1997 p.200).

1.2. O PROIBICIONISMO

A primeira regulamentação sobre drogas psicoativas no Brasil foi no ano de

1851. Rodrigues (2004) descreve que as mesmas já eram vistas como ameaçadoras à

saúde coletiva. Nesta versão do regulamento, as substâncias psicoativas e as substâncias

tóxicas sem caráter psicoativo estavam agrupadas e eram consideradas como venenos

para os usuários. Esta noção se reforça ainda mais no código penal de 1890, onde

comercializar ou misturar substâncias venenosas sem o consentimento e as formalidades

previstas pelas regulamentações sanitárias passou a ser considerado como crime contra

a saúde pública. Aos usuários, ainda pouco se notava os efeitos dessas regulamentações.

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Rodrigues (2004) menciona que entre o fim do século XIX e as primeiras

décadas do século XX, nos Estados Unidos, o uso de drogas psicoativas fazia parte da

cultura de povos imigrantes, diferentemente do Brasil, onde o uso de drogas psicoativas

era restringido às elites e às prostitutas, e era tido como elegante, sendo um hábito

incorporadoda cultura européia. Os psicoativos mais comumente utilizados eram o ópio,

lança-perfume, éter e a cocaína. Então, “o Estado toma a dianteira na construção da

sociedade disciplinada” (RODRIGUES, 2004 p. 128) por meio de instrumentos

enérgicos como as normas de controle sanitário, onde o saber médico começa um

processo de institucionalização.A partir de tais normas, o Estado passou a ser o único a

regulamentar sobre as políticas de saúde pública e sobre as drogas.

A primeira regulamentação específica sobre drogas psicoativas no Brasil foi no

ano de 1921, até então progressivamente os médicos foram tendo a liberdade de receitar

psicoativos limitada e direcionada pelo Estado, com fundamento nos regulamentos

sanitários que estabeleciam dosagens e aplicações. Dessa forma, cada vez mais era

estipulado um controle sobre os usos de psicoativos não medicinais. O desejo pelas

drogas e o uso recreativo começavam a ter dispositivos de regulação, porém não havia

ainda a proibição, e continuavam sendo utilizadas pelas mesmas elites em lugares

típicos como “prostíbulos finos e fuméries sofisticadas” (RODRIGUES, 2004 p.129).

Além do mais, a morfina, heroína, cocaína, éter e ópio eram fabricados por potentes

laboratórios farmacêuticos, sendo importados da Europa e Estados Unidos, portanto,

não havia produção ilegal das drogas no Brasil. Os psicoativos, além do uso recreativo,

circulavam também com fins terapêuticos, pois tinham qualidades medicinais aceitas.

Os mesmos eram traficados pelos profissionais da saúde, como médicos, dentistas e

farmacêuticos, basicamente por meio da falsificação de receitas e desvio de

medicamentos. Mesmo com esta prática, a própria classe médica não se interessava pelo

uso idôneo de drogas, sendo que este acabava por ultrapassar o seu controle ao ser

vendido de maneira ilegal. Daí então, o seu apoio à constituição de leis proibicionistas.

A repulsa a qualquer utilização de forma não médica assegurava o monopólio do

manejo com os psicoativos. Sendo assim, com as normas sanitárias, criava-se

necessidade de todo uso de drogas psicoativas serem chanceladas pelo Estado e pelo

poder médico (RODRIGUES, 2004).

Carlini (2006) afirma que a história da maconha no Brasil tem início juntamente

com a descoberta do país, sendo trazida pra cá pelos escravos negros. Séculos após o

surgimento no país ela foi popularizada entre intelectuais franceses e médicos ingleses

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do exército imperial na Índia, passando assim a ser utilizada como um poderoso

medicamento eficaz para o tratamento de muitos males.

Segundo Carlini (2006), em 1920, nos Estados Unidos, inicia-se o abuso da

maconha, mesma época em que a potencialidade do excesso de outras drogas como

heroína e cocaína foi estudada e divulgada. Sendo assim, acreditou-se que a maconha

era igualmente perigosa e tivesse a mesma capacidade de causar vício, levando à

classificação errônea como narcótico.

Ainda para Carlini (2006), na mesma década, no ano de 1924, tem início a

perseguição à maconha no Brasil, onde após a II Conferência Internacional do Ópio, em

Genebra, o delegado brasileiro Dr. Pernanbuco afirma que “a maconha é mais perigosa

que o ópio”, diante das delegações de outros 45 países. Porém, é a partir de 1930 que a

perseguição policial aos usuários da maconha se torna mais intensa, ainda como

consequência da II Conferência.

“A proibição total do plantio, cultura, colheita e exploração por particulares da

maconha, em todo território nacional, ocorreu em 25 de novembro de 1938 pelo

Decreto-Lei nº 891 do Governo Federal” (FONSECA, 1980). Atualmente, no

Congresso Nacional, foi aprovado um projeto de lei que propõe a transformação da pena

de reclusão por uso ou posse de drogas em medidas administrativas.

Operando em primazia, a prática proibicionista acerca das drogas apresenta

desdobramentos que potencializaram o surgimento de diferentes situações não previstas,

dentre elas, a da criação e manutenção do narcotráfico, a da necessidade de criação de

drogas cada vez mais potentes e nocivas, as de violência ligadas ao tráfico, a de um

estigma ligado às pessoas que consomem drogas ilícitas, dentre outras (RODRIGUES,

2003, 2004). Desdobramentos que nem sempre são de fácil compreensão, dada a forma

como este discurso é enraizado através de diversos aparatos de apoio na sociedade.

Assim, perante essas situações pouco debatidas quando se fala em drogas, torna-se

importante um olhar mais atento ao discurso proibicionista acerca das drogas,

principalmente aos seus produtos.

Consolida-se a visão epidemiológica sobre a questão das drogas, punindo o

criminoso “viciado”, não com a pena tradicional do encarceramento comum,

mas com o tratamento de desintoxicação compulsório. Continua valendo a

lógica da recuperação ou da reabilitação do desviado, do marginal, mas as

drogas apresentam ao direito penal a oportunidade de se criar uma nova

categoria, a do “infrator doente”, cujo crime foi motivado ou incentivado

pelo vício; portanto, para que sua reinserção à sociedade seja possível, ele

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deve ser curado do mal físico, psíquico e social que o aflige (RODRIGUES,

2004, p. 152)

A regulamentação proibicionista afetou diretamente sobre a cultura de

determinados grupos que utilizavam drogas aos mais variados fins, tornando o que

anteriormente era um julgamento moral em um juízo ordenado pelo estado. O que

ficaevidente no início de um processo de regulamentação é que critérios racionais e

debates sobre o tema “drogas”, em seus mais variados aspectos, tiveram pouca

influência nas relações de força de onde emergiram as práticas direcionadas às drogas e

aos usuários.

Fazer uma associação de indivíduos às drogas utilizadas em função de sua

cultura, partindo de estereótipos negativos e preconceituosos foi ao encontro da função

de controle exercida pelo estado. A partir da proibição das drogas, criou-se um

dispositivo de controle a certas populações, que notaram a intensificação das

intervenções repressivas sobre seus hábitos e costumes, dentre eles, o de uso das

substâncias psicoativas. A partir da regulamentação, algumas tiveram que deixar de ser

consumidas, outras puderam continuar no mercado, mas somente consumidas com a

chancela do saber médico (RODRIGUES, 2003).

1.3.A REFORMA PSIQUIÁTRICA E O CUIDADO DO USUÁRIO DE MACONHA

Para Amarante (1995, p.23), ao investigar a natureza, estrutura e a

microssociologia das instituições psiquiátricas, as mesmas são definidas como

instituições totais, por conta do caráter fechado da maioria, onde assumem um

completo controle da vida dos pacientes, afastando-os de seus direitos fundamentais.

Quando se trata de instituições psiquiátricas, além da característica aprisionadora,

destacam-se pontos estigmatizantes, cronificantes e violentos de seu modo de lidar com

os pacientes internados.

Castel (1978) relata como o arranjo social de exclusão/assistência/filantropia é

adquirida pelo saber médico, formando um novo campo de governabilidade. Sendo

assim, caracteriza a forma como se da à constituição do objeto doença mental, a ser

abordada por este saber. Surge então, a medicina mental tendo uma “racionalidade

puramente fenomenológica”, ou seja, uma medicina voltada apenas para a detecção e

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extinção de sintomas e sinais.

A partir da situação desumana vivenciada pelos sujeitos em tratamento nesses

hospitais, Pitta (2011) relata que no fim da década de 1980 inicia-se a Reforma

Psiquiátrica brasileira, que é entendida como um complexo processo social, envolvendo

novos pressupostos éticos e técnicos, a convalidação jurídico-legal desta nova ordem e

a incorporação cultural desses valores para a mudança na assistência. A Reforma

ocorreu em tempos finais da ditadura militar, onde a sociedade estava em reconstrução

democrática, em um contexto de reforma setorial da saúde. Em 1987, ocorreu a I

Conferência Nacional de Saúde Mental, que pode ser considerada um marco inaugural

da Reforma. Anteriormente, no fim dos anos 70, o Movimento Nacional da Luta

Antimanicomial é organizado por diversos segmentos da sociedade ligados à luta

contra o regime militar, focados na busca por radicais modificações no âmbito

assistencial público, em uma saúde mental que excedia o modelo asilar em um sistema

de saúde que assegurava uma atenção universal.

Partindo então deste movimento da Reforma Psiquiátrica, iniciam-se programas

governamentais voltados a estas pessoas que estavam sendo desinstitucionalizadas,

considerando suas necessidades de estruturação e o fortalecimento de uma rede de

assistência focada na atenção comunitária vinculada à rede de serviços sociais e de

saúde, com ênfase na reabilitação e reinserção social destes usuários, como a Política

Nacional do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras

Drogas. Deve-se prezar ainda, que a atenção psicossocial a pessoas dependentes ou com

uso prejudicial de álcool e outras drogas deve ser baseada em uma rede de recursos

comunitários, integrada ao meio cultural e vinculados à rede assistencial em saúde

mental e aos preceitos da Reforma Psiquiátrica.

O marco legal da Reforma Psiquiátrica, que homologou de forma histórica as

diretrizes básicas que integram o Sistema Único de Saúde, foi o texto da Lei 10.216 de

06 de abril de 2001, onde assegurou aos usuários dos serviços de saúde mental, a

universalidade de direito e acesso à assistência, assim como à sua integralidade. O texto

preza pela descentralização do padrão de atendimento, ao decretar a estruturação de

serviços mais próximos do convívio social dos pacientes, dando ênfase às redes

assistenciais voltadas às desigualdades presentes nas comunidades, democratizando suas

ações às necessidades da população local. (BRASIL, 2003)

No entanto, a ausência/insuficiência histórica de políticas que proporcionem a

promoção e proteção social, de saúde e tratamento dos sujeitos que usam, abusam ou

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são dependentes de drogas são determinantes para o crescimento de suas

vulnerabilidades. Em contrapartida, ao definir o uso como “proibido”, a atual Lei

Criminal de drogas apresenta-se em circunstâncias desfavoráveis de acessibilidade à

saúde e a participação e organização dos usuários de drogas, tornando o uso algo

“condenável” e dificultando a busca dos usuários pelo serviço. Além disso, ao fazer a

divisão entre drogas lícitas e ilícitas, causa-se uma sensação de perigo e pânico na

presença daquelas substâncias designadas comoilícitas, ocorrendo até mesmo um

incentivo àquelas classificadas como lícitas. (BRASIL, 2003)

Nessa perspectiva, a abordagem da Redução de Danos possibilita um espaço

promissor, pois olha para o usuário levando em conta a sua singularidade, traçando

estratégias para lidar com o uso, primando pela vida do usuário, e não voltada à

abstinência e condenação do ato. O tratamento se volta para a responsabilidade do

usuário para consigo mesmo, aumentando seu grau de liberdade, porém, tudo isso só

acontece por meio do vínculo estabelecido entre os profissionais da saúde e os usuários,

onde eles traçam juntos o caminho a ser construído. (BRASIL, 2003)

Salienta-se a importância do desenvolvimento de ações de atenção integral aos

usuários de maneira diferenciada, considerando que grande parte do público alvo dessas

ações está inserido nas periferias, onde estão concentrados os denominados “cinturões

de pobreza”, com subsistemas sociais incluindo grupos organizados como drogas,

crimes, gangues, dentre outros. Ademais, tem também a inexistência de meios de

proteção à comunidade que direta e/ou indiretamente contribuem para o decrescimento

das vulnerabilidades dessa população, um exemplo do investimento que falta nas

comunidades é a implementação de iluminação pública e regularização da energia das

casas, saneamento básico, centros sociais e de lazer, jornadas duplas de escolaridade

para jovens com atividades sócio-educacionais, profissionalizantes e recreativas, dentre

outras. Outro ponto crucial é a formulação de políticas que trabalhem a desconstrução

do senso comum de marginalização do usuário, e que o mesmo tem de ser internado ou

preso.

De acordo com a Política Nacional do Ministério da Saúde para a Atenção

Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas (2003, p.27), os principais fatores que

reforçam a exclusão social dos usuários de drogas são:

1. Associação do uso de álcool e drogas à delinquência, sem critérios

mínimos de avaliação;

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2. O estigma atribuído aos usuários, promovendo a sua segregação

social;

3. Inclusão do tráfico como uma alternativa de trabalho e geração de

renda para as populações mais empobrecidas, em especial à utilização de mão

de obra de jovens neste mercado;

4. A ilicitude do uso impede a participação social de forma organizada

desses usuários;

5. O tratamento legal e de forma igualitária a todos os integrantes da

“cadeia organizacional do mundo das drogas” é desigual em termos de

penalização e alternativas de intervenção.

Sendo assim, destaca-se a importância que a Reforma Psiquiátrica teve para o

tratamento dos usuários de drogas, abrindo meios mais humanos e eficazes de lidar com

a situação, trazendo novas perspectivas de vida para os usuários. Estes, que

anteriormente eram aprisionados e excluídos do convívio social, para terem o apoio de

políticas e práticas cujo objetivo é minimizar o sofrimento e a situação em que o usuário

se encontra, levando em consideração sua subjetividade, tempo, vontades e sonhos,

como as práticas da Redução de Danos, do Acompanhamento Terapêutico, as redes de

atenção à saúde, dentre outros meios.

2.PERCURSO METODOLÓGICO

A proposta metodológica utilizada para a elaboração deste artigo é a abordagem

qualitativa do tipo cartográfica, que de acordo com Ferigato e Carvalho (2011) é uma

maneira de produzir a pesquisa que toma o corpo e seus afetos como disparatos da

produção de conhecimento, pautada especialmente nos teóricos denominados “Filósofos

da Diferença”. A pesquisa cartográfica se caracteriza como um método não preceituado

que ao invés de ordenar direções definidas por regras ou objetivos anteriormente

estabelecidos se propõem a acompanhar o processo, e ao longo deste caminho ir

traçando suas metas, levando em conta os efeitos, as intervenções do pesquisador sobre

o objeto de pesquisa e os resultados sem deixar de lado o rigor de uma pesquisa.

Assim, o método cartográfico ressignifica o sentido da palavra metodologia,

métahódos de caminhos (hódos) ordenado por metas, revertendo a hódos-méta, ou seja,

metas que são definidas pelo caminho (PASSOS; KASTRUP; ESCÓSSIA, 2009). Esse

novo significado vem ao encontro da proposta de Rolnik (2007) que descreve a

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cartografia como um desenho no qual a formação acontece através dos movimentos de

transformação do ambiente, sendo função do cartógrafo dar língua aos afetos, estando

mergulhado e atento à realidade a ser acompanhada.

2.1 PRODUÇÃO DE DADOS

A ressiginificação metodológica proposta pelo método cartográfico propõe que

as metas se dão de acordo com a produção ao longo da pesquisa. Contudo, esta

cartografia terá seus dados inicialmente produzidos a partir de dois blocos de materiais

oriundos da internet. O primeiro bloco constitui-se de dois sites cujo conteúdo aborda o

tema uso de maconha a partir de uma perspectiva considerada pelo site como “não

proibicionista” (anteriormente já falei um pouco sobre o proibicionismo, porém, neste

contexto tem-se como não proibicionista os sites que se posicionam a favor da

descriminalização da maconha mais especificamente, e não das drogas em geral). Um

segundo bloco constitui-se de dois sites cujo conteúdo aborda o tema uso de maconha a

partir de uma perspectiva claramente vinculada à noção proibicionista de drogas. Após

uma analise geral de sites disponíveis sobre o assunto, optei por ter como território de

pesquisa os sites hempadao.com.br e diariodaerva.com.br, estes com conteúdo

considerado não proibicionista, e tambémamorexigente.com.br e

sites.universal.org/viciotemcura/, com teor classificado como proibicionistas.

Como procedimento de registro do material pesquisado foi produzido um diário

de campo, o qual é tomado como um meio de entender a prática do pesquisador e, como

aponta Lourau (1993), reconstitui a percepção subjetiva do pesquisador, permitindo o

conhecimento da vivência cotidiana do campo e o modo como foi feito na prática. Para

Falkembach (1987 p.19):

O diário de campo consiste no registro completo e preciso das observações

dos fatos concretos, acontecimentos, relações verificadas, experiências

pessoais do profissional/investigador, suas reflexões e comentários. O diário

de campo facilita criar o hábito de observar, descrever e refletir com atenção

os acontecimentos do dia de trabalho, por essa condição ele é considerado um

dos principais instrumentos científicos de observação e registro e ainda, uma

importante fonte de informação para uma equipe de trabalho. Os fatos devem

ser registrados no diário o quanto antes após o observado para garantir a

fidedignidade do que se observa [...].

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Durante o mês do novembro, após a elaboração do diário, percorri pelas

publicações dos sites, leituras de artigos, livros e textos que abordam a temática

debatida neste trabalho.

2.2 ANÁLISE DE DADOS

Para a análise dos dados produzidos, foram utilizados os seguintes

conceitos/ferramentas: noção de implicação e analisador. Sobre o primeiro item Rocha e

Deusdará (2010) relatam que:

A noção de implicação remete a impossibilidade de objetividade, de

neutralidade na pesquisa, ou seja, impossibilidade de apagamento das

instituições de diferentes ordens que atravessam o pesquisador e que são

constitutivas de seu fazer: implicações afetivas, profissionais, institucionais,

etc.

Já sobre o analisador, de acordo com Lourau (1993), pode ser qualquer palavra,

gesto, acontecimento ou momento, quaisquer objetos capazes de suscitar a crise

necessária para disparar um processo analítico. Segundo Baremblitt (2002) os

analisadores podem ser naturais ou construídos, os naturais são os que surgem por conta

própria ao seguir o curso natural dos acontecimentos e os construídos servem como

dispositivo agitador ou agenciamento ativador para explicitar conflitos e as suas

resoluções.

Sendo assim, foi eleito como descritor a palavra “adolescente”, que foi

pesquisada na barra de buscas dos quatro sites anteriormente citados, tendo um

resultado geral do material encontrado, separados, analisados e problematizados os com

conteúdos que falavam mais especificamente sobre adolescentes e drogas.

Finalizada a produção e análise dos dados realizou-se o Relatório de Pesquisa com

os resultados obtidos, o qual está sendo apresentado como Trabalho de Conclusão de

Curso para obtenção do grau em psicóloga. Além disso, poderão também ser elaborados

artigos para publicação em periódicos da área, e trabalhos científicos para serem

apresentados em eventos.

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3.RESULTADOS

Esta seção será destinada a descrever eproblematizar a partir de referenciais

teóricos, o material encontrado nos sites selecionados. Em um primeiro momento será

exposto o material encontrado nos sites de conteúdo considerado não proibicionista e

logo após os de conteúdo considerado proibicionista, e então debatido como a maconha

aparece nesses sites, a imagem do adolescente que o conteúdo dos mesmos trazem, e os

meios como abordam o assunto. Em um segundo momento será feita uma análise

histórica do estereótipo do usuário de drogas, este que já vem enraizado na sociedade

até os dias atuais e como isso se mostra nas publicações.

3.1.MATERIAIS PARA ADOLESCENTES?

Considerando que a adolescência é uma fase de transição da vida onde surgem inúmeros

questionamentos sobre o futuro, dilemas sobre qual profissão seguir, conturbações em

relacionamentos, amizades e escola, sexualidade, dentre as mais variadas situações. O

adolescente depara-se com situações em que tem de tomar escolhas importantes e que

dependendo, podem expor o mesmo a sérios riscos, como por exemplo, a escolha em

usar drogas ou não, e qual será usada. Os comportamentos arriscados do adolescente,

que implicam em uma vulnerabilidade elevada aos efeitos das substâncias psicoativas,

vêm sendo explicados através do desenvolvimento ainda em curso do lobo córtex pré-

frontal (WINTERS, 2008)

Tanto pelos problemas de saúde que se fazem presentes durante esse tempo da

vida, quanto pelos agravos que os comportamentos adquiridos podem suscitar no futuro,

a adolescência é tomada como um momento importante para as intervenções em saúde.

No modelo clínico de trabalho, os componentes psíquicos e sociais passam por um

processo de "naturalização", ao serem retificados numa espécie de cultura adolescente

que determinaria, tornando assim previsíveis, tanto as situações pelas quais os

adolescentes passam como a maneira como eles reagem às mesmas. É recorrente a

referência a uma "síndrome da adolescência", remetendo à ideia de uma descrição

fenomenológica típica da condição adolescente, suscetível de traduzir-se em problemas

(AYRES, 1990).

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Sendo assim, em função da proposta de pesquisar materiais sobre o uso de

maconha para adolescentes, ao adentrar no campo de pesquisa algumas questões

puderam emergir: Há materiais específicos para adolescentes? Que tipos de materiais

são disponibilizados nos sites? Há materiais específicos sobre maconha? Nesta primeira

parte será descrito e problematizado o conteúdo encontrado ao pesquisar a palavra

“adolescente” na barra de busca dos sites com conteúdo considerado não proibicionista

(Diário da Erva e Hempadão).

No site Diário da Erva, o qual possui conteúdo considerado não proibicionista,

ao pesquisar na barra de busca a palavra “adolescente” apareceram 16 matérias na

primeira página, sendo que destas, somente 5 eram realmente sobre a adolescência,

como: “Jovens começam a usar maconha aos 14 anos”, de 11 de junho de 2010, que

fala sobre uma pesquisa feita pelo Cebrid (Centro de Informações sobre Drogas

Psicotrópicas) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) em 37 escolas, como

resultado da mostra deu que os adolescente começam a fumar maconha com 14 anos e

meio, e álcool e cigarro com 12 e 13 anos respectivamente, relatou também que as

saídas noturnas tendem a ser propícias para os usos, sendo maior em meninos do que

meninas. Outra reportagem foi sobre “Alteração no cérebro indica pré-disposição ao

consumo de maconha”, publicada em 20 de dezembro de 2011, que descreve uma

pesquisa realizada na Austrália, relatando que a maconha provoca danos cerebrais, mas

também mostra que existem alterações prévias no cérebro que podem levar ao consumo

da droga, como um volume menor no córtex orbitofrontal como o indicador dessa pré-

disposição. A“Liberação medicinal da maconha não induz uso em adolescente, diz

estudo”, de 22 de janeiro de 2013, que relata que após análises de dados sobre o

consumo de maconha por adolescentes entre 1993 e 2009, descobriram que apesar do

índice ter crescido a partir de 2005, não há evidências entre a legalização da maconha

para fins medicinais no país e o aumento do consumo por alunos do ensino médio nos

Estados Unidos.“Maconha e álcool na adolescência afeta a memória: Cérebro de

jovens ainda está em desenvolvimento e fica vulnerável às ações de drogas”, publicada

em 25 de março de 2013, relata que de acordo com os cientistas da Universidade da

Califórnia, que fizeram a pesquisa, o uso frequente de álcool e maconha durante a

juventude leva à deformação da estrutura neural e do metabolismo, além da perda de

habilidades cognitivas no futuro, onde o motivo pode ser a maior vulnerabilidade às

influências neurotóxicas durante a adolescência. E por último, “Maconha x Álcool na

adolescência”, de 30 de agosto de 2013, mostra que de acordo com estudos ainda não

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comprovados, os adolescentes que consomem álcool tem a saúde do tecido cerebral

comprometida, porém o mesmo não acontece com adolescentes que consomem

maconha. O antes e o depois das varreduras do cérebro de adolescentes que consumiam

normalmente 5 ou mais doses pelo menos 2 vezes na semana, mostrou redução do

tecido branco cerebral, enquanto o consumo de maconha até 9 vezes por semana durante

os 18 meses não foi associado a uma alteração na saúde do tecido cerebral.

Hempadão, o segundo site pesquisado com conteúdo considerado não

proibicionista, ao pesquisar a palavra “adolescente”, foram encontradas 10 publicações

na primeira página, as quais 7 delas eram mais precisamente sobre adolescentes. São

estas:“Cresce 1000% o percentual de adolescentes internados por tráfico de

entorpecente em SP na última década”, publicada em 7 de setembro de 2013, onde

relata que as propostas de redução da maioridade são errôneas, pois, a maior parte das

internações de adolescentes não está vinculada ao aumento de crimes com violência ou

grave ameaça que supostamente exponham a sociedade a maiores riscos, e sim por atos

infracionais relacionados ao tráfico de drogas, segundo a matéria: “Mais aos equívocos

da guerra às drogas que, sob o pretexto de tutelar à saúde pública, conseguiu a proeza

de abarrotar as prisões, afastar o viciado do tratamento, enrijecer e enriquecer as facções

criminosas e expor a polícia a um grau elevado de violência e corrupção...”. Outra

reportagem é “Adolescente faz recuperação dramática depois de fumar maconha

sintética”, de 14 de setembro de 2013, conta a história de uma estudante de 17 anos dos

Estados Unidos, que após fumar a maconha sintética, mais conhecida como “spice” ou

“k2”, durante duas semanas, foi parar a UTI depois de sofrer vários derrames que a

deixaram paralisada, cega e em grande parte inconsciente, porém existem relatos de

adolescentes que chegaram a ir a óbito por ter fumado a maconha sintética, que é uma

mistura de ervas pulverizadas com produtos químicos destinados a criar um efeito

semelhante ao de fumar maconha.“Para os pais e adolescentes”, publicada em 26 de

novembro de 2013, fala sobre um texto publicado no Facebook pelo cantor Tico Santa

Cruz, da banda Detonautas, em que ele fala sobre os recados que recebeu de alguns pais

preocupados por terem descoberto que seus filhos estavam fumando maconha, e ele

como pai também, fala sobre a importância do diálogo entre pais e filhos tanto na

questão das drogas, como em vivências da vida em geral, ensinando a ter disciplina e

saber lidar com a liberdade. Outra matéria foi a “Pesquisa: 13,3% dos adolescentes

uruguaios já experimentaram maconha”, de 23 de dezembro de 2013, descreve que

segundo a pesquisa Mundial de Saúde Adolescente divulgada nesta pela imprensa

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Uruguaia, 13,3% dos adolescentes do país entre 13 e 17 anos fumaram maconha pelo

menos uma vez na vida e 70% dos mesmos consumiram álcool, ralata também, que o

Uruguai legalizou o cultivo e a compra e venda de maconha para combater o

narcotráfico, porém, proibiu a venda da droga para menores de idade. E diferentemente

do site anterior, Diário da Erva, o Hempadão possui algumas matérias com um

conteúdo mais atualizado sobre o assunto, como: “Legalização da maconha não

facilitou o acesso para adolescentes”, publicada em 1 de maio de 2016, conta que os

índices de adolescentes que julgavam conseguir maconha com facilidade só caiu após a

legalização da maconha no estado norte americano de Washington, assim como para

álcool, tabaco, cocaína, LSD e anfetaminas. Foi encontrada também, a reportagem de

título “Mais maconha, menos álcool”, de 9 de agosto de 2016, que fala sobre o estudo

feito pelo Project Know revelando um novo mapa do comportamento do adolescente

americano em relação às drogas, mostrando que boa parte dos estudantes do ensino

médio está trocando os excessos com bebidas pelo maior consumo de maconha. Em

contraste, os jovens europeus ainda bebem muito mais do que fumam maconha indo

contra um relatório do Departamento de Saúde, que revelou uma queda de consumo de

álcool e maconha entre os adolescentes americanos, mesmo nos Estados que

legalizaram o consumo da droga. E por fim, “Sobe consumo de maconha durante

adolescência na Europa”, publicada em 21 de setembro de 2016, que assim como a

reportagem anterior, relata que a Escola Européia de Estudos sobre Álcool e Drogas

(ESPAD) publicou uma pesquisa que revela um aumento no consumo de maconha,

sobretudo entre adolescentes, enquanto o uso de álcool e tabaco só diminuíram, a

cannabis faz o caminho contrário.

Primeiramente, eu havia imaginado que os sites com conteúdo considerado não

proibicionista fariam um certo tipo de apologia ao uso da maconha por ser a favor da

descriminalização, porém, ao contrário disso, ao fazer uma análise do material

encontrado notei que existem algumas matérias de alerta também, falando sobre o início

precoce do uso de maconha, álcool e outras drogas por parte adolescentes e os

malefícios disso, em função de ainda estarem em fase do formação. Sanchez et al.

(2013) descreve que:

A precocidade do uso de substâncias psicoativas também está sendo

associada com os riscos no desenvolvimento do adolescente. Os jovens que

usaram álcool precocemente têm mais chances de abusar de álcool do que

aqueles que iniciaram o uso mais tardiamente. Além disso, são mais

propensos a já terem usado tabaco ou outra droga ilegal. O uso precoce está

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associado à percepção de uma falta de punição por parte dos pais para o uso

de álcool e ao fato dos cuidadores consumirem drogas.

Porém, ao comparar os efeitos do uso precoce de álcool e maconha em

adolescentes, tem-se obtido como resultados mais agravantes o uso de álcool durante

esta fase da vida, substância que mesmo sendo proibida para menores de idade, ainda é

de fácil acesso, muitas vezes sendo consumida em casa juntamente com a família, que

em alguns casos incentiva o uso de álcool e condena o de maconha, por ser ilegal, sem

saber que estão causando um mal maior ainda. Até mesmo no Uruguai, onde a maconha

já foi legalizada, ainda é maior o índice de consumo de álcool por adolescentes do que

de maconha. “É importante mencionar que o fato de algumas drogas serem liberadas

para venda e consumo, não quer dizer que estas não sejam prejudiciais, principalmente

para jovens e adolescentes, pois embora sua venda seja proibida para menores de idade,

não existe uma medida de controle rigorosa que os impeçam de consumi-las.”

(NASCIMENTO, 2013). Outro assunto de extrema importância que é mencionado em

um dos sites é o da redução da maioridade penal, mostrando que a maioria dos crimes

cometidos por adolescentes são em relação às drogas e que o certo seria lidar com o

tratamento, sem criminalizar e o usuário. Neste contexto, Corrêa (2002, pg. 170)

descreve que:

A preocupação aqui não é criminalizar o uso de drogas, mas recuperar o

dependente, que deve ser considerado como um doente, dentro do ideal da

reinserção social, pela via da reconstituição familiar. É neste ponto “ideal”

que ocorre a reintegração dos quase encontram em situação de risco. Ponto

no qual esses sujeitos passam a estabelecer laços familiares, mesmo que

tênues, no qual, automaticamente, as instituições formais passam a atuar.

Reinseridos, reajustados, eles restabelecem contato com a rede formal de

assistência à saúde, educação e serviço social. Ou seja, o isolamento, que é a

condição que caracteriza as populações de risco, impede qualquer

intervenção preventiva; portanto, qualquer ação neste sentido deve promover

o restabelecimento dos vínculos sociais, num crescendo que vai da família à

escola, aos grupos de auto-ajuda e à rede formal de assistência.

Já neste segundo bloco será descrito e problematizado o conteúdo encontrado ao

pesquisar a palavra “adolescente” na barra de busca dos sites com conteúdo considerado

proibicionista (Amor Exigente e Vício Tem Cura).No site Amor Exigente, que possui um

conteúdo considerado proibicionista, ao pesquisar a palavra “adolescente” na barra de

buscas, foram encontradas 5 publicações, as quaisserão descritas a seguir:

“Adolescentes no Brasil”, publicada em 25 de agosto de 2015, que fala contra a

legalização da maconha no país, dizendo que se a mesma for legalizada, os adultos

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darão mau exemplo aos adolescentes, que não vêem os malefícios, que assim comoas

outras drogas permanece na gordura por muito tempo, relata também que cerca de 39%

dos viciados em maconha chegam a ser alcoólatras e dependentes de outras drogas,

chegando a ter depressão, baixa auto-estima, medo, ansiedade, doenças físicas e

psicológicas, delírios e até a morte. Outra matéria tem o título “Maconha e

adolescentes”, publicada em 28 de agosto de 2015, onde começa com uma fala do Papa

Franscisco e logo após fala dos malefícios do uso crônico da maconha a adolescentes,

pois ainda estão em processo de formação, fala também que fumar maconha é mais

prejudicial do que fumar tabaco e que o cérebro produz “nossa própria maconha”, a qual

é espalhada uniformemente cumprindo múltiplas funções e em total equilíbrio e que ao

fumar a maconha pelo sentimento de bem-estar que ela traz, muitos entram neste mundo

das drogas sem volta, ao término da matéria tem a citação de uma passagem da bíblia. A

notícia de que “Adolescentes investem no tráfico para conseguir manter o vício em

drogas”, publicada em 11 de novembro de 2015, relata que o número de adolescentes

envolvidos com o tráfico tem crescido, pois os menores buscam a facilidade no ganho

de dinheiro para sustentar o vício em entorpecentes, principalmente maconha, que é a

porta de entrada para drogas “mais pesadas”, como o crack. A matéria “Ensine o

adolescente a dizer “NÃO”!”, publicada em 19 de julho de 2016, tem um vídeo feito

pelo Dr. Ronaldo Laranjeiras, especializado em orientar famílias, que reforça que as

crianças aprendem a dizer não com base nos valores que a família transmite em sua

educação. A última matéria fala que o “Uso de drogas aumenta entre adolescentes no

país”, publicada em 26 de agosto de 2016, mostra os dados da Pesquisa Nacional de

Saúde do Escolar (Pense), divulgada pelo IBGE, relatando que o adolescente brasileiro

tem usando mais drogas, tanto lícitas como ilícitas, e se protegendo menos nas relações

sexuais.

Já no último site a ser pesquisado, Vício tem Cura, da Igreja Universal, com

conteúdo considerado proibicionista, ao pesquisar a palavra “adolescente” foram

encontradas 9publicações, as quais 4 eram mais específicas sobre adolescentes, em sua

maioria com o relato da experiência de vida de fiéis, estas são: “Você acredita que vício

tem cura?”, publicada em 12 de julho de 2015, com um vídeo que fala sobre alto índice

de crianças usuárias de crack nas ruas de São Paulo, e traz uma fala sobre o tratamento

para cura dos vícios, com depoimento de usuários e familiares de usuários de drogas.

Outro post é “Hoje eu tenho uma nova vida”, de 8 de julho de 2015, que traz um vídeo

sobre a história de um homem que começou a usar drogas ainda adolescente e acabou

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vendendo as coisas de dentro de casa para comprar crack, o homem passou por mais de

dez clínicas de desintoxicação e foi curado após o tratamento na igreja. Outra

publicação é “Toxicodependência a drogas prescritas: Um problema grave”, a qual

não tem data de publicação, descrevendo o uso recreativo por adolescentes de

medicamentos controlados prescritos por médicos, sendo estes mais utilizados do que as

substâncias ilícitas, a matéria faz um alerta sobre os riscos das reações que podem

ocorrer ao ingerir os medicamentos. E por fim, o site traz uma matéria “Maconha”, a

qual também não possui data de publicação, falando especificamente sobre a erva, sua

potência, variedades, reações após o uso, o que acontece no organismo, como os pais

podem identificar se seus filhos estão fumando maconha, como abordar um usuário,

dentre outras questões pertinentes à planta.

Nestes sites com conteúdo considerado proibicionista, percebi o quanto a

maconha é abordada de maneira genérica e fantasiosa,como quando afirma que a

mesma é mais prejudicial que o tabaco e que assim como as outras drogas, fica

acumulada na gordura por muito tempo. Os sites trazem também a maconha como

sendo igualada a outras drogas e afirmando que a mesma é a porta de entrada para

drogas mais pesadas como o crack, abordando o tema para adolescentes tentando passar

uma imagem de temor, através de um discurso médico, psiquiátrico, midiático,

judiciário, policial, da saúde, e também de cunho moral, religioso, dentre outros

(OLIVEIRA, DIAS, 2010).“Estas discursividades, que guardam entre si claras

afinidades eletivas, posicionam estes jovens como um híbrido, algo entre o “doente” e o

“delinquente”, para quem o cuidado resume-se na díade “internação-isolamento”.”

(PETUCO, 2013) Estes estereótipos muitas vezes mostrados pela mídia, são utilizados

para ensinar as crianças a dizerem “não” às drogas, Adichie (2009) afirma que “o

problema dos estereótipos não é que eles sejam mentiras, mas sim que são

incompletos.” Sendo assim, Correa (2002, p.170) descreve:

É clara a oposição às posturas radicais defendidas pelos setores da

organização estatal responsáveis pela repressão ao uso de drogas ilegais: “os

expoentes da postura antidroga, (...) não enxergam o óbvio: que a „guerra

contra as drogas‟ é inoperante, e que nunca haverá „vitória final‟, já que as

drogas fazem parte, desde sempre da vida humana. Mas há ainda mais: todas

aquelas intervenções que se pautam na abordagem exclusiva do „dizer não‟,

são contraproducentes e surtem efeitos contrários”.

Três coisas que me chamaram a atenção, foi que tanto nos sites com conteúdo

não proibicionista como nos considerados proibicionistas, a maconha foi descrita como

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contra-indicada durante a adolescência, por ser uma droga psicotrópica e agir

principalmente no sistema nervoso central, que no adolescente ainda está em

desenvolvimento. Além disso, os dois sites trazem como os pais devem abordar os

filhos usuários, porém, de maneiras distintas, no não proibicionista relatando que os pais

devem ter uma relação aberta com os filhos e ensinar os mesmos a terem

responsabilidade para saber lidarem com a liberdade, e no site considerado

proibicionista fala sobre identificar e abordar o usuário, e meios de ensiná-lo a dizer

“não” às drogas e sair deste “mundo”. E então, outro ponto a ser destacado é que

somente em um site, que foi de conteúdo considerado proibicionista, houve uma

publicação falando exclusivamente sobre a maconha, seus efeitos, potência, variedades,

reações após o uso, o que acontece no organismo, etc.

3.2. O RÓTULO: USUÁRIO DE DROGAS

Oliveira & Dias (2010), relatam que nas primeiras décadas do século XX, a

política proibicionista norte-americanaexpande-se pelo mundo, e então os saberes

medico-psiquiatricos e juridico-policiais passam a tratar de forma delimitada os

usuários das drogas tornadas ilícitas, sendo vistos como doentes ou criminosos. Os

mesmos autores descrevem:

Operando sob o aval da pretensa neutralidade cientifica, mas constituído a

partir dos mais variados interesses econômicos, morais, políticos e religiosos;

a apropriação do campo de uso das drogas por estes sistemas restringiu as

possibilidades de inserção do tema em outros campos, e determinou a forma

como o assunto deveria ser abordado. Assim, e considerando a função

desempenhada pelos saberes médicos-psiquiátricos na constituição da figura

do usuário de droga como doente que, historicamente, tem cabido as Políticas

de Saúde Mental brasileiras a proposição de praticas junto a essa população.

(OLIVEIRA E DIAS, 2010, p.28)

Siqueira (2010), relata que mais precisamente em 1934, concebeu-se a primeira

versão da “Lei sobre Drogas” no Brasil, já trazendo em seu contexto a marginalização

dos usuários, referindo-se à “toxicomania”, a partir do exemplo da Franca (em 1917) e

de outros países, como crime na mesma condição com que tratava os “alcoólatras,

doentes mentais, mendigos, etc.”. Situação esta que se prolonga até os dias atuais,

percorrendo por circunstâncias significativas, como no ano de 1976, quando

definitivamente, o Brasil passou a considerar a Lei 6368/76 (popularmente conhecida

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como Lei de Drogas), que por exigências da elite do país, passou a ter como principal

peculiaridade uma visão da Justiça que fazia cumprir, na área periférica, como favelas e

morros das grandes cidades do Brasil, leis e ações discriminatórias contra pobres e,

sobretudo, negros, sob o véu das primeiras determinações da “guerra às drogas” no país,

porém, contra aos de classe mais elevada foram aplicadas condutas diferenciadas.

Siqueira (2010, p.68), ainda afirma que “Foi natural a vinculação do tema das drogas

com o crime, o trafico, o delito e a punição. Tornou o sistema Penitenciário um deposito

de pequenos traficantes e de usuários de drogas ilegais, não por acaso, pobres e,

geralmente, negros ou pardos.”

A situação acima mencionada,é descrita nas reportagens que falam sobre o alto

índice de crimes para obtenção de drogas, o aumento de adolescentes no tráfico e

principalmente quando fala sobre a redução da maioridade penal, medida esta que

aumentaria drasticamente o número de adolescentes usuários internados sem o devido

tratamento. Porém, estas medidas, em sua maioria são impostas sobre os usuários mais

vulneráveis, jovens de baixa renda, em grande parte negros, moradores de periferias e

que convivem com a dura realidade do tráfico. Assim, esta “Guerra às Drogas” tem se

tornado também uma Guerra às minorias desfavorecidas.

Tínhamos a concepção de que o uso de drogas estava interligado a três possíveis

interpretações e, consequentemente, de atenção e encaminhamentos em nossa

sociedade, a saber das seguintes áreas como descreve Siqueira (2010, p.66):

1 – Do ponto de vista da Saúde, o uso de drogas seria visto como uma

doença denominada Dependência Química e, portanto, o caminho para sua

solução seria a Clinica Psiquiatrica, nos seus mais variados níveis, que iam

desde um atendimento ambulatorial ate a internação em hospitais

psiquiátricos. Seria, então, o SUS (Serviço Único de Saúde) ,alem das

chamadas Comunidades Terapêuticas, para os mais pobres, e, para os mais

abastados, as Clinicas para tratamento de dexintoxicação e “recuperação”,

muitas vezes, em parceria com as igrejas;

2 – Do ponto de vista da Justiça, o uso de drogas seria considerado um delito

e seu tratamento passou a ser a punição legal a sua melhor conduta,

oferecendo cadeia apenas para os mais pobres, pois e sabido que aos mais

ricos haveria sempre os recursos de advogados especializados;

3 – Na visão das religiões, o uso de drogas continuaria sendo um pecado e a

solução, portanto, seria a conversão, exigindo apenas a “assinatura de um

contrato com Deus”, estabelecendo, dessa forma, o seu conceito de

Cidadania.

Referindo-me ao primeiro item acima citado, me recordo que quando percorria

por materiais disponíveis na internet encontrei uma reportagem publicada por um site, o

qual não foi citado na pesquisa, sobre uma comunidade terapêutica na Bahia, esta tinha

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princípios religiosos e era dirigida por um pastor, onde o principal método de

tratamento era um pedaço de pau, cujo o pastor havia batizado de “Tereza” e utilizava o

mesmo através do espancamento para corrigir as condutas consideradas erradas

cometidas pelos usuários. Questiono-me: Como ainda existem locais de “tratamento”

assim ainda hoje em dia? Mesmo após a Reforma Psiquiátrica, com toda a luta

antimanicomial ainda existente, infelizmente ainda não é o suficiente.

Temos, assim, esses três meios para onde, até os dias atuais, são encaminhados

os usuários de drogas: Cadeia, Igreja (Comunidade Terapêutica) e Hospitais

Psiquiátricos; locais esses estabelecidos para exercerem encargos de “controle da

sociedade” e a tentativa de Controle dos usuários através de leis que foram concebidas a

partir de princípios morais e não naturais. Por conseqüência,há uma padronização de

identidades dos sujeitos, pois não levam em conta a subjetividade e as diferenças não

dos mesmos, que se deslocam obrigatoriamente até estes espaços que irão garantir que

essas diferenças continuarão a não serem vistas. (SIQUEIRA, 2010). Neste contexto, é a

partir de uma perspectiva moralista que a noção de droga se sustenta nas praticas

proibicionistas, Correa (2010, p.172) relata que:

De um ponto de vista químico, por exemplo, que e o que eu tenho mais

intimidade, não há como afirmar sem conhecer as condições e os inúmeros

fatores envolvidos no uso, que o THC, principio ativo da maconha, e mais

perigoso ou nocivo que sal, açúcar e mesmo farinha de trigo: hipertensos,

diabéticos e celíacos que o digam.

Outro ponto crucial a ser abordado que não é diretamente descrito nas

reportagens mas que se faz presente na hora do tratamento do usuário, é a identidade de

drogado,colocada entre profissionais das áreas da saúde, educação e justiça, e os

sujeitos que fazem uso de substâncias ilícitas. Como relata Correa (2010, p.167):

É muito raro um destes profissionais ultrapassar tal barreira e ver, para além

da ameaça representada pela figura plana e sem espessura do drogado,

alguém se movendo, com sonhos, vontades, tristezas, experiências,

preferências, limites próprios de suportabilidade, amor, desafetos, etc. Assim,

a maioria dos contatos com identificados como usuários de drogas se dão,

quase que exclusivamente, com os atributos que identificam a figura do

drogado, pouco ou nada parece haver para além de uma ameaça.

Ainda nos dias de hoje, pessoas com certo grau de conhecimento como

universitários, e muitas vezes mestrandos e doutorandos, são responsáveis por difundir a

noção proibicionista sobre as drogas de maneira tão eficiente e impensada, como afirma

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Correa (2010, p.171), “Noção proibicionistacoextensiva ao imenso rol de iniquidades

que se abatem sobre os identificados como drogados ao serem objetivados como

doentes, bandidos ou perdidos.”

Como já discutido anteriormente, o usuário, além de bandido é considerado um

doente, colocando o mesmo na situação de passivo. Se julgado como bandido, é logo

encaminhado obrigatoriamente à prisão, como uma espécie de punição, para que seja

feita uma reeducação da conduta considerada errônea, porém na maioria dos casos

vemos o contrário disso, sem a utilização dos devidos métodos para a mudança da

situação, e as péssimas condições das cadeias, superlotação, dentre outros fatores,

acabam surtindo efeitos opostos aos esperados, muitas vezes causando um uso mais

abusivo ainda, por estarem expostos a tais situações. Porém, se o usuário não é

encaminhado à via carcerária, deverá então ser tratado, sendo visto como um doente,

mesmo que o próprio não admita estar doente, ou não se coloque nesta posição, porém,

do ponto de vista predominante da saúde, ele é. Neste contexto, Correa (2010, p. 174)

afirma que “nessa barafunda criada pela aceitação passiva do discurso e das praticas

proibicionistas, é comum pessoas que usam drogas ilegais – mas que, devido a posição

que ocupam na sociedade, não se acham e nem são considerados drogados –

identificarem-se com a proibição e suas consequencias, justificando a necessidade de

aprisionamento e tratamento obrigatório aos bandidos.“

Ao analisar esteticamente a imagem do usuário de drogas nos sites, há uma

marcante diferença dos considerados não proibicionistas para os proibicionistas, nos

primeiros, a maioria das imagens expostas é de pessoas fumando ou de plantações de

cannabis. Já nos sites com conteúdo proibicionista, a imagem do usuário de drogas é

transmitida da pior maneira possível, com pessoas de cabeça baixa, sujas, tristes,

agressivas, etc. É comum que essa imagem que “demoniza” a pessoa usuária de drogas

ilícitas, seja transmitida também pela mídia e em campanhas de prevenção ao uso, como

relata Vedovatto (2010, p. 161):

Por outro lado, as campanhas publicitárias destinadas à prevenção do uso de

drogas são estruturadas em fundos escuros, em ambientes sujos, em imagens

que saem das sombras, com figuras feias, passando a imagem de “outsider‟s”,

de pessoas com condutas divergentes, moralmente culpabilizadas, colocando

as pessoas num estilo de vida feio, culturalmente empobrecido e sempre a

margem, colados com a imagem de pessoas perdedoras.

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Em contrapartida,existem as campanhas publicitárias que incentivam o consumo

de tabaco e principalmente do álcool, onde mostram pessoas felizes, se divertindo,

mulheres bonitas, festas, praia, dentre outras imagens que não mostram o real perigo do

consumo, no caso de beber e dirigir, ou brigas causadas por pessoas embriagadas,

situações estas, que causam muitas mortes por aí.

Sobre o tratamento dos usuários, os sites com conteúdo não proibicionistanão

abordam o assunto em específico, em contrapartida, os de conteúdo considerado

proibicionista, descrevem mais sobre comunidades e grupos terapêuticos, meios de

abordar o usuário, e vai muito pelo viés religioso também. Em um dos sites faz

publicidade sobre “A Última Pedra” título de um livro, onde conta a história de um

bispo, ex-viciado e como conseguiu a cura, além disso, tem o programa de TV também,

o qual possui a mesma denominação, que conta relatos da experiência de fieis e como

conseguiram se livrar das drogas através da Igreja. Porém, Petuco (2010, p.61) descreve

que:

Qualquer pratica produzida com o objetivo de diminuir sofrimento e de

corrigir aspectos que produzem sofrimento pode ser chamada de terapêutica.

Assim, se julgamos que um dos problemas das pessoas que usam drogas é a

dificuldade em lidar com regras e limites, isto poderia ser considerado como

terapêutico? Creio que sim, a depender de nossos posicionamentos acerca do

papel de um lugar destinado a cuidar de pessoas que usam drogas.

No entanto, pelo viés da Psicologia, levando em consideração tudo que já foi citado

sobre a Reforma Psiquiátrica, Redução de Danos e as demais práticas de cuidado com o

usuário, Souza (2007, p.53) afirma que “as experiências acumuladas pelas praticas de

RD indicavam um método de intervenção que, além de estar em consonância com a

diretriz da desinstitucionalização, permitia uma nova concepção de cuidado em saúde

para usuário de drogas: um método territorial, substitutivo ao manicômio e a própria

lógica da abstinência.”. Vedovatto (2010, p.165) descreve algumas saídas para a

questão:

Desmistificação do “usuário de drogas” como um ser do Mal, e

reconhecimento desse como uma PESSOA, com direitos, deveres, desejos e

necessidades. Precisamos acabar com esta fantasia que pessoas que usam

drogas são pessoas ruins, dar um fim para o estilo “demonizador” usado

normalmente contra o usuário na guerra ao consumo e trafico de substancias

consideradas ilícitas nas campanhas midiáticas. A necessidade e de adotar

estratégias que permitam que essas pessoas sejam ouvidas e atendidas dentro

das suas especificidades, criando estratégias que permitam criar alternativas,

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resiliências, expectativas, novos desejos, não só no campo da Saúde, mas no

campo da Educação, da Cultura, do Esporte, do Lazer e da Justiça.

Sendo assim, é necessário que se tenha um olhar mais humanizado para o

usuário, utilizando de meios corretos e mais acessíveis de abordagem e tratamento do

indivíduo. É de extrema importância que se olhe para o usuário considerando sua

subjetividade, olhando para o mesmo como um ser humano dotado de sentimentos,

vontades, sonhos e fraquezas, para que se busquem maneiras de lidar com a situação

minimizando ao máximo as conturbações, tristezas e abstinência do indivíduo.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao percorrer os diferentes caminhos delineados neste trabalho, fui atravessada

por diferentes sensações e afetos, que direcionaram o meu percurso. Notei que mesmo

após a reforma psiquiátrica, com toda a luta antimanicomial e as práticas para auxiliar

no tratamento dos usuários, como a Redução de Danos e Clínica Ampliada, ainda

persiste a barreira do estigma do usuário de drogas, que vem enraizado na sociedade,

dês das primeiras medidas proibicionistas adotadas antigamente, o qual só dificulta as

relações das equipes de saúde, justiça e educação com os mesmos.

A sociedade criada nesta cultura proibicionista, vive em meio a esta “Guerra às

drogas” sem perceber o quão inútil está sendo, pois o tráfico, as mortes, os usuários, e

ataques principalmente às minorias como, negros, pobres e moradores das periferias,

continuam. É preciso olhar para além do proibicionismo e suas práticas, investir em

educação, conhecimento e informação para que se mude esta triste realidade.

Tanto os sites com conteúdo considerado proibicionista, como os não

proibicionista, ainda abordam de maneira rasa o tema, não sendo muito específicos

sobre o assunto, usando a maconha para terminar discorrendo sobre outras drogas

também. Após refletir sobre a pesquisa, percebi o quanto ainda é difícil tratar sobre o

tema uso de drogas para adolescentes, e como essas informações chegam das mais

variadas formas para os mesmos, que sem a devida orientação, acabam “perdidos” em

meio a tantas informações de conteúdos opostos.

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